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Produção de etanol continua menos rentável que o açúcar Álcool combustível mantém rentabilidade baixa comparada ao açúcar e a oferta não acompanha a demanda de carro flex Murilo N. Pereira O açúcar continua remunerando mais que o etanol hidratado, que não consegue acompanhar o crescimento da frota de automóveis flex. Dados da safra de 04/2011 a 04/2012 apresentam em média uma rentabilidade de 48% a favor do açúcar, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP) de Piracicaba. Neste período, o mês de maio de 2011 teve a maior rentabilidade do açúcar, por remunerar 69% a mais que o etanol, justamente porque neste mês as usinas de São Paulo conseguiram manter acelerada a produção de açúcar, o que aumentou a oferta no mercado interno, segundo análise do Cepea. As variações estiveram entre 30% a 69% . Nos quatro primeiros meses de 2012, mesmo com uma diferença considerável houve uma queda constante de preços de 52% para 36%, na rentabilidade do açúcar diante do etanol. Fonte: Cepea/Esalq/USP Embora a rentabilidade do açúcar seja maior, segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (ÚNICA), do total da planta colhida até 15 de abril de 2012, 65,5% foi destinada a produção de etanol e 34% à produção de açúcar. O engenheiro químico da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e especialista em energia nuclear na agricultura, Cláudio Lopes afirmou que na safra de 2011/2012, do total da cana colhida 51% foi destinada para a produção de álcool e 0,00% 20,00% 40,00% 60,00% 80,00% 100,00% 2011/2012 Remuneração do açúcar em relação ao etanol hidratado Índice de rentabilidade do açúcar com relação ao etanol

Jornalismo Especializado

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Jornalismo especializado da disciplina da Professora Rose Bars

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Page 1: Jornalismo Especializado

Produção de etanol continua menos rentável que o açúcar

Álcool combustível mantém rentabilidade baixa comparada ao açúcar e a oferta não

acompanha a demanda de carro flex

Murilo N. Pereira

O açúcar continua remunerando mais que o etanol hidratado, que não consegue acompanhar

o crescimento da frota de automóveis flex. Dados da safra de 04/2011 a 04/2012 apresentam

em média uma rentabilidade de 48% a favor do açúcar, de acordo com o Centro de Estudos

Avançados em Economia aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz

(ESALQ/USP) de Piracicaba.

Neste período, o mês de maio de 2011 teve a maior rentabilidade do açúcar, por remunerar

69% a mais que o etanol, justamente porque neste mês as usinas de São Paulo conseguiram

manter acelerada a produção de açúcar, o que aumentou a oferta no mercado interno,

segundo análise do Cepea. As variações estiveram entre 30% a 69% . Nos quatro primeiros

meses de 2012, mesmo com uma diferença considerável houve uma queda constante de

preços de 52% para 36%, na rentabilidade do açúcar diante do etanol.

Fonte: Cepea/Esalq/USP

Embora a rentabilidade do açúcar seja maior, segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar

(ÚNICA), do total da planta colhida até 15 de abril de 2012, 65,5% foi destinada a produção de

etanol e 34% à produção de açúcar. O engenheiro químico da Universidade Federal de São

Carlos (UFSCar) e especialista em energia nuclear na agricultura, Cláudio Lopes afirmou que na

safra de 2011/2012, do total da cana colhida 51% foi destinada para a produção de álcool e

0,00%

20,00%

40,00%

60,00%

80,00%

100,00%

2011/2012Remuneração do açúcar em relação ao etanol

hidratado

Índice de rentabilidade do açúcar com relação ao etanol

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48% para a produção de açúcar. “Só não investem mais no setor açucareiro porque as

empresas estão descapitalizadas e sem equipamentos, devido ao altíssimo custo das máquinas

para produção de açúcar”, afirma o especialista. Esses dados refletem o cenário econômico do

setor. Segundo a Única, que também aponta o índice de produção para o etanol em 2010/11

foi de 55 % da safra.

A superioridade rentável do açúcar teve inicio em fevereiro de 2008, período em que o açúcar

remunerou 1% a mais que o álcool hidratado, agravado pela crise econômica que afetou a

produção do etanol. “O álcool foi prejudicado pelas condições climáticas e o seu preço não é

convidativo, devido ao congelamento do preço da gasolina”, conclui Lopes. Dados da União

dos Produtores de Bioenergia (UDOP) indicam que de maio de 2009 para maio de 2012 o

etanol sofreu um aumento de R$ 0,59 para R$1,09.

Embora mantenha o descompasso do preço com o etanol, desde março de 2012 o

açúcar registra queda acentuada na sua exportação. Em abril de 2012 (última

atualização do Cepea), as exportações alcançaram 548,5 mil toneladas, um decréscimo

de 58% em relação ao mesmo período de 2011, quando foi exportado 1.303 mil

toneladas. Pelo ponto de vista da receita, os dados divulgados pelo Ministério de

Desenvolvimento Indústria e Comércio (MDIC) apontaram que, em abril de 2012, as

exportações alcançaram US$ 319, 8 milhões; no mesmo período em 2011, foram US$ 811,1

milhões. De acordo com pesquisadores do Cepea, esta queda aconteceu porque as

unidades produtoras do açúcar liquidaram os estoques na safra anterior a preços

inferiores diante de uma demanda estável. Além disso, houve um atraso da moagem de

cana na região centro-sul do país na temporada 2012/13. Em sua última atualização, o MDIC

divulgou que as exportações brasileiras de açúcar atingiram US$ 967,1 milhões, um salto de

202,4% com relação ao mês de abril.

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Fonte: Cepea/Esalq/USP.

Álcool estagnado - O consumo internacional do açúcar é uma das variáveis da demanda que

afetam diretamente a produção de etanol. “A demanda dos carros flex teve aumento

desenfreado de frotas”, aponta a economista Marta Marjotta. A crescente dos veículos não

atende a oferta do etanol, prejudicado ainda pelo preço convidativo da gasolina. O uso do

etanol só pode ser considerado vantajoso, desde que o seu preço seja até 70% do preço da

gasolina. Até o dia 8 do mês de junho de 2012, de acordo com pesquisa realizada pela Agência

Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), na média de preços de

combustíveis no Brasil a gasolina segue mais competitiva que o etanol. A média do preço da

gasolina no país foi de R$ 2,732 por litro e o preço médio do etanol fechou em R$1,95 por litro.

Com esses valores, o etanol atingiu 71,3%, do preço da gasolina. Para o álcool ser competitivo

seu valor deveria ser de até R$ 1,9124 por litro.

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores(Anfavea) apontou que até o

final de 2010, os carros flex ultrapassavam 12 milhões de unidades circulando o país; em 2011

houve acréscimo de mais 2,849 milhões e só até maio de 2012 mais 1 milhão. Atualmente,

85% dos automóveis no país são flex. O problema é que a oferta de etanol continua estancada.

Em 2010 foram produzidos 25, 7 bilhões de litros do álcool combustível e em 2011 foram

20,56 bilhões de litros, ou seja, um decréscimo de 18,75% com relação ao ano anterior. “Se

tem uma demanda de etanol dada pelos carros flex, tem que se pensar nesse abastecimento”

afirma Marta ao defender a continuidade da produção de etanol.

Cláudio Lopes diz que uma das maneiras do etanol acompanhar a oferta é ampliando a

infraestrutura na produção do álcool. “Hoje, se esgotou o ciclo de produção em São Paulo e

agora a produção de cana é feita no Mato Grosso do Sul e em Goiás. No entanto, o custo de

transporte é alto. É aí que entra condições mais eficientes do transporte, investindo e

0500

1.0001.5002.0002.5003.0003.500

2011/2012Exportação de açúcar

Mil toneladas de açúcar

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construindo estradas de ferro”, sustenta. Para o especialista, a produtividade do álcool é

eficaz, e o necessário é expandir o espaço de produção aliado a uma boa infraestrutura.

Hoje, o Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) tem o programa ProRenova, que

busca ampliar a produção de cana-de-açúcar no país, por meio do financiamento à renovação

e implantação de novos canaviais. A economista Marta Marjotta lembra que há usinas

inadimplentes e que não conseguem aderir o programa. “Mas não se deve abandonar a

produção de etanol e sim pensar a longo prazo, não só em questões conjunturais, garantindo

o pioneirismo em uma tecnologia que alguns países procuram implementar”, frisa.

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