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Alceu Silva Queiroz nasceu em Frutal, na Fazenda Cerradão, onde morou até “amadurecer e tomar conta do próprio nariz”. Terceiro dos 11 filhos de Francisco Batista Queiroz e Olívia Januária de Jesus, nascido no dia 11 de dezembro de 1926. Com 85 anos, está totalmente lúcido e permanece muito bom de conversa, sempre entremeada por algumas anedotas. Nesta entrevista exclusiva para o 360, o ex-prefeito fala sobre a situação atual da política frutalense e também fala sobre as eleições deste ano. página 4 e 5 Frutal é a nossa notícia 360 PG. 3 Heróis Incêndios, acidentes, enfartes, captura de animais, afogamentos, desabamentos, inun- dações... É triste, mas os bombeiros vivem, na maioria das vezes, próximos de tragédias. PG. 8 Frutal no SWU A experiência de seis estudantes que viaja- ram 12 horas e mais de 300 km para partici- par de um grande festival de música, arte e conscientização ambiental. PG. 7 Cores e Sabores A ilha de Santa Catarina tem como base gas- tronômica os peixes e frutos do mar. No Mer- cado Público são encontrados os pescados mais bonitos da cidade. Foto/Eduardo Uliana Frutal # Edição 8 - Janeiro/2012 Foto/Eduardo Uliana Foto/Priscila Minani O número de repúblicas está crescendo, tornando Frutal uma cidade caracteristicamente universitária. Já são mais de vinte repúblicas insta- ladas atualmente na cidade, com uma média de cinco moradores. São repúblicas femininas, masculinas e mistas. página 12 Ponto Crítico Na coluna Este ano é ano de campanha. E todas as notícias envolvendo corrupção que nos tem rodea- do, trazem à baila a questão da honestidade. E os marqueteiros de plantão já perceberam isso há um bom tempo. Marca clara nas campanhas políticas mais recen- tes: a valorização da honestidade pessoal do candidato. Um certo Alceu Foto/Eduardo Uliana Foto/Mariana Nogueira Foto/Arquivo Pessoal As repúblicas de Frutal página 9, 10 e 11 Foto/Mariana Nogueira página 6 Digam o que quiser. Do menos fanático, do menos habilidoso até o mais apaixonado torcedor de fute- bol, todo garoto já chutou uma bola. E um dia, ou esse garoto ou alguém à sua volta já disse: “vai ser jo- gador de futebol”. E quem não sonhou? Nascido no dia 10 de fevereiro de 1994, na cidade de Fronteira (MG), o jovem Alisson atua hoje como za- gueiro do time sub-18 do Internacional Sport Club. Mas diferente das histórias sobre surgimento de jo- gadores, Alisson não foi visto em um campinho de terra. Há quatro anos, Alisson começava a dar os pri- meiros passos no caminho para o Rio Grande do Sul. Treinava na escolinha municipal de sua cidade até que surgiu a oportunidade de jogar um campeona- to regional, em São José do Rio Preto. Fronteira par- ticipou e o zagueiro despertou o interesse do nosso outro personagem, Afranio Vieira Junior, frutalense, professor de educação física e então técnico do Amé- rica de Rio Preto. O resto da hitória você confere na Quem não sonhou em ser um jogador de futebol?

Jornal 360 - 8ª edição

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8ª edição do jornal produzido pela 360 Agência de Comunicação de Frutal - Minas Gerais.

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Page 1: Jornal 360 - 8ª edição

Alceu Silva Queiroz nasceu em Frutal, na Fazenda Cerradão, onde morou até “amadurecer e tomar conta do próprio nariz”. Terceiro dos 11 filhos de Francisco Batista Queiroz e Olívia Januária de Jesus, nascido no dia 11 de dezembro de 1926. Com 85 anos, está totalmente lúcido e permanece muito bom de conversa, sempre entremeada por algumas anedotas. Nesta entrevista exclusiva para o 360, o ex-prefeito fala sobre a situação atual da política frutalense e também fala sobre as eleições deste ano. página 4 e 5

Frutal é a nossa notícia

360PG. 3Heróis

Incêndios, acidentes, enfartes, captura de animais, afogamentos, desabamentos, inun-dações... É triste, mas os bombeiros vivem, na maioria das vezes, próximos de tragédias.

PG. 8Frutal no SWU

A experiência de seis estudantes que viaja-ram 12 horas e mais de 300 km para partici-par de um grande festival de música, arte e conscientização ambiental.

PG. 7Cores e Sabores

A ilha de Santa Catarina tem como base gas-tronômica os peixes e frutos do mar. No Mer-cado Público são encontrados os pescados mais bonitos da cidade.

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Frutal # Edição 8 - Janeiro/2012

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O número de repúblicas está crescendo, tornando Frutal uma cidade caracteristicamente universitária. Já são mais de vinte repúblicas insta-ladas atualmente na cidade, com uma média de cinco moradores. São repúblicas femininas, masculinas e mistas.

página 12

Ponto Crítico

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Este ano é ano de campanha. E todas as notícias envolvendo corrupção que nos tem rodea-do, trazem à baila a questão da honestidade. E os marqueteiros de plantão já perceberam isso há um bom tempo. Marca clara nas campanhas políticas mais recen-tes: a valorização da honestidade pessoal do candidato.

Um certo Alceu

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As repúblicas de Frutal

página 9, 10 e 11

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página 6

Digam o que quiser. Do menos fanático, do menos habilidoso até o mais apaixonado torcedor de fute-bol, todo garoto já chutou uma bola. E um dia, ou esse garoto ou alguém à sua volta já disse: “vai ser jo-gador de futebol”. E quem não sonhou?Nascido no dia 10 de fevereiro de 1994, na cidade de Fronteira (MG), o jovem Alisson atua hoje como za-gueiro do time sub-18 do Internacional Sport Club.Mas diferente das histórias sobre surgimento de jo-gadores, Alisson não foi visto em um campinho de terra. Há quatro anos, Alisson começava a dar os pri-meiros passos no caminho para o Rio Grande do Sul. Treinava na escolinha municipal de sua cidade até que surgiu a oportunidade de jogar um campeona-to regional, em São José do Rio Preto. Fronteira par-ticipou e o zagueiro despertou o interesse do nosso outro personagem, Afranio Vieira Junior, frutalense, professor de educação física e então técnico do Amé-rica de Rio Preto. O resto da hitória você confere na

Quem não sonhou em ser um jogador

de futebol?

Page 2: Jornal 360 - 8ª edição

Valorizando a reportagemCarta ao leitor

Esta é mais uma edição em que o 360 aposta no conteúdo. E apos-ta também que há leitores que se interessam por matérias bem apuradas, bem escritas, apro-fundadas. Pois este é o cardápio de mais uma edição.São longos textos, e não são longos porque queremos martirizar nosso públi-co. Não trabalhamos com o fac-tual, com o texto objetivo e nor-malmente curto da notícia. O que fazemos são matérias especiais. E fazemos profissão de fé que um texto bem escrito, bem cuidado, pode ser saboroso ao leitor.

A reportagem de capa é um perfil sobre o ex-prefeito de Fru-tal, Alceu Silva Queiroz. Alceu é uma personagem polêmica em nossa política. Mesmo estando há mais de 20 anos longe das urnas, ainda existem os alceusis-tas doentes e os anti-alceusistas declarados. Mas é inegável sua importância em nossa história e as marcas que deixou na cidade. Esta matéria permite conhecer um certo Alceu. Por certo ainda existem vários Alceus, que outros poderão revelar.

Priscila Minani, repórter do 360, tem pai bombeiro. Quando resol-vemos fazer uma reportagem so-bre o dia a dia da corporação aqui em Frutal, obviamente que esta pauta seria dela. Mais uma vez,

entrega um competente trabalho.Os sonhos e os caminhos que

se colocam para os garotos que querem ser os nossos futuros Ro-naldinhos e Neymares é o tema da reportagem de esporte da edição, por Rafael Del Giudice Noronha, um talento que desponta com pinta de craque no jornalismo.

A repórter Thaís Fernandes foi nossa enviada especial ao SWU e nos conta a impressão e a ex-periência de um grupo de jovens que saiu de Frutal e foi curtir este grande festival de música.

Mas quem mais trabalhou nes-ta edição foi a repórter Mariana Nogueira. São delas as fotos do perfil de Alceu, a reportagem so-bre um passeio gastronômico pelo mercado municipal da bela Floria-nópolis e a matéria especialíssima do caderno Bis, a primeira do 360 em três páginas, que retrata a vida dos universitários nas repú-blicas que se espalham por Fru-tal. Prestes a iniciar o terceiro ano de jornalismo, Mariana já produz como uma veterana.

Os ótimos textos destes cola-boradores e o trabalho estupendo feito pelo Eduardo Uliana na parte visual são a alma do 360. É ma-terial de primeira. Confiram e vão concordar.

Lausamar Humberto - Editor

2 JAN/2012

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O Jornal 360 é um produto da 360 Agência de Comunicação

Praça 7 de Setembro, 200, 4º andar, Sala 407

CEP 38200-000 Frutal/MGTelefone: (34) [email protected]

Editor ChefeLausamar Humberto

[email protected]

Jornalista ResponsávelSamir Alouan Bernardes

MTB - 13.890

Designer GráficoEduardo Uliana

PublicitárioIgor Caldeira

ColaboraçãoGiovanna MesquitaMariana NogueiraNatália Coquemala

Priscila MinaniRafael Del Giudice

Rafael FerreiraSamuel Rocha

Vagner Delvecchio

ArticulistasAna Carolina Araújo

Aluízio UmbertoNarcio Rodrigues

ImpressãoEditora Ferjal

(17) 3442-6644Fernandópolis-SP

Abobrinhas, tomates, Gran Torino...

Sou uma criatura de hábitos, de rotinas. A quebra da normalidade sempre me angustia, desconforta. Acomodação, dirão uns. Medo do novo, dirão outros. É um jeito de se levar a vida, direi eu. Nem melhor, nem pior. Meu jeito.

Dentro destas rotinas está o do-mingo. O meu jeito de viver o do-mingo. E o meu domingo perfeito certamente será muito diferente do domingo perfeito de quase to-dos: céu cinzento, frio, chuva fina, fórmula1 de manhã, almoço com amigos, jogo do Flamengo à tarde, Manhattan Connection à noite, e o sono dos justos.

Nesta rotina de domingo há a inescapável visita à feira. A compra de abobrinhas, tomates, frangos caipiras, as pechinchas da hora da xepa, o pastel, a conversa com os amigos, os cumprimentos aos co-nhecidos. Sempre igual, e sempre muito bom.

E, no meio desta rotina, há a ses-são cinema que, na falta de um, torna-se sessão DVD. Muitas vezes, é pipoca sem compromisso, entre-tenimento puro. Em outras, a pro-fundidade é o prato do dia. Nem sempre os filmes entregam o que prometem, mas quando o fazem é deleite puro.

Foi assim um domingo com Gran Torino. O filme de Clint Eastwood, disponível nas locadoras já há bas-

tante tempo, é uma pequena obra-prima. Pequena porque filme de baixo orçamento, feito em pouco mais de um mês. Só que Clint hoje é um arquiteto da imagem com ple-no domínio sobre arte que exerce. Como a idade fez bem ao velho du-rão de Hollywood. É o grande nome vivo do cinema clássico.

Cinema não é fábula, não precisa ter lição de moral ao seu término. Estes filmes que pretendem passar uma mensagem edificante quase sempre são apenas chatos. Já Gran Torino é cinema de outro calibre e nos dá uma lição de redenção, de tolerância, de modo seco, direto. É um soco bem dado no fígado.

Passei o filme para a turma na qual dei aula de ética jornalística. E o que tem a ver este filme com ética jornalística?, perguntarão os idiotas da objetividade. E quem dis-se que jornalista tem que ler ou ver apenas temas ligados ao seu mun-dinho?, digo eu.

Após o término, havia um silêncio respeitoso. Conseguir um silêncio, ainda por cima respeitoso, de uma sala de universitários não é tarefa fácil. Mas as pessoas reconhecem quando estão diante de uma grande obra de arte. Era o caso. As garo-tas da sala estavam com os olhos vermelhos pelo final impactante. É uma obra de alto calibre. Se ainda não viu, veja.

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Por Lausamar Humberto @lausamarJornalista e professor universitário, é editor do 360

Ano Novo, velhas discussõesSou docente do ensino superior há

seis anos. Esse tempo me deu a cer-teza de que a educação superior faz a diferença na vida das pessoas e, con-seqüentemente, na sociedade de ma-neira geral.

Digo isso com embasamento. Basta cruzar os dados do último Censo do En-sino Superior, divulgado pelo Ministério da Educação em novembro de 2011 e as notícias do desenvolvimento das re-giões Norte, Nordeste e Centro-Oeste na última década. O Censo detectou que o percentual de matrículas no en-sino superior nas regiões citadas acima aumentou de 2001 a 2010, em contra-partida ao decréscimo da participação das regiões Sudeste e Sul.

Os investimentos governamentais e da iniciativa privada, em especial no Nordeste, têm exigido mão de obra qualificada para atender a demanda de novas indústrias, do setor de serviços (com destaque para o turismo) e da construção civil. Dados do IBGE mos-tram que entre 1995 e 2007, a parti-cipação do Nordeste no PIB (Produto Interno Bruto) nacional aumentou de 12% para 13,1%. Com a economia em plena expansão, até mesmo os fluxos migratórios tradicionais diminuíram no país nos últimos 15 anos. Ainda se-gundo o IBGE, a corrida para o Sudes-te, que marcou as décadas de 1960 a 1980, deixou de existir. O estudo apon-ta que a principal razão para a migração interna no país é a oferta de emprego. Qualificados, trabalhadores do Nordes-te não precisam mais sair de sua região e têm sido um dos motores propulsores do desenvolvimento naquela área.

Toda essa introdução foi para justi-ficar minha surpresa quando qualquer formação superior seja desqualificada. E, então, entro no assunto que me con-cerne: a formação superior de jornalis-tas. Adianto que aplaudo a decisão da Câmara de Frutal em aprovar, no final de 2011, a exigência do diploma para jornalistas que queiram atuar como as-sessores de imprensa na casa. Respei-to muito os jornalistas não diplomados que atuam com brilhantismo na profis-

são. Mas eles são cada vez em menor número. O mercado da comunicação, hoje, se difere muito do cenário de 15 anos atrás. Era fantástico quando um jovem adentrava uma redação e os ve-teranos tinham tempo (e paciência...) para explicar as minúcias da profissão. Era uma época de redações cheias, quando o mercado se responsabilizava pela boa formação do jornalista. Hoje, simplesmente, não há tempo ou dispo-nibilidade. As redações são enxutas, o tempo de fechamento está mais aper-tado. O jornalista precisa chegar mini-mamente qualificado ao mercado para iniciar sua carreira.

E quando digo qualificado, não me atenho às técnicas de apuração e re-dação da notícia. Refiro-me à experi-ência de vida que uma universidade proporciona. O Censo do Ensino Supe-rior mostra que calouros de universi-dades estão se matriculando mais jo-vens. A média de idade é de 26 anos. E além de muita informação técnica, o que o ensino superior proporciona a esses jovens é a oportunidade de co-nhecer outras pessoas, com diferentes interesses. É participar de uma cultura universitária que não inclui somente informações específicas da profissão, mas que trará ao indivíduo uma am-pliação da visão de mundo, o tempo para a reflexão, a oportunidade para que se formem, além de profissionais qualificados, seres humanos capazes de mudar a realidade em que vivem e que, no mínimo, possam se posicionar de maneira ética e responsável diante dos mais variados conflitos que en-frentarão.

Então, para deixar bem claro, sou a favor da Proposta de Emenda Cons-titucional que torna obrigatório o di-ploma de nível superior em jornalismo para o exercício da profissão. Espero, sinceramente, que seja aprovada em segundo turno no Senado e na Câ-mara. Não por razões corporativistas. Mas porque acredito, como jornalista e educadora, que profissionais que pas-sam por universidades são seres hu-manos que podem fazer a diferença.

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Por ana CaroLina araújo @prof_anacarolJornalista e coordenadora do curso de comunicação social da uemG – campus de frutal

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Page 3: Jornal 360 - 8ª edição

3JAN/2012

360O trabalho eficaz dos bombeiros salva vidas e garante segurança

Salvar vidas. Talvez esse seja o objetivo que torna a Corporação de Bombeiros a instituição mais respeitada pela sociedade. Em suas fardas e com viaturas vermelhas, devem estar sempre prontos para qualquer ocorrência ao toque da sirene.

Incêndios, acidentes, enfartes, captura de ani-mais, afogamentos, desabamentos, inundações... É triste, mas os bombeiros vivem, na maioria das vezes, próximos de tragédias. Viver assim não é fácil.

Todos os dias são colocados à prova da vida e da morte. Pode ser que seja um dia tranquilo, somente cumprindo horário de serviço e fazen-do plantão. Mas pode ser que o pelotão seja con-vocado a lidar com uma situação, por exemplo, de pessoas presas em ferragens em um grave acidente, o que requer muito esforço e concen-tração. O cotidiano é incerto, mas a vontade de ajudar é o que move esses profissionais.

Tal impressão é percebida quando se pode acompanhar de perto o trabalho deles. Por isso, na manhã do dia 3 de novembro de 2011 a equi-pe 360 estava a postos no quartel do Corpo de Bombeiros de Frutal. Por volta das 9 horas so-mos apresentados à estrutura do lugar. O sol-

dado Tiago Fachinelli fala sobre a demanda de Frutal. Por ser uma cidade interiorana, é calma. Enquanto pronunciava essas palavras, a sirene tocou, como que desafiando o soldado. O servi-ço o chamava.

Explicações interrompidas, pois a agilidade é primordial. O chamado no 193 era pra um caso de suspeita de AVC, o popular derrame. Poucos segundos de movimentação e estavam todos prontos para o socorro. Fomos autorizados a acompanhar a ação, desde que num carro par-ticular. Assim o fizemos. No caminho, uma ver-dadeira perseguição à viatura, afinal tratava-se de uma emergência. Chegando ao local as ações são rápidas e logo a vítima é levada ao hospital. Frei Gabriel ou São José? O destino é definido de acordo com a propriedade ou não de plano de saúde. Enquanto acompanhávamos o traba-lho dos bombeiros, um senhor, conhecido da fa-mília, estava no local e antes que eu perguntasse, já deu seu depoimento: “Acho o Corpo de Bom-beiros melhor para Frutal do que a ambulância, porque eles são estudados para isso e são muito atenciosos e cuidadosos”, declarou Jades Reis da Silveira. Prova espontânea de admiração e reco-nhecimento.

Os protetores de plantão

A vida no quartel

PrisCiLa minani @priiminani

Acompanhando um resgate

Fotos/Eduardo Uliana

Já que é para cumprir horário em pronti-dão, ou seja, 24 horas de serviço por 48 horas de descanso, que seja num lugar confortável. O quartel frutalense possui boas instalações. A estrutura, além de compreender o espaço destinado ao trabalho, ainda possui área para a prática de atividades físicas, como campo de futebol, quadra e piscina. O alojamento e a cozinha dão um ar caseiro ao lugar que acaba se tornando o lar dos profissionais no plantão.

Oito horas da manhã. Inicia-se a jorna-da. Passos calmos de quem ainda está sono-lento, levam os bombeiros à sala de serviço. Um bom dia aqui, outro ali e as conversas fiadas com os colegas de trabalho a qualquer momento podem ser interrompidas. Se o telefone toca, a indicação da ocorrência é dada por um dispositivo com quatro cores de lâmpadas posicionado na parede frontal do quartel. Se a vermelha acender é sinal de que será um resgate; a verde indica sal-vamento; e a amarela e a azul representam os casos de socorro. Independente da cor, o caso é o mesmo: o papo muda e a seriedade e compromisso com o profissionalismo são as vozes da vez.

No caminho, o carro vermelho com o

soar da sirene deixa olhares preocupados por onde passa, pois se está apressado é sinal de que alguém corre risco e qualquer minuto pode fazer toda a diferença na vida de uma pessoa. Assim que a correria passa, o retorno ao quartel é tranquilo. No período entre as ocorrências, o clima é de descontração, até porque todos precisam recuperar as energias diante das situações do expediente.

São cerca de 30 bombeiros que formam o efetivo de Frutal. Comandados pelo Sargento Leopoldino, eles têm à sua disposição viatu-ras e um barco para salvamento. Em média, são sete no plantão diário, que se dividem nos trabalhos. Quando não é possível que es-tejam todos, o serviço se torna mais compli-cado, porém não deixa de ser bem feito.

As cidades de Itapagipe, Limeira d’Oeste, Iturama e São Francisco de Sales estão entre as que são cobertas pelo comando de Frutal. Trata-se de uma região muito grande para um efetivo muito pequeno. Outra dificulda-de é a falta de referências por parte da sinali-zação e das pessoas que requerem o serviço. O tempo perdido nessa situação pode mudar os rumos da vida de uma pessoa. Isso ainda deve ser melhorado para que a prestação de serviços possa ser cada vez mais eficaz.

Apesar de ser corriqueira a maioria dos atendimentos, a pressão é constante. Aliás,

tem que ser dessa forma. Pois, mais hora, menos hora, pode ser que a monotonia seja

quebrada e o psicológico deve estar preparado. Por isso, desde o curso de formação, o emocional e a

pressão são trabalhados a todo instante. A tarefa mais difícil nem é a do socorro, mas a de voltar ao

quartel como se não tivesse saído, lidando com o sofrimento de forma natural. Não é frieza emocional, é necessidade pro-fissional.

É assim que Tiago Fachinelli tem vivido. Há três anos na corporação, diz gostar cada vez mais do que faz. Sempre gos-tou de correr riscos e essa profissão lhe agrada. Por fim, a repórter pergunta: “já pensou em desistir?”. A resposta: “Nun-ca. Na época do curso de formação vivemos o extremo para saber se é isso que queremos, e eu tenho certeza”.

A escolha

Equipamentos para resgates em prédios, montanhas e lagos. Caminhões para combater incendêncios e quadras para lazer e treinamento

Page 4: Jornal 360 - 8ª edição

Um certo Alceu“Você é da igreja? Tem cara de gente da igreja, de crente.”“Não, não sou da igreja.”“Mas crê, não é? Todo mundo tem que crer em Deus.”Foi assim o primeiro diálogo entre Alceu Silva Queiroz e o editor do 360. Marcada a entrevista, ele nos esperava na porta de sua casa vestido com uma calça de tecido leve, com uma cor pendendo para o bege, sapatão e camisa sol-ta, para fora da calça. Cumprimentos e saudações, e somos encaminhados por ele ao fundo de sua casa. Alceu tem o andar suave e os passos curtos de quem já viveu muito. Chegado ao local da conversa, ele ajeita o sofá de maneira que fiquemos bem acomodados em um ângulo favorável: frente a frente. Assim se dará o desenrolar da prosa. A política ainda domina seus pensamentos. Mal sentamos e já quer falar sobre a situação atual da política frutalense e as eleições do ano que vem. Informa que no dia anterior estava em uma reunião, mas que não nos diria com quem ou o que foi conversado. A opinião do ex-prefeito sobre a eleição e o que foi esta reunião “secreta” o leitor lerá no box em destaque.

Alceu nasceu em Frutal, na Fazenda Cer-radão, onde morou até “amadurecer e tomar conta do próprio nariz”. Terceiro dos 11 fi-lhos de Francisco Batista Queiroz e Olívia Januária de Jesus, nascido no dia 11 de de-zembro de 1926 - “novinho, né?”, ri o entre-vistado. Com 85 anos, está totalmente lúcido e permanece muito bom de conversa, sempre entremeada por algumas anedotas.

Sua casa é grande e confortável. Mora nela há 30 anos, mas hoje mora “de bera”; considera que a casa é de seu filho. Mas antes de assentar neste endereço mudou 36 vezes. Quando com-prou a casa era uma casa mais miudinha, esta-va novinha, cheirando a tinta. Custou caro, foi um negócio ruim e não melhorou com tempo. Mas a esposa já não aguentava tantas mudan-ças. Para acalmá-la, disse que a casa era dela. Passou uns dias, apareceu bom negócio; que-ria vender, mas a esposa não quis e não dei-xou: “você me deu a casa”.

Lida com as marcas do envelhecimento com graça. Mostra-nos que, apesar da idade, seu rosto não apresenta rugas, para o desespe-

ro e inveja das senhoras de 40 que não têm a mesma sorte. Só no pescoço, e para esconder é só manter a camisa abotoada. Já a coluna está toda enrugada, herança de um aciden-te de automóvel em São Francisco de Sales de há muitos anos. Dormiu, acordou com o carro “avoando”...”que dor”. As pessoas o ti-raram de dentro do carro. No médico, nem radiografia tirou. Sarou com o tempo. Recen-temente fez ressonância magnética. A marca do acidente tá lá, na coluna.

Da infância, tem boa lembrança. E reflete: “depois que a gente fica velho a gente tem lem-branças de coisas ruins que você tem saudade. Não tem nada pior do que carrear com carro de boi. E eu tenho uma saudade doida. Aquilo tombava, milho caia no córrego e eu lembran-do do véio bravo...o pai era uma onça”.

Do relacionamento com os irmãos, as di-ficuldades não são escondidas: “dizer que o relacionamento é cem por cento é mentira. A família tem gênio; ficam sem conversar; mas na hora do chega, do aperto, os irmãos tão aí...”

Primeiro passos na política

O personagem

Lausamar Humberto @lausamar

PrisCiLa minani @priiminani

rafaeL DeL GiuDiCe noronHa @rafael_giudice

A política verdadeira, de urna, chegou tarde. Beirava os 35 anos quando foi candidato a primei-ra vez a vereador, em 1961. Neto de coronel, de título comprado, e com o pai integrante da UDN (União Democrática Nacional), esta iniciação foi inevitável. E en-trou numa época onde quase nin-guém tinha pretensões de ocupar um cargo de vereador. “Eu não queria, assim como nenhuma ou-tra pessoa. Para arrumar um can-didato a vereador tinha que ir uma turma para cercá-lo e não deixar fugir. Naquela época, vereador não recebia salário. Mas quando te jogam numa eleição, você quer ganhar.” Como o povo vivia em dificuldade, nos meses da política era muita “pedição”. Não estava acostumado com aquilo e achou custoso.

Desse mandato não guarda as melhores recordações. “Vereador não apita nada”. Seu compadre tinha uma rádio, que começou a transmitir a reunião da Câmara. Muito falador, fazia um barulho danado. Ficou bem conhecido.

O que marcou essa legislatu-ra foi a cassação do prefeito João Carlos Ribeiro. Helvico Queiroz, advogado em Frutal, sobrinho de Alceu, conta a conduta decisiva de seu tio nesta cassação:

“No dia da votação, meu tio es-tava sentado do lado de um verea-dor que devia apoiar o prefeito. Ele ficou o tempo inteiro conversando com este vereador, para distraí-lo, e

não deixar que ele votasse a favor do prefeito. Numa sessão tumultu-ada, Alceu conversava com o verea-dor, com a mão sobre a perna dele, não permitindo que levantasse. Na hora que percebeu que ia votar, conversou ainda mais e segurou fir-me a perna do vereador. Resultado, a votação aconteceu, este vereador não percebeu, e o prefeito foi cas-sado. Quando perguntei ao tio: _ mas e se ele levantasse? “_ Aí, eu ti-nha o revólver”, responde. Verdade ou só está contando vantagem? Só ele sabe”.

Cassado o prefeito, assume o vice. O vice era Celso Brito. Não gostava e não gosta do Celso de gra-ça, por causa de partido político. “Não topo de maneira nenhuma. Não sou inimigo, mas politicamen-te somos água e óleo.”

Depois disso, ficou um bom tem-po morando em São Paulo, e vol-tou. Aproximava-se a eleição de 76. Foi procurado para ser candidato a prefeito. A mulher concordou: ti-nha que vir pra cidade de qualquer jeito, para estudar os filhos.

O adversário, Osvaldo Batista de Mendonça, o Osvaldo do Cinquen-ta, era, segundo Alceu, “homem que olhava por cima, membro da maçonaria”. “Foi uma política bra-ba (sic)”. Certo dia, cruza com o concorrente e o ouve dizer: “ _ Vocês acham que eu vou perder pra um homim (sic) desse?” Elei-to, conta o episódio para Osvaldo: “você me ajudou a ganhar a elei-ção porque aí trabalhei mais...”.

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Família e rotinaAlceu é viúvo da Dona Sebastiana Maria Queiroz.

Teve oito filhos, sendo três de um relacionamento anterior. Três filhos já faleceram: Alceuzinho, Elder e Alcimar. São quatorze netos e uma bisneta.

Não concorda que vô gosta mais do neto do que do filho. ”Quero bem meus netos demais da conta, mas gosto mais ainda dos filhos que me deram os netos”. Não fica alisando, comprando balinhas, não é avô babão...

Depois de trabalhar duro a vida toda, a experi-ência lhe permite o descanso. Alceu gosta de ver tevê, adora assistir novelas. E o futebol? Não é dos programas favoritos, mas ainda assim, assiste. Não gostava muito de futebol, mas de uns tempos pra cá vem gostando. O filho que mora com ele e os netos são Palmeiras, mas “aquele Palmeiras perde demais, não dá pra torcer”. Gosta do Santos, acha o Neymar “engraçadim (sic), um molecão, e joga demais”.

O apreço pela música é bem definido: “gosto de música bonita”. O ritmo sertanejo é o preferido, com Tião Carreiro e Pardinho e Gino e Geno sendo as duplas citadas.

Alceu é um senhor com pouco estudo. Comple-tou o grupo, mas não concluiu o ginásio, como era nomeada a escolaridade da época. Mas a vivência política lhe deu destreza de idéias. Dono de uma risada gostosa e de um gênio decidido, define como deve ser um bom político: “tem que ser humano”.

Mas Alceu não foi sempre um tocador de obras e pouco voltado para o social? Samuel de Souza e Silva, 78 anos, que quase sempre esteve em campo político oposto ao de Alceu, não concorda com este julgamento: “ele tinha noção que seu trabalho ia atingir todas as pessoas. Havia uma preocupação so-cial, já que ele queria que a cidade crescesse”

Alceu diz não ter um ídolo político. Mas, quando dizem que foi o melhor prefeito de Frutal, recusa o elogio e aponta uma admiração: “Dr. Sandoval Henrique de Sá foi o melhor prefeito que Frutal já teve.” Detesta os políticos pára-quedistas. “Eles vem aqui apenas roubar os votos. Não tem compromis-sos nenhum com a cidade”. Torce para que Narcio e Zé Maia continuem como deputados por muito tempo: “eles mudaram nossa região”.

Page 5: Jornal 360 - 8ª edição

4 e 5 JAN/2012

360O primeiro mandato de Alceu fi-

cou marcado por algumas importan-tes obras. “E não tinha deputado pra me ajudar”, faz questão de lembrar. Uma das principais foi a construção da nova rodoviária.

A rodoviária antiga ficava no cen-tro, onde hoje é o calçadão. Resolveu transferi-la para o Alto da Boa Vista. Para isso teve que fechar grandes es-barrancados, abrir a avenida Lauris-ton Souza, construir ponte. Deu uma briga danada. Um dos proprietários da chácara que ficava onde se ergue-ria a ponte encrencou. Os trabalhado-res da prefeitura colocavam estacas e ele ia e arrancava. Foi quando Alceu fez uma proposta “meio boba” para

ele. Que proposta foi esta, só Deus sabe. Mas o sujeito não arrancou mais nenhuma estaca.

Havia suspeita de que a escritura era forjada. Alceu falou com o juiz: “_ Já tô com a rodoviária pronta, a rua pronta. Como é que eu faço?”. Segun-do Alceu, o juiz deu a seguinte respos-ta:” _ Numa noite, vai com o maquiná-rio e derrube cercas, mangueiras, pés de laranjas.” Um dia de carnaval, o povo lá dançando e as máquinas der-rubando tudo. E a ponte foi feita.

Queria construir o posto de saúde municipal Sandoval Henrique de Sá. No terreno morava um policial apo-sentado, bravo. Disse que não saia. Al-ceu avisou que precisava da casa, que

era da prefeitura e que “ele ia topar um mais bravo - disse assim, vai que dava certo, Alceu ri - vai é sair mes-mo”. Saiu, e recebeu um terreno para construir uma nova casa com os mate-riais da antiga.

Para a construção da rodoviária, retirou pessoas que moravam na área e deslocou para o que seria a Vila Es-perança. Foi muito criticado por isso. O novo bairro não tinha estrutura. Os opositores diziam que estava criando uma Vila dos Pobres.

“Vila dos cachorros, quando que-riam me atingir, diziam Vila dos ca-chorros. Mas este apelido tem expli-cação. Um camarada de Votuporanga arrumou alguém e invadiu lá, fez um

cômodo de laje, piso de cimento, para colocar coisas de matar vaca. Quando o cômodo foi derrubado ficou uma fe-dentina só. Quando levava gente pra ver onde seriam os terrenos, estava cheio de cachorros atraídos pelo fe-dor dos restos de vacas”.

Não concorda com as críticas que recebeu por fazer este novo bairro, que segregaria os mais pobres. “A vida anda dessa maneira. Você abre um lo-teamento, dá de graça (sic), eles vão construindo, vai chegando quem tem um tutuzinho, compra e faz uma ca-sinha melhor. Quem vendeu constrói outro cômodo, compra uns móveis. O dinheiro vai girando. Hoje, lá é uma cidadezinha...”

O primeiro mandato (1977 a 1983)

No segundo mandato, fez mais de 300 casas, tapou ainda muito esbarran-cado, abriu a avenida JK e construiu uma nova sede para a prefeitura. “Tem muita coisa que se faz e não aparece. Fiz muita rede de esgoto. Cuidei dos vilare-jos, levando água, luz, esgoto, posto de saúde.

Passou ao sucessor 72 veículos. No último mês de seu mandato colocou anúncio no rádio dizendo que quem tivesse algo pra receber da prefeitura que procurasse. Esta era uma marca de seu governo. O empresário Adalberto Queiroz confirma: “O Alceu, na frente da prefeitura, sempre pagou em dia”. “Pagava um dia antes e não depois”, fi-naliza Alceu.

A eleição de 92 seria histórica em Frutal. Havia uma chapa que prometia mudança, renovação, encabeçada pelo jovem arquiteto Toninho Heitor e o médico Zanto, muito popular.

O mote principal desta campanha era o lema “Nem Celso, nem Alceu”. Al-

ceu diz que esta frase não incomodava, mas a expressão “tô nem aí” dita como “tonin aí”, essa o deixava injuriado.

Mas sabe que é do jogo. Também teve um jingle grudento: “E pra prefeito de Frutal, Alceu Queiroz, Alceu Quei-roz, Alceu Queiroz,...”. Um adversário reclamou: “por que não para com essa música? Já tá incomodando.”, e Alceu: “é pra encher o saco mesmo”.

Com seu nome martelado pelos al-to-falantes dos carros, a filhinha de um eleitor quis conhecê-lo. Sabendo disso, assim que venceu a eleição, foi conhe-cer a garotinha. Ela olhou pra cima, ficou caladinha, despediu e foi embo-ra. No outro dia, o pai o encontrou e contou que a menina disse, assim que Alceu saiu: “pai, mas ele é feio, hein!”

Acha que poderia ter feito mais no fim do segundo mandato. “Sincera-mente, pensei que meu candidato ia ga-nhar e queria deixar o caixa organiza-do para ele. Devia ter feito mais coisas, gastado toda a verba. Deixei pro Toni-

nho e qualquer buraco que ele tapava, colocava: aqui vai o dinheiro do povo. Falando isso, queria dizer então que eu tinha roubado?”

Diz que Toninho já o procurou e re-conheceu que errou, que não podia ter feito o que fez. Perdoou? Sim - mas não esqueceu, continua na cabeça. “Quanto mais velho, mais guarda”.

A informalidade para resolver ques-tões sempre foi uma característica do político Alceu Queiroz. Resolvia muitas coisas no papel de pão, no guardanapo, enquanto conversava com alguém em um boteco. Tem a fama de ser rude, pavio curto. Não concorda com ela. Diz que sempre foi sincero. Certo dia, Mau-ro Menezes, importante líder comuni-tário já falecido, disse ao Helvico, sobri-nho de Alceu: “Gosto do Alceu porque ele não tem palavra”, Helvico ficou sem entender; aquilo era o oposto do que se espera, que as pessoas gostem de quem tem palavra. Mauro explicou: “Faço um pedido para o Alceu. Hoje ele diz que

não, de jeito nenhum, que não há hi-pótese. Amanhã ele já diz sim, que se ajeita.”

Agiu com força uma única vez. “Um vagabundo veio me questionar, já de plano feito, para me tirar do sério e mostrar para a imprensa. Nesse dia, o coloquei pra fora do gabinete, empur-rando-o com a cadeira. Mas ele mere-cia.” Não acha que tem pavio curto. Sempre entendeu os pedidos. Quando alguém o procurava era porque precisa-va. “Quando é candidato promete tudo. Depois, tem que atender”

Reconhece que teve grandes ajudas nestes seus dois mandatos. Cita o nome de alguns funcionários que foram mui-to importantes para o seu trabalho: Izí-dio, Chiquinho Mata, Chico Queiroz. No segundo mandato destaca o traba-lho de seu filho, Gilsen Queiroz. “Ele é trabalhador demais. Andava toda a cidade, sabia o que estava acontecendo. E sempre pegou no pesado, não tem moleza com ele, não.”

Segundo mandato (1989 a 1992)

Família e rotinaAlceu é viúvo da Dona Sebastiana Maria Queiroz.

Teve oito filhos, sendo três de um relacionamento anterior. Três filhos já faleceram: Alceuzinho, Elder e Alcimar. São quatorze netos e uma bisneta.

Não concorda que vô gosta mais do neto do que do filho. ”Quero bem meus netos demais da conta, mas gosto mais ainda dos filhos que me deram os netos”. Não fica alisando, comprando balinhas, não é avô babão...

Depois de trabalhar duro a vida toda, a experi-ência lhe permite o descanso. Alceu gosta de ver tevê, adora assistir novelas. E o futebol? Não é dos programas favoritos, mas ainda assim, assiste. Não gostava muito de futebol, mas de uns tempos pra cá vem gostando. O filho que mora com ele e os netos são Palmeiras, mas “aquele Palmeiras perde demais, não dá pra torcer”. Gosta do Santos, acha o Neymar “engraçadim (sic), um molecão, e joga demais”.

O apreço pela música é bem definido: “gosto de música bonita”. O ritmo sertanejo é o preferido, com Tião Carreiro e Pardinho e Gino e Geno sendo as duplas citadas.

Alceu é um senhor com pouco estudo. Comple-tou o grupo, mas não concluiu o ginásio, como era nomeada a escolaridade da época. Mas a vivência política lhe deu destreza de idéias. Dono de uma risada gostosa e de um gênio decidido, define como deve ser um bom político: “tem que ser humano”.

Mas Alceu não foi sempre um tocador de obras e pouco voltado para o social? Samuel de Souza e Silva, 78 anos, que quase sempre esteve em campo político oposto ao de Alceu, não concorda com este julgamento: “ele tinha noção que seu trabalho ia atingir todas as pessoas. Havia uma preocupação so-cial, já que ele queria que a cidade crescesse”

Alceu diz não ter um ídolo político. Mas, quando dizem que foi o melhor prefeito de Frutal, recusa o elogio e aponta uma admiração: “Dr. Sandoval Henrique de Sá foi o melhor prefeito que Frutal já teve.” Detesta os políticos pára-quedistas. “Eles vem aqui apenas roubar os votos. Não tem compromis-sos nenhum com a cidade”. Torce para que Narcio e Zé Maia continuem como deputados por muito tempo: “eles mudaram nossa região”.

A vida de Alceu Queiroz é cheia de histórias, ora engraçadas, ora polêmicas, mas sobre sua pas-sagem pelo gabinete o resumo é feito pelo pró-prio: “No primeiro mandato, peguei um diaman-te bruto que não consegui lapidar. No segundo, acredito, a tarefa foi concluída. Hoje não quero mais política, não pra mim, mas o envolvimen-to é inegável.” Político nato, ainda mexe os seus pauzinhos. Opina sobre questões que envolvam a cidade e, claro, sua opinião vale muito.

Bem, mas você deve estar se perguntando: e a conversa inicial do texto, o que tem a ver? Sim-ples, além de crer em Deus, Alceu foi um homem que acreditou em Frutal, acreditou que a posição da cidade no Triângulo Mineiro e tão próxima ao estado de São Paulo, seria e ainda é, algo que deve ser explorado com grande potencial de de-senvolvimento. E quando teve oportunidade de comandar a cidade por duas vezes fez o que jul-gava necessário para que esse desenvolvimento acontecesse. Impossível deixar passar a observa-ção de que a Frutal de hoje tem muito de Alceu.

A prefeita Ciça reconhece: “Alceu será lembra-do como um prefeito dinâmico, empreendedor e comprometido com o desenvolvimento”.

O legadoEleições 2012“Vou trabalhar para que o Mauri seja prefeito de Frutal”

Foi começar a entrevista e Alceu já quis falar sobre a elei-ção. Em sua opinião, o quadro ainda está muito indefinido, “tem muito pré-candidato”.

Instado a opinar sobre alguns destes pré-candidatos não se vez de rogado: “Toninho Heitor já teve sua vez. O Ésio não serve para Frutal. A candidatura do Lino não é pra se levar a sério. O Romero Brito é boa pessoa, não vejo nada de ruim, acho que até vai ser candidato, mas não a prefeito.”

Alceu já fez sua escolha. E seu candidato é o empresário Mauri Alves, proprietário da Coragro. A chapa dos seus so-nhos é Mauri e Romero. A “reunião secreta” citada no corpo da reportagem foi com a prefeita Ciça, justamente para tratar dessa possível dobradinha. O 360 apenas juntou as pontas para chegar a esta conclusão. Após entrevistar Alceu, esti-vemos com a prefeita Ciça no dia seguinte. Sem saber o que Alceu havia dito, nos informou que havia estado com ele por um longo tempo. Foi só somar 2+2.

Os grupos de Narcio e Ciça estarão juntos nesta eleição, é o que aposta Alceu. E ele acredita que o nome que encabeçará esta chapa será o de Mauri. Mas, afinal, por que esta escolha?

“Vi o Mauri chegando aqui menino, montando a loja ali no Posto do Paulo. Cresceu, está muito bem de vida. É sério, é preparado. Dos pré-candidatos, ele dá de 10 a 1. Não digo de 10 a 0 pra não humilhar.”

Alceu está confiante: “Essa política está fácil. Temos que fa-zer as coisas com calma. E estou trabalhando nos bastidores como se fosse minha candidatura. Acho que vai dar tudo certo.”

São cinqüenta anos de eleições. É bom prestar atenção no que diz o “velhinho”.

Page 6: Jornal 360 - 8ª edição

6 JAN/2012 Quem não

sonhou?Ser um astro do mundo da bola é o sonho de todo garoto, mas o caminho é árduo

rafaeL DeL GiuDiCe noronHa @rafael_giudice

Digam o que quiser. Do menos fanático, do menos habilidoso até o mais apaixonado torcedor de futebol, todo garoto já chutou uma bola. E um dia, ou esse ga-roto ou alguém à sua volta já disse: “vai ser jogador de futebol”. E quem não sonhou?

Quem assiste ao clipe da música “É uma partida de futebol”, do Skank, ouve: “o futebol é um ramo da arte. Arte popular.” A seguir, um belo solo de guitarra e, sem dúvida, um dos melhores resumos sobre o que é um jogo. Definições simples, que deixam claro a função de cada jogador no campo. A parte menos feliz do clipe é, para este paulista que vos escreve, mostrar uma partida entre Cruzeiro e Atlético Mineiro, mas isso, é detalhe, mero detalhe de regionalismo.

E todo garoto se identifica com ela. Que moleque, com seis, sete ou até vinte anos já não sonhou entrar num estádio lotado para fazer aquilo que mais gosta: jo-gar futebol. São raras as exceções, assim como são raros os que conseguem realizar este sonho.

Geralmente, a história é esta: um garoto simples, que joga o seu futebol no campinho de terra, ainda sem ne-nhum calçado. Alguém passa por ali, o observa. E gosta! E o leva para testes, para treinos, até que dá certo. Um novo Pelé? Um novo Garrincha? Bem, são suposições injustas. Jamais haverá outro jogador como Pelé, como Garrincha, ou até mesmo um Felipe Melo. O novo as-pirante a astro do mundo da bola é único. Pode ser ha-bilidoso ou cabeçudo, como muitos definem o nosso volantão da última copa, mas cada jogador tem a sua característica. Arquétipos – a mini-história do começo do parágrafo – existem apenas na teoria, exceto para Jung, nome famoso da psicologia analítica.

Pois bem, além do dinheiro e da fama – alcançados por uma minoria – por que ser jogador de futebol? Por que passar tanto tempo longe de casa, para depois, os amadores, entrar nestes micros coliseus contemporâne-os que são os campos da várzea na esperança de ser visto e sair do anonimato, se tornar minoria, exceção? É im-possível explicar paixão, esperança e prazer.

Mas, se é pequena a parcela de pessoas que vivem esse sonho, até que isso se torne realidade, a possibilida-de sempre existe. E existe em qualquer lugar do mundo. Seja em Marselha, França, onde nasceu Zidane. Seja em Ypacaraí, Paraguai, terra de um dos melhores zagueiros da Copa de 1998, Gamarra. Seja em Paulista, interior do Pernambuco, terra de Rivaldo, o grande jogador brasi-leiro, ao lado de Ronaldo, na Copa de 2002. Em qual-quer lugar do mundo, existem talentos, existem peque-nos diamantes, pedras brutas à espera da lapidação.

Alisson Ribeiro, o beque de Fronteira

O leitor provavelmente ainda não ouviu falar de Alisson. Nascido no dia 10 de fevereiro de 1994, na cidade de Fronteira (MG), o jovem atua hoje como zagueiro do time sub-18 do In-ternacional Sport Club.

Diferente da pequena história sobre surgimento de jogadores, des-crita acima, Alisson não foi visto em um campinho de terra. E para os ar-gumentadores de plantão, isto não é uma contradição. Serve para mostrar que cada história é uma história e re-forçar a idéia: os arquétipos são, na maioria das vezes, pura teoria.

Voltando à história do beque de Fronteira. Há quatro anos, Alisson co-meçava a dar os primeiros passos no caminho para o Rio Grande do Sul. Treinava na escolinha municipal de sua cidade, até que, dois anos depois (2009), surgiu a oportunidade de jo-

gar um campeonato regional, em São José do Rio Preto. Fronteira partici-pou e o zagueiro despertou o interesse do nosso outro personagem, Afranio Vieira Junior, frutalense, professor de educação física e então técnico do América de Rio Preto.

Interessado no futebol do atleta, Afranio o convidou para uma sema-na de treinamentos em Rio Preto. A semana foi de trabalho intenso, com saldo positivo. Alisson permaneceu na cidade paulista até meados de 2010, obteve bons resultados. Teve altos e baixos como todo atleta, mas nunca desistiu. “O Alisson é focado, sério, já passou por fases difíceis e sempre bus-cou melhorar. É muito maduro, carac-terística importante para não ficar des-lumbrado com o mundo do futebol e alcançar seus objetivos.”, diz Afranio.

Rio Grande do Sul, o beque está fora de casaEm março de 2010, Alisson viu a

oportunidade de mudar a vida. Um DVD com lances do atleta e um jogo completo foi levado para dirigentes do Internacional. Novamente o garoto foi convidado para ficar uma semana treinando sob a análise de profissionais que buscam transformar a pedra bruta. O resultado? Aprovado.

Mais um mês e o contrato com o Internacional seria assinado. Alisson conta como foram os dias que ficou na capital gaúcha antes da assinatura: “O começo é bem difícil. Até assinar o con-trato é assim. Mas hoje o clube oferece

toda a estrutura necessária para o nos-so melhor desenvolvimento.”

O zagueiro, que começou em Fron-teira, numa escolinha simples, é hoje atleta da Agência N2Sports, já foi cam-peão gaúcho – em cima do Grêmio –, 3º colocado em campeonatos nacionais e coleciona títulos de torneios regionais.

Apesar deste mundo de títulos, con-tratos, boa estrutura, ninguém substitui a família e isso ficou claro, ao ouvir as pa-lavras de Alisson pelo telefone “A sauda-de de casa é complicado. Eu saí com 14 anos e minha adolescência foi trabalhar, mas o que aperta mesmo é a saudade.”

360

Além de Alisson, Afranio conta

que existem outros joga-dores da região que estão

em grandes clubes. Na cida-de de Frutal mesmo, o garo-

to Gustavo, que começou em 2006 na Escolinha Gol de Placa,

hoje é capitão da equipe Sub-15 do Noroeste de Bauru.

Fica, portanto, provado por A + B, que talentos existem por todos os lados, mas só talento não basta. “A formação da família é impor-tante. O Alisson, por exemplo, já trabalhava quando começou a jogar bola e os pais sempre estiveram ao lado dele. Tenho certeza que se ele não conse-guir ser um jogador profis-

sional, será uma excelente pessoa. A família sempre

o ajudou.”, analisa Afranio. O in-centivo ao esporte é outro fator de grande relevância. Por mais que exista uma lei, com este nome, é difícil trabalhar na formação de jo-vens atletas. Afranio trabalha como professor, mas poderia estar na bus-ca de garotos que formassem uma equipe e representassem a cidade. “Voltei para Frutal e ninguém me procurou para desenvolver um projeto com crianças e descobrir novos talentos, aí fica difícil mexer com futebol.”, conclui.

É possível transformar sonhos em realidades, mas, primeiro, é necessário transformar aspirações em realizações. Apoiar, incentivar o esporte. Se virão atletas bons ou ruins, é secundário. A formação como cidadão vai além. Sonhar não faz mal algum, pelo contrário.

Talentos por todos os lados

Page 7: Jornal 360 - 8ª edição

7 JAN/2012

360A ilha da magia dos sabores

Famosa por belas praias, Florianópolis também prende os turistas pelo estômago

mariana noGueira @maricotanog

É preciso pés em sapatos confortáveis, roupas leves, sacolas ecológicas para guar-dar as compras e muita disposição para caminhar entre as subidas e descidas do centro histórico de Florianópolis. As ladei-ras forradas de paralelepípedos, ladrilhos e calçadas de pedras portuguesas cansam até os mais atletas.

A Alfândega, vizinha do Mercado Públi-co Municipal, abriga na sua frente uma feira livre onde é possível comprar artesanatos, discos de vinis, caricaturas, pinturas, livros antigos e até um pão com linguiça. Existe também um aglomerado de barracas que vendem queijos, panelas de barro, artesana-tos de renda, carnes defumadas, lingüiças, salames e outros embutidos. O Largo da Alfândega é ponto de encontro de artistas que se apresentam no palco do chafariz e turistas que buscam um passeio cultural.

O calçadão histórico-comercial da Rua Felipe Schmidt não perde em beleza. No local, além do comércio das lojas e galerias, vêem-se vendedores ambulantes aos boca-dos. No chão de pedras portuguesas eles es-tendem sua mercadoria, cena semelhante à da Rua 25 de Março em São Paulo. Ainda nesse endereço, a Igreja de São Francisco, inaugurada em 1815 ,preserva os traços originais do período colonial. Na entrada, vários pedintes esperando doação, fato co-mum, já que pertence à Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, que protege os desafortunados.

O conjunto I – Centro Histórico, Área Central de Florianópolis – também inclui o Museu Histórico de Santa Catarina. O Pa-lácio Cruz e Sousa foi construído para ser Casa do Governo. Nele se abrigaram gover-nadores no Brasil Colônia, presidentes da província no Brasil Império e chefes do po-der executivo estadual no Brasil República. Após anos como sede do poder executivo, o palácio se transformou em museu fazendo parte das obras sócio-culturais do centro da cidade.

Florianópolis não é a ilha da magia por acaso. Mas também não é apenas de resorts e jurerês que ela é mundialmente conheci-da. A ilha é um importante centro histórico brasileiro. Há na cidade uma ponta da vasta história do nosso país em cada esquina. Pré-dios com traços coloniais, os artesanatos à venda, o jeito de vender o pescado e a edu-cação dos habitantes. Cada segundo em Floripa compensa.

A repórter que aqui vos escreve esconde um entusiasmo: a gastronomia. Não só pela formação acadêmica na área, mas por ter passado a vida em torno de fogões, com mãe e avó cozinheiras de mão cheia. Assim como os sabores caseiros, as novidades são bem-vindas. É preciso comer de tudo, já dizia a minha mãe. E foi seguindo seu sábio conselho que em minha última viagem relâmpago, deixei a praia de lado e fiz um tour gastronômico pelo Mercado Público Municipal de Florianó-polis, provando sabores e aromas.

As admiráveis praias do sul brasileiro encantam por suas águas claras de areia branca. Floripa não fica atrás. A ilha tem cerca de cem praias, entre essas estão: Brava, Canasvieiras, Ingleses, Jurerê, Santinho, Praia do Forte, Joaquina, Mole, Armação, Morro das Pedras e Açores. Na chegada à ilha da magia, fica praticamente impossível não se envolver pela bele-za da Ponte Hercílio Luz, um cartão-postal de botar inveja em qualquer maravilha do mundo moderno. Durante a noite, a beleza arquitetônica da ponte se evidencia com as luzes relu-zindo seu reflexo no mar.

A ilha de Santa Catarina tem como base gastronômica os peixes e frutos do mar, apesar de contar com casas típi-cas italianas, japonesas, entre outras. No Mercado Público são encontrados os pescados mais bonitos da cidade. São di-versos boxes com peixes frescos, crustáceos e moluscos. Há também uma imensa variedade de grãos, verduras, legumes, frutas, peças de carne defumada e artesanatos. O espaço construído em 1899 contava com apenas uma ala de espaços para vendas, a outra ala e um vão ligando as duas partes do mercado foram feitos em 1915.

Hoje, o mercado abriga 140 boxes com mercadorias diver-sificadas e bares. Entre os bares internos, o Box 32. Fundado em 1984, o local é conhecido como o balcão mais democrá-tico do Brasil, pois nele se sentam pessoas de todas as classes sociais. No cardápio, que, diga-se de passagem, existe disponí-vel em sete idiomas, mais do que se espera de um bar de mer-cadão, pratos recheados de peixes, camarões, outros frutos do mar e as cachaças 32. O pastel de camarão com 100 gramas de recheio e as ostras frescas são, segundo o garçom Marce-lo, os pratos mais pedidos. As apetitosas pernas de rãs fritas e empanadas não passam despercebidas. Suculentas e exóticas, aguçam a curiosidade e matam a fome dos freqüentadores.

Entre uma ala e outra do mercado, um vão a céu aberto, e outros bares e restaurantes. Com música ao vivo, andarilhos, vendedores ambulantes e pombos, o lugar é preenchido de mesas e pessoas. O ambiente pitoresco e descontraído faz jus a um Mercado Municipal centenário. O chopp na caneca de 500 mililitros faz-se presente em praticamente todas as mesas, o calor e os petiscos servidos servem de ajuste per-feito para acompanhar a bebida. Entre as especiarias é pos-sível provar o Congrio, peixe de carne branca macia e com poucos espinhos, grelhado, acompanhando de pirão, arroz branco, salada e molho de camarão pela bagatela de R$50. O preço amigo chamou à atenção já que, na noite anterior, em um famoso restaurante italiano de Florianópolis, o mes-mo pescado, em porção menor, acompanhado de talharim, bolinhos de purê de batata e brócolis não saiu por menos de R$150. Iscas empanadas de peixe acompanhado de caipiri-nha de limão com cachaça espantam o cansaço do passeio, a fome da tarde e o calor de um sábado de primavera.

Aos sábados, dia em que estive no local, o Mercado Muni-cipal fecha às 12h. Já os bares que estendem as mesas na rua, fecham às 15h. Aos domingos nada funciona. Curioso é que, de acordo com alguns comerciantes, as praias ficam lotadas aos sábados e domingos não apenas pelos turistas, mas pelos próprios florianopolitanos, que aproveitam para aproveitar as belezas da terra natal, algo diferente do que se vê em mui-tas cidades litorâneas.

Turismo Gastronômico

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Museu Histórico de Santa Catarina: Palácio Cruz e Sousa

Congrio: peixe de carne branca macia, com poucos espinhos e grelhado

Turismo Cultural

Ponte Hercílio Luz: construída para ligar o continente à ilha de Santa Catarina

Page 8: Jornal 360 - 8ª edição

8 JAN/201236

0A experiência de viajar mais de 300 km para participar de um grande Festival

tHaís fernanDes @thafsousa

SWU 2011 #EU TAVA LÁ

Foram 180 mil pessoas nos três dias de Festival. O SWU (Começa com Você) reuniu música e artes com o intuito de disseminar trabalhos e discussões susten-táveis. Os cabelos denunciavam a diversi-dade: dreads aos montes, moicanos, cha-pinhas, black powers. A grande maioria viajou muitas horas até chegar ao evento, mas a verdade é que a viagem ao lado de amigos ou mesmo de desconhecidos com algum gosto em comum, já é grande parte da aventura.

Em três dias, artistas nacionais e inter-nacionais se dividiram nos mais diferen-tes estilos. Do reggae para o eletro, até o legítimo rock’n roll. Com 1,7 milhão de metros quadrados o Festival abrigava além dos palcos musicais, diversas intervenções artísticas e, ainda o II Fórum Global de Sustentabilidade. As palestras e debates ocorreram durante as manhãs e as tardes de todos os dias. Para quem já tivesse o in-gresso bastava se inscrever e participar de graça. O Fórum contou com convidados de peso como o músico e pacifista Neil Young e a diretora de cinema Laís Bodan-zky (Bicho de sete cabeças e As melhores coisas do mundo).

A abertura do Festival contou com muito rap e reggae. E quem escolheu o primeiro dia não se arrepende. Marina Toniollo Reis, 20, estudante de Comu-nicação Social na UEMG, planejava des-de junho deste ano a viagem ao Festival. “Quando meus amigos me falaram e fi-quei interessada, combinamos de ir todos juntos”. A turma que decidiu viajar quase 12 horas até o SWU era formada por seis estudantes da UEMG, Campus de Frutal.

A falta de opções locais fez os amigos

suarem pra conseguir um meio de trans-porte. “Foi dificílimo encontrar transpor-te. De tanto eu ir atrás, lembrei de uma excursão que fizemos para o programa Altas horas e o guia Claudinei me passou o cartão dele, entrei em contato. Como ele é de Rio Preto, me informou sobre uma excursão de uma agência de lá. Todo mundo concordou e fomos com eles. O único problema era que a excur-são saia de Rio Preto, mas nós demos um jeito... fomos de táxi, hehehe... e no final deu tudo certo”, brinca Marina.

Mas todo o esforço foi recompensado com a chegada ao local do evento. “Va-leu a pena sim, cada minuto de ansieda-de e de insônia.”, afirma Thiago Couto, 21, um dos seis estudantes que saíram de Frutal rumo ao primeiro dia de Festival SWU. Marina lembra ainda o que passava por sua cabeça antes da chegada: “Expec-tativas foram muitas. Queria muito par-ticipar de um festival mundialmente co-nhecido e com tantas atrações. Primeira sensação? Olha aonde eu tô! Foi demais, é enorme! Olha a estrutura desse lugar.”, impressiona-se.

O show mais falado do dia 12 certamen-te foi o do Black Eyed Peas. Thiago ressal-ta o carisma do grupo americano. “Curti sons até mesmo antes desconhecidos. A energia, a “vibe” te faz curtir! Surpreendi-me com o show do Marcelo D2 e do BEP! Sensacional é pouco”, enfatiza Couto.

Os shows internacionais foram os mais esperados e surpreendentes para os ami-gos. “Snoop Dog foi demais, foi um show muito bom. Meus amigos todos comen-taram que adoraram o show. E negativa-mente foi o Kayne West, chato até!”, re-

lembra Marina. É claro que em meio a tantas opções,

foi preciso definir bem o que cada um queria fazer. Por isso a primeira parada foi por um dos ambientes de interven-ção artística, para depois seguirem para a Tenda Heineken, onde estavam os Dj’s. “Devido ao enorme espaço e aos shows simultâneos não tive a oportunidade de fazer tudo, porém fiz tudo o que eu dei prioridade.”, afirma Couto.

O estudante, que cursa o 4º período de Administração, esteve em seu primeiro grande Festival e conta que já guarda gran-des lembranças. “A sensação é única, não me sentia no Brasil. Eu me sentia como em um festival na Inglaterra ou qualquer outro festival internacional fora do nosso país, que para eles já é freqüente. Grandes artistas nacionais e internacionais fizeram com que eu não desistisse ou deixasse essa oportunidade passar.”, ressalta Thiago.

“Apesar de ficar super cansada, não conseguir dormir no ônibus e ficar 48 horas acordada, valeu a pena. Quero essa aventura de novo!”, diz Marina que re-lembra ainda que a companhia dos ami-gos foi essencial para tornar a experiência inesquecível: A viagem foi maravilhosa. Só risadas, vale a pena, quero repetir!.

Em meio a 73 atrações musicais, os in-teressados tiveram que escolher bem em qual dia comparecer. E a preferência fru-talense ficou mesmo com o último de dia de Festival. O dia 14 de novembro reuniu bandas que tem em comum o rock e os fãs devotos, incluindo um ônibus lotado de frutalenses. Kaio Cesar, 23, estava de olho no Festival desde sua primeira edi-ção no ano passado: “Não poderia per-

der a segunda. A expectativa era de um festival alternativo, com muito rock e sem violência.”

Na sua lista de preferências, Kaio des-taca as bandas Alice in Chains e Stone Temple Pilots. Mas como todo grande evento, este também proporcionou sur-presas. “A banda Down eu praticamente não conhecia e foi espetacular. Já a Pri-mus foi uma merda e todo mundo falava que era uma banda fodida.”

O jovem, que já esteve em outros festi-vais, destaca a estrutura e a qualidade das bandas no SWU: Com certeza foi o maior festival que já fui. Os diferenciais foram as bandas dos anos 90, com certeza.

Além disso, ele não se abala com a idéia de viagem cansativa de bate-volta. “Pra quem mora em Frutal, se quiser ir a show grande tem que enfrentar viagem longa, então eu sempre encarei essas via-gens de cinco ou mais horas. E é sempre bom, porque a viagem também faz parte da diversão. É praticamente um evento a parte.”, confirma Kaio.

Sobre a experiência de um grande Festival os três aventureiros são unânimes: Sim, eles pretendem repetir a dose. “Com certeza, se o line up do SWU 2012 estiver legal como em 2011 eu irei. E estou pla-nejando de ir ao Lollapalooza em 2012. vamos ver.” comenta Kaio Cezar. Marina também tem planos para o Lollapalooza que ocorrerá em São Paulo, em abril do ano que vem. “Umas das minhas bandas favoritas vai tocar, o Foo Fighters! Eu to morrendo de vontade de ir. Se eu tiver gra-na eu vou!”, explica. E Thiago completa: “As economias de universitário que sou, já estão sendo feitas!”.

Fotos/Arquivo Pessoal

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360Proclamando as repúblicas

República estudantil é o sinônimo de desordem? Só para quem vê de fora

mariana noGueira @maricotanog

Com o nascimento do campus da Universidade do Estado de Minas Gerais em Frutal, a cidade ganhou não só em educação, mas também em desenvolvi-mento. Em 2004, ano do primeiro vestibular da UEMG, Frutal acolheu alguns novos moradores que cursariam Administração. A partir daí, o número cres-cente de universitários acompanhou o desenvolvimento do campus, que a cada ano criava novos cursos.

Atualmente, 1300 alunos freqüentam os sete cursos oferecidos pela institui-ção. Estudantes que adotaram Frutal como lugar pra viver. A questão é: como vivem esses universitários? Onde moram? Como se alimentam?

Uma boa parcela mora sozinha ou divide a casa com mais um estudante. Outros, optaram pela comodidade das pensões. Há ainda os que residem nas cidades vizinhas e vem todos os dias para Frutal de ônibus.

Mas são as repúblicas que estão se disseminando pela cidade, tornando Fru-tal uma cidade caracteristicamente universitária. Já é em torno de vinte o nú-mero de repúblicas instaladas atualmente na cidade, com uma média de cinco moradores. São repúblicas femininas, masculinas e uma mista.

Como grandes famíliasRepública tem perfil. Umas são mais unidas, outras mais independentes,

mas todas vivem em sintonia. Pessoas que antes da faculdade não se conheciam, hoje vivem como uma grande família. Assim como o nome diz, república é uma coisa pública, neste caso, todos são líderes opinando e contribuindo para o bom andamento da casa.

“É como se fossemos irmãos, uma família” define Samuel Rocha, integrante da Vira-Lata, república masculina mais conhecida da cidade. Na casa moram além de Samuel, que é de Franca, Warley Damásio, de João Monlevade, Alex Santana, de Cajobi, Hugo Zaqueo, de José Bonifácio, Thiago Madlum e Felipe Soares, ambos de São José do Rio Preto.

Já as conterrâneas de Minas Gerais, Giovanna Mesquita, de Teófilo Otoni, Monique Calasãs, de Uberaba, Samira Baltazar, de Viçosa e Juliana Cavalcanti, de Conselheiro Lafaiete integram a Rep. De Minas, que é pouco popular, mas que não perde em espírito de república para nenhuma outra. “É uma questão de sorte a república, das pessoas com quem você vai morar”, diz Monique.

Bigorna é o nome da única república mista existente em Frutal. São duas meninas, Jôicy Franco Silva, de Indiaporã e Samara Fagundes da Silva, de Ara-xá, e um menino, Ramires Félix de Lima, de José Bonifácio, dividindo o mesmo teto, teto sustentado por uma grande amizade. “A ideia da república mista veio porque já tínhamos grande amizade, e nenhum de nós estávamos contentes com os lugares que morávamos” conta Jôicy.

A caçulinha das repúblicas frutalenses é a Rep. Kalymama, com três morado-res e quatro meses de existência. A Kalymama surgiu quando Rodolfo Gorjon, de Bebedouro, José Humberto Carvalho Freitas e Eduardo Figueiredo Queiroz, ambos de Iturama, se juntaram. Eles saíram do condomínio onde moravam e buscaram um ambiente só deles. “As mudanças foram em relação ao espaço e a liberdade. Acho que isso já é bastante coisa, se for pensar”, enfatiza Rodolfo.

Seis mulheres e um cachorro. Assim é composta a Rep. Tcheca. Aline Rol-dão, de Itapagipe, Allana Magno e Jéssica Rodrigues, de Rio Preto, Larissa Dar-dani, de Santa Adélia, Natália Coquemala, de Nhandeara, Taciane Borges, de Passos e Tcheco, frutalense, o poodle que é o xodó das tchecas, apelido dado às meninas da casa.

Ao contrário do que muitos pensam, salvo algumas exceções, as repúblicas são organizadas, limpas e harmoniosas. Cada qual com suas peculiaridades e regras a serem seguidas.

Repúblicas de Frutal

até vivaram tema de

um calendário pro-

duzido por alunos

de Fotojornalismo

da UEMG - Cam-

pus de Frutal,

orientandos pelo

professor Rodri-

go Portari.

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Amontoadas em um sofá de 3 luga-res, cinco das seis integrantes da Re-pública Tcheca abriram as portas da casa para provar que “a Tcheca é uma casa de família”, como definiu Natá-lia. A casa é ampla e cada uma tem seu quarto, seu espaço. Por um des-ses acasos do destino, as seis estavam à procura de um novo lugar pra morar quando se encontraram e fundaram a moradia. Seis mulheres (ainda sem o cachorro)? Tinha tudo para dar erra-

do. Mas deu certo. “Eu, sin-ceramente pensei que nunca fosse dar certo”, diz Aline, enquanto Taciane destaca um dos pontos positivos da casa, “às vezes você tá preci-sando de alguém, pode ter três fora, mas sempre vai ter uma das meninas aqui pra te ajudar”.

Todas são categóricas quando o assunto é o moti-vo principal para morar em república: o orçamento. Di-vidir as despesas de aluguel, água, energia elétrica, inter-net, etc., é muito melhor do que pagar todas essas contas sozinhas. Já a alimentação é uma despesa individual, cada uma é responsável pela sua alimentação. “A gente não

tem que ficar preocupando com o que a outra vai comer” ressalta Jéssica. O fator pais também foi decisivo. Saber que as filhas terão com quem contar caso precisem de alguma coisa tran-qüiliza os pais e mães das meninas.

Na Tcheca, pode tudo, menos o barulho excessivo. Desde que, to-das saibam e concordem. Pode festa, churrascos, aniversários e reuniões de amigos. Na limpeza, cada integrante é responsável pelo seu quarto e os am-bientes comuns são de todas. Se uma decide começar a limpar e a outra vê, logo todas estão limpando a casa jun-tas.

O fofo Tcheco é uma grande com-panhia. Segundo as meninas, tem dias que nenhuma delas quer brincar com ele, então ele faz bagunça, as neces-sidades na sala, rasga o lixo e leva frutinhas pra dentro de casa. Pronto: atenção conseguida. “Ele é encapeta-do” assume Allana. O cão agitado se-gue as meninas o tempo todo, aonde uma vai ele vai atrás. “Esses dias eu fiquei sozinha, aí eu olhava pra ele, ele olhava pra mim. Eu e você, você e eu” conta Natália. “Quando ele tá lim-pinho é bem mais fácil das meninas darem moral pra ele” brinca Taciane. Mas mesmo com o banho atrasado o filhote embeleza e levanta o astral do ambiente.

A independente Tcheca

Tcheco, o poodle e único integrante de Frutal, é o xodó e o mascote da república formada por seis garotas

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Três em um

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Eles já moravam juntos no condomí-nio Kalymam e dois já eram amigos antes da faculdade. Eis que surge a irmandade Kalymama. Um por todos e todos por um. O que é de um é de todos (com ressalvas, claro). “A gente vai ao mercado e não tem o meu requeijão e o requeijão dele, a gen-te compra tudo junto e come tudo junto”, explica Rodolfo. O método tem dado cer-to desde o começo da vida em república, em meados de agosto.

Tratando-se de três meninos que nunca precisaram fazer as atividades domésticas na casa dos pais, a organização da casa fica por conta da empregada. Cada um cuida das suas coisas da maneira que sabe, mas a cada quinze dias a casa passa por uma visita da faxineira que coloca tudo em seu devido lugar.

Um avisar o outro que vai sair é rotina. Eles sempre procuram deixar os outros a par do que está acontecendo em sua vida. Chamam pra sair juntos, pra ir a festas ou até mesmo pra ir até a padaria. “Aqui a gente chama um ao outro pra tudo pra ir pra qualquer lugar. A gente procura dar explicações”, diz Eduardo.

Por enquanto o trio vai continuar man-tendo sua formação original, mesmo com a chegada dos calouros no ano que vem. De acordo com eles, as despesas são ide-

ais e eles conseguem passar um mês bem, não há motivo para colocar outra pessoa apenas para diminuir os gastos. Um novo morador poderia influenciar o bom anda-mento da casa. “No começo do mês pa-gamos as contas e o dinheiro que sobra a gente faz a compra no supermercado. A casa fica cheia de comida. Duas semanas depois, as coisas vão acabando e a gente termina o mês a pão e macarrão instantâ-neo”, diverte-se Rodolfo.

Apesar do pouco período de repúbli-ca eles assumem que sentem falta da casa quando estão em suas cidades natais. Um pouco se deve pela independência que têm quando estão em Frutal. Aqui eles tem seus horários e rotinas próprios, além de poderem passar a tarde jogando vídeo-game juntos, por exemplo. Na Kalymama, sinceridade é tudo. Deixar tudo em pra-tos limpos é essencial para os três. Apenas as pequenas coisas são deixadas de lado. “Têm coisas que não precisam virar discus-são, você deixa passar”, conta Eduardo.

Eles gostam da vida que levam e da forma como vivem. Deste período univer-sitário vão levar coisas positivas para a vida toda, a amizade, tolerância e o respeito às diferenças. “O que vai ficar pra sempre é a convivência com as pessoas”, conclui José Humberto.

Um por todos e todos por um: esse é o lema dos três universitários “mosqueteiros da Kalymama

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LIBERTAS QUÆ SERA TAMEN Uma escada estreita e alta leva à arru-madíssima República de Minas. A casa já passou por diversas formações, foi até repú-blica mista. A escolha do nome surgiu por-que todas as integrantes são mineiras e são meninas (ou minas, na gíria dos garotos). A formação atual? Quatro mulheres, um cachorro e um peixe.

Com três quartos e uma suíte, as meni-nas compartilham despesas e serviços do-mésticos. Na parede da cozinha há uma lis-tinha dos afazeres do mês, e o sábado é dia oficial da faxina na Minas, “Cada uma é res-ponsável pelo seu quarto e a gente divide o resto da casa” diz Giovanna. Há também a lista do lixo. Cada dia da semana uma é a encarregada de por o lixo para fora. A

compra do mês é dividida entre as quatro e cada uma faz o que pode. Monique é a cozinheira oficial, ela faz todos os dias o al-moço com a ajuda de Samira, já Giovanna e Juliana ficam responsáveis pela limpeza da louça.

O clima harmonioso é explícito. Uma discussão ou outra tem, mas no fim tudo volta à calmaria. Elas dão ao fato de terem se conhecido na república o mérito da boa rima da casa. “Amiga acha que tem o direi-to de entrar totalmente na sua vida” define Samira. E a saudade uma da outra existe nos períodos de férias. Para não perder o costume, elas mantêm sempre o contato.

São muitas preocupações na vida de um estudante: contas, estudos e relacionamen-

tos. “Dia 10 é dia de pagar o aluguel e você não tá nem aí, o seu pai paga. Aqui é diferen-te”, é assim que Giovanna explica o resulta-do da responsabilidade que adquiriu quan-do passou a morar em república. Quando vão para a casa dos pais, são mais tolerantes, principalmente porque entendem como é que se trabalha a estrutura de um lar sem que um invada o espaço do outro.

Mesmo unidas, cada uma tem sua rotina diária e aos finais de semana e feriados, elas procuram sempre fazer as refeições juntas. “O companheirismo é muito. São poucas as repúblicas, creio eu, que vivem tão bem quanto nós, nunca tivemos nenhum pro-blema, vivemos super bem” conclui Moni-que.

Casa mineira, comida caseira, amizade e muita responsabilidade na república das minas

Que vira-lata que nada. Os seis integran-tes da República Vira-Lata passam bem longe disso. São seis homens de família. A repúbli-ca existe há dois anos e sempre está de por-tas abertas para os amigos, por isso é uma das mais populares de Frutal, senão a mais. “Talvez a república é a mais conhecida por-que fazemos mais festas que as outras” diz Samuel. “Às vezes, a gente acha ruim por ser tão conhecida, as pessoas param e já entram” explica Warley, defendendo a privacidade da casa.

Eles decidiram morar em república tanto pelas despesas quanto pela companhia. Ter alguém pra dividir os problemas e situações corriqueiras do dia-a-dia, vale muito para os meninos. Na área doméstica é Diná quem manda. A empregada estabelece a ordem na casa, e eles mantêm. Sujou, lavou. Assim fun-ciona a organização interna da Vira-Lata. As refeições, em sua maioria, são feitas em res-taurantes.

“A gente foi cortando o que dava pro-blema. Por exemplo, limpeza, dividir o ser-viço dava problema, então vamos contratar alguém”, conta Samuel. Brigar? Nunca. De forma adulta eles procuram resolver os pro-blemas da casa, e uma única vez foi preciso fazer uma reunião para tomar as decisões em conjunto.

O clima família também é transparente entre eles, um sempre avisa ao outro o que vai fazer. Tiago, Warley e Hugo estudam na mesma classe, e de acordo com Tiago sem-pre que Warley ou Hugo não acordam para ir à aula, ele bate na porta do quarto e per-gunta se eles vão ou não para a faculdade. “Rola certa preocupação, claro”, diz.

Cada um tem seu quarto, e o que cola-boraria para uma casa desprendida torna-os unidos, porém independentes. Cada qual com seus compromissos, mas sempre procu-rando o outro para saber se está tudo bem, se quer almoçar junto.

Os meninos da Vira-Lata são amigos da vizinhança toda. “As vizinhas contam com a gente como contam com qualquer outro vizi-nho”, fala Samuel. De bagunçada a casa não tem nada. Há sim, uma baderna ou outra dentro dos quartos, mas as áreas comuns da casa estão sempre em perfeita organização, “As pessoas sempre acham que república é bagunça. Acham que vai entrar na república e vai ver cueca jogada, comida. Que é festa 24 horas por dia, que ninguém pensa em es-tudar. Como se quem vivesse em república só quisesse saber de festa e sacanagem”, desaba-fa Tiago.

As famílias dos seis integrantes já visitaram a casa, para conhecer o ambiente e os outros moradores. “O pessoal é bem tranquilo aqui. Vai morar todo mundo longe de casa? Então vou morar com alguém legal, claro, pra não ter brigas”, conta Warley. Quando questio-nados se um tem reclamações do outros, a resposta é não. Para eles é importante falar sempre sobre a convivência. Seguem a lição de que, se você trata o seu colega de casa com educação, você pode tratar falar sobre qual-quer assunto. Eles avaliam que cresceram como pessoas morando em república, apren-deram a lidar um com os defeitos do outro, não invadir o espaço, ser paciente e adulto. Quando entraram eram seis adolescentes. Hoje, são seis homens (ainda não formados, pelo menos até a colação de grau).

Meninos de pedigree

Clima harmonioso na república mais badalada de Frutal. Mas eles advertem: nem todo dia é dia de festa.

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Um forte laço de amizade uniu um meni-no e duas meninas na República Bigorna. Das poucas casas onde menino e meninas vivem juntos e vivem bem. Jôicy, Samara e Ramires vieram para quebrar todas as ideias de que re-pública mista não dá certo. Os três convivem muito bem, e até mais que muitas repúblicas tradicionais Frutal afora. De todas as repúbli-cas entrevistadas, são os únicos que associam a vida conjunta que têm com um casamento. “Todos temos os números uns dos outros e dos pais também. Se alguém demora pra chegar em casa, ou coisas do gênero, estamos sempre telefonando. Já tivemos casos de acompanhar em médicos e ficar no pé até para tomar os remédios e comer direito”, conta Jôicy.

Com quatro quartos, sendo dois suítes, que são ocupadas pelas meninas, o trio di-vide as despesas e o serviços domésticos. Há organização para tudo, pra tirar o lixo, lavar a louça e manter os cômodos da casa limpos. O quarto, como em todas as outras, é respon-sabilidade de cada um. E o sistema de reveza-mento das tarefas domésticas funciona.

O nome bigorna está relacionado com a dualidade dos sexos dos moradores. Uma bi-gorna tem duas pontas, e, “assim como a bi-gorna foi um objeto criado para agüentar os golpes do ferreiro, assim também, a rep. Bigor-na foi criada para que juntos, eles suportassem os golpes da vida”, afirma Jôicy. Os três têm a casa não apenas como abrigo, mas como um legado a ser deixado para os futuros morado-res, pra que todos que vierem a morar na casa suportem a difícil vida de universitário.

Respeito em primeiro lugar. Na bigorna

pode tudo, desde que o tudo não invada o espaço do outro. “A pessoa pode fazer o que quiser, até onde couber apenas ao dono do quarto, ou seja, coisas que atrapalham a li-berdade dos outros moradores não são acei-táveis, como colocar o som muito alto, ou ficar conversando com muita gente”, conta Ramires. Para ele, o único menino da casa, é muito importante respeitar a individualidade das meninas, principalmente. “Pelo menos nunca vamos brigar por futebol, ou por esta-rem todos com TPM” diz.

As famílias reagiram de maneiras distin-tas. Uns aceitaram rápido, outros relutaram para quebrar o preconceito de que homens e mulheres não podem ser amigos e dividi-rem uma casa. A mãe de Jôicy, Júlia Francisca Franco Silva, diz que é normal para ela saber que a filha mora com um menino. A filha tornou-se mais responsável e morar em repú-blica mista é uma oportunidade para apren-der a lidar com personalidades diferentes. Já os pais de Ramires não reagiram bem a princípio, mas após constatarem que o filho, Samara e Jôicy não teriam problemas de en-trosamento, aceitaram.

A experiência tem mostrado que meninos e meninas juntos dão certo. Dão muito cer-to. A Bigorna é um exemplo de que pessoas de sexos diferentes podem ser amigos e, por quê não?, morarem juntos. “Com relação à convivência, existe sim um maior equilíbrio do que nas republicas de um sexo só. É com-plicado explicar, mas a casa parece ter uma moderação de gostos, opiniões... É bem di-vertido”, completa Ramires.

Sobre meninos e meninas

Eu e elas, elas eu eu. Tanto faz a ordem, o importante é o respeito e a individualidade de cada um

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Casa é casaDe fato, repúblicas são moradias

que funcionam tão bem quanto qualquer casa de família. São

casas com quartos, banheiros, salas, cozinhas, varandas, roupas pra lavar, almoços, festas, brigas e fidelidade.

Todos os estudantes que vivem em repúblicas em Frutal so-

frem algum tipo de preconceito pela escolha. A reação das pessoas com a

frase “eu moro em república” nem sem-pre é positiva, e esse tabu se dá principal-mente pelas pessoas não conhecerem a fundo como vivem esses estudantes.

Leitores, querem saber a mais pura re-alidade? Eles vivem como todos nós.

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360Amontoadas em um sofá de 3 luga-

res, cinco das seis integrantes da Re-pública Tcheca abriram as portas da casa para provar que “a Tcheca é uma casa de família”, como definiu Natá-lia. A casa é ampla e cada uma tem seu quarto, seu espaço. Por um des-ses acasos do destino, as seis estavam à procura de um novo lugar pra morar quando se encontraram e fundaram a moradia. Seis mulheres (ainda sem o cachorro)? Tinha tudo para dar erra-

do. Mas deu certo. “Eu, sin-ceramente pensei que nunca fosse dar certo”, diz Aline, enquanto Taciane destaca um dos pontos positivos da casa, “às vezes você tá preci-sando de alguém, pode ter três fora, mas sempre vai ter uma das meninas aqui pra te ajudar”.

Todas são categóricas quando o assunto é o moti-vo principal para morar em república: o orçamento. Di-vidir as despesas de aluguel, água, energia elétrica, inter-net, etc., é muito melhor do que pagar todas essas contas sozinhas. Já a alimentação é uma despesa individual, cada uma é responsável pela sua alimentação. “A gente não

tem que ficar preocupando com o que a outra vai comer” ressalta Jéssica. O fator pais também foi decisivo. Saber que as filhas terão com quem contar caso precisem de alguma coisa tran-qüiliza os pais e mães das meninas.

Na Tcheca, pode tudo, menos o barulho excessivo. Desde que, to-das saibam e concordem. Pode festa, churrascos, aniversários e reuniões de amigos. Na limpeza, cada integrante é responsável pelo seu quarto e os am-bientes comuns são de todas. Se uma decide começar a limpar e a outra vê, logo todas estão limpando a casa jun-tas.

O fofo Tcheco é uma grande com-panhia. Segundo as meninas, tem dias que nenhuma delas quer brincar com ele, então ele faz bagunça, as neces-sidades na sala, rasga o lixo e leva frutinhas pra dentro de casa. Pronto: atenção conseguida. “Ele é encapeta-do” assume Allana. O cão agitado se-gue as meninas o tempo todo, aonde uma vai ele vai atrás. “Esses dias eu fiquei sozinha, aí eu olhava pra ele, ele olhava pra mim. Eu e você, você e eu” conta Natália. “Quando ele tá lim-pinho é bem mais fácil das meninas darem moral pra ele” brinca Taciane. Mas mesmo com o banho atrasado o filhote embeleza e levanta o astral do ambiente.

A independente Tcheca

Tcheco, o poodle e único integrante de Frutal, é o xodó e o mascote da república formada por seis garotas

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Eles já moravam juntos no condomí-nio Kalymam e dois já eram amigos antes da faculdade. Eis que surge a irmandade Kalymama. Um por todos e todos por um. O que é de um é de todos (com ressalvas, claro). “A gente vai ao mercado e não tem o meu requeijão e o requeijão dele, a gen-te compra tudo junto e come tudo junto”, explica Rodolfo. O método tem dado cer-to desde o começo da vida em república, em meados de agosto.

Tratando-se de três meninos que nunca precisaram fazer as atividades domésticas na casa dos pais, a organização da casa fica por conta da empregada. Cada um cuida das suas coisas da maneira que sabe, mas a cada quinze dias a casa passa por uma visita da faxineira que coloca tudo em seu devido lugar.

Um avisar o outro que vai sair é rotina. Eles sempre procuram deixar os outros a par do que está acontecendo em sua vida. Chamam pra sair juntos, pra ir a festas ou até mesmo pra ir até a padaria. “Aqui a gente chama um ao outro pra tudo pra ir pra qualquer lugar. A gente procura dar explicações”, diz Eduardo.

Por enquanto o trio vai continuar man-tendo sua formação original, mesmo com a chegada dos calouros no ano que vem. De acordo com eles, as despesas são ide-

ais e eles conseguem passar um mês bem, não há motivo para colocar outra pessoa apenas para diminuir os gastos. Um novo morador poderia influenciar o bom anda-mento da casa. “No começo do mês pa-gamos as contas e o dinheiro que sobra a gente faz a compra no supermercado. A casa fica cheia de comida. Duas semanas depois, as coisas vão acabando e a gente termina o mês a pão e macarrão instantâ-neo”, diverte-se Rodolfo.

Apesar do pouco período de repúbli-ca eles assumem que sentem falta da casa quando estão em suas cidades natais. Um pouco se deve pela independência que têm quando estão em Frutal. Aqui eles tem seus horários e rotinas próprios, além de poderem passar a tarde jogando vídeo-game juntos, por exemplo. Na Kalymama, sinceridade é tudo. Deixar tudo em pra-tos limpos é essencial para os três. Apenas as pequenas coisas são deixadas de lado. “Têm coisas que não precisam virar discus-são, você deixa passar”, conta Eduardo.

Eles gostam da vida que levam e da forma como vivem. Deste período univer-sitário vão levar coisas positivas para a vida toda, a amizade, tolerância e o respeito às diferenças. “O que vai ficar pra sempre é a convivência com as pessoas”, conclui José Humberto.

Um por todos e todos por um: esse é o lema dos três universitários “mosqueteiros da Kalymama

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LIBERTAS QUÆ SERA TAMEN Uma escada estreita e alta leva à arru-madíssima República de Minas. A casa já passou por diversas formações, foi até repú-blica mista. A escolha do nome surgiu por-que todas as integrantes são mineiras e são meninas (ou minas, na gíria dos garotos). A formação atual? Quatro mulheres, um cachorro e um peixe.

Com três quartos e uma suíte, as meni-nas compartilham despesas e serviços do-mésticos. Na parede da cozinha há uma lis-tinha dos afazeres do mês, e o sábado é dia oficial da faxina na Minas, “Cada uma é res-ponsável pelo seu quarto e a gente divide o resto da casa” diz Giovanna. Há também a lista do lixo. Cada dia da semana uma é a encarregada de por o lixo para fora. A

compra do mês é dividida entre as quatro e cada uma faz o que pode. Monique é a cozinheira oficial, ela faz todos os dias o al-moço com a ajuda de Samira, já Giovanna e Juliana ficam responsáveis pela limpeza da louça.

O clima harmonioso é explícito. Uma discussão ou outra tem, mas no fim tudo volta à calmaria. Elas dão ao fato de terem se conhecido na república o mérito da boa rima da casa. “Amiga acha que tem o direi-to de entrar totalmente na sua vida” define Samira. E a saudade uma da outra existe nos períodos de férias. Para não perder o costume, elas mantêm sempre o contato.

São muitas preocupações na vida de um estudante: contas, estudos e relacionamen-

tos. “Dia 10 é dia de pagar o aluguel e você não tá nem aí, o seu pai paga. Aqui é diferen-te”, é assim que Giovanna explica o resulta-do da responsabilidade que adquiriu quan-do passou a morar em república. Quando vão para a casa dos pais, são mais tolerantes, principalmente porque entendem como é que se trabalha a estrutura de um lar sem que um invada o espaço do outro.

Mesmo unidas, cada uma tem sua rotina diária e aos finais de semana e feriados, elas procuram sempre fazer as refeições juntas. “O companheirismo é muito. São poucas as repúblicas, creio eu, que vivem tão bem quanto nós, nunca tivemos nenhum pro-blema, vivemos super bem” conclui Moni-que.

Casa mineira, comida caseira, amizade e muita responsabilidade na república das minas

Que vira-lata que nada. Os seis integran-tes da República Vira-Lata passam bem longe disso. São seis homens de família. A repúbli-ca existe há dois anos e sempre está de por-tas abertas para os amigos, por isso é uma das mais populares de Frutal, senão a mais. “Talvez a república é a mais conhecida por-que fazemos mais festas que as outras” diz Samuel. “Às vezes, a gente acha ruim por ser tão conhecida, as pessoas param e já entram” explica Warley, defendendo a privacidade da casa.

Eles decidiram morar em república tanto pelas despesas quanto pela companhia. Ter alguém pra dividir os problemas e situações corriqueiras do dia-a-dia, vale muito para os meninos. Na área doméstica é Diná quem manda. A empregada estabelece a ordem na casa, e eles mantêm. Sujou, lavou. Assim fun-ciona a organização interna da Vira-Lata. As refeições, em sua maioria, são feitas em res-taurantes.

“A gente foi cortando o que dava pro-blema. Por exemplo, limpeza, dividir o ser-viço dava problema, então vamos contratar alguém”, conta Samuel. Brigar? Nunca. De forma adulta eles procuram resolver os pro-blemas da casa, e uma única vez foi preciso fazer uma reunião para tomar as decisões em conjunto.

O clima família também é transparente entre eles, um sempre avisa ao outro o que vai fazer. Tiago, Warley e Hugo estudam na mesma classe, e de acordo com Tiago sem-pre que Warley ou Hugo não acordam para ir à aula, ele bate na porta do quarto e per-gunta se eles vão ou não para a faculdade. “Rola certa preocupação, claro”, diz.

Cada um tem seu quarto, e o que cola-boraria para uma casa desprendida torna-os unidos, porém independentes. Cada qual com seus compromissos, mas sempre procu-rando o outro para saber se está tudo bem, se quer almoçar junto.

Os meninos da Vira-Lata são amigos da vizinhança toda. “As vizinhas contam com a gente como contam com qualquer outro vizi-nho”, fala Samuel. De bagunçada a casa não tem nada. Há sim, uma baderna ou outra dentro dos quartos, mas as áreas comuns da casa estão sempre em perfeita organização, “As pessoas sempre acham que república é bagunça. Acham que vai entrar na república e vai ver cueca jogada, comida. Que é festa 24 horas por dia, que ninguém pensa em es-tudar. Como se quem vivesse em república só quisesse saber de festa e sacanagem”, desaba-fa Tiago.

As famílias dos seis integrantes já visitaram a casa, para conhecer o ambiente e os outros moradores. “O pessoal é bem tranquilo aqui. Vai morar todo mundo longe de casa? Então vou morar com alguém legal, claro, pra não ter brigas”, conta Warley. Quando questio-nados se um tem reclamações do outros, a resposta é não. Para eles é importante falar sempre sobre a convivência. Seguem a lição de que, se você trata o seu colega de casa com educação, você pode tratar falar sobre qual-quer assunto. Eles avaliam que cresceram como pessoas morando em república, apren-deram a lidar um com os defeitos do outro, não invadir o espaço, ser paciente e adulto. Quando entraram eram seis adolescentes. Hoje, são seis homens (ainda não formados, pelo menos até a colação de grau).

Meninos de pedigree

Clima harmonioso na república mais badalada de Frutal. Mas eles advertem: nem todo dia é dia de festa.

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Um forte laço de amizade uniu um meni-no e duas meninas na República Bigorna. Das poucas casas onde menino e meninas vivem juntos e vivem bem. Jôicy, Samara e Ramires vieram para quebrar todas as ideias de que re-pública mista não dá certo. Os três convivem muito bem, e até mais que muitas repúblicas tradicionais Frutal afora. De todas as repúbli-cas entrevistadas, são os únicos que associam a vida conjunta que têm com um casamento. “Todos temos os números uns dos outros e dos pais também. Se alguém demora pra chegar em casa, ou coisas do gênero, estamos sempre telefonando. Já tivemos casos de acompanhar em médicos e ficar no pé até para tomar os remédios e comer direito”, conta Jôicy.

Com quatro quartos, sendo dois suítes, que são ocupadas pelas meninas, o trio di-vide as despesas e o serviços domésticos. Há organização para tudo, pra tirar o lixo, lavar a louça e manter os cômodos da casa limpos. O quarto, como em todas as outras, é respon-sabilidade de cada um. E o sistema de reveza-mento das tarefas domésticas funciona.

O nome bigorna está relacionado com a dualidade dos sexos dos moradores. Uma bi-gorna tem duas pontas, e, “assim como a bi-gorna foi um objeto criado para agüentar os golpes do ferreiro, assim também, a rep. Bigor-na foi criada para que juntos, eles suportassem os golpes da vida”, afirma Jôicy. Os três têm a casa não apenas como abrigo, mas como um legado a ser deixado para os futuros morado-res, pra que todos que vierem a morar na casa suportem a difícil vida de universitário.

Respeito em primeiro lugar. Na bigorna

pode tudo, desde que o tudo não invada o espaço do outro. “A pessoa pode fazer o que quiser, até onde couber apenas ao dono do quarto, ou seja, coisas que atrapalham a li-berdade dos outros moradores não são acei-táveis, como colocar o som muito alto, ou ficar conversando com muita gente”, conta Ramires. Para ele, o único menino da casa, é muito importante respeitar a individualidade das meninas, principalmente. “Pelo menos nunca vamos brigar por futebol, ou por esta-rem todos com TPM” diz.

As famílias reagiram de maneiras distin-tas. Uns aceitaram rápido, outros relutaram para quebrar o preconceito de que homens e mulheres não podem ser amigos e dividi-rem uma casa. A mãe de Jôicy, Júlia Francisca Franco Silva, diz que é normal para ela saber que a filha mora com um menino. A filha tornou-se mais responsável e morar em repú-blica mista é uma oportunidade para apren-der a lidar com personalidades diferentes. Já os pais de Ramires não reagiram bem a princípio, mas após constatarem que o filho, Samara e Jôicy não teriam problemas de en-trosamento, aceitaram.

A experiência tem mostrado que meninos e meninas juntos dão certo. Dão muito cer-to. A Bigorna é um exemplo de que pessoas de sexos diferentes podem ser amigos e, por quê não?, morarem juntos. “Com relação à convivência, existe sim um maior equilíbrio do que nas republicas de um sexo só. É com-plicado explicar, mas a casa parece ter uma moderação de gostos, opiniões... É bem di-vertido”, completa Ramires.

Sobre meninos e meninas

Eu e elas, elas eu eu. Tanto faz a ordem, o importante é o respeito e a individualidade de cada um

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soal

Casa é casaDe fato, repúblicas são moradias

que funcionam tão bem quanto qualquer casa de família. São

casas com quartos, banheiros, salas, cozinhas, varandas, roupas pra lavar, almoços, festas, brigas e fidelidade.

Todos os estudantes que vivem em repúblicas em Frutal so-

frem algum tipo de preconceito pela escolha. A reação das pessoas com a

frase “eu moro em república” nem sem-pre é positiva, e esse tabu se dá principal-mente pelas pessoas não conhecerem a fundo como vivem esses estudantes.

Leitores, querem saber a mais pura re-alidade? Eles vivem como todos nós.

Page 12: Jornal 360 - 8ª edição

@joaotwittor Meu avô não tinha eletricidade e teve 12 filhos. Meu pai já tinha TV e ele teve 3. Agora tenho twitter e a acho que a família termina aqui.

@millorfernandes O trabalho de vez em quando tira férias. As despesas nunca.

@carpinejar Para homem, cabelo é obrigação. Para mulher, cabelo é diversão, uma forma de experimentar personalidades.

@rafew_vilela Quando queria biscoito no mercado eu chorava como os norte coreanos por causa da morte do ditador.

@Ancelmocom o jogador Adriano não renuncia à sua vocação de artilheiro: fora de forma para os gramados, deu agora de atirar nas pessoas.

@harpias Usar ecobag é fácil, quero ver ser sustentá-vel no verão evitando ligar o ar condicionado.

@maricotanog Quando eu crescer vou poder falar que, na minha época, Bonner e Fátima apresentavam o JN juntos.

@dfsantana “Eterno, é tudo aquilo que dura uma fra-ção de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica.” Carlos Drummond de Andrade..

@Mattheusilva você só tem certeza mesmo que é fim dos tempos assistindo casos de família.

@jose_simao E japonês faz macumba com prato de sushi. Aqueles todos coloridos, não parecem macum-ba? E quando vêm em barco? Ebó pra Iemanjá! Rarará!

@josoarestrue Casamento: Um compromisso amigável entre marido e esposa em que ambos concordam em fazer tudo do jeito dela.

@bellacraveiro aff tudo o que vc twitta acham que é indireta, vou twittar que to com fome pra ver se o mo-toboy da pizzaria veste a carapuça.

@xicosa saber q 2 participantes do BBB12 já estão confinados me enche d desesperança p/2012. Let it be.

TwittadasInteligência, humor, mau-humor, lirismo,

cinismo e acidez em 140 caracteres

JAN/2012

12

Resumo de Governo

É praticamente impossível resumir o que aconteceu em um ano em somente uma frase. Os redatores dos jornais sem-pre enfrentam este problema. Só que para retratar o que se deu no Governo Federal neste período, até que não foi difícil. A frase concisa e direta: “E cai mais um ministro”.

360

Questão de treino

Alguém tem um mapa aí?

O repórter Rafael Del Giudice cobrirá in loco o primeiro jogo do Santos pelo Paulista, na Vila Belmiro. Bom, isso se o jogo acontecer. Há quem tema que até lá o time ainda não tenha encontrado o caminho de casa depois do vareio do Barcelona.

Decisão de bom senso

Sábia a decisão da Confederação Sul-americana de Fu-tebol. Todo ano, caso o Barcelona esteja no mundial de clubes, independente do campeão da Liber-tadores, o represen-tante continental no torneio será o Vasco da Gama. Se é pra ser vice, mandemos quem tem experiên-cia e classe neste tipo de empreitada.

Por Lausamar Humberto

Ponto Crítico

Aguinaldo Silva, autor de Fina Estampa, gay convicto, sou-be compreender perfeitamente o inconsciente coletivo do homem heterossexual brasileiro. Que Luana Piovani que nada. O que o brasileiro deseja é uma Lília Cabral que troca pneu, conserta encanamento, instala chuveiro. E que gosta de futebol. E com milhões na conta. Isso é que é mulher de verdade.

Amélia já era

O mundo ficou impressionado com o choro incontro-lável dos norte-coreanos após a morte de seu grande líder. Explica-se: aquele povo é muito (bota muito nisso) disciplinado. Para se preparar para esta grande perda, assistiam todo dia a um filme que mostrava como chorar sofrido. Bastou imitarem direitinho. Que vídeo? Um compacto do chororô da torcida corintiana em cada eliminação da Libertadores. Consta que já encomendaram o vídeo da campanha de 2012.

Este ano é ano de campanha. E todas as notícias envolvendo corrupção que nos tem rodeado, vide os ministros que têm caído como peças de dominó, trazem à baila a questão da honestidade. E os marqueteiros de plantão já perceberam isso há um bom tempo. Marca clara nas campanhas políticas mais recentes: a valorização da honestidade pessoal do candidato.

Nada mais esperado. As campanhas atuais são comandadas por experientes pro-fissionais do marketing e da propaganda. Se a honestidade é um diferencial impor-tante para o seu produto tenha certeza que ela será estampada na testa do candida-to.

Se o candidato é realmente honesto pouco importa. Se for o que os eleitores-con-sumidores desejam, o coordenador político de plantão não lhes negará este pedido. E tome slogans: “honestidade acima de tudo”, “fulano é o prefeito mais honesto que Brogodó já teve”, “honestidade, capacidade e trabalho” e outras baboseiras mais.

Os marqueteiros se defenderão. Se o candidato possui algumas manchas em sua honestidade, estas manchas devem ser apagadas, pelo menos até a eleição. Agora, se o candidato é imaculado, de reputação ilibada, por que não se aproveitar de uma de suas mais visíveis e admiráveis qualidades?

Os marqueteiros têm razão. Afinal são profissionais pagos, e muito bem pagos, para dourar a pílula da melhor forma possível. Todas estas considerações são feitas por jornalistas chatos, irritados com o baixo salário e sem coisa melhor pra fazer.

Como grande admirador desses profissionais, acredito na candura de todos os candidatos. São honestos, honestíssimos. Mas me pergunto: e daí? Conheço muitas e muitas pessoas que são honestas e que nem por isso saem alardeando esta qualida-de aos quatro ventos e nem são candidatas a coisíssima nenhuma.

Este é o ponto. Não devíamos esperar de nossos candidatos uma carta pública atestando sua honestidade. Para postularem um cargo público – de representação, é bom lembrar – ser honesto é o mínimo. Por isso esta deveria ser a primeira pergun-ta que nos faríamos para definir nosso candidato. Fulano de tal é honesto?

Durante qualquer campanha eleitoral se faça este questionamento. Se a resposta for SIM pode continuar avaliando o candidato. Agora se a resposta for NÃO pare por aí. De nada lhe adiantará saber se o candidato é um bom administrador, um grande empreendedor, um líder regional, uma pessoa li-gada ao social. A primeira resposta já deve tê-lo eliminado.

E, se depois desta sua avaliação crítica ninguém tiver passado pela sua pe-neira, a coisa então estará preta, e tenha certeza que há algo de errado com você ou com os candidatos. E para o bem e a alegria geral da nação, e sem querer ser portador de mau agouro, reze pra que seja com você.

É honesto?