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Aquele que procura e a difícil tarefa de apreender o mundo 08 e 09 02 Jovens em pistas de velocross Itaipava preserva história do trem Uma vez ao mês, elas se reúnem para conversar, rir e correr, em meio à poeira e à lama, sobre motores de duas rodas Documentos sobre a linha férrea, que partia de Itajaí e subia o Vale, estão reunidos no Museu Etno-Arqueológico da Estação Vereza Memória Pingue-pongue 10 e 11 Categoria Batom 04 e 05 JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI Itajaí, abril de 2012 Edição 112 Gratuito Ombudsman Disputa pelo bem do mar 16 Tradição, cultura e sustentabilidade marcam a história de Bombinhas, antiga vila de pescadores no litoral catarinense Cobaia Jornal Sônia Moroso “Tenho a impressão de que aceitar a felicidade como ela é, e ter coragem para assumir essa postura, causa mais inveja do que preconceito” Fernando Castellon Filho Wagner Heinzen Morgana Bressiani Ieda Funari

Jornal Cobaia 112

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Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Univali. Edição 112, com novo projeto gráfico.

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Page 1: Jornal Cobaia 112

Aquele que procura e a difícil tarefa de apreender o mundo

08 e 09

02

Jovens em pistas de velocrossItaipava preserva história do tremUma vez ao mês, elas se reúnem para conversar, rir e correr, em meio à poeira e à lama, sobre motores de duas rodas

Documentos sobre a linha férrea, que partia de Itajaí e subia o Vale, estão reunidos no Museu Etno-Arqueológico da Estação Vereza

MemóriaPingue-pongue

10 e 11

Categoria Batom

04 e 05

JORNAL LABORATÓRIO DOCURSO DE JORNALISMODA UNIVALIItajaí, abril de 2012Edição 112Gratuito

Ombudsman

Disputa pelobem do mar

16

Tradição, cultura e sustentabilidade marcam a história de Bombinhas, antiga vila de pescadores no litoral catarinense

CobaiaJorn

al

A corrida de canoas de um pau só tem a intenção de preservar e difundir as em-

barcações feitas de tronco da ár-vore garapuvu, além de reunir as regiões que cultivam o hábito da pesca artesanal. Na mais recente competição, participam nove ca-noas de quatro remos, sete cano-as de dois remos feminino, sete canoas de dois remos masculino, sendo uma canoa do Pântano do Sul, de Florianópolis, uma de Ga-ropaba e outra de Itajaí. Também há dois caícos e dez caiaques.

Essa tradição remonta às ori-gens dos pescadores, e a preser-vação é essencial, de acordo com o prefeito Manoel Marcílio dos Santos, Seu Manéca. O pescador, hoteleiro e ex-prefeito Claudio-nor Pinheiro (Kanô) conta ser dono de uma canoa de garapuvu, a Aventureira, de aproximada-mente 200 anos. Ela se encontra no rancho da família e vai para as águas translúcidas da Sepultura e do Retiro dos Padres a partir de maio. Explica que a maioria é centenária e carinhosamente cui-dada por seus donos. E a dele, na realidade, pertence ao pai (Seu Naro - Carlos Adrião Pinheiro), de 87 anos, que, por sua vez, her-dou do pai. É um grande amor e um capítulo à parte da vida do Seu Naro, o pescador da Praia da

Canoas de um pau sódisputam a beleza do mar

Tradição, cultura e sustentabilidade marcam a história de Bombinhas, antiga vila de pescadores no litoral catarinense

Márcia Cristina Ferreira*

Sepultura. A pesca e a canoa divi-dem seu coração com Dona Lira (Maria Idia Mafra), sua esposa, que fala: “A gente vive muito en-raizado aqui. As nossas raízes são profundas”.

Apesar de os troncos da ma-deira garapuvu, cedro, peroba ou figueira serem frágeis ao tem-po, nas canoas, perduram por gerações de pescadores. Nor-malmente, a canoa é repassada de pai para filho. Na região de Bombinhas, diferentemente da Lagoa da Conceição e do Pânta-no do Sul, em Florianópolis, não há sequer um artesão que pre-serva a arte de esculpir este tipo de canoa.

FestividadesO 7º Festival de Embarcações

Catarinense e o 12º Municipal são realizados em comemoração ao aniversário de Bombinhas, que este ano completa 20 anos de existência. Uma corrida de canoas de um pau só, utilizadas na pesca da tainha nos meses de maio a julho. A competição tem três ca-tegorias: dois remos masculino, dois remos feminino e quatro re-mos masculino. Também é reali-zada a de caíco (bateira, pequena embarcação para duas pessoas feita de pranchas de madeira) e caiaque no adulto e infantil até

12 anos. Uma promoção conjunta entre a Fundação de Cultura e a iniciativa privada.

Sentada na barraca da orga-nização, Dona Tina (Leontina Crescêncio da Silva) de 84 anos, vem dos Ingleses para ver o neto Vinícius Pinheiro, remador da Bela Vista de Bombinhas, che-gar três segundos atrás da Nossa Senhora Aparecida de Bombas. A Bela Vista é a antiga Afrodite, três vezes campeã na competição de dois remos. Neste ano, traz como patrão um personagem lendário da península, o Capela (José Bento) que, após superar sua guerra interna contra o alco-olismo, volta às origens.

Além do patrão, a tripulação é composta de dois ou quatro re-meiros, conforme a categoria da canoa. Na competição feminina, um homem ajuda em caso de emergência. Mas remar é respon-sabilidade das, nem um pouco, frágeis e incansáveis mulheres e filhas de pescadores envolvidas na disputa. A ganhadora na cate-goria feminina é Samaria de Zim-bros (uma das praias de Bombi-nhas), com a patroa Marivone e as remeiras Alessandra e Durcelí, da família Serpa.

Elmir Eupídio Correia (Seu Didi), remeiro do Pântano do Sul, vem todos os anos, mas, nes-

te, a Osmarina não consegue pre-miação. Esteve acompanhado de Seu Arante e de Dona Osmarina (do bar do Arante do Pântano do Sul), prestigiando sua canoa, que saiu na sexta-feira e veio a remo de Florianópolis. Com os cabelos brancos ao vento, de bengala e um sorriso enorme no rosto, ex-pressa uma pequena crítica ao evento. Ao contrário dos anos an-teriores, as canoas saem do pon-to de chegada para a largada na ponta esquerda da praia e, aí sim, iniciam a competição até o ponto de chegada: “Os remeiros can-sam!”, exclama o velho Arante.

A vitoriosa nos quatro re-mos é a Gislaine de Garopaba, comandada pelo patrão Adilson Silva Melo. Os pescadores de Garopaba são da comunidade do Siriú, remeiros tradicionais em seu município. Eles fazem questão de prestigiar a cultura viva dos pescadores.

CorujicesNa competição de caícos, ga-

nham os remadores pai e filho Gilmar Pinheiro, de 46 anos, e Fa-brício Pinheiro, 12 anos. No caia-que adulto, o campeão é o salva-vidas de Quatro Ilhas (praia de Bombinhas) Max Moreira da Silva Júnior (Juninho) e, no in-fantil, sagra-se vencedor Gabriel

Escodelario Dusto de Itapema. Nesta etapa, há um diferencial, pois o mais jovem competidor é o pequeno Bernardo Espírito San-to, de 6 anos de idade, de Bom-binhas. Apesar de mostrar força, chega na última colocação. O que não abala a mamãe Ketlin toda sorriso: “Ano que vem tem mais”.

É fato que poderiam ter mais competidores, canoas de outras cidades, como Navegantes e São Francisco do Sul. A divulga-ção do festival ainda é precária e requer um maior planejamento por parte do executivo munici-pal e da Secretaria de Turismo estadual, já que faz parte do calendário de festivais catari-nense. Todavia, a preservação das canoas de um pau só, que labutam na pesca da tainha de inverno a inverno, faz entender o patrimônio histórico e cultu-ral vivos da região litorânea de Santa Catarina.

E quando a dor de existir ten-tar abater? Ora, basta ir à praia com vento sul, lestada ou até mesmo nordestão no rosto can-sado e nos cabelos soltos, e pron-to. O mar e o vento levam tudo embora... E lá se vão 20 anos de existência “rapazi”, com sabedo-ria centenária.

*Jornalismo, 3º período

Ieda Funari

16 JORNAL COBAIA Itajaí, abril de 2012

Tradição

Sônia Moroso“Tenho a impressão de que aceitar a felicidade como ela é, e ter coragem para assumir essa postura, causa mais inveja do que preconceito”

Fernando Castellon Filho Wagner Heinzen Morgana Bressiani

Ieda Funari

Page 2: Jornal Cobaia 112

“Ele chega às mãos

de você com inúmeras

mudanças no projeto

gráfico

De cara nova em 2012Vera Sommer*

Eis, finalmente, a primeira edição do jornal laboratório em 2012. Ele chega às mãos

de você, caro leitor, com inúme-ras mudanças. Uma das mais evidentes diz respeito ao proje-to gráfico, sob a responsabilida-de da estagiária Raquel da Cruz e minha coordenação. E conta com a ajuda da equipe de profes-sores e alunos da IN – Agência Integrada de Comunicação. Este Cobaia circula com matérias so-bre a vida na Univali e fora dela, enfocando questões de interesse das comunidades local e regional no Vale do Itajaí.

Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, dia 8 de março, esta edição traz uma entrevista, em formato pingue-pongue (pergunta-resposta), com a juíza Sônia Moroso, da 1ª Vara Criminal da Comarca de Itajaí. Personalidade feminina de destaque tanto no comba-te à violência e aos maus tratos

Aquele que procura e a difícil tarefa de apreender o mundo

Jane Cardozo da Silveira*

Itajaí, março de 2012. Distribuição gratuitaIN - Agência Integrada de Comunicação

EDIÇÃOVera Sommer Reg. Prof. 5054 MTb/RS

FOTO PRINCIPAL DE CAPA Ieda FunariPROJETO GRÁFICO Raquel da CruzDIAGRAMAÇÃO Raquel da CruzGRÁFICA GrafinorteTIRAGEM 2 mil exemplaresDISTRIBUIÇÃO Nacional

02 JORNAL COBAIA Itajaí, abril de 2012

cometidos contra a mulher e a criança quanto na luta pelo di-reito de qualquer ser humano à felicidade. Outra reportagem especial reflete sobre a realidade da mulher catarinense no século Nada é mais desconhecido que o tempo presente. O passado é

o já visto e, portanto, têm-se elementos para avaliá-lo, virá-lo pelo avesso, entendê-lo. O futuro é o presumível: pretendido

ou temido, admite-se ignorá-lo. Agora, o presente, este é o que nos interroga em busca de respostas imediatas. Quer-se dar a conhecer e é nossa obrigação – a dos jornalistas – atendê-lo em sua urgência. Aí reside o problema de narrar o que se desenrola: temos de fazê-lo no calor do acontecimento, tentando seguir o curso das coisas, en-quanto a poeira nos vela os olhos e cuida para manter indefinidos os contornos.

Pensando sob esse prisma, fica mais fácil entender por que nós jornalistas erramos tanto. Ou, para fazer justiça à categoria, melhor dizer: por que acabamos sendo acusados de tantos erros. Ora, somos obrigados a trabalhar com uma realidade complexa, cheia de nuances e entrelinhas, filigranas, detalhes, elos frágeis da corrente de sentidos que precisamos tecer, mas que de repente se rompem.

E lá vamos nós, entre erros e acertos, tropeços e saltos, contan-do histórias sobre as quais se espera que lancemos luzes. Mais que isso, exige-se que nós transformemos um emaranhado de fatos em narrativas compreensíveis.

Diante de tão complexa empreitada, é natural irmos buscar apoio entre os pares. Foi com essa intenção que se criou a figura do ombudsman. O termo é um estrangeirismo que remete ao “homem que procura”, ou aquele que analisa e avalia as matérias acolhendo elogios e críticas e encaminhando sugestões de melhoria à equipe do jornal.

É isso que a coluna passará a fazer a partir da próxima edição do Cobaia. Muito embora nesses tempos pós-modernos não é obri-gatório nem necessário que a procura seja feita por um homem.

A exemplo do que acreditava Bertrand, espera-se que o traba-lho motive nossos acadêmicos a apurar as técnicas, afinar os senti-dos, apreender o mundo.

*Jane Cardozo da Silveira é jornalista. Formada há 28 anos,está no Curso de Jornalismo da Univali desde 1994.

15JORNAL COBAIAItajaí, abril de 2012

XXI: branca, urbana e assala-riada na busca por oportuni-dade profissional e realização pessoal.

Este Cobaia também apre-senta a Volvo Ocean Race, etapa latina da maior regata do mundo, que movimenta a economia e o turismo na ci-dade até 22 de abril; e desta-ca o Festival de Música, que estreia no dia 12 com show gratuito do Paralamas do Su-cesso, e segue até dia 19 com a presença de vários artistas locais e nacionais. Além dis-so, na coluna Agenda, infor-ma sobre outros espetáculos culturais na região.

Boa leitura, caro leitor, e até a próxima edição!

*EditoraReg. Prof. 5054 MTb/RS

Ombudsman

Expediente

Espaço do Leitor

JORNAL LABORATÓRIO DO CURSODE JORNALISMO DA UNIVALI

Fica esperto!

Campanha na Univali conscientiza sobre a violência contra a mulher

Homenagem da Imprensa àjornalista Mônica Waldvogel

Prêmio ACIF de Jornalismo

Seminário de Propaganda em SCQuem circula pelos blocos da

Comunicação, da Univali, apren-de uma conjugação diferente do verbo amar: “Eu cuido, tu cui-das, ele cuida... Todos cuidam”. A ideia, divulgada na forma de cartazes, faz parte de uma cam-panha interdisciplinar sobre a violência contra a mulher.

Iniciativa de um grupo de alunos dos cursos de Relações Públicas, Jornalismo e Publicidade e Propaganda. Para Isadora Dutra, uma das envolvidas no projeto, “apesar das inúme-ras iniciativas nesse sentido, a violência sofrida pe-las mulheres ainda é muito grande”. O número para fazer denúncias é 181.

A oitava edição do Troféu Mulher Imprensa destaca Miriam Leitão, do jornal O Globo, como recordista de premiações, superando a marca de Lucia Hippolito, cinco vezes vencedora na catego-ria ‘Comentarista/Colunista de Rádio’. Destacam-se também Monalisa Perrone e Tatiana Vascon-cellos, que mantêm, respectivamente, a liderança nas categorias ‘Repórter de Telejornal’ e ‘Âncora de Rádio’ desde a sexta edição do prêmio. Daniela Pinheiro conquista o título de bicampeã, também vencedora da quarta edição, na categoria ‘Repór-ter de Jornal ou Revista’.

Já a jornalista Mônica Waldvogel recebe ho-menagem especial com o Troféu Mulher Impren-sa de Contribuição ao Jornalismo, pelo trabalho desenvolvido ao longo de sua carreira. Aliás, ela é a principal entrevistada da revista Imprensa de março de 2012, em que conta, por exemplo, para a gerente de jornalismo Thaís Naldoni e a Denise Bonfim, que: “Se não tiver aquele caderninho na frente, tenho a sensação de nudez, de estar des-preparada. Acho que essa é a sensação de foca que se recusa a morrer dentro de mim”.

Jornalistas profissionais interessados em participar da segunda edição do Prê-mio ACIF de Jornalismo têm até o dia 6 de abril para se inscreverem. Este Prêmio vai destacar as melhores matérias sobre Negócios e Associativismo e Par-ticipação em Florianópolis. Para concorrer, devem acessar o novo portal da entidade, www.acif.org.br, realizar a inscrição e, conforme orientação, cadas-trar as matérias – no máximo duas de sua autoria. Os originais devem ser enviados pelos Correios ou entregues na sede da ACIF, até a data final para inscrições.

Só poderão participar profissionais com regis-tro e as matérias em todas as categorias devem ter sido veiculadas no período entre 28 de novem-bro de 2011 a 6 de abril de 2012. Os vencedores vão ganhar laptops e o Prêmio Especial levará R$ 5 mil em dinheiro. Todos os finalistas também irão rece-ber assinatura semestral da Revista Líder Capital, publicação institucional da entidade. O Prêmio ACIF de Jornalismo tem apoio da Associação Ca-tarinense de Imprensa (ACI), do Núcleo de Mídia Regional da ACIF, da Associação Catarinense de Emissoras de Rádio e Televisão (Acaert), da Asso-ciação dos Diários do Interior (ADI) e da Associa-ção dos Jornais do Interior (Adjori).

A Univali é uma das oito instituições que confir-maram sua contribuição ao Seminário Catarinense de Propaganda a ser realizado em novembro próxi-mo, em Florianópolis. Univali, Anhanguera/Uniban, Assesc, Estácio de Sá, Furb, Uniasselvi, Unidavi e Unisul apoiam a iniciativa divulgando o evento jun-to aos alunos e indicando de professores para avalia-ção dos trabalhos selecionados.

O professor Marcelo Juchem representa a Uni-vali, enquanto os professores Rafael José Bona e Elói Simões, respectivamente, a Furb e a Unisul. O grupo de revisores será definido até o final de abril, e os trabalhos poderão ser inscritos até agosto.

Tem algum assunto que você gostariade ler nas próximas edições?Conte-nos! E-mail: [email protected]

AGENDA

Even

to

Ingressos de Maca em Floripa

Estão praticamente esgotados os ingressos para o show de Paul McCartney On The Run a ser realizado no dia 25 de abril na Ressacada, em Florianópolis. Interessados em mais informações a respeito podem acessar o site www.diario.com.br/paulemflori-pa, atualizado por um grupo de jornalistas do Diário Catarinense. O hotsite foi criado especialmente para o evento e conta com re-portagens, vídeos, fotos, infográficos e tudo sobre o show (venda de ingressos, dicas de segurança e de como chegar ao local), in-cluindo a vida e a obra do beatle. O evento é uma promoção do Grupo RBS.

Bonecos de luva em Itajaí

Para quem curte teatro experimental, o projeto Com a Mão na Luva faz várias apresentações gratuitas entre os dias 11 e 14 de abril aqui em Itajaí. O grupo encena uma coletânea de textos de Guaira Castilla, através do teatro de bonecos de luva. Mãos ao Alto – um assalto ao riso é o mais recente trabalho cênico dos manipuladores Alex de Souza, Carlos Valle, Caroline Holan-da, Fernando Honorato, Ingrid Ferreira, Karin Romano, Laura Correa, Luana Pereira, Lucas Góis e Telja Rebelatto, com dire-ção de Guilherme Peixoto; textos de Guaira Castilla; produção de Mônica Longo; arte gráfica de Mariana Baldaia; e sonoplastia de Bianca Ramos.

As apresentações acontecem no dia 11 de abril, às 10h e 14h, na Escola João Paulo II; e às 20h, na Escola Pedro Rizzi; no dia 12 de abril, às 10h e às 16h, na Escola Antônio Barros; e às 20h, na Biblioteca Central da Univali; no dia 13 de abril, às 10h e às 13h, na Escola Pedro Baron; e às 18h, no Centro de Economia Solidária; e ainda no dia 14 de abril, às 20h, no Auditório da Pre-feitura Municipal de Itajaí. Entrada fraca para o público.

Concurso de rainha da 12ª Fenapi em Piçarras

Começam os preparativos para a 12ª Feira de Negócios e Atrações de Balneário Piçarras, a Fenapi, que acontece em ju-lho. E as candidatas a representantes do maior evento da cidade já podem se preparar para o concurso de rainha e princesas da festa programado para maio. A Secretaria de Turismo, Cultura e Esporte (Setuce) recebe as inscrições para o desfile pelo site www.fenapi.net ou na Casa do Turista, no trevo de acesso prin-cipal da cidade, na Avenida Getúlio Vargas. Para mais informa-ções sobre o concurso de escolha da rainha da 12º Fenapi, as in-teressadas podem entrar em contato com a Setuce no telefone 47 3345 3603 ou e-mail [email protected].

*Colaboração de Paula Wendt,Publicidade e Propaganda,7º período

O publicitário João Paulo Cavalcanti, um dos sócios fundadores da agência

BOX 1824, está confirmado como palestrante de Olhares Múltiplos, a ser realizado no final de maio próximo, nos campi de Itajaí, Balneário Camboriú e Ilha (Flo-rianópolis) da Univali. Verdadeiro visionário, ele analisa tendências e possíveis mercados inexplora-dos, procurando detectar o que as pessoas pensam e desejam ao redor do mundo. Atende clientes como Nike, Pepsi, Nokia e Itaú e desenvolve pesquisas sobre o que será novo antes de se tornar rea-lidade.

Olhares Múltiplos 2012 acon-tecerá nos dias 29, 30 e 31 de maio, e contará com a presença de Martha Gabriel, professora de marketing mais influente na rede social Twitter. Considerada uma das 10 profissionais mais inova-doras, trará ao evento seu conhe-cimento sobre marketing digital, após ter publicado três livros sobre o assunto, tendo recebido o prêmio de melhor palestra em congressos internacionais.

Outra atração é o CEO da agência Gaia Creative. Gil Girar-

O publicitário da Agência BOX 1824 confirma presença nesta edição do evento

João Paulo Cavalcantiprofere palestra na Univali

Da redação*

delli implementa mídias sociais, economia colaborativa e gestão do conhecimento em grandes

Arquivo Univali

Músic

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Olhares MúltiplosEditorial

Encontro de Mulheres Parlamentares em Itapema

Estão abertas as inscrições para o 3º Encontro de Mulheres Parlamentares de Santa Catarina, que acontecerá nos dias 19 e 20 de abril, no Auditório da Câmara de Vereadores de Itapema. O curso terá carga horária de 20 horas e será ministrado por Selma Westphal e Leila Ferreira, com a participação de deputadas de Santa Catarina. O objetivo é discutir os desafios e as estratégicas de participação e atuação política feminina nos municípios de Santa Catarina. Este encontro está aberto para parlamentares, prefeitos e prefeitas, vice-prefeitos e vice-prefeitas, vereadores e vereadoras, servidores de câmaras, educadoras, pesquisadoras, agentes comunitárias, representantes de classes e demais cida-dãos interessados. Vale lembrar que a entrada é franca, mas as vagas são limitadas. Informações e inscrições no site da Escola do Legislativo http://www.alesc.sc.gov.br/escola.

empresas e fundações do ce-nário brasileiro, aplica pales-tras para grandes corporações como a Câmara de Deputados, Rede Globo, VIVO, entre ou-tras. Christian Barbosa, maior especialista no tema Produ-tividade e Gerenciamento de tempo, fará sua apresentação Jovens de Resultado – Gestão de Tempo.

Olhares Múltiplos é desti-nado a alunos, docentes e co-munidade em geral da Univali que desejem participar das pa-lestras e das arenas que serão distribuídas ao longo dos três dias do evento. As arenas se-rão divididas em temas como: Social, Tecnologia, Criativi-dade, Tendência e Mercado. Para obter mais informações sobre o evento, acesse: www.olharesmultiplos.com.br ou e-mail para [email protected]. Confira a progra-mação e selecione os temas que mais lhe interessam para se inscrever.

No ano passado, as oficinas do Olhares Múliplos chamaram a atenção das comunidades acadêmica e local

Divulgação

Divulgação

Divulgação

Page 3: Jornal Cobaia 112

www.volvooceanraceitajai.com/programacao.

14 JORNAL COBAIA Itajaí, abril de 2012 03JORNAL COBAIAItajaí, abril de 2012

Volvo Ocean Race

O Viva Voz, programa de en-trevistas diário da Rádio e TV Univali, agora conta

com uma novidade: o Viva Voz Opinião. Toda quinta-feira, um time de especialistas na área das Ciências Sociais opina sobre os assuntos que foram destaque no noticiário durante a semana. No programa de estreia da nova pro-posta, os professores Flávio Ra-mos, Osmundo Saraiva Jr. e Sér-gio Saturnino Januário deram o tom da conversa. Na semana se-guinte, foi a vez das professoras Ediene do Amaral Ferreira, Laura

Guitarrista da banda Dazaranha, Moriel Costaparticipa do programa Pirão Catarina

Parada em Itajaí da Volvo Ocean Race agita a economia e o turismo da cidade e região

Sucesso de públicona Vila da Regata

As aventuras do mané Darci e surf music

Em pauta

Viva Voz Opinião estreia na programaçãoda Rádio e TV UnivaliCamila Maurer*

Canais de comunicação do VV:Blog | vivavozunivali.wordpress.comTwitter | @vivavozunivaliFacebook | facebook.com/vivavozunivaliE-mail | [email protected]

Seligman e Vera Sommer comen-tarem os assuntos do momento.

No ar desde 2007, o Viva Voz atingiu, em março, a marca de 800 edições. Já são quase cinco anos de história e mais de 400 ho-ras no ar. O programa, que vai ao ar diariamente pela Rádio e TV Univali, é produzido pelos aca-dêmicos do curso de Jornalismo, sob a supervisão do professor Carlos Praxedes.

No Viva Voz, os estudantes têm a oportunidade de apren-der, na prática, como funciona a produção de um programa jor-

nalístico de rádio. A elaboração das pautas, a seleção de fontes, a produção de roteiros, a apresen-tação do programa e até mesmo a operação técnica ficam a cargo dos acadêmicos, que podem in-gressar no projeto em qualquer período do curso.

O Viva Voz vai ao ar diaria-mente, às 13h30, pela Univali FM 94,9 MHz e pela TV Univali, canal 26 da TV a cabo em Itajaí. Na TV Univali, o programa é reapresen-tado às 20h30.

*Jornalismo, 7º período

Mais espaço na TV Univali para os acadêmicos daComunicação Social

Dois programas exibidos atualmente na TV Univali são produzidos pelo Núcleo de TV dos Cursos de Comunica-ção Social da Univali (Jornalismo, Publicidade e Relações

Públicas). O Casulo, mais voltado às questões sociais, trabalha com temas nas áreas de Educação, Cidadania e Meio Ambiente, enquanto o Olhares Múltiplos foca nas tendências dos setores de Moda, Comportamento, Mundo virtual, entre outros. A proposta é expor o que há de novo na chamada sociedade pós-moderna.

Olhares Múltiplos e Casulo vivem momentos diferentes. O Olhares está numa fase de consolidação. “É uma revista de va-riedades que procura entreter e dar informação numa linguagem jovem”, explica o professor Carlos Golembiewski, integrante do grupo de professores do Núcleo. “Nossas pautas sempre buscam o novo, o diferente”, exalta a professora Cristiane Riffel, coorde-nadora geral do Núcleo. No momento, o programa é apresentado pelos estudantes Laís Lara (Publicidade e Propaganda) e Thiago Avi (Relações Públicas). Para Laís, 20 anos, que está no 5º perío-do de PP, trabalhar no programa está sendo uma experiência aci-ma do esperado: “Aqui aprendi a fazer reportagem e a editar”.

Já o programa Casulo será apresentado na rua, de preferência, em locações que se identificam com os temas das reportagens. Nessa nova fase, será apresentado pelos acadêmicos Henrique Flores e Letícia Dias, ambos do Curso de Jornalismo da Univa-li. “No Casulo, eu entro em contato com as fontes e desenvolvo meu espírito crítico, algo fundamental na carreira de jornalista”, observa Letícia Dias, 20 anos. O programa de estreia será sobre o Meio Ambiente, com três reportagens e uma entrevista. Um delas abordará as pesquisas científicas feitas pelos professores da própria Univali.

Para produzir os dois programas semanais, o Núcleo de TV conta com seis bolsistas, sendo dois de cada curso, além de alu-nos voluntários selecionados para trabalhar. O calouro de PP Lu-cas Batista, 18 anos, está há duas semanas no Núcleo: “Tá bem legal. Comecei a trabalhar sem perder tempo. Eu estou na área de que gosto”. Pricilla Vargas, 18 anos, diz que está sendo ótima a experiência: “O olhar sustentável me ampliou a visão fechada que tinha do Jornalismo.” A professora Ediene Ferreira afirma que os dois programas permitem aos alunos experimentarem no-vas linguagens televisivas. O Casulo e o Olhares Múltiplos vão ao ar na TV Univali, canal 26 da Via Cabo TV em Itajaí, aos domin-gos, respectivamente, às 20h e às 20h30.

Da redação

Festival de Música na ondada Volvo Ocean Race

Talvez você não conheça mui-to bem Moriel Costa, mas o trabalho dele tem merecido

atenção no universo da música. Ele é guitarrista solo da banda Dazaranha, referência no cená-rio do rock catarinense, que está perto de completar 20 anos de es-trada, tem cinco discos lançados e está com o sexto em produção num dos estúdios mais concei-tuados da região – o R3. Parale-lamente, Moriel, em seu próprio estúdio, finaliza a gravação, a mi-xagem e a produção de seu pri-meiro disco solo “Pra começar”.

Mostrando suas composições e tocando em uma levada surf music, ele não está sozinho nessa. Parceiros antigos e companheiros da banda Dazaranha participam do CD, além de convidados espe-ciais, tais como o cantor Arman-dinho e o surfista-músico Teco

Mais de oito mil pessoas vi-sitaram a Vila da Regata na tarde desse domingo

de Páscoa. Uma mostra do su-cesso da etapa sul-americana da Volvo Ocean Race (VOR), que movimenta a economia e o turis-mo de Itajaí e região. De acordo com organizadores do evento, já na Sexta Santa, 35 mil pessoas recepcionaram os barcos Puma e Telefónica, que chegaram da Nova Zelândia. Essa é considera-da a segunda maior marca de pú-blico aguardando as embarcações em toda a história. A melhor foi no mês passado, em Auckland, a chamada Cidade das Velas, onde registraram a presença de 47 mil visitantes.

São 18 dias com diversas atra-ções gratuitas para moradores da Itajaí, turistas e participantes de regata. Para abrigar o evento, que começou no dia 4 de abril e seguirá até o dia 22, uma estru-tura especial foi montada por mil funcionários. Este contingente asfaltou a área, construiu o píer, o auditório e ainda trabalhou na acústica do Centreventos, pre-parando o paisagismo, a ilumina-ção e a eletricidade na Vila, que comporta a estrutura padrão da Regata Internacional feita de contêineres. A Prefeitura e o

A Fundação Cultural, em par-ceria com o Conservatório de Música Popular, inova

este ano e produz o Festival de Música em paralelo à regata Vol-vo Ocean Race. Considerado o maior evento de gênero musical do estado e um dos maiores no país, acontece agora em abril jus-tamente para se projetar interna-cionalmente.

A 15ª edição oferece 36 opções de oficinas, com 800 vagas para aperfeiçoamento musical. Há 14 anos, as oficinas focavam apenas no vocal e instrumental dos mú-sicos, mas agora estão mais am-plas e abrangem a parte empre-

Bianca Escrich*

Maria Isabel Schauffert*

Da redação*

*Jornalismo, 7ª período

Padaratz. Moriel Costa não para por aí. Também tem uma gra-vadora, a Muruca Records, que apoia artistas catarinenses.

Provavelmente, você conheça “Darci e suas aventuras”, manezi-nho de Florianópolis bem conhe-cido na região e que anda fazen-do sucesso pelo Estado. O alter ego de Moriel é um caricato do morador da ilha, com linguagem e sotaque bem manezeis, cheio de causos bastante irreverentes para contar ao público. A fala rá-pida e, às vezes, incompreensível retrata um cotidiano quase fiel à realidade de quem vive no lito-ral catarinense. “As pessoas se identificam e sabem do que estou falando. Por isso, torna-se tão en-graçado. Esse personagem não ofende, apenas mostra a cultura regional e faz as pessoas felizes. Eu gosto de fazer as pessoas fe-

lizes, cantando, tocando ou mes-mo sendo o Darci”.

Moriel apresentou as aventu-ras de Darci recentemente no Te-atro Municipal de Itajaí, onde fal-tou cadeira para tanta gente que queria ver de perto essa figura. Interagindo com o público, mos-trou que tem um trabalho notá-vel também como ator, com ex-celente domínio de palco, timing e técnica vocal, mesmo nunca tendo tido outras passagens pelo teatro. “Nunca fiz teatro. O Dar-ci começou como spot na Rádio Atlântida e nunca mais parou. As pessoas queriam conhecer ele. Daí, surgiu a ideia do meu pro-dutor, Hildo Rocha, de começar a fazer um stand up, e deu certo.” E como deu né nego!

Dia 12 – Paralamas do SucessoAbertura Festival de MúsicaLocal: Vila da Regata – 20h30Entrada franca

Dia 13 – Nando Reis e Os InfernaisLocal: Vila da Regata – 20h30Entrada franca

Dia 14 – Cidade NegraLocal: Vila da Regata – 20h30Entrada franca

Dia 15 – Família CaymmiLocal: Vila da Regata – 19hEntrada franca

Dia 16 – Alessando Penezzi & Alexandre Ribeiro Festival de MúsicaAbertura: PERCUSAX QuintetoLocal: Teatro Municipal de Itajaí – 21hR$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia)

Porto ficaram responsáveis pela colocação de placas de direcio-namento, novas calçadas e ilumi-nação, dando à cidade uma cara nova e moderna.

Realizada a cada três anos, a VOR conta com velejadores de diversos lugares do mundo que aceitam o desafio de competir no mar durante quase nove meses, até o destino final, Galway, na Ir-landa, em 8 de julho de 2012. A regata passa por 10 países dife-rentes e em sua equipe há ex-ve-lejadores, operários, voluntários, e expositores.

Rota pelo mundo: a compe-tição mais longa do mundo tem um total de 39.270 milhas náuti-cas, que correspondem a 72.728 quilômetros. Os velejadores cru-zam os quatro oceanos (Atlânti-co, Pacífico, Índico e Antártico), passando por cinco continentes (Europa, Ásia, África, América do Sul e Oceania): Alicante (Es-panha) - Cidade do Cabo (África do Sul) - Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos) - Sanya (China) - Auckland (Nova Zelândia) - Ita-jaí (Brasil) - Miami (Estados Uni-dos) - Lisboa (Portugal) - Lorient (França) - Galway (Irlanda).

Fique ligado: o evento oferece à população atividades gratui-tas: shows nacionais, cinema 3D,

apresentação de festas locais, palestras com convidados espe-ciais, Náutica Show, orquestra sinfônica, visitas monitoradas e

muito mais. A Vila da Regata e o Centreventos recepcionam todas as atividades.

Mais informações: http://

sarial. Permitem, por exemplo, que os interessados aprendam a comercializar suas músicas.

Haverá também cinco shows nacionais, com a abertura e o encerramento com entrada fran-ca na Vila da Regata. As outras apresentações estão progra-madas no Teatro Municipal de Itajaí, com ingressos a R$30,00 (inteira) e R$15,00 (meia). Para fazer inscrição nas oficinas e ob-ter mais informação, basta aces-sar o site http://festivaldemusi-ca.itajai.sc.gov.br.

*Colaboração de Maiara Moura,Relações Públicas, 7º período

*Jornalismo, 2º período

Dia 17 – Azymuth & Hélio DelmiroFestival de MúsicaAbertura: Ricardo Capraro e GrupoLocal: Teatro Municipal de Itajaí – 21hR$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia)

Dia 18 – Kleiton & Kledir (Festival de Música)Abertura: Semba TrioLocal: Teatro Municipal de Itajaí – 21hR$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia)

Dia 19 – Mart’náliaEncerramento do Festival de MúsicaLocal: Vila da Regata – 20h30Entrada franca

Dia 20 – Jorge AragãoLocal: Vila da Regata – 20h30Entrada franca

Dia 21 – Dudu NobreLocal: Vila da Regata – 20h30Entrada franca

Dia 22 – OlodumLocal: Praia do Atalaia/ Molhe – 11 horasEntrada franca

Programação completa:

Carlos Golembiewski

Emily Kelle do Prado

Divulgação

Público recorde, de 35 mil pessoas, recepcionou os primeiros barcos da etapa em Itajaí

Os estagiários Lucas Batista, Henrique Flores, Thiago Avi e Caroline Milani realizam suas tarefas

Page 4: Jornal Cobaia 112

04 JORNAL COBAIA Itajaí, abril de 2012 13JORNAL COBAIAItajaí, abril de 2012

CinemaAo longo de janeiro tivemos

outras estréias. Os Descenden-tes, vencedor do Oscar de me-lhor roteiro adaptado, é aquele representante simpático do ci-nema independente, meio indie, e que todo mundo gosta. George Clooney encabeça o elenco onde é um homem que encontra difi-culdades na vida a partir do mo-mento em que sua esposa sofre um grave acidente e ele precisa cuidar das duas filhas, enquanto descobre que foi traído. É agra-dável, redondinho, mas nada de-mais. Tão Forte e Tão Perto é o pior dos indicados, massacrado pela crítica mundo afora e que marcou presença na lista porque o diretor Stephen Daldry (de O Leitor e As Horas) é queridinho da Academia. No longa, um me-nino de 10 anos começa uma caça ao tesouro pela cidade de Nova York depois de achar uma chave dentro de um vaso de seu pai, fa-lecido recentemente no atentado ao World Trade Center.

Em fevereiro, Histórias Cru-zadas, vencedor do Oscar de me-lhor atriz coadjuvante (Octavia Spencer), mostrou que é possível fazer um filme sobre preconceito e uma das fases mais vergonho-sas da história dos Estados Uni-dos pegando leve e sem mostrar toda a crueldade da época. Lan-çado em terras estadunidenses em setembro, o longa dirigido por Tate Taylor acompanha a traje-tória de uma aspirante a repórter (Emma Stone) branca registran-do a vida de duas empregadas negras no estado de Jackson nos anos 60. Há clichês e momentos leves até demais numa sessão onde é melhor agradar o públi-co do que ser franco e contar as

atrocidades feitas naquela épo-ca. No entanto, o longa se salva pelas atuações acima da média de Spencer, Jessica Chestain e Viola Davis. Enquanto isso, O Homem Que Mudou o Jogo vale a pena ser assistido não apenas pelas boas atuações de Brad Pitt e Jonah Hill, mas também por ser um filme sobre beisebol que não é apenas sobre esporte, indo muito além disso.

No dia 10 de fevereiro, ape-sar de circuito restrito, entrou em cartaz O Artista, o grande vencedor deste Oscar (incluindo melhor filme, direção e ator). Por ser mudo, preto e branco, o longa só estreou no país por causa do favoritismo à premiação. O filme francês, dirigido por Michel Ha-zanavicius, volta no tempo lá no final da década de 20 para contar sobre o declínio de um ator (Jean Dujardin), representando a era do cinema mudo, e a ascensão de uma atriz (Bérenicé Bejo) na era do cinema falado. Uma bela homenagem ao passado, sem dúvida. Em contrapartida, Mar-tin Scorsese não homenageia apenas o passado, mas também aponta para o futuro com suas técnicas impecáveis e o 3D mui-to bem empregado. Em A Inven-ção de Hugo Cabret, o diretor conhecido por suas cenas anto-lógicas de violência crua e nua, cria uma obra delicada, cheia de sentimento e com fortes emo-ções. Voltando à Paris dos anos 30, a película acompanha Hugo (Asa Butterfield), um menino órfão que cuida dos relógios de uma estação de trem na capital francesa e busca consertar um robô deixado pelo pai. Nessa em-preitada, ele acaba conhecendo

Georges (Ben Kingsley), um ve-lhinho amargurado, dono de uma loja de brinquedos na estação.

Num apanhado geral, há três títulos aqui que têm uma coisa em comum: a paixão pela arte. A Invenção de Hugo Cabret, O Ar-tista e Meia-Noite em Paris vol-tam no tempo para as décadas de 20 e 30 para nos relembrar coi-sas que não vivemos. A parcela dos que viveram a juventude nos anos de 1920 não é muito expres-siva, afinal. Os longas-metragens contêm em si declarações de amor à arte e ao cinema. Meia-Noite em Paris homenageia tanto Paris, quanto a música, a litera-tura e o cinema. O Artista resga-ta os tempos áureos do cinema mudo e lembra clássicos como Cantando na Chuva e Crepús-culo dos Deuses. A Invenção de Hugo Cabret consegue desper-tar a paixão pela sétima arte em quem não a tinha ainda e reforça o amor que pessoas como eu já possuíam. Scorsese emociona ao exibir a obra de Georges Méliès, o primeiro cineasta da História, e mostra do que o cinema é feito. Além disso, Paris continua fas-cinante e poética aqui. O saudo-sismo do que não se viveu é uma forte marca destas três obras. Buscar inspiração no passado para criar novos trabalhos não é má ideia. O ar nostálgico pre-sente nos longas é de um charme irresistível, tornando impossível não ficar fascinado com o que se vê. Tudo isso é prova de que o cinema pode viver do simples, desde que tenha qualidade e co-ração, além de ser tratado como a bela arte que é.

Premiados do Oscar saem de cartaz e viram atração...

*Jornalismo, 5º período

Rodrigo Ramos

Salto alto, maquiagem, joias, produtos de beleza. Nada disso tem lugar entre as coi-

sas das meninas que competem a Copa Serra Litoral de Velocross. Ainda enlameadas, resultado do último treino da tarde, elas se reúnem na barraca de uma das corredoras para conversar, jogar baralho, trocar dicas sobre a cor-rida do dia seguinte. Essas mu-lheres estão mais interessadas na velocidade de suas motos ou em melhorar o tempo do percurso, do que em novelas e revistas. São mães, filhas, estudantes, traba-lhadoras de diversas áreas que, durante um final de semana por

Elas reúnem-se, uma vez ao mês, para conversar, rir e correr em meio à poeira e à lama, sobre motores de duas rodas

Jovens encontram adrenalina e prazer em pistas de velocross

Morgana Bressiani*

mês esquecem tudo e se tornam pilotos da categoria Batom, cate-goria dedicada só para elas.

No grande acampamento que se forma em torno da pista, onde se reúnem os mais de 270 corre-dores do campeonato e suas fa-mílias, não há espaço para luxos como água quente, televisão, ar condicionado, ou camas confor-táveis. Ninguém se importa mui-to com isso. O Campeonato que está em sua terceira edição, é feito de grandes amigos. Os cor-redores percorrem as barracas como se não houvessem barreiras ou adversários. Caminham de lá para cá, desejando sorte, ajudan-

do a consertar uma moto aqui e ali, dando e recebendo conselhos de como fazer uma boa corrida.

As corredoras, em sua maio-ria, antes acompanhavam pais, namorados, maridos e acabaram se apaixonando pelas pistas tam-bém. Como toda regra tem sua exceção, em alguns casos, é a corredora que move a família até a corrida. Esse é o caso de Julia Polmann. Caçula de dois irmãos, por mais bonecas que ganhasse nunca se interessava por elas. Queria estar sempre junto do ir-mão mais velho, Braian, subindo em árvores, fazendo trilhas no mato, acampando. Era sempre

Categoria Batom

Morgana Bressiani

As corredoras, em sua maioria, eram apenas acompanhantes de pais, namorados e maridos, antes delas se apaixonarem também pelo esporte

uma vitória quando a mãe a dei-xava jogar bola na rua até tarde. O amor pelas motos veio aos 13 anos, quando os irmãos ganha-ram motos de corrida de Natal. Para sua infelicidade, ganhou um computador. Dali em diante, passou a ajudar os irmãos a con-sertar as motos, depois de dispu-tar corridas que faziam entre si. E, se alguém perguntasse, se ela queria dar uma volta, ela estava sempre pronta.

“Eu nunca quis tanto uma coisa quanto aquelas motos. Fa-zia qualquer coisa para que um dos meus irmãos me deixasse dar uma volta.” A insistência com os

irmãos não passou batido aos olhos do pai, Junior Polmann, que, além de presenteá-la com uma moto, passou a incentivá-la a treinar e participar de torneios pequenos, em Urubici, onde mo-ravam na época.

Um ano depois, em sua pri-meira corrida, Julia competiu contra 20 homens adultos, não profissionais, mas com alguma experiência, largando na 16ª po-sição e chegando em primeiro lu-gar. A ideia de correr em um cam-peonato maior só veio quando o grupo, que corria na cidade, não aceitou mais as inscrições dela. Alegaram que a menina era boa demais para correr com amado-res, o que não dava chance para outra pessoa vencer.

Aos 15 anos, Julia participou da primeira Copa Serra Litoral, e logo se tornou a preferida nas categorias Batom, para meninas, e Junior, para qualquer piloto menor de 17 anos. “A primeira corrida que ganhei foi mágica. Eu percebi que não poderia fazer outra coisa na minha vida, que eu tinha nascido para passar pela chegada.”

Renata Vandresen, a assisten-te social, amiga de Julia e tam-bém corredora, está acostumada com o terceiro lugar. Para ela, o velocross é uma distração para a correria do dia a dia. “É como uma válvula de escape. Uma vez por mês, eu venho até as pistas e esqueço de todo o resto. Só eu, a moto e a pista... E as outras cor-redoras, claro”.

As meninas do velocross, tan-

Thayse Gioppo*

A vida inteira você aprende uma série de regras sociais. En-sinaram a você, também, uma gama de coisas que não po-deria fazer e, por vezes, nem pensar. Um exemplo clássico

seriam os 10 mandamentos. Eles são a união de uma receita que funciona há muitos (muitos) anos. Ali está o poder da palavra bíblica e de um deus inquestionável. Não dizer o nome de Deus em vão, não cobiçar a casa, a mulher, nem servo, nem serva, nem boi, nem nada do próximo, e segue. A partir daí, por consequên-cia, vem o pecado e inúmeras outras questões que não cabem aqui.

A maioria aprende os mandamentos na catequese. São qua-tro anos de aprendizado, pelo menos, na Igreja Católica, sobre os feitos divinos e apostólicos, sobre como ajudar o próximo e ir à missa toda semana. A intenção passa longe de uma generali-zação, mas, salvo algumas exceções, não houve espaço durante anos de vida para questionar. Seja na catequese ou na escola. Se aquilo era correto ou não. Portanto, a religião só serve como um exemplo daquilo que pode ser verdade, ou não.

No entanto, para uns mais cedo, para outros mais tarde, ou para alguns que nunca vão pensar, chega a hora de se perguntar. E, então, vem a Internet com recursos infindáveis, que a, todo segundo, aparece com uma novidade e que, em um instante, num clique, pode destruir um conceito de uma vida inteira. Nes-se momento, vem um monte de perguntas. Será isso mesmo? Você toma conhecimento que há pessoas que não acreditam em Deus. Que seus pais são pessoas como você. Que as pessoas mentem, roubam, cobiçam e que o seu vizinho, casado há 20 anos com uma mulher, tem um amante.

Como dito anteriormente, cedo ou tarde, pode ser com 10, 15, 20 anos, mas alguns vão pensar nisso. Uns vão continuar como antes, seguindo na linha, sendo “normais”. Os outros vão se virar contra o sistema e viver ao contrário do “normal”. Por anos ou pela vida toda, ser contra é motivo de orgulho. Alguns se sentem superiores e fazem questão de anunciar. “Oi, meu nome é fulano e eu não acredito em Deus”; “Oi, meu nome é cicrano e reprovo toda a cultura de massa”.

Torna-se até divertido contestar a tudo e a todos, gerar dis-cussões, fazer com que os outros façam para si as mesmas per-guntas que você fez. O desejo é de mudar o pensamento de cada um que se opõe, porque, na sua cabeça, o correto é o pensamen-to contestador. Isso não é um erro. Isso é bom. Não aceitar tudo de maneira fácil. Avaliar o que é bom e o que ruim. Só que chega uma etapa em que sua diferença é igual a de tantos outros, que a anunciação se torna sem graça, pois o que você descobriu de novo já é velho pra muita gente.

Um verbo deveria começar a fazer parte de sua vida: respei-tar. “Ah! Respeito, óbvio, tenho por cada um”. Mas tem quem vai passar a vida toda buscando alguém que considere inferior para despejar sua “diferença”, enquanto o ouvinte deve estar apenas respeitando.

*Jornalismo, 7º período

Crônica

“Você toma conhecimento que [...] seu vizinho, casadohá 20 anos com uma mulher, tem um amante

Respeito é bom etodo mundo gosta

Você escreve crônicas e quer participar deste espaço?Entre em contato com a gente!E-mail: [email protected]

Rodrigo Ramos

Page 5: Jornal Cobaia 112

ram ao país somente neste ano. O primeiro deles foi Cavalo de Guerra, dia 6 de janeiro. Dirigido por Steven Spielberg, o longa-me-tragem sobre o cavalo que sobre-viveu à Primeira Guerra Mundial inteira, passando por diversos países, donos e conflitos, é uma verdadeira megalomania, reche-ada de clichês, sentimentalismo excessivo e falta de brutalidade. Como se trata de uma guerra, Spielberg poderia utilizar seus co-nhecimentos demonstrados em O Resgate do Soldado Ryan. No en-tanto, ele parte para o dramalhão, cenas edificantes, lições de moral, superação, pieguice, um pouco de sofrimento e uma trilha sonora que tenta comover o espectador a todo custo, mas falha.

12 JORNAL COBAIA Itajaí, abril de 2012 05JORNAL COBAIAItajaí, abril de 2012

Em território brasileiro virou costume levar meses para que um filme desembarque

por aqui. Os blockbusters, tam-bém conhecido como arrasa-quar-teirões, geralmente levam menos tempo. Em alguns casos, como o ainda inédito Os Vingadores, o longa-metragem chega até mes-mo antes. No Brasil, o longa chega às telas dia 27 de abril, enquanto, nos Estados Unidos, o mesmo co-meça a carreira uma semana de-pois, em maio. No entanto, filmes menores são colocados de lado e não têm a preferência das distri-buidoras.

Os filmes indicados ao Oscar, por exemplo, são aqueles que sofrem com isso. No Brasil, é de praxe lançar possíveis nomeados

Amantes da sétima arte disputam as cópias, em DVD, de filmes como A Árvore da Vida e Meia-Noite em Paris

A Invenção de Hugo Cabret e O Artista voltam no tempo e fazem justas homenagens aos gênios da ilusão nas telonas

Premiados do Oscar saem de cartaz e viram atração nas locadorasRodrigo Ramos*

mais perto da maior premiação do cinema, nos meses de janei-ro e fevereiro. É uma maneira de vender melhor o próprio peixe, é claro. Colocar no cartaz em letras garrafais douradas e em fonte 50 “vencedor do Globo de Ouro” e “indicado a xx Oscars” chama a atenção, mas incomoda aquele que acompanha o cinema com frequência e quer ver o mais breve possível películas premiadas e de grandes diretores.

O Oscar ocorreu. Os nove indi-cados à categoria de melhor filme encontram-se no circuito brasilei-ro ou, até mesmo, foram exibidos e saíram de cartaz. A Árvore da Vida e Meia-Noite em Paris, por exemplo, estão atualmente dis-poníveis para locação. O primeiro,

dirigido pelo mítico diretor Ter-rence Malick (ele fez apenas cin-co filmes em mais de 40 anos de carreira) tem Brad Pitt e Jessica Chestain como protagonistas. A película tenta conciliar a criação do mundo e a infância do persona-gem vivido por Sean Penn na fase adulta. Com uma montagem que pouco faz sentido, incluindo aí takes do big bang e dinossauros, A Árvore da Vida é um filme mais sensorial, experimental, do que um longa cheio de profundidade como Malick gostaria que fosse. Enquanto isso, Meia-Noite em Paris consegue agradar bem mais o espectador. Dirigido por Woody Allen, o longa levou pra casa o prê-mio de melhor roteiro original. Al-len, três vezes vencedor do Oscar,

não apareceu na festa mais uma vez. Mas tudo bem. O que conta é a história doce e os momentos deliciosos que esta obra nos pro-porciona. Nela, Gil (Owen Wil-son), escritor americano, amante de Paris e prestes a casar, viaja à capital francesa com a família de sua noiva (Rachel McAdams). Durante seus passeios noturnos, ele acaba sendo transportado à meia-noite para a Paris dos anos 20, onde encontra vários nomes da arte como F. Scott Fitzgerald, Gertrude Stein, Ernest Hemin-gway, Cole Porter, entre outros. Um verdadeiro sonho para quem é fascinado tanto pela cidade pa-risiense quanto a nostalgia da época em que não vivemos.

Os demais indicados chega-

Cinemato as que sonham em, um dia, serem corredoras profissionais ,quanto as que participam ape-nas porque gostam, enfrentam a mesma dificuldade: encontrar patrocínio. Francis Schweitzer, organizador da Copa Serra Li-toral e ex-piloto, garante que, para mulheres, mesmo com gran-de talento, é muito mais difícil conseguir patrocinadores. “É sempre minha corrida preferi-da, a categoria Batom. Elas são amigas, uma ajuda a outra. São guerreiras, porque, mesmo sem a experiência de um homem para consertar as motos ou um bom patrocinador para manter os me-lhores equipamentos, sempre fa-zem uma ótima corrida.”

Essa é a maior dificuldade que Julia vem enfrentando desde que começou a correr. Apesar das frequentes vitórias nas corridas, e de, no ano passado, ter venci-do o campeonato, ela ainda não conta com um patrocinador. No domingo, primeiro de abril, ela disputou a segunda etapa desta terceira edição da Copa Serra Li-toral, e, ainda este ano, compete no campeonato estadual de velo-cross. “É um passo enorme para quem não tem patrocinador ou qualquer outra ajuda, mas é isso que fazem os grandes vencedo-res: vencem os obstáculos.”

Com a convicção de que, cedo ou tarde, estará entre os gran-des, Julia Polmann continua se dedicando ao máximo à carreira que está só começando. Entre treinos, corridas e acampamen-tos, ela promete a si mesma que, um dia, será exemplo para ou-tras mulheres. “Algumas pessoas são boas com números, outras em construir coisas. Eu sou boa em pilotar motos, em correr. Por isso tenho que lutar para chegar aonde quero. Todos deviam lutar para alcançar seus sonhos”.

Pequena veloz

Categoria Batom Jovens encontram adrenalina e prazer...

Não é preciso ser muito ob-servador para notar a diferença dos pilotos da categoria 50 cilin-dradas. Cercados por seu grupo, seus fãs, pai, mãe, avós são todos muitos especiais. O uniforme de corrida, diferente dos outros corredores, é colorido e anima-do. No meio dos oito participan-tes, destaca-se a única menina, Maria Eduarda Bylaardt, com macacão preto de bolinhas cor

“Eu percebi que não poderia

fazer outra coisa na minha vida,

que eu tinha nascido para passar

pela chegada

Morgana Bressiani

Falta de patrocínio é a maior dificuldade enfrentada pelas meninas que amam o velocross

de rosa, e capacete enfeitado de inúmeras formas. A mãe e o pai são só sorrisos para a filha de apenas sete anos.

Dada a largada, Maria Edu-arda sorri para uma última foto antes de acelerar a moto, quase grande demais para que os pés alcancem o chão. E, então, vai. Lança-se na pista atrás de outros corredores mirins.

Filha de amantes de velo-

cross, ela cresceu em cima das motos, de acampamento em acampamento, de corrida em corrida. Parece conhecer cada curva da pista. A postura é de quem nasceu para correr. Pre-cisa apenas de duas voltas para chegar ao primeiro lugar, quando passa a faixa da chegada, levan-ta as mãos, sorri para as câmeras e faz pose de vencedora.

Maria Eduarda Bylaardt, sete

anos de idade, tem lama dos pés à cabeça. À vista apenas os olhos verdes e o sorriso enorme. Ain-da não sabe exatamente o que vai ser quando crescer, mas sabe o que vai ter: muitos troféus de todas as corridas que ainda pre-tende ganhar.

*Jornalismo, 7º período

Morgana Bressiani

Rodrigo Ramos

Page 6: Jornal Cobaia 112

06 JORNAL COBAIA Itajaí, abril de 2012 11JORNAL COBAIAItajaí, abril de 2012

Seu Waldyr conta suas experiências para alunos de uma escola municipal na Estação Vereza, que, após restaurada, abriga o Museu Etno-Arqueológico de Itajaí

grafo, como confirma a Fundação Municipal Genésio Miranda Lins, de objetivos culturais.

Nas proximidades do ponto do trem, Hilda Pascoal, aposen-tada de 78 anos, morou em várias casas. A família grande - sete ir-mãos homens e três irmãs mu-lheres - trabalhava na agricul-tura. Depois, tiveram engenho de farinha e alambique de cana, onde produziam cachaça, açúcar e melado. A plantação de café é lembrada com um puxado sus-piro:

- Cafézinho gostoso, né, o torradinho em casa!

Dona Ida, como é mais co-nhecida, lembra de um pontilhão da estrada de ferro:

- Os rapazi (homens da famí-lia) iam pescar lá.

Hoje, um dos trechos mais vi-síveis da linha férrea, com aterro de dois metros e outro pontilhão praticamente intocado, pode ser visto no quilômetro ‘um’ da Ro-dovia Antônio Heill, próximo ao trevo de Itajaí com Brusque, no lado direito. Depois de 41 anos, uma modesta mata cresceu entre a terra forrada de pedras cinzen-tas e cortantes. Nada suficiente para esconder a beleza do traba-lho engenhoso.

Depois de casar e ter seu pri-meiro filho, Dona Ida foi morar em Blumenau. A viagem foi de trem. E as idas e vindas pra visi-tar a família também:

- A gente ia de litorina. - Litorina? O que é isso? -

Pergunta o repórter. - Litorina é como um trem,

mas sem aquele que puxa na frente (locomotiva a vapor). Era uns quatro vagões, com bancos igual ônibus – conta Dona Ida.

“Andei bastante de litorina”, revela Erotides Cunha, 59 anos, funcionária da Biblioteca Públi-ca Municipal Silveira Júnior, de

Itaipava preserva história do tremMemóriaSuperpoderosa

“Não podia haver desnível, pois

o trem corria risco de tombar.

Cada barra de trilho tinha 14

metros e pesava 280 quilos

Wagner Heinzen

Raquel da CruzWagner Heinzen

Itajaí:- Ela saía às horas 5 da ma-

nhã de Itajaí e chegava ao meio dia em Subida. A gente chegava morta de fome.

A velocidade variava entre 20 e 30 quilômetros por hora. “A li-torina era mais cara que o trem e separada por classes”, diz Maria Teresa Roslindo, 69 anos, colega de trabalho de Erotides, que aos 12 viajou de Maria Fumaça pela primeira vez. A experiência foi ainda maior com a colisão de um caminhão no trem.

No comboio de vagões de carga era transportado gado, madeira e areia – baldeada de ca-minhão para vagão, no braço. As-sim, os produtos do Vale seguiam para exportação e os importados ganhavam distribuição.

Em 1971, a concorrência com rodovias deu fim à malha ferrovi-ária do Vale. Mas grupos, como a Associação Brasileira de Preser-vação Ferroviária, surgiram para defender a memória férrea. Ralph Mennucci Giesbrecht, 60 anos, é um dos sócios da ABPF:

- Já viajei por boa parte do Estado de São Paulo e também do Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Santa Catarina foto-grafando quase mil estações ou locais em que um dia elas estive-ram, conversando com inúmeras pessoas, além de manter contatos constantes com diversos “corres-pondentes” pelo Brasil afora.

Autor de livros como ‘Um dia o trem passou por aqui’ e criador do site estaçõesferroviárias.com.br - com informações específi-cas sobre paragens de todo país - ele apresenta resultados de pesquisas, dúvidas e indignações que cercam a história ferroviária. A intenção é ampliar os registros existentes.

*Jornalismo, 8º período

O prego-cravo foi encontrado por moradores da Rua Edmundo Wippel, em Itaipava, bairro onde passava a estrada de ferro, que mantém seu traçado original, apesar da urbanização

Levanta às seis da manhã, toma café, faz uma breve arrumação na casa e se des-

pede do marido Narciso e do filho Djoni. Já são sete horas. Pega o material de trabalho e vai até o ponto de ônibus, bairro Macha-dos, em Navegantes. Após alguns minutos, chega ao ferry boat, e faz a travessia até a Rua Hercílio Luz, em Itajaí. É ali, no calçadão, que começa a jornada, vendendo cartões de loteria estadual.

Divide-se entre o lar e o tra-balho, de segunda a sábado. Chega em casa sempre depois das 19 horas. Aos domingos, vai à igreja, onde participa de cul-tos e retiros. Além de exercitar o lado espiritual, sua maior dis-tração é assistir ao trabalho de Djoni, que é músico. “Saio daqui [do calçadão], chego em casa, tomo banho e prestigio meu fi-lho. É meu jeito de demonstrar carinho, já que não posso passar o dia com ele”.

Essa é a rotina de Sílvia Lígia Vilvert, de 44 anos, mas poderia ser a de tantas outras catarinen-ses que trabalham fora e cuidam da casa e dos filhos. O último censo oficial realizado pelo Ins-tituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), em 2010,

Ela é branca, urbana e assalariada. Apesar da tripla jornada, pretende se aperfeiçoar e abrir seu próprio negócio

grafo, como confirma a Fundação Municipal Genésio Miranda Lins, de objetivos culturais.

Nas proximidades do ponto do trem, Hilda Pascoal, aposen-tada de 78 anos, morou em várias casas. A família grande - sete ir-mãos homens e três irmãs mu-lheres - trabalhava na agricul-tura. Depois, tiveram engenho de farinha e alambique de cana, onde produziam cachaça, açúcar e melado. A plantação de café é

Ela é branca, urbana e assalariada. Apesar da tripla jornada, pretende se aperfeiçoar e abrir seu próprio negócio

Mulher catarinense divide-se entre família, casa e trabalhoRaquel da Cruz*

informa que 22,39% das mulhe-res, no estado, estão à frente da família. Para o professor Sérgio Saturnino Januário, do Institu-to de Pesquisas Sociais (IPS), da Univali, esse número teve um avanço extraordinário. “Nos anos 80, elas eram apenas 5%, hoje são quase um terço do to-tal”. Apesar do crescimento, o número não acompanha a pro-porção entre homens e mulheres no mercado de trabalho, respec-tivamente de 55% e 45%.

Sílvia, como a maioria das mulheres que vivem em San-ta Catarina, é branca, mora na área urbana e tem baixa renda. O que o perfil traçado pelo IBGE não revela são os seus desafios e projetos. Com apenas o pri-meiro ano do colegial completo e o marido com problemas de saúde, ela quer se qualificar pro-fissionalmente e ter um empre-go registrado. “Só não arranjei tempo ainda, mas quero voltar a estudar. Quem sabe, um dia, possa até abrir o meu próprio negócio”.

Esse acúmulo de funções as-sumidas pela mulher dificulta sua ascensão profissional. Quem explica é a professora Antônia Egídia de Souza, que estuda a si-

Sílvia Vilvert trabalha de segunda a sábado, oferecendo cartões de loterias para as pessoas que passam pelo calçadão da Rua Hercílio Luz, em Itajaí

“Só não arranjei tempo ainda,

mas quero voltar a estudar. Quem

sabe, um dia, possa até abrir o

meu próprio negócio

“Quem vai fiscalizar

[a lei contra a diferença

salarial]? O Estado já não

dá conta do que tem.

tuação feminina no mercado há 10 anos e, recentemente, coorde-nou um estudo sobre o retrato da mulher em empreendimentos sociais. “A empresa que precisa escolher entre um homem e uma mulher, vai contratar o homem, porque sabe que a mulher pre-cisa sair no horário certo para buscar o filho na escola. E se a criança fica doente, é a mãe quem a leva ao hospital. Fora a licença de seis meses, caso ela engravide”.

Já, para o professor Sérgio, as mudanças na cultura estão acontecendo de tal forma, que este tipo de situação tende a não acontecer mais ao longo dos anos. “Podemos até mudar o nome de licença maternidade para criacionista, pois não ape-nas a mãe tem essa função ago-ra”. Para ele, a própria criança não enxerga mais essas atribui-ções próprias da figura materna. Hoje os papéis entre os pais se completam.

No início de março deste ano, o Senado aprovou projeto de lei que prevê multa às empresas que pagarem menos às mulhe-res, quando ocuparem a mesma função que a dos homens. Para que a lei entre em vigor, basta

a sanção da presidente Dilma Rousseff. Isso, segundo Sérgio, é um grande avanço, porque não se trata de uma lei feminista, mas uma lei de gênero. “As pessoas vão ser remuneradas pela fun-ção que exercerem. Tanto o ho-mem quanto a mulher vão poder cobrar”. O professor reconhece que haverá problemas de fisca-

lização para seu cumprimento, mas acredita que, aos poucos, essa democracia de gênero será incorporada de forma natural.

Em contrapartida, a profes-sora Antônia acredita que a lei

reconhece o problema, mas não a vê como solução. “Quem vai fiscalizar isso? O Estado já não dá conta do que tem [fiscalizar]. E a mulher, enquanto estiver na empresa, não vai denunciar, por medo de represália”. A pesquisa-dora avalia que isso não aconte-cerá nos próximos anos, pois o Brasil está crescendo. Aliás, ela entende que poderá dificultar ainda mais essa situação. “Em momentos de desemprego, vão contratar homens”.

Divisão de tarefasSeja como empregada, com

renda de até um salário mínimo, ou como dona de algum negócio, uma coisa é certa, a mulher atu-al se difere em muitos aspectos daquela de alguns anos atrás. É o caso de Juliana Régis Spricigo que, aos 31 anos, é formada em Turismo e Hotelaria, sócia em um restaurante, casada e mãe de três filhos, respectivamente com 11 anos, três anos e um bebê de quatro meses.

“Entro no restaurante às 8 da manhã, sem hora para sair. Chego em casa tarde, cansada. Mas é o único momento, durante a semana, que posso estar com meus filhos. Por isso, sento para

Page 7: Jornal Cobaia 112

que estava no nível do vagão.Quando Seu Waldyr foi morar

no bairro Cordeiros, a bicicleta era sua companheira para chegar em Itaipava e visitar seu antigo posto de trabalho. Ali ficava com seus pensamentos:

- Gosto de lembrar os amigos que tinha aqui.

A população da região, forma-da principalmente por agricul-tores, também usava a Estação pelos serviços de telefone e telé-

10 JORNAL COBAIA Itajaí, abril de 2012 07JORNAL COBAIAItajaí, abril de 2012

“Café com pão/ Café com pão/ Café com pão/ Vir-gem Maria que foi isso

maquinista?/ Agora sim/ Café com pão/ Agora sim/ Voa, fuma-ça/ Corre, cerca/ Ai seu foguista/ Bota fogo/ Na fornalha/ Que eu preciso/ Muita força”. Enquanto parte da poesia ‘Trem de ferro’ de Manuel Bandeira inspira o desejo da aventura, aqueles primeiros anos dos 1900 tornavam o meio de transporte ferroviário a revo-lução do ir e vir. E a carroça era superada.

A economia brasileira crescia em 1909, quando o Vale do Itajaí colocou em atividade sua primei-ra estrada de ferro, no entronca-mento Blumenau a Indaial – War-now. No final de 1954, estavam somados 47,460 quilômetros de linha para que a cidade da Mare-jada alcance a da Oktoberfest. Na

continuação, Subida, quilômetro 110, o tronco ganhou ramal na direção de Ibirama. Finalmen-te, em 1958, a viagem de Itajaí à Trombudo Central - quilômetro 165 - se tornava possível como aponta o Guia das Estradas de Ferro e o Mapa da 14ª. divisão. As inaugurações de estações acon-teceram nos anos de 1909, 1919, 1929, 1933, 1934 e 1937.

Um dos primeiros bairros de Itajaí, Itaipava – com registros de colonização em 1820 - ganhou sua parada de trem em 1948. A Estação Ferroviária Engenheiro Vereza – nome dado em homena-gem ao chefe da obra da Estrada de Ferro Santa Catarina (EFSC) - foi iniciada na década de 1920 e inaugurada em 1954. Era o qui-lômetro 9,690, a partir do ponto zero, no bairro Fazenda, onde fi-cava a estação e o grande pátio

Memória

Itaipava preservahistória do tremDocumentos sobre a linha férrea, que partia de Itajaí e subia o Vale,estão reunidos no Museu Etno-Arqueológico da Estação Vereza

Wagner Heinzen*

de manobras – hoje no local estão a loja Havan e o supermercado Xande.

Testemunha é Seu Waldyr Co-elho, aposentado de 83 anos, que nasceu em Itaipava, estudou na escola local e participou ativa-mente de duas fases da Estação Vereza. A primeira, de construção do prédio, já que morava perto, em uma localidade do bairro co-nhecida como Tatu. Na segunda, de manutenção da linha férrea, onde trabalhou por aproxima-damente cinco anos, de 1953 em diante:

- Não podia haver desnível, pois o trem corria risco de tom-bar. Cada barra de trilho tinha 14 metros e pesava 280 quilos.

Sua função era conferir as condições do caminho, dos tri-lhos e dos dormentes – vigas de madeira que sustentavam as bar-

ras de ferro que eram fixadas por pregos-cravos. Para isso, percor-ria a linha diariamente.

No lado esquerdo da Estação, funcionava o setor de passagei-ros, com entrada e sala de espe-ra, embarque e desembarque. No lado direito, com cobertura estendida, tanto na frente, quan-do nos fundos, o setor de cargas, onde eram depositados produtos a serem embarcados. O trem pa-rava nos fundos, rente a rampa

A antiga estrada de ferro percorria as cidadesem torno do Rio Itajaí-açú, de Trombudo Central a Itajaí

A água sob o pontilhão, próximo ao trevo de Brusque, foi registrada num dos momentos de maior altura da enchente, que atingiu Itajaíem setembro de 2010

Wagner Heinzen

Acervo Pessoal/Família Rogge

http://vfco.brazilla.jor.br/

Superpoderosa Mulher catarinense divide-se entre família...

brincar com eles e ajudar nas ta-refas da escola”. Juliana tem em-pregada em sua casa e confessa que, se precisasse se dedicar aos afazeres domésticos, não conse-guiria conciliar as tarefas. “Às vezes, até minha mãe precisa me ajudar, ficando com as crianças, no início da noite”.

Apesar dos horários aperta-dos, Juliana considera impor-tante ter um tempo para cuidar

de si. Faz academia três vezes na semana e vai à manicure toda sexta-feira. O professor Sérgio vê esse comportamento como uma das preocupações da mu-lher do século 21, em que ela tenta seguir um padrão de bele-za que não condiz com seu dia a dia. “Ela [a mulher] vive um dile-ma entre o fast food e o padrão, entre o sabor e a beleza”.

“[A mulher] vive um

dilema entre o fast food e

o padrão, entre o sabor e

a beleza

O marido de Juliana e os fi-lhos dizem compreender sua rotina e aproveitam os finais de semana para estarem juntos. E ela justifica que apenas com a renda do marido, não dá para ter uma vida tão confortável. “Por isso, eu trabalho, mas procura-mos nos curtir ao máximo agora, porque esse tempo da infância deles [dos filhos] passa muito rápido”.

Para a psicóloga Jussara Eberhardt Vieira, esse tipo de situação exige mais participa-ção do pai, melhorando a relação familiar e a educação dos filhos: “Antes, o pai só entrava nas questões de disciplina e autori-dade”. Ela acredita que as crian-ças se sentem mais protegidas se receberem atenção do pai e da mãe, mesmo em menor tempo. “O importante é a intensidade, mesmo que sejam poucas horas. Por isso, é preciso ter flexibilida-de e não culpa”.

Seguindo essa ideia, a em-preendedora Juliana quer cursar Nutrição, área de que gosta e por que se interessa. “Quando co-mecei o curso, fiquei grávida do Dudu e tive que trancar. Agora, estou só esperando ele crescer mais um pouquinho para poder voltar”. A sócia de Juliana no restaurante, Leonor Bagatolli, 45 anos, também é mãe e enfren-ta os mesmos dilemas. “O que acontece é que as mulheres só acumularam funções. A diferen-ça é que agora não há mais tan-to machismo, a família já encara essa rotina como uma coisa na-tural”. Leonor tem dois filhos e trabalha fora o dia inteiro.

*Jornalismo, 3º período

Page 8: Jornal Cobaia 112

08 JORNAL COBAIA Itajaí, abril de 2012 09JORNAL COBAIAItajaí, abril de 2012

Pingue-pongue

Cobaia - A juíza é reconheci-da nacionalmente pelo trabalho em prol de causas sociais, que, aliás, será tratado nessa entre-vista, bem como pelo trabalho como magistrada no fórum. Mas, afinal, quem é a mulher Sônia Moroso?

Sônia Moroso - Um ser hu-mano como todos os demais que passa por esta vida, reali-zando algumas obras sociais.

“Enquanto a conduta humana for

pautada por valores distorcidos,

o desafio permanece latente e as

estratégias de enfrentamento à

violência serão intermináveis

“O que impede muitas pessoas de

aceitarem esses fatos são razões

preconceituosas. O mais importante

é o caráter e a conduta de cada

um, não sua opção sexual

*Jornalismo, 7º período

Cobaia - Como surgiu a mo-tivação, e qual o caminho trilha-do até chegar a juíza?

Sônia Moroso - Desde pe-quena, sempre tive um senti-mento de inconformismo com relação às injustiças, e desejei ter conhecimento da lei para poder me posicionar nas mais variadas situações. Durante a faculdade, então, consolidou-se esse desejo de trabalhar na Magistratura. Sou juíza por vocação.

Cobaia - Li que você se tor-nou juíza muita nova. Como era a aceitação dos colegas de tra-balho e da própria sociedade?

Sônia Moroso - Em alguns poucos momentos, bem no início de minha carreira, per-cebia que as pessoas se sen-tiam inseguras ao se depara-rem com uma mulher-juíza e, ainda mais, com pouca idade. Os filmes americanos trazem sempre um homem-juiz e mais velho, o que explica esse sentimento. No entanto, com o desenvolvimento do tra-balho, as pessoas acabavam percebendo que não havia nenhum problema e o receio era infundado. Um receio, ali-ás, originado no preconceito de que a juventude não está aliada à competência.

Cobaia - Sua família a apoiou?

Sônia Moroso - Sempre fui apoiada pela família em rela-

ção ao meu trabalho, tanto por meus pais e irmãos, como pelos amigos e, agora, incon-dicionalmente, por minha companheira.

Cobaia - Como é seu dia a dia na profissão?

Sônia Moroso - Trabalho muito nas questões jurídicas junto à 1ª Vara Criminal, da qual sou titular. Além disso, tenho família para cuidar e, me dedico, em minhas horas vagas, à Estrela de Isabel, ins-tituição que auxiliei a fundar.

Cobaia - A senhora já atuou na vara cível, família e criminal. Quais as decisões mais difíceis de serem tomadas?

Sônia Moroso - Sem qual-quer dúvida é a decisão que declara a perda do poder fa-miliar dos pais em relação aos seus filhos, por questões de negligência, maus tratos, além de outras violências. Re-conhecer que a entidade fami-liar faliu e não há mais vínculo afetivo é muito triste por con-ta dos envolvidos e, também, por conta do Estado, o qual, em algum momento, deixou sua marca de incompetência. Reconheço, porém, que, em muitas situações, nas quais o Estado fez a sua parte, a falência da entidade familiar ainda predomina.

Cobaia - Ser uma pessoa tão visada, certamente, lhe exige

alguns sacrifícios com relação a sua vida e a de sua família. Como é essa relação, família versus trabalho?

Sônia Moroso - Tranquila. Alguns cuidados são neces-sários, mas nada que não se possa administrar.

Cobaia - No imaginário so-cial, um juiz representa força, autoridade e decisão. Como mulher, em casa, você é pulso firme?

Sônia Moroso - Para tudo o que se faz, é necessário bom senso e tranqüilidade. Mes-mo com autoridade, a sensi-bilidade pode conciliar.

Cobaia - Muito se fala na luta por ‘nivelamento’ entre mulher e homem. Você considera que a mulher vem conquistando mais espaço, não só no campo profis-sional, como social e cultural?

Sônia Moroso - A equipa-ração de direitos se deve a todo ser humano, indepen-dentemente de sexo, credo, cor... É só ler um pouco os no-ticiários e perceber o quanto estamos longe disso. Veja uma simples definição que retrata o preconceito: VADIA: pira-nha - mulher que, sem ser ne-cessariamente meretriz, leva vida licenciosa; piranhuda, pistoleira. VADIO: que não tem ocupação, ou que não faz nada; ocioso, desocupado, próprio de gente ociosa. Está no dicionário o preconceito da sociedade. Então, temos

muito a trilhar...

Cobaia - O que falta para se chegar a esse nivelamento? Algum dia, alcançaremos esse objetivo?

Sônia Moroso - É impor-tante sempre cultivarmos o sentimento de fé e esperan-ça. Caso contrário, para que tanto trabalho? Perceba na história quantas conquistas e quanta evolução do ser hu-mano. Havia escravidão, a mulher não votava, não tra-balhava fora... O mundo é di-nâmico e as pessoas continu-am em evolução.

Cobaia - Você é reconhecida pela luta contra a violência, es-pecialmente contra as crianças e mulheres. Esse é ainda um grande desafio para a socieda-de atual?

Sônia Moroso - Sempre será enquanto não houver respeito, dignidade, fé, amor e paz. Enquanto as pessoas perceberem a violência e “la-varem suas mãos”, dizendo que nada podem fazer... En-quanto as pessoas avistarem outro ser caído, dormindo ao relento e não se importarem.... Enquanto o sentimento de in-dignação estiver adormecido, dando margem para o confor-mismo... Enquanto pretensos pais se candidatarem para adoção somente de crianças brancas, bonitas e sem pro-blemas de saúde... Enquanto

aceitarmos a corrupção e o preconceito e tantas outras condutas humanas... Enquan-to a conduta humana for pau-tada por valores distorcidos, o desafio permanece latente e as estratégias de enfrenta-mento à violência serão inter-mináveis.

Cobaia – Mas, além de punir, é preciso educar para prevenir... Na sua opinião, há um esforço do Estado, do terceiro poder, da mídia e da sociedade em geral nesse sentido? Ou ainda conti-nuamos apenas punindo, mas não tratando a real causa do problema?

Sônia Moroso - O discurso é bonito, mas, em que lugar estão as ações para a edu-cação direcionada? Muitas existem, mas desconexas e isoladas. As escolas fazem o que podem. A própria Polícia Militar tem o programa de-nominado PROERD... Mas o que mais está em execução de forma contínua e efetiva? Menciono isso em relação às drogas, porque a violência está diretamente ligada à de-pendência química de drogas lícitas ou ilícitas. É claro que são muitas as motivações para a violência. A droga e o alcool são apenas algumas delas. Entendo que o Esta-do ainda não faz a sua parte, dando margem ao terceiro setor para a complementa-ção. Na verdade, penso que a sociedade também é respon-sável pelas demandas sociais. Não é, e nem pode, ser um de-ver exclusivo do Estado.

Cobaia - A Lei Maria da Pe-nha foi uma vitória para as mu-lheres de todo país. Especial-mente em Itajaí, como você vê a aceitação e os resultados da lei perante a sociedade?

Sônia Moroso - Penso que há um crescimento, pois já podemos contar com o pro-grama de atendimento e um abrigo para as mulheres que não tem para onde ir, por ocasião da violência. Atual-mente, a Univali e a Estrela de Isabel representam um ponto de apoio fundamental, porque o agressor também recebe tratamento. Em ter-mos de medidas protetivas, ainda estamos caminhando. Hoje precisamos ter um Jui-zado específico para a área e uma Delegacia mais estru-turada, com equipamentos físicos, e pessoal qualificado com os quais a Autoridade Policial possa contar.

Cobaia - Há problemas na efetivação da lei? Como, por exemplo, a falta de abrigos para acolher a vítima? Há uma mobilização da sociedade e da mídia no sentido de pressionar o Estado para implementar me-lhorias?

Sônia Moroso - Como mencionei antes, já avança-mos. Temos um programa de tratamento, num convênio com a Univali; a casa-abrigo, em parceria com a Associa-ção Nova Lurdes; e, além des-

sas conquistas, há o CRAS e o CREAS, órgãos municipais que atuam nessa área.

Cobaia - Você é a madri-nha da Oscip Estrela de Isabel. Como surgiu a ideia?

Sônia Moroso - A concep-ção da ideia foi minha e de mi-nha companheira Lilian, com o auxílio de amigos, funcio-nários do Fórum, advogados e colegas do curso de Mes-trado em Gestão de Políticas Públicas. A ideia justificou-se exatamente na ausência de programas ligados à área da violência doméstica e familiar. No caminho, foram surgindo outras possibilidades de exe-cução de programas face à existência de demandas nas áreas da infância e juventude e, agora, quanto ao idoso.

Cobaia - Como funciona o trabalho da Oscip?

Sônia Moroso - É uma entidade sem finalidade lu-crativa, que executa três pro-gramas na área da infância e juventude. Um programa vol-tado à violência doméstica e familiar e outro que está sen-do implementado agora, para residência inclusiva do ido-so, com ou sem deficiência. Conta com apoio técnico e financeiro da Prefeitura Mu-nicipal, com aprovação dos Conselhos Municipais, tanto

da Criança e do Adolescen-te como da Assistência So-cial. A Câmara de Vereadores também compreendeu a pro-posta e aprovou todos os pro-gramas. Além disso, diversos empresários são parceiros de Estrela de Isabel e inúmeros voluntários, o que compro-va a tese de que a sociedade, quando devidamente mobili-zada, faz a sua parte.

Cobaia - Em 2010, no dia nacional da adoção, em Brasí-lia, você deu uma declaração a uma agência de notícia, em que refletia sobre o que é famí-lia nos tempos atuais e a ado-ção de crianças por casais ho-moafetivos. De lá pra cá, muita coisa mudou e o casamento homoafetivo é juridicamente reconhecido no país. Na sua opinião, o país está evoluindo a passos largos para acabar com o preconceito contra o ho-mossexual?

Sônia Moroso - Não há nada que impeça que o ca-sal homoafetivo exerça as funções de paternagem ou maternagem, conforme o per-fil de cada um e, ainda mais que constituam família. O que impede muitas pessoas de aceitarem esses fatos são razões preconceituosas. O mais importante é o caráter e a conduta de cada um e não sua opção sexual. Se fizerem um levantamento nos abrigos em todo o Brasil, perceberão que as crianças, que ali es-tão, são oriundas de relações heterossexuais, o mesmo acontecendo com crianças e adolescentes vítimas de vio-lência doméstica e familiar. A compreensão do ser hu-mano é fundamental para o crescimento do País, e, nessa compreensão, deve imperar o respeito.

Cobaia - Você foi a primei-ra magistrada a ter um casa-mento homoafetivo em Santa Catarina. Como foi a reação no seu ambiente de trabalho? Houve preconceito por parte de colegas?

Sônia Moroso - Na verda-

SÔNIA MOROSO

“Tenho a impressão de que aceitar a felicidade como ela é, e ter coragem para assumir essa postura, causa mais inveja do que preconceito

Fernando Castellon Filho*

Fernando Castellon Filho

Um livro sobre a lei de combate à violência contra a mulher, a Lei Maria da Penha, chama atenção

em meio às pastas de processo que ocu-pam, organizadamente, parte da mesa da juíza Sônia Maria Mazzetto Moroso. Vasos de flores dão um toque feminino e acolhe-dor à sala da primeira Vara Criminal de Ita-jaí, onde ela recebeu a reportagem do jornal Cobaia para um bate-papo sobre a mulher do século XXI.

Além de juíza, Sônia é madrinha da Os-cip Estrela de Isabel, uma entidade sem fins lucrativos, com ações na área da infância e juventude, do idoso e de combate à violên-cia doméstica, especialmente contra as mu-lheres. Para compartilhar um pouco do seu dia a dia, das experiências de vida e de sua luta social, o Cobaia escolheu-a como entre-vistada especial para esta edição de março, em homenagem à mulher.

de, fui a primeira no Brasil e recebi muitos cumprimen-tos. Tenho a impressão de que aceitar a felicidade como ela é, e ter coragem para as-sumir essa postura, causa mais inveja do que precon-ceito (risos).

Cobaia - Como seu filho reagiu com essa nova famí-lia? Ele sofreu ou sofre algum bullying na escola? Afinal, você é uma juíza reconhecida pela sociedade.

Sônia Moroso - Meu filho foi e continua sendo nosso alicerce e nunca apresentou problema na escola. Minha companheira exerce um pa-pel fundamental na educação de meu filho e ele é “apaixo-nado” por sua Mamuska.

Cobaia - Por fim, Sônia, você é um exemplo de superação para as mulheres. Atingiu seu sonho profissional, teve cora-gem para assumir seu senti-mento por outra mulher, e é um ícone na nossa cidade em rela-ção às lutas sociais. Você tem algum conselho para nossas leitoras?

Sônia Moroso - Se puder contribuir... Entendo que é preciso, em primeiro lugar, conhecer a si mesma, bus-cando, em seu interior, o que a faz feliz, o que a realiza. Co-nhecendo essa motivação, não deve medir esforços para sua realização pessoal. O ser humano veio ao mundo para ser feliz e não para atender a demanda alheia, os desejos dos outros, e, sim, seu próprio desejo. Lute pelo respeito e pela dignidade e, mais do que tudo, não tenha medo de ser feliz. Ouse.

Cobaia - Obrigado pela atenção. A equipe do Jornal Cobaia sente-se lisonjeada por poder expor, em suas páginas, as vivências, as lutas, as opi-niões e os sonhos de uma mu-lher com você. Agradecemos sua participação.

SÔNIA MOROSO

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08 JORNAL COBAIA Itajaí, abril de 2012 09JORNAL COBAIAItajaí, abril de 2012

Pingue-pongue

Cobaia - A juíza é reconheci-da nacionalmente pelo trabalho em prol de causas sociais, que, aliás, será tratado nessa entre-vista, bem como pelo trabalho como magistrada no fórum. Mas, afinal, quem é a mulher Sônia Moroso?

Sônia Moroso - Um ser hu-mano como todos os demais que passa por esta vida, reali-zando algumas obras sociais.

“Enquanto a conduta humana for

pautada por valores distorcidos,

o desafio permanece latente e as

estratégias de enfrentamento à

violência serão intermináveis

“O que impede muitas pessoas de

aceitarem esses fatos são razões

preconceituosas. O mais importante

é o caráter e a conduta de cada

um, não sua opção sexual

*Jornalismo, 7º período

Cobaia - Como surgiu a mo-tivação, e qual o caminho trilha-do até chegar a juíza?

Sônia Moroso - Desde pe-quena, sempre tive um senti-mento de inconformismo com relação às injustiças, e desejei ter conhecimento da lei para poder me posicionar nas mais variadas situações. Durante a faculdade, então, consolidou-se esse desejo de trabalhar na Magistratura. Sou juíza por vocação.

Cobaia - Li que você se tor-nou juíza muita nova. Como era a aceitação dos colegas de tra-balho e da própria sociedade?

Sônia Moroso - Em alguns poucos momentos, bem no início de minha carreira, per-cebia que as pessoas se sen-tiam inseguras ao se depara-rem com uma mulher-juíza e, ainda mais, com pouca idade. Os filmes americanos trazem sempre um homem-juiz e mais velho, o que explica esse sentimento. No entanto, com o desenvolvimento do tra-balho, as pessoas acabavam percebendo que não havia nenhum problema e o receio era infundado. Um receio, ali-ás, originado no preconceito de que a juventude não está aliada à competência.

Cobaia - Sua família a apoiou?

Sônia Moroso - Sempre fui apoiada pela família em rela-

ção ao meu trabalho, tanto por meus pais e irmãos, como pelos amigos e, agora, incon-dicionalmente, por minha companheira.

Cobaia - Como é seu dia a dia na profissão?

Sônia Moroso - Trabalho muito nas questões jurídicas junto à 1ª Vara Criminal, da qual sou titular. Além disso, tenho família para cuidar e, me dedico, em minhas horas vagas, à Estrela de Isabel, ins-tituição que auxiliei a fundar.

Cobaia - A senhora já atuou na vara cível, família e criminal. Quais as decisões mais difíceis de serem tomadas?

Sônia Moroso - Sem qual-quer dúvida é a decisão que declara a perda do poder fa-miliar dos pais em relação aos seus filhos, por questões de negligência, maus tratos, além de outras violências. Re-conhecer que a entidade fami-liar faliu e não há mais vínculo afetivo é muito triste por con-ta dos envolvidos e, também, por conta do Estado, o qual, em algum momento, deixou sua marca de incompetência. Reconheço, porém, que, em muitas situações, nas quais o Estado fez a sua parte, a falência da entidade familiar ainda predomina.

Cobaia - Ser uma pessoa tão visada, certamente, lhe exige

alguns sacrifícios com relação a sua vida e a de sua família. Como é essa relação, família versus trabalho?

Sônia Moroso - Tranquila. Alguns cuidados são neces-sários, mas nada que não se possa administrar.

Cobaia - No imaginário so-cial, um juiz representa força, autoridade e decisão. Como mulher, em casa, você é pulso firme?

Sônia Moroso - Para tudo o que se faz, é necessário bom senso e tranqüilidade. Mes-mo com autoridade, a sensi-bilidade pode conciliar.

Cobaia - Muito se fala na luta por ‘nivelamento’ entre mulher e homem. Você considera que a mulher vem conquistando mais espaço, não só no campo profis-sional, como social e cultural?

Sônia Moroso - A equipa-ração de direitos se deve a todo ser humano, indepen-dentemente de sexo, credo, cor... É só ler um pouco os no-ticiários e perceber o quanto estamos longe disso. Veja uma simples definição que retrata o preconceito: VADIA: pira-nha - mulher que, sem ser ne-cessariamente meretriz, leva vida licenciosa; piranhuda, pistoleira. VADIO: que não tem ocupação, ou que não faz nada; ocioso, desocupado, próprio de gente ociosa. Está no dicionário o preconceito da sociedade. Então, temos

muito a trilhar...

Cobaia - O que falta para se chegar a esse nivelamento? Algum dia, alcançaremos esse objetivo?

Sônia Moroso - É impor-tante sempre cultivarmos o sentimento de fé e esperan-ça. Caso contrário, para que tanto trabalho? Perceba na história quantas conquistas e quanta evolução do ser hu-mano. Havia escravidão, a mulher não votava, não tra-balhava fora... O mundo é di-nâmico e as pessoas continu-am em evolução.

Cobaia - Você é reconhecida pela luta contra a violência, es-pecialmente contra as crianças e mulheres. Esse é ainda um grande desafio para a socieda-de atual?

Sônia Moroso - Sempre será enquanto não houver respeito, dignidade, fé, amor e paz. Enquanto as pessoas perceberem a violência e “la-varem suas mãos”, dizendo que nada podem fazer... En-quanto as pessoas avistarem outro ser caído, dormindo ao relento e não se importarem.... Enquanto o sentimento de in-dignação estiver adormecido, dando margem para o confor-mismo... Enquanto pretensos pais se candidatarem para adoção somente de crianças brancas, bonitas e sem pro-blemas de saúde... Enquanto

aceitarmos a corrupção e o preconceito e tantas outras condutas humanas... Enquan-to a conduta humana for pau-tada por valores distorcidos, o desafio permanece latente e as estratégias de enfrenta-mento à violência serão inter-mináveis.

Cobaia – Mas, além de punir, é preciso educar para prevenir... Na sua opinião, há um esforço do Estado, do terceiro poder, da mídia e da sociedade em geral nesse sentido? Ou ainda conti-nuamos apenas punindo, mas não tratando a real causa do problema?

Sônia Moroso - O discurso é bonito, mas, em que lugar estão as ações para a edu-cação direcionada? Muitas existem, mas desconexas e isoladas. As escolas fazem o que podem. A própria Polícia Militar tem o programa de-nominado PROERD... Mas o que mais está em execução de forma contínua e efetiva? Menciono isso em relação às drogas, porque a violência está diretamente ligada à de-pendência química de drogas lícitas ou ilícitas. É claro que são muitas as motivações para a violência. A droga e o alcool são apenas algumas delas. Entendo que o Esta-do ainda não faz a sua parte, dando margem ao terceiro setor para a complementa-ção. Na verdade, penso que a sociedade também é respon-sável pelas demandas sociais. Não é, e nem pode, ser um de-ver exclusivo do Estado.

Cobaia - A Lei Maria da Pe-nha foi uma vitória para as mu-lheres de todo país. Especial-mente em Itajaí, como você vê a aceitação e os resultados da lei perante a sociedade?

Sônia Moroso - Penso que há um crescimento, pois já podemos contar com o pro-grama de atendimento e um abrigo para as mulheres que não tem para onde ir, por ocasião da violência. Atual-mente, a Univali e a Estrela de Isabel representam um ponto de apoio fundamental, porque o agressor também recebe tratamento. Em ter-mos de medidas protetivas, ainda estamos caminhando. Hoje precisamos ter um Jui-zado específico para a área e uma Delegacia mais estru-turada, com equipamentos físicos, e pessoal qualificado com os quais a Autoridade Policial possa contar.

Cobaia - Há problemas na efetivação da lei? Como, por exemplo, a falta de abrigos para acolher a vítima? Há uma mobilização da sociedade e da mídia no sentido de pressionar o Estado para implementar me-lhorias?

Sônia Moroso - Como mencionei antes, já avança-mos. Temos um programa de tratamento, num convênio com a Univali; a casa-abrigo, em parceria com a Associa-ção Nova Lurdes; e, além des-

sas conquistas, há o CRAS e o CREAS, órgãos municipais que atuam nessa área.

Cobaia - Você é a madri-nha da Oscip Estrela de Isabel. Como surgiu a ideia?

Sônia Moroso - A concep-ção da ideia foi minha e de mi-nha companheira Lilian, com o auxílio de amigos, funcio-nários do Fórum, advogados e colegas do curso de Mes-trado em Gestão de Políticas Públicas. A ideia justificou-se exatamente na ausência de programas ligados à área da violência doméstica e familiar. No caminho, foram surgindo outras possibilidades de exe-cução de programas face à existência de demandas nas áreas da infância e juventude e, agora, quanto ao idoso.

Cobaia - Como funciona o trabalho da Oscip?

Sônia Moroso - É uma entidade sem finalidade lu-crativa, que executa três pro-gramas na área da infância e juventude. Um programa vol-tado à violência doméstica e familiar e outro que está sen-do implementado agora, para residência inclusiva do ido-so, com ou sem deficiência. Conta com apoio técnico e financeiro da Prefeitura Mu-nicipal, com aprovação dos Conselhos Municipais, tanto

da Criança e do Adolescen-te como da Assistência So-cial. A Câmara de Vereadores também compreendeu a pro-posta e aprovou todos os pro-gramas. Além disso, diversos empresários são parceiros de Estrela de Isabel e inúmeros voluntários, o que compro-va a tese de que a sociedade, quando devidamente mobili-zada, faz a sua parte.

Cobaia - Em 2010, no dia nacional da adoção, em Brasí-lia, você deu uma declaração a uma agência de notícia, em que refletia sobre o que é famí-lia nos tempos atuais e a ado-ção de crianças por casais ho-moafetivos. De lá pra cá, muita coisa mudou e o casamento homoafetivo é juridicamente reconhecido no país. Na sua opinião, o país está evoluindo a passos largos para acabar com o preconceito contra o ho-mossexual?

Sônia Moroso - Não há nada que impeça que o ca-sal homoafetivo exerça as funções de paternagem ou maternagem, conforme o per-fil de cada um e, ainda mais que constituam família. O que impede muitas pessoas de aceitarem esses fatos são razões preconceituosas. O mais importante é o caráter e a conduta de cada um e não sua opção sexual. Se fizerem um levantamento nos abrigos em todo o Brasil, perceberão que as crianças, que ali es-tão, são oriundas de relações heterossexuais, o mesmo acontecendo com crianças e adolescentes vítimas de vio-lência doméstica e familiar. A compreensão do ser hu-mano é fundamental para o crescimento do País, e, nessa compreensão, deve imperar o respeito.

Cobaia - Você foi a primei-ra magistrada a ter um casa-mento homoafetivo em Santa Catarina. Como foi a reação no seu ambiente de trabalho? Houve preconceito por parte de colegas?

Sônia Moroso - Na verda-

SÔNIA MOROSO

“Tenho a impressão de que aceitar a felicidade como ela é, e ter coragem para assumir essa postura, causa mais inveja do que preconceito

Fernando Castellon Filho*

Fernando Castellon Filho

Um livro sobre a lei de combate à violência contra a mulher, a Lei Maria da Penha, chama atenção

em meio às pastas de processo que ocu-pam, organizadamente, parte da mesa da juíza Sônia Maria Mazzetto Moroso. Vasos de flores dão um toque feminino e acolhe-dor à sala da primeira Vara Criminal de Ita-jaí, onde ela recebeu a reportagem do jornal Cobaia para um bate-papo sobre a mulher do século XXI.

Além de juíza, Sônia é madrinha da Os-cip Estrela de Isabel, uma entidade sem fins lucrativos, com ações na área da infância e juventude, do idoso e de combate à violên-cia doméstica, especialmente contra as mu-lheres. Para compartilhar um pouco do seu dia a dia, das experiências de vida e de sua luta social, o Cobaia escolheu-a como entre-vistada especial para esta edição de março, em homenagem à mulher.

de, fui a primeira no Brasil e recebi muitos cumprimen-tos. Tenho a impressão de que aceitar a felicidade como ela é, e ter coragem para as-sumir essa postura, causa mais inveja do que precon-ceito (risos).

Cobaia - Como seu filho reagiu com essa nova famí-lia? Ele sofreu ou sofre algum bullying na escola? Afinal, você é uma juíza reconhecida pela sociedade.

Sônia Moroso - Meu filho foi e continua sendo nosso alicerce e nunca apresentou problema na escola. Minha companheira exerce um pa-pel fundamental na educação de meu filho e ele é “apaixo-nado” por sua Mamuska.

Cobaia - Por fim, Sônia, você é um exemplo de superação para as mulheres. Atingiu seu sonho profissional, teve cora-gem para assumir seu senti-mento por outra mulher, e é um ícone na nossa cidade em rela-ção às lutas sociais. Você tem algum conselho para nossas leitoras?

Sônia Moroso - Se puder contribuir... Entendo que é preciso, em primeiro lugar, conhecer a si mesma, bus-cando, em seu interior, o que a faz feliz, o que a realiza. Co-nhecendo essa motivação, não deve medir esforços para sua realização pessoal. O ser humano veio ao mundo para ser feliz e não para atender a demanda alheia, os desejos dos outros, e, sim, seu próprio desejo. Lute pelo respeito e pela dignidade e, mais do que tudo, não tenha medo de ser feliz. Ouse.

Cobaia - Obrigado pela atenção. A equipe do Jornal Cobaia sente-se lisonjeada por poder expor, em suas páginas, as vivências, as lutas, as opi-niões e os sonhos de uma mu-lher com você. Agradecemos sua participação.

SÔNIA MOROSO

Page 10: Jornal Cobaia 112

que estava no nível do vagão.Quando Seu Waldyr foi morar

no bairro Cordeiros, a bicicleta era sua companheira para chegar em Itaipava e visitar seu antigo posto de trabalho. Ali ficava com seus pensamentos:

- Gosto de lembrar os amigos que tinha aqui.

A população da região, forma-da principalmente por agricul-tores, também usava a Estação pelos serviços de telefone e telé-

10 JORNAL COBAIA Itajaí, abril de 2012 07JORNAL COBAIAItajaí, abril de 2012

“Café com pão/ Café com pão/ Café com pão/ Vir-gem Maria que foi isso

maquinista?/ Agora sim/ Café com pão/ Agora sim/ Voa, fuma-ça/ Corre, cerca/ Ai seu foguista/ Bota fogo/ Na fornalha/ Que eu preciso/ Muita força”. Enquanto parte da poesia ‘Trem de ferro’ de Manuel Bandeira inspira o desejo da aventura, aqueles primeiros anos dos 1900 tornavam o meio de transporte ferroviário a revo-lução do ir e vir. E a carroça era superada.

A economia brasileira crescia em 1909, quando o Vale do Itajaí colocou em atividade sua primei-ra estrada de ferro, no entronca-mento Blumenau a Indaial – War-now. No final de 1954, estavam somados 47,460 quilômetros de linha para que a cidade da Mare-jada alcance a da Oktoberfest. Na

continuação, Subida, quilômetro 110, o tronco ganhou ramal na direção de Ibirama. Finalmen-te, em 1958, a viagem de Itajaí à Trombudo Central - quilômetro 165 - se tornava possível como aponta o Guia das Estradas de Ferro e o Mapa da 14ª. divisão. As inaugurações de estações acon-teceram nos anos de 1909, 1919, 1929, 1933, 1934 e 1937.

Um dos primeiros bairros de Itajaí, Itaipava – com registros de colonização em 1820 - ganhou sua parada de trem em 1948. A Estação Ferroviária Engenheiro Vereza – nome dado em homena-gem ao chefe da obra da Estrada de Ferro Santa Catarina (EFSC) - foi iniciada na década de 1920 e inaugurada em 1954. Era o qui-lômetro 9,690, a partir do ponto zero, no bairro Fazenda, onde fi-cava a estação e o grande pátio

Memória

Itaipava preservahistória do tremDocumentos sobre a linha férrea, que partia de Itajaí e subia o Vale,estão reunidos no Museu Etno-Arqueológico da Estação Vereza

Wagner Heinzen*

de manobras – hoje no local estão a loja Havan e o supermercado Xande.

Testemunha é Seu Waldyr Co-elho, aposentado de 83 anos, que nasceu em Itaipava, estudou na escola local e participou ativa-mente de duas fases da Estação Vereza. A primeira, de construção do prédio, já que morava perto, em uma localidade do bairro co-nhecida como Tatu. Na segunda, de manutenção da linha férrea, onde trabalhou por aproxima-damente cinco anos, de 1953 em diante:

- Não podia haver desnível, pois o trem corria risco de tom-bar. Cada barra de trilho tinha 14 metros e pesava 280 quilos.

Sua função era conferir as condições do caminho, dos tri-lhos e dos dormentes – vigas de madeira que sustentavam as bar-

ras de ferro que eram fixadas por pregos-cravos. Para isso, percor-ria a linha diariamente.

No lado esquerdo da Estação, funcionava o setor de passagei-ros, com entrada e sala de espe-ra, embarque e desembarque. No lado direito, com cobertura estendida, tanto na frente, quan-do nos fundos, o setor de cargas, onde eram depositados produtos a serem embarcados. O trem pa-rava nos fundos, rente a rampa

A antiga estrada de ferro percorria as cidadesem torno do Rio Itajaí-açú, de Trombudo Central a Itajaí

A água sob o pontilhão, próximo ao trevo de Brusque, foi registrada num dos momentos de maior altura da enchente, que atingiu Itajaíem setembro de 2010

Wagner Heinzen

Acervo Pessoal/Família Rogge

http://vfco.brazilla.jor.br/

Superpoderosa Mulher catarinense divide-se entre família...

brincar com eles e ajudar nas ta-refas da escola”. Juliana tem em-pregada em sua casa e confessa que, se precisasse se dedicar aos afazeres domésticos, não conse-guiria conciliar as tarefas. “Às vezes, até minha mãe precisa me ajudar, ficando com as crianças, no início da noite”.

Apesar dos horários aperta-dos, Juliana considera impor-tante ter um tempo para cuidar

de si. Faz academia três vezes na semana e vai à manicure toda sexta-feira. O professor Sérgio vê esse comportamento como uma das preocupações da mu-lher do século 21, em que ela tenta seguir um padrão de bele-za que não condiz com seu dia a dia. “Ela [a mulher] vive um dile-ma entre o fast food e o padrão, entre o sabor e a beleza”.

“[A mulher] vive um

dilema entre o fast food e

o padrão, entre o sabor e

a beleza

O marido de Juliana e os fi-lhos dizem compreender sua rotina e aproveitam os finais de semana para estarem juntos. E ela justifica que apenas com a renda do marido, não dá para ter uma vida tão confortável. “Por isso, eu trabalho, mas procura-mos nos curtir ao máximo agora, porque esse tempo da infância deles [dos filhos] passa muito rápido”.

Para a psicóloga Jussara Eberhardt Vieira, esse tipo de situação exige mais participa-ção do pai, melhorando a relação familiar e a educação dos filhos: “Antes, o pai só entrava nas questões de disciplina e autori-dade”. Ela acredita que as crian-ças se sentem mais protegidas se receberem atenção do pai e da mãe, mesmo em menor tempo. “O importante é a intensidade, mesmo que sejam poucas horas. Por isso, é preciso ter flexibilida-de e não culpa”.

Seguindo essa ideia, a em-preendedora Juliana quer cursar Nutrição, área de que gosta e por que se interessa. “Quando co-mecei o curso, fiquei grávida do Dudu e tive que trancar. Agora, estou só esperando ele crescer mais um pouquinho para poder voltar”. A sócia de Juliana no restaurante, Leonor Bagatolli, 45 anos, também é mãe e enfren-ta os mesmos dilemas. “O que acontece é que as mulheres só acumularam funções. A diferen-ça é que agora não há mais tan-to machismo, a família já encara essa rotina como uma coisa na-tural”. Leonor tem dois filhos e trabalha fora o dia inteiro.

*Jornalismo, 3º período

Page 11: Jornal Cobaia 112

06 JORNAL COBAIA Itajaí, abril de 2012 11JORNAL COBAIAItajaí, abril de 2012

Seu Waldyr conta suas experiências para alunos de uma escola municipal na Estação Vereza, que, após restaurada, abriga o Museu Etno-Arqueológico de Itajaí

grafo, como confirma a Fundação Municipal Genésio Miranda Lins, de objetivos culturais.

Nas proximidades do ponto do trem, Hilda Pascoal, aposen-tada de 78 anos, morou em várias casas. A família grande - sete ir-mãos homens e três irmãs mu-lheres - trabalhava na agricul-tura. Depois, tiveram engenho de farinha e alambique de cana, onde produziam cachaça, açúcar e melado. A plantação de café é lembrada com um puxado sus-piro:

- Cafézinho gostoso, né, o torradinho em casa!

Dona Ida, como é mais co-nhecida, lembra de um pontilhão da estrada de ferro:

- Os rapazi (homens da famí-lia) iam pescar lá.

Hoje, um dos trechos mais vi-síveis da linha férrea, com aterro de dois metros e outro pontilhão praticamente intocado, pode ser visto no quilômetro ‘um’ da Ro-dovia Antônio Heill, próximo ao trevo de Itajaí com Brusque, no lado direito. Depois de 41 anos, uma modesta mata cresceu entre a terra forrada de pedras cinzen-tas e cortantes. Nada suficiente para esconder a beleza do traba-lho engenhoso.

Depois de casar e ter seu pri-meiro filho, Dona Ida foi morar em Blumenau. A viagem foi de trem. E as idas e vindas pra visi-tar a família também:

- A gente ia de litorina. - Litorina? O que é isso? -

Pergunta o repórter. - Litorina é como um trem,

mas sem aquele que puxa na frente (locomotiva a vapor). Era uns quatro vagões, com bancos igual ônibus – conta Dona Ida.

“Andei bastante de litorina”, revela Erotides Cunha, 59 anos, funcionária da Biblioteca Públi-ca Municipal Silveira Júnior, de

Itaipava preserva história do tremMemóriaSuperpoderosa

“Não podia haver desnível, pois

o trem corria risco de tombar.

Cada barra de trilho tinha 14

metros e pesava 280 quilos

Wagner Heinzen

Raquel da CruzWagner Heinzen

Itajaí:- Ela saía às horas 5 da ma-

nhã de Itajaí e chegava ao meio dia em Subida. A gente chegava morta de fome.

A velocidade variava entre 20 e 30 quilômetros por hora. “A li-torina era mais cara que o trem e separada por classes”, diz Maria Teresa Roslindo, 69 anos, colega de trabalho de Erotides, que aos 12 viajou de Maria Fumaça pela primeira vez. A experiência foi ainda maior com a colisão de um caminhão no trem.

No comboio de vagões de carga era transportado gado, madeira e areia – baldeada de ca-minhão para vagão, no braço. As-sim, os produtos do Vale seguiam para exportação e os importados ganhavam distribuição.

Em 1971, a concorrência com rodovias deu fim à malha ferrovi-ária do Vale. Mas grupos, como a Associação Brasileira de Preser-vação Ferroviária, surgiram para defender a memória férrea. Ralph Mennucci Giesbrecht, 60 anos, é um dos sócios da ABPF:

- Já viajei por boa parte do Estado de São Paulo e também do Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Santa Catarina foto-grafando quase mil estações ou locais em que um dia elas estive-ram, conversando com inúmeras pessoas, além de manter contatos constantes com diversos “corres-pondentes” pelo Brasil afora.

Autor de livros como ‘Um dia o trem passou por aqui’ e criador do site estaçõesferroviárias.com.br - com informações específi-cas sobre paragens de todo país - ele apresenta resultados de pesquisas, dúvidas e indignações que cercam a história ferroviária. A intenção é ampliar os registros existentes.

*Jornalismo, 8º período

O prego-cravo foi encontrado por moradores da Rua Edmundo Wippel, em Itaipava, bairro onde passava a estrada de ferro, que mantém seu traçado original, apesar da urbanização

Levanta às seis da manhã, toma café, faz uma breve arrumação na casa e se des-

pede do marido Narciso e do filho Djoni. Já são sete horas. Pega o material de trabalho e vai até o ponto de ônibus, bairro Macha-dos, em Navegantes. Após alguns minutos, chega ao ferry boat, e faz a travessia até a Rua Hercílio Luz, em Itajaí. É ali, no calçadão, que começa a jornada, vendendo cartões de loteria estadual.

Divide-se entre o lar e o tra-balho, de segunda a sábado. Chega em casa sempre depois das 19 horas. Aos domingos, vai à igreja, onde participa de cul-tos e retiros. Além de exercitar o lado espiritual, sua maior dis-tração é assistir ao trabalho de Djoni, que é músico. “Saio daqui [do calçadão], chego em casa, tomo banho e prestigio meu fi-lho. É meu jeito de demonstrar carinho, já que não posso passar o dia com ele”.

Essa é a rotina de Sílvia Lígia Vilvert, de 44 anos, mas poderia ser a de tantas outras catarinen-ses que trabalham fora e cuidam da casa e dos filhos. O último censo oficial realizado pelo Ins-tituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), em 2010,

Ela é branca, urbana e assalariada. Apesar da tripla jornada, pretende se aperfeiçoar e abrir seu próprio negócio

grafo, como confirma a Fundação Municipal Genésio Miranda Lins, de objetivos culturais.

Nas proximidades do ponto do trem, Hilda Pascoal, aposen-tada de 78 anos, morou em várias casas. A família grande - sete ir-mãos homens e três irmãs mu-lheres - trabalhava na agricul-tura. Depois, tiveram engenho de farinha e alambique de cana, onde produziam cachaça, açúcar e melado. A plantação de café é

Ela é branca, urbana e assalariada. Apesar da tripla jornada, pretende se aperfeiçoar e abrir seu próprio negócio

Mulher catarinense divide-se entre família, casa e trabalhoRaquel da Cruz*

informa que 22,39% das mulhe-res, no estado, estão à frente da família. Para o professor Sérgio Saturnino Januário, do Institu-to de Pesquisas Sociais (IPS), da Univali, esse número teve um avanço extraordinário. “Nos anos 80, elas eram apenas 5%, hoje são quase um terço do to-tal”. Apesar do crescimento, o número não acompanha a pro-porção entre homens e mulheres no mercado de trabalho, respec-tivamente de 55% e 45%.

Sílvia, como a maioria das mulheres que vivem em San-ta Catarina, é branca, mora na área urbana e tem baixa renda. O que o perfil traçado pelo IBGE não revela são os seus desafios e projetos. Com apenas o pri-meiro ano do colegial completo e o marido com problemas de saúde, ela quer se qualificar pro-fissionalmente e ter um empre-go registrado. “Só não arranjei tempo ainda, mas quero voltar a estudar. Quem sabe, um dia, possa até abrir o meu próprio negócio”.

Esse acúmulo de funções as-sumidas pela mulher dificulta sua ascensão profissional. Quem explica é a professora Antônia Egídia de Souza, que estuda a si-

Sílvia Vilvert trabalha de segunda a sábado, oferecendo cartões de loterias para as pessoas que passam pelo calçadão da Rua Hercílio Luz, em Itajaí

“Só não arranjei tempo ainda,

mas quero voltar a estudar. Quem

sabe, um dia, possa até abrir o

meu próprio negócio

“Quem vai fiscalizar

[a lei contra a diferença

salarial]? O Estado já não

dá conta do que tem.

tuação feminina no mercado há 10 anos e, recentemente, coorde-nou um estudo sobre o retrato da mulher em empreendimentos sociais. “A empresa que precisa escolher entre um homem e uma mulher, vai contratar o homem, porque sabe que a mulher pre-cisa sair no horário certo para buscar o filho na escola. E se a criança fica doente, é a mãe quem a leva ao hospital. Fora a licença de seis meses, caso ela engravide”.

Já, para o professor Sérgio, as mudanças na cultura estão acontecendo de tal forma, que este tipo de situação tende a não acontecer mais ao longo dos anos. “Podemos até mudar o nome de licença maternidade para criacionista, pois não ape-nas a mãe tem essa função ago-ra”. Para ele, a própria criança não enxerga mais essas atribui-ções próprias da figura materna. Hoje os papéis entre os pais se completam.

No início de março deste ano, o Senado aprovou projeto de lei que prevê multa às empresas que pagarem menos às mulhe-res, quando ocuparem a mesma função que a dos homens. Para que a lei entre em vigor, basta

a sanção da presidente Dilma Rousseff. Isso, segundo Sérgio, é um grande avanço, porque não se trata de uma lei feminista, mas uma lei de gênero. “As pessoas vão ser remuneradas pela fun-ção que exercerem. Tanto o ho-mem quanto a mulher vão poder cobrar”. O professor reconhece que haverá problemas de fisca-

lização para seu cumprimento, mas acredita que, aos poucos, essa democracia de gênero será incorporada de forma natural.

Em contrapartida, a profes-sora Antônia acredita que a lei

reconhece o problema, mas não a vê como solução. “Quem vai fiscalizar isso? O Estado já não dá conta do que tem [fiscalizar]. E a mulher, enquanto estiver na empresa, não vai denunciar, por medo de represália”. A pesquisa-dora avalia que isso não aconte-cerá nos próximos anos, pois o Brasil está crescendo. Aliás, ela entende que poderá dificultar ainda mais essa situação. “Em momentos de desemprego, vão contratar homens”.

Divisão de tarefasSeja como empregada, com

renda de até um salário mínimo, ou como dona de algum negócio, uma coisa é certa, a mulher atu-al se difere em muitos aspectos daquela de alguns anos atrás. É o caso de Juliana Régis Spricigo que, aos 31 anos, é formada em Turismo e Hotelaria, sócia em um restaurante, casada e mãe de três filhos, respectivamente com 11 anos, três anos e um bebê de quatro meses.

“Entro no restaurante às 8 da manhã, sem hora para sair. Chego em casa tarde, cansada. Mas é o único momento, durante a semana, que posso estar com meus filhos. Por isso, sento para

Page 12: Jornal Cobaia 112

ram ao país somente neste ano. O primeiro deles foi Cavalo de Guerra, dia 6 de janeiro. Dirigido por Steven Spielberg, o longa-me-tragem sobre o cavalo que sobre-viveu à Primeira Guerra Mundial inteira, passando por diversos países, donos e conflitos, é uma verdadeira megalomania, reche-ada de clichês, sentimentalismo excessivo e falta de brutalidade. Como se trata de uma guerra, Spielberg poderia utilizar seus co-nhecimentos demonstrados em O Resgate do Soldado Ryan. No en-tanto, ele parte para o dramalhão, cenas edificantes, lições de moral, superação, pieguice, um pouco de sofrimento e uma trilha sonora que tenta comover o espectador a todo custo, mas falha.

12 JORNAL COBAIA Itajaí, abril de 2012 05JORNAL COBAIAItajaí, abril de 2012

Em território brasileiro virou costume levar meses para que um filme desembarque

por aqui. Os blockbusters, tam-bém conhecido como arrasa-quar-teirões, geralmente levam menos tempo. Em alguns casos, como o ainda inédito Os Vingadores, o longa-metragem chega até mes-mo antes. No Brasil, o longa chega às telas dia 27 de abril, enquanto, nos Estados Unidos, o mesmo co-meça a carreira uma semana de-pois, em maio. No entanto, filmes menores são colocados de lado e não têm a preferência das distri-buidoras.

Os filmes indicados ao Oscar, por exemplo, são aqueles que sofrem com isso. No Brasil, é de praxe lançar possíveis nomeados

Amantes da sétima arte disputam as cópias, em DVD, de filmes como A Árvore da Vida e Meia-Noite em Paris

A Invenção de Hugo Cabret e O Artista voltam no tempo e fazem justas homenagens aos gênios da ilusão nas telonas

Premiados do Oscar saem de cartaz e viram atração nas locadorasRodrigo Ramos*

mais perto da maior premiação do cinema, nos meses de janei-ro e fevereiro. É uma maneira de vender melhor o próprio peixe, é claro. Colocar no cartaz em letras garrafais douradas e em fonte 50 “vencedor do Globo de Ouro” e “indicado a xx Oscars” chama a atenção, mas incomoda aquele que acompanha o cinema com frequência e quer ver o mais breve possível películas premiadas e de grandes diretores.

O Oscar ocorreu. Os nove indi-cados à categoria de melhor filme encontram-se no circuito brasilei-ro ou, até mesmo, foram exibidos e saíram de cartaz. A Árvore da Vida e Meia-Noite em Paris, por exemplo, estão atualmente dis-poníveis para locação. O primeiro,

dirigido pelo mítico diretor Ter-rence Malick (ele fez apenas cin-co filmes em mais de 40 anos de carreira) tem Brad Pitt e Jessica Chestain como protagonistas. A película tenta conciliar a criação do mundo e a infância do persona-gem vivido por Sean Penn na fase adulta. Com uma montagem que pouco faz sentido, incluindo aí takes do big bang e dinossauros, A Árvore da Vida é um filme mais sensorial, experimental, do que um longa cheio de profundidade como Malick gostaria que fosse. Enquanto isso, Meia-Noite em Paris consegue agradar bem mais o espectador. Dirigido por Woody Allen, o longa levou pra casa o prê-mio de melhor roteiro original. Al-len, três vezes vencedor do Oscar,

não apareceu na festa mais uma vez. Mas tudo bem. O que conta é a história doce e os momentos deliciosos que esta obra nos pro-porciona. Nela, Gil (Owen Wil-son), escritor americano, amante de Paris e prestes a casar, viaja à capital francesa com a família de sua noiva (Rachel McAdams). Durante seus passeios noturnos, ele acaba sendo transportado à meia-noite para a Paris dos anos 20, onde encontra vários nomes da arte como F. Scott Fitzgerald, Gertrude Stein, Ernest Hemin-gway, Cole Porter, entre outros. Um verdadeiro sonho para quem é fascinado tanto pela cidade pa-risiense quanto a nostalgia da época em que não vivemos.

Os demais indicados chega-

Cinemato as que sonham em, um dia, serem corredoras profissionais ,quanto as que participam ape-nas porque gostam, enfrentam a mesma dificuldade: encontrar patrocínio. Francis Schweitzer, organizador da Copa Serra Li-toral e ex-piloto, garante que, para mulheres, mesmo com gran-de talento, é muito mais difícil conseguir patrocinadores. “É sempre minha corrida preferi-da, a categoria Batom. Elas são amigas, uma ajuda a outra. São guerreiras, porque, mesmo sem a experiência de um homem para consertar as motos ou um bom patrocinador para manter os me-lhores equipamentos, sempre fa-zem uma ótima corrida.”

Essa é a maior dificuldade que Julia vem enfrentando desde que começou a correr. Apesar das frequentes vitórias nas corridas, e de, no ano passado, ter venci-do o campeonato, ela ainda não conta com um patrocinador. No domingo, primeiro de abril, ela disputou a segunda etapa desta terceira edição da Copa Serra Li-toral, e, ainda este ano, compete no campeonato estadual de velo-cross. “É um passo enorme para quem não tem patrocinador ou qualquer outra ajuda, mas é isso que fazem os grandes vencedo-res: vencem os obstáculos.”

Com a convicção de que, cedo ou tarde, estará entre os gran-des, Julia Polmann continua se dedicando ao máximo à carreira que está só começando. Entre treinos, corridas e acampamen-tos, ela promete a si mesma que, um dia, será exemplo para ou-tras mulheres. “Algumas pessoas são boas com números, outras em construir coisas. Eu sou boa em pilotar motos, em correr. Por isso tenho que lutar para chegar aonde quero. Todos deviam lutar para alcançar seus sonhos”.

Pequena veloz

Categoria Batom Jovens encontram adrenalina e prazer...

Não é preciso ser muito ob-servador para notar a diferença dos pilotos da categoria 50 cilin-dradas. Cercados por seu grupo, seus fãs, pai, mãe, avós são todos muitos especiais. O uniforme de corrida, diferente dos outros corredores, é colorido e anima-do. No meio dos oito participan-tes, destaca-se a única menina, Maria Eduarda Bylaardt, com macacão preto de bolinhas cor

“Eu percebi que não poderia

fazer outra coisa na minha vida,

que eu tinha nascido para passar

pela chegada

Morgana Bressiani

Falta de patrocínio é a maior dificuldade enfrentada pelas meninas que amam o velocross

de rosa, e capacete enfeitado de inúmeras formas. A mãe e o pai são só sorrisos para a filha de apenas sete anos.

Dada a largada, Maria Edu-arda sorri para uma última foto antes de acelerar a moto, quase grande demais para que os pés alcancem o chão. E, então, vai. Lança-se na pista atrás de outros corredores mirins.

Filha de amantes de velo-

cross, ela cresceu em cima das motos, de acampamento em acampamento, de corrida em corrida. Parece conhecer cada curva da pista. A postura é de quem nasceu para correr. Pre-cisa apenas de duas voltas para chegar ao primeiro lugar, quando passa a faixa da chegada, levan-ta as mãos, sorri para as câmeras e faz pose de vencedora.

Maria Eduarda Bylaardt, sete

anos de idade, tem lama dos pés à cabeça. À vista apenas os olhos verdes e o sorriso enorme. Ain-da não sabe exatamente o que vai ser quando crescer, mas sabe o que vai ter: muitos troféus de todas as corridas que ainda pre-tende ganhar.

*Jornalismo, 7º período

Morgana Bressiani

Rodrigo Ramos

Page 13: Jornal Cobaia 112

04 JORNAL COBAIA Itajaí, abril de 2012 13JORNAL COBAIAItajaí, abril de 2012

CinemaAo longo de janeiro tivemos

outras estréias. Os Descenden-tes, vencedor do Oscar de me-lhor roteiro adaptado, é aquele representante simpático do ci-nema independente, meio indie, e que todo mundo gosta. George Clooney encabeça o elenco onde é um homem que encontra difi-culdades na vida a partir do mo-mento em que sua esposa sofre um grave acidente e ele precisa cuidar das duas filhas, enquanto descobre que foi traído. É agra-dável, redondinho, mas nada de-mais. Tão Forte e Tão Perto é o pior dos indicados, massacrado pela crítica mundo afora e que marcou presença na lista porque o diretor Stephen Daldry (de O Leitor e As Horas) é queridinho da Academia. No longa, um me-nino de 10 anos começa uma caça ao tesouro pela cidade de Nova York depois de achar uma chave dentro de um vaso de seu pai, fa-lecido recentemente no atentado ao World Trade Center.

Em fevereiro, Histórias Cru-zadas, vencedor do Oscar de me-lhor atriz coadjuvante (Octavia Spencer), mostrou que é possível fazer um filme sobre preconceito e uma das fases mais vergonho-sas da história dos Estados Uni-dos pegando leve e sem mostrar toda a crueldade da época. Lan-çado em terras estadunidenses em setembro, o longa dirigido por Tate Taylor acompanha a traje-tória de uma aspirante a repórter (Emma Stone) branca registran-do a vida de duas empregadas negras no estado de Jackson nos anos 60. Há clichês e momentos leves até demais numa sessão onde é melhor agradar o públi-co do que ser franco e contar as

atrocidades feitas naquela épo-ca. No entanto, o longa se salva pelas atuações acima da média de Spencer, Jessica Chestain e Viola Davis. Enquanto isso, O Homem Que Mudou o Jogo vale a pena ser assistido não apenas pelas boas atuações de Brad Pitt e Jonah Hill, mas também por ser um filme sobre beisebol que não é apenas sobre esporte, indo muito além disso.

No dia 10 de fevereiro, ape-sar de circuito restrito, entrou em cartaz O Artista, o grande vencedor deste Oscar (incluindo melhor filme, direção e ator). Por ser mudo, preto e branco, o longa só estreou no país por causa do favoritismo à premiação. O filme francês, dirigido por Michel Ha-zanavicius, volta no tempo lá no final da década de 20 para contar sobre o declínio de um ator (Jean Dujardin), representando a era do cinema mudo, e a ascensão de uma atriz (Bérenicé Bejo) na era do cinema falado. Uma bela homenagem ao passado, sem dúvida. Em contrapartida, Mar-tin Scorsese não homenageia apenas o passado, mas também aponta para o futuro com suas técnicas impecáveis e o 3D mui-to bem empregado. Em A Inven-ção de Hugo Cabret, o diretor conhecido por suas cenas anto-lógicas de violência crua e nua, cria uma obra delicada, cheia de sentimento e com fortes emo-ções. Voltando à Paris dos anos 30, a película acompanha Hugo (Asa Butterfield), um menino órfão que cuida dos relógios de uma estação de trem na capital francesa e busca consertar um robô deixado pelo pai. Nessa em-preitada, ele acaba conhecendo

Georges (Ben Kingsley), um ve-lhinho amargurado, dono de uma loja de brinquedos na estação.

Num apanhado geral, há três títulos aqui que têm uma coisa em comum: a paixão pela arte. A Invenção de Hugo Cabret, O Ar-tista e Meia-Noite em Paris vol-tam no tempo para as décadas de 20 e 30 para nos relembrar coi-sas que não vivemos. A parcela dos que viveram a juventude nos anos de 1920 não é muito expres-siva, afinal. Os longas-metragens contêm em si declarações de amor à arte e ao cinema. Meia-Noite em Paris homenageia tanto Paris, quanto a música, a litera-tura e o cinema. O Artista resga-ta os tempos áureos do cinema mudo e lembra clássicos como Cantando na Chuva e Crepús-culo dos Deuses. A Invenção de Hugo Cabret consegue desper-tar a paixão pela sétima arte em quem não a tinha ainda e reforça o amor que pessoas como eu já possuíam. Scorsese emociona ao exibir a obra de Georges Méliès, o primeiro cineasta da História, e mostra do que o cinema é feito. Além disso, Paris continua fas-cinante e poética aqui. O saudo-sismo do que não se viveu é uma forte marca destas três obras. Buscar inspiração no passado para criar novos trabalhos não é má ideia. O ar nostálgico pre-sente nos longas é de um charme irresistível, tornando impossível não ficar fascinado com o que se vê. Tudo isso é prova de que o cinema pode viver do simples, desde que tenha qualidade e co-ração, além de ser tratado como a bela arte que é.

Premiados do Oscar saem de cartaz e viram atração...

*Jornalismo, 5º período

Rodrigo Ramos

Salto alto, maquiagem, joias, produtos de beleza. Nada disso tem lugar entre as coi-

sas das meninas que competem a Copa Serra Litoral de Velocross. Ainda enlameadas, resultado do último treino da tarde, elas se reúnem na barraca de uma das corredoras para conversar, jogar baralho, trocar dicas sobre a cor-rida do dia seguinte. Essas mu-lheres estão mais interessadas na velocidade de suas motos ou em melhorar o tempo do percurso, do que em novelas e revistas. São mães, filhas, estudantes, traba-lhadoras de diversas áreas que, durante um final de semana por

Elas reúnem-se, uma vez ao mês, para conversar, rir e correr em meio à poeira e à lama, sobre motores de duas rodas

Jovens encontram adrenalina e prazer em pistas de velocross

Morgana Bressiani*

mês esquecem tudo e se tornam pilotos da categoria Batom, cate-goria dedicada só para elas.

No grande acampamento que se forma em torno da pista, onde se reúnem os mais de 270 corre-dores do campeonato e suas fa-mílias, não há espaço para luxos como água quente, televisão, ar condicionado, ou camas confor-táveis. Ninguém se importa mui-to com isso. O Campeonato que está em sua terceira edição, é feito de grandes amigos. Os cor-redores percorrem as barracas como se não houvessem barreiras ou adversários. Caminham de lá para cá, desejando sorte, ajudan-

do a consertar uma moto aqui e ali, dando e recebendo conselhos de como fazer uma boa corrida.

As corredoras, em sua maio-ria, antes acompanhavam pais, namorados, maridos e acabaram se apaixonando pelas pistas tam-bém. Como toda regra tem sua exceção, em alguns casos, é a corredora que move a família até a corrida. Esse é o caso de Julia Polmann. Caçula de dois irmãos, por mais bonecas que ganhasse nunca se interessava por elas. Queria estar sempre junto do ir-mão mais velho, Braian, subindo em árvores, fazendo trilhas no mato, acampando. Era sempre

Categoria Batom

Morgana Bressiani

As corredoras, em sua maioria, eram apenas acompanhantes de pais, namorados e maridos, antes delas se apaixonarem também pelo esporte

uma vitória quando a mãe a dei-xava jogar bola na rua até tarde. O amor pelas motos veio aos 13 anos, quando os irmãos ganha-ram motos de corrida de Natal. Para sua infelicidade, ganhou um computador. Dali em diante, passou a ajudar os irmãos a con-sertar as motos, depois de dispu-tar corridas que faziam entre si. E, se alguém perguntasse, se ela queria dar uma volta, ela estava sempre pronta.

“Eu nunca quis tanto uma coisa quanto aquelas motos. Fa-zia qualquer coisa para que um dos meus irmãos me deixasse dar uma volta.” A insistência com os

irmãos não passou batido aos olhos do pai, Junior Polmann, que, além de presenteá-la com uma moto, passou a incentivá-la a treinar e participar de torneios pequenos, em Urubici, onde mo-ravam na época.

Um ano depois, em sua pri-meira corrida, Julia competiu contra 20 homens adultos, não profissionais, mas com alguma experiência, largando na 16ª po-sição e chegando em primeiro lu-gar. A ideia de correr em um cam-peonato maior só veio quando o grupo, que corria na cidade, não aceitou mais as inscrições dela. Alegaram que a menina era boa demais para correr com amado-res, o que não dava chance para outra pessoa vencer.

Aos 15 anos, Julia participou da primeira Copa Serra Litoral, e logo se tornou a preferida nas categorias Batom, para meninas, e Junior, para qualquer piloto menor de 17 anos. “A primeira corrida que ganhei foi mágica. Eu percebi que não poderia fazer outra coisa na minha vida, que eu tinha nascido para passar pela chegada.”

Renata Vandresen, a assisten-te social, amiga de Julia e tam-bém corredora, está acostumada com o terceiro lugar. Para ela, o velocross é uma distração para a correria do dia a dia. “É como uma válvula de escape. Uma vez por mês, eu venho até as pistas e esqueço de todo o resto. Só eu, a moto e a pista... E as outras cor-redoras, claro”.

As meninas do velocross, tan-

Thayse Gioppo*

A vida inteira você aprende uma série de regras sociais. En-sinaram a você, também, uma gama de coisas que não po-deria fazer e, por vezes, nem pensar. Um exemplo clássico

seriam os 10 mandamentos. Eles são a união de uma receita que funciona há muitos (muitos) anos. Ali está o poder da palavra bíblica e de um deus inquestionável. Não dizer o nome de Deus em vão, não cobiçar a casa, a mulher, nem servo, nem serva, nem boi, nem nada do próximo, e segue. A partir daí, por consequên-cia, vem o pecado e inúmeras outras questões que não cabem aqui.

A maioria aprende os mandamentos na catequese. São qua-tro anos de aprendizado, pelo menos, na Igreja Católica, sobre os feitos divinos e apostólicos, sobre como ajudar o próximo e ir à missa toda semana. A intenção passa longe de uma generali-zação, mas, salvo algumas exceções, não houve espaço durante anos de vida para questionar. Seja na catequese ou na escola. Se aquilo era correto ou não. Portanto, a religião só serve como um exemplo daquilo que pode ser verdade, ou não.

No entanto, para uns mais cedo, para outros mais tarde, ou para alguns que nunca vão pensar, chega a hora de se perguntar. E, então, vem a Internet com recursos infindáveis, que a, todo segundo, aparece com uma novidade e que, em um instante, num clique, pode destruir um conceito de uma vida inteira. Nes-se momento, vem um monte de perguntas. Será isso mesmo? Você toma conhecimento que há pessoas que não acreditam em Deus. Que seus pais são pessoas como você. Que as pessoas mentem, roubam, cobiçam e que o seu vizinho, casado há 20 anos com uma mulher, tem um amante.

Como dito anteriormente, cedo ou tarde, pode ser com 10, 15, 20 anos, mas alguns vão pensar nisso. Uns vão continuar como antes, seguindo na linha, sendo “normais”. Os outros vão se virar contra o sistema e viver ao contrário do “normal”. Por anos ou pela vida toda, ser contra é motivo de orgulho. Alguns se sentem superiores e fazem questão de anunciar. “Oi, meu nome é fulano e eu não acredito em Deus”; “Oi, meu nome é cicrano e reprovo toda a cultura de massa”.

Torna-se até divertido contestar a tudo e a todos, gerar dis-cussões, fazer com que os outros façam para si as mesmas per-guntas que você fez. O desejo é de mudar o pensamento de cada um que se opõe, porque, na sua cabeça, o correto é o pensamen-to contestador. Isso não é um erro. Isso é bom. Não aceitar tudo de maneira fácil. Avaliar o que é bom e o que ruim. Só que chega uma etapa em que sua diferença é igual a de tantos outros, que a anunciação se torna sem graça, pois o que você descobriu de novo já é velho pra muita gente.

Um verbo deveria começar a fazer parte de sua vida: respei-tar. “Ah! Respeito, óbvio, tenho por cada um”. Mas tem quem vai passar a vida toda buscando alguém que considere inferior para despejar sua “diferença”, enquanto o ouvinte deve estar apenas respeitando.

*Jornalismo, 7º período

Crônica

“Você toma conhecimento que [...] seu vizinho, casadohá 20 anos com uma mulher, tem um amante

Respeito é bom etodo mundo gosta

Você escreve crônicas e quer participar deste espaço?Entre em contato com a gente!E-mail: [email protected]

Rodrigo Ramos

Page 14: Jornal Cobaia 112

www.volvooceanraceitajai.com/programacao.

14 JORNAL COBAIA Itajaí, abril de 2012 03JORNAL COBAIAItajaí, abril de 2012

Volvo Ocean Race

O Viva Voz, programa de en-trevistas diário da Rádio e TV Univali, agora conta

com uma novidade: o Viva Voz Opinião. Toda quinta-feira, um time de especialistas na área das Ciências Sociais opina sobre os assuntos que foram destaque no noticiário durante a semana. No programa de estreia da nova pro-posta, os professores Flávio Ra-mos, Osmundo Saraiva Jr. e Sér-gio Saturnino Januário deram o tom da conversa. Na semana se-guinte, foi a vez das professoras Ediene do Amaral Ferreira, Laura

Guitarrista da banda Dazaranha, Moriel Costaparticipa do programa Pirão Catarina

Parada em Itajaí da Volvo Ocean Race agita a economia e o turismo da cidade e região

Sucesso de públicona Vila da Regata

As aventuras do mané Darci e surf music

Em pauta

Viva Voz Opinião estreia na programaçãoda Rádio e TV UnivaliCamila Maurer*

Canais de comunicação do VV:Blog | vivavozunivali.wordpress.comTwitter | @vivavozunivaliFacebook | facebook.com/vivavozunivaliE-mail | [email protected]

Seligman e Vera Sommer comen-tarem os assuntos do momento.

No ar desde 2007, o Viva Voz atingiu, em março, a marca de 800 edições. Já são quase cinco anos de história e mais de 400 ho-ras no ar. O programa, que vai ao ar diariamente pela Rádio e TV Univali, é produzido pelos aca-dêmicos do curso de Jornalismo, sob a supervisão do professor Carlos Praxedes.

No Viva Voz, os estudantes têm a oportunidade de apren-der, na prática, como funciona a produção de um programa jor-

nalístico de rádio. A elaboração das pautas, a seleção de fontes, a produção de roteiros, a apresen-tação do programa e até mesmo a operação técnica ficam a cargo dos acadêmicos, que podem in-gressar no projeto em qualquer período do curso.

O Viva Voz vai ao ar diaria-mente, às 13h30, pela Univali FM 94,9 MHz e pela TV Univali, canal 26 da TV a cabo em Itajaí. Na TV Univali, o programa é reapresen-tado às 20h30.

*Jornalismo, 7º período

Mais espaço na TV Univali para os acadêmicos daComunicação Social

Dois programas exibidos atualmente na TV Univali são produzidos pelo Núcleo de TV dos Cursos de Comunica-ção Social da Univali (Jornalismo, Publicidade e Relações

Públicas). O Casulo, mais voltado às questões sociais, trabalha com temas nas áreas de Educação, Cidadania e Meio Ambiente, enquanto o Olhares Múltiplos foca nas tendências dos setores de Moda, Comportamento, Mundo virtual, entre outros. A proposta é expor o que há de novo na chamada sociedade pós-moderna.

Olhares Múltiplos e Casulo vivem momentos diferentes. O Olhares está numa fase de consolidação. “É uma revista de va-riedades que procura entreter e dar informação numa linguagem jovem”, explica o professor Carlos Golembiewski, integrante do grupo de professores do Núcleo. “Nossas pautas sempre buscam o novo, o diferente”, exalta a professora Cristiane Riffel, coorde-nadora geral do Núcleo. No momento, o programa é apresentado pelos estudantes Laís Lara (Publicidade e Propaganda) e Thiago Avi (Relações Públicas). Para Laís, 20 anos, que está no 5º perío-do de PP, trabalhar no programa está sendo uma experiência aci-ma do esperado: “Aqui aprendi a fazer reportagem e a editar”.

Já o programa Casulo será apresentado na rua, de preferência, em locações que se identificam com os temas das reportagens. Nessa nova fase, será apresentado pelos acadêmicos Henrique Flores e Letícia Dias, ambos do Curso de Jornalismo da Univa-li. “No Casulo, eu entro em contato com as fontes e desenvolvo meu espírito crítico, algo fundamental na carreira de jornalista”, observa Letícia Dias, 20 anos. O programa de estreia será sobre o Meio Ambiente, com três reportagens e uma entrevista. Um delas abordará as pesquisas científicas feitas pelos professores da própria Univali.

Para produzir os dois programas semanais, o Núcleo de TV conta com seis bolsistas, sendo dois de cada curso, além de alu-nos voluntários selecionados para trabalhar. O calouro de PP Lu-cas Batista, 18 anos, está há duas semanas no Núcleo: “Tá bem legal. Comecei a trabalhar sem perder tempo. Eu estou na área de que gosto”. Pricilla Vargas, 18 anos, diz que está sendo ótima a experiência: “O olhar sustentável me ampliou a visão fechada que tinha do Jornalismo.” A professora Ediene Ferreira afirma que os dois programas permitem aos alunos experimentarem no-vas linguagens televisivas. O Casulo e o Olhares Múltiplos vão ao ar na TV Univali, canal 26 da Via Cabo TV em Itajaí, aos domin-gos, respectivamente, às 20h e às 20h30.

Da redação

Festival de Música na ondada Volvo Ocean Race

Talvez você não conheça mui-to bem Moriel Costa, mas o trabalho dele tem merecido

atenção no universo da música. Ele é guitarrista solo da banda Dazaranha, referência no cená-rio do rock catarinense, que está perto de completar 20 anos de es-trada, tem cinco discos lançados e está com o sexto em produção num dos estúdios mais concei-tuados da região – o R3. Parale-lamente, Moriel, em seu próprio estúdio, finaliza a gravação, a mi-xagem e a produção de seu pri-meiro disco solo “Pra começar”.

Mostrando suas composições e tocando em uma levada surf music, ele não está sozinho nessa. Parceiros antigos e companheiros da banda Dazaranha participam do CD, além de convidados espe-ciais, tais como o cantor Arman-dinho e o surfista-músico Teco

Mais de oito mil pessoas vi-sitaram a Vila da Regata na tarde desse domingo

de Páscoa. Uma mostra do su-cesso da etapa sul-americana da Volvo Ocean Race (VOR), que movimenta a economia e o turis-mo de Itajaí e região. De acordo com organizadores do evento, já na Sexta Santa, 35 mil pessoas recepcionaram os barcos Puma e Telefónica, que chegaram da Nova Zelândia. Essa é considera-da a segunda maior marca de pú-blico aguardando as embarcações em toda a história. A melhor foi no mês passado, em Auckland, a chamada Cidade das Velas, onde registraram a presença de 47 mil visitantes.

São 18 dias com diversas atra-ções gratuitas para moradores da Itajaí, turistas e participantes de regata. Para abrigar o evento, que começou no dia 4 de abril e seguirá até o dia 22, uma estru-tura especial foi montada por mil funcionários. Este contingente asfaltou a área, construiu o píer, o auditório e ainda trabalhou na acústica do Centreventos, pre-parando o paisagismo, a ilumina-ção e a eletricidade na Vila, que comporta a estrutura padrão da Regata Internacional feita de contêineres. A Prefeitura e o

A Fundação Cultural, em par-ceria com o Conservatório de Música Popular, inova

este ano e produz o Festival de Música em paralelo à regata Vol-vo Ocean Race. Considerado o maior evento de gênero musical do estado e um dos maiores no país, acontece agora em abril jus-tamente para se projetar interna-cionalmente.

A 15ª edição oferece 36 opções de oficinas, com 800 vagas para aperfeiçoamento musical. Há 14 anos, as oficinas focavam apenas no vocal e instrumental dos mú-sicos, mas agora estão mais am-plas e abrangem a parte empre-

Bianca Escrich*

Maria Isabel Schauffert*

Da redação*

*Jornalismo, 7ª período

Padaratz. Moriel Costa não para por aí. Também tem uma gra-vadora, a Muruca Records, que apoia artistas catarinenses.

Provavelmente, você conheça “Darci e suas aventuras”, manezi-nho de Florianópolis bem conhe-cido na região e que anda fazen-do sucesso pelo Estado. O alter ego de Moriel é um caricato do morador da ilha, com linguagem e sotaque bem manezeis, cheio de causos bastante irreverentes para contar ao público. A fala rá-pida e, às vezes, incompreensível retrata um cotidiano quase fiel à realidade de quem vive no lito-ral catarinense. “As pessoas se identificam e sabem do que estou falando. Por isso, torna-se tão en-graçado. Esse personagem não ofende, apenas mostra a cultura regional e faz as pessoas felizes. Eu gosto de fazer as pessoas fe-

lizes, cantando, tocando ou mes-mo sendo o Darci”.

Moriel apresentou as aventu-ras de Darci recentemente no Te-atro Municipal de Itajaí, onde fal-tou cadeira para tanta gente que queria ver de perto essa figura. Interagindo com o público, mos-trou que tem um trabalho notá-vel também como ator, com ex-celente domínio de palco, timing e técnica vocal, mesmo nunca tendo tido outras passagens pelo teatro. “Nunca fiz teatro. O Dar-ci começou como spot na Rádio Atlântida e nunca mais parou. As pessoas queriam conhecer ele. Daí, surgiu a ideia do meu pro-dutor, Hildo Rocha, de começar a fazer um stand up, e deu certo.” E como deu né nego!

Dia 12 – Paralamas do SucessoAbertura Festival de MúsicaLocal: Vila da Regata – 20h30Entrada franca

Dia 13 – Nando Reis e Os InfernaisLocal: Vila da Regata – 20h30Entrada franca

Dia 14 – Cidade NegraLocal: Vila da Regata – 20h30Entrada franca

Dia 15 – Família CaymmiLocal: Vila da Regata – 19hEntrada franca

Dia 16 – Alessando Penezzi & Alexandre Ribeiro Festival de MúsicaAbertura: PERCUSAX QuintetoLocal: Teatro Municipal de Itajaí – 21hR$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia)

Porto ficaram responsáveis pela colocação de placas de direcio-namento, novas calçadas e ilumi-nação, dando à cidade uma cara nova e moderna.

Realizada a cada três anos, a VOR conta com velejadores de diversos lugares do mundo que aceitam o desafio de competir no mar durante quase nove meses, até o destino final, Galway, na Ir-landa, em 8 de julho de 2012. A regata passa por 10 países dife-rentes e em sua equipe há ex-ve-lejadores, operários, voluntários, e expositores.

Rota pelo mundo: a compe-tição mais longa do mundo tem um total de 39.270 milhas náuti-cas, que correspondem a 72.728 quilômetros. Os velejadores cru-zam os quatro oceanos (Atlânti-co, Pacífico, Índico e Antártico), passando por cinco continentes (Europa, Ásia, África, América do Sul e Oceania): Alicante (Es-panha) - Cidade do Cabo (África do Sul) - Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos) - Sanya (China) - Auckland (Nova Zelândia) - Ita-jaí (Brasil) - Miami (Estados Uni-dos) - Lisboa (Portugal) - Lorient (França) - Galway (Irlanda).

Fique ligado: o evento oferece à população atividades gratui-tas: shows nacionais, cinema 3D,

apresentação de festas locais, palestras com convidados espe-ciais, Náutica Show, orquestra sinfônica, visitas monitoradas e

muito mais. A Vila da Regata e o Centreventos recepcionam todas as atividades.

Mais informações: http://

sarial. Permitem, por exemplo, que os interessados aprendam a comercializar suas músicas.

Haverá também cinco shows nacionais, com a abertura e o encerramento com entrada fran-ca na Vila da Regata. As outras apresentações estão progra-madas no Teatro Municipal de Itajaí, com ingressos a R$30,00 (inteira) e R$15,00 (meia). Para fazer inscrição nas oficinas e ob-ter mais informação, basta aces-sar o site http://festivaldemusi-ca.itajai.sc.gov.br.

*Colaboração de Maiara Moura,Relações Públicas, 7º período

*Jornalismo, 2º período

Dia 17 – Azymuth & Hélio DelmiroFestival de MúsicaAbertura: Ricardo Capraro e GrupoLocal: Teatro Municipal de Itajaí – 21hR$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia)

Dia 18 – Kleiton & Kledir (Festival de Música)Abertura: Semba TrioLocal: Teatro Municipal de Itajaí – 21hR$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia)

Dia 19 – Mart’náliaEncerramento do Festival de MúsicaLocal: Vila da Regata – 20h30Entrada franca

Dia 20 – Jorge AragãoLocal: Vila da Regata – 20h30Entrada franca

Dia 21 – Dudu NobreLocal: Vila da Regata – 20h30Entrada franca

Dia 22 – OlodumLocal: Praia do Atalaia/ Molhe – 11 horasEntrada franca

Programação completa:

Carlos Golembiewski

Emily Kelle do Prado

Divulgação

Público recorde, de 35 mil pessoas, recepcionou os primeiros barcos da etapa em Itajaí

Os estagiários Lucas Batista, Henrique Flores, Thiago Avi e Caroline Milani realizam suas tarefas

Page 15: Jornal Cobaia 112

“Ele chega às mãos

de você com inúmeras

mudanças no projeto

gráfico

De cara nova em 2012Vera Sommer*

Eis, finalmente, a primeira edição do jornal laboratório em 2012. Ele chega às mãos

de você, caro leitor, com inúme-ras mudanças. Uma das mais evidentes diz respeito ao proje-to gráfico, sob a responsabilida-de da estagiária Raquel da Cruz e minha coordenação. E conta com a ajuda da equipe de profes-sores e alunos da IN – Agência Integrada de Comunicação. Este Cobaia circula com matérias so-bre a vida na Univali e fora dela, enfocando questões de interesse das comunidades local e regional no Vale do Itajaí.

Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, dia 8 de março, esta edição traz uma entrevista, em formato pingue-pongue (pergunta-resposta), com a juíza Sônia Moroso, da 1ª Vara Criminal da Comarca de Itajaí. Personalidade feminina de destaque tanto no comba-te à violência e aos maus tratos

Aquele que procura e a difícil tarefa de apreender o mundo

Jane Cardozo da Silveira*

Itajaí, março de 2012. Distribuição gratuitaIN - Agência Integrada de Comunicação

EDIÇÃOVera Sommer Reg. Prof. 5054 MTb/RS

FOTO PRINCIPAL DE CAPA Ieda FunariPROJETO GRÁFICO Raquel da CruzDIAGRAMAÇÃO Raquel da CruzGRÁFICA GrafinorteTIRAGEM 2 mil exemplaresDISTRIBUIÇÃO Nacional

02 JORNAL COBAIA Itajaí, abril de 2012

cometidos contra a mulher e a criança quanto na luta pelo di-reito de qualquer ser humano à felicidade. Outra reportagem especial reflete sobre a realidade da mulher catarinense no século Nada é mais desconhecido que o tempo presente. O passado é

o já visto e, portanto, têm-se elementos para avaliá-lo, virá-lo pelo avesso, entendê-lo. O futuro é o presumível: pretendido

ou temido, admite-se ignorá-lo. Agora, o presente, este é o que nos interroga em busca de respostas imediatas. Quer-se dar a conhecer e é nossa obrigação – a dos jornalistas – atendê-lo em sua urgência. Aí reside o problema de narrar o que se desenrola: temos de fazê-lo no calor do acontecimento, tentando seguir o curso das coisas, en-quanto a poeira nos vela os olhos e cuida para manter indefinidos os contornos.

Pensando sob esse prisma, fica mais fácil entender por que nós jornalistas erramos tanto. Ou, para fazer justiça à categoria, melhor dizer: por que acabamos sendo acusados de tantos erros. Ora, somos obrigados a trabalhar com uma realidade complexa, cheia de nuances e entrelinhas, filigranas, detalhes, elos frágeis da corrente de sentidos que precisamos tecer, mas que de repente se rompem.

E lá vamos nós, entre erros e acertos, tropeços e saltos, contan-do histórias sobre as quais se espera que lancemos luzes. Mais que isso, exige-se que nós transformemos um emaranhado de fatos em narrativas compreensíveis.

Diante de tão complexa empreitada, é natural irmos buscar apoio entre os pares. Foi com essa intenção que se criou a figura do ombudsman. O termo é um estrangeirismo que remete ao “homem que procura”, ou aquele que analisa e avalia as matérias acolhendo elogios e críticas e encaminhando sugestões de melhoria à equipe do jornal.

É isso que a coluna passará a fazer a partir da próxima edição do Cobaia. Muito embora nesses tempos pós-modernos não é obri-gatório nem necessário que a procura seja feita por um homem.

A exemplo do que acreditava Bertrand, espera-se que o traba-lho motive nossos acadêmicos a apurar as técnicas, afinar os senti-dos, apreender o mundo.

*Jane Cardozo da Silveira é jornalista. Formada há 28 anos,está no Curso de Jornalismo da Univali desde 1994.

15JORNAL COBAIAItajaí, abril de 2012

XXI: branca, urbana e assala-riada na busca por oportuni-dade profissional e realização pessoal.

Este Cobaia também apre-senta a Volvo Ocean Race, etapa latina da maior regata do mundo, que movimenta a economia e o turismo na ci-dade até 22 de abril; e desta-ca o Festival de Música, que estreia no dia 12 com show gratuito do Paralamas do Su-cesso, e segue até dia 19 com a presença de vários artistas locais e nacionais. Além dis-so, na coluna Agenda, infor-ma sobre outros espetáculos culturais na região.

Boa leitura, caro leitor, e até a próxima edição!

*EditoraReg. Prof. 5054 MTb/RS

Ombudsman

Expediente

Espaço do Leitor

JORNAL LABORATÓRIO DO CURSODE JORNALISMO DA UNIVALI

Fica esperto!

Campanha na Univali conscientiza sobre a violência contra a mulher

Homenagem da Imprensa àjornalista Mônica Waldvogel

Prêmio ACIF de Jornalismo

Seminário de Propaganda em SCQuem circula pelos blocos da

Comunicação, da Univali, apren-de uma conjugação diferente do verbo amar: “Eu cuido, tu cui-das, ele cuida... Todos cuidam”. A ideia, divulgada na forma de cartazes, faz parte de uma cam-panha interdisciplinar sobre a violência contra a mulher.

Iniciativa de um grupo de alunos dos cursos de Relações Públicas, Jornalismo e Publicidade e Propaganda. Para Isadora Dutra, uma das envolvidas no projeto, “apesar das inúme-ras iniciativas nesse sentido, a violência sofrida pe-las mulheres ainda é muito grande”. O número para fazer denúncias é 181.

A oitava edição do Troféu Mulher Imprensa destaca Miriam Leitão, do jornal O Globo, como recordista de premiações, superando a marca de Lucia Hippolito, cinco vezes vencedora na catego-ria ‘Comentarista/Colunista de Rádio’. Destacam-se também Monalisa Perrone e Tatiana Vascon-cellos, que mantêm, respectivamente, a liderança nas categorias ‘Repórter de Telejornal’ e ‘Âncora de Rádio’ desde a sexta edição do prêmio. Daniela Pinheiro conquista o título de bicampeã, também vencedora da quarta edição, na categoria ‘Repór-ter de Jornal ou Revista’.

Já a jornalista Mônica Waldvogel recebe ho-menagem especial com o Troféu Mulher Impren-sa de Contribuição ao Jornalismo, pelo trabalho desenvolvido ao longo de sua carreira. Aliás, ela é a principal entrevistada da revista Imprensa de março de 2012, em que conta, por exemplo, para a gerente de jornalismo Thaís Naldoni e a Denise Bonfim, que: “Se não tiver aquele caderninho na frente, tenho a sensação de nudez, de estar des-preparada. Acho que essa é a sensação de foca que se recusa a morrer dentro de mim”.

Jornalistas profissionais interessados em participar da segunda edição do Prê-mio ACIF de Jornalismo têm até o dia 6 de abril para se inscreverem. Este Prêmio vai destacar as melhores matérias sobre Negócios e Associativismo e Par-ticipação em Florianópolis. Para concorrer, devem acessar o novo portal da entidade, www.acif.org.br, realizar a inscrição e, conforme orientação, cadas-trar as matérias – no máximo duas de sua autoria. Os originais devem ser enviados pelos Correios ou entregues na sede da ACIF, até a data final para inscrições.

Só poderão participar profissionais com regis-tro e as matérias em todas as categorias devem ter sido veiculadas no período entre 28 de novem-bro de 2011 a 6 de abril de 2012. Os vencedores vão ganhar laptops e o Prêmio Especial levará R$ 5 mil em dinheiro. Todos os finalistas também irão rece-ber assinatura semestral da Revista Líder Capital, publicação institucional da entidade. O Prêmio ACIF de Jornalismo tem apoio da Associação Ca-tarinense de Imprensa (ACI), do Núcleo de Mídia Regional da ACIF, da Associação Catarinense de Emissoras de Rádio e Televisão (Acaert), da Asso-ciação dos Diários do Interior (ADI) e da Associa-ção dos Jornais do Interior (Adjori).

A Univali é uma das oito instituições que confir-maram sua contribuição ao Seminário Catarinense de Propaganda a ser realizado em novembro próxi-mo, em Florianópolis. Univali, Anhanguera/Uniban, Assesc, Estácio de Sá, Furb, Uniasselvi, Unidavi e Unisul apoiam a iniciativa divulgando o evento jun-to aos alunos e indicando de professores para avalia-ção dos trabalhos selecionados.

O professor Marcelo Juchem representa a Uni-vali, enquanto os professores Rafael José Bona e Elói Simões, respectivamente, a Furb e a Unisul. O grupo de revisores será definido até o final de abril, e os trabalhos poderão ser inscritos até agosto.

Tem algum assunto que você gostariade ler nas próximas edições?Conte-nos! E-mail: [email protected]

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Ingressos de Maca em Floripa

Estão praticamente esgotados os ingressos para o show de Paul McCartney On The Run a ser realizado no dia 25 de abril na Ressacada, em Florianópolis. Interessados em mais informações a respeito podem acessar o site www.diario.com.br/paulemflori-pa, atualizado por um grupo de jornalistas do Diário Catarinense. O hotsite foi criado especialmente para o evento e conta com re-portagens, vídeos, fotos, infográficos e tudo sobre o show (venda de ingressos, dicas de segurança e de como chegar ao local), in-cluindo a vida e a obra do beatle. O evento é uma promoção do Grupo RBS.

Bonecos de luva em Itajaí

Para quem curte teatro experimental, o projeto Com a Mão na Luva faz várias apresentações gratuitas entre os dias 11 e 14 de abril aqui em Itajaí. O grupo encena uma coletânea de textos de Guaira Castilla, através do teatro de bonecos de luva. Mãos ao Alto – um assalto ao riso é o mais recente trabalho cênico dos manipuladores Alex de Souza, Carlos Valle, Caroline Holan-da, Fernando Honorato, Ingrid Ferreira, Karin Romano, Laura Correa, Luana Pereira, Lucas Góis e Telja Rebelatto, com dire-ção de Guilherme Peixoto; textos de Guaira Castilla; produção de Mônica Longo; arte gráfica de Mariana Baldaia; e sonoplastia de Bianca Ramos.

As apresentações acontecem no dia 11 de abril, às 10h e 14h, na Escola João Paulo II; e às 20h, na Escola Pedro Rizzi; no dia 12 de abril, às 10h e às 16h, na Escola Antônio Barros; e às 20h, na Biblioteca Central da Univali; no dia 13 de abril, às 10h e às 13h, na Escola Pedro Baron; e às 18h, no Centro de Economia Solidária; e ainda no dia 14 de abril, às 20h, no Auditório da Pre-feitura Municipal de Itajaí. Entrada fraca para o público.

Concurso de rainha da 12ª Fenapi em Piçarras

Começam os preparativos para a 12ª Feira de Negócios e Atrações de Balneário Piçarras, a Fenapi, que acontece em ju-lho. E as candidatas a representantes do maior evento da cidade já podem se preparar para o concurso de rainha e princesas da festa programado para maio. A Secretaria de Turismo, Cultura e Esporte (Setuce) recebe as inscrições para o desfile pelo site www.fenapi.net ou na Casa do Turista, no trevo de acesso prin-cipal da cidade, na Avenida Getúlio Vargas. Para mais informa-ções sobre o concurso de escolha da rainha da 12º Fenapi, as in-teressadas podem entrar em contato com a Setuce no telefone 47 3345 3603 ou e-mail [email protected].

*Colaboração de Paula Wendt,Publicidade e Propaganda,7º período

O publicitário João Paulo Cavalcanti, um dos sócios fundadores da agência

BOX 1824, está confirmado como palestrante de Olhares Múltiplos, a ser realizado no final de maio próximo, nos campi de Itajaí, Balneário Camboriú e Ilha (Flo-rianópolis) da Univali. Verdadeiro visionário, ele analisa tendências e possíveis mercados inexplora-dos, procurando detectar o que as pessoas pensam e desejam ao redor do mundo. Atende clientes como Nike, Pepsi, Nokia e Itaú e desenvolve pesquisas sobre o que será novo antes de se tornar rea-lidade.

Olhares Múltiplos 2012 acon-tecerá nos dias 29, 30 e 31 de maio, e contará com a presença de Martha Gabriel, professora de marketing mais influente na rede social Twitter. Considerada uma das 10 profissionais mais inova-doras, trará ao evento seu conhe-cimento sobre marketing digital, após ter publicado três livros sobre o assunto, tendo recebido o prêmio de melhor palestra em congressos internacionais.

Outra atração é o CEO da agência Gaia Creative. Gil Girar-

O publicitário da Agência BOX 1824 confirma presença nesta edição do evento

João Paulo Cavalcantiprofere palestra na Univali

Da redação*

delli implementa mídias sociais, economia colaborativa e gestão do conhecimento em grandes

Arquivo Univali

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Olhares MúltiplosEditorial

Encontro de Mulheres Parlamentares em Itapema

Estão abertas as inscrições para o 3º Encontro de Mulheres Parlamentares de Santa Catarina, que acontecerá nos dias 19 e 20 de abril, no Auditório da Câmara de Vereadores de Itapema. O curso terá carga horária de 20 horas e será ministrado por Selma Westphal e Leila Ferreira, com a participação de deputadas de Santa Catarina. O objetivo é discutir os desafios e as estratégicas de participação e atuação política feminina nos municípios de Santa Catarina. Este encontro está aberto para parlamentares, prefeitos e prefeitas, vice-prefeitos e vice-prefeitas, vereadores e vereadoras, servidores de câmaras, educadoras, pesquisadoras, agentes comunitárias, representantes de classes e demais cida-dãos interessados. Vale lembrar que a entrada é franca, mas as vagas são limitadas. Informações e inscrições no site da Escola do Legislativo http://www.alesc.sc.gov.br/escola.

empresas e fundações do ce-nário brasileiro, aplica pales-tras para grandes corporações como a Câmara de Deputados, Rede Globo, VIVO, entre ou-tras. Christian Barbosa, maior especialista no tema Produ-tividade e Gerenciamento de tempo, fará sua apresentação Jovens de Resultado – Gestão de Tempo.

Olhares Múltiplos é desti-nado a alunos, docentes e co-munidade em geral da Univali que desejem participar das pa-lestras e das arenas que serão distribuídas ao longo dos três dias do evento. As arenas se-rão divididas em temas como: Social, Tecnologia, Criativi-dade, Tendência e Mercado. Para obter mais informações sobre o evento, acesse: www.olharesmultiplos.com.br ou e-mail para [email protected]. Confira a progra-mação e selecione os temas que mais lhe interessam para se inscrever.

No ano passado, as oficinas do Olhares Múliplos chamaram a atenção das comunidades acadêmica e local

Divulgação

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Page 16: Jornal Cobaia 112

Aquele que procura e a difícil tarefa de apreender o mundo

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Jovens em pistas de velocrossItaipava preserva história do tremUma vez ao mês, elas se reúnem para conversar, rir e correr, em meio à poeira e à lama, sobre motores de duas rodas

Documentos sobre a linha férrea, que partia de Itajaí e subia o Vale, estão reunidos no Museu Etno-Arqueológico da Estação Vereza

MemóriaPingue-pongue

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Categoria Batom

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JORNAL LABORATÓRIO DOCURSO DE JORNALISMODA UNIVALIItajaí, abril de 2012Edição 112Gratuito

Ombudsman

Disputa pelobem do mar

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Tradição, cultura e sustentabilidade marcam a história de Bombinhas, antiga vila de pescadores no litoral catarinense

CobaiaJorn

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A corrida de canoas de um pau só tem a intenção de preservar e difundir as em-

barcações feitas de tronco da ár-vore garapuvu, além de reunir as regiões que cultivam o hábito da pesca artesanal. Na mais recente competição, participam nove ca-noas de quatro remos, sete cano-as de dois remos feminino, sete canoas de dois remos masculino, sendo uma canoa do Pântano do Sul, de Florianópolis, uma de Ga-ropaba e outra de Itajaí. Também há dois caícos e dez caiaques.

Essa tradição remonta às ori-gens dos pescadores, e a preser-vação é essencial, de acordo com o prefeito Manoel Marcílio dos Santos, Seu Manéca. O pescador, hoteleiro e ex-prefeito Claudio-nor Pinheiro (Kanô) conta ser dono de uma canoa de garapuvu, a Aventureira, de aproximada-mente 200 anos. Ela se encontra no rancho da família e vai para as águas translúcidas da Sepultura e do Retiro dos Padres a partir de maio. Explica que a maioria é centenária e carinhosamente cui-dada por seus donos. E a dele, na realidade, pertence ao pai (Seu Naro - Carlos Adrião Pinheiro), de 87 anos, que, por sua vez, her-dou do pai. É um grande amor e um capítulo à parte da vida do Seu Naro, o pescador da Praia da

Canoas de um pau sódisputam a beleza do mar

Tradição, cultura e sustentabilidade marcam a história de Bombinhas, antiga vila de pescadores no litoral catarinense

Márcia Cristina Ferreira*

Sepultura. A pesca e a canoa divi-dem seu coração com Dona Lira (Maria Idia Mafra), sua esposa, que fala: “A gente vive muito en-raizado aqui. As nossas raízes são profundas”.

Apesar de os troncos da ma-deira garapuvu, cedro, peroba ou figueira serem frágeis ao tem-po, nas canoas, perduram por gerações de pescadores. Nor-malmente, a canoa é repassada de pai para filho. Na região de Bombinhas, diferentemente da Lagoa da Conceição e do Pânta-no do Sul, em Florianópolis, não há sequer um artesão que pre-serva a arte de esculpir este tipo de canoa.

FestividadesO 7º Festival de Embarcações

Catarinense e o 12º Municipal são realizados em comemoração ao aniversário de Bombinhas, que este ano completa 20 anos de existência. Uma corrida de canoas de um pau só, utilizadas na pesca da tainha nos meses de maio a julho. A competição tem três ca-tegorias: dois remos masculino, dois remos feminino e quatro re-mos masculino. Também é reali-zada a de caíco (bateira, pequena embarcação para duas pessoas feita de pranchas de madeira) e caiaque no adulto e infantil até

12 anos. Uma promoção conjunta entre a Fundação de Cultura e a iniciativa privada.

Sentada na barraca da orga-nização, Dona Tina (Leontina Crescêncio da Silva) de 84 anos, vem dos Ingleses para ver o neto Vinícius Pinheiro, remador da Bela Vista de Bombinhas, che-gar três segundos atrás da Nossa Senhora Aparecida de Bombas. A Bela Vista é a antiga Afrodite, três vezes campeã na competição de dois remos. Neste ano, traz como patrão um personagem lendário da península, o Capela (José Bento) que, após superar sua guerra interna contra o alco-olismo, volta às origens.

Além do patrão, a tripulação é composta de dois ou quatro re-meiros, conforme a categoria da canoa. Na competição feminina, um homem ajuda em caso de emergência. Mas remar é respon-sabilidade das, nem um pouco, frágeis e incansáveis mulheres e filhas de pescadores envolvidas na disputa. A ganhadora na cate-goria feminina é Samaria de Zim-bros (uma das praias de Bombi-nhas), com a patroa Marivone e as remeiras Alessandra e Durcelí, da família Serpa.

Elmir Eupídio Correia (Seu Didi), remeiro do Pântano do Sul, vem todos os anos, mas, nes-

te, a Osmarina não consegue pre-miação. Esteve acompanhado de Seu Arante e de Dona Osmarina (do bar do Arante do Pântano do Sul), prestigiando sua canoa, que saiu na sexta-feira e veio a remo de Florianópolis. Com os cabelos brancos ao vento, de bengala e um sorriso enorme no rosto, ex-pressa uma pequena crítica ao evento. Ao contrário dos anos an-teriores, as canoas saem do pon-to de chegada para a largada na ponta esquerda da praia e, aí sim, iniciam a competição até o ponto de chegada: “Os remeiros can-sam!”, exclama o velho Arante.

A vitoriosa nos quatro re-mos é a Gislaine de Garopaba, comandada pelo patrão Adilson Silva Melo. Os pescadores de Garopaba são da comunidade do Siriú, remeiros tradicionais em seu município. Eles fazem questão de prestigiar a cultura viva dos pescadores.

CorujicesNa competição de caícos, ga-

nham os remadores pai e filho Gilmar Pinheiro, de 46 anos, e Fa-brício Pinheiro, 12 anos. No caia-que adulto, o campeão é o salva-vidas de Quatro Ilhas (praia de Bombinhas) Max Moreira da Silva Júnior (Juninho) e, no in-fantil, sagra-se vencedor Gabriel

Escodelario Dusto de Itapema. Nesta etapa, há um diferencial, pois o mais jovem competidor é o pequeno Bernardo Espírito San-to, de 6 anos de idade, de Bom-binhas. Apesar de mostrar força, chega na última colocação. O que não abala a mamãe Ketlin toda sorriso: “Ano que vem tem mais”.

É fato que poderiam ter mais competidores, canoas de outras cidades, como Navegantes e São Francisco do Sul. A divulga-ção do festival ainda é precária e requer um maior planejamento por parte do executivo munici-pal e da Secretaria de Turismo estadual, já que faz parte do calendário de festivais catari-nense. Todavia, a preservação das canoas de um pau só, que labutam na pesca da tainha de inverno a inverno, faz entender o patrimônio histórico e cultu-ral vivos da região litorânea de Santa Catarina.

E quando a dor de existir ten-tar abater? Ora, basta ir à praia com vento sul, lestada ou até mesmo nordestão no rosto can-sado e nos cabelos soltos, e pron-to. O mar e o vento levam tudo embora... E lá se vão 20 anos de existência “rapazi”, com sabedo-ria centenária.

*Jornalismo, 3º período

Ieda Funari

16 JORNAL COBAIA Itajaí, abril de 2012

Tradição

Sônia Moroso“Tenho a impressão de que aceitar a felicidade como ela é, e ter coragem para assumir essa postura, causa mais inveja do que preconceito”

Fernando Castellon Filho Wagner Heinzen Morgana Bressiani

Ieda Funari