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Editoria: Comportamento
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COMPORTAMENTOPiracicaba, 6 de janeiro de 2013 | CADERNO DE DOMINGO | 10
E por falar nisso
COMPORTAMENTO
Paulo Emerique é psicanalista, educador e doutor em psicologia
Seria bom dar um tempo ao tempo?A chegada de cada ano
novo é uma época emque as pessoas pensam
mais no tempo e no uso que es-tão fazendo dele.
É, também, momento de re-novar seus bons propósitos e in-tenções.
E por falar em bom, repartocom os leitores este diálogo deduas personagens do livro Cla-rabóia, de José Saramago, que linos últimos dias do ano que ter-minou:
-Mas entendo que toda a gentedevia ser capaz de separar o trigo
do joio. O que émau, de um lado;o que é bom, do outro.
-Não pode ser. O bem e o mal,o bom e o mau, andam sempremisturados. Nunca se é comple-tamente bom ou completamen-te mau.
-Nesse caso, não tens a certe-za de que é bom aquilo de quegostas?
-Não, não tenho.
-Então, porque gostas?
-Gostop o r q u eacho queé bom ,mas nãosei se ébom.
-Euposso escolher entre obeme o mal.
- Diz-me lá, se sabes, o que é obem e o mal. Onde acaba um ecomeça o outro?
- Isso não sei, nem é perguntaque se faça. O que sei é reconhe-cer o mal e o bem onde quer queestejam...
-De acordo com o que pensasa respeito deles...
- Nem podia ser de outra ma-neira. Não é comas ideias dos ou-tros que eu ajuízo!
- Pois é aí que está o ponto di-fícil. Esqueces que os outros tam-bém têmas suas ideias acerca do
bem e do mal. E que podem sermais justas que as tuas...
-Se toda a gente pensassecomo tu, ninguém se entendia.É preciso regras, é preciso leis!
-E quem as fez? E quando? Ecom que fim?
-E afinal, pensas com as tuasideias ou com as regras e as leisque não fizeste?...
Esta conversa lembrou-me deuma história oriental:
Um sitiante tinha um só ca-valo, que acabou fugindo.
Os vizinhos vieram consolá--lo: que ruim! você perdeu seucavalo...
Mas ele respondeu: se épara o bem ou para o
mal, só o tempo dirá.
O cavalo encontrou outrosseis cavalos selvagens que, de-pois, voltaram com ele para ocurral.
Que bom, disseram os vizi-nhos, agoravocê temsetecavalos!
Um dia, seu filhomoço foi do-mar um dos cavalos e caiu dele,quebrando a perna.
Que pena que aconteceu esseacidente, disseramosseusamigos.
Como aprendera com seu pai,ele repetiu: Se épara o bem oupara o mal, só otempo dirá.
Alguns dias de-pois, seu país decla-rou guerra a outro,mas ele foi dispen-sado das batalhaspor estar enges-sado.
E os vizinhosconcluíram: que
bom que você caiu do cavalo...
Nossa educação dicotômicainsiste em que podemos sepa-rar facilmente o que é bom doque é ruim e foi com essa ideiaque a gente também caiu do ca-valo da ética e foi parar no mo-ralismo que pretende nos darsempre certezas do que é cer-to ou errado sem mesmo levarem conta o que há de históricoe contextual em todas as deci-sões humanas.
Um exemplo: em dezembrofilas enormes de pessoas foramjogar na Mega Sena, repetindoo que cantariam na última noi-te do ano: é bom ter muito di-nheiro no bolso (e, de preferên-cia, saúde pra dar e vender...)
Como já se disse, o tempo é osenhor da razão e só depois elenos mostrará se quem ganhoufez bom oumal uso do dinheiro.
Se há algo a fazer para quenossa ansiedade seja pequena euma possível sabedoria futuravenha de bom tamanho, talvezseja razoável botar a esperançade dias melhores no passar dotempo, que será nosso mestre,se soubermos fazer as liçõesde casa na escola da vida e re-conhecer que a aprendizagempode vir a ser lenta...
A psicanálise nos diz que háum saber que só alcançamosdepois dos erros e acertos denossas escolhas. Ou seja: só otempo dirá!
Como diz o caboclo, quemviver verá... e poderá encontrar,ao final de sua história pesso-al, um tanto de bem tempe-rado com uma pitada de mal,quem sabe?
É, também, momento de re-novar seus bons propósitos e in-tenções.
E por falar em bom, reparto com os leitores este diálogo de
duas personagens do livro Cla- rabóia, de José Saramago, que li
nos últimos dias do ano que ter-minou:
-Mas entendo que toda a gente devia ser capaz de separar o trigo
tamente bom ou completamen-te mau.
-Nesse caso, não tens a certe- za de que é bom aquilo de que
gostas?
-Não, não tenho.
-Então, porque gostas?
-Gosto p o r q u e
que achoé b om , mas não
sei se ébom.
- Isso não sei, nem é pergunta que se faça. O que sei é reconhe-cer o mal e o bem onde quer que
estejam...
-De acordo com o que pensas a respeito deles...
- Nem podia ser de outra ma-neira. Não é com as ideias dos ou-tros que eu ajuízo!
- Pois é aí que está o ponto di-fícil. Esqueces que os outros tam-
bém têm as suas ideias acerca do
-E quem as fez? E quando? Ecom que fim?
-E afinal, pensas com as tuasideias ou com as regras e as leis que não fizeste?...
Esta conversa lembrou-me deuma história oriental:
Um sitiante tinha um só ca-valo, que acabou fugindo.
Os vizinhos vieram consolá- -lo: que ruim! você perdeu seu
cavalo...
Mas ele respondeu: se é para o bem ou para o
Que bom, disseram os vizi-nhos, agora você tem sete cavalos!
Um dia, seu filho moço foi do- mar um dos cavalos e caiu dele,
quebrando a perna.
Que pena que aconteceu esseacidente, disseram os seus amigos.
Como aprendera com seu pai, ele repetiu: Se é para o bem ou para o mal, só o
tempo dirá.
Alguns dias de-pois, seu país decla-
rou guerra a outro,mas ele foi dispen-
sado das batalhaspor estar enges-sado.
E os vizinhos concluíram: que
Patricia VieitezEspecial para o JP
Sem preocupação com o queaspessoas vãopensar, osqua-rentões, cinquentões, sessen-
tões e setentões correm atrás dafelicidadedeumavidaadois. Bemdiferente de décadas atrás, quan-do se via avós e atépais jovenspas-sarem o resto da vida sozinhos.Descasados, solteiros, viúvos...hoje o que importa é encontraralguém com quem compartilharo que muitos chamam de a me-lhor parte da vida. Há quem gos-ta de baladas, barzinhos e outroslocais para conhecer gente. Ou-tros partem para o computador eagora com uma ajudazinha extrapara os maiores de idade: os sitesde relacionamentos para essa fai-xa etária. Um deles é o Coroa Me-tade, para quem tem mais de 40anos de idade.
Segundoapsicólogaeeducado-ra Shirley Martins de Oliveira, aspessoas com mais de 40 anos dehoje não são asmesmas de antiga-mente. “A concepção de vida des-sas pessoas é outra, a perspectivade futuroque têmébemdiferente”,observou, ressaltando quemuitosviúvos e divorciados dos dias dehoje tambémnãoestãopreferindoviver sozinhos. “Pelo contrário, fa-zemnovas escolhasdeparceiros ede companheiros, se arriscam emnovos relacionamentos”.
O motivo da mudança? “Emprimeiro lugar é que a socieda-de atual não condena da mesmaforma que fazia aquela do passa-do, ou seja, houve um rompimen-to dos tabus e preconceitos exis-tentesnaépoca,permitindoqueosviúvos e separados vivam em ple-na liberdade o recomeço de umanova vida ou a continuidade deuma vida normal. Em segundo lu-gar, osquarentõesdosdiasdehoje,mesmo diante de quaisquer bar-reirasoudificuldadesestãomuitomais dispostos a vencê-los, a viver
plenamente a sua liberdade, mui-tos já não se importam com a opi-niãoalheia equeremasua felicida-de acima de tudo”.
E idade, quando se fala em fe-licidade, não passa de umdetalhe.Umexemplodisso é o aposentadoLuizMedeiros, 72, que é separado,temfilhosenetosenamorada. “Ah,ficar emcasa, cabisbaixo, nãoviranada. Temque ter alguémpara sedivertir, passear”, destacou.
Por issoeleestádecasosérioháseis meses com uma mulher queconheceu nos bailes da melhoridade. “Amoréválidoemqualqueridade, enquanto estamos vivos te-mos que aproveitar”, disparou, rin-do e completando que é fácil en-contrar uma namorada. “Difícil éachar a pessoa certa”. No momen-to, porém, Medeiros está feliz davida com a companheira, a quemse derrete em elogios. “É uma pes-soa muito legal, séria, dedicada ecarinhosa”, listou.
Aqueles que não têm mais dis-posição para badalar investemnabusca virtual. Pensando nessa de-manda, o empresário Airton Gon-tow idealizou o site Coroa Meta-de, para gente madura que buscaum relacionamento estável. A ins-piraçãoveiodelemesmo. “Foi combasenaminhahistóriapessoal, determedivorciadoaos44anos(hojeestou casadonovamente há cincoanos), e também nas histórias dediversos amigos que estavam sol-teirosouseparadosaos40/50anosevivenciaramasdificuldadesparaencontrar pessoas para uma rela-ção estável”, comentou.
Gente interessada no assun-to não falta. Em 42 dias de opera-çãooCoroaMetade já teve200milacessos, só demulheres commaisde 40 anos e homens commais de45. Na opinião dele, a busca é refle-xo da dificuldade de conhecer al-guém mais velho para algo maissério. “Pela faixa etária, pela falta
de vontade de frequentar baladasou de se expor a apresentações fei-tas por amigos e parentes muitaspessoas procuram na internet al-guémcomosmesmosvaloreseob-jetivos para compartilhar os bonsmomentosdavidaadois”, afirmou.
Por isso, o site traça o perfilpessoal para aumentar as chan-ces de encontrar alguém que real-mente valha a pena. “A idade tor-na as pessoas mais seletivas. Sãohomens e mulheres que não têmtempoaperder emencontros semsentido,masque ainda acreditamque é possível encontrar a sua co-roa metade. Nosso trabalho é vol-tadoagarantiraosusuáriosdosite
a oportunidade de conhecer pes-soas interessantes, com discrição,foco e privacidade”, valorizou.
Para Shirley, realmente as pes-soas mais velhas tornam-se maisexigentes e isso énatural,masdifi-cultaoencontrodeumnovoamor.No entanto, ela acredita que a bus-ca virtual deve ser encarada comressalvas. “Se o interessemaior for“nãoperder tempo”pode serque re-almente consiga achar emmenostempo, mas é importante desta-car que qualquer ser humano quebuscaasuacarametadeprecisaseaprofundarnarelaçãocomooutroexatamenteparapoderconhecê-lomelhor”, afirmou.
DIÁLOGO MAIS FÁCILQuem gostou da ideia foi o mi-
cro-empresárioC., 51, quepreferiuter o nome preservado. Ele se ca-dastrounoCoroaMetadeháduassemanas e já fez contatos com al-gumasmulheres. Nenhumencon-tro ainda, mas ele espera não sedecepcionar num possível encon-troaovivo. “Peloperfil básicovocêtem uma ideia. Espero que quan-do conhecer pessoalmente sejamesmo o que disse”, comentou.
Para C., o site está sendo ummeio a mais para conhecer al-guém, considerando que é tími-do enão sai comtanta frequência.
“Pela internet émais fácil começarum diálogo”, observou.
E achando a pessoa certa, osreflexos são osmelhores. “O amore o afeto são necessidades que te-mosdesdequenascemosedevemprevalecer a vida toda. A necessi-dade e o interesse por relaciona-mentos não deve diminuir comopassar da idade, inclusive é o quedeve contribuir para que apessoapossa viver bem e ter uma velhi-ce melhor ainda, com total qua-lidade”, afirmou a psicóloga. Me-deiros que o diga. “Faz um bempara a saúde! Parece que a gen-te émoleque de 16 anos”, afirmou,gargalhando.
M. Medeiros/JP
LuizMedeiros, 72, conheceu a namorada emumbaile da Terceira Idade: ‘Parece que a gente émoleque de 16 anos’
Na balada ou na internet