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Psicólogo CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA MINAS GERAIS ano 26 número 94 julho de 2009 Jornal do População de rua rein- venta o espaço privado nos locais públicos, cria novos modos de socia- bilidade e remodela os conceitos de cidadania e inclusão. ANTIPOFF E A PSICOLOGIA O Fatos e Personagens deste JP reconta a vida e a obra de Helena Antipoff. PÁG. 16. A PSICOLOGIA NA COMUNICAÇÃO CRP-MG faz parte da Comissão Mineira Pró-Conferência de Comunicação e discute a democratização da comunicação no Brasil. PÁG. 10. 18 DE MAIO Desafios e entraves para a Reforma Psiquiátrica. PÁG. 07. DESAFIOS PARA UMA PROFISSÃO Não há dúvidas de que a Psicologia seja uma profissão; mas há enormes desafios no campo do trabalho. PÁG. 11. Bartolomé Esteban Murillo (1618-1682). The Young Beggar, c. 1650. No olho da rua! JornalCRP-94:Layout 1 07/08/09 11:46 Page 1

Jornal do Psicólogo -

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Jornal do Psicólogo editado e publicado pelo Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais.

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PsicólogoCONSELHOREGIONAL DE PSICOLOGIAMINAS GERAIS

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Jornal do

População de rua rein-venta o espaço privadonos locais públicos, crianovos modos de socia-bilidade e remodela osconceitos de cidadaniae inclusão.

ANTIPOFF E A PSICOLOGIAO Fatos e Personagens deste JP reconta a vida e a obra de Helena Antipoff. • PÁG. 16.

A PSICOLOGIA NA COMUNICAÇÃOCRP-MG faz parte da Comissão Mineira Pró-Conferência de Comunicação e discute a democratização dacomunicação no Brasil. • PÁG. 10.

18 DE MAIODesafios e entraves para a Reforma Psiquiátrica. • PÁG. 07.

DESAFIOS PARA UMA PROFISSÃONão há dúvidas de que a Psicologia seja uma profissão; mas há enormes desafios no campo do trabalho. • PÁG. 11.

Bartolomé Esteban Murillo (1618-1682). The Young Beggar, c. 1650.

No olho da rua!

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Por um poema sentido!Michael Jackson morto, aos 50

anos, deixa uma obra e vida de arte, gê-nio, impacto e influência. Ícone da culturapop, talvez o último (um dos poucos) cres-cia na música o que vivia na família, nainfância, no crescimento em plena décadade 70, cujas transformações, incluindo-sea escalada do astro, fizeram deste mito oápice e declínio da cultura norte americana.

A originalidade de Michael, talvezassim resumamos sua importância, foi reu-nir talento, musicalidade, inventividade eestranheza. Claro que sua presença trans-formou o mundo da música, do vídeo, doclipe, dos Souvenirs. Onda soul, R & Blues,Pop agudo, deixa margens no tempo, mar-ca a crítica em antes e depois de Thriller,de 1982, fusão da efervescente culturados 80, cheia de inovações, juntandomúsica, imagem, difusão, entretenimento,indústria e tecnologia. Assim a dança deMichael, sua música e imagem, foramsendo cultuadas em escala planetária, re-presentando o traço de distância que se-para e mistura a vida com (da) arte.

O mito se transforma diante doseu público, e Jacko sofre no real a mu-dança da carne, da imagem e das formas.Tinha conteúdo em mutação, exibia opoder sobre o corpo, a mídia, a morte e avida. Depois lembranças de infância, acu-sações de abuso e pedofilia, crimes per-feitos para encerrar um ícone.Comprador de mitos, dos Beatles a WaltDisney, casa-se com a filha de Elvis, moraem “Neverland”. Branco ou Negro, (a) re-cusa (d)a cor, da adultez e da sexualidade.Cantou na favela do Rio e no Pelourinho.Encerra-se o grande ato do Pop, a eterni-dade anuncia a cultura e o mote.

O horror associado ao astro, bemcomo a ironia por suas fragilidades, demons-tra a redoma na qual se escondeu, “caiu”e sobreviveu. Como um Dorian Gray de ho-je, desmentindo a idade, a cor e a imagem,lança-se absoluto do alto de seu castelode miríades, imagens, sentidos e tragici-dade.

Assim simplesmente anunciamos:Fica a lida na arte, no trabalho, na cultura,na história e na memória, nas lembrançase na vida!

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SEDER. Timbiras, 1532, 6º andar • LourdesCEP: 30140-061 • Belo Horizonte/MGTelefax: (31) 2138.6767 E-mail: [email protected]

ESCRITÓRIOS SETORIAIS Triângulo Mineiro • Uberlândia Telefone: (34) 3235.6765E-mail: [email protected]

Região Sudeste • Juiz de ForaTelefone: (32) 3215.9014E-mail: [email protected]

Sul de Minas • Pouso AlegreTelefone: (35) 3423.8382E-mail: [email protected]

Norte de Minas • Montes ClarosTelefone: (38) 3221.7720

Leste de Minas • GovernadorValadaresTelefone: (33) 3225.0475

JORNAL DO PSICÓLOGO Informativo do Conselho Regional dePsicologia Minas Gerais (CRP-MG)

Diretoria:Conselheiro-presidente:Rogério de Oliveira Silva Conselheiro vice-presidente:Rodrigo Tôrres OliveiraConselheiro-tesoureiro:Alexandre Rocha AraújoConselheira-secretária :Georgina Maria Veras Motta

Conselheiros:Adílson Rodrigues Coelho Ana Clarice Augusto Ana Paula ReisÂngela Maria Guimarães OliveiraAnselmo Duarte Clerison Stelvio GarciaDiana FerreiraDinacarla Gonzaga PiermateiElaine Maria do Carmo ZanollaFuad Kyrillos NetoHélcia Maria da Silva Veriato Isabela Tannus GramaJaciara Siqueira Coelho João Carlos ValeJulliana de Paula Medeiros

Keila Pires AmaroLourdes Aparecida MachadoMarcelo Arinos Drummond JuniorMaria Mercedes Merry Brito Rejane Silveira MendesRodrigo Dubtchek FigueiredoSebastião Carlos Generoso Simone Monteiro Ribeiro Walkyria Sales

Edição Gráfica:Gíria Design e ComunicaçãoTelefax: (31) 3222.1829 [email protected] Jornalista Responsável: Gustavo Machala • MG [email protected]ção:Gustavo Machala • MG 11780 JP [email protected] Relações Públicas: Nathalia Monteiro • CRPRP 3ªRegião - 2154 Estagiários: Lucas Morais (Jornalismo)Amanda Cerqueira (RelaçõesPúblicas)[email protected]: 22 mil exemplares

7 A 8 DE AGOSTOSEMINÁRIO NACIONALESCUTA DE CRIANÇAS EADOLESCENTES ENVOLVIDOSEM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIAE A REDE DE PROTEÇÃOO evento será organizado pelo Sistema Con-selhos de Psicologia. As inscrições serão gra-tuitas. Rio de Janeiro / RJ.Mais informações no telefone: (61) 2109-0100,ou e-mail: [email protected].

14 A 28 DE AGOSTOSEMINÁRIO: A EDUCAÇÃO DECRIANÇAS HOJE - DESAFIOSTERAPÊUTICOS PARA QUEMTRATA OS PAISDurante 3 dias, 14, 21 e 28 de agosto, das 14hàs 17h, carga horária de 9h.Valor: 2 x R$180,00 • alunos do CEP: R$ 150,00Informações e inscrições pelos telefones:(11) 3864-2330 / 3865-0017 ouwww.centropsicanalise.com.br

27 A 29 DE AGOSTO 1º SIMPÓSIO MINEIRO DEPSICOLOGIA NO SUAS:SABERES E PRÁTICASPromover a discussão sobre os saberes epráticas da Psicologia no Sistema Único deAssistência Social, visando criar referênciaspara a prática e a formação profissional. Oevento será parte do IV Psicologia nas Gerais.Mais informações http://www.crpmg.org.br

17 A 20 DE SETEMBRO14º CONGRESSO LATINOAMERICANO DE RORSCHACH

E OUTRAS TÉCNICASPROJETIVASOrganizado pela Associação Goiana deRorschach, em Goiânia / GO.Local: Oliveira's Place - Goiânia / GoiásBrasilMais informações: (62) 3242-1366 ou3941-8307 • [email protected] www.congressororschach2009.com.br

4 A 7 DE SETEMBROVII CONGRESSO BRASILEIRODE PSICOLOGIA HOSPITALAREvento bianual promovido pela SociedadeBrasileira de Psicologia Hospitalar (SBPH),na PUC Rio, terá sua sétima edição realiza-da no Rio de Janeiro. A expectativa é quecompareçam aproximadamente 1200 congres-sistas de todo o país.Mais informações: (31) [email protected] http://www.congressosbph.com.br

11 E 12 DE SETEMBROI CONGRESSO MINEIRO DEPSICOLOGIA FENOMENOLÓ-GICO EXISTENCIALRealizado pela Fundação Guimarães Rosa(FGR) e pelo Instituto de Psicologia Fenome-nológico-Existencial do Rio de Janeiro (IFEN),o evento tem como tema central a 'Psicolo-gia Clínica e Filosofia'. Suas principais pro-postas são a troca de conhecimentos e a va-lorização das relações interpessoais e açõesdo cotidiano.Mais informações: (31) [email protected]://www.fgr.org.br

AGEN

DA

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COFREGISTRO DOCUMENTAL

DECORRENTE DA PRESTAÇÃO DESERVIÇOS PSICOLÓGICOS

No último dia 30 de março o Conselho Fe-

deral de Psicologia (CFP) deliberou acerca

da obrigatoriedade do registro documental

decorrente da prestação de serviços psi-

cológicos, através da resolução número

001/2009.

A resolução torna obrigatório o registro

documental de todas as atividades exer-

cidas pelo psicólogo nos diversos campos

de trabalho. Vale lembrar que esse regis-

tro deve seguir as diretrizes do código de

ética, atentando para o cuidado com o sigilo

e com a forma de registro dessas informa-

ções.

A resolução veio preencher uma lacuna na

legislação sobre uma importante prática

do psicólogo: o registro das informações

decorrentes da assistência prestada, a des-

crição e a evolução dos processos e os pro-

cedimentos técnico-científicos adotados no

exercício profissional. Tais dados são vali-

osos não somente para o psicólogo, mas

também para o usuário e a sociedade. Es-

ta escrita é instrumento importante à pró-

pria profissão, na medida em que orienta

as conduções e posicionamentos dos psi-

cólogos, assim como produz subsídios à

pesquisa e ao ensino. É instrumento de de-

fesa de um saber.

Para acessar a resolução na íntegra ou ob-

ter outros esclarecimentos, acesse os si-

tes: www.pol.org.br e www.crpmg.org.br;

ou ainda, entre em contato com o Setor de

Orientação e Fiscalização deste CRPMG.

SEMINÁRIO EM BRASÍLIA FECHA ANO DA EDUCAÇÃO

Psicólogos de todo o país estiveram reunidos no "Seminário Nacional Ano daEducação", que ocorreu entre os dias 24 e 26 de maio de 2009, em Brasília. O seminário tevecomo objetivos sistematizar e aprofundar as discussões e ações coletivas realizadas emtodo o País desde 2008 e procurou ser um espaço de construção de referências técnicas epolíticas para a atuação do psicólogo na área da educação. A política educacionalbrasileira esteve sob análise de psicólogos de todas as regiões do País, reunidos com ointuito de compreender a complexidade do sistema educacional vigente, evidenciando osprincipais problemas enfrentados nessa esfera e os papéis que a Psicologia pode exercernessa temática.

Foram quatro os eixos que fundamentaram as discussões realizadas em cada umdos Conselhos Regionais e no seminário em Brasília:• “Psicologia, Políticas Públicas Intersetoriais e Educação inclusiva” • “Políticas Educacionais: legislação, formação profissional e participação democrática” • “Psicologia e Instituições Escolares e Educacionais” • “Psicologia no Ensino Médio”

No primeiro eixo, o Conselho Regional de Psicologia Minas Gerais apontou paraa necessidade de mais investimentos na área da educação, principalmente na formação eatuação profissional dos psicólogos, e de ampliação do conceito de inclusão, para além daidéia de deficiência.

No segundo eixo, a discussão proposta pelo CRP-MG foi pautada pelo problemada dualidade de concepções, causada pela divisão entre setores públicos e privados naeducação, o que acabou por caracterizar a educação como mercadoria. Neste eixo, foramdeliberados encaminhamentos práticos, como a participação dos psicólogos no processode construção da Conferência Estadual de Educação e a participação de representantesda categoria em movimentos sociais que envolvam a Educação.

No terceiro eixo, O CRP-MG dialogou quanto à presença ou não do psicólogodentro e fora do espaço Institucional Escolar e debateu sobre quais atividades devem serdesempenhadas por este profissional no meio educacional. Foi apontada, também, a ne-cessidade da construção de documentos legais que regulamentem a atuação da categorianeste campo.

O CRP-MG, através de sua representação no evento, demonstrou-se reticentecom relação à proposta do quarto eixo – “Psicologia no Ensino Médio”. Entretanto, sugeriuque essa inserção se dê de forma a garantir um espaço de conversação com os adoles-centes sobre assuntos de seu interesse, uma vez que entende que a juventude brasileiratem sido calada e anulada em sua subjetividade e participação cidadã. O CRP-MG acreditaque a discussão deva ser ampliada no contexto do Sistema Conselhos bem como com o se-tor a quem se dirige a proposta - a Educação.

CRP-MG INICIA PESQUISA SOBRE RELAÇÕES E CONDIÇÕES DE TRABALHO

Idealizada pelo GT de Relações e Condições de trabalho, a pesquisa do CRP-MG abor-dará, nos próximos quatro meses, cerca de dois mil psicólogos escolhidos através deamostra aleatória estratificada por região de Minas Gerais. As perguntas versarão sobrea atividade profissional e as condições e relações de trabalho dos psicólogos, sendo man-tido o sigilo dos entrevistados. A pesquisa - relacionada com os objetivos do XII Plenáriodo CRP-MG de valorizar a profissão - será feita em parceria com a Fundacentro (fundaçãovinculada ao Ministério do Trabalho e Emprego voltada para pesquisas em segurança emedicina do trabalho) e universidades de Psicologia de Minas. Se você, psicólogo, for abor-dado por um entrevistador, por favor, colabore!

I SEMINÁRIO DE PSICOLOGIA NASEMERGÊNCIAS E DESASTRES

Nos dias 17, 18 e 19 de setembro, ocorrerá o “ISeminário de Psicologia nas Emergências e De-sastres: Saber emergente ou emergência de sa-ber”, no Auditório da Escola Superior Dom HelderCâmara. Acompanhe as informações no site doCRP-MG!

PARTICIPE DO IV PSICOLOGIA NAS GERAIS!

O CRP-MG realizará, no período de 27 a 29 de agosto, o “IV Psicologia nas Gerais: Ciência,Trabalho, e Sociedade”, que será realizado em todo o estado. O evento dá continuidade aoprojeto do CRP-MG de contribuir para a formação e valorização da Psicologia e dos psicó-logos de Minas Gerais. O evento terá como temática “Trabalho, Ciência e Sociedade”, eixosimportantes para a transformação da sociedade. O evento terá, também, em sua progra-mação, atividades como mesas, oficinas, apresentações culturais, exposições e mobiliza-ções. Mais informações em nosso site, www.crpmg.org.br .

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Vivemos em uma sociedadeonde as mulheres são consideradasinferiores aos homens. Essa afirmaçãopode parecer ultrapassada, pois hou-ve mudanças nos costumes. Existemais presença das mulheres na vidapública, no mercado de trabalho e, apa-rentemente, isso já teria sido supe-rado, mas o que vemos são novas con-figurações dessa forma de opressão.

O mercado de trabalho utilizadessa condição das mulheres para co-locá-las em postos mais precários, semdireitos, com salários reduzidos, alémde utilizar o trabalho não-pago (traba-lho doméstico, por exemplo) como fa-tor de ajuste dos gastos com a forçade trabalho, favorecendo o lucro dasempresas.

O trabalho doméstico e o cui-dado com os filhos ainda são vistos co-

mo uma obrigação das mulheres, o quesignifica para aquelas que trabalhamfora um aumento em média de mais26 horas de trabalho semanais.

Para garantir que as mulhe-res continuem nesse lugar, o instru-mento utilizado seja pelos homens,pelo Estado, pela igreja ou pela mídiaé a violência contra mulher e, aqui, oconceito de violência envolve desde afísica (espancamentos, revistas vexa-tórias, estupro) até a utilização de nos-sos corpos como mercadorias na pu-blicidade, na prostituição e, também,na imposição de padrões de beleza enegação do direito das mulheres de-cidirem se querem ou não ser mães.

É pelo rompimento com essalógica da opressão capitalista e pa-triarcal que seguiremos em LUTA atéque todas nós sejamos LIVRES!

CONSELHOREGIONAL DE PSICOLOGIAMINAS GERAIS

Por que as mulheres lutam na atualidade

OPINIÃO

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ÉTICA

O CRP-MG esteve presente na Reunião

Nacional das Comissões de Ética realiza-

da pelo Conselho Federal de Psicologia

em Brasília.

Nessa oportunidade, revisitou-se todo o

contexto da modificação do Código de

Ética de nossa profissão, que a partir do

ano de 2005 passou a ser mais reflexivo e

menos prescritivo.

Discutiu-se ainda, junto com todos os

presidentes de Comissões de Ética e pre-

sidentes de Conselhos Regionais do Bra-

sil, que o teor das denúncias recebidas

via Comissões de Ética apontam para

áreas de vulnerabilidade da atuação dos

psicólogos e que isto, em última instân-

cia, pode funcionar como um bom indica-

dor de políticas que podem ser desenvol-

vidas pelo Sistema Conselhos de Psicolo-

gia.

Constatou-se que, como em Minas Ge-

rais, a maior parte das denúncias recebi-

das no Brasil refere-se à produção de

documentos feita pelos psicólogos. Tal

constatação levou à consideração de que

a resolução 007/03, que institui o Manual

de Elaboração de Documentos Escritos

Produzidos pelo Psicólogo precisa ser

melhor divulgada e discutida com a cate-

goria.

O Código de Processo Disciplinar, que

norteia o acompanhamento dos proces-

sos éticos encaminhados aos Conselhos

Regionais, foi discutido ponto a ponto e

as principais dúvidas sobre o mesmo, por

parte dos representantes das Comissões

de Éticas de todos os Conselhos Regio-

nais foram dirimidas.

A participação da Comissão de Ética do

Conselho Regional de Psicologia Minas

Gerais nessa Reunião Nacional trouxe ri-

cas contribuições para a análise e con-

dução das denúncias e processos éticos

no Estado de Minas Gerais.

CARTAS À REDAÇÃOGostaria de dizer que concordo com as duas psicólogas que escreve-

ram para o Jornal do Psicólogo na última edição. O jornal deveria ser lido apenasna internet, que é uma forma de protegermos o meio ambiente.

Sobre isso ainda gostaria de dizer que nao sei se é normal mas sempre,sempre recebi o jornal muito atrasado. Moro em Itaúna - MG.

Quanto ao comentário da psicóloga Eunice M. S. E., concordo com ela.Pagamos uma taxa absurda ao CRP e não vejo nada a não ser meu Jornal atra-sado que nem leio; contribuindo ainda para o desmate de alguma árvore.

Jaqueline / PsicólogaItaúna

RESPOSTA DA REDAÇÃO:

Cara Jaqueline,O fato de o Jornal do Psicólogo estar disponível na internet e também

possuir uma versão impressa deve-se à intenção do CRP-MG de atingir a maiorparte da categoria. Nem todos os psicólogos tem acesso direto à internet e nemtodos gostam de ler na internet. Assim, para atendermos à categoria (e outrospúblicos) mantemos a versão impressa. Quanto ao atraso da última edição, de-ve-se ao fato de que a gráfica que fora licitada pelo CRP-MG para realizar todoo seu serviço gráfico (livros, cartilhas, cartazes, JP, etc.) saiu do mercado devidoà crise econômica. Quanto aos projetos realizados por este Conselho, um resu-mo de toda a atividade nos últimos dois anos encontra-se disponível no sítio doCRP-MG (www.crpmg.org.br) e também na carta anexa a esse JP94, que intro-duz o Guia Para o Exercício Profissional.

Bernadete Esperança Monteiro • Marcha Mundial das Mulheres

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Com a finalidade de promover umaprofunda reflexão e discussão junto à cate-goria dos Psicólogos, o Sistema Conselhosde Psicologia elegeu o ano de 2009 como o"Ano da(s) Psicoterapia(s)". Para balizar adiscussão, estabeleceram-se três eixos te-máticos, que orientarão as discussões nosEstados e no Seminário Nacional que serárealizado em Brasília, em outubro deste ano.Como forma de fomentar a discussão, o Con-selho Federal de Psicologia elaborou umacartilha com textos geradores elaboradospor profissionais com renomado saber nes-se campo de atuação. Atualmente, no âm-bito das políticas públicas, a Psicoterapia érealizada apenas por médicos e psicólogos,mas, fora desse campo, ela é uma práticaaberta às mais diversas profissões.

O Eixo I - "A constituição das psi-coterapias como campo interdisciplinar" -leva em consideração as possíveis implica-ções de se tratar a Psicoterapia como umadisciplina científica ou como um conjuntode métodos e técnicas que definem umaprática; considera a Interdisciplinaridade,transversalidade e multiprofissionalidade daPsicoterapia e as limitações das reivindica-ções de exclusividade por parte dos psicó-logos da prática da Psicoterapia. O texto-base "Psicoterapias: elementos para uma re-flexão filosófica", elaborado por Carlos Ro-berto Drawin, que subsidia esta discussão,problematiza a Psicoterapia enquanto ciên-cia e trata sobre a Psicologia Clínica e suarelação com a Ciência e a Ética.

No Eixo II - "Parâmetros técnicos eéticos mínimos para a formação na gradua-ção e na formação especializada e para o e-

xercício da Psicoterapia pelos psicólogos" -o texto-base, escrito por Mônica Lima eEliana Viana, trata da Formação em Psico-logia e Psicoterapias, apresentando algumasquestões para a reflexão como a maneiracomo se dá formação dos psicólogos para odesempenho da Psicoterapia levando em con-sideração, por exemplo, os efeitos da expan-são da oferta de trabalho em serviços públi-cos, alcançando, cada vez mais, uma par-cela da população brasileira que não tinhaacesso à Psicoterapia anteriormente. O tex-to aborda a historicidade destas questões,buscando respondê-las de forma objetiva.

O Eixo III trata das discussões so-bre a relação da Psicoterapia com os demaisgrupos profissionais, abordando estratégiaspolíticas de construção de parcerias e en-frentamento dos conflitos hoje existentes.Neste eixo, discute-se, também, a relaçãodo Sistema Conselhos com a Associação Bra-sileira de Psicoterapia (ABRAP) e outras en-tidades. O texto-base, "Por uma política deparcerias estratégicas interprofissionais pa-ra o campo das psicoterapias no Brasil", deHenrique J. Leal F. Rodrigues, aponta para anecessidade urgente de se ampliar a dis-cussão sobre a Psicoterapia, criando-se umamplo debate em torno da regulação nocampo, traçando paralelos da realidade des-ta prática no Brasil com outros países.

O Conselho Regional de PsicologiaMinas Gerais (CRP-MG) reconhece que o con-junto das psicoterapias é uma prática soci-al, não cabendo exclusividade aos psicólo-gos. No entanto, como aponta o conselhei-ro vice-presidente, Rodrigo Torres Oliveira,"o CRP-MG reconhece, também, que o psi-

cológo, por sua formação, é o profissionalque está mais apto para isso". Rodrigo apon-ta, também, que o CRP-MG é favorável àproposta que considera a Psicoterapia co-mo um conjunto de métodos e técnicas quedefinem uma prática. "Defender a Psicote-rapia como uma disciplina científica é te-merário, pois desconsidera a Psicologia Clí-nica, que é, de fato, uma disciplina científi-ca", afirma o vice-presidente. O CRP-MG tam-bém é contrário às formulações que vislum-bram o surgimento de uma profissão espe-cífica para lidar com a Psicoterapia.

De acordo com as resoluções doCFP que tratam do tema, as práticas psico-terápicas exercidas pelos psicólogos devemser somente aquelas já reconhecidas pelaAutarquia. O psicólogo que for denunciadopelo exercício de prática psicoterápica nãoreconhecida é passível de sanção por parteda Comissão de Ética do CRP-MG.

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CFP inicia "Ano da(s) Psicoterapia(s)"

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O objetivo é refletir sobre a prática psicoterápica no âmbito da Psicologia.

CIÊNCIA

Crédito: Arquivo CRP-MG

Cartilha do CFP com textos geradores para adiscussão sobre a Psicoterapia

Entre os dias 30 de setembro e 2de outubro ocorrerá, na Faculdade de Ciên-cias Humanas da UFMG, o “I Congresso dePsicologia Jurídica – uma interface com oDireito”, que contará com quatro eixos dediscussão. São eles:• Execução Penal e Sistema Prisional• Varas de Família e Conciliação• Infância e Adolescência• Saúde Mental

A Conferência de abertura contarácom a presença de Joel Birman, médico eDoutor em Filosofia, que tratará da “Crimi-nalidade, anormalidade e os saberes do psí-quico”. A abertura será no dia 30 de setem-bro, às 19h, na Escola de Ensino SuperiorDom Helder Câmara.

O I Congresso de Psicologia Jurí-dica é uma etapa regional do "SeminárioNacional de Psicologia na Interface com aJustiça", que será realizado pelo SistemaConselhos de Psicologia no final deste anode 2009.

INSCRIÇÕESAs inscrições podem ser feitas pe-

lo site do CRP-MG (www.crpmg.org.br).Até o dia 3 de setembro, profissio-

nais pagam R$40,00 e estudantes R$20,00.A partir de 4 de setembro, profissionais pa-gam R$60,00 e estudantes R$30,00.

A ficha de inscrição deve ser pre-enchida e enviada junto com o comprovan-te de depósito para o fax nº (31) 2138-6763,

ou para o correio eletrônico [email protected] .

APRESENTAÇÃO DE TRABALHOSDentro da programação do 1° Con-

gresso de Psicologia Jurídica haverá apre-sentação de trabalhos que se enquadremnos quatro eixos norteadores do Congres-so. Os autores que desejarem enviar traba-lhos devem ter sua inscrição confirmada noevento mediante pagamento do boleto deinscrição. As instruções para envio de tra-balho estão disponíveis no site do CRP-MG.Qualquer dúvida, basta contactar pelo cor-reio eletrônico no [email protected].

CRP-MG realizará I Congresso de Psicologia Jurídica

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Iniciando-se em 2000, uma sé-

rie de resoluções do Conselho Federal de

Psicologia (CFP) - consolidadas na Reso-

lução CFP nº 013/2007 - regulamentam

os procedimentos para o registro do Títu-

lo Profissional de Especialista. O Título

é concedido pelo CFP, por meio dos Con-

selhos Regionais, aos profissionais regu-

larmente inscritos há mais de dois anos,

e no pleno gozo de seus direitos, que cum-

prirem um dos seguintes requisitos:

• ter diploma de conclusão de curso de

especialização conferido por instituições

de ensino superior reconhecida pelo Mi-

nistério da Educação e que estejam cre-

denciadas ao CFP;

• ter sido aprovado no exame teórico e

prático, promovido pelo CFP, e compro-

var prática profissional na área por mais

de dois anos;

• ou ter diploma/certificado de curso de

especialização conferido por pessoa jurí-

dica habilitada para essa finalidade que

esteja credenciada ao CFP

"Este é um título de experiência

prática. Não tem nada a ver com um tí-

tulo acadêmico", explica Andrea Nasci-

mento, conselheira do CFP. De fato, quan-

do a Resolução 013/2007 explicita as

características dos cursos de especiali-

zação que podem ser feitos para obter o

título, exige-se carga horária prática de

no mínimo de 30% da carga horária refe-

rente à concentração específica da es-

pecialidade.

O questionamento, no entanto,

é feito justamente a essa preponderân-

cia da prática: "A prática antecede a com-

petência?", pergunta-se Fuad Kyrillos,

doutor em Psicologia e conselheiro do

CRP-MG. "Nesse título nós temos uma

grande inversão de valores. Eu acho que

ao invés, mais uma vez, de o CFP e o Sis-

tema Conselhos discutirem a precariza-

ção do trabalho, nós vamos arrumando

arremedos para que os psicólogos entrem

no mercado menos precarizados", sinali-

za. Na perspectiva de Fuad, a essência do

título é anexar valores para que o psicó-

logo possa se valorizar no mercado.

"O que que é comum nós encon-

trarmos", enfatiza Fuad, "é o psicólogo

trabalhando numa condição precarizada,

com uma remuneração extremamente

baixa. Assim, apela-se para o título de

especialista como uma forma de se me-

lhorar a remuneração e de se fazer mais

competitivo num mercado de trabalho

no qual os psicólogos têm sido cada vez

mais rechaçados".

A conselheira do CFP afirma que

o título oferecido pelo Sistema é para

que as pessoas se qualifiquem. "O título

é uma forma de poder valorizar o profis-

sional. Ele recebe uma chancela da clas-

se dele", diz.

Atualmente, existem 11 especi-

alizações regulamentadas. Em Minas Ge-

rais, cerca de dois mil e quinhentos psi-

cólogos possuem título de especialista

concedido pelo Sistema Conselhos. A es-

pecialização em Psicologia Clínica é a

que agrupa o maior número de profissio-

nais: São 1.627 no Estado. (Confira o

quadro das especializações em Minas)

Especialista em Psicologia do

Trabalho e Organizacional, a psicóloga

Iramar Clever de Souza acha fundamen-

tal que os psicólogos façam uma espe-

cialização. "O mercado está exigindo uma

maior qualificação de nós psicólogos. O

Título é um caminho, pois com a espe-

cialização abrem-se possibilidades aca-

dêmicas e, também, na atuação técnica",

diz. Iramar fez duas especializações, tem

dois títulos concedidos pelo CRP-MG,

cursa mestrado em Psicologia Social e

da aulas no Centro Federal de Educação

Tecnológica de Minas Gerais. "Para mim,

os títulos foram muito positivos, princi-

palmente para a carreira de docência."

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Título de Especialista divide opiniões

FORMAÇÃO

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ENTRETENIMENTO

Resolução regulamenta o registro de especialistas, mas levanta críticas quanto a estratégias contra a precarização do trabalho do psicólogo.

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Mais de duas mil pessoas come-moraram, dia 18 de maio, o Dia Nacional daLuta Antimanicomial, em Belo Horizonte. Ini-ciando-se na Praça Sete, o desfile foi emba-lado pelo samba-enredo “(Re)existir é viver”e contou com a participação de usuários,familiares, psicólogos e outros profissionaisda saúde. Diversos movimentos sociais tam-bém participaram do ato, somando-se às seisalas que compuseram o desfile.

Para o psicólogo e professor univer-sitário, Jacques Akerman, a mobilização do18 de maio reflete uma mudança significa-tiva de visão da sociedade em relação aotratamento das pessoas com sofrimento men-tal. Essa mudança iniciou-se na década de80 e convergiu para a publicação da Lei10.216/2001, que dispõe sobre os direitose a proteção das pessoas portadoras detranstornos mentais, redirecionando o mode-lo assistencial em saúde mental no Brasil.Na década de 90, com a publicação da Por-taria/SNAS Nº 224, de 29 de janeiro de1992, foram criados os CAPS (Centro de A-tenção Psicosocial) e os NAPS (Núcleos deAssistência Psicosocial), que visam a seruma alternativa radical aos manicômicos eaos hospitais psiquiátricos, instituindo-se umnovo modelo para a saúde mental no País.

REMÉDIOS NÃO SÃO SOLUÇÃO; LIBERDA-DE, SIM.

Questionado sobre as dificuldadesenfrentadas a partir das mudanças inicia-das na década passada, o professor Akermandefendeu a melhoria das condições de tra-balho dos psicólogos e apontou para a lutapolítica existente entre os interesses em-presariais da indústria farmacêutica e um am-plo setor da Saúde, pois, para ele, “há umabiologização dos problemas, como se o pa-ciente pudesse resolve-los somente com re-médios”. O professor afirmou também quehá a necessidade de uma reavaliação daforma como se lida com pacientes que pre-cisam de tratamento mais intenso. “MinasGerais é um Estado que está sendo exem-plar nesse sentido, mas ainda há muito a sertrabalhado”, destacou.

Sílvia Maria, psicóloga, usuária dosserviços de Saúde Mental e 1ª tesoureirada Associação dos Usuários dos Serviçosde Saúde Mental de Minas Gerais, apontana direção de mais participação social:"O que eu acho que potencializaria mais aReforma Psiquiátrica seria a atuação mili-tante de técnicos e usuários, um conheci-mento maior dos princípios e funcionamen-to da rede para reinventarmos uma assistên-

cia que prescinda do hospital psiquiátrico".

O DESLIZE DO POETAReconhecido amplamente por sua

poesia forte e pelas palavras afiadas, Ferrei-ra Goulart, recentemente, fez uso de sua es-crita para criticar, em sua coluna na Folhade São Paulo, a Reforma Psiquiátrica no Bra-sil. "Esse tipo de campanha é uma forma dedemagogia, como outra qualquer: funda-seem dados falsos ou falsificados e muitas ve-zes no desconhecimento do problema que di-zem tentar resolver", vociferou.

Esbanjando certo conhecimento empsicofarmacologia, Ferreira Goulart comple-tou: "Os remédios neurolépticos não apre-sentam qualquer inconveniente e, aplicadosna dosagem certa, possibilitam ao doentemanter-se em estado normal. Graças a essamedicação, as clínicas psiquiátricas perde-ram o caráter carcerário para se tornaremsemelhantes a clínicas de repouso."

A resposta ao poeta, entretanto,foi rápida e incisiva. "Cada palavra [utiliza-da pelo poeta] é cuidadosamente escolhidapara ferir; a difamação é dirigida, sem res-trição, ao conjunto dos autores e atores so-ciais do movimento da luta anti-manicomi-al", afirmou em um texto-resposta o psiqui-atra e professor associado do Departamen-to de Psicologia da FAFICH-UFMG, AntonioM. R. Teixeira.

Para o psiquiatra Políbio de Cam-pos, membro da Coordenação de SaúdeMental da Prefeitura de Belo Horizonte,Ferreira Goulart escreveu uma série de equí-vocos e foi infeliz em suas colocações. "Nossareforma é exuberante. Seu embasamentolegal está bastante firme. Hoje, são mais de1300 CAPS no Brasil; É preciso haver refor-ma social, inclusão, assim como aconteceu

com reformas de outros países, que já es-tão mais maduras."

Políbio acredita que o corpo depsiquiatras ativos no Brasil está muito atra-sado. "Eles não suportam ", diz ele, "que ou-tros profissionais estejam numa posição deigualdade com os psiquiatras. Até admitemque haja outros profissionais, mas apenascomo meros auxiliares [da medicina]. Algunspsiquiatras não suportam isto: os usuáriosnas ruas". No entanto, o psiquiatra acreditaque muitos avanços ainda são necessários,como a implementação de CAPS 24 horas.

A REFORMA PSIQUIÁTRICA EM MINAS GE-RAIS

Em Minas Gerais a Reforma Psiqui-átrica obteve avanços substanciais nestesúltimos anos, como a redução de 40% dasinternações psiquiátricas, o funcionamentoda Rede dos Serviços de Saúde Mental, ges-tão democrática dos serviços substitutivose coordenações, articulação intersetorialcom vários atores do âmbito governamental,não-governamental e movimentos sociais, re-alização de seminários, encontros e fóruns.

Atualmente a Rede de Saúde Men-tal de Minas Gerais conta com 132 CAPS,71 Serviços Residenciais Terapêuticos, 74municípios habilitados no Programa De Vol-ta para Casa, 511 beneficiários de bolsasno valor de R$ 320,00, 300 equipes de saúdemental na Atenção Primaria, 26 projetos deGeração de Renda em 16 municípios, 20 Cen-tros de Convivência, 20 Associações de U-suários e Familiares, 18 Hospitais Psiquiá-tricos, sendo 3 públicos e demais conveni-ados, 2.500 leitos, sendo que 1.500 são delonga permanência e, também, aproximada-mente 200 mil pessoas em tratamento nosCAPS.

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Desfile do 18 de maio ocupa avenidas da capital mineira

COMPROMISSO SOCIAL

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Com diversão, alegria e política, movimentos sociais, usuários e profissionais dasaúde desfilaram pelas ruas de Belo Horizonte.

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POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA: Grupopopulacional heterogêneo constituído porpessoas que possuem em comum a ga-rantia da sobrevivência, por meio de ati-vidades produtivas desenvolvidas nasruas, os vínculos familiares interrompi-dos ou fragilizados e a não referência demoradia regular.

J. enrolava seu cigarro em umafolha de papel comum. O cigarro era cum-prido e grosso, preparado com fumo co-mum, marrom claro. Seus 12 anos eraminegáveis. Convidado para uma partidade ping-pong - que jogamos na sede doProjeto Miguilim - J., que já fumava seugrosso cigarro, apagou-o na beirada damesa e brincou tal qual um garoto de suaidade. "Há quanto tempo você vive narua?", "Já não sei mais", respondeu-metimidamente. J. saiu de casa por causada irmã que lhe batia; consegue dinheiroolhando carro e passa o dia no Projeto,onde pode tomar banho, assistir filme,brincar de música e de pintura. "E à noi-te?", "Durmo com mais uns quatro ami-gos aqui atrás do Projeto".

Apenas 39,7% da população derua, de acordo com o 2º Censo da Popu-lação de Rua, realizado pela Prefeiturade Belo Horizonte (PBH) em 2006, dormeem instituições públicas, isto é, alber-gues, abrigos e serviços. Mais da meta-de passa a noite em ruas, avenidas, pra-ças e baixios de viadutos. Aproximada-mente 11% são menores de 18 anos.Mais de 85% dos adultos que compõemessa população são homens. Quase 40%dos entrevistados pelo Censo estão narua há mais de cinco anos e 44% nuncateve casa em Belo Horizonte antes de irpra rua.

Segundo a socióloga Wânia Mariade Araújo, professora da UEMG com ex-periência em Antropologia Urbana, a fal-ta de moradia é apenas um dos elemen-tos que colaboram para que as pessoasvivam na rua. "As motivações são as mais

diversas. Existem os fenômenos clássi-cos migratórios (vinda de outro estadoou cidade), os processos de perda su-cessiva (casa e família), problemas fa-miliares, entre outros", enumera.

CASA: Construção que serve de mora-dia. Domicílio; residência.

"Com certeza eu preferiria mo-rar em uma casa. Já fiz entrevista para obolsa moradia mas não consegui", contaMoacir Vieira, um dos mais de mil mo-radores de rua de Belo Horizonte de acor-do com a apuração do 2º Censo da Popu-

lação de Rua. "Na rua é um sistema, éuma coisa eu não vou falar nojenta, por-que eu estou nela. Mas é crítico. [...] Euestou tentando... e é o que acontece comtodo mundo, você tenta se manter vivo",revela o morador I., em uma das entre-vistas da pesquisa qualitativa do 2º Cen-so.

Espaço consagrado do ambienteprivado e da intimidade, a casa adquire

conotações muito mais sutis quando setoma como seu oposto a rua. "Quandodigo então que 'casa' e 'rua' são catego-rias sociológicas para os brasileiros, es-tou afirmando que, entre nós, estas pa-lavras não designam simplesmente es-paços geográficos ou coisas físicas co-mensuráveis, mas acima de tudo entida-des morais, esferas de ação social, pro-víncias éticas dotadas de positividade,domínios culturais institucionalizados e,por causa disso, capazes de despertaremoções, reações, leis, orações, músi-cas e imagens esteticamente emoldura-das e inspiradas", explica com cuidado

metodológico o sociólogo Roberto DaMa-tta em seu livro "A Casa & A Rua".

Mas como é possível viver na rua?Como fazer de moradia esse espaço inós-pito? Para a professora da UEMG, WâniaMaria de Araújo, a relação casa/rua, pri-vado/público, não é estática, havendo umconstante inter-relacionamento entre es-ses elementos. "A casa na rua pode serum resultado dessa inter-relação, desse

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No olho da rua!

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População de rua reinventa o espaço privado nos locais públicos e remodela os conceitos de cidadania e inclusão.

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ESPECIAL

Crédito: Lucas Morais

Em oficina de artes, morador de rua trabalha com livros da biblioteca do Centro de Referência 'Portão Azul".

Crédito: Gustavo Machala

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rearranjo que essas pessoas [populaçãode rua] conseguem fazer", diz. Nas pala-vras de DaMatta: "Não posso transformara casa na rua e nem a rua na casa impu-nemente". Viver na rua é, com certeza,um desafio.

Mas qual o maior desejo dessaspessoas? De acordo com o 2º Censo,35,7% deles querem ter moradia e 28,1%querem ter um trabalho ou emprego. "De-sejo de trabalho e da moradia são cons-tantes, mas é difícil consegui-los, não sópor razões objetivas, mas também porsubjetivas. É difícil resgatar laços ou mes-mo criar novos. É um processo de repen-sar, de se olhar como sujeito, na sua in-tegralidade, até que eles possam se ha-ver com esse desejo de casa e moradia.Não adianta só dar a casa; eles voltam,pois já criaram laços fortes com a rua",explica Jadir de Assis, coordenador so-cial do Centro de Referência para a Po-pulação de Rua. Jadir trabalha no Centrodesde sua fundação, em 1996, pelo orça-mento participativo. No Centro, que re-cebe cerca de 130 pessoas por dia, tudofunciona de forma coletiva: organização,arrumação, lavagem dos banheiros, ofi-cinas. "Foi preciso construir uma meto-dologia de trabalho. Nosso trabalho é fei-to para provocar inclusão, para acabarcom o senso comum de que morador derua é malandro, é ladrão. Queremos que

eles percebam suas potencialidades",conta Jadir.

REFERÊNCIA NACIONALBelo Horizonte é uma cidade a-

vançada na construção de políticas pú-blicas de atenção à população em situa-ção de rua, sendo considerada uma refe-rência nacional no tema. A PBH possuiuma equipe de mais de 70 técnicos paraatuar nessa área. Os profissionais atuamde forma descentralizada e ficam sob acoordenação das Regionais.

No início da década de 90, foramcriados os primeiros equipamentos públi-cos para atingir essa população. A Repú-blica Reviver, primeira república para apopulação de rua, foi construída com re-cursos alocados pelo Orçamento Partici-pativo em 1994 e funciona através de umaparceria entre a Prefeitura de Belo Hori-zonte e a Pastoral de Rua.

São outros exemplos de serviçoso Projeto Miguilim, para crianças e ado-lescentes; os albergues - existem dois emBelo Horizonte, atendendo cerca de 600pessoas -, onde é possível passar a noi-te; o bolsa moradia, que ajuda famílias eusuários a alugarem uma casa e o Cen-tro de Referência - também criado peloOrçamento Participativo - que dá acessoa computadores, livros, filmes e disponi-biliza armários e local para lavagem de

roupas, além de possibilitar aos usuá-rios o fornecimento de um endereço pa-ra correspondência e abertura de contaem banco. "Esses equipamentos", na o-pinião da professora Wânia, "são funda-mentais para que a população de rua pos-sa ter o mínimo de resgate da cidadania".

PROJETO MIGUILIM Escutando e acolhendo crianças

e adolescentes em situação de rua nacapital, o Projeto Miguilim, em funciona-mento desde 1993, atende cerca de 30jovens diariamente. O programa, coorde-nado pela Secretaria-Adjunta de Assistên-cia Social da Prefeitura de Belo Horizon-te e com sede na avenida dos Andradaspróximo ao Viaduto Floresta, conta como trabalho interdisciplinar de psicólogos,pedagogos, terapeutas ocupacionais, mú-sicos e assistentes sociais. O Projeto o-ferece, além de banho e alimentação, a-tividades culturais e de lazer.

O Programa Miguilim trabalha nosentido da reestruturação familiar, aten-dendo inclusive às famílias dos jovens.Trinta abrigos da Prefeitura Municipal deBelo Horizonte dão suporte ao projeto ehá a parceria com diversas ONGs e orga-nizações. Para os jovens com problemascriminais, há a possibilidade da presta-ção de assistência nos casos em que aJustiça determina a liberdade assistida.

Crédito: Lucas Morais

Crédito: Gustavo Machala

Apesar de a prefeitura de BH disponibilizar abrigos e repúblicas, a rua ainda é onde dormem muitas pessoas na Capital.

Crédito: Gustavo Machala

O artesanato é uma das formas de obtenção de renda dapopulação em situação de rua.

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O presidente Luís Inácio Lula da Sil-va assinou, no dia 16 de abril, o decreto queconvoca a 1ª Conferência Nacional de Co-municação (Confecom). Fruto de forte pres-são dos movimentos sociais, a Confecom se-rá realizada nos dias 1, 2 e 3 de dezembroem Brasília, contemplando também etapasmunicipais e estaduais. A Confecom podeser o primeiro passo rumo à criação de ummarco regulatório para as comunicações noBrasil e, também, para o tratamento da co-municação como um direito humano funda-mental. Membro do Fórum Nacional pela De-mocratização das Comunicações (FNDC), oSistema Conselhos de Psicologia, represen-tado pelo Conselho Federal de Psicologia(CFP), tem trabalhado principalmente naquestão dos conteúdos midiáticos.

PARA CRIANÇA, NEM PENSAR De acordo com cartilha publicada

pelo CFP, as publicidades direcionadas aopúblico infantil podem trazer danos ao de-senvolvimento psicológico de uma criança.

A publicidade pode fomentar o de-sejo de consumir objetos totalmente inúteisou até inapropriados. Isso é agravado no ca-so de crianças de famílias pobres, caso emque a recusa dos pais pode até abalar a re-lação com os filhos.

A cartilha "Contribuição da Psico-logia para o fim da publicidade dirigida àcriança", está à disposição no sítio do CFP.

TESES DO SISTEMA CONSELHOS PARA A 1ªCONFECOM

O fim da publicidade direcionada pa-ra crianças faz parte de um conjunto de cin-co teses elaboradas pelo Sistema Conselhosde Psicologia para a Confecom. A segundatese aborda a questão da propaganda de be-bidas alcoólicas e substâncias psicoativas,explicando os efeitos danosos exercidos pe-lo marketing deste seguimento empresarial.

A terceira tese visa à desconstru-ção da exploração da imagem do homem,da mulher, da criança e do adolescente namídia, entendendo que a banalização e a pa-dronização promovida pela mídia podem cri-ar uma “ditadura da beleza”.

Abordando e defendendo o contro-le social da mídia, a quarta tese destaca anecessidade de produção de conteúdos que

promovam a diversidade e a paz, ressaltan-do a importância do controle direto, peloscidadãos, das comunicações. A quinta tesese refere à relação da mídia com o trânsito,evidenciando a problemática das propagan-das de veículos que induzem a um padrãode consumo que não dialoga com as neces-sidades reais da sociedade e de um trânsitosaudável.

"NO BRASIL, É O LOBO QUE TOMA CONTA DOGALINHEIRO"

O jornalista Artur Lobato, diretor doSindicato dos Jornalistas de Minas Gerais,enfocou, no 2º Seminário da Comissão Mi-neira Pró-Conferência Nacional de Comuni-cação, realizado, no dia 23 de maio, na ci-dade de Lavras, a grande concentração dosmeios de comunicação no Brasil. "A concen-tração dos meios de comunicação impede apluralidade e a diversidade de opiniões. NoBrasil, as concessões parecem capitaniashereditárias; elas são renovadas automati-camente", afirmou.

Perguntado sobre o controle dosmeios de comunicação pela classe política- a mesma que cuida das concessões e ou-torgas - Lobato brincou que no Brasil "é olobo que toma conta do galinheiro". Comefeito, estudos recentes publicados pelo La-boratório de Políticas de Comunicação da Uni-versidade de Brasília confirmam que cercade 37% dos membros titulares da Comissãode Ciência, Tecnologia, Comunicação e In-formática da Câmara e 47% dos titulares daComissão de Ciência, Tec-nologia, Inovação e Co-municação e Informáticado Senado, que são res-ponsáveis pela análisedos processos de outor-ga e concessão, são pro-prietários de emissorasde rádio e TV ou têm fa-miliares controladoresdesses tipos de veículosde comunicação, o quecontraria expressamenteo texto constitucional.

Na Constituição,indica-se que deputados esenadores não poderão,desde a expedição do di-

ploma, “firmar ou manter contrato com pes-soa jurídica de direito público, autarquia, em-presa pública, sociedade de economia mis-ta ou empresa concessionária de serviço pú-blico, salvo quando o contrato obedecer acláusulas uniformes” e, desde a posse, “serproprietários, controladores ou diretores deempresa que goze de favor decorrente decontrato com pessoas jurídicas de direito pú-blico, ou nela exercer função remunerada”.

Para Lobato, já que os monopóliossão cada vez maiores no país, é preciso queseja maior a força da sociedade no seu com-bate. A deputada Jô Moraes complementoua fala de Lobato indicando que, no Congres-so, as concessões são aprovadas em bloco:"Se não se pedir vista, elas passam automa-ticamente".

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1ª Conferência Nacional de Comunicação contará com a contribuiçãoda Psicologia

EM DEBATE

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Sistema Conselhos de Psicologia participa das discussões relativas à democratização das comunicações. CRP-MG faz parte da Comissão Mineira Pró-Conferência de Comunicação.

Crédito: Arquivo CRP-MG

Cartilha sobre publicidade infantil publicada pelo CFP.

Crédito: Gustavo Machala

Seminário em Lavras interioriza as discussões sobre ademocratização da comunicação no Brasil.

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Segundo o sociólogo Jorge Ale-xandre Barbosa Neves, professor da Uni-versidade Federal de Minas Gerais, os prin-cipais critérios para se caracterizar umaprofissão são o conhecimento técnico es-pecífico, a identidade profissional consis-tente e, em alguns casos, o controle so-bre o acesso à profissão. Considerando-se esses parâmetros, a Psicologia possuitodos os requisitos para se caracterizarcomo uma profissão e, inclusive, a sua leide regulamentação, a Lei 4.119, tambémdispõe sobre os cursos de formação emPsicologia.

Se não há dúvidas de que a Psi-cologia seja uma profissão, há, entretan-to, diversos questionamentos quanto aoatual estado de suas relações e condi-ções de trabalho. "Existem dados que a-pontam para o fato de que a Psicologiano Brasil é precarizada, mas precisamosinvestigar isso com mais profundidade",afirma Rogério de Oliveira Silva, presiden-te do Conselho Regional de Psicologia Mi-nas Gerais. Os "fortes indícios" de pre-carização, na perspectiva de Rogério, sãoos salários baixos oferecidos nos concur-sos públicos, o grande número de traba-lho voluntário "em posições extremamen-te frágeis e equivocadas" e a falta de umpiso salarial. Rogério acredita que essesproblemas atingem não só a Psicologiamas todas as profissões que lidam com ou-tros seres humanos (serviço social, pe-dagogos, professores etc.). "Essas pro-fissões passam por certo desinvestimen-to. É uma desvalorização interessada", diz.

Já para o psicólogo Marco Antô-nio de Azevedo, professor da PontifíciaUniversidade Católica de Minas Gerais,apenas num primeiro momento se pode-ria dizer que o fato de lidar com o subje-tivo, com o humano, é um elemento quepotencialmente desvaloriza a Psicologiaatualmente. "Num mundo com uma éti-ca econômica, com relações mercantili-zadas, falar de subjetividade parece não

interessar muito." No entanto, explica Mar-co Antônio, "ao mesmo tempo que o psi-cólogo incomoda ele também é demanda-do"."Há uma dinâmica dialética aí", afir-ma o psicólogo, que também acredita quehá uma precarização geral das profissõesque lidam com o conhecimento.

"Mas como deixar de falar de sub-jetividade?", se pergunta o professor. "Asubjetividade é tão concreta quanto asoutras dimensões das relações humanas.Pode ser até incomodo falar do mal es-tar produzido por certas relações huma-nas, mas a subjetividade está sempre pre-sente, faz parte da realidade também",diz.

PSICOLOGIA E CAPITALISMO? "A Psicologia nasce, enquanto

profissão, com a clareza de que é volta-da para a inclusão", explica Rogério Oli-veira, contrapondo o modelo que carac-teriza como tutelar, no qual os "homensde bem" escolhem quando e quais direi-tos serão acessados pela população, aomodelo que chama de inclusivo. "A Psi-cologia não é uma profissão que tenha'talento' ou 'vocação' para servir ao mo-delo econômico. A tentativa de colocara Psicologia a serviço de um determina-do modelo de dominação das minoriasfoi uma tentativa que não deu certo."Para ele, "a Psicologia deixa de ser Psi-cologia quando ela abre mão de traba-lhar na inclusão do outro."

Para o professor Marco Antôniode Azevedo, um dos problemas da "con-vivência" da Psicologia com o sistemaeconômico vigente é que "ela não geraprodutos muito concretos". Para ele, o tra-balho do psicólogo é pouco visível, sen-do difícil de avaliar, quantificar.

Mas como sobreviver como umaprofissão preocupada com o subjetivo evoltada para a inclusão neste mundo ca-pitalista? "É preciso que as instituiçõesda Psicologia lutem contra qualquer tipo

de expropriação e exploração, e que elasgarantam as condições para que essa pro-fissão exerça esse papel de favorecedo-ra da inclusão", responde Rogério Oliveira.

TRABALHO: EIXO NORTEADOR PARA APROFISSÃO

Para Rogério, o psicólogo preci-sa se reconhecer e ser reconhecido co-mo um profissional responsável pela in-clusão social. "E isso não deve ser ape-nas um projeto profissional, corporativis-ta", diz. "Tem que ser um projeto de so-ciedade, de nação". A defesa de Rogérioé de que o trabalho é o centro norteadorde todas as outras questões. "Não exis-te, hoje, outra atividade humana tão cen-tral na vida das pessoas quanto o tra-balho".

Há concordância entre Rogérioe Marco Antônio: "O psicólogo tem queser um mediador da subjetividade huma-na no trabalho", diz o professor da PUC-Minas. Para ele, o psicólogo deve assu-mir-se no trabalho, qualquer trabalho,como um produtor de subjetividade. "Háuma negligência do psicólogo de não pen-sar a categoria trabalho como constituí-dora da subjetividade e a Psicologia es-tá pagando um preço alto por isso", afir-ma.

"É preciso, hoje, reunirmos maispsicólogos para estudar e nos comprome-termos com as questões do trabalho e dasubjetividade. Precisamos de mais pesqui-sadores e mais estudantes", diz Marco An-tônio, que considera que esses são ele-mentos muito importantes para o avan-ço da Psicologia. Para o presidente doCRP-MG, os psicólogos precisam se cons-cientizar de que a Psicologia não será ape-nas importante no processo de inclusãodos cidadãos - no acesso aos direitos -mas, também, para "garantir que essessujeitos possam viver com o que conquis-taram", conclui.

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Desafios para uma profissão

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Não há dúvidas de que a Psicologia seja uma profissão; mas há enormes desafios no campo do trabalho.

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A Comissão de Psicologia do Tra-balho e Organizacional (CPTO) promoveu,nos dias 8 e 9 de maio, no edifício Tira-dentes Tower, o seminário "A influênciada crise do capitalismo no mundo dotrabalho: contribuições da Psicologia".O evento reuniu, em mesas e rodas deconversa, palestrantes com especialida-des em diversas áreas.

Dentre os diversos pontos que nor-tearam o seminário, o principal foi o pa-pel do trabalho como centro organizadordas atividades e da subjetividade humana.Para Marco Antônio de Azevedo, psicólo-go e doutor em ciência da informação, queparticipou da mesa "A influência da crisedo capitalismo no mundo do trabalho", oproduto do trabalho humano está carre-gado de subjetividade e é necessário quemomentos de crise sejam utilizados como objetivo de "revalorizar o trabalho comofonte de produção de riqueza".

Outro ponto de destaque foi o pa-pel do psicólogo na área de recursos hu-manos. A psicóloga Virgínia Maria Gherarddos Santos, gerente de recursos humanosda Unimed Belo Horizonte, informou queé preciso que os psicólogos que atuam nes-sa área tenham visão estratégica e sai-bam utilizar a linguagem dos empresários."Profissional de recursos humanos tem quemensurar os resultados dos trabalhos de-senvolvidos", apontou.

Por outro lado, a conselheira Geor-gina Veras Motta, que mediou a mesa "Acrise e a precarização do trabalho do psi-cólogo", ressaltou que o psicólogo deveter o cuidado de incorporar a linguagemdos empresários mas não necessariamen-

te seus valores. Para ela, o psicólogo tema difícil tarefa de mediar esse conflito po-tencial entre capital e trabalho, atuandode forma positiva e sempre considerandoa centralidade do trabalho na formaçãoda subjetividade.

Durante o evento, diversos profis-sionais psicólogos apontaram a necessi-dade de que haja maior mobilização da ca-tegoria, de forma a minorizar a precariza-ção que vem sendo observada na profis-são. Uma das explicações para esta pre-carização foi trazida pela antropólogaMaria das Graças Pinho, que esteve na úl-timo mesa, "A crise e a precarização do tra-balho do psicólogo". Maria das Graças trou-xe relatos de pesquisas que têm relacio-nado a feminização de profissões (a en-trada cada vez maior de mulheres numaárea) com sua precarização. "Apesar de asmulheres terem mais anos de escolariza-ção e mais qualificação que os homensem geral, toda profissão que se feminizase precariza", afirmou, indicando que issoé um efeito do preconceito que as mulhe-res sofrem nos ambientes de trabalho, oque se reflete, muitas das vezes, em desi-gualdade salarial entre homens e mulhe-res que executam a mesma função.

O evento teve também a partici-pação do psicólogo e economista, LucasGonzaga Jr., do doutor em filosofia, JoséLuiz Furtado, da conselheira presidente daCPTO Diana Ferreira, da especialista emsaúde pública e diretora do Sindicato dosPsicólogos de São Paulo, Fátima Riani eda psicóloga Mônica Duarte Mattos, es-pecialista em Psicologia Organizacional edo Trabalho.

CPTO discute crise do capitalismo e trabalho dospsicólogos Comissão de

Direitos HumanosCRP-MG e

diversidade sexual O último mês de maio, em Belo Horizon-te, foi palco de uma série de eventos re-lacionados à Luta contra a Homofobia. NoCRP-MG, foi realizado, no dia 19 de maio,o Diálogos no Conselho "Homofobia: so-ciedade, diversidade e preconceito", mastambém ocorreram audiências públicas,atos públicos e a produção de uma Car-ta Aberta enfatizando diversos aspectosdas ações da Psicologia no campo dosdireitos humanos.

Essas atividades, alusivas ao dia 17 demaio “Dia Mundial de Luta contra a Ho-mofobia”, destacaram o fato de que, muitoalém de atitudes de medo ou repulsa, ahomofobia revela a configuração de umaestrutura maior, não individual, mas co-letiva, de hierarquia e opressão que au-toriza atitudes cotidianas de violência, emsuas diversas formas de manifestaçãoreal e simbólica, contra as pessoas quenão se apresentam conforme os padrõesheterossexuais e, por vezes, ainda preci-sam se afirmar enquanto cidadãos. Re-flexo disso são as ocorrências na Paradado Orgulho Gay de São Paulo: a explosãode uma bomba caseira e outras agres-sões, umas delas resultando em morte.

Atuando nesse cenário, a Psicologia - a-liada aos direitos humanos - afirma a im-portância das diversidades, da convivên-cia entre estas e ressalta a necessida-de de se inverter certa lógica perversade patologização e criminalização da vidae das experiências humanas.

Em 2009, fazem dez anos que o Conse-lho Federal de Psicologia publicou a Re-solução CFP 001/1999, que afirma que"os psicólogos não exercerão qualquer a-ção que favoreça a patologização de com-portamentos ou práticas homoeróticas,nem adotarão ação coercitiva tendentea orientar homossexuais para tratamen-tos não solicitados".

Para participar da reunião daComisssão de Direitos Humanos do

CRP-MG mande correio eletrônico [email protected].

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ACONTECEU

Crédito: Gustavo Machala

Conselheiros do CRP-MG abrem evento sobre a crise do capitalismo e o trabalho do psicólogo.

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Idealizado pelo Conselho Regio-nal de Psicologia Minas Gerais (CRP-MG), o livro "Subjetividade(s) e socieda-de: contribuições da Psicologia" divide-se em quatro seções: Clínica e Política;Estado, Violência e Ética; Mídia, Espetá-culo e Sociedade de Consumo; e Trabalhona Sociedade Contemporânea. O objetivodo livro, e desses quatro recortes especí-ficos, é disseminar saberes especializados,incentivar o estudo e a prática da produçãointelectual e ser um convite à reflexão,essenciais para a transformação social.

Para atingir esses objetivos, OCRP-MG procurou selecionar uma temá-tica instigante, diversa, atual e relevan-te, convidando profissionais conceituadosda área para escrever os capítulos quecompõem o livro: Célio Garcia, ChristianIngo Lenz Dunker, Carlos Roberto Drawin,Cecília Maria Bouças Coimbra, EduardoDias Gontijo e Bárbara Busch Tavares,Jacqueline de Oliveira Moreira, ConradoRamos, Maria Elizabeth Antunes Lima,Vanessa Andrade de Barros e Raul AlbinoPacheco Filho.

É com imensa satisfação que osorganizadores de Subjetividade(s) e soci-edade" compartilham o resultado dessajornada, certos de ter contribuído para odesenvolvimento cultural e científico denosso País.

PARA ADQUIRIR:Entrega por sedex:

•BH e Região Metropolitana - R$ 12,00•Interior de Minas - R$13,00•Outros Estados:Capital - R$17,00Interior - 24,00

Depósito:Caixa Econômica FederalAgência: 094 Operação: 03Conta Corrente: 501.601-8Enviar comprovante de pagamento por fax: 2138-6767 ou por [email protected] a/c de Ana Amélia

O livro pode ser adquirido na sede doCRP-MG em BH, rua Timbiras, 1532, 6ºandar.

CONSELHOREGIONAL DE PSICOLOGIAMINAS GERAIS

CRP-MG lança livro sobre subjetividade e sociedade

RESENHA

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DICASLIVROS

Título: Psicodrama Empresarial - O que, Por que,Como fazer O livro de Thelma M. Teixeira aborda as questõesempresariais sob a perspectiva da Teoria da Com-plexidade, buscando entender as relações entreos indivíduos e a nova realidade empresarial/orga-nizacional, destacando a importância da utilizaçãodas técnicas de psicodrama nas relações empre-sariais, realizando inclusive pesquisas e experiên-cias de casos.

Título: Democracia e Subjetividade: a produçãosocial dos sujeitos democráticosA obra discute a Democracia relacionando-a aostemas da subjetividade, a exclusão social, a famí-lia, as instituições políticas, as escolas, as relaçõescomunitárias e o mundo do trabalho. Sob a abor-dagem da Psicologia, o livro tenta compreender asquestões subjetivas imbricadas no processo histó-rico da democracia no Brasil e relacionando comaspectos históricos mundiais.

Título: Mídia e Psicologia: produção desubjetividade e coletividadeResultado do seminário “Mídia e Psicologia”, rea-lizado no Rio de Janeiro em 2007, na UFRJ, a obrarelaciona os temas da Psicologia e da Comunica-ção Social, entre eles a questão da subjetividade,da alienação, tecnologia comuncacional, do con-trole social, da democratização, da educação paraa mídia, da ética entre outros temas. O livro foi or-ganizado pelo XIV Plenário do CFP.

O Centro de Documentação e Informação Halley Bessa – CDI

está aberto de segunda a sexta-feira,

de 8h às 12h e de 13h às 17h.

O telefone para dúvidas e informações é o (31) 3262-0091.

CDI

O livro, no valor de dez reais, está à disposição na sede do CRP em BH.

DOCUMENTOS DE HALLEY BESSA ESTÃO DISPONÍVEIS ONLINEJá é possível acessar online todo o acervo pessoal de documentos de Halley Bessa, um dos fun-dadores do Conselho Regional de Psicologia Minas Gerais e do Curso de Psicologia da Universi-dade Católica de Minas Gerais. Dentre os documentos encontram-se atas do CRP-MG, atas dereunião de discussão do currículo para o curso de Psicologia e diversos outros. Todos os núme-ros do Jornal do Psicólogo também encontram-se disponíveis e em breve será liberado o acessoa consulta, empréstimo e renovação de todo o acervo do CDI por meio do programa Pergamum.Confira: http://www.crpmg.org.br/hb/

JornalCRP-94:Layout 1 07/08/09 11:47 Page 13

A etapa belo-horizontina da Confe-

rência Nacional de Segurança Pública foi um

jogo de cartas marcadas, segundo relato fi-

dedigno ao extremo. No popular jogo de tru-

co o ato de blefar pode ser uma estratégia

de jogo, faz parte do jogo, desde que os ad-

versários “caiam” na armadilha. Na vida real,

assim como no baralho, impossível matar o

zap. A carta maior do jogo, na questão da se-

gurança pública, parece ser não a participa-

ção ampla de todos, mas a escolha pouco

transparente de alguns.

Mais do mesmo, mais do pior. Sobre-

tudo mais do pior mesmo!

Das trinta entidades presentes no-

tou-se a significativa ausência do Conselho

Regional de Psicologia e do Tribunal de Jus-

tiça do Estado de Minas Gerais, apenas pa-

ra citar dois importantes e indispensáveis a-

tores desse tema. Por quê?

Afinal, perceber e perguntar os por-

quês é a pergunta clássica dos criminólogos.

Mesmo com divulgação precária as

forças policiais e religiosas - só as mais con-

servadoras - da capital conseguiram um es-

paço significativo. O que, por si, prova o di-

rigismo da “divulgação” – as aspas são ine-

vitáveis. Não tão significativo quanto aque-

le conseguido – para dizermos elegantemen-

te – pelas empresas de segurança privada.

Nesse “espaço” marcado, como o

baralho, as propostas aprovadas causaram

certa estranheza, como “construção de pre-

sídios para menores” – embora esse brutal

equívoco não seja mais cabível desde 1990,

com a promulgação do Estatuto da Criança

e do Adolescente, mas vamos lá, às vezes um

signo é só um signo, nem que seja na can-

ção. Ou mesmo a estapafúrdia proposta do

fim do estatuto do desarmamento. Será que

entendi bem? Armar a população seria a so-

lução? Não é exatamente o contrário?

Causou-me espécie o descompas-

so havido entre essa última e a Conferência

Livre (dias 6, 7 e 14 de março de 2009),

preparatória da 1ª CONSEG, onde e quando

se discutiram as Bases para a construção

de uma Segurança Pública Cidadã, prelimi-

nar para a demais e que inaugurou em Mi-

nas o ciclo das conferências livres.

Na primeira conferência livre, pre-

enchido o número máximo de participantes

permitido pela metodologia da Conferência

Nacional em cada grupo de trabalho, discu-

timos, com um respeito mútuo e atuar plu-

ral, construindo princípios e proposições fac-

tíveis. Éramos professores, estudantes – da

graduação e de pós -, pesquisadores, famili-

ares, amigos de pessoas em privação de li-

berdade e também policiais, agentes peni-

tenciários, membros da estrutura operativa

da Secretaria de Defesa Social, mas sem-

pre em um clima de cordialidade que fez a

tarefa fácil de ser cumprida.

Foi assim que consagramos, na vo-

tação geral, os três princípios elaborados e

discutidos pelo Grupo de Trabalho, segundo

penso os mais importantes:

1. O SISTEMA PRISIONAL DEVE SER PÚBLI-

CO, DE QUALIDADE E ABERTO À FISCALI-

ZAÇÃO DA SOCIEDADE;

2. O SISTEMA PRISIONAL, SOB A ÉGIDE DO

ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO, DEVE

SER IMPESSOAL, TRANSPARENTE E SUB-

METIDO AOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIO-

NAIS;

3. POSSIBILIDADE DE ANISTIA AOS PRE-

SOS COM SENTENÇA PENAL TRANSITADA

EM JULGADO.

Assim, afastamos de vez a nefasta

idéia de privatização do sistema penitenciá-

rio e ampliamos as possibilidades de exer-

cermos o controle externo. A impessoalida-

de, a transparência e a submissão dos prin-

cípios constitucionais afastam a sinistra pos-

sibilidade de um ou outro despreparado ar-

vorar-se em “dono da cadeia”, como temos

o desprazer de assistirmos nos últimos anos.

O mais importante, a meu modes-

to juízo, foi termos assumido, coletiva e res-

ponsavelmente, a possibilidade de obtermos

uma anistia ampla aos presos com senten-

ça penal transitada em julgado e avançar-

mos, enfim, para um novo mundo, uma nova

sociedade, uma nova possibilidade de con-

vivência.

Na conferência belo-horizontina, es-

sa última, só houve espaço para os agentes

de contenção. Não se contemplaram os con-

tidos.

Faz sentido. A violência é um negó-

cio milionário. Isso mesmo: a violência po-

de ser alegre; para os ricos, para os explo-

radores de sempre, para os que lucram com

ela. A reforçar minha convicção de que a mal-

dade, em Minas, é o que mais avança.

Apesar, além e acima daqueles que

investem na maldade e no lucro como força

de controle, temos um pensamento teórico

maduro – e na prática sólido e testado – que

desafia a contenção penal como forma de

controle. Que aponta, explica e multiplica a

iatrogenia do cárcere e a idiotia do senso co-

mum em apostar na contenção penal como

solução para a violência nos grandes cen-

tros urbanos. Mas essa é uma “outra mão”

de um mesmo jogo no qual as boas cartas

são distribuídas igualmente.

[1] Professor de Criminologia da Rede Nacional

de Altos Estudos em Segurança Pública

(RENAESP) do Ministério da Justiça. Do Grupo

de Amigos e Familiares de Pessoas em Privação

de Liberdade. Editor da revista VEREDAS DO

DIREITO. Autor de Crime e Psiquiatria –

Preliminares para a Desconstrução das Medidas

de Segurança e A visibilidade do Invisível –

Entre o ‘Parada, polícia’ e o alvará de soltura –

Criminalização da pobreza e encarceramento

feminino em Belo Horizonte no início do século

XXI, dentre outros. Advogado criminalista.

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Virgílio de Mattos [1]

GRUPO DE AMIGOS E FAMILIARES DE PESSOAS EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADEO Grupo de Amigos e Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade, desde 2007, tem organizado atores sociais da RMBH que, embora envolvidos com a questãoprisional, nunca foram ouvidos a respeito. Em 2008, o Grupo decidiu promover uma ampla discussão sobre o tema, lançando as campanhas pela implementação do PlanoNacional de Saúde no Sistema Penitenciário em Minas, pela construção de uma APAC feminina em BH, pelo fim da revista vexatúria aos visitantes dos presos e contraa privatização do sistema prisional mineiro. Mesmo tratando de demandas emergenciais, as campanhas invocam reais possibilidades de uma ainda distante ruptura como sistema punitivo vigente, objetivo maior do Grupo.

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Os meios de comunicação social

têm provocado fortes impactos sobre a pro-

dução e organização das subjetividades. A

mídia, hoje, é reconhecida como mediadora

de cultura, ofertando modos para a apresen-

tação da subjetividade nas relações sociais,

transmitindo um discurso sobre a realidade

e impondo valores e ideais às pessoas.

Por estarem presentes em mais de

90% dos lares brasileiros, as TVs abertas

constituem a mídia mais poderosa que te-

mos. Em função disso, os conteúdos televi-

sivos se revestem de enorme importância e

preocupação por parte da sociedade. Infe-

lizmente, vários conteúdos insistem em ex-

por pessoas ao ridículo, estimulam a eroti-

zação precoce, abusam da exploração sen-

sacionalista da violência , apelam para a

banalização da vida sexual, transmitem pre-

conceitos, criminalizam movimentos sociais

e se utilizam de crianças de forma perver-

sa. E crianças não devem e nem podem ser

assediadas de maneira alguma, seja sexu-

al, moral, por propaganda ou para alavancar

a audiência de um canal televisivo!

No Brasil, os instrumentos legais

de regulação dos conteúdos da programação

televisiva ainda são precários e pouco efica-

zes. Isso se deve, em parte, a um lobby po-

deroso de representantes da radiodifusão

que resiste a qualquer alteração de códigos

legais que configurem perda de seus privilé-

gios. A qualquer sinal ameaçador aos seus

interesses, alardeiam que estão sendo alvo

de censura!

Ora, embora as emissoras comer-

ciais esperneiem e contra-alardeiem de que

"se está querendo fazer censura" nos mei-

os de comunicação, sabem, no expertise co-

mercial que têm, que, após os anos de cala-

bouço ditatorial, todos nós repugnamos esta

palavra: censura.

Embora o argumento seja bem pla-

nejado, é uma falácia. O que se tem busca-

do não é – e não poderia jamais ser – o fan-

tasma da censura à televisão. E neste "de-

cifra-me ou devoro-te", podemos dizer que a

palavra é controle social. O movimento cres-

ce de um nascedouro que é a própria socie-

dade civil organizada, alvo das emissoras de

televisão, estas concessões públicas, mas

que, em nosso país, ganham ares de empre-

sas privadas, meramente comerciais, veicu-

lando o que querem, da forma como querem.

E ainda cometem o descalabro de afirmar

cinicamente que, se baixaria dá audiência, é

porque o povo gosta!!!

Não, não gostamos de baixaria, não

gostamos dos conteúdos perversos que vem

sendo colocados dentro das nossas casas

para nos impactar. O que excede captura,

deixa o sujeito sem recursos para reagir. O

excesso é aquilo que é demais.... Cerceia a

liberdade do cidadão, é violento, pois o im-

pede de expressar, em tempo, sua vontade.

Entra sem pedir licença, invade o espaço,

não lhe dá tempo de usar da capacidade ra-

cional, de dizer não; é imprevisto e o impe-

de do uso da liberdade de se recusar a par-

ticipar dessa banalização da violência, da

sexualidade... E da própria vida em socie-

dade.

De forma mítica sabemos, nos con-

tam Hobbes, Rousseau, Freud, dentre alguns,

do porquê de uma ordem social. A civiliza-

ção é o contraponto ao estado de natureza

que vem a ser o tempo da barbárie, do gozo

sem limite: da violência como forma única

de se conseguir responder ao perigo do es-

tado natural para atingir um quantum de sa-

tisfação da necessidade. A civilização nos

vem enquanto recurso inventado pela hu-

manidade, após adquirir racionalidade, para

enfrentar os perigos que vinham da própria

natureza humana, renunciando àquilo que

os aproximava do perigo, ou seja, seu gozo

narcísico antes de tudo. Por isso renuncia-

mos à barbárie, sacrificando parte de nos-

sas pulsões e passando a respeitar a dimen-

são do outro enquanto semelhante. Em vez

do matar ou morrer, o pacto civilizatório que

regra, oferecendo a lei e civilizando as pul-

sões. Nesse espaço de trocas simbólicas, o

respeito.

Mas a agressividade faz parte da

nossa natureza. Então, como fizemos um

pacto, exige-se orientar o caminho das pul-

sões dentro do trilho consentido pelas nor-

mas da civilidade: faremos desvios para não

violentar o outro, tendo o projeto de civiliza-

ção orientando as nossas vidas. Nesse con-

texto, quando um programa de televisão nos

mostra a cena bárbara que não deveria exis-

tir e nos prende de tal forma que não conse-

guimos fugir (e dá Ibope!) é porque conse-

gue, à revelia do público, nesse momento,

a suspensão do recalque civilizatório. É co-

mo se, por um instante, a barbárie fosse de

novo consentida: pode ser mostrada, bana-

lizada, como expressão de uma possibilida-

de para a qual não há sanção. Quando as ce-

nas apresentadas na TV banalizam o pacto

social e invadem a nossa casa, provocam a

manifestação dos sentidos arcaicos que, mi-

lenarmente, a humanidade empreende es-

forços para recalcar.

E gostamos disso? Não, não gos-

tamos dessa baixaria. Somos capturados por

ela. É diferente! Por isso paramos na frente

da TV. Por isso não mudamos de canal e

não é porque não há programação melhor. A

banalização da violência, da sexualidade,

da própria vida, ganha audiência porque nos

fala de algo da nossa natureza humana que

deveria estar recalcado e não estar ali, ex-

posto num canal aberto. É preciso pôr um

basta nessa compulsão pela audiência con-

seguida de qualquer maneira, que desres-

peita o cidadão e desrespeita a civilização.

O que está em jogo é o projeto de civilização

que temos construído!

A Psicologia pode e deve ter papel

fundamental na compreensão dos fenôme-

nos implicados nesses impactos, na identifi-

cação de sua influência sobre a produção das

subjetividades e no estabelecimento de mo-

dos a tornar a comunicação social uma ferra-

menta de incremento da solidariedade, liber-

dade, emancipação pessoal e coletiva numa

sociedade. Afinal, um outro mundo é possí-

vel!

[1] Psicólogo, Coordenador da Campanha

"Quem Financia a Baixaria é Contra a

Cidadania" da Comissão de Direitos Humanos e

Minorias da Câmara dos Deputados. Foi

membro do Conselho de Comunicação Social do

Congresso Nacional. Ex-Presidente do CRP-MG

e do Conselho Federal de Psicologia.

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Afinal, gostamos de baixaria na TV?

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ARTIGO

Ricardo Figueiredo Moretzsohn [1]

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Helena Wladimirna Antipoff nasceuem Grodno, na Rússia, em 1892, e, assimcomo sua mãe, era filha de um oficial militardo exército russo. Desde criança, foi muitoligada à música clássica, tendo aprendidocanto e piano com sua mãe. Seu ensino pri-mário também foi feito em casa, juntamen-te com a irmã, até completar 10 anos, quan-do ingressou no ensino coletivo.

ANTIPOFF E A PSICOLOGIAEm 1909 Antipoff logrou seu diplo-

ma do Curso Normal, em São Petersburgo,Rússia, se transferindo para Paris em 1910,onde estudou durante dois anos na Univer-sité Sorbonne, obtendo seu diploma de ba-charelado em Ciências. Ali assistiu pales-tras de Pierre Janet, psicólogo e neurologis-ta francês, e Henri Bergson, filósofo e diplo-mata francês. Desde então, orientada porThéodore Simon, estagiou no LaboratórioBinet-Simon, onde fez experimentos paraavaliar a capacidade intelectual de crian-ças em idade escolar.

Ainda na França, foi convidadapelo neurologista e psicólogo do desenvol-vimento infantil Édouard Claparède a estudarno Instituto Jean-Jacques Rosseau – IJJR,em Genebra, na Suíça, onde se tornou psicó-loga e se especializou em Psicologia Edu-cacional.

Antipoff retornou à Rússia em 1916,por ocasião de um ferimento sofrido por seupai em combate na Primeira Guerra Mundial.Ali, assistiu à eclosão da Revolução Russade 1917 e, entre 1919 e 1924, trabalhouna Estação Médico-Pedagógica de Petrogra-do e Viatka. Seu trabalho era voltado paraa reeducação de crianças que haviam perdi-do suas famílias durante a guerra.

Em 1921, Helena trabalhou comocolaboradora científica no Laboratório de Psi-cologia Experimental de Petrogrado, tendopesquisado sobre a influência da guerra nodesenvolvimento mental de crianças em ida-de pré-escolar, dando prosseguimento ao tra-balho iniciado com Claparède. Filiada ao pen-samento de Claparède, publicou artigos emrevistas especializadas em Psicologia, naSuíça, realizando abordagens funcionalistase interacionistas, com influências da abor-dagem sócio-histórica russa. A partir destemomento, o Método da Experimentação Na-tural, utilizado por Antipoff na avaliação dodesenvolvimento cognitivo, foi amplamente

divulgado em publicações ligadas à Psicolo-gia e a Educação.A VINDA PARA MINAS GERAIS

Em 1929, a convite do governo doEstado de Minas Gerais, Helena veio atuarcomo professora de Psicologia. Em seu labo-ratório, desenvolveu com suas alunas um pro-grama de pesquisa sobre o desenvolvimen-to mental, os ideais e os interesses das cri-anças mineiras. Desde então, Helena elabo-rou reflexões acerca da relação entre o meiosócioeconômico e o desenvolvimento mental.Além disso, estimulou e fomentou programaspara a reeducação de crianças excepcionais,pautados na ideia da “educação compensa-tória”.

Fundou a Sociedade Pestalozzi em1932 junto a um grupo de médicos, educa-dores e religiosos, onde cuidavam de crian-ças excepcionais e preparavam os profes-sores para as classes especiais nas escolaspúblicas. Antipoff foi professora fundadorada cadeira de Psicologia Educacional naUMG (atual UFMG), lecionando para os cur-sos de Didática e Pedagogia. Oito anos adi-ante, à frente da Sociedade Pestallozi, ins-talou a Escola da Fazenda do Rosário no mu-nicípio de Ibirité, proporcionando um ambi-ente saudável para a educação de criançasexcepcionais ou abandonadas, inaugurandoum trabalho singular, que realizaria até o fimde sua vida.

A IDA PARA O RIO DE JANEIROHelena residiu no Rio de Janeiro no

período de 1944 a 1949, quando trabalhoupara o Ministério da Criança e da Socieda-de Pestalozzi no Brasil, lançando o COJ,Centro de Orientação Juvenil, que promoviao atendimento a adolescentes com proble-mas de conduta. Retorna a Minas no inícioda décade de 50 para lecionar na UMG eobtém, um ano depois, sua cidadania bras-ileira definitiva. Em 1956, Helena promo-veu, junto ao psicólogo genebrino André Rey,especialista em exames neurológicos em cri-anças e adultos, um curso que iria dar ori-gem à então nascente Sociedade Mineirade Psicologia. Paralelamente, Antipoff ela-borou o teste “Minhas Mãos” (ou “MM”),instrumento de diagnóstico da estrutura dapersonalidade a partir da análise de conteú-do de uma redação que deveria ter comotema “Minhas Mãos”.

No dia 9 de agosto de 1974, fale-

ceu Helena Wladimirna Antipoff, em Ibirité.A Fundação Helena Antipoff publica em 1992a Coletânea das obras escritas de HelenaAntipoff, com introdução de Daniel Antipoff,único filho de Helena. Foi transformada emProfessora Emérita da FAE-UFMG, em 1972,e Cidadã Honorária de Minas Gerais e Belo Ho-rizonte, em 1962 e 1968 respectivamente.

CONSELHOREGIONAL DE PSICOLOGIAMINAS GERAIS

Helena Antipoff: uma vida dedicada à Educação

FATOS E PERSONAGENS

CONSELHOREGIONAL DE PSICOLOGIAMINAS GERAIS

Rua Timbiras, 1532, 6º andarLourdes - CEP: 30140-061Belo Horizonte - Minas Gerais

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Crédito: http://www.pestalozzi.org.br

Helena Antipoff foi responsável pela elaboração doteste MM "Minhas Mãos", instrumento de diagnóstico

da estrutura da personalidade.

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