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Nova legislação sobre eutanásia aumenta responsabilidade de veterinários PÁGINAS 9 PUBLICAÇÃO DO CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA VETERINÁRIA DO RS - ANO XIV Nº 64 - JUL/DEZ 2009 PÁGINAS 4 e 5 Veterinária & Zootecnia Veterinária & Zootecnia A programação do CRMV-RS na Expointer 2009 foi intensa e levou centenas de profissionais para debates e come- morações promovidos pelas entidades de classe na Casa do Veterinário. PÁGINAS 6 E 7 Pesquisa inédita revela o perfil e os costumes dos proprietários de cães e gatos brasileiros - principalmente de Porto Alegre - e mostra que há pouco hábito de levar os animais para consultas periódicas. PÁGINA 10 Divulgação CRMV-RS CRMV-RS BUSCA REFERÊNCIAS NA TRAJETÓRIA DO PASSADO PARA SE FORTALECER NO FUTURO Divulgação CRMV-RS Impresso Especial 9912233864/2009 DR-RS CRMV/RS CORREIOS médicos veterinários brasileiros. Somente em 9 de setembro de 1933, por meio de um decreto do presidente Getulio Vargas, é que foram normatizadas as condições e os campos de atuação, exigindo-se o diploma de curso superior. Inicialmente, a Superintend- ência do Ensino Agrícola e Veterinário do Ministério da Agricultura foi responsável pelo registro e pela fiscalização. No entanto, o desejo de constituir uma entidade forte e representativa, uma “Ordem dos Veterinários”, permanecia presente, como demonstra uma moção apresentada no Congresso Brasileiro de Medicina Veterinária (Conbravet) de 1953. Já dez anos antes, os profissionais reunidos no Conbravet afirmaram que deveria ser ampliada e reforçada a fiscali- zação do exercício profissional. No Congresso Nacional, a discussão sobre a criação dos conselhos federal e regionais de Medicina Veterinária, durou 11 anos e em 23 de outubro de 1968 foi sancionada a lei 5.517, base a noite de 12 de setembro de 1969, nove médicos veterinários reunidos na sede da Sociedade de Veterinária do Rio Grande do Sul (Sovergs), no Centro de Porto Alegre, concluíram uma longa etapa de mobilização e deram início a um novo momento para o exercício da profissão de médico veterinário e de zootecnista no estado. Nesta data, foi fundado o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul - inicialmente identificado como CRMV-1 e, mais tarde, CRMV- RS, sob a presidência de Paulo Guilherme Guinter. A criação de um órgão capaz de regulamentar e fiscalizar o exercício profissional era uma necessidade antiga sentida pelos legal da atividade médico- veterinária até hoje. Ao longo de 40 anos, dez presidentes sucederam-se na presidência do CRMV-RS e cada um deles foi responsável pelas conquistas que marcam, na atualidade, a grandeza da autar- quia. Nessa trajetória, há marcos importantes, como a conquista da sede própria e a transferência para a atual estrutura administrativa, assim como a melhoria constante da Casa do Veterinário, no Parque Assis Brasil, em Esteio. Além disso, na atualidade, o CRMV-RS tem a missão de marcar posição no debate político em defesa da garantia, aos médicos veterinários e zootecnistas, de seu espaço no mercado de trabalho, principalmente pela manutenção das atividades privativas, hoje reivindicadas também por outras profissões. A cada dia, são novos desafios que se colocam, mas que são tratados sempre com o objetivo de fortalecer a profissão e os profissionais, garantindo a saúde pública e o bem-estar dos animais. Objetivos alcançados Saúde pet Zootecnia altera logotipo Zootecnia altera logotipo 40 anos de história coroados de conquistas e sucesso Divulgação CRMV-RS Evolução pode ser observada pela melhoria da sede, que passou de uma antiga casa para uma moderna estrutura N

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Nova legislação sobre eutanásia aumenta responsabilidade de veterináriosPÁGINAS 9

PUBLICAÇÃO DO CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA VETERINÁRIA DO RS - ANO XIV Nº 64 - JUL/DEZ 2009

PÁGINAS 4 e 5

Veterinária& ZootecniaVeterinária& Zootecnia

A p r o g r a m a ç ã o d o CRMV-RS na Expointer 2009 foi intensa e levou centenas de profissionais para debates e come-morações promovidos pelas entidades de classe na Casa do Veterinário.

PÁGINAS 6 E 7

Pesquisa inédita revela o perfil e os costumes dos proprietários de cães e gatos brasileiros - principalmente de Porto Alegre - e mostra que há pouco hábito de levar os animais para consultas periódicas.

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CRMV-RS BUSCA REFERÊNCIAS NA TRAJETÓRIA DO PASSADO PARA SE FORTALECER NO FUTURO

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CORREIOS

médicos veterinários brasileiros. Somente em 9 de setembro de 1933, por meio de um decreto do presidente Getulio Vargas, é que foram normatizadas as condições e os campos de atuação, exigindo-se o diploma de curso superior.

Inicialmente, a Superintend-ência do Ensino Agrícola e Veterinário do Ministério da Agricultura foi responsável pelo registro e pela fiscalização. No entanto, o desejo de constituir uma entidade forte e representativa, uma “Ordem dos Veterinários”, permanecia presente, como demonstra uma moção apresentada no Congresso Brasileiro de Medicina Veterinária (Conbravet) de 1953. Já dez anos antes, os p ro f i s s iona i s r eun idos no Conbravet afirmaram que deveria ser ampliada e reforçada a fiscali-zação do exercício profissional.

No Congresso Nacional, a discussão sobre a criação dos conselhos federal e regionais de Medicina Veterinária, durou 11 anos e em 23 de outubro de 1968 foi sancionada a lei 5.517, base

a noite de 12 de setembro de 1969, nove médicos veterinários reunidos na sede da Sociedade de

Veterinária do Rio Grande do Sul (Sovergs), no Centro de Porto Alegre, concluíram uma longa etapa de mobilização e deram início a um novo momento para o exercício da profissão de médico veterinário e de zootecnista no estado. Nesta data, foi fundado o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul - inicialmente identificado como CRMV-1 e, mais tarde, CRMV-RS, sob a presidência de Paulo Guilherme Guinter.

A criação de um órgão capaz de regulamentar e fiscalizar o exercício profissional era uma necessidade antiga sentida pelos

legal da atividade médico-veterinária até hoje.

Ao longo de 40 anos, dez presidentes sucederam-se na presidência do CRMV-RS e cada um deles foi responsável pelas conquistas que marcam, na atualidade, a grandeza da autar-quia. Nessa trajetória, há marcos importantes, como a conquista da sede própria e a transferência para a atual estrutura administrativa, assim como a melhoria constante da Casa do Veterinário, no Parque Assis Brasil, em Esteio.

Além disso, na atualidade, o CRMV-RS tem a missão de marcar posição no debate político em defesa da garantia, aos médicos veterinários e zootecnistas, de seu espaço no mercado de trabalho, principalmente pela manutenção das atividades privativas, hoje reivindicadas também por outras profissões. A cada dia, são novos desafios que se colocam, mas que são tratados sempre com o objetivo de fortalecer a profissão e os profissionais, garantindo a saúde pública e o bem-estar dos animais.

Objetivosalcançados

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40 anos de história coroadosde conquistas e sucesso

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Evolução pode ser observada pela melhoria da sede, que passou de uma antiga casa para uma moderna estrutura

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HUMOR

Responsabilidade na formação

2 julho a dezembro 2009

Veterinária& ZootecniaVeterinária& Zootecnia

EDITORIAL

OPINIÃOOPINIÃO

EXPEDIENTE

www.crmvrs.gov.br

ENDEREÇO

CRMV-RSRua Ramiro Barcellos, 1793 - 2º andar - Bom Fim Porto Alegre - RS - CEP 90035-006 - Fone/Fax: (51) 2104.0566E-mail: [email protected] - Site: www.crmvrs.gov.br

SETORES

Financeiro: (51) 2104.0554 - [email protected]ção: (51) 2104.0584 - [email protected] - Pessoa Física: (51) 2104.0565 - [email protected] - Pessoa Jurídica: (51) 2104.0564 - Jurídico: (51) 2104.0582 - [email protected] Humano e Organizacional: (51) 2104.0583 - [email protected]

SECRETARIAS REGIONAIS

Passo FundoRua General Osório, 1204/602 - Passo Fundo - RSCEP 99010-140 - Fone/Fax: (54) 3317.2121E-mail: [email protected]

PelotasRua Andrade Neves, 2077/402 - Pelotas - RS - CEP 96020-080Fone/Fax: (53) 3227.0877 - E-mail: [email protected]

Santa MariaRua Appel, 475 - prédio Sindicato Rural - Santa Maria - RSCEP 97015-030 - Fone/Fax: (55) 3223.6824E-mail: [email protected]

[email protected]

a realidade, como já foi contado no livro Retrospectiva Histórica dos Congressos (1922/2003), da Sociedade Bras i le i ra de

Medicina Veterinária (SBMV), os Conselhos Regionais de Medicina Veterinária (CRMVs), a exemplo do Sistema CFMV/CRMVs, nasceram da necessidade sentida desde o início da década de 1920, do Século passado, de criar um instrumento que fiscalizasse e disciplinasse a conduta dos profissiona-is brasileiros.

Nos dois primeiros anos da criação do CRMV-RS (1969/70) o número de cursos de Medicina Veterinária no Estado ainda era pequeno: somente nas universidades federais de Porto Alegre, Santa Maria e Pelotas, e um de Zootecnia na Pontifícia Universidade Católica (PUCRS) - Campus de Uruguaiana. Porém, em apenas 40 anos, as duas profissões passaram a 14 cursos de graduação. O contingente de inscritos, médicos veterinários e zootecnistas, nos dois primeiros anos de criação do CRMV-RS não alcançava 700 profissionais. Em 2009, esse número, fruto do crescimento não planejado do ensino que deveria andar em sintonia com o comportamento do mercado de trabalho passa de 8 mil, ultrapassando 1000% de aumento. Acompanhando essa projeção, a participação das mulheres nas duas profissões, no mesmo período, também cresceu, considerando que eram 26 ao término de 1970 e hoje, do total de inscritos, representam 36%. Demais, sabemos que as atividades ligadas ao

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Air Fagundes dos Santos*

* Presidente do CRMV-RS

O jornal Veterinária & Zootecnia é um veículo de divulgação da classedos médicos veterinários e dos zootecnistas, editado pelo ConselhoRegional de Medicina Veterinária do RS (CRMV-RS). Os textos sãode responsabilidade dos autores.

DIRETORIA EXECUTIVA DO CRMV-RS

PresidenteAir Fagundes dos Santos

Vice-presidenteJosé Arthur de Abreu Martins

Secretário-geralRosane Maia Machado

TesoureiroMauro Gregory Ferreira

JORNAL VETERINÁRIA & ZOOTECNIA

Conselheiros efetivos: Elci Lotar Dickel, Vera Lúcia Machado Silva, Carlos de Lima Silveira, Angélica Pereira dos Santos Pinho, Rodrigo Marques Lorenzoni e Margarete Maria Paes Iesbich.

Conselheiros suplentes: Maristela Lovato Flores, Juliana Iracema Milan, Eduardo Amato Bernhard, José Braz Mariosi, Hélvio Tassinari do Santos e Waldívia Tereza Pacce Lehnemann.

Comissão de Comunicação: José Arthur de Abreu Martins, Luiz Carlos Pascotini, Zilah Maria Gervasio Cheuiche, Bruna Koglin Camozzato e Leandro Brixius.

Projeto gráfico: Rodrigo Vizzotto

Redação e edição: Jorn. Leandro Brixius – RP 9468

Colaboração: Estagiária de Jornalismo Hosana Aprato

Charge: Méd. Vet. Hudson Barreto Abella

Diagramação e impressão: Gráfica RJR Ltda

Tiragem: 12 mil exemplares

agronegócio e ao negócio pet no Brasil, por exemplo, deram um salto de expansão nestas últimas quatro décadas, mesmo assim, sem fôlego suficiente para absorver de forma satisfatória o número de profissionais que chegam do ensino contemporâneo, bastante massificado. Olhando o perfil dos novos profissionais, mesmo com cursos com corpo docente altamente qualificado, de uma maneira geral ainda deixa a desejar por não contemplar em muito as exigências do campo de ocupação. Os motivos vão desde a falta de interesse dos médicos veterinários e zootecnistas recém graduados na procura de outras alternativas de mercado, ou pela simples deficiência na formação profissional, em mais de uma centena de campos do conhecimento técnico-científico e tecnológico. Ocupações, se não preenchidas pelos nossos profissionais, passam a ser desejadas por outras profissões já tradicionais ou por novas ávidas por mercado de trabalho.

Fica como grande desafio aos gestores do ensino da Medicina Veterinária e da Zootecnia que, teoricamente, somos todos nós, que, a curto prazo, procurem ajustar o conhecimento oferecido ainda nos bancos universitários à realidade aqui fora, ou recorram a instrumentos com apoio das entidades de classe que minimizem o descompasso entre o ensino oferecido e mercado de trabalho cada vez mais exigente e diversificado.

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Veterinária& ZootecniaVeterinária& Zootecnia

NOTÍCIASNOTÍCIAS

INICIATIVA MARCA GRATIDÃO PELO EMPENHO EM PROL DA FISCALIZAÇÃO

Dia do Médico Veterinário é comemorado em jantar

julho a dezembro 2009

Mais de uma centena de médicos veterinários, zootecnistas e convidados se reuniram na noite de 11 de setembro para celebrar o Dia do Médico Veterinário em um jantar dançante por adesão na Sociedade Italiana, em Porto Alegre. A programação da noite começou com a posse da nova diretoria da Academia Rio-Grandense de Medicina Veterinária, mais uma vez liderada pelo acadêmico e profes-

sor aposentado Augusto Langeloh. Em seguida, foram entregues os diplomas de reconhecimento do CRMV-RS. Em vídeo, ex-presidentes da autarquia relembraram suas gestões, enumerando conquistas e ressaltando o desenvolvimento constante da fiscalização do exercício profissional. Após o jantar, a pista de danças foi aberta sob o comando das músicas executadas pelo músico Janu Uberti.

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CRMV-RS institui diploma emreconhecimento a pessoas e entidades

trajetória de uma instituição é construída com o trabalho e o empenho de muitas pessoas. O mesmo aconteceu no CRMV-RS ao

longo de seus 40 anos de história, nos quais centenas de colaboradores, assim como outras entidades, colaboraram para que fosse possível realizar com qualidade a fiscaliza-ção do exercício profissional de médicos veterinários e zootecnistas, assim como promovida a saúde pública. Para marcar sua trajetória de quatro décadas, a diretoria executiva e os conselheiros do CRMV-RS instituíram um diploma de reconhecimento a todos aqueles que somaram forças com a autarquia. Nesse rol, foram incluídos ex-presidentes, entidades e funcionários, além

A de médicos veterinários que assumiram papel de destaque em instituições públicas e na política, ressaltando assim a profissão. “Esta singela homenagem através de um diploma de reconhecimento imortaliza pessoas e entidades na virada de quatro décadas de fiscalização do exercício profis-sional visando a garantir os interesses da sociedade”, disse o presidente do CRMV-RS, Air Fagundes, ao realizar a entrega dos diplomas, que ocorreram em diversos momentos ao longo do segundo semestre em função da agenda dos agraciados. Para o dirigente, esses homenageados simbolizam o trabalho e o esforço de todos os profissio-nais do estado pela contribuição dada à Medicina Veterinária.

Homenageados receberam a comenda em jantar em setembro e também em outras solenidades

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Profissionais e convidados brindaram à data

HomenageadosEx-presidentesPaulo Guilherme Guinter (1969-1972)Frederico Lieberknecht (1975-1978)José Bonifácio Antunes (1978-1981)Carlos E. Quintana da Rosa (1981-1987)José Fernando Pereira Dora (1987-1990)José Euclides Vieira Severo (1990-1993)Fernando C. B. Dornelles (1993-1999)Jeanir Pereira Vianna (1996)Eduardo de Bastos Santos (1999-2005)Carlos Marcos Barcellos de Oliveira (2008)

AutoridadesAdemir Brunetto - deputado estadual (MT)Altemir Gregolin - ministro da Pesca e AquiculturaAroldo Cedraz de Oliveira - ministro do Tribunal de Contas da UniãoCláudio Castanheira Diaz - dep. federal (RS)Inácio Afonso Kroetz - secretário de Defesa Agropecuária do MapaOnyx Lorenzoni - deputado federal (RS)

EntidadesAcademia Rio-Grandense de Medicina Veterinária (ARGMV)Associação Nacional de Clínicos Veteriná-rios de Pequenos Animais (Anclivepa/RS)Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGSRevista A Hora VeterináriaSindicato dos Médicos Veterinários do Rio Grande do Sul (Simvet/RS)Sindicato dos Zootecnistas do Estado do Rio Grande do Sul (Sindizoot/RS)Sociedade de Veterinária do Rio Grande do Sul (Sovergs)

FuncionárioJosé Pedro Soares Martins - chefe do Setor de Fiscalização do CRMV-RS

ProfissionaisMédica veterinária Lia Maria Saldanha FernandezMédico veterinário Ony Lacerda da Silva Zootecnista Pedro Adair dos Santos

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Veterinária& ZootecniaVeterinária& Zootecnia

julho a dezembro 2009

EXPOINTEREXPOINTER

Os desafios da Medicina Veterinária, tanto em seus aspectos técnico-científicos quanto em relação ao mercado de trabalho, foram os motes

principais da intensa programação que se desenvolveu na Casa do Veterinário durante a Expointer 2009. Sempre marcados pela integração entre as diversas entidades de classe, as 25 palestras e eventos culturais reuniram aproximadamente 900 pessoas, mas um número muito superior de profissionais e público em geral circulou pelo local, gerando momentos de integração e reencontro. Cabe ressaltar, ainda, a mobilização política entre as entidades e os CRMVs de 12 estados em defesa da Medicina Veterinária e Zootecnia.

A programação foi liderada pelo CRMV-RS, juntamente com as entidades de classe da Medicina Veterinária gaúcha (Sovergs, Simvet, Anclivepa e Academia Rio-Grandense de Medicina Veterinária), além da revista A Hora Veterinária e da Farsul. As atividades contaram, ainda, com o patrocínio das empresas Coopers, Alltech, Supra, Saltchê, Pense no Boi, Qualittas, Hospital Veterinário Lorenzoni e Banco do Brasil, além da Academia Rio-Grandense de Medicina Veterinária e do Simvet, e o apoio da

DIRIGENTES DE CRMVS INTENSIFICARAM SUAS AÇÕES EM ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NA CASA DO VETERINÁRIOD

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Kroetz (dir) ouviu demandas dos dirigentes

Associação Brasileira de Angus. “Nos unimos na busca incessante de nivelar informações sobre diferentes temas de interesse técnico-científico e tecnológico para o agronegócio e para a saúde, sempre enfocando a qualidade de vida dos animais, do homem e a preserva-ção do meio ambiente”, ressalta o presidente Air Fagundes.

Os representantes de CRMVs de 12 estados tiveram uma intensa agenda na Expointer 2009. Além de reuniões previamen-te acertadas, acompanharam toda a programa-ção da Casa do Veterinário. Na palestra

especial com o vice-presidente de Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Silveira Pereira, debateram sobre o cenário global do agronegócio. Mas o princi-pal mote de suas presenças foi o debate de questões relativas à administração dos Conselhos e sobre as dificuldades e soluções encontradas em cada estado para a solução de impasses relacionados à legislação e decisões judiciais, assim como os projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional e que alteram as regulamentações profissionais.

A Expointer também propiciou aos dirigentes a oportunidade de manter um contato próximo com o secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Inácio Kroetz, que permaneceu em um encontro por mais de duas horas quando foi possível expôr as necessidades de alteração na legislação vigente para adequação à fiscalização do exercício profissional e, principalmente, preservação da saúde pública. Kroetz irá realizar os encaminha-mentos necessários em Brasília, mas ressaltou que todos - Ministério e Conselhos - devem invidar esforços para que cada vez mais, aquele que produz seja responsável pela qualidade e segurança alimentar.

Mobilização política pela valorizaçãoprofissional ganha força no estado

Nova identidade visual Visibilidade profissionalO CRMV-RS investiu em anúncios

veiculados nas rádios Guaíba e Gaúcha, ressaltando a contribuição dos médicos veterinários e zootecnistas para o agrone-gócio, para a saúde pública e para o bem-estar dos animais. Também foram instalados dois frontlight com o patrocí-nio do Fundesa e da Sano Vitosan ao lado do portão 1, em frente ao parque Assis Brasil, o que gerou grande visibilidade.

Festa jovemA noite da sexta-feira (04/09) na

semana da Expointer foi marcada pela principal inovação da programação da Casa do Veterinário neste ano. A FestVet reuniu dezenas de profissionais e estudan-tes para comemorar, descontraidamente, o Dia do Médico Veterinário ao som da banda Zuma em uma tenda instalada ao lado do prédio. Coquetel e bebidas foram oferecidas pelos patrocinadores.

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O novo logotipo do CRMV-RS foi apresentado em uma palestra que ressal-tou aos profissionais a importância da identidade visual para empresas e instituições. A publicitária pós-graduada em Marketing do Agronegócio Daniela Médicci Antunes, da agência Agroidéia, foi a responsável pela elaboração da logomarca, assim como de todos os demais materiais e peças gráficas.

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Veterinária& ZootecniaVeterinária& Zootecnia

julho a dezembro 2009

Marketing transformanecessidades em desejos

Omarketing não vende, ele encanta. Mas para ser uma estratégia de sucesso, deve atender às expectati-vas que criou. Essa foi a primeira

lição que o médico veterinário e professor da UFRGS Júlio Barcellos deixou em sua palestra, durante a programação organizada pelo Simvet/RS na Casa do Veterinário. Segundo o especialista, a sociedade é dinâmica, instável e evolutiva e o profissio-nal de qualquer área precisa estar atento a isso para se desenvolver e alcançar o seu sucesso. “O cliente se torna a cada dia mais insatisfeito, não só com relação à qualidade, mas também com suas necessidades e em querer sempre o novo”, definiu. Barcellos destacou que o acesso ao mercado se dá pela competência, comprometimento, compro-misso e conceito. Para se destacar, porém, é preciso antecipar uma tendência e começar a

praticá-la antes do concorrente. Um ponto importante relacionado ao marketing e várias vezes resssaltando por Barcellos é sua relação com o desejo. “A razão é importante, mas a emoção é o que leva à ação. É preciso satisfazer as necessidades das pessoas lucrativamente”, disse. Para o palestrante, uma necessidade tem um preço, mas um desejo tem um valor. “Uma carne dura satisfaz uma necessidade de se alimentar, mas uma carne macia e servida em um ambiente agradável e diferenciado atende a um desejo. Transformar necessidades em desejos é um desafio”, afirmou. No entanto, para chegar a esse objetivo é preciso trilhar um caminho para passa pelo planejamento estratégico. “Os profissionais precisam ter capacidade de organização. Estratégia e tática são fundamentais”, decretou o professor da UFRGS.

Ultrassonografia qualifica diagnósticosSurgida na Medicina Veterinária no início dos

anos 1980 e muito voltada para os grandes animais, a ultrassonografia diagnóstica tem seu uso ampliado gradativamente. Segundo o professor Luiz Cardoso Alves, da Faculdade de Veterinária da Ulbra, a ultrassonografia tem várias aplicações e pode permitir que os clínicos obtenham importantes avanços, desde que saibam usar com propriedade seus recursos. Hoje, problemas sérios, como os reprodutivos relacio-nados com gestação gemelar e placentite, são resolvidos com mais eficiência e precocidade com o auxílio da ultrassonografia. “Em animais de campo, em grande número, ainda não é viável,

nem mesmo recomendável seu uso, mas é um importante aliado no cuidado com os animais de elite”, disse durante palestra da Sovergs.

Mulheres trocam experiênciasA mulher veterinária na produção rural foi a

pauta do encontro promovido pela Comissão da Mulher Veterinária do CRMV-RS em parceria com a Sovergs. A origem da Medicina Veterinária no mundo, a história da mulher no mercado de trabalho e as pioneiras na profissão foi o tema apresentado pela presidente da Comissão e conselheira do CRMV-RS, Vera Lúcia Machado da Silva. Várias profissionais apresentaram também suas trajetórias de sucesso.

Animais podem ter bem-estar em apartamentos

Assunto que preocupa tanto médicos veterinários quanto proprietários, o bem-estar animal é tema de discussão há bastante tempo em eventos organizados pelo CRMV-RS. A médica veterinária mineira Sheila Regina Andrade Ferreira abordou o tema sob a especificidade dos animais domiciliados em palestra promovida pela Anclivepa/RS. Sheila pesquisou, em seu doutorado, aspectos da associação entre a relação homem-animal e o bem-estar do cão. Para a veterinária, os cães necessitam de estimula-ção mental e física e de alguma maneira as pessoas precisam interagir e promover a atividade mental do animal. Ainda segundo a profissional, o animal que mora em apartamento pode ter bem-estar e isso vai depender do que é oferecido a ele. “Não é somente dar o que ele precisa, mas é preciso saber qual é o ambiente psicossocial em que este animal está inserido”, ressalta a pesquisadora mineira.

Reconhecimento ao mestreSevero Salles de Barros

A sua maior contribuição à Medicina Veterinária, durante os seus mais de 50 anos de profissão, foi ter criado oportunidades aos jovens médicos que puderam acompanhá-lo. Assim o médico veterinário, professor e pesquisador Severo Salles de Barros se expressou ao receber a Comenda do Mérito da Medicina Veterinária, outorgada pela Sociedade Brasileira de Medicina Veteriná-ria, juntamente com a revista A Hora Veterinária e o CRMV-RS, em cerimônia realizada na Casa do Veterinário. Após a solenidade, Barros, acompanhado de representantes das entidades, foi cumprimen-tado pela governadora Yeda Crusius na Casa Branca, sede do governo gaúcho no Parque de Exposições Assis Brasil.

Resistência crescente aosanti-helmínticos preocupa

A resistência crescente dos helmíntos de bovinos e ovinos aos anti-helmínticos tem preocupado os médicos veterinários. Segundo o médico veterinário Flávio Augusto Echevarria, pesquisador da Embrapa Pecuária Sul, em Bagé, a resistên-cia é grande no Sul do Brasil e no Mercosul e isso ocorre pelo uso contínuo e errado de determinados fármacos: uso sistemático, associado a outro manejo e na observação de sintomas. “Não existe a reversão. Depois de desenvolvida, a resistência permanece e se torna uma característica genética”, disse ao palestrar na Casa do Veterinário a convite da Academia Rio-Grandense de Medicina Veterinária. Echevarria defendeu que os produtores adotem o Programa de Controle Integrado, com cuidados sanitários e de manejo. Echevarria destacou a necessidade de se observar as recomendações dos laboratórios para o uso dos medicamentos anti-helmínticos, principalmente com relação à frequência de aplicação.

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Barcellos ressaltou importância do planejamento estratégico

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Veterinária& ZootecniaVeterinária& Zootecnia

6 julho a dezembro 2009

PETPET

Por muito tempo eles eram vistos de longe, no fundo do pátio e amarra-dos a uma corrente. Eram destina-dos a cuidar da segurança do lar e

evitar que pessoas estranhas se aproximas-sem. Mas hoje em dia a realidade já é outra. Cães e gatos vivem harmoniosamente junto às famílias, participam do dia-a-dia das crianças, principalmente entre os jovens e adultos, são companhia para os idosos e casais que adiaram o sonho de serem pais. Os animais de companhia ganharam destaque e passaram a receber tratamento de primeira classe. Porém, os proprietários deixam a desejar quando o assunto é a consulta periódica com o médico veterinário.

Pelo menos é o que mostra a pesquisa Radar Pet, realizada pelo Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan) por meio da Comissão de Animais de Companhia (Comac). De acordo com o estudo, Porto Alegre é a capital brasileira que possui o maior número de casas com cães e gatos no país, totalizando 56% do total de lares com uma das espécies - ou até mesmo as duas.

A pesquisa, feita em mais de 2 mil residências de proprietários e não proprie-tários de cães e gatos das classes A, B e C de oito metrópoles brasileiras aponta que os estados do Sul e Sudeste possuem um percentual de lares com maior número de pets. Não é por acaso que esses estados concentram 75% do mercado. Quanto maior a renda da família, maior é o interesse em adquirir um pet.

MÉDICO VETERINÁRIO É PROCURADO SOMENTE QUANDO OCORREM PROBLEMAS

Pesquisa mostra perfil dosproprietários de animais

O estudo mostra que o número de animais domiciliados no Brasil é bastan-te grande. A população canina é de 25 milhões e a felina, de 7 milhões. Este dado é importante porque estima com boa precisão o tamanho do mercado pet brasileiro em famílias das classes A, B e C que compõem praticamente a totalida-de do mercado.

Os dados apresentados no estudo também apontam que o percentual dos proprietários que levam o animal de companhia para consultas periódicas é preocupante e Porto Alegre é líder nesse quesito negativo. Dentre os lares estuda-dos, 82% dos donos de animais da Capital só procuram o médico veteriná-rio quando seu mascote apresenta algum tipo de sintoma.

O médico veterinário Rodrigo Lorenzoni, conselheiro do CRMV-RS, atribui a esse tipo de atitude o aspecto cultural das pessoas de não buscarem, de maneira constante, a profilaxia. “Acho que a questão cultural é muito forte. O povo brasileiro não está muito preocupa-do com a prevenção nem mesmo para a sua saúde, o que se reflete na maneira com que tratamos os animais”, constata. A mesma opinião é compartilhada pela médica veterinária da Águia Veterinária e Pet Shop, do bairro Bom Fim, na Capital, Andrea Nagelstein. Para a profissional, as pessoas são negligentes com a própria saúde e isso se transfere diretamente para os cuidados e preocupações que dedicam para os seus animais de estimação.

Divulgação

Falta de cuidado dos humanos com a saúde preventiva se reflete no cuidado com os pets

Falta de informação dopúblico é um problema

Visitas mais frequentes ao médico veterinário ajudariam a melhorar a saúde dos pets e a relação entre os animais e seus proprietários. Esta é

a conclusão que a pesquisa Radar Pet chegou ao avaliar o percentual de famílias da classe C que procuram atendimento veterinário. As conclusões ainda destacam que a prevenção ajudaria a desmistificar algumas crenças que limitam a expansão da população pet, especialmente em alguns tipos de núcleos familiares. Mas ao mesmo tempo, a classe A deixa a desejar quando o assunto é a consulta periódica. Mesmo nos segmentos mais altos da pirâmide social, que possuem nível de instrução e poder aquisitivo mais elevado, a proporção de animais que visitam o veterinário preventivamente poderia ser maior, já que apenas 36% levam seus pets para consultas periódicas.

A classe C é a que menos procura atendimento preventivo para os animais. Em 80% dos casos, os donos de animais recorrem aos profissionais somente quando há algum tipo de sintoma. Um dos fatores que a médica veterinária Andrea Nagelstein aponta é a falta de informação e incentivo do próprio profissional para que sejam feitas consultas periódicas. Na opinião dela, poderia haver mais incentivo governamental, parcerias com ONGs e instituições, além da realização de

campanhas de vacinação e de esclare-cimentos sobre as zoonoses. “É preciso levar a informação às famílias de baixa renda. A classe C tem até mesmo mais animais pela falta de controle populacional. Tem que haver mais castração, incentivo e informação. Os donos de animais de companhia devem controlar a saúde de seus animais, pois eles são vetores de grandes doenças, e precisam saber disso.” explica.

Apesar de os dados mostrarem que a população ainda está desinformada quanto à importância do médico veterinário para a manutenção da saúde, qualidade de vida e bem-estar do animal, os profissionais se mantêm positivos em relação a uma mudança sgnificativa na população. O médico veterinário Rodrigo Lorenzoni, que dirige o Hospital Veterinário Lorenzoni, na Capital, se mostra confiante com o futuro do segmento pet e acredita que daqui a bem pouco tempo os índices revelados pela pesquisa vão diminuir e cada vez mais as pessoas vão levar seus animais para consultas periódicas, tratamentos e vacinas preventivas. “Eu sou bem otimista e já estou vendo uma progressão na atitude das pessoas. Eu vejo que já mudou bastante. A tendência é melhorar cada vez mais. Já não vejo tanta relutância das pessoas em levar seus animais ao veterinário”, reforça a veterinária Andrea.

No Rio Grande do Sul, o segmento de pets está em ascenção contínua e progressiva, afirma a veterinária Andrea Nagelstein. Cada vez mais

chegam ao mercado novos medicamentos, acessórios, rações, procedimentos cirúrgicos e opções de tratamentos para os animais. Segundo avaliação do presidente da Comissão de Animais de Companhia (Comac) e coordenador da pesquisa Radar Pet, Luiz Luccas, o setor de pets no Brasil, depois de crescer a taxas muito altas, acima de 15% ao ano até o princípio desta década, começa a mostrar sinais de amadurecimento. “O setor tem crescimen-

Setor de pet shop ainda temmuito potencial para crescer

to moderado, entre 5% a 10% ao ano, e o mercado ainda tem muito potencial para crescer, principalmente na área de saúde e prevenção”, explica. Luccas destaca, ainda, que o Brasil já possui um bom número de estabelecimentos e médicos veterinários, mas lamenta que haja pouco trabalho de prevenção. De acordo com os registros do CRMV-RS, existem 684 consultórios veterinários e 365 clínicas veterinárias em atuação no Estado, das quais 355 clínicas gerais e 10 clínicas de pequenos animais. O setor de comércio de produtos veterinários, o que inclui as pet shops, já ultrapassa os 3.980 estabelecimentos.

Lares com cães ou gatos por cidade

Hábito de levar para consultapor classe econômica - % de lares

Projeção nacional de lares compet nas classes A, B e C

Hábito de consultar o veterinário% de lares

Lares que possuem veterinário deconfiança - por classe econômica

Lares que possuem cão, gato ouambos - por classe econômica

Percentual de lares que possuemcão, gato ou ambos

Quem cuida do animal

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julho a dezembro 2009

SAÚDE PÚBLICASAÚDE PÚBLICA

MANUAL E SITE REÚNEM INFORMAÇÕES SOBRE DEZ DOENÇAS COM OCORRÊNCIA NOS ESTADOS

CRMVs da Região Sul lançam programainédito para controle de zoonoses

s Conselhos Regionais de Medicina Veterinária dos três estados da Região Sul se uniram em torno de um projeto inédito que vai beneficiar não

somente os profissionais, mas também toda a população gaúcha, catarinense e paranaen-se. O resultado é o Programa de Zoonoses Região Sul, focado em duas ferramentas de comunicação - um manual e um site - para difundir conhecimentos a respeito das dez zoonoses mais comuns nos três estados.

A intenção é informar os profissionais e conscientizar a população sobre os riscos que essas doenças podem trazer à saúde pública, ambiental e animal. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, 60% dos patógenos humanos são zoonóticos, 75% das enfermidades emergentes humanas são de origem animal e 80% dos patógenos que poderiam ser usados em bioterrorismo também são de origem animal.

Na apresentação do Manual de Zoonoses (um livro de 166 páginas que aborda 10 zoonoses e cujo lançamento aconteceu em 1º de setembro, na Casa do Veterinário, durante a Expointer 2009), os presidentes dos CRMVs do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná ressaltam que a “integra-ção entre os estados é necessária para que ocorra um processo eficaz de informação visando a uma sólida conscientização dos profissionais envolvidos e, consequentemente, da sociedade”. Além disso, é preciso lembrar que o crescente processo de globalização auxilia na difusão das zoonoses, não respeitando fronteiras.

Para o presidente de CRMV-RS, Air Fagundes dos Santos, o manual é indispensável ao profissional médico veterinário, bem como ao aluno da graduação. "O Manual tambem é muito importante aos veículos de comunicação, para que possam abordar de forma correta este assunto", completa. Um dos respon-sáveis pela organização do Manual, o médico veterinário José Pedro Soares Martins, acredita que as zoonoses unem o veterinário ao ser humano independentemente da presença de um animal. "A pessoas devem conhecer as zoonoses e saber que o médico veterinário pode resolver este problema" comenta.

O A elaboração do Programa envolveu as equipes dos três CRMVs durante meses, em um esforço para eleger as zoonoses que seriam contempladas na primeira edição e qual seria a melhor forma de apresentação do conteúdo. Os textos foram elaborados por médicos veterinários especialistas em cada um dos temas e com atuação nos estados. A intenção é manter a atualização constante do conteúdo, principalmente no site, além de realizar novas edições, abor-dando outras zoonoses de relevância na Região Sul. O Manual pode ser obtido nas sedes dos CRMVs e o site está disponível no endereço www.zoonoses.org.br.

Cada um dos capítulos traz, inicialmen-te, um guia de consulta rápida com informa-ções como os nomes populares da doença, o agente causador, as espécias acometidas, os sintomas nos seres humanos, os sinais clínicos nos animais, as formas de transmis-são e o diagnóstico. Além disso, é informado o laboratório de referência para a realização dos exames e se a zoonose é de notificação obrigatória e como proceder nesses casos. O livro é ilustrado com mapas epidemiológi-cos, fotografias e representações de ciclos, todos eles coloridos.

Conheça os autoresBruceloseFernando Padilla Poester, doutor pela Universidade Federal de Minas Gerais, pesquisador do Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamor - aposentado e membro do Comitê Científico Consultivo do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose.

Febre AmarelaWalfrido Kühl Svoboda, professor do setor de Ciências da Saúde/Departamento de Saúde Comunitária/Laboratório de Saúde Pública e Saúde Ambiental da Universidade Federal do Paraná.Lineu Roberto da Silva, médico veterinário sanitarista da Secretaria Estadual da Saúde do Paraná.

Febre MaculosaThemis Valéria de Souza Batista, entomologista pela Universidade de São Paulo, coordenadora das Doenças Transmitidas por Carrapatos da Divisão de Doenças Transmitidas por Vetores do Departamento de Vigilância Ambiental em Saúde - Superintendência de Vigilância em Saúde do Paraná.

Influenza AviáriaHamilton Luiz de Souza Moraes, professor adjunto da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e acadêmico da Academia Rio-Grandense de Medicina Veterinária.Carlos Tadeu Pippi Salle, professor associado da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e acadêmico da Academia Rio-Grandense de Medicina Veterinária.

Larva MigransValdomiro Bellato, professor do Centro de Ciências Agroveterinárias da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc).

LeishmanioseMauro Maciel de Arruda, doutor em Medicina Veterinária e Experimentação Animal, consultor técnico especializado do Ministério da Saúde/Coordenação Geral de Laboratórios de Saúde Pública.

LeptospiroseVivien Midori Morikawa, médica veterinária do Centro de Controle de Zoonoses e Vetores da Prefeitura Municipal de Curitiba.

RaivaJaime Salvatierra, médico veterinário do Laboratório de Sanidade Animal da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc).Lílian Fátima Gomes Barreto, médica veterinária da Secretaria Municipal de Saúde de Itajaí (SC) e membro da Comissão de Saúde Pública do CRMV-SC.Paulo Guerra, médico veterinário da Secretaria de Saúde do Paraná e membro da Comissão de Zoonoses e Bem-Estar Animal do CRMV-PR.

ToxoplasmoseFlávio A. Pacheco de Araujo, chefe do Laboratório de Protozoologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.Mariana Caetano Teixeira, médica veterinária mestranda no Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

TuberculoseMaria Angélica Zollin de Almeida, mestre pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e pesquisadora do Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamor.

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NOTÍCIASNOTÍCIAS

LEGISLAÇÃO NÃO PROÍBE A PRÁTICA NO ESTADO, MAS AMPLIA RESPONSABILIDADE DO MÉDICO VETERINÁRIO

Lei estadual determina mais controlepara a eutanásia de cães e gatos

julho a dezembro 2009

Desde o início do segundo semestre, vigora no Rio Grande do Sul a lei 13.193/2009, que trata da eutanásia de cães e gatos pelos órgãos de

controle de zoonoses e canis públicos no estado. A nova legislação gerou diversos questionamentos entre os médicos veterinári-os gaúchos, que passaram a ter dúvidas a respeito de sua autonomia para decidir a respeito do tratamento mais indicado aos animais sob sua responsabilidade.

De acordo com o assessor técnico da Superintendência do CRMV-RS, César Queiroz Viana, a lei 13.193/2009, de autoria do deputado estadual Carlos Gomes, restrin-ge a eutanásia, mas não a proíbe, já que a prática sempre poderá ser realizada em animais, pelo médico veterinário e com indicações específicas: para estudo científi-co, para dar fim ao sofrimento do animal que esteja irreversivelmente doente ou lesionado e quando o animal constituir ameaça à saúde pública de humanos ou de outros animais. “A lei estadual deve ser aplicada em um contexto legal universal, pois uma lei deve ser inter-pretada e aplicada em conjunto às outras que já existirem, e com essas interagir”, explica.

A eutanásia em animais é procedimento incluído no rol da prática da clínica médico-veterinária, que por disposição da lei federal 5.517/68 é de competência privativa do médico veterinário. Este profissional pode desejar não manter um animal sofrendo por

mal grave que não possa ser tratado (por ausência de meios ou tratamento conhecido) ou sob o risco de disseminação de doenças na comunidade. Porém, a decisão do médico veterinário deve ser fundamentada em um laudo técnico; o qual, por não contar com contraprova laboratorial, por exemplo, deve ao menos apoiar-se em segunda opinião técnica, em mesmo sentido, de outro médico veterinário. “O médico veterinário sempre é responsável por sua escolha técnica, tanto a de exigir exame laboratorial para eutanasiar, em detrimento do sofrimento do animal ou do risco disseminação de doença; como a de eutanasiar com apoio na legislação federal e na constituição, em detrimento ao formalis-mo da lei estadual. Mas sempre carregará em seus ombros a responsabilidade inerente a honra da profissão que escolheu”, diz.

Viana ressalta que a lei 13.193/2009 proíbe a eutanásia injustificada e imotivada de cães e gatos. “Entretanto, o sistema legal brasileiro já há muito proíbe a eutanásia ou diminuição de qualquer fauna ou flora, urbana ou rural, injustificada ou não. Não há novidade quanto a este assunto na lei estadu-al, mas sim reconhecimento e regularização dessas obrigações”, reforça.

O Estado é responsável pela tutela dos animais que não estiverem sob a propriedade privada de alguém. Dessa forma, pode recolhê-lo, identificá-lo e ou até instituí-lo como propriedade de uma pessoa. “No

entanto, o animal com desvios de comporta-mento não pode ser mantido na comunidade. A máquina pública deve mantê-lo seguro por ordem do médico veterinário e buscar a ressocialização desse cão ou gato. Mas se o comportamento agressivo tiver fundo de doença poderá ser analisada a possibilidade de eutanásia, mediante laudo técnico e outros meios de prova que estejam a disposição”, interpreta o assessor.

Pode-se concluir que a lei estadual busca cobrar mais do administrador público, regrando as práticas de órgãos de controle de zoonoses, canis públicos ou estabelecimento oficiais congêneres. Porém, diante do empobrecimento de muitas administrações públicas e das condições de trabalho de seus médicos veterinários, continuam sendo de exclusiva função desses profissionais, por singular responsabilidade profissional, realizar a escolha de implementar ou não a eutanásia ao animal nos casos previstos.

“Elegendo o médico veterinário a eutanásia, ou o resguardo do animal pela tutela direta do Estado em estabelecimento público, sempre poderá ocorrer de ter de justificar-se diante de uma parcela maior ou menor do Estado Organizado de Direito; pois fato é, que não poderá haver desobediência civil ou o simples cumprimento inquestioná-vel de uma única lei; mas sim deve haver obediência a um conjunto normativo, complexo e pleno”, afirma César Viana.

Academia recebe quatro novos integrantesA Academia Rio-Grandense de

Medicina Veterinária deu posse, no dia 30 de outubro, a quatro novos acadêmicos, eleitos recentemente pelos demais mem-bros. Carlos Gil Turnes, nascido no Uruguai, é graduado em Medicina Veterinária em 1966, pela Faculdade de Veterinária da Universidade da República Oriental do Uruguai. Foi professor no Uruguai e na Argentina e, desde 1994, é professor titular de doenças infecciosas da Universidade Federal de Pelotas. Cláudio Giacomini diplomou-se médico veterinário em 1974, pela Faculdade de Veterinária da UFSM, e especializou-se em animais silvestres. Atualmente é médico veterinário

SP

Produções/D

ivulgação

do Parque Zoológico da Fundação Zoobotânica do estado. Maristela Lovato é médica veterinária desde 1979, quando formou-se na Faculdade Veterinária da UFSM. Atualmente, é professora adjunta na UFSM, atuando no ensino de graduação e pós-graduação nas matérias de doenças de aves, protozooses, helmintoses e ornitopa-tologia, além de ser conselheira suplente do CRMV-RS. Telmo Vidor é graduado pela Faculdade de Veterinária da UFRGS, em 1966. Exerceu atividades de pesquisa científica e desenvolvimento de vacinas víricas, diagnóstico virológico e epidemio-logia das viroses no IPVDF. Atualmente, é professor adjunto na UFPel.

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julho a dezembro 2009

NOTÍCIASNOTÍCIAS

Conselheiros esclarecem dúvidassobre o projeto de lei 2824/2008P r o j e t o d e L e i n º 2824/2008 foi iniciativa do Poder Legislativo e tem como autor o deputa-

do federal Zequinha Marinho (PMDB-PA). Diz respeito estritamente à retirada de um dispositivo da Lei de instituição e regulamentação da profissão de zootecnista, que atribui também a veterinários e agrônomos diplomados na forma da Lei, autorização para exercer esta profissão. Tal dispositivo se deveu ao fato de não existirem zootecnistas diplomados no ano de promulgação da Lei 5550, em 1968, e, como narrado pelo legislador na época em sua justificativa apensado à mesma, esta atribuição profissional teria caráter transitório, até que os zootecnistas se constituíssem com massa crítica para assumir sua atribuição profissional privativa;

- O deputado Zequinha Marinho entendeu que com a existência de mais de 100 cursos superiores ativos de graduação de Zootecnia em todas as regiões do país, formando-se mais de 3,5 mil profissionais por ano e com cerca de 20 mil pessoas já diplomadas nesta carreira, é justo que a atribuição do título de zootecnista seja apenas concedido aos que se diplomam no bacharelado em Zootecnia obtido em cursos superiores de graduação autoriza-dos e credenciados na forma da Lei e aos que convalidem seus títulos obtidos no exterior do país, à semelhança ao respeito das prerrogativas legais relativas aos cursos de Medicina Veterinária e de Engenharia Agronômica e de tantos outros existentes no país;

- É fundamental esclarecer que como a regulação proposta pelo texto legal infere-se somente ao exercício da profissão de zootec-nista, não se pode confundir com o desempenho da função docente ou

de pesquisador em Instituição Universitária ou de Pesquisa, onde a prevalência da titulação na graduação é autonomamente definida pela Instituição que realiza a seleção, concurso ou contratação;

- O tema tem sido debatido exaustivamente no Congresso Nacional, tendo já passado pela Comissão de Trabalho e Serviço Público, onde foi aprovado por unanimidade. No momento, encontra-se na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abasteci-mento e Desenvolvimento Rural. Nas audiências públicas ocorridas participaram diversos interlocuto-

O res e autoridades representantes dos grupamentos profissionais envolvidos. A Associação Brasi-leira de Zootecnistas (ABZ) tem sido um desses interlocutores, com participação democrática e muito bem recebida pelos parlamentares;

- O pleito em questão não pode ser considerado como privilégio e em nenhum momento pretende provocar a indissociabilidade das três profissões envolvidas, pois entendemos que somente a ação conjunta e de forma harmônica, cada qual com a sua responsabili-dade, nas suas respectivas áreas de atuação, é que continuará possibi-

litando o crescimento do agrone-gócio brasileiro;

- Esperamos que com estes esclarecimentos, as possíveis dúvidas e interpretações errôneas sobre o referido PL possam ser dirimidas e acreditamos assim que, com a serenidade de nossos propósitos, aproximação de idéias e objetivos comuns, as nossas categorias profissionais possam cada vez mais continuar cami-nhando juntas em benefício da sociedade brasileira.

Zootecnistas Angélica Pereira dos Santos Pinho e José Braz

Mariosi, conselheiros do CRMV-RS.

O perfil bovino estilizado em preto compacto, colocado em primeiro plano sobre o trevo e em menor proporção, remete arelação central da Zootecnia com a produção animal quequando associada aos demais elementos do símbolo descrito, conforma a ideia geral da cadeia agroindustrial.O aro externo e o interno na cor preta

q u e c o n t o r n a m o s í m b o l o , c o m ocírculos perfeitos, indicam o processo de continuidade da vida e a integração entre todos os seres vivos e o meio ambiente.

A expressão Zootecnia grafada em preto naparte superior entre os aros, conforme designa o manual, indica objetivamente a ciência e a profissão que se simboliza.

Os elementos internos do símbolo da Zootecnia são separados por tênue linha branca (mesma predominância do fundo de toda marca), para revelar melhor contraste.

O trevo de três folhas em verde, e em segundoplano sobre a letra Z, mostra a relação desta área do conhecimento com a produção vegetal destinada à produção animal ou a ela relacionada.

As engrenagens de cor preta, dispostas na parte inferior entre os aros, contêm 13 dentes, número que faz alusão ao dia 13 de maio, Dia do Zootecnista. Mostra também a interfacedesta área do conhecimentoentre as diversas ciênciasagrárias e, em especial, aengenharia da produção animalinerentes à própria Zootecnia.

A letra Z em último plano no centro do símbolo e na cor v e r m e l h a , r e p r e s e n t a sinteticamente a Zootecnia.

A Associação Brasileira de Zootecnistas (ABZ) organizou um estudo de redesign do símbolo da Zootecnia com o objetivo de destacar os elementos que compõem a arte gráfica. O Manual de Identidade Visual foi desenvolvido para padronizar a marca afim de garantir a perfeita aplicação em diversas superfícies e tipos de impressão, além de propor sua modernização.

Zootecnia define nova proposta gráfica

TEXTO EM TRAMITAÇÃO NA CÂMARA DOS DEPUTADOS ALTERA EXERCÍCIO PROFISSIONAL DA ZOOTECNIA

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ARTIGOARTIGO julho a dezembro 2009

om a globalização da economia mundial, as cadeias agroalimentares, em especial a da carne bovina, sofrem severas e profundas mudanças para atender ao

consumidor final, que exige produtos com elevados níveis de qualidade. Para isto, foram criados critérios de avaliação que ultrapassam a qualidade sensorial, pois incluem também a composição química, a apresentação e o modo de produção da carne.

A qualidade da carne bovina envolve vários aspectos, como pH, capacidade de retenção de água, cor, firmeza, textura, quantidade e distribui-ção da gordura, maciez, sabor e suculência, os quais são características determinantes na decisão de compra deste produto (Lawrie, 2005). Dentre elas, cita-se a estabilidade lipídica, pois está relacionada com a cor e esta com a aceitabili-dade da carne pelo consumidor.

Com isso, a quantidade de gordura presente na carne bovina afeta diretamente a sua qualidade, pois influencia a oxidação lipídica, que resulta na produção de radicais livres, podendo causar odores de ranço e sabores desagradáveis. Esta estabilidade oxidativa depende, dentre outros fatores, da concentração de ácidos graxos poli-insaturados. Diante disto, avaliar o perfil de ácidos graxos é um procedimento importante, pois está correlacionado com as modificações do produto e com aspectos relacionados à saúde (doenças do sistema cardio-vascular) dos seres humanos.

Os ácidos graxos (AG) podem ser classifica-dos em saturados (sem dupla ligação) e insatura-dos (com uma ou mais ligações duplas), sendo esses divididos em monoinsaturados (com uma dupla ligação), di-insaturados e poli-insaturados (com duas ou mais insaturações, respectivamen-te). Os ácidos graxos com mais de uma ligação são subdivididos em ômega6 e ômega3, sendo considerados essenciais, devido à incapacidade do organismo de sintetizá-los, motivo pelo qual devem ser incorporados na dieta (Freitas, 2006). A gordura contém cerca de 44% de ácidos graxos saturados (AGS), 45% de monoinsaturados (AGM), 5% de cadeia ímpar e pequenas quanti-dades de ácidos graxos poli-insaturados (AGP), como o ácido linoléico conjugado (CLA), que é tido como o único ácido graxo anticancerígeno e anticarcinogênico.

No Rio Grande do Sul, a percepção sobre o sabor da carne bovina apresenta particularidades em relação aos demais consumidores brasileiros. O gaúcho é apreciador de uma carne com maior marmoreio, característica esta que imprime uma sensação ao mastigar de maior suculência, maciez e gosto diferenciado. Este maior marmo-reio está altamente relacionado com a idade dos animais abatidos e com o perfil racial.

C

PESQUISA DE DOUTORADO PROPÕE CRITÉRIOS QUE ULTRAPASSAM ASPECTOS SENSORIAIS

A qualidade da carne bovinacomercializada em Porto Alegre

Angélica dos Santos Pinho*

Diante disto, o objetivo deste trabalho foi avaliar os efeitos de cortes (contrafilé, costela e picanha) e marcas sobre o teor de lipídios totais, a textura, a perda por cocção e o perfil de ácidos graxos da carne bovina comercializada em Porto Alegre. Das marcas comerciais coletadas duas pertenciam à associação de raças (A e B), uma oriunda do Uruguai (C), uma de um frigorífico regional (D - carne orgânica) e a última de uma rede de hipermercado (E).

Foi identificada uma interação (P<0,05) entre o corte e a marca para o parâmetro avaliado, sendo de maior magnitude na costela. A costela da marca B foi o que obteve maiores níveis de lipídios totais, provavelmente pelo fato da carne dessa marca ser originada de animais de raças britânicas, os quais apresentam grande deposição de gordura intramuscular. Contudo, esta não diferiu das marcas A (2,76%) e C (3,59%), que apresentam as mesmas características da marca B. Já as marcas D e E são originárias, principal-mente, de animais cruzados com zebuínos e, consequentemente, possuem menor teor de lipídios na carne.

Entre os cortes, a costela apresentou os teores de lipídios mais elevados, variando de 1,98 a 4,61%, provavelmente por ser um corte que apresenta elevada variabildade. A variável força de cisalhamento (textura) sofreu a interação entre marca e corte (P<0,05). Neste estudo, a textura da carne pode ser considerada como “muito macia” para todos os cortes. Provavelmente isto é atribuído a alta qualidade dos cortes e marcas (consideradas como nobres) utilizados.

Foi observada diferença (P<0,05) entre corte para todos os ácidos graxos avaliados. A costela apresentou maior grau de saturação nos AG (53,03%) que o contrafilé (47,28%) e picanha (44,86%). Enquanto que valores inversos foram observados para o grau de insaturação dos AG, verificando-se maior valor de insaturação para picanha (53,43%) e menor valor para costela (45,92%).

A ingestão de ácidos graxos monoinsaturados traz um efeito benéfico à saúde humana, por ocasionar queda nos níveis de colesterol total no plasma sanguíneo (Departament of Health, 1994). Portanto, maiores níveis de AGM são benéficos e neste estudo são representados pelo contrafilé seguido da picanha.

De acordo com Di Marco et al. (2007) é aconselhável restringir o consumo de energia proveniente de AGS a 10-15% do total de energia consumida na dieta, mantendo uma relação AGP/AGS de aproximadamente 0,5 (considerada adequada). Neste estudo observa-se que para todas as marcas apresentaram valores menores que 0,5.

Ocorreu alteração significativa (P>0,05) para a percentagem do AGS mirístico (C14:0), o qual, de acordo com French et al. (2003), é o mais desejável, principalmente pelos danos causados pelo aumento do colesterol ruim (LDL). Foi encontrado menor teor na marca D, o que pode ser explicado pelo sistema de produção, exclusiva-mente em pastagem, pois, reconhecidamente, a gordura dos animais alimentados a pasto possui um perfil de AGs diferenciado, apresentando menores porcentagens de AGS (French et al., 2000). Contudo, esta mesma apresentou maiores percentuais dos AG considerados essenciais (linoléico e linolênico). Por este motivo, esta marca se apresentou como a mais saudável para o consumidor.

Com relação ao CLA, que é um AG poli-insaturado, resultante da bio-hidrogenação incompleta no rúmen dos lipídios insaturados da dieta para saturados, a costela da marca A obteve o maior percentual deste ácido graxo. Para as marcas, diversos fatores como alimentação e raça podem ter influenciado as modificações no CLA, pois estes alteram as deposições de determinados AG, entre eles o CLA (French et al., 2003). A diferença encontrada nos teores de CLA da costela pode ser devido ao fato de que o conteúdo de fosfolipídios e a proporção entre AG C18 (CLA) e C16 são diferentes entre os músculos.

Com os dados apresentados neste trabalho é possível afirmar que o teor de lipídios totais, a textura, o perfil de ácidos graxos na gordura intramuscular e, principalmente, o CLA, dependem da marca e do corte de carne. Ter conhecimento de ferramentas que permitam melhorar a carne produzida pode ser importante para atender os principais mercados importadores do Brasil, já que o consumidor atual quer e exige um alimento de qualidade e saudável.

“O TEOR DE LIPÍDIOS TOTAIS, A TEXTURA, O PERFIL DE ÁCIDOS

GRAXOS NA GORDURA INTRAMUSCULAR E,

PRINCIPALMENTE, O CLA, DEPENDEM DA MARCA E DO

CORTE DE CARNE.”

*Zootecnista, doutora, professora adjunta da Universidade Federal do Pampa - Campus

Dom Pedrito, conselheira do CRMV-RS

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CONTASCONTAS12

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