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01 2ªsérie nº08 Jornal do Departamento de Ciências da Comunicação // ECATI Universidade Lusófona 2019 Primavera Dossier (In)definível Juventude Conferência Combater as «fake news» para proteger a Democracia Carlos Relvas Uma reportagem imersível © freepik

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2ªsérienº08

Jornal do Departamento de Ciências da Comunicação // ECATIUniversidade Lusófona

2019Primavera

Dossier(In)definível Juventude

ConferênciaCombater as «fake news» para proteger a Democracia

Carlos RelvasUma reportagem imersível

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Nota de abertura

Ficha técnica

Diretor: Luís Cláudio RibeiroEditora: Carla Rodrigues CardosoEditora-adjunta: Sara PinaColaboraram neste número: Clarisse Verdade, Cristina Santos, Jorge Bruno, Helena Mendonça, Letícia Carvalho, Maria José Brites, Mariana Ferreira e Rui Estrela.Projeto Gráfico: Alexandra Barradas Tiragem: 250 exemplares – Distribuição GratuitaPré-Impressão, Impressão e Acabamentos: SoartesISSN: 351.178 – Propriedade: COFAC

02 Nota de abertura

03 Em destaque

04 Conferências

05 Exposição Amélia Rey Colaço

06 Jornalismo, «fake news» e democracia

08 Notícias

09 Dossier (In)definível Juventude

10 À descoberta da juventude

12 Ser jovem é...?

13 Investigar e publicar

14 Reportagem Uma experiência única e irrepetível

16 Entrevista Victor Flores

17 Notícias

18 Fora do campus 20 A fechar…

Dez meses de DCCDe junho a meados de março distam quase dez meses. É esse o tempo de atividades que este número do MEDIALOGIAS procura mapear. Tivemos que deixar cair secções intemporais e avançar para uma edição mais alargada. A vitalidade e o dinamismo do Departamento de Ciências da Comunicação assim nos obrigou. Tudo o que chegou à redação do MEDIALOGIAS encontrou aqui espaço – entre breves, notícias e reportagens, são mais de 30 peças.

No Dossier, a partir da página 9, partimos à descoberta da Juventude, esse conceito mutante e difícil de balizar, pela mão de Letícia Carvalho, finalista da Licenciatura em Ciências da Comunicação e da Cultura. Contamos, também, com um texto extraído de uma investigação de Maria José Brites, da Universidade Lusófona do Porto, que procura definir o tema do Dossier.

Clarisse Verdade e Mariana Ferreira, estudantes do 1º ano da Licenciatura em Comunicação e Jornalismo (CJ), viveram uma experiência imersível na exposição «Carlos Relvas – Vistas inéditas de Portugal». Para saber porquê, abra na página 14.

Em novembro, a 10ª Conferência Comunicação e Jornalismo trouxe à Lusófona cinco convidados, entre os quais três diretores de jornais, para debater os efeitos das «fake news» no sistema democrático. A reportagem começa na página 6 e é de Francisca Duque, finalista de CJ.

Mas, para além dos temas que fazem chamada de primeira página, este MEDIALOGIAS tem muito mais a informar. Descubram-no em cada notícia, mais curta ou mais desenvolvida, e vão perceber que os professores e estudantes do DCC não param, como fica claro na secção «Fora do campus».

Por fim, muita atenção à última página do MEDIALOGIAS: Beatriz Venturini, finalista da Licenciatura em Comunicação Aplicada, está a um passo de se tornar a representante portuguesa no Roger Hatchuel Academy, um espaço de formação que integra o Cannes Lion, o mais importante festival internacional de criatividade. Não podíamos fechar melhor.

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Em destaque

Eleição histórica para Manuel José Damásio

ECREA seleciona propostas de dez investigadores da Lusófona

Manuel José Damásio, Diretor do Departamento de Cinema e Artes dos Média da Universidade Lusófona, e professor da Licenciatura em Comunicação Aplicada do DCC, foi eleito presidente da Associação Europeia das Escolas de Cinema e Televisão (GEECT-CILECT). É a primeira vez que um português dirige esta organização, fundada na década de 50 do século passado. Por inerência, Manuel José Damásio tornou-se, também, membro da Direção executiva da Associação Mundial de Escolas de Cinema e Audiovisual (CILECT).

As eleições decorreram em Mumbai, na Índia, a 15 de outubro. A CILECT representa as 180 escolas de Cinema e Média mais importantes do mundo, 95 delas da Europa (entre as quais, a da Lusófona), que reúnem mais de 55 mil alunos, para além de uma rede de mais de um milhão de alumni.

A associação é a principal interlocutora de diferentes organismos internacionais, como a União Europeia ou a Unesco, no que diz respeito a políticas de cinema e audiovisual. Manuel José Damásio tem pela frente um mandato único de quatro anos, durante o qual vai trabalhar para reforçar o peso do Cinema no Ensino Superior.

O balanço da última Conferência ECREA, em Lugano, Suíça, de 31 de outubro a 3 de novembro, impressiona. Entre propostas de comunicações individuais, painéis e posters, a organização da maior conferência europeia de Ciências da Comunicação recebeu quase duas mil propostas, de 60 países diferentes, espalhados pelos cinco continentes.

Dez investigadores da Universidade Lusófona (de Lisboa e do Porto) foram selecionados, e metade são professores no Departamento de Ciências da Comunicação: Carla Rodrigues Cardoso, Joana Bicacro, Jorge Bruno Ventura, José Gomes Pinto e Manuel José Damásio. De fora do DCC vieram Fernando Catarino, Jorge Paixão da Costa, José Carlos Sá, Lúcia Piedade e Maria José Brites.

Quatro dias, 21 sessões temáticas, 12 grupos de trabalho e 1400 investigadores. São os números da 7ª edição da Conferência ECREA, que contou com uma representação significativa de investigadores da Universidade Lusófona, de Lisboa e do Porto.

Mariana Ferreira «Centros e Periferia: Comunicação, Pesquisa, Tradução» foi o grande tema que organizou o congresso. Durante quatro dias, cerca de 1400 investigadores em Ciências da Comunicação de todo o mundo reuniram-se para a 7ª edição da ECREA, que teve 21 sessões temáticas, divididas por 12 grupos de trabalho.

Em 2020, a conferência bianual regressa a Portugal, seis anos depois de ter sido acolhido pela Universidade Lusófona. Desta vez, é a Universidade do Minho, em Braga, que vai ser a anfitriã, e Helena Sousa é a investigadora responsável pela comissão organizadora. A 8ª edição da ECREA vai trabalhar a questão «Comunicação e Confiança: construindo futuros seguros, sustentáveis e promissores».

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Em destaque

O tema «Representações da violência doméstica nos telejornais de horário nobre» esteve em debate na conferência intitulada «Regulação, Media e Igualdade», organizada pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), no dia 19 de novembro. A iniciativa foi coordenada por Mário Mesquita, vice-presidente da ERC e professor do Departamento de Ciências da Comunicação (DCC) da Universidade Lusófona. Contou com a participação, como oradores, de Carla Rodrigues Cardoso e Daniel Cruzeiro, também professores do DCC.

De 28 a 30 de junho, Victor Flores, investigador do Departamento de Ciências da Comunicação, organizou a 3ª Conferência Internacional Stereo & Immersive Media, dedicada aos media visuais e sonoros, reconhecidos pelas suas características imersivas. Investigadores, artistas, curadores e arquivistas debateram as tecnologias «estéreo» e imersivas que têm vindo a expandir o campo do fotográfico e do sonoro desde o século XIX, contribuindo para uma cultura mediática progressivamente imersiva. A série de conferências Stereo & Immersive Media reúne os campos

Violência doméstica em debate

A diretora da licenciatura em Comunicação e Jornalismo do DCC foi a única investigadora portuguesa selecionada para participar na conferência internacional Mapping the Magazine 5, que decorreu, em julho, no Columbia College Chicago, nos Estados Unidos. Carla Rodrigues Cardoso apresentou um estudo transnacional, intitulado «Newspaper or Magazine? The nature of newsmagazines», que analisou 307 revistas portuguesas, francesas e americanas. No encontro de três dias, foram discutidos os Estudos de Revista, cruzando olhares transversais da academia, com o input da indústria. Da participação em Chicago resultou o convite à Lusófona para organizar a 6ª edição desta série de conferências, que começaram em 2005, com Tim Holmes, na Cardiff University. O desafio foi aceite e o Mapping the Magazine 6, agendado para 2020, já está a ser preparado pelo DCC.

Uma investigadora do DCC no Mapping the Magazine 5

A cultura mediática imersiva em debate

«Diplomacia cultural e científica alemã em Portugal - 1933-45» foi o tema da palestra de Cláudia Ninhos, no dia 5 de novembro, no Estoril, integrada no Programa Cultura Cascais. Na sua intervenção, a historiadora e professora do curso de Comunicação e Jornalismo do DCC, contextualizou a cooperação cultural e científica entre Portugal e a Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial.

Cláudia Ninhos e a diplomacia alemã em Portugal durante a II Guerra Mundial

Augusto Deodato Guerreiro organizou, a 7 de junho, o seminário nacional «Literacias, Tecnologia e Inclusão», o décimo que acontece no âmbito do Mestrado em Comunicação Alternativa e Tecnologias de Apoio, de que é diretor. A conferência contou com a participação de Ana Sofia Antunes, secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência, na abertura e na sessão inaugural, durante a qual a governante debateu o tema «Legislação e Educação Inclusiva». As conferências anuais deste mestrado do DCC têm como objetivo principal a promoção da sensibilização pública para o direito à participação social e qualidade de vida dos cidadãos com deficiência.

Secretária de Estado no seminário «Literacias, Tecnologia e Inclusão»

Jorge Bruno Ventura, coordenador pedagógico do Departamento de Ciências da Comunicação (DCC), defendeu a tese de doutoramento a 11 de janeiro. Intitulada «O Fundamento Sónico e a Rádio», foi orientada pelo diretor

A rádio ainda importa, diz Jorge BrunoNa tese de doutoramento, Jorge Bruno Ventura partiu à descoberta da história da rádio, «enquanto meio sonoro e elemento de construção de comunidades», explica. Demonstrou, com a sua investigação, que «independentemente da estratificação social, regimes políticos e tecnologia disponível, a rádio mantém a sua importância e está a saber adaptar-se ao suporte digital.

Nos últimos meses, foram defendidas no DCC mais quatro teses de doutoramento em Ciências da Comunicação, duas em junho, de Marta Santos Vieira e Mariana Inácio Marques, uma em julho, de António Lopes Ferreira, e a quarta em dezembro, de Pedro Serrazina.

do DCC, Luís Cláudio Ribeiro. No júri estiveram, também, os diretores da ECATI, José Gomes Pinto, que presidiu, e José Bragança de Miranda, como um dos arguentes. António Machuco Rosa, da Universidade do Porto, Nelson Ribeiro, da Universidade Católica Portuguesa, e João Manuel Carrilho, da Universidade Lusófona, completaram o painel.

A relação de Jorge Bruno, como todos o conhecem, com o Departamento de Ciências da Comunicação tem quase 20 anos. Começou como aluno na Licenciatura em Comunicação Aplicada (à época, ainda Comunicação nas Organizações), tornou-se, mais tarde, professor, e depois coordenador pedagógico, primeiro da licenciatura em Ciências da Comunicação e da Cultura, depois também de mestrados e do DCC.

de investigação da imagem fotográfica e do som, refletindo sobre problemáticas e objetos tão diversos como a realidade virtual, a arte sónica ou os jogos online atuais.

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Conferências

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Exposição

Amélia Rey Colaço responde: para que serve a fotografia?

«Amélia» pode ser visitada até 30 de abril na FNAC Colombo. Através de 20 registos a preto e branco, a exposição revela a tripla relação que a atriz Amélia Rey Colaço construiu com a fotografia. O MEDIALOGIAS esteve na inauguração.

Mariana Ferreira

O ambiente não era propício. O espaço de exposição da FNAC Colombo é contíguo ao café, e o convívio ao balcão e nas mesas não se compadecia com o momento solene de inauguração da exposição, a 20 de janeiro. Mas Amélia Rey Colaço mantinha-se impávida, como só as grandes divas o sabem fazer. Na parede, 20 imagens da atriz lançam luz sobre uma faceta até agora desconhecida: a relação tripartida que estabeleceu com a fotografia.

A mostra que está na FNAC Colombo reproduz a exposição que esteve em 2018 no Teatro D. Maria II, para comemorar os 120 anos do nascimento da atriz, empresária e encenadora. Chama-se simplesmente «Amélia» e pode ser visitada até 30 de abril, data a partir da qual vai continuar a percorrer o país.

Esta exposição permite compreender a relação que Amélia Rey Colaço desenvolveu com o universo da fotografia. Teresa Mendes Flores, professora do Departamento de Ciências da Comunicação, é uma das curadoras da exposição, a par de Cláudia Madeira e Filipe Figueiredo. «Às vezes dizem-nos: ´Ah! Mas ela fez uma personagem tão marcante na peça A ou B e não têm nenhuma fotografia disso´. Pois não, porque não era isso que procurávamos», explica a investigadora.

À frente do seu tempoNo processo de seleção de imagens, os curadores focaram-se em três critérios de relacionamento da empresária com a fotografia, a começar pelo uso como forma de pesquisa para a composição das personagens, a que recorreu intensamente, quando ninguém ainda o fazia.

A atriz «começou a pedir à irmã, Alice Rey Colaço, que a fotografasse assim que começou a preparar a sua primeira peça profissional», conta Teresa Mendes Flores.

Inovador foi também o uso dado à fotografia nos livros de registo e reportório das peças, que passaram a incluir a história contada através de imagens, indo para além do texto. E, por fim, a encenadora foi capaz de entender o poder de promoção da fotografia, que usou quer em benefício da sua carreira profissional, quer para divulgar o trabalho que a sua companhia desenvolvia. Transformou-se, assim, numa celebridade e os média deram-lhe espaço de destaque inúmeras vezes.

O trabalho de José Marques (1924-2012), um dos mais importantes fotógrafos de teatro portugueses, foi um determinante para a exposição, que integra registos provenientes de vários arquivos, como o da Fundação Calouste Gulbenkian, Arquivo Nacional de Fotografia, do Museu Nacional do Teatro, e do Teatro Nacional D. Maria II.

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Conferência

Propagam-se à velocidade da luz e ganham proporções inimagináveis. As «fake news», que a União Europeia prefere chamar «desinformação», tornaram-se a mais recente ameaça para o jornalismo. Cada um acredita no que quiser, mas «a mentira é sempre mais interessante do que a realidade», alertou Manuel Carvalho, diretor do jornal Público, na conferência «Fake news e Democracia», organizada pela licenciatura em Comunicação e Jornalismo do DCC, a 14 de novembro.

Apesar de não as considerar um fenómeno novo, Ana Pinto Martinho, investigadora do European Journalism Observatory, considera haver algo de diferente na forma como o termo «fake news» foi cunhado pelo presidente norte-americano Donald Trump, que tenta colá-lo aos jornalistas em geral. Não existem soluções perfeitas para resolver a desinformação, sublinhou, mas há cuidados que todos podemos ter. O primeiro diz respeito às fontes da notícia. Se não estiverem claramente identificadas ou não forem reconhecíveis, há que desconfiar.

Algoritmos, trolls, mas sobretudo as redes sociais e a facilidade com que se criam sites são, segundo Pedro Santos Guerreiro, diretor do jornal Expresso, as principais razões do grande sucesso das notícias falsas. «A crise de valores que a nossa sociedade atravessa e a crise da comunicação social analógica» também potenciaram o problema, acrescentou.

Jornalistas, «fake news» e democracia

O jornalista tem de saber lidar com a pressãoA verdade é que nenhum argumento pode pôr em causa a busca da verdade e a verificação dos factos. Na opinião de João Garcia, «as notícias podem estar erradas, mas não podem ser mentiras» ou «não somos jornalistas». Para o antigo diretor da revista Visão, neste novo mundo onde consta muita informação falsa, os valores da ética jornalística têm de prevalecer. Apesar de não ser fácil acompanhar o mundo digital, cabe ao jornalista saber lidar com a pressão e a ânsia de ser o primeiro a dar a notícia.

As redes sociais começaram com valores positivos, mas rapidamente se tornaram num espaço de crítica, a que ninguém sai imune. Para João Garcia, «os jornalistas estavam habituados a ser vistos do lado dos bons» e agora a opinião pública desconfia deles. Uma situação que o leva a colocar uma questão: «a quem interessa que o contrapoder seja fraco senão ao poder?».

Errar, afinal, é humano. Os homens erram, os meios de comunicação social erram, os jornalistas também. Não podemos ter a ilusão de conseguir evitar sempre o erro, desdramatiza Miguel Pinheiro, diretor do jornal online Observador. E não existe uma fórmula perfeita que erradique os lapsos da equação, portanto cabe à comunicação social ser o mais transparente possível.

Passam despercebidas nas entrelinhas e apenas os mais atentos as conseguem detetar. Nas «notícias falsas», a mentira parece verdade, mas a credibilidade do jornalismo cai por terra. Esta polémica e a sua relação com a democracia foi o tema da 10ª conferência Comunicação e Jornalismo que contou com os diretores dos jornais Expresso, Público e Observador.

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O segredo é «tentar não fazer asneira»Humildade e verdade, diz Miguel Pinheiro, são a base da credibilidade de um jornal. O segredo, é «investigar, fazer perguntas e tentar não fazer asneira», mas se mesmo assim não resultar, «só nos resta pedir desculpa», conclui. Erros não são notícias falsas, são apenas erros, e «se os jornais não são confiáveis, o que sobra?», pergunta o diretor do Observador.

Pedro Santos Guerreiro reforça: «a melhor maneira de manter a credibilidade numa era de escrutínio, é abrir completamente o jogo». E garante que apostar na «verdade é uma boa forma de sustentarmos os nossos salários». Na era da desinformação, cabe ao jornalista, mais do que nunca, a responsabilidade de indicar os factos em que podemos confiar.

As dúvidas que pairam sobre a saúde do jornalismo e da democracia não impediram a boa disposição dos cinco convidados, disponíveis até ao último minuto para dar resposta à plateia atenta que ocupava os 200 lugares do Auditório Agostinho da Silva. As questões de estudantes, professores e participantes de fora da Universidade só terminaram quando o tempo se esgotou e a conferência, moderada pela diretora da Licenciatura em Comunicação e Jornalismo, Carla Rodrigues Cardoso, teve de ser encerrada.

A conferência «Fake News e Democracia» pode ser (re)vista, na íntegra, na página de Facebook da Licenciatura em Comunicação e Jornalismo: https://www.facebook.com/comunicacaojornalismolusofona/videos/2242582836012366/

«As notícias podem estar erradas, mas não podem ser mentiras»

João Garcia, jornalista e antigo diretor da revista Visão

«A forma como Donald Trump cunhou o termo «fake news» é uma fórmula diferente da que nós tínhamos anteriormente»

Ana Pinto Martinho, investigadora do European Journalism Observatory

Conferência

Apostar na «verdade é uma boa forma de sustentarmos os nossos salários»

Pedro Santos Guerreiro, diretor do jornal Expresso© P

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«A mentira é sempre mais interessante do que a realidade»

Manuel Carvalho, diretor do jornal Público© P

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«Se os jornais não são confiáveis, o que sobra?»

Miguel Pinheiro, diretor do jornal Observador© P

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Notícias

Uma aventura «muito fixe» na Rádio Escuta

Na fotografia de «família» da Rádio Escuta, da equipa da Lusófona, só falta a Inês Coelho: os sorrisos abertos de Inês Ribeiro, Francisco Gonçalves, Ricardo Gonçalves, Tomás Miranda e do professor Ricardo J. Rodrigues são o melhor comentário ao resultado da experiência.

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Foram pouco mais de duas semanas – de 5 a 22 de julho – mas a experiência é inesquecível. Os alunos do 1º ano de Ciências da Comunicação e da Cultura, Inês Coelho, Inês Ribeiro, Francisco Gonçalves, Ricardo Gonçalves e Tomás Miranda, sob orientação do professor Ricardo J. Rodrigues, participaram na Rádio Escuta e trabalharam como jornalistas.

O projeto integrou a iniciativa «Bairro Intendente em Festa» e traduziu-se numa rádio comunitária, transmitida através da Internet, com a redação instalada no Palácio Visconde da Graça. Objetivo: dar a conhecer a quem habita no bairro e a quem vive no resto do mundo a riqueza multicultural do Intendente. As emissões em português e em inglês também foram traduzidas, de forma rotativa, para bengali, urdu, mandarim e hindi.

Os alunos do DCC fizeram os noticiários e 12 reportagens, as «Curtas», divididas por três séries – «O minuto da Luísa», «Artistas do Bairro» e «O lugar onde eu nasci».

Está no ar o REC!

Pela redação, lado a lado com a equipa da Lusófona, passaram jornalistas de vários meios de comunicação social, desde Fernando Alves (TSF), Cândida Pinto (SIC, à época, agora RTP), Sofia Branco (Lusa e presidente do Sindicato dos Jornalistas), João Carlos Malta (Renascença), Rita Colaço (Antena 1) ou Ricardo Oliveira Duarte (Observador). É com a sua natural descontração, que Ricardo J. Rodrigues caracteriza a experiência: uma enorme «trabalheira», mas «muito fixe».

Este projeto colaborativo, situado entre o Ensino Superior e o meio profissional, nasceu do 4º Congresso dos Jornalistas Portugueses, em 2017, e foram necessários dois anos para concretizar a ideia, que vive exclusivamente do trabalho em regime de voluntariado. O objetivo é promover a criatividade no âmbito da reportagem e da investigação jornalística, apoiando a formação de estudantes do ensino superior na área do jornalismo, ajudando-os a criarem um portfólio diferenciado. A primeira peça de um aluno do DCC vai para o ar a 7 de abril e é da autoria de Alexandre Silva, finalista da Licenciatura em Comunicação e Jornalismo.

O primeiro programa dos Repórteres em Construção (REC), que reúne 15 instituições de Ensino Superior portuguesas, jornalistas e o Centro Protocolar de Formação Profissional para Jornalistas (Cenjor), começou a ser transmitido na Rádio Renascença, no dia 6 de janeiro, e vai para o ar sempre no primeiro domingo de cada mês, depois das 13.00. Está também disponível o site do projeto em https://www.cenjor.net/rec/, com muitas outras peças jornalísticas, todas realizadas por estudantes. Nesta iniciativa inédita, participam, desde o primeiro dia, professores e alunos de jornalismo da Lusófona.

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Dossier | (In)definível Juventude

Para Ana Rua, jovens são aqueles que têm mais de 15 anos e menos de 25. Sorridente e ansiosa, observada pelos colegas de turma enquanto responde ao MEDIALOGIAS, a universitária de 24 anos considera que a juventude é «a fase mais engraçada da nossa vida», aquela em que «definimos a nossa identidade e começamos a descobrir-nos ainda mais». Ser jovem é fazer escolhas, «percebemos se gostamos mais de uma coisa do que de outra, se queremos mesmo seguir aquele caminho ou não».

O intervalo etário que compreende a juventude talvez seja mais instável que esta fase da vida, situada entre a infância e a idade adulta. Uma etapa de mutações, durante a qual se definem personalidade, projetos e relações sociais. Esta dificuldade em saber quando começa e termina a juventude fica clara quando se observam diferentes produtos criados para a servir.

O Cartão Jovem talvez seja um dos mais conhecidos e vai dos 12 aos 29 anos. Na CP, o «Bilhete Jovem» permite andar de comboio com 25% de desconto, entre os 13 e os 25. Nas instituições bancárias, há ofertas de «contas jovens» a partir dos 15 anos e podem ir até aos 35. Mas são os apoios do Estado aos jovens agricultores portugueses que batem todos os recordes, pois os candidatos podem ter até 40 anos.

À descoberta da juventudeComeça na adolescência, assim que se dobram os 12 anos? Ou depois dos 18? E quando termina? Aos 30, idade em que se perde o direito ao Cartão Jovem? Aos 35, quando já nenhum banco concede «Conta Jovem»? Talvez só aos 40, como acontece aos «jovens agricultores»… Mas também há quem ache que dura toda a vida ou, pelo menos, enquanto o espírito o permite. O MEDIALOGIAS partiu à descoberta de um conceito quase mítico: a juventude.

Letícia Carvalho

Um estado de espírito?Esquecendo idades, há quem considere que «a juventude é um estado de espírito, uma forma de estar e viver a vida», como Solange Rodrigues, também estudante universitária, mas com 27 anos. «Há a juventude física e a juventude mental», reflete, enquanto mexe lentamente o café. A última «é uma forma de tu viveres», de «teres um espírito jovem, livre, e acompanhares as tendências e a evolução da própria vida», explica. «Acho que a juventude física vai até aos 30 e tal anos e a juventude espiritual não tem idade», conclui.

Em setembro de 2018, o Governo aprovou o Plano Nacional da Juventude que se prolonga até ao fim de 2021. Define vários instrumentos de apoio, disponíveis no Portal da Juventude, que visam reforçar os direitos dos jovens. Uma forma de ir ao encontro do artigo 70º da Constituição da República Portuguesa, que refere a «proteção especial» que tem de ser dada aos jovens, no sentido de lhes garantir «a efetivação dos seus direitos sociais, culturais ou económicos».

O Plano Nacional da Juventude também traça um intervalo etária à juventude. Situa-a entre os 15 e os 29 anos e afirma que os jovens correspondem a 16% da população, pouco mais de um milhão e meio de portugueses. Promete investir na juventude em áreas que vão

da saúde, à habitação, passando pela igualdade, cultura e ambiente. O Instituto Português do Desporto e Juventude é o organismo que assegura a coordenação das medidas.

«Mais sinceros, mais liberais, mais diretos» «Antigamente a juventude começava muito cedo», recorda Isaura Ramos, com entusiasmo. «Namorava-se cedo e os jovens com vinte e poucos anos já estavam casados», diz a reformada de 62 anos. Admira, por isso, a ponderação que agora caracteriza os mais novos e a aposta que fazem na vida profissional. Queixas tem apenas contra «os nossos governos», pois considera que «as instituições podiam olhar mais para os jovens» e não arriscar que se percam num «mundo cheio de burocracias e instabilidades». Sobre os jovens de hoje, os elogios regressam, considera-os «mais sinceros, mais liberais, mais diretos». E remata, com firmeza: «é a minha opinião».

Alexandre Chaves, de 45 anos, não tem uma visão tão otimista. «Nunca uma geração teve tanto acesso a informação devido ao mundo virtual», diz, pensativo, de mãos entrelaçadas sobre as pernas. Para o supervisor de equipa numa multinacional, esta realidade criou problemas novos. A juventude de hoje caracteriza-se por «uma falta de identificação com conceitos clássicos e importantes para uma sociedade mais estável», e dá como exemplo «o comportamento a nível da hierarquia familiar».

A Europa está atenta e, em dezembro de 2018, definiu o quadro de cooperação «Estratégia da União Europeia para a Juventude 2019-2027». O objetivo é envolver os jovens europeus através de aspetos como a promoção de sociedades mais inclusivas, a igualdade de género ou o investimento na saúde mental.

Os responsáveis europeus acreditam que esta estratégia a oito anos, se for bem aplicada, «pode contribuir para o êxito da visão de um continente onde os jovens podem aproveitar as oportunidades e identificar-se com os valores europeus». Com eleições em maio, instabilidade política latente, e Brexit à porta, a Europa (ainda) a 28 está proibida de perder tempo, tem de conseguir mobilizar os mais novos.

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(In)definível Juventude | Dossier

O MEDIALOGIAS perguntou a pessoas de várias idades o que é a juventude. Aqui ficam as respostas, na primeira pessoa.

Discurso Directo

«São os jovens entre os 15/16 anos até aos 24/25 anos, que durante este tempo decidem o que querem fazer no futuro. É a fase mais engraçada da nossa vida, pois é quando definimos a nossa identidade e começamos a descobrir-nos ainda mais, percebemos se gostamos mais de uma coisa do que de outra, se queremos mesmo seguir aquele caminho ou não.»

Ana Rua, 24 anos, universitária

«Antigamente a juventude começava muito cedo. Namorava-se cedo e os jovens com vinte e poucos anos já estavam casados. Agora os nossos jovens são mais ponderados, põem como alvo principal a vida profissional. Todas as etapas da vida têm o seu encanto. Aprecio bastante a juventude de hoje, havia de ser mais valorizada, os nossos governos, as instituições podiam olhar mais para os jovens. Os jovens de hoje sabem muito cedo o rumo que querem dar à sua vida e muitos perdem-se neste mundo cheio de burocracias e instabilidades. Gostam de se divertir, claro! Antigamente também se divertiam, mas era tudo um tabu, faziam o mesmo que agora, mas às escondidas. Os nossos jovens de agora são mais sinceros, mais liberais, mais diretos, é a minha opinião.»

Isaura Ramos, 62 anos, reformada

«Nunca uma geração teve tanto acesso a informação devido ao mundo virtual. Muitos benefícios, porém alguns problemas novos. [A juventude caracteriza-se por] Uma falta de identificação com conceitos clássicos e importantes para uma sociedade mais estável e pontos importantes relacionados com o comportamento a nível da hierarquia familiar.»

Alexandre Chaves, 45 anos, supervisor de equipa numa multinacional

«A juventude é um estado de espírito, é uma forma de estar e viver a vida. Acho que há a juventude física e há a juventude mental, que é uma forma de tu viveres a vida e te manteres atualizado, teres um espírito jovem, livre, e acompanhares as tendências e a evolução da própria vida. Acho que a juventude física vai até os 30 e tal anos e a juventude espiritual não tem idade.»

Solange Rodrigues, 27 anos, universitária

… Cerca de 34% dos portugueses entre os 25 e os 34 anos tinham, em 2018, um diploma de Ensino Superior, quando em 1992 não chegavam aos 15%? Os dados são da Eurostat e a média europeia ronda os 40%.

… No mundo, o número de pessoas entre os 10 e os 24 anos é de aproximadamente 1,8 mil milhões? São dados de agosto de 2018, do Centro Regional de Informação das Nações Unidas, que aponta mais de 400 milhões de jovens a viverem em áreas de conflitos, expostos a violência física e mental.

… Existe um Orçamento Participativo Jovem? É uma iniciativa estatal, anual, dirigida a quem tem entre 14 e 30 anos. Este orçamento tem um valor total de 500 mil euros e permite aos jovens submeter propostas de investimento público, até ao montante máximo de 100 mil euros. Os projetos vencedores são executados pelo Governo. O mais votado em 2018 chama-se «Caminhando para a inclusão», tem o valor de 30 mil euros, e destina-se a promover a atividade física junto de pessoas com e sem deficiência. Foi proposto por Márcia Gomes, da região Norte.

… Em Portugal os jovens costumam sair da casa dos pais aos 29 anos? Resultados de um estudo da Eurostat, o Gabinete de Estatísticas da União Europeia (EU), referente a 2017, que indica 26 anos como a média na EU. Suécia, Dinamarca, Finlândia e Luxemburgo são os países europeus onde os jovens se tornam independentes mais cedo, aos 21 anos.

… Os portugueses dos 16 aos 24 anos são os jovens europeus que mais usam a Internet? Dados de 2016, da PORDATA, que indicam um uso da Rede por parte de 99% dos jovens em Portugal, contra 96% de média no resto da Europa.

… De acordo com o relatório sobre a qualidade de vida na União Europeia, da Eurofound, elaborado em 2016, os jovens europeus entre os 16 e os 24 anos são as pessoas que se dizem mais satisfeitas com a vida?

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Ser jovem é...?O MEDIALOGIAS partilha neste dossier algumas das reflexões sobre o conceito de juventude, desenvolvidas pela investigadora do CICANT e professora da Universidade Lusófona do Porto, Maria José Brites. Redigidas em 2007, para a sua dissertação de mestrado, A representação da delinquência juvenil nos media noticiosos: estudo de caso do Público e do Correio da Manhã (1993-2003), essas reflexões mantêm, 12 anos depois, a mesma atualidade. É caso para dizer: este texto não envelhece.

Pierre Bourdieu tem uma das frases que parecem melhor condensar todas as indefinições que o conceito de juventude acarreta: «A ‘juventude’ não é mais do que uma palavra» (Bourdieu, 1980: 143). O autor refere-se a este grupo social apontando para a existência de um universo de juventudes, «o mesmo é dizer de irresponsabilidade provisória: esses ‘jovens’ situam-se numa espécie de terra de ninguém, onde são adultos para umas coisas e crianças para outras» (Bourdieu, 1980: 145). Esta juventude, segundo Bourdieu, enfrenta um jogo de forças de gerações no qual muitas vezes os jovens e os mais velhos se digladiam na transmissão de poder e de privilégios fazendo também prolongar os limites das juventudes e das velhices.

O olhar para a atividade desenvolvida pelo jovem também pode influenciar e determinar as balizas de idade. Mas não facilita a definição do que é ser jovem. Por exemplo, ser jovem agricultor em Portugal significa ter até 40 anos. Pois bem, assim compreende-se desde logo a dificuldade em apresentar demarcações etárias onde cabe o ser jovem. Apesar de tudo, é possível indicar elementos que compõem, que constituem e definem o que é ser jovem, em diversos contextos, desde os legais, aos sociológicos, passando pelos mediáticos, por exemplo.

Sprinthall e Collins recordam que noutros momentos históricos os 12 ou 13 anos eram considerados os marcos da passagem à idade adulta, à idade em que outras responsabilidades eram pedidas a uma criança ou a um jovem. O alargamento da escolaridade obrigatória contribuiu também para o «aumento» da idade considerada ainda não adulta (2003: 39).

Embora em contextos diferentes, e em fases mais ou menos avançadas, os jovens vão

adquirindo uma certa independência face aos mais velhos, embora não se descartem totalmente das vantagens de serem jovens: «Os jovens […] muitas vezes adquirem uma certa independência da geração mais velha, mesmo que apenas parcialmente – ao morar separadamente dos pais, por exemplo, mesmo quando os pais continuam a pagar o seu alojamento. Os jovens ainda não vivem totalmente os papéis de adultos» (Galland, 2003: 168).

Atualmente, as diferenças entre os jovens que se tornam adultos mais cedo ou mais tarde são evidentes, por exemplo, se se pensar nas disparidades culturais existentes entre os países do Norte e do Sul da Europa, sendo neste último caso mais comum que os filhos vivam durante mais tempo junto dos pais (Galland, 2003: 180).

Ao longo dos séculos, a noção de que existe uma fase entre a infância e a idade adulta sofreu mutações, avanços e recuos. A mera definição de juventude como uma fase em que já não se é criança está ultrapassada e a juventude passou a ter um estatuto, a ser uma nova fase de vida com características próprias. O jovem é um sujeito temporariamente desadaptado do mundo interior – que o anima e preenche totalmente – em relação ao mundo real (Galland, 2004: 37). Essa desadaptação está intimamente ligada a três imagens típicas: o sentimentalismo e o idealismo; a intolerância e o espírito de sistema; e a melancolia. É um estado com excesso de sentimentos, de energia e de idealismo (Galland, 2004: 38).

A juventude tem sido tomada como um conjunto homogéneo, mormente quando

definida em termos etários, e como heterogénea, com atributos sociais que diferenciam os jovens uns dos outros (Pais, 2003: 44). Porém, Machado Pais aponta para uma outra via, onde é necessário olhar para a sociedade através do quotidiano dos jovens, para melhor entender os paradoxos da juventude, e também perceber de que modo a sociedade se traduz na vida dos indivíduos. As crenças e as representações sociais que os jovens experimentam e conhecem fazem parte dos contextos vivenciais ou quotidianos (Pais, 2003: 71). São, como tal, muitas as heterogeneidades que constroem as juventudes. Por isto mesmo, será mais correto manter-se a ideia da existência de juventudes e não de uma juventude.

Texto adaptado, com autorização da autora, do capítulo «Juventudes, suas representações e práticas de lazer», que integra a dissertação de mestrado de Maria José Brites intitulada A representação da delinquência juvenil nos media noticiosos: estudo de caso do Público e do Correio da Manhã (1993-2003). 1 No original «la jeunesse n’est qu’un mot».

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ReferênciasBourdieu, Pierre (1980). Questions de Sociologie. Paris, Les Éditions de Minuit.Galland, Olivier (2003). Adolescence, Post-Adolescence, Youth. Revue Francaise de Sociologie, selecção anual em inglês, supl. 44.Galland, Olivier (2004). Sociologie de la Jeunesse. Paris, Armand Colin.Pais, José Machado (2003). Culturas Juvenis. Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda. Sprinthall, Norman A. e Collins, W. Andrew (2003). Psicologia do Adolescente. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian.

Dossier | (In)definível Juventude

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Os jovens são as marcas que compram?

Investigar e Publicar

«Só quer roupa de marca!», queixam-se muitos vezes os pais, mal os filhos dão os primeiros passos na adolescência. E, a seguir, o que querem quando se tornam jovens adultos? Cristina Santos, professora do Departamento de Ciências da Comunicação, resolveu olhar para a questão através da lente da ciência. Constituiu equipa com Marta Lopes

O vestuário e o calçado são mais importantes para elas do que para eles e o consumo de marcas não ajuda os jovens a tornarem-se as pessoas que querem ser. Duas das conclusões do projeto exploratório «Fatores determinantes na construção da identidade dos jovens adultos, através do consumo de marcas de vestuário e de calçado», coordenado por Cristina Santos, professora do DCC.

estando em causa um consumo estratégico, mas que não os auxiliam a tornarem-se nas pessoas que querem ser».

Segundo a investigadora, o estudo também permitiu concluir que os jovens adultos estabelecem uma relação privilegiada com o consumo, a partir da qual «obtêm felicidade, prazer e uma satisfação pessoal e social». Mas essa relação varia de acordo com o género, já que os resultados mostram que o vestuário e o calçado são mais importantes para elas do que para eles. Constatou-se, ainda, que as pessoas de género feminino fazem compras mais vezes, mas as do género masculino gastam mais dinheiro em cada aquisição.

A 25 de outubro, a equipa organizou a conferência «Let’s Talk About: Brand Relevance», para apresentar publicamente os resultados encontrados. Convidou como orador Said Baaghill, especialista internacional em branding e marketing, e debateram temas relacionados com branding relevance.

Daniel Cardoso continua imparávelA produção académica de Daniel Cardoso, professor do Departamento de Ciências da Comunicação, mantém-se alucinante. Em 2018, entre os que escreveu em nome próprio e em co-autoria, assinou nove artigos em revistas científicas. Entre os mais recentes, encontra-se «Watchdogs in the Social Network: A Polarized Perception?». O artigo foi publicado na Obs, e analisa as reações ao post publicado a 9 de julho de 2017 na página de Facebook «Os Truques da Imprensa Portuguesa», que revelou

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e Rui Estrela, diretor da Licenciatura em Comunicação Aplicada, e submeteram um projeto exploratório ao Centro de Investigação em Comunicação Aplicada, Cultura e Novas Tecnologias (CICANT), que o acolheu.

O título do projeto é longo: «Fatores determinantes na construção da identidade dos jovens adultos, através do consumo de marcas de vestuário e de calçado». Mas o objetivo é simples, averiguar o impacto que as marcas podem ter «na edificação, manutenção, mudança e comunicação da identidade dos consumidores», explica Cristina Santos.

Consumir, ser feliz e ter prazerComo instrumento de análise, a equipa definiu um inquérito por questionário que realizou a 319 estudantes da Universidade Lusófona, com idades entre os 18 e os 24 anos. Os resultados, diz Cristina Santos, mostram que «as marcas de vestuário e de calçado podem reflectir a identidade dos inquiridos,

Novo número do International Journal on Stereo & Immersive MediaJá está disponível o terceiro número do International Journal on Stereo & Immersive Media. Editado por Victor Flores, investigador do Departamento de Ciências da Comunicação, este journal visa refletir sobre a emergência de uma cultura mediática progressivamente imersiva, através de uma perspetiva histórica, crítica e contemporânea. Sabine Breitsameter, académica alemã da Darmstadt University of Applied Sciences, e a historiadora de fotografia Kim Timby são as convidadas especiais deste número. A publicação é peer-reviewed e distribuída em sistema de open access.

Diretora de CJ na Universidade de Cardiff

A diretora da Licenciatura em Comunicação e Jornalismo do DCC, Carla Rodrigues Cardoso, esteve a última semana de janeiro na Universidade de Cardiff, no País de Gales, no âmbito de uma bolsa Erasmus+ Staff Mobility. Foi recebida e acompanhada por Tim Holmes, da direção do mestrado em Magazine Journalism, e mentor da série de conferências internacionais Mapping the Magazine (MtM). Para além do contacto com professores, estudantes e metodologias letivas, que visam a implementação dos Estudos de Revista em Portugal, discutiram-se parcerias e iniciou-se a preparação do MtM 6, que se vai realizar na Lusófona em 2020, depois de ter passado por Austrália e Estados Unidos.

as identidades dos autores deste espaço de crítica dos média. Ainda em 2018, Daniel Cardoso apresentou comunicações em quatro congressos, foi orador na sessão plenária do 14ª Congresso da Federação Europeia de Sexologia, e ainda encontrou tempo para dar aulas, de 2 a 7 de dezembro, na Universidade de Varsóvia, ao abrigo do programa Erasmus+ For Teaching, sobre sociopolítica das intimidades contemporâneas.

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Reportagem

Subimos as escadas e entramos na primeira das dez salas. À direita, um aparelho estranho, um visor, como descobrimos mais tarde, permite, ao ritmo de uma manivela, descobrir as fotografias estereoscópicas de Carlos Relvas e observar a realidade a três dimensões que nos mostra. «Um pouco escuro», pensamos. Até que vislumbramos um pequeno botão do lado direito. Experimentamos, a luz do visor acende-se, e tudo ganha claridade e pormenor. Magia! E ainda não tínhamos chegado à sala de realidade virtual…

A exposição «Carlos Relvas – Vistas inéditas de Portugal» esteve no Museu do Chiado até 24 de fevereiro, mas nasceu de um projeto do Centro de Investigação em Comunicação Aplicada, Cultura e Novas Tecnologias (CICANT), da Universidade Lusófona, que começou em 2017. Victor Flores é o investigador principal e o objetivo inicial era estudar a fotografia estereoscópica de Carlos Relvas, entre 1862 e 1874, os primeiros anos de atividade do fotógrafo português, na tentativa de perceber de que forma contribuiu para a projeção do artista nos salões de exposições europeus.

O que os investigadores do CICANT não esperavam, era o entusiasmo permanente de descobrirem tantas fotografias, cada uma delas com uma história para contar. Esta exposição deu a conhecer «quase 500 imagens, de fotografias originais de Carlos Relvas,

Uma experiência única e irrepetível

Esta reportagem é uma missão impossível. A exposição «Carlos Relvas – Vistas inéditas de Portugal» exigia a experiência de interação da visita para a compreender. Essa oportunidade acabou a 24 de fevereiro. Mas o MEDIALOGIAS esteve lá e conta-lhe o que viu.

Clarisse Verdade*

a maior parte das quais em albumina ou em carvão», contou ao MEDIALOGIAS o professor Victor Flores. Como dá-las a conhecer ao público?

Sem visores (ou estereoscópios) não seria possível. Havia que integrar os aparelhos para permitir que a obra do fotógrafo amador ganhasse vida e fosse compreendida. À procura de mais ainda, surgiu a ideia da recriação do primeiro estúdio fotográfico de Carlos Relvas em realidade virtual. O espaço na Golegã foi desmantelado, mas existem várias fotografias, muitas delas estereoscópicas, do interior e do exterior. A equipa decidiu reconstituí-lo, permitindo ao público uma «experiência de visita imersiva», conta Victor Flores.

Dupla viagem na sala escuraAlgumas salas depois, mais ao menos a meio do percurso de descoberta da exposição, o espaço que se abre à nossa esquerda é estranho. Despido, de fundo escuro, com um ecrã, uma mesa, e alguns dispositivos que nos fazem perceber que estamos numa sala de realidade virtual. Para saber o que nos espera, há que mergulhar na experiência.Equipamo-nos e a transição é imediata e surpreendente. Entramos numa sala de teto alto e painéis de madeira, com largas janelas através das quais vemos um cuidado jardim. O som ambiente é calmo, os cortinados são compridos e o mobiliário luxuoso. À esquerda,

uma enorme máquina fotográfica, apoiada numa coluna, domina o espaço. Em frente, ladeada por dois cadeirões, temos uma mesa castanha com aquilo que parecem cartões em cima.

Depois de algumas tentativas frustradas, conseguimos «agarrar» um cartão, soltando um «Ah!» de espanto com a proeza. A magia acontece outra vez e somos transportados para uma nova viagem, entramos na fotografia, que podemos largar quando quisermos para experienciar outra. Quando regressamos à realidade da sala escura, no Museu do Chiado, percebemos que outros visitantes estão à espera para também poderem viajar no passado. Sorrimos e cedemos o nosso lugar.

Apesar de a investigação continuar e outras iniciativas estarem a ser preparadas, não existem planos para reapresentar a exposição que o Museu acolheu durante cinco meses. A instalação de realidade virtual foi desenvolvida na Lusófona, no MovLab, sob coordenação de Filipe Costa Luz, também investigador do projeto sobre a obra de Carlos Relvas. Mas a interação, segundo o ritmo e a vontade de cada visitante, foi permanente, aconteceu a cada passo, e tornou a exposição diferenciadora. Ao contrário do que é habitual num museu, mexer não era proibido, mas sim necessário e desejável, como descobriu o MEDIALOGIAS.

*com Mariana Ferreira

Vista da exposição «Carlos Relvas: Vistas Inéditas de Portugal. A Fotografia nos Salões Europeus». Museu do Chiado.

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Reportagem

Nova exposição, conferência em junho e catálogo online«Imagens de Vidro» é o título provisório da nova exposição sobre Carlos Relvas que Victor Flores está a preparar. Vai dar a conhecer, pela primeira vez, um conjunto significativo de positivos em vidro do fotógrafo que estão conservados na Casa Estúdio na Golegã. «São imagens com um detalhe e um rigor impressionantes», explica o investigador. Estas transparências, em formatos menores, serviam também para projeção, e Victor Floresd garante que «são certamente algumas das imagens mais preciosas que a Casa Estúdio tem».

Confirmada está já a conferência «Monumentos Fotográficos», no mosteiro da Batalha, em Leiria, a 15 e 16 de junho, sobre Carlos Relvas e outros fotógrafos do século XIX que tenham retratado monumentos nacionais e contribuído para a sua documentação. Lee Fontanella, especialista americano em fotografia espanhola do século XIX, participa como orador convidado. Em paralelo, o investigador do DCC ainda prepara um catálogo digital online que reúne o conjunto de estereoscopias de Carlos Relvas dispersas em coleções públicas e privadas para lhes dar uma leitura cronológica e temática.

Experiência imersiva made in LusófonaNa Golegã, o primeiro estúdio de Carlos Relvasjá não existe. Mas os registos fotográficos permitiram a recriação do espaço de trabalho do fotógrafo amador do século XIX. A instalação virtual foi produzida no MovLab da Universidade Lusófona, sob responsabilidade do investigador Filipe Costa Luz, e permite o manuseamento de cartões estereoscópicos de Carlos Relvas para os observar em 3D e ver nos versos informações manuscritas ou tipográficas. A equipa integrou Henrique Mestre, aluno da Licenciatura em Ciência e Tecnologias do Som, que fez o registo áudio, em estéreo, do som ambiente na Casa Estúdio de Carlos Relvas, que sucedeu ao espaço original. Existe a possibilidade de este trabalho vir a ser integrado noutras exposições.

Alunos de CA com direito a visita guiadaOs alunos do 1º ano de Comunicação Aplicada do DCC visitaram a exposição «Carlos Relvas – Vistas Inéditas de Portugal», acompanhados do professor Victor Flores, o curador responsável pela mostra, a 22 de novembro. Uma oportunidade de conhecer com detalhe a exposição de fotografia estereoscópica, que celebrou os 150 anos da primeira exposição de Carlos Relvas. Na curadoria da exposição estiveram também Ana David Mendes, Denis Pellerin e Emília Tavares.

Carlos Relvas. Monumento da Batalha — Portada da capela imperfeita. Série Portugal, c.1867-1868. Cinemateca Portuguesa — Museu do Cinema. Inv. PC 974/029

Carlos Relvas. Borda da Alverca da Golegã — Pastores e um jumento. Série Portugal, c. 1868-1880 Cinemateca Portuguesa — Museu do Cinema. Inv. PC 974/001

Carlos Relvas. Sem título [Arranjo de flores com fotomontagem] [1869-1877]. Prova em albumina (cartão álbum). Casa dos Patudos, Museu de Alpiarça, inv. 0800

Carlos Relvas. [Autorretrato com câmara estereoscópica no seu estúdio]. c. 1874Negativo de colódio húmido positivado, Casa Estúdio Carlos Relvas, Golegã. Pós-produção: Inês Fernandes

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Entrevista

Como surgiu a ideia de realizar a exposição «Carlos Relvas – Vistas Inéditas de Portugal»?A ideia decorre de um projeto de investigação que foi iniciado na Universidade Lusófona, no centro de investigação CICANT, no início de 2017. Esse projeto tinha como principal objetivo fazer o levantamento das coleções de fotografias estereoscópicas de Carlos Relvas e tentar perceber de que forma é que esse tipo de fotografia [que permite o visionamento a três dimensões das imagens], tinha contribuído para a projeção inicial que o fotógrafo português teve nos salões europeus [do século XIX]. Estamos a falar de uma técnica fotográfica que não foi muito trabalhada na história da fotografia, e muito menos na história da fotografia portuguesa. Quando chegámos à conclusão que Carlos Relvas tinha participado no primeiro salão da Sociedade Promotora de Belas Artes com este tipo de fotografias e se fez representar também em Paris, na Sociedade Francesa de Fotografia, percebemos que havia condições para avançar com uma exposição. Queríamos também mostrar as descobertas que fizemos. Ao contrário do que se pensava, existem muitas coleções particulares e até algumas institucionais com um número significativo de provas originais de Carlos Relvas. Achámos que seria extraordinário mostrá-las ao público, porque a última exposição que tinha havido foi em 2003, no Museu Nacional de Arte Antiga, e foram expostas, sobretudo, provas atuais feitas a partir de negativos.

«Esta exposição foi um desafio»O MEDIALOGIAS entrevistou Victor Flores, o responsável pela exposição «Carlos Relvas – Vistas Inéditas de Portugal», que esteve no Museu do Chiado até 24 de fevereiro. O investigador do Departamento de Ciências da Comunicação conta-nos como tudo começou até se chegar ao formato final, que permitia aos visitantes ver, tocar e até fazer «uma viagem virtual dentro de outra viagem virtual».

Clarisse Verdade

E o que trouxe de novo esta iniciativa?Um dos fatores inéditos é termos reunido quase 500 fotografias originais de Carlos Relvas e mostrar que foi o primeiro a expor fotografias de património, quando a prática da época eram as fotografias de pinturas ou de gravuras. Um outro aspecto que eu saliento como muito importante foi a possibilidade de reconstituição do primeiro estúdio do Carlos Relvas em realidade virtual, um dos grandes atrativos da exposição. Esse estúdio foi desmantelado para a construção da casa estúdio do Carlos Relvas, na Golegã, (o único estúdio fotográfico do século XIX, construído como casa, que sobrevive até hoje, em todo o mundo, é absolutamente único). Mas havia um estúdio anterior a este, pequenino, mas muito funcional e, tecnicamente, muito bem pensado. Como havia muitas fotografias, muitas delas estereoscópicas, do interior e do exterior, achámos que era interessante, a partir delas, reconstituir, em realidade virtual, essa experiência de visita emersiva, como se fôssemos clientes a entrar dentro do estúdio. Podíamos, depois, pegar nas fotografias virtuais que estavam em cima da mesa, aproximá-las dos olhos e vê-las em 3D, fazer uma viagem virtual dentro de outra viagem virtual. Estarmos dentro do estúdio, que já é virtual, e depois fazermos um segundo mergulho em cada um dos cartões estereoscópicos que nos mergulham noutra experiência tridimensional. Esta exposição foi um desafio porque, normalmente, num

museu as pessoas não podem tocar em nada, e para além da sala de realidade virtual, também tínhamos visores que se podiam usar para ver as imagens de Carlos Relvas em sequência.

Fale-nos da sua experiência como curador…Foi muito gratificante, sobretudo porque se conseguiu conjugar o trabalho de uma equipa do Museu do Chiado como uma equipa de investigação que incluiu também dois alunos do curso de Fotografia da Universidade que estagiavam connosco e que trouxeram também os seus saberes e a sua prática fotográfica para a elaboração da exposição.

O fim da exposição foi adiado de 20 de janeiro para 24 de fevereiro. Porquê?Muitas pessoas visitaram o Museu do Chiado exclusivamente para ver aquela exposição [o bilhete dava acesso a todas as outras], e faziam perguntas na bilheteira sobre ela. Enquanto curador, fiz várias visitas guiadas com colecionadores e havia sempre muitas pessoas, não só a assistir à visita como também a circular livremente. O facto de haver muito interesse por parte do público foi, sem dúvida, o principal motivo para o adiamento. Mas também se justifica por estas exposições serem um grande investimento das instituições e das equipas de trabalho.

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Notícias

Alexandre Silva, Cristiana Boieiro, Francisca Duque, Maria Lopes, Mariana Vilela e Raquel De Araújo disseram «sim» ao desafio proposto pelo Museu de Lisboa. Sob coordenação dos professores Carla Rodrigues Cardoso e João Antero, dividiram-se em duplas e partiram, de câmara na mão, à procura de habitantes e trabalhadores das freguesias lisboetas. O objetivo era único, recolher respostas à pergunta «Como imagina Lisboa no futuro?», de forma a fazer pensar numa realidade a 50, 70, ou mesmo 100 anos.

Mariana Vilela confessa que a maior dificuldade foi abordar as pessoas. «Nem todas se mostravam disponíveis para dar uma entrevista gravada em vídeo» e algumas ainda se revelaram desagradáveis, contou ao MEDIALOGIAS.

Documentário de alunos do DCC na exposição «Futuros de Lisboa»«Como imagina Lisboa no futuro?» é o título do documentário feito por alunos do 2º ano de Comunicação e Jornalismo para a exposição «Futuros de Lisboa», que esteve patente ao público de 12 de julho a 18 de novembro, no Torreão Poente da Praça do Comércio. O Museu da Cidade fez o convite, seis alunos do DCC aceitaram-no.

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Mas o balanço da experiência foi positivo mesmo no campo em que os problemas foram maiores. Raquel De Araújo diz que ganhou «bastante experiência no que toca à interação pessoal com desconhecidos, tanto na maneira mais correta de abordar as pessoas na rua, bem como na melhor forma de conduzir a conversa».

Joana Sousa Monteiro, diretora do Museu de Lisboa, não poupou elogios quando recebeu a peça. Por e-mail, declarou-se surpreendida «com a mestria do resultado, tanto na diversidade de cidadãos entrevistados, como dos contextos e cenários da cidade em que as entrevistas se passam, cobrindo zonas expectáveis, mas também perspetivas originais, o que muito nos satisfez».

O projeto de investigação «Experiência Aural – Território e Comunidade», liderado por Luís Cláudio Ribeiro, diretor do Departamento de Ciências da Comunicação, foi selecionado para financiamento pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia. A equipa integra o diretor da ECATI, José Gomes Pinto, e os investigadores Hedisson Mota, João Alves, Jorge Bruno Ventura e Raquel Castro. Através de diálogos com os habitantes de Alvalade e Belém, pretende-se proceder, até 2021, ao mapeamento sonoro e visual dos bairros destas freguesias lisboetas.

Os objetivos são descobrir quais as áreas que necessitam de uma maior participação ou inclusão da vida urbana, e o que se pode fazer ao nível da ecologia acústica para manter uma experiência aural que traz bem-estar e identidade à comunidade. Esta é uma investigação que pode ser replicada posteriormente noutras zonas de qualquer cidade e os trabalhos desenvolvidos vão ser disponibilizados à comunidade através do site do Lisbon Sound Map.

FCT apoia projeto de mapeamento sonoro e visual de Alvalade e Belém

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Fora do Campus

Catarina Marques Rodrigues, professora da Licenciatura em Comunicação e Jornalismo do DCC e jornalista da RTP, participou no International Visitor Leadership Program, a convite do Departamento de Estado americano. A professora do DCC foi a única representante portuguesa em Washington e integrou um grupo de 19 jornalistas europeus que discutiram, em outubro, o tema «Promoting Discerning Consumers of Media». Esta iniciativa traduz-se numa formação intensiva de duas semanas em média e jornalismo, dirigida, de acordo com os organizadores, a «atuais ou potenciais líderes no governo, média, negócios e outros campos».

A convite do Departamento de Estado americano

José Bragança de Miranda, diretor da ECATI, Escola da Universidade Lusófona que integra o Departamento de Ciências da Comunicação, é o protagonista do documentário «Objetos entre nós», de Júlio Alves, que estreou no Doclisboa 2018, a 26 de outubro. De que modo pensamos os objetos? É a interrogação que alimenta os 26 minutos do filme. É um facto que vivemos entre objetos, que nos afetam, constroem memórias e a comunidade que somos. Criam a nossa relação com o mundo que, para Bragança de Miranda, é sempre de «puro abuso ou exploração, que começa nos objetos, passa para os animais e termina nos humanos, como sempre».

Bragança de Miranda protagoniza «Objetos entre nós»

Helena Garrido, jornalista e professora do Departamento de Ciências da Comunicação há mais de 20 anos, assumiu funções em dezembro como diretora adjunta da Direção de Informação da RTP. A equipa da televisão e rádio públicas, liderada por Maria Flor Pedroso, integra também os jornalistas Cândida Pinto, Hugo Gilberto e António José Teixeira, o único que transitou da anterior Direção de Informação e que também já fez parte do corpo docente do DCC. Em novembro, a professora de Jornalismo Económico esteve em Díli, Timor, para coordenar as «Jornadas sobre Orçamento e Finanças Públicas». Nesta formação, cofinanciada pela União Europeia, participaram 26 profissionais de vários meios de comunicação social timorenses.

Helena Garrido: de Timor para a Direção de Informação da RTP

Na Assembleia da República em dia de votação do Orçamento de Estado

3º Ano de CCC/Jornalismo no Gabinete de Informação do Parlamento EuropeuAcompanhadas da professora Isabel Meirelles, as finalistas de jornalismo da Licenciatura em Ciências da Comunicação e da Cultura do DCC estiveram, a 30 de novembro, no Gabinete de Informação do Parlamento Europeu em Portugal, no âmbito da disciplina Jornalismo e Instituições Europeias. A turma visitou as instalações e ficou a saber como funciona este organismo.

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Os estudantes do 2º ano de Comunicação e Jornalismo e as finalistas de Ciências da Comunicação e da Cultura/Jornalismo estiveram com a professora Sara Pina, a 29 de novembro, na Assembleia da República para assistir à discussão e votação do Orçamento de Estado para 2019. A visita enquadrou-se na disciplina de Jornalismo Político, comum às duas licenciaturas do DCC.

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Fora do Campus

Estudantes de Jornalismo do DCC no Grupo Renascença

Alunos de Comunicação Aplicada na Baixa lisboeta para abertura de lojas

Os alunos do 3º ano de Comunicação e Jornalismo do DCC visitaram a Sport TV, a 11 de dezembro, com o professor Carlos Andrade. Foram recebidos por Alexandra Sequeira de Carvalho, diretora de recursos humanos da estação de televisão. Para além de ter acompanhado a visita à redação e restantes instalações, a responsável revelou que, neste momento, a maior concorrente da Sport TV é a pirataria.

O artigo de análise «Assédio sexual em Hollywood – uma análise da reportagem do New York Times sobre as denúncias contra Harvey Weinstein», de Cauê Moniz, estudante do Mestrado em Comunicação nas Organizações do DCC, foi publicado em janeiro pela revista JJ – Jornalismo e Jornalistas, editada pelo Clube de Jornalistas. Este trabalho desconstrói, à luz da teoria dos valores-notícia, a reportagem do jornal americano que deu início ao movimento #MeToo. O artigo de Cauê Moniz foi desenvolvido no âmbito da disciplina Jornalismo e Media, sob orientação das professoras Carla Martins e Carla Rodrigues Cardoso.

As aulas de Teoria de Marketing das três turmas de 1º ano da licenciatura em Comunicação Aplicada foram, entre os dias 3 e 5 de dezembro, diferentes das habituais. Os mais de 150 estudantes, acompanhados da professora Marta Lopes, rumaram à Baixa lisboeta com o objetivo de desenvolver vários exercícios práticos. A turma da manhã esteve envolvida na abertura de uma megastore da Parfois, caracterizou a empresa, analisou

a concorrência e definiu a segmentação e os produtos que a loja iria disponibilizar. Os alunos da turma da tarde realizaram um exercício idêntico, mas aplicado a uma loja de motas, mais especificamente de Vespas, fazendo a análise de mercado, concorrência e cálculo do segmento-alvo. Por fim, a turma da noite trabalhou uma loja de telemóveis da marca Xiaomi, com análise de mercado, análise da concorrência e diferenciação pelos serviços.

Cerca de 60 alunos de Jornalismo do DCC visitaram o Grupo Renascença Multimédia, em dezembro, acompanhados pela professora Carla Rodrigues Cardoso. Os estudantes da Lusófona, divididos em três grupos, estiveram na redação e nos estúdios das rádios Renascença, RFM, Mega Hits e Sim. Ficaram a conhecer um pouco da história do Grupo Renascença Multimédia e tiveram a oportunidade de conversar com jornalistas e animadores dos programas da manhã, como Catarina Palma, José Coimbra, Pedro Fernandes, Mariana Alvim e Nilton. A boa disposição marcou, do início ao fim, as três visitas.

Finalistas de CJ na Sport TV

JJ publica artigo de aluno de mestrado do DCC

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A fechar...

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Aluna de CA finalista da Roger Hatchuel Academy

Já falta muito pouco para Beatriz Venturini saber os resultados. Até ao fim de março é o prazo limite. A aluna do 3º ano de Comunicação Aplicada ultrapassou, com êxito, três etapas e, neste momento, é uma das três finalistas nacionais que querem participar na Roger Hatchuel Academy. Esta iniciativa, lançada em 2003, traduz-se em seis dias de formação intensiva pensada para os criativos do futuro.

O curso integra-se no Cannes Lions, o mais importante festival internacional de criatividade, que este ano se realiza de 17 a 21 de junho, em Cannes, França.

Parte do espólio do fotógrafo de teatro José Marques (1924-2012) vai estar patente no teatro Nacional D. Maria II a partir de 27 de março e até 28 de junho de 2020. Teresa Flores, professora do DCC, é uma das curadoras da exposição, juntamente com Cláudia Madeira e Filipe Figueiredo. Intitulada «José Marques: fotógrafo em cena», a mostra pretende, nas palavras da organização, «evidenciar o carácter singular» da obra deste «fotógrafo incontornável da cena teatral portuguesa do século XX». José Marques teve uma relação de trabalho privilegiada com a companhia Rey Colaço-Robles Monteiro, sediada no Teatro D. Maria II desde 1950 até à sua extinção em 1974.

«José Marques: Fotógrafo em cena»

«A Juventude» é o tema da 7ª Semana de Comunicação, Artes e Tecnologias, organizada pelo DCC, de 18 a 22 de março. Este conceito, difícil de balizar e definir, vai funcionar como «centro irradiador de ideias», explica Luís Cláudio Ribeiro, diretor do DCC. A sessão inaugural traz à Lusófona Hugo Carvalho, presidente do Conselho Nacional de Juventude e a Semana termina com o painel «Jovens e Política», organizado por três alunas finalistas de Comunicação e Jornalismo– Inês Palma, Jéssica Domingos e Mafalda Gomes. Ao longo da Semana, há painéis sobre Marketing, Marcas, Comunicação e Redes Sociais, o Festival de Cannes, Comunicação no Meio Rádio, um workshop de Literacia Mediática, dois filmes do American Film Show Case, em parceria com a Embaixada Americana em Portugal, e muito mais.

7ª Semana de Comunicação: cinco dias para debater a juventude

Vão ser selecionados 40 estudantes, dos 18 aos 23 anos, de 30 países. Beatriz avançou passo a passo. Agora, aguarda a decisão do painel internacional, constituído por nove especialistas, que está a avaliar os finalistas nacionais para encontrar o vencedor. É a última fronteira antes da concretização de um sonho.