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Londrinenses estão otimistas com a volta do LEC ao VGD. Pag. 11 Professor da UNESP defende autonomia plena das universidades em debate na UEL. Pág. 06 Festival de cinema consolida a sétima arte em Londrina. Pag. 10 Onde mora o perigo? Duas testemunhas do caso da morte brutal da líder comunitária Yá Mukumby na reportagem de Brunna Souza Ano 40 - Nº 9 - 19 de setembro de 2013

Jornal PreTexto Expresso 1

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Jornal laboratório produzido pelo 4º ano do curso de Comunicação Social, habilitação Jornalismo, da Universidade Estadual de Londrina (UEL).

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Londrinenses estão otimistas com a volta do LEC ao VGD.Pag. 11

Professor da UNESP defende autonomia plena das universidades em debate na UEL. Pág. 06

Festival de cinema consolida a sétima arte em Londrina.Pag. 10

Onde mora o perigo?Duas testemunhas do caso da morte brutal da líder comunitária Yá Mukumby na reportagem de Brunna Souza

Ano

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A magistrada usava vestes caras e o calor era abrasante no lu-gar modesto onde ela estava. Pessoas, várias delas, saíram às ruas do local. Sete de outubro, dia de votar. Em segun-dos, digita-se o voto. A cidade, então, ficará nas mãos de

alguém nos 48 meses seguintes. Por isso, os ânimos estavam todos exaltados e etílicos. Cabos eleitorais dos dois lados digladiavam-se em todos os bares: “P. tem as melhores ideias!”; “E. sabe como as coisas funcionam!”. E também, antenados com o século XXI e as novidades do mesmo, batiam boca nas redes sociais. Discutiam somente sobre como cada um dos candidatos era bom, ou não.

A juíza notou como, no lugar distante dos grandes centros, o oficialismo era deixado de lado. Valia mesmo ser amigo do P. e não gostar do E., ou então louvar os feitos do E. e ignorar a existência do P. Política, ali, se resumia a amizade e inimizade. Valores, ideias, mu-danças, isso tudo era assunto de cidade grande, diriam os cidadãos locais. Saliva, suor e sangue (este último, em anos mais distantes) eram os elementos vitais no momento de angariar votos. Alguns, diziam as más-línguas, também recorriam a outro ‘s’: suborno.

Porém, a magistrada estava vigilante. Queria evitar o coronelis-mo e a troca de favores descarada e garantir a Lei no local. Para tan-to, contava com o reforço de meia dúzia de PMs. Ainda de manhã, cinco incautas mulheres haviam sido detidas fazendo boca de urna. Ela olhou o relógio caro, marcava duas horas da tarde. Em algumas horas, torcia, tudo estaria mais calmo com o resultado do vence-

dor. Questão de segundos, entretanto, e uma confusão começou. Um eleitor, aditivado com o álcool de todo um final de semana, desfilou diante de inimigos e disse uma ou outra besteira.

Já era a fagulha necessária a fim de criar-se certa balbúrdia. Os xingamentos foram devolvidos e ameaça de um amassar a cara do outro na base do soco era eminente. Polícia entrou no meio, ma-gistrada também. Até mesmo P. e E. solicitaram calma. Paciência. Paz e amor, em resumo. Os ânimos eleitoreiros dos brigões sosse-garam. Ainda no meio da confusão, uma criança correu ao lado da juíza. Parecia ter sete anos de idade (ou até menos, devido à ma-greza) e usava somente uma bermuda e chinelos surrados. Parou ao lado da mulher e olhou o braço dela, tomado de coisas caras. Pulseiras, braceletes, correntinhas: cinco mil em cada membro. Foi com a mão até um dos artigos de luxo. Puxou com força. Ele não veio. Suas mãos estavam meio fracas (fome, talvez?). A magistrada olhou nos olhos da criança, deu um sorriso de canto de boca e seguiu adiante, intermediando a briga entre os amigos de P. e os amigos de E.

As coisas ficaram mais claras nesse acontecimento. Eleição é vo-ciferar xingamentos contra o outro lado e, ao final da contagem, comemorar efusivamente em torno de P. ou E. Educação digna, comida na mesa e saneamento básico estruturado, essas coisas são todas demagogias. Vale mesmo é beber, votar, comemorar e xin-gar. Viva a democracia!

Hoje nós acordamos e simplesmente não nos lembramos daquela tragédia, naquela cidade distante, no coração do Rio Grande do Sul. Ela desbotou dos jornais para não fa-zer parte da nossa rotina, não ilustrar nossas conversas do

dia a dia, não ocupar os espaço das nossas memórias. Os pais e mães e irmãos, amigos e namoradas e avós de nove meses atrás, eles, porém, não tem a nossa sorte. Serão 242 aniversários não come-morados, ano a ano: 4 para a mãe que tinha todos os filhos dentro da boate naquela noite de sábado, 30 para a turma - de 40 - univer-sitários que saiu para brindar, 1 para a mãe que ligou 104 vezes para o filho que não estava lá para atender, embora 104 vezes ela tenha desejado ouvir um ‘alô’. E, enfim, descobriremos que nenhum desses números mede a tristeza ou a saudade de quem passou a chamar de “corpo” quem até ontem era Léo, Bia, Ma, filho, amor, brother. Que 3 dias de luto demonstra respeito, e talvez conforte, mas basta tanto quanto o sopro basta para curar a ferida, ou o curativo para esconder cicatriz. Há, ao longo da vida, golpes dados impiedosamente, facas que caminham no ar em direção a tantos peitos, que parecem vir com o objetivo cuidadoso de não serem esquecidas por quem fica pra ver. E, afinal, quantos tem consigo a sorte de poder desejar es-quecer o que foi perdido naquela noite de janeiro?

As prefeituras se movimentaram, as casas noturnas saíram em busca de alvarás. Jovens de todos os cantos dispararam sobre os inte-grantes da banda, sobre os proprietários da boate, congestionando as

redes sociais. Uns com empatia, outros com acusações. Todos mais ou menos comovidos. Os sobreviventes se derramaram e aqui em Londrina, recentemente vimos reabrir um dos bares fechados pela fiscalização, bastante rigorosa à época. À época.

Na última semana, uma jovem disse, em entrevista ao portal Ig, que não era sua culpa ter sobrevivido, lamentando desde janeiro as dificuldades na busca por remédios e cirurgias pelo SUS. Outra so-brevivente teve voz, olhos e memória afetados pela fumaça do incên-dio, mas não se queixa, pensando em outros amigos, conhecidos e desconhecidos que sofreram danos irreparáveis. Ela luta para reparar os seus.

Posta a calma, compreendemos que, longe de Santa Maria, nos-sos problemas continuarão a existir enquanto vivermos, certos apenas de que a morte é a estação final, derradeira, fatal, e que interromper uma vida é sempre triste, seja qual for. Porque há sempre muito ainda a realizar, infinitos a concluir. Palavras que ficam por dizer, amor por distribuir. E justamente pelo peso da morte massiva e precoce, mais trágico é o coração que, vivo, não se sensibiliza, é ser humano e não sair do lugar pra pensar que, com a mesma desastrosa sorte que faz um raio cair nesse e não naquele centímetro da Terra, essa tragédia poderia ter acontecido aqui, em um dos bares que você frequenta. Um dos meus mais caros amigos podia ter me visto pela última vez. E podia ser minha a mãe que 104 vezes discou o número do filho e 104 vezes ouviu a linha cair.

Até quando vamos ser vítimas ou algozes? Até quando cabe-rá somente a nós o poder de decisão? O coletivo decide sozinho? Até que ponto a nossa liberdade afeta a liberdade do outro? Conseguiremos sair da dúvida, ou seremos para

sempre reduzidos a réus e juízes? A Justiça serve a Verdade ou a uma verdade? A justiça, quem é? Grupelhos existem nos quatro cantos, nos Três Poderes, entre dois caminhos: o Bem ou o Mal, ou ainda, o bom e o mau.

Na reportagem de Roger Bressianini (página ), que vem nos lembrar da prisão de José Joaquim Ribeiro, a quem temos que re-correr? Uma dúvida/dívida/dica: a nós mesmos. Será que sabemos, conscientemente, se somos criminosos/cúmplices/comparsas? Vo-tamos em quem na última eleição? Decidimos isto sozinhos ou com a ajuda de alguém? Fomos sinceros e honestos ou corajosos covar-des?

É preciso limpar a sujeira da nossa casa ou a do vizinho? Londrina sofre com a corrupção política que não é de ontem nem de hoje.

Somos seres passíveis de erro, podemos ter errado nas urnas, nas ruas, nos diálogos, nos bares e cafés. Podemos ter esquecido nos-sos direitos, nossos desejos e anseios. Não faz mal subir no muro. Só precisamos saber a hora certa de descer.

Ao transferir nossas atenções para a condenação de alguns po-líticos, esquecemos logo de muitos outros. Políticos e problemas. Cabe à Constituição, e não somente ela, decidir por si própria. A Lei é feita por Nós ou por Eles? Democracia se faz respeitando as liberdades individuais, mas em um mundo onde alguns estão mais acima que outros, sofremos as mazelas de uma Hierarquia cristali-zada enquanto outros se regozijam de privilégios sociais.

Cidadania é diálogo aberto, horizontal, igualitário. É ler no jornal aquilo que não concordamos, que não nos satisfaz e que reverbera: até quando continuará? O que precisamos é saber direcionar nos-sas condutas. Vigiar não só o que os nossos representantes estão fazendo com nosso dinheiro. Temos que vigiar o que eles estão fazendo com nossos sonhos.

Jornal Laboratório produzido pelo4º ano do Curso de Comunicação Social, habilitação Jornalismo, da Universidade Estadual de Londrina

Coordenação Editorial(docentes responsáveis):Emerson DiasFábio SilveiraGisele RechLauriano Benazzi

Editor-Chefe:Yuri Martinez

Chefe de Redação:Isabela Cunha

Projeto Editorial:Emerson DiasFábio SilveiraGisele RechLauriano Benazzi

Projeto Gráfico:Erick LopesLais TaineLauriano Benazzi

Diagramação:Amanda TostesErick LopesGiovanna MachadoLais Taine

Chefe do Departamentode Comunicação:Mário Benedito Salles

Coordenador do Colegiadode Jornalismo:Ayoub Hanna Ayoub

Correspondência:Coordenação do Curso de JornalismoUEL – Universidade Estadual de LondrinaRodovia Celso Garcia Cid, BR 445, Km 380CEP 86057-970 Londrina – PRTel.: (43) 3371-4328E-mail: [email protected]

PreTexto na Internet:facebook.com/JornalismoUEL www.issuu.com/jornalpretextowww.jornalismouel.com

Vigiar nossos sonhos

Voto, logo brigo

O que não tem remédio

Lucas Marcondes

Isabela Cunha

Opinião02 20 de setembro de 2013

EDITORIAL

CRÔNICAS

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DEBATES

NAS REDES

[email protected]/JornalismoUEL issuu.com/jornalpretextojornalismouel.com

Confira o PreTexto e as produções dos estudantes do curso de Jornalismo da UEL na internet. Mande seus comentários e sugestões de pauta através do Facebook e do Twitter. Acompanhe também a versão digital dos jornais laboratórios e as produções das demais séries no portal de notícias do curso.

Política

PAUTA

Outro dia, um amigo meu reclamava de não se lembrar do que havia num lugar, por onde ele passava havia alguns anos, antes de esbarrar num canteiro de obras.

LACUNA

Na Secretaria de Cultura de Londrina, falta pessoal quali-ficado para trabalhar no proces-so de preservação da paisagem urbana. Todo o patrimônio arquitetônico, urbano-paisa-gístico e artístico está sendo catalogado por uma equipe de colaboradores e estagiários.

NATURAL

Para Elisa Zanon, que pes-quisa História da Arquitetura em Londrina, o processo de modificação da paisagem é na-tural, porque homem e cultura são mutáveis. Ela me disse que a cidade sempre está em cons-trução, é “uma obra de arte aberta”.

IDENTIDADE

Maurice Halbwachs, o soci-ólogo francês que criou o con-ceito de memória coletiva, dizia que ela define “o que é comum a um grupo, fundamenta e re-força os sentimentos de per-tencimento e as fronteiras so-cioculturais”.

DIGNIDADE

Além disso, de acordo com Halbwachs, a memória coletiva reforça a coesão social “não pela coerção, mas pela adesão afetiva ao grupo”, sentimento que ajuda na organização do grupo e na mobilização em busca de melhores condições de vida para esses cidadãos.

GASTOS

Para a professora Elisa, que também é arquiteta, o valor afetivo é significativo, mas na maioria dos casos, ainda so-bressai o retorno econômico da manutenção do patrimônio edificado.

ALTERNATIVA

Felizardo e Samain, pesqui-sadores contemporâneos do campo da fotografia, dizem que foto e memória carregam um elevado status de credibilidade porque parecem mostrar a re-alidade da maneira como ela é, efetivamente. No processo de resgate das lembranças, natu-ralmente utilizamos imagens das coisas e quanto mais “rea-listas” forem esses ícones, tanto melhor para a credibilidade da memória.

PRESERVAÇÃO

Se um edifício é uma cria-ção humana que participa da história de vida daqueles que passaram por aquele espaço, por que não lutar pela manu-tenção da sua estrutura espa-cial, antes de se contentar com a virtualidade das fotografias?

A história dos africanos e afrodescen-dentes, quando contada, é quase sempre tratada de maneira inferior no Brasil. Nosso país se considera

racialmente democrático e é muito claro que somos uma nação mestiça, cultural e biologicamente miscigenada. Para o antro-pólogo Kabengele Munanga, essa “demo-cracia racial” é fruto da tentativa de “bran-queamento” que ele cita no livro O Negro no Brasil de Hoje (2006), definido como a tentativa fracassada de acabar com os ne-gros no Brasil. Por causa dessa mestiçagem, cria-se o mito da democracia racial, que é

a ideia de que não existem mais distinções entre as raças, afinal estamos no século XXI e a escravidão acabou há mais de 120 anos, certo?

Mas se formos pesquisar a cultura africa-na no Brasil, podemos ver que ela não exis-te mais completamente nas comunidades e, onde ainda se manifesta, está subjugada. Nos livros didáticos também é reforçada a imagem estereotipada e inferiorizada do ne-gro. Uma criança negra que no início de sua vida escolar se depara com esta concepção estigmatizada, sobre como o negro era (ou

é) visto desde a sociedade escravocrata até hoje, começa a se observar diferente e se isola. Isso quando não é excluído por alguns de seus coleguinhas que também não tem culpa do preconceito que reproduzem. Esta criança cresce com o desejo de ser aceita, de se incluir. Uma vez adulto e inserido no mercado de trabalho, outro triste confronto é que negros e negras (ainda) não ocupam cargos elevados. Esses elementos todos contribuem para que fiquem em dúvida so-bre o valor de sua identidade para a história do país. Por isso há um grande esforço em recuperar esses traços culturais.

Depois da criação da lei n° 10.639, que estabelece a obrigatoriedade do ensino da história e cultura africana e afro-brasileira em toda instituição de ensino, esse quadro tem começado a mudar. O que faltam agora nas escolas são ações de permanência, não somente nas universidades como se discu-te hoje, mas nos primeiros anos escolares também. Os debates sobre o racismo, pro-postos pelos movimentos sociais têm feito a sociedade reconhecer que a democracia racial é um mito, e que somos um país ra-cialmente desigual. São essas discussões que ajudam na melhora da autoestima da crian-ça negra.

Nós negros não queremos privilégios como declaram os contrários às ações afir-mativas, mas sim igualdade de oportunida-de. Mesmo que isso não seja de imediato. As cotas são medidas de urgência que fo-ram necessárias para o começo de um lon-go processo de oportunização e busca de

qualidade de vida, e ainda temos muito que avançar nesse sentido. Não avançar somen-te em classificar quem é negro ou não, mas um avanço real em se valer os direitos do negro, como ser humano.

Mas, depois de toda essa discussão, sur-ge uma questão: como discutir a possibili-dade de igualdade racial se o negro não se identifica como tal? Definir quem é negro, no Brasil, é uma questão difícil. A pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) dá ao cidadão a liberdade de escolher sua identidade racial, de se definir negro ou não, sendo esse indivíduo negro ou não. Sendo assim, negro é quem se au-todeclara negro, portanto é um posiciona-mento político.

Além da desigualdade racial que enfren-tamos, há o problema da desigualdade de gênero também, que aliada ao racismo, se torna uma ferramenta opressora contra as mulheres negras. Só podemos enfrentar esses problemas com uma arma básica: o conhecimento da história e cultura africana e a sua construção em nossa sociedade. Isso garante que lutemos pelos nossos direitos, reconhecendo que fazemos parte dessa sociedade. Somente isso pode nos garantir empoderamento, e nos capacitar a nos de-fender contra as ideias fortemente racistas, que por vezes se escondem por trás dos relatos da história que conhecemos.

Ruthe de Oliveira é graduanda de Comunicação Social - Jornalismo, da Universidade Estadual de Londrina

Igualdade racial. O que é isso?

Nós negros não queremos privilégios como declaram os contrários às ações afirmativas, mas sim igualdade de oportunidade.

Amanda Tostes

Ruthe Oliveira

LimpezaNa foto, funcionário de empresa terceirizada varre a entrada da Prefeitura Municipal de Londrina. Mas a limpeza na administração pública não pode ser feita como a faxina da empresa contratada. Há exatamente um ano da prisão de um ex-prefeito, é hora do londrinense se lembrar de que escolher seus representantes é tarefa que o cidadão não pode terceirizar.

O que é concreto em você?

Opinião 0320 de setembro de 2013

DEBATES

Nas entrelinhas das relações sociais, preconceitos são cultivados. Dados mostram uma discriminação racial; ações afirmartivas podem contemplar anseios

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Londrina04 20 de setembro de 2013

Brunna Souza

Relatos extraoficiasCaso Ya Mukumby: um crime conhecido por todos, pelas palavras de quem não foi ouvido

VIOLÊNCIA

A morte de quatro pesso-as, entre elas Yá Mukumby, ou simplesmente dona Vilma - como era conhecida pelos vi-zinhos na rua em que morava há mais de 30 anos - deixou o país todo perplexo. O crime teve uma enorme repercussão não só pela brutalidade que foi cometido, mas também pela fama de Yá Mukumby, uma personalidade tanto no can-domblé quanto nas lutas polí-ticas do movimento negro, e cujo reconhecimento ultrapas-sava as fronteira de Londrina e do Paraná. A mãe dela, Allial de Oliveira dos Santos, 86 anos, e a neta, Olivia Santos de Oliveira, 10 anos, também foram mortas.

O crime aconteceu há um mês e meio na rua Olavo Bi-lac, no jardim Champagnat , onde os moradores ain-da vivem com a lembrança da trágica noite do dia 03 de agosto. Segundo a polícia, o assassino, Diego Ramos Quiri-no, 30 anos e morador da rua há apenas 6 meses, teve um surto psicótico e agrediu a na-morada, Patricia Amorim Dias, 19. A mãe dele, Ariadne Benk dos Anjos, 48, tentou segura--lo, com o intuito de ajudar a moça, mas acabou esfaqueada pelo próprio filho. A namorada saiu correndo atrás de ajuda.

A principal testemunha que não quis ser identificada, moradora da casa vizinha de Ya Mukumby, relatou o que viu: “A mulher dele passo gri-tando por socorro, eu ouvi e sai, perguntei o que estava acontecendo, e ela respondeu que o marido queria a matar, na hora em que olhei para trás vi o Diego com a faca na mão e sem roupa, eu me assustei, mas, por já conhecê-lo , fui falar com ele. Perguntei o por-quê ele estava daquele jeito, a resposta foi com palavras gros-seiras e ofensivas, além disso, ele ainda ameaçou eu e meu filho, falou que nos mataria. Então, eu virei e sai corren-do, liguei pra polícia. Ele, em vez de seguir reto, voltou e entrou na casa da dona Vilma, subiu lá. Ai eu voltei ao portão. Quando eu voltei, encontrei a dona Allial pedindo ajuda, eu falei que já tinha ligado para a polícia. Quando eu terminei de falar, ele veio e deu uma facada no peito dela. Até ai eu não sabia das outras mor-tes, quando a policia chegou eu falei para eles entrarem na casa por que deveria ter mais gente, quando o policial me falo das outras mortes, entrei em choque! Na minha idade, nunca tinha visto nada pareci-

do, uma cena horrível. Eu fui a principal testemunha, eu fiquei o tempo todo dentro de casa naquela noite, porque o corpo estava bem no meu portão, não dava para sair. Até hoje tenho pesadelos, não consigo sair de casa sozinha, e estou fazendo tratamento com os psicólogos da UEL”.

Outro moradora, Zenilda Batista da Silva, conta como foi a trágica noite: “A noite parecia tranquila, mas, de repente, es-cutei três tiros. Fechei todas as janelas, pois nunca se sabe o que pode acontecer, e é muito difícil ouvir tiros nessa região. Mas os cachorros começaram a latir muito, abri a porta e vi várias pessoas na rua, sai para ver o que estava acontecendo. Foi quando vi vários policiais, carro do SIATE, da perícia do

IML, igual aquelas cenas que a gente vê em filme, novela. Sai na rua e perguntei o que estava acontecendo. Me disse-ram que um rapaz tinha mata-do quatro pessoas, olhei para frente e vi um corpo no chão. Como era noite, não dava para ver direito de quem era o corpo, todos ali, moradores da

rua, se perguntavam de quem seria o corpo. Os policiais es-tavam visivelmente perdidos, a única coisa que eles sabiam responder era que quatro pes-soas haviam morrido, entre elas uma criança. Começaram

a chegar vários carros da im-prensa, mas nem eles sabiam os nomes da pessoas mortas. Foi quando um homem falou que o assassino estava sob efeito de drogas e que matou a vizinha, pois achava que ela fazia macumba para ele. Aí, concluímos que a dona Vilma estava entre as vitimas e que

o assassino era o rapaz que a pou-co tempo mo-rava ali. Umas semanas antes do crime, ele tinha passado,

casa por casa, pedindo a nossa assinatura para montar um sa-lão. Todos da rua ficaram cho-cados, um rapaz novo. Acho que a pior cena foi quando uma mulher chegou, parou o carro e saiu correndo em di-

reção a casa. Foi contida pelos policiais, ela gritava e chorava muito, dizendo: ‘não, a minha irmã não’. Uma cena lamen-tável, aquele corpo no chão. Alguns faziam piadas, falavam que iam precisa de vários car-ros do IML, porque era mui-to corpo pra um carro só. O famoso humor negro. Minha filha ficou sem dormir duran-te dias, tendo pesadelos. As pessoas ainda desviam quando passam no local em que a se-nhora morreu. A morte ainda é um grande tabu.”

Os moradores ainda sen-tem muito medo, muitos pre-ferem nem lembrar da trágica noite. Essas mortes acontecem muito em filme, mas não na vida real. Realmente a gente não pode imaginar onde mora o perigo.

Em poucos minutos, quatro mortes chocam moradores de uma rua considerada tranquila

A casa de Vilma Santos de Oliveira, a Yá Mukumby. Aspecto de abandono é insuficiente para denunciar a tragédia ocorrida lá

“As pessoas ainda desviam quando passam no local em que a senhora morreu.”

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Prisão de ex-prefeitocompleta um anoRecentes, acontecimentos políticos caem no esquecimento dos londrinenses

POLÍTICA

Londrina 0520 de setembro de 2013

Roger Bressianini

Um ano se passou desde a prisão do ex-prefeito de Londri-na, José Joaquim Ribeiro (sem partido), e os londrinenses nem sequer se lembram. Figura pou-co conhecida na política, Ribeiro surgiu como vice de Barbosa Neto (PDT) e acabou se tor-nando o protagonista do cenário político da cidade.

“Quem não ajuda, não atra-palha”. Essa foi a justificativa dada pelo ex-prefeito para deixar de dar expediente na Prefeitura à época em que ocupava o cargo de vice do então prefeito Barbo-sa Neto, em 2011. Após discor-

dâncias políticas acerca de um projeto sobre a construção de grandes empreendimentos na região central da cidade, Ribeiro foi desautorizado por Barbosa em entrevista coletiva e, após esse incidente, anunciou que não compareceria mais à Pre-feitura para exercer a função de vice. Porém, sem abrir mão do salário de R$ 6.499,35 que re-cebia dos cofres públicos.

Em 30 de julho de 2012, aproximadamente um ano após o rompimento entre

Barbosa e Ribeiro, o então pre-feito teve seu mandato cassado em tumultuada sessão extraor-dinária na Câmara Municipal, acusado de cometer infração político-administrativa por ter pago com dinheiro público dois vigilantes que trabalharam em uma rádio de sua propriedade. Barbosa teve os direitos políticos suspensos até 2020 e Ribeiro as-sumiu a Prefeitura no dia 31 de julho.

Mas, no dia 20 de setembro de 2012, menos de dois meses após assumir a Prefeitura, Ribei-ro foi preso em um hotel no li-toral de Santa Catarina por po-liciais civis do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime

Organizado (Gae-co), enquanto es-tava de licença do cargo, alegando motivos de saúde. A prisão preventi-va havia sido de-cretada na noite

anterior pelo Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), depois de Ri-beiro ter assumido ao Gaeco, no dia 3 de setembro, o recebimen-to de propina de empresários durante licitações para a compra de uniformes escolares para 35 mil estudantes da rede municipal de Londrina, entre 2010 e 2011. O processo envolveu, além de Ribeiro, o ex-prefeito Barbosa Neto e mais 17 suspeitos.

Mesmo depois de ter admi-tido ao Gaeco o recebimento de propina, Joaquim Ribeiro se

Após romper com Barbosa, Ribeiro anunciou que não frequentaria mais a Prefeitura, mas não renunciou ao salario de vice-prefeito

negou a renunciar, e Londrina passou a ter em exercício um prefeito réu confesso. Diante disso, o TJ-PR decidiu pela pri-são de Ribeiro, que foi pedida pelo Ministério Público, para evi-tar a situação constrangedora de manter o prefeito em atividade, já que ele poderia interferir nas investigações e na obtenção de provas. Ribeiro renunciou logo após ser preso, por estratégia de sua defesa. Entre a confissão e a prisão houve um espaço de 17 dias.

No entanto, Ribeiro não completou nem cinco dias de prisão. No dia 24 de setembro de 2012, após novo depoimento ao Gaeco, o ex-prefeito foi solto com base num pedido de soltura do Ministério Público (MP), que considerou que ele havia contri-buído com as investigações. Até hoje, Ribeiro não foi condenado.

Formado em Ciências Contábeis pela Universidade Es-tadual de Londrina (UEL), José Joaquim Ribeiro é um empresá-rio e ex-presidente do Sindicato dos Contabilistas de Londrina por três gestões.

Segundo o professor de Filo-sofia e comentarista político Elve Cenci, Ribeiro era o vice ideal para Barbosa Neto, pois era um representante do empresariado e da classe média – setores com certa rejeição ao modelo popu-lista de Barbosa. “É nessa apro-ximação com a classe média, que era uma necessidade dele (Barbosa Neto) de entrar nesse

José Joaquim Ribeiro: pedido de renúncia após decreto de prisão

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faixa de eleitorado, que entra o Joaquim, que era um contador, empresário reconhecido, com boa penetração nas empresas”, explica. Além disso, Cenci ava-lia que um outro fator pesou na escolha do vice. “Ele agregou à imagem, mas, ao mesmo tem-po, era alguém que politicamen-te jamais iria fazer sombra para o Barbosa. Não era alguém que teria intenção de tomar o lugar do prefeito depois de quatro anos”.

AmnésiaDas dez pessoas abordadas

pelo Pre-texto na entrada da Prefeitura Municipal de Londrina (PML), apenas dois entrevistados recordaram o caso da prisão do ex-prefeito. “Ele está solto, né? Devia estar pagando pelo o que ele fez”, diz Manoel Reginaldo do Santos, 66, auxiliar de limpeza. Já Jandira Silva, técnica em enfer-magem, de 42 anos, diz não se lembrar o nome do ex-prefeito. “Não me lembro o nome, mas sei que foi preso e já está solto”.

Dos últimos quatro prefeitos eleitos em Londrina (com exceção do prefeito em exercício, Alexandre Kireeff), um sofre ação do MP por improbi-dade administrativa, dois foram cassados e um renunciou após ser preso. E o londrinense pode se preparar, pois mesmo diante da insistente crise política e dos impedimentos na justiça, nomes como Antônio Belinati e Barbosa Neto já voltaram a falar em futu-ras candidaturas.

ESTRADAS NA REDE

Na onda das redes so-ciais, a Associação Brasileira de Concessionárias de Ro-dovias (ABCR) criou contas em um blog, no facebook e no twitter. A proposta é se aproximar mais da popu-lação através de postagens sobre os benefícios da prá-tica de esportes, os cuidados devidos ao meio ambiente e dicas culturais. Além, é claro, de esclarecimentos sobre legislação do trânsito e infor-mações sobre a situação das estradas. A ABCR coordena o trabalho de seis empresas de concessões de pedágios que, juntas, administram 2,5 mil quilômetros de rodovias paranaenses.

RISCO DE QUEDA

As obras de uma escola técnica que está sendo cons-truída na BR-158, no muni-cípio de Laranjeiras do Sul - PR, correm o risco de re-troceder ao seu estágio ini-cial. Alegando que a constru-ção não possui autorização do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transpor-tes (Dnit) para instalar-se à margem da rodovia, ação judicial propõe a demolição da mesma. O Tribunal Re-gional Federal (TRF) precisa manter a decisão para que ela se cumpra. O Governo do Estado já recorreu.

A UNIÃO FAZ A FORÇA

Com apenas 20 mil habi-tantes, o pequeno município de Ubiratã (oeste do Para-ná) mostra-se engajado na questão da segurança públi-ca. Visando equipar melhor seus policiais, moradores fizeram uma “vaquinha” para equipar melhor a Polícia Mi-litar (PM) da cidade. O valor conseguido – R$ 100 mil – foi suficiente para a compra de uma viatura e mais alguns equipamentos.

BANDIDOS À SOLTA

Detentos fogem de pe-nitenciária em Cruzeiro do Oeste Na última sexta-feira, 20, a penitenciária estadual de Cruzeiro do Oeste regis-trou fuga de 5 detentos. Em entrevista ao G1, o vice-di-retor da penitenciária, Ro-drigo Fardin, afirmou que o grupo fez uma pirâmide hu-mana e conseguiu escapar pelo solário, que fica no pá-tio interno do prédio. A fuga é a primeira registrada na penitenciária, que foi inaugu-rada em março de 2013. A cadeia tem capacidade para 1.108 presos e atualmente abriga 665. A fuga foi regis-trada durante o banho de sol e até as 14h30, três já haviam sido recapturados.

PR em notas

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Campus06 20 de setembro de 2013

A autonomia que vai além dos “com” recursos financeiros

UNIVERSIDADE EM CRISE

João Costa Chaves Júnior, presidente da Associação Docente da Unesp, esteve na UEL para debater a questão da autonomia universitária

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Este ano ficará marcado pelos debates envolvendo a questão da autonomia universi-tária. No dia 27 de março, um protesto em frente à reitoria da UEL contestou a decisão do governador Beto Richa (PSDB) que, por meio do decreto 7.599, queria submeter ativida-des administrativas e financeiras das universidades à aprovação prévia do Conselho de Gestão Administrativa e Fiscal do Esta-do, criado por meio do mesmo decreto. No dia 17 de junho, o governo recuou.

Outra atitude do governo estadual foi o corte de 25% no orçamento de todas as secreta-rias e a criação da Conta Única, medida que centralizou a verba das secretarias em uma conta administrada pela Secretaria da Fazenda.

Já no dia 9 de agosto, mar-co da primeira assembleia en-tre professores, servidores e estudantes 12 anos atrás, foi realizada a primeira reunião do movimento unificado da UEL pela autonomia universitária. Na data histórica deste ano, os alu-nos organizaram um “arrastão” pelos centros de estudo da uni-versidade, que culminou com a lotação da sala de eventos do Centro de Letras e Ciências Hu-manas (CLCH).

Também no mês de agosto, no dia 27, a convite da reitoria da UEL, o reitor da Unesp, Ju-lio Cezar Durigan, apresentou palestra sobre o modelo de autonomia das universidades paulistas. No dia 30, as três ca-tegorias percorreram o campus da UEL, explicando algumas das questões que regem a autono-mia universitária. A manifestação terminou na Concha Acústica, centro de Londrina.

Na última quinta-feira, 19, o assunto ainda era a autonomia universitária e o modelo das universidades paulistas, porém, a sala de eventos do CLCH es-tava com um terço de sua ca-pacidade. O convidado, pelo Sindicato dos Professores do ensino superior público estadual de Londrina e região (Sindiprol/Aduel), foi João Costa Chaves Júnior - presidente da Associa-

Protesto em frente à reitoria da UEL, em 27 de março deste ano, contra o decreto 7.599 do governo do Paraná

Chaves: “A autonomia universitária sempre estará ameaçada”

ção Docente da Unesp (ADu-nesp).

Chaves falou sobre a expe-riência com o governo de São Paulo, sobre a estrutura interna da Unesp e como isso viabiliza – ou não – a autonomia uni-versitária. No modelo paulista, vigente desde 1989, Universi-dade de São Paulo (USP), Uni-versidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Unesp recebem um percentual do Imposto so-

bre Circulação de Mercadorias e prestação de Serviço (ICMS) do estado de São Paulo para dividir. “O que as universidades recebem do Estado não é sufi-ciente para sobreviver de ma-neira adequada. A Unesp, por exemplo, tem proporcionado expansão de vagas sem que te-nha havido dotação orçamentá-ria correspondente”, afirmou.

Outro ponto tocado por Chaves foi o fato de os 9,57%

do ICMS destinados às univer-sidades serem repassados por meio de decreto. “Em primeiro lugar, é preciso saber quanto custa a universidade, para que se possa pensar em uma fonte de recursos que seja estável, que varie com o produto inter-no bruto, com a inflação, etc., e que essa estabilidade seja garan-tida na constituição do Estado, e não em lei ordinária, como é no estado de São Paulo, onde to-

dos os anos temos que correr atrás para garantir um orçamen-to adequado”.

Além das questões orça-mentárias, aspectos como a re-lação entre reitorias e governo estadual foram debatidas. Na opinião de Nilson Magagnin, presidente do Sindiprol/Aduel, o debate não se restringe à par-te econômica das universidades. “Nós queremos discutir a ques-tão da autonomia para além do índice de financiamento das uni-versidades. Um debate amplo: autonomia, democracia interna, relações com o governo. Au-tonomia plena da universidade e não só um índice de financia-mento”.

Para Chaves, o fato de os reitores serem nomeados pelo governador restringe a liberda-de política das universidades. “Nós temos a nossa eleição, mas o conselho universitário en-caminha para o governador. No final das contas, quem escolhe é o governador. E mesmo que ele continue escolhendo o mais votado, existe um compromis-so do mais votado com aquele que o escolheu. E isso faz com que, na melhor das hipóteses, a reitoria tenha uma boa vontade excessiva em relação aos dese-jos do governo do Estado, em detrimento da comunidade uni-versitária”.

Page 7: Jornal PreTexto Expresso 1

MINISTÉRIO PÚBLICO ENTRA NA JUSTIÇA POR MELHORIAS NO HU

O promotor de justiça da Saúde Pública de Lon-drina, Paulo Tavares, entrou com uma ação na última quinta-feira (19) contra o estado do Paraná e a Uni-versidade Estadual de Lon-drina em razão das más condições encontradas do Hospital Universitário da UEL. O texto aponta várias irregularidades verificadas pela Vigilância Sanitária de Londrina. Os problemas fo-ram encontrados em diver-sas áreas do hospital: desde o sistema de ar, água e con-trole de pragas até a lavan-deria e o setor de alimen-tos. A fiscalização também encontrou falhas na unidade de internação masculina e no banco de leite humano, entre outras áreas.

A ação também pede contratação imediata de servidores para o HU. O promotor de justiça afirma que faltam 236 servidores no hospital. Com a apo-sentadoria de funcionários, o déficit pode subir para 400 pessoas até dezembro. Além dos problemas de recursos humanos e sanitá-rios, o Hospital Universitá-rio também passa por difi-culdades financeiras: todo mês faltam R$ 350 mil para a instituição fechar as con-tas. O promotor Paulo Ta-vares deu um prazo de 60 dias para a UEL e o gover-no do Paraná resolverem todas as falhas encontradas no HU.

ÚLTIMOS DIAS PARA SE INSCREVER EM CONCURSO DA UEL

As inscrições para o con-curso público aberto pela UEL terminam nesta terça--feira (24). O teste seletivo abre vagas para os níveis médio, superior e agente universitário operacional. Entre as opções oferecidas em nível superior, estão uma vaga para comunicador social/ relações públicas, três para pedagogo e uma para médico ortopedista. Para nível médio, há dez va-gas para técnico administra-tivo e uma para técnico em estúdio e multimídia/foto-grafia, entre outras. A sele-ção de agente universitário operacional está com uma vaga aberta para telefonista. As vagas de medicina são para uma jornada 20 horas semanais. A carga horária de todas as outras funções é de 40 horas por semana. As inscrições devem ser feitas na página eletrônica www.cops.uel.br. O edital do concurso também pode ser encontrado no mesmo endereço.

Campus 0720 de setembro de 2013

UEL em notasRacismo institucional é

debatido em palestra no HU

DISCRIMINAÇÃO RACIAL

Bruno Cunha

Brun

o C

unha

Conferência traça relação entre preconceito e saúde pública

“O racismo institucional é um segmento do colonialismo que persiste em nossas relações”

As interferências do racismo nos atendimentos públicos à saúde de minorias étnicas foram tema da palestra realizada no último dia 20, no Hospital Uni-versitário (HU) da Universida-de Estadual de Londrina (UEL). Exemplos como a chacina que vitimou a líder do movimento negro, Yá Makumby, mostram que ainda existem reações vio-lentas na sociedade londrinense decorrentes do preconceito.

No Anfiteatro Dr. Luiz Carlos Coelho Neto Jeolás, o evento foi dividido em duas etapas. Na primeira, uma mesa formada por autoridades de diversos segmen-tos discursou sobre o preconcei-to velado nas unidades básicas de saúde, e como isso reflete nos elevados índices de morta-lidade infantil e de homicídios, sobretudo na população negra. Participaram deste debate: Maria Nilza da Silva, coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-Asiáti-cos (NEAA), da UEL; José Men-des, presidente do Conselho de

A principal promotora do evento, Maria Nilza da Silva, em frente ao cartaz homenageando Yá Mukumby: inspiração

Promoção da Igualdade Racial do município; Francisco Eugênio de Souza, secretário de Saúde de Londrina; Paulo César Tava-res, promotor de justiça da Saú-de Pública, e Berenice Jordão, reitora em exercício da UEL.

As falas refutaram qualquer manifestação de discriminação na esfera pública e, nas palavras do secretário Francisco Eugênio, ‘‘só teremos um país fraterno quando nos livrarmos das man-chas raciais’’. Ao final, houve uma homenagem à líder religiosa Yá Mukumby, notória na luta pelos direitos dos negros, que foi bru-talmente assassinada no início de agosto. Maria Nilza, responsável também pelo projeto LEAFRO – Laboratório de cultura e estudos afro-brasileiros – classifica a rea-lidade nacional como ‘‘extrema-mente preocupante, de diferen-ciação de acesso à saúde pública

das vítimas do racismo. Alguns médicos chegam a não tocar os pacientes negros’’. A coordena-dora propõe a reflexão e o fim do egoísmo, afirmando que a re-versão da situação ainda enfrenta bastante resistência.

Depois de um intervalo, foi iniciada uma pa-lestra ministrada pela pesquisadora Maria Inês Bar-

bosa, doutora em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (USP). A acadêmica enfatizou que o racismo tem origem em programas de incentivo à vinda exclusiva de brancos para po-voar certas regiões do Brasil no século XIX. Nas escolas, com aulas que não dão importância para culturas de fora da Europa, e na mídia, com a reprodução de padrões de beleza, o processo se consolida. ‘‘O racismo institu-cional é um segmento do colo-nialismo que persiste em nossas relações. Ele é institucional, pois não é visto como problema’’, declara.

Apresentando estatísticas que explicitam o abismo social no país, Maria Inês explica que o nú-mero de receptores de órgãos, a associações de ‘‘doenças espe-cíficas’’ a certas etnias e desvan-tagens de horários e localização de unidades básicas de saúde refletem ‘‘a invisibilidade e a de-sassistência como sinônimos de preconceito’’. Segundo a pesqui-sadora, não raro a própria vítima se convence de que é realmente inferior, repetindo o discurso de ódio da sociedade. A classifica-ção em diferentes cores de pele (preto, pardo, moreno) também influencia negativamente, já que ‘‘a consciência de chegar a um lugar e ser discriminado afeta a saúde do indivíduo’’. Seria, en-tão, um fluxo contínuo.

O negro fica com seu psico-lógico abalado pelo racismo, e evita tratamento justamente para escapar de um eventual precon-ceito. Em nome da igualdade, Maria Inês fez uso da ironia para podar as raízes da segregação: “se fôssemos diferentes, não nos reproduziríamos”.

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Geral08 20 de setembro de 2013

Angela Ota com Agências

Lobão: ausência de grandes empresas não compromete sucesso do leilão do pré-salOnze empresas pagaram a taxa para participar do leilão que está marcado para o dia 21 de outubro

PRÉ-SAL

Brasília - O ministro de Mi-nas e Energia, Edison Lobão, disse hoje (20) que a ausência de grandes petroleiras no pri-meiro leilão do pré-sal, marca-do para o dia 21 de outubro, não vai comprometer o su-cesso da licitação. Ele convo-cou uma entrevista à imprensa para esclarecer que o governo está “plenamente convenci-do do sucesso do leilão”, que está assegurado pelo interesse demonstrado pelas empresas inscritas, entre elas algumas das maiores petroleiras do mundo, segundo ele.

Ontem (19) a Agência Na-cional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) divul-gou a lista com as 11 empresas que pagaram taxa de participa-ção para o primeiro leilão do pré-sal, referente ao Campo de Libra, na Bacia de Santos. A lis-ta não inclui grandes empresas petrolíferas como Exxon, Che-vron, British Petroleum (BP) e British Gas (BG).

O ministro criticou o pessi-mismo de analistas em relação ao leilão, por causa da ausência de grandes empresas. Ele tam-bém disse que não se justifica

Ministro criticou pessimismo de analistas em relação às empresas estatais

SAÚDE GREVEManifestantes protestam no STF contra reabertura de julgamento

a crítica ao fato de algumas das empresas que pretendem parti-cipar da licitação serem estatais. “Qual o mal nisso? A Petrobras é considerada estatal e é um orgulho brasileiro e uma grande petroleira nacional e com gran-de experiência em exploração em águas profundas”, disse.

Lobão esclareceu que, se houver apenas um consórcio apresentando propostas no dia 21 de outubro, o leilão não será comprometido. “Isso não mudaria nada, porque o bônus de assinatura e o mínimo de óleo que deverá ser destinado para a União teria que ser cum-

prido. Mas acreditamos que haverá mais de um consórcio, dois ou três”, disse o ministro.

A empresa vencedora será a que reverter o maior percen-tual do petróleo excedente à União. A Petrobras terá partici-pação de no mínimo 30% no consórcio vencedor. A empre-

sa que vencer o leilão terá que pagar um bônus de assinatura à União de R$ 15 bilhões.

A área a ser licitada tem cer-ca de 1,5 mil quilômetros qua-drados. O volume de petróleo recuperável deverá oscilar en-tre 8 bilhões e 12 bilhões de barris.

Agência Brasil

Mais Médicos reprova um dos 682 profissionais com diploma estrangeiro na primeira etapa

Brasília - O Ministério da Saúde divulgou ontem que dos 682 médicos com diploma estrangeiros que chegaram ao país para o treinamento da pri-meira etapa do Programa Mais Médicos, 11 ficaram de recu-peração e um foi reprovado. Por três semanas, os profissio-nais tiveram aulas sobre saúde pública, com foco na organiza-ção e funcionamento do Sis-tema Único de Saúde e língua portuguesa e em seguida fo-ram avaliados sobre os temas.

O médico que foi reprova-do é libanês e atuou na Ucrâ-nia antes de vir para o Brasil.

Ele iria atuar em Franco da Ro-cha (SP), mas foi eliminado do programa porque teve desem-penho final abaixo de 30% nas avaliações.

Quatro médicos que atua-vam em Cuba, três na Vene-zuela, um na Rússia, um na Bolívia, um na Argentina e um na Espanha tiveram desempe-nho entre 30% e 50% e vão passar por duas semanas de reforço em Brasília antes de começarem a trabalhar pelo programa. Para o cálculo de desempenho, foram conside-rados o conjunto de exercícios e atividades do módulo de avaliação (40%) e o teste final (60%).

Brasília – Dois manifestantes deixaram ontem (19) 37 pizzas na portaria do Supremo Tribu-nal Federal (STF) para protes-tar contra a decisão da Corte, que reabriu o julgamento de 12 réus condenados na Ação Penal 470, o processo do mensalão. Os dois se identificaram apenas como Ana e Tarso e se declara-ram integrantes do Movimento Novo Brasil. Eles disseram que “estão decepcionados com o resultado do julgamento”.

Por 6 votos a 5, o STF de-cidiu ontem (18) que 12 réus condenados no processo terão direito à reabertura do julga-mento. Eles tiveram pelo me-nos quatro votos a favor da ab-solvição na análise de um crime.

Bancários fecham 7.282 agências no segundo dia de greve

Agência BrasilAgência Brasil

Brasília – A greve dos bancá-rios ganhou força hoje (20) com o fechamento de 7.282 agências e postos de atendimento em todo o país. Foram 1.143 agên-cias a mais que na véspera, o que equivale a crescimento de 18,5% em relação às 6.145 unidades fe-chadas no primeiro dia de greve.

O balanço foi divulgado pela Confederação Nacional dos Tra-balhadores do Ramo Financei-ro (Contraf), no início da noite, depois de os sindicatos regionais avaliarem o movimento de ade-sões nesta sexta-feira. De acordo com o Comando Nacional da ca-tegoria, a greve está se ampliando rapidamente em todo o país.

A Fenaban informou, por meio de nota, que tem uma

prática de negociação pautada pelo diálogo com as lideranças sindicais, resultando em uma valorização constante da Con-venção Coletiva do Trabalho. “Nos últimos anos, porém, tem sido recorrente que as lideranças sindicais tenham um calendário próprio para deflagração de gre-ve, independente dos espaços de negociação. A Fenaban lamenta essa posição dos sindicatos, que causa transtorno à população, e reitera que a maioria das agências e todos os canais alternativos, físi-cos e eletrônicos, está funcionan-do. Os bancos respeitam o direi-to à greve, entretanto, farão tudo que for necessário e legalmente cabível para garantir o acesso da população e funcionários aos es-tabelecimentos bancários”, infor-mou a nota.

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INSTAGRAM

As atrizes da Globo, Carol Castro, Rosamaria Murtinho, Nathalia Tim-berg, Susana Vieira e Bár-bara Paz estão “de luto pelo Brasil.” Em foto postada no Instragran, as atrizes vestem preto e fazem “cara feia”, registrando sua opinião so-bre o voto de Celso Mello, no caso do Mensalão. Os internautas não perdoaram, e a foto virou motivo de piada.

ESPORTE

Brasil contará com 100 atletas brasileiros na pri-meira edição dos Jogos Sul--americanos da Juventude, que ocorre entre 20 e 29 de setembro. Na competi-ção para esportistas de até 18 anos de idade, a dele-gação nacional competirá em 19 modalidades contra adversários de 14 países do continente.

CMTU

O major da reserva do Corpo de Bombeiros Ar-naldo Sebastião é o novo diretor de trânsito da Com-panhia Municipal de Trânsi-to e Urbanização (CMTU). Anunciado na tarde de sexta (20), Sebastião é advogado, trabalhou nos Bombeiros por 27 anos e já foi diretor de trânsito em Arapongas por quatro anos.

EDUCAÇÃO

O governador Beto Richa (PSDB) afirmou na sexta (20) por meio do seu perfil no Facebook que vai honrar os compromissos assumidos com os profes-sores no próximo paga-mento, com uma correção salarialde 0,6% retroativo a maio deste ano.

VIAGEM

A presidente Dilma Rousseff viaja no domingo para Nova York e vai parti-cipar da abertura da 68º As-sembleia Geral das Nações Unidas que está marcada para o dia 24, terça-feira. O ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Fi-gueiredo, vai acompanhar Dilma. Segundo o comu-nicado da Chancelaria, ambos estarão em “visita de trabalho” de 23 a 25 de setembro.

DEMISSÃO

O técnico do Flamen-go, Mano Menezes, pediu demisssão na quinta-feira (19) após a derrota por 4 a 2 para o Atlético Parana-ense no Maracanã. Mano afirmou que não conseguiu passar para o grupo aquilo que pensa de futebol e por isso precisava sair.

Giro 0920 de setembro de 2013

CurtasAngela Ota

“[O STF] não pode se expor a pressões externas, como aquelas resultantes do clamor popular e da pressão das multidões.”

“O Brasil é o meu lugar preferido.

Nada se com-para. Não

há lugar igual. ”

(FOTO: Raul Aragão/ Facebook

Rock in Rio)

Ministro Celso de Mello, ao explicar

o voto de des-empate a favor

dos desembargos infringentes no julgamento do

Mensalão.G1, 18/09/2013

fOTO MINISTRO CELSO

Beyoncé Knowles, uma das atrações do

Rock in Rio 2013. ISTO É, 18/09/2013

“Porque eu quis. Pode ir lá e denunciar, tá bom?”

Capitão Bruno, BP ChoqueBruno, capitão do Batalhão de Choque da Polícia Militar do Distrito

Federal, ao explicar o motivo pelo qual usou spray de pimenta contra manifestantes.

UOL, 14/09/2013

“Se houvesse essa possibilidade, eu seria o primeiro a dar início a guerra para a devida separação. [...]Quando eu digo que o Brasil não vai para frente em razão do Nordeste vocês ficam nervosos, mas infelizmente é assim.”

Gustavo Zanelli Ferreira, advogado de Cambé - PR em postagem no Facebook sobre o povo maranhense e em defesa da separação do Norte e Nordeste e parte do Centro-Oeste dos demais do Sul e Sudeste. O MPE

(Ministério Público Estadual) no Maranhão encaminhou notícia-crime à Justiça e uma representação à OAB (Or-dem dos Advogados do Brasil) do Estado contra o advogado, que está radicado no Estado nordestino.

UOL, 14/09/2013

“Quem perdeu: a direita, a esquerda ou o STF que deve receber agora + de 50 mil pedidos de melar o já foi julgado? #EmbargosInfringentes.”Marcelo Tas sobre o julgamento do mensalão, no Twiter. 18/09/2013 (foto: arquivo pessoal/ Facebook)

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Mesmo após a tarde de chuva e forte ventania que destruíram parte da cidade, o público com-pareceu em grande número ao teatro Marista no último domingo para assistir a ópera O Mikado, espetáculo apresentado em comemoração aos 40 anos do Coro da Universidade Estadual de Lon-drina (UEL). A peça, cantada em inglês, foi acom-panhada por legendas projetadas em fundos cujas cores variavam em sintonia com a dramaticidade das cenas. Diálogos em português que faziam alu-são a situações conhecidas de Londrina, como os pombos do bosque ou a falta de espaços teatrais, contrastavam com a atmosfera japonesa e provoca-vam gargalhadas na plateia. A professora de inglês, Carla Emy Saikawa, 29, assistiu a uma ópera pela

primeira vez e diz ter se surpreendido: “Eu vim sem esperar muita coisa e achei fantástico. Ri muito em várias cenas”.

A obra do século XIX, escrita pelos ingleses Ar-thur Sullivan e W. S. Gilbert, se passa na fictícia cidade de Titipu, no Japão, onde o Mikado, impe-rador do país, impede os habitantes de flertarem entre si. Em meio a esse cenário, um menestrel e uma bela jovem se apaixonam, mas a moça está comprometida a se casar com o grande executor daqueles que descumprem a lei. A partir disso a trama se desenrola e caminha para um desfecho divertido e inesperado.

A montagem foi di-vidida em dois atos e contou com a regên-cia de Regina Balan e Paloma Scucuglia, da Divisão de Música da UEL: “É um espetáculo cômico, com um enre-do quase absurdo. Foi escolhido para instruir, trazer experiência es-tética e musical e, ao mesmo tempo, diver-tir o público”, define Paloma. O projeto foi desenvolvido em parceria com a Universidade Estadual de Maringá (UEM) e a Escola de Música e Belas Artes do Paraná (Embap). Fizeram parte da assessoria vocal os professores John de Castro (UEM) e Denise Sartori (Embap): “John recebeu esse espetáculo em Maringá, sendo encenado pela Denise Sartori e seus alunos. Aí sur-giu a ideia de unirmos as equipes e realizá-lo aqui em Londrina também”, explica Paloma.

O afinado coro da UEL acompanhou solistas de Curitiba, Londrina e Maringá. A integração pre-tende formar um núcleo de práticas de conjuntos vocais, como ressalta John de Castro: “O evento é importante porque consolida o nascimento desse grupo permanente para fazer outros trabalhos. É um projeto institucional que partiu da prática e en-volve nossa amizade profissional, pessoal e nosso amor pelo canto”. Solista em sua primeira ópera, o funcionário público, Saulo Rousseau, 27, admite que conciliar música e teatro não é fácil: “Eu apa-

Mix10 20 de setembro de 2013

Andreza Pandulfo

Ópera aos 40Espetáculo O Mikado foi apresentado no final de semana,em comemoração aos 40 anos do Coro da UEL

MÚSICA

Entre o Coro da UEL e solistas de Curitiba, Londrina e Maringá, 56 pessoas se apresentam no espetáculo

“Uma peça cômica, engraçada e com um enredo quase absurdo”

“O Som ao Redor”, do diretor recifense Kleber Mendonça Filho, foi o longa-metragem indicado pelo Brasil para concorrer ao Os-car de melhor filme estrangeiro. A produção, que foi exibida no Festival de Cinema de Londrina no ano passado com a presença do diretor na cidade, ainda pre-cisa disputar com produções de outros países para ficar entre os cinco finalistas da categoria.

A escolha dos finalistas será anunciada pela Acade-mia de Artes e Ciên-cias Cinematográficas dos Estados Unidos em 16 de janeiro. “O Som ao Redor” ga-nhou a preferência do Ministério da Cultura em meio a outros lon-gas como “Colegas”, de Marcelo Galvão e “Faroeste Caboclo”, de René Sampaio. “Nunca fico esperando por um prêmio. Mas muita coisa boa aconteceu com esse filme. Não descartaria essa possibilidade [de vencer o Os-car]”, contou Mendonça Filho.

Há mais de dez anos, em 1999, o Brasil perdia uma de suas maiores chances de levar

o Oscar para casa, com o filme “Central do Brasil”, de Walter Sal-les e interpretação de Fernanda Montenegro. Cinco anos depois, “Cidade de Deus” surpreendia Hollywood ao receber quatro in-dicações – melhor diretor, rotei-ro adaptado, edição e fotografia. Em 2011, “Lixo Extraordinário” concorria na categoria de melhor documentário.

Desde então, o cinema nacio-nal não teve outra oportunidade

de disputar o prêmio. As esperan-ças recaem sobre o filme que se passa na zona sul de Recife. São histórias da classe média, onde os dramas divididos pelos mu-ros de prédios e condomínios se cruzam. Kleber também dirigiu o documentário “Crítico”, além de curtas-metragens.

Tech&CultRenan Cunha

Bruno Leonel

CINEMA

Começa nesta quinta-fei-ra,19, a 15ª edição do Festival Kinoarte de Cinema. Atualmente o festival mais antigo de todo o estado – que antes se chamava Mostra Londrina, e agora tem novo nome – contará com a exi-bição de 85 filmes – 28 longas e 57 curtas – durante os 11 dias de festival que acontecem na sala 4 dos cinema Cinesystem do Lon-drina Norte Shopping.

Uma das novidades esse ano será o Lounge do Festival Kino-arte, especial dessa 15ª Edição Londrina. O Lounge será um ambiente de convivência entre os produtores locais com os de fora e também para os frequen-tadores que quiserem esperar entre uma sessão e outra.

Kinocidadão: formação de público

Trata-se de uma parceria da Kinoarte com a Secretaria Muni-cipal de Educação – que define as escolas contempladas, prio-ritariamente as de bairros peri-féricos – com apoio da Viação Garcia, que transporta gratuita-

mente os alunos. Durante cinco dias seguidos, os estudantes te-rão acesso gratuito a 10 sessões do filme “Brichos 2”- “Muitas das crianças que participam do pro-jeto vão ao cinema pela primeira vez na vida”, afirma um dos co-ordenadores do festival, Guilher-me Peraro. No ano passado, o projeto levou 1,5 mil estudantes para diversas sessões da primei-ra versão de “Brichos”. Durante todos os dias de evento, haverão ônibus gratuitos saindo da rua Quintino Bocaiúva – em frente ao hotel Crystal – indo para o festival a cada meia-hora.

MemóriaDurante as últimas edições,

ocorreram vários momentos marcantes para o público. Atra-ção que atrairá pessoas até de fora da cidade, como é o caso do publicitário Ulisses Mateus de

Festival consolida sétima arte no município

Maringá. Segundo ele, o evento é muito importante para o circui-to do audiovisual na região; “Essa é a primeira vez que estou parti-cipando, e o que mais me cha-mou a atenção foi a oficina sobre maquiagem de efeito especial, acho muito importante, pois a região carece de coisas do tipo”

O festival é uma realização da Kinoarte (Instituto de Cinema de Londrina) com produção da Filmes do Leste, Kinopus, pa-trocínio da Copel e da Sanepar através da Lei Rouanet – Minis-tério da Cultura, da Prefeitura de Londrina via Promic, além do apoio do Governo do Estado do Paraná pelo Conta Cultura. O evento integra o projeto Festi-vais Kinoarte que, em Londrina conta com apoio da RPC TV.A programação pode ser conferida em www.kinoarte.org.

Ananda Ribeiro

Divulgação

SOM AO REDOR REPRESENTARÁ O BRASILEM VAGA NO OSCAR

Divulgação

nhei um pouco, mas foi divertido. O espetáculo exi-ge muita atenção, porque tudo depende das marca-ções de palco e das cenas que as regentes propõem pra gente”.

O Mikado marcou a estreia do Coro da UEL na apresentação de óperas, como revela a regen-te Paloma Scucuglia: “É a primeira vez que a gente embarca nessa aventura e ainda estamos embasba-cados com o quanto isso fluiu bem”. O espetáculo também teve a missão de aproximar o público do estilo, pouco difundido no Brasil, como aponta John: “Queremos quebrar o paradigma de que ópera é só aquela coisa caricata de grito ou de som”. Denise Sartori, uma das maiores referências do canto lírico paranaense, conclui: “A ópera é uma arte completa. Literatura, teatro, música, tudo. E as pessoas não conhecem. É preciso que espetáculos desse tipo sejam disseminados e reconhecidos”. Os aplausos exaustivos ao final do espetáculo mostraram que o público londrinense entendeu o recado.

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Todos querem o VGD

Esporte 1120 de setembro de 2013

Ananda Ribeiro

Torcida do Londrina está ansiosa para reacender o “caldeirão”

TUBARÃO

O Londrina Esporte Clube (LEC) quer reassumir o está-dio Vitorino Gonçalves Dias (VGD). O VGD, construído em 1947 e inaugurado em 1956 com um jogo entre o LEC e o Corinthians, foi o CT do LEC por 20 anos até que, em 2006, perdeu a cessão por problemas na documentação e estrutura do estádio. Mesmo assim, o VGD continuou a ser utilizado como sede adminis-trativa do Londrina. O presi-dente do clube, Cláudio Ca-nuto, alega que “se não tivesse uma pessoa do LEC cuidando, o estádio poderia ter se torna-do ponto de droga”.

Para recuperar oficialmen-te o estádio, o clube precisa quitar dívidas de impostos. No dia 13 de setembro, O pre-feito Alexandre Kireff solicitou junto ao Procurador Geral do Município, Zulmar Fachin, a suspensão do processo de reintegração de posse do VGD pela prefeitura por 180 dias, para que “durante esse período se desenvolva uma forma de legitimar o uso do VGD pelo LEC”. Kireff postou em seu blog que “esse proces-so iniciou-se em 2010, quan-do o Município ingressou com uma ação de reintegração de posse do VGD.” O prefeito afirmou que “existe uma série de considerações que susten-tam esta solicitação que envol-vem, desde a reorganização da entidade através da inter-venção da Justiça do Trabalho, até ao entendimento de que o Londrina representa parte de nosso patrimônio cultural e esportivo, passando por várias outras também bastante rele-vantes”.

Desde 2011, o VGD é utilizado pelas escolinhas de futebol do LEC, além de aten-der a categoria juvenil de base e quase todos os jogos que a Federação de Esportes de Londrina (FEL) solicita. O LEC também fez algumas reformas de manutenção no estádio, mas ainda falta muita coisa. “Queremos fazer uma acade-mia, reformar o alambrado, mas se não houver a cessão da prefeitura não posso usar o dinheiro do LEC para isso”, disse Canuto. O presidente disse ainda que eles querem “documentar algo que já acon-tece na prática”.

O advogado Marcelo Apa-recido Fuentes, atual vice-pre-sidente e um dos fundadores da Falange Azul, torcida or-ganizada do Londrina, acom-panhou vários jogos do LEC, tanto no VGD quanto no Es-tádio do Café. Ele acredita que

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Marcelo Aparecido Fuentes, um dos fundadores e vice-presidente do LEC torce para que o clube fique com o VGD

a maior parte da torcida prefe-re o Vitorino. “O público que comparece ao Café hoje - 7 mil, 8 mil em média -faz pa-recer que o estádio está vazio. Aqui no VGD, o estádio se transforma em um caldeirão!”, explicou empolgado. Marcelo comentou que “os clubes da capital tem até certo receio de jogar no VGD, e que a pressão da torcida sobre o time é mui-to importante”.

O estádio Vitorino Gon-çalves Dias foi palco de muitas vitórias para o clube londri-nense. Marcelo se lembra de um jogo de 2007, da Copa Pa-

raná. “O Nem, camisa 10 do Londrina, recebeu a bola do meio da rua, viu que o goleiro estava um pouco adiantado, chutou de lá e fez o gol. Deu repercussão nacional, saiu até no Fantástico. Foi falado no programa que aquele gol que o Pelé perdeu na Copa, o Nem fez nesse dia aqui. Foi feita até camiseta alusiva ao gol”.

Edson Henrique dos San-tos, entrou no Londrina em outubro de 1988 para ser ge-rente da extinta série Campes-tre. Depois, foi administrar a reconstrução do VGD. “Tem-

pos atrás, toda a administração que tem lá no atual CT (da empresa gestora, SM Espor-tes) era aqui no VGD. Morava jogador aqui dentro, as refei-ções eram feitas todas aqui... Hoje os jogadores ficam lá na SM. Mas ainda temos 250 ga-rotos que treinam aqui. Temos professor, funcionário...”. Ed-son acredita ser muito impor-tante para o clube reassumir o campo, “porque o Londrina vai fazer 57 anos em abril do ano que vem e não tem uma casa.”

O ex-jogador do LEC, Cassiano Ribeiro, de 33 anos,

trabalha desde 2011 como professor da escolinha. Para ele, o VGD é a casa do Lon-drina. “Eu, que já senti o sabor de vencer aqui dentro com estádio lotado numa semifinal do paranaense, sei como é. A história do Londrina se conta aqui no VGD.” Tanto Marce-lo, quanto Edson e Cassiano concordam que a proximidade entre os jogadores e a torcida dentro do Vitorino, além do caldeirão que se forma com o estádio lotado, são emocio-nantes! “O pessoal que vem jogar aqui conta que se assus-ta, então sempre é bom jogar no VGD”, argumentou Cassia-no.

Para o ex-jogador, o futu-ro do Londrina é a escolinha. “Se daqui a 10 anos sair pelo menos cinco jogadores profis-sionais daqui, já é um grande ganho. Mas o objetivo é criar homens de caráter. O VGD está sendo muito bem usado pela escolinha e os pais prefe-rem, por ser um lugar central.”

Um dos alunos é o Felipe Inácio da Silva, de 12 anos, que está na escolinha há qua-se um ano. Ele gosta muito de jogar no VGD e quer ser jogador profissional de fute-bol. De qual time? Ele torce para o Corinthians, mas está valendo o Timão, o Santos e até o Palmeiras! Felipe treina duas vezes por semana, duas horas e meia por dia. “Meus pais apoiam, dão muita força. É treinar, treinar e treinar, pra jogar, vencer e ser campeão”.

Os meninos da escolinha do LEC sonham em ser grandes jogadores de futebol

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Conhece o Bar do Jaime?E o Jaime,do bar?

Perfil12 20 de setembro de 2013

TRADIÇÃO

Há 41 anos em Londrina, o bar já é conhecido da população local, conheça também o dono dele

Quem mora em Londrina e frequen-ta regularmente o centro da cidade, pos-sivelmente já ouviu falar do Bar do Jaime, um boteco família, com comida boa e ótimo tanto para um happy hour com os amigos, quanto para tomar aquela pinguinha no balcão. O bar existe desde 1972 e está localizado em uma peque-na “porta” do Centro Comercial, que às sextas-feiras, dia da costelinha de porco, expande suas disputadas mesas pelo cor-redor térreo do edifício. Mas o que o Pretexto quer apresentar ao leitor hoje, não é o Bar do Jaime, mas sim, o Jaime, do Bar.

Jaime dos Santos Mendes Gomes é português, de Fátima, tem 61 anos e veio aos 3 para o Brasil, acompanhando a família que fugia da miséria europeia pós--guerra. Quem o conhece, ou já foi ao menos uma vez no bar, não esquece sua simpatia. Um homem simples, de cabe-los pretos, óculos quadrados combinan-do com o cabelo, à primeira vista parece um senhor tímido, mas durante a entre-vista encontramos um imigrante deter-minado, de inúmeras viagens e histórias para contar. Ali mesmo, no corredor do Centro Comercial, Jaime montou uma mesa para que pudéssemos conversar.

Quando chegou ao Brasil, em 1954, foi morar em Maringá, onde ficou até 1972 trabalhando como taxista, junta-mente com o pai. Após ser assaltado, o patriarca decidiu abandonar a profissão e migrou com a família para Londrina, onde, aconselhados por um tio que já ti-

nha um bar na cidade, entraram no ramo também: “Apesar do táxi, eu já tinha tra-balhado com bar. Aí montamos, meu pai faleceu e eu continuei. Eu gosto muito daqui. E tem que gostar, né? Não é todo mundo que consegue trabalhar dentro de um bar”, destaca. A rotina de Jaime começa cedo. O bar abre de segunda a sábado das oito da manhã às oito da noi-te, mas o dono chega antes. Jaime está lá antes das sete da manhã para organizar o espaço e depois levar a neta de 11 anos para a escola: “Eu venho aqui cedo e ela (a neta) fica se arrumando. Eu ponho as águas pra ferver, os fogos pra andar e faço o lanchinho dela. Ela desce 7h10, 7h15

Andreza Pandulfo e Giovanna Machado

“Parar só quando eu morrer ou estiver inválido”

“Imigrante não tem medo de correr para o mundo.”

e eu a levo para a escola. Meio-dia vou buscar”. À noite, ele só vai embora por volta das nove da noite. Aos domingos, fica em casa descansando com a família, vai para a chácara, clube ou para algum lugar onde possa executar seu talento como pescador.

A entrevista é interrompida diversas vezes por clientes e vizinhos se despe-dindo ou brincando com dono do bar. Questionado se essas relações geram amizades, Jaime responde sem dúvidas: “Eu não tenho amigo que não seja cliente ou cliente que não seja amigo. Faz cin-co anos que eu também moro aqui (no prédio). Então, é o quintal da minha casa.

Domingo eu venho aqui fa-zer uma coisinha ou outra, aí passa alguém na rua e eu pergunto o que tá fazendo por aqui. A pessoa diz que

quer tomar uma ‘água’, aí eu falo: ‘Va-moslá!’. Já entra, já toma uma. Eu tenho muitas amizades de muito tempo aqui”. Em 2001 um desses amigos convidou Jaime para um novo desafio: trabalhar em construções nos Estados Unidos para ganhar dinheiro. E ele foi: “Fui trabalhar nos EUA por 600 dias, 3 temporadas de 200 dias, em 2001, 2002 e 2003. Mas o bar não fechou! Meu pessoal continuou aqui trabalhando, eu fui, voltei e trouxe o dinheiro. Foi ótima a experiência”, en-fatiza. Quem, inicialmente, não gostou muito da experiência foi Isabel, a esposa de Jaime: “A mulher ficou meio invocada comigo. Me chamaram para ir pra lá, fa-

laram que pagavam tanto por hora. Eu tinha um terreno perto do aeroporto, queria construir alguma coisa lá e tinha que ter um dinheiro bom. Falei: ‘Eu vou pros Estados Unidos, se eu conseguir, eu construo’. Aí deu certo.” Mas e o inglês? “Já tinha o básico da escola, né? Mas lá só trabalhava com brasileiro, então me vira-va”, explica, contando que daqui a dois anos pretende voltar ao país, dessa vez para passear, na companhia de Isabel e da neta.

Além dessas três temporadas nos Es-tados Unidos, Jaime já foi seis vezes para Portugal, três para a Espanha, conhece grande parte do Pantanal, Paranapane-

ma, São Paulo e já foi para o Marrocos. Perguntamos se ele não tem medo de se aventurar dessa forma. A resposta foi en-fática: “Não! Nós somos imigrantes, né? Imigrante não tem medo de correr para o mundo”.

Tanto Jaime quanto a sua esposa são aposentados, mas ele não pensa em pa-rar de trabalhar: “Não, não. Não tem jeito de parar, né? Parar só quando eu morrer ou estiver inválido, mas eu tenho 61 anos... Enquanto estiver bom, não tem porque parar”, pondera. Ele e Isabel se conheceram em 1969. Os dois traba-lhavam no bar Vila Rica: “Eu vim pra cá em 68 e em 70, voltei pra Maringá. Nós

começamos a namorar, mas ela ficou. Aí a gente namorava por carta, né? Não ti-nha telefone, igual hoje. Quando voltei, ela ainda trabalhava no Vila Rica. No ano seguinte, final de 73, ela veio trabalhar aqui, a gente já namorava e depois ca-samos, em 73 mesmo”, relembra Jaime. O casal tem dois filhos, o Jaiminho, de 38 anos, que trabalha no bar com os pais e a Célia Juliana, de 36 anos, advogada, mas que no final da semana também ajuda no estabelecimento. A família se completa com a já citada neta Juliana, filha de Célia.

Assim, aberto a novos desafios, Jai-me leva a sua “muito boa vida”, como ele mesmo fez questão de frisar durante

quase toda a conversa. No bar, muitos pratos surgi-ram ao acaso, para atender um freguês ou outro até se tornar parte do cardá-

pio, como a famosa costelinha de sexta. Quando a família decidiu fazer a feijoada aos sábados, começaram a prepará-la às sextas, no fim da tarde. A costelinha de-fumada era muito cara, então Jaime com-prava a carne e fritava. Os clientes sen-tiam o cheiro e queriam um pedacinho: “Eles pediam: ‘Oh, Jaime e essa costela aí? Tira um pedacinho para mim’. Todo mundo queria”, conta. Atendendo aos pedidos, juntaram a carne com a man-dioca, e hoje chegam a fritar até 50 kg de costela a cada sexta-feira. Com o Jaime é assim: tempero saboroso, cachaça boa e acolhimento familiar. Os clientes das mais variadas idades e estilos agradecem.

Com simplicidade e simpatia, Jaime conta suas histórias durante a entrevista