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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva
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jornal
LINCE
A VOLTA DO PATHÉ| PÁGINA 14 E 15
O RECOMEÇO DA VIDA| PÁGINA 16 E 17
MARCAÇÃO CERRADA | PÁGINA 22 E 23
FOGOS MORTAIS| PÁGINA 24
SUPER-HERÓIS A SERVIÇO DA ARTE
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton Paiva Ano V | Nº 52 | Fevereiro de 2013
| PÁGINA 10,11,12 E 13
arquivo Pessoal
2 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton Paiva - Fevereiro 2013
João Vitor Cirilo
3º Período
Outra vida perdida em um campo de futebol
e a sensação de impotência da população. A notí-
cia que chocou a todos no mês de fevereiro foi a
morte do boliviano Kelvin Beltrán Estrada. O
jovem de 14 anos foi atingido por um sinalizador
naval atirado por “torcedores” (com todas as aspas
que quiser usar) do Corinthians, presentes em
Oruro (Bolívia) para o jogo entre o clube paulista e
o San José, pela Copa Libertadores. Utilizado
como item de segurança em navegações, o objeto
penetrou pelo olho direito e atravessou o crânio do
adolescente.
Doze pessoas foram presas preventivamente
pelas autoridades bolivianas e passaram por exa-
mes para comprovar a participação ou não no
crime. Alguns foram flagrados portando outros
sinalizadores do mesmo tipo — hábito rotineiro
entre algumas torcidas brasileiras. Já a punição
inicial encontrada pela Conmebol, Confederação
Sul-Americana de Futebol, foi retirar do Corin-
thians a possibilidade de receber seus torcedores
nos jogos em sua casa, o Pacaembu. A ordem valeu
apenas por um jogo. Agora, a torcida corintiana
não poderá comparecer aos jogos do clube longe
de São Paulo.
Várias discussões foram abertas. A maioria
dos meios de comunicação, como sempre, busca
um culpado. Mas um problema de tamanha
importância não pode ser jogado nas costas de
uma única pessoa. Não foi um acidente (até por-
que, segundo especialistas, esse tipo de sinaliza-
dor não dispara acidentalmente). Está errado
quem bancou e autorizou a viagem dos torcedores
para a Bolívia; está errado quem vendeu o instru-
mento “assassino” e também quem não fiscalizou
a entrada no estádio, além do autor do disparo.
E aí aparece outro porém: pessoas de bem
não poderão mais ir aos campos de futebol? É uma
questão muito ampla e qualquer crítica à difícil
decisão me parece injusta.
A conclusão que se tira disso tudo é que está
cada dia mais difícil manter a mesma vontade de
torcer por seu clube, ir empolgado para o campo
de futebol, esquecer os problemas cotidianos e
fazer dos 90 minutos um momento de felicidade.
Sempre que brasileiros vão jogar lá fora, coi-
sas parecidas acontecem e passam impunes.
Cansei de ver estádios depredados por torcedores
locais (argentinos, uruguaios, paraguaios, bolivia-
nos) descontando nos torcedores e equipes adver-
sários as derrotas de seus times. Pedras, pedaços
de madeira, pilhas e outros artefatos são constan-
temente transformados em armas. É um absurdo
o que nossos times sofrem nos países vizinhos,
mas isso não é motivo para os tais “torcedores”
revidarem da mesma forma.
Como não é possível modificar o passado e
salvar as muitas vidas perdidas, que esse cenário
mude daqui para frente. Que o poder público e a
“dona” Conmebol resolvam trabalhar para dar
tranquilidade ao torcedor de verdade e proporcio-
nar o fortalecimento e maior organização de nossa
liga continental, ainda a quilômetros de distância
dos grandes torneios do futebol europeu.
O Corinthians, na época, se manifestou e
disse que, caso não conseguisse uma decisão a
seu favor, sairia da Libertadores. Que saia! A
mim e ao torneio não faria falta. Lamentável a
postura da imensa instituição e seus coman-
dantes, preocupados única e exclusivamente
com o prejuízo financeiro que levariam.
Chega de tragédia, amadorismo e desres-
peito. Uma vida vale muito mais do que a cega
paixão por futebol.
Ah, e diz a Gaviões da Fiel que o autor do
disparo é “menor de idade”. Acho que já vi
esse filme antes...
Cor res pon dên Cia
NP4 - Rua Ca tumbi, 546
Bairro Cai çara - Belo Horizonte - MG
CEP 31230-600
Contato: (31) 3516.2734
Este é um jor nal-la bo ra tó rio da
dis ci plina la bo ra tó rio de jorna lismo ii.
o jor nal não se res pon sa bi liza pela
emis são de con cei tos emi ti dos em ar ti-
gos as si na dos e per mite a re pro du ção
to tal ou par cial das ma té rias, desde
que ci ta das a fonte e o au tor.
presidente do Grupo spliCeAntônio Roberto Beldi
reitorJoão Paulo Beldi
ViCe-reitoraJuliana Salvador Ferreira de Mello
Coordenadora dos Cursos de CoMuniCaÇÃoJuliana Lopes Dias
Coordenador da Central de produÇÃo JornalistiCa - CpJPro fes sor Eus tá quio Trin dade Netto (DRT/MG 02146)
Conselho editorialProfessora Rosângela Guerra
Professor Menoti Andreotti
pro Jeto Grá fiCo e direÇÃo de arteHelô Costa (127/MG)
MonitoresJoão Paulo Freitas e João Vitor Cirilo
reportaGensAlu nos do Curso de Jornalismo do Centro Universitário New ton Paiva
diaGraMaÇÃo Geisiane de Oliveira
ExpedienteOpiniãOjornal
LINCEJornal laboratório
do Curso de Jornalismo
do Centro universitário
newton Paiva
QuaNto vaLE uma vIda?
“E aí aparece outro porém: pessoas de bem não poderão mais ir aos campos de futebol?”
Joã
o P
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rei
tas
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton Paiva - Fevereiro 2013 3Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton Paiva - Fevereiro 2013 3
Recentemente, um estudo encomen-
dado pela empresa Pearson, que fabrica sis-
temas de aprendizado, apontou o Brasil
como penúltimo colocado em um ranking
que reuniu 40 países, ficando atrás de
nações como Colômbia e até da Tailândia. A
pesquisa agrupou dados educacionais de
cada país. Com o péssimo desempenho
brasileiro, há quem diga que não se pode
exigir o domínio de novas culturas, sendo
que nem o básico é bem compreendido. A
falta de incentivo à educação e, também, os
altos índices de criminalidade, travam o
crescimento intelectual da população.
O Governo Federal, pensando nisso,
abriu 30 mil vagas de cursos on-line gratui-
tos de inglês. As inscrições foram de uso
exclusivo do EJA (Educação de jovens e
adultos do ensino médio das escolas da rede
estadual). A expectativa para a Copa de
2014 será de 700 mil novas vagas de empre-
gos diretos e indiretos. Os estados mais privi-
legiados serão o Amazonas, Ceará, Mato
Grosso, Minas Gerais e Santa Catarina. Para
quem já aguarda ansiosamente, as áreas que
se destacam são de Energia, Saúde, Segu-
rança, Telecomunicações e Turismo. A falta
de mão de obra especializada será uma cons-
tante até os eventos, porém, o governo garante
uma diminuição relevante nesse sentido.
João Paulo Freitas e Paula raBelo
3° Período
Inglês deixou de ser apenas funda-
mental em qualquer currículo. Hoje, é
obrigatório para quase todas as profissões e
situações da vida moderna — já se tornou
básico para qualquer pessoa que queira ser
bem - sucedida. Por aqui, essa é uma noção
que parece longe de ser verdade. Uma pes-
quisa realizada pelo British Council mos-
trou que apenas 5% da população brasi-
leira dominam fluentemente o idioma.
Com a agenda cheia de comemorações —
da inevitável Copa do Mundo às Olimpía-
das, sem falar na Copa das Confederações
—, será que o resultado poderá mudar e o
país se preparar para todos os desafios que
estão à frente?Para a professora de inglês da Newton
Paiva, Rita de Cássia Andrade, inglês é essencial para quem deseja ter uma carreira ampla. “O brasileiro é conhecido por sem-
pre dar um jeitinho, mas para quem quer realmente ser bem - sucedido, inglês conti-nua sendo muito importante para alcançar objetivos maiores”, opina.
A verdade é que, atualmente, muitas
empresas estão exigindo um terceiro
idioma, pois o inglês, tanto quanto o portu-
guês, já é considerado básico para qualquer
pessoa. Para se ter uma ideia do quanto a
situação pode ser considerada grave, no
programa Ciência sem Fronteiras, é grande
o número de estudantes que, por não ter
domínio suficiente dessa língua, ficam
impedidos de viajar para o exterior.
DesCoNHeCiMeNto total
Fernanda Cólen, 18 anos, frequenta
um cursinho de idiomas há seis anos. Ela se
sente mais preparada que outras pessoas
que não falam outras línguas e percebe a
vantagem que tem diante de outros candi-
datos. “Já tive experiências nas quais vi que
meu inglês foi fundamental para me dife-
renciar dos outros concorrentes”, afirma.
Entretanto, não se pode deixar de fora
quem viveu o confuso cotidiano de um
estrangeiro em solo brasileiro. Mateo Cla-
rke, 24, pesquisador empresarial em Austin,
capital do Texas, foi “vítima” desse desco-
nhecimento linguístico. “Morei no interior
de Minas Gerais por aproximadamente um
ano. Foram alguns meses até que eu me
adaptasse e compreendesse o lugar. Sua
cultura local é bastante rica, e o idioma bem
complexo”, reconhece Clarke. Ele confi-
denciou também que não gosta de enfocar
coisas negativas, “porém, o estereótipo de
‘cowboy texano’ e, ainda, a política contur-
bada dos EUA na época, fizeram com que eu
sofresse preconceito por parte de algumas
pessoas”. Segundo Clarke, “o Brasil, como
qualquer país do mundo, precisa de muitas
melhorias, mas creio que haverá muita difi-
culdade de comunicação durante os even-
tos internacionais”, preocupa-se.
PROblEmas E sOluçÕEs
O idioma considerado universal pode ser compreendido não só em países que o têm como idioma
oficial, mas também em diversas regiões do mundo. Dessa forma, foi um grande catalisador na
aproximação dos povos, tanto na relação cultural quanto na comercial. O termo globalização, usado com
frequência atualmente, foi promovido de forma bastante eficiente pelo inglês.
iDiOMAS
thE BooK IsN’t oN thE taBLE
apenas 5% da população brasileira falam inglês. O que será da copa do mundo?
4 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton Paiva - Fevereiro 2013
a ÚLtImaViolência excessiva contra os profissionais de imprensa provoca desconfianças quanto à profissão
João Paulo Freitas
3º Período
Apesar de ser considerado mais
desenvolvido que países como Bolívia,
Paraguai e Colômbia, o Brasil ocupa o
primeiro lugar em um ranking ingrato e
nada lisonjeiro na América Latina: o
país é considerado o mais perigoso para
o exercício do jornalismo. Sucessivas
mortes de profissionais como Valério
Luiz de Oliveira (Rádio Jornal), Tim
Lopes (TV Globo) e Décio Sá (O Estado
do Maranhão) fizeram com que a tinta
de suas canetas perdesse o brilho, dando
lugar à cor vermelha do sangue derra-
mado pela violência e opressão. Que
país é esse?
Os dados oficiais foram divulgados
pelo Comitê de Proteção aos Jornalistas
(CPJ), organização com sede em Nova
York, que desde 1990 faz os levantamen-
tos, tanto de prisões quanto de mortes de
jornalistas. Segundo o Comitê, 70 jorna-
listas foram executados em todo o
mundo, só no ano de 2012. Um aumento
de 43% relacionado ao ano anterior.
Esses números colocaram o Brasil como
a terceira nação onde mais profissionais
foram assassinados. Só para se ter uma
ideia, o país empata com o Paquistão,
país que vive praticamente em guerra
civil, no tumultuado cenário da fronteira
com o Afeganistão.
A ONU considera preocupante que
70% dessas mortes tenham passado
impunes. Na categoria impunidade, o
Brasil ocupa o 11º lugar. “Os crimes con-
tra jornalistas continuam sendo um dos
principais problemas que a imprensa
enfrenta nas Américas”, afirmou Gus-
tavo Mohme, da Sociedade Interameri-
cana de Imprensa.
o Que DiZ a FeNaJ
Por isso, para a categoria, a Federa-
ção Nacional dos Jornalistas (FENAJ)
continuará a ter papel fundamental no
combate às ameaças à liberdade de
imprensa e ao exercício do jornalismo.
Maria José Braga, 48, atual vice-presi-
dente da Federação, afirma que os dados
apresentados pela CPJ não fazem distin-
ção entre jornalistas e outros profissio-
nais da comunicação, “o que para a reali-
dade brasileira é um problema, pois
temos duas profissões distintas: jornalis-
tas e radialistas”. Por isso, os critérios
adotados pelo comitê para colocar o Bra-
sil entre os dez países mais perigosos para
o exercício do jornalismo parecem inade-
quados, segundo Maria José.
— Eles alegaram que o Brasil não
quis ser signatário do Plano da ONU de
Proteção aos Jornalistas. Na verdade, em
2012, o Brasil pediu que os países fossem
consultados sobre o Plano e já adiantou
que iria trabalhar por sua aprovação. O
Itamaraty até convidou entidades para
apresentarem sugestões de melhorias ao
Plano. A FENAJ foi convidada e contri-
buiu. O Plano deve ser aprovado ainda
neste semestre — explica.
Maria José acrescenta que os jorna-
listas brasileiros estão mais ameaçados
pelos insistentes e reiterados ataques à
profissão e nem sempre pela violência
explícita. A queda da obrigatoriedade do
diploma vem em primeiro lugar nessa
lista de ataques.
— A desregulamentação no Brasil é
uma grande ameaça, assim como a precari-
zação das condições de trabalho a que os
jornalistas são submetidos diariamente.
REPoRtaGEm
JORnALiSMO
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton Paiva - Fevereiro 2013 5
Experiência pode ser algo funda-
mental na análise e compreensão de
situações ameaçadoras como essa. Geno-
veva Ruisdias, 65, jornalista profissional
há 40 anos, diz que todo jornalista deve-
ria ter “acompanhamento psíquico e
físico, para não ultrapassar os limites que
a profissão requer”. Segundo ela, o jorna-
lismo não comporta mais super-homens
nem super-mulheres.
Em sua opinião, a única forma para
acabar com essa violência seria o fim da
impunidade. Mas é preciso também que
haja “vigilância, denúncia e cobranças
constantes das autoridades públicas”. No
entanto, se para alguns a profissão passa
por uma crise, para muitos jovens que aca-
baram de ingressar no curso, o sonho con-
tinua. Fernando Luiz Azevedo Oliveira, 19,
está no primeiro período de jornalismo e
sonha com um futuro brilhante na profis-
são. Para ele, o principal motivo de sua
opção pelo jornalismo foi gostar de escre-
ver, “e de ser criativo”.
Apesar das denúncias sobre a falta de
estrutura nas redações e das constantes
ameaças de violência, Fernando prefere
responder com otimismo e diz que não
teme o futuro nem as ameaças de violên-
cia. Mas nem por isso deixa de fazer críticas
às leis brasileiras.
— No Brasil, em muitos casos, a lei
favorece o infrator; os criminosos conhe-
cem a impunidade e não se incomodam
em levar uma vida cercada de delitos.
Aos novos jornalistas, resistência e
estrita observação da ética são as recomen-
dações da repórter Genoveva Ruisdias.
Outra repórter, Ângela Rodrigues, lembra
que a essência do jornalismo é o espírito de
luta. “Paga-se sempre um preço muito alto
por dizer a verdade”, afirma.
O sOnhO nãO acabOu
Para o problema da violência explícita, A FENAJ
apresenta algumas propostas de soluções.
1 - Propõe a federalização das investigações dos
crimes contra jornalistas e apoia o projeto do deputado
Delegado Protógenes, que já está em tramitação na
Câmara Federal. A impunidade é um fator importante
para o crescimento dos crimes.
2 - Defende a criação de um Protocolo Nacional de
Segurança para os Jornalistas, a ser respeitado por todas
as empresas de comunicação e que inclua medidas
como a criação, nas redações, das Comissões de Avalia-
ção de Riscos, o treinamento para profissionais que
forem enfrentar situações de risco e a oferta de equipa-
mentos de proteção adequados.
3 - Está participando do Grupo de Trabalho sobre
Violência contra Profissionais da Comunicação, criado
pelo Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana
(CDDPH) e vai propor no GT a criação de um Observató-
rio da Violência contra Profissionais da Comunicação.
4 - Defende a aprovação de uma nova Lei de
Imprensa para o País. Uma nova Lei de Imprensa vai
regular as relações entre imprensa e público e pode con-
tribuir para dirimir conflitos.
5 – Batalhar pela criação do Conselho Federal de Jor-
nalistas e seus respectivos conselhos regionais. Este é o sis-
tema legítimo para fazer a defesa do jornalismo e da ética jor-
nalística e também é necessário para a regulação das relações
dos profissionais com a sociedade.
PROPOsTas Da FEnaJ
Genoveva
ruisdias:
experiência a
serviço do bom
jornalismo
Maria
José Braga:
atual
vice-
presidente
da FeNaJ
Fotos arquivo Pessoal
6 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton Paiva - Fevereiro 20136 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton Paiva - Fevereiro 2013
uma LENda Chamada
LuIZ GoNZaGa
João MarCelo DruMoND
3º Período
Para comemorar seu centenário de
nascimento, que ocorreu no ano pas-
sado, Gonzaga ganhou filme, coletâneas
com novos intérpretes, shows, concertos
e homenagens em vários museus e cen-
tros de cultura espalhados pelo país. Mas
são apenas algumas demonstrações de
sua importância para a cultura brasi-
leira. A notável figura do compositor,
grande criador e disseminador da rica
tradição nordestina, deve ser vista em
horizontes ainda mais amplos. Ele é con-
siderado, com justiça, um dos primeiros
autores a assumir versos inteiramente
nordestinos em suas composições e can-
tar os amores e as dores de um povo que
ainda não tinha voz ativa no Brasil.
Quando migrou para o sul, no início da
década de 1940, com o objetivo de divulgar
sua música para outros cantos do Brasil,
Gonzaga fez de tudo, inclusive tocar em
bares e restaurantes. Sabendo que o rádio
era o melhor vínculo de divulgação musical
da época, resolveu participar do concurso
de calouros de Ary Barroso, onde solou “Vira
e Mexe” e ganhou o primeiro prêmio de
sua carreira.
Dono de uma obra que permanece sempre atual, o “Rei do baião” se revela cada vez mais importante e mostra o segredo de sua universalidade: o regionalismo
CULTURA
reProduÇão
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton Paiva - Fevereiro 2013 7Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton Paiva - Fevereiro 2013 7
Além de um ícone permanente da
cultura nordestina, Luiz Gonzaga foi dono
de um estilo próprio e novo, conquistou um
grande público e influenciou artistas de
gerações e tendências das mais díspares
— de Caetano Veloso e Gilberto Gil (e por
extensão o tropicalismo) a Jackson do Pan-
deiro e Genival Lacerda; de Fagner e João
do Vale a Zé Ramalho e Dominguinhos; de
Marinês a Amelinha e Elba Ramalho. E —
quem diria? — Raul Seixas!
Para o comerciante Mauro Gomes,
ouvir músicas de Luiz Gonzaga é voltar aos
tempos de menino. “Desde muito jovem,
ouvia suas composições e sentia o nordeste
bem perto de mim”, revela o pai de família,
que deixou Pernambuco aos 18 anos de
idade. Paulo Isidoro Alves, taxista, 54 anos,
deixou o Ceará aos 26 anos, quando veio
procurar emprego em Belo Horizonte.
“Sofri muito, porque a família só veio
depois; o que me consolou foi a música de
Luiz Gonzaga — até hoje tenho CDs dele
no meu carro, não me canso de escutar Asa
Branca e Assum Preto”, conta.
estilo ÚNiCo
O baião é um dos estilos musicais mais
populares na riquíssima trama de ritmos
da música nordestina, que inclui ainda o
xote, o maracatu, o coco, a embolada, o
frevo e tantos outros. Possivelmente, teve
sua origem nos anos 1940, de uma mistura
de danças indígenas com ritmos de bailes
populares, tendo imediata repercussão nas
rádios. Seu maior representante foi Luiz
Gonzaga, considerado o “Rei do Baião”,
pelo fato de ter sido o primeiro a divulgar
em larga escala esse estilo musical fora dos
limites nordestinos. Além da figura de
Gonzaga, não se pode deixar de citar seus
principais parceiros, Zé Dantas e Hum-
berto Teixeira.
Para o jornalista e escritor João Perdi-
gão, o interessante em estudar a figura de
Luiz Gonzaga é que, além de ser um grande
criador de estilo, ele foi também um consi-
derável disseminador e divulgador de cul-
tura. “Foi um grande músico que marcou
época por sua autenticidade; por isso, sua
obra é lembrada e reverenciada por todos”.
Além disso, o jornalista compara as
dificuldades e a aceitação do baião, evo-
cando outro ritmo popular, o samba.
“Gosto de comparar o baião e o samba,
pelo fato que esses dois gêneros tiveram
grandes dificuldades de serem aceitas
pela sociedade”, argumenta o jornalista.
“De fato, por ter sua imagem ligada aos
compositores negros e que, em sua maio-
ria, moravam nas favelas ou na periferia,
o samba também foi associado à malan-
dragem, da mesma forma que o baião
chegou ao sudeste por meio de uma ima-
gem negativa, que fazia referência a um
Brasil atrasado e subdesenvolvido, o
Brasil nordestino”.
A história do baião não estaria com-
pleta sem que a temática de algumas de
suas canções mais emblemáticas fosse
destacada: o cotidiano dos nordestinos e
suas dificuldades para sobreviver numa
região árida, que sofria enormemente com
a seca. Tanto em algumas letras de Zé Dan-
tas quanto de Humberto Teixeira ou do
próprio Luiz Gonzaga, já se encontrava o
embrião da canção de protesto — “Vozes da
Seca” e “Asa Branca” são dois exemplos.
Curiosamente, o estilo teve conside-
rável repercussão no exterior — principal-
mente nos Estados Unidos, na França e
na Itália — graças às primeiras versões
instrumentais do baião. O baião “Deli-
cado”, carro-chefe do cavaquinista Valdir
Azevedo, por exemplo, chegou a ter deze-
nas de versões internacionais. E divas,
como a atriz Silvana Mangano, se encarre-
garam de popularizar o ritmo ainda mais
com gravações de grande sucesso (o
“Baião de Ana”).
a uniVERsiDaDE DO baiãO
DO OsTRacismO PaRa a cOnsagRaçãOApesar de tanto sucesso, Luiz Gon-
zaga começou a viver os anos de 1960, a
era pós-Bossa Nova, em pleno ostra-
cismo. E só saiu dele graças a uma brin-
cadeira do agitador cultural Carlos
Imperial, que espalhou uma notícia
sobre a gravação de “Asa Branca” pelos
Beatles. Não gravaram e possivelmente
jamais chegaram a ouvir o baião, mas
foi o que bastou para tirar Luiz Gonzaga
do limbo.
No alto da pirâmide de seus grandes
sucessos está “Asa Branca”, sua compo-
sição mais conhecida e uma das mais
veneradas da MPB, parceria sua com
Humberto Teixeira. Mas não se pode
esquecer “Xote das Meninas”, “Cintura
Fina”, “Forró do Mané Vito”, “Feira de
Gado”, “Riacho do Navio”, “Assum
Preto” e outras obras primas. Ainda que
tenha sido gravado por um grande
número de cantores e instrumentistas,
Gonzaga teve a falecida Carmélia Alves
como sua primeira grande intérprete,
ainda nos anos de ouro da Rádio Nacio-
nal. Até o fim da vida e da carreira,
quando formou o grupo “As cantoras do
rádio”, Carmélia nunca deixou de
incluir o compositor em seus discos e
shows. Reabilitado pela trupe tropica-
lista, a partir da década de 1970, o genial
autor chegou a citar, em diversas entre-
vistas, Carmélia Alves e Gal Costa como
suas intérpretes favoritas.
Segundo a historiadora e crítica
Bianca Ferreira, o estilo de Luiz Gon-
zaga é um das maiores relíquias da
música popular brasileira.
— Costumo analisar Luiz Gonzaga
como o Gonçalves Dias da música brasi-
leira; é lirismo puro, uma grande histó-
ria a ser contada e cantada. Historica-
mente, podemos afirmar que foi um dos
intérpretes que mais divulgaram nossa
música fora do país.
8 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton Paiva - Fevereiro 2013
saLvE JoRGE: saLvE-sE QuEm PudER!
RELiGiãO
mais uma vez, as religiões que deveriam ser um elo entre as pessoas viram motivo de conflito e desunião
laura seNra e PÂMela Matos
3º Período
Desde que estreou em outubro de
2012, na Rede Globo, a novela “Salve
Jorge” vem dividindo opiniões dos
telespectadores. Não exatamente
por ser um exemplo de quali-
dade, mas porque a trama aborda
um tema polêmico: o tráfico de pes-
soas. Esse não é, no entanto, o motivo
de tanto alvoroço. “Salve Jorge”
mostra a fé em São Jorge da Capa-
dócia, que representa a força que
todos precisam ter para matar os
dragões da vida; representa uma
comparação ao guerreiro, batalhador,
que vence o mal.
São Jorge também é padroeiro da
Cavalaria do Exército Brasileiro, retra-
tado na novela de Glória Perez a partir do
protagonista Théo (Rodrigo Lombardi),
o capitão.
lau
ra
sen
ra
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton Paiva - Fevereiro 2013 9
o saNto Guerreiro
São Jorge (275 - 23 de abril de 303)
foi, de acordo com a tradição, um padre e
soldado romano, venerado como mártir
cristão. Também é venerado em diversos
cultos das religiões afro-brasileiras, onde é
sincretizado na forma de Ogum, o santo
guerreiro da floresta. É imortalizado no
conto em que mata o dragão e, também, é
um dos catorze santos auxiliares. É o
santo padroeiro em diversas partes do
mundo. No Brasil é, extraoficialmente, da
cidade do Rio de Janeiro (título oficial-
mente atribuído a São Sebastião).
Muitos artistas são nacionalmente
conhecidos por sua grande devoção ao
Santo Guerreiro. Grandes nomes da
música brasileira como Zeca Pagodi-
nho, Caetano Veloso, Jorge Ben Jor, Seu
Jorge, Maria Betânia, além da banda
inglesa Iron Maiden, têm no seu
repertório músicas dedicadas ao Santo.
Na literatura, um dos devotos mais
conhecidos é o poeta Mário Quintana.
Certa vez, quando a Igreja Católica
questionou a veracidade da existência
de São Jorge e o colocou na lista de pos-
síveis “cassados”, o poeta escreveu um
verso que leva o nome do santo e está no
livro Velório Sem Defunto.
No cinema, “O Dragão da Maldade
contra o Santo Guerreiro” é o primeiro
longa-metragem em cores do diretor
baiano Glauber Rocha e um dos grandes
clássicos do Cinema Novo brasileiro. Foi
lançado em plena ditadura militar e
ganhou os prêmios de melhor direção e
da crítica internacional no Festival de
Cannes, em 1969. No Brasil, 80% dos
homens registrados Jorge, o são graças ao
Santo Guerreiro.
reliGião x luCro
Antes mesmo de sua estreia, a novela
já havia levantado várias questões sobre
religião, sendo cogitado, inclusive, subs-
tituir o seu título. Porém, a autora Glória
Perez afirmou que não tinha motivos
para se submeter aos protestos envol-
vendo sua obra, uma vez que, “a novela
não fala de São Jorge, fala do mito do
guerreiro, figura existente em qualquer
cultura, religiosa ou não”.
Porém, esse argumento não conven-
ceu. Os protestantes afirmam que a figura
que deu origem ao santo católico não
existiu de verdade, sendo baseado na
lenda babilônica do deus Marduk, que
matou Tiamat, representada por um dra-
gão. Outro ponto da revolta é que nas reli-
giões afro-brasileiras, Candomblé e
Umbanda, São Jorge representa Ogum,
senhor dos metais; é o guerreiro, general
destemido e estratégico, é aquele que veio
para ser o vencedor das grandes batalhas,
o desbravador que busca a evolução.
PaPel ColoriDo
“Como posso aceitar dentro da minha
casa algo que vai frontalmente contra um
mandamento direto do meu Deus? Como
posso aceitar algo que contrarie comple-
tamente a minha fé, ainda que venha
embalado no papel colorido do entreteni-
mento, com enredo engraçadinho e histo-
rinhas de amor?”, trecho tirado do site
“Exército Universal”, formado por fiéis da
Igreja Universal, lembrando a proibição
das Escrituras de se fazer e adorar ima-
gens. Alguns mais radicais vão além e
afirmam que “os evangélicos, que creem
em Jesus, não devem dar audiência ao
folhetim”.
Um dos líderes da Igreja Universal e,
também, presidente da Rede Record, Edir
Macedo, fez campanha para boicotar a
novela, através de seu blog na internet.
Além disso, Macedo estimula aos pastores
que aconselhem os fiéis a fazerem o
mesmo. Neste ponto, entra a dúvida se
sua intenção seria puramente a religião, já
que a Record é concorrente direta da Rede
Globo.
Em forma de ataques, o festival de
besteirol surgiu de outros lados. O pastor
José Donizeti, da Assembleia de Deus, de
Jundiaí (SP), decidiu postar em uma rede
social uma imagem onde aponta as men-
sagens subliminares que estariam escon-
didas na logomarca da novela. Para ele, as
duas pedrinhas vermelhas “simbolizam a
união dos orixás e a adoração a entidades
espíritas”. Com mais de 50 mil comparti-
lhamentos, a imagem traz os comentários
do pastor: “Na verdade, o nome desta
novela é ‘Adoradores de Ogum’!
CaDê o resPeito?
Em contrapartida, os devotos de São
Jorge resolveram usar a mesma rede
social, para defender o santo. “Aos evangé-
licos que criticam a novela ‘Salve Jorge’:
quando tiver feriado do santo, por favor,
trabalhem, porque ficar de folga em
homenagem a santo é adoração também”,
diz uma imagem já compartilhada por
milhares pessoas.
“Nós católicos respeitamos a opi-
nião e a religião de cada um. Não saímos
fechando as portas na cara dos ‘intragá-
veis’ Testemunhas de Jeová, em pleno
domingo, às oito da manhã. Respeita-
mos as suas crenças e exigimos igual
respeito”, afirma o padre Hélio Figuei-
redo, opinando sobre a onda de protes-
tos dos evangélicos.
Vale ressaltar que o Brasil ainda é a
maior nação católica do mundo, mas, na
última década, a Igreja teve uma redução
da ordem de 1,7 milhão de fieis, um enco-
lhimento de 12,2%. Os dados são da nova
etapa de divulgação do Censo de 2010, do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís-
tica (IBGE).
o Que DiZeM as leis
No Brasil, a Lei Caó estabelece a
igualdade racial e o crime de intolerância
religiosa. A Lei 7716/89 deixa claro no
artigo 20 o que é a intolerância religiosa e
como julgá-la.
— Art. 20. Praticar, induzir ou incitar
a discriminação ou preconceito de raça,
cor, etnia, religião ou procedência nacio-
nal. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de
15/05/97). Pena: reclusão de um a três
anos e multa. Resta saber agora se alguém
vai querer boicotar filmes chineses ou
japoneses em que apareça alguma estátua
de Buda...
10 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton Paiva - Fevereiro 2013
EnTREViSTA uma vIda Em
João Paulo Freitas
3º Período
Paraibano de Campina Grande, Deodato Taumaturgo
Borges Filho, 49 anos, mais conhecido como Mike Deodato, é
um dos desenhistas mais renomados do mundo. Sua arte foi
tão grande, que estampou as capas da Marvel Comics, com os
sucessos de Homem Aranha, Batman, Hulk, Os Vingadores,
entre outras célebres personagens. Mike nos contou um
pouco de sua trajetória, e a paixão pelos desenhos.
QuadRINhosFo
tos
ar
qu
ivo
Pes
so
al
o desenhista Mike
Deodato expondo suas
artes reconhecidas
mundialmente
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton Paiva - Fevereiro 2013 11
lince - Como foi seu início de car-
reira? O senhor sempre quis ser dese-
nhista?
Mike - Sempre quis. Sabia que seria
desenhista de quadrinhos, mas não sabia
que seria tão difícil. Comecei a desenhar
aos treze e, só dezesseis anos depois, é que
pude passar a viver exclusivamente de
quadrinhos.
lince - No mundo dos desenhos, qual
foi a pessoa que mais o influenciou a
seguir esse sonho?
Mike - Meu pai. Ele criou a primeira
revista em quadrinhos do Nordeste, em
1963, e sempre me incentivou. Com cer-
teza foi meu grande mestre.
lince - A Marvel Comics é uma das
maiores empresas de histórias em quadri-
nhos. Como foi seu primeiro contato com
eles? Teve alguém, em especial, que aju-
dou nesse objetivo?
Mike - A minha temporada na
Mulher Maravilha foi decisiva para que a
Marvel percebesse meu trabalho. Antes
disso, eu era praticamente desconhecido
do grande público. Como havia dito antes,
a pessoa em especial é meu pai. O verda-
deiro herói. Com certeza, se ele não exis-
tisse, alguém o inventaria.
lince - Há quanto tempo o senhor
trabalha para a Marvel, e quais foram as
edições ou desenhos mais especiais de sua
trajetória?
Mike - Já faz um bom tempo. Desde
1995. Foram muitos projetos especiais pra
mim, mas se tivesse que escolher um seria
o Hulk #70 com Bruce Jones. As cores
foram do falecido Hermes Tadeu. Tenho
muito orgulho desse nosso trabalho juntos.
lince - Qual o sentimento de ser
reconhecido mundialmente pelo seu tra-
balho e, principalmente, de levar o nome
do Brasil através de sua arte?
Mike - Eu, sinceramente, prefiro não
parar para avaliar o que já fiz em minha
carreira e quão reconhecido eu sou ou
não. Eu amo o que faço. Tenho muito o
que aprender e fazer ainda. Me considero
com sorte por trabalhar naquilo que gosto,
desenhando os personagens que encanta-
ram minha infância.
lince - Como o senhor define o mer-
cado brasileiro de quadrinhos? Acredita
que um dia poderá chegar ao nível do
mercado americano?
Mike - Acho que sim. Vivemos um
excelente momento editorial e criativo.
Podemos, sim, ter um mercado tão com-
petitivo quanto o americano. Mas, para
isso, é preciso mais investimentos e acre-
ditarmos em nossos talentos.
lince - Quais os próximos projetos que
o senhor tem em pauta com a Marvel, ou por
conta própria? Pode nos adiantar alguns?
Mike - No momento estou trabalhando
em Avengers (Vingadores), com roteiro do
excepcional Jonathan Hickman. No lado
autoral, acabei de lançar “A Arte Cartum de
Mike Deodato”, pela Editora Kalaco, que
está à venda na Comix Shop. Lancei em
Janeiro meu primeiro Sketchbook.
lince - Para encerrar, deixe um
recado para os alunos da Newton Paiva, e
também, os leitores do jornal Lince, que
curtem muito seu trabalho.
Mike - Obrigado pelo carinho e, por
favor, divulguem e leiam o quadrinho
nacional!
12 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton Paiva - Fevereiro 2013
“sabia quE sERia DEsEnhisTa DE quaDRinhOs, mas nãO sabia quE sERia TãO DiFícil”.
“ Eu amO O quE FaçO.
TEnhO muiTO O quE aPREnDER E
FazER ainDa”.
“a minha TEmPORaDa na mulhER maRaVilha
FOi DEcisiVa PaRa quE a
maRVEl PERcEbEssE
mEu TRabalhO”.
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton Paiva - Fevereiro 2013 13
“ mEu Pai FOi, cOm cERTEza,
mEu gRanDE hERÓi”.
14 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton Paiva - Fevereiro 2013
O grande e
charmoso cinema
de rua está quase
extinto na cidade
de belo horizonte,
dando lugar a
pequenas salas
nos shoppings
CULTURA
FreDeriCo Vieira
1º Período
Entre as décadas de 1930 e 1960, os
grandes cinemas eram comuns em Beagá.
Principal atração cultural da cidade, esta-
vam presentes no centro e em vários bairros.
Mas, era na região central o maior aglome-
rado de salas. Do Cine Brasil ao Metrópole,
passando pelo Candelária, Jacques, Acaiaca
ou Art Palácio se tornaram marcos da
cidade. Nos bairros havia o Odeon, Roxy,
Santa Tereza, Amazonas e o Cine Pathé,
entre outros.
Atraídos pelo lazer e pela qualidade dos
filmes que esses cinemas ofereciam, era
comum haver salas com capacidade para
800 ou até mil pessoas. Porém, com o tempo,
mudou-se a configuração cultural da socie-
dade em relação ao cinema. A chegada da
televisão e do VHS e, principalmente, o
crescimento da metrópole contribuíram
para a decadência do cinema de rua na
virada da década de 1970 para a de 1980.
atIvIdadE ComERCIaL?
aRtE CuLtuRaL ou
arquivo CPJ
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton Paiva - Fevereiro 2013 15
Problemas sociais, inchaço popula-
cional, manutenção cara das grandes
salas também foram fatores determinan-
tes para o fim da atração cultural nas ruas
da cidade. As salas enormes passaram a
ser um problema, já que a quantidade de
filmes aumentou absurdamente e elas já
não davam suporte ao alto número de
títulos anuais.
O ramo imobiliário, interessado na
localização privilegiada e no tamanho
desses imóveis, logo deu início ao boom
que rapidamente transformaria a paisa-
gem cultural da cidade. As igrejas evangé-
licas viram nas grandes salas de cinema a
oportunidade de espalhar sua influência
pela cidade. Outros foram substituídos
por estacionamentos, mercados, bancos e
lojas de departamento, e algumas salas
continuaram com a atividade cinemato-
gráfica, porém, com o ramo pornô.
CiNeMa NaCioNal
Com a extinção dos espaços de rua, o
cinema nacional perdeu sua força. Filmes
nacionais na década de 1970 ultrapassa-
vam a marca de dois milhões de espectado-
res — havia de três a quatro produções por
ano. Já na década de 1990, o número teve
grande queda, e só nos últimos anos conse-
guiu dar uma retomada considerável no
número de filmes.
O cinema de rua brasileiro teve uma
baixa em todo território nacional. Cidades
como São Paulo e Rio de Janeiro ainda
possuem um público fiel e maior número
de salas do que Belo Horizonte, mas nada
comparado ao enorme número de cinemas
de rua que se tinha antigamente.
O Belas Artes paulistano, um dos mais
antigos e tradicionais cinemas de rua do
país, atualmente está fechado por proble-
mas de aluguel do imóvel. Uma ação de
tombamento histórico do local está em
cogitação há muito tempo, porém, a ideia foi
totalmente esquecida de um tempo para cá.
Isso demonstra que a manutenção das gran-
des salas é bastante complicada, devido ao
poder público não dar incentivo à ação cul-
tural. Hoje, o único cinema comercial de
BH é o Usiminas Belas Artes, mantido por
meio da ajuda de patrocinadores.
“A grande perda do cinema nacional foi
para as produções de Hollywood”, afirma
Francisco Alves, 24, estudante de cinema.
Para ele, apenas grandes distribuidoras e
filmes americanos têm conseguido atingir
um grande público.
— Foi uma grande perda, já que o
cinema nacional de qualidade enfrentou, e
ainda enfrenta duras penas para sobreviver.
Poucos são os cinemas de rua que sobrevive-
ram, e os que conseguiram foi graças a ini-
ciativas de fundações estatais.
Nos sHoPPiNGs
Mudou-se o modo de fazer e assistir fil-
mes. O cinema migrou para os shoppings e
misturou-se a lojas, espaços de alimentação
e outras atividades, criando nos fãs da arte
uma sensação de que ele passou a ser mais
uma daquelas atividades consumistas.
Os grandes espaços de rua já não
ofereciam mais a segurança e o conforto
necessário, segundo as autoridades. Eco-
nomicamente benéfico, o cinema nos
shoppings centers é totalmente lucra-
tivo. A diversidade de filmes e salas faz
com que o público atual sinta-se satis-
feito. Os shoppings trazem o que a socie-
dade consumista atual procura: pratici-
dade e entretenimento. Porém, o cinema
perdeu aquele modelo artístico e cultural
que as salas de ruas traziam.
“A mudança para os shoppings teve
grandes malefícios” completa Júlio Cruz,
sócio-proprietário de uma revista sobre
cinema. Ele afirma que o circuito de exibi-
ção comercial se fechou para grandes cine-
astas, colocando em suas telas apenas pro-
dutos amplamente comerciais, com pouco
apelo artístico.
a retoMaDa
Mas nem tudo é perda. Uma noticia
dada nos últimos dias surpreendeu os
amantes do cinema. Um projeto de
reconstrução do Cine Pathé foi aprovado
pelo Conselho de Patrimônio, segundo a
Fundação Municipal de Cultura. É pre-
ciso agora a aprovação da Secretaria
Municipal de Regulação Urbana para que
o projeto seja definitivamente liberado até
o final deste semestre.
As obras têm um prazo estimado de
dois anos e o edifício e o cinema deverão
estar totalmente prontos no segundo
semestre de 2015. O investimento total
será de cerca de R$ 20 milhões e as obras
serão financiadas pela iniciativa pri-
vada. A verba sairá de uma parceria
entre as empresas Farkasvölgyi Arquite-
tura e PHV Engenharia.
Este projeto de reinauguração é uma
tentativa de resgatar um dos mais famosos
cinemas da cidade, uma chance para que
os amantes da cultura tenham de volta a
atividade charmosa que era o cinema.
cinEma DE aRTEO Cine Pathé foi inaugurado em 1948.
Localizado em um imóvel de aproximada-
mente 944 m², tem entrada pela Avenida
Cristóvão Colombo, quase na Praça da
Savassi. O cinema encerrou suas atividades
na década de 1990. Em quase 50 anos de
atividades, com programação coordenada
pelo crítico Paulo Arbex, o Pathé foi respon-
sável pelo lançamento de um grande
número de filmes que não se encaixavam no
circuito comercial.
Bergman, Antonioni, Fellini, Godard,
Renoir, Losey, David Lean e muitos outros
diretores chegaram a Beagá pela tela do
Pathé. No fim do ano, havia o Festival dos
Melhores do Ano, com dez filmes escolhi-
dos segundo os críticos de diversos jornais
da cidade. O fechamento do Cine Pathé foi
uma grande perda para a cultura da cidade.
Em DEcaDÊncia
16 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton Paiva - Fevereiro 2013
a saudade, já dizia o mestre chico buarque, é arrumar o quarto do filho que já morreu. acidentes de trânsito levam número cada vez maior de jovens, deixando famílias que
nem sempre sabem como lidar com tais perdas
a doR a maIs...
COMpORTAMEnTO
raQuel Durães
3º Período
Hoje, apesar da morte ainda ser um
tabu, amigos e familiares encontram apoio
em diversos grupos, prontos para receber e
auxiliar aqueles que estão num período de
sofrimento, a recriar um sentido para a vida.
“Não encontrava alívio para o meu coração
incompleto e, depois de cinco meses da
morte do meu filho, procurei ajuda e encon-
trei a API, Associação de Apoio a Perdas
Irreparáveis, e fui acolhido”, afirma Itamar
Rezende, gerente de transporte, que perdeu
o filho, Vinicius Anraku Rezende, há dois
anos. Além disso, ele conta que “antes de
encontrar o grupo, eu busquei refúgio em
medicamentos e religião, mas nada suavi-
zava minha dor”.
São eles, os acidentes de trânsito,
muitas vezes cometidos por ações irres-
ponsáveis, que podem levar filhos, espo-
sas, pais e netos. “Em nossos grupos,
sempre temos sobreviventes de vítimas
fatais em acidentes de trânsito. Este tipo
de morte traz um luto mais doloroso, pois
é uma perda súbita, não preparada e de
forma violenta”, afirma Mariel Paturle,
psicoterapeuta, fundadora e integrante
do conselho superior da SOTAMIG
(Sociedade de tanatologia e cuidado
paliativo de Minas Gerais) e coordena-
dora do GAL, Grupo de Apoio a Enlutados.
“a morte é apenas uma travessia do mundo, como os amigos atravessam o mar e permanecem vivos uns nos outros.
[...] É este o consolo dos amigos e, embora se diga que morrem, sua amizade e convívio estão, no melhor dos sentidos,
sempre presentes, porque são imortais”. (WilliaM PeNN, More Fruits oF solituDe)
luC
as
dia
s
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton Paiva - Fevereiro 2013 17
SEGUranÇa no trÂnSito
Sargento Márcio ainda recomenda algumas medidas que devem ser tomadas para evitar os temidos acidentes. Confira:
l use o cinto corretamente: não coloque no pescoço ou debaixo do braço, engate o equipamento ao invés de colocá-lo apenas sobre as pernas. É mais seguro. ele reduz em até 50% o risco de lesões graves ou fatais.
l respeite a sinalização, o que está escrito nas placas e nas vias, os agentes e policiais de trânsito.
l se beber, não dirija. vá de taxi, de ônibus ou pegue carona solidária com alguém habilitado que não bebeu.
l dirigir e falar ao celular ou usar fone(s) de ouvido é proibido no trânsito.
l não dirija com crianças e animais no colo, não transporte passageiros em compartimento de carga.
l Ciclista: use os equipamentos obrigatórios, não pegue traseira de ônibus e caminhões.
l motociclista: use o capacete preso ao pescoço, com óculos de proteção ou viseira abaixada.
l mantenha distância de segurança entre o seu veículo e o veículo da frente.
l sinalize conversões e mudanças de pista com antecedência.
l use as passarelas e faixas de pedestre, pois é melhor perder o tempo na travessia do que perder a vida.
l veja mais dicas e informações no site da Polícia militar de minas Gerais: https://www.policiamilitar.mg.gov.br/portal-pm/principal.actionl aPi — associação de apoio a Perdas irreparáveisrua espírito santo, 2727, sala 1205, belo Horizonte, mG. CeP 30160-032 telefax (31) 3282-5645. Presidente: Gláucia resende tavares http://www.redeapi.org.br
l Gal — Grupo de apoio a enlutadoswww.sotamig.com.brCoordenadoras do Gal: Junia de Paula drumond e mariel nogueira da Gama Paturle
NeGaÇão Da PerDa
Quando se pergunta a Itamar sobre
o sentimento de perda, ele diz que sobre
a perda física não tem muito que falar.
“É dor, mais dor, muita dor. Só quem
sente, ou já sentiu, sabe o que ela é”,
lamenta. Na nossa sociedade, não esta-
mos preparados para lidar com as perdas
e, menos ainda, com a morte.Vivemos
em uma cultura extremamente mate-
rialista, onde não há espaço para refle-
xões acerca das perdas. “A pessoa que
está em processo de luto se sente sem
recursos internos e externos para viver
este processo. E ainda, muitas vezes é
cobrada para retomar a sua rotina rapi-
damente”, afirma Mariel.
Na maioria dos casos, a primeira
reação frente ao que não queremos acei-
tar é a revolta. Muitos fogem da reali-
dade e se negam a ter qualquer tipo de
conversa mais profunda sobre o assunto.
Entretanto, a morte vai nos cutucando.
“Se não procurarmos dedicar algum
tempo para o pensamento no sentido da
vida e da morte, continuaremos vivendo
imersos no medo e na angústia”, afirma
Mar ie l . Entre tanto, para I tamar,
nenhum caso é igual ao outro. “Cada
sentimento tem uma diferença. Digo
para os pais que enfrentam esta situa-
ção: sinta tudo que envolva o ente que-
rido, não faça nada que seu coração não
queira. Todos devem respeitar o seu
sentimento”, afirma.
Matar a Morte
Todos nós, em algum momento da vida,
passamos por uma situação que parece não
ter solução. Gláucia Resende Tavares, psi-
cóloga clínica e fundadora da rede API, per-
deu a filha Camile, 18 anos, em um brusco
acidente de carro. Ela, ao invés de se entre-
gar à dor e ao desespero, decidiu criar, junto
com o marido, uma associação para auxiliar
a todos aqueles que se sentiam como ela.
“Matar a morte é poder reverenciar a
memória, ter gratidão e reconhecimento.
Uma boa morte pode ser o resultado de uma
vida bem vivida”, reconhece.
Em um grupo como esse e o GAL, por
exemplo, todos têm a chance de comparti-
lhar sentimentos e experiências, ouvir a
história de outras pessoas que também estão
sofrendo, e perceber que ninguém está sozi-
nho. “Desde o dia em que fui recebido pela
API, iniciei um conhecimento e passei a
entender meus sentimentos”, afirma Ita-
mar. Ele ainda diz que “no primeiro encon-
tro, vi a doutora Gláucia falar o seguinte:
nasceu, vai morrer. Isto eu nunca esqueci.
Não superei, mas consigo aceitar melhor a
situação”, explica.
arMas soBre roDas
De acordo com o Sargento Márcio
Roberto Pereira, do Batalhão de Polícia de
Trânsito da PMMG, acidentes de trânsito
estão entre os principais causadores de
óbito em Minas Gerais. “Na maioria dos
casos, jovens entre 18 e 27 anos são as
vítimas. Em geral, os acidentes são decor-
rência de negligências e de falta de cui-
dado consigo mesmo e com o outro”,
afirma. Associados a bebidas alcoólicas,
drogas, e irresponsabilidade com as regras
de trânsito, veículos se transformam em
armas fatais. Segundo a PMMG, 70% dos
acidentes de trânsito, com vítimas fatais,
estão relacionados ao álcool.
Além de campanhas de conscientiza-
ção e fiscalização mais rigorosas, especial-
mente da Lei Seca, na opinião de Mariel “é
importante também que possamos promo-
ver reflexões acerca de temas como perdas,
morte e luto a fim de conscientizar a popu-
lação do real sentido e valor da vida”.
18 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton Paiva - Fevereiro 2013
CaRREIRa ouCiÊnCiA
fILho?Filho, só depois da carreira? Vejam quais são os riscos de uma gravidez tardia e os cuidados necessários para garantir uma gestação saudável
Fotos arquivo Pessoal
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton Paiva - Fevereiro 2013 19
MaNuel CarValHo
3º Período
O desejo de ser mãe é o sonho de mui-
tas mulheres. E são muitos os motivos
para que esse sonho seja constantemente
adiado: investir (e focar todos os seus
esforços) prioritariamente na construção
da carreira profissional, encontrar alguém
com quem deseja ter um filho, ou querer
primeiro, conquistar a tão sonhada estabi-
lidade financeira...
“Tenho 22 anos de casada. Comecei
a tentar engravidar com 34 anos, após
10 anos de casamento. Adiamos porque
queríamos primeiro alcançar a estabili-
dade financeira”, diz Miriam Lacerda,
mãe aos 45 anos. Essas e outras razões
fazem com que as mulheres engravidem
cada vez mais tarde. Levantamentos no
mundo todo mostram que o número de
gestações depois dos 40 anos tem
aumentado (e muito).
NoVas tÉCNiCas
Há mais de 15 anos, 1,3% dos partos
eram em mulheres com mais de 40. No ano
passado, esse número subiu para 6% — um
aumento de 361,54%. Em 1991, 0,67%
das mulheres tiveram o primeiro filho
depois dos 40. Em 2001, esse número já
subiu para 0,79%. A expectativa dos médi-
cos é que esses índices cresçam cada vez
mais. “O avanço da medicina desenvolveu
técnicas de fertilização capazes de ajudar a
gravidez, o que faz com que as mulheres
posterguem a maternidade”, explica Mau-
rício da Costa Barbosa, ginecologista.
O período mais favorável para a gravi-
dez é entre os 20 e os 35 anos. Aos 20, a
mulher tem 9% de chance de ter um aborto
espontâneo. Aos 35, este número dobra e
torna a duplicar a partir dos 40. A partir dos
27, a probabilidade de se engravidar de
forma natural começa a cair, e a necessi-
dade de auxílio médico cresce conforme a
idade avança. “Engravidei naturalmente
com 42 anos, mas perdi na oitava semana.
Depois engravidei novamente aos 45 anos e
desta vez a gestação foi até o final”, comple-
menta Miriam Lacerda.
A partir dos 42, o processo de divi-
são celular apresenta imperfeições que
fazem com que 90% dos óvulos sejam
anormais. “A mulher nasce com um
número finito de óvulos — cerca de 300
mil. A partir dos 35 anos, existe a dimi-
nuição acentuada dos óvulos”, acres-
centa Maurício da Costa Barbosa, gine-
cologista. Quando um óvulo de má qua-
lidade é fecundado, o bebê corre riscos
de nascer com imperfeições, além de a
gestante ter mais chances de sofrer de
pressão alta e eclampsia – aumento da
pressão arterial que pode provocar con-
vulsão e morte.
Aos 21, uma em cada 1.507 mães tem
chance de dar à luz a uma criança com
síndrome de Down. Aos 40, este número
aumenta para uma em cada 112. Aos 21, a
probabilidade de o feto apresentar proble-
mas neurológicos e má formação dos
órgãos é de uma a cada 525 gestações. Aos
40, essa chance é de uma a cada 62.
No entanto, com os avanços da
medicina, é possível ter uma gravidez
tranquila e saudável depois dos 35 anos.
Basta um acompanhamento médico pelo
menos três meses antes da gravidez e
uma boa alimentação para controlar e
minimizar todos estes riscos. “Tive uma
gestação saudável, sem nenhum pro-
blema até o final. Todos os exames reali-
zados foram satisfatórios”, conta Miriam.
PRObabiliDaDEs
A mulher deve realizar algumas análi-
ses e exames de rotina antes da gravidez,
como mamografia, teste ergométrico,
medir pressão arterial, o colesterol, a glice-
mia e checar a tireoide. “É fundamental ter
um acompanhamento médico antes, para
fazer a prevenção de problemas como a má
formação.”, acrescenta Maurício da Costa
Barbosa, ginecologista.
Um dos cuidados básicos é uma ali-
mentação balanceada que contenha ali-
mentos ricos em ácido fólico, uma vitamina
do complexo B, o que garante a saúde da
mãe e o desenvolvimento do bebê. Algumas
das principais fontes deste nutriente são as
vísceras de animais, feijão, espinafre, bróco-
lis, abacate, abóbora, carne de vaca e de
porco, cenoura, ovo, queijo e grãos integrais.
A necessidade de intervenção cirúrgica
durante o parto vai depender da condição
da grávida. A perda da elasticidade e outros
riscos são mais comuns em gestações tar-
dias, assim como a existência de doenças
crônicas e o ganho de peso excessivo do
bebê. Esses problemas podem inviabilizar o
parto normal.
Após o parto, a recuperação vai
depender da condição física. Em geral, é
mais demorada porque a cicatrização não
é tão rápida. Varizes aparecem com mais
facilidade por conta de uma sobrecarga no
sistema circulatório de cerca de 30%
durante a gestação.
acOmPanhamEnTO
20 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton Paiva - Fevereiro 2013
CaMila CHaGas e raQuel Durães
3º Período
Inúmeras cidades são lembradas por
pontos históricos que atraem turistas de
diversos lugares. De uns tempos pra cá,
entre catedrais, praias, bares, agora sur-
gem os cemitérios, que deixaram de ser
vistos como lugares mórbidos e se torna-
ram fontes de pesquisa histórica e artís-
tica. A maioria deles, construídos no
século XIX, abriga personalidades e gran-
diosas obras de arte.
Exemplos não faltam. O cemitério
Staglieno, em Gênova, é um dos mais
famosos e belos do mundo; o Père-
-Lachaise, no centro de Paris, onde está o
ex-vocalista Jim Morrison, da banda The
Doors; e o da Recoleta, em Buenos Aires,
onde se encontra o jazigo da ex-primeira
dama da Argentina, Evita Perón, são parte
importante dos roteiros turísticos de todas
essas cidades. Em Belo Horizonte, o Cemi-
tério do Bonfim se destaca pelo conjunto
de estatuaria, considerado dos mais impor-
tantes do país.
reFerêNCia ViVa
O Cemitério do Bonfim também está
na lista dos mais ricos e visitados do país.
Inaugurado no dia 8 de fevereiro de 1897, é
um espaço que, pelo seu tradicionalismo e
obras de arte, em sua maioria, de artistas
italianos que vieram para o Brasil em mea-
dos de 1800, tornou-se ponto de referência
também para os vivos.
“O cemitério não é um museu, da
mesma maneira que um museu não é um
cemitério. São espaços culturais que
podem ser estudados, analisados e visita-
dos pela população”, afirma Marcelina
Almeida que, além de integrante da ABEC,
Associação Brasileira de Estudos Cemite-
riais, também é professora na Escola de
Designer da Universidade do Estado de
Minas Gerais (UEMG). Segundo ela,
“esses espaços podem ser educativos, de
fruição e de aprendizado”. Para comprovar
isso, o cemitério recebe visitas guiadas,
uma vez por mês, com grupos de até 30
pessoas. “Esse projeto é uma forma de edu-
cação patrimonial e valorização do
espaço”, completa Marcelina.
MeMÓria artÍstiCa
O cemitério carrega lembranças e mar-
cas que coincidem com a fundação da pró-
pria Belo Horizonte. Considerado um dos
lugares mais tradicionais da cidade, pertence
ao século XIX, ou seja, é um cemitério oito-
centista. “Devido ao seu tradicionalismo,
este cemitério reflete um modo específico de
culto aos mortos. A razão da sua importância
e fama para a população se justifica por todas
essas razões”, explica Marcelina.
Grandes monumentos se destacam no
cenário que se situa em meio ao silêncio do
Bonfim. São datados do século passado e
representam fases artísticas que vão da art
nouveau ao modernismo. Entre esses artis-
tas estão João Amadeu Mucchiut, um dos
mais reverenciados da época, Nicola Dan-
tolli, Antônio Folini e os irmãos Natali
(Ernesto, Trento, Carlo e Augusto).
Todos os elementos que compõem o
acervo cemiterial possuem significado
estético, artístico, simbólico e cultural. “As
obras cumprem a função de embeleza-
mento e transmitem uma mensagem que
pode ser lida a partir da história e desejos de
perpetuidade e memória para o qual foram
planejados”, afirma a estudiosa.
oDor De saNtiDaDe
Por ser tão antigo e tradicional, o Bon-
fim abriga várias personalidades que mar-
caram o país. Entre elas, de túmulos de
religiosos, como os de Padre Eustáquio e
Irmã Benigna, a políticos que fizeram his-
tória, como o antigo presidente da repú-
blica Olegário Maciel, e Júlia Kubitscheck,
mãe de Juscelino. Além deles, outros
túmulos também estão na lista dos mais
visitados do lugar. São os de Raul Soares, do
jornalista Roberto Drummond e Carlos
Flávio (filho de Carlos Drummond de
Andrade), além de outros políticos.
Apesar de alguns dos restos mortais
não estarem mais no cemitério, como é o
caso de Padre Eustáquio e Irmã Benigna,
ainda estão presentes as placas indicativas
que registram sua passagem por lá. Entre-
tanto, se não estão mais lá, por que fiéis
insistem em ir até lá? “No local existe o que
chamamos de odor de santidade. Isso
prova e representa o momento em que a
pessoa teve seu corpo ali, de alguma
maneira”, explica Belquis Campolina, res-
ponsável pelo túmulo de Irmã Benigna, um
dos grandes exemplos de santidade e fé
conhecidos pela Igreja Católica.
ENtRE tÚmuLos E
cemitério do bomfim guarda parte da memória arquitetônica,
cultural e simbólica de bh
aRtEspATRiMÔniO
divulGaÇão
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton Paiva - Fevereiro 2013 21
EsporteEsporteJoão VÍtor Cirilo
3º Período
Saindo de Pouso Alegre, passando pelo
interior paulista, aparecendo em Belo
Horizonte e voando para os Estados Uni-
dos. Essa é a caminhada do jovem Cris-
tiano Silva Felício, pivô de 2,06 metros e 20
anos de idade, que saiu do Minas Tênis
Clube e arrumou suas malas. O destino? A
Universidade de Oregon (EUA), com a
qual assinou vínculo para disputar a pró-
xima temporada da NCAA, liga americana
universitária de basquetebol. O atleta
representará o Oregon Ducks, clube da
Conferência Pac 12 da primeira divisão da
NCAA, na temporada 2013-2014.
Felício foi uma das gratas revelações da
última temporada do Novo Basquete Brasil
e viajou aos Estados Unidos em busca de um
sonho: jogar na NBA, liga de basquete profis-
sional mais importante do mundo. O jovem
atleta conversou conosco no mês de novem-
bro, quando assinou seu contrato com a
universidade. Ele nos falou de sua trajetória
no basquete, suas passagens anteriores por
outros clubes, e o desejo inicial de chegar
em território americano.
o CoMeÇo
Felício teve o primeiro contato com o
basquete aos 12 anos de idade, quando já
chamava a atenção pela sua altura. “O pro-
fessor de Educação Física me chamou para
praticar o esporte, eu acabei gostando e não
parei mais. Tornar-me um jogador não era
meu principal objetivo no começo, mesmo
porque eu não levava o basquete tão a serio”,
conta. As coisas mudaram quando ele foi
para Jacareí, aos 15 anos. “Ali eu percebi que
poderia me tornar um jogador. Desde lá eu
mantive e mantenho até hoje este objetivo.”
Antes de chegar ao Minas Tênis Clube,
equipe onde chamou a atenção de muitos,
Cristiano Felício passou por Pindamonhan-
gaba e Jacareí, em 2006. As dificuldades
impediram sua permanência na primeira
cidade. “Me disseram que não poderiam
ficar comigo, pois não tinham alojamento
para os atletas. Como eu não tinha condi-
ções para bancar uma moradia, pensei que
a estrada para mim tinha acabado ali”.
Com condições melhores em Jacareí,
Cristiano conseguiu passar no teste e por lá
ganhou certo destaque. Em 2007, a pri-
meira convocação para a seleção brasileira
(categoria de base), onde encontrou com
quem seria seu futuro treinador no Minas,
Raul Togni Filho. “Depois de retornar ao
paulista, estava em casa no meio do ano e
recebi uma ligação do Flávio Davis para
fazer um teste no Minas em 2009. Acabei
ficando”, revela o promissor atleta.
Do MiNas Para os estaDos uNiDos
A passagem pelo clube da capital
mineira foi muito proveitosa. “Foi incrível.
O tanto que aprendi com cada técnico que
tive foi uma experiência inexplicável.
Desde o meu primeiro treinador, Flávio
Davis, passando pelo Nestor Garcia e che-
gando ao Raul Togni, que sempre foi o
meu técnico na categoria de base, e o
Cristiano Grama, no último ano, o Minas
foi essencial para tudo o que conquistei na
minha vida como jogador de basquete até
agora”, avalia o jogador.
Após se destacar na temporada
2011/2012 do Novo Basquete Brasil, Cris-
tiano resolveu partir para os Estados Uni-
dos. “Posso te dizer que sempre foi um
sonho e sempre busquei correr atrás dele
todos os dias. Mas só comecei a pensar
realmente nisso depois que acabou o meu
vínculo com o Minas. Decidi que essa era
a hora certa de estar vindo pra cá”.
Os próximos objetivos são claros. “A
primeira meta é ir muito bem na Uni-
versidade no meu primeiro ano e no
próximo para poder chegar à NBA
daqui a dois ou três anos. Espero sem-
pre seguir com a seleção brasileira.
2016 é uma outra meta que estarei tra-
balhando para alcançar. Representar
meu país em casa será maravilhoso”,
completa Cristiano Felício.
Fã do ala Kevin Garnett e torcedor do
Boston Celtics, o jovem já sonha com a
possibilidade de jogar ao lado do ídolo. “Se
isso chegar a acontecer, seria fantástico,
jogar ao lado do meu ídolo e no time que
sempre torci”.
Em BusCa dE um
soNhoaos 20 anos de idade, o mineiro cristiano Felício
inicia neste ano a caminhada
rumo ao sucesso no basquetebol americano
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22 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton Paiva - Fevereiro 2013
COMpORTAMEnTO
raFael MartiNs
3º Período
Infância pobre, adolescência problemá-
tica e, de repente, fama, dinheiro, carros de
luxo, noitadas, amigos oportunistas e
mulheres fáceis... É o que acontece com a
maioria dos jogadores de futebol. Para afas-
tar as lembranças dos tempos difíceis, mui-
tos se deixam levar pelos prazeres da noite.
A vida de atleta deixa de ser menos atraente
e os craques da bola passam a levar vidas de
astros da música e da televisão. Nesse pro-
cesso, uma personagem tem papel impor-
tantíssimo, a “maria chuteira”.
Elas estão sempre por perto quando eles
se envolvem com mulheres e com o alcoo-
lismo. Outros, com as drogas. Em noitadas
violentas, há registros de acidentes e até
mortes. Jogadores de futebol podem, sim,
sair, ter casos com mulheres e beber, mas
não podem se esquecer de que são figuras
públicas e que o público — principalmente
crianças e adolescentes — os vê como exem-
plos a serem seguidos.
Ídolos de diferentes gerações, de Heleno
de Freitas (que morreu vitimado pela sífilis,
doença sexualmente transmitida) a Garrincha
(largou a esposa e os nove filhos para envolver-
-se em outros relacionamentos); de Ronaldo
Fenômeno (que teve divulgada uma polêmica
saída com três travestis) a Edmundo, Adriano
Imperador e ao goleiro Bruno, os exemplos de
jogadores de futebol que caíram na noite e se
deram mal estão aí pra quem quiser ver. Isso,
pra ficar só nos mais famosos.
E com elas, batucada, birita e, de vez em quando, drogas... mas, às vezes, a
doce vida dos jogadores de futebol acaba em tragédia
ChutEIRa fCmaRIas
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton Paiva - Fevereiro 2013 23
à EsPERa DE uma cElEbRiDaDEVanessa Tosquetto é ex-bailarina do
‘Domingão do Faustão’ e uma ‘maria chu-
teira’ assumida. Recentemente teve seu
nome em evidencia por divulgar uma foto
em uma rede social dando boas vindas ao
jogador Alexandre Pato, do Corínthians.
Sem muita cerimônia, Tosquetto conta que
já teve casos com Ronaldinho Gaúcho e
Daniel Alves — com quem mantém uma
amizade colorida. Ela afirma que as festas
são sempre muito badaladas.
Entre as “marias chuteira” também há
as que preferem permanecer anônimas.
São as que gostam de futebol, mas gostam
de ficar na delas, sem aparecer na mídia.
Amanda Freitas, 20, gaúcha de Santa Cruz
do Sul, diz que já ficou com alguns jogado-
res, sim, mas de times de várzea.“Mas
ainda não peguei nenhum jogador
famoso”, lamenta. Amanda até gostaria de
pegar uma celebridade, mas desde que
ficasse longe da mídia. “As coisas que faço
mantenho somente com o conhecimento
dos envolvidos; se eu, por acaso, tivesse que
aparecer na mídia, seria por mérito meu,e
não na aba de alguém”, avisa.
Amanda, que é gremista, frequenta o
estádio e define “um estilo de jogador” que
gosta ver em campo, aquele que conse-
quentemente a deixa “de pernas bambas”.
— Não é por eu ser gremista, mas o
André Lima, o Tcheco e o Daniel Alves são
do tipo de homem e os jogadores que eu
gosto! As marias chuteira que frequentam
estádios, como é o meu caso, levam muito
em conta a garra do jogador, dentro de
campo. Aquele que é veloz, parte pra cima
e não fica fazendo o tipo uva podre: onde
encosta, cai!
Quanto às caracteristicas fisicas,
Amanda confessa que não tem uma pre-
ferência especial, mas gosta “dos que
tenham braços e pernas bem torneadas
— isso é importante!”. Desde pequena,
Amanda frequenta estádio e diz que tem
vários casos de “loucuras” que fez pra
ficar perto de um jogador. “Uma vez,
quando acabou um jogo aqui na minha
cidade, os jogadores foram para o ôni-
bus. Eu subi na garupa de uma amiga e
me debrucei no vidro do banheiro do
ônibus, e tinha um jogador lá dentro...
Então, tirei minha camiseta e joguei pra
ele autografar.
Reinaldo Rosa, ex-atacante do Atlé-
tico-MG, é mais um exemplo de atleta
que gostava da noite. No inicio de sua
carreira, tinha como rival nada mais
nada menos que Ronaldo Fenômeno.
Ambos surgiram como promessas de arti-
lheiros, mas a diferença veio poucos anos
depois . Ronaldo é r ico e famoso,
enquanto Reinaldo, hoje, toca pagode em
boates de Belo Horizonte, sem sequer ser
lembrado pelo que fez nos gramados.
A noite sempre foi uma companheira
de Reinaldo. Ele não nega que saía para
beber e sambar , sempre assediado por mui-
tas mulheres. Vocalista de um grupo for-
mado por ele, o “Pagode do Rei”, o ex-joga-
dor continua frequentando a noite, mas,
agora, para trabalhar. Casado, Reinaldo
observa que “os jogadores de futebol gostam
de sair como qualquer outra pessoa, mas,
como são caras conhecidas, a exposição é
sempre muito grande”.
Marias CHuteira
Suas companheiras mais frequentes
são as chamadas “marias chuteira”,
mulheres de corpos maravilhosos e que
estão sempre onde se encontram jogado-
res. Não medem esforços para conseguir
aparecer, acompanhando-os, sendo eles de
times pequenos, profissionais ou até juve-
nis. Seja em boates, festas e viagens parti-
culares de jogadores, elas sempre estão
atrás de uma chance de se envolver com
eles. Ficar grávida de um jogador famoso
pode ser, em muitos casos, o sinônimo de
uma gorda aposentadoria.
Mas a relação entre os atletas e “marias
chuteira” tem seu lado misterioso. Alguns
são casados, mas não conseguem resistir à
tentação. Os de famílias pobres se deslum-
bram com facilidade e dão para frequentar
casas noturnas e festas, incapazes de resistir
à tentação das mulheres. “Mesmo os que
são casados dão suas escapadinhas”, afirma
Fernanda Factory, jornalista e blogueira do
portal R7, mas ressalvando que isso é rela-
tivo, “pois depende muito do caráter de
cada um”.
muiTa EXPOsiçãO
PRimEiRO, camisinha
Amanda, que não quis dar o nome
do jogador, diz que ele logo devolveu a
camiseta e que havia “uns números
meio rabiscados”.
— Eu achei que fosse o telefone
dele, depois, quando lavei, o número
saiu e não tentei ligar.
Seus ex-namorados já ficaram
com ciúmes até de fotos, mas ela diz
que não tem nenhum preconceito.
Mesmo assim, para ficar perto de um
jogador, não seria capaz de extrapolar.
“O assasinato de Elisa Samúdio e esse
beijo do Fred em uma garota são
alguns dos casos que apareceram na
mídia e isso me deixa em alerta”.
— Primeiro, usaria camisinha!
Depois eu acredito que a relação que eu
tivesse com esse jogador seria uma rela-
ção discreta e o menos tumultuada
possível, sem correr risco de acontecer
o mesmo que rolou com a Elisa. Em
relação ao beijo do Fred, faria o mesmo
que a menina fez e pra mim não haveria
problema nenhum; afinal, sou sol-
teira”, diverte-se.
maRia chuTEiRa quE sE PREza lEVa Em cOnTa a gaRRa DO JOgaDOR
24 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton Paiva - Fevereiro 2013
CaÍQue roCHa
1º Período
O efeito visual proveniente de sinaliza-
dores deixa qualquer espetáculo mais
bonito. Isso ninguém questiona. Mas inci-
dentes recentes provam que há um grande
perigo envolvendo o uso desses artefatos. O
principal motivo é a venda indevida, sem
fiscalização, para pessoas sem qualquer
preparo para manusear esses instrumentos.
Cada tipo de sinalizador — todos fáceis
de serem encontrados no mercado — tem
sua finalidade, que pode ser tanto para
embelezar algum espetáculo quanto para
algum tipo de comunicação. Sinalizadores
mais comuns e baratos são muito usados em
partidas de futebol e shows musicais. Estes
são considerados menos perigosos. Mas há
um caso, como o dos sinalizadores náuticos,
por exemplo, em que o uso é extremamente
perigoso e requer preparo profissional.
seM restriÇão
De acordo com o cabo Cláudio Souza,
do 18º Batalhão da PMMG, “a venda dos
sinalizadores não está restrita e qualquer
pessoa pode comprar sem a necessidade de
apresentar documento ou autorização, por
não se tratar de equipamentos para armas
de fogo”. Também não há crime ou pena
que possa atingir o vendedor. “Caso a utili-
zação incorreta de fogos de artifício leve
alguma pessoa a óbito, como aconteceu no
jogo do Corinthians, o responsável que
lançou ou acendeu o artefato poderá res-
ponder por homicídio culposo, quando não
se tem intenção de matar, e o autor estará
sujeito à pena de um a três anos de deten-
ção”, afirma o cabo.
Ainda sobre a fiscalização da venda de
sinalizadores, o cabo Cláudio Souza
MOMEnTO
sINaLIZadoR, Os riscos de “embelezar” a festa quando há uma grande possibilidade de tudo virar tragédia
sINaLIZadoR,sINaLIZadoR,sINaLIZadoR,a aRma LIBERada
explica que “a Polícia não fiscaliza a venda
de sinalizadores, pois essa tarefa deve se r
da Marinha, tendo em vista que o objetivo
real deste artefato é ser usado para encon-
trar embarcações e pessoas que se perde-
ram no mar ou sofreram algum tipo de
naufrágio”. Infelizmente, os estabeleci-
mentos que fazem esse tipo de comércio só
visam o lucro próprio, se esquecendo de
que o uso por pessoas não capacitadas ou
sem conhecimento sobre fogos pode cau-
sar danos à natureza (como queimadas) à
saúde e à vida de outras pessoas.
BreCHa Na lei
No caso de um menor adquirir um
sinalizador e o uso indevido causar algum
dano ou lesão, os responsáveis pelo menor
serão indiciados, bem como o vendedor, que
nesse caso será indiciado como coautor do
crime. É que, quando acontecem tragédias,
é comum que os verdadeiros culpados pro-
curem repassar a responsabilidade para
menores, devido ao que prevê o Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA).
Após os incidentes envolvendo sinali-
zadores, em Santa Maria – RS, na tragédia
da Boate Kiss, que matou 240 pessoas, e na
partida entre Corinthians e San José, na
Bolívia, as autoridades brasileiras já come-
çam a mudar a forma de tratar o assunto. O
Tribunal de Justiça Desportiva (TJD) já
criou medidas contra a utilização de sinali-
zadores e fogos de artifício em estádios de
futebol. Já está definido que agora o uso de
sinalizadores está proibido em todo o
território nacional.os alVos
Atleticano fanático e ex-membro da
Galoucura (foi obrigado a sair por causa das
pressões da mãe), Alan Fabiano, 18, sempre
levou sinalizadores aos estádios, “mas não
sinalizadores marítimos”. Segundo Alan, os
mesmos sinalizadores comuns, que são usa-
dos até em festas de aniversário, costumam
ser manuseados até por crianças, nas arqui-
bancadas. Mas ele afirma que, “em todas as
torcidas, muita gente entra com sinalizadores
desses que foram usados pela torcida do
Corinthians — e os alvos são sempre a torcida
adversária”.
Alan, que agora está proibido de fre-
quentar estádios, conta que as torcidas
desenvolveram diversas técnicas de driblar
a fiscalização. Muitas dessas dicas estão,
inclusive, nas redes sociais, mas segundo
Alan, levar os apetrechos dentro dos tênis ou
na cueca é a forma mais comum de passar
pela fiscalização. “Tem parte da cueca, perto
da genitália, que a polícia não passa a mão”,
justifica. Os riscos, no entanto, já começam
na entrada. No caso de sinalizadores
marítimos, pode acontecer de o artefato ser
acionado involuntariamente enquanto é
transportado dentro da roupa ou do tênis,
devido a seu modo de ativação ser manual,
não necessitando de fogo para disparar.
Sobre os métodos usados pelas torcidas
organizadas para ludibriar a fiscalização na
entrada dos estádios, o cabo Cláudio Souza
afirma que “a polícia é munida dentro do
estádio de um forte esquema de segurança,
quando monitora todos os locais, e a qual-
quer sinal de comportamento ilegal por
parte dos espectadores, a segurança da
arquibancada é acionada, e o infrator é
levado para a sala em que será feito o bole-
tim de ocorrência”.
raFael martins