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Foto: João Zinclair O preço da luz é um roubo Enquanto empresas multinacionais consomem muita energia, familias não têm acesso ou não podem pagar a conta de luz Páginas 4 e 5 Comissão de direitos humanos comprova denúncias feitas pelos atingidos Hidrelétricas na Amazônia: Rio Madeira e a cobiça internacional Luta pelos direitos dos atingidos prossegue em todo o país Página 3 Página 6 Página 7 Outubro de 2007

Jornal do MAB | Nº 01 | Outubro de 2007

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O preço da luz é um rouboEnquanto empresas multinacionais consomem muita energia,familias não têm acesso ou não podem pagar a conta de luz

Páginas 4 e 5

Comissão de direitoshumanos comprovadenúncias feitaspelos atingidos

Hidrelétricas naAmazônia:Rio Madeira e acobiça internacional

Luta pelos direitosdos atingidosprossegue emtodo o país

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Jornal do MAB

Uma publicação doMovimento dos Atingidos

por Barragens

ma das principais bandeirasdo movimento no setor deprodução é a ocupação dos

lagos da União para a aqüicultura, vi-sando à soberania alimentar e geraçãode trabalho e renda. O MAB entendeque a utilização dessas águas é um di-reito dos atingidos, já que foram ex-pulsos de suas casas e comunidadespara dar lugar aos lagos das barragens.

No entanto, os pes-cadores encontram muitasdificuldades para fazeressa ocupação nos lagosformados por usinas hi-drelétricas ou para reten-ção de água. Por isso,com o objetivo de diag-nosticar o processo dacadeia produtiva da pes-ca nas regiões - antes edepois das barragens - fo-ram realizados diversos encontros re-gionais e um encontro nacional paratratar deste tema.

Uma das dificuldades encontra-das é a adaptação com a nova dinâmi-ca da água, depois de construída abarragem. Segundo Evandro Nesello,um dos coordenadores do projeto,quando uma barragem é construída,toda a dinâmica da aqüicultura é alte-rada. “Os ribeirinhos já não reconhe-cem mais seus rios. Na água do lagonão existe mais correnteza, a água éparada e profunda. Com isso, váriasespécies nativas desaparecem (comoo Dourado em algumas regiões) e ou-tras espécies predadoras surgem”.

Além disso, há uma disparidadedo ponto de vista econômico dentroda cadeia produtiva. Os pescadores

Aqüicultura: é a criação deorganismos que desenvolvempelo menos uma parte de suavida na água.

Atravessador: quem comprao peixe direto do pescador,revende e fica com o lucro.

Animador: militante domovimento que vai animar acomunidade a discutir o projetoda pesca, levantar dados.

Técnico: faz o diagnóstico eo debate técnico com asfamílias.

EXPEDIENTE

geralmente ganham muito menos doque os atravessadores e revendedores,como explica José Arlan Freitas, pes-cador do Ceará: “quem determina opreço do peixe é o atravessador. Nãosó o preço, mas a quantidade. A maio-ria só compra em grande quantidade.Além disso, em muitos lugares só exis-te um atravessador, o pescador ficasem opção”.

Com o diagnóstico dasituação de cada barragem,os pescadores deram o pas-so seguinte: pensar qual aprodução que o Movimen-to quer. Segundo IuryCharles, militante do MAB,“a produção que queremosdeve estar totalmente deacordo com os princípios evalores do movimento”. Deacordo com o projeto, um

dos princípios do setor de produçãodo MAB é que ele deve ser geradorda soberania e segurança alimentar dasfamílias. Além disso, ele deve aconte-cer de forma coletiva, potencializandoo trabalho e socializando a renda.

Os encontros aconteceram nosestados do Pará, Rondônia, Goiás,Minas Gerais, Tocantins, Paraná, RioGrande do Sul e Santa Catarina. Emmaio desse ano, um encontro nacionalreuniu técnicos e animadores do Pro-jeto da Pesca em Brasília.

Projeto resgata a cultura dapesca nos lagos de barragensProjeto resgata a cultura dapesca nos lagos de barragens

UU

A iniciativaretoma a

cultura dopovo, que

sempre estevepróximo aos

rios e aospeixes.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

EditorialAo retomarmos a edição deste

informativo, queremos saudar as lutasdo povo brasileiro e dos atingidos porbarragens que resistem de todas asformas ao processo de exploraçãocapitalista.

Sabemos que no atual momentohistórico há uma forte hegemonia dopensamento capitalista, que procuratransformar tudo em mercadoria. Asempresas tratam inclusive os bensnaturais, como a água e a energia, comosimples mercadoria. O capitalfinanceiro, as grandes empresasmineradoras, metalúrgicas eenergéticas, junto com o agronegóciosão a elite dos projetos do capital, queesmagam os trabalhadores no Brasil eno mundo.

A ação destes grupos econômicosé dirigida internacionalmente, earticulada através dos tratados de livrecomércio e projetos de integração deinfra-estrutura. Na grande maioria doscasos os Estados nacionais e osgovernos servem a esta mesma política,usando dinheiro público e prestígiopolítico em favor das grandes empresascapitalistas, que cada vez maisexploram os trabalhadores e seapropriam da natureza.

Estudar, compreender estarealidade, organizar-se para enfrentarestes “poderosos” inimigos é lutarsempre contra este modelo de sociedade,que destrói a natureza e causa tantafome e miséria. Nosso principal desafioé tarefa é lutar: água e energia não sãomercadorias!

Coordenação Nacional do MAB

Outubro de 2007

Projeto Gráfico:MDA Comunicação Integrada

Tiragem: 5.000 exemplares

www.mabnacional.org.br

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omunidades esquecidas, isola-das. Repressão policial. Direi-tos negados ou não reconheci-

dos. Tradições culturais extintas. Na ten-tativa de pautar estes e outros problemassofridos pela população atingida junto aosórgãos responsáveis do país, o Movimentodos Atingidos por Barragens (MAB) en-caminhou diversas denúncias de violaçõesde direitos humanos decorrentes do pro-cesso de construção das barragens aoConselho de Defesa dos Direitos da Pes-soa Humana (CDDPH), órgão ligado aSecretaria Especial de Direitos Humanos(SEDH) do governo federal.

A partir das denúncias, foi forma-da uma Comissão Especial que duranteesse ano visitou a barragem de Acauã,na Paraíba, e as hidrelétricas de Foz doChapecó, em Santa Catarina, Tucuruí, noPará, Aimorés, Emboque e Fumaça, emMinas Gerais, e Cana Brava, em Goiás.

O representante da Defensoria Pú-blica da União na Comissão, João PauloDorini, afirma que em todas as visitas asdenúncias feitas pelo MAB foram confir-madas. O caso que mais causou espantopara Dorini foi o da Barragem de Acauã.“Muitas pessoas saíram de suas casas jácom a água nos pés. E a comunidade estátotalmente esquecida, isolada”.

Um relatório final feito pela Co-missão será entregue ao CDDPH. “Es-pero que o relatório não seja mais umdocumento que vá pra gaveta. Se ele ser-vir pelo menos para a discussão públicasobre o tema já cumpriu boa parte doseu papel”, afirmou Dorini. Para o MAB,o relatório será mais um instrumento deluta e pressão política para exigir solu-ções para os problemas comprovados.

Barragem de Acauã (PB)Um caos social

Os reassentamentos de Cajá,Melância e Pedro Velho, na Paraíba, sãoconsiderados pelo MAB a pior situaçãosocial das famílias reassentadas por umabarragem no país. O MAB denuncia: dé-ficit habitacional de 240 moradias; esco-las inexistentes ou com funcionamento pre-cário; merenda escolar insuficiente; posto

médico inexistente ou com funcionamentoprecário; assistência médica ruim; inexis-tência de área para desenvolvimento daagricultura e pecuária, entre outros déficits.

UHE de Cana Brava (GO)Mais da metade dosatingidos sem indenização

No cadastro do MAB constam808 famílias atingidas pela usina hidrelétri-ca de Cana Brava, localizada no municí-pio de Minaçu (GO), que ainda não rece-beram qualquer tipo de indenização. Estaé a principal denúncia encaminhada pelomovimento ao CDDPH. O projeto dausina de Cana Brava foi concedido à CEM– Companhia Energética Meridional, sub-sidiária da Tractebel Energia S.A, comoresultado de uma licitação internacionalpromovida pela ANEEL, em março de1998. Segundo o MAB, 946 famílias fo-ram atingidas, mas só 121 foram reconhe-cidas. O processo de reassentamento dasfamílias reconhecidas ainda não foi con-cluído. Estas famílias encontram-se acam-padas e organizadas em grupo.

UHE de Emboque (MG)Mortes e desrespeitocom os atingidos

Famílias atingidas pela UHE deEmboque, da empresa CAT–LÉOENERGIA, relatam casos de total des-respeito aos Direitos Humanos. Um de-les foi o caso de Sílvio Clemente, quesuicidou-se por causa da truculência emaus tratos da empresa. A barragem deEmboque, localizada no rio Matipó, emnove anos de funcionamento, acumulaum triste saldo de dez mortes.

UHE de Fumaça (MG)Novelis destrói o meio-ambiente e a sobrevivência

A empresa norte americana Novelis(Alcan), dona da barragem de Fumaça,localizada no Rio Gualaxo do Sul, com-prometeu 300 anos de artesanato em pe-dra sabão na região próxima a Ouro Pre-to e afetou, diretamente, a atividade cultu-ral de centenas de artesãos e de mais deduas mil pessoas. Muitos artesãos estãoaté hoje sem nenhum tipo de indenização.O lago da barragem inviabilizou a explo-ração de quarenta pedreiras, que ficaramem área de risco ou debaixo d’água.

CC

Comunidade alagada pelaBarragem de Acauã, na Paraíba

UHE de Foz de Chapecó (RS/SC)Truculência e repressãocontra os atingidos

Até agora foram desapropriadas 71famílias na região do canteiro de obras deFoz do Chapecó. Dessas, segundo oMAB, mais de 30 tiveram os direitos ne-gados ou “não reconhecidos” pela empre-sa. Além disso, o consórcio, formado pelogrupo CPFL (Votorantim, CamargoCorrêa e Bradesco), Furnas e a conces-sionária CEEE, estaria induzindo as famí-lias a escolherem carta de crédito ou in-denização em dinheiro ao invés dereassentamento coletivo, desrespeitandoa livre opção de escolha garantida por lei.

UHE de Tucuruí (PA)Milhares de famíliassofrem até hoje

Segundo estudo do Instituto dePesquisa da Amazônia (INPA), as con-seqüências sociais e ambientais da hi-drelétrica de Tucuruí foram, e continu-am a ser, negativas e prejudiciais. Algu-mas delas: o deslocamento da popula-ção na área de inundação e a suarealocação subseqüente devido a umapraga de mosquitos Mansonia; o desa-parecimento da pescaria que sustenta-va, tradicionalmente, a população ajusante da barragem; os efeitos sobre asaúde devido à malária e a contamina-ção por mercúrio; e o deslocamento eperturbações de grupos indígenas(Parakanã, Pucurui e Montanha).

Arquivo MAB

Comissão de direitos humanos comprovadenúncias feitas pelos atingidos

Comissão de direitos humanos comprovadenúncias feitas pelos atingidos

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ão dá mais pra ignorar opeso da conta de luz no bol-so dos brasileiros do cam-

po e da cidade. No Rio de Janeiro, vá-rios moradores do Bairro Duque deCaxias se mobilizaram contra a instala-ção de chips eletrônicos de medição deenergia (no lugar dos convencionais re-lógios) que faziam a conta chegar cadavez mais alta. No ceará, uma senhoraque vivia em casa respirando com a aju-da de aparelhos morreu ao ter sua ener-gia cortada por falta de pagamento. EmMinas Gerais, várias pessoas deixam decomer pra poder pagar a conta de luzmais cara do Brasil.

Mas, por que opreço da tarifa deenergia no Brasil éa quinta maior domundo se nossaprincipal matrizenergética (ahidroeletricidade)é uma das maisbaratas?

Para denunciar o estágio atual dosetor elétrico brasileiro e sua conseqü-ência para os trabalhadores, o MABcriou a campanha “O preço da Luz éum roubo” na qual participam os movi-mentos da Via Campesina, entidadesurbanas e pastorais. Um dos pontosprincipais da campanha é justamente oquestionamento ao fato de o Brasil teruma tarifa de energia tão alta.

Segundo a coordenação doMAB, o setor energético está nas mãosde empresas multinacionais que visam olucro. Desde a privatização do setor, astarifas aumentaram muito, sempre aci-ma da inflação. “A energia foi transfor-mada em mercadoria que está a serviçoda acumulação do capital e não do bem-estar do povo”.

Este aumento da tarifa pesa prin-cipalmente no bolso dos consumidoresresidenciais. As indústrias pagam até 8vezes menos pela energia do que as fa-mílias. Isso acontece porque elas rece-berem subsídio do governo, pagandopela energia o preço de custo (cerca deR$ 0,06 o KW), enquanto nós paga-mos, em média, R$ 0,30 o KW.

A mentira do “risco apagão”A mídia corporativa, o governo e

as empresas do setor tentam chantageara sociedade com o discurso falaciosoda falta de energia e de um possível“apagão”. Para o MAB, “Isso é umaespeculação na comercialização de ener-gia elétrica. O que eles querem é quetenha energia sobrando para comprá-lacada vez mais barata e em forma de sub-sidio do governo”. Isso acontece, porexemplo, no Pará com a Albrás e noMaranhão com a Alumar.

Dorival Gonçalves Júnior, profes-sor de engenharia elétrica da Universida-de Federal de Mato Grosso (UFMT),desconstrói a tese do risco de falta de ener-gia. Para isso ele examina, inicialmente, acapacidade de fornecimento médio de ele-tricidade durante todo o ano, que é deno-minada de “energia assegurada” pelaANEEL. Segundo o banco de dados daAgência, a capacidade de gerar energiaelétrica na atualidade é de 57.500megawatts (MW) médios. Comparandoagora com a demanda requerida duranteo ano de 2006 (que foi de 47.500 MW),de acordo com os dados da ONS (Ope-rador Nacional do Sistema Elétrico Inter-ligado), conclui-se que sobrou 10 MW deenergia no ano passado. Para reforçar, eledá um exemplo mais recente, de janeirode 2007, onde o consumo de energia foide 49.183 MW médios, sobrando assim,8.317 MW médios de energia. Dorivalconclui: “Considerando que esse exceden-te de 8.317 MW é, praticamente, a ener-gia assegurada da Itaipu (atribuída pela

ANNEL), podemos dizer que hoje o sis-tema elétrico interligado nacional operacom uma Itaipu sobrando”.

Mesmo assim, o governo, protegi-do por essa tese da escassez de energia,continua investindo em barragens. A mai-or parte do orçamento (R$ 274,8 bi) doPrograma de Aceleração do Crescimento– PAC foi destinada para a rubrica “in-vestimento em infra-estrutura energética”.Os principais projetos desse programasão as usinas do Rio madeira, emRondônia, de Belo Monte, no Pará, e ausina nuclear Angra III. Mas, a energiagerada por esses mega-empreendimen-tos vão servir a quem? Para as indústri-as eletro-intensivas, aquelas que conso-mem e desperdiçam muita energia.

Para Dorival Gonçalves Jr., sobo discurso da escassez iminente de ele-tricidade, “está submersa uma matriz deinteresses que de modo algum expres-sam qualquer interesse dos trabalhado-res”. Segundo ele, desde a privatizaçãodo setor o preço da tarifa residencialsubiu. A eletricidade saiu da faixa dosUS$ 70 dólares para mais de US$130,mantendo-se acima dos US$ 100.

Mecanismos de sustentação destemodelo foram inclusos no PAC. Nocaso dos financiamentos do BNDES,

Mobilização popular amplia o debate sobre o alto preço da luz

Campanha Nacional:“O preço da luz é um roubo”

Campanha Nacional:“O preço da luz é um roubo”

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Mobilização pelas ruas de Minas Gerais

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que já eram bastante favoráveis, ficaram aindamais, já que o banco financiará até 80% do em-preendimento e o prazo de pagamento aumen-tou de 14 para 20 anos. Além disso, está sendocriado o Fundo de Investimento em Infra-es-trutura com o uso do FGTS. “O PAC veio paraaperfeiçoar esse modelo energético lucrativo”conclui Dorival.

Debate nacionalsobre o preço da luz

O debate da energia já vem sendo dis-cutido há algum tempo dentro do movimento.Em julho de 2006, o MAB promoveu uma jor-nada de lutas por um novo modelo energético,cobrando energia de boa qualidade e com umpreço justo para a população. Agora, a cam-panha está em nova fase. Ela saiu do campo edas comunidades ribeirinhas para os bairros dosgrandes centros urbanos. O objetivo é um diá-logo, uma sensibilização e conscientização dasociedade e dos trabalhadores da cidade.

Este ano, essa nova fase da campanhaaconteceu nas principais capitais do país. Den-tre elas: Porto Alegre, Florianópolis, Belo Ho-rizonte, Belém, Porto Velho, Goiânia, São Pauloe Fortaleza. Militantes do MAB e de outros mo-vimentos e entidades fizeram em cada uma des-sas cidades atividades como panfletagem nosbairros, debates em escolas e universidades,atos públicos, teatro, exibição de vídeos, estu-dos e seminários sobre a questão energética. Acampanha está sendo bem recebida pelos tra-balhadores e trabalhadoras, cada vez mais in-dignados com o alto preço da conta de luz.

Não é só no Brasil que os maio-res consumidores de energia (as gran-des empresas) pagam uma tarifa menordo que os pequenos consumidores (asfamílias) na conta de luz. Este roubo tam-bém acontece na Guatemala, como re-latou Verônica Del Cide durante o Se-minário Latino-amicano PanoramaEnergético organizado pelo MAB, emSão Paulo, nos dias 5 e 6 de outrubro.

Outras “coincidências” como estaforam constatadas a partir de relatos dasituação do setor elétrico de El Salva-dor, Argentina, Guatemala e Nicaráguafeitos por representantes desses países.Famílias deslocadas em consequência da

construção de barragens e que vivemsem luz; energia à serviço das empresaseletro-intensivas produtoras de alumínio(para exportação) e não do povo; asmesmas empresas controlando o setorenergético dos países.

Segundo o MAB, trata-se deuma “receita” neoliberal para os paíseslatino-americanos no setor energético,com exceção de Cuba e Venezuela,onde a energia não é tratada como mer-cadoria.

Em Cuba, segundo Jorge Ferrera,dirigente do Partido Comunista de Cuba,os que consomem mais pagam mais eos que consomem menos pagam menos.

Além disso, o governo cubano trocouas lâmpadas e outros aparelhos eletros-domésticos da população por novos queconsomem menos energia. Essa medi-da faz parte da “revolução energética”promovida pelo governo.

O MAB afirma que “é neces-sário resistir. Construir um novo mo-delo energético popular e de socie-dade. Temos que fazer ações nacio-nais e internacionais contra esse mo-delo. Contra a exportação de ener-gia que visa à acumulação capitalis-ta. Contra as eletro-intensivas. Con-tra as privatizações e leis do Estadoburguês.”

MAB promove semináriolatino-americano sobre energia

Seminário Latino-americano discutiu panorama energético5 e 6/10/2007 - São Paulo/SP

Arquivo MAB

Arquivo MAB

Militantes do MAB e outras entidades debatem tema da energiaem Seminário Latino-americano

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O que está por traz daconstrução de Jirau e SantoAntônio? Rapinagem dasriquezas amazônicas pelahidrovia, fortalecimento daindústria da barragem,energia barata para asindústrias eletrointensivas euma fábrica de dinheiro coma venda da energia para opovo brasileiro.

dia 9 de agosto de 2007 vaificar marcado na história donosso país como mais um dia

em que o governo federal se cur-vou e cedeu aos interesses dasgrandes transnacionais. Nesta datao Instituto Brasileiro do Meio Am-biente (Ibama) concedeu a licen-ça prévia, atestando a viabilidadeambiental das hidrelétricas de San-to Antônio e Jirau, no coração dafloresta amazônica, em Rondônia.

Segundo o debate que oMovimento dos Atingidos por Bar-ragens vem fazendo, a crise mun-dial de energia está atraindo parapaíses como o Brasil as indústriasque, nas suas nações de origem, já nãotêm condições de adquirir a elevada car-ga de energia que consomem. E comonecessitam de energia barata para seviabilizar, encontraram aqui todas as van-tagens que precisam, sob a conivência eincentivo do Estado brasileiro.

Além disso, o fato é que o entre-guismo dos recursos naturais da Ama-zônia agora vem mascarado por umamentira, ou seja, foi criada uma neces-sidade de energia para evitar um novo‘apagão’ num futuro breve. No entan-to, dados apontam que se o crescimen-to do país continuar na média dos últi-mos anos, temos energia elétrica sufi-ciente até 2010.

Para o governo federal as duasusinas podem produzir o que hoje re-presenta 8% da demanda nacional, ne-cessários para impedir o falacioso‘apagão’. Mas para o MAB a falta de

energia e a construção das duas usinasé um pretexto e significa abrir hidroviaspara o escoamento das riquezas mine-rais que estão na região amazônica, parao avanço da soja, cana e eucalipto, alémde garantir o funcionamento da indús-tria da barragem com a venda de turbi-nas, geradores, cimento, entre outros.

Com a licença prévia, concedidaà estatal Furnas Elétricas, a obra já podeser leiloada. As verdadeiras interessa-das nas obras são a Companhia Vale doRio Doce, Alcoa, Citicorp, Duke Energy,todas dos Estados Unidos; a Votorantime o Banco Bradesco, do Brasil; além da

inglesa Billington Metais e da chinesaCTIC. A energia elétrica gerada em Jiraue Santo Antônio terá o preço de custo(R$ 51,00/ megawatt/hora – MW/h)para as suas indústrias de alumínio, si-derurgia, celulose, papel, cimento, fer-ro-ligas e petroquímica, o que já é umagrande vantagem.

Mas o verdadeiro lucro que asempresas acionistas terão será com avenda da energia, que com um custo deprodução muito reduzido e beneficiadaspelos altos preços nas tarifas de energiano Brasil, obtém altos lucros na vendado excedente. De acordo com cálculosdo MAB, considerando que o valor éde R$ 130 por megawatt nos leilões deenergia no Brasil e que a capacidade éde 4.051 MW/hora nas duas usinas, asempresas acionistas de Jirau e SantoAntônia podem faturar até R$ 530 mil acada hora.

Hidrelétricas na Amazônia:Rio Madeira e a cobiça internacional

Hidrelétricas na Amazônia:Rio Madeira e a cobiça internacional

Segundo dados do PAC, grandeparte da energia produzida pelas duashidrelétricas será levada principalmentepara os estados onde as empresas acio-nistas possuem suas indústrias consumi-doras de energia, como São Paulo, Riode Janeiro e Minas Gerais. Ou seja, pou-ca ou quase nada da energia produzidaserá utilizada pelo estado de Rondônia.

Povo brasileiro paga paraser roubado

Na região amazônica o desníveldo terreno é pouco e os impactos soci-ais e ambientais que as duas obras oca-

sionarão são incalculáveis. Com529,36 km² (53 mil hectares) deárea inundada, o MAB estimaque serão atingidas cinco mil fa-mílias da região. O Estudo deImpacto Ambiental (EIA) fala em2,8 mil pessoas, no entanto, se-gundo o Movimento, estão sen-do contabilizadas apenas as pes-soas que possuem título de pro-priedade sobre as terras, como érecorrente em todas as constru-ções de barragens no país.

A dignidade do povo não in-teressa à cobiça internacional, mas o di-nheiro do povo interessa e muito para aconstrução da obra. Os 43 bilhões de re-ais necessários para o conjunto de obrasdo chamado “Complexo do rio Madeira”sairá do Banco Nacional de Desenvolvi-mento Econômico e Social (BNDES), umbanco público, do povo brasileiro contro-lado pelo Governo Federal, que utiliza re-cursos do Fundo de Amparo ao Traba-lhador (FAT) para seus empréstimos.

Se transformarmos estes 43 bi-lhões de reais em renda para a popula-ção local, teremos uma noção do lucroextraordinário que as empresas terãocom a venda de energia. Por exemplo:a capital de Rondônia, Porto Velho, se-gundo estimativas de 2006, possui umapopulação de 380.971 pessoas. Secompararmos com o total do investi-mento, ou seja, 43 bilhões de reais, issoequivale a 113 mil reais para cada habi-tante do município.

OOCachoeira de Santo Antônio, que será submersacaso se construa a usina no Rio Madeira.Foto: Wilson Dias/Abr

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e acordo com o rela-tório final da Comis-são Mundial de Bar-

ragens (órgão ligado à ONU), nomundo, existem 80 milhões depessoas atingidas diretamente, ouseja, deslocadas fisicamente pelaconstrução de barragens (relató-rio de 2000). No entanto, muitasdelas não foram reconhecidas(cadastradas) como tal nem in-denizadas ou reassentadas.

As indenizações, geral-mente, concentram-se em mudança fí-sica ou em uma pequena quantia de di-nheiro, excluindo a recuperação econô-mica e social dos deslocados. A perdado meio de subsistência, do trabalho, dacultura e das raízes dos atingidos acar-reta vários problemas de saúde física epsicológica dessas pessoas.

Por isso o MAB continua lutan-do por reassentamentos e indenizaçõesjustas para os atingidos. EmTocantins, por exemplo, Cerca de500 atingidos trancaram a via de aces-so ao canteiro de obras da barragem deSão Salvador no dia 10 de setembro. Ahidrelétrica deve atingir ainda o municí-pio de Minaçu (GO). A empresa nãoquer indenizar os dragueiros, garimpei-ros e caçambeiros do município deMinaçu, alegando que estes não são tra-balhadores licenciados.

Em Barra Grande, onde o pro-cesso de reassentamento já está con-cluído (uma das vitórias da luta dos atin-gidos), a luta agora é pelo cumprimentodo acordo social feito com a empresaBaesa. Cerca de 300 agricultores rea-lizaram uma mobilização em AnitaGaribaldi (SC) contra o destino que aconstrutora Baesa estaria dando para asmadeiras retiradas para a construção dolago da barragem de Barra Grande.

De acordo com o MAB, o con-sórcio Baesa estaria descumprindo oacordo social, que previa a destinaçãoda madeira para a construção de 400

casas e a reforma de outras 300, bene-ficiando as famílias atingidas. A Baesapretendia desviar estas madeiras paracomércio e repassar as que sobraram(de má qualidade) para as prefeituras..

Já em Campos Novos, apósmuitas lutas, mobilizações e enfrentamen-to, o processo de reassentamento final-mente se inicia. Terras estão sendo com-pradas para ser o novo lar e trabalho de145 famílias. No entanto, as negocia-ções com o governo continuam paragarantir a infra-estrutura mínima dosreassentamentos.

Quando construídas, na épocada ditadura militar, as barragens deSalto Santiago e Salto Osório, noParaná, deslocaram milhares de fa-mílias. Nenhuma delas foi reassentada.Algumas receberam indenização emdinheiro, o que não é suficiente e não

Luta pelos direitos dos atingidosprossegue em todo o país

Luta pelos direitos dos atingidosprossegue em todo o país

Ao optarem pelamatriz hidroelétricade geração deenergia - por sera mais barata emais lucrativa - asgrandes empresascolocam os impactosambientais e sociaiscausados poresse tipo deempreendimentoem segundo plano.

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garante trabalho e moradia para nin-guém. Os atingidos estão lutando parater seus direitos garantidos e para im-pedir que novas barragens sejamconstruídas na região. Duas audiênciaspúblicas que tratariam da construçãode 13 hidrelétricas no Rio Chopin fo-ram impedidas pela mobilização dosatingidos.

Desde 1999, as famílias atingidaspela barragem de Manso, em MatoGrosso, reivindicam novas terras paraos reassentamentos, já que as terras ofe-recidas pela empresa são improdutivas,impedindo o trabalho e a sobrevivência

dos atingidos.

Resistência àconstrução denovas obras

Cansados de serem ex-pulsos de suas terras para aconstrução de barragens cujaenergia não vai para o povo esim para grandes empresas, osatingidos, com ajuda de outrosmovimentos e entidades, de-senvolveram ações de resistên-cia à construção de novas hi-

drelétricas no Brasil.Em São Paulo, por exemplo, os

atingidos do Vale do Ribeira dizem nãoà construção das barragens que, seconstruídas, iriam destruir as comunida-des quilombolas e a região de maiorconcentração de mata atlântica.Nas au-diências públicas as populações disse-ram mais uma vez que não querem asbarragens e realizaram uma grane mar-cha ao longo da BR 116.

Outro exemplo acontece no suldo país (RS/SC), na região onde que-rem construir a barragem de Itapiranga.O povo, sabendo de uma reunião entreos prefeitos e técnicos de uma empre-sas de estudos, ocupou o local da reu-nião e expulsaram os técnicos do muni-cípio. O Povo de Itapiranga luta e resis-te à construção da obra há mais de 25anos.

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No dia 5 de outubro, vencem di-versas concessões de televisão em todoo país, entre elas as outorgas das cincoemissoras próprias da Globo- Rio de Janeiro, São Paulo,Brasília, Belo Horizonte eRecife.

No Brasil, o modelode concessões de rádios eTVs é uma verdadeira terrasem lei. Imperam interessesprivados: os empresários rei-nam sozinhos, ditam regras enão cumprem o que manda aConstituição Federal.

Entre outras questões,não há participação da socie-dade no debate sobre outor-ga e renovação das concessões, queacontecem sem respeito a critérios

públicos. Os processos são lentos, pou-co transparentes e não existe qualquerfiscalização por parte do poder públi-

co. Somados, estes ingredi-entes tornam possível o fun-cionamento de emissoras comoutorgas vencidas há quase20 anos.

A sociedade precisa semexer para mudar essa situa-ção. A Coordenação de Mo-vimentos Sociais (que reúneCUT, UNE, MST, MAB,Marcha Mundial das Mulhe-res, CGTB, Conam e Centralde Movimentos Populares,entre outros), entidades quelutam pela democratização da

comunicação (como a Campanha pelaÉtica na TV, Intervozes, Fórum Nacio-

nal pela Democratização da Comunica-ção), movimento negro e quilombolasforam às ruas no dia 5 de outubro, dataescolhida para as mobilizações por con-trole social sobre as concessões de rá-dio e TV.

Canais de Rádio e TV são con-cessões públicas! Nenhuma renovaçãosem critérios democráticos e participa-ção popular!

Fonte: www.intervozes.org.br

Entidades domovimentosocial, estudantil,sindical e outrasorganizaçõesque lutampelo Direito àComunicaçãosaem às ruaspara exigircritério etransparênciana renovaçãodas concessõesde rádio e TV.

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Pelo controle social das concessões de Rádio e TVPelo controle social das concessões de Rádio e TV

Os recursos naturais como os mi-nérios e os insumos necessários à vidacomo a água e a energia, devem estar so-bre controle e a serviço dos interesses dopovo brasileiro. Preocupado com essaquestão, o MAB resolveusomar esforços junto aosdemais setores da esquer-da que participam da cam-panha pela reestatizaçãoda Companhia Vale doRio Doce (CVRD).

Entre os dias 1 e 9de setembro o povo bra-sileiro teve uma grandeoportunidade de partici-par e opinar sobre ques-tões importantes relativasà soberania do país. Atra-vés do plebisicito popu-lar, a população foi con-sultada sobre a privatiza-ção da CVRD, a maiorprodutora mundial de minério de ferro,dona de jazidas de ouro, urânio e de boaparte da infra-estrutura brasileira deportos e ferrovias. Em 1997, o governoFHC vendeu a mineradora num leilãofaudulento

Outros três temas, também relati-vos à soberania, foram incluídos no ple-biscito: Reforma da Previdência, pagamen-to dos juros da dívida e o preço abusivoda energia elétrica – este último contou com

importante contribuição doMAB na discussão e tra-balho de base.

Segundo a secre-taria operativa do plebis-cito, foram apuradosmais de 3,7 milhões devotos. Para chegar a esseresultado cerca de 80 milvoluntários organizaram oplebiscito em 2403 cida-des brasileiras. O anún-cio dos resultados no dia8 de outubro foi marca-do por atos de rua em to-dos os estados e por umaentrevista coletiva, emBrasília.

A vale e a energiaCom a 3ª pergunta do plebisicito

- Você concorda que a energia elé-trica continue sendo explorada pelocapital privado, com o povo pagan-

do até 8 vezes mais que as grandesempresas? – o MAB denunciou o fatode que para grandes indústrias e empre-sas como a VALE, que consomem mui-ta energia produzida com a água do Bra-sil, o preço do KW é mais baixo. Ogoverno, através da Eletronorte, recen-temente vendeu pra duas multinacionaisque exploram minérios no Pará, chama-das Alumar e Albrás, uma grande quan-tidade de energia por apenas R$0,06(seis centevos) o KW. Enquanto quepara nós o KW custa, em média, maisde R$ 0,30 (trinta centavos).

Além disso, A CVRD, a maiorempresa mineral do Brasil, consumiu noano de 2003 aproximadamente 15,8milhões de MWh de energia (cerca de7,5% proveniente de geração própria).Para isso, ela está envolvida nos con-sórcios das seguintes barragens: Usinasem operação: Igarapava, Porto estrela,Funil, Candonga; Usinas em implanta-ção: Aimorés, Capim Branco I; Usinasem planejamento: Foz do Chapecó eEstreito. Estas barragens são conheci-das por casos de violações dos direitoshumanos das populações atingidas pe-los lagos das usinas.

MAB participa da campanha pelaanulação do leilão da Vale do Rio Doce

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