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FEBRASGO Jornal da Jornal da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia Ano 14 – edição nº 84 – março 2007 Personagem Como conciliar vida pessoal e carreira? Gestão A importância do controle financeiro Atualização Telemedicina a serviço da população Profissional médico: Indústria do diploma forma mão-de-obra desqualificada

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FEBRASGOJornal da

Jornal da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia

Ano 14 – edição nº 84 – março 2007

Personagem Como conciliar vida pessoal e carreira?

Gestão A importância do

controle financeiro

Atualização Telemedicina a

serviço da população

Profissional médico:

Indústria do diploma forma mão-de-obra desqualificada

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II Jornal da FEBRASGO – março 2007

15th World Congress on Pediatric and Adolescent Gynecology

10º Congreso Latinoamericano de Ginecologia Pediátrica y Adolescente

6 a 9 de maio

Local: Transamérica Expo Center - São Paulo

Realização: SOGIA - BR

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Jornal da FEBRASGO – março 2007 �

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A dura realidade das escolas médicas

Febrasgo www.febrasgo.org.br • [email protected] • (11) 5573-4919Presidente: Nilson Roberto de Melo; Secretário-executivo: Francisco Eduardo Prota; Secretário-executivo adjunto: Vera Lúcia Mota da Fonseca; Tesoureiro: Ricardo José de Oliveira e Silva; Tesoureiro adjunto: Mariângela Badalotti; Vice-presidente da Região Norte: Pedro Celeste Noleto e Silva; Vice-presidente da Região Nordeste: Francisco Edson de Lucena Feitosa; Vice-presidente da Região Centro-Oeste: João Bosco Machado da Silveira; Vice-presidente da Região Sudeste: Cláudia Navarro Duarte Lemos; Vice-presidente da Região Sul: Almir Antonio Urbanetz; Assessor da presidência: Etelvino de Souza Trindade.Jornal da FebrasgoEditor: Nicolau D’Amico FilhoRedação: [email protected]ção editorialZeppelini Editorial: www.zeppelini.com.br • [email protected] • (11) 6978-6686 Jornalista responsável: Elaine Iorio – MTB: 43.306/SP

Esta edição do Jornal da Febrasgo aborda o problema do grande número de escolas médicas em nosso país. Em um único dia, foram criadas três faculdades de medicina, que, em geral, estão despreparadas para o ensino teórico e, principalmente, prático, não tendo nem mesmo um hos-

pital-escola. E será esse profissional, despreparado por ter se formado em estrutura deficitária, que terá a saúde da população nas mãos.

Lamentavelmente, a criação dessas escolas médicas muitas vezes tem finalidade política e mercan-tilista, visto que, segundo levantamento realizado pelo Cremesp, o valor médio da mensalidade das escolas privadas passa de R$ 3.000 em São Paulo.

Além da má formação, a grande quantidade de cursos de medicina tem gerado um número exorbitante de médicos, que se concentram em grandes centros. Assim, no Estado de São Paulo, por exemplo, há 1 médico para cada 474 habitantes. Essa proporção desigual é também gritante no município de São Pau-lo, tendo 1 profissional para cada 264 habitantes. O fato ocorre em vários estados e município de nosso país, sendo bem diferente do que seria aconselhado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Deve-se ressaltar que, após a formação desse estudante, a realidade torna-se ainda pior, já que apenas 40% dos médicos formados conseguem uma vaga para residência médica. Os que conseguem, podem enfrentar jornadas de 80 a 100 horas semanais, algumas vezes de 36 a 48 horas consecutivas, em que o discernimento e o bom-senso, que são fundamentais, deixam de existir, pois os residentes deveriam ter tempo adequado para descanso e estudo da especialidade escolhida. Aliado a isso, quando as condições de trabalho são inadequadas, o médico é pressionado e até agredido no seu local de trabalho.

Como se isso não bastasse, os salários são aviltantes – a imensa maioria não pratica os valores de honorários pela CBHPM – e o setor público não respeita honorários mínimos; haja vista as denún-cias que recebemos de nossos associados. Todos esses fatores também dificultam que o médico possa conciliar carreira, vida pessoal e familiar.

Outro problema é que não nos ensinaram no curso médico e na residência, e continuam não ensi-nando, a administrar e gerenciar consultórios e clínicas, que não deixam de ser uma empresa. Mui-tas vezes não temos noção de quanto nos custa uma consulta, sendo que, algumas vezes, de acordo com os honorários praticados pelo convênio ou seguradora por procedimentos e consultas, podemos ter até prejuízo no atendimento. Como diz Carlos Alberto Suslik, na reportagem Controle suas finan-ças desta edição: “Medicina é sacerdócio, mas também é um negócio. E um negócio competitivo”, o que obriga o médico a proporcionar cada vez mais serviço de qualidade.

Por todos estes motivos, penso que a Febrasgo, assim como todas as associações de especialidades, devem lutar conjuntamente com a AMB e o CFM pela não proliferação de escolas médicas, pela melhor formação do médico e do residente, por melhores condições de trabalho e de remuneração, proporcionando, dessa maneira, qualidade de vida e conhecimentos nas áreas de organização, geren-ciamento e administração de clínicas ou consultórios.

Nilson Roberto de Melo Presidente

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2 Jornal da FEBRASGO – março 2007

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Balanço final: 39° Congresso de Ginecologia e Obstetrícia e 1ª Jornada de Gestação de Alto Risco do Distrito FederalForam três dias de evento, mais de 800 inscritos, 43 pales-tras divididas entre cursos, mesas redondas, conferências, debates informais e simpósios. Os números finais mostram a amplitude do 39° Congresso de Ginecologia e 1ª Jornada de Gestação de Alto Risco do Distrito Federal, realizado en-tre 27 e 29 de setembro de 2006, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães.

Além das atividades científicas, o evento organizado pela Associação de Ginecologia e Obstetrícia do estado (Sgob) promoveu um happy poster de queijos e vinhos, com ex-posição de 49 trabalhos científicos e casos clínicos, visita à feira com estandes de 22 expositores e um curso de de-gustação de vinho. E, no último dia do congresso, o dr. Nil-son Roberto de Melo, presidente da Febrasgo, prestigiou o evento com uma conferência sobre osteopenia.

O evento foi credenciado como um dos mais importan-tes do centro-oeste pela qualidade científica dos pales-trantes. “Foi um evento completo e que agradou a todos”, comemorou Evaldo Trajano, presidente da Sgob.

Entre as atividades realizadas nos três dias de congresso, alguns destaques foram:

• O curso de Aspiração Manual Intra-Uterina (Amiu), em que o dr. Avelar de Holanda Barbosa conduziu alguns procedimentos demonstrativos para os pro-fissionais de saúde que participaram do evento;

• A palestra do professor Maurício Simões Abraão, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, considerado um dos mais conceituados especialistas em endometriose, que falou dos novos aspectos da etiologia da doença, do seu diagnóstico e tratamento;

• A mesa “HPV: Fim dos mitos”, liderada pelo dr. Edison Natal Fedrizzi, que fez quatro revelações a respeito da doença: não é possível dizer há quanto tempo o pa-ciente tem o vírus, pois o período de incubação é variá-vel; a transmissão não é unicamente por relação sexual; HPV não é sinônimo de câncer: de cem mulheres com o vírus, apenas uma vai desenvolvê-lo; e HPV tem cura, graças à evolução nos métodos de diagnóstico.

www.sgob.com.br

SUS ganha comissão de incorporação tecnológicaA análise sobre a inclusão de novas tecnologias no Sistema Único de Saúde (SUS) agora está a cargo da Comissão de Incorporação de Tecnologias (Citec), insti-tuída pela Portaria nº 3.323 no final do ano passado. O objetivo é racionalizar e agilizar o fluxo de pedidos ou possibilidade de incorporação de novas tecnologias ao SUS e à Saúde Suplementar. As tecnologias referem-se a novos medicamentos e equipamentos na rede públi-ca de saúde. A Citec será responsável pela análise das tecnologias em uso, revisão e mudanças de protocolos em consonância com as necessidades sociais em saú-de e de gestão do SUS e ainda na Saúde Suplementar. Empresas, associações médicas e associações de porta-dores de patologias específicas podem solicitar incor-poração de novas tecnologias, desde que atendam aos pré-requisitos expressos pela portaria.

www.saude.gov.br

AMB, APM e Cremesp criticam abertura de novos cursos de medicina em São PauloNo Brasil existe atualmente mais de 315 mil médicos em atividade, o equivalente a um para cada 560 cidadãos, número muito acima da relação de um para mil reco-mendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No estado de São Paulo já são mais de 90 mil médicos, totalizando um para cada 470 habitantes, e, na capital, a proporção é de um para 263. Mesmo diante da eleva-da quantidade de profissionais no mercado, o governo autorizou, no início de fevereiro, a criação de outros três cursos de medicina no estado. Para a Associação Médi-ca Brasileira (AMB) e a Associação Paulista de Medicina (APM), essa ação transforma a saúde em um objeto de mercantilização, configurando, portanto, um crime con-tra a população. Segundo as entidades, os brasileiros são vítimas da assistência de má qualidade e os estudantes pagam mensalidades caríssimas por cursos precários. Para o Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp), mais do que a manobra irresponsável do Mi-nistério da Educação e Cultura, foi lamentável a omissão do Conselho Nacional de Saúde, que abdicou da sua res-ponsabilidade legal de exercer o controle social e emitir pareceres sobre a necessidade destes cursos.

www.amb.org.brwww.apm.org.brwww.cremesp.com.br

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Evento reuniu mais de 800 participantes

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Jornal da FEBRASGO – março 2007 �

Entidades médicas acompanham projetos de lei no Congresso NacionalO Conselho Federal de Medicina e a Associação Médica Brasileira lançaram no início de março, em Brasília, a Agenda Parlamen-tar da Saúde Responsável, elaborada pela Comissão de Assuntos Parlamentares (CAP), formada pelas duas entidades médicas. O objetivo é que conselheiros, médicos, jornalistas e a sociedade como um todo acompanhe e opine sobre os projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional que afetam diretamente a saúde da população brasileira. Entre os projetos em tramitação e apoiados pelo CAP está o PDC 1.832/2005, do deputado Osmânio Pereira (PTB/MG), que prevê uma convocação de plebiscito relativo à interrupção da gravidez até a 12ª semana de gestação. Já o PL 5.230/05, da deputada Ângela Gadagnin (PT/SP), proíbe a distribuição e a recomendação (pelo SUS) e a comercialização (pelas farmácias) de métodos anticoncepcionais emergenciais, como a pílula do dia seguinte. Medida condenada pela comissão.

www.portalmedico.org.brwww.amb.org.br

O Parque do Ibirapuera, em São Paulo, foi o cenário escolhi-do para o lançamento da 1ª Campanha Nacional de Esclare-cimento sobre Endometriose, doença que acomete aproxi-madamente 6 milhões de mulheres no Brasil e 30 milhões no mundo.

A campanha, lançada em 11 de março, foi organizada pelo Núcleo Interdisciplinar de Ensino e Pesquisa em Endometrio-se (Nepe) em parceria com a Associação Brasileira de Mulhe-res com Endometriose (Abend) e o laboratório AstraZeneca. A ação teve participação de 45 médicos e uma equipe de 20 pessoas na organização, que ficaram à disposição da popu-lação para esclarecer dúvidas e encaminhar as mulheres que apresentaram sintomas da doença aos serviços públicos de saúde correspondentes.

A estrutura do evento, montada entre o Museu Afro-Brasilei-ro e o Planetário, contou com uma grande tenda, onde mais de 10.000 folhetos explicativos foram entregues aos visitan-tes, que naquele domingo registrou um público de aproxi-madamente 120 mil pessoas. Cerca de 2.500 mulheres foram atendidas, tendo a chance de descreverem seus sintomas, es-clarecerem dúvidas e receberem orientações sobre os locais e formas de tratamento.

Ao lado da tenda, uma área destinada às crianças disponibili-zava brinquedos como pula-pula e piscina de bolinhas, e uma equipe de animadores chamava a atenção das pessoas que passeavam pelo parque. Em homenagem ao Dia Internacio-nal da Mulher, comemorado em 8 de março, foram distribuí-das 2.000 rosas vermelhas.

Os profissionais que prestaram atendimento puderam com-provar o alto nível de desinformação que existe sobre a doen-ça. “Muitas mulheres que sofrem dores intensas há anos lidam com este fato resignadamente como se fosse algo natural, nem desconfiam que pode se tratar de endometriose”, comenta o dr. Maurício Abrão, um dos fundadores do Nepe. Para a presi-dente da Abend, Eleuze Mendonça, “a informação é a principal ferramenta da mulher para enfrentar a doença sem perder a qualidade de vida”.

Um dado interessante foi o elevado número de homens interes-sados na campanha. Apesar de as atividades serem dirigidas às mulheres, muitos homens se aproximavam do local para pedir informações sobre a doença e solicitar o material informativo, na intenção de levarem às suas esposas, mães, irmãs ou amigas. Isso demonstra não apenas o grande interesse do público masculino por tudo o que se relaciona à saúde, mas também sua disposi-ção em participar e se inteirar dos assuntos relativos à mulher.

www.abend.org.brwww.endometriose.org.br

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Evento distribui mais de 10.000 folhetos explicativos

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Endometriose é tema de campanha pública no Ibirapuera

Parte da equipe de médicos e organizadores

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� Jornal da FEBRASGO – março 2007

GEstão

Controle suas finançasTer eficiência e gerar lucro no setor de saúde causa conflito, mas é possível equilibrar interesses financeiros com qualidade

por Juliana de Souza

Chamar a atenção para a seriedade e o funcionamento do lado financeiro na área da saúde é muito importante, já que hospi-tais e consultórios médicos são pequenas empresas e devem ser

geridos como tais. Assim como qualquer outro prestador de ser-viço, são vistos como entidades transformadoras de recursos, que utilizam bens físicos, humanos e tecnológicos para produzir.

De acordo com o coordenador do MBA Executivo em Gestão de Saúde – HIAE/IBMEC São Paulo, Carlos Alberto Suslik, no Brasil ainda há muita confusão quando o assunto são as finanças de pequenas clínicas médicas. “Quando o gestor é o dono da instituição, pode acontecer uma mistura entre o dinheiro da pessoa física e da pessoa jurídica, resultando em um descontro-le financeiro”, explica.

Imagine a seguinte situação: um médico sai de casa para colocar ga-solina no carro. Chegando ao posto, percebe que está somente com o talão de cheques do consultório. Como não vai querer perder tempo para buscar o cheque da sua conta pessoal em casa, acaba pagando uma despesa cotidiana com o dinheiro da empresa. Aí você se pergunta: se o dinheiro do consultório também é dele, qual o problema?

Realmente, o dinheiro também é dele, mas só deve ser utilizado para fins particulares após todos os gastos do negócio serem quita-dos. Assim, quando a receita for superior aos custos, o proprietário pode utilizar seu lucro do jeito que achar mais conveniente.

Suslik explica que para clínicas e consultórios deve-se levar em consi-deração custos fixos e variáveis. Os custos fixos englobam aluguel, luz, água, condomínio, salário de funcionários, entre outros. Já os variáveis são basicamente os materiais utilizados no dia-a-dia e adquiridos de acordo com o número de pacientes. “O médico precisa ter claro quan-to custa cada consulta, dividindo todas as despesas fixas e variáveis por cada paciente, equilibrando assim as contas no final do mês. Afinal, o consultório tem de ser auto-sustentável”, diz o especialista.

Importância da gestão financeiraA gestão financeira em clínicas e consultórios desempenha um pa-pel muito importante no processo de tomada de decisões. Elemen-to crítico e imprescindível, proporciona grande impacto na quali-dade e continuidade dos serviços, contribuindo significativamente para a viabilidade econômico-financeira dos programas de saúde.

“As decisões sobre custos fixos, variáveis, diretos e indiretos de-vem ser avaliadas versus os ganhos que vão trazer direta ou in-diretamente. Precisam ser pensados de maneira a gerar ganhos que cubram seu próprio custo de contratação e novos serviços também”, elucida o coordenador dos cursos de Gestão Atuarial da Fundação Universia, Antônio Lucena.

Nos últimos anos, a administração financeira tem sido considerada uma das cinco grandes áreas funcionais da administração, ao lado da administração de pessoal, de compras ou materiais, de vendas ou de marketing e da produção. Além disso, partilha sua importância com outros setores funcionais básicos, como o planejamento, a organização, a coordenação, a direção e o controle. “Uma gestão financeira ruim pode destruir todo o ganho obtido com os produtos e serviços vendi-dos, determinando a falência da organização”, acrescenta Lucena.

Mais controle e mais medicinaControle, tomadas de decisão diárias e obrigações burocráticas podem tirar o foco da principal função do médico? Alguns espe-cialistas dizem que a resposta é sim, caso o profissional não tenha a devida atenção sobre seu papel. Esse é um problema muito comum quando médicos decidem, ou precisam, gerir seu próprio negócio sem uma assessoria adequada. Eles acabam aprisionados na teia da gestão empresarial e se vêem obrigados a implantar rotinas de controle para as quais não tiveram preparo formal.

Medicina é sacerdócio, mas também é negócio. E um negócio competitivo. Como em muitos outros campos de trabalho, a oferta de serviços é superior à demanda, fato que por si só obri-ga os médicos a oferecerem cada vez mais qualidade de serviços, seja qual for a especialidade. Para Suslik, gerenciar a própria empresa não atrapalha na qualidade do serviço médico. “Esse conflito ideológico já saiu de moda. Não é porque o médico cuida também das finanças que vai deixar de ser um bom pro-fissional”, diz.

Já Lucena acredita que em parte o médico deve se envolver, mas na medida que o negócio se amplia, ele precisa ter suporte pro-fissional de um contador, um gestor financeiro e um advoga-do. “Estes profissionais nem sempre precisam ser empregados, podem ser consultores, assim como os médicos são para nós na gestão da nossa saúde”, diz.

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Jornal da FEBRASGO – março 2007 �

Agosto/2007MBA Executivo em Gestão de Saúde – HIAE/Ibmec São PauloCarga horária: 600 horasLocal: Rua Quatá, 300São Paulo/SPInformações: (11) 4504-2400

MBA Gestão Atuarial e Financeira – Fundação UniversiaCarga horária: 360 horasLocal: SGAS Quadra 609. Conjunto E – L2 Sul. Campus Asa SulBrasília/DFInformações: (61) 3442-7500

Para a professora e coordenadora do Curso de Especialização em Economia Financeira da Unicamp, Maria Alejandra Madi, “o conflito existe e é inevitável quando o lucro depende principal-mente do volume de pacientes atendidos”, finaliza.

Dando a volta por cimaProblemas de controle financeiro não são raros. Muito pelo contrá-rio. A maioria das pequenas clínicas e consultórios passam por isso no começo. Isso porque a falta de conhecimentos em administração e contabilidade pode fazer com que o gestor acabe se atrapalhando com os números e perdendo o domínio sobre o seu negócio.

Jorge Michalski, sócio da Banca Consultoria, empresa especializada em economia e estrutura organizacional, conta que ao longo de sua carrei-ra se deparou com vários casos de falta de experiência administrativa e descontrole financeiro. “Um dos que mais chama a atenção é o de uma entidade filantrópica regional. Como filantropos absolutos que eram, sem qualquer visão gestora, quebraram, ficaram desacreditados e eram vistos como entidade ‘indigente’, pejorativamente”, conta o consultor. De acordo com ele, para sair do sufoco, contrataram profissionais com visão gestora, absolutamente focados em resultado. Assim, utilizaram dos melhores princípios profissionais e de criatividade. “O caminho foi longo, porém, hoje com muita humildade desfrutam do respeito, absolutamente necessário nesta atividade”, explica.

Um outro caso contado por Michalski é de uma clínica oncológica par-ticular. Os proprietários queriam atuar exclusivamente com pacientes particulares, aceitando poucos planos de saúde. Passado algum tempo, as instalações se depreciaram por falta de manutenção e atualização. “Novamente a ação de postura gestora atuou”, diz. Planejaram no sentido de encontrar o ponto de equilíbrio entre receitas e despesas. Hoje, atua no mesmo mercado mantendo o mix médio de receitas em 45% privado e 55% público. Porém, agregaram qualidade no atendimento, sendo um dos serviços o de atendimento psicológico, tão necessário para estes momentos. E o mais importante, não é cobrado.

No caso da Vital Saúde Centro de Especialidades Médicas, loca-lizada em Alphavile/SP, em 2000 o diretor clínico e financeiro, dr. Júlio Caporale, percebeu que as mudanças no mercado de saúde brasileiro afetariam suas finanças. A partir daí, decidiu arregaçar as mangas e tomar atitudes para salvar sua empresa. Houve um longo

Como obter um controle financeiro eficaz?Uma das grandes incertezas do proprietário de uma empresa é saber se o dinheiro que entra não tem desvios e se o que sai está sendo adequadamente utilizado. Para assegurar o uso correto dos proven-tos, especialistas listaram algumas medidas necessárias:

- Implantar sistema financeiro informatizado, tendo como finalidade gerar informações consistentes, confiáveis, completas e legais no as-pecto contábil;

- Criar mecanismos automatizados de controle sobre planos de saú-de, supervisionando o faturamento e o adequado recebimento;

- Controlar glosas;

- Analisar investimentos, evitando compras por impulso ou estimula-das por vendedores de equipamentos médicos;

- Separar gastos jurídicos e físicos;

- Ter um assessor/consultor financeiro permanente ou pontual para ajudar analisar e decidir questões relevantes;

- Fazer cursos de finanças que melhorem a capacidade de gestão;

- Fazer balanço periódico da gestão financeira da empresa, com apoio de um consultor.

processo de reestruturação da clínica por meio de contratação de administração profissional, treinamento de funcionários, redução de custos na compra de material e uso de celulares. Além disso, o provisionamento de tributos e de despesas trabalhistas passaram a ser feitos no orçamento anual, complementado pelo acompanha-mento diário do fluxo de caixa.

Felipe H

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� Jornal da FEBRASGO – março 2007

Profissional médico: Uma dura realidade – 2a Parte

A profissão médica talvez esteja passando hoje por uma de suas mais complexas crises. Tão intricada que, olhando para todos os lados da encruzilhada em que se encontra, precisa escolher rapidamen-

te o caminho que a recoloque no rumo certo, em direção ao futuro.

De um lado, a categoria enfrenta a baixa remuneração, as péssimas condições de trabalho no serviço público e as duplas, e até triplas, longas jornadas, temas já abordados na primeira parte desta repor-tagem, publicada na edição passada do Jornal da Febrasgo.

De outro, os médicos vêem-se às voltas com problemas que se tornaram mais difíceis de serem resolvidos com o passar do tem-po: deficiência na formação de mão-de-obra qualificada, falta de vagas em residências para os recém-formados e dificuldades para a administração da carreira e da vida pessoal.

O primeiro passo para a resolução dessas barreiras, no longo pra-zo, foi dado no dia 5 de fevereiro deste ano, quando o Ministério da Educação baixou portaria que vincula a criação de novos cur-sos de graduação em Medicina à obtenção de pareceres favoráveis do Conselho Nacional de Saúde. Se o CNS desaprovar algum curso, o processo será analisado pela Comissão Técnica de Acom-panhamento e Avaliação (CTAA) do MEC.

Atualmente, segundo o MEC, existem 300 pedidos de autori-zação para a abertura de novos cursos. Especialistas no tema e

Em busca do rumo certo

por Luciano Guimarães

Categoria e governo precisam encontrar meios para resolver problemas referentes à formação médica e à escassez de vagas em programas de residência em todo o Brasil

Assim como em São Paulo, estudantes de medicina e residentes de todo o país fizeram manifestações pelo aumento da bolsa-residência

CaPa

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APM

dirigentes de entidades defendem que quanto mais cursos fun-cionando, pior a será a qualidade da mão-de-obra formada.

Só no Estado de São Paulo, de acordo com o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), funcionam 31 cursos de medicina, sendo apenas oito em faculdades públicas. Juntos, se-rão responsáveis por despejar no mercado mais de 3.000 médicos por ano. Para o Cremesp, há excesso de médicos em São Paulo, que já conta com 91 mil profissionais em atividade – 1 médico para cada 474 habitantes. A equação é simples: excesso de mão-de-obra + concorrência acirrada = salários menores.

Se a abertura indiscriminada de novos cursos continuar, a situação só tende a piorar. Em 2005, segundo o último censo do MEC, ha-via 149 cursos em funcionamento, que receberam 68.834 matrí-culas. Ainda em 2005, o mercado recebeu 10 mil novos médicos.

Infra-estrutura inadequadaOs médicos que saem de instituições de ensino deficitárias, téc-nica e fisicamente, são os mesmos que terão em suas mãos mi-lhares de vidas. Profissionais que passaram por faculdades sem a

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Jornal da FEBRASGO – março 2007 7

Para Bráulio Luna Filho, presidente da Socesp, en-sino brasileiro deixa muito a desejar

Marcos Boulos, diretor da FMUSP, acredita que as facul-dades não estejam sintoniza-das com o desenvolvimento

dos conhecimentos

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É aí que mora o perigo. Instituída pelo decreto nº 80.281, de 5 de setembro de 1977, a residência médica não é obrigatória para o mé-dico recém-formado. São esses profissionais, assim como a boa parte daqueles que são reprovados nos exames de habilitação, que atuam como plantonistas em prontos-socorros, local crítico, onde é necessário saber o que fazer em circunstâncias adversas, sob pressão. Acredita-se que esta situação seja uma das razões para a elevação do número de denúncias de erros médicos, que cresceu 142% entre 1995 e 2005.

No site da Secretária de Ensino Superior (Sesu), por exemplo, há 80 vagas para residência em ginecologia e obstetrícia para 2007, em 17 instituições médicas e de ensino em todo o país. Na mesma área, mas com foco em ultra-sonografia, existem mais 40 vagas, oferecidas em 22 locais. É pouco. Este número precisa ser ampliado, para que os futuros médicos possam dar um aten-dimento de qualidade aos seus pacientes.

Segundo Marcos Boulos, é importante não permitir a criação de facul-dades sem campo de treinamento de qualidade. “É necessário buscar nos principais hospitais universitários o aumento da oferta de vagas, criar novos programas de residência não-hospitalocêntrica, a fim de se manter os recém-formados em contato com a comunidade”, salienta. “Quando o profissional não consegue se especializar fica, com freqü-ência, marginalizado, exercendo sua atividade em subempregos, que têm como objetivo principal auferir lucro da atividade do médico”.

Ainda há muito trabalho pela frente para colocar a profissão nova-mente nos eixos. A estrada é longa, tortuosa e cheia de obstáculos, mas o mais importante não falta: vontade de mudar para melhor.

infra-estrutura adequada, com laboratórios precários e bibliote-cas defasadas. Em alguns locais, até mesmo o corpo docente tem problemas de formação, atuando sem o preparo apropriado para quem espera ser chamado de professor, de mestre.

Essa má qualidade na formação de mão-de-obra vem se refletindo nos resultados de exames de habilitação profissional. Por exemplo: provas aplicadas pelo Cremesp em 2006, aos alunos do sexto e últi-mo ano da faculdade, mostraram que 37,9% dos 1.003 inscritos não conseguiram acertar 72 das 120 questões da primeira fase, revelan-do não terem conhecimentos mínimos para exercer a medicina. Em 2005, esse percentual foi de 31%. As áreas de conteúdo referentes à ginecologia e obstetrícia acompanharam a tendência e obtiveram menor percentual de acertos, com 64,82% e 59,09%, respectiva-mente, contra 65,19% e 59,33% do exame aplicado em 2005.

“A prova não foi tão complicada, sendo mais fácil até que os exames para residência médica, em que se selecionam os melho-res. O objetivo foi simplesmente saber se nossos médicos saíram da faculdade sabendo o que deveriam”, afirma o médico Bráulio Luna Filho, coordenador do exame do Cremesp e presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp). “O ensino das escolas médicas deixa muito a desejar.”

Para o médico Marcos Boulos, diretor da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), “algumas faculdades conseguem formar mão-de-obra de qualidade, porém, mesmo estas não estão sintoniza-das com o desenvolvimento dos conhecimentos e continuam a ensinar uma porção de conteúdos biomédicos desconectados do compromisso de bem atender”.

Residência: falta de vagas coloca qualidade profissional em chequeFormados, os médicos têm de enfrentar outro problema, que pa-rece longe de ser resolvido: o déficit de vagas para residência. De acordo com a Associação Nacional de Médicos Residentes (ANMR), existem 17 mil residentes no país, sendo que a maioria não consegue entrar em um programa de residência.

“Apenas 40% dos formados alcançam uma vaga no primeiro ano após saírem da faculdade. O restante precisa esperar entre dois e cinco anos por uma vaga. Outra boa parcela não faz a residência e exerce a profissão normalmente”, explica o médico Paulo Ama-ral, secretário de finanças da ANMR.

Amaral questiona o fato de as faculdades optarem pela abertura de cursos de especialização para os médicos em detrimento de um ver-dadeiro programa de residência. “Não existe fiscalização sobre a qua-lidade desses cursos, o que é perigoso tanto para o profissional que se forma quanto para o paciente que ele atenderá no futuro”, avalia.

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Carreira e vida pessoal: cada vez mais difícil de conciliarpor Luciano Guimarãescolaboração de Paula Craveiro

Os residentes brasileiros vêm passando por momentos difíceis. Após uma greve que chamou a atenção da sociedade brasi-leira, em 2006, com passeatas nas ruas e a mobilização de

centenas de pessoas, a manifestação terminou após a obtenção de um reajuste de 30% no valor da bolsa-auxílio.

Parcela considerável dos residentes trabalha mais de cem horas semanais, muitos atuando em plantões exaustivos, de 48 horas seguidas, sem intervalos para descanso. Este ainda é um fato negativo que precisa ser resolvido, pois são grandes as chances de erros médicos. Além disso, as longas jornadas também preju-dicam a atualização profissional, chamada no meio de educação médica continuada.

“Atualmente, segundo levantamento do Conselho Federal de Me-dicina (CFM), o médico tem quatro atividades simultâneas e, cada vez mais, precisa trabalhar para compensar o achatamento gradual de seus ganhos”, afirma o neurologista Cid Célio Jayme Carvalhaes, presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp) e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Neurologia. “Em cinco anos, o profissional precisa obter cem pontos em atividades de educação continuada. Caso contrário, com o avanço da tecnologia e dos pro-cedimentos, ficará desatualizado em menos de 8 anos”.

A seguir, confira como três profissionais lidam com este pro-blema cotidiano, conciliando, da maneira que podem, a vida pessoal com a carreira.

DENISE CRISTINA MÓS VAZ OLIANI Ginecologista formada há 20 anos e especialista em ultra-so-nografia há 17 anos. É docente do Departamento de Gineco-logia e Obstetrícia, chefe do Serviço de Imagem em GO da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp) e diretora do Instituto de Medicina Reprodutiva e Fetal.

JF: Por que você decidiu se especializar em ultra-sonografia e o que mudou da época em que fez US para os dias atuais?

Denise: Era algo que faltava para complementar a profissão. Quando me especializei, acabei assumindo funções na US e gostei bastante. A carreira teve mudanças consideráveis. Somente neste ano, a US passou a ser obrigatória nos pro-gramas de residência. Antes; o médico precisava pagar para fazer um curso a respeito.

JF: Como você concilia a vida profissional e a pessoal?

Denise: Minha carga de trabalho é de aproximadamente 55 horas por semana, divididas em 40 horas na faculdade e o restante no consultório. A grande vantagem é que trabalho o tempo todo com o meu marido, que também é médico, tanto na faculdade quanto no consultório. Optei por não ter filhos, para poder cuidar da carreira. Um filho tomaria muito tempo, dificultando o desenvolvimento na profissão.

JF: Como você atualiza seus conhecimentos?

Denise: Tenho reuniões todas as manhãs com meus residen-tes da ultra-sonografia, para repassar conceitos; a cada 15

dias, nos reunimos para discutir medicina fetal; às sextas-fei-ras, à tarde, novamente no juntamos para discussão de casos publicados em revistas internacionais; e, uma vez por mês, voltamos a discutir mais casos. Também uso bastante a inter-net e participo de congressos e seminários, inclusive no exte-rior, para onde vamos duas vezes ao ano.

JF: Essas funções de chefia a deixam mais estressada do que antes?

Denise: Sim, com certeza, mas há vantagens, pois em cargo de chefia, passei a ver a profissão de modo dife-rente. Hoje, aprendo muito com meus 18 re-sidentes. Estou me adaptando à carga de trabalho. Ser chefe me ensina a controlar esse problema.

JF: E como são suas horas de lazer?

Denise: Como trabalho também aos sábados, o domingo para mim é sa-grado. Gosto muito de ler, fazer caminhadas e viajar. Sempre que podemos, vamos a Ribeirão Pre-to (SP), onde moram meus pais. Creio que o importante é fazer o que se gosta.

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NEIVANA MAR DOS SANTOS FONTES Especializada em GO pela Universidade de Manaus há 10 anos. É docente da cadeira de GO na Universidade do Amazo-nas e coordenadora do programa de Planejamento Familiar e Contracepção do Hospital Universitário Francisca Mendes, administrado pela Universidade Federal do Amazonas. Tam-bém é médica plantonista cooperada da Cooperativa Médica de Ginecologia e Obstetrícia (Copago).

JF: Que atividades médicas você desempenha e quanto tem-po, em média, elas consomem?

Neivana: Atuo nas áreas de cirurgia e contracepção. Tam-bém sou residente plantonista e, como faço parte de uma cooperativa, não tenho tempo suficiente para fazer con-sultório. Sem contar que o trabalho acadêmico e as tarefas do hospital ocupam uma grande parte do meu dia, aproxi-madamente 70%.

JF: Como você se atualiza?

Neivana: Como estou diretamente ligada à universidade, acabo me atualizando enquanto realizo pesquisas acadê-micas ou ao preparar minhas aulas. Para poder sanar as dúvidas e questionamentos em geral de meus alunos, sou constantemente obrigada a ir atrás de informações, seja em livros, cursos ou internet. A própria dinâmica de aprendiza-do, a interação entre os alunos e eu, torna-se uma fonte de novos conhecimentos.

MARCELO MARSILLAC MATIAS Ginecologista com consultório próprio, contratado do Hospital Materno-Infantil Presidente Vargas e plantonista de sobreaviso do Hospital Mãe de Deus, todos em Porto Alegre (RS).

Jornal da Febrasgo: Qual a sua carga de trabalho atual?

Matias: Ultrapassa com certeza 70 horas semanais, sendo 60 horas dedicadas ao Hospital Presidente Vargas, que é federal e municipalizado. Lá, atendo no Centro Obstétrico, no ambu-latório e no bloco cirúrgico. As demais horas são gastas no consultório, geralmente no final das tardes.

JF: Como você atualiza seus conhecimentos?

Matias: A maioria da atualização é feita por meio da internet. Hoje, a educação continuada requer tempo e investimento, coisas que os médicos não têm. Mas sempre que possível, até porque faço parte da Comissão de Ética e de Ensino do Hospital Presidente Vargas, busco conhecimento na literatura médica e em periódicos.

JF: Trabalhar tanto não prejudica esse processo de educação continuada?

Matias: Sim, é claro, pois a falta de tempo dificulta cada vez mais a atualização de conhecimentos médicos. Em função

disso, não só eu, mas a maioria dos profissionais tem apenas os finais de semana para isso. Sou sócio da So-ciedade Brasileira de Ginecologia, participo de cursos e seminários, mas mesmo freqüentar esses eventos está ficando complicado.

JF: Como são as suas atividades de lazer?

Matias: São praticamente dedicadas à família, principal-mente à minha filha de dois anos de idade. Dificilmente conseguimos ir ao cinema ou a um parque, porque a profissão toma muito o nosso tempo. Mi-nhas horas de lazer são pratica-mente passadas em casa.

JF: Como você concilia a vida profissional e a pessoal?

Neivana: Quando se é sozinho, a vida é mais simples. A partir do momento que tem mais alguém envolvido – no meu caso, duas crianças ainda pequenas –, é preciso ter muito jogo de cintura. Felizmente sempre pude contar com o apoio de meus familiares. Porém, em alguns momentos é preciso abrir mão de certas coi-sas, fazer uma opção. Não dá para abandonar minha profissão, pois é algo a que me dedico há anos. Mas também não posso esquecer dos meus filhos, que são prioridade em minha vida.

JF: E como são suas horas de lazer?

Neivana: Por passar muito tempo au-sente, busco dedicar esses momen-tos inteiramente a eles. Tento fazer quase todos os programas que eles gostam, como levá-los para andar de skate e patins, ir ao cinema, jogar boliche. Mas, sempre que possível, procuro também sair para dançar, que é uma coisa que eu gosto muito, mas quase não tenho tempo de fazer.

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Uma abordagem inicial sobre telemedicinapor Elaine Iorio

A telemedicina surgiu na década de 1960, em meio à corrida espacial da Guerra Fria, tendo os EUA e a ex-URSS como os países pioneiros da área. A National Aeronautics and Space

Administration (Nasa) é considerada a responsável por sua pri-meira aplicação, em virtude do programa de vôos espaciais e o desenvolvimento de sofisticadas técnicas de telemetria biomédi-ca, sensores remotos e comunicações espaciais.

Naquela época, tecnologias comuns, que hoje estão presentes no dia-a-dia das sociedades urbanas, eram ainda de altíssimo custo. Por conta disso, a utilização da telemedicina era pouco explorada, sendo reservada para situações muito específicas, distantes da população.

A partir de década de 1990, entretanto, com a melhoria da teleco-municação, a expansão da Internet (surgimento da web) e a redução de custos dos sistemas computacionais com os recursos gráficos, a telemedicina ganhou força e pôde ser popularizada. Esse desenvol-vimento tecnológico a menor custo incentivou os estudos focados nas aplicações mais amplas da telemedicina, tendo o surgimento da telessaúde como um dos principais resultados dessa etapa.

Conceitos e diferenciaçõesSegundo definição do dr. Chao Lung Wen, professor associado e coordenador-geral da disciplina de Telemedicina da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), telemedicina é o uso de moder-nas tecnologias, que englobam informática e telecomunicação, com o objetivo de se desenvolver a cadeia produtiva de saúde: um conjunto de ações voltadas para a qualidade de vida e a pro-moção da saúde da população – que envolve, entre outros as-pectos: educação, prevenção, saúde da família, segunda opinião especializada, capacitação de profissionais e telehomecare.

A telemedicina atua em três grandes áreas: teleassistência / televigilância epidemiológica; teleducação interativa; e pes-

quisa multicêntrica versus comunidades virtuais. Quanto ao aspecto tecnológico, pode ser igualmente dividida em três categorias:

• Alta tecnologia: Videoconferências dedicadas e de alta per-formance, cirurgia robótica, biometria etc.;

• Media tecnologia: Uso de Internet de banda larga, tele-ecg, telehomecare, sistema de alerta geriátrica etc.;

• Larga abrangência: Uso de tecnologias simples, incluindo In-ternet de linha discada.

Em meio a tantos nomes e conceitos, uma das dúvidas mais comuns, principalmente entre aqueles que estão iniciando na área, é a diferenciação entre telemedicina e telessaúde. Dr. Chao esclarece que, em princípio, a telessaúde seria um termo mais amplo, pois englobaria todas as 14 profissões de saúde reconhecidas pelo MEC e Ministério da Saúde. “Po-rém, como a telemedicina é a área mais estruturada mun-dialmente, e surgiu ainda na década de 1960, uso o termo telemedicina para conferir as características que a telessaúde poderá adotar. Estamos em uma fase de transição; a palavra telessaúde começará a ser mais conhecida nos próximos cin-co anos”, explica ele.

Telemedicina no BrasilApesar de ainda engatinhar no campo da alta tecnologia na segunda metade da década de 1990, o Brasil também acompa-nhou o desenvolvimento da telemedicina, realizando diversos ensaios naquela época. Mas foi somente a partir de 2002 que ela ganhou força no país. Do ponto de vista institucional, há a seguinte cronologia:

• Dez/2002 – Criação do Conselho Brasileiro de Telemedicina e Telessaúde;

Videoconferência entre a FMUSP e a Universidade do Estado do Amazonas em 2006

Para dr. Chao, o Brasil possui um dos maiores programas latino-americanos de telemedicina

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• Mar/2006 – Criação da Comissão Permanente de Telessaúde do Ministério da Saúde;

• Ago/2006 – Criação do Comitê Executivo de Telessaúde do Ministério da Saúde;

• Jan/2007 – Criação do Programa Nacional de Telessaúde do Ministério de Saúde e aprovação da Câmara Técnica de Tele-medicina no Conselho Federal de Medicina.

Para o professor da FMUSP, isso demonstra a evolução do Brasil na área, que, segundo ele “provavelmente tem um dos maiores programas latino-americanos de telemedicina”. A disciplina de Telemedicina da Faculdade de Medicina da USP, da qual ele faz parte, é a única da América Latina. A instituição ficou entre as cinco finalistas do Prêmio do Presidente, durante a edição 2005 do Congresso de Telemedicina da Associação Americana de Tele-medicina – a maior entidade de telemedicina do mundo.

AmpliaçãoCom o objetivo de expandir a telemedicina na área acadêmica, a FMUSP está apoiando a criação de mais três disciplinas em univer-sidades brasileiras e dez núcleos em diversos serviços. “Por ser mem-bro da Comissão Permanente de Telessaúde e Comitê Executivo de Telessaúde do Ministério da Saúde, tenho ajudado a criar grupos de trabalhos nas áreas de remuneração e ética por serviços prestados por meio da telemedicina, normatização técnica, levantamento das infra-estruturas tecnológicas nos países e cooperações”, conta dr. Chao.

Segundo ele, também é necessária a criação de uma rede de telemedi-cina de hospitais privados, ampliar cursos de treinamentos para pro-fissionais da área de saúde, consolidar o telehomecare e a prevenção de doenças com o uso do homem virtual como ferramenta educacional.

Outro ponto é a utilização da telemedicina de forma ampla na educação médica continuada e a implantação de grandes projetos sociais pela telemedicina, como o Projeto Jovem Doutor, que permitirá estruturar um grande programa para a utilização dos recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomu-nicação (Fust), que conta com cerca de R$ 4,5 bilhões.

Telemedicina e tocoginecologiaO uso da telemedicina em ginecologia e obstetrícia ainda está em fase inicial. Porém, ela é muito promissora para as áreas de educação médica continuada, campanhas de pre-venção – como do câncer de mama e do câncer de colo ute-rino –, e acompanhamento de gestação de risco por meio de monitoramento cardio-fetal domiciliar e on-line.

É fundamental iniciar uma política de formação desde agora, para que a teleginecologia e teleobstetrícia estejam adequa-damente consolidados nos próximos 3 anos.

Além disso, o projeto da Mulher Virtual, aos moldes do já con-sagrado Homem Virtual, deve representar um grande avanço para os profissionais de G/O. Ela foi criada para explicar os prin-cipais pontos da saúde da mulher, tais como anatomia do apa-relho genito-urinário, musculatura do períneo feminino, ciclo menstrual, métodos contraceptivos, climatério entre outros.

O Projeto Homem Virtual usa os recursos da computação gráfica para ultrapassa a fronteira da anatomia, abordando fisiologia, fisiopatologia, biomecânica, mecanismos de ação e outros aspectos relevantes do conhecimento sobre saúde.

www.projetohomemvirtual.com.br

RevistasAtualidades Brasileiras em Telemedicina e Telessaúde – Disciplina de Telemedicina da FMUSP.

Journal of Telemedicine and Telecare – Royal Society of Medicine (London)

Telemedicine and e-Health – American Telemedicine Association

Linkswww.cbtms.org.brwww.estacaodigitalmedica.org.brwww.saudetotal.com.br

Projeto Homem Virtual teve grande receptividade em todas as espe-cialidades médicas

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AMB e CFM lançam mais 80 diretrizesA Associação Médica Brasileira (AMB) e o Conselho Federal de Medicina (CFM) disponibilizaram na internet e na versão impressa os volumes 4 e 5 do Projeto Diretrizes AMB/CFM, que contêm 40 diretrizes cada. Colaboraram com o quinto volume 12 sociedades de especialidade. As metas do projeto para 2007 são publicar os volumes 6 e 7, com 240 diretrizes divididas pelas áreas clínica e cirúrgica, e atualizar aquelas ela-boradas em 2000 e 2001.

www.projetodiretrizes.org.br

Curso de capacitação jurídica para médicos na TVEm abril, o canal Conexão Médica prossegue com as atividades voltadas para a atualização profissional. O destaque é o 1º Curso de Capacitação Jurídica para Médicos, com estréia prevista para 17 de abril. Sua exibição será às terças-feiras, sempre na terceira semana do mês, com início às 8h. A primeira aula será ministrada por Emerson Eugenio de Lima, advogado-sócio da Eugenio de Lima e Pitella Advogados.

www.conexaomedica.com.br

SitesThe North America Menopause Society

www.menopause.orgO site da Sociedade Norte-Americana de Menopausa traz infor-mações sobre menopausa, menopausa precoce, sintomas da doença e efeitos em longo prazo sobre a saúde, além de uma grande variedade de terapias.

Department of Obstetrics and Gynecology

http://obgyn.bsd.uchicago.eduO Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Universi-dade de Chicago promove pesquisas ligadas à saúde das mulheres, como câncer, complicações da gravidez, genética e endocrinologia reprodutiva.

A questão da anestesia em ObstetríciaCom o objetivo de contribuir para a formação de especialistas e sanar algumas dúvidas recorrentes à prática cotidiana, a edito-ra Atheneu lança a segunda edição de Anestesia em Obstetrícia (461 págs., R$ 187), obra inovadora ao abordar pela primeira vez o intenso volume de anestesias obstétricas aplicadas diaria-mente no Brasil. Em dez anos de estudos e atualizações, muitos conceitos mudaram e novas técnicas foram introduzidas, infor-mações complementadas nesta segunda edição pelos autores, Américo Massafuni Yamashita, professor assistente da Universi-dade Federal de São Paulo (Unifesp-EPM), e Judymara Lauzi Go-zzani, doutora em medicina pela Unifesp-Epm e editora-chefe da Revista Brasileira de Anestesiologia, em conjunto com 30 mé-dicos atuantes em entidades de excelência de todo Brasil.

[email protected] 267 753

Livros

ABRIL

12 a 15 13º Congresso de G/O da Região Su-deste da Febrasgo / 31º Congresso Estadual de G/O da SgorjRealização: SgorjLocal: Rio de Janeiro (RJ)[email protected](21)2265-1525

13 Seminário Responsabilidades de médi-cos e instituições de saúdeRealização: Central Prática ConsultoriaLocal: São Paulo/SPwww.centralpratica.com.br(11) 5049-3386

13 e 14 1ª Jornada de Sexualidade Humana de São José do Rio PretoRealização: CenaconLocal: São José do Rio Preto (SP)[email protected](17)2138-5700

14 1ª Jornada de Atualização em Masto-logia e 2ª Jornada de Atualização em Ginecologia e Obstetrícia de Itumbiara Realização: SGGOLocal: Goiânia (GO)[email protected]@aganet.com.br (62)3285-4586

20 e 21 3ª Jornada de Ginecologia e Obste-trícia de BonitoRealização: Sogomat-SulLocal: Bonito (MS)[email protected]@uol.com.br(67)3042-2131

27 e 28 2ª Jornada Paranaense de Atuali-zação em Ginecologia Endocrina e AnticoncepçãoRealização: SogipaLocal: Maringá (PR)[email protected](41)3232-2535

281º Encontro de Ginecologia e Obste-trícia Baseado em Evidências Realização: SGGOLocal: Caldas Novas (GO)[email protected]@aganet.com.br(62)3285-4586

AgendaMAIO

4 e 5 Simpósio de Medicina FetalRealização: SgobLocal: Brasília (DF)www.sgob.com.br(61)3245-3681

6 a 9 15th World Congress on Pediatric and Adolescent Gynecology e 10º Congreso Latinoamericano de Gine-cologia Pediátrica y AdolescenteRealização: Sogia – BRLocal: São Paulo (SP)[email protected]

12 6ª Jornada de Reprodução Humana da SBRH-RegionalRealização: SGGOLocal: Goiânia (GO)[email protected]@aganet.com.br(62)3285-4586

16 a 19 32º Congresso Mineiro de G/O – Emgo 2007Realização: SogimigLocal: Belo Horizonte (MG)[email protected](31)3222-6599

24 a 26 4º Congresso de Ginecologia e Obs-tetrícia da Região NorteRealização: AssagoLocal: Manaus (AM)[email protected](92)3232-2441

24 a 26 33ª Jornada Pernambucana de Gine-cologia e ObstetríciaRealização: SogopeLocal: Recife (PE)[email protected](81)3222-5112

30/5 a 2/6 21ª Jornada de Obstetrícia e Gineco-logia da Santa Casa de Misericórdia de São PauloRealização: Centro de Estudos Ayres NettoLocal: São Paulo (SP)[email protected]

University of Chicago:

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