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Nº 13 | Maio de 2010 Encontro Nacional da Juventude: experiência de construção coletiva Mobilizações nacionais e internacionais marcaram o dia 14 de março Balanço da Jornada Nacional de Luta pela Reforma Agrária Página 4 Página 8 Página 11 Foto: Leandro Silva Mobilização dos atingidos por barragens contra Belo Monte, em Brasília (DF)

Jornal do MAB | Nº 13 | Maio de 2010

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Nº 13 | Maio de 2010

Encontro Nacional da Juventude: experiência de construção coletiva

Mobilizações nacionais e internacionais marcaram o

dia 14 de março

Balanço da Jornada Nacional de Luta pela

Reforma AgráriaPágina 4 Página 8 Página 11

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Mobilização dos atingidos por barragens contra Belo Monte, em Brasília (DF)

Atingidos por barragensse mobilizam contra

atual modelo energético

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EDITORIAL

www.mabnacional.org.br

Jornal do MABExpEdiEntE

Uma publicação do Movimento dos Atingidos por BarragensProdução: Setor de Comunicação do MAB

Projeto Gráfico: MDA Comunicação IntegradaTiragem: 5.000 exemplares

Foi lançada a 25ª edi-ção de Conflitos no Campo Brasil, rela-

tório da Comissão Pastoral da Terra (CPT) referente ao ano de 2009. Esta edição não tem nada de comemo-rativo, pois apresenta cres-cimento tanto do número de conflitos envolvendo cam-poneses e trabalhadores do campo, quanto da violência em relação ao ano anterior de 2008. O número total de conflitos soma 1184, con-tra 1.170, em 2008, com aumento considerável em relação especificamente aos conflitos por terra: 854 em 2009, 751 em 2008.

Quanto à violência, o número de assassinatos recuou de 28, em 2008, para 25, em 2009. Outros indicadores, porém, cresce-ram. As tentativas de assassinato, por exemplo, passaram de 44, em 2008, para 62, em 2009; as ameaças de morte, de 90, foram para 143; o número de presos aumentou de 168, para 204. Mas o que mais choca é o número de pessoas torturadas: 6 pessoas em 2008, 71, em 2009. O número de famílias expulsas cresceu de 1.841, para 1.884, e significativo foi o aumento do número de famílias despejadas de 9.077, para 12.388, 36,5%.

Conflito pela água

No relatório consta um texto do professor da Universidade Federal de Rondônia, Luis Novoa, sobre conflitos pela água no Brasil. Segundo ele, a construção de barragens e açudes representa 38,4% do total de conflitos por água. Novoa diz, se referindo à Amazônia, que “foi dada a largada em bus ca do ouro azul com o início das obras das UHEs de Santo Antônio e Jirau no rio Madeira (RO) e com o licenciamento da UHE de Belo Monte no rio Xingu (PA).

Nesses dois conjuntos de confli tos são estimadas 11 mil famílias afetadas direta mente, além de prejuízos cumulativos para todo o bioma amazônico e sua popula-ção. Nos dois casos verifica-se desprezo pelos procedi-mentos legais e, no caso das usinas do Madeira, ausência de dis cussão sobre o processo de reassentamento”.

Com informações do site da CPT

Na edição passada conclamamos a todos e todas para as lutas que se fariam ao longo dos

meses de março e abril deste ano. Sem dúvida, e esta edição de nosso jornal comprova, que muitas foram as ações, articulações e protestos pelo fim das in-justiças cometidas contra as populações atingidas e contra os trabalhadores do campo e da cidade.

Lutamos pelos direitos dos atingi-dos, por reassentamentos, por crédito, por políticas públicas voltadas a repa-rar as perdas que tivemos. Lutamos por um projeto energético popular, contra as altas tarifas de energia, contra a entre-ga e destruição dos recursos naturais e da vida das populações e contra as grandes obras destrutivas como Belo Monte. Combatemos a violência prati-cada contra as mulheres e lutamos pelos direitos humanos.

Com todas estas lutas vamos construindo um caminho e, neste ca-minho, cada vez que avançamos, nos deparamos com novas questões, que nos desafiam cada vez mais a fortale-cer nossa força e nossa organização, a construir alianças com os camponeses e operários em nosso país e construir articulações nacionais e internacio-nais necessárias.

Todos estes desafios são para nós a energia necessária que nos impulsio-na a construir, em solidariedade com muitos outros companheiros de luta, o Projeto Popular para o Brasil.

Quando o campo e a cidade se unir!A burguesia não vai resistir!

Coordenação Nacional do MAB

A violência do latifúndio contra camponeses está

maior, segundo CPT

Desafios cada vez maiores

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O projeto de construção da hidrelétrica de Belo Monte faz parte da estratégia traçada por forças econômicas nacionais e transnacionais ligadas à construção e financiamento da expansão da produção de energia elétrica.

Entendemos que a eletrici-dade hidráulica no Brasil tornou-se uma fonte de

alta lucratividade e sem riscos de perdas, pois o grupo que ganha o leilão, antes mesmo de construir a barragem, já tem assegurado a venda de sua produção du-rante 30 anos, com contratos assinados pelo estado brasileiro com as empresas distribuidoras, que revendem essa energia aos consumidores residenciais a um dos maiores preços do mundo. Contraditoriamente, a energia elétrica é produzida por uma das cadeias de menor custo em relação à produção mundial.

Outro benefício às forças econômicas e financeiras é a uti-lização das estatais em diferentes consórcios que irão participar dos leilões, como foi o caso de Belo Monte. Estas, além de oferecer a segurança exigida pelas empresas privadas, trazem também a sua força de trabalho de elevada capa-cidade adquirida pela longa tradi-ção nesta área, bem como, servem de verdadeiros escudos das forças econômicas envolvidas, uma vez

que, nos embates que ocorrem com os movimentos de atingidos estes, quase sempre, se defrontam com os agentes estatais que pertencem ao consórcio empreendedor, preser-vando os agentes privados.

Impactos sociais e ambientais irreversíveis

O projeto da hidrelétrica de Belo Monte, como está concebi-do, irá trazer impactos ambientais e sociais impossíveis de serem revertidos. Localizada na região da “Volta Grande” do Xingu, no Pará, compõe um arranjo de es-truturas a serem construídos cujas dimensões, em termos de área diretamente impactada, não temos registro na história de construção de hidrelétricas. O rio Xingu, que

tem vazões médias de 7.800 me-tros cúbicos por segundo, com a barragem, na extensão de 120 Km da “Volta Grande”, deverá ter va-zões anuais médias de 1500 me-tros cúbicos por segundo. Além disso, serão feitas escavações equivalentes às da construção do canal do Panamá.

A obra atinge diretamente cinco municípios: Brasil Novo, Senador José Porfírio, Anapu e Altamira. Milhares de camponeses que residem nestes municípios

serão diretamente atingidos, pois a área de inundação não pára de crescer: começou com 40.000 hec-tares e alcança hoje mais de 60.000 hectares. Como medir os impac-tos nas populações ribeirinhas que habitam toda esta extensão da “Volta Grande” que terá suas águas substancialmente reduzidas? Como avaliar o impacto que a di-minuição das águas proporcionará nos córregos e rios que deságuam no Xingu? Qual o impacto sobre a bacia do rio Bacajá, rio que se estende por importante reserva indígena e deságua no Xingu nesta extensão que ficará praticamente seca? É possível estimar que os impactos às populações indígenas se estendam até as que estão loca-lizadas em outras regiões do Pará

e em Mato Grosso, no Parque Nacional do Xingu.

Por isso, o MAB entende que as instituições de estado responsáveis por estes encami-nhamentos devem refazer esta iniciativa unilateral e estabelecer um grande debate nacional sobre a questão energética brasileira com a participação de expressivos segmentos populares do País. Ain-da, neste mesmo sentido, o MAB

conclama a todo o povo: movimen-tos populares, sindicatos de traba-lhadores, dentre outros segmentos organizados de bases populares à construção de uma unidade de lutas. Pois, só a luta do povo organizado em defesa dos recursos naturais, por uma política energética de produ-ção e distribuição em prol do povo brasileiro e contra a implantação da hidrelétrica de Belo Monte é que po-derá dar outro rumo social a história.

Com contribuições do professor Dorival Gonçalves Junior (UFMT)

Por que somos contra a construção da hidrelétrica de Belo Monte?

ANÁLISE

Localização da barragem e da Volta Grande do Xingu

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Era o início de abril, noites frias em Brasília. Cerca de 700 atingidos por barragens vinham de 15 estados para o “Encontro Nacional da Juventude – pelos direitos dos atingidos por barragens e por um projeto energético popular”. Aos poucos, os militantes chegavam com seus ritmos, cores, costumes e montavam acampamento onde permaneceriam por cinco dias, de 8 a 12 de abril.

O Encontro foi a continui-dade das lutas que es-tavam sendo realizadas

nos estados e entre os objetivos da atividade estava a análise da conjuntura e do atual modelo energético para, coletivamente, definir as linhas de ação e as próximas jornadas de luta. Afinal, é preciso estudo, organização e luta para garantir as conquistas necessárias para os atingidos.

O sucesso do Encontro foi resultado do esforço de cada um dos militantes, que se em-penharam em desenvolver as tarefas das equipes, em arreca-dar recursos para a viagem, em participar dos debates. Aliás, a participação dos (as) atingidos (as) em plenária teve grande importância, principalmente na denúncia das violações que sofrem antes, durante e depois da construção de barragens, no debate para fortalecer a luta pe-los direitos e na disposição de organizar a resistência contra a construção de barragens.

Um dos pontos altos foi a discussão sobre o modelo energé-tico. Para isso contribuíram o pro-fessor da Universidade Federal do Mato Grosso, Dorival Gonçalves Junior, e um dos coordenadores do MAB, Gilberto Cervinski. Entre outras coisas, Dorival falou da consciência que o movimento ad-quiriu para a redefinição da noção de energia elétrica: “Vocês com-preenderam que a água e a energia ultrapassam a questão da natureza e abrangem o âmbito social, e isso é bastante importante para a forma de luta que vocês fazem”, afirmou.

Já Gilberto Cervinski falou dos desafios da classe trabalhadora

para a construção de um projeto energético popular. “Na histó-ria do MAB, o tema da energia tornou-se uma das prioridades. Antes tínhamos a compreensão de que a luta era apenas por nos-sos direitos. Estávamos certos e tivemos muitas conquistas, mas com as privatizações do setor elé-trico precisamos ter claro quem são nossos inimigos centrais e como se dá a questão energética em sua totalidade”, afirmou.

“Com essa análise, nossa ta-refa é continuar cobrando a dívida histórica que o Estado brasileiro tem com os atingidos por barra-gens, levar a mensagem política

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Jovens de doze estados brasileiros participaram do evento

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Encontro Nacional da Juventude:experiência de construção coletiva

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ezdo novo projeto energético popu-lar para a sociedade, fortalecer a organização do MAB em todo o Brasil, e ajudar na construção da solidariedade internacional dos trabalhadores”, finalizou.

Escola de Formação do MAB

O Encontro culminou numa formatura simbólica dos jovens atingidos por barragens que esti-veram em processo de formação durante o último período. As turmas tiveram a participação de jovens do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Bahia, Per-nambuco, Ceará, Paraíba, Pará, Tocantins, Minas Gerais, Paraná, Goiás e Rondônia.

“Foi um momento bastan-te rico de perceber o avanço qualitativo de intervenção da juventude do MAB nos diver-sos estados. A partir de uma intencionalidade, conseguimos fortalecer a militância que tem a tarefa de organizar os atingidos por barragens e conduzir suas lutas”, disse uma das coordena-doras do processo de formação do Movimento.

Crianças também vivenciaram espaços coletivos no Encontro Nacional

O encontro ficou mais fes-tivo e colorido na Ciranda Infan-

O sucesso doencontro foi

resultado do esforço de cada um

dos militantes,que se empenharam

em desenvolver as tarefas das equipes,

em arrecadar recursos para a viagem

e em participardos debates.

til, onde cerca de 20 crianças, vindas de sete estados, brinca-ram e aprenderam a acompanhar a luta dos atingidos. Andréia Neiva, coordenadora da Ciranda disse que é muito importante a participação das crianças nas ati-vidades do movimento. “Desde cedo elas internalizam os prin-cípios e valores do Movimento dos Atingidos por Barragens na vivência coletiva”, afirmou.

Damiana Bruno, mãe de Raymundo Kaike, de cinco anos, fala que além de permitir que os pais e mães participem com tranqüilidade das atividades,

a Ciranda também ajuda a de-senvolver o espírito coletivo das crianças. “Não é necessário esperarmos que elas cresçam para ensinarmos os valores e princípios da sociedade que almejamos”, concluiu.

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“Encontro Nacional da Juventude – pelos direitos dos atingidos por barragense por um projeto energético popular”

Formatura dos militantes da Escola de Formação do MAB

Luta contra a Usina de Belo Monte

Para encerrar as atividades na capital federal, os atingidos por barragens presentes no en-contro e representantes de mo-vimentos indígenas de Altamira (PA) e do Parque Nacional do Xingu, além de organizações de Brasília, protestaram na Espla-nada dos Ministérios contra a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte.

Um documento pedindo o cancelamento da Licença Prévia e do leilão da hidrelétrica, assi-nado por mais de 50 movimentos sociais e entidades, foi protoco-lado no Ministério de Minas e Energia e na Agência Nacional de Energia Elétrica.

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No úl t imo período, o projeto da barragem de Belo Monte tem sido

debatido por vários setores da sociedade, desde o governo, empresas, a imprensa e o povo brasileiro como um todo. O lei-lão da usina aconteceu no dia 20 de abril e, no Brasil, os atingi-dos por barragens, os sem terra, indígenas, ativistas ambientais, entre outros, protestaram contra sua construção.

Esta barragem está pro-jetada para o Rio Xingu, no Pará e, se construída, atingirá 24 aldeias indígenas, além de parte da cidade de Altamira e de milhares de famílias de agri-cultores que moram na região.

Desde a década de 70, quando o projeto inicial foi lançado pelo governo militar, a população lo-cal vem resistindo à barragem. “Agora, não é só o Pará que luta contra Belo Monte. A sociedade entendeu que essa obra significa a violação da nossa soberania enquanto nação, pois aumen-tará a exploração dos nossos bens naturais estratégicos pelas multinacionais, além de atin-gir cerca de 40 mil pessoas.”,

afirmou Rogério Hohn, da coordenação do MAB.

Na compreensão do Movimento, o processo de construção de barragens vai se acelerar de agora em diante, pois com o avanço da exploração capitalista, a apropriação dos recur-sos naturais vai aumentar e como a Amazônia é rica em minérios, biodiversidade, água, terras, petróleo, gás, etc, para lá estão direciona-dos os principais projetos de hidrelétricas.

Protestos pelo país

Em Brasília, aconte-ceram protestos no dia 12 e

20 de abril. No dia 12, a marcha pela Esplanada dos Ministérios até a sede da Agência Nacional de Energia Elétrica marcou o encerramento do Encontro Nacional da Juventude – pelos direitos dos atingidos por bar-

ragens. Também participaram da manifestação representantes de movimentos indígenas que vieram de Altamira e do Parque Nacional do Xingu.

Esteve presente no ato de encerramento o diretor do filme Avatar, James Cameron, além de atores do filme e do ator brasileiro Victor Fasano. Eles declararam ser totalmente con-tra a construção de Belo Mon-te e apresentaram inúmeros argumentos para reforçar esta posição, desde a necessidade de um novo modelo energético para o Brasil e para o mundo, como também os imensuráveis impactos socioambientais e econômicos que serão causados na região.

A solidariedade de perso-nalidades internacionais tem sido muito importante para di-fundir a luta contra Belo Monte pelo mundo. E como o filme Avatar tem sido assistido por milhões de pessoas, a presença do diretor nos atos de protesto

Atingidos por barragens de 10 estadosparticipam das mobilizações

A luta contraBelo Monte é de

todo o povo brasileiro. Portanto, todos os que

querem que sejamosum povo soberano

devem se inserirnessa luta.

Manifestações contra Belo Monteem todo o país

Protesto contra Belo Monte realizado no dia 12 de abril, no encerramento do encontro nacional

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também chama a atenção da socie-dade para o problema da barragem.

O dia 20 de abril, dia do leilão, foi marcado por protestos e por mui-tas liminares judiciais emitidas na tentativa de impedir o leilão. Além de Brasília, os protestos se estenderam pelo país afora. Os atingidos por barragens de 10 estados fizeram panfletagens, marchas, ocupações, audiências públicas, entre outras ações, aler-tando a sociedade de que quem pagará a conta dessa obra será o povo brasileiro.

Em Belém (PA), cerca de 500 agricultores, ribeirinhos e indígenas ocuparam a sede da Eletronorte. Em Altamira houve trancamentos da Tras-namazônica por indígenas e ribeirinhos. Em Porto Alegre (RS), os manifestantes reali-zaram um protesto em frente à Agergs (Agência Estadual de

Serviços Públicos), onde fun-ciona a Aneel. Depois de serem recebidos e protocolarem um documento contrário à usina, eles seguiram em marcha até o Ministério Público Federal.

Em Belo Horizonte (MG), os protestos e panfletagens acon-tecem em uma praça da cidade. O ato em Florianópolis (SC) aconteceu na Assembléia Legis-lativa do estado com uma audi-ência pública e depois em frente à sede da empresa de energia, Tractebel. Em Fortaleza (CE), os atingidos por barragens uniram-se

à luta dos servidores públicos do estado para a luta contra Belo Monte e fizeram panfletagens no centro da cidade.

Panfletagens também acon-tecem nas cidades de Porto Ve-lho (RO) e em Campina Grande (PB), onde os atingidos fizeram atos nas universidades federais, com a adesão de estudantes para a luta contra a barragem.

Porque lá existe grande disponibilidade de rios, com abundância em água e até agora pouco explo-rados para este fim;

Para transformar os rios em grandes corredores (hidrovias) para trans-porte dos bens naturais e agropecuários, visto que, geograficamente a Ama-zônia está mais próxima dos centros consumidores internacionais;

Pela possibilidade de barrar o mesmo rio di-versas vezes, formando uma escada, se apro-priando não somente do rio, mas da bacia hidro-gráfica e assim se tornar um negócio altamente lucrativo;

Para apropriação dos bens naturais por grupos privados multinacionais, (água, minérios, bio-diversidade, energia) tendo o controle direto e assim torná-los uma mercadoria;

A geração elétrica tem como destino abastecer os grandes consumidores de energia, principalmen-te a chamada indústria eletrointensiva (celulose, alumínio, ferro, aço, en-tre outras) e os grandes supermercados e shop-pings, oferecendo a estes energia subsidiada.

Por que tanto interesse das empresas

multinacionais na Amazônia para a

construção de usinas hidrelétricas?

Manifestação em Belo Horizonte (MG)

Mobilização em Belém (PA)

Manifestação em Porto Alegre (RS)

Manifestação em Florianópolis (SC)

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Entre os dias 14 e 19 de março, os atingidos por barragens organizados no

MAB estiveram acampados em várias regiões do país, como parte da Jornada do Dia Internacional de Luta contra as Barragens. Eles denunciaram a violação dos direi-tos dos atingidos no processo de implantação de barragens, cobra-ram a dívida que as empresas e governos têm com esta população e exigiram o cancelamento da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, entre outras barragens projetadas para os rios brasileiros.

Além disso, as ações tiveram três pontos centrais: a luta pela terra e reassentamentos, a luta contra a construção de barragens e a luta por planos de recuperação e desenvolvimento de comunidades atingidas por barragens. Veja um balanço das ações:

Em Minas Gerias, aconte-ceram dois acampamentos, nas áreas das barragens de Fumaça e Aimorés. Nesse estado 1900 fa-mílias atingidas ainda não foram

reassentadas desde que foram despejadas de suas terras. As famílias que permanecem acampadas próximo a barra-gem de Fumaça estão indig-nadas com a truculência da polícia na região. No dia 17 de março, policiais invadiram o acampamento e revistaram todos os barracos e pertences dos acampados, sem mandado de busca e apreensão.

Os atingidos de Santa Ca-tarina e do Rio Grande do Sul montaram um acampamento no município de Capão Alto, na BR 116 e outro em Águas de Chapecó, na comunidade de Saltinho. Juntos, os acampamentos reuniram 2.500 pessoas. Na região do Capão Alto, os atingidos trancaram a BR 116 por duas vezes, para denunciar a negação dos direitos. A principal reivindicação dos atingidos foi o direito ao re-assentamento.

Em Tocantins, os atin-gidos pela Usina Hidrelétrica de Estreito estão acampados

há dez meses próximo ao canteiro de obras da barragem e assim devem permanecer. O MAB acusa o consórcio Ceste (Suez, Vale, Alcoa e Camargo Corrêa), responsável pela obra, por não garantir suporte e com-pensação à população atingi-da. “O consórcio é formado por empresas transnacionais que não se importam com a

vida das pessoas, apenas com o lucro que a usina vai gerar, por isso não vamos arredar o pé”, afirmou Cirineu da Rocha, da coordenação do MAB.

No Pará, cerca de 300 atin-gidos por barragens da Amazônia participaram do acampamento que teve como lema “Contra a barra-gem de Belo Monte, em defesa da Amazônia”. Na manhã do dia 15/3,

14 de marçoMobilizações nacionais

e internacionais marcaram Dia de Luta contra as Barragens

Acampamento em Capão Alto

Manifestação em Minas Gerais

os atingidos fizeram uma manifes-tação em frente ao escritório da Eletronorte para protestar contra a construção de Belo Monte e contra o descaso do governo em relação aos atingidos pela barragem de Tucuruí. “O mesmo passivo social de Tucuruí deve acontecer com os atingidos pela barragem de Belo

Manifestação na Eletronorte, durante o acampamento em Altamira (PA)

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Monte. Pois o interesse pelo lucro das grandes empresas se sobre-põem aos direitos dos atingidos”, denunciou Moisés Ribeiro, da co-ordenação do MAB no Pará.

Em Rondônia, os atingidos pelas barragens de Samuel, Santo Antônio e Jirau, montaram um acampamento na comunidade de Mutum, ao lado da BR 364. O consórcio Enersus (Camargo Corrêa, GDF Suez, Chesf e Eletrosul) é responsável pelo programa de rema-nejamento da população atingida, mas, segundo os atingidos, não atende a vontade do povo de resol-ver as situações pendentes quanto às indenizações e à realocação. “Os atingi-dos devem ter o direito de decidir para onde querem ir, e como deve ser a sua transferência, com direito de permanecer na beira do rio. No entanto, o que acontece é que e empresa decide tudo pelas famílias, violando vários direitos dos atingidos”, denunciou Océlio Muniz, da coordenação do MAB.

Já na Bahia, cerca de 600 atingidos pelas barragens de So-bradinho, Itaparica, Riacho Seco e Pedra Branca fizeram um grande acampamento em Sobradinho. “Depois de 30 anos, muitas fa-

mílias ainda não tiveram os seus direitos garantidos, por isso somos contra mais barragens nesse rio”, afirmou uma das coordenadoras do MAB. Os atingidos ocuparam um escritório da Companhia Hidroelé-trica do São Francisco - Chesf, em Sobradinho, para exigir a abertura das negociações da pauta de rei-vindicações e protestar contra a construção das barragens de Ria-cho Seco e Pedra Branca.

ConquistasComo resultado da jornada

de lutas, os acampamentos tive-ram conquistas como audiências com as empresas construtoras das barragens e cadastramentos das famílias atingidas que ficaram sem terra. Na região sul, o INCRA cadastrou quase mil e quinhentas famílias. Nessa região os números tendem a aumentar, porque o ca-dastramento do INCRA continuará em todos os municípios atingidos pelas barragens.

Em Sobradinho, após a ocu-pação do escritório da Chesf pelos atingidos por barragens do Rio São Francisco, este órgão re-cebeu uma comissão do MAB em audiência no dia 24/3, em Recife, sede da companhia. A audiência representou a abertu-ra de um canal de negociação, onde serão cobrados o paga-mento dos direitos das famílias atingidas pelas barragens de Sobradinho e Itaparica; a sus-

pensão dos projetos de construção das hidrelétricas de Riacho Seco e Pedra Branca; e a paralisação das obras de Transposição do Rio São Francisco.

Já em Rondônia, os atingi-dos por barragens foram recebi-dos, no dia 17/3, pelo Consórcio Enersus, formado pelas empresas GDF Suez, Chesf, Eletrosul e Ca-margo Corrêa. Esta foi a primeira vez que o consórcio recebeu os atingidos em audiência desde que chegou à região.

Mobilizações internacionaisOutros países também rea-

lizaram atividades de protesto no Dia Internacional de Lutas Contra as Barragens. Segundo a ONG In-ternational Rivers, este ano, o 14 de março atingiu um recorde com 136 ações em 27 países.

A organização mexicana “Las Abejas”, por exemplo, convo-cou a população de Chiapas a não pagar a conta de luz. Em Oaxaca, o Conselho dos Povos Unidos em Defesa do Rio Verde organizou, no dia 14 de março, uma exibição pública do vídeo “Aguas Abajo”, no qual se resumem informações sobre a hidrelétrica Paso de la Reina e sobre a organização dos povos e sua luta.

O 14 de março de 2010 tam-bém uniu ativistas que lutam pelos rios de Mekong, Irrawaddy, Ping, e Yom, todos na fronteira entre a Tailândia e Burma. Eles fizeram um ritual de benção pela saúde dos rios no rio Salween.

Protesto na Eletronorte, duranteacampamento em Altamira (PA)

Manifestação na Chesf, durante o acampamentoem Sobradinho (BA)

Mobilização na Tailândia

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P lano Camponês: Por so-berania alimentar e poder popular. Este foi o tema

do III Encontro nacional do Movimento dos Pequenos Agri-cultores (MPA), que aconteceu de 12 a 16 de abril, na cidade de Vitória da Conquista, na Bahia. O encontro reuniu mais de 1000 camponeses e camponesas de todo o país, onde discutiram e aprofundaram o plano para afir-mação de suas lutas.

O “plano camponês” é uma proposta apresentada pelo MPA a partir de uma série

de estudos sobre a realidade do campo brasileiro, e propõe um conjunto de ações políticas,

“Areia nos olhos” é uma expressão muito utilizada em Moçambique, em referência

ao ato de enganar.

Camponeses e camponesas discutiram e aprofundaramo plano para afirmação de suas lutas.

III Encontro Nacional do MPAreuniu mil camponeses na Bahia

O s atingidos por barra-gens conhecem bem e sofrem na pele os

impactos das ações da empresa Vale no Brasil. Durante o I En-contro Internacio-nal dos Atingidos pela Vale - que reun iu mais de 160 trabalhadores de vários países – eles puderam sa-ber que o que eles sofrem aqui acon-tece no mundo in-teiro. Na ocasião do encontro, foi lançado o Dossiê dos impactos e violações da Vale no Mundo, foi re-alizada uma audiência pública na Assembléia Legislativa e feito um ato público em frente a sede da Vale, no Rio de Janeiro.

econômicas e culturais para garantir a soberania alimentar

I Encontro Internacionaldos Atingidos pela Vale

Antes do início do encontro, os delegados internacionais partici-param de caravanas para conhecer a realidade de duas regiões onde a Vale está instalada, no Pará e em Minas

Gerais. Confira al-guns relatos de tra-balhadores do Brasil e outros países sobre as ações da Vale:

Eixo Carajás / Pará - O impacto da cons-trução da Estrada de Ferro dos Carajás praticamente divi-diu um povoado ao meio, gera poluição nos rios e não há qualquer interesse da empresa ou das auto-ridades em melhorar

a situação das populações locais.

Canadá – Os trabalhadores da Vale-Inco estão há nove meses

em greve. O sindicalista James West relatou que a empresa usou como desculpa a crise econômica para violar direitos dos trabalha-dores conquistados através da luta.

Peru – Moradores denunciam o uso de milícias armadas e aparatos de segurança ilegal para dividir e amedrontar famílias que se opõem aos empreendimentos. Um campo-nês da região de Cajamarca contou que os moradores ficaram surpre-sos quando a mineradora contratou criminosos para fazer o trabalho de segurança.

Moçambique – Um trabalhador contou como a Vale enganou a população com o discurso do “de-senvolvimento”. Apesar da em-presa ainda estar se instalando no país, ela já ocupou terras, dividiu comunidades e violou direitos.

Com informações do site do Núcleo Piratininga de Comunicação

- com produção de comida sau-dável para o povo, e qualidade de vida no campo.

Durante o encontro, o MPA lançou a “Campanha Na-cional contra os agrotóxicos em defesa da vida” a fim de debater com a sociedade a problemática do uso desses produtos no Bra-sil, que leva o título de maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Na noite do dia 13 aconteceu também a feira das sementes, um momento orga-nizado para troca de sementes

crioulas de todo o País.

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No mês de abril, aconteceu em todo o Brasil a Jorna-da Nacional de Luta pela

Reforma Agrária. Todos os anos, a Jornada acontece em torno do dia 17 de abril, data do Massacre de Eldorado dos Carajás, em que 19 trabalhadores Sem Terra foram assassinados pela polícia no estado do Pará. Neste ano, a impunidade completou 14 anos.

Ao longo do mês, foram re-alizadas manifes-tações em 20 esta-dos e em Brasília. Foram ocupados 71 latifúndios e oito prédios públi-cos, além de mar-chas em quatro estados e diversos acampamentos nas capitais. As mobilizações co-braram do gover-no o assentamento das 90 mil famí-lias acampadas do MST, altera-ção nos índices de produtividade e políticas públicas para os assentamentos.

“Nos mobilizamos também para dizer que o modelo do agro-negócio é prejudicial para nossa sociedade, pois produz apenas commodities para exportação, produz em larga escala somente com venenos, transformando o Brasil no maior consumidor mun-dial de agrotóxicos”, disse José Batista de Oliveira, da coordena-ção nacional do MST.

Este ano, a Jornada Nacional trouxe o lema ‘Lutar não é crime’, para contrapor o processo de criminalização dos movimentos

Balanço da Jornada Nacionalde Luta pela Reforma Agrária

refere-se à suplementação de orça-mento para que o Incra possa de-sapropriar terras. O ministro Paulo Bernardo acenou de que há possi-bilidade de acréscimo no valor de R$ 500 milhões. No entanto, esse valor não é suficiente para a de-manda de todas as famílias acam-padas. Segundo dados do Incra, com esse suplemento no orçamen-to, seriam assentadas apenas 20 mil famílias, sendo que a meta do

próprio órgão para 2010 é assentar 60 mil famílias.

Com o Incra, avaliou-se que o principal proble-ma nos assenta-mentos é a infra-estrutura. O órgão reconheceu que o orçamento ainda é pequeno para que os estados enca-minhem questões como melhorias nas estradas e de acesso à água. Quanto ao incen-

tivo às agroindústrias, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, concordou em articular, junto ao Ministério da Fazenda e o BNDES um programa específico no valor de R$ 500 milhões.

Em relação à revisão dos ín-dices de produtividade, o impasse permanece, principalmente devido à pressão da Bancada Ruralista do Congresso Nacional e da Confe-deração Nacional da Agricultura (CNA). Durante as reuniões, o Incra e o MDA reafirmaram o posicionamento favorável à atua-lização dos índices.

Setor de Comunicação do MST

sociais, que vem crescendo no país com a atuação conjunta do agronegócio, poderes Legislativo e Judiciário e dos grandes meios de comunicação.

Em agosto do ano passado, o governou assumiu uma série de compromissos com a Reforma Agrária, que até agora não foram cumpridos. “O governo não vem cumprindo os seus compromissos com a Reforma Agrária. Do total

de famílias assentadas pelo go-verno, 65% foram em projetos de regularização fundiária e coloniza-ção na Amazônia”, afirma Batista.

Propostas são debatidas com o governo

Durante a Jornada de Lutas, diversas reuniões foram realizadas com o Governo Federal. O MST foi recebido pelos ministérios do Pla-nejamento e do Desenvolvimento Agrário (MDA), além do Incra e do ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Dulci.

Com o ministério do Plane-jamento, a principal reivindicação

Jornada Nacional de Luta pela Reforma Agrária - Abril de 2010 - Alagoas

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Jornal do MAB | Maio de 201012

2ª Assembleia Popular NacionalNa construção do Brasil que queremos

Atingidos por barragens compõem aBrigada da Via Campesina no Haiti

Colocando em prática o princípio da solidariedade entre os povos, depois do

terremoto que assolou o Haiti no início deste ano, os movimentos sociais latino-americanos decidi-ram que a melhor forma de ajudar seria o envio de militantes para a reconstrução do país. No Brasil, a Via Campesina organizou uma bri-gada de 27 lideranças que partiram no início de abril para desenvolver projetos ligados à agricultura.

Entre tantas necessidades do país, eles ajudarão na implantação de hortas comunitárias e banco de sementes, na implantação de cister-nas para viabilizar consumo de água

Os movimentos e pastorais sociais, entidades, organizações estudantis, associações de bairros, entre outros, estão organizando a 2ª Assembleia

Popular Nacional, que se realizará em Brasília, de 25 a 28 de maio deste ano.

A assembleia vem de um processo amplo de articu-lação e organização de várias campanhas, redes e movi-mentos sociais no Brasil e virou prática em várias cidades e estados do país desde 2005, a partir da realização da 1ª Assembleia Popular Nacional.

Mobilizações nacionais como a Campanha Con-tra o Alto Preço da Luz, a Campanha pela Reestati-zação da Vale do Rio Doce e a Campanha O Petróleo tem que Ser Nosso foram assumidas pela Assembleia Popular como um instrumento de intenso debate com a sociedade e revelaram a grande necessidade de or-ganização popular.

E é para reforçar estas e outras iniciativas que será organizada a 2ª Assembleia Popular Nacional, cuja pre-paração já está acontecendo nos estados.

Participe, a construção de um novo Brasil depende do envolvimento de todos os trabalhadores e trabalhadoras!

potável e no reflorestamento a partir de um plano elaborado por técnicos cubanos. Além disso, numa inicia-tiva da Via Campesina Brasil e dos movimentos sociais que compõem a Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (ALBA), 70 to-neladas de sementes de milho foram enviadas ao Haiti, beneficiando 14 mil famílias em nove estados.

Dois militantes do MAB do Ceará compõem o grupo brasileiro que está nessa missão. O principal desafio que estão enfrentando, além de ajudarem nas questões ma-teriais de sobrevivência do povo, é a constituição das organizações sociais do próprio país. Essa é a ta-refa da solidariedade internacional da classe trabalhadora!