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jornal LINCE JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA Nº 57 | Dezembro de 2013 | PÁGINAS 10 A12 KITSCH, FORMA DE ARTE QUE MOVIMENTA UMA INDÚSTRIA MILIONÁRIA TEM QUE SER ATLETA PARA ENFRENTAR UMA CIDADE DEFICIENTE BELO HORIZONTE | PÁGINAS 13 A 15 RAYZA KAMKE

Jornal lince dezembro 2013

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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva

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Page 1: Jornal lince dezembro 2013

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LINCEJornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton PaivaNº 57 | Dezembro de 2013

| PÁGINAS 10 A12

KITSCH, FORMA DE ARTE QUE MOVIMENTA UMA INDÚSTRIA MILIONÁRIA

TEM QUE SER ATLETA PARA ENFRENTAR UMA

CIDADE DEFICIENTEBELO HORIZONTE

| PÁGINAS 13 A 15

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2 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013

Cor res pon dên Cia

NP4 - Rua Ca tumbi, 546

Bairro Cai çara - Belo Horizonte - MG

CEP 31230-600

Contato: (31) 3516.2734

[email protected]

Este é um jor nal-la bo ra tó rio da

dis ci plina la bo ra tó rio de jorna lismo ii.

o jor nal não se res pon sa bi liza pela

emis são de con cei tos emi ti dos em ar ti-

gos as si na dos e per mite a re pro du ção

to tal ou par cial das ma té rias, desde

que ci ta das a fonte e o au tor.

SugEStõES DE pautaS?participE Do jornal lincE.

uma publicação feita pelos alunos do curso de jornalismo do centro universitário newton.

E-Mail: [email protected]

presidente do Grupo spliCeAntônio Roberto Beldi

reitorJoão Paulo Beldi

ViCe-reitoraJuliana Salvador Ferreira de Mello

Coordenadora dos Cursos de CoMuniCaÇÃoJuliana Lopes Dias

Coordenador da Central de produÇÃo JornalistiCa - CpJPro fes sor Eus tá quio Trin dade Netto (DRT/MG 02146)

Conselho editorialProfessor Menoti Andreotti

pro Jeto Grá fiCo e direÇÃo de arteHelô Costa (Registro Profissional 127/MG)

MonitoresJoão Paulo Freitas, João Vitor Cirilo e Caíque Rocha

reportaGensAlu nos do Curso de Jornalismo do Centro Universitário New ton

diaGraMaÇÃo Laura SenraMárcio JúnioEstagiários do Curso de Jornalismo

ExpedienteOpiniãOjornal

LINCEJornal laboratório

do Curso de Jornalismo

do Centro universitário

newtonE CrItICar

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Pra EstraNgEIro vEr...

Caíque RoCha

2º período

S e m p r e q u e a l g u m

evento de grande porte é cogi-

tado para ser realizado no

Brasil, muitos questionam:

“Estamos preparados?”. Per-

guntas assim são um reflexo

da falta de organização regis-

trada em vários acontecimen-

tos do passado — alguns, não

muito distantes.

Desde 2006, quando o

nome do Brasil passou a ter um

grande destaque no mundo,

como candidato a país-sede da

Copa do Mundo de 2014, a

mídia de todos os lugares come-

çou a questionar a qualidade do

evento — caso fosse confir-

mada a escolha — e argumen-

tou negativamente contra o

mesmo. Além disso, a própria

população brasileira, que sofre

na pele diariamente com os

infinitos problemas do país,

também não enxergou com

bons olhos a realização da Copa

por aqui, oficializada em 2007.

Faltando quase seis meses

para o início do maior evento

futebolístico do mundo, há mui-

tas obras longe de serem conclu-

ídas. O estádio onde será reali-

zada a primeira partida – o Ita-

querão – é o mais atrasado e já

tem no currículo lamentáveis

mortes de operários, devido à

queda de parte da estrutura. Os

brasileiros não estão engolindo,

e, pelo jeito, somente a FIFA e a

CBF estão animadas com a

Copa. Infelizmente, o torneio

não deixará nenhum benefício

a quem realmente precisa.

Na Jornada Mundial da

Juventude, quando o Papa

Francisco visitou o Brasil, não

ocorreram grandes problemas.

E, se levarmos em conta que

milhões de pessoas, do mundo

inteiro, desembarcaram na

Cidade Maravilhosa com a

intenção de ver Sua Santidade

de perto, a proporção tomada

pela Jornada e por uma Copa do

Mundo, por exemplo, não é

assim tão diferente. Parece que

o problema está é nas entidades

que tomam conta do esporte

brasileiro e no governo, que

sempre aceitam a vinda desses

eventos, esquecendo-se de que

nada se faz da noite para o dia e

que o país não pode se dar ao

luxo de “parar” por isso.

Já em 2016, com os Jogos

Olímpicos, os olhos do mundo

novamente se voltarão para o

Brasil, mais precisamente

para o Rio de Janeiro. Se fizer-

mos uma observação rápida,

veremos que nenhuma das

obras e “melhorias” para os

Jogos Pan-Americanos de

2007 (também no Rio) servi-

rão para os jogos de 2016.

Falta de planejamento?

Ou falta de cuidados? Pelo

jei to, as duas coisas não

entram na cabeça das autori-

dades e organizadores dos

meios esportivos em nosso

país. Sem olhar a nossa reali-

dade, as autoridades que, não

se sabe o porquê, teimam em

ser chamadas de competen-

tes, cismam de fazer festa para

estrangeiro ver... e criticar.

“Pelo jeito, somente a FIFA e a CBF estão animadas com a Copa. Infelizmente, o torneio não deixará nenhum benefício a quem realmente precisa”

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Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013 3

FRedeRiCo vieiRa

4º período

Aberto em 1950 pelo Prefeito Otacílio Negrão

de Lima, o Teatro Francisco Nunes ainda é o mais

emblemático da capital. O nome é uma grande

homenagem ao maestro Francisco Nunes (1875-

1934) que criou a Sociedade de Concertos Sinfô-

nicos de BH. Isso demonstra a ligação cultura/arte

que esse teatro posteriormente viria a oferecer.

A inauguração do “Grande Chico” possibilitou

BH ingressar no calendário cultural dos grandes

artistas e companhias teatrais do Brasil e até do

mundo. O teatro recebia orquestras, temporadas

líricas, diversos shows, festivais universitários,

danças e espetáculos teatrais. A grade de atrações

abria um leque de opções culturais e de lazer para

a sociedade. Nos anos de 1950, Belo Horizonte

estava carente de teatros. O Teatro Municipal havia

se transformado em Cine Metrópole, o Palácio das

Artes ainda estava em construção, e o Teatro Marí-

lia e a Imprensa Oficial nem sempre atendiam.

alTeRNaTivo

O teatro era altamente popular. Abria espaço

para novos projetos; tanto teatrais como musicais.

Dava oportunidade para as novidades. Bandas de

Rock, por exemplo, divulgavam seus trabalhos e o

mesmo acontecia com as peças teatrais que esta-

vam começando sua trajetória. Além disso, o teatro

era instalado no Parque Municipal. A boa localiza-

ção garantia a praticidade e a facilidade de acesso,

o que justificava o bom público durante todos os

eventos realizados. Sem falar que, ao lado, sob as

árvores, havia uma choperia das mais agradáveis.

“Já me apresentei lá em um festival de dança.

Sentimos falta de espaços de qualidade como ele

para desenvolver nossas habilidades”, conta Len-

nison Farah, estudante de teatro na UFMG.

mudaNÇas

Em 1980, o teatro passou por sua primeira

grande reforma. Reconstruído e modernizado,

manteve apenas a fachada. No que diz respeito à

funcionalidade, tudo continuou como antes. O

Francisco Nunes seguiu sendo palco de vários

espetáculos e eventos. Alguns de maior expressão,

como o Festival Internacional de Teatro Palco &

Rua e o Fórum Internacional de Dança. A imagem

que se tinha na época era que o teatro continuaria

a ser uma das grandes atrações da cidade.

“Era uma satisfação muito grande se apresen-

tar lá, o charme de ver o Parque Municipal aberto à

noite, com todas aquelas luzes, era algo inexplicá-

vel”, conta Carlos Nunes, ator mineiro.

De lá pra cá, assim como o cinema de rua e

outras atividades culturais de Beagá, o teatro per-

deu sua força. Dos anos de 1990 em diante,

mudou-se a configuração da sociedade no que diz

respeito ao lazer e cultura. A chegada dos grandes

centros comerciais mudou as características da

sociedade belo-horizontina, conta a atriz Helena

Barcalla, ressalvando que, “o que definitivamente

determinou o fim do Teatro Francisco Nunes foi o

descaso das políticas públicas para com o espaço”.

Em 2009, a Fundação Municipal de Cultura

anunciou o fechamento, alegando riscos estrutu-

rais no espaço. “O assunto repercutiu bastante,

pois o fato de o Francisco Nunes ser tombado pelo

patrimônio histórico dificultava a reabertura ime-

diata”, lembra Carlos Nunes, ressaltando que “isso

não justifica o fechamento durar tanto tempo”.

pATRiMÔniO

Teatro Francisco

Nunes tem data

para retorno das

atividades. Parque

Municipal volta a

ser um polo

cultural para a

cidade de

Belo Horizonte

rECoMEÇo CuLturaLnoVo rEcoMEÇoApós cinco anos, o Fran-

cisco Nunes será reaberto.

Uma parceria entre a Prefei-

tura e a Unimed possibilitou

que o projeto de restauração

e modernização saísse do

papel. O prazo de entrega é

janeiro de 2014. O teatro será

totalmente reformado e,

novamente, só manterá sua

fachada. O Chico receberá

novas cadeiras, sistema de

ar, novo tratamento acústico,

além de reformas em toda

sua estrutura.

“A reabertura do teatro

será o resgate histórico de

um dos maiores movimentos

artísticos de BH”, garante

Marcelo do Vale, professor de

Artes Cênicas da Oficina de

Atores de Belo Horizonte

Das concorridas tempo-

radas líricas dos anos de

1950 e 60, à emergência de

bandas como Paulo Bagunça

e a Tropa Maldita, em 1970,

passando por apresentações

de megastars da MPB e do

teatro, foi a verdadeira casa

de cultura da capital. Sem

falar que algumas das mais

importantes manifestações

culturais do Estado ali come-

çaram e floresceram.

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4 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013

Camila Chagas e sueli azevedo

4º período

Não é nada fácil trabalhar no Serviço

de Atendimento de Urgência Móvel

(SAMU). A entidade tem o objetivo de

socorrer a população que venha a precisar

de um auxílio médico de emergência e, às

vezes, o pedido de socorro pode ocorrer a

qualquer dia, hora e lugar. Seja em que

circunstância for, os profissionais do

SAMU fazem o atendimento o mais rápido

possível, visando sempre a vida e o bem-

-estar do paciente.

O processo de atendimento do SAMU

é feito da seguinte forma: alguém liga para

o número 192 e o técnico que atende

identifica o grau de emergência e trans-

fere para o médico que orienta como se

deve proceder. A sigla SAMU, no entanto,

esconde o mais importante de tudo, que

são as pessoas que realizam os atendimen-

tos, os profissionais que, em quaisquer

condições, lutam pela vida alheia.

quem sÃo

As unidades móveis de atendimento

são divididas em dois tipos de ambulân-

cias: as Unidades de Suporte Básico

(USBs) e as Unidades de Suporte Avan-

çado (USAs). As primeiras contam com

equipamentos básicos, porém, primor-

diais para o resgate de ocorrências.

“Podem surgir casos em que, após o

Suporte Básico chegar ao local, se soli-

cite o suporte avançado — se a emergên-

cia for, por exemplo, uma parada cardior-

respiratória. Estão disponíveis substân-

cias como a adrenalina, que é um tipo de

droga que só pode ser aplicada por um

médico da USA e o monitor multiparâ-

metros”, explica o condutor Cristiano

Manuel Batista.

O suporte avançado trabalha com

dois técnicos de enfermagem que

devem possuir registro no Conselho

Regional de Enfermagem de Minas

Gerais (COREN), um médico com regis-

tro no Conselho Regional de Medicina

(CRM) e um condutor com carteira de

habilitação categoria D (ambulâncias,

viaturas, carros com sirene). O último

deve realizar o curso de Condução de

Veículos de Emergência (COVE),

quando são aplicados os conteúdos de

Legislação de Trânsito, Direção Defen-

siva, Noções de Primeiros Socorros,

Respeito ao Meio Ambiente e Convívio

Social e Relacionamento Interpessoal.

As unidades básicas trabalham com dois

técnicos de enfermagem e o condutor.

aTÉ Na seX shoP

A contratação do médico e técnico de

enfermagem é feita por meio de concurso

público. O condutor é contratado pela CLT

(Consolidação das Leis Trabalhistas). Uma

vez aprovado no curso COVE, o candidato

tem seu contrato renovado de cinco em

cinco anos, dentro da sua função. “O con-

dutor apenas dirige o veículo, não tem a

obrigação de ajudar no socorro. Somente

se o mesmo quiser fazer isto. Os conduto-

res têm carga horária de trabalho de 12

horas a cada 36 e os técnicos de enferma-

gem e médicos fazem 12 a cada 60”, conta

Cristiano Manoel Batista, motorista da

ambulância. Ele explicou ainda que 90%

das ocorrências acontecem durante o dia.

Normalmente, os socorristas atendem

12 chamados durante o dia e pelo menos

quatro na madrugada. Durante o dia, o

número de ocorrências é maior. “São aci-

dentes de trânsito, pessoas idosas que caem

nas calçadas ou acidentes de trabalho”,

enumera Manoel. “Por outro lado, os casos

que ocorrem de madrugada são poucos,

mas mais sérios, porque costumam envol-

ver armas brancas, convulsões e mal

súbito”, exemplifica Eliana de Paula, téc-

nica de enfermagem no SAMU há um ano e

meio. Manoel cita, por exemplo, casos inusi-

tados, em que o socorro foi solicitado em

motéis e — pasmem! — até em cabines de

uma sex shop! Pior que isso, só mesmo os

trotes, que também acontecem.

Em caso de acidentes em que a pessoa

fica presa nas ferragens, é acionado também

o Corpo de Bombeiros (193), responsável

por serrar as ferragens para que a equipe do

resgate possa retirar as vítimas. Charles

Silva é bacharel em enfermagem e trabalha

no SAMU há quatro anos, porém, está na

área da saúde há 12. “Sempre gostei de tra-

balhar nesta área, e já presenciei alguns

fatos chocantes como, por exemplo, aci-

dente de moto com amputação de braço,

esmagamento de pelve”, revela.

pROFiSSÕES

aNjoseles nem sempre são reconhecidos e também não recebem salários milionários, mas poucos fazem um trabalho tão necessário e importante

da guarda

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Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013 5

Erros e acertosnos serviços de saúde pública exis-

tem falhas. a demora no atendimento é

uma das reclamações da população. o

repórter Júlio César santos, da tV

record Minas, trabalha exclusiva-

mente à noite, e conta que acompanhar

o trabalho do saMu é quase uma rotina.

por isto, já presenciou alguns casos de

negligência como, por exemplo, a difi-

culdade do mesmo em conseguir um

atendimento em uma unidade de

pronto atendimento (upa) para uma

idosa. “os socorristas levaram a

paciente para cinco upas e nenhuma

recebeu a mulher porque não tinha

macas para colocá-la. os socorristas

ficaram andando por quase 50 minu-

tos em busca de atendimento e a idosa

sofrendo por causa da precariedade

da saúde pública”, conta o jorna-

lista. Júlio César ressalva que, apesar

de seu trabalho, os jornalistas “não

são invasivos, e a equipe trabalha sem

interromper o resgate do saMu”.

— Quando não há problemas, con-

versamos com os socorristas e até

mesmo com a vítima; tudo com o con-

sentimento do chefe da equipe de

saúde. se a prioridade é levar rápido

para o hospital, pegamos a informação

depois de todo o trabalho de socorro.

Mas nem tudo é só problema no

saMu. há também as coisas boas e

suas recompensas. Maria da Conceição

silva é doméstica e relata que sofre de

hipertensão e que precisou do atendi-

mento do saMu em sua casa. “Comecei

a passar mal e minha filha ligou para o

saMu. Vieram bem rápido e fui socor-

rida em casa mesmo e, depois, levada

para uma upa. Quando fui atendida por

um médico, ele me disse que estava com

princípio de infarto e que se não fosse a

ação rápida dos médicos do saMu, tal-

vez eu não tivesse a mesma sorte. sou

muito agradecida a eles”.

as reclamações pela demora do

saMu também existem. e vão desde

o atendimento telefônico até a che-

gada da ambulância. o condutor Cris-

tiano Manuel Batista explica que o

atraso pode ocorrer pela questão do

trânsito que, às vezes, “fica muito

complicado, principalmente se o cha-

mado ocorrer em horário de pico”.

outra justificativa dado pelo condu-

tor é que, ao atender a ligação, o aten-

dente faz várias perguntas para que

ele possa ter o máximo de certeza de

que não se trata de um trote. “o aten-

dente tem que prestar muita atenção

em todas as informações que a pes-

soa está descrevendo do outro lado

sobre o paciente: essas informações

são os sintomas que a pessoa está

sentindo, a posição que o doente está,

o local onde se encontram”.

só depois de todas as informações

passadas ao atendente e repassadas

por ele para o médico, é que se envia a

ambulância que estiver mais perto do

local e disponível para atendimento.

A base do SAMU se situa dentro das

unidades do Corpo de Bombeiros.

No início do projeto, os profissionais

eram remunerados com um salário

mínimo, mas, hoje, os salários dos agen-

tes variam de acordo com a função de

cada um. O médico recebe o salário total

de R$ 2.272,00; o auxiliar ou técnico de

enfermagem, R$ 1.354,00; e o condutor

tem o salário total de R$ 1.610,00.

Quando aprovado no concurso do

SAMU, o candidato tem a possibilidade

de escolher a cidade em que quer atuar.

O condutor Cristiano Manuel

Batista possui GPS particular para

encontrar os lugares.

Curiosidades

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6 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013

Pâmela maTos

4º período

Há 49 anos, o Brasil enfrentava a

Ditadura Militar, quando a liberdade de

expressão não existia e a opinião da

população era severamente punida com

o exílio. Hoje, onde tudo é permitido (ou

quase tudo), a polêmica está de volta e a

liberdade de expressão é colocada, mais

uma vez, à prova. Onde se inicia o direito

à liberdade de expressão e termina o

direito à intimidade e à privacidade?

A bola da vez são as biografias não auto-

rizadas. O questionamento é se as biografias

precisam ou não da autorização prévia do

biografado para serem publicadas. Tudo

começou em 2007, quando Roberto Carlos

conseguiu na justiça que a biografia

“Roberto Carlos Em Detalhes”, do escritor

Paulo César de Araújo, fosse recolhida das

livrarias, alegando invasão de privacidade.

Já em 2013, o assunto voltou à tona

com tamanha força que lados foram dividi-

dos e grupos foram criados para reforçar as

opiniões. Caetano Veloso, Gilberto Gil,

Chico Buarque e Roberto Carlos encabe-

çam o “Procure Saber”, “um grupo de

autores, artistas e pessoas ligadas à música,

dedicado a estudar e informar os interessa-

dos e à população em geral sobre regras, leis

e funcionamento da indústria da música

no Brasil” (Fonte: Perfil Procure Saber no

Facebook). Porém, no auge da polêmica, o

grupo entrou em crise e o Rei decidiu aban-

donar seus amigos, afirmando que “algu-

mas atitudes radicais não estavam condi-

zendo com o que ele achava”.

o que diz a lei

A polêmica sobre a publicação de

biografias está no Supremo Tribunal

Federal. A Associação Nacional dos Edi-

tores de Livros (Anel) entrou, no ano

passado, com uma ação questionando

dois artigos do Código Civil. Um dos

artigos determina que é preciso autori-

zação para a publicação ou uso da ima-

gem de uma pessoa. E que “a divulgação

de escritos, a transmissão, publicação

ou exposição poderão ser proibidas se

atingirem a honra, a boa fama, a respei-

tabilidade ou se tiverem fins comer-

ciais” (Artigo 20 do Código Civil).

O outro artigo diz que “a vida pri-

vada é inviolável” (Artigo 21 do Código

Civil). A Associação dos Editores alega

que a necessidade de autorização pré-

via é uma forma de censura. E que isso

ataca a Constituição, que prevê a liber-

dade de expressão e o direito à informa-

ção. Os editores pedem que o Supremo

declare a inconstitucionalidade parcial

dos artigos, deixando claro que não

deve haver autorização prévia para a

publicação de biografias.

O Supremo Tribunal Federal reali-

zou no dia 21 de novembro uma audiên-

cia pública para debater a publicação

das biografias. Na audiência, a ministra

relatora Carmen Lúcia ouviu dezessete

palestras sobre o tema, expondo suas

opiniões, tanto a favor quanto contra as

publicações. Segundo a ministra, todas

as falas serão levadas em consideração e

a decisão será anunciada em dezembro.

(*) Caetano Veloso

MOMEnTO

Em tempos onde impera a liberdade de expressão, quando resquícios de proibição aparecem, já se instala a polêmica. Afinal de contas, é ou não é proibido proibir?

“E Eu dIgo Não ao Não, E Eu dIgo: É! ProIbIdo ProIbIr!”(*)

Fotos: reprodução

Page 7: Jornal lince dezembro 2013

Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013 7

Nos Estados Unidos o mercado

de publicações não autorizadas está

s e expand indo cada vez ma i s ,

segundo o biógrafo Lawrence Ber-

green. Assustado com a abordagem

da discussão, ele revela que nos EUA

“as biografias não autorizadas têm

mais credibilidade do que as autori-

zadas, em que o biografado só deixa

sair aquilo que lhe interessa”.

“The Man Behind the Baby Blues”,

biografia não autorizada do ator Paul

Newman, escrita por Darwin Porter, faz

revelações polêmicas sobre a vida do astro

norte-americano, insinuando relações

homossexuais com diversos outros ato-

res. Apesar do escândalo, a família de

Newman não proibiu a venda do livro,

limitando-se a publicar uma nota com

desmentidos. Darwin Porter é especia-

lista nesse tipo de biografia: Howard

Hughes, Marlon Brando e Katharine

Hepburn são alguns de seus biografados.

No Brasil, a história é outra:

“Aprendi, em conversas com amigos

compositores, que, no cabo de guerra

entre a liberdade de expressão e o direito

à privacidade, muito cuidado é pouco”.

Chico Buarque, cantor e compositor.

“Talvez eu seja contra, porque o

autor pode contar a história do jeito que

ele bem entender”. Paola Oliveira, atriz.

“Acho que biografia deve ser auto-

rizada, acordada entre biografado,

autor e editor. O combinado não sai

caro. Eu me sentiria invadido, saca-

neado, mal compreendido, currado e

violentado se escrevessem a minha

história sem minha autorização”. Ale-

xandre Frota, ator e agora também

escritor, que recentemente publicou

sua biografia “Identidade Frota”.

“Eu acho que o Brasil tem mudado

demais e esse processo de mudança não

nos permite conviver com as censuras

das biografias. Eu tenho uma posição

contrária com relação a isso. Se isso acon-

tecer (proibição de biografias não autori-

zadas) significará um retrocesso dificí-

limo de ser administrado”. Renan Calhei-

ros, presidente do Senado.

“O ideal seria liberdade total de

publicação, com cada um assumindo

novos riscos. Quem causar dano deve

responder f inanceiramente. Eu

defendo, neste caso, indenização

pesada”. Joaquim Barbosa, presi-

dente do Supremo Tribunal Federal.

“As pessoas estão entendendo mal

a questão biográfica, como veículo de

fofocas, vidas privadas. Na verdade, o

que se trata, é do Brasil contar sua his-

tória. É um absurdo uma lei menor que

contraria o princípio básico da Consti-

tuição, que é a liberdade de expressão.

O Brasil tem uma situação que é única

no mundo, que é o único país que cen-

sura ,que faz censura prévia a biogra-

fias”. Cristóvão Tezza, autor do livro “O

Filho Eterno”.

“Eu acho essa história absurda,

sem pé nem cabeça. Isso tudo não é

contra a biografia não autorizada, é

contra a produção de ficção em geral.

As pessoas têm que entender que a

História do Brasil é do Brasil”. Fer-

nando Morais, autor das biografias

“Olga” e “Chatô: O Rei do Brasil”.

“A questão das biografias na legislação

brasileira atual não é homogênea, uma vez

que a Constituição Federal e o Código Civil

de 2002 divergem sobre o tema”, afirma a

advogada Camila Costa. Segundo ela, “a

Constituição Federal garante o direito a

liberdade de expressão e a vedação a qual-

quer tipo de censura”.

— A liberdade de expressão é uma

forma de exercício da democracia. E caso as

partes envolvidas sintam que seus direitos

foram violados devem recorrer ao judiciário,

a fim de ser indenizadas, se for o caso. Con-

tudo deve haver limites e os biógrafos devem

assumir a responsabilidade por todas as

suas obras. Caso infrinjam qualquer direito

ou causem qualquer dano às partes envolvi-

das, devem responder por seus atos e, se for

o caso, indenizar as partes. Nenhum direito

é absoluto: nem a liberdade de expressão

nem o direito a privacidade: deve haver um

equilíbrio entre ambos.

ReTRoCesso, CeNsuRa ou iNuTilidade?

O professor, mestre e doutor Julio

Buere é favorável à publicação das biogra-

fias, independente da autorização do bio-

grafado ou da família. Para ele, “além de

configurar um retrocesso do ponto de vista

da censura, constitui uma ameaça para a

construção da história”.

— O que alguns artistas estão propondo

pode gerar um processo de censura prévia a

documentos e registros orais e escritos de

todo e qualquer individuo. Este processo,

certamente cerceará o trabalho de cientis-

tas sociais, jornalistas e escritores no resgate

da memória histórica.

Mas ressalta a intervenção da Justiça

caso a liberdade de expressão vire uma, caó-

tica, invasão de privacidade. “Por outro lado,

a liberdade de expressão deve encontrar seu

limite, na calunia e difamação. No entanto,

ao agredido, caluniado, difamado e ofen-

dido cabe o direito de processar o autor da

biografia e exigir reparos nos termos da lei”.

— De qualquer forma, é necessário que

o debate extrapole a esfera das manchetes

sensacionalistas, que têm como objeto os

ditos “famosos” e ganhe imediatamente

uma esfera mais ampla que contribua para o

fazer da história e da constituição da demo-

cracia e da liberdade no país.

Já Leonardo Sarmento, do blog “Brasil

247”, julga as biografias desnecessárias para

o crescimento intelectual da sociedade.

“Sem querer desmerecer os penosos traba-

lhos biográficos, não os enxergo como infor-

mações de imprescindível interesse público

que não possa ficar a sociedade sem acesso”.

Não gostou? Recorra!

De Alexandre Frota a Renan Calheiros

Page 8: Jornal lince dezembro 2013

8 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013

Voar, voar... Se você não tem medo, a felicidade pode estar à sua espera numa

fantástica e divertida viagem de balão, tornando realidade

seu sonho de Ícaro...

TAMBÉM QUERO VIAJAR NESSE

BALÃO

maNuel CaRvalho

4º período

A primeira prática de balonismo

aconteceu em uma demonstração do

padre brasileiro Bartolomeu de Gusmão

para o Rei Dom João V de Portugal. Em

1709, o pequeno balão de papel, aque-

cido por uma chama, incendiou-se

antes de alçar voo. Dois dias mais tarde,

numa nova tentativa, o balão subiu

cerca de quatro metros, e tornou a se

incendiar. Três dias depois, na terceira

experiência, sucesso absoluto. O balão

ergueu-se lentamente até cair em um

terreiro, após ter a sua chama esgotada.

Mas, consta que o verdadeiro nasci-

mento do balonismo veio em 1783,

quando os irmãos franceses Joseph e

Étienme Montgolfier realizaram um

teste com um balão, atingindo mais de

dois mil metros de altura. A tentativa foi

um sucesso e a partir daí novos voos

foram programados. O sonho de Ícaro

começava a se tornar realidade...

FuNCioNameNTo

Antes, nada melhor do que ficar

por dentro sobre como funciona um

balão. O balão de ar quente tem três

partes principais: o maçarico (queima-

dor), o envelope (balão propriamente

dito), o cesto para proteger e transpor-

tar os passageiros, juntamente com os

cilindros de gás propano –— C3H8, um

derivado do petróleo —, e equipamen-

tos de navegação. As laterais do cesto

são de vime trançado, sendo o material

mais adequado para absorver os impac-

tos no pouso além de ser um ótimo iso-

lante elétrico. O envelope é confeccio-

nado com náilon e sua função básica é

suportar a cesta com seus ocupantes e

equipamentos, além de reter o ar

quente responsável pela sustentação

do balão. Na base (saia), é utilizado um

material especial à prova de fogo, deno-

minado nomex, para evitar que o balão

se inflame.

PRiNCíPio FísiCo

Os balões de ar quente são baseados em

um princípio físico: o ar mais quente sobe

mais que o ar frio. Portanto, para manter o

balão subindo é preciso reaquecer o ar. O

piloto aciona o queimador, aquecendo o ar

que está dentro do balão. Como a densidade

do ar fica menor que a do ambiente, isto gera

uma força para cima, sustentando o balão.

Quanto mais quente o ar, mais o balão

sobe; à medida que o ar vai esfriando, ele vai

descendo. Cabe ao piloto controlar a alti-

tude do voo, colocando-o dentro de uma

camada de ar quente que esteja deslocando

na direção desejada. Para facilitar isso,

pequenos balões cheios de gás hélio são sol-

tos na atmosfera, informando a direção do

vento nas diversas camadas de ar, permi-

tindo ao piloto prever a direção de voo.

Page 9: Jornal lince dezembro 2013

Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013 9

seguRaNÇa

O balão é uma aeronave, onde o piloto

deverá estar devidamente habilitado pela

ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil).

Por incrível que pareça, o balonismo é o

transporte aéreo mais seguro do mundo,

segundo estatísticas da FAI (Federação

Aeronáutica Internacional). Em voos turís-

ticos, os balões alcançam uma altura média

de 100 a 300 metros, para que os passagei-

ros possam interagir com a natureza e obter

um belo visual panorâmico da região. Voar

de balão proporciona uma sensação de estar

mais próximo do céu. A direção do vento

define o destino da viagem.

A evolução das técnicas de voo faz

com que a utilização do balão seja segura.

Quem quiser se aventurar, pode ter a cer-

teza que não haverá riscos. Mas, claro,

medidas de segurança sempre terão que

ser adotadas para que não haja nenhum

problema. “Respeitamos a natureza e as

condições climáticas. Quaisquer adversi-

dades, como rajadas de vento ou chuvas

fortes, implicam cancelamento do voo”,

adverte Glauco Azevedo.

ao amaNheCeR

Além disso, antes de iniciar o voo é

feito um briefing para explicar curiosida-

des do balonismo e questões de segurança.

“Também é importante voar sobre regiões

planas e abertas, livres de linhas de ener-

gia, e com fáceis acessos para a chegada da

equipe de apoio, além da comunicação via

rádio/GPS”, complementa Glauco. Os voos

de balão de ar quente são realizados

somente ao amanhecer, com decolagens

previstas por volta das 6h30. No caso de

voos ao entardecer, as decolagens são por

volta das 16h30.

“A sensação é de liberdade e paz. É

um passeio bem tranquilo, não tem

nada de adrenalina como algumas pes-

soas devem imaginar”, conta Rafael

Glauss, que já fez o passeio várias vezes.

“O medo só ocorre mesmo no início da

subida do balão. Depois, você está tão

alto e voando lentamente que não dá pra

sentir muito medo”.

Apesar da serenidade do voo de balão,

algumas medidas são necessárias. Gestan-

tes, idosos com mais de 70 anos, portado-

res de qualquer deficiência física e porta-

dores de distúrbios cardíacos, neurológi-

cos, psiquiátricos e/ou psicológicos, deve-

rão submeter-se a um exame médico e

obter uma autorização para voar. É aconse-

lhável, também, usar roupas confortáveis,

botas ou tênis, um boné para facilitar a

visão contra a luz do sol, não fumar durante

o voo e manter no pulso a alça de filmado-

ras e máquinas fotográficas.

A byBrazil Balonismo oferece uma presta-

ção de serviços considerando a segurança dos

passageiros — lanche durante o briefing, sessão

de fotos no interior do balão, voo com duração

média de 40 minutos, brinde de champanhe no

pouso e café da manhã especial à beira do maior

lago artificial para pesca esportiva da América

Latina, no Resort Águas do Treme, Roteiros de

Charmes (www.aguasdotreme.com.br). O valor

disso é R$ 420 por pessoa. A partir de duas pes-

soas, o valor cai para R$ 360 cada. Passeios

podem ser realizados mediante reserva através

do e-mail [email protected] ou contato

telefônico (31) 8727-9972.

CUSTOS

A melhor época do ano para voo é o período de abril a outubro, porque o balão terá maior sustentação. As temperaturas

externas poderão ser menores que as internas. Ventos moderados e sem precipitação de chuvas são considerados a melhor

condição climática para um voo.

— O balão voa ao sabor do vento e o piloto, variando a altura, identificará diferentes direções e velocidades das cor-

rentes de ventos, demonstrando suas habilidades (controle indireto de pilotagem). É por isso que o voo de balão é mágico,

porque cada voo tem suas particularidades, acrescenta Glauco Azevedo, piloto da byBrazil Balonismo.

CLIMA

Foto

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Page 10: Jornal lince dezembro 2013

10 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 201310 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013

RaYza KamKe e FeliPe FReiTas

4º período

No Brasil não há uma cultura per-

feitamente homogênea, e s im um

mosaico cultural, resultado da influên-

cia de vários povos e etnias. Embora o

país tenha colonização portuguesa, os

povos indígenas, africanos, italianos,

holandeses, japoneses e alemães deixa-

ram marcas profundas na cultura nacio-

nal. A liberdade cultural, movida muitas

vezes por movimentos vanguardistas,

popularizou a arte e traçou novos rumos

nas tradições nacionais. Fora do padrão

ou não, o Kitsch é a mistura do tocante e

do exagero que eclodiu culturalmente

pelo Brasil e no mundo.

pinguins de geladeira, flores artificiais, frutas

d e plástico, cores extravagantes, peles de animais, sapatos

de plataforma, anões de jardim e limusine

cor-de-rosa:conheça o Kitsch

ESTiLO

É sEr brEga...jÁ QuE o CHIQuE

Page 11: Jornal lince dezembro 2013

Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013 11

a oRigem

Mas o que quer dizer Kitsch?

Segundo o filósofo alemão Ludwig Giesz,

o termo Kitsch surgiu na segunda metade

do século XIX, quando turistas norte-

-americanos, na Europa, pediam a pinto-

res que realizassem esboços (sketch) de

quadros, o que seria mais barato. Assim,

a cópia é a origem. É um produto da

industrialização e da cultura de massa,

considerado típico da classe média com

pretensões de “subir na vida”. Mas não se

engane: o Kitsch é uma forma de arte, um

segmento cultural, e movimenta uma

indústria milionária.

Para o professor de Comunicação e

Cultura, Luiz Henrique Miranda, o Kitsch

é, antes de tudo, uma grande interferên-

cia da população nas formas de produção

artística, que antes eram restritas a clas-

ses dominantes. “Talvez o Kitsch seja o

berço da cultura contemporânea, ou a

forma mais real da expressão dessa cul-

tura, porque a população se apropria des-

ses produtos, e dá a eles o valor que reco-

nhece, muitas vezes sem fundamento.

Esses produtos passam a ter o valor

comercial, decorativo, das expressões

mais naturais próprias da psique humana.

Não há no Kitsch um padrão; existe, sim,

uma miscelânea que acompanha a livre

expressão”, explicou.

Alguns críticos entendem que o Kitsch

é um fenômeno recorrente na história da

arte, mas a maior parte dos estudos

concorda que se trata de uma manifestação

cultural recente, e que deriva dos avanços

da industrialização e da tecnologia. Sua

definição não é fácil: baseando-se em juí-

zos de valor, geralmente é tido como sinô-

nimo de algo banal, barato e de mau gosto.

Ao contrário da arte contemporânea, o

objetivo não é criar novas expectativas nem

desafiar o status quo, e sim agradar ao

maior número de pessoas.

Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013 11

Não se tem um paradoxo do que é ou não de bom gosto,

mas existem algumas leis, normas e conceitos que norteiam o

“bom produto”. Independente de ser um estilo contestador e

cheio de críticas, o Kitsch se espalhou tanto pelo mundo que

fica difícil distinguir: podemos ser usuários de vários frutos da

cultura. Capas de celulares com bichinhos, Pen Drive de dese-

nho animado, roupas estampadas, terços no retrovisor do carro

e até mesmo papel higiênico perfumado podem ser considera-

dos Kitsch... E você nem sabia!

Existe o execrável e o de bom humor. O professor Luiz

Henrique explica que “o bom produto são elementos estéticos

e funcionais, que fazem com que o item seja realmente útil, e

que não seja apenas rico pelos elementos perceptivos implíci-

tos que ele apresenta”. O Kitsch não existe na natureza; é uma

invenção do homem. Um pavão em seu habitat natural é lindo,

mas na cabeça da Elke Maravilha, passa a ser Kitsch.

Uma moda que vem enchendo a sala de cabeleireiros,

sapatarias e até mesmo consultórios estéticos é a de poltronas

em forma de sapatos de salto. A novidade pode ser encontrada

de vários tamanhos, cores e estampas de animais. “A maior

parte da mulherada adora; os homens costumam achar mais

exagerado”, disse o vendedor Jackson Maciel, que trabalha em

uma loja de produtos de cabeleireiro no centro de BH. A

maquiadora Virginia Januário não vê a hora de comprar uma

para seu salão, porque é “puro luxo”. Já a cabeleireira Berna-

dete Soares pensa o contrário: “É brega e de mau gosto; no meu

salão não entra”. O preço da iguaria pode ir de R$ 179 a R$ 199.

voCÊ É KItsCH?

Foto

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aYza K

am

Ke

Page 12: Jornal lince dezembro 2013

12 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013

O problema básico que o Kitsch

levanta para a crítica é o relativismo do que

se considera bom ou ruim. O influente

crítico de arte Clement Greenberg afirmou

que, “enquanto a arte de vanguarda, sendo

como é — abstrata, introspectiva e refle-

xiva, dedicada às explorações metalinguís-

ticas, tende a imitar os processos da arte

—, o Kitsch imita os efeitos da arte”. Já para

o filósofo Umberto Eco, o Kitsch é uma

quase nulidade, não passa de “uma citação

incapaz de produzir um contexto novo”.

Para outros, o Kitsch não passa de uma

bela mentira.

Na maioria das vezes, é passível de

críticas por emergir do povo, mas, ainda

assim, o Kitsch é sinônimo de bom humor.

Luiz Henrique acredita na autenticidade

da cultura.

— Ser brega e bizarro é sensacional.

Nós, quando acompanhamos um estilo de

muitas formas, vamos ter certo empobre-

cimento da livre expressão emocional em

detrimento de uma estética pré-conce-

bida. Se ele é banalizado e sofre precon-

ceito, é ótimo, porque assim ele também se

transforma e se fortalece.

Um importante jornalista e crítico de

arte brasileiro, Oswaldo Olney Krüse,

definiu o Kitsch como a gota de bom

humor que faltava na arte séria. “O Kitsch

não tem maldade”. O filósofo americano

Karsten Harries, por sua vez, observou

que o “anseio pelo Kitsch surge quando a

emoção genuína se torna rara, quando o

desejo adormece e precisa de estímulo

artificial; o Kitsch é uma resposta ao

tédio”. No final das contas, mostra a

diversidade cultural que existe na popu-

lação de forma comum e natural. É a livre

expressão, sendo a forma mais legitima da

liberdade de um povo.

12 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013

A alma brasileira sempre copiou estilos externos e pode ser considerada meio

Kitsch. As influências internacionais são recebidas e misturadas com aquilo que é do

gosto do brasileiro. Personalidades não faltam: Chacrinha, Falcão, Hebe Camargo e

Elke Maravilha... Mas nenhum consegue tirar de Carmem Miranda o título de ícone

máximo do Kitsch. Já no exterior, Marilyn Monroe, Elvis Presley e James Dean são os

campeões. Eva Perón, Madonna, Hilary Clinton, Lady Gaga e Katy Perry também

fazem parte deste seleto grupo de personagens.

Mas o Kitsch não é exclusividade da mídia. Paula Lyon Guimarães – Pauli-

nha Docinho, como gosta de ser chamada, adora tudo que tem brilho e é cha-

mativo. A personalidade de Paula é figurinha carimbada para aqueles que a

conhecem. Brilho e estrelas, unhas decoradas, o carro enfeitado com strass,

ursinhos e adesivos são sua marca registrada. “Tudo que tem brilho me chama

atenção: não suporto rotina e igualdade”, detona. Conhecida por seus vídeos

no Youtube, onde reinterpreta músicas de seus artistas favoritos, Paula diz não

se importar com a opinião dos que a consideram “brega”.

A professora de educação física ainda contou ao jornal Lince que em sua casa há

espaços reservados para cada tipo de coleção: ícones do México, do Cruzeiro, bichi-

nhos de pelúcia, enfeites de cachorro e para seus ídolos. Até tatuagem para os artistas

ela tem! No total de 13, três são em tributo a apresentadora Eliana, à cantora Kelly Key

e a dupla sertaneja Thaeme e Thiago. “Muitos me rotulam e me julgam, acham que

sou infantil e quero atenção, mas quem me conhece de verdade sabe que eu sou assim

naturalmente”, completou.

“O Kitsch é uma coisa feita pra gente sonhar, como se não houvesse problema no

mundo. É a busca desesperada pela felicidade”, fuzila Oswaldo Olney Krüse. A visa-

gista Danuza Miranda concorda com isso. Tanto que todas as almofadas de sua casa

têm a cara do Ronaldinho Gaúcho, em dezenas de fotos diferentes.

— Jogadores bonitinhos, como o Kaká, por exemplo, não fazem o meu gênero,

mas o Cristiano Ronaldo — pra mim, o mais brega de todos —, o Neymar e Ronaldinho

Gaúcho são o máximo.

Não por acaso, Neymar e Cristiano Ronaldo, emoldurados por estampas imitando

peles de onça, de zebra e penas de galinha de angola vão reforçar a decoração da casa

de Danuza antes do Natal. “É um sonho”, delira. E talvez seja isso mesmo. No final,

tudo é tão brega, mas tão brega, que fica legal.

De Carmem Miranda a Lady Gaga

sEM uNaNIMIdadE

Page 13: Jornal lince dezembro 2013

Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013 13

ESpECiAL

Soluções paternalistas, descaso e desrespeito: é assim que o portador de deficiência física é tratado em Belo Horizonte

RaFael maRTiNs

4º período

É muito fácil identificar problemas

para os portadores de qualquer tipo de defi-

ciência ao andar pelas ruas de Belo Hori-

zonte. Das calçadas aos estabelecimentos

prestadores de serviços — hotéis, comér-

cios, repartições públicas — passando pelo

transporte coletivo (houve um aumento

recentemente na frota de táxis acessíveis;

antes, era um só; agora, 60). No mais, fal-

tam respeito e educação. Mas, se tem algo

que os portadores de deficiência têm de

sobra é capacidade de superação para viver.

Essa é sua arma contra o preconceito.

“Ser deficiente não é fácil”, constata o

jornalista Rafael Bonfim, portador de defici-

ência física.

— Sofremos preconceito, temos com-

plicações médicas, o imaginário popular em

relação a nós é confuso e eu não sei o porquê

de, diabos, adorarem adotar o diminutivo

quando falam conosco: Você quer uma

aguinha? Vai tomar um solzinho?

Rafael, que já ouviu até mesmo um

incrível “ele é cadeirante, mas é tão boni-

tinho”, faz aqui um claro desabafo contra

o cotidiano que os portadores de deficiên-

cia enfrentam em Belo Horizonte. Razões

não lhe faltam. O dia a dia é mesmo bem

complicado, a começar dos acessos às

calçadas e rampas; muitas não estão den-

tro da norma da Associação Brasileira de

Normas Técnicas (ABNT). Ronaldo

Bhur, advogado, 45 anos, sendo 30 deles

cadeirante, sugere que cadeirantes pos-

sam ajudar na construção e na definição

das normas para o bem-estar de todos.

— Com a participação de um cadei-

rante, as calçadas estariam realmente de

acordo com a segurança e uso correto

daqueles que as utilizam.

Um dos exemplos apontados por

Ronaldo é o tipo de calçamento utilizado,

com as chamadas pedras portuguesas,

que se soltam com facilidade e os buracos

logo aparecem. Calçamentos à base de

ardósia, muito escorregadias, são igual-

mente repudiados por Marisa Pontes de

Almeida, 44, que anda de bengala e disse

que já tomou dois tombos. “Num deles,

quebrei o pulso”, emenda.

PadRÃo FiFa?

A maioria dos locais públicos não possui

banheiros adaptados, não bastando apenas o

símbolo da cadeira de rodas e sim sua efetivi-

dade para uso. Somente alguns shoppings

têm banheiros adaptados e mesmo assim,

em alguns casos, com ressalvas. Nos cine-

mas, em sua maioria, o cadeirante tem que

ficar na primeira fileira, praticamente

debaixo da tela e sem a presença de seu

acompanhante, pois deixam a fileira livre,

sem uma cadeira do lado de forma alternada.

Nos estádios de futebol, mesmo após

o controvertido padrão FIFA, descumpri-

ram as normas e demonstraram retro-

cesso no quesito acessibilidade. A denún-

cia é do vereador e deficiente Leonardo

Mattos. Ele esteve no Mineirão e não

conseguiu ver o jogo.

— Os lances perigosos e de mais

emoção, eu não conseguia ver, pois o

público se levantava.

Ele também revela que no Estádio

Independência, mesmo com a atuação do

Ministério Publico, não se encontrou ainda

um lugar adequado, seguro e com boa visibi-

lidade, observando, no entanto, que os dois

estádios têm boa acessibilidade. Os proble-

mas continuam em muitos restaurantes e

lanchonetes, onde as pessoas deficientes

têm enorme dificuldade, pois os balcões

ficam acima da altura de suas cadeiras de

rodas e muitos não são adaptados para defi-

cientes visuais.

Os bancos, hotéis e os meios de

transporte seguem um mesmo caminho

de ter lugares reservados, máquinas

com acessos, mas a maioria é só pra dis-

farçar, conforme a reportagem do Lince

pôde verificar. “Em lojas de roupas, o

espaço de circulação é ruim, pois os

colocam produtos em prateleiras altas

inacessíveis para cadeirantes e a maio-

ria dessas lojas não tem provador para

esse público”, afirma a cadeirante

Telma de Oliveira.

Segundo Ronaldo Bhur, é um incô-

modo ter que precisar de outras pessoas.

— Qualquer pessoa, para sua satisfa-

ção plena, não gostaria de depender de

outra; no caso das pessoas com deficiência,

a dependência está atrelada, na maioria das

vezes, a um sentimento de impotência,

principalmente pelo fato de que a depen-

dência não vem seguida de uma gentileza,

respeito ou educação, mas de coisas que são

feitas como uma obrigação.

“ELE É, CADEiRAnTE

MAS É TÃO BONITINHO...”

Page 14: Jornal lince dezembro 2013

14 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013

AÇÕES GOVERNAMENTAIS

Muitas leis já foram sancionadas

na Câmara Municipal de Belo Hori-

zonte, mas pouco se vê sua aplicação.

(Confira na página 15).

Segundo o vereador Leonardo Mat-

tos, as leis, ou não são fiscalizadas por

falta de fiscais ou por falta de recursos.

“As leis requerem recursos. Muitas vezes,

o governante fica na dúvida se gasta com

a saúde e educação ou com a acessibili-

dade. Fica realmente difícil definir qual a

prioridade”.

Triste com a situação, Ronaldo

Buhr fez um desabafo sobre as ações do

governo. “Falta vontade, respeito para

com a pessoa, desrespeito com as leis

que asseguram os direitos da pessoa

com deficiência, seja pelo poder público

ou público-privado. Os governantes

pouco fazem e aqui cabe uma crítica a

muitos que utilizam da deficiência

adquirida ou congênita em eleições e

que ocupam funções de deputados,

vereadores e administradores públicos e

não lutam pela efetividade dos direitos

da pessoa com deficiência”.

Para ele, o setor privado acredita

ser um favor dest inar vagas de

emprego cumprindo uma cota exigida

por lei. “A produtividade das pessoas

com deficiência é igual ou superior

àquelas que não possuem nenhuma

limitação. O Ministério Público finge

que fiscaliza e é omisso no cumpri-

mento das leis. Vivemos num mundo

capitalista e o dinheiro está acima de

tudo”, completa.

Leonardo Mattos também acredita

que faltam manifestações concretas de

interesse de melhoria da situação. Para

ele, todos os governantes têm o dis-

curso incisivo, solidário, mas a prática

não acompanha esse intuito.

mais PRoBlemas

A palavra dificuldade é uma das

mais vistas no dicionário dos deficien-

tes. Nas viagens e compras de carro, ela

também está inserida. Gilberto Porta

conta que o desconforto é muito

g rande em v iagens de ôn ibus ,

incluindo problemas como a dificul-

dade para entrar e sair, falta de mobili-

dade e autonomia, já que a cadeira de

rodas fica no porta-malas e falta

banheiro acessível.

Nas viagens de avião, os mesmos

problemas que no ônibus. No embar-

que, desde o check-in, os portadores de

deficiência ficam à mercê dos funcio-

nários da companhia aérea, sem

nenhuma autonomia. O acesso ao

avião e o desembarque dependem dos

recursos do aeroporto e da companhia

aérea (não são todos que têm). Os

melhores são os fingers e os ambulifts

— tipos de aparelhos que auxiliam na

locomoção —, mas ainda há ocasiões

em que são carregados pelas escadas.

A compra de um veículo com

isenção de impostos é muito burocrá-

tica devido às exigências da Receita

Federal. O melhor é optar pelos servi-

ços de um despachante especializado

no assunto. Eles têm o direito às isen-

ções de IPI, ICMS, IOF (na compra do

primeiro veículo financiado) e IPVA.

Para ter direito às isenções, o

valor de mercado do veículo deve ser,

no máximo, de R$ 70.000,00 (setenta

mil reais) e somente para carros

zero km, o qual já é faturado com as

isenções.

Existem vários modelos que

podem ser adaptados para motoris-

tas com deficiência. “No nosso caso,

o carro deve ter câmbio automático e

p o r t a - m a l a s e s p a ç o s o p a r a

cadeira de rodas. É possível também

consegu i r a s i s enções mesmo

quando a pessoa não é habilitada e o

seu carro será conduzido por outra

pessoa”, afirma Gilberto Porta. Para

ter direito à nova isenção, a pessoa

deve ficar, no mínimo, dois anos com

o veículo. Se a pessoa quiser comprar

um carro usado, nada impede, mas

não terá as isenções. Se o preço do

veículo for acima de 70 mil reais, só

terá direito à isenção do IPI.

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Page 15: Jornal lince dezembro 2013

Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013 15

O site www.bhlegal.net foi criado

pelo casal Gilberto Porta e Telma de Oli-

veira, um metalúrgico aposentado e

uma funcionária pública. O casal tem

deficiência de locomoção e iniciou o

projeto com o objetivo de esclarecer e

informar a população que enfrenta difi-

culdades na busca por serviços especia-

lizados para portadores de deficiência.

O primeiro passo foi a criação do site.

“O segmento de bares e restauran-

tes e hotelaria parece ser o mais atento

às necessidades dos portadores de defi-

ciência física”, explica Gilberto, lem-

brando que a maioria procura dar aces-

sibilidade aos portadores de deficiência

em diversas instâncias.

— Os shoppings se adequaram e a

maioria está dentro das normas, com

pessoal bem preparado para nos atender,

afirma o casal, ressalvando que, dentro

das lojas, isso costuma ser diferente. A

parte de cinemas, teatros e casas de espe-

táculos está se adequando aos poucos,

sendo que os mais novos seguem as nor-

mas, os mais antigos nem sempre. O

m e s m o s e d á c o m o s m u s e u s .

“O pior em acessibilidade é o comércio

em geral, que parece ainda não ter se

dado conta de que somos uma parcela

considerável de consumidores. As lojas

costumeiramente não são acessíveis, a

começar pelas entradas, sempre com

degraus muito altos”, reclama Telma.

Ela afirma também que a maioria tem

corredores de circulação muito estrei-

tos, dificultando o trânsito para cadeira

de rodas. Os balcões e o caixa são sem-

pre altos demais para cadeirantes e pes-

soas de baixa estatura.

Nas lojas de roupas, segundo o

casal, os problemas são ainda maiores.

— Não existe provador adaptado e a

pessoa é obrigada a comprar sem provar

e depois passar pelo transtorno da troca

de roupas. Os vendedores são mal pre-

parados para nos atender, não enten-

dem nossas necessidades mais básicas:

somos um segmento de consumidores

que vem sendo praticamente ignorado.

“A pior entre as piores”, em nossa

opinião, “é o estado das calçadas”,

afirma Gilberto.

— BH já dispõe de ônibus adaptados

(embora os usuários façam reservas

quanto à qualidade desse serviço) e tam-

bém de táxis acessíveis. O difícil é transi-

tar pelas calçadas até chegar ao ponto de

ônibus ou, usando o táxi, descer dele e ir

pela calçada até o seu destino. A manu-

tenção dos passeios é péssima. A topogra-

fia da cidade faz com que haja desníveis

absurdos até para quem anda sem dificul-

dade. O equipamento urbano - telefones,

caixas de correio, lixeiras - muitas vezes é

mal colocado atrapalhando o pedestre.

Apenas parte dos órgãos públicos tem

seus prédios acessíveis, mas alguns ainda

não se adaptaram. Bares, restaurantes e

hotelaria, também em parte; os de grande

porte, portanto mais caros, são os que

seguem mais as normas.

— A área de saúde é vergonhosa.

Onde mais se esperaria cuidados, é

onde menos se encontra: clínicas e hos-

pitais inacessíveis desde a entrada,

banheiros mal adaptados, falta de cadei-

ras de rodas para os pacientes, falta de

elevadores e rampas em aclive irregular.

Até nas áreas de internação costuma

faltar banheiro adaptado.

“De outro lado, se o equipamento

urbano nem sempre é adequado, encon-

tramos muita boa vontade e gentileza por

parte da população”, afirma Gilberto.

— Sempre que estamos sozinhos e

em dificuldade aparece uma ou várias

pessoas oferecendo ajuda: seja para

guardar a cadeira de rodas no porta-

-malas do carro ou para nos ajudar a

subir uma rampa ou atravessar a rua.

Nesse aspecto, de gentileza urbana, a

cidade é nota 10!

BH Legal mostra pontos positivos e negativos na cidade

lei 10.214/11 - leonardo Mattos e luzia Ferreiraa norma institui o Censo inclusão, com objetivo de identificar e cadastrar os perfis

socioeconômicos e as condições de habitação e de mobilidade urbana das pessoas

com deficiência que residem no município.

lei 10.418 - leonardo Mattosprevê o incentivo ao desenvolvimento de pesquisas e projetos multidisciplinares com

foco no autismo e na melhoria da qualidade de vida dos afetados.

lei 10.490 - Sérgio Fernando pinho tavarespermite às pessoas idosas ou com deficiência o agendamento de consultas por telefone

nas unidades públicas de saúde onde sejam cadastradas.

lei 10.190 - Divino pereiraGarante assistência especial à parturiente cujo filho recém-nascido seja pessoa com

deficiência.

lei 10.530 - cabo júlioCondiciona a concessão e renovação do alvará de funcionamento das agencias

bancarias à instalação de bebedouros e banheiros com dependências próprias para

pessoas com deficiência

lei 10.066 - arnaldo godoyprevê a adaptação de táxis no município. a norma deu origem ao decreto 14.843/12,

em que o executivo incluiu 60 veículos adaptados entre as novas permissões de placas.

lei 10.142 - leonardo Mattosestipula que jardins, parques, clubes, áreas de lazer e áreas abertas ao público geral,

contenham, além de condições de acessibilidade, brinquedos adaptados.

lei 10.440 - Sergio Fernando pinho tavaresdetermina desde março de 2012 a instalação de banheiros químicos adaptados em

todos os eventos realizados no município.

lei 10.442 - léo burguês de castroautoriza o executivo a implantar semáforos sonoros nas vias mais movimentadas do

município, proporcionando maior segurança na travessia.

lei 10.439 e 10.113 - alberto rodrigues e luís tibéassegura o recebimento de correspondências do poder público municipal em braile;

determina que lan houses e cybercafés ofereçam computadores adaptados para

pessoas com deficiência visual.

lEiS para oS portaDorES DE DEFiciÊncia

Page 16: Jornal lince dezembro 2013

16 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013

CoMo sE baILa DiVERSiDADE

RaPhael gouvÊa e Thiago CaldeiRa

2º per íodo / 6º período

Em Belo Horizonte, pelo menos por

quem anda pelo centro, um dos assun-

tos mais comentados ainda é a presença

de índios brasileiros e até mesmo

estrangeiros que ocupam o centro da

cidade. Há os que tocam instrumentos

musicais — estes quase sempre bolivia-

nos e equatorianos — e também os

índios brasileiros, que deixam suas

famílias nas tribos e vêm à capital para

vender artesanato.

Por que a presença dos índios é uma

questão muito discutida nas ruas? Muita

gente contesta a presença deles, princi-

palmente na Praça 7, pelo fato de estarem

ocupando um local onde é grande o movi-

mento de pessoas durante todo o dia, e, às

vezes, atrapalhando a passagem dos

pedestres. É que os índios ocupam boa

parte da praça com a exposição de seu

artesanato.

BaTeR Na BoCa

Em uma conversa com o Lince, o

índio Chawã, 27, que pertence a tribo

Pataxó, falou de suas dificuldades. Além

de ter que ficar longe da família, ainda tem

que conviver com o preconceito de uma

boa parte desses pedestres.

— Normalmente, ficamos por aqui

durante um mês, até vender o artesanato...

Ficamos preocupados, porque temos famí-

lia e sentimos muitas saudades. Nem vie-

mos para Belo Horizonte, pois viajamos

para outros estados também.

Uma imagem do preconce i to

demonstrado pelas pessoas, segundo

Chawã — por “inocência ou, às vezes,

chacota” — é bater na boca para imitar

sons onomatopaicos geralmente atribuí-

dos aos índios. São sons ritualísticos usa-

dos em cerimônias tribais, comuns a

quase todas as comunidades indígenas do

Brasil, mas que nem sempre representam

uma realidade cotidiana. É um estereó-

tipo, segundo os índios.

— Eles nem sabem o que isso signi-

fica. Por isso que, para nós, indígenas, isso

é uma forma de agressão, como se estives-

sem chamando o índio para a briga. Isso

não pode ser feito de maneira nenhuma,

pode acabar gerando um conflito. Por isso

que procuramos ignorar quando passa

alguém aqui batendo na boca e olhando

para nós.

As viagens às capitais são parte de um

processo quase ininterrupto de sobrevi-

vência. Ao falar como funcionam essas

idas e vindas para a Beagá e outras capi-

tais, Chawã explica que é uma espécie de

rodízio, pois há outros serviços que os

pataxós vêm para desenvolver aqui.

Engana-se quem pensa que eles só vêm

para vender artesanato.

— O trabalho é voluntário, pois para

nós que somos criados na natureza, o

importante nem sempre é o lado finan-

ceiro. Queremos ajudar na formação de

pessoas, e mostrar um pouco da cultura

indígena para eles. Sempre trabalhamos

em grupos. No mês de abril, fazemos tra-

balhos em escolas para divulgação da

nossa cultura com palestras e danças.

Vamos com um grupo de cinco a sete pes-

soas para mostrarmos nossos rituais.

Na trIbo...Mas, ao contrário do “eterno domingo”, em que todo mundo vivia pelado e pintado de verde, em seu cotidiano os índios enfrentam

desconfiança e preconceito até na luta pela sobrevivência

Page 17: Jornal lince dezembro 2013

Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013 17

Os comerciantes da região

discutem muito sobre a pre-

sença dos indígenas na praça,

sempre com visões diferentes. O

comerciante Gilmar Fernando,

47 anos, dono de uma lancho-

nete no local, não tem do que

reclamar.

— Acho esses índios bem

batalhadores; afinal, eles saem

de outros estados para vir ven-

der seus artesanatos aqui em

Belo Horizonte. Não é qualquer

pessoa que teria coragem de

largar sua casa para vir passar

uma temporada morando de

aluguel em uma cidade total-

mente diferente do lugar em

que você nasceu e foi criado.

Mas, se o olhar de cumplici-

dade recai com frequência sobre

os índios brasileiros, com os

estrangeiros a coisa é bem dife-

rente. Quando perguntado se é

contra ou a favor da presença

dos índios bolivianos, o comer-

ciante não tem meios termos.

“Aqui na praça sete existem dois

tipos de índios. Os cantores e os

não cantores”, afirma Gilmar.

— Os que vendem artesa-

nato não atrapalham em nada,

afinal, montam uma espécie de

lona improvisada no chão e

ficam ali o dia todo sem fazer

barulho ou qualquer outra coisa

que possa atrapalhar; os músi-

cos, não.

Para com os índios arte-

sãos, Gilmar, além de compre-

ensivo, é também, solidário.

— Quando os mesmos

querem comer alguma coisa,

vendo mais barato. Não são

todos que compram na minha

lanchonete, mas os que com-

pram já são clientes fixos e isso

facilita na identificação para

que eu possa conceder os des-

contos a eles.

Já a vendedora de fotos 3 x 4

Maria Guilhermina, 48, não

tem a mesma visão que o dono

da lanchonete. Para ela, a forma

com que eles colocam o artesa-

nato no chão, num local em que

o movimento de pessoas é muito

grande, atrapalha tanto para os

pedestres quanto os que são

como ela, vendedores de fotos:

Segundo Maria Guilher-

mina, “eles espalham os produ-

tos deles aqui no chão e, às

vezes, pegam um espaço

grande, que poderia ser usado

por mim, para eu tentar vender

mais fotos”, grita a ambulante,

sem se importar de ser rotulada

de egoísta. Guilhermina tem

uma visão bem curiosa sobre a

permanência dos indígenas na

praça. Ao mesmo tempo em que

confessa que não sentiria a

menor falta deles, caso fossem

remanejados de lá, faz uma res-

salva e diz “que é a favor,

olhando pelo lado deles, que só

estão querendo ganhar um

dinheirinho”. Mas, como nin-

guém é perfeito, ela também diz

que “vendo que eles estão me

atrapalhando no trabalho, então

eu sou contra”.

Da mesma forma que o

taxista Wanderley José, que faz

ponto diariamente na praça e já

chegou a discutir com os índios

bolivianos.

— Os brasileiros são bon-

zinhos, ficam na deles, mas os

bolivianos, não. Tocam música

altíssima, incomodam todo

mundo.

Emiliano e Yander, dois

índios bolivianos que costumam

trabalhar na praça, se defen-

dem. Dizem que, mesmo

quando falam outro idioma e

vêm de um país distante, não

estão tão longe dos índios brasi-

leiros. “Nós e eles enfrentamos

os mesmos preconceitos. Não

faz a menor diferença eu ser

boliviano e o Chawã ser baiano.

Eles olham pra gente como se a

gente fosse um bicho do mato”.

BATALHADORES

Fotos: raFael martins

Page 18: Jornal lince dezembro 2013

18 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013

EDUCAÇãO

EsCrEvEu, Não LEu,

a dificuldade para redigir bons textos gera dúvidas sobre o futuro de nosso sistema educacional

o Pau CoMEuJoÃo Paulo FReiTas

4º período

o que fazer quando precisamos vencer algo que tanto nos

amedronta? esta pergunta é feita por diversos estudantes

que lutam por bolsas de estudo em grandes universidades e

centros universitários, por meio do exame nacional do

ensino Médio (eneM), ou também em diversos concursos. o

motivo principal para tanta preocupação seria a tão temida

prova de redação.

a procura por aulas específicas aumenta diariamente.

páginas na internet são distribuídas aos montes para

instruir os alunos que buscam técnicas e segredos para

produzir um texto de alta qualidade. Mas, em tempos de

globalização com informações em tempo real sobre tudo, a

que poderia ser atribuído todo esse “pavor”?

Ao tentar explicar um pouco do que

ocorre atualmente, a professora de Língua

Portuguesa, Literatura e Redação Nágila

Santos de Araújo, 34, esclarece que a

redação hoje é de extrema importância

para o sucesso estudantil.

— Se pararmos para pensar, vive-

mos em uma sociedade competitiva,

que exige cada vez mais conhecimento

para que o indivíduo consiga ingressar

no mercado de trabalho. Adquirir tais

conhecimentos e ter uma carreira bem

sucedida significa, no mínimo, fazer

um curso superior, o que pressupõe

obter uma boa nota na prova do ENEM

ou ser aprovado em um concurso ou

vestibular.

A professora, que também é pós-gra-

duada em psicopedagogia, cita que muitas

vezes são os próprios alunos que criam

medos e expectativas exageradas. Mas

não descarta que a falta de leitura diária

agrava a situação.

— A redação para muitos alunos

parece um “bicho

de sete cabeças”. Em

frente ao computador,

os jovens criam frases e

constroem parágrafos para se

comunicar com os amigos. No

momento da redação, escrever, muitas

vezes, se torna um suplício. Nossos estu-

dantes leem e escrevem pouco. Como

consequência não se tornam pessoas crí-

ticas, com plena capacidade de se posicio-

nar diante de assuntos da atualidade.

PARAR PRA PENSAR

Page 19: Jornal lince dezembro 2013

Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013 19

o Pau CoMEu

ar

tHu

r v

ieira

Já há alguns anos, a internet se

tornou fonte essencial para a busca

constante de informação e comunica-

ção. no caso da redação não foi dife-

rente. porém, uma nova linguagem

vem sendo difundida pelas redes

sociais mundo afora, fazendo com que

aconteça uma confusão extrema de

ideias. É o que diz Bethânia Cunha

lomato, 42, diretora do Cellp (Curso

de estudos literários e língua portu-

guesa), no qual ministra o curso de

redação voltado para

c o n c u r s o s

públicos,

vesti-

bulares e enem. a especialista tam-

bém é dona de uma página no facebook

intitulada “redação”, que possui mais

de 28 mil seguidores.

— o que poderia ser uma grande

ajuda para o aprendizado, tem se tor-

nado um inimigo em potencial, pelo

menos no que diz respeito à escrita e

a postura omissa de algumas escolas

em relação a isso. os alunos, por

dedicarem boa parte do tempo às

redes sociais (chats, envio de mensa-

gens através de e-mails e torpedos),

criam o péssimo hábito de abrevia-

rem as palavras, quando não criam

outras, específicas desses ambien-

tes. Com isso, ao redigirem textos,

não respeitam as regras gramaticais

básicas como acentuação, pontuação

e ortografia.

para Bethânia, criou-se um mito

em relação à redação do eneM, como

se fosse um gênero textual novo. “o

texto dissertativo-argumentativo

cobrado nessa prova, nada mais é do

que a dissertação-argumentativa de

outrora, só que com a exigência de

apresentação de proposta. esse

aspecto é o que a difere de outros ves-

tibulares. entretanto, muitos alunos

desconhecem isso, o que acaba

gerando muitas dúvidas”, alerta.

INTERNET E ENEM

Sim, são eles os personagens princi-

pais de toda esta história. São eles que

buscam dia após dia um aprimoramento

cultural. Pelo menos é o que supõe Fran-

cielli Aparecida de Sousa, 18, estudante.

Segundo ela, o maior medo é iniciar o

texto de forma que seus argumentos pos-

sam convencer de forma positiva quem

for fazer a correção. Medos à parte, tam-

bém diz ainda que a redação contribui e

muito no desenvolvimento de ideias e na

própria comunicação diária. “Considero

fundamental esforçar ao máximo em

meu texto, não somente com o pensa-

mento voltado para altas notas, mas para

o desenvolvimento intelectual”, explica.

Eduardo Humberto Machado, 20,

cabeleireiro e estudante de arquitetura,

corrobora o que disse Francielli. Para ele,

quem não escreve bem, também não sabe

argumentar em situações difíceis do coti-

diano. “À medida que vou estudando e

desenvolvendo temas, minha habilidade

para resolver problemas considerados

simples passa a aumentar. Isto ajudará

muito na minha futura profissão”, expõe.

Porém, Renato Reis, 23, estudante

de administração, acredita ser um exa-

gero a valorização excessiva da redação

nas notas finais. Segundo ele, outras

matérias são tão importantes quanto, e

ajudam no desempenho de cada um,

dependendo do que se for cursar.

— No meu caso, preferiria mil

vezes que focassem na matemática, por

exemplo.

Não existe uma receita pronta ou

mesmo segredos para redigir um texto de

qualidade. “Na verdade, o que existe é um

conjunto de ações”, explica a professora

Bethânia Cunha Lomato, lembrando

que, “primeiramente, o aluno deve dedi-

car boa parte do tempo à leitura, para

familiarizar-se com os temas atuais, que

possivelmente cairão nas provas; além

disso, deve ter conhecimento das caracte-

rísticas do gênero textual exigido pela

banca corretora”.

— Por fim, deve dedicar-se à prática

de redigir textos, diariamente, assistido

por um professor, para que possa fazer

uma verificação do conteúdo assimilado.

Aí começam os problemas para

Hélvio Lage, 22, estudante. Cursando

o último período de arquitetura numa

faculdade do interior, Lage mal se

lembra do título do último livro que

leu e ainda assume que, de 2012 para

cá, não leu nenhum, nem mesmo os

indicados para seu curso. Reprovado

em três concursos e com poucas pers-

pectivas de conseguir emprego em

curto prazo, faz bicos trabalhando

como garçom em um bar da capital,

todo fim de semana. E está profunda-

mente arrependido, pois, na semana

passada, dois colegas seus ganharam

bolsas de estudo na prestigiada Sor-

bonne, em Paris. Hélvio foi reprovado

na prova de redação.

OS ALUNOS

Page 20: Jornal lince dezembro 2013

20 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva -

daNiela aRBeX

ed: Geração

PedRo heNRique

PeiXoTo

ed: bb

LiVRO

William PeTeR BlaTTY

ed: aGir

o eXoRCisTaEm comemoração ao aniversá-

rio de 40 anos da franquia de

terror de maior sucesso de

todos os tempos, o relança-

mento de O Exorcista só prova

mais uma vez que a história se

mantém densa e atual mesmo

depois de tanto tempo. Os mais

medrosos podem ficar tranqui-

los, pois a complexidade dos

personagens e os núcleos tão

bem entrelaçados se sobres-

saem ao terror presente da pri-

meira a última página.

✰✰✰✰✰

RogeR leoN

2º período

De clássicos como “Dom Cas-

murro”, de Machado de Assis, a

febres adolescentes como “Melan-

cia”, de Marian Keys, os livros de

bolso estão cada vez mais presentes

no mercado editorial. Além do preço

relativamente baixo, o tamanho que

não vai além de 13,0 cm x 19,8 cm

agrada o leitor que lê em lugares

como pontos de ônibus, consultó-

rios médicos e pode guardá-lo na

bolsa. Porém, os livros de bolso tam-

bém passam pela reprovação de

autores que acham que a versão

diminuída desvaloriza a obra.

Os ‘Pocket Books’ surgiram na

Alemanha no início da década de

30, pois as editoras não conseguiam

suprir a demanda da população.

Naquela época, os livros eram cos-

turados um a um, e os livros de bolso

tinham uma confecção mais ama-

dora sendo prensados por uma cola.

Logo depois, os EUA copiaram o

modelo com sucesso, e a editora

Globo foi a pioneira com os ‘Pockets’

no Brasil. Hoje, a maioria das gran-

des editoras tem a sua filial que

lança seus sucessos em versões de

bolso, como é o caso da Objetiva com

a Ponto de Leitura, e a LPM, que

vêm se consolidando com as versões

menores.

O público divide a opinião. A

estudante Renata Lopes, 19, sem-

pre prefere os livros de bolso. “Com

120 reais, consigo comprar sete ou

mais livros em versão pocket,

enquanto se eu fosse comprar a

versão original, não levava nem

três”. Já a aposentada Maria de

Fátima não tem nenhum livro de

bolso em sua coleção. “Pra mim

que sou colecionadora, o livro de

bolso é um estraga prateleira. Se

não tem a versão original, eu pre-

firo aguardar”.

Já com os vendedores (que na

maioria das vezes ganham comis-

são), os Pocket Books podem ser um

lucro a menos. Um vendedor, que

preferiu não se identificar, foi cate-

górico. “Dificilmente eu mostro a

um cliente um livro de bolso, só se

ele realmente insistir, porque deixar

de vender um livro de 60 reais para

vender um livro de 20 deixa o vende-

dor no prejuízo”. Mas para o vende-

dor Ricardo Alves, o livro de bolso

tem uma função diferenciada.

“Antes de tudo, o livro tem uma fun-

ção social. O cliente que não pode

gastar tanto tem que ter o direito de

adquirir a obra nem que seja na ver-

são mais barata e todos têm que ter o

direito de escolher”.

Para o representante editorial

Jardel Freitas, da editora Martin

Claret, os livros de bolso estão em

ascensão. “Nos últimos 20 anos, a

venda dos Pocket Books subiu consi-

deravelmente e principalmente no

âmbito escolar”, observa Jardel, que

acha que os livros mais recentes

ainda têm preferência em sua ver-

são maior. “O forte ainda são os

livros antigos e mais clássicos, que

também são os preferidos da edi-

tora. A tradução e os direitos auto-

rais saem mais em conta”.

Vale ressaltar que a maioria dos

títulos ainda não são encontrados

em versão de bolso, mas que, pela

demanda atual, em breve as editoras

farão como os EUA, que trabalham

quase que exclusivamente com seus

Pocket Books.

ideNTidade FRoTa, a esTRela e a esCuRidÃo.

A biografia de uma das per-

sonalidades mais polêmicas

da mídia, Identidade Frota,

mostra um personagem sen-

sível e distante do que conhe-

cemos. Declarações polêmi-

cas envolvendo terceiros

chamam mais atenção que a

história do protagonista, que

afirma: “Não quero servir de

exemplo”. Ainda bem.

✰✰✰✰✰

holoCausTo BRasileiRo

DICAS

Um exímio trabalho da jorna-

l i s ta Danie la Arbex , que

retrata uma triste página da

história do nosso país, um ver-

dadeiro genocídio em um sana-

tório em Barbacena que perdu-

rou por décadas. Com relatos

de pessoas que passaram por lá

em diferentes situações, o

denso livro mostra porque é a

obra de não ficção mais ven-

dido do ano.

dE taMaNHo a PrEÇo:

tudo CabE No boLso

✰✰✰

Page 21: Jornal lince dezembro 2013

Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013 21

ESpORTEPErguNtas a sErEM rEsPoNdIdasCOPA DO MUNDO:

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Page 22: Jornal lince dezembro 2013

22 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013

O povo dá sua opinião sobre o Mundial e os investimentos em torno dele.

Será que estamos no caminho correto?

JoÃo viToR CiRilo (4º PeRíodo)

Quando o assunto é Copa, todo mundo fala um pouco; seja no futebol ou na reestruturação do nosso país por meio

das grandes obras trazidas pelo evento. Resolvemos deixar o povo falar, dar seu pitaco sobre questões como

segurança, transporte, serviços, investimento e, claro, futebol.

- Com a má imagem do país após mais uma briga em está-

dio, turistas virão com a mesma tranquilidade?

“Depende dos próximos seis meses, apesar de 2013 ter

tido vários confrontos nos estádios”. Raphael Abner, 20,

músico. – Rio de Janeiro (RJ).

“Acredito que possa afetar, mas a hospitalidade do brasi-

leiro é maior do que esses episódios de violência e vão

amenizar o temor”. Fernanda Castro, 41, professora. –

Belo Horizonte (MG).

- Com as novas arenas, os preços foram substancialmente

elevados. A Copa poderá ajudar a reduzir a presença de

marginais nos estádios?

“Acredito que não. Vejo que esses delinquentes estão pre-

sentes em todas as classes sociais”. Victor França, 22,

estudante de jornalismo. – Aracaju (SE).

“Um pouco. Tenho visto uma mudança de perfil. Sem

dúvida há mais crianças, mulheres e idosos. Vou ao Minei-

rão desde a década de 1990 e percebo elitização e menos

arrastões, brigas, roubos”. Paulo Armondes, 31, professor.

– Belo Horizonte (MG).

- O que acha das obras do governo no que diz respeito a

transporte público? Acredita que teremos problemas

durante o evento?

“Poderão sim ajudar a população no requisito ‘tempo de

viagem’, mas, ainda não acredito que os meios de transporte

(como o BRT) irão comportar a população”. Lucas Silva, 19,

instrutor de informática. – Belo Horizonte (MG).

“Hoje, temos um transtorno muito grande, mas, no futuro, as

próximas gerações poderão tirar proveito disso. Creio que (as

obras) não vão ficar prontas e vamos ser motivo de chacota na

Europa”. Vera Niza, 60, aposentada. – Belo Horizonte (MG).

- Iniciativas do governo realmente melhorarão a vida da

população após o evento?

“Sim. Toda a infraestrutura vai continuar no Brasil depois

da Copa”. Leonardo Alvarenga, 21, engenheiro mecânico.

Belo Horizonte (MG).

“Acho improvável. Apenas os estádios mesmo”. Paulo

Armondes, 31, professor. – Belo Horizonte (MG).

- E quanto às manifestações? O que acha delas?

“Se todos quisessem recursos médicos ao invés de espor-

tivos, por que reclamar depois que a obra já foi feita?”.

Lucas Silva, 19, instrutor de informática. – Belo Hori-

zonte (MG).

“Válidas e democráticas. A violência é condenável, mas as

manifestações tendem a ser radicais. Não vejo outra

forma. Só assim pra chocar e chamar atenção. Só Gandhi,

Mandela e Luther King fizeram diferente, e por isso são

tão especiais”. Paulo Armondes, 31, professor. – Belo

Horizonte (MG).

- As cidades estão/estarão devidamente preparadas no que se

refere a serviços, como aeroportos, hotéis e restaurantes?

“Alguns deslizes podem acontecer, mas acredito que a

maioria das obras vai sair a contento”. Fernanda Castro,

41, professora. Belo Horizonte (MG).

“A mídia noticia sempre atrasos em obras de infraestru-

tura, especialmente em relação a aeroportos e mobili-

dade. O número de leitos não deve ser problema. O pro-

blema pode aparecer após o Mundial, já que vários empre-

endimentos são em função do torneio e há o risco de

ficarem ociosos”. Matheus de Oliveira, 20, estudante de

jornalismo – Belo Horizonte (MG).

Page 23: Jornal lince dezembro 2013

Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013 23

- Muito se fala sobre uma possível “limpeza” da cidade, com os

moradores de rua retirados dos locais onde geralmente ficam

para causar boa impressão aos turistas. O que acha disso?

“Tirá-los momentaneamente da situação adversa não traz

qualquer benefício a eles e à sociedade. Camuflar a reali-

dade das cidades é hipocrisia, e uma forma de esconder a

ausência de políticas públicas eficientes”. Matheus de Oli-

veira, 20, estudante de jornalismo – Belo Horizonte (MG).

“Vergonhoso, uma vez que antes de serem ‘mendigos’, são seres

humanos. O governo deveria pensar em um meio de reintegrar

essa minoria ao resto da população, e não os esconder”. Gus-

tavo Melo, 19, estudante de Direito. – Belo Horizonte (MG).

- O que acha da construção de grandes estádios em locali-

dades onde não há clubes que possam mantê-lo?

“Importante, porém, desnecessário. Acredito que a ideia

é apenas mostrar o valor que as cidades têm. Afinal, os

clubes são bem pequenos e ainda não têm o valor sufi-

ciente para poder administrar”. João Victor, 17, blogueiro.

– Maceió (AL).

“É mostrar para o mundo o quanto somos atrasados e

imbecis no quesito política! Gastam-se rios de dinheiro

pra construir estádios de futebol de 1º mundo, onde na

verdade deveriam ter hospitais, escolas e ensino de 1º

mundo”. Felipe Araújo, 26, estudante de Publicidade e

Propaganda. – Belo Horizonte (MG).

- Resumidamente, acredita que o mar de dinheiro desti-

nado a este evento está sendo bem investido?

“Muito fácil um engenheiro fazer um projeto, falar que

está tudo errado, desviar mais dinheiro, pegar mais

grana do governo... e é um dinheiro nosso, que estamos

desperdiçando”. Vera Niza, 60, aposentada. – Belo Hori-

zonte (MG).

“Devíamos nos preocupar com outras coisas e não com

futebol. Ainda não estamos preparados para recepcionar

um evento tão grande desse porte”. Gustavo Passos, 23,

estudante de Direito. – Belo Horizonte (MG).

- Em sua visão, a Copa é feita pra quem?

“Pra gringo ver!”. Felipe Araújo, 26, estudante de Publici-

dade e Propaganda. – Belo Horizonte (MG).

“A Copa é para ‘poucos’. Apesar da FIFA vender ingressos (bara-

tos) com meia-entrada, nem todos usufruem deste benefício.

Tive a oportunidade de ir a um jogo na Copa das Confedera-

ções, e os preços de alimentos e produtos no estádio eram

absurdos. Não condiziam com a realidade brasileira”. Victor

França, 22, estudante de jornalismo. – Aracaju (SE).

“Pelos altos valores, dá para ter uma dimensão daqueles

que terão condições.” Guilherme Bruno, 21, operador de

caixa. – Belo Horizonte (MG).

- Quem é o favorito ao título? Torcedor poderá fazer diferença a favor do Brasil?

“Brasil e Espanha, apesar dos espanhóis já estarem meio manjados como a Itália, que ganhou em 2006 e fracassou em 2010. Acho

que a torcida do Brasil fará grande diferença, principalmente contra seleções rivais como Argentina (risos)”. Raphael Abner, 20,

músico. – Rio de Janeiro (RJ).

“Creio que a Alemanha poderá dar show, Argentina, Inglaterra e talvez Holanda. Entre todos, o Brasil é o maior favorito. Está em casa, ao

lado da torcida que faz diferença sim”. Adailton Ascenço, 20, Oficial de Operações Ferroviárias. – Belo Horizonte (MG).

Page 24: Jornal lince dezembro 2013