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JORNAL JORNAL COOPERATIVISTA COOPERATIVISTA Janeiro e Fevereiro de 2009 Ano XIV Nº 61 ÍNDICE Editorial Editorial ................................................................... Capa Nova Sede da Central ............................................... Capa A Batalha do “SPREAD” ........................................... Capa Educação e Nova Economia ............................. Pág. 2 e 3 O Progresso do Homem ......................................... Pág. 3 Reforma Agrária e Cooperativismo ......................... Pág. 4 Precursores e Pioneiros ......................................... Pág. 4 Cooperativismo Utópico e Realidade Cooperativista ........................................................ Pág. 5 Auto-Regulamentação ...................................... Pág. 6 e 7 Reflexão sobre a pesquisa de alguns números........ Pág. 8 Quadro Demonstrativo dos Valores ......................... Pág. 8 Informativo do S.E.R. ............................................. Pág. 9 História das Sedes ....................................... Pág. 10 e 11 Curso Intensivo ............................................ Pág. 12 e 13 A Fantasia dos Bancos ......................................... Pág. 13 As Cooperativas de Crédito .......................... Pág. 14 e 15 Um Padre e o Iniciador do Cooperativismo ........... Pág. 16 Leis de Cooperativas .................................... Pág. 16 e 17 Associativismo e Cooperativismo na DSI ...... Pág. 18 e 19 Dominox .............................................................. Pág. 20 Bandeira Atual do Cooperativismo ........................ Pág. 20 Órgão de divulgação A Batalha do “SPREAD” (1) E m inglês, o termo signica extensão, difusão, abertura. Recrutado no dialeto peculiar da nança, foi deslocado para expressar uma distância entre valores, uma margem. Designa, por exemplo, a di- ferença entre a taxa que um banco paga ao aplicador e a que cobra de quem toma o recurso emprestado. O “spread”, por obra da crise, volta ao centro do debate nacional sobe o nível dos juros, discussão que há vários anos tenta decifrar um duplo enigma. Por que os juros básicos no Brasil são bem mais altos que os praticados em economias semelhantes? Por que as taxas do tomador nal embutem margem tão elástica, o que torna a comparação global ainda mais desfavorável ao país? Num lance ao mesmo tempo astuto e oportuno, o Banco Central tenta desviar parte das críticas a respeito para os bancos comerciais. Foram eles, anal, que aumentaram os “spreads” em meio ao estrangulamento do cré- dito, quando as autoridades agiam no sentido contrário. Na defensiva, os bancos dizem que baixar o “spread” é complexo, e que a margem é alta no Brasil por conta do peso excessivo dos impostos e da inadimplência. Taticamente, nada falam dos estrondosos lucros que aufe- rem, chova ou faça sol, as grandes casas bancárias brasileiras. É necessário, certamente, reduzir a tributação que onera demasiadamente os empréstimos no Brasil, bem como avançar na modernização, legal e burocrática, dos sistemas que dão garantias ao credor em caso de calote. Mas é inegável o peso da oligopolização bancária, que resulta em décit crônico de competição, nessa equação dos juros altos. O BC - cujos diretores comumente transitam entre um e outro lado do balcão – não age com a rmeza e a presteza necessárias nesse front. Ape- nas ontem, por exemplo, divulgou uma tabela clara com as taxas médias de juros cobradas pelos bancos em algumas das principais modalidades de empréstimo. Se a batalha do “spread” estimular o BC a ampliar e acelerar iniciativas do tipo, viva a batalha. (1) FONTE: Editorial do jornal “Folha de São Paulo”, de 06/02/2009, página 02. A tendendo a solicitação de nossos leitores o “O Jornal Cooperati- vista” a partir da Edição nº 61 terá nova apresentação passando do tamanho 31 cmx28,5cm para 31 cmx21,5cm, com novo Layout, e um aumento de 16 para 20 páginas. A Linha Editorial do Jornal permanece trazendo inúmeras matérias sobre a doutrina, losoa, história e o desen- volvimento do Movimento Cooperativista em todos os países com maior enfoque no Brasil, priorizando o Ramo Crédito. Também continuaremos a publicar matérias atuais sobre a Economia e a crise Financeira que atingiu duramente países do 1º mundo em 2008 e 2009 com sérios reexos no Brasil e outros países em desenvolvimento. Trazemos ainda neste número boas notícias como a inauguração da Nova Sede do SICOOB CENTRAL AMAZÔNIA prevista para o dia 24/04/2009 e sugerimos aos leitores que vale a pena ler com atenção o artigo sobre a “História das Sedes da Central” nas págs. 10 e 11. Nova Sede da Central

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Jornal cooperativista

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JORNALJORNALCOOPERATIVISTACOOPERATIVISTA

Janeiro e Fevereiro de 2009Ano XIV • Nº 61

ÍNDICE

Editorial

Editorial ................................................................... CapaNova Sede da Central ............................................... CapaA Batalha do “SPREAD” ........................................... CapaEducação e Nova Economia ............................. Pág. 2 e 3O Progresso do Homem ......................................... Pág. 3Reforma Agrária e Cooperativismo ......................... Pág. 4Precursores e Pioneiros ......................................... Pág. 4Cooperativismo Utópico e RealidadeCooperativista ........................................................ Pág. 5Auto-Regulamentação ...................................... Pág. 6 e 7Reflexão sobre a pesquisa de alguns números ........ Pág. 8Quadro Demonstrativo dos Valores ......................... Pág. 8Informativo do S.E.R. ............................................. Pág. 9História das Sedes ....................................... Pág. 10 e 11Curso Intensivo ............................................ Pág. 12 e 13A Fantasia dos Bancos ......................................... Pág. 13As Cooperativas de Crédito .......................... Pág. 14 e 15Um Padre e o Iniciador do Cooperativismo ........... Pág. 16Leis de Cooperativas .................................... Pág. 16 e 17Associativismo e Cooperativismo na DSI ...... Pág. 18 e 19Dominox .............................................................. Pág. 20Bandeira Atual do Cooperativismo ........................ Pág. 20

Órgão de divulgação

A Batalha do “SPREAD” (1)

Em inglês, o termo signifi ca extensão, difusão, abertura. Recrutado no dialeto peculiar da fi nança, foi deslocado para expressar uma distância entre valores, uma margem. Designa, por exemplo, a di-

ferença entre a taxa que um banco paga ao aplicador e a que cobra de quem toma o recurso emprestado.O “spread”, por obra da crise, volta ao centro do debate nacional sobe o nível dos juros, discussão que há vários anos tenta decifrar um duplo enigma. Por que os juros básicos no Brasil são bem mais altos que os praticados em economias semelhantes? Por que as taxas do tomador fi nal embutem margem tão elástica, o que torna a comparação global ainda mais desfavorável ao país?Num lance ao mesmo tempo astuto e oportuno, o Banco Central tenta desviar parte das críticas a respeito para os bancos comerciais. Foram eles, afi nal, que aumentaram os “spreads” em meio ao estrangulamento do cré-dito, quando as autoridades agiam no sentido contrário. Na defensiva, os bancos dizem que baixar o “spread” é complexo, e que a margem é alta no Brasil por conta do peso excessivo dos impostos e da inadimplência. Taticamente, nada falam dos estrondosos lucros que aufe-rem, chova ou faça sol, as grandes casas bancárias brasileiras.É necessário, certamente, reduzir a tributação que onera demasiadamente os empréstimos no Brasil, bem como avançar na modernização, legal e burocrática, dos sistemas que dão garantias ao credor em caso de calote. Mas é inegável o peso da oligopolização bancária, que resulta em défi cit crônico de competição, nessa equação dos juros altos.O BC - cujos diretores comumente transitam entre um e outro lado do balcão – não age com a fi rmeza e a presteza necessárias nesse front. Ape-nas ontem, por exemplo, divulgou uma tabela clara com as taxas médias de juros cobradas pelos bancos em algumas das principais modalidades de empréstimo.Se a batalha do “spread” estimular o BC a ampliar e acelerar iniciativas do tipo, viva a batalha.

(1) FONTE: Editorial do jornal “Folha de São Paulo”, de 06/02/2009, página 02.

Atendendo a solicitação de nossos leitores o “O Jornal Cooperati-vista” a partir da Edição nº 61 terá nova apresentação passando do tamanho 31 cmx28,5cm para 31 cmx21,5cm, com novo Layout, e

um aumento de 16 para 20 páginas. A Linha Editorial do Jornal permanece trazendo inúmeras matérias sobre a doutrina, fi losofi a, história e o desen-volvimento do Movimento Cooperativista em todos os países com maior enfoque no Brasil, priorizando o Ramo Crédito.

Também continuaremos a publicar matérias atuais sobre a Economia e a crise Financeira que atingiu duramente países do 1º mundo em 2008 e 2009 com sérios refl exos no Brasil e outros países em desenvolvimento.

Trazemos ainda neste número boas notícias como a inauguração da Nova Sede do SICOOB CENTRAL AMAZÔNIA prevista para o dia 24/04/2009 e sugerimos aos leitores que vale a pena ler com atenção o artigo sobre a “História das Sedes da Central” nas págs. 10 e 11.

Nova Sede da Central

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2 Jornal Cooperativista

JORNAL COOPERATIVISTAÓrgão de divulgação da Central das

Cooperativas de Crédito do Estado do Pará- Sicoob Central Amazônia

Av. Conselheiro Furtado, 1693Nazaré - Belém/PAFone: 3323-9900

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CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃODiretor-presidente:

Valdecir M. Affonso PalharesDiretora administrativa:

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Annye do Socorro Andrade Nery PamplonaEvilásio Pamplona Beltrão Filho

COOPERATIVAS FILIADASCOOPERUFPA (3212-4577) – [email protected];COOMINAGRI (3236-3677) – [email protected];

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SICOOB FEDERAL (3274-0211) – [email protected];

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COOPERAÇÃO (4005-7852) – [email protected];SICOOB-EDUC (3249-2808) – [email protected];

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REDAÇÃORevisão e planejamento:

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Fotos: Estúdio São Lucas (Luiz)

IMPRESSÃOYamato Press Gráfica e Editora

Fone/Fax: (91) 3276-1148Tiragem: 1000 exemplares

educadores, quer no ensino presencial, quer no ensino à distância.Ora, já em 1932 o Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, subscrito por expressivos intelectuais da época (Fernando de Azevedo, Anísio Teixeira, Cecília Meirelles, Roquete Pinto, Menotti Del Picchia, Afrânio Peixo-to, Lourenço Filho e outros) recomendava a complementação do ensino por jornais, rádio e cinema, além de biblioteca.Esses recursos e outros posteriores, entretanto, têm sido muito pouco incorporados ao ensino da maioria das escolas públicas e privadas brasileiras. Assim, parece fi cção imaginar-se que o corpo docente e discente, da quase to-talidade das escolas brasileiras, consigam, um dia, consultar livros eletrônicos (e-books) de Universidades brasileiras e estrangeiras, de-bater ou participar de workshops com colegas distantes, via internet, usando multimídia/me-gamídia móveis, portáteis, com recursos de voz, imagem, dados e textos – tudo acessado em qualquer momento e de qualquer lugar.Novas tecnologias, nova pedagogia.Como se tem comentado frequentemente, a navegação na Internet abre um horizonte quase infi nito ao eliminar as barreiras da dis-tância e do tempo, facilitar contatos interpes-soais e trocas de experiência entre pessoas e instituições de ensino e de pesquisa dos mais diferentes países e continentes.Esses fatos estimulam o questionamento das políticas educacionais e a busca de postura crítica e de nova pedagogia diante do rápido avanço tecnológico.Atualmente, o foco do ensino passa a se con-centrar no conhecimento construído dia a dia, na informação interpretada e processada, na busca de soluções alternativas para diferentes cenários. Amplia-se a consciência social e po-lítica sobra a importância do papel da escola na sociedade, analisando-se as necessidades culturais e pedagógicas dentro de uma ação educativa dinâmica e transformadora.Assim, o “diploma” deixa de ser o “grande” motivador dos jovens porque não é mais “ga-rantia” de emprego, nem de status social. O professor não é mais considerado uma espécie de “banco de dados”, um produto e reprodu-tor de cultura – ele é, sobretudo, um comuni-cador-orientador que ajuda o aluno a inter-pretar informações e a resolver problemas.Redes de alta velocidade com capacidade para transmitir sons, dados, imagens e vídeo, “sa-las virtuais” para aulas, workshops, debates, e outras atividades via internet, aproximam professores de vários países.Assim, por exemplo, o programa Partnership in Global Learning (Parcerias para o Ensi-no Global), que partiu do Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade da Fló-

Até hoje, apesar das grandes transfor-mações tecnológicas e econômicas que afetam o mundo, os métodos e as

técnicas de ensino no Brasil mudaram pouco. Diz-se que quase nada se agregou à sala de aula. Na maioria das escolas públicas e parti-culares, o ensino continua limitado ao quadro negro e à fala de professor. Somente umas poucas instituições de alto padrão, voltadas para os segmentos sociais de maior renda, colocam novas tecnologias de comunicação e de informação à disposição de educandos e de

Educação e a Nova Economia (1)

rida, usa a Internet e outras tecnologias de comunicação para elaborar material didático, destinado a escolas secundárias do mundo. Na primeira fase, professores e pesquisadores de Universidades Norte-Americanas, mexica-nas e brasileiras (FGV-SO, PUC-Rio e UNI-CAMP) desenvolvem matérias de currículos do ensino básico na Web, nas áreas de econo-mia, biologia, química e física. Nestas áreas, consideradas de grande importância para o trabalho em uma economia global cada vez mais dependente de computadores, há escas-sez de material didático destinado a cursos à distância, inclusive em inglês.Outro exemplo são os pacotes de ensino es-truturado, destinados a alunos problemáticos de segmentos sociais carentes, que vivem em áreas urbanas deterioradas e perigosas. Sem entrar no mérito das críticas ao ensino estrutu-rado, o fato é que nos EUA destacam-se dois programas: Success for All, proposto por Ro-bert Slavin, da Universidade Johns Hopkins, que cuida de metódico treinamento de profes-sores para a utilização do material produzido; e Direct Instruction, liderado por Doug Car-mine, que também cuida do preparo dos mes-tres para rigoroso cumprimento do programa.No Brasil há dois programas semelhantes: um deles, de iniciativa da Câmara Americana de Comércio, prepara material didático e trei-na professores para utilizá-los no ensino de alunos com difi culdade de aprender, em qua-tro cidades da periferia de São Paulo. Outro programa – Acelera Brasil, patrocinado pelo Instituto Ayrton Senna – destina-se a alunos repetentes, colocados em turmas especiais, cujos professores usam métodos e material didático especialmente desenvolvido.No caso do Brasil, pergunta-se quando o avanço tecnológico será colocado a serviço do ensino. A este desafi o junta-se outro mais antigo, que é escassez de recursos para a área da educação, em todo o País, mas sobretudo nas regiões mais carentes do país.Enquanto isso, a Cúpula da União Européia fi xou o ano 2001 como limite para a informa-tização de todas as crianças de seus 15 paí-ses, e 2005 para seus mestres dominarem a tecnologia do ensino na era da Internet. Isto signifi ca que a distância social entre os países emergentes tende a ser cada vez maior...É claro que os Poderes Públicos brasileiros, incumbidos de planejar o desenvolvimento do País, têm grande parcela de responsabili-dade porque nunca priorizam o ensino como a parte mais importante da estratégia de di-namização da economia. Aliás, políticos e governantes, no afã de dar visibilidade aos seus atos para mostrar “serviço” aos leitores, preferem promover a construção de estradas, hidrelétricas, barragens... grandes obras para

Diva B. Pinho (2)

“A chave para a liderança da Nova Economia é a valorização social dos trabalhadores do conhecimento”.“A Revolução da Informação é, na realidade, uma revolução do conhecimento desencadeada pelo computador”.

Peter Drucker

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3Jornal Cooperativista

10ªefeito de demonstração... Nas últimas déca-das, sobretudo, têm dado ainda menor aten-ção às políticas educacionais e aos problemas do ensino, apesar do aumento dos índices de repetência, de evasão escolar e de analfabe-tismo (sem a inclusão do aumento dos anal-fabetos por desuso...). Aliás, nossos índices na área educacional são péssimos até mesmo quando comparados com outros países menos desenvolvidos que Brasil.Os países enriquecem porque combinam o uso do capital físico (ou aptidões físicas, isto é, máquinas, equipamentos, computadores, etc) com o capital humano (aptidões intelec-tuais, conhecimento, manejo de atividades es-pecífi cas, ou seja, pessoas com escolaridade, formação educacional e treinamento).O capital intelectual torna-se cada vez mais importante que o capital físico. Daí Gary Ba-cker, prêmio Nobel de Economia em 1992, afi rmar que negligenciar a educação não é só jogar fora um dos motores do desenvolvimen-to – é jogar fora o melhor motor.Alguns especialistas em economia da educa-ção observam que o desempenho do Brasil não é muito ruim quando considerado somen-te do ponto de vista de acumulação de capital

físico destinado às escolas. De acordo com economistas da FGV-Rio, o que mais pesa ne-gativamente não é tanto a infra-estrutura, mas sim a precariedade do ensino. No mesmo sen-tido, Paes de Barros observa que desenvolvi-mento no Brasil sempre foi sinônimo de es-tradas, fábricas e obras, mas nunca de escolas.Na época atual, a Nova Economia, com a ex-pansão do comércio eletrônico e a extraordi-nária valorização das ações das empresas de tecnologia, chama as atenções dos políticos e dos educadores sobre a importância do capital humano, da criatividade, das idéias e da edu-cação voltada à solução de problemas.Todavia, um país de contrastes, como o Brasil, ainda apresenta uma enorme massa da popu-lação com reduzida, ou quase nenhuma esco-laridade, e uma pequena elite com formação profi ssional comparável à do Primeiro Mundo – problema que se refl ete no mercado, na de-sigualdade salarial e na precária distribuição de renda. Esta situação só poderá mudar com a difusão do ensino, já que segundo dados de pesquisas, cada ano de estudo acrescenta, em média, 16% ao salário dos trabalhadores.Então, expandindo-se ensino de alto padrão, em todos os níveis, inclusive com a utilização

dos meios tecnológicos de comunicação da Nova Economia para se chegar a todo o país, o Brasil estará preparando recursos humanos para a promoção do desenvolvimento econô-mico e social. Estará valorizando o capital mais importante, que é o capital intelectual. E como disse Backer, não estará jogando fora o melhor motor do desenvolvimento.Cf. Peter Drucker, o Futuro já Chegou, Exa-me, ano 34, n.6, 22/03/00, edição 710, p.118.Cf, Peter Drucker, idem, ibidem.Samuel Pessoa, Pedro Cavalcanti Ferreira e João Victor Issler, citados por André Lahóz, Dever de Casa, Revista Exame, 05/04/2000, p.174.Idem, ibidem.Além de melhor a situação no mercado de tra-balho, outros importantes ganhos decorrem da alta escolaridade. Assim, por exemplo, quando a mãe tem mais anos de estudo, da família apresenta menos problemas de saúde e melhor padrão de higiene, de consumo ali-mentar e de educação, e o número de fi lhos é menor.

(1) FONTE: http://www.divabenevidespinho.ecn.br(2) DIVA B. PINHO; é economista, advogada, profes-sora titular da FEA/USP, escritora e pesquisadora.

Em 1650, o alemão Otto von Guericke descobriu que a luz era produzida pela eletricidade ou por uma excitação elé-

trica. Demonstrou sua tese friccionando com a mão um globo de enxofre que rodava rapi-damente, produzindo então uma luz fraca. Por volta de 1706, o inglês Francis Hauksbee, ins-pirado nesta descoberta, usou uma esfera de vidro, que girava e, através de fricção, gerava uma descarga elétrica; obteve desta forma, pela primeira vez, a luz elétrica.Em 1802, Sir Humphry Davy demonstrava que fi os de platina e outros metais podiam ser aquecidos até tornarem-se eletricamente incandescentes, fornecendo luz por algum tempo. Em 1809, usou uma bateria que fazia passar a corrente através de dois pequenos bastões de carvão, produzindo uma luz bri-lhante em forma de arco, no que passou a ser chamado lâmpada de arco.Durante o século XIX, o desenvolvimento da lâmpada de arco e da lâmpada incandescente foi paralelo. Em 1941, o inglês Frederick de Moleyns obteve a primeira patente da lâmpa-da incandescente, feita com uma esfera de vi-dro e fi lamentos de platina ligados por carvão. A luz era produzida pela passagem da corrente pelos fi lamentos e conseqüente aquecimento do carvão. No entanto, esta lâmpada enegre-cia rapidamente e tinha vida curta. Enquanto isso, a lâmpada de arco era desenvolvida por Thomas Wright e patenteada em 1845.

O Progresso do Homem (1)

A Lâmpada ElétricaIsaac Asimov (2)

Ainda nesta época, muitos outros cientistas tentaram produzir a iluminação elétrica em bases práticas e comerciais, e em 1857 era concluída em Dungeness, Inglaterra, a pri-meira instalação comercial da lâmpada em arco.Em 1872, o físico russo Alexandre Lodugui-ne fez uma lâmpada com fi lamento de grafi te. Suas lâmpadas chegaram a ser instaladas em São Petersburgo, mas não foram aprovadas em vista de seu alto custo e baixa qualidade.Em 1876, o engenheiro russo Paul Jablochkiv inventou um tipo de lâmpada que levava o seu nome e que marcaria época na história da iluminação, chegando a ser usado em grande escala comercial.Antes que Thomas Alva Edison patenteasse, em 1880, sua lâmpada incandescente com fi lamentos de carbono, muitos cientistas já tinham produzido sistemas satisfatórios de iluminação incandescente, destacando-se en-tre eles Sir Joseph Wilson Swan.O aperfeiçoamento decisivo da lâmpada in-candescente é devido aos trabalhos de Edison e Swan, mas o invento é normalmente atribu-ído a Edison. Seu primeiro sistema completo de iluminação foi demonstrado em 1879, e a primeira instalação comercial do equipamen-to foi realizada em maio de 1880, no navio Colúmbia. Esta instalação consistia de 115 lâmpadas e funcionou com êxito durante 15 anos. Em 1881, uma fábrica de Nova Iorque

era iluminada pelo sistema de Edison e o su-cesso da lâmpada era assegurado.Começava então a procura de fi lamentos mais efi cientes. Na Alemanha, W. H. Nerst paten-teou vários deles e Wlsbach inventou a pri-meira lâmpada com fi lamentos de metal, mas o ósmio nela empregados era muito caro e a lâmpada desapareceu com o surgimento dos fi lamentos de tungstênio em 1907. Outras ten-tativas ainda foram feitas, mas o tungstênio provou ser imbatível em termos de efi ciência e economia, e a sua aplicação passou a repre-sentar o maior avanço obtido no campo da iluminação incandescente.Em 1913, o americano Irving Langmuir de-senvolveu um processo em que usava gases inertes dentro do bulbo da lâmpada, que retar-davam a evaporação do fi lamento, aumentan-do portanto a sua efi ciência. Inicialmente foi usado o nitrogênio puro e depois misturado com argônio, conforme a voltagem.As lâmpadas com fi lamento de tungstênio fo-ram aparecendo numa enorme variedade de formas e tamanhos para todos os fi ns e, em 1935, já era possível encontrar desde a lâm-pada tradicional, em forma de pêra, até a de forma tubular.

(1) FONTE: Coleção Gênios da Pintura. Editora Blo-ch, 1974.(2) ISAAC ASIMOV; era cientista judeu – americano e escritor.

15ªPARTE

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4 Jornal Cooperativista

Precursores e Pioneiros (1)

Aluízio Ribeiro da Silva (2)

Se eles se encontrassem aqui, nesta hora, com as suas fi sionomias graves de chefes de família, trajando a sóbria indumentá-

ria da época, sedimentados de experiência e retratando nos olhos a têmpera combativa que o mundo inteiro hoje reverencia, mãos pesadas do trato diurno do trabalho, nas fábricas e nas ofi cinas, cheios de responsabilidades e encar-gos em contraste com os seus bolsos vazios de pobres operários, - se eles se encontrassem aqui, nesta hora, após um século vitorioso de suas idéias, vivíssimos em nosso presente, mais atualizados talvez mesmo do que o tenham sido no seu, certo lhes surpreenderia o quanto lhes haveríamos de manifestar do nosso profun-do sentimento de respeito e admiração, pelo exemplo de solidariedade social que legaram ao mundo, ao transplantarem para o terreno das práticas realizações as mais nobres virtudes do auxílio mútuo, do associacionismo, do primado do interesse coletivo, no uso da velha sabedoria de que eles foram mestres e que nos assegura o homem isolado como sendo uma fi cção sem realidade possível.Quero me referir, assim, neste exórdio, aos “Probos Pioneiros de Rochdale”, como são mundialmente conhecidos os vinte e oito operários tecelões ingleses, fundadores do Cooperativismo em sua essência de sistema econômico-social, sem esquecer os gênios de Fourier, na França, Robert Owen, na Inglaterra, Mazzini na Itália e Schulze-Delitsch, na Ale-manha, os precursores da doutrina, nomes estes não menos dignos do nosso profundo respeito e admiração.O homem, animal social, por excelência, no dizer de Aristóteles, sempre viveu, vive e não pode deixar de viver senão em sociedade. Até mesmo a pré-história, se a tanto quisermos re-troceder, conta-nos que eles habitavam escusas cavernas e precaríssimas palafi tas, mas sempre reunidos em grupos, já nos afi rmando em tão

prístinas eras o indefectível instinto social de nossa espécie. Contundo, que tão fácil seja compreender a fórmula do velho peripatético da Grécia, não seria do mesmo modo praticá-la na extensão do seu conceito.Vida social, na plenitude da verdade axiomá-tica enunciada, supõe, precípuamente, interde-pendência social, muito além do gregarismo natural que nos é peculiar. Requer interação necessária, associação, entreajuda, que expri-me em grau mais elevado não ser a sociedade simples fato de natureza ou fato físico, mas sim o produto da tendência instintiva da sociabili-dade humana, racionalizada para a consecução dos seus fi ns superiores.Assim é que a compreenderam tão bem aque-les modestos operários de tão poucas luzes, mas tão soberbos de sentimento humano e de razão, ao fundarem nos arrabaldes de Londres, na segunda metade do século passado, sua his-tórica. “Sociedade dos Eqüitativos Pioneiros de Rochdale” para se projetarem perante os seus pósteros como os símbolos da cooperação uni-versal.Sofremos vexames fi nanceiros, em conse-qüência da baixa de salários e do desemprego, constituíram-se em sociedade para realizarem entre si um “benefício pecuniário” e melhorar as suas condições domésticas e sociais; para isso, valendo-se de um capital constituído de quotas de uma libra esterlina, fariam com que a sociedade colocasse em prática as seguintes providências: abrir um armazém para forne-cimento de gêneros, vestidos, etc.; comprar ou edifi car um certo número de casas para os sócios que desejassem auxiliar-se mutuamente para melhorar suas condições domésticas e so-ciais; iniciar a fabricação de produtos que a so-ciedade julgasse convenientes, para aí empre-gar os sócios que se encontrassem sem trabalho ou os que sofressem repetidas diminuições de

salário; afi m de dar aos sócios mais segurança e bem estar, a sociedade adquiriria ou arrendaria uma certa área, para ser cultivada pelos que se achassem sem trabalho ou pelos que tivessem seus salários mal remunerados; assim que fosse possível, a sociedade procederia à organização das forças de produção, de distribuição, de edu-cação e de sua própria administração, ou seja, estabeleceria uma colônia em que os interesses fossem comuns.Como princípios fundamentais da organização, os Pioneiros estabeleceram estas quatro regras:1ª Vendas das mercadorias ao preço da praça;2ª Devolução dos proventos aos associados em proporção às compras que cada qual realizar;3ª Administração de acordo com os princípios democráticos;4ª Vendas a dinheiro de contado.Eis, na simplicidade dessas linhas, que encer-ram tanta clareza e tão elevadas fi nalidades, como foi delineado o programa da primeira cé-lula cooperativista surgida no mundo.Nasceu assim o Cooperativismo, sem compli-cações teóricas, isento de fórmulas abstrusas, presidido apenas por simples regras de bom senso, as quais, pelo valor de seus ensinamen-tos, ainda hoje se conservam em qualquer co-metimento de são cooperativismo que tenha por lema o verdadeiro espírito da disciplina so-cial na distribuição democráticos e igualitários.Pelo cérebro de simples operários a humani-dade auferiu esta dádiva que viria em nossos dias infl uir nos destinos de todas as nações civilizadas, reunindo milhões de seres huma-nos na prática salutar da solidariedade de que deriva o bem estar e o progresso.

(1) FONTE: Cooperativismo: Serviço de Assistência ao Cooperativismo / Departamento de Agricultura, Teresina – PI, ANOS 50, século XX.(2) ALUÍZIO RIBEIRO DA SILVA, era técnico do SAC/D.A do Piauí.

Esboça-se, no país, um movimento em prol da reforma agrária, como meio de solucionar os graves problemas sócio-

econômicos nacionais.Evidentemente, as causas do nosso atraso, de um país subdesenvolvido, repousam no siste-ma arcaico do trabalho agrícola que é realizado nos moldes feudais que não permitem à grande massa camponesa trabalhar à terra produtiva e devoluta, causando, deste modo, a miséria en-tre milhões de brasileiros. E, consequentemen-te, o nosso desenvolvimento econômico conti-nua atrofi ado, sendo paliativas as medidas que até hoje vêm sendo tomadas no combate ao seu atrofi amento...A reforma agrária é uma solução que se impõe como medida de salvação nacional, contanto que a terra seja cultivada, com o auxílio, inclu-sive, dos poderes públicos.À base da doutrina cooperativista – que deve ser difundida, sem mais demora, em todo o ter-

ritório nacional -, a reforma agrária dentro em pouco tempo trará resultados impressionantes, criando condições especiais para que o Brasil se veja livre da infl uência dos trustes nocivos à nossa independência econômica e política.No sistema cooperativista existe uma nova so-ciedade, onde os interesses são comuns. Os fi ns morais do cooperativismo estão assinalados nas regras de prestação de serviço à coletivi-dade associada, e porque não dizer à coletivi-dade em geral, elevando a pessoa humana no seu mais alto valor, segundo a sua capacidade de trabalho, quaisquer que sejam as classes e condições sociais.O sentido social do cooperativismo “se expres-sa no seu elevado objetivo de reunir o homem sob a bandeira da simpatia, da solidariedade e da ajuda mútuas, ensinando-lhes, por intermé-dio dos interesses econômicos e fi nanceiros, a prática perfeita da ciência das relações huma-nas, cujo segredo repousa no princípio univer-

(1) FONTE: Anuário Cooperativista do Nordeste Bra-sileiro, 1959, página 196.

Demócrito Silveira (2)

Reforma Agrária e Cooperativismo (1)

sal da colaboração sincera e permanente pelo pensamento, pela palavra e pela ação”.Num país como o nosso, cujas bases econô-micas se fi rmam no campo, sob o regime do latifúndio, a reforma agrária implantada com a anuência da doutrina cooperativista será uma verdadeira revolução econômico-social. Será um avanço não de cinqüenta anos, mas de sé-culos na estrutura política econômica social brasileira.Até que chegue a almejada reforma agrária, preparemos o nosso povo, principalmente os que mourejam no interior do Brasil, ensinando-lhes os fundamentos do Cooperativismo, dou-trina que poderá salvar o país do caos em que se acha submergido.Recife – Maio, 1959.

Page 5: Jornal Sicoob Central

5Jornal Cooperativista

Cooperativismo Utópico e Realidade Cooperativista (1)

Aderbal Galvão

De certo, não há um cooperativismo utópico. Toda doutrina rochdalea-na é o resultado de uma afi rmação

de vida, de uma angústia social, de um de-sejo de fi rmar uma personalidade integral.Imagina-se vencer o individualismo, como condição de empobrecimento entre os ho-mens. Tudo o que o cooperativismo tem feito através dos seus sadios postulados, é buscar tirar o indivíduo, desse mórbido isolamento, desse amargo egocentrismo, responsável por tantas angústias.Se algumas vezes sentimos o utopismo da doutrina é porque ela se fundamenta na re-alidade dos desejos. Os homens querem o cooperativismo como solução milagrosa na resolução dos seus problemas. Assim, ele se torna utópico, porque não chega a ser varinha mágica de Moisés, fazendo jorrar água dos adustos rochedos.Utopismo é sonho que se fundamenta numa realidade – mas que os homens preferiram que como sonho continuasse, pela má fé es-condida nos seus desejos.Os princípios fundamentais da doutrina são de uma simplicidade comovente. Não con-vém invoca-los.Sabemos que o cooperativismo assenta se nos princípios da ajuda mútua. Não é o esforço isolado quem o orienta. É a soma dos esforços. Isso é seu grande segredo, sua fi losofi a. Os que seguem essa diretriz atingem o alvo desejado – os que a despre-zam – tornam o cooperativismo, dolorosa utopia.Para que o cooperativismo possa atuar com precisão mister se faz encontrar a re-ceptividade desejada. Fundar cooperativas é obra de rotina, é pura materialidade. Fa-zer essa cooperativa funcionar, é diferente. É preciso ambiente, senso de responsabili-dade, espírito de renúncia, vontade de ser-vir e, acima de tudo – espiritualidade.O Cooperativismo, como foi imaginado pe-los Pioneiros, visava resolver o problema de um grupo angustiado. Hoje, cresceu, seu mundo tem a amplitude da própria an-gústia da humanidade, pois já não se trata de uma conjuntura doméstica, ao contrá-rio, há uma imensa coletividade ansiando por um lugar ao sol.Sem dúvida, os homens de Rochdale, pre-viam a imensidade dessa angústia... e, aí está o cooperativismo desafi ando a própria indiferença humana.

(1) FONTE: Anuário Cooperativista do Nordeste Bra-sileiro, 1959, página 195.

COOPERATIVISMO E NÍVEL DE VIDA

“O Cooperativimo é um dos me-lhores meios para elevar o nível de vida, dos povos de economia

pouco desenvolvida”.

Quando surge um atropelo, um problema sem solução, um estado de desespero – o cooperativismo aparece como o último ar-gumento capaz de criar novas esperanças. Aí, todos sentem a necessidade de uma renovação de esforços. A velha e debatida história do “feixe de varas” é invocada... e sempre aparece atual. Um por todos... todos por um... gritam pateticamente aqueles, que até então viviam para si somente.É que o cooperativismo tem uma profun-didade admirável, nele se esconde as boas emoções humanas que só aparecem nos momentos de desespero. É a história das grandes angústias que se repete... encon-trando o desfecho dos seus problemas na cooperação.Assim foi na luta das cavernas, assim tem sido nos grandes cataclismas humanos, as-sim será, em toda hora em que o homem sentir a que intensidade do seu egoísmo, em tormento se transforma.O Cooperativismo é doutrina utópica quando se imagina que a lei que o regula-menta é capaz de pô-lo em funcionamento, sem o esforço de todos.É utópico, quando o oportunismo invade suas fi leiras, quando o desejo de lucro vive na comédia das falsas espiritualidades.É utópico, quando os governos tentam es-tabelece-lo como planifi cação de gabinete.É utópico pela irrealidade dos planos con-cebidos na má fé dos ambiciosos.Como tudo, que caminha na vida, em bus-ca da perfeição, o cooperativismo não pode existir sem o aprimoramento dos instintos.Durante o curto espaço de tempo que tive a honra de dirigir o “DAC” pernambucano, conheci de perto esse cooperativismo utó-pico e real.Dizer como se processa é gastar palavras.O utópico pode ser apreciado através de

instituições que ainda não se encontraram com a doutrina.São cooperativas imensamen-te domésticas, sem nenhum sentido público. Organismos fechados que se gastam na es-terilidade dos problemas indi-viduais.Umas foram criadas pelo “ide-alismo” dos teóricos, outras – não passaram de simples ma-nifestações egoísticas, onde

seus fundadores pensaram em si... invocan-do a idéia de coletividade, sustentáculo do sistema.O cooperativismo “real” vence as barreiras do individualismo e se projeta no meio so-cial e econômico, como suprema manifes-tação do desejo de servir e ser servido.Tem crédito e se desenvolve... sempre criando condições de confi ança. Todos acreditam na sua cooperativa, porque ela representa um anseio coletivo.Não há, os chamados “donos” ostensivos, e se os que a dirigem “se perpetuam no po-der” é porque são devotados e a permanên-cia de cada um é mais um sacrifício... que negócio rendoso.Em síntese fi nal:O Cooperativismo utópico envergonha a doutrina e o real nobilita o sistema, porque lembra a história dos legendários Pionei-ros de Rochdale.

ACREDITAMOS EM MENOS

COOPERATIVAS E MAIS

COOPERATIVISMO

Page 6: Jornal Sicoob Central

6 Jornal Cooperativista

“Auto-Regulamentação e o Papel de Supervisão das Cooperativas Centrais” (1)

Louis Pare (2)

O CASO DO MOVIMENTO DESJARDIN:

Desjardins: Uma Aliança Efi caz e Duradoura para a Segurança Financeira da Rede

O MCD (Mouvement des Caísses Desjardins) é um claro exemplo de sistema cooperativo onde aparecem

as vantagens para o sistema regulador da in-tegração com os supervisionados, com uma visão de colaboração ativa, em que cada um tem a responsabilidade de administrar suas atividades de forma segura e prudente.O Mouvement des Caísses Desjardins tem a participação de mais de 5,5 milhões de homens e mulheres em todo o Canadá, con-centrados principalmente na província de Quebec, onde já engloba 65% da população. A rede tem quase 1.300 pontos de serviços, que pertencem a mais de 600 cooperativas de crédito e administra US$75 bilhões.Normativa Prudencial e Marco JurídicoEm relação à regulamentação fi nanceira, as cooperativas de crédito Desjardins estão su-jeitas às mesmas regras aplicadas aos bancos canadenses.Por lei, a Autorité des Marchés Financiers (AMF) [“Autoridade do Mercado Finan-ceiro”] tem a obrigação legal de regular e supervisionar as cooperativas de crédito ou “caísses”, segundo a lei canadense: “Direta-mente ou realizada em seu nome.” A AMF tem, essencialmente, três tipos de poder: emitir ordens e mandados e realizar admi-nistração temporária. Todos os anos, a AMF tem a obrigação de relatar ao Ministro sobre a situação das cooperativas de crédito e sua federação.No caso do Mouvement Desjardins, pratica-mente desde o princípio das “caísses”, elas estão sujeitas à supervisão governamental desde a década de 60, mas a AMF sempre re-conheceu o papel da Federação como órgão responsável pelo cumprimento da regulamen-tação e supervisão das cooperativas. Dessa forma, a Federação é encarregada de realizar todo o trabalho descrito até agora.Relações entre a AMF e o Mouvement DesjardinsA MEF se reserva o direito de manter ou li-mitar os poderes de supervisão da Federação e, por essa razão, a Federação procura manter altos padrões de qualidade e efi cácia no exer-cício de suas funções, bem como um relacio-namento direto e permanente com o órgão geral de inspeção das instituições fi nanceiras.A missão do Escritório Desjardins de Su-pervisão e Segurança Financeira, órgão res-ponsável dentro do Mouvement Desjardins, é proteger os ativos dos associados e ajudar os líderes eleitos no desempenho de suas respon-sabilidades. Para isso, avalia se as diferentes instituições são administradas de acordo com práticas de gestão prudentes, saudáveis e re-conhecidas, e também se cumprem às regras

vigentes e as normas éticas.Segurança Financeira do Mouvement DesjardinsPara garantir um equilíbrio saudável e dura-douro na rede do Mouvement Desjardins, é aplicado um conceito expandido de segurança fi nanceira, que utiliza diferentes mecanismos e se baseia no princípio da autodisciplina. O efeito combinado desses pesos e contrapesos torna possível lidar com as contradições e com os problemas de execução, enfrentados pelo sistema inteiro quando se utiliza a força.De fato, o conceito de segurança fi nanceira do Desjardins combina os seguintes elementos interdependentes:Normativa Prudencial e Supervisão:Em primeiro lugar, há um marco jurídico que oferece um conjunto de normas prudenciais reguladoras e mecanismos de auditoria para garantir o bom cumprimento.Seguro de Depósitos:No Canadá, os depósitos, tanto nas “caísses” Desjardins como nos bancos, são cobertos por um sistema de seguro de depósitos em nível provincial e federal. Nesse contexto, o sistema canadense de seguro de depósitos desenvolveu um código de boas práticas co-merciais e fi nanceiras, rigorosamente cum-prido pelos líderes eleitos da rede e por todos os gerentes, e serve como base para as normas internas de gestão e monitoramento.Fundo de Segurança:A Corporation du Fonds de Securité Desjar-dins [“Fundo de Segurança Desjardins”] é uma organização da Federação, cujo objetivo é ajudar fi nanceiramente as “caisses” quando há problemas, além de ter também um papel fundamental no monitoramento fi nanceiro. Funciona como último recurso para a Rede, quando a “caísse” já esgotou todas as suas reservas para arcar com eventuais prejuízos resultantes de má-administração, ou por uma situação econômica geral de crise.Capitalização Adequada:A base de qualquer crescimento estável e só-lido é uma boa capitalização. No Desjardins hoje, a taxa de capitalização é de 13%.Boa Administração:É óbvio que nenhuma norma ou mecanismo de supervisão pode substituir uma boa admi-nistração, adequadamente baseada na efi cácia da organização, com controles internos apro-priados e boa rentabilidade.

Lições da Experiência DesjardinsVárias lições podem ser retiradas dessa expe-riência com as “caísses populaires” de Que-bec. Muitas são específi cas àquela realidade, porém algumas podem ser aplicáveis a outros países e outros contextos específi cos das ins-tituições micro-fi nanceiras. Aqui estão algu-mas das principais lições:1. Na base dessa experiência, encontramos a permanente preocupação indicada por Al-phonse Desjardins, o fundador, de proteger, em qualquer situação, a poupança dos mem-bros e de colocar a gestão da “caísse” dentro de um marco jurídico claro, por sua própria iniciativa, mecanismos como a Confederação e o Fundo de Segurança, além do próprio sis-tema de inspeção, muito antes que o governo tomasse medidas nesse sentido. O sistema criado tem pesos e contrapesos que, sem limi-tar a autonomia e a iniciativa local, submete as operações a controles diretos e efi cazes por parte da rede.2. Para que o Governo, particularmente os legisladores, concedam ao sistema cooperati-vo um marco jurídico específi co, é essencial demonstrar uma gestão de alta qualidade e uma disposição inquestionável de cumprir as normas, indo além daquilo que é exigido por lei ou pela autoridade supervisora.3. A efetiva supervisão de um grande núme-ro de instituições autônomas só é viável se houver um alto grau de padronização e um sistema de controle bem estruturado. Além disso, a possibilidade de economias de escala aumenta quando uma unidade central é capaz de realizar essa tarefa.4. A delegação da função de supervisão por parte do inspetor geral, como ocorre em Que-bec, se baseia na confi ança que o Inspetor tem nesse órgão central. Essa confi ança tem que ser conquistada e comprovada dia após dia, por métodos de trabalho rigorosos e efi cazes, acompanhados por ações específi cas, quando houver um descumprimento das normas, real capacidade de agir, quando necessário, são os elementos básicos dessa fórmula operacional.5. Para o governo, essa maneira de aplicar a normativa prudencial oferece numerosas van-tagens. Por um lado, reforça os mecanismos da sociedade civil e desenvolve o sentido de responsabilidade entre os cidadãos. Além dis-so, representa custos mais baixos, porque o inspetor geral se limita a verifi car a qualida-de do trabalho, atuando com base nas infor-mações que lhe são fornecidas. E ainda, não requer nenhuma estrutura para a realização direta do trabalho de supervisão. (3)

Finalmente, esta efi caz aliança entre o órgão regulador e as instituições reguladas não é uma concessão à doutrina cooperativa, mas sim um reconhecimento da força estrutural do modelo fi nanceiro cooperativo, seus esfor-ços e recursos. A experiência do Mouvement

Page 7: Jornal Sicoob Central

7Jornal Cooperativista

O Caso de Supervisão no México

Nos anos 90, os legisladores mexicanos de-cidiram reorganizar o ambiente cooperativo com o objetivo de garantir a segurança dos re-cursos dos depositantes e o desenvolvimento do setor, para assegurar a qualidade e o acesso a serviços fi nanceiros para a população não atendida pelos bancos.Naquele momento, o contexto mexicano apresentava um grande número de coopera-tivas pequenas e grandes, algumas afi liadas a redes e outras não, algumas informatizadas e outras não, algumas com pessoal qualifi cado e outras não, com diferentes situações jurídi-cas (SAPs, cooperativas, uniões de crédito, associações civis, etc.) – uma ampla gama de situações e uma organização extremamente heterogênea.Nesse contexto, o governo queria:1. Garantir a poupança dos depositantes,2. Estimular o crescimento do setor,3. Promover a melhoria da organização do setor.Para isso, as autoridades mexicanas escolhe-ram um modelo de supervisão auxiliar, apoia-do por uma série de medidas para facilitar a adaptação das cooperativas ao novo contexto.Sobretudo, a lei determina que, para aceitar depósitos de poupança do público (ou de membros), a instituição deve ser devidamente qualifi cada pela federação, que realiza as ins-peções. Depois de qualifi cada, a cooperativa adquire a denominação de “Entidad de ahor-ro y crédito popular - EACP” [“Entidade de poupança e crédito popular”].As federações realizam as inspeções nas coo-perativas, aplicando uma grade de numerosas auditorias e procedimentos, e garantindo o cumprimento das exigências governamentais de solvência mínima, estabelecidas especi-fi camente pela CNBV. A supervisão remota é realizada periodicamente, com o envio de relatórios de gestão específi cos para a fede-ração, e o processo se completa com a su-pervisão no local, com visitas de inspetores, que avaliam em detalhes todos os processos utilizados.Os relatórios de inspeção fi cam disponíveis para a CNBV, que é responsável pelo reco-nhecimento do status de EACP, com base nos relatórios de inspeção. A CNBV se reserva o direito de intervir nas instituições.O governo mexicano colocou à disposição das federações signifi cativos recursos humanos e fi nanceiros para a preparação das federações para: 1) criar comitês supervisores e 2) de-senvolver departamentos técnicos de melhor desempenho nas federações, para ajudar as cooperativas a se adaptar às novas exigências.O governo também colocou à disposição das cooperativas primárias empresas especializa-das (DGRV, WOCCU, DID, etc.) para ajudar algumas delas a se adaptar às novas exigên-cias.As normas da CNBV afetam vários aspectos da administração, como gestão de crédito, re-lações com pessoas em posições relevantes, políticas, rentabilidade, capitalização, liqui-dez, controle interno, etc.As práticas implantadas são inspiradas nas

melhores práticas do setor fi nanceiro e coope-rativo, inclusive as adotadas em Desjardins, entre outras. O modelo mexicano é específi co para atender as características do ambiente ju-rídico, cooperativo, técnico e social.Podemos observar as seguintes diferenças entre os modelos mexicano e Desjardins, que são perfeitamente justifi cadas pela diferença nos ambientes em que foram aplicados.No México, as normas são defi nidas pela CNBV, enquanto que em Desjardins, as nor-mas são internas ao Movimento Desjardins, aprovadas pela autoridade do mercado fi nan-ceiro (AMF);No México, há dezenas de comitês de ins-peção ligados a várias federações, mas em Desjardins, há apenas um escritório de super-visão, como também só há uma Federação.Os sistemas de informações de gerenciamen-to são totalmente padronizados em Desjar-dins, enquanto no México, há ainda grande diversidade.Já no México, há um mecanismo que tornou possível identifi car as cooperativas de alto risco e as autoridades enfrentam o desafi o de determinar quais medidas devem ser tomadas nesses casos. O fato de que esses problemas sejam agora conhecidos, identifi cados com precisão e submetidos às autoridades em uma relação de inspeção formal já é um grande passo para a sua solução.Além disso, o esquema permite que as fede-rações desenvolvam seus conhecimentos e aumentem sua capacidade de apoiar as coo-perativas.Devemos ressaltar que o legislativo mexica-no decidiu regular a função de captação de depósitos, em vez de selecionar quem será supervisionado ou não. Todas as instituições que desejem captar depósitos têm que se sub-meter a essa norma.Essa limitação cria também um efeito de “barreira de entrada”, sob a forma de exi-gências em relação à capacidade de gestão e à capacidade de produzir informações e rela-tórios fi nanceiros periódicos para a federação responsável pela supervisão.O custo de implantação desse mecanismo é signifi cativo, obviamente, mas quando se cal-culam os custos históricos e sociais das frau-des e falhas em cooperativas, pseudo-coope-rativas e as assim chamadas de instituições “populares”, fi camos plenamente convenci-dos de que o investimento vale a pena.

Anexo 1: Componentes Desejáveis da Segurança FinanceiraPara criar um bom sistema de segurança fi nan-ceira, que ofereça uma cobertura razoável da rede de instituições micro-fi nanceiras é neces-sário levar em consideração pelo menos os oito componentes relacionados abaixo:

Componente I PRINCÍPIOS SÓLIDOS DE GESTÃO: A rede precisa defi nir os princípios que serão reconhecidos como adequados para uma gestão de riscos prudente e sólida. Esses princípios devem ser claros e respaldados por instrumentos e procedimentos administrativos que facilitem seu cumprimento, inclusive trei-namento de pessoal e revisões periódicas.Componente II CÓDIGO DE ÉTICA: Normas éticas e princípios para a toma de decisões, que

orientem os líderes eleitos e os executivos que desejam trabalhar em um ambiente de gestão sólida e com prudência na aceitação de riscos.Componente III SISTEMA DE CAPITALI-ZAÇÃO: A rede deve ter um mecanismo apro-priado que garanta a capitalização permanente em todos os níveis, e que facilite o acesso a recursos do sistema fi nanceiro para estimular seu crescimento. Esse sistema de capitalização deve levar em consideração a natureza especí-fi ca da instituição e, além disso, satisfazer os critérios de rentabilidade do mercado.Componente IV MECANISMO DE ESTABI-LIZAÇÃO: A criação de um fundo de estabili-zação é uma condição necessária para proteger a rede como um todo, e cada uma das unidades, contra defi ciências na gestão ou problemas no ciclo de negócios. As contribuições a um fun-do desta natureza devem corresponder aos ris-cos assumidos e à capacidade da instituição de administrá-los com prudência. O mecanismo de estabilização é um meio excelente de ofe-recer fi nanciamento e supervisão, reforçando a disciplina de rede. (No Sicoob temos o F.G.S.)Componente V ORGANISMO SUPERVI-SOR DE REDE: É necessário que a função de supervisão seja confi ada a uma instituição de rede, cuja independência política e técnica seja protegida. A agência deve fornecer os re-cursos necessários para que alcance sua missão e confi e nas autoridades legítimas. A eventual implantação de um sistema de supervisão re-mota requer um nível mínimo de consolidação das instituições, particularmente em relação à confi abilidade e qualidade das informações, padronização das operações e plano de con-tas, bem como a consolidação de uma agência central que assuma a responsabilidade pela re-alização das tarefas de supervisão. (No Brasil criamos a CNAC)Componente VI AUDITORIA EXTERNA: A obrigação de se submeter a uma auditoria ex-terna independente torna possível a melhoria contínua das práticas administrativas, e pode reduzir o custo da supervisão. Além disso, os relatórios de auditoria servem para obter reco-nhecimento público e dos mercados fi nancei-ros. (Obs.: No Brasil a cargo da CNAC)Componente VII MECANISMO DE PRO-TEÇÃO DE POUPANÇA: Mesmo que não seja necessário implanta-lo desde o início das operações da rede, um seguro de depósitos contribui para aumentar a credibilidade entre os poupadores e pode representar uma vanta-gem competitiva. (Obs.: No Siccob só temos o FGS)Componente VIII SISTEMA DE INDICA-DORES: A defi nição de indicadores de ren-dimento adaptados à realidade da rede e do mercado fi nanceiro permite que as instituições melhorem suas operações continuamente, por-que dessa forma, podem fazer comparações entre si e com outras instituições. A análise desses indicadores ao longo do tempo, em con-traste com outras experiências, torna possível a criação de sistemas de alerta precoce e, portan-to, contribui para reduzir os custos fi nanceiros. (Obs.: Ainda não temos esse sistema no Brasil)

Desjardins, embora não seja a única, pode oferecer uma solução a esses problemas.

(1) FONTE: Palestra Proferida no Seminário do Banco Mundial e Bacen em Recife-PE, em 21/06/04.(2) LOUIS PARÉ AGRIDA, responsável pelo programa da Divisão da América, Ásia, Europa – Ocidental da DID.(3) Obs.: É exatamente que o Bacen vem fazendo no Brasil nos últimos anos com relação às centrais e suas fi liadas.

Page 8: Jornal Sicoob Central

8 Jornal Cooperativista

(1) FONTE: Pesquisa S.C. CECRESP - Data Base: fevereiro/2009.(2) Obs.: *valor variável a cada mês, de acordo com a normatização de cada Cooperativa Central.

O SICOOB CENTRAL CECRESP em fevereiro de 2009 realizou uma pes-quisa sobre alguns dados referentes

a 13 Centrais do Sistema SICOOB que são apresentadas no quadro abaixo. No referido no quadro observa-se que a Central do Sis-tema com maior Capital Integralizado pelas suas fi liadas é o SICOOB CREDIMINAS com R$ 96.215.996,27 (Noventa e seis mi-lhões duzentos e quinze mil novecentos e noventa e seis reais e vinte e sete centavos) e a menor é o SICOOB CENTRAL NE com R$ 2.332.224,42 (Dois milhões trezentos e trinta e dois mil duzentos e vinte quatro re-ais e quarenta e dois centavos). Em relação ao nº de fi liadas a maior é o SICOOB CEN-TRAL CECRESP com 197 (Cento e noventa e sete) e a menor é o SICOOB ES com 10 (dez). Quanto ao nº de funcionários verifi ca-se que a maior do Sistema é SICOOB CRE-DIMINAS com 201 (duzentos) Empregados e a menor o SICOOB CENTRAL AMAZÔNIA

com apenas 17 (dezessete). Na média de fun-cionários da Central por fi liada a maior é o SICOOB ES com 4,20 e a menor o SICOOB CECRESP com 0,40. Finalmente as colunas 5, 6 e 7 apresentam o custo da Central para ser arcado pelas fi liadas através de rateio, onde pode ser verifi cado que a Central com maior custo é o SICOOB PR com rateio máximo de R$ 99.506,41 (Noventa e nove mil quinhen-tos e seis reais e quarenta e um centavos) uma média de R$ 53.566,85 (Cinquenta e três mil quinhentos e sessenta e seis reais e oitenta e cinco centavos) com um mínimo de R$ 7.566, 85 (Sete mil quinhentos e sessenta e seis reais e oitenta e cinco centavos) para as menores fi liadas. Neste item a Central com menos dis-pêndio máximo de rateio para a(s) maior (es) fi liadas é o SICOOB CENTRAL CECRESP com R$ 8.520,00 (Oito mil quinhentos e vinte reais), porem na média o rateio menor é do SICOOB CENTRAL AMAZÔNIA com R$ 2.174,68 (Dois mil cento e setenta e quatro

reais e sessenta e oito centavos). No rateio mí-nimo para as menores fi liadas também ganha o SICOOB CENTRAL AMAZÔNIA com ape-nas R$ 584,89 (Quinhentos e oitenta e quatro reais e oitenta e nove centavos). É importante salientar que os dados acima apresentados re-presentam apenas em parte a realidade das va-rias Centrais do Sistema SICOOB sendo que outros dados importantes que ali não são apre-sentados poderiam oferecer uma maior ampli-tude desta realidade, tais como: a distribuição das fi liadas das Centrais por nº de Associados, Capital Social, Patrimônio Liquido, Sobras li-quidas nos últimos 5 anos, FATES, Fundo de Reserva, etc. Com outros quadros evidencian-do estes números certamente poderíamos ter uma dimensão mais real da complexidade do sistema.

Refl exão sobre a pesquisa de alguns números das Centrais Integrantes do Sistema SICOOB(1)

(1) Fonte: Matéria escrita para o Jornal Cooperativista em Fevereiro/09 (2) Valdecir M. A. Palhares é Diretor Presidente do Sicoob Central Amazônia

Valdecir Palhares(2)

Quadro Demonstrativo dos Valores de Capital Integralizado, Nº de Filiadas, Nº e Média de Empregados e Rateio das Centrais do Sistema Sicoob em Fevereiro/2009

Centrais, Filiadas a

Confederação Sicoob Brasil

Capital Integr. (R$) pelas Filiadas na

Central

Nº de Filiadas de cada Central

Nº de Funcionários

da Central

Média Func. da Central por

Coop.

Valor do Rateio Máximo (R$)

Pago por uma Filiada

Valor do Rateio Médio (R$)

Pago por uma Filiada

Valor do Rateio Mínimo (R$)

Pago por uma Filiada

SICOOB AMAZONIA

4.955.635,62 22 17 0,77 *11.691,82 2.174,68 *584,59

SICOOB BAHIA 8.413.262,86 25 31 1,24 13.129,55 7.877,73 2.625,91

CECREMGE 25.638.909,78 81 71 0,88 24.732,00 5.500,00 2.377,00

SICOOB CECRESP 22.243.978,27 197 78 0,40 8.250,00 4.624,00 997,25

SICOOB COCECRER

65.141.031,64 21 27 1,29 47.000,00 5.000,00 800,00

SICOOB CREDMINAS

96.215.996,66 97 201 2,07 38.217,51 13.176,23 4.538,88

SICOOB CENTRAL DF

17.100.864,75 19 26 1,37 23.099,81 10.957,41 2.762,04

SICOOB ES 25.234.505,44 10 42 4,20 8.500,00 4.925,00 1.350,00

SICOOB MT/MS 5.222.983,53 17 31 1,82 17.915,48 9.953,04 2.984,72

SICOOB CENTRAL NORTE

6.251.252,00 13 27 2,08 39.195,82 23.640,93 8.086,04

SICOOB CENTRAL NE

2.332.224,42 18 22 1,22 12.783,25 7.222,22 5.332,45

SICOOB PR 10.155.475,01 19 59 3,11 *99.506,41 53.566,85 *7.566,85

SICOOB CENTRAL SC

51.460.008,00 47 41 0,87 *27.000,00 15.000,00 *3.000,00

Page 9: Jornal Sicoob Central

9Jornal Cooperativista

(1) FONTE: Revista Amazonas – Coop da Diretoria do Serviço de Economia Agrícola do Amazonas, ANO 1, nº1, Janeiro à Dezembro/1951, páginas 11 e 12. (2) Obs.: O S.E.R. (Serviço de Economia Rural) per-tencia ao MAPA e foi extinto nos anos 60 do século XX.

Informativos do Serviço de Economia Rural –Ministério da Agricultura

O Cooperativismo nas Escolas de Agronomia (1)

Conforme é do conhecimento geral, o Centro Nacional de Estudos Coope-rativos, do Rio de Janeiro, sugeriu à

Superintendência do Ensino Agrícola e Vete-rinário, do Ministério da Agricultura, expla-nação mais desenvolvido do Cooperativismo nos programas dos cursos de Economia das Escolas Superiores de Agricultura do Brasil. Desse modo, o Cooperativismo teria, em li-nhas gerais, o seguinte plano de aulas: 1) A Economia Clássica, Cooperação e Coo-perativismo. A cooperação na antiguidade; 2) Evolução histórica do Cooperativismo e seus precursores; 3) A experiência de Rochdale e sua repercussão na economia do consumo. O método, a história e os homens de Rochdale; 4) Explanação e discussão dos princípios dou-trinários. Seu caráter democrático; 5) A Eco-nomia Cooperativa. Associação e Empresa. A Wholesale; 6)Tendências históricas e caráter do movimento cooperativo em sua aplicação mundial. A Aliança Cooperativa Internacio-nal. Aspectos social e moral do Cooperati-vismo e as relações inter-cooperativas; 7) As cooperativas de consumo, de crédito e as agrícolas em geral. A teoria da cooperativa de consumo e a Escola de Nimes; 8) Importância atual do movimento, suas perspectivas e pos-sibilidades dentro da economia moderna; 9) O Cooperativismo e o Ensino, relação entre Pedagogia e Cooperativismo e o Ensino, rela-ção entre Pedagogia e Cooperativismo. Coo-perativas Escolares. 10) História e caráter do movimento cooperativo brasileiro. 11) Distri-buição geográfi ca e importância regional das cooperativas brasileiras e as modalidades fl o-rescentes; 12) A legislação especializada, sua evolução e prática no Brasil. A infl uência do Ministério da Agricultura e a atuação no meio rural (crédito agrícola, compras em comum, vendas em comum, de transformação, ou de industrialização, mecanização, irrigação, ele-trifi cação, seguros, colonização etc.,). Os ór-gãos de segundo grau: centrais , federação e respectivos papéis; 15) Mecanismo funcional das cooperativas. Seus aparelhos de adminis-tração, fi scalização e controle; 16) Posição do produtor e do consumidor em uma economia cooperativa planifi cada. Elevação da renda e aumento do poder aquisitivo. Os benefícios coletivos; 17) Contabilidade aplicada às co-operativas, segundo a técnica específi ca em uso; 18) Processos técnicos de propaganda: clubes de estudo, cursos, palestras, congres-sos, visitas, excursões, fi lmes, rádio, cartazes

e publicidade; 19) Notícia sobre bibliografi a especializada e modalidades de assistência governamental e privada; 20) O movimento nas Américas e particularmente no Canadá e seu papel na estrutura agrária.

A Cooperativa Banco Comercial e Agrí-cola do Distrito Federal consultou se estaria sujeita aos limites de taxas

fi xadas pela Superintendência da Moeda e Crédito, consoante a deliberação tomada em relação aos depósitos em estabelecimento bancários em geral. Submetida a consulta ao Serviço de Economia Rural, e este assim se manifestou: “Todas as cooperativas, além da fi scalização e orientação geral do Serviço de Economia Rural, estão sujeitas à fi scali-zação dos demais órgãos especializados e à obediência de suas determinações na parte em que se refi ram, estritamente, à operações, atos, etc., determinadas por lei cuja aplicação caibam àqueles setores administrativos”. As cooperativas, para se fundarem, estão sujei-tas às formalidades legais, de sua essência, que culminam com o registro de seus docu-mentos no Serviço de Economia Rural, para terem direito de funcionar e serem, pelo re-ferido Serviço, fi scalizadas para seu efetivo de funcionar e servem, pelo referido serviço, fi scalizadas. Para seu efetivo funcionamento, porém subordinam-se às posturas municipais, etc., aos órgãos aplicadores da legislação so-cial, de previdência, etc., aos departamentos que fi scalizam a lei dos dois terços, do horário de trabalho, do recolhimento de contribuições para Institutos e Caixas, do imposto sindical, dos seguros, etc. A legislação específi ca das cooperativas não as exime da obediência a todas as demais leis e, como conseqüência, de se submeterem à fi scalização, orientação e obediência aos órgãos especializados, encar-regados de aplicação das leis pelas quais se norteiam. Claro é que cooperativas de crédito, de qualquer espécie, fazendo operações, de crédito passivo e outros serviços conexos ou auxiliares de crédito, com estranhos, como se-jam os depósitos, estão ipsofacto, obrigadas ao cumprimento das Instruções da Superin-tendência da Moeda e Crédito (SER).(Obs.: Hoje Banco Central do Brasil)

“As Cooperativas de Crédito e as Intruções da Superintendência

da Moeda e Crédito” (1)

“Latifúndio eCooperativas Agrícolas” (1)

O deputado Baeta Neves, do PTB, em entrevista a um vespertino carioca, afi rma que o problema do latifúndio,

“O Cooperativismo como Deliberação Econômica do

Pequeno Lavrador”(1)

O Estado potiguar não é dos mais aqui-nhoados no que toca ao número de cooperativas, mas, as existentes, no

seu território, produzem efi cientemente. O Serviço de Economia Rural teve notícia de que a Cooperativa Agropecuária de Floriânia vem realizando, com referência ao algodão, verdadeira transformação na economia da zona seridoense. Os associados da entidade, por ela fi nanciadas, estão vendendo o algodão ao preço do dia, pagando os empréstimos con-traídos na cooperativa e fi cando ainda com saldos para o seu “pé de meia”. A cooperativa de Floriânia recebe o algodão dos associados a Cr$100,00 a arroba, ao passo que os lavra-dores não cooperados, residentes do mesmo local, fi nanciados pelos intermediários, além de juros exorbitantes sobre os empréstimos feitos, são compelidos a “fazer cedo o preço na mercadoria a entregar”, não passando o preço do algodão, por causa disso, da irrisó-ria quantia de Cr$60,00 por arroba... Resul-tado: o associado da cooperativa da venda de cinqüenta (50) arrobas, paga o empréstimo e ainda guarda dinheiro, enquanto o fi nancia-mento pelo intermediário necessita de oitenta e três (83) arrobas para pagar o que tomou emprestado... O exemplo da cooperativa do Rio Grande do Norte é digno de seguimento (SER).

no Brasil, pode e deve ser solucionado pelo sr. Getúlio Vargas. Aquele parlamentar apresenta soluções para a extinção de áreas latifundiá-rios, incluindo, nas medidas alvitradas, a fun-dação de cooperativas agrícolas, que teriam por fi nalidade: 1) Estabelecer um preço míni-mo para os produtores de cada região, prote-gendo o pequeno proprietário contra o lucro exagerante dos intermediários; 2) Prover o pequeno proprietário dos suprimentos mate-riais (sementes, utensílios, etc.) de que careça para uma produção organizada; 3) Atender às necessidades do trabalhador rural, mediante fornecimento de utilidades e serviços assis-tenciais-hospitalares (SER).

“Numa Época em que se reconhece sem discrepâncias, o primado do interesse social sobre o individual, a organização cooperativista tem especial relevo – presidente Getúlio Vargas – 1951”

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10 Jornal Cooperativista

HISTÓRIA DAS SED

A 1ª Central de Cooperativa de Crédito da História do Pará nasceu em 31/08/1944 e foi liquidada pelo BACEN em 1967. A 2ª Central de CREDIS paraense foi constituída por onze CREDIS Singulares em 15/10/1992, no Auditório do BANCO CENTRAL DO BRASIL na cidade de Belém – PA, com o nome fantasia de CECRESPA e teve seu Estatuto inspirado nos Estatutos da CECRERJ, do Rio de Janeiro, da CECRESP, de São Paulo, e da COOCECRER, do Rio Grande do Sul. Após ter sua Assembléia Geral homologada pelo DEORF do Banco Central do Brasil em Brasília – DF em março/abril de 1993, teve sua 1ª conta bancária no valor de 11 (onze) salários mínimos aberta numa agência do Banco do Brasil na Av. Braz de Aguiar, em Belém, e teve sua 1ª sede em uma sala da casa nº 478, da Av. Braz de Aguiar, em Belém (foto ao lado), cedida gratuitamente pela Federação das UNIMEDS da Amazônia Oriental durante um curto período entre os meses de abril a agosto de 1993.

Em setembro de 1993 a CECRESPA recém nascida, transferiu-se para uma sala concedi-da pela direção da então Escola Técnica Federal do Pará (hoje IFET-PA) situada dentro da ETFPA (foto ao lado), na Av. Almirante Barroso, 1155, ali funcionando juntamente com a UNICON (uma Cooperativa de Consumidores) no período de setembro de 1993 a dezembro de 1997. Estes dois primeiros períodos de funcionamento da Central foram de intenso trabalho e colaboração da UNICON, que prestou gratuitamente todos os serviços necessários para a CECRESPA, numa genuína e verdadeira intercooperação, onde todos os serviços da Central eram realizados por empregados da UNICON, e naquela época ela poderia ser chamada de “Central Virtual”. Nesta primeira fase, os diretores da Central deixavam todos os talões de cheques da conta corrente da entidade no Banco do Brasil já assinados para o Diretor Presidente movimentar a citada conta bancária ao seu bel prazer. Felizmente, a Central era dirigida por uma pessoa íntegra, e o Capital Integralizado pelas fi liadas continua inteiro até hoje, sem um único desvio, exatamente 17 anos depois, pe-ríodo em que a Central teve à sua frente um mesmo Diretor Presidente, reeleito pelo seu 5º mandato consecutivo. Deve ser ressaltado que, nesta fase, uma Assembléia Geral da Central decidiu pela compra da 1ª sede própria da CECRESPA em um edifício comercial que estava sendo construído pela construtora ENCOL, que deveria ter sido entregue em novembro de 1997. Ocorreu um grande apoio de todas as fi liadas de então, que compra-ram uma rifa, para fazer um Fundo Financeiro para comprar três salas no citado edifício. Infelizmente, a construtora ENCOL faliu, e o citado prédio só teve terminada sua cons-trução em 2004. As citadas salas após entregues foram vendidas pela Central à sua fi liada ELETROCRED, porque a Central continuou seu desenvolvimento e, não podendo espe-rar, comprou a sua 2ª sede própria em agosto de 2000, com base numa AGE da Central, que autorizou aquela citada compra meses antes.

1ª SEDE

A 3ª Sede Administrativa da Central (foto ao lado) fi cava em duas salas alugadas do pré-dio nº 2562, na Travessa Timbó, nas proximidades da Av. Almirante Barroso, no Bairro do Marco. A Central mudou-se para este novo endereço em janeiro de 1998, e, desta forma, deixou de ser virtual ao ter um espaço exclusivo para seu funcionamento, quando adquiriu 03 computadores, linha telefônica, mesas, armários, cadeiras, etc. Em janeiro de 1998 a Central empregou seus primeiros 05 (cinco) funcionários: 1 gerente, 1 contador, 1 técnico para o fi nanceiro, 1 técnico para o suporte de informática e uma secretária; três dos técnicos acima citados foram enviados para treinamento em Brasília e Rio de Janeiro. Estes fatos ocorreram em 1998 na evolução da Central, porque a CECRESPA e suas fi lia-das adquiriram ações do BANCOOB, e passaram a fazer parte desde então da formação do sistema SICOOB, que hoje é representado por uma Confederação (SICOOB BRASIL) formada por 14 Centrais, com mais de 600 fi liadas, centenas de PACs, mais de 1.700.000 sócios espalhados por 23 estados brasileiros que já organizaram neste Banco Cooperativo um Sistema de Informática comum, um Fundo Garantidor, uma Empresa de Cartões de Crédito, uma previdência privada, etc.

3ª SEDE

2ª SEDE

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11Jornal Cooperativista

EDES DA CENTRAL

Devido a um maior crescimento da CECRESPA E SUAS FILIADAS DECORRENTE da Centralização Financeira do Sistema ocorrida com a constituição do BANCOOB em 1997, a Central precisava de um espaço maior para atender mais adequadamente suas fi liadas, e por isso, em janeiro de 1999, a entidade alugou as salas 04 e 07 do Edi-fício Pirâmide para onde se mudou, situada no nº 624 da Av. Pedro Miranda, no bairro da Pedreira. O crescimento organizacional da Central e suas fi liadas continuava agora implementado pelas novas normativas baixadas pelo BACEN/CMN, e para atender a expansão de serviços, como a realização de contabilidade para fi liadas, a Central alugou mais duas salas, no citado edifício em janeiro de 2000.

Como a 1ª sede própria da Central adquirida da construtora ENCOL em 1995 não fi cara pronta de acordo com a previsão contratual, que era novembro/dezembro de 1997, e em decorrência do aumento dos serviços prestados pela Central às fi liadas no 1º semestre de 2000, o Conselho de Administração da Central realizou uma Assembléia Geral Extraor-dinária, objetivando a compra de outra sede própria para a Central, na qual foi aprovada a compra de um imóvel no valor máximo de R$150.000,00 (cento e cinqüenta mil reais). Assim, em agosto de 2000, em Leilão Público realizado pela Telemar, foi adquirida pela Central a casa nº 670 da Rua Soares Carneiro, no bairro do Umarizal, por R$133.400,00 (cento e trinta e três mil e quatrocentos reais). O prédio passou por uma pequena reforma, e já em outubro/novembro de 2000 passou a alojar a Central até o início de março de 2009.Em março de 2002, atendendo à unifi cação da marca SICOOB em todo o Brasil, a Cen-tral realizou uma AGE na qual mudou o seu nome fantasia da CECRESPA para SICOOB CENTRAL AMAZÔNIA.

Valdecir Palhares

(1) Valdecir Palhares é médico e professor, presidentedo Sicoob Central Amazônia, pte. da Unicon(Cooperativa de Consumidores) e da Coometropolitan(Cooperativa Habitacional), escritor de artigos epoemas sobre cooperativismo e cooperação.

4ª SEDE

5ª SEDE

6ª SEDE

Nova sede administrativa da Central em 12/02/2008, em uma AGE da Central, após outra reforma ocorrida na sede da Soares Carneiro, e vislumbrando o crescimento futuro do Sistema, o Conselho de Administração da Central propôs um novo projeto de ampliação do imóvel ou a venda do mesmo e a compra de outra sede maior e mais adequada ao aten-dimento das fi liadas. A plenária da AGE aprovou a compra de outro imóvel e desta forma a sede da Soares Carneiro foi vendida para a fi liada COOPERBOM por R$400.000,00 (quatrocentos mil reais). Assim, compramos uma nova sede na Avenida Conselheiro Fur-tado, 1693, no bairro de Nazaré. Após ampla reforma, a nova sede com 600 m² de área construída, contendo salas específi cas para o Conselho de Administração, Presidência, Diretoria, Sala de Leitura, Secretaria, Espera, Contabilidade da Central, RH, Setor Fi-nanceiro, Contabilidade das Filiadas, Setor de Informática, Sala de Backup, Arquivo, Conselho Fiscal, Auditoria e Controles Internos, além de duas salas de treinamentos com capacidade para 30 alunos cada e um auditório para 110 pessoas.A nova sede foi adaptada à Lei da acessibilidade com banheiro e elevador próprios para cadeirantes, e teve construída uma sala de leitura e pesquisa do acervo bibliográfi co da Central sobre Cooperativismo que será disponibilizado aos interessados no assunto e possui garagens para estacionamento de até 6 carros.

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12 Jornal Cooperativista

10ªPARTE

“Curso Intensivo de Cooperativismo” (1)

Luis Amaral (2)

X – Cooperativas Sanitárias

An t e r i o r m e n t e , procuramos mos-trar a incompará-

vel importância do Coo-perativismo educacional, detendo-nos de modo especial nas cooperativas escolares, universidades de coisas práticas e que,

além do quanto expusemos, valem ainda para propagar o sistema. Os meninos são entusias-tas, dinâmicos, ativos. Não deixam nunca de usar a arma à sua disposição – seja um canive-te, seja uma idéia. É hábil entrar nas famílias pela mão das crianças. Se os fi lhos chegam falando em Cooperativismo, discutindo ques-tões cooperativistas, fazendo perguntas aos pais, estes cuidarão de pôr-se em condição de responder. Se a cooperativa escolar barateou o material de ensino, os chefes de família, pagantes, encararão o assunto com simpatia e estarão predispostos quando o proselitismo os atingir diretamente.Sustentamos a opinião de que, no Brasil, há problemas acima da capacidade dos poderes públicos e que a benefi cência poderá apenas tangenciar. Um deles é o sanitário, que hoje apresentamos através do Cooperativismo. Abespinhe-se quem quiser, pois o ufanismo não está bem extinto; mas a verdade é esta: quem deseja apreender toda a realidade gal-vanizada por Miguel Pereira ao afi rmar que o Brasil é vasto hospital, passe uns tempos no exterior. Ao vir em torna-viagem terá a im-pressão de estar descendo no pátio interno de nosocômio. Nem precisa tanto: do alto dessas cadeiras de engraxate com frente para a cal-çada, comece cada um a olhar com espírito observador os passantes. E verá. Quanto ao interior, nem se fala. Em Xiririca, o médico do posto sanitário estava nos dizendo que, se pegasse ao acaso cem pessoas, poderia extrair cem guias de internamento. Ante certa reação nossa, perguntou se não estávamos acredi-tando. Respondemos haver pequeno erro de conta: deveria extrair cento e uma guias. Para ele também.Somos de origem cacógena; vivemos em região tropical, que abrange quatro quintos de território brasileiro e onde são mui abun-dantes, os germes patógenos e seus vetores. É nessa região, de modo geral mefítica, que nos permitimos excessos em vícios compro-metedores, gastando sete por cento da renda nacional em fumo e álcool. Terreno propício, assim, aos malbaratos das moléstias. Só o amarelão atinge 90% das populações brasilei-ras. (3) No setor da mortalidade infantil, nos tempos de Herodes, não haveria tão grossa matança de inocentes. A síntese pode ser esta:Em nenhuma grande urbe, em capital alguma,

a mortalidade infantil chega a 80 em mil; e desce a 32. Aqui, entretanto, não há uma só capital onde seja inferior a 124. Superior a 300 por mil em três capitais; a 200 em onze; a 124 em sete, inclusive no Distrito Federal, onde em mil crianças morrem 170; Belo Ho-rizonte, 153; São Paulo, 126. No campo, 800 em mil. Pesquisas feitas em 340 municípios representativos de zonas rurais nos mostra-ram o número 5,1 para os componentes da família. Ou seja, o casal e três fi lhos, como na França de decadência.Todavia, o vasto hospital não tem hospitais nem médicos. Destes, 40% atuam no Rio de Janeiro e em São Paulo, com 8% da popu-lação; fi cam 60% para 92% dos habitantes. Em 727 municípios, a assistência médica não existe, nem mesmo em caráter esporádico. Para a zona rural vai apenas 1% dos dentistas. Por que isso? Sempre habituados a desculpar nossos erros e inoperâncias, costumamos atri-buir à falta de educação das populações me-diterrâneas, que preferem raizeiros e curan-deiros. Apenas tomamos a nuvem por Juno, baralhamos causas e efeitos. No interior, o curandeirismo e a crendice não talam mais que nas grandes capitais. Tucuruvi, aqui nos subúrbios, parece-nos a metrópole desses assuntos, em que ali todos os campeonatos seriam batidos, graças à clientela urbana, que acorre.Verdadeiro motivo: as populações rurais bra-sileiras não estão economicamente em condi-ções de sustentar o aparelhamento sanitário – médicos, farmacêuticos, hospitais, dentis-tas e parteiras. Por outro lado, quem estuda durante alguns anos, conquista um diploma e entra numa profi ssão, pretende viver dela. E não viverá, se sua subsistência depender da inexistente capacidade retribuidora das popu-lações dos interiores. Aliás, mesmo quando as consultas médicas fossem gratuitas, persisti-ria a impossibilidade de aviar as receitas, em país onde produtos medicinais constituem ob-jeto de enriquecimento e os laboratórios far-macêuticos formam uma das mais prósperas indústrias, cujos líderes vivem ali em nababia quase ofensiva dentro do vasto hospital.Não façamos aos médicos e dentistas a injus-tiça de imaginar que não abandonariam o con-forto das capitais, se o interior apresentasse condições propícias ao exercício da profi ssão. Muitos vão, mas retornam, Nem haveria lei capaz de chumbá-los por lá, se se tentasse forçá-los compulsoriamente.Só há um modo de fornecer médicos ao in-terior: assegurar-lhes meios de vida, inde-pendentemente da defi ciência econômica das populações. Os postos de saúde não resolvem, igualmente. Conhecêmo-los em muitos pontos do país. De modo geral, dividem-se em duas classes: a dos chefi ados por apóstolos da me-

dicina, homens que se condoem da miséria or-gânica ambiente, dotados do senso de respon-sabilidade funcional, e dispostos a cumprir o dever. Esses, infelizes, se veem comumente faltos de recursos, lutando não contra as mo-léstias, não contra as endemias, mas contra a burocracia central, que os larga inermes e jamais atende suas requisições. E a classe dos que transformam o posto em consultório particular, espantam dali os mais necessita-dos e só atendem os pagantes, quando não se transformam em vivedores ociosos, a empur-rar inutilmente o tempo no meio de doenças e enfermidades, de permeio com a população necessitada de suas solicitudes. Exemplos de uma e de outra classe podem dar-se indepen-dentemente de grandes viagens para fora da Paulicéia, capital do Estado onde, segundo dizem, tudo é modelar, melhor que alhures: conhecêmo-los aí bem por perto. Aliás, insis-tamos naquela conversa: é necessário trans-formar o povo em sujeito de ação, em vez de considerá-lo objeto de ação. Eliot Root disse coisa igual de modo mais sugestivo: o único jeito de melhorar as condições de vida de uma população é induzi-la a melhorar-se a si mesma. Estritamente quanto ao problema sanitário. M. Colombain pode afi rmar que “difi cilmente as regras de higiene têm efi cácia durável, se impostas por constrangimento, se não encontram compreensão, consentimen-to e mesmo colaboração dos interessados”. Quanto mais complexo um problema – e não seria muito fácil encontrar outro de comple-xidade igual ao deste – tanto mais certo que a melhor solução será a dada pelos próprios interessados, não a que provier da burocra-cia ofi cial. Por que não nos habituarmos a resolver nós mesmos esses problemas fun-damentais, em vez de esperar estupidamente e indefi nidamente que os resolvam governos gerados de conchavos em que não foi parte a competência, ou do acaso, como os navios descobridores?Meio coletivo de solucionar problemas popu-lares, só existe um: o cooperativista. Então, recaiamos no nosso lugar comum, toquemos o disco do nosso pequeno repertório, gastando esta ideia até ela transformar-se em realidade, pouco se nos dando se nos chamam cacete, se nos verberam falta de originalidade: vamos para as cooperativas sanitárias, pregando essa modalidade de Cooperativismo pela milésima vez em quinze anos.As cooperativas sanitárias têm papel mila-groso na mais humana e premente realização brasileira – a borá de saneamento de higiene rural. Instauraram-se primeiro na Iugoslávia, por ter sido confi ada a prebenda ao chefe do Cooperativismo nacional, Milhailo Avramo-vic. O inquérito inicial deu resultados desa-lentadores, conquanto apresentasse quadro

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13Jornal Cooperativistamenos negro do que no Brasil, se realizásse-mos um igual, quanto à habitação, à alimen-tação, à educação e à assistência médica. A mortalidade infantil era de 50% - ainda assim melhor do que em nosso país. Um provérbio nacional iugoslavo não teria aplicação aqui: se alguém adoecia gravemente, faziam-se apostas, a ver quem chegava primeiro, se o médico ou se a morte. Aqui, sabe-se que o médico não chegará às habitações rurais, pois ainda existem mesmo centenas de sedes mu-nicipais, onde eles não são encontráveis. Nis-to, havia igualdade conosco, segundo expõe o referido Colombain.: “É supérfl uo acres-centar todos os demais característicos, pelos quais o problema sanitário rural se distingue do problema sanitário urbano: diferenças de recursos dos orçamentos municipais, da orga-nização das comunicações, de todas as condi-ções da vida material, individual e coletiva e, portanto, também dos hábitos físicos e psíqui-cos que a isso se aliam”.Quando a ação dos poderes públicos em con-junto com a das entidades fi lantrópicas ha-via fracassado defi nitivamente, Avramovic propôs a solução cooperativista e deu início à execução do seu plano, exigidor da parti-cipação dos interessados e da ofi cial. Era em fi ns de 1921, e já em 1934 as cooperativas sanitárias possuíam quatorze hospitais, tendo um custado milhão de dinars. Essas coopera-tivas, em número de cento e quatorze nesse ano, já aí dispunham de seis milhões de dinars em recursos próprios e mais de dois e meio milhões emprestados. Mantém postos sanitá-rios, com médico, às vezes uma enfermeira e uma parteira. Pagamento aos profi ssionais

decomposto em das partes: a fi xa, prevista nos estatutos regedores das relações entre a cooperativa regional e a central; e a variável, proporcional ao número de membros da re-gional e ao dos exames feitos, sendo fi xada pela administração.O Cooperativismo sanitário entrou no Japão em 1933. Hoje, possui mais de duzentos hos-pitais. No sul dos Estados Unidos, implantou-se também após os fracassos dos poderes pú-blicos e da Missão Rockefeler.Plano de Cooperativismo sanitário para o Brasil: ao mesmo tempo em que os órgãos ofi -ciais promovem a fundação de cooperativas de tal natureza, a elas se asseguram auxílios, em bases mais ou menos como se passa a ex-por. O Município subvenciona cada coopera-tiva sanitária com importância igual ao capital integralizado pelos associados até seis meses depois da instalação: o Estado, com importân-cia igual à soma do capital integralizado mais a subvenção municipal; a União subvenciona com importância igual à soma do referido ca-pital mais as subvenções do Município e do Estado, e fi nancia com importância igual ao capital integralizado mais as subvenções mu-nicipal, estadual e federal: e isenta de impos-tos todos os laboratórios e fábricas fundados e mantidos pela federação das cooperativas sanitárias para abastecimento, às regionais, de remédios, artigos sanitários e calçados, e estas fábricas se benefi ciarão também de isen-ções estaduais e municipais.Irá nisso mundão de dinheiro. Porém, cum-pre indagar se já não é tempo de reduzirmos a níveis normais a mortalidade infantil, que nos rouba anualmente cerca de oitocentos mil

(1) Fonte: extraído do livro “Curso Intensivo de Co-operativismo”, Editora Eco, São Paulo-SP, 1949, pá-ginas 73 a 80.(2) LUIZ AMARAL foi o 1º Diretor do extinto DAC (Departamento de Assistência ao Cooperativismo) da SAGRI do estado de São Paulo, criado em 1933. Foi líder e escritor cooperativista.(3) Obs.: Números de 1949.

inocentes, ou seja, mais de dez vezes os imi-grantes fi xados aqui no ano em que mais en-traram, sendo prudente convencer-nos de que é a natalidade, é do crescimento vegetativo da população que teremos de receber o maior e o melhor contingente demográfi co, pois have-remos de esperar muito menos da miscigena-ção que do endemismo. Cumpre indagar se o número de dias-trabalho perdidos anualmente pelos brasileiros que abandonam as lutas do agro para lutar contra as moléstias não valerá muito mais do que as somas destinadas a sub-vencionar cooperativas sanitárias, capazes de valorizar o Homem a aumentar-lhe a efi ciên-cia produtiva. Cumpre indagar se a libertação do trabalhador nacional dos males endêmicos que lhe reduzem a efi ciência e lhe conferem o valor ridículo de seis mil cruzeiros por ano, não cobre centenas de vezes aquelas aplica-ções de dinheiro.Nossa economia não poderá ser forte, se en-fermo ou enfermiço seu agente, o Homem, ru-ral na proporção de 75%. Se queremos robus-tecê-la, valorizemos o rurícola. Ou melhor: em vez de querer valorizá-lo burocraticamen-te, induzâmo-lo a valorizar-se a si mesmo; e auxiliêmo-lo nessa tarefa, a mais patriótica de quantas possamos iniciar e levar a termo.(3)

“A Fantasia dos Bancos” (1)

Angelo Brasil (2)

Os bancos adotam como apelo de ma-rketing se travestirem de cooperati-vas de crédito. Na fantasia apresenta-

da na mídia escrita e televisiva buscam iludir aqueles que a vêem , escondendo a verdadeira face dos bancos – sua inesgotável avidez por lucros a qualquer preço.Primeiro um adotou o slogan “tão bom que nem parece banco”. É no mínimo estranho que para se tornar melhor precise negar o que é. É a mesma coisa do que um Médico dizer, ao divulgar seus serviços: venha se tratar co-migo que sou tão bom que nem pareço médi-co! Quem de sã consciência gostaria de ser tratado por alguém que tem como sua maior qualidade não “parecer” ter a profi ssão que exerce? A não ser que ir ao médico seja algo tão hor-rível que seja necessário esconder o ato. Mais ou menos como nossos pais faziam para to-marmos injeção quando pequenos: olha o car-rinho... E a traição, lá vinha agulhada. Aqui a situação é a mesma, até com apelo infantil.Outro banco, em suas propagandas na TV, transformou pequenos bonecos em seus “atendedores de clientes”, dando a impressão de que naquele mundo encantado não existe o mal-estar comum aos correntistas: fi las, aten-dimento impessoal, privilégios só para quem tem dinheiro, etc. Tudo para esconder sua rea-

lidade de agência. Claro que poucos afortuna-dos não sofrem estas mazelas. No mundo de faz de conta pode ser...Ainda outro banco adotou uma simples e cria-tiva mensagem que reformulou suas fachadas, se dizendo: banco do simples mortal. Banco do Raimundo, Banco do José, Banco da Ma-ria e etc. Dá a falsa impressão para quem está em suas instalações de ser o dono do esta-belecimento. Se fosse, o lucro do Banco do Raimundo iria para o bolso do Raimundo e não para os verdadeiros donos: o governo, os acionistas, os diretores, todos, menos o Rai-mundo, o José, a Maria...Não reduziram suas taxas de juros, não dimi-nuíram suas tarifas bancárias (preparem-se para o custo das tarifas neste ano), não me-lhoraram seu atendimento ou trouxeram aos “Raimundos” qualquer vantagem real. Ao contrário, fazem de tudo para que seus cor-rentistas se superendividem, colocando mais linhas de crédito à disposição. É crédito pré-aprovado disso, linha de crédito sem compro-vação de nada para aquilo, e assim vai.No fi nal, acontecerá como no suco de laranja: espreme-se todo o suco e depois joga-se o ba-gaço fora. Nesse caso, o seu suado dinheiro é o suco e você, correntista, o bagaço.Nestas criativas – não podemos negar – cam-panhas publicitárias fazem de tudo para pare-

(1) FONTE: Artigo Escrito para ser publicado no Jor-nal Cooperativista.(2) ANGELO BRASIL, é advogado, presidente da CO-OPCAD, com curso de especialização em Gestão de Credis realizado no NAEA/UFPA em 2007.

cerem uma cooperativa de crédito. Onde re-almente o correntista é tratado como merece: é o verdadeiro dono do estabelecimento, tem melhores taxas para empréstimos, melhores taxas para aplicações fi nanceiras, serviços ti-picamente bancários com custo inexistente ou tarifas infi nitamente mais acessíveis.E o melhor, no começo de cada ano é distri-buído entre os que fazem parte da cooperativa o resultado fi nanceiro do ano que passou, ou seja, as sobras. Onde, em assembléia, cada um com seu voto igualitário, decide sobre o destino deste recurso.Enfi m, os bancos agora tentam humanizar sua imagem de “seu banco”. Mas o imbatível é di-zer que “é melhor porque nem parece banco”. É uma confi ssão expressa que para ser melhor tem que esconder a sua verdadeira face. Se a máscara cair, o show acaba.Assim, num mercado tão competitivo como o fi nanceiro, são raros os momentos que a “con-corrência” mostra tão claramente que somos o caminho correto.

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14 Jornal Cooperativista

Aron Monin – Argentina (2)

O extraordinário avanço de idéia co-operativista, primeiramente na Eu-ropa e depois no resto do mundo,

demonstra que os povos vêem na coope-ração, cada vez mais claramente, o instru-mento capaz de solucionar os problemas que afl igem a sociedade contemporânea. A República Argentina não escapa, certa-mente, a essa espécie de inexorável lei eco-nômico-social pela qual ao cooperativismo aderem incessantemente novos adeptos, impondo-se gradualmente à consideração dos estadistas, economistas, sociólogos.O Presidente da República Francesa, ao inaugurar recentemente o XXVI Congresso da Aliança Cooperativa Internacional, emi-tiu conceitos sem precedentes na linguagem dos governantes. Não somente reconheceu o valor intrínseco dos ideais cooperativos, como apregoou suas realizações e formulou um enfático chamamento ao cooperativis-mo para que preste sua ajuda decisiva na tarefa de construir uma ordem econômica mundial mais justa.Esta invocação deve nos servir de estímulo para examinarmos com idéias renovadas e fi rmes o papel a desempenharmos na hora presente e no futuro. Muito especialmen-te – visto ser o objetivo específi co desta conferência – o papel que corresponde ao cooperativismo de crédito como resposta às necessidades de nossos povos, principal-mente no que concerne aos setores econo-micamente mais débeis.Vamos tentar oferecer um panorama, tão nítido quanto possível, da existência e do signifi cado do cooperativismo de crédito na Argentina, nos limites assinalados por este ponto do temário. Não porque pretendamos oferecer um modelo a quem tem condições de sobra para nos dar ensinamentos úteis; senão porque entendemos que toda experi-ência é por si mesma valiosa. Da confron-tação de nossas experiências nacionais surgirão, talvez, as melhores conclusões deste Congresso.Digamos de antemão que na República Ar-gentina existem atualmente mais de 5.000 cooperativas cobrindo com seus serviços a toda gama das atividades econômicas, sociais e culturais e cujo número total de associados chega a seis milhões. A cifra é

particularmente signifi cativa se considerar-mos que a população de nosso país alcança, aproximadamente, a vinte e cinco milhões de pessoas. Isso representa, simplesmente, que um em cada quatro habitantes está vin-culado a alguma entidade cooperativa.(3)

Dentro desse quadro global o cooperativis-mo de crédito ocupa um lugar proeminente; quase dois milhões de pessoas estão arrola-dos nesse setor de nosso movimento coo-perativo; número não igualado por nenhum outro setor. Devemos esclarecer que esta quantidade abrange tanto aos associados das caixas de crédito (assim denominadas por nossa legislação), submetidas ao regi-me das instituições fi nanceiras sob o con-trole do Banco Central da Argentina, como aos das cooperativas de crédito que, por não operarem com depósitos e sim exclu-sivamente com seu próprio capital, não são reguladas por aquele diploma jurídico, mas pelas disposições da lei geral de cooperati-vas; nº20337.Seu extraordinário grau de desenvolvi-mento, porém, não é o único motivo de satisfação para o cooperativismo argentino. Orgulhamo-nos também, justamente, pela sua antiguidade, pois sua origem coincide historicamente com as primeiras manifesta-ções do espírito cooperativo em nosso país, que se deu em fi ns do século passado.Até a bem poucos anos era idéia genera-lizada entre os estudiosos que o coopera-tivismo de crédito tinha surgido entre nós nos princípios deste século, sob a forma de caixas rurais. Entretanto, investigações mais recentes e bem documentadas de-monstram que o cooperativismo de crédito urbano é mais antigo. Assim o confi rmam os exemplos do Banco Popular Argentino que hoje existe como sociedade anônima(4); e do Banco Lar Argentino, constituído em 1899 e já desaparecido, pois ambas as ins-tituições adotaram no seu início normas e estruturas básicas inspiradas na doutrina de Rochdale.É verdade que os primeiros legislativos sobre a matéria – que até 1926 foi regida por umas poucas e inadequadas disposi-ções do Código Comercial – referiram-se exclusivamente ou principalmente ao coo-perativismo de crédito rural. Todavia, isso

se explica pela circunstância do que as atividades agrárias constituem na época a expressão dominante da economia argenti-na. Porém, a estrutura econômico-social do país experimentou profundas modifi cações no transcurso das últimas décadas. A conso-lidação das cidades, o desenvolvimento do comércio e da indústria e muitos outros fa-tores provocaram um extraordinário avan-ço do cooperativismo de crédito urbano; o que não signifi ca, certamente, que os seto-res do campo estejam desatendidos, visto muitas de nossas cooperativas funcionarem em pequenas localidades estreitamente li-gadas ao meio rural, fato que torna difuso os clássicos limites entre essas formas de cooperativismo de crédito.Depois desta introdução, que pareceu-nos necessária para dar nos senhores congres-sistas uma idéia global da importância que reveste o cooperativismo de crédito na Argentina, vamos traçar o perfi l de nosso movimento como instrumento de satisfação das necessidades de determinadas cama-das populacionais. Ou seja, descreveremos a função que desempenha no contexto da realidade econômico-social da República Argentina.Nossa lei de cooperativismo, nº20337, vi-gente desde o ano de 1973, prescreve que as cooperativas são “entidades fundadas no esforço próprio e na ajuda mútua para organizar e prestar serviços” e que neces-sariamente devem reunir os caracteres que o mesmo preceito legal enumera, atra-vés dos quais explicita-se concretamente sua essência de “entidade de serviço”.Tal defi nição é plenamente aplicável a nossas cooperativas de crédito. Não uni-camente pela própria generalidade do con-ceito legal, extensivo a todas as espécies de cooperativas, mas igualmente porque as cooperativas de crédito de nosso país enquadram-se perfeitamente na imagem implícita naquela lei, a de um setor singular que baseia sua obra num conceito social da economia e cuja função é também social, com todas as conotações que este termo comporta... Daí sua necessidade intrínseca, daí sua legitimidade como organização ins-trumental posta a serviço dos interesses da comunidade. Daí, digamo-lo também, seu

As Cooperativas de Crédito como Resposta às Necessidades Específi cas,

às Novas Necessidades e às Necessidades dos Mais Pobres (1)

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15Jornal Cooperativista

direito a que o Estado assegure o lugar que por justiça lhe corresponde dentro da estru-tura global do país.A lei das instituições fi nanceiras, nº18061, que acaba de ser substituída em nosso país por nova legislação sobre a matéria, con-tinha sua exposição de motivos conceitos precisos a respeito da operação das caixas de crédito e, ao mesmo tempo, um reconhe-cimento expresso de sua função social.Vejamos o que dizia a respeito: “Seus re-cursos próprios são os depósitos, que po-dem ser à vista ou a prazo. Suas operações, embora mais limitadas, são semelhantes às dos bancos comerciais, dentro de um setor que pode não ter fácil acesso a eles. Co-brem, assim, parte do campo da atividade fi nanceiro que, sua presença, não fi caria devidamente satisfeita. A enumeração dos benefi ciários de seus créditos o demonstra. A importância que adquiriu seu desenvolvi-mento, dá a medida de sua atual gravitação na comunidade”.Os benefi ciários dos empréstimos das cai-xas de crédito, eram, conforme a lei revoga-da, os pequenos empresários e produtores, profi ssionais liberais, artesãos, emprega-dos, operários, particulares e instituições beneméritas. É sufi ciente sua menção para compreender que a lei havia captado com precisão os traços característicos de nossas caixas de crédito; isto é, o fato de que elas se dirigem a determinadas camadas sociais – as mais indefesas, as mais débeis – a ser-viço das quais operam como verdadeiros bancos populares; o que equivale dizer que seguem fi elmente os cânones traçados pe-los grandes pioneiros do cooperativismo de crédito: Schulze-Delitzsch, Raiffeisen, Lu-zzatti e outros – que também conceberam suas instituições como um instrumento de defesa e emancipação das camadas popu-lares.Nossa nova lei de instituições fi nanceiras, nº21526, que acaba de entrar em vigor, não reproduz em sua exposição de motivos os termos anteriores. No entanto, a enumera-ção dos benefi ciários dos empréstimos das caixas de crédito não variou; signifi cando que o campo de ação dessas entidades já é um conceito defi nitivo em nossa tradição legislativa.A função creditícia que desempenham nos-sas caixas – da mesma forma que as coope-rativas de crédito não sujeitas ao regime da lei para responder às concretas necessidades de seus destinatários. Por exemplo, mesmo com a lei vigente autorizando os emprésti-mos de curto e médio prazo, as sociedades argentinas especializaram-se em operações a curto prazo – geralmente 10 meses – por entender que são mais adequadas às neces-sidades dos pequenos empresários, profi s-sionais liberais, artesãos e demais setores benefi ciados pelos seus serviços.O destino destes empréstimos é tão variável quanto às necessidades humanas e abrange

desde a provisão creditícia indispensável para o contínuo desenvolvimento de uma empresa, até as despesas normais de uma família. À taxa de juros é fi xada por dispo-sições legais: no caso das caixas de crédito é determinada pelo Banco Central da Argen-tina e nas demais cooperativas de crédito não pode exceder ao que cobramos bancos em operações semelhantes, conforme a lei geral de cooperativismo, nº20337. Cumpre ressaltar, todavia , que através do retorno estabelece-se no fi nal do exercício o custo exato do serviço fi nanceiro prestado.Diversas fontes de recursos tornam possí-vel essa função creditícia. Na maioria dos casos, a principal fonte é constituída pelos depósitos à vista, que não rendem juros, so-bre os quais são emitidas letras de câmbio endossáveis que são na prática um verda-deiro “cheque cooperativo”.Embora não seja nosso propósito entrar-mos em detalhes sobre o novo regime das instituições fi nanceiras, existente em nosso país, achamos oportuno observar que em virtude do mesmo as caixas de crédito não poderão, depois de passado um ano – pror-rogável por mais um em casos justifi cados – seguir operando com os depósitos a vista, a não ser que optem por transformarem-se em bancos cooperativos, sendo-lhes então permitido realizar todas as operações relati-vas aos bancos comerciais.A Federação Argentina de Cooperativas de Crédito não considera, entretanto, esta a so-lução ideal. No seu entender, a organização atual do cooperativismo de crédito argen-tino, edifi cada sobre a base de entidades que atuam de maneira descentralizada e em íntima relação com as necessidades do meio social, é mais apta para satisfazê-las e assim melhor atender às camadas sociais que serve; enquanto a organização bancá-ria supõe um processo de concentração raramente compatível com essa fi nalidade. Nesse sentido, fi rmamos publicamente nos-sa posição, logo que foi difundido o texto da nova lei.A preocupação acima registrada não é úni-ca. Aguardamos ansiosamente a regula-mentação da lei há pouco sancionada, pois desse regulamento dependerá a possibili-dade concreta da aplicação real da solução adotada. Obviamente, o estabelecimento de condições inatingíveis – um capital míni-mo excessivamente elevado, por exemplo – tornaria ilusória a mudança de nossas caixas em bancos cooperativos, tal como teoricamente é possibilitado.De qualquer forma, nossas cooperativas manterão a faculdade de receber dinheiro a prazo, compreendida em duas espécies: as contas de poupança (capital) e os depó-sitos a prazo fi xo. Estas duas modalidades de operação são um estímulo para o espíri-to de poupança daqueles que podem pres-cindir momentaneamente de uma parte de suas rendas, fornecendo às cooperativas

os recursos fi nanceiros indispensáveis ao cumprimento de suas funções de crédito. Assim torna-se efetivo, no plano prático, o nobre princípio da ajuda mútua, que é parte vital e fundamento ético do sistema coope-rativista.Entretanto, não é só na ordem fi nancei-ra “stricto sensu” que as cooperativas de crédito argentinas cumprem uma função social insubstituível. Elas contribuem para o desenvolvimento sócio-econômico, para o progresso urbano, para a manutenção de escolas, bibliotecas e outras instituições de bem público, para a difusão da cultura e da arte e, naturalmente, para a educação e capacitação cooperativa. O cooperativis-mo de crédito é na Argentina de hoje, além de fator de estabilidade social, elemento de desenvolvimento. Criação espontânea do povo tem justifi cado de sobra seu direito a uma existência plena, livre de entraves le-gais.Chegado este momento de sua história, o cooperativismo de crédito deve examinar lucidamente o caminho já percorrido e pergunta-se sobre o grande desafi o apre-sentado pelo futuro. Numa época de trans-formações, como na que estamos vivendo, deve assumir totalmente seu papel social, para imprimir às mudanças que se operam um rumo de acordo com sua própria escala de valores.Para isso, deve ser fi el à orientação deline-ada pelos precursores do movimento. Não deve esquecer que existe precisamente para atender às necessidades dos mais humildes, ao mesmo tempo cuidando dos setores mé-dios da economia. Finalmente, é preciso que amplie de tal maneira seu âmbito que nem o mais humilde possa sentir-se excluí-do ao recorrer a uma cooperativa de crédi-to. Esse procedimento envolve a exigência de contar com mecanismos fl exíveis e ágeis que permitam satisfazer às necessidades com a maior rapidez possível.Ser fi el ao espírito cooperativo não signi-fi ca, certamente, desprezar as exigências inerentes à empresa moderna. As coopera-tivas são empresas fi nanceiras, de presta-ção de serviços e não de lucros. Só a ple-na admissão deste conceito lhes permitirá enfrentar com melhores condições a luta apresentada pelo mundo não cooperativo em que existem. Conciliar esta verdade com os grandes princípios de nossa doutri-na é a tarefa, nada fácil, que nos antepõe presente para melhor dominar o futuro.

(1) FONTE: “Anais da 4ª Conferência Internacional de Cooperativas de Economia e Crédito”, realizada pela FELEME na cidade do RJ-RJ, no período de 17 a 21/04/1977.(2) ARON MONIN, era presidente da Federação Ar-gentina de Cooperativas de Crédito Ltda.(3) Obs.: Os nºs acima citados são da Argentina em 1977.(4) Obs.: Verifi camos nesta informação que tal como no Brasil, na Argentina cooperativas de crédito foram no passado transformados em Bancos Mercantis S.A.

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Leis de Cooperativas (1)

Cooperativa de Crédito Rural de Limoeiro Ltda.Antonio Vilaça (2)

Não é nossa pretensão entrar no ema-ranhado da legislação cooperativista. Quem pretender desvendar o “oce-

ano” de leis, que recorra, por exemplo, aos mestres no assunto, que os há competentes e bem informados dentro do movimento coope-rativista brasileiro.No seu Dicionário de Cooperativismo, Diva Bernardes Pinho em Legislação Cooperativa Brasileira consegue, num bem feito resumo, esquematizar o que tem sido a prolifi cidade das leis brasileiras em torno da matéria.Dr. Waldirio Bulgarelli, em seu Tratado Ge-ral de Crédito Cooperativo ou mais objeti-vamente no Regime Jurídico das Sociedades Cooperativas, indica-nos os rumos a seguir na intrincada legislação específi ca.O grande mestre, Fabio Luz Filho, trata nas suas obras exclusivamente do assunto, sendo mais preciso em Teoria e Prática das Socie-dades Cooperativas e no Direito Cooperativo em que revela a profundeza dos seus conheci-mentos especializados.Por fi m, quem quiser ser senhor do tema com-plicado e intrincado, pode acercar-se de outro grande mestre, o Dr. Valmiki Moura, com seus numerosos livros cooperativistas, principal-mente Legislação Federal Sobre Cooperati-vismo.Não estamos bem seguros nos números, mas, ao que parecem, existem, no Brasil, ainda em pleno vigor, cerca de 120 mil leis e tenta-se

uma codifi cação de todas, num resumo de aproximadamente trezentas, porque nem mes-mo renomados juristas são capazes de apreen-são de tão confuso cipoal. Para se ter uma ideia do que acontece ao co-operativismo brasileiro, movimento a que ja-mais se deu a devida importância, basta veri-fi car o tumultuado e a multiplicidade de leis, decretos, decretos-leis, portarias, resoluções e cartas-circulares, apesar dos quais ainda vive. No restrito e específi co terreno do cooperati-vismo anda-se com muito cuidado à falta de um trabalho codifi cado que poderia ser tarefa do mestre Valdiki Moura, talvez hoje um tanto desiludido do movimento, mas com o neces-sário entusiasmo para uma viagem de volta à ciência cooperativista em que é senhor absolu-to. Mais moço e sem os estigmas das grandes decepções, o prof. Waldirio Bulgarelli poderia – e deveria - participar desse enorme serviço à causa que apaixona tantos brasileiros.Com algumas décadas a Cooperativa de Li-moeiro – para citar um exemplo – já sofreu o impacto de quase todas as leis que foram edi-tadas para disciplinar o cooperativismo.Diva Benevides Pinho divide a legislação bra-sileira em quatro períodos. O primeiro come-ça em 1903 com o Decreto 979, no governo Rodrigues Alves, sendo mais “um dispositivo de defesa sindical” que propriamente um tra-tado de organização de cooperativas. Termina o primeiro período em 1932, com a edição da

mais famosa, da melhor e da mais bem feita lei brasileira sobre cooperativismo, o Decreto 22.239, de 19 de dezembro daquele ano.De permeio, convém citar a chamada Lei Afonso Pena, o Decreto 1.637, de 5 de janei-ro de 1907, dispondo mais sobre sindicatos que sobre cooperativas, confundindo os dois e admitindo o absurdo de cooperativas socie-dades anônimas. Colaboraram na feitura deste decreto, entre outros, Carlos Alberto de Mene-zes, Inácio Tosta e Venceslau Belo.O segundo período começa em 1932 e a nossa Cooperativa – a de Limoeiro -, sendo de 1936, teve de adaptar-se às diversas leis promulga-das ou aos decretos baixados no arrepio das circunstâncias ocasionais, provocadas pelo desejo de melhorar o sistema; muito embora a mesma só tivesse sofrido com a incursão que se complicou por obra e graça de alterações estapafúrdias e intrusas.Não estava em pleno vigor o Decreto 22.239 quando a Cooperativa foi fundada. Este De-creto, repitamos, foi, até hoje, a melhor lei cooperativista, sendo, inclusive elogiada e copiada por outras nações. O movimento sul-americano quase que foi totalmente um decal-que do citado Decreto.Apesar disto, não deixou de ser revogado e, revigorado quantas vezes! Editado em 1932, dois anos depois já sofria uma derrogação. Em 1938, o governo Vargas, através do Decreto-Lei 581 não só revigora o 22.239 como lhe in-

No tocante ao Cooperativismo, é sempre oportuno lembrar que foi um sacerdote católico, o cura de

Goor, na Bélgica, quem incutiu na menta-lidade rural do seu pequeno país as incal-culáveis vantagens do sistema.O episódio histórico, em sua pitoresca simplicidade, foi narrado por Luís Ama-ral, em conferência pronunciada há vinte e seis anos atrás, em São Paulo, quando se dava início a uma propaganda intensi-va do cooperativismo no País: “Vigário de vilarejo onde não existiam nem igre-ja, nem presbitério, nem escola, iniciou o cura de Goor a edifi cação de três magní-fi cos prédios para àqueles fi ns. Os que o procuravam a indagar dos recursos com que contava para tamanhas iniciativas, o encontravam no seu grande jardim em experiências agronômicas. Aí também o

encontrou honrado e rotineiro lavrador, que se queixou da decadência dos seus trigais. Perguntou-lhe o cura:- Se eu lhe der um bom remédio para que bro-te o seu trigo, usá-lo-á o senhor?- Se não for muito caro, respondeu cético o camponês.

Deu-lhe o cura vinte e cinco quilogramas de adubo composto, rico em azoto e ácido fosfórico. O lavrador aceitou por deferên-cia. Na sua opinião, cheirava demasiado pouco, para dar bons resultados...Estes, porém, foram portentosos e inume-ráveis amigos do lavrador acorreram a pe-dir adubos ao padre.Eis aí o início do cooperativismo na Bélgi-ca. Eis aí como o bom cura de Goor pôde dar aos seus fi éis os meios de aumentar a capacidade econômica da freguesia, de tal modo que, melhoraria a condição de to-dos, o presbitério e a escola puderam ser concluídos com muita decência e beleza... Foi isto em 1871”.

(1) FONTE: Anuário Cooperativista do Nordeste Brasileiro, 1959, página 194

Um Padre o Iniciador do Cooperativismo na Bélgica (1)

COOPERATIVISMO LIVRE“Consumidores e produtores

constituirão, por meio do cooperativismo livre, o novo

edifício econômico da sociedade do futuro”.

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17Jornal Cooperativistatroduziu benéfi cas modifi cações. Em 1943 era novamente derrogado pelo Decreto-Lei 5.893 e em 1945, já no governo Linhares, surgia o seu revigoramento por outro Decreto-Lei de nº 8.401.Teve-se o bom senso de, ao derrogar-se o De-creto-Lei nº 5.893 não imporem alteração aos dispositivos que criaram a Caixa de Crédito Cooperativo, mais tarde Banco Nacional de Crédito Cooperativo. Por um dever de justiça, proclame-se que o Decreto 22.239 foi de auto-ria do grande mestre Fabio Luz Filho, que teve a colaboração interessada de Adolfo Gredilha e de Saturnino Brito.Entretanto, tinha necessidade de atualização o Decreto 22.239, o que era insistentemente reclamado pelos cooperativistas brasileiros. O país avançara muito, o cooperativismo se desenvolvera sob este Decreto, mas o mesmo apresentava certas formas de caducidade que era necessário corrigir.Quando menos se esperava, e sem serem con-sultadas as verdadeiras cúpulas do cooperati-vismo nacional, aparece, de supetão, o Decre-to-Lei 59, de 21 de novembro de 1969, que retirou do cooperativismo brasileiro a ânsia de crescimento, tolhendo-lhe os passos sem pos-sibilidade de competição num ambiente hostil e super capitalista como ainda é o sistema fi -nanceiro brasileiro. Via de regra, nem sempre sincronizam as leis e os seus regulamentos. Uma lei boa fi ca, quase sempre, ao lado de má regulamentação. Espe-rava-se que o Decreto-Lei 59 tivesse melhor disciplinamento quando fosse regulamentado, o que não ocorreu com o aparecimento do De-creto 60.597, de 19 de abril de 1967, talvez pior que a própria lei que o regulamentou.Não adianta relatar os males e malefícios do Decreto-Lei 59, uma vez que o mesmo está derrogado pela Lei 5.764, de 16 de dezembro de 1971 que se não atende, plenamente, aos anseios de desenvolvimento do cooperativis-mo brasileiro, principalmente do nordestino, é, contudo, lei mais consentânea, embora com falhas e indefi nições que estão sendo entraves à expansão do cooperativismo.As cooperativas de crédito, depois da edição da Lei nº 4.959, de 28 de setembro de 1966, passaram ao controle do Conselho Monetá-rio Nacional que expede Resoluções através do Banco Central do Brasil, o seu órgão nor-mativo.Não resistiram as cooperativas de crédito ur-bano à política disciplinar introduzida pelo Banco Central. Desapareceram todas., Eram distorcidas – dizem – abertamente pratica-vam uma agiotagem que era preciso conter. Entretanto, ao invés de chamá-las à retidão de funcionamento, entendeu o Banco Cen-tral ser melhor despachá-las, cancelando-lhes o registro.Se foi um bem ou um mal, é cedo para emitir julgamento defi nitivo. Entendemos, todavia, que foi um mal para as classes mais modestas, sem ingresso aos bancos super capitalistas, desinteressados das operações de pouca mon-ta. Era nas cooperativas de crédito urbano, os bancos luzzatti, que esta gente se abrigava.O Banco Central vê, contudo, com bons olhos, e lhes concede infl uxos, as cooperativas de crédito rural que estão prosperando sob novo regime normativo, recebendo os incentivos da rede bancária ofi cial.

Vigora, na sua plenitude, a Lei 5.764, de 16 de dezembro de 1971. Esta Lei foi calcada em anteprojeto elaborado pela Organização das Cooperativas Brasileiras – a OCB – a qual se valeu de trabalhos anteriores dos senadores Flavio Brito e do pernambucano João Cleofas de Oliveira. O anteprojeto era perfeito. Sofreu, contudo, profundas alterações que irão tolher os passos do nosso movimento cooperativista. Entretanto, por justiça, devamos dizer que se trata de um diploma, não igual ao derrogado 22.239, mas que lhe segue as pegadas com boa dose de aperfeiçoamento e atualização.Em “Informe Cooperativo”, uma publicação da OCB, em pinceladas de muita profundida-de em certos trechos, o Dr. Waldirio Bulgarelli analisa a nova Lei nos seus aspectos organiza-cional, operacional, trabalhista e de represen-tação e controle.Perfi lhando conceitos ali emitidos, vemos como o analista aprecia o sistema organizacio-nal que foi simplifi cado, muito embora ainda perdure “a malfadada autorização para funcio-namento”, num controle sem sentido ou apro-veitamento. Defi niram-se as características do movimento e isto foi relevante para o sistema agora objetivo e com classifi cação mais har-mônica com os cânones da pura doutrina.As maiores e melhores alterações se deram no sistema operacional permitindo-se que elas negociem com terceiros, recebendo sua produção para completar lotes, mas também fornecendo produtos e bens a não associados. Excluídas estão destas benemerências as co-operativas de crédito rural que continuam, injustifi cadamente, sem poder receber, nas contas de depósito, as economias de terceiros não associados, com isto se lhes entendemos como possam num ambiente ainda um tanto hostil, mais que hostil, de incompreensão para a gama de devedores, as cooperativas muni-rem-se de recursos e crescerem se lhes negam o direito da colheita de depósitos de terceiros, pessoas físicas e jurídicas, desde que não se-jam associadas, sabendo-se que, para associar, é necessário preencher dispositivos expressos nos estatutos sociais.Ainda dentro do sistema operacional, foi de-fi nido – muito mal defi nido – o chamado Ato Cooperativo que era um, segundo o anteproje-to e outro diferente na Lei.Está dito ali que o Ato Cooperativo é aquele “praticado entre as cooperativas e seus asso-ciados. Entre estes e aqueles e pelas cooperati-vas e seus associados, entre si quando associa-das, para a consecução de objetivos sociais”. O Parágrafo Único do art. 79 desta Lei é claro quando enuncia: “O ato cooperativo não im-plica operação de mercado, nem contrato de compra e venda de produto ou mercadoria”.O que desejava o movimento cooperativista brasileiro era não a isenção, mas a não inci-dência do imposto desde quando as transações de compra ou de fornecimento de bens de con-sumo se efetivassem entre as cooperativas e seus associados. Mas, porque faltou o esclare-cimento, que está implícito, porque não foram bem claros os legisladores, continua-se a se exigir o ICM quando uma cooperativa compra insumos, com dinheiro do associado para for-necimento ao próprio associado.Não tem servido de arrimo o art. 87 da mesma Lei quando diz que os resultados das opera-ções com não associados serão contabilizados

(1) Fonte: Extraído do livro “À sombra de dois pinhei-ros”, Arquimedes Edições, Rio de Janeiro - GB, 1973, págs. 148 a 156(2) Antonio Vilaça era presidente da Cooperativa de Crédito Rural de Limoeiro Ltda, em Limoeiro, PE.(3) Obs.: O Banco Nacional de Crédito Cooperativo (BNCC) criado no Governo Getúlio Vargas em 1943, como caixa de crédito cooperativo, foi transformado em Banco em 1951, pelo Presidente Getúlio Vargas e extinto pelo presidente Fernando Collor de Melo ao assumir o poder em 15/03/1990, causando inúmeros problemas ao cooperativismo de crédito brasileiro.

em separado, de molde a permitir cálculo para a incidência de tributos.Se o pensamento do legislador foi o de tor-nar não incidente de tributo a operação entre a Cooperativa e os associados, por que não usou de maior clareza de linguagem para evitar os rancores do Fisco que não está aceitando o sentido do Ato Cooperativo?Uma grande inovação, embora de quase ne-nhum efeito, atualmente, para o Nordeste, foi a permissão para as cooperativas registrarem-se como Armazéns Gerais, e, nesta qualidade, expedirem Conhecimentos de Depósitos e de Warrants. Permite, ainda, dentro do sistema operacional que as cooperativas agropecuárias voltem a ter seção de crédito, esta subordinada não ao IN-CRA, mas ao Banco Central.Ficou bem defi nido o sistema trabalhista e isto está contido no art. 91, que assim se expressa: “As cooperativas igualam-se às demais em-presas em relação aos seus empregados para os fi ns de legislação trabalhista e previden-ciária”, esclarecendo que não existe vínculo empregatício entre as cooperativas e seus as-sociados.Grande medida foi a de situar a representação cooperativista, valendo-se a lei da boa vonta-de das antigas ABCOOP e UNASCO que se fundiram na OCB – Organização das Coope-rativas Brasileiras, a qual é considerada órgão consultivo do Governo Federal.A OCB fornecerá três elementos seus para a composição do Conselho Nacional de Coo-perativismo, organismo que dirigirá a política cooperativa brasileira, com seus modelos pró-prios.E, fi nalmente, aboliu a maldita Taxa de Coo-peração que o Banco Nacional de Crédito Co-operativo cobrava das cooperativas brasileiras numa forma de imposto abusivo. Em contra-partida, O BNCC(3), que vem fazendo muito bem ao movimento cooperativista brasileiro, foi fortalecido e ampliadas suas atribuições podendo, inclusive, receber depósitos das Co-operativas, o que era proibido pelo Decreto-Lei 59, e ainda operar com pessoas físicas ou jurídicas estranhas ao quadro social coopera-tivo. Entretanto, voltamos a repisar o assunto: a mesma permissão não se concedeu às coo-perativas que só podem receber depósitos de associados.Numa conclusão de nossa rápida incursão nos domínios da Lei 5.764, afi rmamos que deverão ocorrer, com o perpassar do tempo, inovações e correções necessárias no diplo-ma diretor do cooperativismo numa forma de traduzir em atos a boa vontade do gover-no por diversas formas manifestada em atos comprobatórios do seu desejo de alimentar e não de matar um sistema que, em menos de um século, cresceu rápida e vigorosamente.

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18 Jornal Cooperativista

ECONOMIA SÓCIO-SOLIDÁRIA E COOPERATIVISMO1

À LUZ DO ENSINO SOCIAL DA IGREJA – ESIJosé Odelso Shneider s.j.2

ASSOCIATIVISMO E COOPERATIVISMO NA DSI

1. Algo sobre associativismo e cooperativismo

2. O associativo na “Rerum Novarum” de Leão XIII e no “Quadragésimo Anno”, de Pio XI.

O cooperativismo está relacionado com o processo social da cooperação. O cooperativismo é mais reduzido que a

cooperação para o bem comum. Porém o co-operativismo é mais amplo que a cooperação própria da empresa particular.A cooperação, junto com a acomodação e a assimilação, é um processo social associati-vo. Como processo social amplo, ele sempre existiu ao longo da história da humanidade. A sociologia defi ne a cooperação como uma ação social na qual dois ou mais indivíduos ou grupos atuam conjuntamente na busca de objetivos comuns. Ela é sempre deliberada e relativamente controlada. É uma atividade in-tegradora. As forças integradoras mais impor-tantes são a afi nidade mental e afetiva. Mas, a afi nidade mental por si só não integra os in-divíduos por muito tempo. É preciso partici-par de uma ação cooperativa na busca de um objetivo comum. A ação reforça a afi nidade afetiva. Enfi m, é cooperando que se aprende a cooperar e se alimenta a motivação para con-tinuar cooperando.Em plena Revolução Industrial desencade-ada na Inglaterra a partir de 1750, contra os abusos do capitalismo de então sobre a classe operária, esta gerou como reação uma forma mais avançada e organizada de cooperação, e que se vivencia nas organizações cooperati-vas.Sujeitos ativos do cooperativismo são os ho-mens, as famílias ou empresas que se unem em uma ação conjunta, orientada a um fi m determinado de ordem econômica ou social. Os sujeitos ativos reforçam sua afi nidade mental e afetiva através de um conjunto de idéias, crenças, valores, princípios, normas e metodologias especiais que fazem parte do acervo cultural cooperativista. São tais elementos culturais que afi rmam a identida-de do cooperativismo, sua especifi cidade no campo econômico e social. São eles que mais contribuem para afi rmar o “diferencial” do cooperativismo, frente à complexa variedade de agentes no campo econômico e social. E quando falamos em pensamento social cris-tão, os subsídios que ele oferece, contribuem para reforçar o aspecto motivacional dos coo-peradores, para reforçar sua afi nidade mental

e afetiva no processo da cooperação coope-rativa.Duas linhas de atuação supõem o cooperati-vismo no ensino social do magistério da Igre-ja. A) a da associação entre os membros que se fi liam por razão de afi nidade ou identidade de interesses – que se identifi ca com a coope-ração horizontal ou ascendente b) a do Esta-do, que fomenta ou ajuda a ação associativa dos cidadãos – que consiste na cooperação vertical ou descendente. Ambas são necessá-rias para o genuíno cooperativismo.Sobre cooperativismo, propriamente pouco se encontra no Magistério Social da Igreja. Insiste-se com persistência na necessidade da presença de católicos no cooperativismo para que no dinamismo que lhe é próprio, se res-peitem e fomentem as virtudes sociais, sem as quais, o cooperativismo não poderá realizar sua obra. (Cf II nostro predecessore 3: AAS 37 (1945) 69).

Sobre o associativo em geral e o associativo operário e artesanal, já há um pouco mais de referências. Já na Primeira Encíclica Social de Leão XIII, a “Rerum Novarum”, pu-blicada em 1891, dos números 34 a 40 do documento, trata-se longamente do direito de associação, das limitações do seu exercí-cio pelo Estado, cautelas que se devem ter ao criar-se associações, a extensão do direito de associação e das associações operárias. Este documento afi rma tal direito numa época em que na Europa e muito menos nos Estados Unidos, tais direitos não eram reconhecidos, pelo contrário, ainda eram hostilizados, numa atitude que é herança da “Lei Chappelier”, in-troduzida na França em 1791, que para acabar com generalizados “abusos corporativistas” das corporações de ofício de então, proíbe ter-minantemente qualquer forma de associação, nem patronal, muito menos operária.Alegava-se na época, que sendo o Estado a expressão da “vontade geral” dos cidadãos, não haveria necessidade, de ter organismos intermediando as interações entre os indiví-duos e o Estado. Pelo contrário, “organismos intermédios”, seria um obstáculo à livre inte-ração entre o indivíduo e o Estado. Constitui-riam até uma ameaça à liberdade do indiví-duo.Enquanto a “Rerum Novarum” foi escrita

numa época e num contexto de aguda luta de classes, com um regime econômico calcado no capitalismo liberal, de pequenas unidades econômicas, funcionando ao lado de médias e grandes empresas, num ambiente de econo-mia concorrencial, já bem diferente foi o am-biente em que se redigiu a Segunda Grande Encíclica Social, a “Quadragésimo Anno”. O regime econômico e social de 1931, têm presente a luta de classes, embora mais ate-nuada, mas enfrenta-se uma progressiva de-sintegração da sociedade. Surge o capitalismo dos grandes monopólios, com uma crescente presença do Estado na Economia, como defi -nidor das grandes diretrizes econômicas e até como empresário, ingressando cada vez mais na educação, na saúde e na previdência social, dando assim início ao “Welfare State”, segun-do o enfoque do neocapitalismo keynesiano. Por outro lado, diferente das correntes socia-listas de 1891, agora além de um socialismo materialista e arreligioso, ao lado do socialis-mo marxista, instaurado em alguns países, há várias correntes socialistas, que pregam um conjunto de medidadas econômicas contra as quais a Igreja nada tem a opor. Ou, se não dis-cutíveis, não são materialistas, nem exigem uma atitude arreligiosa. Na primeira Encícli-ca fala-se da “Questão Operária’, na segunda fala-se da “Questão Social”.Pio XI, na 2ª Encíclica Social, a “Quadra-gésimo Anno”, retoma o tema das associa-ções, que aos poucos passariam a ser os tão frequentemente abordados temas como “orga-nismos intermédios”. Só que com Pio XI, tais temas seriam abordados sob o enfoque das “corporações”, mostrando sua relevância em sociedades em processo de modernização e industrialização. Sofreram indubitavelmente certa infl uência das correntes então dominan-tes na Europa da década de 30 do século XX, ou seja, sobretudo das correntes fascistas, que ainda não tinham revelado toda a sua face ne-gativa. Pareciam ser uma proposta de efi caz e rápida reconstrução e modernização da Itália, sob a égide de um governo central de forte liderança, mas instado, cobrado, assessorado pelas diversas corporações profi ssionais.Pio XI, no Nº78 da sua Encíclica Social, ao afi rmar a importância da associação, faz menção à visão liberal, onde os vícios do individualismo haviam destruído quase por completo a outrora exuberante vida social, manifestada nas associações (corporações de ofício) da mais diversa índole. Esta desnutri-ção deixou os indivíduos como que sós frente

1ªPARTE

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3. O Associativismo e Cooperativismo em João XXIII: “Mater et Magistra” e “Pacem in Terris”.

a frente com o Estado. Isto acarretou prejuí-zos não apenas para o Estado, que deve que ocupar o vazio deixado pelas extintas corpo-rações, como também para o indivíduo. Dos números 81 a 95, faz-se várias vezes menção à necessária colaboração entre as classes, em especial através das corporações operárias. Para superar a presença de situações violen-tas e instáveis, “é preciso que a política social de dedique a restaurar as profi ssões” (82). Os enfrentamentos entre operários e patrões só diminuirão, quando “os membros do corpo social recebem a adequada organização”, ou seja, quando se constituam certas “ordens” em que os homens se enquadrem não confor-me a categoria que se confere a eles no mer-cado de trabalho, mas em conformidade com a função social que cada um desempenha. Ou seja, quantos se ocupam do mesmo ofício ou profi ssão, “constituem certos colégios ou cor-porações, até o ponto em que tais agrupações, regidas por direito próprio, cheguem a ser considerados por muitos, se não como essen-ciais, pelo menos como conaturais à socieda-de civil (83)”.Depois de particularizar nos números 91 a 95 as maneiras especiais (e novas) de organiza-ção sindical e corporativa, com os respectivos compromissos, Pio XI fala dos benefícios que tais entidades podem trazer, em especial, uma colaboração pacífi ca entre as classes. Contu-do, adverte-se para o perigoso que pode re-presentar o Estado, quando tenta assumir a função de tais entidades e substituir a livre iniciativa,a través de uma organização exces-sivamente burocratizada e politizada.Porém, tais entidades, para poderem desem-penhar bem suas funções, devem poder mo-ver-se num clima de liberdade e de iniciativa, tão bem defi nidos pelo “princípio da subsidia-riedade”. Por isso, no Nº 79 fala-se do grave e indispensável princípio, ou seja: como não se pode subtrair aos indivíduos e dar à comuni-dade o que eles podem realizar com seu pró-prio esforço e iniciativa, assim “constitui um grave prejuízo e perturbação da reta ordem, tirar das comunidades menos e inferiores, o que elas podem realizar e proporcionar e dá-la à sociedade maior”. Portanto “tenham bem presente os governantes que, enquanto mais vigorosamente reine este princípio de função “subsidiária”, a ordem hierárquica entre as diversas associações, tanto mais fi rme será não só a autoridade, mas também a efi ciência social” (80).

(1) Fonte: UNISINOS - São Leopoldo - RS(2) JOSÉ ODELSO SHNEIDER é padre, doutor e professor da Universidade de São Leopoldo - RS, e escritor de Livros e Artigos sobre Cooperativismo.

3.1 - Breve contextualizaçãoSetenta anos após a Primeira Encíclica Social, é com João XXIII, na terceira Encíclica So-cial, a “Mater et Magistra”, que o associati-vismo e de maneira especial o cooperativismo agrário mais tem atraído a atenção do Magis-tério. Logo no início da Encíclica recorda-se que embora a Igreja tenha como principal missão santifi car as almas e de as fazer par-ticipar dos bens e de ordem sobrenatural, ela como Mãe e Mestra, se ocupa também do dia-a-dia dos homens, tanto no que diz respeito ao sustento dos homens, quanto no que respeita à prosperidade e à civilização.Convém situar brevemente alguns aspectos

do contexto cultural da época de promulga-ção das duas encíclicas. As encíclicas sociais de João XXIII foram publicadas na década de 60, ou seja, em 1961 e 1963, que junto com a década de 70, passaram a ser décadas de es-perança, de otimismo, de efetiva crença nas possibilidades desenvolvimentistas de nossos países. Estavam em pleno curso e amplamen-te discutidas nos setores intelectuais e aca-dêmicos as duas teorias de desenvolvimento então mais em voga: a Teoria do Enfoque Li-near de Walt W. Rostow e a Teoria da Depen-dência, amplamente difundida pela CEPALC. Manifestava-se na época uma fé nas nossas potencialidades, que usadas racional e plane-jadamente, nos permitiriam superar os atrasos e chegar ao patamar de país desenvolvido.Para completar e fortalecer estas esperanças, ainda a partir da década de 70 se afi rma uma teologia da libertação, de cunho especifi -camente latino-americana, que partindo de algumas teorias e de alguns pressupostos de análise da realidade latino-americana oprimi-da e explorada pelas potências e economias do centro econômico mundial, concentrava as causas do nosso subdesenvolvimento na dependência, na opressão, na exploração e na subordinação às elites locais, interessadas na manutenção desta relação. A teologia da libertação incutia a esperança que uma vez superados estes obstáculos e resistências, através da mobilização organizada dos diver-sos segmentos populares, potencializada pela esperança religiosa de participar “já aqui e agora, embora ainda não de forma plena” na construção do Reino de Deus, se conseguiria superar as profundas contradições. Com tena-cidade e persistência, conseguiria romper-se as cadeias da escravidão, abrindo as fronteiras para a terra da promissão, a terra da justiça e da liberdade. As duas encíclicas de João XXIII, em plena época da mobilização con-ciliar e de suas amplas expectativas, muito contribuíram para alimentar tais esperanças. As duas encíclicas tiveram uma enorme difu-são e acolhida junto aos mais diversos setores da sociedade e da opinião pública da época. Vejamos agora em particular, as contribuições que tais encíclicas deram ao associativismo e cooperativismo da época.Concretizando os apelos em prol do protago-nismo expressos pela “Mater et Magistra”, muitos católicos, sacerdotes e leigos, empe-nharam-se em prol de uma intensa sindicali-zação rural e da criação de outras associações rurais: FAG e FAP.

3.2. A socialização favorece o associativis-mo/cooperativismo.A encíclica declara que a socialização é um dos aspectos característicos de nossa época. É a multiplicação progressiva das relações dentro da convivência social, e comporta a associação de várias formas de vida, desen-volvem-se organizações, em cujo interior se consegue uma ordem, graças a um equilíbrio renovado: é a exigência, por um lado, coorde-nação autônoma prestada por todos, indivídu-os e grupos; e por outro lado, coordenação no devido tempo e orientação promovidos pelas autoridades públicas (Nº63).A associação cooperativa oferece-se como fórmula adequada para que os agricultores “intervenham com efi cácia na vida pública, tanto nos organismos da administração, como

nas atividades de caráter político”. Acena-se aqui para o cooperativismo como organização que tem não só projeção econômica, mas tam-bém política.

3.3. Quais as estruturas econômicas que melhor correspondem à dignidade huma-na?Não é possível determinar quais estruturas melhor correspondem à dignidade humana e mais efi cientemente desenvolvem o sentido da responsabilidade. Porém, no nº81 da Ma-ter et Magistra se declara: “Contudo o Nosso Predecessor Pio XII indica oportunamente essa diretriz: A pequena e média propriedade agrícola, artesanal e profi ssional, comercial e industrial, deve ser assegurada e promovida; as uniões cooperativas devem garantir-lhes as vantagens próprias da grande exploração”. Um pouco a seguir, nos números 82, 83, 84, 86 e 87 da Encíclica “Mater et Magistra”, volta-se a tecer considerações sobre a impor-tância das cooperativas e dos apoios que me-recem ter:“... Julgamos oportunas algumas observações acerca da empresa artesanal e das cooperati-vas (83). Antes de mais nada, é preciso notar que ambas as empresas, para conseguirem vi-ver, devem adaptar-se constantemente – nas estruturas, no funcionamento e nos tipos de produtos – às situações sempre novas, deter-minadas pelos progressos das ciências e das técnicas, e ainda, pela variação nas exigências e preferências dos consumidores. Adaptação que devem realizar, antes que todos, o artesa-nato e os sócios das cooperativas (84).E continuando, diz: “Para este fi m, é necessá-rio que uns e outros possuam uma boa forma-ção não só técnica, mas também humana, e se encontrem organizados profi ssionalmente”. E para que as empresas familiares possam rea-lizar seus objetivos , seus integrantes devem ser bem capacitados. “É também indispensá-vel que os homens do campo, (especialmente os que possuem empresas de caráter familiar), estabeleçam ampla rede de instituições coo-perativas, estejam profi ssionalmente organi-zadas, e tomem parte ativa na vida pública, tanto nos organismos administrativos, como nos movimentos políticos” (141; 143:436).Na mesma Encíclica se diz que no mundo agrícola, a associação é atualmente uma exi-gência vital e muito mais, quando o setor se baseia na empresa familiar. No nº143 se de-clara que “Os trabalhadores da terra devem sentir-se solidários uns dos outros, e colabo-rar na criação de iniciativas cooperativistas e associações profi ssionais ou sindicais”. Tais entidades associativas são necessárias:- para tirar proveito dos progressos científi cos e técnicos na produção;- para contribuir efi cazmente para a defesa dos preços;- para chegar a um plano de igualdade com as outras profi ssões, ordinariamente organiza-das, dos outros setores produtivos;- para que a agricultura consiga fazer-se ouvir no campo político e junto dos órgãos de admi-nistração pública.

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Dominox 7Valdecir Palhares

Ao longo de sua história o movimento cooperativista vem construindo sím-bolos que o identifi cam na sociedade.

Assim foi adotado os dois PINHEIRINHOS porque antigamente o Pinheiro era tido como SIMBOLO DA IMORTALIDADE E DA FECUNDAÇÃO, pela sua SOBREVIVENCIA em TERRAS MENOS FÉRTEIS e pela FACILIDADE NA MULTIPLICA-ÇÃO. Também temos o CIRCULO que representa a VIDA ETERNA, pois não tem horizonte fi nal, nem começo e nem fi m. O verde-escuro das árvo-res lembra o PRINCIPIO VITAL DA NATUREZA. O AMARELO-OURO dentro do círculo SIMBOLIZA O SOL, FONTE PERMANENTE DE ENERGIA A CALOR.Assim nasceu o EMBLEMA DO COOPERATIVISMO: um cír-culo abraçando dois pinheiros, para indicar a união do movimento a IMORTALIDADE DE SEUS PRINCI-

PIOS, a FECUNDIDADE DOS SEUS IDEAIS a VITALIDADE DE SEUS ADEPTOS. Tudo isto marcado na TRAJETORIA ASCENDENTE DOS PINHEIROS que se proteja para o alto procuran-do subir cada vez mais.Finalmente temos a BANDEIRA de representação internacional única do cooperativismo, que leva as CORES DO ARCO-ÍRIS, aprovado pela Alian-ça Cooperativa Internacional – ACI, em 1932, composta por SETE CORES formando LISTRAS HORIZON-TAIS, a bandeira assim como o Arco-Íris sim-bolizam a PAZ, a ESPERANÇA, e a HARMONIA depois do tormento.O Cooperativismo, ao adotar essa bandei-ra, leva a MENSAGEM DE PAZ E DA UNIDADE, separando quaisquer diferenças em BUSCA DE UM MUNDO MELHOR, onde vingue a LIBERDADE INDIVIDUAL e a JUSTIÇA SOCIAL.

Para o cooperativismo cada cor da bandeira tem um signifi cado próprio, sendo o VERMELHO CORAGEM: AMARELIDESÁGIO EM CASA, FAMÍLIA E COMUNIDADE; VERDE (crescimento de ambos, individual como pessoa) e dos COOPERADOS; AZUL (horizonte distan-te, a NECESSIDADE DE AJUDAR OS MENOS AFORTUNADOS, unin-do-se uns aos outros); ANIL (pessimismo, lem-brando a necessidade de AUTO-AJUDA e aos outros através da COOPERAÇÃO; e VIOLETA que indica BELEZA, CALOR HUMANO e COLEGUISMO.

(1) Valdecir Palhares é médico e professor, presidentedo Sicoob Central Amazônia, pte. da Unicon(Cooperativa de Consumidores) e da Coometropolitan(Cooperativa Habitacional), escritor de artigos epoemas sobre cooperativismo e cooperação.

Bandeira Atual do Cooperativismo

A Bandeira do Cooperativismo, com as cores do arco-íris, foi criada pela ACI em 1923.O Conselho de Administração da ACI em

sua reunião, na Cidade de Roma, em abril de 2001, concordou em alterar a Bandeira. O motivo da al-teração foi promover e consolidar claramente a imagem cooperativa, já que a mesma bandeira era usada por grupos não cooperativistas, o que causou confusões em diversos países.A bandeira que substitui a tradicional é de cor bran-ca e leva impressa o logotipo da ACI no centro, de onde emergem pombas da paz.

• Vermelho = coragem.• Alaranjado = visão de futuro.• Amarelo = família e comunidade.• Verde = crescimento como pessoa e como associado.• Azul = necessidade de apoiar os menos afortunados.• Anil = auto e mútua-ajuda.• Violeta = beleza, calor humano e coleguismo.

Fonte: extraído do Livro Cooperativismo: Primeiras Lições - 3ª Edição - Pág. 28 - Editora OCB - Brasília-DFALBINO GAWLAK.