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Jornal www.adunicentro.org.br adunicentro.blogspot.com publicação da Seção Sindical dos Docentes da UNICENTRO novembro - 2010 Seminário discute aposentadoria e previdência ANDES - SN realiza Ato Público em Brasília Entidades repre- sentativas de do- centes reunem-se com a APIESP para tratar da revisão da carreira docente p. 03 p. 05 Informe jurídico atualiza ação dos 14% p. 02 p. 08 e 09 Educação superior para todos. Mas de que forma? Entrevista com a professora Angêla Maria Hidalgo discute democratização do ensino. p. 06 e 07 Apoio a escola Florestan Fernandes Estagiários e UNICEN- TRO: o corte do Estado p. 10 p. 04 40 minutos crônica por Francisco Ferreira Júnior p. 12 Professores e funcionários da UNICENTRO participaram no dia 21 de setembro do Seminário – Aposentadoria – ParanáPre- vidência realizado pela ADUNICENTRO. A questão da apo- sentadoria é um debate bastante atual para a classe trabalhadora, vendo o que ocorre nos países europeus na atualidade. Carolina Felício

Jornal Adunicentro - dezembro de 2010

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Jornal

www.adunicentro.org.br

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publicação da Seção Sindical dos Docentes da UNICENTRO

novembro - 2010

Seminário discute aposentadoria e previdência

ANDES - SN realiza Ato Público em BrasíliaEntidades repre-

sentativas de do-centes reunem-se com a APIESP para tratar da revisão da carreira docente

p. 03p. 05

Informe jurídico atualiza ação dos 14%

p. 02

p. 08 e 09

Educação superior para todos. Mas de que forma?

Entrevista com a professora Angêla Maria Hidalgo discute democratização do ensino.

p. 06 e 07

Apoio a escola Florestan Fernandes

Estagiários e UNICEN-TRO: o corte do Estado

p. 10

p. 04

40 minutoscrônica por Francisco Ferreira Júnior

p. 12

Professores e funcionários da UNICENTRO participaram no dia 21 de setembro do Seminário – Aposentadoria – ParanáPre-vidência realizado pela ADUNICENTRO. A questão da apo-sentadoria é um debate bastante atual para a classe trabalhadora, vendo o que ocorre nos países europeus na atualidade.

Carolina Felício

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INFORME JURÍDICO

AÇÃO DOS 14% Últimas movimentações do processo

Conforme noticia-do anteriormente, a Ad-ministração da UNICEN-TRO persiste em resistir ao cumprimento da decisão proferida na ação dos 14%, tanto em relação a obri-gação de fazer (suspensão do desconto de 14% para toda a CATEGORIA e não somente para os filia-dos), quanto em relação a obrigação de pagar (dispo-nibilidade de documentos para viabilizar o cálculo dos valores indevidamente retidos). Por isso, em con-

tinuidade aos trabalhos já realizados para viabilizar o cumprimento de tais deci-sões, no dia 21/10/2010, a assessoria jurídica e o Presidente da ADUNI-CENTRO, professor Mar-cos Aurélio Machado Fer-nandes, reuniram-se com a Juíza da 2a Vara Cível de Guarapuava, Dra. Laryssa Angélica Capack Muniz, para relatar as dificuldades trazidas pela má conduta da UNICENTRO e que obsta o prosseguimento da ação. Entre tais dificul-

dades, a retenção do processo pelo procurador da U N I C E N T R O desde 23/7/2010, o qual foi devol-vido apenas em 5/11/2010, em razão da ordem expedida pela Ju-íza, bem como a negativa expressa de expedição de fichas financeiras para elaboração de cálculos. Destaca-se que, muito embora a dire-toria da ADUNICENTRO tenha realizado diligência administrativa para obten-ção de tais documentos, a Administração da UNI-CENTRO simplesmente negou, fato que já foi rela-tado à Juíza e comprovado nos autos, através da junta-da da resposta emitida pela Universidade à diretoria do Sindicato. Por isso, reiterou--se à Juíza, a importância da efetiva apreciação do último requerimento pro-tocolado pela assessoria jurídica, com a imediata intimação da Universidade para que cumpra integral-mente a decisão de suspen-são do desconto de 14%

Informações de Fernanda Kinoshita, advogada da ADUNICENTRO

para todos os docentes da UNICENTRO, bem como forneça os documentos para o cálculo dos valo-res atrasados, impondo--se pelo descumprimento da ordem, a cominação de multa diária em dobro a já fixada (R$ 2.000,00). A Magistrada com-prometeu-se em dar ce-leridade ao processo e se espera que a decisão seja proferida na próxima se-mana, mas, de qualquer maneira, enquanto não for proferida, os procurado-res da ADUNICENTRO têm mantido contato dia-riamente com a assessoria da Dra. Laryssa, a fim de acompanhar o término da análise do requerimento apresentado, o que viabili-zará o prosseguimento da ação, principalmente na cobrança dos valores inde-vidamente descontados.

Valor do Multômetro referente ao dia 16 de novembro

Carolina Felício

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Entidades representativas de docentes reunem-se com a APIESP para tratar da

revisão da carreira docente

Carreira Docente

Representantes da ADUNICENTRO, ADUNIO-ESTE, SESDUEM e SINDUE-PG, Seções Sindicais do ANDES - Sindicato Nacional nas IEES/PR. (Fórum das ADs), estiveram reunidos com o presidente da APIESP (entidade representa-tiva dos reitores e diretores das IEES), Alcibíades Luiz Orlando, nesta última sexta-feira, dia 29 de outubro em Cascavel. Nessa reunião foram discutidas as de-mandas salariais dos docentes e o projeto de lei da inovação tecno-lógica que tramita na Assembleia Legislativa. No momento há duas propostas, formalizadas junto ao governo, de revisão da carreira docente. Tais propostas procu-raram fazer algumas adequações e melhorar a situação salarial dos docentes. As propostas foram formalizadas, em junho, pelos sindicatos docentes vinculados ao ANDES-SN (ADUNICEN-TRO, ADUNIOESTE, SES-DUEM e SINDUEPG) e, em setembro, pela Apiesp. A proposta formali-zada pela ADUNICENTRO, ADUNIOESTE, SESDUEM e SINDUEPG, aprovada em as-

sembleias docentes, altera dois pontos na carreira docente: 1) o percentual do Adicional Ti-tulação (ATT) dos especialistas, mestres e doutores para 45%, 70% e 100% respectivamente. Atualmente tal Adicional é de 20% (especialista) 45% (mestre) e 75% (doutor); 2) o percentual Inter-classes do professor Asso-ciado em relação ao Adjunto D de 15% para 25% e do Professor Titular em relação ao Associado C de 10% para 15%. A proposta formalizada pela Apiesp altera os seguintes pontos na carreira docente: 1) revisão do piso salarial (venci-mento básico do Auxiliar) por meio da equiparação com o ven-cimento básico do técnico com nível superior; 2) criação de um nível Adicional nas classes de Professor Assistente (Nível E), Professor Adjunto (Nível E) e Professor Associado (Nível D); 3) Alteração do Inter-classes do Assistente em relação ao Auxiliar de 15% para 20%, do Adjunto A em Relação ao Assistente E de 15% para 10%, do Associado A em relação ao Adjunto E de 15% para 10%. No caso do Inter--classes do Titular em relação ao

Associado D a Apiesp propõe a manutenção do atual percentual de 10%. 4) Altera o Adicional Ti-tulação (ATT) do mestre de 45% para 70% e do doutor de 75% para 100%. As entidades represen-tativas de docentes, presentes na reunião com o presidente da Apiesp, se comprometeram a fa-zer um estudo mais aprofundado a respeito da proposta apresenta-da pelos reitores e diretores das IEES. Entretanto, apresentaram uma avaliação preliminar indi-cando que tal proposta não fere os princípios que historicamente o ANDES, Sindicato Nacional, defende para a estruturação da carreira docente. Estes princí-pios têm sido debatidos e cons-truídos pelo sindicato nacional e por suas seções sindicais ao longo dos 30 anos de sua exis-tência. Tais princípios nortearam a atuação da ADUNICENTRO, ADUNIOESTE, SESDUEM e SINDUEPG no processo da úl-tima revisão da carreira docente das IES paranaenses aprovada em 2008. As entidades docentes e o presidente da APIESP com-preendem que é necessário avan-çar mais na discussão da carreira

dado que restam ainda ‘gargalos’ e dificuldades. Como forma de forta-lecer a demanda junto ao novo governo a APIESP e as seções sindicais do Andes – Sindicato Nacional (ADUNICENTRO, ADUNIOESTE, SESDUEM e SINDUEPG) compreendem que o diálogo permanente entre os sindicatos representativos de docentes e os reitores e direto-res de IEES, representados pela Apiesp, pode fortalecer as lutas comuns e resultar em melhorias para todo o sistema estadual de ensino superior e para os docen-tes do ponto de vista salarial e das condições para desenvolver o seu trabalho. A evasão docente nas IEES é ainda um fato preocu-pante. O melhor salário dos pro-fessores das universidades fede-rais é um fator que leva muitos docentes a realizarem concur-sos em tais instituições. O pre-sidente da APIESP, Alcibíades Luiz Orlando, comentou que é fundamental garantir melhor re-muneração aos professores para assegurar a permanência de um quadro docente qualificado para as instituições de ensino superior do estado e assim manter o pa-drão de qualidade das atividades desenvolvidas no sistema estadu-al de ensino superior na gradua-ção e na pós-graduação. Até meados de novem-bro representantes dos docentes e da APIESP devem se reunir novamente para constituir uma agenda mínima de negociação com o governo do Estado. Entre os itens da agenda estão: a revi-são da carreira dos docentes das IEES; Orçamento 2011 para as universidades; concurso público para contratação de docentes e técnicos e a lei de inovação tec-nológica.representantes dos docentes com Alcibíades Luiz Orlando, presidente da APIESP

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ADUNICENTRO

ADUNICENTRO apoia a escola nacional Florestan Fernandes

A Escola Nacional Florestan Fernandes, situ-ada em Guararema (a 70 km de São Paulo) e inau-gurada em 23 de janeiro de 2005, foi construída entre os anos de 2000 e 2005, graças ao trabalho volun-tário de pelo menos mil trabalhadores sem terra e simpatizantes. Sua missão é a de atender às neces-sidades da formação de militantes de movimentos sociais e organizações que lutam por um mundo mais justo. Os recursos para a sua construção foram ob-tidos com a venda de fotos de Sebastião Salgado e do livro Terra (texto de José Saramago e música de Chi-co Buarque) e mediante a contribuição de entidades da classe trabalhadora do Brasil, da América Latina e de várias partes do mun-do. Nos cinco primei-ros anos de sua existência, passaram pela escola 16 mil militantes dos movi-mentos sociais do campo e da cidade, de todos os Es-tados do Brasil e de outros países da América Latina e da África. A ENFF tem o apoio de mais de 500 pro-fessores voluntários – do

Brasil, da América Latina e de outras regiões –, nas áreas de Filosofia Política, Teoria do Conhecimento, Sociologia Rural, Econo-mia Política da Agricul-tura, História Social do Brasil, Conjuntura Inter-nacional, Administração e Gestão Social, Educação do Campo e Estudos Lati-no-americanos. Atualmente, a ENFF encontra-se amea-çada pelo estrangulamento econômico, graças à ofen-siva contra os movimen-tos sociais e suas formas de organização. O custo mensal para manuten-ção da Escola Nacional Florestan Fernandes é de aproximadamente 100 mil reais por mês. A ADUNICEN-TRO-Seção Sindical fez doação de três mil folders para a Associação dos Amigos da Escola Nacio-nal Florestan Fernandes, cujo objetivo é divulgar as ações da ENFF e con-seguir novos apoiadores. Parte deste material foi distribuído no Congresso Nacional em Brasília. Veja como ajudar a ENFF vi-sitando o site: www.adu-nicentro.org.br e www.amigosenff.org.br.

capa do folder com informações da escola Florestan Fernandes, distribuída por todo território brasileiro

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ANDES - SN

ANDES em defesa da autonomia sindical

O processo de mobilização articulado pelo ANDES-SN no último período surtiu efeito e culminou na retirada da obstrução para o Sindicato Nacional atuar nas institui-ções federais de ensino superior no Estado de Santa Catarina. O anúncio foi feito ofi-cialmente pelo ministro Carlos Lupi aos re-presentantes da diretoria do ANDES-SN. A retirada foi a principal reivindi-cação levada ao ministro pelas quase 2 mil pessoas que participaram do Ato Público em Defesa da Autonomia Sindical, promovido pelo ANDES-SN, em 21/10, como parte da luta em defesa do Sindicato Nacional. A entidade esbarrou em empecilhos legais para representar os docentes do ensi-no daquele Estado desde 20/5, quando uma Nota Técnica do MTE reconheceu um sindi-cato local como representante dos docentes das universidades federais de Santa Catarina – UFSC, e excluiu esses docentes da base de representação do ANDES-SN. Na audiência, o ministro se compro-meteu a não permitir a ocorrência do mes-mo erro em casos similares, reconhecendo o direito do ANDES-SN de atuar em todo o território nacional, conforme consta no registro sindical da entidade. De acordo com o ministro, mesmo que o Ministério venha a conceder no-vos registros para sindicatos regionais de base docente, o AN-DES-SN poderá representar sua base de forma oficial. A suspensão da anotação que excluía os docentes das universi-dades federais de Santa Catarina da base de representação do ANDES-SN será publicada no Diário Oficial da União desta quinta-feira (11/11), conforme informações do MTE. Participaram da audiência a presidente do ANDES-SN, Marina Barbosa Pinto, o secretário-geral, Márcio Antônio de Oliveira, o 2º vice-tesoureiro, Almir Menezes, a 1ª vice-presi-dente da Regional Sul, Bartira Silveira Grandi, o 2ª vice-presi-dente da Regional São Paulo, Marco Aurélio de C. Ribeiro, e o advogado da Assessoria Jurídica Nacional do Sindicato docente, Cláudio Santos. De acordo com a presidente do ANDES-SN, Marina Barbosa Pinto, desde maio, a entidade vem tentando se reunir com o ministro para resolver o problema, mas infelizmente não obteve sucesso na empreitada. Por isso, decidiu promover o ato no dia 21 de outubro que, além de denunciar a interferência estatal na organização dos sindicatos, protestou também contra a criminalização dos movimentos sociais. “O ANDES-SN de-fende a autonomia dos trabalhadores para se organizarem como preferirem. Portanto, o que contestamos aqui é o fato da nota técnica do MTE impedir a atuação do ANDES-SN em determi-nada região”, explicou. A presidente esclareceu que o problema enfrentado hoje pelo ANDES-SN não é simples, já que combina ações arbitrá-rias do governo com a disputa real da base da categoria por

parte de alguns professores que acreditam que o caminho de adesão ao sistema é o mais fácil para eles atingirem seus obje-tivos. “Precisamos enfrentar não só a pressão do governo, mas também chegar em cada professor, em cada universidade. O ANDES-SN tem muito orgulho dos seus 30 anos de história, mas quer ser reconhecido como o sindicato do futuro, o sindi-cato que construirá um novo tipo de educação neste país”.

Par t icipações No ato do dia 21 de outubro um grande número de do-centes das universidades federais, estaduais e particulares dei-xou suas regiões do país para defender o direito de serem repre-sentados pelo ANDES-SN. Entre eles, um número expressivo de professores de Santa Catarina. A categoria se somou aos representantes de dezenas de entidades dos movimentos sindicais, estudantil e sociais que também enviaram representantes ao ato. Trabalhadores do cam-po e da cidade, sem-teto, sem-terra, quilombolas, estudantes, representantes de comunidades remanejadas e prejudicadas em função das obras da Copa do Mundo. Marcaram presença diversas representações estudantis: o movimento Oposição de Esquerda da UNE, a Associação Nacional dos Estudantes Livres – ANEL, vários CAs e DCEs, como os das universidades federais de Ouro Preto, Rio de Janei-ro, Pará e Fluminense. A ADUNICENTRO esteve na manifestação represen-tada pelo tesoureiro da atual diretoria, professor Denny William da Silva e pelo professor Francisco Ferreira Júnior.

Os representantes da ADUNICENTRO, Hélvio Mariano, Denny William da Silva e Francisco Ferreira junior.

ANDES - SN

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ENTREVISTA

Democratizar a educação superior, dar acesso a todos, como o PROU-NI e o REUNI fez, compromete a qualidade da educação? Quais são as consequências: boas, ruins? Nos moldes do PROUNI se democratizar significa garantia da qualidade eu tenho minhas dúvidas, porque você pode democratizar em diferentes direções. Está havendo um processo de democratização, mas com uma transferência de recursos públicos para instituições privadas. Claro que democratizar a Educação Pública superior implica em maior gasto pro Estado e na forma como o governo vem fazendo, neste contex-to de reforma do Estado em que se pensa a implementação de políticas públicas, mas sem a ampliação do ônus no sentido do investimento do Estado é claro que isso não vai ne-cessariamente garantir qualidade. No Brasil nós investimos na educação atualmente 4,8% do PIB, quando na verdade no pla-no nacional de educação, não sei a versão final se acabou ficando, nos próximos dez anos, gradativamente, amplia isso pra 10% do PIB, isso é mais que dobrar. Agora o que vem aconte-cendo com as políticas educacionais é que, inclusive na universidade pú-blica, no Estado de SP, por exemplo, o governo tem um percentual da ar-recadação que ele investe nas univer-sidades públicas, da arrecadação do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). E a gente vê notícias diariamente de medidas do governo de desoneração do siste-ma produtivo, deixa de cobrar ICMS da exportação. Agora, por exemplo, foi aprovado que o Estado de SP não vai cobrar mais o ICMS sob o transporte de mercadorias que vão para exportação, então o governo está diminuindo a arrecadação do ICMS por conta da necessidade de incentivo à exportação, diminuindo a arrecadação do ICMS está dimi-nuindo (porque é o percentual sobre os impostos que vai ser aplicado no ensino superior), o percentual de recursos a serem aplicados. Então como democratizar garantindo qua-lidade se não tem a garantia de que você vai ampliar o investimento de recursos no ensino superior e sim encontrar formas de fazer isso deso-nerando, de fato não vai existir uma

relação direta entre democratizar no sentido de ampliar o acesso ao en-sino superior. A gente poderia sim ampliar o acesso garantindo qualida-de desde que houvesse uma amplia-ção também, não na mesma medida da ampliação do acesso, mais do que isso porque a gente tem um déficit em termos e recursos a serem inves-tidos na educação. Hoje pra gente ter um patamar mínimo pra qualida-de de educação os estudos apontam que haveria a necessidade de um in-vestimento em torno de 9 a 10% do PIB e hoje investe a metade então, sem pensar em termos de ampliação do acesso, teria que dobrar os recur-sos a serem investidos. Agora, isso só vai aconte-cer na medida em que a socie-dade conseguir pressionar o poder público pra que haja esse investimento, no momento nós temos uma de-sarticulação.

Parece que esta-mos criando tra-balhadores com diploma e não mais pesquisadores e intelectuais ... Isso se você pensar a ques-tão do ensino superior na área de formação de professores é muito mais grave ainda, porque o MEC (Ministério de Educação) vem cri-ticando os cursos de formação dos professores por conta da baixa qua-lidade. E qual é a estratégia que o MEC vem encontrando pra “melho-rar” essa qualidade? Na verdade vai à direção oposta de uma formação de um profissional de qualidade. É fa-zer esta formação com ensino a dis-tância, dos profissionais que já atu-am, mas que não tem a qualificação, estão começando por ai. Havia uma proposta do governo, em termos de formação docente, que era uma crí-tica dos cursos de formação docente de que eles trabalham muito com a teoria e que eles teriam que ampliar a carga horária prática dos cursos de formação docente. A gente vê de ou-tra forma, se você tem uma base te-órica bem fundamentada, se os pro-fissionais têm uma fundamentação filosófica, histórica, psicológica bem

estruturadas, estratégias metodoló-gicas são uma decorrência de uma boa fundamentação teórica. Agora você trabalhar sempre essa relação teoria/prática ampliando a carga ho-rária prática como se houvesse uma dicotomia entre teoria e prática, uma boa prática teria de ser decorrência de uma boa fundamentação teórica. Você não consegue criar propostas metodológicas inovadoras pra supe-rar o índice de evasão e repetência se você não tem um profissional que tenha uma boa fundamentação teórica. Mas o entendimento é ‘tem que reduzir porque está descolado da realidade, porque os cursos de formação de professores ficam só na estratosfera do pensamento filo-

sófico e não r e s o l v e m as questões práticas’, é essa crítica que o MEC vem fa-zendo, eles promovem uma dico-tomia entre teoria e prá-tica. Bom se

a gente fizesse isso, mas conseguisse formar um profissional das licencia-turas com uma boa fundamentação teórica com certeza nos estágios, nas disciplinas de metodologia, que ficam lá pro final do ano, as estraté-gias de ensino teriam claro que uma viabilidade muito melhor. Mas não. Querem diminuir a carga horária das disciplinas teóricas no início do curso, fazendo essa relação teoria/prática desde o primeiro ano. Como se o aluno entrasse na universidade e não conhecesse nada da escola, ele passou a vida inteira na escola, o que mais ele conhece é a realidade da escola, então chegando à universida-de ele tem que ter mesmo uma boa fundamentação teórica, conhecer as questões filosóficas e históricas da educação e o MEC está fazendo isso na direção oposta. E os profissionais que estão inseridos na área, mas que não têm a formação estão priorizan-do a formação do ensino a distância. Então eles criticam os cursos, mas as medidas que estão sendo promovido vão na direção oposta de buscar um ensino de qualidade.

Primeiro que a democrati-zação do ensino público em termos de expansão, do acesso, vem sendo feita pelas universidades privadas. No ensino superior público a gen-te tem uma contenção da expansão das vagas. E segundo que na área de formação de professores essa não expansão corre o risco e vem sendo feita na direção não de buscar uma formação mais qualificada no senti-do de formar um bom profissional e sim uma concepção muito prag-mática, imediatista que infelizmente, com certeza, vai ter como resultado o esvaziamento ainda maior da capa-cidade de análise, compreensão e de atuação com qualidade.

Apresentando dois casos: primeiro aquele professor que não ganha o suficiente e procura outras atividades e acaba não tendo tempo pra se de-dicar a pesquisa; segundo, empresas privadas financiando pesquisas ou projetos de extensão. Em sua opi-nião estes casos tiram a autonomia da universidade pública? Olha eu estou cansada dis-so dentro da universidade. É estres-sante demais. Você tem pressões, até nós discutimos isso na semana de Pedagogia em uma mesa sobre o en-sino a distância e até fiz esta questão ao professor, por exemplo, nós aqui na UNICENTRO o que se coloca como o grande desafio da universi-dade hoje é a verticalização. Princi-palmente aqui no setor de Humanas, nós não temos um curso de Mestra-do. Acho que agora foi aprovado o Mestrado em História, mas que vai ser ofertado no campus de Irati, aqui no campus Santa Cruz não temos Mestrado. Então existe a expectativa de que os doutores dos departamen-tos invistam na criação do Mestrado. Isso implica em ter doutores que tenham a produção mínima exigi-da pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ní-vel Superior), que não é uma exigên-cia tão alta assim. Na nossa área da educação a cada três anos você tem que ter a publicação de dois artigos (com o qualis, que é a avaliação que eles fazem nos periódicos). Então dois artigos em três anos não uma exigência assim tão alta pra um pro-fissional que quando tem um douto-rado consegue entrar na categoria de PQC (Pesquisa Continuada), você tem direito a ter uma carga horária

A educadora Angêla Maria Hidalgo conversa com a ADUNICENTRO sobre democratização e privativatização da educação brasileira. Autora do livro Educação e Estado: as mudanças nos Sistemas de Ensino do Brasil e do Paraná na década de 90 , a professora

discute a educação supeior trazendo aspectos da UNICENTRO.

“Nos moldes do PROUNI se democratizar significa garantia da qualidade eu tenho minhas

dúvidas, porque você pode demo-cratizar em diferentes direções. Está havendo um processo de democratização, mas com uma

transferência de recursos públicos para instituições privadas”

Educação superior para todos. Mas de que forma?

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de oito horas semanais na gradua-ção e, portanto você ter projeto de pesquisa com ou sem financiamento externo, melhor com financiamento externo, muito mais bem avaliado em melhores condições de trabalho. Então o docente que tem oito horas aulas por semana e tem projeto de pesquisa, tem uma carga horária, se você tirar reuniões de departamen-to, orientações de TCC e iniciação científica, você tem 20h pra pesquisa. O doente que se dedica 20h pra pes-quisa tem condições, tranquilamente, de ter esse nível de produção exigi-do pela CAPES. Mas o que aconte-ce com os docentes? Eles terminam seu doutorado (aqui internamente a exigência pra você ter o PQC é ainda menor que a CAPES), tem oito ho-ras aulas semanais, sem ter o nível de publicações exigidas pela CAPES e ele dá as aulas da graduação e a carga horária de pesquisa ele vai dar aula na OAB, na pós-graduação, proje-tos da Universidade Sem Fronteiras, trabalha no PDE (onde ele tem uma bolsa por orientando), então ele vai fazer uma série de atividades que é uma bolsinha de 400 reais aqui, ou-tra bolsinha de mais alguma coisa ali. Eu do aula na pós de educação no campo que é gratuita que a gente não ganha, faço questão de dar aula só nessa especialização, porque se eu for ficar dando aula em curso de especialização pra ganhar dinheiro e não vou dar conta do meu projeto de pesquisa e não vou ter publicação. Então tem que ter no mínimo oito doutores, se tem um departamento que tem 15 doutores, mas que eles não têm a publicação mínima exigi-da pela CAPES e a gente não conse-gue criar Mestrado. Porque você tem duas pressões em sentidos contrários dentro da universidade, você tem a

pressão para que o professor produ-za o mínimo pra CAPES e por outro lado uma pressão permanente, a pró-pria CAPES pressiona o professor para que a universidade tenha vínculo com educação básica. Então nossos projetos de extensão, de pesquisa eles tem que estar lá na escola ajudando a resolver os problemas. Isso implica em você acabar assumindo projetos que se você não conseguir conciliar a extensão e a pesquisa e na medida em que você vá fazendo a extensão, você também vai fazendo a pesquisa no mesmo processo e escrevendo seus artigos e mandando para as revistas, quer dizer, a exigência não é tão alta, mas você manda seus artigos e eles demoram um tempo, tem periódicos que demoram dois anos, então você faz todo um trabalho de pesquisa, a exigência que tem o qualis da CA-PES não é qualquer trabalho, tem que ser bem fundamentado, tem que ter dados empíricos, tem que ter no-vidades, tem que ter coletado dados, então a exigência não é tão alta, mas tem que ser fruto de pesquisa e tem que ser um trabalho bem elaborado o que exige muito tempo de dedicação do docente. Então ao mesmo tempo que você tem essa pressão pra aten-der aos níveis de exigência, pra ver-ticalização do ensino, você tem uma pressão da própria CAPES e da uni-versidade e o baixo salário e o atrati-vo de uma bolsinha aqui, outra ali, e o docente se perde e não consegue atender, não consegue dar conta. Isso é angustiante, deprimente, revoltante.

Há algumas cobranças que a univer-sidade faz e que, por ser pública, não deveria cobrar (taxas, RA) e é um fato até curioso porque se eu procuro uma universidade pública é porque eu não tenho dinheiro pra investir na minha educação, ou seja, eu conto com o público. Então a privatização do en-sino público é a principal responsável

pela falta de qualidade na educação? Olha, não sei. O que a pri-vatização do ensino público hoje? Porque quando você fala em privati-zação você pensa em uma instituição que era estatal e você transfere isso pra iniciativa privada explorar e obter lucro. Hoje isso não acontece. A gen-te tem tendências de privatização das instituições estatais que vão perdendo o caráter de atender aos interesses da maioria da população pra atender in-teresses específicos, que é o caso das pesquisas financiadas por empresas privadas. É claro, a universidade tem problemas de financiamento, não dá conta com o dinheiro que tem de ter autonomia financeira, quer dizer, que tem um repasse de verbas que não é suficiente pra manter a universidade e ela tem que encontrar estratégias de angariar fundos pra dar conta de cobrir com as despesas. Extensão passa a ser uma forma de arrecada-ção de fundos pra universidade. Mas tem um ônus que é você estar dire-cionando pesquisa para interesse do financiador, você está direcionando a extensão, infelizmente são processos que ocorrem. Cobrança de tarifa, então você tem uma universidade que é estatal, que a princípio é pública que acaba assumindo contornos de uma instituição privada, que vai desenvol-vendo N estratégias de cobranças: o RA, taxas, protocolo. Enfim, a uni-versidade acaba perdendo esse cará-ter de pública e vai se privatizando por dentro. Então ela acaba sendo uma instituição estatal, porém não tão pública assim. Se bem que no sistema de ensino do Brasil a gente aquela dis-torção, não é o caso das ciências humanas, que é uma crítica que os conservadores fazem a universida-de e usam isso como argumento pra cobrança de tarifa. Nos cursos das áreas exatas ou biológicas os alunos que na educação básica frequenta-ram a escola privada acabam sendo os alunos que têm acesso a universi-dade pública e os alunos que estuda-ram em ensino público vão para as universidades privadas. Esta é uma distorção, mas a gente vai resolver cobrando mensalidade? Não. A co-

brança de mensalidade só vai acirrar mais esta distorção, na verdade tem que melhorar a educação básica. Que não é o que se pensa. É você manter seu filho na escola pública que tenha qualidade, indistintamente da classe social que vai ter acesso a ela. Você o direito, paga os impostos. Então eu defendo que a educação básica pú-blica tem que melhorar a qualidade, aumentado os investimentos, melho-rando a forma de gestão, formação de professores, pra gente constituir patamares mais elevados de quali-dade de ensino da educação básica, para que esses alunos tenham acesso e tenham condições de ter acesso a universidade pública. Claro que isso tem que ser feito em longo prazo. Se a gente falar em consti-tuição de políticas de Estado e não de governo, na área das políticas de educação a gente discute muito isso: se você tem políticas de governo elas são pontuais, buscam estratégias mirabolantes de tentar resolver em curto prazo e acaba se constituindo muito em discurso de marketing dos governos. Dai entra outro governo e a proposta tem que ser diferente, tem que ser mais inovadora que o gover-no anterior e isso acaba na verdade não tendo continuidade, as propos-tas são pontuais, se constituem em programas e a gente não tem uma continuidade porque a qualidade não vai se dar em uma gestão a gente que pensar isso historicamente. Uma das soluções seria a gente conseguir constituir políticas públicas, por isso que o envolvimento da sociedade ci-vil na discussão das políticas é impor-tante até para que a gente possa ter esse acompanhamento, esse contro-le, essa cobrança pra que os projetos sejam implementados e que eles te-nham continuidade independente do governo que assuma o executivo na-quele momento. Mas isso é tão difícil porque nós docentes universitários a gente mal consegue participar das nossas instancias representativas. Mas esta questão da co-brança de matriculas, da universidade arrecadar fundos via implementação de projetos financiados pela iniciati-va privada, tudo isso acaba se cons-tituindo num processo de privatiza-

ção, mas não nos moldes clássicos da privatização que a gente chamaria de t e n d ê n c i a s contemporâ-neas de pri-vatização do ensino públi-co.

“É você manter seu filho na escola pública que tenha qualidade, indistintamente da classe social

que vai ter acesso a ela. Você tem o direito, paga os impostos. Então eu defendo que a educação básica pública tem que melhorar a qualidade, aumentado os investimentos, melhorando a forma de gestão,

formação de professores, pra gente constituir patamares mais elevados de qualidade de ensino da

educação básica”

Carolina Felício

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UNICENTRO

Entenda o que está acontecendo com a Paraná-Previdência e porque há risco de não haver fundo suficiente para pagar

as aposentadorias daqui cerca de 10 anos A Assembléia Legislativa, alarmada com os dados e o alerta que constam do relatório divulga-do pela 1.ª Inspetoria de Contro-le Externo do Tribunal de Contas do Estado (TC,) aprovou reque-rimento convocando o diretor--presidente da Paraná-Previdência, Sr. Munir Karam, a comparecer ao Legislativo estadual e “prestar es-clarecimentos relativos à situação financeira da instituição”. A Paranaprevidência, ór-gão do estado responsável por ad-ministrar e pagar as aposentadorias dos servidores estaduais e pensões dos dependentes deles, tem um rombo de R$ 3,2 bilhões causado pela falta de repasses do governo paranaense. Isso pode comprome-ter o pagamento dos benefícios no futuro, segundo o relatório do TC. O jornal Gazeta do Povo noticiou que o relatório é resultado de uma auditoria realizada nas con-tas do fundo previdenciário esta-dual determinada, em agosto, pelo presidente do TC, Hermas Bran-dão – após a apreciação das contas do governo do estado referentes a 2009, que já mostravam problemas na Paranaprevidência. De acordo com relató-rio, quase um terço do déficit – de R$ 1,029 bilhão – foi causado por repasses monetários abaixo do devido pelo governo estadual à Paranaprevidência – num des-cumprimento do artigo 83 da Lei 12.398/1998, que rege o Fundo

Previdenciário. Entre maio de 1999 e abril de 2001 (na gestão do ex-governa-dor Jaime Lerner), o repasse cor-respondeu a apenas 64% do mon-tante devido. E, entre maio de 2001 e abril de 2003 (no fim da gestão Lerner e início da administração de Roberto Requião), os repasses de-vidos foram de apenas 83,3%. Uma negociação entre o governo e o Fundo previa que, a partir de 2005, o estado deveria ter pago essa diferença em 276 par-celas. Mas, segundo o relatório do TC, nenhuma parcela foi quitada. Ainda de acordo com o documen-to, esse pagamento de atrasados “não obteve autorização legal [para ser efetivado], assim como inexiste ato administrativo que formalize o procedimento”. O relatório do TC traz al-gumas sugestões para sanar o dé-ficit: o pagamento pelo governo do montante previsto em 2005; o compromisso de que a inadimplên-cia não se repetirá; a revisão do plano de custeio (com mudanças como a cobrança de contribuições de inativos, que hoje não pagam); e a elaboração de um plano de pa-gamento referente às contribuições referentes aos outros ativos. Atualmente os aposenta-dos e pensionistas não recolhem parte de seus vencimentos aos co-fres da Paraná-Previdência. Apli-cada esta norma os inativos terão redução de 10% nos seus venci-

mentos. As saídas para a crise ge-ram controvérsias e oneram os ser-vidores públicos e a sociedade, mas é fato que o governo não cumpriu com sua parte, inclusive compro-metendo a rentabilidade do fundo e agravando a situação. Não houve respeito para com o servidor público paranaense. Para iniciar o estudo esta situação e preparar os docentes para o enfrentamento desta situa-ção a ADUNICENTRO realizou o SEMINÁRIO: APOSENTADO-RIA – PARANÁ PREVIDÊNCIA no dia 21 de outubro. Foram convidados para debater este assunto com docentes e agentes universitários O advoga-do da ADUNICENTRO sindicato, Sr. Flávio José Souza da Silva. Este trouxe um histórico sobre aposen-tadoria, apresentando o sistema após as emendas constitucionais nº 20/1998, 41/2003 e 47/2005. Também foi convidado o Sr. Hélio de Almeida Machado, membro do Conselho Fiscal da ParanáPrevidência, o qual demons-trou como funciona a ParanáPrevi-dência atráves apresentando diver-sos dados e discutindo as leis que regem o sistema previdenciário do servidor público no Paraná.

Breve história da aposentadoria dos

professores no Brasil A questão da aposenta-doria é um debate bastante atual

para a classe trabalhadora, vendo o que ocorre nos paises europeus na atualidade. São observados enfren-tamentos e paralisações por tentati-vas de mudanças nas regras de con-cessão desse direito trabalhista. Os governos na tentativa de sanar seus erros de avaliação e condução da po-lítica econômica neoliberal, repas-sam às classes trabalhadoras os ônus dos ajustes econômicos necessários. O que representa as características centrais do capitalismo: acumulação de capital pelo capitalista e explora-ção da mais-valia da classe trabalha-dora. No caso brasileiro, mais específicamente dos trabalhadores na educação, o Estado assume a responsabilidade pela garantia dos pagamentos dos proventos inte-grais, aos professores e professoras, com vistas à promoção da instrução pública e a dignificação do magisté-rio, através do Decreto baixado por Dom João VI em 1º de outubro de 1821, cuja expressão, à época, eram jubilados com vencimento de todo o seu ordenado. Nesse Decreto “As Cortes Geraes, Estraordinárias, e Constituintes da Nação Portuqueza, reconhecendo que hum dos meios de promover a instrucção Pública he contemplar as pessoas que della são encarregadas”. A lei contempla os Profes-sores, e Mestres Régios, de ambos os sexos, de primeiras letras, gramática latina e grega, retórica e filosofia, que no espaço de trinta annos con-tinuos ou interpolados, houverem regido louvavelmente, e sem nota, as suas respectivas cadeiras, serão jubi-lados com vencimento de todo o seu ordenado. Modernamente, a Consti-tuição de 1988, na línea b, do inci-so III, do art. 40, estabelecia que “o professor poderia aposentar-se des-de que cumprisse o efetivo exercício na função de magistério por trinta anos, se professor, e vinte e cinco, se professora, com proventos inte-grais”. Não fazia qualquer distinção no nível de atuação do professor, so-mente exigia o efetivo exercício das funções de magistério.

Flávio José Souza da Silva, advogado da ADUNICEN-TRO, desta-cando as leis do Estado em relação a Apo-sentadoria

Carolina Felício

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A Lei n.º 9.394 de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, com as alterações provo-cadas pela Lei Federal n.º 11.301 de 10 de maio de 2006, conceitua o que seriam funções de magistério: O Art. 67 em seu § 2º. Para os efeitos do disposto no § 5º do art. 40 e no § 8º do art. 201 da Constituição Federal, são consideradas funções de magisté-rio – as exercidas por professores e especialistas em educação no desempenho de atividades educa-tivas, quando exercidas em estabe-lecimento de educação básica em seus diversos níveis e modalidades, incluídas, além do exercício da do-cência, as de direção de unidade escolar e as de coordenação e as-sessoramento pedagógico. O Supremo Tribunal Fe-deral, por ocasião da ADIN 122-1/600-DF, o Ministro Marco Au-rélio, assim expôs: “Sob minha ótica, pelo menos, temos uma ex-plicitação do que se entende como funções de magistério. Temos uma definição precisa da expres-são ‘funções do magistério’ ao se indicar que também aqueles espe-cialistas em assuntos educacionais estão protegidos, pela norma cons-titucional relativa à aposentadoria, com um menor tempo de serviço”. Ainda o Supremo Tri-bunal Federal, (STF, ADI 3772/DF, Rel. orig. Min. Carlos Britto, Rel. p/ o acórdão Min. Ricardo Lewandowski, 29.10.2008), con-clui julgamento de ação direta ajuizada pelo Procurador-Geral da República que objetivava a decla-ração de inconstitucionalidade da Lei 11.301/2006, que acrescentou ao art. 67 da Lei 9.393/95 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) o § 2º (“Para efeitos do disposto no § 5º do art. 40 e no § 8º do art. 201 da Constituição Federal - são con-sideradas funções de magistério as exercidas por professores e espe-cialistas em educação no desempe-nho de atividade educativas, quan-do exercidas em estabelecimento de educação básica em seus diver-sos níveis e modalidades, incluídas, além do exercício da docência, as de direção de unidade escolar e as de coordenação e assessoramento pedagógico”). Destaque-se que a ativida-de docente não se limita à sala de aula, e que a carreira de magistério

compreende a ascensão aos cargos de direção da escola, o Tribunal, por maioria, julgou parcialmente procedente o pedido formulado para conferir interpretação con-forme, no sentido de assentar que as atividades mencionadas de exer-cício de direção de unidade escolar e as de coordenação e assessora-mento pedagógico também gozam do benefício, desde que exercidas por professores. Desta forma, exigia-se apenas o exercício efetivo na fun-ção de magistério, quaisquer que forem os níveis do professor/a, incluídas, além do exercício da do-cência, as de direção de unidade escolar e as de coordenação e as-sessoramento pedagógico. Situação que permane-ce até 16.12.1998, quando da pu-blicação da Emenda nº 20/1998, traz profundas modificações nas condições de concessão de apo-sentadorias, principalmente nas do professor/a. Até 16.12.98 as condições para a aposentadoria eram dadas por:- Abrangia todos os docentes- Critério por tempo de serviço;- Sem idade mínima;- Apos. integral: 30 (h) e 25 (m);- Cálculo pela ultima remuneração;- Paridade entre ativos, aposenta-dos e pensionistas; A Emenda nº 20/1998 as-segura ao professor/a, além do di-reito adquirido até 15.12.98,àquele que tivesse ingressado, regular-mente, em cargo efetivo de ma-gistério poderá optar por apo-sentar-se mediante as seguintes condições:a) o tempo exercido até 15.12.1998 será contado com acréscimo de 17%, se homem, e 20%, se mulher, desde que se aposente, exclusiva-mente, com tempo de efetivo exer-cício das funções de magistério;b)quando cumulativamente:I - tiver 53 se homem, e 48 anos de idade, se mulher;II - tiver 5 anos de efetivo exercício no cargo em que se dará a aposen-tadoria;III - contar tempo de contribuição igual, no mínimo, à soma de:a) 35 anos, se homem, e 30 anos, se mulher; eb) um período adicional de contri-buição equivalente a vinte por cen-to do tempo que, na data da pu-blicação da Emenda, faltaria para

atingir o limite de tempo constante da alínea anterior. Para compensar a exigência de maior tempo de contribuição para aposentadoria dos professo-res do terceiro grau, concedeu-se ao tempo exercido até 15.12.1998 um acréscimo de 17%, se homem, e 20%, semulher, desde que se apo-sente, exclusivamente, com tempo de efetivo exercício das funções de magistério. A Emenda nº 20/98, es-tabelece nova fórmula de aposen-tadoria especial voluntária, desde que cumpridos, cumulativamente: - 10 anos de efetivo exercício no serviço público e 5 anos no cargo;- idadede 55 anos para o professor aos 30 anos de contribuição;- para a professora 50 anos de ida-de e aos25 anos de contribuição, efetivo exercício- exclusivamente no exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio, - com proventos integrais. Estabelece a aposenta-doria voluntária e especial apenas para o professor/aque exercesse as funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio. A Emenda nº 41/ 2003, DOU de 31.12.2003 , convalidou estas condições e estabeleceu nor-mas de transição para os professo-res/as em exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio, e, nova fórmula de cálculo dos pro-ventos:- média de 80%das maiores remu-nerações/base de contribuições corrigidas para os servidores (pro-fessores/as) que ingressassem no serviço público após 31.12.2003, e, ou que optarem por uma das re-gras estabelecidas do art. 2º, desta Emenda e do art. 40, da CF, emen-dado. A norma de transição desta Emenda estabelece no seu-art. 6º que, ressalvada a opção à aposentadoria do servidor (aqui adaptado às condições do profes-sor na forma do § 5º do art. 40, da CF) pelas normas de que tratam o art. 2º, desta Emenda e o art. 40, o cálculo do provento será pela integralidade, com base da última remuneração do cargo efetivo em que se der a aposentadoria, desde que cumpram cumulativamente as

seguintes condições (Art. 40,§ 5ª): I – 55 anos de idade, se homem, e 45 anos de idade, se mulher;II – 30 anos de contribuição, se professor, e 25 anos de contribui-ção, se professora;III – 20 anos de efetivo exercício no serviço público; eIV – 10 anos de carreira e 5 anos de efetivo exercício no cargo em que se der a aposentadoria. A Emenda 47/2005, DOU de 6.7.2005 (Art. 3º) esta-beleceu que o professorem exer-cício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio, que tenha ingressado no serviço público até 16.12.1998, poderá aposentar--se com base na remuneração do cargo efetivo em que se der a apo-sentadoria, desde que cumpram cumulativamente:I- 30 anos de contribuição, se ho-mem, e 25de contribuição, se mu-lher;II- 25 anos de efetivo exercício no serviço público, 15 anos de carrei-ra e 5 anos no cargo em que se der a aposentadoria;III- idade mínima resultante da redução, relativamente aos limites do art. 40, § 1º, inciso III, alínea “a”, da Constituição Federal, de um ano de idade para cada ano de contribuição que exceder a condi-ção prevista no inciso I do caput deste artigo. (§ 5º do artigo 40, da CF.) Para quem ingressou no magistério a partir de 01.01.2004 as condições para a aposentadoria passaram a ser as seguintes:- Tempo de contribuição de 35 (h) e 30 (m);- Idade mínima de 60 (h) e 55 (m), - 5 anos no cargo; 10 anos no ser-viço público; - Cálculo da aposentadoria: média das 80% maiores contribuições a partir do ingresso- Fim da paridade. Reajuste anual da aposentadoria, para preservar valor real- Pensão = remuneração ou pro-vento até teto do rgps, acrescido de 70% do que exceder. Importante se perceber, que no nosso caso, há uma conti-nuada perda de direitos anterior-mente adquiridos. Condição gera-da pelas lutas desenvolvidas pelos vários sindicatos de trabalhadores do Setor Público para garantir sua condição trabalhista.

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ESTADO

O que houve com o dinheiro público de outubro pra cá?

A UNICENTRO não tem nenhuma política de assis-tência ao estudante. Para con-seguir terminar os estudos os alunos procuram a única “as-sistência” que a universidade oferece: o “estágio”, mão de obra oferecida pelo acadêmico em troca de um bolsa men-sal. Não é a melhor forma de apoiar o estudante (pois tira dele tempo que poderia pes-quisar, estudar, enfim se dedi-car à graduação), porém sem alternativa (moradia estudan-til, RU a preço acessível) acaba cedendo ao estágio oferecido pela universidade. Sendo quase o dobro de estagiários em relação aos funcionários concursados da instituição, a UNICENTRO despediu, sem aviso prévio, 25% de seus estagiários (apro-ximadamente 102 estudantes). De acordo com a administra-ção da universidade este corte aconteceu porque nos meses de outubro, novembro e de-zembro o Governo do Esta-do não repassou verba para as Instituições de Ensino Supe-rior do Estado. Depois de uma mani-festação com os estagiários na manhã do dia 09 de novem-bro, o DCE da UNICENTRO se reuniu em assembleia com os estudantes e reitoria para obter explicações. O vice-rei-tor da UNICENTRO, profes-sor Aldo Bona, esclareceu o fato informando mais uma vez sobre o corte do Governo do Estado. Apesar de dizer que entende a manifestação dos estudantes e que até apoia, a reitoria da universidade decla-rou que não pode fazer nada, já está com dívidas muito al-tas e não teve escolha. Falou ainda sobre as verbas vindas

de convênios onde explicou que a universidade não pode remanejar o dinheiro para in-vestir em outros setores da instituição. “Quem controla o financiamento do Estado é a secretaria de planejamento, a informação que eles passa-ram pra nós era que estariam fazendo estudos sobre o orça-mento global do Estado e que depois fariam a liberação da verba. Fim do mês de outubro e nada. Iniciou novembro e nada da discussão orçamentá-ria. Na semana passada o orça-mento desapareceu do sistema o que evidencia um corte no orçamento do último trimes-tre, um corte de 25%”, conta o vice-reitor. A administração con-tou que na última semana os pró-reitores, diretores de cam-pis e os coordenadores admi-nistrativos se reuniram para encontrar alternativas de fazer com que a universidade con-siga terminar o ano. Fizeram previsões de gastos e decidi-ram cortes. “Primeiro inter-rompemos todas as compras e processos licitatórios em an-damento que diziam respeito a

“Na semana passada o orçamento desapareceu do sistema o que evi-dencia um corte no orçamento do último trimestre, um corte de 25%”

Vice reitor, Aldo Bona, em assembleia com os esudantes

diário oficial, água, luz. Então estamos combinando de todas as universidades darem calotes nas mesmas contas (Estado) pra gerar um problema único que precisa ser resolvido”, diz Bona. Como o DCE e os estagiários não obtiveram ne-nhuma resposta de assistência da universidade, em assem-bleia os estudantes decidiram se reunir com outros DCE’s e pressionar o Governo do Es-tado para saber onde está o

dinheiro desde outubro. Ainda não foi divulgada justificativa para o corte imposto às uni-versidades. O orçamento para o ensino superior aprovado em 2009 para ser executado em 2010 previa o repasse em duodécimos para as Institui-ções de Ensino Superior do Estado e era suficiente. O que é que houve com o dinheiro de outubro para cá?

recursos de custeio. Não com-pramos mais absolutamente nada. A lei nos permite, em contratos terceirizados, redu-zir até 25%, então reduzimos 25% dos contratos de vigilân-cia, limpeza e manutenção. E precisamos reduzir também nos estágios.”, declara o pro-fessor. Apesar da solidarie-dade que a administração da UNICENTRO ofereceu aos estagiários, disseram que no momento estão tentando dis-cutir este orçamento com o Governador, visto que todas as universidades estão sofrendo com es-tes cortes. “A única possibilidade de ha-ver qualquer reversão disso é a gente conseguir reverter esta questão do corte raso do or-çamento no último trimestre. Nós estamos articulando en-tre todas as universidades em dar o calote nas mesas contas, porque mesmo com as medi-das que tomamos ainda não vamos resolver o problema. Vamos calote nas contas do Estado, não pagamos mais o

Carolina Felício

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E x p e d i e n t eJornal Seção Sindical dos Docentes da UNICENTROProdução ADUNICENTRO - S.SINDICALJornalista Responsável: Carolina Felício (MT/PR 8455 JP)

R. Frei Caneca, 3510 - Sta. Cruz85015-220 Guarapuava - PR

DiretoriaPresidente: Marcos Aurélio Fernandes (DECOM)Vice-Presidente: Mário de Souza Martins (DEHIS-Irati)1º Secretário: Francisco Ferreira Júnior (DEHIS)2º Secretário: José Ronaldo Fassheber (DEDUF)1º Tesoureiro: Denny William da Silva (DEBIO)2º Tesoureiro: Hélvio Alexandre Mariano (DEHIS

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CRÔNICA

40 minutosEle sempre pensava que 40 minutos era o tempo necessário para que uma cerveja pudesse ser degustada com alguma digni-dade. Assim, sorvida por um homem só. Além disso, se demorasse menos, o que faria com o resto do tempo?Era assim que gostava de aproveitar a vida, e, podemos crer, uma vida inteira pode ser esgotada assim, de 40 em 40 minutos, de cerveja em cerveja.Aos que o observavam, esse comporta-mento podia parecer indolente. Mas era uma coisa que não parecia preocupá-lo: o que os outros pensavam. Alias, pouca coisa preocupava-o (pelo menos aparen-temente). Sentado ali, seu único interesse repousava sobre a necessidade de esva-ziar, vagarosamente, aquele copo. Trajava-se de modo desleixado, mas por-tava sempre um paletó, que embora anti-go e fora de moda, ainda conservava um certo charme rústico. Na verdade gostava do paletó porque possuía um bolso inter-no na medida certa para uma caderneta de notas que trazia sempre consigo. No seu íntimo ele imaginava que, se uma ca-derneta de notas tivesse de ser sacada de algum lugar, que fosse de um bolso inter-no, pra dar mais gravidade ao ato. Porém, nos cinco anos que havia por ali apareci-do, ninguém o vira jamais tirar do bolso a

caderneta.Por atitude própria, nunca falava com ninguém. Mas respondia com educação a qualquer interpelador, o que, vez por ou-tra, inseria-o em alguma conversa. Sempre quando indagado sobre o que andava fa-zendo, respondia tranqüilamente que es-tava em busca de uma idéia original. Fora isso, pouca coisa podia-se dele saber.No barzinho, que freqüentava diariamen-te a alguns anos, já tinha cadeira cativa, e o dono do bar sentia certa simpatia por ele apesar de não saber de onde vinha e de poucas vezes ter ouvido a sua voz. Aque-la atitude contemplativa sempre inspirava, se não simpatia, ao menos respeito.Naquela tarde de terça-feira, em que as cores do outono já se deixavam notar, o dono do bar observou intrigado quando seu mais assíduo cliente retirou do bolso interno do paletó uma pequena caderneta e rabiscou umas palavras. Depois disso ele terminou, vagarosamente, aquela cerveja, levantou-se e com um estranho sorriso se despediu do dono do bar. Nunca mais voltou.O que ficou dele, naquele lugar, foi uma inquietante dúvida na cabeça do bode-gueiro, que na tarde de terça, do balcão onde estava, pode observar a anotação na caderneta: 40 minutos.