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JORNADAS DE CURA

JORNADAS DE CURA · ra, de um ponto de vista, de uma libertação do passado, de apegos e mágoas, de antigos sofrimentos, ... Em suma, todo processo de cura é o da busca e do retor-

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JORNADAS DE CURA

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Cleber Pacheco

Capa:

© 2013 by Cleber Pacheco

Capa, projeto gráfico, revisão e diagramação:CBC Edições

Dados para Catalogação:

______________________________

Pacheco, CleberJornadas de Cura.

Belo Horizonte, MG.CBC Edições, 2013.

128p.

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® direitos reservados

CBC Edições – 2013Impresso no Brasil

Texto estabelecido conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa

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Jornadas de Cura

JORNADAS DE CURA

Cleber Pacheco

1ª edição

2013

CBC Edições

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(...) o verdadeiro curador, ao curar, restitui corpo en-fermo a suas origens celestes, devolvendo-lhe à fonte cósmica.

Mario Satz

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Não se pode realmente conhecer um homem a menos que se saiba o que ele faz com seus sonhos.

Pensamento Hindu

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Dedico este livro a Gopakumar Radhakrishnan – meu irmão da Índia – e a todos os curadores e buscadores da Senda.

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Jornadas de Cura

PREFÁCIO

Este livro narra tanto a minha jornada para exer-cer o ofício de curador, quanto as jornadas de algumas pessoas com que trabalhei, todas elas necessitadas de au-xílio para transformar as suas vidas. Não usei a expressão tornar-me curador propositalmente porque, creio, já se nasce com esta missão e com as aptidões necessárias para desenvolver este dom. Podemos aceitá-la ou não. Temos o livre arbítrio para fazer a escolha. Uma vez feita, cabe--nos buscar os meios adequados para cumpri-la. Cada cu-rador acaba por descobrir ou saber intuitivamente quais os meios que lhe são pertinentes e, muitas vezes, estes acabam chegando até ele de uma maneira ou outra, natu-ralmente. Tudo vai se encaixando e conduzindo para a di-reção correta e adequada para um encaminhamento neste sentido. Cursos, pessoas e livros necessários vão surgindo durante o caminho de aprendizado e treinamento sem que haja muita necessidade de esforço. Uma vez que nos abri-

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mos para as possibilidades, estas também se abrem para nós. Tenho testemunhado isso inúmeras vezes ao longo do tempo.

O leitor, por certo, perceberá que o conceito de cura pode ser relativamente flexível, nem sempre signifi-cando uma total resolução de uma dada questão ou me-lhora física. Não raro trata-se de uma mudança de postu-ra, de um ponto de vista, de uma libertação do passado, de apegos e mágoas, de antigos sofrimentos, de uma transformação interna. Em alguns casos, certos proble-mas em âmbito físico permanecem. Todavia, mudanças psíquicas são claramente visíveis, percebidas não só por mim, como pela própria pessoa que vem buscar ajuda, seus familiares e amigos.

Hoje entendo por cura o processo de autoconhe-cimento, de efetuar uma profunda compreensão de si e da vida, de reintegrar partes de si mesmo que foram rejeita-das e esquecidas. Trata-se, enfim, de recuperar a própria integridade anteriormente perdida, ficando mais fácil nos tornarmos o que realmente já somos: seres espirituais. Em suma, todo processo de cura é o da busca e do retor-no à nossa verdadeira identidade, o retorno à Fonte, à nossa mais profunda essência.

Sem dúvida é importante ressaltar que o trabalho aqui relatado não tem nada de convencional. Ele foge dos

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padrões aceitos pela ciência oficial, que ainda tem tanto a aprender. Ele desafia o conhecido e explora o desconheci-do, demonstrando que o ser humano é capaz de muito mais do que se possa imaginar. Afinal de contas, somos expressões de um Ser maior, a verdadeira Fonte da cura. Muitas vezes eu mesmo fiquei surpreso com as extraordi-nárias possibilidades de trabalho e tive dúvidas. No en-tanto, com o passar do tempo, as descobertas revelaram--se eficazes e passei a encará-las com tanta naturalidade, que as hesitações foram enfraquecendo e a convicção, pelo contrário, ganhando cada vez mais força.

Um curador pode passar por inúmeros desafios durante a sua jornada, pois ele está aprendendo, embora saiba um pouco mais do que seus pacientes. A interativi-dade faz com que ambos, curador e paciente, cresçam à medida que caminham juntos, enriquecendo as próprias vivências durante o período de tempo em que trabalham.

Na primeira parte do livro, conto, de modo sucin-to, como cheguei ao ofício de curador. Narro apenas a es-sência dos acontecimentos. É importante que o leitor apreenda essa jornada para perceber determinados aspec-tos fundamentais da mesma, percebendo melhor como este caminho pode se apresentar e se desenvolver. Cada caminho é único para cada pessoa. Mas conhecer as his-tórias de outros nos faz entender melhor as nossas histó-rias pessoais. Achei importante colocar isso também por

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outro motivo: para o leitor ter uma visão melhor a respeito de como a sabedoria divina nos conduz sempre com propriedade e de modo correto.

Na segunda parte, detenho-me nos sistemas de cura tornados acessíveis por meio da clarividência. Dou ênfase a eles e não aos sistemas já consagrados justamen-te porque, creio, alguns deles ainda podem ser desconhe-cidos e não se encontram publicados em livros, contri-buindo, assim, para ampliar os horizontes de todos.

Na terceira parte, o enfoque vai para casos reais, de pessoas com quem trabalhei e que considero muito significativos. Além disso, abordam situações diversifica-das: problemas de família, conflitos no casamento, ques-tões amorosas, casos de doenças graves. Aprendi muito com cada um deles e o leitor certamente também poderá fazer o mesmo, talvez identificando-se com muitas das situações.

Os relatos aqui apresentados têm o intuito de au-xiliar não só os curadores, mas todos aqueles que buscam um novo caminho para as suas vidas, tornando-as melho-res, mais iluminadas e felizes. Vivemos um tempo de grandes desafios e quanto mais esclarecimentos tivermos a respeito de nós mesmos e de como podemos tornar a nossa trajetória mais fácil, melhor.

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Espero poder contribuir, ao menos um pouco, para a realização deste objetivo, colaborando com o de-senvolvimento espiritual das pessoas que estão em busca de algo mais em suas vidas.

Namastê.

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MINHA JORNADA

SEMPRE SOUBE que deveria escrever. Saber que deveria curar levou mais tempo. Poder unir tais saberes neste livro é uma grande fonte de prazer e realização.

Por diversos anos estive focado apenas no objeti-vo de tornar-me escritor. Nada mais me interessava. Fiz o curso de Letras, tornei-me Mestre em Literatura e minis-trei aulas por quase oito anos. Escrevi poesias, contos, ro-mances. Todavia, aos poucos, ser professor não me satis-fazia mais. Eu sentia a necessidade de ir muito além, de trabalhar com as pessoas profundamente e meu foco de interesse foi se deslocando para outra atividade, que me possibilitasse mergulhar por inteiro na alma humana. Ser ficcionista em tempo integral parecia a melhor maneira de fazê-lo. Mas eu sentia a necessidade de ir ainda mais longe. Realizar o trabalho de cura espiritual conseguiu concretizar isso.

Ainda amo escrever e compreendo que uma coisa não tem necessariamente de excluir a outra. Pelo contrá-rio, elas podem integrar-se e se completar, ampliando as

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possibilidades de trabalho, atingindo ainda mais pessoas e chegando até elas como um poderoso auxílio. Posso ser poeta e romancista, posso ser curador. E posso escrever a respeito de espiritualidade e cura. Perfeito. As vertentes não se excluem, se completam.

Se aparentemente todo o foco de minha vida este-ve voltado para o ofício de escrever, hoje percebo que não era exatamente assim. Acontecimentos, situações e habilidades já davam sinais de que outros caminhos iriam surgir no futuro.

O mais marcante desses acontecimentos ocorreu quando eu tinha apenas cinco anos de idade. Permaneceu apagado da minha memória por um longo período, até vir à tona de modo tão inesperado quanto o instante em que se deu. Em ambas as situações, uma profunda revelação se manifestou, deixando-me numa espécie de paralisia até conseguir assimilar tanto a visão obtida quanto a lem-brança resgatada. Foi algo muito intenso, choque e ale-gria, espanto e redescoberta. E uma confirmação.

Naquela época costumava brincar com meus pri-mos num banhado recoberto por muitas camadas de ser-ragem. Era recortado por diversos córregos e ficava pró-ximo às nossas casas. Tornara-se um mundo particular para nós. Podíamos ficar ali quase o dia todo, sem proble-mas. A serragem praticamente conseguia cumprir o mes-

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mo papel da areia: fazíamos castelos e os desmancháva-mos com a maior facilidade. Era um de nossos locais pre-feridos. Tal situação só poderia se desenrolar numa cida-de pequena, sem grandes riscos. Ao final do dia era co-mum ouvir o chamado de minha mãe e correr de volta para casa, exausto, mas contente.

Numa tarde em que a brincadeira fluía natural-mente, tive a minha maior e mais extraordinária manifes-tação de clarividência até então.

Estava totalmente envolvido com a organização do espaço a mim destinado, preparando-o, atento, a fim de poder usufruí-lo à vontade. Costumávamos dividi-lo em territórios onde poderíamos “construir” o que quisés-semos.

Súbito, interrompi as atividades e tive a clara im-pressão de sair do meu próprio corpo, permanecendo imobilizado por completo. O ambiente à minha volta de-sapareceu, aquela realidade se turvou, apagando-se e en-trei numa outra completamente distinta, inusitada. Vi-me sendo sugado para dentro de um vórtice que me atraía em direção ao seu centro a irradiar intensa e vívida luz. Tinha a nítida sensação de que aquele estado era muito mais verdadeiro e real do que o mundo até então percebido e sabia com toda convicção estar tendo uma experiência es-piritual muito intensa e profunda, em comunhão com o

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meu ser autêntico e com a Divindade. Nenhuma hesita-ção, nenhuma dúvida havia. Eu simplesmente sabia. Nada precisava ser explicado ou esclarecido. Era como se um encontro marcado havia muito estivesse se cumprin-do. Estava surpreso, mas não estava.

No interior desse vórtice, surgiu a visão, com a maior nitidez, de todos os acontecimentos de minha vida, o futuro, as dificuldades inacreditáveis pelas quais passa-ria, os enormes desafios existentes, o caminho a ser per-corrido, o meu desenvolvimento espiritual e exatamente em qual época da minha existência grandes mudanças iriam ocorrer, trazendo inúmeras possibilidades.

Pude ver quem eu era de fato e as consequentes complicações no sentido de obter alguma compreensão por parte das outras pessoas. Ninguém acreditaria em mim. Levaria anos até poder começar a encontrar quem pudesse compreender, ao menos em parte, aquele cami-nho vislumbrado. Percebi o quanto me encontrava só nes-te mundo.

Foi algo difícil e assombroso, envolveu-me dor tão funda e terrível, quase sobre-humana, ao descobrir qual seria o futuro, que senti uma sombra engolir-me e uma espécie de morte tomar conta de mim. Encoberto pelo manto do pesar e da tristeza, pedi para que não acon-tecesse. Tinha a convicção, no entanto, da inutilidade do

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meu pedido. Tudo seria exatamente como eu vira. E real-mente foi.

Por outro lado, pude também perceber a grandio-sidade daquela Divina Luz e dos aspectos positivos que iriam se desenrolar um dia, trazendo tantas coisas extra-ordinárias e inusitadas e, então, quis, acatei de modo irre-sistível tudo o que me estava reservado, entregando-me por completo. Sim, eu disse. Rendera-me.

Aos poucos fui retornando, saindo daquele estado e custei a perceber os outros à minha volta, assustados e em pânico, tentando despertar-me de minha total imobili-dade. Tão estático me encontrava, que meus olhos perma-neciam abertos, sem piscar, sem o menor movimento. Compreendi o temor deles e, ao mesmo tempo, a necessi-dade de manter silêncio e não falar absolutamente nada a respeito do que havia acontecido. Afirmei tratar-se de uma brincadeira minha. Meio duvidosos, divididos entre a irritação e o medo, retornaram aos seus lugares, comen-tando a minha estranha maneira, um pouco zangados, um pouco achando graça naquilo.

Ainda atordoado, fui tentando agir de modo natu-ral até conseguir relaxar um pouco.

Conto esta passagem por ser tão significativa e por conter um elemento essencial do meu trabalho de

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cura: a clarividência. Graças a ela, muitas pessoas pude-ram e podem ser trabalhadas energeticamente, libertando--se de muitos empecilhos e trilhando, assim, o caminho da própria evolução. E ainda para tornar compreensível o fato de que o trabalho de cura é mesmo uma missão pro-veniente de outras existências e que trazemos conosco, a cada nova vida aqui na Terra, habilidades e conhecimen-tos a serem utilizados e aprimorados, indo sempre um passo além, pois o nosso crescimento como seres é infini-to.

Quando tornei a lembrar disso, anos depois, foi igualmente esclarecedor, como se uma parte muito im-portante e essencial tivesse sido resgatada, trazendo res-postas para inúmeras indagações. As peças do quebra--cabeça haviam se encaixado. O caminho poderia avan-çar.

O passo seguinte consistiu numa nova visão do que aconteceria futuramente, embora bem característica. Eu deveria ter uns sete ou oito anos. Estava às voltas com um violão de brinquedo, quando vi de modo muito nítido qual seria meu trabalho: utilizando as mãos, estendia-as em direção a uma pessoa em pontos específicos. Só mais tarde descobriria tratar-se dos centros de energia, os chakras. Não por acaso realinhar os chakras foi o efetivo início do meu trabalho de curador.

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Daquela vez não fiquei calado e contei aos fami-liares que um dia eu iria trabalhar com as pessoas, curando-as. Eles entenderam de outra maneira, pensando que eu pretendia tornar-me médico. Expliquei não ser aquele o caso, mas algo bem diferente, faria o trabalho por meio das minhas mãos. Obviamente ninguém acredi-tou. Fiquei triste, mas estava convicto a respeito do as-sunto. Mantinha uma certeza interna inabalável.

Na adolescência tive minha primeira experiência concreta em relação a isso, deparando-me com uma emergência, exigindo uma ação imediata para salvar uma vida. Fiz tudo com a maior naturalidade, deixando para ficar espantado comigo mesmo só mais tarde, quando a situação já estava resolvida.

Deveria ter uns doze ou treze anos, não tenho certeza, e estava na aula de educação física. As lembran-ças não são inteiramente definidas e claras. Lembro ape-nas de estar fazendo algum tipo de exercício com um pe-queno grupo de quatro colegas e deveríamos alternar as atividades, auxiliando uns aos outros. O professor encon-trava-se afastado, orientando os demais alunos. Então, um dos colegas, na tentativa de executar a atividade pro-posta, bateu violentamente as costas e a cabeça, perdendo os sentidos e tendo a respiração bloqueada.

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Quase de imediato percebi a gravidade da situa-ção. Um dos componentes do grupo também notou, fi-cando apavorado. Nós dois compreendemos existir risco de vida e a necessidade de fazer alguma coisa. Já o tercei-ro encarou o caso como mero fingimento e em momento algum levou a sério o estado daquele que jazia imóvel.

Olhei para ele muito atento e, súbito, sabia com exatidão o que deveria fazer. Coloquei as mãos sobre seu peito e a cabeça e executei, de modo preciso, uma ação eficaz, conforme a intuição me conduzia. Definir com de-talhes o que fiz não é possível. Ficou apenas a impressão, para mim, do agir ágil e correto, da firmeza em fazê-lo, sem hesitação, como se eu guardasse um saber profundo e muito antigo a conduzir-me, guiando cada etapa, tra-zendo-o de volta logo em seguida. Tornando a respirar, ele foi se recuperando até sentar-se, assustado. O colega que acompanhara os acontecimentos, pasmo, contou o que eu fizera. Conseguindo falar outra vez, o companhei-ro que sofrera o acidente agradeceu-me com grande sin-ceridade e verdadeira gratidão.

Aproximou-se o professor e ouviu toda a história. Todavia, nem ele nem o descrente levaram aquilo a sério, ridicularizando a situação.

Com o passar do tempo, esqueci os dois inciden-tes assim como esquecera a visão obtida na infância. Es-

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tes e outros fatos só puderam ser resgatados pela memó-ria após anos de terapia, quando muitas lembranças co-meçaram a vir à tona, finalmente abrindo as portas para a execução do meu trabalho. Caso eu não tivesse buscado recursos para libertar-me de muitos traumas e bloqueios, por certo não estaria, hoje, cumprindo minha missão de vida. Ou talvez a tivesse recusado. Por isso mesmo, creio por completo no seguinte aforismo: curador, cura-te a ti mesmo. Esta é uma parte essencial da jornada de todo cu-rador.

Na época em que fazia o curso de Letras, durante o período de férias viajei com os meus pais para o litoral. Uma vez lá, minha irmã mais velha contou a respeito de um homem que trabalhava com pêndulos, dava consultas e fornecia orientações para as pessoas. De imediato fiquei interessado e enquanto não consegui um horário, não tive sossego. Precisava conversar com ele a qualquer custo, queria trocar ideias e aprender mais. Comprara e pegara livros emprestados e tinha uma bagagem razoável de co-nhecimento a respeito de temas esotéricos.

A empatia foi imediata e ele testou minhas habili-dades com a radiestesia, dizendo para que eu fosse lá uma ou duas vezes por semana com o objetivo de aprender a utilizar o pêndulo. Aprendi rapidamente, sem nenhuma dificuldade, deixando-o espantado. Tudo fluía com a maior naturalidade. Por indicação dele, comprei um cris-

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tal. Ele colocou-o num cordão, deu vários nós e explicou--me como trabalhar com o meu próprio pêndulo. A partir daí, usava-o por qualquer motivo, fascinado com as des-cobertas.

Sem dúvida, foi uma fase importante e de desen-volvimento para mim. Mesmo atualmente não trabalhan-do com a radiestesia, até hoje sou grato àquelas primeiras lições, fundamentais para o meu aprendizado.

Foi apenas na juventude, já trabalhando como professor universitário que um novo acontecimento, mui-to claro, aliás, deu sinais outra vez daquilo que eu teria de desenvolver, estudar e colocar em prática.

Eu ouvia atentamente o relato de uma pessoa a respeito dos seus problemas e sofrimentos do passado e do quanto tais coisas a perturbavam e atrapalhavam a sua vida presente. Senti meu coração ser tocado profunda-mente por tamanha dor e abracei-a com força por um mo-mento. Ela era uma mulher muito sensível, enxergava a aura das pessoas desde criança e vivera experiências inte-ressantes e difíceis. Após o abraço, ela encarou-me, di-zendo que eu tirara dela a intensidade do sofrimento, li-bertando-a e trazendo uma energia leve e agradável, fa-zendo-a sentir-se calma e aliviada, falando então:

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Você pode curar as pessoas. Você tem o dom da cura.

Confesso que senti algo muito forte, como se ti-vesse sido tocado profundamente por um sentimento in-definido de alegria, surpresa e dúvida. Naquele período de minha vida já havia lido diversos livros na área da es-piritualidade, mas ainda passava por períodos de crise e falta de fé. Optei por ignorar o aviso, embora o guardasse no íntimo.

No ano seguinte, estimulado por uma amiga mui-to querida, uma de minhas mestras espirituais, decidi fa-zer terapia. Ela conhecera uma pessoa e achara o seu tra-balho muito interessante. Fazia regressão, mas suas capa-cidades iam além: tinha clarividência. Fiquei interessado. Demorei poucos minutos para concordar. Sentia ser ne-cessário resolver questões internas e a oportunidade se apresentava. Fui.

Durante um ano fiz o tratamento. Foi uma fase terrivelmente difícil, mas fundamental para iniciar o mer-gulho em mim mesmo. As regressões foram de grande importância, assim como as conversas com minha cura-dora. O mais marcante para mim, no entanto, era a capa-cidade dela de ir esclarecendo algumas de minhas dúvi-das e fazer previsões, todas elas confirmadas posterior-mente. Sem saber, eu deparara-me com mais um incenti-

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vo e auxílio para as minhas atividades futuras. As pessoas certas vão sendo colocadas em nosso caminho e, muitas vezes, só vamos perceber isso muito mais tarde. Tendo consciência disso ou não, elas estão lá, no momento exa-to e certo, adequado para nós. A Sabedoria Divina está sempre presente. Só precisamos aprender a ver os seus si-nais.

Acabei interrompendo o trabalho realizado para poder fazer o curso de mestrado em literatura. Novamen-te afastei-me de tudo isso para dedicar-me aos estudos. Voltei a fazer tratamento mais tarde, aí sim de modo deci-sivo, ao receber a proposta de uma terapeuta, mudando definitivamente o curso de minha vida. Na ocasião, ainda não tinha consciência clara a respeito dos dons recebidos, mas vivia uma fase de intenso interesse em conhecer mais a respeito da espiritualidade. Mais uma vez aceitei a ideia e as sessões tiveram início.

A terapia reichiana é uma terapia corporal, tendo dado origem à bioenergética e utiliza técnicas extraordi-nariamente simples, mas muito eficazes, que vão nos li-bertando gradativamente de nossos conflitos, desblo-queando a energia, liberando-a para circular naturalmen-te, de modo harmônico e equilibrado, como deve ser. Fi-quei fascinado pelo sistema utilizado e passei a ler os li-vros de Wilhelm Reich, seu criador, obtendo uma visão mais detalhada a respeito do trabalho dele e das experiên-

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cias por mim vividas durante as sessões, aliando teoria e prática. Isso ajudou muito o meu progresso pessoal e a interessar-me pelo processo de cura.

Foram cinco anos ininterruptos de inúmeros de-safios e vitórias. Em nenhum momento foi fácil, mas va-leu a pena cada minuto. Não cabe aqui contar isso de ma-neira detalhada. O objetivo deste relato é o de narrar a minha trajetória, a minha jornada em direção ao trabalho de curador. Portanto, limito-me a colocar os tópicos es-senciais a fim de não estender-me com detalhes que po-dem ser abordados num outro livro, com outro propósito.

Assim sendo, vou direto à questão principal: logo no início dessa nova etapa, solicitei à terapeuta um livro que me ajudasse a esclarecer como auxiliar outras pes-soas em termos práticos, como ajudá-las a resolver seus conflitos e problemas. Estava sentindo muito intensamen-te a necessidade de realizar alguma coisa, de contribuir de alguma maneira para que as pessoas vivessem melhor, sem ter, no entanto, nenhuma noção clara do que poderia fazer, qual a direção a seguir, por onde começar. Percebia à minha volta muitas situações complicadas, crises e con-flitos e estava muito inquieto, tentando encontrar solu-ções, colaborar e agir. Não podia ficar quieto olhando tudo aquilo acontecer sem fazer nada. A necessidade de ajudar tornava-se cada vez maior e intensa. À medida que

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ia resolvendo os meus próprios dilemas, aumentava o meu intento de fazer o mesmo pelos outros.

Àquela altura, minhas leituras teóricas anteriores na área da espiritualidade estavam bastante adiantadas. Já havia lido obras de Alquimia, Cabala, Numerologia, Tarô, Magia, Taoísmo, Budismo, Ocultismo, Teosofia.

Queria aprender agora um modo de colocar em prática o aprendizado e contribuir para melhorar a vida dos seres à minha volta.

Atendendo de imediato ao meu pedido, a terapeu-ta emprestou-me o livro Mãos de Luz, da autoria de Barbara Ann Brennan. Foi a partir daí que mudanças fun-damentais começaram a tomar forma e eu passei a fazer uso de minhas mãos, dando realmente início à minha missão de curador.

Fui aprendendo a realinhar os chakras e, lenta-mente, comecei a atender, mas apenas pessoas da família. Aos poucos isso foi se ampliando, com o incentivo de minha terapeuta. Diante dos resultados obtidos, fiquei en-tusiasmado e decidi prosseguir. Passei a utilizar um pou-co os cristais, apenas em caráter básico. Participei de ati-vidades de terapia em grupo. Fui pesquisando a respeito de energia e de como esta funcionava. E não parei mais.

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