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No âmbito da homenagem a José Casimiro da Silva.
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Há uma música da fadis-
ta Mariza que diz que “há
gente que fica na história, da
história da gente”. José Casi-
miro da Silva é uma dessas
figuras incontornáveis da his-
tória das gentes de Vila Nova
de Famalicão.
Famalicense de gema, nas-
cido na freguesia de Ca-
lendário, José Casimiro da
Silva foi, acima de tudo, um
grande empreendedor. A
sua obra, que atravessa várias
áreas da sociedade, deixou
vestígios importantes na vida
do nosso concelho, que nem
o tempo nem a memória co-
letiva apagam.
Por isso, enquanto famali-
cense e presidente da Câma-
ra Municipal é, para mim,
uma grande honra associar-
-me a esta homenagem, nes-
ta edição especial do Jornal
“Estrela da Manhã”.
Cinquenta e quatro anos
após o lançamento do pri-
meiro número, reavivamos
agora esta publicação, que
foi também o reflexo do es-
pírito empreendedor e ino-
vador deste Homem, cujo
nome está escrito com letras
de ouro nos pergaminhos da
nossa história.
Fruto de uma época em que a
instabilidade política e social
marcava o dia-a-dia, Casimiro
da Silva conseguiu criar e
dinamizar instituições e asso-
ciações, verdadeiros pilares da
nossa sociedade, que ainda
hoje mantêm a sua marca,
como é o caso do Rotary Clu-
be de Famalicão, mas tam-
bém da Santa Casa da Mi-
sericórdia, ou da Associação
Humanitária de Bombeiros
Voluntários de Vila Nova de
Famalicão.
Publicista e jornalista foi di-
retor, proprietário e editor,
primeiro do jornal “Estrela
do Minho” e depois do “Es-
trela da Manhã”, que junta
agora ao seu espólio esta edi-
ção especial. Foi também o
fundador do Centro Gráfico
de Famalicão.
Casimiro da Silva foi ain-
da vereador da Cultura da
Câmara Municipal de Vila
Nova de Famalicão na época
do Estado Novo.
Da multiplicidade de cargos
exercidos destaque ainda
para a direção do Futebol
Clube de Famalicão, num
dos períodos áureos do clu-
be, presidência do Grémio
do Comércio de Famalicão,
presidência da Comissão Ve-
natória do Concelho de Vila
Nova de Famalicão, mesário
do Hospital, entre outros.
Foi, sem dúvida, um homem
das letras, da cultura, da co-
munidade, mas foi sobretudo
um homem de ação.
Em 1959, Casimiro da Silva
integra a Comissão Executiva
das Festas Antoninas reavi-
vando as festividades do con-
celho, após um interregno de
quase meio século. As festas
regressam “nas vésperas do
13 de Junho graças à con-
gregação dos esforços de um
grupo inflamado de bairris-
tas e da Câmara Municipal
do Concelho”, como refere
João Afonso Machado na obra
“Famalicão uma Vila que se
inova”. Casimiro da Silva fica
responsável pela organização
da Parada Folclórica.
Em 1980, um grupo de
amigos prestou-lhe uma
homenagem, na Fundação
Cupertino de Miranda, atri-
buindo-lhe então a autarquia
famalicense, presidida por
Antero Martins, a Medalha
de Ouro de Reconhecimento.
Na altura, foi também atribuí-
do o seu nome a uma rua, em
Calendário, sua terra natal.
Como todas as figuras mar-
cantes, Casimiro da Silva
foi também uma personalidade
controversa, principalmente no
que diz respeito à política e à sua
relação com o Estado Novo.
Fernando Pessoa dizia que
“o Homem é do tamanho do
seu sonho”. Eu acrescento
que o homem é também do
tamanho da sua obra. E, José
Casimiro da Silva tem uma
obra enorme, uma obra que
merece ser divulgada e cada
vez mais valorizada!
Presidente da Câmara Municipal
de Vila Nova de Famalicão
Paulo Cunha
Estrela da ManhãSemanário Republicano e Democrático Independente e Defensor dos Interesses da Região
Ano XXVIII – 3 de Maio de 2014 Edição EspecialNº 1323
JOSÉ CASIMIRO DA SILVA, UM GRANDE FAMALICENSE
2 3ESTRELA DA MANHÃ ESTRELA DA MANHÃ
EDITORIAL José Casimiro da SilvaBreves notas bibliográficas
FICHA TÉCNICA
Editor: João Casimiro da Silva
Colaboradores: Almeida Pinto, António Peixoto, Barroso da Fon-
te, Cândido de Oliveira, Domingos Casimiro da Silva, Emília Nó-
voa Faria, Fernando Costa Soares, João Coelho, Júlio Fontes, Júlio
Sá, Libório Silva, Manuel João Brandão, Manuel José Barbosa Car-
valho (autor da caricatura), Rui Lima, Rui Maia, Sandra Gonçalves.
Composição e paginação: MCSDesign
Edição: Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão
Impressão: Mota e Ferreira artes gráficas
Tiragem: 200 exemplares
Maio 2014
Domingos José Casimiro
José Casimiro da Silva nasceu a
29 de Maio de 1901 na fregue-
sia de Calendário, Vila Nova de
Famalicão, onde sempre residiu,
sendo o mais velho dos cinco fi-
lhos do casal Domingos Casimiro
da Silva e de Belmira Rodrigues
Correia da Silva.
Com o pai emigrado no Brasil foi
sob a autoridade matriarcal que
cresceu e homem se tornou. Re-
gularmente, de três em três anos,
seu pai visitava a família e com ela
passava uns breves quarenta e
cinco dias, - os três anos de inter-
valo ditavam a diferença de ida-
des de seus irmãos e os quarenta
e cinco dias serviam a José Casi-
miro para gozar de outras liberda-
des, que sua mãe, sem a presença
paterna nunca autorizaria.
A Primeira Grande Guerra coin-
cide com os seus 13 anos e o pe-
ríodo difícil que se seguiu, com
carências de géneros alimentí-
cios, forçaram-no, como homem
da casa, a longas caminhadas até
à vizinha freguesia de Silveiros no
Concelho de Barcelos, para con-
seguir a farinha de que a família
tanto necessitava.
Com a idade militar a aproximar-
-se e como o país estava em guerra,
alistou-se na milícia para pre-
parar a sua entrada. Em 1918 a
guerra terminou e o com o fim do
pesadelo foi altura de fazer pela
vida, primeiro na Conservatória
do Registo Civil em Vila Nova
de Famalicão e mais tarde no
Banco Crédit Franco-Portugais
no Porto, para onde se deslocava
diariamente.
Por esta altura (18/19 anos) ini-
cia-se literariamente no Jornal
“O Darquense” – Viana do Cas-
telo e dois ou três anos mais tarde
reúne os seus primeiros poemas
num caderno a que chama: “Ver-
sos: Rosas d’Espinhos”. Dois anos
mais tarde publica a primeira
obra a que dá o título de “Pérolas
Foscas: Crónicas” e em 1925 in-
tegra o grupo fundador do jornal
famalicense O Minhoto. No ano
seguinte passa a colaborar regular-
mente no jornal Estrela do Minho,
onde cativou a amizade do seu fun-
dador e editor, passando dois anos
mais tarde a ser o seu director. Ao
mesmo tempo e por convite de
Manuel Pinto de Sousa assume
a gerência da então prestigiada
“Tipografia Minerva”, onde se
mantém até 1952.
Na década de 1940 foi Vereador
da Cultura da Câmara Munici-
pal de Vila Nova de Famalicão
e iniciou a correspondência com
os Jornais diários “O Primeiro de
Janeiro”, e “Diário Popular”.
Entre 1946 e 1949 é presidente
da direcção do Futebol Clube de
Famalicão e é reeleito presidente
em 1949.
Em 1952, incompatibilizado com
os herdeiros de Manuel Pinto de
Sousa, deixa a Tipografia Mi-
nerva e inicia um novo capítulo
da sua vida ao criar o Centro
Gráfico de Famalicão, para onde
transitam grande parte dos fun-
cionários da Tipografia Minerva,
e onde o jornal Estrela do Minho
passa a ser impresso.
Em Abril de 1960 e após um lon-
ga disputa nos tribunais, deixa de
ser proprietário do Estrela do Mi-
nho e funda o jornal “Estrela da
Manhã” saindo o seu primeiro n.º
a 11 de Abril de 1960.
Escreveu prosa e versos, nos
jornais “Estrela do Minho” e
“Estrela da Manhã” e além do
seu próprio nome, usou diver-
sos pseudónimos – JOTA CÊ, J.
C., Reinaldo, Violeta Triste, Ego
Sun, NiHil – e publicou os livros:
Rosas d’ Espinhos: Versos, 1922
Pérolas Foscas: Crónicas, 1924
Silhuetas: A graça feminina fa-
malicense, 1935
A organização corporativa da In-
dústria Gráfica: Subsídios, 1936
A União da Província através da
imprensa – Conferência, 1946
A actividade Municipal: O pro-
blema das águas, 1946
Júlio Brandão: Criador de Beleza,
1950
Dos Mesteirais da Idade Média à
República Corporativa de 1933
e ás Primeiras Corporações de
1957 – Conferência, 1957
Trutas e Turismo, 1958
Elucidário Turístico do Concelho
de V. N. de Famalicão e Roteiro do
Minho, 1960
Turismo e Riquezas das Serranias
do Tâmega: Do belo-horrível de
outrora à presente imponência
florestal da Serra do Marão, 1966
Vila Nova de Famalicão e o seu
Termo – Achegas para uma mo-
nografia e um roteiro turístico do
Minho, 1968.
A caça e a pesca eram os seus
“hobbies” favoritos e o relato das
mais variadas peripécias tan-
to piscatórias como cinegéticas
eram lidas com muito agrado no
Estrela da Manhã.
Famalicense bairrista, em quase
todas as associações e colectivi-
dades locais deixou a sua marca,
tendo exercido os mais diversos
cargos directivos em clubes como
o Futebol Clube de Famalicão, o
Clube de Caçadores de Fama-
licão, o Rotary Clube de Fama-
licão e associações como a Santa
Casa da Misericórdia, os Bom-
beiros Voluntários de Famalicão,
o Orfeão Famalicense, o Grémio
do Comércio, a Associação Co-
mercial, a Banda de Música e o
Ateneu Comercial e Industrial,
a Comissão Venatória, todos de
Vila Nova de Famalicão. Com ca-
rácter regional e nacional exerceu
cargos na Associação de Futebol
de Braga, no Grémio Nacional
dos Industriais de Tipografia e
Fotogravura, no Grémio da Im-
prensa Regional, na Associação
de Imprensa não Diária. Em
1982 integra o grupo fundador
do Instituto Português da Im-
prensa Regional.
Espírito conciliador, foi muitas
vezes o recurso e outras tantas a
tábua de salvação para resolver
uma crise directiva que afectasse
qualquer clube ou associação, ao
promover a convergência de opi-
niões, propor nomes ou em últi-
mo caso constituir uma Lista ou
Comissão Administrativa onde
ele próprio figurava para resolver
a questão.
Após um interregno de 44 anos
e acompanhado por um lote de
famalicenses ilustres integra a
Comissão Executiva das Festas
Antoninas de 1959. Juntamente
com Amadeu Mesquita, Álvaro
Sousa Lopes e a colaboração da
totalidade da Direcção da Santa
Casa da Misericórdia de V. N.
de Famalicão, levaram a cabo a
tarefa hercúlea de implementar
e concluir a construção do Hos-
pital Distrital de Vila Nova de
Famalicão.
Sempre que se pensasse homena-
gear um famalicense a presença
de José Casimiro na comissão
organizadora era quase obrigató-
ria, não só pela estima e amizade
pessoal que cultivava com grande
parte dos homenageados, mas
também pelo rigor dos dados bio-
gráficos que reunia e que só por
si eram a trave mestra de toda a
homenagem.
Ele próprio recebeu em 1980 a
Medalha de Ouro de Reconheci-
mento da Câmara Municipal de
Vila Nova de Famalicão, sendo
na mesma altura atribuído o seu
nome a uma rua da freguesia do
Calendário.
Orador fluente, bebeu nos livros
que ao longo dos 82 anos foi len-
do e coleccionando, o conheci-
mento que o seu grau académico
não comportava, mas que lhe per-
mitia falar com toda a desenvol-
tura dos assuntos mais variados.
Nunca preparou um discurso,
nem usou qualquer tipo de cá-
bula, pois com a inata capacida-
de oratória que o caracterizava,
destacava os tópicos que achava
mais importantes e passava com
agrado geral as ideias que queria
transmitir.
Em 27 de Fevereiro de 1983 –
Festa de encerramento da época
de caça, em Estorãos, Ponte de
Lima – fez o seu último discurso,
24 dias antes de morrer.
Apesar de ter sido pai aos 44
anos, ou talvez por isso, entendia
perfeitamente as gerações mais
novas e convivia com alegria com
os meus amigos. Jovial e com um
sentido de humor muito próprio,
gostava de pregar uma inocente
partidita, que os meus amigos com
saudade não deixarão de recordar.
José Casimiro da Silva e Domingos José, no início dos anos sessenta.
José Casimiro da Silva na sua casa, na Rua da Senra em Vila Nova de Famalicão, nos anos oitenta do séc. XX.
reconhecimento dos seus con-
cidadãos, quer ainda no muito
que de si dedicou ao engrande-
cimento de Famalicão e a mui-
tas das suas instituições.
Do que era tangível pouco res-
tou. O tempo e o fogo volatili-
zaram praticamente tudo. Mas
a memória de todas as coisas
imateriais que nos deixou, per-
manece bem viva.
Recordo-o como um homem
culto, um autodidata, com uma
enorme capacidade de relacio-
namento interpessoal que lhe
granjeava amizades com todo o
tipo de pessoas, e que balance-
ava sempre as apreciações que
fazia e as decisões que toma-
va, com medidas de razão e de
emoção. Um homem de equilí-
brios, de bom senso, mas que não
Nunca me foi tão difícil escre-
ver um texto.
Afinal de contas, um editorial
deveria ser apenas uma nota de
quem assina a edição, onde se
enquadra o teor dos conteúdos
e onde se justifica o mote para a
publicação. Mas neste caso, por
muito que tivesse procurado fa-
zê-lo, assim tão-só, não consigo
libertar-me da carga emocional
que sobre mim impende ao es-
crever o editorial de uma edição
especial do Estrela da Manhã.
Foi o meu avô quem me en-
sinou a ler, aos cinco anos de
idade. Sentava-me num enor-
me cadeirão verde que havia à
entrada do seu escritório, e pas-
sava-me para a mão o Estrela da
Manhã que então se publicava
semanalmente: “deves concen-
trar-te primeiro nas letras que
estão em «caixa alta»; vais lá
baixo à fábrica, à «composição
manual», e procuras o tipo e o
tamanho das letras que aí vês
nos títulos”. E foi assim que, ao
longo de quase um ano, entre o
jardim-de-infância e o arranque
da escola primária, eu lá ia pas-
sando os dias brincando e apren-
dendo a ler, com o meu avô.
Está bom de ver que, por razões
óbvias, me é totalmente impos-
sível referir-me ao visado na ho-
menagem como sendo – apenas
– o cidadão José Casimiro da
Silva. De forma que, não obs-
tante a honra que tenho em as-
sinar este texto na qualidade de
editor, vou já avisando que este
poderá muito bem ser o texto edi-
torial mais “sui generis” que algu-
ma vez terão lido, pois que para
lá do necessário enquadramento
dos conteúdos e inevitáveis agra-
decimentos, se trata de falar de
alguém que amei profundamen-
te e de quem guardo as mais en-
ternecedoras memórias.
Por circunstâncias do acaso en-
contro-me no coração do Douro
Vinhateiro enquanto busco ins-
piração e procuro dar coerência
às torrentes de informação que
a memória me vai trazendo para
o consciente. Não deixa de ser
curioso que a esposa e os filhos
me tenham trazido para um re-
tiro de alguns dias, justamente
nesta região do país que o meu
avô tão bem conhecia e onde
teimava em voltar amiúde.
Naturalmente que tendo eu
tido o privilégio de o acompa-
nhar algumas vezes quer em
passeios de família às amendo-
eiras em flor quer como debu-
tante em jornadas de caça, aca-
bo por rebuscar memórias de
menino, por entre montes e va-
les, onde a forte presença do meu
avô inevitavelmente perdura.
Na esteira destas memórias há
um enorme rol de coisas in-
tangíveis que constituem, para
mim e para a família, uma he-
rança grandiosa.
A herança de um homem que
nascido em 1901 recusou o des-
tino que – à priori – lhe estava
traçado; o exemplo de um ho-
mem que teimou em completar
a 4ª classe, e que soube agarrar
a sorte de nesta fase da sua vida
ter conhecido e privado com a
família directa de Bernardino
Machado que – imagino eu –
muito tenha contribuído para
o seu gosto pelo conhecimento,
pela erudição, e pela escrita, a
que – afinal - numa versão jor-
nalística, acabou por dedicar
toda a sua vida.
O exemplo de um homem que
nunca se resignou, e que fez da
sua própria vida um modelo de
virtuosismo republicano quer
no sentido em que a construiu
com mérito próprio, com tra-
balho, com engenho e com o
deixava de ter as suas convicções.
No que à vida política respeita,
a marca de republicano fervoro-
so é-lhe característica, e são-lhe
reconhecidas várias tomadas de
posição na linha do “reviralho”
entre 1926 e 1940. Nas déca-
das de 50 e 60 serviu na Câ-
mara Municipal e em diversas
instituições famalicenses. Na
década de 70, acreditou espe-
rançado na “primavera marce-
lista”, embora tivesse acabado
por digerir com naturalidade o
período pós-25 de Abril.
Há um episódio curioso que
bem ilustra a sua faceta de ho-
mem de convicções; poucos
anos depois da Revolução dos
Cravos, há um movimento in-
formal de caçadores que se
organiza em defesa do regime
livre de caça, contrariando
uma tendência cada vez mais
crescente de criar coutadas e
zonas de caça reservadas para
associados. Reuniram-se milha-
res de caçadores que encheram
completamente o pavilhão muni-
cipal de Barcelos, e segundo me
narraram alguns dos presentes,
houve um discurso que pôs toda
aquela gente ao rubro, ao ponto
de ter sido difícil conter aquela
mole humana que se preparava
para “marchar em Lisboa” em
defesa do regime livre de caça.
Paradoxalmente, entre os maio-
res defensores das coutadas en-
contravam-se individualidades
perfeitamente conotadas com
partidos de esquerda…
Enfim, de volta a 2014, foi com
imenso regozijo e satisfação
que a família recebeu a notí-
cia que o município lhe queria
prestar uma homenagem, por
altura do trigésimo aniversário
de sua morte.
Esta edição especial do jornal
Estrela da Manhã é patrocina-
da pela Câmara Municipal, e
insere-se nessa homenagem;
procurou reunir depoimentos
de pessoas que privaram com
José Casimiro da Silva, de ins-
tituições em que ele esteve en-
volvido, da imprensa escrita
local que actualmente pontua
o panorama jornalístico famali-
cense, e também dar corpo a al-
guns ensaios de prosa ou poesia
que foram escritos ao longo da
sua vida.
Apesar de já terem passado
mais de 30 anos após a sua mor-
te, foi muito reconfortante ter
recebido inúmeros contributos,
sugestões e depoimentos de
tantas pessoas que com ele pri-
varam, seja em acontecimentos
sociais, seja profissionalmente,
seja em episódios de caça e pes-
ca. Alguns desses contributos
estão vertidos aqui neste jornal,
outros serão verbalizados na
sessão de homenagem que hoje –
03 de Maio de 2014 – decorre no
edifício da biblioteca municipal.
Um agradecimento especial ao
Sr. Presidente da Câmara Mu-
nicipal, Dr. Paulo Cunha, em
nome de todos quantos se en-
volveram nesta homenagem. A
iniciativa é do município; os re-
cursos alocados, quer materiais
quer humanos, são do municí-
pio; A família apenas disponi-
bilizou alguns adereços e fotogra-
fias, assim como se disponibilizou
para colaborar na edição especial
do Estrela da Manhã.
Bem-haja Sr. Presidente da Câ-
mara Municipal, por manter
viva a nossa memória colectiva,
e por ter possibilitado a reali-
zação de um evento que não é
mais que um tributo a um fa-
malicense que tem uma vida de
dedicação à sua terra!
João Casimiro da Silva
4 5ESTRELA DA MANHÃ ESTRELA DA MANHÃ
Manuel João Brandão
Não me lembro de não conhecer
o Sr. José Casimiro. Foi sobretudo
durante a minha infância e ado-
lescência que pude privar mais de
perto com a sua rara e, em muitos
aspetos, exemplar personalidade.
O meu testemunho baseia-se na
memória desse tempo em que na
sua casa da Senra eu tinha uma
segunda família. A vida e o tempo
foram-me reforçando a ideia das
raras qualidades que possuía.
Farei relato de alguns exemplos
simples, vividos na intimidade,
mas que penso revelarem a estirpe
do homem de que falámos.
Amigo do seu amigo cultivava o con-
vívio entre os amigos e a família.
Era um conversador nato e um ver-
dadeiro contador de histórias, com
um humor acutilante que interes-
sava a todos, inclusive, aos mais
Fernando Costa Soares
Era eu ainda uma criança quando
ouvia já, frequentemente, o meu
pai falar do «Zé Casimiro» (permi-
ta-se-me que lhe chame assim, por
ser desse modo que lá em casa era
familiarmente tratado).
Este nome começou a tornar-se-me
familiar e, à medida que fui cres-
novos. Já com avançada idade,
mas com um espírito jovial, que
sempre manteve, recordo como se
divertia no Carnaval “pregando
inesperadas partidas” a todos os
que o rodeavam.
Lembro com saudade, os jantares
de aniversário em que participava
o seu grupo de amigos caçadores.
Guardei para sempre na memória
as imagens do Pe. Aviz de Brito, de
Ferreira Duque, de Hilário Ferreira
Castro e de Jorge Lamego e, do
modo franco e amigo como discu-
tiam sob a batuta sensata de José
Casimiro. Eu e o Domingos, jovens
“convidados especiais“, absorví-
amos atentos toda aquela infor-
mação e comportamentos. Tinha o
cuidado de nos chamar à conversa e
ouvir com atenção as nossas opiniões.
O seu fino trato, elegante, culto e
respeitador sempre foi apreciado
por aqueles que tiveram o privilé-
cendo, foi-me despontando a curio-
sidade de conhecer, de ver quem
era, o «Zé Casimiro». Meu pai e
ele eram clientes recíprocos nas
suas relações comerciais e eram,
ambos, entusiastas fervorosos dos
Bombeiros Voluntários de Famali-
cão, o que os levava a encontros e
conversas frequentes, muito antes
ainda de meu pai ser colaborador
gio de com ele conviver. Tratava
com igual consideração todos os
que com ele privavam, indepen-
dentemente da sua condição so-
cial e, também por isso, por todos
era respeitado.
A sua generosidade e o sentido de
cidadania faziam parte intrínseca
do seu quotidiano, manifestando-
se a todo o momento nos comentá-
rios e nas discussões que promovia
acerca dos temas mais diversos
desde a literatura, ao desporto ou à
política, sempre com opiniões fun-
damentadas e com uma postura li-
vre e independente, que ao tempo
exigiam muita lucidez e coragem.
Grande parte das vezes os temas
surgiam de raiz com preocupações
humanitárias e quando não era o
caso, aproveitava todas as oportu-
nidades para tentar encontrar so-
luções para a gestão das diversas
Associações Famalicenses que
do jornal de que aquele era então
diretor, a «Estrela do Minho» e,
mais tarde, da «Estrela da Manhã»,
jornal este que José Casimiro fun-
dou e de que saiu o primeiro nú-
mero em 11 de abril de 1960. Foi
nesse contexto, vão passados quase
70 anos, que acabei por conhecer e
«cumprimentar» o «Zé Casimiro».
Homem alto, seco mas elegante,
integrou empenhadamente (“sem-
pre em defesa da nossa terra”).
Inimaginável nos dias de hoje,
recordo ainda um facto curioso e
revelador do espírito generoso e
humilde da personalidade do nosso
homenageado.
A porta de entrada da casa da
Senra nunca era fechada à chave,
mantendo-se permanentemente so-
mente encostada. Quem queria
entrava e, na hora das refeições,
era convidado a juntar-se aos co-
mensais. Fosse quem fosse era
bem recebido.
À mesa havia sempre lugar para
”mais um” e, muitas vezes para
quem mais precisava. Pelo menos
“uma malga de sopa e uns dedos de
conversa” eram-lhes servidos com
sorrisos pela incansável D. Maria
José e pelo Sr. José Casimiro.
Nessa época era frequente vê-los
acompanhados de algum amigo na
vestido de cores escuras, de profun-
das dioptrias nas suas lentes e boi-
na basca – talvez à Montgomery –
tocou-me e sorriu-me levemente e
eu lá retribuí conforme pude, num
misto de admiração, surpresa e in-
timidação perante personalidade
tão apregoada e que, de repente,
ali estava à minha frente, aparen-
temente distante mas que irradiava
sala de jantar em animado conví-
vio (como Lino Simões ou Alberto
Paiva que viviam na mesma rua)
e, pelo fim do dia, encontrarmos
o vizinho ”Firo Toca” (figura típi-
ca e emblemática da “vila“ desse
tempo) em animada conversa,
enquanto comia uma sopa e, com
muito respeito, lançava as suas crí-
ticas jocosas e pertinentes a desta-
cadas figuras e acontecimentos da
nossa terra.
Terminarei evocando uma citação
de “autor desconhecido” que mui-
to aprecio:
“O dinheiro faz homens ricos,
O conhecimento faz homens sábios,
A humildade faz Grandes Homens“
tão válida nos dias de hoje e tão
significativa na memória de José
Casimiro, um Homem Rico de
Valores e de Conhecimento.
compreensão e afeto. Lembro-me
perfeitamente da sua voz pausada
e grave, da perspicácia do seu olhar
e de uma aura qualquer flutuando
em torno do seu ser e que eram os
indícios, de que eu não tinha ainda
bem consciência mas que intuía, da
sua forte personalidade e do jorna-
lista e sensível escritor que ele foi.
A partir daí comecei a ver com
Barroso da Fonte
Convidado a dar o meu testemu-
nho sobre o Jornalista José Casimiro
da Silva começo por esclarecer que
foi curto o meu tempo de contacto
com ele. Mas esse pouco tempo deu
para receber dele uma grande lição
de vida. Deixo-me seduzir pelos
provérbios populares que sinteti-
zam muitas normas de vida comu-
nitária, como este que afirma ser um
«velho um poço de sabedoria».
Teria José Casimiro da Silva 78
anos de idade quando o conheci
pessoalmente. Andaria eu pelo
37º de existência. Regressado de
Angola como oficial miliciano
ranger e depois de sete anos de ra-
dicação em Chaves, fixara-me em
Guimarães, onde casei e constitui
família. Entre 1967 e 1975 traba-
lhei naquela cidade Transmon-
tana, como professor eventual do
então Liceu, acumulando com as
funções de chefe de redacção do
Notícias de Chaves. Era director
desse Semanário o professor pri-
mário aposentado, Américo Soa-
res Pinto. Natural de Braga mas
radicado na cidade Flaviense, per-
tenceu a uma geração de notáveis
intelectuais da região do Minho. A
essa geração pertenceram Jeróni-
mo de Castro, José Moreira, Padre
Júlio Vaz, José Casimiro da Silva,
Rebelo Mesquita e Antonino Dias
Pinto de Castro, jornalistas de
peso e cidadãos irrepreensíveis.
De todos eles me falava Pinto Soa-
res, em cada semana que chegavam
pelo sistema de permuta, os jornais
que eles dirigiam ou neles colabo-
ravam: Diário do Minho, Correio do
Minho, Estrela da Manhã, Jornal de
Famalicão, Notícias de Guimarães...
Ainda eu vivia em Chaves e já co-
nhecia esses beneméritos do Jor-
nalismo regional. Em 1975 optei
por viver em Guimarães e, ali fun-
dei o Gabinete de Imprensa, com
a parceria dos correspondentes
de jornais diários: Simão Freitas
(Comércio do Porto); Américo Au-
gusto Borges (Primeiro de Janeiro),
Barroso da Fonte (Jornal de Notí-
cias) e Fernando Tavares (Diário
do Norte).
Iniciara-me eu no jornalismo, em
Janeiro de 1953, em A Voz de Trás-
-os-Montes. Em 1962 alarguei a
colaboração ao Notícias de Chaves
e à Voz de Chaves. Mantive esse
gosto durante os 25 meses em que
estive em Angola. No regresso
reparti a colaboração ao Notícias
de Guimarães e ao Comércio de
Guimarães. Os quatro correspon-
dentes e os directores dos sema-
nários locais, acordámos fundar
uma associação que congregasse
todos aqueles que estivessem li-
gados ao jornalismo. É que nessa
altura difícil do PREC praticar o
jornalismo tornava-se tarefa com-
plicada porque só os profissionais
poderiam ter acesso às fontes e ter
apoio jurídico do sindicato, en-
quanto os amadores nem tinham
uma coisa nem outra. Tinham de-
veres, mas não tinham direitos. E
algumas vezes os correspondentes
eram enxovalhados num tempo
em que valia tudo.
Foi por causa dessas reivindica-
ções que se fundou o Gabinete de
Imprensa de Guimarães, com data
oficial de 3 de Março de 1976. Era
a primeira associação de impren-
sa regional do país, depois do 25
de Abril de 1974. Começou por
promover cursos intensivos dessa
actividade, ministrados por pro-
fissionais do sector. Com apoio
do FAOJ foi possível ministrar
esses cursos, nos 13 concelhos do
distrito de Braga. Ao mesmo tem-
po esses cursos simultâneos fun-
cionavam em regime pós-laboral.
Tiveram a duração de seis meses.
No distrito de Braga saíram des-
sa fornada 410 formandos que se
distribuíram pela região, ora nes-
ses primeiros anos da revolução,
quer posteriormente, nas rádios
locais. O GI tinha como objectivo
prioritário apoiar os colaboradores
da imprensa regional. Para da-
rem formação convidámos como
formadores directores de jornais
regionais: como José Casimiro da
Silva, (Estrela da Manhã); da im-
prensa diária, como Pinto Garcia,
Rui Osório e Jorge Cruz (JN), Sil-
va Tavares (Comércio do Porto);
Domingos Silva Araújo (Diário do
Minho) e Luís Filipe Magalhães
(Correio do Minho) e Jorge Fer-
reira (Primeiro de Janeiro). Cada
um destes formadores cumpriu
o périplo por todos os concelhos,
em sistema rotativo, onde houve
as mesmas aulas com os mesmos
docentes. Com resumos dessas
disciplinas se editou um opúsculo
de 40 páginas que foi distribuído
a todos os formandos e orientado-
res. Para exercitarem esses conhe-
cimentos fundou-se um jornal de
Curso a que se seguiu GI-Espaço
Novo de que saíram três edições.
Do GI nasceu em 1976, o Institu-
to Português da Imprensa Regional
(IPIR), em 1982, com objectivos
complementares: defender os órgãos
onde os jornalistas trabalhavam.
Gerado no seio do GI, tiveram
sede simultânea: na Casa Medie-
val, Centro Histórico de Guima-
rães. Um ano depois a sede do
IPIR foi transferida para a Póvoa
de Varzim, onde continuou por
mais uns anos, até que definitiva-
mente se mudou para Barcelos,
adquirindo sede própria.
José Casimiro da Silva participou
no acto da outorga da Escritura
notarial, em Guimarães, pelas 11h
do dia 11 de Janeiro, conforme
pode ler-se na página 91 da Revis-
ta Gil Vicente, n.º 9 – vol. III da 3ª
série, referente ao trimestre Janei-
ro /Março de 1982.
Durante o X Encontro dos sócios
do GI que decorreu no Centro
Cultural de Vila Real e no qual
participaram 63 publicações re-
gionais, tomaram-se diversas de-
cisões que foram publicadas na
Revista nº 12 – vol. III – 3ª série,
referente ao 4º trimestre de 1982,
pp. 378/382. Numa dessas pá-
ginas pode ler-se que com a pre-
sença de 75 sócios do IPIR foram
eleitos os primeiros corpos geren-
tes para o mandato de 3 anos. José
Casimiro da Silva passou a fazer
parte como vogal da Assembleia
Geral, presidida por Manuel da
Costa Figueira, Director Geral da
Comunicação Social.
No número duplo: 13/14 – Vol. IV
– 3ª série, propriedade do Gabi-
nete de Imprensa, na rubrica re-
gular, onde se fazia a súmula de
notícias alusivas ora ao GI ora ao
IPIR, página 90/91 noticia-se o
Encontro da Imprensa Regional
que decorreu em Fafe promovido
pelo «Povo...» daquela cidade. De
entre outros assuntos: «foi evocada
a figura gigantesca no jornalismo,
desaparecida em 22 de Março
último e que foi grande entusias-
ta, quer do G.I. quer do I.P.I.R.:
José Casimiro da Silva. Algumas
deliberações foram tomadas no
sentido da sua evocação pública,
a começar pela edição de um livro
bibliográfico, cuja tarefa foi aco-
metida ao Escritor Dr. A. Lopes
de Oliveira...».
Uma dessas deliberações consistiu
na proclamação dele como Sócio
Honorário.
O que deixo dito foram os factos
que me aproximaram desse «gi-
gante» da imprensa regional. Um
Homem que deixou rasto perfu-
mado nos caminhos que trilhou
no jornalismo. Sério, culto, solidá-
rio, combativo, foi um verdadeiro
mestre. Essa geração de ilustres
obreiros da pena fertilizou-me e
a vários outros que enfrentámos
um período revolucionário muito
complexo para a imprensa.
Pessoalmente devo muito à linha
de orientação editorial que bebi
em José Casimiro da Silva. Em 23
de Janeiro último completei 62 anos
ininterruptos da militância jorna-
lística…Infelizmente foi na quali-
dade de director da Delegação do
Porto da Direcção-Geral da Co-
municação Social que representei
o Director-Geral, Manuel Figuei-
ra, no funeral de José Casimiro.
Ambos já partiram.
A imprensa regional que um e
outro tão bem defenderam, após a
sua morte, entrou em decadência.
Um ano depois do desapareci-
mento do director do Estrela da
Manhã e do saneamento selvagem
de que Manuel Figueira foi víti-
ma, a imprensa regional ficou órfã.
Substituiu-o um dos principais
coveiros do país que, desde aí, con-
taminou todos os sectores da vida
portuguesa. Também já partiu e
por isso não cito o seu nome.
Bem-haja quem se lembrou de
prestar esta justíssima homena-
gem a um dos mais competentes
jornalistas do século XX.
JOSÉ CASIMIRO DA SILVA Mestre no jornalismo
José Casimiro da SilvaUm grande Cidadão, um grande Homem
EM MEMÓRIA DE JOSÉ CASIMIRO DA SILVA
EM MEMÓRIA DE JOSÉ CASIMIRO DA SILVA
de grande envergadura.
Não seria preciso que eu o disses-
se e a prova disso é esta homena-
gem, que é da terra.
Mas acho que há verdades que
nunca é de mais reafirmar. São
imperativos da consciência e dos
afetos. São indícios palpáveis do
calor que envolveu pessoas que
nasceram e viveram nas mesmas
paisagens, nas mesmas ruas, que
respiraram o mesmo ar.
É esse o caminho, a meu ver, que
conduz ao sentimento de pertença
a uma terra e a uma comunidade.
É esse o caminho que hoje nos une
a propósito e em torno da saudade
desse famalicense de primeira gran-
deza que foi José Casimiro da Silva.
Profundamente bairrista e dadivo-
so, integrou os corpos diretivos das
principais associações famalicen-
ses, nomeadamente a dos Bombei-
ros Voluntários de Famalicão, onde
manteve um acentuado convívio
com meu pai que acabou por pro-
piciar o nosso conhecimento. Nin-
guém de Famalicão, do seu tempo,
poderia resistir à sua eloquência.
Para além disso, um pequeno e
anódino facto fez com que o «Zé
Casimiro» ficasse mais ligado a
mim: tinha manuscrito e, depois,
datilografado o meu primeiro li-
vro de poemas. Mas, como publi-
cá-lo!? Pensei e andei de um lado
para o outro até que, abriu-se-me
uma luz, resolvi ir falar com o «Zé
Casimiro», apesar de já não estar
com ele havia uns tempos por-
que a minha vida profissional me
obrigara, entretanto, a deixar a
minha terra. Trabalhava ele então
na mesma rua mas noutras insta-
lações. Éramos mais velhos, mas
ele continuava com aquela mesma
elegância de atleta e desportista,
que também o era – que o digam
os seus companheiros de caça e
pesca – e com aquele mesmo ar
de intelectual um tanto distante
mas apaixonado, em simultâneo;
abraçámo-nos, trocámos impres-
sões sobre o passado, sobre o que
eu fazia então, onde eu estava….
Disse-lhe o que pretendia e inda-
guei da sua disponibilidade para
o efeito; recordo um seu sorriso
ténue – era muito parco em sorri-
sos o seu rosto – e logo, pegando
no «manuscrito», me afirmou que
o ia ler mas que via possibilidades,
à partida, de o publicar. Deu-me
uma resposta positiva passados
uns dias e, algum tempo decorri-
do, depois das conversas e troca de
ideias próprias destes assuntos, o
livro estava feito e foi distribuído.
Não sei bem se já existia uma ami-
zade que permitisse aquela cola-
boração ou se foi essa colaboração
que fez nascer a amizade. O que é
certo é que foi essa colaboração e o
seu fruto que selaram incontorná-
vel e inesquecivelmente a nossa li-
gação. Uma ligação que nasceu da
intuição recíproca que tivéramos,
eu criança ainda, ele homem já ex-
perimentado nas letras, de que al-
guma coisa teríamos de dar um ao
outro, que alguma coisa havíamos
de fazer juntos: e assim foi.
Cada vez mais embrenhado na
minha vida profissional, o tempo
e a distância foram-nos separando.
Mas o seu espírito, os seus escritos,
o seu porte, o seu estar na sua ter-
ra, na «nossa terra», eram-me ines-
quecíveis. E é por isso que quando
me vem à ideia um sem-número
de vivências, minhas e dos meus
amigos daquele tempo, o José Ca-
simiro, que era doutra geração,
aparece como uma figura de refe-
rência literária, cultural e humana
seu arguto olhar resultava a objeti-
vidade e imparcialidade com que
relatava as notícias dos aconteci-
mentos que se iam sucedendo, fos-
sem eles relativos à Câmara Mu-
nicipal e freguesias, aos bombeiros
– quer «de cima» quer «de baixo»
– ao Futebol Clube de Famalicão,
ao Famalicense Atlético Clube,
aos momentos do quotidiano mais
marcantes dos cidadãos e sei lá
que mais…; daquela sensibilidade
vinha o calor e a paixão com que
falava dos que lhes eram mais que-
ridos, dos «bombeiros de baixo» e
dos que neles «militavam», como
era o caso de meu pai, e de tudo
o que, para além de uma perspe-
tiva meramente noticiosa, merecia
a atenção da sua compreensão e
humanidade. Mas se era assim nas
letras, também na palavra o José
Casimiro não ficava atrás: possuía
um particular dom de orador com
extraordinária capacidade de im-
proviso, o que, conjugado com uma
memória privilegiada, com a afir-
matividade da sua presença e com
o calor da sua voz, dava aos seus
discursos uma carga persuasiva
e de arrebatamento a que era im-
possível ficar indiferente. Foi essa
invulgar caraterística oratória que
muito contribuiu, certamente, para
a grande força organizativa que lhe
permitiu dar peso e relevo a todos
os empreendimentos em que se
empenhou.
uma certa regularidade o «Zé Ca-
simiro», umas vezes quando ele se
encontrava com meu pai, outras,
já mais tarde e movido pela curio-
sidade de ver como se faziam os
jornais, quando sozinho o ia visitar
nas instalações da então «Miner-
va», na Rua Barão da Trovisquei-
ra, onde ele trabalhava na direção
e edição do seu jornal. Ainda me
explicou, vagamente mas tanto
quanto o permitiria a minha com-
preensão, como se procedia ao
alinhamento dos caracteres, como
daí sairia um texto escrito e como,
depois, nas «máquinas», nas rota-
tivas, ele poderia ser reproduzido
um número incontável de vezes e
ser consubstanciado no «jornal».
Ia sabendo, entretanto e vagamen-
te, que o José Casimiro era autor
de versos e prosa e que «fizera» já
diversos livros.
Não tinha ainda, nessa altura, a
perceção do conteúdo dessas le-
tras nesses textos, mas viria a sa-
ber, mais tarde embora, que neles
vinha escrita a personalidade do
seu autor, o pensamento que ia
naquela cabeça emoldurada pela
boina basca e com aquele olhar
tão penetrante, debaixo e quase
escondido pela pesada estrutura
dos seus óculos. Nessa persona-
lidade vinha escrita a sua poética
sensibilidade e o seu arguto olhar
de jornalista a que nada do que se
passava na sua terra escapava. Do
Representantes da Imprensa Regional numa visita à Cutipol, na década de 80, do séc. XX.
Da esq. para a dir.: José Casimiro da Silva, Luís Lencastre, Barroso da Fonte e Carlos Sousa Brito (Secretário de
Estado da Comunicação Social). Em pé José de Abreu.
(continua na página seguinte)
José Casimiro da Silva acompanhado de um sobrinho,
no Clube de Caçadores de Famalicão.
6 7ESTRELA DA MANHÃ ESTRELA DA MANHÃ
Janeiro 1968Recebe o 1.º prémio da «Celulose
do Tâmega» pelo seu trabalho sobre
o tema Das belezas da Serra do Ma-
rão, publicado no jornal «Estrela da
Manhã» em Maio de 1967.
Maio 1968Promove e organiza o V Encontro
da Imprensa Regional de Aquém-
-Douro, em Vila Nova de Famalicão.
1973É eleito Presidente da Assembleia-
Geral da Associação Humanitária
de Bombeiros Voluntários de Vila
Nova de Famalicão para o triénio
1973-1976. É eleito para o Conse-
lho Geral do Grémio da Imprensa
Não-Diária, no triénio de 1973-1975,
como representante da imprensa do
Norte do país.
1974É designado 2º vice-Presidente do
Rotary Clube de Famalicão.
1976É eleito Presidente do Rotary Clu-
be de Famalicão.
26 Julho 1980Famalicão presta homenagem a
José Casimiro da Silva. Recebe a
Medalha de Ouro de Reconheci-
mento da Câmara Municipal de
Vila Nova de Famalicão, à época
presidida por Antero Alexandre
Castro Martins e, em Calendário,
terra da sua naturalidade, é atri-
buido o seu nome a uma rua.
1982É eleito Presidente da Assembleia-
Geral da Banda do Grupo Recreati-
vo Musical de Famalicão.
Integra o grupo fundador do Institu-
to Português de Imprensa Regional.
23 Março 1983Morre aos 81 anos na sua casa,
freguesia de Calendário, em Vila
Nova de Famalicão.
29 Maio 1901José Casimiro da Silva, filho de
Domingos Casimiro da Silva e de
Belmira Rodrigues Correia da Sil-
va, nasce na freguesia de Calendá-
rio, do concelho de Vila Nova de
Famalicão.
1917-1918Publica as suas primícias literárias
no jornal «O Darquense», de Via-
na do Castelo.
1922Reúne os seus primeiros poemas
num caderno, intitulando esta co-
lectânea Versos: Rosas d’ Espinhos.
Agosto 1925Integra o grupo fundador do novo
periódico famalicense «O Minho-
to». Em Novembro, três meses de-
pois da saída do primeiro número
para as bancas, o jornal suspende
a publicação.
1926É admitido na redacção do jornal
«Estrela do Minho» de que era
proprietário, director e editor Ma-
nuel Pinto de Sousa.
Agosto 1928Ao fim de «dois anos de tirocínio
sob os olhares paternais de Pinto
de Sousa» é-lhe entregue a direc-
ção do jornal.
1933-1934Exerce o cargo de 1.º Secretário
da Direcção da Associação Co-
mercial e Industrial de Vila Nova
de Famalicão.
1936-1938Exerce o cargo de 1º Secretário da
Direcção da Associação Humani-
tária de Bombeiros Voluntários de
Famalicão.
IAs festas de Vila Nova
Ressurgem hoje de novo,
Alegres como uma trova
Na boca do nosso povo.
Rapazes e raparigas,
Cantemos Famalicão
Que as nossas lindas cantigas
São vozes de coração.
Coro Nossas vozes argentinas
São um coro sem igual
Vinde ver as “Antoninas”
Multidões de Portugal!
Em trovas do nosso jeito,
Saídas do coração,
gritemos a todo peito:
Avante Famalicão!
As nossas ruas modestas
Despertam mais uma vez:
Por elas passam as festas
Do Santo mais português.
Ao vê-las do Paraíso,
Santo António de Lisboa
Olhou-nos com um sorriso
De quem acha a festa boa…
IINo dia das Antoninas
Pecado é trabalhar.
Dos campos, das oficinas,
Tudo tem que vir folgar!
Já tocam as concertinas
A roda anda e desanda!
No dia das “Antoninas”
É Santo António quem manda!
José Casimiro da Silva
Agosto 1938Passados quatro anos da morte de
Manuel Pinto de Sousa, José Casi-
miro chama a si a propriedade do
jornal, passando o seu nome a fi-
gurar no cabeçalho como proprie-
tário, director e editor do jornal
«Estrela do Minho».
Década de 1940É correspondente dos jornais «Diá-
rio Popular» de Lisboa e d’«O Pri-
meiro de Janeiro» do Porto.
Fevereiro 1940Toma posse do cargo de Presidente
da Assembleia-Geral do Grémio
Nacional dos Industriais de Tipo-
grafia e Fotogravura.
1942-1945Exerce o cargo de vereador na Câ-
mara Municipal de Vila Nova de
Famalicão.
Janeiro 1946É eleito Presidente da Direcção
do Futebol Clube de Famalicão
para o triénio 1946-1949.
1946-1950Exerce o cargo de vereador na Câ-
mara Municipal de Vila Nova de
Famalicão.
Março 1952Abre uma nova tipografia – Cen-
tro Gráfico – na Avenida Barão
de Trovisqueira, no edifício onde
tinha funcionado o Centro Indus-
trial do Minho.
Agosto 1953 Perfaz 25 anos na direcção do jor-
nal «Estrela do Minho».
1955-1958É membro do Conselho Munici-
pal de Vila Nova de Famalicão,
na qualidade de representante da
Casa do Povo.
Junho 1955 Apresentação de um documentário
sobre Famalicão, realizado por An-
tónio Ricardo Malheiro, no Cine-
ma Trindade do Porto, numa sessão
reservada à vereação municipal. O
texto do documentário, com locu-
ção de Fernando Pessa, é da autoria
de José Casimiro da Silva.
1958Amante de pesca, sobretudo da pes-
ca de trutas, publica, em edição do
autor, Trutas e Turismo: Dos cursos
de água de Entre-Douro-e-Minho aos
rios e regatos dos Altos Minho e Dou-
ro e das belas regiões bragançãs.
Março 1959Participa na I Reunião da Imprensa
Regional Sector Norte, que se rea-
liza no Estoril, como representante
do jornal «Estrela do Minho».
Junho 1959As Festas Antoninas voltam a ser
cartaz turístico em Vila Nova de Fa-
malicão, após um interregno de mais
de 44 anos. José Casimiro, responsá-
vel pela organização da Parada Fol-
clórica, integra a Comissão Execu-
tiva das Festas Antoninas de 1959.
11 Abril 1960Funda o novo periódico «Estrela
da Manhã» depois de ter abando-
nado a direcção do jornal «Estrela
do Minho».
17 Dezembro de 1960É um dos principais promotores da
homenagem a Vasco César de Car-
valho, um dos seus amigos de adoles-
cência e companheiro nas tertúlias
do «Café Júlio», onde também mar-
cavam presença Júlio Brandão, Se-
bastião de Carvalho, Carlos Bacelar,
Álvaro Corte-Real, Higino Robalo e
Alexandrino Costa.
1961-1969Exerce o cargo de Secretário da Mesa
Regedora da Santa Casa da Miseri-
córdia de Vila Nova de Famalicão.
Novembro 1961Como mesário do Hospital é cha-
mado a participar num grupo de
trabalho, constituído pelo Pre-
sidente da Câmara, Eng.º José
Pinto de Oliveira, Provedor da
Misericórdia, Amadeu Mesquita,
Reverendo Joaquim Fernandes
e José Horácio Moreira de Car-
valho, com vista à resolução de
assuntos relacionados com a nova
unidade hospitalar de Famalicão.
23 Novembro 1962Profere a conferência «O Orfeão Fa-
malicense ao longo de três gerações:
subsídios para a sua história e alguns
aspectos da vida cultural, artística,
social, económica e política de V.
N. de Famalicão, a partir de 1910»,
realizada no Ateneu Comercial e
Industrial de Famalicão no âmbito
do programa das comemorações do
5.º aniversário da reorganização do
Orfeão Famalicense e do 46.º ani-
versário da sua fundação.
27 Março de 1963Na qualidade de secretário da
Santa Casa da Misericórdia é re-
cebido, juntamente com o Prove-
dor Amadeu Mesquita e o Presi-
dente da Câmara, em audiência
pelo Ministro das Obras Públicas,
Eng.º Arantes e Oliveira.
1964-1966Exerce o cargo de Presidente da
Comissão Venatória do Conce-
lho de Vila Nova de Famalicão. É
eleito Presidente da Assembleia-
Geral da Associação Humanitária
de Bombeiros Voluntários de Vila
Nova de Famalicão para o triénio
1964-1966.
Abril 1964Preside aos trabalhos do I Encontro
da Imprensa Regional de Aquém-
Douro, em Viana do Castelo.
Maio 1965Preside aos trabalhos do II En-
contro da Imprensa Regional de
Aquém-Douro, em Guimarães.
Dezembro 1965É eleito Secretário da Mesa Regedo-
ra da Santa Casa da Misericórdia.
1967É eleito Presidente da Assembleia-
-Geral da Associação Humanitá-
ria de Bombeiros Voluntários de
Vila Nova de Famalicão para o
triénio 1967-1969.
20 Fevereiro 1967Como decano dos jornalistas fa-
malicenses é o escolhido para dis-
cursar no almoço em honra dos
órgãos de informação, oferecido
por Cupertino de Miranda, Presi-
dente dos Conselhos de Adminis-
tração dos Bancos Português do
Atlântico e Comercial de Angola.
Diz o ditado popular que “De médico e de louco todos temos um pou-
co!” ou se preferirem que “De sábio e de louco todos temos um pouco!”
e eu por analogia fiz uma adaptação para “De poeta e de louco todos
temos um pouco!”, e assim dar a conhecer uma faceta de meu Pai, ao di-
vulgar uma poesia e sonetos com dedicatórias pessoais, e nunca publicados.
Domingos Casimiro
Nos teus anos
No dia de aniversário de sua mulher, Maria José-
Nem a brincar se diria
Que me esqueci deste dia
Vinte e sete de Janeiro;
Entre uma jóia e dinheiro
Depois de muito pensar
Resolvi dar-te Maria
Tão cheio de meditar
Não o que queria - milhões
Mas aquilo que é moedas
Com que se compram melões...
É pouco bem sei que é,
Mais seria o meu desejo,
Mas se lhe juntares um beijo
Que dirás, Maria José?...
27-01-1968
Soneto
No 7.º aniversário de minha filha Belmira Maria
Se as musas consentirem no desejo
De ofertar-te um soneto nesta hora
Catorze versos vou fazer-te, embora,
Receie a forma... Há quanto não versejo!
Sete anos, filha, vais fazer agora
Boneca em cujos olhos me revejo!
- E se eu deixasse os versos e num beijo
Dissesse da ternura que em mim mora?
Seis versos inda faltam, meu tesouro
Em árduos decassílabos compor,
E o fecho deve ser com chave de ouro...
Quase no fim desisto. É bem melhor
Depositar em teu cabelo louro
Catorze beijos, meu ditoso amor!
09-04-1958
Morrer d’ Amor!
“Á minha musa inspiradora”
Morrer d’ amor é morte tão linda,
Tão sublime, e tão desejada
Quão dura é a saudade infinda,
Que se sente pela mulher amada!
Assim queria eu morrer... A amar...
Morrer a ver-te através duma visão
E o teu nome santo a balbuciar...
E sem vida já um pobre coração!...
Assim queria eu morrer... Acabar
A minha existência, que é tão cruel
E no Paraíso só p’ra te velar!
E depois tua vinda aguardar
Com calma, resignação mas sem fel
E vivermos eternamente a amar!!!
26-12-1921
Marcha das Antoninas
MEMÓRIAS DE INFÂNCIAA minha Páscoa
UMA VIDA DEDICADA À TERRA
Os «Maios» e o Primeiro de MaioMenino e moço, com os meus sete
anos (lembro-me como se fora
hoje!) não havia véspera do 1.º de
Maio que não me trouxesse, a mim
e aos meus companheiros vizinhos,
a grata tarefa de ir à procura dos
«Maios» que à noite haveriam de
ser religiosamente postos nas portas
e janelas da nossa e das outras por-
tas, e janelas da nossa e das outras
casas, não fosse o «diabo», feito «ca-
valo branco», investir sobre as nos-
sas casas, forçar postas e janelas e
levar-nos para os seus «domínios»…
O «Maio» geralmente, era for-
mado por uma roda de giestas,
armando-se, depois, com a habi-
lidade de cada um, uma coroa de
flores, onde as de cor amarela, ti-
nham «maior «poder» para conter
o «maio» em respeito! Outros, for-
mavam cruzes dos mais variados
tamanhos e não havia casa onde
não se insinuasse, pelo menos, um
ramo de giestas de flores amarelas.
Recordo-me também que no 1.º
de Maio corria para a margem da
linha para ver as locomotivas ca-
prichosamente ornamentadas de
verdura e giestas. Era assim o 1.º
de Maio há sete dezenas de anos,
conjugado com a obrigação de, to-
das as tardes, durante o «Mês de
Maio» não faltar a um só dos seus
piedosos exercícios na igreja de S.
Julião do Calendário
José Casimiro da Silva
«Estrela da Manhã». – A. 19, n.º 944 (3 Maio 1978).
NatalEnternecedora, emotiva e cari-
nhosa festa a do Natal, em que as
crianças, mal passam os Santos,
começam, ansiosamente, a contar
pelos dedos, os dias que para ela
faltam… «Dos Santos ao Santo An-
dré, um mês é»… «Do Santo An-
dré ao Natal, um mês que tal»… /
E depois do Santo André, lá vinha
a «Senhora da Conceição» e com
ela, após a ceia, a reza em coro
Se me lembro!
A Páscoa tinha para mim um en-
cantamento indizível, proporcio-
nando-me estranhos e confusos
sentimentos de alegria e tristeza,
de consolação e de amargura, de
entusiasmo e de dor, de arrebata-
mento e de meditação.
E não se limitava àquele domingo
deliciosamente festivo e ansiosa-
mente esperado, cuja missa, feita
de rápidas e rejubilantes expres-
sões de aleluia e em contraste
com a de Ramos, tinha para mim,
garoto traquina que não parava
um quarto de hora num só sítio, a
enormíssima vantagem de não ter
Evangelho e de durar somente uns
rápidos minutos!
Espantosamente fiel aos mais lon-
gínquos episódios da infância, a
minha memória arquiva ainda o
alvoroço vivido nesses domingos
de sol radioso, com o repicar de-
lirantemente festivo dos sinos, o
estralejar contínuo dos foguetes,
as estradas e os caminhos trans-
formados em tapetes de verdura,
misto de abróteas, de lilases e rosas
por onde passaria o «Compasso»,
à frente de cujo séquito, composto
pelo senhor Abade, pelo «homem»
da Cruz, pelo rapaz do hissope e
pelo «homem» do cesto cheiinho
de maças e de estranhos ovos cor
de violeta, vinha o rapaz da cam-
painha a encher de alvoroço a al-
deia.
E eu ajoelhava-me e nós ajoelhá-
vamos para beijar o Senhor – uma
imagem de prata caprichosamente
enfeitada de flores, trena e talhão,
rescendendo a cravo – em volta de
uma mesa redonda, ao centro da
qual e sobre uma toalha rendada e
engomada de alvo linho, se encon-
trava o raminho espetado numa
linda maça previamente adquiri-
da e guardada contra as tentações
da «canalha» para oferecer ao se-
nhor Abade!
E enquanto o senhor Abade, a
suar as estopinhas, se sentava um
minuto para debicar, forçadamen-
te, um doce e humedecer os lábios
com uma gota de «vinho fino» a
sua comitiva deixava escorregar
deliciosamente o cálice, lambia os
beiços e recebia as oferendas. E
lá se iam de novo, aleluia, aleluia,
aleluia, enquanto eu me precipi-
tava lépido sobre a sala de visitas,
tentado pela doçaria e pelo cálice
do senhor Abade que quase ficou
intacto…
José Casimiro da Silva
«Estrela do Minho». – A. 47 n.º 2420 (5 Abr. 1942)
daquele enorme rosário de contas
brancas, enfiadas num cordão ver-
melho, ao qual estava presa uma
fita com uma linda mensagem da
padroeira de Portugal, que minha
avó, a família à sua volta na peque-
na sala, «deitava» pausadamente
na sua voz quase centenária: «Se-
nhora da Conceição… Senhora da
Conceição… porque Vós disseste
quem o Vosso Santo nome nome-
asse cento e sessenta vezes, que
lhe havíeis de acudir em todas as
aflições»… Lembro-me como se
fora hoje! Não havia dúvidas…
estava pertíssimo o Natal! Cá fora
a geada caía e nós chupávamos
o gelo roubado às poças e armá-
vamos ratoeiras aos pardais… E
a imaginação da criança era um
mundo de felicidade!
José Casimiro da Silva
«Estrela do Minho». – A. 55, n.º 2824 (25 Dez.
1949), p. 1
José Casimiro da Silva com 1 ano de idade.
8 9ESTRELA DA MANHÃ ESTRELA DA MANHÃ
Almeida Pinto
Tive conhecimento que a memó-
ria de José Casimiro da Silva vai
ser alvo duma homenagem em 3
de Maio deste ano.
Fiquei contentíssimo ao tomar
conhecimento desta notícia e de
imediato aceitei o convite para
estar presente e escrever algumas
palavras para uma edição especial
do “Estrela da Manhã”, que foi
uma referência importante da im-
prensa regional e que tantas recor-
dações nos trás à memória.
É uma honra para mim poder to-
mar parte num acto de enorme
justiça para com um Vulto Fa-
malicense que pertence e sempre
pertencerá à história de V. N. de
Famalicão.
Conheci muito de perto José Ca-
simiro da Silva e entre nós havia
enormes laços de amizade, forta-
lecidos ao longo dos tempos por
uma grande e franca convivência.
Com José Casimiro da Silva
aprendia-se sempre. Era um en-
canto ouvi-lo falar. Belíssimo con-
versador, elegante nas palavras,
profundo nas ideias, um intelectu-
al de enorme cultura. Um orador
por excelência onde as palavras
fluíam com grande entusiasmo e
facilidade e sempre rendilhadas
e envoltas num perfume intenso e
que eram um encanto para quem
tinha o privilégio de o ouvir.
Figura imponente, alto, boa com-
José Casimiro da Silva
Famalicão não tem cordilheiras,
nem serras, nem mesmo altitudes
de pasmar. Não tem rios caudalo-
sos, nem castelo feudais, por entre
cujas ameias soldados da funda-
ção, defendessem ou atacassem,
para criar o Portugal que havia de
ser e é eterno.
Tudo aqui é modesto e simples.
Mas vós, ó forasteiro ou turista, se
aqui vierdes, não vades daqui em-
bora sem que subais a São Tiago
António Cândido de Oliveira
Em 23 de Julho de 1980 escrevía-
mos na “Estrela da Manhã”, num
espaço de publicação semanal,
intitulado “Pequenas Coisas”, de-
dicado à vida local, o seguinte: A
homenagem que vai ser prestada
ao Director deste Semanário é um
acto de inteira justiça. Com efeito,
merece ser saudado de um modo
muito significativo um famalicen-
ses que, ao longo de várias déca-
das, se tem interessado e tem luta-
do pelo bem da sua terra. Tem sido
principalmente à frente da “Estre-
la” que José Casimiro da Silva tem
mostrado o muito amor que tem a
Vila Nova de Famalicão”. E acres-
centava:” Aprecio desde há muito
pleição física, elegantemente ves-
tido, rosto aberto, óculos gradua-
dos, cabelos raros, um cavalheiro.
José Casimiro da Silva aliava a
tudo isto uma facilidade enorme
para escrever, onde transparecia
toda a sua personalidade e ma-
neira de estar na vida. De grande
frontalidade, mas duma correção
sem limites.
José Casimiro da Silva era um jor-
nalista de mão cheia, com punhos
de renda e caneta de oiro.
Defensor acérrimo dos ideais re-
publicanos e democráticos, nunca
deixou de expor, através da orató-
ria ou da escrita, aquilo que pensa-
va ser o melhor para o seu Portugal
ou para a sua V. N. de Famalicão.
José Casimiro da Silva era um
bairrista dos quatro costados. Re-
cordo com saudade os seus artigos
onde defendia, no seu estilo vigo-
roso e de grande entusiasmo, as
causas nobres para o seu e nosso
Concelho de V. N. de Famalicão,
que ele amava profundamente e
serviu como um sacerdócio.
Fez parte da Câmara Municipal
desde 1943 a 1950, Conselheiro
Municipal a partir de 1951, foi se-
cretário da Mesa Regedora da San-
ta Casa da Misericórdia, presidiu à
Comissão Venatória, secretariou o
Clube de Caçadores e a Casa dos
Pobres. Foi diretor da Associação
Comercial e Industrial, do Orfeão
Famalicense e grande animador
das Festas Antoninas, presidente
da Cruz, a maravilhar-vos da vista
dos vales de São Martinho e São
Cosme, e a estender o olhar para
o infinito poente, do miradouro do
Senhor dos Aflitos; ide a Lemenhe
e subi à Senhora do Carmo; trepai,
em fácil alpinismo, ao alto do Fa-
cho e Santa Catarina; deleitai-vos
com o lirismo e graça do Moledo
escalavrado e pedregoso; reparai
no templo de São Tiago de Antas
e no de Santa Maria de Oliveira,
entrai no Mosteiro de Landim e
escutai, se não for mera ilusão, o
o seu bairrismo, a elevação do seu
estilo jornalístico e o seu espírito
de abertura e tolerância”. Coloca-
va ainda uma nota pessoal dizen-
do: “ Lembro-me que a Estrela foi
o primeiro jornal famalicense que
comecei a ler. Ele chegava a casa
de meus pais, aos domingos, por
volta das 11 horas”.
(Para quem estranhe esta chegada
dominical do jornal é preciso lem-
brar que naquele tempo os CTT
distribuíam correio aos domingos)
O ato principal dessa homenagem
teve lugar no auditório da Funda-
ção Cupertino de Miranda, no dia
26 de Julho de 1980.
Um número especial da “Estre-
la” de 6 de Agosto do mesmo ano,
dava conta detalhada de toda a
da Casa do Povo do Calendário
e Vilarinho das Cambas. Serviu,
como sempre o fez, em todas as
Associações e Coletividades por
onde passou como o Clube Rotá-
rio, o Futebol Clube de Famali-
cão, os Bombeiros Voluntários de
Famalicão, desinteressadamente
e “pro bono público”. A sua acção
meritória esteve presente desde o
campo do desporto, da cultura, da
saúde, das instituições de solida-
riedade social e de recreio, até às
esferas superiores da Administra-
ção Municipal.
Como disse atrás, foi com grande
regozijo que recebi a notícia e o
convite para uma cerimónia de ho-
menagem a José Casimiro da Sil-
va, famalicense que recordo com
muita saudade e que perdurará
para sempre na minha memória.
Nunca é demais lembrar os ho-
mens Bons e Grandes Figuras Pú-
blicas que de uma maneira ou de
outra foram acérrimos defensores
e amantes da terra que os viu nas-
cer e por ela deram sempre o seu
melhor.
A terminar não posso deixar de
lembrar, e que me perdoem, aque-
le já longíncuo dia de 26 de Julho
de 1980, em que tive a enorme
honra e o orgulho de presidir,
como Presidente da Assembleia
Municipal de V. N. de Famalicão
e como Presidente da Comissão
Executiva de Homenagem a José
Casimiro da Silva, à sessão sole-
som harmonioso que vem do coro
e se alastra, em vaga e murmúrio,
pelas alturas da arcaria, parecendo
que ali ficou, para sempre com eco
dos salmos cantados pelos velhos
cónegos Agostinho que ali viveram.
O Nosso Concelho: Vila Nova de Fama-
licão e as suas indústrias, comércio, pro-
fissões liberais e agricultura. Org. Carlos
Sousa Machado e Lamarck Rebelo; colab.
Alexandrino Costa e José Casimiro da
Silva. Vila Nova de Famalicão: C.S.M :
L.R., 1947
homenagem, que teve no Dr. Al-
meida Pinto, então Presidente da
Assembleia Municipal, um dos
principais animadores. A ela se
associaram um largo conjunto de
instituições a que o homenagea-
do estava ligado. Assim , o Rotary
Club de Famalicão, a Associação
Comercial, os Bombeiros Volun-
tários de Famalicão , a Santa Casa
da Misericórdia, a Banda Musical,
o Futebol Club de Famalicão e
ainda outras. Na intervenção que
fez, José Casimiro confessa aqui-
lo que norteou a sua vida pública
e que demonstrou , na verdade,
com atos: o amor a Vila Nova de
Famalicão.
Pode por isso dizer-se que esta
homenagem, que os seus descen-
ne na Fundação Cupertino de
Miranda e onde esteve presente
a nata de V. N. de Famalicão e
as mais altas individualidades do
Distrito de Braga e onde tanta
gente e tanto calor humano envol-
veram o homenageado.
Recordo com grande saudade e
forte emoção ao constatar que
tantos Amigos Bons e que tanto
deram por V. N. de Famalicão já
partiram para outro Mundo e que
se solidarizaram num forte abraço
de homenagem a José Casimiro da
Silva naquele penúltimo sábado
de Julho de 1980 e que se associa-
ram à entrega da Medalha de Oiro
de Reconhecimento da Câmara
Municipal de Concelho de Vila
Nova de Famalicão, à Medalha de
Oiro de Duas Estrelas da Liga dos
Bombeiros Portugueses, à Meda-
lha de Oiro dos Serviços Distintos
da Associação Humanitária dos
Bombeiros Voluntários de Famali-
cão, ao Emblema de Oiro do Fu-
tebol Clube de Famalicão, à Lira
de Oiro do Orfeão Famalicense,
ao Diploma de Sócio Benemérito
do Grupo Recreativo e Musical
Famalicense (Banda de Música de
Famalicão), à Medalha “Vermeil-
le” da Associação Comercial de
Famalicão, à Medalha comemo-
rativa da Associação dos Antigos
Alunos do INA. Seguiu-se o des-
cerramento em Calendário, fre-
guesia onde residia José Casimiro
da Silva, acto que foi aplaudido
dentes em boa hora promovem, é
também uma homenagem a Vila
Nova de Famalicão. E assume as-
sim uma especial atualidade. Com
ela transmite-se uma mensagem: a
de que vale a pena lutar pela nossa
terra que tanto precisa.
Estamos a atravessar um tempo di-
fícil em que assuntos da maior im-
portância para o concelho estão à
espera de uma adequada solução.
Famalicão corre o risco de perder
serviços públicos da maior utilida-
de; corre o risco de não conseguir
infraestruturas e equipamentos im-
portantes e principalmente corre o
risco de não dar o salto qualitativo
de que tanto precisa para se afir-
mar com mais força na região.
Todos devemos ter isso bem pre-
com grande entusiasmo por todos
os presentes.
Permitam-me que transcreva as
palavras proferidas pelo Gover-
nador Civil do Distrito de Braga,
à época, Dr. Fernando Alberto
Ribeiro da Silva, uma referência e
figura pública do PPD/PSD, por
quem sempre nutri uma grande
amizade e simpatia, e que atesta
bem a grandeza da homenagem
que os famalicenses tributaram a
José Casimiro da Silva, já lá vão 34
anos. Disse ele: não conhecendo
nem a pessoa nem a obra de José
Casimiro da Silva, pois encontra-
va-se ali sob convite do Sr. Presi-
dente da Assembleia Municipal
de V. N. de Famalicão, Dr. Al-
meida Pinto, para participar numa
homenagem a um homem bom e
a um jornalista brilhante, saiu dali
confundido pelo que lhe foi dado
observar e ultrapassa – frisou –
tudo quanto no género tem obser-
vado em festas semelhantes no seu
Distrito, terminando por afirmar
ser muito difícil encontrar um jor-
nalista e um cidadão de tamanha
envergadura.
Todos quantos conheceram José
Casimiro da Silva, com a devida
vénia, farão suas as palavras pro-
feridas pelo mais alto Magistrado
do Distrito acerca deste insigne
famalicense.
Ao elaborarmos este pequeno
trabalho, escrito corrente cálamo,
acode-nos à mente aquele dito
pitoresco de um escritor distinto,
segundo o qual a gente minhota
cultivava a arte de empobrecer
alegremente.
O Minho, porém, dentro da sua
pequenez geográfica, é relativa-
mente grande e é possível, por
isso, que o conceito desse dito não
atinja este canto delicioso de terra,
cuja população abnegadamente
devotada ao culto do Trabalho e
do Amor, pratica simultaneamen-
te, olhos postos na interrogação
impressionante do amanhã, a reli-
gião do «pé-de-meia»…
E que a atingisse? Se o sumus desse
conceito quase vale um poema!...
Relativamente nova, Famalicão
deve o seu progresso ao labor in-
cessante da sua gente: à vastidão e
importância da sua rede de comu-
nicações; às albufeiras e à «graça»
do seu Ave incansável e pitoresco;
ao privilégio da sua excelente po-
sição topográfica.
Foi terra essencialmente agrícola
e foi também centro comercial de
primeira ordem. Hoje é um vasto
empório industrial, cujo valor, na
economia da Nação se cifra em lar-
gas dezenas de milhares de contos.
Às suas quarenta e cinco mil al-
mas, excluída a percentagem de
13% devida às crianças, podemos
dar-lhes a seguinte arrumação:
Ocupados na indústria, 20%; na
lavoura, 20%; no comércio, 3%; em
artes diversas, 4 %.
Faltam 40%. Essa percentagem
é absorvida, em partes sensivel-
mente iguais, pela pequena pro-
priedade, pelo pequeno capital (os
chamados remediados de ontem);
pelo governo doméstico e pelos
beneficiados com os rendimentos
das correntes imigratórias e de um
modo especial das do Brasil.
Tal é, economicamente, a posição
das quatro e meia dezenas de milhar
de almas do concelho de Famalicão.
Na vanguarda da sua indústria
encontra-se o ramo de fiação e te-
cidos, que predomina a nascente, a
leste e na própria sede do concelho.
Seguem-se as indústrias de elec-
tricidade; materiais de construção;
sedas e lanifícios; resinosos; traba-
lhos gráficos e fundição.
Para animar toda esta indústria,
dispõe Famalicão de uma rede de
150 quilómetros de estradas que
os camiões percorrem incessan-
temente; de uma rede ferroviária
que abrange 23 quilómetros na
via larga e 30 quilómetros na via
reduzida, e de uma rede conside-
rável de comunicações telefónicas,
com cerca de 100 quilómetros de
linhas. A lavoura tem o seu pre-
domínio a sul, suoeste, oeste, no-
roeste e norte, ou seja desde os
campos ubérrimos de Lousado
e Ribeirão e as agras enormes de
Fradelos, até às leiras mimosas
de Gondifelos, Cavalões, Outiz,
Louro, Mouquim e Nine.
Fora destas zonas, é cuidada parti-
cularmente em Requião, em todo
o vale de S. Cosme e ao longo da
estrada de Guimarães até o ex-
tremo do concelho e de um modo
geral em todas as 48 freguesias de
Famalicão onde é dispensada à la-
voura um carinho especial apesar
das deserções que nesta última dé-
cada se têm observado do campo
para as fábricas.
E como «Pão e vinho andam ca-
minho» temos em abundância na
primeira zona o pão abençoado, e
na segunda o vinho delicioso, que
alimentam para a árdua tarefa do
Trabalho uma legião heróica de
desvelados obreiros.
José Casimiro da Silva – “Aspecto econó-
mico do Concelho” in «Portugal Econó-
mico Monumental e Artístico». Guima-
rães: Editorial Lusitana, 1936.
sente. José Casimiro, que serviu
Famalicão em tempos difíceis
como foram, desde logo os dos
anos 40 e 50 do século passado,
em que também o dinheiro não
abundava, participou ativamente
numa profunda transformação do
nosso concelho e da sua sede.
A melhor forma de o homenage-
armos é lutarmos todos por essas
causas para bem da nossa terra.
E porque uma homenagem deve
deixar algo de concreto com vista
ao futuro vou propor ao filho Do-
mingos José, meu colega de estu-
dos, a reedição atualizada de algo
que me parece ser muito útil para
quem gosta de Famalicão. Vere-
mos se é possível.
José Casimiro da Silva
José Casimiro, a Estrela e Famalicão
Famalicão nas palavras de José Casimiro da Silva A Vila de Famalicão
Aspecto económico do Concelho
«Estrela do Minho». – A. 42, n.º 2130 (6 Set. 1936)
10 11ESTRELA DA MANHÃ ESTRELA DA MANHÃ
OS JORNAIS FALAM DE JOSÉ CASIMIRO“Viveu e Morreu a Servir”
Sandra GonçalvesDirectora d’ O Povo Famalicense
Escrever sobre José Casimiro da
Silva deveria ser fácil, sobretu-
do para quem partilha com ele
a escrita. Não é. Não é porque a
minha e a sua geração não se cru-
zaram. Não é porque não partilho
com ele as raízes, a terra. Não é
fácil porque ao tentar perceber a
dimensão da sua existência, me
esbarrei no excesso informativo
digno dos grandes homens.
Director do jornal “Estrela do Mi-
nho”, entre 1928 e 1960, e depois
fundador e director do “Estrela da
Manhã”, entre 1960 e 1983, José
Casimiro da Silva foi muito mais
do que um jornalista. Pesquisan-
do aprendi que foi vereador da
Câmara Municipal de Famalicão,
fundador do Centro Gráfico, di-
rigente da Santa Casa da Miseri-
córdia, dos Bombeiros Voluntários
de Famalicão, do Grupo Musical
de Famalicão, da Creche-Mãe, do
Clube de Caçadores e fundador
do Rotary Clube de Famalicão.
Tocou estes e muitos mais setores
da sociedade civil famalicense.
Não o tendo conhecido, pareceu-
-me fazer sentido honrar a sua
memória através dos testemunhos
daqueles que com ele privaram, e
que o definem como um homem
com uma profundo amor à sua
terra, e forte vocação de serviço à
sua comunidade. Na primeiro edi-
ção do jornal “Estrela da Manhã”
após a morte do fundador – a 30
de Março de 1983 – Rodrigo Sil-
va escrevia que José Casimiro da
Silva “viveu e morreu a servir”.
No papel de jornalista, escreveu
ao longo de mais de meio século.
A “tolerância era parte integrante
da sua formação política e isso no-
tava-se, quer no contacto pessoal,
quer nos escritos”, escreveu tam-
bém António Cândido Oliveira
no “Estrela da Manhã”, após a res-
caldo da perda.
Falecido aos 81 anos, curiosa-
mente a poucas semanas do 23.º
aniversário do jornal que fundou
– seria celebrado a 11 de Abril de
1983 – também o “Diário do Mi-
nho” lhe reservou uma homenagem,
na edição de 26 de Março. Fernando
da Cruz elogiava-o como “escritor de
fino trato, orador fluente, metódico
em todos os seus actos”.
À distância de uma geração, os
relatos da vida e obra de José Ca-
simiro da Silva deixam perceber
o mérito de um homem dinâmi-
co, inteligente, e de princípios.
Conjugando tudo, a história diz
que era um homem raro. E é de
homens raros que se fazem os mo-
mentos mais felizes, nobres e he-
róicos de uma comunidade. José
Casimiro da Silva deixou marcas
que justificam plenamente uma
homenagem, à passagem do 30.º
aniversário do seu falecimento.
Lembrá-lo é lembrar quão impor-
tante é termos homens como ele
entre nós.
Foi uma figura complexa e multifacetadaRui LimaDirector do Jornal Cidade Hoje
Famalicão sempre foi um concelho
que se afirmou também por via do
jornalismo. No século XX, a par
da pujança industrial que flores-
cia em diversas freguesias do con-
celho e de um comércio cada vez
mais forte, vários títulos de jornais
registavam a vida famalicense e
colocavam impressa a história dos
seus protagonistas. Assim se foi es-
crevendo a História de Famalicão e
a José Casimiro da Silva devemos
muitos dos registos desse tempo
não muito longínquo mas diferente
do vivido hoje.
Na primeira metade do século XX,
os jornalistas não usavam computa-
dores, MP3, a Internet e as máquinas
fotográficas não eram digitais, mas a
palavra tinha, como continua a ter,
apesar de tudo, uma força vulcânica.
Mas José Casimiro da Silva foi uma
figura profícua famalicense não só
nas letras, mas igualmente na cul-
tura e nos movimentos associativos.
Para quem não sabe, foi publicista
e jornalista, director do “Estrela do
Minho” e posteriormente proprie-
tário do jornal “Estrela da Manhã”.
Não posso deixar de sublinhar o
virtuosismo da acção de José Ca-
simiro que, já no seu tempo, con-
tribuiu para o que hoje se define
como “marketing territorial”; uma
vez que muita da notoriedade de
Famalicão desse tempo deve-se à
acção dos jornais. Por exemplo, dos
vários títulos que publicou, registe-
se o “Elucidário Turístico do Con-
celho de Vila Nova de Famalicão e
Roteiro do Minho” ou “O Orfeão
Famalicense ao Longo de Três
Gerações”, focando neste último
a República no seu início em Fa-
malicão, não só no plano político,
como cultural; como interessante é
um texto em que aborda a proble-
mática de Riba de Ave a Concelho
(1914), ou a visita a Famalicão de
Bernardino Machado.
Em 1980, um grupo de amigos
prestou-lhe, na Fundação Cupertino
de Miranda, uma homenagem e a
Câmara Municipal de Famalicão,
da qual foi vereador da Cultura, na
década de 40, atribuiu-lhe a Meda-
lha de Ouro de Reconhecimento.
Através daqueles que o conhece-
ram, posso dizer que José Casimiro
da Silva foi uma figura complexa e
multifacetada, mas também uma
alma serena e moderada, que em-
prestou a sua vida à palavra, à cul-
tura e ao associativismo em prol do
desenvolvimento comum.
AS INSTITUIÇÕES FALAM DE JOSÉ CASIMIRO José Casimiro deixou a sua marca para as gerações futurasJosé Casimiro da Silva
Feita por jornalistas, profissionais
ou amadores, a Imprensa é hoje
considerada, em todo o mundo,
como um dos mais fortes poderes
do Estado, quaisquer que sejam
os seus sistemas políticos e sociais.
Reconquistada em Portugal em
1974, com o 25 de Abril, a liber-
dade de expressão de pensamen-
to pela Imprensa e outros meios de
comunicação social, os jornalistas e
homens de letras viram devolvido
ao povo português um direito que
durante meio século lhe fora negado.
E em 26 de Fevereiro de 1975,
por Decreto-Lei n.º 85-C/75, foi
promulgada a Lei da Liberdade
de Imprensa e Direito à Informa-
ção. É um documento, cujo texto
todos os inclinados para o jornalis-
mo, precisam de conhecer. Esse e
outros textos como o da «Declara-
ção Universal dos Direitos do Ho-
mem» em cujo primeiro artigo se
lê: «Todos os seres humanos nas-
cem livres e iguais em dignidade
e direitos. São dotados de razão
e consciência e devem proceder
uns em relação aos outros, dentro
de um espírito fraternal». Que os
futuros jornalistas sobre os quais
impende a responsabilidade de se
baterem por um mundo autenti-
camente democrático, com mais
justiça e liberdade, saibam dirigir,
encaminhar as letras que atiram
para os componedores ou saiam
do teclado das suas máquinas de
compor, num sentido construtivo,
visando, com verdade, a fraterni-
dade e a paz.
Saber lidar com as letras que estão
ao alcance de todos e muito espe-
cialmente dos jornalistas, é tarefa
muito séria e muito grave, a exigir
de todos e de cada um, o máximo
de prudência, de tolerância (por-
que nem todos podemos pensar de
modo igual mas temos de respeitar
o dos outros), e de verdade, sobre-
tudo de verdade.
COMO SE FAZ UM JORNAL
Obrigado Irmão José Casimiro da SilvaJosé Casimiro um dos nossos!
Viver Rotary, transformar vidas
José Casimiro da Silva exerceu o
cargo de Secretário da Mesa Re-
gedora da Santa Casa da Miseri-
córdia de Vila Nova de Famalicão
no período compreendido entre
1961 e 1969.
O seu papel foi de elevado relevo
e dedicação tendo representado
a Santa Casa da Misericórdia em
várias delegações da Mesa Rege-
dora. O seu nome está associado à
conclusão e inauguração do Hos-
pital S. João de Deus, obra emble-
mática do nosso concelho, no ano
Falar de José Casimiro é muito fá-
cil e simultaneamente gratificante.
É um orgulho tê-lo como compa-
nheiro e como sócio fundador do
Rotary Club de Famalicão. Apesar
de 1964. É com homens como o
Senhor José Casimiro da Silva que
se escreve a história e o reconhe-
cimento do inquestionável papel
que a Misericórdia de Famalicão
desenvolve no plano social no nos-
so concelho, na assistência e bene-
ficência que tem por fim o exercí-
cio de Obras de Misericórdia.
Muito obrigado Senhor José Ca-
simiro pela sua competência,
generosidade e carinho com que
honrou os compromissos da Ir-
mandade da Misericórdia.
de um tanto reservado, o José Casi-
miro foi um verdadeiro diplomata,
muito cordial, atencioso, afetuoso e
voluntarioso. Para ele que carateri-
zou o “Rotary como amizade, com-
panheirismo, educação e, acima de
tudo, consideração e respeito pelo
próximo”, seria reconfortante se
pudesse regressar e constatar que
a sua obra teve continuidade e que
o clube continua com a mesma
determinação no serviço às comu-
nidades, na promoção da paz e da
compreensão mundial e, sobretu-
do, na vivência do companheiris-
mo. José Casimiro serviu o Rotary
Club de Famalicão durante 15
anos: foi seu sócio fundador, mas
faltou à cerimónia de imposição
de insígnias, pois estava interna-
do, tendo recebido as mesmas, uns
dias mais tarde, na cama do Hospi-
tal. Serviu o clube até à morte! Foi
acometido dum AVC ao serviço
do clube, quando, em casa do com-
panheiro João Oliveira, preparava
uma homenagem ao companhei-
ro Alberto Simões, outro ilustre
rotário famalicense. De repente,
José Casimiro garatujava, em vez
de escrever, falava sem nexo… era
o fim duma existência cheia ao
serviço dos outros! No entanto, ao
longo destes 44 anos de existência,
o clube, tal como José Casimiro o
havia feito em vida, teve sempre
presente o ideal de servir, indo de
encontro ao lema rotário: “Dar de
si, sem pensar em si”!
Tal como escreveu certo dia José
Casimiro, no semanário “Estrela
da Manhã”, a Associação Comer-
cial e Industrial de V. N. Famalicão
(ACIF) foi “fundada para defender
os interesses económicos do Con-
celho e acarinhada, portanto, pelas
suas forças vivas, cedo ela confun-
diu a defesa dos interesses da classe
com a defesa do bom nome de Vila
Nova de Famalicão, do seu prestí-
gio e do seu engrandecimento”. Na
certeza também que para esse pres-
tígio granjeado muito contribuiu a
figura do próprio cidadão e director
da Associação, José Casimiro.
José Casimiro da Silva assumiu a
presidência do Grémio do Comér-
cio do Concelho de V. N. Famali-
cão no ano de 1954 para comandar
os destinos da instituição no triénio
de 1955-1957, contando com a cola-
boração de dois activos e conhecidos
comerciantes, José de Oliveira Gui-
marães e António Andrade da Silva.
Nesse período, o Grémio revelou
especial actividade, nomeadamen-
te com a iniciativa dos concursos de
montras, das iluminações de Natal,
das Festas do Concelho, enquanto
na secretaria se tratava do projec-
to do Regulamento Económico da
questão dos ambulantes, da valo-
rização e disciplina das feiras e da
criação de uma secretaria ou agência
de serviços gratuitos para os, na altura,
1200 agremiados dispersos pelas 49
freguesias do concelho famalicense.
José Casimiro contribuiu de perto
e de forma decisiva para o desen-
volvimento do Grémio, prezando
pelo seu bom nome, transforman-
do-o numa Instituição respeitada.
Quer como presidente, director ou
benfeitor da Associação deixou a
sua marca para as gerações futuras.
Acaba por estar nas raízes do mo-
mento actual da ACIF. Por isso, em
meu nome pessoal, da Direcção, de
todos os associados, obrigado José
Casimiro da Silva.
António PeixotoPresidente da Associação Comercial
Industrial Vila Nova de Famalicão
Rui MaiaProvedor da Santa Casa da Misericórdia
de Vila Nova de Famalicão
Júlio SáPresidente do Rotary C. Famalicão
Libório SilvaSócio fundador do Rotary C. Famalicão
João CoelhoPresidente da Direcção da Associação
Humanitária de Bombeiros Voluntários
de Vila Nova de Famalicão.
A Associação Humanitária de
Bombeiros Voluntários de Vila
Nova de Famalicão, não poderia
deixar de aplaudir a merecida ho-
menagem, que a Câmara Muni-
cipal de Vila Nova de Famalicão
presta ao seu antigo director e pre-
sidente do órgão máximo da colec-
tividade, a Assembleia Geral.
José Casimiro, como todos o co-
nheceram, foi um homem de dá-
vida total à causa humanitária
dos bombeiros, tendo exercido na
AHBVVNF, os cargos de Primei-
ro Secretário da Direcção, de 1936
a 1938, e de Presidente da Assem-
bleia Geral, de 1964 a 1976.
A frontalidade e o espírito de
missão que imprimia a todas as
tarefas que lhe confiaram, fizeram
com que granjeasse a admiração e
estima de todos os elementos do
corpo de bombeiros, dos órgãos
sociais e dos associados.
Enquanto Vereador do Pelouro de
Incêndios, em nome do Concelho,
José Casimiro apresentou em 13
de Outubro de 1943, a proposta
de atribuição da medalha de ouro
à AHBVVNF, pelos altos servi-
ços prestados à sua Terra, pug-
nando, sem tréguas, pela distinção
dos Voluntários de Vila Nova de
Famalicão, cujo cinquentenário
já havia sido assinalado em 1940.
Todavia, o sentido de justiça de
José Casimiro, impunha-lhe que o
município famalicense marcasse
aqueles 50 anos, com a medalha
de ouro, vindo a ser aprovada, por
unanimidade, a atribuição me-
diante proposta do seu pelouro.
No “Estrela do Minho”, jornal
que dirigiu com superior isenção
e pendor eminentemente infor-
mativo, José Casimiro destacou
sempre as notícias da vida da sua
associação de bombeiros, realçan-
do o brilhantismo dos actos públi-
cos em que a mesma participava e
promovia.
Cumpre-nos destacar o seu pa-
pel interventivo, no permanente
relevo da concórdia e do salutar
convívio entre as corporações de
bombeiros do concelho de Vila
Nova de Famalicão, que tem
orientado, desde sempre, a Asso-
ciação Humanitária de Bombei-
ros Voluntários de Vila Nova de
Famalicão.
Para José Casimiro, um afectuoso
abraço de eterna saudade.
12 ESTRELA DA MANHÃ
15h00Inauguração da exposição
José Casimiro da Silva um jornalista famalicense
15h30Sessão solene
Abertura pelo Presidente da Câmara Municipal, Dr. Paulo Cunha
Actuação do Orfeão Famalicense
Intervenções de amigos de José Casimiro da Silva
Apresentação do opúsculo Versos: Rosas d’Espinho, de José
Casimiro da Silva por Domingos Casimiro da Silva
Declamação de poemas da autoria de José Casimiro da
Silva por Margarida, Rodrigo e Sofia Casimiro da Silva
Actuação da Tuna Académica da Universidade Lusíada
de Famalicão
17h30Lançamento do livro
A Imprensa Periódica Famalicense nos séculos XIX e XX,
de Emília Nóvoa Faria.
José Casimiro da Silva (1901-1983),
o decano dos jornalistas famali-
censes nas décadas de 70 e 80 do
século passado, deixou um rasto
marcante na imprensa regional da
época, o que, só por si, justifica e
torna inteiramente justa a home-
nagem que o Município de Vila
Nova de Famalicão presta hoje a
este filho da terra, desaparecido há
pouco mais de 30 anos.
Casimiro da Silva começou muito
novo a trabalhar como guarda-li-
vros no Porto. Aos 23 anos foi ad-
ministrador do jornal O Minhoto,
propriedade da Comissão Munici-
pal do Partido Republicano Portu-
guês, uma experiência que não du-
raria mais do que 3 meses, o tempo
de publicação do periódico, mas
que terá sido determinante para,
mais tarde, abraçar a carreira de
jornalista. Desde 1928 e durante
cerca de 3 décadas, dirigiu o jor-
nal Estrela do Minho, do qual se
tornaria proprietário. No entanto,
dissidências com os herdeiros do
seu fundador levaram ao seu afas-
tamento em 1960. Inconformado
com a decisão judicial que lhe re-
tirou a propriedade do Estrela do
Minho, fundou no mesmo ano um
outro jornal, com um título muito
semelhante, chamado Estrela da
Manhã, que viria a dirigir até ao
fim da sua vida.
Homem de acção e grande em-
preendedor, fundou, em 1952,
o Centro Gráfico de Famalicão
para “servir as Artes Gráficas e
especialmente o livro, a revista e
o jornal”. Nesta tipografia, uma
das mais conhecidas de Famalicão,
a par com a Minerva e a Aliança,
imprimiu-se um número significa-
tivo de periódicos famalicenses. Ao
longo do tempo, o seu nome apare-
ce também associado a diversas
instituições locais, como a Santa
Casa da Misericórdia, a Associa-
ção Humanitária de Bombeiros
Voluntários de Famalicão, a Asso-
ciação Comercial e Industrial de
Vila Nova de Famalicão, o Orfeão
Famalicense e a Banda do Grupo
Recreativo Musical de Famalicão,
entre várias outras. Morreu a 22 de
Março de 1983, contava então 81
anos de idade.
O notável contributo de José Casi-
miro da Silva em prol da imprensa
regional atingiu, talvez, o seu ponto
mais alto, na organização e dinami-
zação nos encontros da Imprensa
Regional Aquém-Douro, que se
realizaram entre 1964 e 1970,
tendo por palco Viana do Castelo
(1964), Guimarães (1965), Ama-
rante (1966), Vila Real (1967),
Vila Nova de Famalicão (1968),
de novo Amarante (1969) e Vila
Nova de Gaia (1970). Em quase
todos, foi ele que presidiu sempre
aos trabalhos.
É o próprio José Casimiro que,
a propósito do primeiro desses
Encontros, exalta a mais-valia de
tal iniciativa no âmbito regional:
«Mesmo dentro do espaço geo-
gráfico das respectivas regiões, os
responsáveis pelas suas «folhas»
desconheciam-se […] e foi preciso
que […] durante três dias inteira-
mente cheios, a Aurora do Lima (o
mais velho semanário português)
arrimado à colaboração do seu co-
lega Notícias de Viana concebesse
e «arrancasse» (com o êxito de que
muitos de nós fomos testemunhas)
para o «I Encontro da Imprensa
Regional de Aquém-Douro. Para
quê? – Para que através de um sa-
lutar e fraternal convívio (que fal-
tava) melhor se pudessem conhe-
cer os «homens dos jornais» e em
conjunto, quebrado o isolamento
em que viviam, discutirem os pro-
blemas de maior relevância para a
Imprensa Regional.»
No V Encontro, realizado em Vila
Nova de Famalicão, são dele tam-
bém as palavras de saudação onde
proclamou uma vez mais os fins
destas jornadas: «confraternizar,
arejar, fugindo aos ambientes ofi-
cinais e por vezes escaldantes onde
aos poucos todos nos tisnamos no
exercício do nosso múnus onde a
remuneração de cada um é ape-
nas a satisfação do dever cumprido
para com a Terra, para com a Cul-
tura e para com a Pátria; conhecer-
mo-nos melhor; mostrar-nos uns
aos outros as nossas terras, juntan-
do à permuta dos nossos jornais o
intercâmbio das próprias pessoas e
dialogar no sentido de uma de cada
vez mais íntima união ou conscien-
cialização tendente à melhor defe-
sa dos interesses da classe».
O Ordem Nova, de Vila Real, des-
taca a importância da sua interven-
ção num curto, mas significativo
elogio: «José Casimiro da Silva, o
homem que não conta os anos e
existência, teimosamente jovem,
organizou, decidiu e realizou, em
pleno êxito, o V Encontro da Im-
prensa Regional Entre Douro e
Minho. O jornalista Zé Casimiro
– alto como uma torre, e simples e
afável como um irmão mais novo
– festejou, assim, o 49.º ano de ho-
mem de Imprensa. E que exemplo
de dinamismo, de elevação intelec-
tual e de imparcialidade o deste
jovem de 66 anos!...».
De igual forma O Comércio da Pó-
voa de Varzim exprime o mesmo
reconhecimento ao considerar que
«não podemos deixar de assinalar
o trabalho insano de José Casimi-
ro da Silva, ilustre director d’«A
Estrela da Manhã», que foi a alma
-mater deste Encontro […]. Daqui,
desta Póvoa a quem ele dedica extre-
ma amizade e simpatia, enviamos-
lhe o nosso abraço amigo».
Das suas reflexões sobre o papel
central da imprensa regional na
construção das sociedades locais e
na forma de fazer jornalismo, res-
pigamos ainda este excerto retira-
do do que escreveu por altura do
Encontro Nacional da Imprensa
Regional, realizado na Póvoa de
Varzim, em Junho de 1979:
«[A Imprensa Regional] dá exem-
plos de pluralismo político ou de
democracia, sem necessidade de
lavar cérebros a ninguém. Bate-se
pelos assuntos da Terra e colabora,
mesmo criticando com a indepen-
dência que a caracteriza, orgulhan-
do-se do seu portuguesismo e não
pactuando com apaniguados ou
partidários que obedeçam a nações
estrangeiras, sejam quais forem, na
Europa e no Mundo. Deixem que
a Imprensa Regional, «formando»
mais que «informando», continue a
saber falar do seu povo, a um povo
que, nem pelo facto de ser provin-
ciano deixa de ter a clara noção dos
seus problemas e encontrar para
eles a necessária e exacta solução.»
JOSÉ CASIMIRO DA SILVAALMA-MATER DOS ENCONTROS DA IMPRENSA REGIONAL
Sessão de abertura do V Encontro da Imprensa Regional de Aquém-Douro, no salão nobre do Ateneu Comercial
e Industrial de Vila Nova de Famalicão. 18 de Maio de 1968.
Da esq. para a dir.: Isaura Pinto Basto, Directora do jornal O Desforço, Rogério Peres Claro, Presidente do Gré-
mio da Imprensa Não-Diária, Manuel Agonia Frasco, Director do jornal O Comércio da Póvoa de Varzim e José
Casimiro da Silva, Director do jornal Estrela da Manhã.
Emília Nóvoa Faria
PROGRAMA DA HOMENAGEM A JOSÉ CASIMIRO DA SILVABiblioteca Municipal Camilo Castelo Branco