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Jornal Janela Aberta ed 008

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Jornal do Instituto Cultural Janela Aberta: arte, literatura, economia solidária e software livre

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Page 1: Jornal Janela Aberta ed 008

um projeto do

distribuição gratuita

J O RN AL

J AN ELA ABERTAl iteratura, artes, software livre e economia solidária - ano 4 - número 8

editorial redes cristian cobraeconomia solidária conto: moeda solidária da arte jemima murad

software livre software livre e cultura guilherme rebecchipoema bucólico marcelo vargas

poema ganesha-guarani djalma nerypoema o diabo virou ermitão isaac soares de souza

crônica da natureza humana igor salomãoresenha literária maria, uma peça cinco histórias douglas pino

tirinha os malvados andré dahmerjanela aberta: incubadora de artistas melissa conde

mundo livre e solidário

www.janelaaberta.art.br

Page 2: Jornal Janela Aberta ed 008

JANELA ABERTA INCUBADORA DE ARTISTAS

Melissa Conde

Melissa Conde é artista plástica

desde 1 995, formada pela UNESP-SP.

Possui especialização em HQ pela

Faculdade de Belas Artes San Jorge,

Barcelona-Espanha, e Pós-Bacharelado em

Artes Visuais pelo Instituto de Artes de

Chicago, EUA. Atualmente mantém seu ateliê

no Instituto cultural Janela Aberta, onde

produz e expõe suas obras.

Quer conhecer? Confira as fotos

abaixo e venha fazer uma visita!

O Jornal Janela Aberta nãopossui nenhum direito

sobre os textos e imagensde terceiros nele veiculados.

*

As opiniões emitidas pelostextos aq ui publicados não

são necessariamente asmesmas de seus editores.

Mesmo assim, são bemvindas todas as críticas e

sugestões.

INFORMATIVOS

Câmara Setorial do Livro e Leitura

Poetas, escritores, literatos, biblio-

tecários e interessados nas ações

e políticas públicas relacionadas

ao Livro e a Leitura; estão todos

convidados para participarem das

reuniões da Câmara Setorial do Li-

vro e Leitura do Conselho Munici-

pal de Cultura de São Carlos. Mais

informações:

www.culturasanca.wordpress.com

Romance... aos pedaços...,

O Sibi (Sistema Integrado de Bibli-

otecas do Município de São Car-

los) in iciou o Romance... aos

pedaços... , emails enviados todas

as q uintas-feiras com trechos sig-

nificativos de diversos livros, tan-

to nacionais, como internacionais.

Os emails também informam

q uantos exemplares daq uele livro

estão disponíveis nas bibliotecas

municipais da cidade.

Barganha Book

O SIBI realiza todo primeiro do-

mingo do mês na Biblioteca Eucli-

des da Cunha q ue fica na Antonio

Almeida Leite, 535, Vila Prado, e

todo último domingo do mês, na

Biblioteca Amadeu Amaral, Av. São

Carlos, o evento Barganha Book

q ue consiste na troca de livros

usados. Leve seus livros até a bi-

blioteca e poderá trocar com o

acervo reservado para troca e,

com isso, ampliar o leq ue de lei-

turas e renovar seu acervo pesso-

al de livros, trocando os já lidos

por outros desconhecidos.

EXPEDIENTE

Editor GeralCristian Cobra

CapaEduardo Rompa

Conselho EditorialIvã Bochini

Eduardo BiagioniJemima MuradCristian CobraHelena Boschi

Ricardo GessnerAlex Tomé

Douglas PinoWendy Palo

ContatoR: Conde do Pinhal 2340

São Carlos - Centro(1 6) 341 2-6461

Correio eletrô[email protected]

Sítiowww.janelaaberta.art.br

Tiragem1 .000 exemplares

EDITORIAL

Redes

O Jornal Janela Aberta se recria mais uma vez com esta nova

edição. Com a efervescência de ideias q ue sacolejam o Instituto,

nosso jornal literário também busca estabelecer novos laços na rede.

Contamos agora com a participação de Helena Boschi na diagramação

do jornal e participação no Conselho Editorial, junto com os novatos

Alex Tomé, escritor e cineasta e Ricardo Gesnner, nosso fi lósofo

distracionista e Douglas Pino, autor de nossas resenhas literárias.

Em homenagem ao Conto, a moeda solidária do Janela

Aberta, nossa coluna Economia Solidária apresentará um pouco sobre

esta e outras moedas sociais. Nossa coluna sobre Software Livre, de

Guilherme Rebecchi, aborda a liberdade cultural no momento em q ue

nosso jornal passa a utilizar apenas programas e fontes de caracteres

livres.

Espero q ue com esta edição continuemos a seguir, com

criatividade, tri lhas já abertas anteriormente. Traços identitários q ue

comparti lhamos pelas redes alternativas como as tecnologias livres,

os princípios de Economia Solidária, de Sustentabilidade, e de

comparti lhamento, principalmente através da leitura literária, forma

tão antiga e atual de compartlhamento de informação (objetivo das

Resenhas Literárias de Douglas Pino, inclusive, q ue têm como foco a

produção literária contemporânea).

Outra forma de estar próximo destes temas citados é

participar do debate, e, porq ue não, decidir sobre suas aplicações, no

Conselho Municipal de Cultura de São Carlos. Este “tem por objetivo

promover a participação democrática dos vários segmentos da

sociedade q ue integram a ação cultural no Município de São Carlos”.

Este é um instrumento da sociedade e está aberto a todos, conheça e

participe: www.culturasanca.wordpress.com.

Termino falando novamente da rede, não como um espaço

virtual, mas uma forma de organização. Diferente da estrutura

centralizada das pirâmides e árvores, acreditamos em organizaões

criativas, constituidas em sua autonomia, interligadas em redes, seja

pelas proximidades, seja pelas diferenças. Continuamos assim,

convidando a todos para comparti lharmos ideias.

Boa leitura!

página 2 página 7

www.q uicadesign.com.br www.b2ml.com.br

TIRINHA

Malvados André Dahmer www.malvados.com.br

Peça e pague em casa comseu cartão!

TEL: 3371 -2950 ou 31 1 6-01 66

MSN: [email protected]

Cristian Cobra é escritor e o editor geral deste jornal. Seus traba-lhos encontram-se, entre outros, no livro de poemas Guerras Con-tidas (2007) e em seus blogues www.excamas.blogspot.com ewww.anarq uismoagora.blogspot.com.

Ateliê da Mel

Rua Conde do Pinhal, 2340

Sede Instituto Culural Janela Aberta

www.flickr.com/photos/melport

Page 3: Jornal Janela Aberta ed 008

ECONOMIA SOLIDÁRIA

Conto, moeda solidária da arte

Durante o ano passado, a eq uipe do Janela Aberta partici-

pou de um grupo de trabalho para criação de moedas sociais e ou-

tras in iciativas dentro de finanças solidárias, juntamente com a

INCOOP (Incubadora de Cooperativas Populares da UFSCar), o coleti-

vo Massa Coletiva e a eq uipe organizadora do festival Contato. Den-

tre outras coisas, foram frutos desse grupo a moeda Marciano e o

moeda Contato. Neste ano, 201 1 , o Instituto Cultural Janela Aberta

colocará sua moeda social em circulação, o Conto.

Moeda social ou solidária é uma moeda paralela criada e

administrada por seus próprios usuários, permitindo a explicitação

da troca de produtos e serviços. Qual a vantagem do Conto, portan-

to? A moeda social não propõe um sistema econômico alternativo

ao q ue usamos, mas complementar. Seu valor não está nela pró-

pria, mas no trabalho envolvido para produzir bens, serviços e sa-

beres. Esta moeda não tem valor em si, como papel, até q ue se

comece a trocar produtos e serviços.

A principal vantagem da moeda social é o fortalecimento

da rede de comercialização local, aumentando a riq ueza q ue circula

na comunidade, gerando trabalho e renda. Geralmente, essas moe-

das aparecem da necessidade de um grupo de pessoas q ue não

têm uma remuneração (ao menos justa) por uma habilidade especí-

fica. Serve assim como instrumento de descentralização de renda.

Além disso, outras pessoas de diferentes segmentos ou áreas, co-

mo produtores e comerciantes, q ue apoiam essa ideia/grupo, come-

çam a fazer parte dessa rede, fazendo a moeda social circular e

ganhar força.

Mas como funciona o Conto? O Conto (C$) tem o mesmo

valor de compra q ue o Real (R$). Sendo assim C$ 1 ,00 é igual a R$

1 ,00. Como o intuito da moeda social é a circulação da riq ueza lo-

cal, e a não-acumulação de capital, nenhum estabelecimento parti-

cipante e nem mesmo o Janela Aberta é obrigado a cambiar Contos

por Reais, pois é interessante q ue a moeda passe a ter cada vez

mais aceitação. O Conto será aceito por empresas, coletivos e indi-

víduos q ue participam dessa rede, sendo sua adesão à rede sempre

livre e consciente.

E como obter Contos? Você pode prestar serviços ao Janela

Aberta e aceitar remuneração em moeda social. Esses serviços po-

dem ser uma habilidade ou conhecimento seu q ue o Janela Aberta

eventualmente precise, podendo estes serem técnicos ou artísticos.

A grande vantagem aq ui, é q ue o Conto, como toda moeda social,

reconhece o ser humano como centro das relações de troca. Por is-

so o Conto contribui

para o pagamento de

serviços q ue não são

reconhecidos ou valori-

zados pela nossa socie-

dade, especialmente os produtos e serviços artísticos.

Participe dessa rede, aceite e use o Conto e outras moedas

solidárias q ue já existem. Uma outra forma de economia existe,

mais humana, mais justa. Comparti lhe essa ideia!

Jemima Murad é artista, mãe, diretora do DCE Livre da UFSCar, mi-

litante do Grupo de Mães Universitárias, cuida da frente de Econo-

mia Solidária do Instituto e ainda encontra fôlego para cursar

Gestão e Análise Ambiental. Mais em: www.snvertigo.blogspot.com

RESENHA LITERÁRIA

Maria, uma peça e cinco histórias,de Isaac Bábel

A obra Maria, uma peça e cinco histórias, reúne alguns tra-

balhos de Isaac Bábel (1 894-1 941 ) em uma edição brasileira. O pri-

meiro conto, Mamãe, Rimma e Alla, foi escrito em 1 91 6 e traz a

história de uma família mergulhada em uma profunda tristeza, tal

como podemos observar no trecho seguinte, um sonho da persona-

gem Alla: “eu tive um sonho, Rimma – disse. Imagine você: uma ci-

dadezinha esq uisita, peq uena, russa, incompreensível.. . O céu é

cinza-pálido, está muito baixo e o horizonte parece muito próximo.

O pó nas ruelas é cinza, fino, morto. Tudo está morto, Rimma. Não

há q ualq uer ruído por perto, nem vivalma em parte alguma”. Este,

podemos dizer, é o cenário sombrio de todo o livro.

Em História do meu pombal, segundo conto dedicado a Má-

ximo Górki, narra um episódio de sua própria infância, como judeu

de Odessa, no ano de 1 904. Retrata de forma surpreendente as per-

seguições q ue sofria: “golpeou-me com toda a força da mão q ue

apertava o pássaro [.. .] caí ao solo com

o meu capote novo [.. .]. Estava deitado

ao solo, e as entranhas da ave esmaga-

da escorriam-me pela têmpora. Escorri-

am-me pelas faces, em zigue-zague,

soltando borrifos e cegando-me. Uma

tripa suave de pombo deslizava sobre

minha testa, e eu fechei o derradeiro

olho descoberto, a fim de não ver o

mundo q ue se estendia na minha fren-

te. O mundo era peq ueno e terrível”.

Os três últimos contos foram

publicados em Cavalaria vermelha

(1 926), livro q ue deu ao escritor notori-

edade mundial. Polêmico, seus contos

retratam a campanha russo-polonesa

de 1 920-1 921 . Em Uma carta temos um

pai q ue mata o próprio fi lho por consi-

derá-lo traidor do regime ora imposto.

O q ue torna esse fato mais aterrorizan-

te é a forma q ue Isaac Bábel escolheu

para narrá-lo – é o outro fi lho q ue conta para a mãe em carta: “nas

linhas seguintes dessa carta, apresso-me a escrever sobre o pai,

q ue matou meu irmão Fódor Timoféitch Kurdiúkov está fazendo um

ano”.

O q uarto conto, A morte de Dolguchov, traduzido por Ru-

bem Fonseca, retrata de forma desnuda a guerra: “sua barriga havia

sido rasgada. As entranhas caíam sobre os joelhos, as batidas do co-

ração eram visíveis”. O último conto, Meu primeiro ganso, também

traz a guerra como personagem central e uma de suas característi-

cas mais marcantes, a fome: “q ue se enforq ue a mãe do Nosso Se-

nhor – resmunguei irritado, dando um empurrão com o punho no

peito da velha –, só me faltava dar explicações... E, ao me virar, vi

um sabre largado ali perto. Um ganso de ar severo andava pelo

q uintal, limpando imperturbavelmente suas penas. Alcancei e der-

rubei o ganso no chão, sua cabeça estalou sob minha bota, estalou

e sangrou. O pescoço branco ficou estendido sobre o esterco e as

asas se fecharam por cima da ave morta. Que se enforq ue a mãe

de Nosso Senhor! – disse eu, enfiando o sabre no ganso. – Asse-o

para mim, dona”.

Encerra a coletânea com a peça Maria (publicada em

1 935). Em oito q uadros, Bábel mostra mais uma vez a sua força

narrativa e crítica voraz contra o regime soviético. Sem nunca ter

visto sua peça encenada, morre em circunstâncias misteriosas, em

1 941 , sob o jugo da polícia política.

Douglas Pino é supervisor editorial da Coleção UAB-UFSCar.

Biografia*

Isaac Emanuilóvitch Bábel nasceu na Ucrânia, a

1 3 de julho de 1 894. Desde cedo familiarizou-se

com as línguas e literaturas europeias, que so-

mou a herança iídiche e russa. Passou a infân-

cia e adolescência em Odessa, ambiente que

descreveria em seus Contos de Odessa. Em 191 5,

transferiu-se para São Petersburgo e iniciou sua

atividade literária apadrinhado por Máximo Gór-

ki. Em 191 7, após a Revolução de Outubro, alis-

ta-se no Exército Vermelho; desempenha tarefas

burocráticas até ser designado para o fronte

russo-polonês, onde acompanha as unidades de

cavalaria cossaca. Essa experiência resultaria

nos contos reunidos em Cavalaria vermelha

(1 926). Devido às críticas a sociedade pós-revo-

lucionária, atraiu a hostilidade do regime. Esse

desencontro com o poder stalinista levou-o ao

silêncio durante a década de 1 930 e, finalmente, à reclusão num

campo de prisioneiros na Sibéria. Morre em circunstâncias desco-

nhecidas, supostamente em março de 1 941 .

*Dados retirados do site da editora Cosac & Naify

SOFTWARE LIVRE

Software Livre e cultura

Ao se falar de Software Livre ou Cultura é preciso expor o

conceito entendido de liberdade. No meu entendimento, a liberda-

de é o direito ao acesso, à mudança, opinião, divulgação, entre

outros, e com o mínimo possível de obrigações. No âmbito jurídi-

co, é a isenção de todas as restrições, exceto as prescritas pelos

direitos legais de outrem.

A Cultura, o conjunto de práticas, pensamentos, símbo-

los, entre outros itens q ue podem caracterizar coletivamente as

pessoas, é algo q ue só pode ser livre. Sendo livre, vale o esforço

de sempre utilizar apenas programas com código-fonte aberto, os

chamados softwares livres (SL). É uma forma de manter a coerên-

cia entre o q ue se faz e o q ue se pensa.

Além destas q uestões fi losóficas, há o q ue mais vale pa-

ra a maioria das pessoas, o q ue importa, no final das contas. Para

usuários-finais, é praticamente indiferente o uso. A parte visual

muda um pouco e, por mais curioso q ue possa ser, eles sentem

mais dificuldade por estarem acostumadas ao design não muito

lógico do Windows. Para profissionais, é importante ter o domínio

sobre suas ferramentas de trabalho, ou seja, os programas q ue

precisa usar para trabalhar. No caso de muitos usos específicos, é

comum se optar pelo uso de programas q ue não funcionam tão

bem q uanto no Linux. E ainda há de se considerar q ue o uso de

SL exige menos recursos do computador, ou seja, você não preci-

sa ter um computador muito atualizado para poder usar as tecno-

logias, conceitos e designs mais recentes.

Então, sintam-se convidados à liberdade e ao uso de SL,

seja pelos conhecidos Firefox, Linux, LibreOffice, GIMP, seja pelos

muito úteis Launchy, Scribus, PDF-Shuffler. Para q uem se apega

ou prefere usar programas do Windows no Linux, experimente o

WINE. Se não conhecem os programas citados, vale a pena conhe-

cê-los.

Guilherme Rebecchi é produtor cultural da Musage.com.br

e compositor. E-mail: [email protected]

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Esse jornal é 1 00% produzido com Softwares

Livres, sendo eles: LibreOffice, Gimp, Scribus,

Firefox e fontes de caracteres livres.

Page 4: Jornal Janela Aberta ed 008

POEMA

Bucólico

Centauro,

q uisera ser,

a balançar-me as ancas

e pocotar livremente as patas

pelas tri lhas sinuosas dos campos,

parq ues e praças da cidade,

sob o sol das manhãs;

Galopar e trotar,

cabeça erguida, pensamento distraído,

olhos e ouvidos bem abertos,

atentos às flores e a música dos sátiros,

olfato e paladar aguçados

ao viço do capim cheiroso;

Pastar à sombra das árvores,

saciar minha sede nos regatos,

e após o repasto,

repousar o corpo cansado;

mais tarde,

contemplar a paisagem no crepúsculo,

adormecer e sonhar aventuras

com minha cabeça humana

entorpecida, o corpo e a alma satisfeitos.

Marcelo Vargas é professor de Ciências Sociais na UFSCar, autor

de vários artigos e livros nas áreas de Política Urbana e

Sociologia Ambiental. É também poeta bissexto, tendo publicado

duas coletâneas de poemas: Árvores e Antenas (1 984) e Toda

Incompleta (2008).

POEMA

Ganesha-Guarani

Aq ueles pés me passeavam de leve, me roçavam a sola ébria.

Mãos & coxas & costas. Pele passeando pele.

Riso convocando riso.

Em casa, no sofá - cúspide da casa 5

exatamente em câncer.

Desfi la comprido seu corpo

seu cabelo

(Berenice esconde-se na relva, só o rabinho a mostra no pescoço)

Rabiscamos símbolos de carinho pelo corpo

percorremos com amor a superfície alheia.

Revezamo-nos em descobrir.

Alma Méry é um coletivo itinerante; paulista de origem, nortista de

opção - prefere tapioca ao pãozinho; calor ao frio. Estuda o homem,

a natureza, as ações e reações. Ainda vai provar q ue carona e

PÁGINA ABERTAprosa & verso

Quer publicar seus textos ou

imagens no Jornal Janela Aberta?

Envie seu material pelo nosso correio

eletrônico ([email protected])

ou pelo nosso sítio

(www.janelaaberta.art.br). Os textos

serão selecionados pelo nosso conselho

editorial levando-se em conta critérios

técnicos, temáticos e ideológicos, além

do espaço disponível. Todo material

selecionado será publicado na seção

Página Aberta da próxima edição ou

guardado para edições subseq uentes.

Agradecemos aos textos enviados por Ricardo Gessner e Eliezer Soares de Souza. Os materiais não selecionados, seja pormotivos estéticos, temáticos ou por falta de espaço, serão sempre arq uivados e poderão ser publicados em ediçõessubseq uentes. Agrademos as participações e pedimos q ue continuem enviando seus textos.

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POEMA

O diabo virou ermitão

Espalharam q ue o Diabo,

Depois de velho, se fez ermitão.

Foi morar nas montanhas do Afeganistão

Deus ditou os Dez Mandamentos a Moisés

Então foi o Diabo q ue ditou o Alcorão

Mas q uem mantém a Besta viva é a religião

O reino dos céus é do chato, do otário e do cagão, do cagão

Dizia o poeta Cazuza num rasgo de inspiração

Se tudo é verdade,

Por q ue continua a podre humanidade

A pôr a culpa de todos os males no Diabo?

O Diabo sempre foi um anjo mal julgado

Como viverá agora o antigo revolucionário

Em algum lugar do mundo,

Do jardim da casa de campo onde se refugiou

Com sua guitarra imaginária toca blues e rock´n´roll,

Vive o Diabo, simples e tranq üilo,

Com todos os sentimentos de paz,

De ter feito pelo mundo

O q ue nenhum homem faz:

Se rebelar contra q ualq uer poder massacrante

Ter o pensamento livre de q ualq uer mandante

Poucos livros na estante:

Horácio, Epicuro, Heine, Francis Jammes,

A Bíblia, o Alcorão, a Divina Comédia, Dom Quixote...

O Diabo é das vésperas da inauguração do mundo

Esse eterno e odiado giramundo

É o pai da revolução humana

O Diabo é o pai do rock

Quem sabe se o levante q ue o baniu do céu

Não levou Deus a criar a Morte,

Que nos faz esq uecer de viver

Há uma grande melancolia no verbo Voltar,

Que na verdade ninguém consegue conjugar...

N inguém volta da Morte, q ue é eterna como o Diabo

Eis aí o seu único pecado

A inteligência humana é estreita

Ninguém sacou q ue a palavra “DIABO” q uer dizer

Liberdade, nunca poder...

Quem sacou o lance foi o baiano Raul Seixas

O Diabo é o pai do rock

Enq uanto Freud explica

O Diabo dá os toq ues

Então, é everybody e rock...

Isaac Soares de Souza é poeta e escritor. Publicou as biografias Raul Seixa, o Metamorfônico (1 995) e Zé Ramalho: o Profeta do Terceiro

Milênio (2009). Publicou também vários poemas em jornais e revistas, tendo alguns destes musicados e gravados pela banda Hangar XVIII.

CRÔNICA

Da natureza humana

Um dia desses, fiq uei surpreso comigo mesmo. Era um dia chuvoso, meio da tarde, cheguei em casa. Levantei manualmente o portão

automático e estava a descê-lo q uando um rato cinza, de meia-idade, de aspecto selvagem, vindo de algum esgoto ou de um passeio

ecologicamente correto e entrou na varanda de casa e ficou acuado e contraído num canto, se escondendo da chuva. Por um instante tive

misericórdia deste ser, tão doce aos meus olhos. Mas depois tive medo, pavor, fiq uei estático uns dois segundos e lembrei de onde o rato

vem, da sujeira em q ue ele circula e da possibilidade de ele transmitir doenças. Passei da compaixão por um animal indefeso e discriminado

à normalidade e a defesa de minha sobrevivência. Queria mesmo é chutá-lo embora, mas não precisou pois ele obedeceu ao meu olhar e se

retirou e entrou em outra casa e lá foi destroçado por um cachorro. E a enxurrada corria e o toró caía. Ainda bem q ue a Copa do Mundo já

tinha acabado.

Igor Salomão é formado em Psicologia pela UFSCar, estuda teologia e tem paixão pela escrita.

AGORA COM NOVOS SABORES!

CALABRESA, CARNE SECA E PALMITO

PEÇA AGORA E PAGUE COM CARTÃO EM

SUA CASA!