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Aprender a ajudar Agradecemos a presença de todas as pessoas e entidades que, de forma gratuita e solícita, acederam a colaborar connosco na organização deste colóquio e desta mostra. A actividade que, com os nossos formadores, organizámos, tem um objectivo um pouco parcial: é para nosso benefício; mas cremos que perdoarão este pequeno egoísmo, pois afinal o objectivo da actividade é ensinar-nos a ser técnicos de apoio psicossocial, ou seja, especialistas em ajudar os outros, em fazer bem o bem, em ter atenção ao sofrimento…e possibilidade da esperança. Somos alunos de um curso profissional e, a acreditar no que um psicólogo do desenvolvimento vocacional afirma, estamos já no período realista das nossas escolhas profissionais… sejamos então realistas. Alguns de nós estão aqui porque anseiam de facto por começar a trabalhar, e sair da escola após um percurso nem sempre feliz (pior para a escola); outros estão aqui à procura de uma outra oportunidade de prosseguir estudos, buscando uma alternativa aos cursos clássicos que não nos serviram (e a escola tem de servir os alunos, não servir-se deles); outros ainda estão à procura de um não sei quê -- e talvez descubram. Somos nós. Não sabemos se de facto vamos ser técnicos de apoio psicossocial; sabemos contudo que já nos Jornal do Curso Profissional de Técnico de Apoio Psicossocial A dor, na definição da Associação Internacional para o Estudo da Dor, é uma sensação desagradável e uma experiência emocional associadas a uma lesão tecidular, efectiva ou potencial, ou descrita em termos de tal lesão. A compreensão da vivência psicológica da dor, e do sofrimento social ou moral que lhe são próximos, com o objectivo de ajudar a pessoa sofredora, são um dos desafios mais difíceis dos técnicos de apoio psicossocial; ajudar pode significar: tratar, curar, mudar, atenuar, ensinar a enfrentar positivamente o inevitável e mesmo o absurdo, mostrar solicitude e empenho pela pessoa que sofre. Deste modo, compreender a dor e o sofrimento no outro, e estar disponível para ajudá-lo a compreender também, é a exigência básica de um técnico de apoio psicossocial. Formar profissionais nesta área implica, por isso, um olhar atento quer para dentro de si próprio, buscando o crescimento interior e a capacidade de autoconhecimento, quer para o mundo em que vivemos, diagnosticando os problemas e actuando criticamente para descobrir sua solução, pois esse mundo exige, mais do que nunca, essa atenção activa e crítica. Vivemos no tempo em que se

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Aprender a ajudar

Agradecemos a presença de todas as pessoas e entidades que, de forma gratuita e solícita, acederam a colaborar connosco na organização deste colóquio e desta mostra.

A actividade que, com os nossos formadores, organizámos, tem um objectivo um pouco parcial: é para nosso benefício; mas cremos que perdoarão este pequeno egoísmo, pois afinal o objectivo da actividade é ensinar-nos a ser técnicos de apoio psicossocial, ou seja, especialistas em ajudar os outros, em fazer bem o bem, em ter atenção ao sofrimento…e possibilidade da esperança.

Somos alunos de um curso profissional e, a acreditar no que um psicólogo do desenvolvimento vocacional afirma, estamos já no período realista das nossas escolhas profissionais… sejamos então realistas.

Alguns de nós estão aqui porque anseiam de facto por começar a trabalhar, e sair da escola após um percurso nem sempre feliz (pior para a escola); outros estão aqui à procura de uma outra oportunidade de prosseguir estudos, buscando uma alternativa aos cursos clássicos que não nos serviram (e a escola tem de servir os alunos, não servir-se deles); outros ainda estão à procura de um não sei quê -- e talvez descubram. Somos nós.

Não sabemos se de facto vamos ser técnicos de apoio psicossocial; sabemos contudo que já nos confrontámos com situações, pessoas e instituições nas quais a relação de ajuda é crucial, novas (e por vezes assustadoras) para nós e que, por nossa iniciativa, talvez nunca procurássemos voluntariamente - a palavra voluntário não é propriamente a mais utilizada pelo nosso director de curso neste contexto…

Aprender a ajudar os outros pode, afinal, ser também aprender a ajudar-nos a nós próprios. É por isso que estamos gratos a todos por estarem aqui a ajudar-nos nesse objectivo.

Os alunos do curso TAP (*)

(*) Intervenção inicial dos formandos do Curso TAP no Colóquio “Cidadania & limitação” organizado pelo Curso TAP na Biblioteca Municipal de Condeixa.

Jornal do Curso Profissional de Técnico de Apoio Psicossocial

A dor, na definição da Associação Internacional para o Estudo da Dor, é uma sensação desagradável e uma experiência emocional associadas a uma lesão tecidular, efectiva ou potencial, ou descrita em termos de tal lesão.

A compreensão da vivência psicológica da dor, e do sofrimento social ou moral que lhe são próximos, com o objectivo de ajudar a pessoa sofredora, são um dos desafios mais difíceis dos técnicos de apoio psicossocial; ajudar pode significar: tratar, curar, mudar, atenuar, ensinar a enfrentar positivamente o inevitável e mesmo o absurdo, mostrar solicitude e empenho pela pessoa que sofre. Deste modo, compreender a dor e o sofrimento no outro, e estar disponível para ajudá-lo a compreender também, é a exigência básica de um técnico de apoio psicossocial.

Formar profissionais nesta área implica, por isso, um olhar atento quer para dentro de si próprio, buscando o crescimento interior e a capacidade de autoconhecimento, quer para o mundo em que vivemos, diagnosticando os problemas e actuando criticamente para descobrir sua solução, pois esse mundo exige, mais do que nunca, essa atenção activa e crítica.

Vivemos no tempo em que se anuncia a passagem do estado providência ao estado penitenciário, o tempo da «perseguição dos sem abrigo, da tolerância zero, do crescimento contínuo da população prisional, da vigilância punitiva dos beneficiários da assistência social: por toda a Europa se faz sentir a tentação de usar as instituições policiais e penitenciárias para julgar as desordens geradas pelo desemprego, pela precarização do trabalho e pelo recuo da protecção social.» (Loïc Wacquant)

A formação profissional nesta área, e neste contexto, é também uma aprendizagem ética; sabemos disso e por isso estamos a tentar torná-la possível.

A Direcção de Curso

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Visita de trabalho à Casa de Saúde Rainha Santa Isabel

Sessão de trabalho com o psicólogo clínico Albano Tomás

Programa

Data: 18/01/2010

Local: Casa de Saúde Rainha Santa Isabel

Destinatários: Alunos de Psicologia da Escola Fernando Namora, utentes, familiares, técnicos e colaboradores da CSRSI

Segunda-feira, dia 18 de Janeiro de 2010

Manhã:

10h - Recepção e apresentação da Casa de Saúde Rainha Santa Isabel

11h - Visita dos alunos do Curso de Apoio Psicossocial da Escola Fernando Namora

Tarde:

15h - Fórum “Inteligência Emocional e Saúde Mental” (aberto a utentes, familiares, técnicos e colaboradores da CSRSI)

No âmbito da colaboração do Curso TAP com o Centro de Saúde de Condeixa, o psicólogo clínico Albano Tomás realizou na nossa escola, para os alunos do Curso TAP, uma sessão sobre reabilitação psicossocial com pessoas portadoras de doença mental de evolução prolongada.

«A reabilitação psicossocial é o processo de desenvolvimento das capacidades psíquicas remanescentes do doente e de aquisição de novas competências para o autocuidado, actividades de vida diária, relacionamento interpessoal, integração social e

profissional e participação na comunidade. A reabilitação - praticada por psiquiatras,

psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros, reabilitadores, pelos familiares e pelos próprios esforços dos pacientes – procura melhorar as capacidades a longo prazo das pessoas com perturbações psiquiátricas no que diz respeito à sua vida, aprendizagens, trabalhos e adaptação da forma mais normalizada possível.»

A sessão permitiu-nos saber o que se entende actualmente por reabilitação, como se faz, quais os problemas e possibilidades que existem, qual o nosso papel e, sobretudo,

No âmbito das visitas de trabalho a instituições e empresas que desenvolvem actividades na nossa área de formação, realizámos uma visita à Casa de Saúde Rainha Santa Isabel (CSRSI). Num primeiro momento, e após uma breve (e muito cortês) cerimónia de boas vindas da direcção da instituição, assistimos a uma apresentação sobre o trabalho dos psicólogos clínicos na instituição e também sobre o trabalho dos monitores que trabalham directamente com os utentes; esta apresentação foi realizada pelo psicólogo clínico Paulo Santos e pelo grupo de estágio de psicologia da CSRSI.

Depois desta formação teórica, realizámos uma visita guiada às diversas valências da instituição, contactámos com os utentes e com os monitores que com eles trabalham; esta parte da visita foi bastante interessante, pois permitiu-nos ter uma perspectiva muito clara do que seria o nosso trabalho nesta instituição. Visitámos também a Quinta Pedagógica, um projecto da CSRSI que se enquadra na nova concepção da saúde mental, pois procura oferecer aos utentes uma vida que aproveite totalmente as funcionalidades das pessoas com doença mental.

Por fim, e ainda no âmbito do esforço que a CSRSI está a realizar para oferecer aos seus utentes que possuam um grau de autonomia que, exigindo alguma supervisão, lhes permite viver e trabalhar fora da instituição, visitámos dois apartamentos na vila de Condeixa nos quais estão já a residir alguns utentes; falámos com eles e tomámos conhecimento do modo como organizam a sua vida e do trabalho dos supervisores, os quais realizam um tipo de trabalho que nós poderemos vir a fazer.

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Visita à APPACDM de Condeixa

Visita de trabalho à ADFP / Quinta da Paiva

Os formandos do Curso TAP realizaram uma visita de trabalho à APPACDM de Condeixa com o objectivo de conhecerem o trabalho desenvolvido por esta instituição e, mais especificamente, de conhecerem as pessoas que nela são acolhidos, o tipo de trabalho realizado pelos psicólogos, pelos assistentes sociais e pelos monitores que acompanham mais de perto os utentes.

A psicóloga clínica Conceição Grade realizou, no seu gabinete, uma sessão teórica na qual nos deu diversas informações sobre os pontos acima referidos e também sobre a história da APPACDM; além disso, apresentou-nos de forma muito realista, mas com boa disposição, as dificuldades que o nosso trabalho encontrará neste campo. Contudo, mostrou-nos como mesmo num trabalho difícil há momentos bons e divertidos se soubermos reconhecer no outro que é diferente alguém capaz de sentir dor, de amar, brincar e desenvolver as suas capacidades funcionais.

Depois deste diálogo elucidativo, realizámos uma visita às diversas dependências da instituição, que inclui uma secção de formação, e contactámos com os utentes; vimos também os diversos tipos de trabalhos realizados pelos utentes.

Os formandos do curso TAP realizaram uma vista de trabalho à ADFP / Quinta da Paiva com os objectivos de conhecer as finalidades, a organização e a actuação terapêutica, pedagógica e recreativa da Fundação ADFP / Quinta do Paiva, de conhecer o trabalho dos técnicos, formadores e auxiliares da Fundação ADFP / Quinta do Paiva, de conhecer os utentes da Fundação ADFP / Quinta do Paiva, de adquirir conhecimentos sobre às áreas de competência do curso TAP desenvolvidas na Fundação ADFP / Quinta do Paiva e também de desenvolver a cooperação entre formandos e formadores.

A ADFP (Associação para o desenvolvimento e formação profissional) é uma IPSS (Instituição Privada de Solidariedade Social) sem fins lucrativos, reconhecida como de Utilidade Pública desde 1989. Com sede em Miranda do Corvo, a ADFP estende o seu raio de acção a vários concelhos do distrito de Coimbra. Assegura Valências e Serviços Culturais nos concelhos de Coimbra, Penela, Lousã, Góis e Penacova. Congrega mais de 2.500 sócios. As pessoas que regularmente utilizam os nossos serviços ultrapassam as 3.400. Este conjunto integra as 250 pessoas (idosos, deficientes, doentes crónicos, mulheres maltratadas e crianças) que vivem nas residências da instituição. Apoia deficientes, doentes crónicos e inadaptados, crianças, jovens e idosos, pelo propósito de dar expressão ao dever de solidariedade entre as pessoas, bem como pela completa integração do indivíduo na sociedade Recusa ser um gueto de pessoas com carências. Possuí valências sociais, serviços de saúde, secções culturais, recreativas e desportivas. Aposta numa lógica de desenvolvimento regional, tendente à criação de riqueza, postos de trabalho e combate à pobreza. Tem como objectivo último promover a qualidade de vida (física, psíquica, económica e social) de vários grupos sociais - crianças, jovens, adultos desfavorecidos, deficientes, doentes e idosos.»

O Nosso programa de trabalho foi o seguinte; começámos por realizar uma visita ao Centro infantil e à Unidade de Vida Apoiada da ADFP com a coordenadora da Área de Infância, Psicóloga Dalila Salvador; posteriormente, visitámos o Parque Biológico da Serra da Lousã / Museu Vivo de Artes e Ofícios Tradicionais – Área de Actividades Ocupacionais com a Técnica de Turismo Silvianne Suilen e a Psicopedagoga Sofia Santos. Almoçámos no restaurante da Instituição – muito bem – e após o almoço visitámos a Residência Geriátrica e Residência Assistida com a Técnica de Serviço Social Adélia Sá Marta. Já não houve tempo para visitar a Residencial, mas a Directora da instituição, a antropóloga Glória Correia, explicou-nos o seu funcionamento e a psicóloga Patrícia Fernandes, responsável pelo projecto Mente, para doentes Mentais fez-nos uma apresentação do seu projecto.

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COLÓQUIO SOBRE A FORMAÇÃO ESCOLAR E PROFISSIONAL, A REABILITAÇÃO E A INCLUSÃO DE PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA & MOSTRA DE TRABALHOS REALIZADOS POR UTENTES DA APPACDM.

O Curso TAP visa desenvolver, entre outras, as seguintes três competências: 1) identificar, diagnosticar, analisar e avaliar diferentes domínios, contextos, situações, problemas e comportamentos sobre os quais seja necessário intervir; 2) planear, organizar, desenvolver e avaliar programas, projectos, acções e actividades que dêem resposta às necessidades diagnosticadas; 3) intervir junto de indivíduos, grupos, comunidades, ou populações com necessidades específicas, promovendo o seu desenvolvimento pessoal e sócio-comunitário.

O colóquio Cidadania e Limitação, que realizámos no dia 18 de Março na Biblioteca Municipal, e também a Mostra de trabalhos de utentes da APPACDM que ainda aí decorre (até 25 de Março), visaram desenvolver estes três objectivos. Neste sentido, identificou-se uma área – a formação escolar e profissional, a reabilitação e a inclusão de pessoas portadoras de deficiência – na qual as recentes alterações legais causam dúvidas e dificuldades; depois convidámos os especialistas que tratam do problema no concelho de Condeixa para nos falarem sobre o assunto de uma forma informada e rigorosa; convidámos também algumas pessoas portadoras de deficiência cujas vidas são exemplos de uma luta bem-sucedida pela inclusão e solicitámos-lhes que nos narrassem as suas experiências; por fim, convidámos também a mãe de um aluno portador de deficiência e solicitámos-lhe que nos falasse dos seus problemas e experiência pessoal.

Todos os convidados aceitaram, de forma graciosa, retirando ao seu tempo o tempo que nos deram, e apenas com o interesse de nos ajudar a pensar melhor um problema social importante; a sua colaboração também é uma lição sobre o que é ser um técnico de apoio psicossocial mas, mais do que isso e muito mais simplesmente, sobre o que é ser uma pessoa solidária.

Lurdes Breda e Vicente Guimarães João SousaJoão Rodrigues

Conceição Grade Albano Tomás Madalena Almeida e Cristina Póvoa Maria Júlia Alves e Luís Alves