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Jornalismo E Mercado

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jornalismo e mercado.

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    Pedro Coelho

    Jornalismo e Mercado:os novos desafios colocados formao

    LabCom Books 2015

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    Livros LabComCovilh, UBI, LabCom, Livros LabComwww.livroslabcom.ubi.pt

    SRIEPesquisas em ComunicaoDIREOJos Ricardo CarvalheiroDESIGN DE CAPACristina LopesPAGINAOFilomena Matos

    ISBN978-989-654-202-3 (Papel)978-989-654-204-7 (pdf)978-989-654-203-0 (epub)DEPSITO LEGAL987955/15TIRAGEMPrint-on-demand

    TTULOJornalismo e Mercado: os novos desafios colocados formaoAUTORPedro CoelhoANO2015

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    ndice

    Apresentao: Jornalista de Fronteira 1

    Introduo 7

    1 Jornalismo: os alicerces de uma profisso 191.1 A funo social das notcias . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

    1.1.1 O ato de tornar pblicos os factos notveis que ali-mentam a discusso racional . . . . . . . . . . . . . . 22

    1.2 Um jornalismo para as massas: uma informao que enformasem formar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 241.2.1 A sociedade de massas . . . . . . . . . . . . . . . . . 241.2.2 O Estado-Social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 251.2.3 Os instrumentos de controlo da opinio pblica fonte

    de legitimao do Estado . . . . . . . . . . . . . . . . 261.2.4 A publicidade que limita e liberta os jornais . . . . . . 271.2.5 O novo jornalismo do sculo XIX e a exigncia de

    uma formao especfica . . . . . . . . . . . . . . . . 281.2.6 Entreter em vez de informar (as marcas da Yellow

    Press em Portugal) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 311.2.7 A objetividade: o mtodo que protege a identidade do

    jornalismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 341.3 A constituio do campo jornalstico e a imposio do mercado 37

    1.3.1 Uma profisso de largo espetro: o profissionalismo ea linha editorial dos rgos de comunicao social . . 39

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    1.3.2 O peso das influncias que moldam uma atividadeprofissional singular . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

    1.3.3 Um ofcio de fronteira . . . . . . . . . . . . . . . . . 421.3.4 As intersees que atravessam o campo jornalstico . . 50

    2 Jornalismo, Democracia e Mercado 532.1 O papel do jornalismo nas sociedades democrticas . . . . . . 54

    2.1.1 Jornalismo, esfera pblica e democracia . . . . . . . . 542.1.2 Jornalismo e democracia . . . . . . . . . . . . . . . . 562.1.3 Para uma definio de jornalismo . . . . . . . . . . . 602.1.4 A autonomia do jornalista . . . . . . . . . . . . . . . 612.1.5 O quadro de valores do jornalismo . . . . . . . . . . . 652.1.6 A verdade: o alicerce slido do jornalismo . . . . . . 682.1.7 A credibilidade: o culminar de um processo . . . . . . 712.1.8 As notcias com contexto . . . . . . . . . . . . . . . . 722.1.9 A reportagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 732.1.10 O jornalismo de investigao . . . . . . . . . . . . . . 742.1.11 A queda do muro que separava o lado editorial do lado

    comercial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 782.2 Jornalismo e mercado. Os anos 80 do sculo passado e a mu-

    dana de paradigma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 812.2.1 O poder ftuo dos jornalistas . . . . . . . . . . . . . . 812.2.2 O mercado e a hipervalorizao do poder dos media . 822.2.3 Os jornalistas precrios . . . . . . . . . . . . . . . . . 842.2.4 Os efeitos do mercado nas empresas . . . . . . . . . . 872.2.5 A idade de ouro da imprensa: o poder efetivo de um

    negcio lucrativo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 912.2.6 A crise de credibilidade dos media informativos . . . . 922.2.7 O papel dos conglomerados no enquadramento das

    notcias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 942.2.8 Os efeitos do monoplio do estado na televiso . . . . 962.2.9 O negcio da televiso . . . . . . . . . . . . . . . . . 982.2.10 Da manipulao poltica manipulao financeira . . 1002.2.11 O papel de Rupert Murdoch na contaminao do jor-

    nalismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105

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    2.2.12 O jornalismo de mercado e a excluso das opiniesmarginais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108

    2.2.13 A vitria das soft news e do infotainment: novos pila-res do jornalismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110

    2.2.14 Sinais de resistncia no interior das redaes . . . . . 1142.3 Os efeitos da tecnologia no jornalismo de mercado . . . . . . 115

    2.3.1 A era desindustrial da economia global . . . . . . . . 1162.3.2 O lugar da tecnologia no jornalismo . . . . . . . . . . 1172.3.3 Novas tecnologias apressam diluio das fronteiras

    protetoras do jornalismo . . . . . . . . . . . . . . . . 1192.3.4 O potencial tecnolgico . . . . . . . . . . . . . . . . 120

    3 Os efeitos da internet no jornalismo (o binmio economia-tecno-logia) 1253.1 A longa vida das plataformas mediticas . . . . . . . . . . . . 126

    3.1.1 Processos de interligao entre os diversos meios . . . 1323.2 Sustentabilidade do jornalismo na rede . . . . . . . . . . . . . 134

    3.2.1 Marcas de referncia geram maiores audincias masmenores receitas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134

    3.2.2 Menores receitas, menor qualidade . . . . . . . . . . . 1383.2.3 A identidade da internet . . . . . . . . . . . . . . . . 142

    3.3 A associao da internet ao jornalismo . . . . . . . . . . . . . 1443.3.1 Os efeitos de um meteorito . . . . . . . . . . . . . . . 1483.3.2 A primeira vtima do meteorito . . . . . . . . . . . . . 1503.3.3 Um segundo erro de clculo . . . . . . . . . . . . . . 1533.3.4 Por uma internet menos livre . . . . . . . . . . . . . . 1553.3.5 Os riscos da subscrio . . . . . . . . . . . . . . . . . 1573.3.6 Uma proposta para quebrar o mito . . . . . . . . . . . 1583.3.7 Uma transposio fac-similada . . . . . . . . . . . . . 160

    3.4 A centralidade do pblico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1623.4.1 Dan Gillmor e a obsesso tecnolgica . . . . . . . . . 1623.4.2 Os efeitos sociais da nova tecnologia (uma orientao

    para o dilogo) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1653.4.3 O novo pblico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1673.4.4 Um novo jornalismo, um novo jornalista, um novo p-

    blico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 170

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    3.4.5 Um novo jornalista ainda mais comprometido com atica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175

    3.4.6 Um jornalista mais comprometido com a tecnologia . 1773.4.7 Um Homem Orquestra jornalisticamente multi-in-

    capacitado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1793.4.8 A convergncia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1833.4.9 O porto perdeu o guarda . . . . . . . . . . . . . . . . 1873.4.10 A necessidade de esbater as fronteiras entre velho e

    novo jornalismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1883.5 Os efeitos negativos da internet no jornalismo . . . . . . . . . 192

    3.5.1 Combater o excesso de informao no filtrada . . . . 1933.5.2 A urgncia da medialiteracia . . . . . . . . . . . . . . 1953.5.3 Jornalismo de verificao vai dando lugar ao jorna-

    lismo de afirmao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1973.5.4 O jornalismo do cidado . . . . . . . . . . . . . . . . 2003.5.5 O caso especfico do OhmyNews . . . . . . . . . . . 2023.5.6 O frgil fermento da rede . . . . . . . . . . . . . . . . 2053.5.7 Os agregadores de notcias . . . . . . . . . . . . . . . 2063.5.8 Por um jornalismo que resista aos efeitos negativos da

    rede . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2083.5.9 O esvaziamento da redao tradicional . . . . . . . . . 211

    3.6 Os efeitos positivos da internet no jornalismo . . . . . . . . . 2113.6.1 Participao responsvel do pblico . . . . . . . . . . 2133.6.2 O prximo jornalismo e a necessidade de reforar o

    escudo protetor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2153.6.3 Solues para o jornalismo de qualidade na era digital 2183.6.4 Interligao entre meios e o papel da universidade . . 2213.6.5 Nova esfera pblica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 226

    4 O jornalismo enquanto campo acadmico 2334.1 Um olhar sobre a histria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 234

    4.1.1 Ensino do jornalismo: uma inveno Norte-Americana 2344.1.2 A chegada do ensino do jornalismo Europa . . . . . 2374.1.3 O caso Espanhol . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2374.1.4 Os casos Ingls, Francs, Alemo e Italiano . . . . . . 2394.1.5 O caso Portugus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 243

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    4.2 A matriz de Joseph Pulitzer . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2444.2.1 Os riscos de um processo de Educao Universal Compul-

    sria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2444.3 A necessidade de reconstruo do jornalismo . . . . . . . . . 251

    4.3.1 A construo do binmio estudo-ensino do jornalismo 2534.3.2 Indstria dos media e academia: caminhos paralelos . 2544.3.3 O posicionamento do jornalismo na academia . . . . . 2574.3.4 A dimenso do fosso . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2604.3.5 A origem e a dimenso do fosso em Portugal . . . . . 2624.3.6 Os jornalistas ausentes da primeira incurso do jorna-

    lismo na academia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2644.4 Argumentos em defesa de formao acadmica especfica . . . 270

    4.4.1 Formao acadmica e a defesa do jornalismo e dademocracia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 271

    4.4.2 O objeto programtico da formao acadmica . . . . 273

    5 O ensino do jornalismo e o molde do mercado 2775.1 Cursos de jornalismo/comunicao: novo campo de recruta-

    mento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2785.1.1 Formao acadmica em jornalismo: Uma escrava

    de dois senhores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2795.1.2 Crticas do mercado no impedem que academia seja

    a base do recrutamento . . . . . . . . . . . . . . . . . 2815.1.3 Portugal acompanha tendncia Europeia e Americana

    para contratar Licenciados em Jornalismo/Comunicao2825.1.4 Um acesso aberto a requerer questionamento . . . . . 2865.1.5 Peso da academia na formao deveria deixar o mer-

    cado na dependncia da academia . . . . . . . . . . . 2895.2 O molde do mercado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 292

    5.2.1 O paradoxo dos anos 80: mais ensino num ambientedominado pela economia . . . . . . . . . . . . . . . . 292

    5.2.2 O que significa, para o mercado, uma formao dequalidade? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 295

    5.2.3 A qualidade da formao na tica dos grupos de me-dia portugueses . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 300

    5.2.4 Cursos acadmicos mais prximos da profisso . . . . 302

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    5.2.5 Indstria investe em programas autnomos para suprirfalhas da academia . . . . . . . . . . . . . . . . . . 303

    5.3 O desafio da academia: inverter a crise de autonomia . . . . . 3065.3.1 O desafio da autonomia . . . . . . . . . . . . . . . . . 3075.3.2 Os problemas oramentais . . . . . . . . . . . . . . . 3095.3.3 Academia e indstria: pontes de contacto . . . . . . . 3115.3.4 O debate de columbia . . . . . . . . . . . . . . . . . . 313

    5.4 A profissionalizao dos jornalistas . . . . . . . . . . . . . . . 3165.4.1 O impacto das redes de socializao dos jornalistas e

    as resistncias profissionalizao . . . . . . . . . . . 3165.4.2 Profissionalizao e formao acadmica: um percurso

    pela histria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3195.4.3 Vencer o desafio da profissionalizao pela via da for-

    mao acadmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3215.4.4 O desafio da inovao e da competncia . . . . . . . . 3245.4.5 A frgil identidade da profisso promove uma frgil

    identidade da formao . . . . . . . . . . . . . . . . . 3265.5 Como colocar o peso do nmero ao servio da qualidade da

    formao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3295.5.1 Discusso sobre o percurso acadmico ideal . . . . . . 3315.5.2 Efeitos da crise de sustentabilidade do jornalismo no

    afasta jovens da profisso . . . . . . . . . . . . . . . . 3345.5.3 A influncia dos licenciados na redao . . . . . . . . 3375.5.4 Novos desafios colocados formao acadmica: o

    primado do pblico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 340

    6 O ensino do jornalismo em Portugal 3436.1 A histria do ensino do jornalismo em Portugal . . . . . . . . 343

    6.1.1 As marcas da ditadura . . . . . . . . . . . . . . . . . 3456.1.2 O ps revoluo e a chegada do jornalismo academia 3486.1.3 Uma ideia que ficou por concretizar . . . . . . . . . . 3496.1.4 O caso especfico do politcnico e a aproximao ao

    ensino universitrio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3506.1.5 Uma proximidade que esbate diferenas e aniquila mar-

    cas de identidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 351

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    6.1.6 A evoluo da oferta na rea no politcnico pblico eprivado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 352

    6.1.7 Evoluo da oferta universitria a partir do molde daUNL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 354

    6.1.8 Evoluo do Nmero de Vagas . . . . . . . . . . . . . 3596.1.9 As razes e os efeitos de uma oferta no pblico contra

    a corrente do mercado . . . . . . . . . . . . . . . . . 3626.2 Tendncias que resultam da observao dos planos de estudo . 366

    6.2.1 A matriz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3666.2.2 Cursos de jornalismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3686.2.3 Associao entre perfil da escola perfil dos docentes

    estruturao do plano estudos . . . . . . . . . . . . 3736.2.4 Cursos do campo comunicao . . . . . . . . . . . . . 3746.2.5 Cursos do campo cincias sociais e humanas . . . . . 378

    6.3 Pressupostos orientadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3796.3.1 Inexistncias de diferenas significativas entre Uni-

    versidade e Politcnico . . . . . . . . . . . . . . . . . 3796.3.2 Escassa representatividade de unidades curriculares

    com programas de estudo alternativos na rea do jor-nalismo e da comunicao . . . . . . . . . . . . . . . 384

    6.4 Concluses . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 385

    7 Jornalismo e academia em Portugal: Estudo de caso 3877.1 Cincias da Comunicao na Universidade Nova de Lisboa . . 395

    7.1.1 A variante em jornalismo (Evoluo do peso da variante)3967.1.2 Identificao dos problemas da variante . . . . . . . . 3987.1.3 Pontes entre os docentes da rea . . . . . . . . . . . . 4007.1.4 Estratgias da coordenao . . . . . . . . . . . . . . . 4027.1.5 Anlise do plano de estudos: a articulao entre as

    dimenses terica e prtica . . . . . . . . . . . . . . . 4047.1.6 A avaliao do plano de estudos pelos alunos . . . . . 4077.1.7 A avaliao ao curso pelos alunos . . . . . . . . . . . 4097.1.8 O equipamento tcnico disponvel e a visibilidade dos

    trabalhos dos alunos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4107.1.9 O papel atribudo ao estgio . . . . . . . . . . . . . . 4127.1.10 As pontes entre o curso e as empresas na fase de estgio414

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    7.2 Cincias da Comunicao: Jornalismo, Assessoria, Multime-dia na Universidade do Porto . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4217.2.1 A variante em jornalismo. Evoluo do peso da variante4237.2.2 Identificao dos problemas da variante. Composio

    da variante e caractersticas do corpo docente . . . . . 4247.2.3 Pontes entre os docentes da rea . . . . . . . . . . . . 4277.2.4 Estratgias de coordenao . . . . . . . . . . . . . . . 4287.2.5 A avaliao do plano de estudos pelos alunos . . . . . 4317.2.6 A avaliao do curso pelos alunos . . . . . . . . . . . 4347.2.7 O equipamento tcnico disponvel para as disciplinas

    da variante e a visibilidade dos trabalhos dos alunos . 4357.2.8 O papel atribudo ao estgio . . . . . . . . . . . . . . 4377.2.9 As pontes entre o curso e as empresas na fase de estgio438

    7.3 Comunicao Social na Escola Superior de Educao de Coim-bra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4447.3.1 A variante em jornalismo . . . . . . . . . . . . . . . . 4467.3.2 Composio da variante e caractersticas do corpo do-

    cente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4487.3.3 Estratgias de coordenao . . . . . . . . . . . . . . . 4517.3.4 Avaliao do plano de estudos pelos alunos . . . . . . 4567.3.5 O equipamento tcnico disponvel e a visibilidade dos

    trabalhos dos alunos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4587.3.6 O papel atribudo ao estgio . . . . . . . . . . . . . . 4597.3.7 As pontes entre o curso e as empresas na fase de estgio460

    7.4 Comunicao e Jornalismo na Universidade Lusfona de Hu-manidades e Tecnologias de Lisboa . . . . . . . . . . . . . . 4667.4.1 A composio do curso e as caractersticas do corpo

    docente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4687.4.2 Estratgias de coordenao . . . . . . . . . . . . . . . 4707.4.3 A avaliao do curso e do plano de estudos pelos alunos4727.4.4 O equipamento tcnico disponvel e a visibilidade dos

    trabalhos dos alunos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4747.4.5 O papel atribudo ao estgio e as pontes entre o curso

    e as empresas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4777.5 Cincias da Comunicao e da Cultura na Universidade Lu-

    sfona do Porto (ULP) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 480

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    7.5.1 Composio da variante e caractersticas do corpo do-cente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 483

    7.5.2 Estratgias de coordenao . . . . . . . . . . . . . . . 4867.5.3 A avaliao ao curso e ao plano de estudos pelos alunos4897.5.4 O equipamento tcnico disponvel e a visibilidade do

    trabalho dos alunos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4917.5.5 O papel atribudo ao estgio e as pontes entre o curso

    e as empresas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4927.6 Cincias da Comunicao do Instituto Superior da Maia . . . . 494

    7.6.1 A variante em jornalismo. Composio da variante ecaractersticas do corpo docente . . . . . . . . . . . . 495

    7.6.2 Estratgias de coordenao . . . . . . . . . . . . . . . 4977.6.3 A avaliao ao curso e ao plano de estudos pelos alunos5007.6.4 O equipamento tcnico disponvel e a visibilidade dos

    trabalhos dos alunos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5017.6.5 O papel atribudos ao estgio e as pontes entre o curso

    e a empresa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5027.7 Concluses . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 505

    8 Esboo de um modelo de formao em jornalismo 5078.1 A matriz de formao em jornalismo . . . . . . . . . . . . . . 507

    8.1.1 A banda estreita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5088.1.2 A banda larga em cincias da comunicao . . . . . . 510

    8.2 Estratgias de coordenao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5158.2.1 O peso da componente profissional nos projetos for-

    mativos analisados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5168.2.2 Reflexos do fosso e da inexistncia de pontes . . . . . 518

    8.3 Um novo mapa de interligaes . . . . . . . . . . . . . . . . . 5228.4 Estruturao do plano de estudos . . . . . . . . . . . . . . . . 537

    8.4.1 A comunicao enquanto sntese . . . . . . . . . . . . 5378.4.2 A tecnologia enquanto complemento . . . . . . . . . . 541

    8.5 Unidades curriculares mais prximas de um novo modelo deformao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5528.5.1 O tronco comum . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5538.5.2 Novas unidades curriculares de tronco comum, com-

    plementares ou clarificadoras da oferta j existente . . 554

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    8.5.3 A variante de jornalismo . . . . . . . . . . . . . . . . 5588.5.4 Ao jornalstica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5738.5.5 Sntese . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 576

    Concluso 579

    Bibliografia 597

    Entrevistas 629

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    Apresentao:Jornalista de Fronteira

    Denis Ruellan classifica o jornalismo como um ofcio de fronteira, no sentidoem que a proximidade com outros ofcios alarga o campo; ao invs de essealargamento representar o esbatimento da identidade do jornalismo, a rede deinterconexes que estabelece com atividades vizinhas e as influncias exterio-res que recebe, antes so garantia dessa identidade. A complexidade e riquezado jornalismo devem ser encontradas, no entender de Ruellan, na amalgama-gem e na flexibilidade que lhe percorre a essncia.

    Num momento em que as novas tecnologias tornaram mais difusas asfronteiras do jornalismo, fragilizando-lhe a base; num momento em que, nogigantismo da rede, mensagens provenientes das mais diversas origens se aco-tovelam para chegar ao pblico, o jornalismo e os jornalistas devem distanciar-se dessa mirade de vozes, colocando rtulos de credibilidade na informao,assumindo compromisso reforado com a tica. O sinal que emitimos , porisso, contrastante: de que forma pode o jornalismo, ao mesmo tempo, alargare fechar as suas fronteiras? Se a riqueza do jornalismo est na diversidade,o futuro do jornalismo est na necessidade de absorver, em pleno, o resul-tado dessas influncias sem perder o foco: os valores que o moldam e que lhegarantem identidade.

    Este livro, resultado de um trabalho acadmico que deu origem minhatese de doutoramento1, assinado por um jornalista que busca inspirao naamalgamagem de Ruellan e que, ao mesmo tempo, procura um escudo prote-

    1 Tese de doutoramento defendida na UNL em maro de 2014, intitulada A FormaoAcadmica para o Jornalismo do Sculo XXI: Sobre Questes de Prtica e Tcnica. Jornalismoe mercado os novos desafios lanados fornao.

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    tor para o jornalismo. Como muitos, tambm luto pela preservao do jorna-lismo, a nobre profisso que escolhi h quase trs dcadas.

    Em 1984, quando cheguei Faculdade de Cincias Sociais e Humanas eao curso de Comunicao Social, o nmero de licenciados na rea, entretantochegados profisso, era limitado. As pequenas fornadas que, anualmente,terminavam o curso eram recebidas com a resistncia de alguns tarimbeiros,formados na cultura cerrada da redao. De facto, um muro alto separava aredao da universidade; vivamos em mundos paralelos. Quando terminei alicenciatura e entrei na redao cruzei a fronteira e sentei-me ao lado dos ta-rimbeiros, bebi-lhes a experincia. O tempo obrigou-me a omitir a academia,tornando cada vez mais difusa a memria da passagem. ramos assim empur-rados para a desacademizao forada para uns, aceite sem resistncias pelamaioria; todos confrontados com a euforia do primeiro emprego, o avesso dauniversidade. Cresci profissionalmente procurando pontes com o que tinhatrazido da Faculdade; quando as encontrava tentava dar-lhes um uso.

    Sei hoje que o curso na rea a porta de entrada mais utilizada no acesso profisso. So mais as pontes, maiores os laos, menor a desconfiana dosprofissionais, a maioria com as mesmas origens. Mas ter diminudo, de facto,a dimenso do muro? No estar a universidade a ser mera fornecedora demo-de-obra qualificada, pronta a usar e disponvel para ser moldada pelomercado?

    O desejo de estudar o ensino do jornalismo para, eu prprio, me aproximardas respostas antigo e ter comeado a despertar nesse j longnquo 1988quando, pela primeira vez, entrei (para ficar) numa redao.

    Este trabalho acadmico conseguiu fortalecer a ideia de que o jornalismo ea universidade so troncos da mesma rvore. Tornei-me um jornalista de fron-teira, onde a universidade se transformou no prolongamento da minha aoquotidiana, atribuindo-lhe um lugar prprio de questionamento, que a proxi-midade do objeto desfoca; participando na busca permanente de um sentidopara o jornalismo, nos dias em que todos sentem que podem ser jornalistas;alargando as fronteiras e, simultaneamente, precisando-lhe os contornos.

    Esta investigao acadmica , pois, um resultado desse jornalismo defronteira, onde a construo do trabalho acadmico permanentemente inter-mediada pelo jornalismo e pelos mtodos que servem de referncia ao jorna-lismo, da mesma forma que a prtica jornalstica, que quotidianamente exero,recebe as influncias da academia. Como sustenta Brooke Kroeger, as ferra-

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    mentas de um reprter podem ser instrumentos de preciso nas mos de umacadmico, da mesma forma que os mtodos de pesquisa da academia sofundamentais para o jornalista (2002).

    Os universos paralelos (jornalismo e academia), de que nos fala BarbieZelizer (2004: 2), relatando a sua prpria experincia quando chegou aca-demia vinda do jornalismo, estaro, todavia, pouco disponveis para estes en-trecruzamentos. No centro dessa quase indisponibilidade estar o perfil dasduas instituies, academia e jornalismo, que Eduardo Meditsch caracterizade uma forma particularmente eficaz: pouco maleveis, ciosas dos seus cos-tumes, extremamente vaidosas e pouco recetivas s opinies externas (2004:26 e 27).

    Este no um trabalho jornalstico, mas alimenta-se da investigao jorna-lstica, da entrevista jornalstica, da verificao e da objetividade jornalsticaspara se aproximar da verdade. Esta associao do jornalismo ao trabalho aca-dmico tem especial incidncia no estudo de caso, cujos resultados apresentono captulo sete. A opo pelas entrevistas presenciais, onde a factualidade enriquecida com o indizvel que a observao do investigador tenta desvendar as expresses, o olhar, a atitude ser o esteio condutor da deciso de as-sociar o jornalismo ao trabalho acadmico. Tentei, todavia, no perder o foconem o lugar, consciente de que a construo de um lugar de fronteira apre-senta riscos permanentes, cujo impacto esta explicao na primeira pessoadificilmente conseguir atenuar.

    Neste sentido, agradeo ao acadmico que me orientou neste percurso,Professor Joo Pissarra Esteves, quem mais vezes me alertou para que noperdesse esse foco, iluminando-me os riscos que poderia correr; agradeo-lhe, igualmente, o rigor que colocou na leitura e o processo construtivo queresultou desse cuidado.

    A lista dos agradecimentos obviamente longa; e nela incluo, emprimeiro lugar, a SIC, o lugar onde me possvel ser jornalista de fronteira,dispondo do tempo, que falta ao jornalismo quotidiano, para investigar e tes-tar, em interao permanente com chefias e colegas de trabalho, abordagensjornalsticas alternativas. Incluo, igualmente, o departamento de Cincias daComunicao da Universidade Nova de Lisboa, por me ter convidado, em2006, para assumir responsabilidades de docncia em unidades curricularesque no existiam e que pude criar de raiz. Estendo esse agradecimento aos

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    alunos, que permanentemente me desafiam, forando segundas reflexes so-bre prticas quotidianas quase cristalizadas.

    Este agradecimento SIC e UNL tambm um registo de interesses.Esta investigao acadmica apela, bastas vezes, ao cruzamento entre acade-mia e mercado e, mesmo assumindo a ambio de me manter equidistantedestes dois pilares (SIC e UNL) de ambas as dimenses, muitos localiza-ro passagens onde essa equidistncia estar fragilizada. O apelo que voufazendo, ao longo do percurso, minha prpria experincia, nestes dois uni-versos paralelos, revelou-se uma das decises mais complexas. Conscientede que no poderia evitar colocar-me dentro do texto, sei, igualmente, o riscoque essa incluso acarreta e a ameaa que ela representa para a sustentaocientfica da investigao.

    Ao longo de um ano letivo (2010-2011), este trabalho mergulhou na rea-lidade de seis cursos de comunicao/jornalismo, cujas coordenaes e dire-es aceitaram, sem qualquer limitao, abrir a porta a um investigador queera tambm um jornalista. Agradeo-lhes, de forma muito reconhecida, esseacolhimento. Agradeo, igualmente, aos professores que aceitaram ser entre-vistados e aos alunos e estagirios que, depois da entrevista presencial, meforam enviando relatrios trimestrais que me permitiram monitorizar-lhes opercurso ao longo de um ano letivo. Neste ponto, um agradecimento especials alunas Mnica Ribau (ESEC Coimbra) e Aline Flor (UP), pelo trabalho deproduo que compensou a distncia fsica a que estava dos dois cursos.

    Contando o projeto, foram sete anos da minha vida a cruzarem-se coma vida de muitas pessoas muito prximas; desde logo, os amigos e colegasque se interessaram por mim e pelo meu trabalho e que, muitas vezes sem osaberem, alimentaram a minha reflexo, enriquecendo-a. Destaco a Fernandade Oliveira Ribeiro, o Jos Manuel Mestre, a Cndida Pinto, a Ana de Freitas,o Daniel Cruzeiro, a Sofia Arde, a Miriam Alves, o Paulo Varanda, a ElsaGonalves, o Lus Pinto, o Jos Silva, o Ricardo Tenreiro, o Paulo Gonalves,a Susana Barros, a Irene Aparcio, o Antnio Granado, a Paula S, a CarlaBaptista, o Jacinto Godinho... o Joo Lus, o David, o Toms Aquino, o Mike,o Simo e a Cu.

    Aos meus pais, por me terem aberto a porta de Lisboa e de um curso queningum, em Montemor, sabia bem o que era; e ao restante ncleo familiarcoeso que, constantemente, me incentivou e respeitou as minhas ausnciasfsicas nos ltimos sete anos.

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    E por fim, aos trs que me completam. Sem eles, sem a sua enorme paci-ncia, o seu imenso amor, jamais teria sido possvel.

    The only position that occurs to me which a man in our Republiccan successfully fill by the simple fact of birth is that of an idiot(Joseph Pulitzer, 1904)

    There are many more skillful, better paid and educated journa-lists these days, but they have less control over the conditions oftheir work and are less free than in the past(James Carey, 2000)

    When the prestige and credibility of the news media decline,academia is one place where influence may be exerted and respectrecouped(Stephen Reese, 1999)

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    Introduo

    Nas entrevistas que fizemos a 67 alunos, das seis licenciaturas que analismos,sobressai um sentimento comum, que esbate diferenas sociais, geogrficas,ideolgicas, de personalidade. O fascnio pela profisso de jornalista.

    A imagem romntica que muitos cristalizaram da profisso, amplamentedifundida pelo cinema e em sries televisivas; a ideia de que o jornalista algum que ergue barreiras contra a progresso de poderes instalados, queprotege os fracos e ataca os fortes... Essa ideia permanece viva no imagin-rio coletivo. Certamente tambm no esprito de muitos destes alunos quandocomearam a ter conscincia da profisso que gostariam de ter; e essa consci-ncia assumiu a dimenso de um sonho que os guiou at faculdade.

    O sinal mais coeso do fascnio que o jornalismo e os jornalistas exercemnas pessoas o debate extremado a que se presta. O jornalista ama-se ouodeia-se: hoje deus da sociedade de informao, amanh o culpado portodas as distores ou manipulaes informativas (Correia, 2009: 216). BrianMcNair observa a esquizofrenia cultural que o jornalismo e os jornalistasdespertam no pblico, expressa num jogo de opostos ao nvel das sensaes:heris e viles, amor e dio, desprezo e respeito, admirao e raiva(2010: 9 e 13).

    Essa apreciao, que salta de um lado ao outro do espetro de sentimen-tos, sem se fixar no meio-termo, comum a outras atividades profissionaissujeitas a elevado grau de exposio pblica onde, igualmente, esse escrutniode opostos tem influncia no desempenho profissional; mas, como reconhecerik Neveu, nenhuma outra profisso se presta a evocaes picas, como ojornalismo, quando em causa est a presso imposta pelo fator tempo. Essapresso, e o stress que lhe est associado, geram no protagonista um grau de

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    satisfao tal, que serve de alimento ao mito que torna a profisso to desej-vel aos olhos do mundo (2001: 63 e 64).

    Assim, ao mesmo tempo que o jornalista assume esse papel de globe-trotter, confidente dos poderosos, investigador capaz de desvendar os segredosmais bem guardados, rtulos de outra ndole se impem: manipulao dainformao, (...) assessores de imprensa complacentes ou embaraados, ato-res de golpes mediticos que deturpam a realidade em funo de interessesparticulares (idem: 7 e 8).

    Os alunos do nosso painel chegaram faculdade ansiando integrar essemundo. Mesmo que, em alguns casos, a figura que gostariam de encarnarprofissionalmente se aproxime mais do comunicador verstil do que do globe-trotter, o sonho estava l, no esprito da maioria, quando escolheram o curso.

    Ainda que as fronteiras que delimitam a profisso sejam, cada vez mais,difusas, e esse desfoque embacie a interpretao do pblico sobre as funesdo jornalista, a escolha destes jovens sobrevive ao crescente desprestgio daprofisso2 gerado tambm nesse desfoque. Sobrevive, igualmente, crescenteprecariedade da classe, onda de desemprego que atravessa as profisses da

    2 Pesquisas realizadas pelo Pew Center for the Public and the Press assinalam que, en-tre 1985 e 2007, o nmero de cidados que acredita na moralidade dos jornalistas desceu de54 para 46%. Quase dois teros dos inquiridos acreditam que as empresas jornalsticas sopoliticamente orientadas. Em 2008, estudos feitos pelo Project for Excellence in Journalismconcluram que os americanos formaram a profunda impresso de que a imprensa americanatem imenso poder, devendo ser encarada com suspeio. Nas sondagens de opinio sobre asdiversas categorias profissionais, os jornalistas esto ao nvel dos advogados, dos imobiliriose dos polticos, na lista dos mais odiados. Uma sondagem realizada no Reino Unido, em2006, posicionou os jornalistas no ltimo lugar da tabela dos menos confiveis em matria deverdade. A tabela integrava 16 profisses (McNair, 2010: 11-12). Estudos sobre as profis-ses mais fiveis, realizados em diversos pases da Europa, incluindo Portugal, realizados em2008 e 2011 confirmam a quebra de confiana dos jornalistas num universo de 20 profisses(Pblico, 25 de janeiro de 2008; Correio da Manh, 17 de junho de 2011).

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    comunicao e o jornalismo em particular3. O fascnio resiste at porta daacademia. Os nmeros provam-no.

    Em 2009/2010, o ano letivo que serve de base ao nosso trabalho de campo,as universidades e os institutos politcnicos, pblicos e privados, disponibili-zaram 1661 vagas nas 31 licenciaturas com cursos na rea.

    Em 1996/1997, as 24 licenciaturas em jornalismo/comunicao, identi-ficadas por Mrio Mesquita e Cristina Ponte num relatrio que produzirampara a Unio Europeia, tinham gerado 1755 vagas, mais 94 do que em 2009-20104. No final dos anos 90, assistamos, todavia, aos derradeiros sinais deum mercado profissional (ainda) a viver o alvoroo provocado pelas televisesprivadas e pela atribuio de frequncias radiofnicas locais e regionais.

    Na viragem do sculo, o mercado entrou em queda, mas a procura dosalunos por cursos na rea no acompanhou esse movimento descendente, so-bretudo porque o setor pblico diversificou a oferta, reforando o nmero devagas. As quebras registadas ocorreram no setor privado que, em 13 anos,baixou 440 vagas.

    O acesso profisso, ainda que episdico, resulta da seleo que o mer-cado faz de entre essa massa humana que, anualmente, obtm diplomas narea. Portugal retrato fiel dessa evidncia e, como no resto da Europa e nosEstados Unidos da Amrica, impe-se um batalho de reservistas (Neveau,2001: 34) que no passa nos filtros apertados da profisso; fazem estgiosatrs de estgios, integrando, uma espcie de viveiro (Sales, 1998: 8), ondea espera acaba por destruir o sonho.

    3 Em Portugal, no existem dados concretos sobre o impacto do desemprego na classe. Onmero de desempregados registado no corresponde ao nmero real porque, como admitemRebelo et al, muitos jornalistas omitem a situao de desempregado no processo de busca deum novo emprego, trocando-a pela situao de regime livre (2011: 78). O dado mais concretosobre a precariedade da classe foi apresentado pelo Sindicato dos Jornalistas: entre 2007 e2011 o nmero de jornalistas que requereu o subsdio de desemprego, ou o subsdio socialde desemprego, situou-se nos 694 (Sindicato dos Jornalistas, 2012), cerca de 10 por cento donmero total de jornalistas (Rebelo et al, 2011: 57).

    4 Por no oferecerem a valncia de jornalismo, exclumos do relatrio de Mesquita e Ponteas licenciaturas de Tecnologia da Comunicao Audiovisual, do Instituto Politcnico do Porto(30 vagas ocupadas), Comunicao e Relaes Pblicas na Escola Superior de Educao daGuarda (60 vagas ocupadas) e o curso de Novas Tecnologias da Comunicao da Universidadede Aveiro (36 vagas ocupadas).

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    James Carey no deixou de sublinhar a contradio provocada pela explo-so de cursos na rea, numa fase em que os alicerces do jornalismo j cediam presso de um mercado implacvel: Os jornalistas tm mais capacidades,melhor formao (...) mas tm menor controlo sobre as condies do seu tra-balho, e so menos livres do que o foram no passado (...) so mais reverentesda economia (2000b).

    este o contexto que delimita o nosso estudo e ele que sugere a in-terrogao que o perpassa: Num cenrio em que a formao acadmica seafirma fonte geradora de mo-de-obra, de que forma pode a academia utili-zar esse potencial para conduzir o longo processo de reconstruo do jorna-lismo, encontrando soluo para o complexo dilema: servir o mercado e, aomesmo tempo, resistir-lhe? A nossa abordagem percorrer um trajeto anal-tico que afirme a formao acadmica na rea do jornalismo/comunicao (eo estudo do jornalismo) como o escudo protetor do jornalista, e do prpriojornalismo, preservando a autonomia do campo, permanentemente ameaadapelo mercado e que a associao s novas tecnologias digitais veio fragilizarmais ainda.

    Na base do nosso percurso est a essncia da prpria profisso de jor-nalista. As profisses clssicas regulam o acesso, definindo o conjunto decompetncias formais que o segmentam, estabelecem quadros slidos de con-duta que preveem sanes para os que os no cumprem, em suma, as profis-ses clssicas marcam fronteiras que excluem todos os que no preenchem osseus requisitos. No captulo um discorremos sobre as fronteiras indistintas doofcio e observamos as linhas de interseo que o jornalismo est permanen-temente a traar com fatores externos; ao mesmo tempo que o enriquece, oresultado dessas intersees fragiliza-o.

    O mercado apoderou-se do jornalismo, atacou-lhe os alicerces. O jorna-lismo resiste mas, cada vez mais, ameaado. No captulo dois avaliamos essegrau de ameaa e as consequncias negativas que dela advm. A anlise re-cua ao sculo XIX, ao perodo em que o jornalismo deixou de ser um ofciodesempenhado por artesos da escrita, gente com jeito para as letras, e passoua ser obra de profissionais habilitados na construo de textos atrativos (sen-sacionalistas), simples, objetivos, destinados a serem consumidos pelo maiornmero possvel de leitores. As bases desta profisso devem ser encontradasa, no momento em que a publicidade se instalou nos jornais, transformandoo jornalismo num negcio. Durante mais de um sculo, o jornalismo haveria

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    de beneficiar daquilo que Bill Kovach e Tom Rosenstiel consideram ter sidoum acidente feliz: um sistema comercial, a publicidade, subsidiou um bempblico, o jornalismo (2010: 13). A dimenso desse negcio cresceu no ps IIguerra mundial: a imprensa ganhou poder e influncia, atingindo a sua pocade ouro. O entretenimento, uma face mais ousada do sensacionalismo de fi-nais do sculo XIX, comeou a invadir as notcias nas histrias de interessehumano. Nas dcadas de 50 e 60, a televiso e a rdio acentuaram os efeitosnegativos dessa invaso. No ltimo quartel do sculo XX, um novo quadropoltico, a despontar nas democracias ocidentais, impulsionou a influncia domercado. A televiso abriu-se iniciativa privada, os meios de comunicaosocial, que, at ento, estavam nas mos do Estado foram alienados, acrescen-tando valor ao portflio dos grupos de media; os maiores atingem dimensoplanetria. A produo informativa passou a ter no mundo ocidental o seucentro de emisso, e os valores que transmitia tornaram-se valores globais.Como assinalam Morely e Robins, os grupos de comunicao social enceta-ram uma conversa unilateral em que o ocidente fala e o resto escuta (1995:126).

    Claro que esse monlogo do ocidente precisou do contributo da tecnologiapara se tornar efetivo: o satlite transnacionalizou a mensagem.

    Quando a Internet, no final dos anos 90, comeou a atacar a sustentabi-lidade do jornalismo, o mercado estava demasiado inebriado com a receitagerada; limitou-se ao exerccio simplista de integrar o novo meio na cadeiamultiplicadora de receitas. O captulo trs reflete sobre a forma como a tecno-logia destruiu a base do acidente feliz, que Kovach e Rosenstiel caracteriza-ram, limitando o papel da publicidade na sustentao financeira do jornalismo.A imprensa tradicional foi a primeira vtima: diminuram, drasticamente, asreceitas, fecharam jornais, lanando para o desemprego milhares de jorna-listas em todo o mundo; as redaes perderam a memria dos profissionaiscom salrios mais elevados. Os jornais ameaam tornar-se sombras do quej foram (Starr, 2009:1). Os efeitos chegaram rdio e televiso, mas a,a capacidade que o audiovisual, sobretudo a televiso, sempre expressou parainvestir na consistncia do negcio, diversificando receitas, limitou os danos.

    Imerso nesta crise de sustentabilidade, o jornalismo tornou-se menos vi-gilante; diminuiu os pontos de observao; passou a conviver com uma multi-plicidade de vozes e de interesses de identidade difusa que ameaam torn-lo

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    indistinto. , pois, no momento em que se torna ainda mais necessrio, quevacila.

    Este contexto reclama a reconstruo do campo. Habituado s receitasseguras que o absorveram at final do sculo XX, o mercado dos media mer-gulhou numa abtrao, revelando sinais de atavismo. A Internet, plataformade destino dos leitores dos velhos jornais e dos novos consumidores de not-cias grtis, medida, a qualquer hora ou lugar, no consegue gerar receitasque alimentem esse renovado apetite pela novidade. Os empresrios de me-dia, que desenharam negcios no tempo da receita farta, fcil e garantida,tero, eles prprios, que se redesenhar. O alerta de Philipe Meyer deveria sero orculo de todos os empresrios que vivem das imagens do passado: Oproblema no est em mantermos as velhas margens de lucro. Tal no voltara acontecer de forma sustentada (2004: 245).

    Devemos procurar soluo para o jornalismo de qualidade; devemos bus-car soluo para o jornalismo. Contribuir para o trajeto analtico, que, neces-sariamente, ter de se posicionar a montante dessa soluo, o propsito danossa investigao.

    Elegemos como pilar dessa reconstruo a aliana entre o ensino do jor-nalismo, o estudo do jornalismo e o quotidiano profissional. O ensino dojornalismo no deixa, contudo, de ser fruto da fragilidade do prprio campoe da autonomia permanentemente ameaada, de que nos fala Patrick Cham-pagne, e que, a cada momento tem de ser reconquistada (1995: 50). O captuloquatro identifica as marcas que assinalam a chegada do jornalismo acade-mia e o seu difcil processo de posicionamento no campus. De novo, a frgilidentidade da profisso e o molde abrangente que a desenha tornaram difcila classificao da rea de estudo. Ao jornalismo no bastou vencer a bata-lha de cruzar a fronteira da academia, instalando-se, finalmente, no campus;foi sobretudo a seleo da rea de acolhimento que promoveu as primeirasdivises. Assim, a tentar encontrar lugar entre as humanidades e as cinciassociais, a consolidao do campo haveria de ficar refm das quezlias que des-pertou. O jornalismo, no sendo uma disciplina clssica, chegou academiatendo de vencer as desconfianas da tradio acadmica. Nos Estados Unidosda Amrica, a soluo foi encontrar um espao prprio, autnomo, mais pr-ximo da profisso do que do campus, o que apenas cavou o fosso aberto desdeo primeiro momento. A consolidao acadmica do campo da comunicaohaveria de promover novas divises. Aquela que iria tornar-se a morada natu-

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    ral do jornalismo teve de vencer (ainda tem de vencer) a resistncia dos quereceavam que a abrangncia da comunicao contaminasse o jornalismo. Naprimeira linha deste combate esto os jornalistas, receosos de que os comuni-cadores assumam o controlo do campo jornalstico, mas tambm acadmicoscomo James Carey, para quem mergulhar o jornalismo na comunicao cau-sou enorme estrago ao ofcio (2000a: 21). O jornalismo chegou academiaportuguesa j numa fase tardia, mas condicionado por um quadro interpreta-tivo ainda mais complexo; no chegou sozinho. Em Portugal, foi o prpriocampo da comunicao que teve de encontrar espao de acolhimento na aca-demia, vencendo resistncias; o jornalismo veio a reboque, mas camuflado:o primeiro projeto formativo, que haveria de servir de molde aos seguintes,eclipsou o jornalismo do programa, e os profissionais reagiram mal a esseeclipse. As razes do fosso entre os cursos de jornalismo/comunicao e osprofissionais devem ser buscadas nesse difcil comeo.

    O captulo cinco explora o fosso entre duas instituies pouco male-veis, ciosas dos seus costumes, extremamente vaidosas e pouco recetivas sopinies externas (Meditsch, 2004: 26 e 27), a academia e o mercado, profis-sionais includos. So, de facto, mundos paralelos mergulhados numa contra-dio de base: os cursos na rea transformaram-se na maior fonte de mo-de-obra, porque as empresas delegaram neles a responsabilidade pela formao,mas a comunicao entre esses dois mundos tarda. E as consequncias blo-queiam todos os esforos de transformar o ensino e o estudo do jornalismo nopilar da reconstruo do jornalismo. O captulo cinco apresenta-nos as gran-des tendncias do ensino de jornalismo nas democracias liberais e a formacomo os cursos vacilam, posicionados entre as regras da academia e as domercado. A imagem de Skinner et al expressa esse posicionamento difuso:a formao acadmica em jornalismo uma serva de dois senhores (2001:344).

    Em Portugal, o ensino do jornalismo vive esse mesmo dilema, agravado,todavia, pelo enfoque histrico que atrasou a chegada do jornalismo acade-mia. No captulo seis identificamos as razes que estiveram na base da opopoltica da ditadura em manter o jornalismo afastado da universidade, apesardos sinais de resistncia dos representantes mais inconformados da classe jor-nalstica. esse fio condutor da histria que perpassa o captulo seis e que nosconduz ao ano letivo de 2009-2010, que coincidiu com o incio do nosso traba-lho de campo. O ensino do jornalismo sobreviveu s contradies que moldam

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    o campo, sobreviveu ao fosso que separa a academia do mercado, professoresde jornalismo de acadmicos, e ambos dos jornalistas. Um nmero elevado dealunos permanece interessado em frequentar cursos na rea. No captulo seisfazemos uma anlise geral desses cursos, sobretudo cumprindo o propsitode lhes definir a matriz. Atendendo classificao das unidades curricularesde cada curso, agrupmos, cada um, num de trs campos especficos: jorna-lismo; comunicao; cincias sociais e humanas. A integrao dos cursos emcada um dos trs grupos foi determinada pelo peso (presena) das unidadescurriculares, associadas a cada um dos campos. O propsito desta seriaoconsiste na identificao das marcas que definem cada grupo e, consequente-mente, cada curso. Partindo dessa identificao, definiremos os critrios quenos ho de permitir selecionar um corpus restrito de anlise, representativodo universo, que nos possibilitar detalhar o estudo, discutindo os fatores quemoldam as grandes tendncias observadas.

    A anlise dos seis cursos do nosso corpus restrito ocupa todo o captulosete. O epicentro dessa anlise a variante de jornalismo. As entrevistas a 67alunos e estagirios, a professores de jornalismo e aos coordenadores/diretoresde cada um dos seis cursos ajudam-nos a identificar a composio da variantee as interligaes que ela estabelece com as uc de tronco comum, o perfil dosdocentes associados s unidades curriculares de jornalismo e as estratgiasde coordenao. Esse trabalho permite-nos observar as interligaes que, nointerior dos planos de estudo, so promovidas entre a dimenso concetual ea profissional, as pontes intelectuais que os docentes estabelecem em defesadessas interligaes e as pontes entre o curso e o mercado. Essa observao complementada com a avaliao que os alunos fazem ao plano de estudos,ao curso e s uc de jornalismo e com a identificao dos meios tcnicos ehumanos de auxlio concretizao de trabalhos jornalsticos associados s ucda rea. Nesse ponto especfico avaliamos a forma como o curso, e os alunos,assumem compromisso com a necessidade de tornar visveis os trabalhos quefazem e, por fim, descrevemos a forma como os estagirios de cada cursovivem a interseo entre a academia e o mercado, registando o envolvimentodo curso nesse momento de viragem, mas tambm a forma como os alunos soacolhidos no lugar de destino, tentando percecionar que matrias apreendidasna formao acadmica resistiram ao impacto da transio.

    O captulo oito pega num jornalismo aprisionado por um mercado fragili-zado pela associao s novas tecnologias, associa-o s principais tendncias

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    da formao acadmica na rea, identificadas em Portugal e nos restantes ca-sos analisados, e tenta construir um modelo de aproximao entre os doismundos paralelos (universidade e empresa) que resista tentao de maculara identidade de cada um. O nosso contributo ensaia caminhos de convergnciano interior dos prprios cursos e entre estes e o mercado, enunciando o tra-jeto que permitir ultrapassar a fronteira entre teoria e prtica no interior dosplanos de estudo, esbatendo-a, declarando-a inexistente. O exerccio terminacom o esforo analtico de reconstruo da variante de jornalismo, resultadodo percurso de investigao que tramos.

    Este longo trajeto forou a delimitao do campo de estudo. Analisamoso ensino do jornalismo nas democracias liberais, mas restringimos o objeto formao acadmica. Independentemente de poderem (deverem) ser inclu-das no processo de formao propostas fora do campo acadmico, eventual-mente complementares a essa formao de base, a nossa investigao fixa-sena formao de base e, como tal, no modelo de formao oferecido pela aca-demia em universidades pblicas e privadas, institutos politcnicos pblicose privados. Colocar o foco na formao de base, excluindo planos de forma-o complementar inspirados, ou promovidos, por entidades pblicas ou pri-vadas, direta, ou indiretamente, dependentes da indstria, como o portugusCENJOR (Centro Protocolar de Formao Profissional para Jornalistas)5, nosignifica que deixemos de fora desta investigao a anlise do papel e dasresponsabilidades da empresa no processo de formao dos jornalistas que re-cruta. A edificao de pontes entre a academia e o mercado, que despontaem todas as etapas desta investigao, reclama a avaliao desse papel e dessaresponsabilidade. No contexto atual, os sinais de que o mercado escapa aessas responsabilidades so, por de mais, evidentes, mas, mesmo que a aca-demia continue a reforar o seu papel na formao de base e esta requeira,

    5 A este propsito e sem que esta seja matria que integre o nosso ngulo de estudo, salien-tamos a perspetiva do CENJOR, relativa articulao entre a formao acadmica e a formaoprofissional. Uma posio expressa por Fernando Cascais, atual administrador do centro, tendosido seu diretor entre 1996 e 2010. A complementaridade em relao formao acadmicasuperior na rea da comunicao e do jornalismo apontada como caracterstica determinante.O CENJOR, assumindo que o acesso profisso de jornalista dever manter-se aberto, admi-tindo, por isso, que a tarimba permanea via de entrada, entende que a formao profissionaldeve complementar, quer a formao acadmica na rea, quer a aprendizagem na redao: noprimeiro caso o complemento prtico, no segundo o complemento terico-prtico (Cascais,2004: 88 e 89).

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    cada vez mais, a interveno das empresas, mesmo que a academia explore aformao complementar de segundo e terceiro ciclos, de novo articulada comos media, o jornalismo subentende uma formao contnua onde a empresatem de desempenhar papel determinante. Se outras razes no existissem, aspermanentes alteraes tecnolgicas, amparadas e impulsionadas pelas neces-sidades do mercado, reclamariam essa interveno. A formao acadmica debase apenas um comeo (Weibull, 2009: pos. 1284), por isso, muito do de-bate, contaminado pelas dicotomias formao acadmica versus formaona redao; formao acadmica versus formao profissional um debateestril (Cole, 2003: 55 e 56): o jornalismo reclama a associao de todas asdimenses.

    Ao longo do percurso assumiremos a necessidade do ensino politcnico euniversitrio aplicarem, na prtica, a diferena legal que define a especifici-dade de cada um dos modelos de formao. A nossa reflexo definir trajetosde formao diferenciados, com a correspondente aquisio de competnciasdiferenciadas. A abrangncia do mercado sair, certamente, enriquecida seabsorver perfis diferenciados: mais tcnico, mais preparado para responders necessidades imediatas da profisso, no caso dos licenciados pelos institu-tos politcnicos; mais abrangente, com maior capacidade de refletir sobre aprtica quotidiana, inovando, propondo temas de abordagem alternativos, nocaso dos licenciados na universidade. O modelo de formao, que apresenta-mos no captulo oito, enuncia essa diferena de perfis, mas a nossa propostadetalha, exclusivamente, o ensino universitrio da rea, aquele que, pelas ca-ractersticas que o moldam, reflete, como veremos, maior compromisso como processo de reconstruo do jornalismo a base de todo o nosso trajetoanaltico.

    A formao acadmica e o estudo do jornalismo afirmam-se a via pro-motora desse processo de reconstruo. A dinmica criada pela interligaoentre estudo do jornalismo, formao/ensino do jornalismo e prtica profissi-onal quotidiana determina a reclassificao do conceito de prtica jornalstica,uma vez que essa expresso pode consubstanciar o esvaziamento da dimensoterico-prtica inerente ao jornalismo. Ao longo deste trabalho optaremos,por isso, pela utlizao do conceito de ao jornalstica, reflexo da interseoentre teoria e prtica (pensamento e ao) presente em qualquer ato jornals-tico. O processo de reconstruo do jornalismo abre, pois, caminho melhoriada ao jornalstica quotidiana.

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    A interligao entre as dimenses terica e prtica na ao quotidiana ,igualmente, absorvida por Joaquim Fidalgo, quando o professor da Universi-dade do Minho faz referncia a um saber de ao para classificar o saberrequerido pelos jornalistas no seu quotidiano profissional. O saber de aopressupe esse esbatimento das dicotomias teoria e prtica, investigar e apli-car, pensar e fazer (2009: 461).

    Stephen Reese desenvolve o conceito de praticante reflexivo, para recla-mar o mesmo grau de interligao entre teoria e prtica (1999: 84).

    Eduardo Meditsch sustenta que o exerccio da prtica um permanenteapelo ao esprito crtico: uma e outro so um s. medida que a competnciatcnica do estudante melhora, o resultado o reforo do esprito crtico (2004:35).

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    Captulo 1

    Jornalismo: os alicerces de umaprofisso

    Este primeiro captulo define o conceito de jornalismo e discorre sobre o em-barao intelectual provocado pela dificuldade em classific-lo como uma pro-fisso. O vasto espetro de opinies sobre a matria complexifica os termos dadiscusso.

    Entre os autores que consideram invivel a submisso do jornalismo s re-gras que estruturam uma profisso, passando por aqueles que preferem deix-lo a meio caminho, classificando-o como uma semi-profisso, uma quase pro-fisso ou um ofcio de fronteira, at aos que, sem hesitaes, entendem quea complexidade da ao determina a assuno dessa classificao, o debatefrutifica. a prpria essncia da atividade que se presta a esta profuso deinterpretaes. Por um lado, uma atividade econmica, geradora de lucro,por outro, funciona como parceiro da humanidade, saindo em defesa dos va-lores que a estruturam. nesse interstcio entre o mercado e a misso deservir o pblico que devemos buscar a definio do jornalismo. Um recuos origens da profisso coloca-nos frente a frente com a criao desse dilemae desvenda-nos a razo de ser do nosso objeto de investigao: o ensino dojornalismo, cujas origens remontam ao ltimo quartel do sculo XIX, , eleprprio, uma exigncia do mercado. certo que a preocupao central domercado foi a de responder ao aumento do nmero de leitores, formando pro-fissionais geis, competentes, que cumprissem o novo quadro de exigncias;

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    mas desse processo de formao haveria de resultar, forosamente, um novoprofissional, mais preparado para responder s exigncias do jornalismo. Aprofissionalizao ficou incompleta, tambm porque o processo de aquisiode conhecimentos nunca adquiriu o grau de formalizao a que haveramos deassistir nas profisses clssicas: medicina, direito, engenharia...

    O jornalismo anterior ao nascimento da profisso de jornalista. A pri-meira definio de jornalismo data do sculo XVII e estava, ento, muito asso-ciada ao registo e ao relato sistemtico de acontecimentos (Zelizer, 2004: 21),j a profisso de jornalista surge associada a um conjunto de transformaessociais, econmicas, polticas e tecnolgicas, que ocorreram no sculo XIX.

    Profisso e conceito expressam-se, porm, atravs de um elemento intrn-seco prpria humanidade: as notcias e, como complemento, a reportagem ambas definidas como relatos sociais que satisfazem a necessidade de conhe-cimento. Quando o relato das novidades comeou a ser feito por mensageirosespecializados, e os acontecimentos passaram a ser hierarquizados de acordocom valores padronizados, o processo de transmisso de notcias sofreu umaalterao. O jornalismo tornou-se profisso.

    1.1 A funo social das notcias

    A profisso de jornalista presta-se a complexo debate, dada a natureza do of-cio que a caracteriza; daremos espao a essa discusso; todavia, uma nota deconsenso se impe: independentemente dos contornos da anlise do conceitode profisso, a gnese da atividade a que convencionmos chamar jornalismo,surgiu no sculo XIX.

    Nesta fase, exploramos o elemento que serve de motor ao jornalismo e profisso de jornalista e que lhes anterior: a notcia. O conceito de not-cia est diretamente relacionado com o novo, com o que rompe as baias quedelimitam o quotidiano.

    Adriano Duarte Rodrigues promove uma equivalncia entre acontecimen-to jornalstico e notcia. Para o acadmico, um facto adquire estatuto deacontecimento pertinente do ponto de vista jornalstico em funo da suamaior ou menor previsibilidade: o acontecimento jornalstico , por natu-reza, um acontecimento especial, que irrompe sem nexo aparente nem causa

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    conhecida e , por isso, notvel, digno de ser registado na memria (1999:27 e 28).

    H um momento na histria em que a transmisso desses factos notveis,desse registo que partilhamos em comum (Carey, 2007: 4), comea a ser de-sempenhada por mensageiros qualificados, e outro momento ainda, posterior,em que essa atividade se sujeita a um conjunto de regras que corporificam oreconhecimento do estatuto de profisso.

    A definio do conceito de jornalismo ir ocupar-nos ao longo deste ca-ptulo mas, para esta fase, basta-nos a abordagem mais abrangente de Mit-chell Stephens: no limite, o jornalismo o termo mais simples que podemosusar para definir a atividade de recolha e distribuio/transmisso de notcias(apud Zelizer, 2004: 22).

    Stephens considera que os primeiros registos de notcias, o produto quealimenta o jornalismo, coincidem com as origens da humanidade.

    James Carey desenvolve a tese de Stephens e coloca-a em oposio deMichael Schudson, que considera as notcias um produto do sculo XIX, quese imps a dois tempos:

    O primeiro coincide com o aparecimento da figura do jornalista, en-quanto profissional que desempenha uma tarefa a tempo inteiro, e o se-gundo momento, a inveno da moderna organizao industrial, surgej no final do sculo XIX e caracteriza a produo em massa e a recolhade um determinado produto as notcias (2007: 5).

    Carey distancia-se das clivagens que as teses opostas tm provocado, fa-zendo a ponte entre os dois autores. No texto editado j aps a sua morte, oProfessor de Columbia considera que as notcias e as reportagens so eter-nas: mesmo um sistema primitivo regista e promove a disseminao dasgrandes mudanas (idem, ibidem). Carey, assinala, todavia, a descontinui-dade epistemolgica, observada nos sculos XVIII e XIX, a alterao de pa-radigma, em que a crena no transcendente e no sobrenatural foi substitudapelo concreto, pelo real, ou seja, por algo comum, til, nico, original, novo numa palavra as notcias. Assim, conclui Carey, as notcias e a repor-tagem no foram inventadas no sculo XVIII, mas o jornalismo foi (idem,ibidem: 5 e 6).

    Bill Kovach e Tom Rosenstiel seguem a linha de pensamento de Stephens.Os autores alertam-nos para a constncia dos valores notcia, que sobrevi-

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    vem desde os tempos tribais: As pessoas sentem uma necessidade intrnseca um instinto de saber o que se passa para alm da sua prpria experinciadireta. Precisamos de notcias para vivermos, para nos protegermos, paracriarmos laos, para identificarmos amigos e inimigos. Tal como Stephens,Kovac e Rosenstiel consideram que o jornalismo , simplesmente, o sistemaconcebido pelas sociedades para fornecer essas notcias (2001: 5 e 6).

    1.1.1 O ato de tornar pblicos os factos notveis que alimentam adiscusso racional

    O jornalismo fica, por isso, na direta dependncia do presente, escravo domomento em que o novo se impe, refm da atualidade.

    James Carey afirma que o jornalismo se governa do aqui e agora. Osjornalistas apenas se interessam pelo que acontece num determinado mo-mento e num determinado lugar. Como velejar, a jardinagem, a poltica oua poesia, o jornalismo o ofcio do lugar (2007: 4).

    Para exercerem um controlo sobre o lugar onde atuam, Gaye Tuchmanconsidera que os jornalistas, como os pescadores, lanam uma rede sobre oseu prprio espao do aqui e agora, com o propsito de capturarem os aconte-cimentos notcia que nele ocorrem. Todos os lugares que no forem cobertospela rede (buracos na rede) ficam sem cobertura meditica. Um aconteci-mento s se transforma em notcia se cair na rede do jornalista (1972, 1999:170).

    O corte epistemolgico, de que nos falava Carey, cujo registo histrico sefixa no sculo XVIII, assinala uma nova forma de compreenso do mundo,promovida por uma nova corrente filosfica: o Iluminismo. O Homem es-timulado, pelos filsofos iluministas, a ser dono do seu prprio destino e arejeitar as explicaes metafsicas (Deus), ou exteriores (a tradio, a autori-dade do monarca) sobre o mundo que o rodeia. A razo substitui a crena.

    O jornalismo o ato de tornar pblico os factos notveis fruto dessadescontinuidade imposta pelo Iluminismo. Porque o Iluminismo identificouno Homem uma pulso para a discusso racional, para o questionamento per-manente, para a vontade de saber mais.

    Falamos de um jornalismo de opinio, de um motor de debate e da trocade argumentos, sobre matrias especficas, que interessavam a pblicos espe-cficos. A imprensa de opinio era o veculo de unio entre os representantes

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    dessas comunidades de interesses que poderiam, ou no, estar fisicamente jun-tos. A circulao e a leitura do jornal permitiam essa ligao simblica entreos representantes do pblico:

    Nos pases democrticos (...) acontece frequentemente que um grandenmero de homens que desejam, ou tm necessidade, de associar-seno o poderem fazer, porque sendo todos eles muito insignificantes eencontrando-se perdidos na multido, simplesmente no se veem e nosabem como encontrar-se. Surge ento um jornal que expe aos olhosde todos o sentimento ou a ideia que surgiu simultaneamente, mas se-paradamente, a cada um deles. Todos se dirigem de imediato para estaluz, e esses espritos errantes, que se procuravam desde h muito nastrevas, encontram-se finalmente e unem-se. O jornal aproximou-os econtinua a ser necessrio para os manter unidos (Tocqueville, 1981, II:143 e 144).

    O jornal era lido em voz alta, discutido em voz alta. O pblico, sobretudoo pblico letrado, tinha verdadeira influncia no contedo das publicaes. Eo contedo do jornal era o motor das discusses que se alargavam ao pblico.Criaram-se verdadeiras esferas de debate e de discusso. O resultado dessasdiscusses tinha efeitos diretos na ao dos poderes pblicos, com claro bene-fcio da burguesia que, merc desse processo de debate, foi criando condiespara se transformar na classe dominante. A burguesia era a classe letrada,promotora da discusso e, em larga medida, a classe representada nessas co-munidades de interesses.

    Importa salientar que, embora a constituio dos pblicos, e a troca deopinies no interior dos mesmos, fosse livre, e essa liberdade se estendesseao acesso dos membros e aos temas de discusso (Habermas, 1962, 1981: 51-53)1, o espao pblico moderno promoveu excluses (o povo, as mulheres, osiletrados) que, de alguma forma, tero contribudo para a crise que, no sculoXIX, afetou e destruiu as bases do modelo liberal.

    1 Para a concretizao de uma prtica comunicativa ideal, Jrgen Habermas atribui aospblicos modernos trs nveis de critrios: a paridade da comunicao (a autoridade do argu-mento pode afirmar-se contra a hierarquia social); o no fechamento temtico das discussese o no fechamento dos pblicos (Todas as pessoas privadas, enquanto leitores, ouvintes e es-pectadores, com posses e formao acadmica, podem apropriar-se dos objetos de discusso)(1981: 51-53).

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    O modelo liberal, ideal, permanece, porm, a referncia da ao comuni-cativa e dos propsitos que essa partilha discursiva, intermediada e ampliadapelos media, deveria atingir na Esfera Pblica.

    A interao comunicativa, que se gerava entre os elementos do pblico,e que tinha nos jornais o seu impulso, promovia a constituio de uma ver-dadeira Esfera Pblica de discusso e debate de temas que interessavam aosdiversos elementos do grupo. O propsito dessa interao comunicativa eraa obteno de um consenso, de uma opinio comum. Tal pressupunha, comoreconhece Joo Pissarra Esteves, a plena disponibilidade revelada pelos par-ticipantes para a intercompreenso. Mesmo que esse consenso no fossepleno, seria, pelo menos, um compromisso aceitvel (2003: 28).

    1.2 Um jornalismo para as massas: uma informaoque enforma sem formar

    O jornalismo que se imps no sculo XIX claramente diferente na ao, mastambm na funo desempenhada na Esfera Pblica.

    A institucionalizao da profisso est, pois, associada a um determinadomomento da histria. Do jornalismo enquanto profisso, praticado nos meiosde comunicao de massa, depende, em grande medida, a consolidao dasociedade de massas.

    1.2.1 A sociedade de massas

    A revoluo industrial est na base do desenraizamento de grandes massashumanas, que procuravam trabalho nas fbricas de lugares distantes do seuponto de origem, que era, igualmente, o lugar de identidade dessas pessoas.Esse xodo massivo para as grandes cidades industriais, que perderam, elasprprias, a identidade merc da exploso social, produz um processo de acu-mulao de pessoas num lugar que lhes indiferente, onde no tm quaisquerlaos onde, no fundo, esto desenraizadas. So annimos sem direitos, ina-daptados, servos de rotinas (trabalho casa trabalho) que lhes condicionama ao e os desobrigam de pensar.

    Os pblicos modernos, com uma lgica de funcionamento que servia debase promoo do indivduo, diluem-se na massa, cuja estrutura se revela

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    incapaz de acolher a singularidade. A discusso racional cede ao assentimentoe ao conformismo, ambos moldados pela premente necessidade de, cada umdos elementos da massa, desinteressado da sua prpria identidade individual,ou, pelo menos, colocando-a em plano secundrio, cumprir a rotina diria.

    Joo Pissarra Esteves argumenta que a massa oblitera o indivduo, eo reflexo dessa aniquilao da singularidade gera indiferena e amorfismo,estados de esprito incompatveis com a participao, dado os nveis de co-nhecimento dos assuntos serem reduzidos (2003: 44).

    O processo de aniquilao do indivduo assim fruto de um crculo de ex-perincias sociais que tornam a massa permevel, um terreno frtil para a in-fluncia de interesses particulares. O crculo interliga, sem princpio nem fim,momentos, aes, consequncias: a quebra de laos fsicos e psicolgicos dis-solve os pblicos na massa. O desinteresse, conquistado por essa ampliao,gera o amorfismo que distancia o indivduo da troca racional de argumentossobre assuntos que antes eram discutidos pelos membros das comunidades depblicos. Uma incapacidade de discusso, por falta de interesse, de tempo, dedomnio dos temas, facilita o conformismo, o assentimento, que dificultam aparticipao, tornando-a meramente reativa.

    1.2.2 O Estado-Social

    As fronteiras entre Estado e Sociedade esbatem-se, assumindo o Estado umafuno social abrangente: protetor dos cidados, prestador de servios e re-gulador da atividade econmica. O Estado Social, apesar dessa ao prote-tora, revelou-se incapaz de atenuar as crescentes desigualdades sociais e, porconseguinte, tambm no conseguiu evitar as tenses provocadas por essasdesigualdades. Na base de umas e de outras est o desenvolvimento do mo-delo capitalista. O Estado, que deveria regular a economia, na proteo dosinteresses dos cidados, tambm no conseguiu impedir que o capitalismoestendesse os seus tentculos, condicionando o prprio Estado.

    Estava, pois, aberto o caminho para a escalada de interesses particularesde base econmica, que encontraram na massa o instrumento que facilitoua sua promoo. Esse processo foi possvel graas regulao cmplice doEstado.

    Como refere Wright Mills, assistimos imposio de uma administraovinda do alto que cria um vcuo poltico abaixo dela (1956, 1981: 362).

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    1.2.3 Os instrumentos de controlo da opinio pblica fonte de le-gitimao do Estado

    A base de legitimao do Estado deixou de ser a Opinio Pblica, a fonte doconsenso, para passar a ser a massa instrumentalizada pelo prprio Estado, ou noutro campo pela economia:

    Espao Pblico e Opinio Pblica tornam-se essencialmente meios:dispositivos sociais que se destinam a uma utilizao do tipo instrumen-tal, com os quais os interesses particulares organizados (...) criam umailuso de vontade coletiva (...), tendo por nica finalidade reforarem assuas prprias posies (Esteves, 2003:42).

    Como considera Adriano Duarte Rodrigues, o aparecimento dos mass me-dia tem significado neste contexto, uma vez que neles que circula o discursoda opinio pblica, impondo-se como discurso eficaz de legitimao e ho-mogeneizao do tecido social a partir do momento em que, por intermdiodos meios de comunicao de massa, se instala nos diversos campos da vidasocial (s.d.: 46).

    Para tal, o Estado, e os restantes campos da vida social, precisam da meraparticipao reativa da massa, expressa simplesmente pelo voto, quando emcausa est a legitimao dos governos que controlam o Estado. O voto, deuma massa influenciada pela propaganda, pelo marketing, pela publicidade,permite a manuteno do estado das coisas. Esse compromisso serve os inte-resses do Estado, mas tambm de todos os interesses que volta dele, ou porele amparados, circulam.

    Entre opinio pblica e opinio da massa no existe, assim, qualquer dife-rena. Porque j no estamos a falar da opinio pblica qualificada que carac-terizava a modernidade, e que a discusso racional, entre os representantes deum pblico esclarecido, tornava representativa da vontade geral, pelo contr-rio. Como assinala Joo Pissarra Esteves, esta nova configurao de opiniopblica, a que as grandes mutaes sociais do mundo moderno conduziram,perde a sua dimenso racional:

    Tudo o que (lhe) conferia uma espessura tico-moral (...) se desvanecena massa, surgindo em seu lugar um territrio politicamente pantanoso,mas muito propcio manobra de certos (e poderosos) interesses parti-culares organizados (Esteves, 1997: 86).

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    Esses interesses utilizam a fora do nmero, o anonimato da mdia estats-tica, que normaliza os desvios e sedentariza os nomadismos e as errncias,para atingirem determinados fins. O indivduo no consegue reconhecer-senesse corpo sem rosto, como lhe chama Adriano Duarte Rodrigues, por-que as concees individuais so incapazes de combater a ditadura da mdiaestatstica (s.d.: 36-43).

    A intermediao dos meios de comunicao social invade os processos decomunicao entre eleitos e eleitores, influenciando-a. Como salienta JrgenHabermas, a estruturao da base de legitimao da mensagem dos agentespolticos que sofre profundas mutaes:

    Os partidos, e as suas organizaes auxiliares, vem-se (...) obrigadosa influenciar as decises eleitorais de modo publicitrio, de um modobem anlogo presso dos comerciais sobre as decises de compra (...)Os especialistas em publicidade, neutros em matria de poltica par-tidria (...) so contratados para vender poltica apoliticamente (1962,1981: 252).

    Esses profissionais exercem funes dentro do vasto campo da comunica-o, mas o seu propsito no promover a ao comunicativa, que pressupeuma equiparao de papis entre emissor e recetor; ao invs, o que assistimosneste processo deturpao dos valores da comunicao: o Espao Pblicodeixou-se invadir por tcnicas de manipulao que protegem e valorizam in-teresses particulares.

    Essas tcnicas destinam-se, sobretudo, a convencer os indecisos, aquelesque mais se afastam do processo poltico, e, atravs delas, pretende-se notanto (...) motivar convices ou proporcionar o raciocnio e a reflexo, massimplesmente (...) criar sensaes capazes de sugerir uma adeso (Esteves,1998: 222).

    1.2.4 A publicidade que limita e liberta os jornais

    Assistimos, pois, adoo de uma lgica comercial que irradia influnciassobre uma sociedade de massas, onde os seus elementos esto desligados deuma ao politica protetora, (no questionam, no contra-argumentam, nodiscutem, apenas participam por reao) tornando-se permeveis.

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    O jornalismo torna-se profisso nesse universo mercantil, tambm ele fi-cando na direta dependncia de alguns dos sinais desse universo: desde logo,o lucro. A partir do momento em que a publicidade se associa aos jornais,as empresas jornalsticas podem, finalmente, distanciar-se de outras formasde dependncia, mas veem-se obrigadas a conquistar o maior nmero poss-vel de leitores. Os jornais vendem notcias, mas tambm vendem anncios.Essa associao baixa o preo dos peridicos (assistimos ao advento da pennypress), mas promove a exploso de contedos mais suaves, que interessam aum conjunto mais abrangente de pessoas, mas que, necessariamente, so maisavessos promoo da discusso e debate pblicos.

    Dominada pela lgica do mercado, a imprensa assume as suas estratgias,deixando-se condicionar:

    A imprensa transformou-se numa indstria como a dos sapatos ou mo-blias. O que lhe interessava era vender, vender o mais possvel, sacri-ficando tudo a isso. O jornal passa a ser, portanto, uma mercadoria(Tengarrinha, 1989: 220).

    1.2.5 O novo jornalismo do sculo XIX e a exigncia de uma for-mao especfica

    A associao da publicidade aos jornais contribuiu, decisivamente, para o sur-gimento deste novo jornalismo do sculo XIX, mas esse processo muitomais vasto: depende de uma teia de inter-relaes que promove e facilita oseu nascimento.

    A emergncia do mercado da publicidade (que libertou os jornais da de-pendncia direta da poltica), a reestruturao da sociedade, com a imposioda sociedade de massas, o esbatimento de fronteiras entre o Estado e a Socie-dade, com a consequente criao do Estado-Social e o avano do capitalismo,e a evoluo tecnolgica (as novas mquinas de impresso e o telgrafo) de-terminaram a criao desse novo jornalismo, que foi assumindo contornos deatividade cada vez mais distanciada do pblico mas, simultaneamente, aumen-tando a dependncia do peso do nmero (de leitores) com o propsito de atin-gir a mxima audincia possvel. Os jornais desinteressaram-se da promoodo indivduo, mas precisaram da massa para vender anncios e se autossus-tentarem.

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    Jos Lus Garcia d conta, exatamente, desse movimento paralelo, per-manentemente intercruzado (o mesmo enredo scio histrico 2009: 25),entre imprensa comercial, desenvolvimento das cidades e expanso do mer-cado:

    A industrializao da imprensa concorreu para abrir o caminho a umjornalismo com um estatuto distinto da opinio, da observao literriae poltica, dirigido a pequenos grupos das elites e apoiado pelo sistemade assinatura, que eram apangio da fase anterior da imprensa (idem,ibidem).

    Esta associao da imprensa a uma dimenso comercial, estabelecendoas bases de um capitalismo jornalstico (idem, ibidem), est igualmente naorigem do processo de profissionalizao do jornalismo.

    No sculo XIX, no perodo que definiu as bases do jornalismo moderno, orelato dos acontecimentos notveis, ou seja, passveis de serem transformadosem notcias, passou a obedecer ao domnio de algumas tcnicas especficas(lead, a pirmide invertida, a resposta s seis perguntas retricas) que s pro-fissionais habilitados teriam capacidade para pr em prtica. Essas tcnicas,adotadas pelas Agncias Noticiosas, que entretanto surgiram, e que alimenta-vam os jornais de notcias, tornaram o jornalismo mais neutro. Essa neutra-lidade das agncias tambm permitia que as notcias fossem publicadas, semalterao, nos jornais, independentemente da respetiva linha editorial.

    Este novo jornalismo atua segundo os padres ainda hoje predominan-tes: independncia, neutralidade, objetividade e profissionalismo2 (Esteves:1998: 231).

    Este jornalismo, produto do mercado, aumenta as exigncias de produoinformativa. O processo de conquista de novos leitores passou a dependerde estratgias especficas de atrao, que os amadores, que assumiam a fun-o de escrever nos jornais, no estavam habilitados a assumir. Sobrepe-se,nessa fase, o conceito de profissionalismo, a formalizao do processo de es-tandardizao da prtica, atravs do qual se transformou um grupo desor-ganizado de escritores numa unidade mais consolidada e coesa (Allan eZelizer, 2010: 120). Nos Estados Unidos da Amrica, os primeiros cdigosticos, as primeiras associaes profissionais e de empresrios do setor e as

    2 As expresses em itlico esto entre aspas no original.

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    primeiras escolas de jornalismo constituram-se pilar desse profissionalismo(idem, ibidem).

    A partir do captulo quatro detalharemos os contornos da associao que,neste perodo, se estabeleceu entre um jornalismo mais exigente e a formaoacadmica, identificando e discutindo o papel, em aparncia contraditrio3,de um dos pais-fundadores do ensino do jornalismo na universidade, JosephPulitzer, ele prprio grande empresrio de media, cmplice, portanto, dos di-tames do negcio; por ora, marcamos o momento que colocou na histria oensino do jornalismo e a formao de profissionais habilitados a cumpriremas novas exigncias do mercado, salientando, em primeira linha, que a forma-o acadmica, desde os primrdios contestada pelo mercado, no deixa deser fruto desse seu af de superar a margem de lucro. O ensino do jornalismona academia assim o espelho mais ntido da contradio do prprio jorna-lismo: uma atividade que deve promover o Homem e, ao mesmo tempo, gerarlucro; um ensino que deve contribuir para participar na melhoria da qualidadedo jornalismo e, ao mesmo tempo, tem de servir as necessidades efmeras domercado, correndo o srio risco de se deixar condicionar por elas. nestacontradio que o ensino do jornalismo nasce na academia; condicionadopor ela que se impe; por causa dela que, ainda hoje, tarda em encontrar umlugar prprio, definido, fundamental no processo de profissionalizao dosjornalistas.

    3 Como assinala Bernard Genton, no prefcio edio francesa do ensaio de Pulitzer, ondeo empresrio defende a existncia de uma escola de jornalismo, o estmulo que o levou a de-fender essa escola est indiretamente associado necessidade de educar a opinio pblica,consciente que estava do peso que ela representa como fora poltica. Esse processo de edu-cao obedeceria, todavia, na interpretao de Genton, a propsitos socialmente relevantes:Sendo a opinio pblica considerada a principal fora poltica (...) no haveria outra coisa afazer que no fosse formar essa opinio pblica da forma mais completa e honesta possvel (...)Se Pulitzer no avarento no uso de metforas passveis de influenciar essa opinio pblica(...) tambm no ingnuo: sabe, por experincia prpria, como que a grande massa inerte influencivel. Na tica de Genton, Pulitzer esforou-se para que o jornalismo participassena educao da opinio pblica, auxiliando-a na tomada de decises. A leitura que Gentonfaz das razes que presidiram, no esprito de Pulitzer, defesa de uma escola enfatiza a mis-so social da mesma: formar os jornalistas proteger e desenvolver um sistema democrticopermanentemente ameaado (Genton, 2011: 21-24). Voltaremos a esta discusso no captuloquatro.

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    1.2.6 Entreter em vez de informar (as marcas da Yellow Press emPortugal)

    Essa imprensa, associada ao lucro, tem objetivos diferentes dos jornais do pe-rodo liberal. No sculo XVIII, a imprensa servia os interesses de um pblicoesclarecido; reduzido, certo, a uma classe social em ascenso, mas, aindaassim, cumprindo um papel fundamental na promoo do debate pblico e navigilncia e monitorizao do exerccio do poder. Com essa ao pblica, aburguesia mercantil controlava o poder e, simultaneamente, promovia os seusinteresses de classe, sem deixar, contudo, de agitar, de criar debate, de mobi-lizar, o que enriquecia a dinmica da Esfera Pblica.

    Como assinalam Kevin Barnhirst e John Nerone, a imprensa assumiu pa-pel central na era das revolues burguesas e, ainda que os jornais servissemos interesses particulares da classe em ascenso e promovessem a excluso deparcelas de pblicos, apelavam a normas de superviso racionais e universais:a base poltica de legitimao deixou de ser Deus e a tradio para passar aser a vontade do povo (2009: 18). James Carey associa, igualmente, s ideiasdo Iluminismo a criao desse novo Homem, que a imprensa de opinio aju-dou a formar:

    O mundo moderno e secular nasceu, verdadeiramente, quando as pes-soas deixaram de comear o dia a pedir a ajuda de Deus em oraes,para reclamarem essa ajuda da nao, atravs da leitura do jornal(2007: 15).

    A mesma imagem de afirmao de um discurso secular sobressai na an-lise de Thorbjrn Brodasson:

    Na Europa iluminada do sculo XVIII, os meios de comunicao so-cial foram gradualmente substituindo a religio, assumindo o papel deinstituio dominante na sociedade ocidental (...) neste sentido, o jorna-lismo moderno ocupa o papel do padre dos tempos medievais (2005:156 e 157).

    O modelo empresarial, da imprensa do sculo XIX, rompeu, todavia, como domnio de prticas lesivas do jornalismo que, igualmente, se sobrepuseramna modernidade; esse modelo do sculo XIX ps termo dependncia das

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    faes partidrias e dos interesses de classe, para, gerando lucro, chegar aomaior nmero possvel de leitores.

    Nesta nova lgica comercial, os contedos devem favorecer o relato atra-tivo em vez da opinio, que exclui parcelas de pblico, os temas do quotidiano,em vez da poltica, o sensacionalismo em vez da anlise, o entretenimento emvez do debate.

    O sensacionalismo assumiu-se, desde o incio, como um valor de mer-cado. As razes dessa prtica discursiva, associada competio econmicaentre jornais, devem ser buscadas na yellow press4 americana. O yellowjournalism define-se pela tendncia para seriar os escndalos mais trridos edescrever, em detalhe, os crimes mais mrbidos (Chalaby, 1998:147). Bar-nhurst e Nerone acrescentam a essa maior visibilidade das notcias sobre ocrime, o investimento na reportagem de assuntos quotidianos, traduzido nodespontar das histrias de interesse humano. A estratgia discursiva tinha,pois, um objetivo definido: vender anncios (2009: 20).

    As marcas do yellow journalism devem buscar-se, sobretudo, nos EstadosUnidos da Amrica, mas essa tendncia para conquistar leitores, utilizando olado mais sensacionalista das histrias, ultrapassou o mundo anglo-saxnico;aos poucos chegou a toda a Europa.

    Em Portugal tambm fomos assistindo ao crescimento de um novo lei-tor. Jos Tengarrinha caracteriza esta "nova atitude mental do consumidor denotcias:

    Menos abastado e instrudo, com gostos menos exigentes e requinta-dos (...) especialmente permevel aos relatos de aventuras ou de hist-rias de amor, como que buscando uma fuga emocional estreita rotinado dia a dia (...) Os jornais (...) pretendem dirigir-se a todos os que sa-bem ler, cujo nmero vai crescendo gradualmente (Tengarrinha, 1965,1989: 218 e 219)5.

    4 A yellow press ter ido buscar o nome cor do papel barato dos jornais ou cor das capasdas primeiras sries de folhetins policiais (Barnhurst e Nerone, 2009: 20).

    5 Ea de Queiroz (1845-1900) traduz, fielmente, este esprito da imprensa portuguesa definais de sculo XIX numa breve passagem de Os Maias. Nessa passagem, o escritor cri-tica os temas desenhados medida dessa nova atitude mental, de que nos fala Tengarrinha,assinalando que os jornais deixaram de cumprir a funo de promotores do debate. Ao invs,promovem o silncio com a cumplicidade do coro dos jornalistas. Nas palavras de umadas personagens do romance, Ega, Ea de Queiroz, descreve os efeitos desse silncio junto

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    Em Portugal, o jornal que serviu de rosto a este jornalismo para as massasfoi o Dirio de Notcias.

    O nmero zero, lanado a 29 de Dezembro de 1864, no deixava dvidasquanto aos objetivos estratgicos do fundador, Eduardo Coelho:

    Interessar a todas as classes, ser acessvel a todas as bolsas e compre-ensvel a todas as inteligncias (...) Eliminando o artigo de fundo, nodiscute poltica nem sustenta polmica. Regista, com a possvel ver-dade, todos os acontecimentos, deixando ao leitor, quaisquer que sejamos seus princpios e opinies, coment-los a seu sabor (apud Tengarri-nha, 1965, 1989: 215).

    O primeiro nmero do Dirio de Notcias posto venda a 1 de Janeirode 1865 por 10 ris um preo muito convidativo se tivermos em conta os40 ris que, na poca, custava um jornal (idem, ibidem). claro que estepreo popular s foi possvel porque o Dirio de Notcias contou com aforte aliana das receitas publicitrias.

    Em Portugal, como no resto da Europa, o jornalismo era uma ocupao ameio tempo, que mobilizava, sobretudo, intelectuais e escritores, mas tambmfiguras com ambio poltica, que usavam o jornal como veculo de promoopessoal. O surgimento da imprensa de massas, de que o Dirio de Notciasfoi o primeiro expoente, abriu espao aos reprteres que, no confronto diretocom os polticos e escritores de jornal, eram considerados jornalistas de se-gunda categoria (Sousa, 2009: 4). A conquista plena do espao pelos repr-teres, na imprensa diria, haveria de ocorrer ao longo do sculo XX, quando, imagem do que aconteceu na Europa, a imprensa precisou de profissionaisa tempo inteiro que dominassem tcnicas de escrita especficas, que garantis-sem