4
1ª Edição FEVEREIRO/2015 Jornal O Prego Página 1 NÂO PRECISA DEMOLIR, BASTA RESPEITAR alguns dias, o caso da Paróquia Nossa Senhora da Assunção tem sido mostrado nos meios de comunicação. Mas para os moradores da Vila Itatiaia, que habitam nas proximidades da paróquia, a questão já dura alguns anos. O foco das reportagens se deve ao local da construção da igreja, que se encontra a uma distância de pouco mais de meio metro de um afluente do ribeirão João Leite. O Ministério Público de Goiás entrou com uma ação pedindo a demolição de parte da construção e as atenções se voltaram para a paróquia. A referida igreja está instalada no bairro desde a década de 80. Tanto a constituição quanto os próprios moradores defendem o direito dos fiéis de se reunir e celebrar suas crenças, mas em contrapartida os fiéis se esqueceram de respeitar os direitos dos moradores. As desavenças começaram quando o padre Marcos Rogério, no ano de 2008, tomou a frente das celebrações na Nossa Senhora da Assunção. Não que ele quisesse contrariar a comunidade, o caso é que a sua presença atraiu milhares de seguidores até o local. Infelizmente, as ruas e pessoas do Itatiaia não estavam preparadas pra receber milhares de pessoas de duas a três vezes por semana. E de repente uma parcela considerável da população católica goiana estava estacionada na frente das casas e no meio da praça do bairro. Uma das primeiras ações pra tentar abrigar os novos frequentadores do templo foi destruir um trecho da praça que corta o bairro, pra construir um estacionamento. Mais uma benevolência da prefeitura de Goiânia. Mas mesmo que um espaço público tenha sido remodelado para atender interesses privados da comunidade católica, a obra não foi suficiente. Nas ruas em volta do templo, os milhares de carros passaram a impedir o trânsito dos moradores nos dias de celebração e a praça passou a ser gradualmente destruída pelo frequente uso como estacionamento. Sob a direção do padre Marcos Rogério, a Vila Itatiaia passou também a ser palco de grandes eventos. Foram algumas madrugadas turbulentas de construção de enormes estruturas para abrigar as festividades. E sistemas de som muito potentes impuseram para muitos moradores a voz da renovação carismática. Uma parcela da comunidade local usou a seu favor a grande concentração de pessoas em suas ruas e, no entorno da igreja, formouse um pequeno comércio. A venda de comida e bebida para os fiéis tem dado lucro a alguns moradores, pra não dizer que a paróquia não dá nenhum retorno à comunidade que habita, que nem o enorme salão paroquial ela disponibiliza para eventos da comunidade. Cansado da falta de consideração por parte da igreja, alguns moradores redigiram um documento apresentando a promotoria pública à situação de perturbação a que foram expostos. Está disponível em nosso blog o documento digitalizado, as identidades do autor e dos moradores que o assinaram serão preservadas.* O interesse na veiculação desse relato não é travar uma guerra entre igreja e moradores. É um informativo do ponto de vista de alguns moradores, com a intenção de cobrar da paróquia e fiéis uma relação mais respeitosa com a comunidade da Vila Itatiaia. Moradora da Vila Itatiaia. *Ver texto em anexo no blog: www.jornaloprego.blogspot.com.br Paróquia Nª Senhora da Assunção

Jornal o Prego

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Jorna autônomo em luta pelos interesses dos trabalhadores e estudantes que residem, trabalham, estudam e vivem na Zona Norte da Região Metropolitana de Goiânia!

Citation preview

Page 1: Jornal o Prego

1ª Edição FEVEREIRO/2015

Jornal O Prego Página 1

NÂO PRECISA DEMOLIR,BASTA RESPEITAR

Há alguns dias, o caso daParóquia Nossa Senhora daAssunção tem sido mostrado nosmeios de comunicação. Mas paraos moradores da Vila Itatiaia, quehabitam nas proximidades daparóquia, a questão já dura algunsanos.

O foco das reportagens sedeve ao local da construção daigreja, que se encontra a umadistância de pouco mais de meiometro de um afluente do ribeirãoJoão Leite. O Ministério Público deGoiás entrou com uma açãopedindo a demolição de parte daconstrução e as atenções sevoltaram para a paróquia.

A referida igreja já estáinstalada no bairro desde adécada de 80. Tanto a constituiçãoquanto os próprios moradoresdefendem o direito dos fiéis de sereunir e celebrar suas crenças,mas em contrapartida os fiéis seesqueceram de respeitar osdireitos dos moradores.

As desavenças começaramquando o padre Marcos Rogério,no ano de 2008, tomou a frentedas celebrações na NossaSenhora da Assunção. Não queele quisesse contrariar acomunidade, o caso é que a suapresença atraiu milhares deseguidores até o local.

Infelizmente, as ruas e pessoasdo Itatiaia não estavampreparadas pra receber milharesde pessoas de duas a três vezespor semana. E de repente umaparcela considerável dapopulação católica goiana estavaestacionada na frente das casas e

no meio da praça do bairro.

Uma das primeiras ações pratentar abrigar os novosfrequentadores do templo foidestruir um trecho da praça quecorta o bairro, pra construir umestacionamento. Mais umabenevolência da prefeitura deGoiânia.

Mas mesmo que um espaçopúblico tenha sido remodeladopara atender interesses privadosda comunidade católica, a obranão foi suficiente. Nas ruas emvolta do templo, os milhares decarros passaram a impedir otrânsito dos moradores nos diasde celebração e a praça passou aser gradualmente destruída pelofrequente uso comoestacionamento.

Sob a direção do padre MarcosRogério, a Vila Itatiaia passoutambém a ser palco de grandeseventos. Foram algumasmadrugadas turbulentas deconstrução de enormes estruturaspara abrigar as festividades. Esistemas de som muito potentesimpuseram para muitos

moradores a voz da renovaçãocarismática.

Uma parcela da comunidadelocal usou a seu favor a grandeconcentração de pessoas em suasruas e, no entorno da igreja,formou­se um pequeno comércio.A venda de comida e bebida paraos fiéis tem dado lucro a algunsmoradores, pra não dizer que aparóquia não dá nenhum retorno àcomunidade que habita, já quenem o enorme salão paroquial eladisponibiliza para eventos dacomunidade.

Cansado da falta deconsideração por parte da igreja,alguns moradores redigiram umdocumento apresentando apromotoria pública à situação deperturbação a que foramexpostos. Está disponível emnosso blog o documentodigitalizado, as identidades doautor e dos moradores que oassinaram serão preservadas.*

O interesse na veiculaçãodesse relato não é travar umaguerra entre igreja e moradores. Éum informativo do ponto de vistade alguns moradores, com aintenção de cobrar da paróquia efiéis uma relação mais respeitosacom a comunidade da Vila Itatiaia.

Moradora da Vila Itatiaia.

*Ver texto em anexo no blog:www.jornaloprego.blogspot.com.br

Paróquia Nª Senhora da Assunção

Page 2: Jornal o Prego

1ª Edição FEVEREIRO/2015

Jornal O PregoPágina 2

O Prego surge para ser maisum incômodo para os governantese conformados. Serve pradenunciar os problemas daregião norte: os transtornoscausados para os moradores, adeficiência dos ônibus, a falta deluz e de calçada de algunstrechos. Em todos os casos,problemas sentidos de maneiradiferente pelas pessoas quemoram, trabalham e estudam naZona Norte.

Uma perspectiva que não écomunicada pelos grandes meiosde comunicação. O primeiro papeldo jornal é, então, comunicar.Esse jornal é construído por

pessoas que moram, estudam,trabalham na região. Seu objetivoé contribuir para que o ponto devista dos trabalhadores dacomunidade seja conhecido;contribuir para que a partir dessacomunicação as pessoas seorganizem e lutem pelos seusdireitos.

Esse jornal é construído demaneira coletiva e autônoma: nãoserve à promoção pessoal deninguém, nem a nenhum partido.Nos financiamos de maneiraindependente, a partir de doaçõesde pessoas que concordam com anossa perspectiva. Estamosabertos e fundamentamos nossa

EDITORIAL

A Luta por Moradia emAparecida de Goiânia

Na madruga do dia 17 deJaneiro foi ocupada uma obra deuma maternidade abandonada portrabalhadores sem­teto do MTST(Movimento dos TrabalhadoresSem Tetos). A ocupação é umreflexo do grande deficithabitacional que existe emAparecida de Goiânia e em todoestado de Goiás: cerca de 160 milpessoas sem moradia própria. Aocupação durou cerca de umasemana e acabou após um acordoentre a direção do MTST e aprefeitura da cidade de Aparecida.Pelo acordo, os sem­teto serãocadastrados nos programas

habitacionais da cidade.

Essa ocupação foi a primeiraorganizada pelo movimento MTSTno estado de Goiás, mas não é ocomeço da luta por moradia emAparecida. Nos anos 80 e 90muitos bairros surgiram deinvasões: bairros como o setorCidade Livre, Colina Azul e outrosforam realocações de ocupações.Outros bairros como o setorTiradentes e IndependênciasMansões também surgiram demovimentos. Todos esses bairrosque surgiram de luta mostramque, muito antes da existência doMinha Casa Minha Vida, o povo jálutava e conseguia vitórias contraa falta de moradia.

Mas lutar só por moradia nãobasta. As invasões e os novosbairros muitas vezes tem ausênciade infraestrutura básica,transporte precário, falta deescolas. Isso mostra que não só énecessário lutar pela moradia,mas manter a luta pra conseguirmelhorias de fato.

José Oiticica – Lutador deAparecida

OUTRAS QUEBRADAS

publicação na participação ativados nossos leitores: queremosque também escrevam, quediscutam, que participem dasreuniões.

Queremos que o nossoincômodo não apenas incomode:queremos que seja uma pequenaparte da construção de uma novasociedade, de uma nova cidade.Uma cidade que também estásendo construída pelas lutas deoutras quebradas, masprincipalmente pela ação de todosnós que trabalhamos, vivemos,sofremos e agora tambémpodemos começar a decidir.

Esses são grafites do muroexterno do Clube dos Bancáriosdo Itatiaia. Artista: Speto. Agaleria completa está disponívelem nossa página no facebookJornal O Prego e no blog:www.jornaloprego.blogspot.com.br

Mande sua arte!

O ARTISTA LÁ DA RUA

Page 3: Jornal o Prego

1ª Edição FEVEREIRO/2015

Jornal O Prego Página 3

TRASPORTE DEFICIENTE

Ônibus da linha Orlando de Morais

Transporte significa, antes detudo, acesso. Acesso ao trabalho,ao estudo, ao posto de saúde, aosupermercado, ao convívio comas outras pessoas. Acesso àcidade. Esse acesso, porém, nãoé igual pra todos. A segregação jácomeça entre o transporte coletivoe o individual. Quem não temdinheiro pra carro ou moto, já temsuas opções limitadas. Mas nanossa região vemos outrasdiferenças.

Escala de férias pra quem?Nessa época é sempre a

mesma história. A UFG entra deférias e começa a ser aplicada aescala de férias. Na verdade, atéantes. Vanda, moradora do NossaMorada e trabalhadora da UFG,denunciou que já em novembro,antes do fim de qualquer aula, jáhavia escala de férias notransporte coletivo da região.

Pela escala de férias, todas aslinhas que terminam no PCCampus ficam ainda maisinsuportáveis. A população quecontinua morando e trabalhandona região fica ainda maisprejudicada. Afinal de contas, nãoé justificativa pro patrão a escalade férias dos estudantes. O rolêpro cinema, pro comércio, proteatro, tudo isso também tambémé impedido pela escala.

Uma das reclamações maisgraves é dos ônibus que vão paraCampinas (174 e 105). Demoram

muito mais pra passar e nos finsde semana, o 105 simplesmentepara de passar às cinco horas datarde. Essa mudança força aspessoas a pegarem um trajetomuito mais longo. Elas têm que irpro Terminal da Bíblia e de lápegar outro ônibus pra Campinas.

Por que várias linhas sópassam pelo Campus,deixando de lado uma partetão grande do Itatiaia?

Nenhum ônibus que vai para ocentro é acessível para a maiorparte da comunidade. Por acasosó o pessoal da universidadeprecisa ir pro centro?

Regiões excluídasOs bairros que fazem conexão

com o Itatiaia sofrem ainda maiscom o transporte coletivo. Osônibus no transporte coletivo deGoiânia não podem ter mais decinco anos de uso. Quantos anoso leitor acha que os ônibus quevão pro Orlando de Morais, NossaMorada ou Shangri­lá tem de uso?Esse limite não é frescura. Équestão de conforto, desegurança para o usuário e para omotorista. As empresas colocamem risco todo mundo ao usaresses ônibus para a região.

O ônibus sucateado já é umabsurdo. O sofrimento vemmesmo é com os horários. ONossa Morada, por exemplo,ninguém sabe quando vem. Nãotem horário fixo. Quem sepreocupa com chegar atrasado ou

ficar no escuro tem que ir a pé proserviço. Já o Orlando de Moraistem uns horários mais certos.Poucos, porém. No sábado oônibus passa seis vezes no dia.No domingo, quatro. Perdeu, jáera. Ter horário mais certotambém não impede a lotação.Nos horários de pico, são poucosônibus. Os ônibus velhos lotadossão mais sofrimento einsegurança.

Transporte pra quem?Para as empresas, a RMTC,

transporte é lucro. Quanto maispassagens para menos ônibus,melhor. Para os governos, é fontede poder. Controle de quem vaipra onde, barganha de votos.Para nós, deveria ser acesso, masé exclusão. Ninguém melhor doque nós, moradores etrabalhadores da região, pra saberpor que é assim. Quais linhas dãoproblema. E como poderiamelhorar. Não são só osestudantes que se mobilizam. Nãosão só eles que são afetados pelaviolência do transporte, afinal.

O exemplo foi dado no anopassado: um pequeno protesto demoradores do Orlando de Moraisforçou um representante dasempresas, da COOTEGO e daCMTC virem ouvir os moradores.Eles só vão ouvir na base dapressão. Precisamos nosorganizar entre nós pra que essapressão aconteça. Ou querempassar mais umas férias no apertoe na humilhação?

Achamos que só por meio daorganização coletiva dosmoradores e trabalhadorespodemos mudar essa situação.Propomos, portanto, que seorganizem reuniões em cadabairro para mudar essa situação apartir das demandas locais. OPrego se dispõe a apoiar aorganização e a divulgação dequalquer iniciativa desse tipo!

Ponto do Itatiaia próximo ao Gurupi

Page 4: Jornal o Prego

1ª Edição FEVEREIRO/2015

Jornal O PregoPágina 4

Convidamos a todos para ummutirão no dia 28 de fevereiro,Sábado, em frente a guarita daUFG para pintar uma faixa depedestres, no local citado acima(em frente a guarita). Nos reuniremosas 10 horas da manhã para decidiros detalhes, fazer vaquinha, compraras coisas e pintar a faixa. Comorganização e união, faremos o queninguém faz pela gente!

Quer ter sua voz ouvida sobreos problemas da sua rua, do seubairro ou da sua região? Quercompartilhar com seus vizinhostoda a sua indignação? A seçãoFala que nóis ouve do jornal OPrego é dedicada a publicar osrelatos dos moradores,trabalhadores e estudantes daregião norte de Goiânia sobreproblemas do seu local demoradia/trabalho e incentivar aorganização para resolvê­loscoletivamente.

Mande seu texto para:[email protected]

No ano de 2012, foi criado otrecho que liga o setor Itatiaia aosetor Jardim Pompéia (AlamedaFlamboyant), em um percursopela área externa do Anel da UFG,e à Unilever a saídas para oCentro e região; assim dividindoem dois o grande pasto que deulugar ao trajeto pavimentado que

é a ponte entre o Itatiaia, oGoiânia II e o Crimeia Leste.

O fluxo de carros e caminhõesna pista é intenso pois, é aprincipal via de acesso para quemestá dirigindo do centro da cidade,por exemplo, e deseja chegar àUFG ou os demais setores daregião. Além disso, a proximidadeda fábrica da UNILEVER e da GOaumentam ainda mais este fluxo.

Calçadas foram construídasnos dois sentidos da pista,entretanto elas não cobrem todo otrajeto. Essa estrutura não ésatisfatória, considerando o vastomovimento de moradores quepraticam atividades físicas no locale o trânsito normal de pedestres. Apartir do trecho em que ascalçadas acabam, pedestres eciclistas disputam passagem entrecarros e cadáveres de animaisque são dispensadosconstantemente na área.

Mesmo que o percurso possua

FALA QUE NÓIS OUVEnotável potencial e aderência dosmoradores, a carência demanutenção e estrutura básicadificulta muito o trânsito depedestres e ciclistas que cruzam osetor Jardim Pompéia e Itatiaiadiariamente. Não existe nenhumposte de luz em toda a regiãocompreendida entre as duasprimeiras rotatórias a partir doCampus e, seguindo até a entradado Centro de Eventos da UFG,todos os postes estão comlâmpadas queimadas, resultandoem 1 km de escuridão total. Issoproporciona não só a instintivainsegurança dos transeuntes, mastambém inviabiliza totalmente suavisão.

Como agravante, a via nãopossui nenhuma faixa depedestre. A única faixa localizadana região está próxima a entradado Centro de Eventos da UFG,apagada por completo já há anos;consequentemente, não érespeitada.

Será necessário então que nósmoradores façamos essamanutenção que era obrigação dequem a construiu?

Uma Moradora do Pompéia.

Quem se interessar em escrever ouparticipar das reuniões, entrar em

contato pelo e­mail([email protected]) ou pela

página do facebook (Jornal OPrego).