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VERSÃO PRELIMINAR PARA DEBATE, FAVOR NÃO CITAR 1 Jornalismo parcial feito para vender: a decadência do padrão “catch-all” pelas leis do mercado Diógenes Lycarião pesquisador em estágio pós-doutoral (PPGcom-UFF); Eleonora Magalhães doutoranda do PPGcom-UFF; Afonso Albuquerque professor associado IV (Departamento Estudos de Mídia, UFF) Introdução Em 2004 Hallin e Mancini sugeriram, no seminal Comparing Media Systems, que os sistemas midiáticos ao redor do mundo poderiam estar convergindo no sentido do modelo liberal cujo maior representante é os EUA. Isto implicaria, entre outros, em um declínio do jornalismo partidário. Uma década depois, esta hipótese não apenas não se confirmou nos demais países (ver Hallin & Mancini, 2012), como, mesmo nos Estados Unidos, as tendências de identificação ideológica com relação aos principais produtos da mídia noticiosa parecem evidentes (ver Pew Research Center, 2014a; Prior, 2013; Marchi, 2012; Stroud, 2011; Nie et al, 2010). Entretanto, isso vem ocorrendo não a despeito da estruturação comercial que é típica do mercado de mídia norte-americano, mas, em parte, justamente por causa dessa estruturação. Isso coloca em xeque a validade universal do argumento de que a orientação mercadológica dos sistemas mediáticos os tendem a direcioná-los a um padrão catch-all e, portanto ideologicamente neutro, devido à necessidade de maximização da audiência. Entretanto, em mercados politicamente polarizados, fragmentados e com custos de produção cada vez mais baixos devido à massificação da Internet, a orientação catch-all passa a ser, para muitos veículos, economicamente desvantajosa. Como consequência, as forças do mercado mesmas passam a estimular um ambiente de mídia noticiosa politicamente mais ativo e advocatício. Argumentamos, neste trabalho, que esse processo também pode estar em curso no sistema de mídia brasileiro, pois as condições fundamentais que o configuram nos EUA também apresentam fortes indícios de estarem presentes por aqui. Dentre eles, teríamos um crescimento da polarização política, um forte aumento da oferta de produtos de mídia noticiosa politicamente engajada e uma consequente saturação do espectro de preferências do mercado consumidor desse tipo de mídia. De modo a destrinchar esse argumento, este artigo está organizado da seguinte maneira: na primeira seção revisamos os padrões e variações do papel político

Jornalismo parcial feito para vender: a decadência do ... · A retórica da prática jornalística brasileira seria exemplar nesse sentido, pois ela atuaria ... especificamente a

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VERSÃO PRELIMINAR PARA DEBATE, FAVOR NÃO CITAR

1

Jornalismo parcial feito para vender: a decadência do padrão “catch-all” pelas leis

do mercado

Diógenes Lycarião – pesquisador em estágio pós-doutoral (PPGcom-UFF);

Eleonora Magalhães – doutoranda do PPGcom-UFF;

Afonso Albuquerque – professor associado IV (Departamento Estudos de Mídia, UFF)

Introdução

Em 2004 Hallin e Mancini sugeriram, no seminal Comparing Media Systems,

que os sistemas midiáticos ao redor do mundo poderiam estar convergindo no sentido

do modelo liberal cujo maior representante é os EUA. Isto implicaria, entre outros, em

um declínio do jornalismo partidário. Uma década depois, esta hipótese não apenas não

se confirmou nos demais países (ver Hallin & Mancini, 2012), como, mesmo nos

Estados Unidos, as tendências de identificação ideológica com relação aos principais

produtos da mídia noticiosa parecem evidentes (ver Pew Research Center, 2014a; Prior,

2013; Marchi, 2012; Stroud, 2011; Nie et al, 2010).

Entretanto, isso vem ocorrendo não a despeito da estruturação comercial que é

típica do mercado de mídia norte-americano, mas, em parte, justamente por causa dessa

estruturação. Isso coloca em xeque a validade universal do argumento de que a

orientação mercadológica dos sistemas mediáticos os tendem a direcioná-los a um

padrão catch-all e, portanto ideologicamente neutro, devido à necessidade de

maximização da audiência. Entretanto, em mercados politicamente polarizados,

fragmentados e com custos de produção cada vez mais baixos devido à massificação da

Internet, a orientação catch-all passa a ser, para muitos veículos, economicamente

desvantajosa. Como consequência, as forças do mercado mesmas passam a estimular

um ambiente de mídia noticiosa politicamente mais ativo e advocatício.

Argumentamos, neste trabalho, que esse processo também pode estar em curso

no sistema de mídia brasileiro, pois as condições fundamentais que o configuram nos

EUA também apresentam fortes indícios de estarem presentes por aqui. Dentre eles,

teríamos um crescimento da polarização política, um forte aumento da oferta de

produtos de mídia noticiosa politicamente engajada e uma consequente saturação do

espectro de preferências do mercado consumidor desse tipo de mídia.

De modo a destrinchar esse argumento, este artigo está organizado da seguinte

maneira: na primeira seção revisamos os padrões e variações do papel político

VERSÃO PRELIMINAR PARA DEBATE, FAVOR NÃO CITAR

2

(partidário e ideológico) nos setores centrais do sistema de mídia brasileiro ao longo das

últimas décadas. Apontamos aí, com base na literatura especializada, que houve, em tal

período, um aumento significativo de sua pluralidade interna. Na seção seguinte,

discutimos o papel do mercado na condução desse aumento e reconhecemos que a

orientação comercial efetivamente sustentou e, talvez ainda sustente, uma aproximação

a um padrão catch-all de parte central do sistema de mídia brasileiro. Uma aproximação

que, no entanto, teria apenas reconfigurado o tipo, a frequência e a distribuição (entre

diferentes veículos) das dimensões ativas e advocatícias desse sistema. Na seção

seguinte, revisamos o aludido processo de crescimento da identificação ideológica do

sistema de mídia estadunidense para extrapolar hipóteses para o caso brasileiro. Tais

hipóteses são discutidas e fundamentas na seção seguinte, em que apresentamos

indícios, ainda que limitados, pregnantes para traçar, tanto um paralelo com o caso

estadunidense, como diversas dimensões de tipo sui generis do caso brasileiro.

1 O papel político do sistema de mídia brasileiro

A forma mais apropriada de se analisar o papel e a correspondência política

(ideológico e partidária) dos media noticiosos com as principais forças políticas tem

sido objeto de um amplo e multifacetado debate (Albuquerque, 2011, 2012, 2013;

Donsbach & Patterson, 2004; Hadland; 2011; Hallin & Mancini, 2011; Hanitzsch et al,

2011; McCargo, 2012). No epicentro desse debate se encontra a variável “paralelismo

político”. Ela foi proposta por Hallin & Manicini para servir ao tipo de comparação em

tela, mas essa mesma variável tem sofrido intensa crítica, especialmente de

Albuquerque (2011, 2012, 2013).

O autor toma justamente o caso brasileiro para sustentar a perspectiva de que

essa variável apresenta severas limitações para comparações fidedignas à complexidade

e à diversidade dos sistemas mediáticos ao redor do mundo. Isso porque a variável

“paralelismo político” só consegue identificar de modo preciso relações estáveis entre

veículos de comunicação e elites políticas, ou pelo menos entre esses meios e

orientações ideológicas tradicionais (da direita à esquerda, por exemplo). Ela, no

entanto, seria débil em identificar o caráter ativo que a imprensa pode assumir de modo

flexível e não necessariamente ligado a uma corrente de valores políticos ideológicos

ligados claramente e permanentemente à esquerda ou à direita.

VERSÃO PRELIMINAR PARA DEBATE, FAVOR NÃO CITAR

3

A retórica da prática jornalística brasileira seria exemplar nesse sentido, pois ela

atuaria se posicionando politicamente em relação ao jogo político, só que não em nome

de uma visão ideológica ou de determinados setores sociais, mas em nome do próprio

interesse público, próximo, portanto, ao da retórica estadunidense de vigilante

(watchdog) do sistema político (Albuquerque, 2005, p.487).

O sistema mediático brasileiro, todavia, ultrapassaria as aspirações dessa

retórica, pois ele reivindicaria a prerrogativa de intervir no jogo político em nome dos

próprios interesses nacionais, podendo atuar, desse modo, como árbitro das disputas

políticas setoriais vinculadas a ideologias partidárias ou a instituições do sistema

político. Por consequência, sua atuação se daria de modo ambivalente em relação ao

ordenamento institucional da democracia liberal e encontraria na concepção de “Poder

Moderador” uma linha de continuidade histórica para esse tipo de intervenção no jogo

político:

Argumento que uma atitude ambivalente com relação às instituições políticas liberais tem sido uma característica permanente da vida pública brasileira e, em muitas ocasiões, diferentes instituições se candidataram (ou foram convidadas) a desempenhar o papel de um "quarto poder". Sugiro que, principalmente a partir dos anos 1980, a imprensa reivindicou para si esse papel, recorrendo, para justificar suas reivindicações, a uma retórica norte-americana. (ALBUQUERQUE, 2005, p.487)

1

Isso não significa, por outro lado, que, antes da década de 80, o sistema

mediático não tenha exercido um papel ativo e advocatício em relação ao jogo político.

Pelo contrário, é notório seu apoio concedido tanto ao golpe de 1964, assim como à

sustentação do projeto de poder dos militares. Um apoio que, no entanto, foi perdendo

força e se transformando em oposição ao regime autoritário. Assim, “a grande imprensa

escrita evoluiu de um apoio entusiasmado à implantação do regime militar para uma

oposição liberal e moderada, porém crescente” (Azevedo, 2006, p.104).

No entanto, esse movimento não foi de modo algum uniforme em relação a toda

a extensão do sistema mediático. Enquanto foi possível verificar tal tendência na

imprensa escrita, a mídia eletrônica, especificamente a Rede Globo, agiu de modo muito

mais reativo ao desmonte do regime autoritário. A emissora chegou inclusive a

participar de um “complô para fraudar os resultados, em uma tentativa de evitar a

1 Tradução livre de: “I sustain that an ambivalent attitude to the liberal political institutions has been a

permanent trait of Brazilian political life and, on many occasions, different institutions claimed (or were

invited) to play the role of a ‘Fourth Branch’. I suggest that, mainly since the 1980s, the press has claimed

to play that role, recurring to an American-like rhetoric to justify its claims.”

VERSÃO PRELIMINAR PARA DEBATE, FAVOR NÃO CITAR

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vitória do líder populista de esquerda Leonel Brizola – o chamado ''escândalo

Proconsult'' (Miguel, 2004, p.92). A emissora, ademais, omitiu informações sobre a

campanha das “Diretas Já”, a qual já encontrava em vários setores da imprensa amplo

apoio (Azevedo, 2006).

Nos anos seguintes, o caráter ativo e advocatício do sistema mediático brasileiro

continuou sendo característica marcante da conjuntura política nacional. Além do apoio

à campanha das “Diretas Já”, tanto a eleição de Collor, como seu impeachment tiveram

na mídia um ator político decisivo (Albuquerque, 2005, Azevedo, 2006).

Só que esses primeiros anos da redemocratização foram também acompanhados

de severas distorções de princípios democráticos, pois a cobertura de veículos centrais

do sistema se mostrou tendenciosa e desiquilibrada em relação aos candidatos e às elites

políticas correspondentes. Essa distorção, no entanto, não decorreu do simples fato de

terem existido alguns produtos jornalísticos tendenciosos em sua cobertura. Isso porque,

quando um jornal é declaradamente partidário, ele assume um contrato comunicativo

distinto e, em contextos, de pluralidade externa, faz parte fundamental do debate

público democrático (ver Habermas, 1984). No entanto, esse não tem sido o caso da

realidade brasileira, marcada pela baixa pluralidade externa e por contratos muito

distintos dos estabelecidos pela imprensa partidária. Em tal contexto:

[...] o princípio democrático da diversidade e pluralidade estaria inevitavelmente dependente do ideal normativo da objetividade tão cara à perspectiva teórica do jornalismo liberal, ou seja, dependente da presença de uma diversidade interna em cada órgão de imprensa que permita o confronto de opiniões divergentes e coberturas balanceadas em que todos os lados e atores em disputa sejam contemplados. (AZEVEDO, 2006, p.98)

Essa pluralidade interna, por sua vez, só veio a existir depois da regulação

promovida pelas mudanças na legislação eleitoral2 e após ampla contestação na

sociedade sobre o papel exercido pelas práticas jornalísticas dominantes. Tudo isso

colaborou para deixar a cobertura política mais equilibrada e pluralista a partir de 1994

(Azevedo, 2006; Miguel, 2004, Porto, 2007; Porto et al, 2004).

Outro fator que pode ter influenciado essa mudança de postura teria sido o

fortalecimento do caráter comercial dos produtos jornalísticos. Como aponta

2 De acordo com Azevedo (2006, p.105): “a lei 9.504 de 30/09/1997 criou, em seus artigos 45 e 46, regras

e normas rígidas que regulamentam fortemente a programação e o noticiário das rádios e televisões três

meses antes dos eventos eleitorais, impedindo assim qualquer tentativa destes veículos apoiarem ou

beneficiarem direta ou indiretamente partidos e candidatos.”

VERSÃO PRELIMINAR PARA DEBATE, FAVOR NÃO CITAR

5

Albuquerque, “à medida que a democracia foi se tornando mais consolidada no Brasil, a

maior parte das grandes organizações jornalísticas foi adotando uma orientação

comercial e de maximização da audiência (catch –all atitude)” (ALBUQUERQUE,

2011, p.81)3.

Wilson Gomes, em Transformações da Política, estabelece uma linha de

raciocínio que pode levar a crer que foi essa orientação que impeliu o sistema mediático

brasileiro a deixar de apresentar alto nível de paralelismo político:

[...] quando as instituições que produzem comunicação de massa passam a funcionar como empresas [...] o cálculo econômico, que manda prestar atenção no que o consumidor demanda, substitui com vantagem o cálculo político, que mandava levar em consideração as perspectivas de ganho do grupo ou partido político. (GOMES, 2004, p.172).

Alexander (1990, p.130) apresenta um raciocínio similar ao de Gomes quando

estabelece uma correlação entre nível de diferenciação e o modelo midiático

predominante, dando a entender que, quanto menos diferenciado o sistema dos media é

do seu entorno (em especial do sistema político), mais ele tende a ser “normativamente

flexível”, i.e. politicamente centrista e pluralista. Uma das formas que impulsionaria

essa diferenciação dos media em relação ao sistema político seria justamente a

maximização da audiência e seu padrão “catch-all”, algo que seria promovido pela

estruturação comercial do sistema mediático.

Esse modelo explicativo, entretanto, teria validade apenas em contextos muito

específicos. Argumentamos, portanto, que modificadas algumas condições

fundamentais do mercado de mídia e do contexto sociopolítico, a orientação

mercadológica pode levar a efeitos muito distintos dos apontados por Gomes e

Alexander. De modo a esclarecer as condições específicas que servem, tanto para

explicar momentos anteriores da história da mídia no Brasil, como para o que vem

ocorrendo nos últimos anos, iremos revisitar, na seção a seguir, o papel do mercado na

condução e gerenciamento do sistema de mídia brasileiro.

2 A estruturação do sistema de mídia brasileiro pelo mercado

Se a diferenciação do sistema mediático e a expansão da pluralidade interna de

seus principais centros produtores efetivamente dependem de uma forte vinculação

3 Tradução livre de: “As democracy became more consolidated in Brazil, most of the leading news media

organizations adopted a market-driven, catch-all atitude”

VERSÃO PRELIMINAR PARA DEBATE, FAVOR NÃO CITAR

6

desse sistema à lógica comercial, então o sistema de mídia brasileiro deveria ter sido

historicamente pluralista e “normativamente flexível”. Isso porque o sistema mediático

brasileiro teve, desde o início, uma predominância de agentes privados na condução das

empresas de comunicação de massa. Isso de tal modo –assim aponta Albuquerque

(2011, p.86) – que o Brasil jamais pôde experimentar, tal como os vizinhos do norte e

da Europa, algum tipo de “commercial deluge”. Assim, as empresas da comunicação de

massa têm mantido em terras tupiniquins um controle relativamente mais robusto e

predominante dos centros do sistema de mídia brasileiro do que as elites políticas o têm

feito. Uma predominância marcada inclusive pelo oligopólio, baixa pluralidade externa

e propriedade cruzada dos meios de comunicação.

Sendo assim, trata-se de um mercado desigual e extremamente concentrado em

que poucas famílias e setores abocanham a maior parte da audiência e,

consequentemente, da receita gerada por esse setor econômico. Nesse mapa de

desigualdades, o setor mais lucrativo e mais concentrador é o da mídia eletrônica,

especialmente o da TV aberta (Albuquerque, 2011; Azevedo, 2006; Pieranti, 2006).

A imprensa, por sua vez, também apresenta alto grau de concentração, mas de

modo mais restrito à esfera local e regional. O poder do setor como um todo, desse

modo, não é comparável ao da mídia eletrônica tendo em vista que o “principal acesso

dos brasileiros ao sistema de mídia se dá através da mídia eletrônica, o rádio e a

televisão, indicando que pelo menos 2/3 da população obtêm suas informações básicas

sobre o país e o mundo através destes dois veículos.” (AZEVEDO, 2006, p.97).

A estreita relação do sistema mediático brasileiro em relação ao mercado ocorre,

todavia, não apenas devido ao fato de que os agentes privados concentram mais

audiência e receita do que os agentes públicos, estatais e políticos. Ocorre também

devido à sua dependência em relação às agências financeiras (bancos) e ao capital

estrangeiro. Isso porque foi a partir deles que as empresas de comunicação se

modernizaram e, por conseguinte, deles tornaram-se umbilicalmente dependentes para

realizar os investimentos necessários para competir num mercado de permanente

inovação tecnológica e alta intensidade financeira (Pieranti, 2006).

Essa dependência pode ajudar a explicar porque, durante os últimos pleitos

eleitorais, a imprensa foi tão ativa e advocatícia em favor das “perspectivas dos

mercados financeiros.” (PORTO, 2007, p.31). Uma perspectiva que, aliás, não sofreu

qualquer tipo de contestação discursiva por parte das elites políticas que participaram de

VERSÃO PRELIMINAR PARA DEBATE, FAVOR NÃO CITAR

7

tais pleitos. Esse foi caso documentado por Luis Felipe Miguel durante as eleições de

2002:

Nas entrevistas e nos debates, o âncora do Jornal Nacional, William Bonner, cobrava de todos (em especial dos três oposicionistas) a ''manutenção dos contratos'', o pagamento das dívidas externa e interna e o compromisso com o ajuste fiscal. Da forma como o diálogo era posto (e uma vez que nenhum candidato se dispunha a contestá-lo), parecia que Bonner exigia algo tão evidente quanto a honestidade no trato com o dinheiro público, isto é, algo que não permitisse discordâncias no campo da política e que marcasse o desviante como portador de um déficit moral. (MIGUEL, 2004, p.102)

A falta de contestação por parte dos candidatos, assim como o fechamento do

campo discursivo em relação ao tema da economia (ver também Porto, 2007) indica que

não apenas o sistema mediático se tornou extremamente dependente dos fluxos de

capitais financeiros, mas os próprios governos. Um fenômeno que, como aponta

Habermas (2012), coloca limites decisivos sobre a liberdade de ação dos Estados e da

capacidade da opinião pública de se impor diante os imperativos sistêmicos dos

mercados. Pode-se perceber, portanto, que esses imperativos têm asfixiado a capacidade

crítica não apenas do campo mediático e jornalístico, mas das próprias elites políticas,

as quais se encontram numa situação em que a margem de manobra, nos assuntos

macroeconômicos, é muito pequena:

O fato é que, gostemos disso ou não, um determinado conjunto de características desta fase do capitalismo influencia diretamente os modos e os meios do governo e determina as prioridades dos Estados que são excessivamente vulneráveis aos movimentos dos recursos dos investidores estrangeiros. (GOMES, 2004, p.133).

Diante desse flagrante limite da capacidade da orientação mercadológica dos

media em determinar um padrão de cobertura de alta pluralidade (seja interna ou

externa), fica claro que o raciocínio de Gomes (2004) e de Alexander (1990) de que a

orientação ao mercado tende a enfraquecer a intervenção política dos media e a

fragilizar sua orientação político-ideológica é válido apenas em condições muito

específicas, sendo elas a saber:

a) quando a cobertura se refere a temas em que há conflitos interpretativos

entre as principais elites políticas. Do contrário (ou seja, em caso de

VERSÃO PRELIMINAR PARA DEBATE, FAVOR NÃO CITAR

8

“consenso”), tende-se a observar um fechamento do campo discursivo e,

portanto, uma baixa pluralidade interpretativa.

b) quando o mercado de mídia está estruturado em torno de uma baixa

competição entre as principais empresas de comunicação (oligopólio ou mercado

dominado por grandes corporações); e

c) quando há uma baixa polarização política.

No entanto, há diversos indícios que apontam que as duas últimas condições

estão se deteriorando fortemente, tanto no Brasil, como em outras partes do mundo.

Desse modo, teríamos contextos de mercados mais pulverizados e com públicos mais

segmentados, inclusive em termos ideológicos. Sob tais circunstâncias, defendemos que

o sistema de mídia reduz fortemente seu padrão catchall, pois as empresas de

comunicação precisam satisfazer um tipo de público mais polarizado, sem o qual não

haveria viabilidade econômica da empresa. Nosso argumento se baseia, portanto, na

premissa de que o mercado, devido à sua própria diferenciação interna, passa a ter

nichos de consumidores sedentos de um jornalismo com maior nível de coloração e

intervenção política. Nichos que, entretanto, podem formar verdadeiros mercados de

massa em contextos de alta polarização política, atraindo, desse modo, diversos

veículos, inclusive os do centro do sistema mediático, a assumir um padrão de

cobertura convergente às demandas cognitivas desse público consumidor.

Para ilustrar esse argumento e com o objetivo de extrapolar hipóteses para o caso

brasileiro, iremos tratar, na próxima seção, do caso estadunidense.

3 Fundamentando hipóteses a partir do caso estadunidense

O sistema de mídia estadunidense é, similarmente ao brasileiro, fortemente

orientado à logica comercial e, não obstante, vem observando crescentes níveis de

intervenção política e identificação ideológica. Algo muito diferente, portanto, do que se

esperaria do padrão “catch-all”. E isso vem ocorrendo, não a despeito do mercado, mas

sob a lógica do mercado, pois é, sob uma forte audiência e mercado fidelizado, que a

conservadora Fox News, por exemplo, vem se mantendo como uma das líderes do

mercado de mídia norte-americano. Seu tamanho e força é evidência, segundo Daniel

Hallin e Paolo Mancini, de que:

VERSÃO PRELIMINAR PARA DEBATE, FAVOR NÃO CITAR

9

[...] não há nenhuma conexão necessária entre a comercialização da mídia e um profissionalismo neutro. O processo de comercialização é susceptível de criar novas formas de jornalismo partidário e de paralelismo político, mesmo que tal processo enfraqueça os antigos. (HALLIN & MANCINI, 2004, p.286)

4

E não se trata de que a Fox News seja uma “exceção” ao padrão catch-all.

Pesquisas e dados mais recentes com relação aos hábitos de consumo no mercado de

mídia estadunidense mostram que há um movimento de crise da objetividade na

imprensa tradicional, principalmente entre os jovens (MARCHI, 2012), o que

constrange jornais e jornalistas a repensarem seu posicionamento na sociedade de modo

a garantir a sobrevivência de seu lugar de autoridade enquanto intérpretes do cotidiano.

Além disso, a polarização política crescente nos EUA se mostra associada a um

consumo de mídia também altamente segmentado e politicamente orientado. O conjunto

mais robusto de dados a esse respeito está disponível na pesquisa Political Polarization

& Media Habits: from Fox News to Facebook (Pew Research Center, 2014a).

Em um dos gráficos dessa pesquisa (ver Figura 01), pode-se perceber que,

quando se trata da confiança nos principais veículos do sistema de mídia estadunidense,

as exceções, na verdade, referem-se aqueles que conseguem obter a confiança do

mercado consumidor a despeito de qualquer orientação política e ideológica. Nesse

caso, há somente um veículo que consegue obter mais confiança do que desconfiança

em todo espectro politico-ideológico do público consumidor estadunidense, que é, a

saber, o Wall Street Journal.

Todos os demais veículos apresentam algum nível significativo de desconfiança

em um dos extremos da escala de identificação política do público ou uma evidente

polarização. Em relação aos polarizados, temos os seguintes veículos:

a) Credibilidade entre liberais e desconfiança entre conservadores: The New

York Times, The Washinton Post, MSNBC, The New Yorker, Político, Mother

Jones, Slate, The Huffington Post, The Colbert Report e The Daily Show.

b) Credibilidade entre conservadores e desconfiança entre liberais: The Blaze,

Fox News, Breitbart, Drudge Report, The Sean Hannity Show e The Glenn

Beck Program.

4 Tradução livre de: “[...] there is no necessary connection between commercializaton of media and

neutral professionalism. The shift toward commercialization is likely to create new forms of advocacy

journalism and political parallelism, even as it undercuts old ones.”

VERSÃO PRELIMINAR PARA DEBATE, FAVOR NÃO CITAR

10

Fonte: Pew Research Center, 2014a

FIGURA 1

VERSÃO PRELIMINAR PARA DEBATE, FAVOR NÃO CITAR

11

A atual e fartamente documentada fragilidade do padrão “catch-all” para

descrever o nível de identidade ideológica dos diferentes veículos do sistema mediático

estadunidense, entretanto, não pode ser devidamente compreendido sem que levemos

em conta duas transformações decisivas que ocorreram nas últimas décadas e, até

mesmo, nos últimos anos. A primeira se refere ao aumento da polarização política e a

segunda à expansão vertiginosa da oferta de novos produtos no mercado de mídia. Com

relação ao aumento da polarização, outra pesquisa do Pew Research Center (2014b),

intitulada Political Polarization in the American Public, assim como um levantamento

do Instituto Gallup5 mostram que:

a) os polos de identificação ideológica tem aumentado, assim como as

zonas de consenso entre liberais e conservadores, ou seja o centro

político, tem se deteriorado (ver Figura 2)

Fonte: Pew Research Center, 2014b

b) A média da diferença de aprovação do presidente em exercício em

função da identificação partidária alcançou um pico histórico (ver

Figura 3)

5 Ver “Obama Approval Ratings Still Historically Polarized” em

<http://www.gallup.com/poll/181490/obama-approval-ratings-historically-po larized.aspx>. Acesso em 23

de março de 2015.

FIGURA 2

VERSÃO PRELIMINAR PARA DEBATE, FAVOR NÃO CITAR

12

Fonte: Gallup

c) Em comparação aos cidadãos que tendem ao centro político, os

setores mais polarizados são os mais politicamente interessados e

ativos - o que implica que eles votam mais, contribuem

financeiramente em maior propensão e discutem política mais

frequentemente. Ao mesmo tempo, também são os menos dispostos a

conversar com pessoas que pensam diferente (efeito caixa de

ressonância, ver Pew Research Center, 2014a).

d) O público conservador tende a confiar num universo menor de veículos e

buscam grupos mais politicamente homogêneos do que os liberais (ver

Figuras 4 e 5).

As implicações desses dados para os hábitos de consumo de mídia ficam ainda

mais nítidas quando levamos em conta que os heavy viewers (os usários intensos) são

os mais fiéis a um conjunto restrito de veículos, tendo, assim, um cardápio de fontes de

notícias mais limitado do que os usuários que apenas esporadicamente consomem mídia

noticiosa. Isso é o que está indicado na ampla revisão de literatura conduzida por

Markus Prior (2013) acerca da relação entre mídia e polarização política nos EUA. O

autor, a esse respeito, observa que: “usuários intensos [heavy viewers] da Fox news são

menos propensos a assistir a CNN ou a MSNBC, mesmo que brevemente” (p.113) 6.

Em convergência ao padrão mais “tolerante” dos liberais corroborado pelos dados do

6 Tradução livre de “heavier FNC viewers are less likely to watch CNN or MSNBC at least briefly.”.

FIGURA 3

VERSÃO PRELIMINAR PARA DEBATE, FAVOR NÃO CITAR

13

Pew Research Center (ver Figura 5), Prior (2013) também observa que “a relação entre

a duração de exposição à CNN ou à MSNBC com uma respectiva aversão à Fox News

parece ser mais fraca”7 (ibidem). O autor conclui, então, que: “um amplo segmento da

audiência de TV a cabo assiste notícias esporadicamente e não seletivamente, assistindo

diferentes canais em combinação. Na pequena porção dos usuários intensos de notícias

em TV a cabo, entretanto, uma exposição partidariamente orientada não é incomum.”

(PRIOR, 2013, p.114)8.

Fonte: Pew Research Center, 2014a

7 Tradução livre de:” The relationship between duration of exposure to CNN or MSNBC and avoiding

FNC may be somewhat weaker.” 8 Tradução livre de: “A large segment watches cable news infrequently and nonselectively, mixing

exposure to different cable news channels. In the small slice of heavy cable news viewers, however,

partisan selective exposure is not uncommon.”

FIGURA 4 FIGURA 5

VERSÃO PRELIMINAR PARA DEBATE, FAVOR NÃO CITAR

14

Disso podemos deduzir o seguinte quadro: o aumento da polarização política

pode estar fazendo com que o público consumidor mais frequente de mídia noticiosa (o

heavy viewer) esteja se tornando cada vez mais seletivo em relação aos veículos em

função da coloração política e ideológica desses veículos. E isso teria uma implicação

decisiva para os negócios: deixar de fidelizar esse público por se adotar um padrão

catch-all pode ser um tiro no pé do ponto de vista mercadológico, pois é justamente

esse consumidor o que mais utiliza mídia noticiosa e que, portanto, o que mais estaria

disposto a pagar por ela. E tal disposição passa a ser decisiva para a sobrevivência de

um determinado veículo quando levamos em conta a segunda transformação aludida

acima: o aumento vertiginoso da oferta de novos produtos no mercado de mídia.

Atualmente, esse aumento se tornou efetivamente “vertiginoso” com a

massificação da internet. Entretanto, ele começa ainda na década de 80 do século XX

nos EUA com a disseminação da TV a cabo. E os efeitos para a mídia noticiosa e para a

polarização política aí já são bem consideráveis. Isso porque, segundo os estudos

conduzidos por Prior, a emergência da TV a cabo fez com que os consumidores de

entretenimento achassem nessa TV plenas possibilidades de consumir majoritariamente

entretenimento, evitando, assim, o noticiário. Este, explica o autor, como parte da grade

programação dos canais abertos acabava, durante a era da TV aberta, estimulando a

participação política dos menos politicamente interessados, pois

A exposição ao noticiário motivava aqueles com menor nível educação formal e os telespectadores menos politicamente interessados a comparecer às eleições. E uma vez que a visão desses telespectadores não era particularmente ideológica ou partidária, seus votos reduziam o impacto agregado da identificação partidária, fazendo com que as eleições fossem menos partidárias na era da TV aberta. (PRIOR, 2013, p.107)

9

Há ainda um claro impacto para o mercado de mídia noticiosa que o aumento de

entretenimento no mercado de mídia conduz: a mídia noticiosa passa a depender mais

do público com maior nível de educação formal e interessado em política, pois é

justamente esse público – que, aliás, é justamente o que mais está se polarizando

politicamente nos últimos anos - que não abandona de vez a hard news para aproveitar

as novas, fartas e baratas ofertas da indústria cultural do entretenimento. Uma oferta que

9 Tradução livre de: “News exposure motivated some of these less educated, less interested viewers to go

to the polls. And because their political views were not particularly ideological or partisan, their votes

reduced the aggregate impact of party ID, so elections were less partisan in the broadcast era.”

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- é oportuno observar - multiplica-se vertiginosamente e se torna mais barata com a

massificação da internet.

Entretanto, os impactos sobre a mídia noticiosa do aumento das opções de

consumo de mídia não se dão apenas no nível da perda da audiência dos menos

politicamente interessados e, assim, numa maior dependência em relação aos “heavy

viewers”. Há um outro conjunto de impactos que são observados no estudo de Norman

Nie e colegas (2010) intitulado The World Wide Web and the U.S. Political News

Market. No trabalho em questão, os autores testam os impactos da web no mercado de

mídia estadunidense a partir de uma lei econômica que estabelece algumas predições

que correlacionam custos de produção com a preferência dos consumidores:

[…] quando os custos de produção são altos, um número amplo de consumidores é necessário antes que ganhos possam se realizar. Na medida em que os custos diminuem, uma quantidade menor de consumidores é necessária para recuperar os custos de produção, de modo que o mercado pode absorver mais produtores. Quando apenas alguns poucos produtores entram no mercado, eles se posicionam no mercado de modo que sejam capazes de alcançar muitos consumidores, tipicamente mirando o centro da distribuição. (NIE et al, 2010, p.430)

10.

É por isso, então, que o padrão de catch-all era, até pouco tempo atrás, tão

robusto para explicar, em termos de lógica de mercado, o comportamento dos principais

produtos de mídia. Isso porque, antes da revolução tecnológica da internet e das mídias

digitais, os custos de se produzir mídia noticiosa eram muito mais altos. Então, apenas

algumas poucas empresas conseguiam sobreviver e o faziam justamente alcançando o

“centro da distribuição”e, para isso, era preciso ignorar as preferências mais específicas

de certos setores de consumidores menos “centristas” e mais politicamente orientados.

Mas o mundo da tecnologia mudou e dos negócios também. A internet, com sua

proliferação de milhares de sites de notícias com pequenas redações politizadas, fez

com que esse público mais interessado em política, mais seletivo em termos de canais e,

agora, cada vez mais politicamente consistente tivesse à mão, ou a alguns cliques, a

capacidade de encontrar uma mídia muito mais adequada a seu paladar, ou seja, menos

centrista e mais partidária. Isso porque, como apontam os autores do estudo referido

acima, a oferta de notícias, na internet, com seu custo de produção reduzido, “satura o

10

Tradução livre de: “when production costs are high, a large number of consumers is needed before

profits can be made. As costs decrease, fewer consumers are needed to recover the costs of production, so

the market can support more producers. When only a few producers enter the market, they place

themselves in a position where they are able to reach a lot of consumers, typically toward the center of the

distribution.”

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16

espectro de preferências”, atraindo os mais ideologicamente consistentes, ou seja, os

muito liberais ou os muito conservadores para si (ver figura 6).

Fonte: Nie et al, 2010

Isso explica, então, os resultados encontrados no trabalho em questão, o qual

aponta que o consumo daqueles que utilizam a internet como fonte complementar de

mídia noticiosa são mais ideologicamente polarizados dos que aqueles que utilizam

mídia noticiosa apenas de meios tradicionais (TV aberta ou a cabo). Assim, concluem

os autores, “as condições necessárias para o efeito de caixa de ressonância se mostram

evidentes; os indivíduos estão utilizando a internet para se expor a opiniões similares às

que já possuem.” (NIE et al, 2010, p.436)11.

Outro estudo que aponta para a propensão dos meios noticiosos norte-

americanos produzirem conteúdo politicamente polarizado com o objetivo de atingir

nichos específicos de mercado foi desenvolvido por Natalie Stroud (2011). Segundo a

autora, “atualmente é indiscutível que os Estados Unidos estejam retornando para uma

era de partidarismo midiático” (2011, p. 7)12, uma vez que as empresas noticiosas

manifestam inclinações políticas para competir pela audiência. De acordo com Stroud, o

“partidarismo” funcionaria como um critério para a seleção do noticiário por parte do

11

Tradução livre de: “necessary conditions for the echo chamber effect are in place; people are using the

Internet to expose themselves to opinions similar to their own.” 12

Tradução livre de: “Today, the United States arguably is returning to an era of media partisanship”.

FIGURA 6

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público, que tenderia a optar por jornais, revistas e demais fontes de notícias que

demonstrassem compartilhar opiniões semelhantes. Os dados produzidos pelo Pew

Research Center reproduzidos na figura 1 ajudam a corroborar a análise do autor.

Diante disso propomos que o atual cenário da mídia noticiosa assiste aos

seguintes processos:

a) Uma maior dependência em relação aos usuários intensos

b) Esses usuários intensos estão ficando mais politicamente consistentes e

interessados, especialmente os mais jovens, em um jornalismo que mescle

informação com opinião

c) Com a polarização política, boa parte deles tendem a migrar para (ou a

utilizar mais) produtos de mídia noticiosa que não adotam o padrão “catch-

all”

d) A internet e as novas mídias oferecem esse tipo de mídia (fora do padrão

“catch-all”) a um baixo custo e conseguem, assim, sobreviver, mesmo

alcançando uma pequena parcela do público consumidor de notícias. Uma

parcela que, apesar de minoritária, é fiel e tem mais propensão a contribuir

financeiramente em função de “razões políticas” e frequência de uso.

e) Os veículos e produtos de mídia noticiosa que adotam o padrão “catch-all”

assistem, então, a duas perdas de consumidores consideráveis: aqueles que

migraram para o entretenimento e praticamente deixaram de consumir mídia

noticiosa e aqueles dos politicamente consistentes que agora encontram, na

internet, um rol de ofertas mais adequado a seu paladar cada vez menos

flexível ideologicamente (devido ao aumento da polarização política).

No entanto, seria ingênuo supor que as grandes corporações da mídia estariam

simplesmente “observando” essas perdas, sem reagir às transformações em curso. Se

assim fosse, não haveria como explicar o sucesso da própria Fox News, que não pode

ser considerada, pela amplitude de audiência e força econômica, um exemplo de “mídia

de nicho”. Trata-se, sim, de uma mídia que corre muito longe do padrão “catch-all” e

que, portanto, melhor representa e exemplifica como, para ser competitivo e sobreviver

no atual mercado, é preciso assumir identidade ideológica e fidelizar o público mais

decisivo para a sobrevivência dos negócios, que é, a saber, o “heavy user”.

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18

4 Implicações para o caso brasileiro

Se o aumento da polarização política e da expansão vertiginosa da oferta tanto

de entretenimento como de mídia noticiosa na internet são as razões subjacentes a um

perfil de produtos mediáticos nos EUA cada vez mais ideologicamente enviesados e,

portanto, cada vez menos afeitos ao padrão “catch-all”, então podemos assumir, com

alto grau de plausibilidade, que o mesmo está ocorrer no sistema de mídia brasileiro.

Isso porque o país assiste a um movimento de crescente polarização política, o qual se

manifesta tanto nas redes sociais online (blogosfera progressista13 x rede de oposição

radical14), como nas ruas (13 de março x 15 de março).

A questão mercadológica atravessa a relação entre mídia e política, porém não se

esgota nela. No Brasil, o amadurecimento de uma democracia presidencialista nos

últimos trintas anos caminhou lado a lado ao fortalecimento de um partido político, o

Partido dos Trabalhadores (PT), que alcançou os mais altos índices de simpatia, votação

e aprovação durante os mandatos de 2002 a 2013 à frente da presidência da República

(Braga; Pimentel Jr., 2011)15. Isso aponta para um modelo de democracia em que a

variável “partidos políticos” ganha proporção na relação entre imprensa e política.

Nesse cenário, caberia à “grande mídia” desempenhar ativamente o papel de oposição,

lugar historicamente entendido como dever profissional, mas que nos últimos anos

também encontrou justificativa na sensação de esvaziamento da oposição política

iniciada com o governo de coalizão do PT.

Diante disso, sustentamos que o Brasil pode estar passando por um fenômeno

muito similar ao que vem ocorrendo nos EUA, especialmente agora com a aparente

ampliação da polarização política. Uma polarização que pode estar relacionada à

predominância de um partido no cenário político brasileiro nos últimos 12 anos, quando

da eleição de um candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) à presidência da

República. E, se durante o governo Lula, o PT alcançou os mais altos índices de votação

e aprovação, um movimento de rejeição ao governo do PT vem ganhando contornos

mais nítidos, sobretudo a partir da chegada de Dilma Rousseff à presidência em 2010, o

que aponta para a emergência de públicos bastante polarizados.

13

Ver Magalhães & Albuquerque (2014) 14

Ver Dos Santos (2014) 15

Além do estudo de BRAGA & PIMENTEL JR (2011), sobre identificação partidária, principalmente

no que concerne à força do PT junto ao eleitorado brasileiros, consultar Borba, Carreirão & Ribeiro

(2011); Paiva & Tarouco (2011); Veiga (2011); Paiva & Tarouco (2011).

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19

Além disso, as tensões entre governo e “grande mídia” já haviam se acirrado nas

eleições de 2010. Um exemplo dessa “animosidade” ocorreu durante um comício em

apoio à candidata petista, quando o então Presidente da República Luís Inácio Lula da

Silva foi acusado de atacar a imprensa e ameaçar a liberdade de expressão, ao dizer que

a vitória de Rousseff não significava apenas derrotar o adversário da oposição José

Serra nas urnas, mas também “derrotar alguns jornais e revistas que se comportam como

se fossem partido político e não têm coragem de dizer que são partido político e têm

candidato”. Uma parte significativa dos meios noticiosos, em especial os impressos de

maior circulação no país, respondeu às críticas de Lula por meio de reportagens, artigos

e editoriais16.

A essa percepção de ameaça identificada em ambos os lados, somam-se

preocupações resultantes dos conflitos entre imprensa e governo nos vizinhos

latinoamericanos, envolvendo acusações recíprocas de comportamento antidemocrático,

cancelamento de licenças de transmissão televisiva e leis de regulamentação dos meios

de comunicação (Cañizales & Lugo-Ocando, 2008; Mauersberger, 2012). Tais

mudanças serviram de base a uma série de acusações, por parte de setores da mídia

tradicional, de que o governo e, ainda mais, os militantes do PT estariam engajados em

práticas sistemáticas de ameaça à liberdade de imprensa. Esse fenômeno pode estar

relacionado à “virada à esquerda” experimentada pela América Latina de modo geral

nos últimos anos – o que gerou a percepção comum de mudança de rumo político em

países como Argentina, Bolívia, Chile, Equador, Uruguai, Venezuela, entre outros -

levando ao poder agentes que, historicamente, ocuparam papel marginal no cenário

político.

É, nesse contexto de polarização envolvendo esses atores políticos emergentes,

que os produtos de mídia brasileiros se veriam, então, cada vez mais, seduzidos a

fidelizarem consumidores ávidos por coberturas marcadas pela parcialidade e pelo clima

do momento de “anti-petismo”, especialmente forte nos setores da elite econômica

brasileira.

Entretanto, é importante repisar que a hipótese de fragilização do padrão “catch-

all” do sistema de mídia brasileiro não implica que este sistema, previamente ao atual

16

A título de exemplo: <http://oglobo.globo.com/eleicoes -2010/cresce-apoio-manifesto-pela-imprensa-

4987594#>; <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2609201003.htm>;

<http://www.estadao.com.br/noticias/geral,editorial-o-mal-a-evitar,615255>

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cenário de polarização política crescente e de expansão da oferta de produtos

mediáticos, não assumia um papel politicamente ativo e interventor no jogo político.

Como visto na primeira seção deste trabalho, apesar de ter sido historicamente

controlado por agentes privados, o sistema de mídia brasileiro, em diversos momentos,

apresentou padrões de cobertura politicamente enviesados e pouco pluralistas, tanto

interna como externamente. Desse modo, a realidade brasileira parece confirmar, tanto

antes, como agora, o argumento de Mancini e Hallin de que a dependência do sistema

de mídia em relação ao campo econômico não necessariamente e automaticamente

orienta esse sistema a um profissionalismo neutro.

Oportuno observar, nesse sentido, que, mesmo estando ainda mais

comercialmente orientadas, as práticas jornalísticas, no Brasil, não deixaram de assumir

papel ativo e advocatício. Isso porque é possível observar uma coexistência entre uma

cobertura pluralista com uma atuação ativa/advocatícia. Uma coexistência que inclusive

perpassa tanto os períodos eleitorais (ver Aldé, Mendes e Figuereido, 2008; Porto, 2007,

Miguel, 2004), como faz parte de debates públicos específicos (ver Maia, 2009; Miola

2012; Lycarião & Maia, 2014). Esse conjunto de pesquisas, desse modo, corrobora, em

grande parte, o que tem argumentado Albuquerque (2005, 2011, 2012, 2013) em relação

ao papel ideologicamente flexível com que o sistema de mídia brasileiro advoga em

favor de determinadas agendas e atores políticos.

A perspectiva sustentada pelo autor tem inclusive mobilizado revisões, por parte

de Hallin & Mancini (2011), acerca da capacidade da variável “paralelismo político” em

descrever com fidedignidade o tipo de relação que o sistema mediático estabelece com

as elites e sistemas políticos ao redor do mundo:

A proposta de Albuquerque em desagregar o conceito de paralelismo político e, em particular, de separar o pluralismo externo - ou seja, a tendência do diferentes meios de comunicação em se alinhar a diferentes tendências partidárias – do papel ativo dos meios de comunicação – o qual se refere á tendência da mídia de intervir na vida política, de se envolver partidariamente, ou de tentar influenciar os acontecimentos políticos – parece ser uma ideia potencialmente valiosa, e que se encaixa nos achados de outros colaboradores, incluindo Balcytiené e McCargo. Assim como no caso do profissionalismo jornalístico, o fenômeno do paralelismo político pode, de fato, ser multidimensional, e trata-se de uma questão em aberto até que ponto suas diferentes formas ou elementos variam juntos. (HALLIN & MANCINI, 2011, p. 295)

17

17

Tradução livre de: “Albuquerque’s proposal that we disaggregate the concept of political parallelism

and, in particular, that we separate external pluralism – that is, the tendency for different media to express

VERSÃO PRELIMINAR PARA DEBATE, FAVOR NÃO CITAR

21

A proposta de pensar a relação do sistema mediático com as elites políticas e,

por consequência, com os debates públicos a partir de uma perspectiva

multidimensional tem encontrado fortes justificativas não apenas nos fenômenos até

aqui aludidos, mas também na pesquisa comparativa de estudos do jornalismo. Um

exemplo empiricamente robusto, nesse sentido, se refere às 1.800 entrevistais

conduzidas por Hanitzsch e colegas (2011) em 18 países, dentre eles o Brasil. De acordo

com os dados fornecidos pelos autores, os jornalistas brasileiros, em comparação aos

colegas estadunidenses e alemães, demonstram o nível mais alto de concordância de que

é seu papel “ advogar por transformação social” (p.292).

O debate atual na pesquisa em jornalismo demonstra, assim, que é necessário se

analisar a relação entre o sistema mediático e as elites políticas não mais de um

paradigma de vinculação permanente entre esses setores. Um paradigma no qual os

produtos desse sistema assumiriam vinculações políticas estáveis. Passa a ser mais

fecundo, portanto, compreender as diversas e multifacetadas circunstâncias que elevam

o nível de intervenção do sistema mediático no jogo político e também nos debates

públicos.

Dentre elas, uma variável central para explicar o comportamento do caráter ativo

e advocatício do sistema mediático brasileiro é a composição das relações entre oferta e

demanda do mercado de mídia. A partir do momento que a oferta aumenta,

especialmente com a disponibilidade de conteúdo em formato online, aumenta-se

também a pressão sobre o polo produtor em criar novas estratégias de fidelização.

Paralelamente, o polo da demanda se vê, cada vez mais, politicamente dividido ou

polarizado. Nesse contexto, passa a ser de interesse de ambas as partes (da produção e a

do consumo), a emergência de um jornalismo mais ideologicamente definido. Isso

porque a produção ganha ao conquistar consumidores fiéis (num mercado marcado pela

volatilidade) e os consumidores ganham por identificarem fontes confiáveis em que

poderão extrair, sem muito esforço, o significado político dos fatos, ou seja, uma

opinião sobre os mesmos.

different partisan tendencies – from the political activity of media – the tendency of media to intervene in

political debate, to engage in advocacy, or to try to influence political events – seem like a potentially

valuable idea, and it fits the findings of other contributors, including Balcytiené and McCargo. As with

the case of journalistic professionalism, the phenomenon of political parallelism may in fact be

multidimensional, and it is an open question to what extent its different forms or elements will vary

together.”

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22

Considerações finais

Ainda que pregnantes, os indícios aqui referidos para fundamentar a hipótese de

que o sistema de mídia brasileiro vem observando uma inflexão em seu pluralismo

interno apresenta diversas limitações que impedem um diagnóstico mais seguro. Para

isso, seria necessário a disponibilidade de dados longitudinais, estatisticamente

significativos, confiáveis e válidos acerca das dimensões ativas e advocatícias

perpetradas pelos diferentes centros do sistema de mídia brasileiro. Isso porque, sem

esses dados, qualquer análise acerca de eventuais diferenças, por exemplo, entre o

padrão de cobertura desses centros durante o período FHC com os períodos governados

pelo PT (Lula de Dilma) estão constrangidos a assumir caráter meramente especulativo

ou hipotético.

É, então, sob essas constrições que nosso argumento em questão se apresenta.

De todo modo, é oportuno salientar que uma premissa desse argumento já dispõe de

vasta fundamentação empírica, que é, a saber, a de que a orientação comercial dos

produtos mediáticos não necessariamente os conduz a um padrão “catch-all” e, portanto,

a se comportarem como ideologicamente neutros. De modo diverso, há circunstâncias

conjunturais, como o aumento do nível de polarização política, e estruturais, como o

aumento da competitividade acompanhado de drástica redução dos custos de produção,

que tendem a estimular justamente o oposto: uma mídia com cor, ideologia e, em alguns

casos, até com partido e candidato.

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