José de Souza Martins - Tio Patinhas No Centro Do Universo - In -O Modo Capitalista de Pensar

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  • 7/21/2019 Jos de Souza Martins - Tio Patinhas No Centro Do Universo - In -O Modo Capitalista de Pensar

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    a

    explicitar algumas

    da s

    idias

    al i

    contidas. Jos

    Jeremias de Oliveira Filho no me tem faltado com

    a sua

    palavra amiga

    de

    es tmulo, mesmo q uando

    se

    trata de

    t rabalhos menores , como

    os que

    re no

    aqui , palavra que sobremodo valorizo porque di ta

    em mome nt os de grande desnimo.O mesmo posso

    dizer

    de

    Jos Csar

    A.

    Gnaccar ini

    e de

    Braz Jos

    de

    Ara j o .

    Aos

    professores

    e

    alunos

    do

    curso

    de

    ps-graduao em

    Sociologia Rural

    da

    Universi-

    dade

    de

    Braslia

    sou

    agradecido p elos com entrios,

    crticas e sugestes que fizeram ao texto aqui

    in -

    cludo como ltimo captulo. Heloisa Helena Tei-

    xeira

    de

    Souza Mart ins, minha lei tora predileta,

    le u

    e comentou cri t icamente estes t rabalhos, aju-

    dando-me

    a

    enxerg-los

    de um

    modo mais objet i-

    vo. Finalmente, sou agradecido aos

    rneus

    alunos

    de todos estes anos que, com suas indagaes, aju-

    daram-me a

    definir

    e situar pontos de vista aqui

    contidos.

    JOS D E S O U Z A M A R T I N S

    l de novembro de 1977

    X

    l TioPatinhasno centro do universo

    Bem,

    que no

    nosso

    pas", disse

    Alice,

    ainda um pouco ofegante, "o

    mais certo

    seria

    chegar

    a

    outro lugar

    depois

    de

    correr

    tanto

    como n s fizem os .

    U m

    pas muito

    lento ", re torquiu a

    R a inha .

    "No, aqui, como vs, preciso correr o m a i s

    que se

    pode para ficar

    no

    m es m olugar.

    Se

    quise -

    re s

    ir

    para outro lugar

    tensde correr, pelo menos ,

    duas vezes mais depressa "

    (L e wis Carroll, Alice do outro lado do

    espelho

    )

    A

    grande esperana de cada

    um dos

    m e m b r o s

    dessa incrvel

    faml ia depatos

    trajados

    de

    gente

    a de que o

    c a m i n h o

    que os

    leva educativamente

    de

    coloridas

    folhas de

    papel

    ao s

    nossos olhos

    e

    nossa

    mente seja um

    c ami nho

    se m

    retorno.

    Aloja-

    dos na

    nossa inteligncia, esperam demarcar

    a a

    posse ilcita do terreno em que pretendem vegetar

    na cont inuidade do imobi l i smo em que foram

    ge-

    rados

    e que consti tui a

    razo

    de ser de sua

    exis t n-

    cia. Nada

    de voltar s

    origens enriquecidos pela

    crtica vital

    de seus hospedeiros para, ao

    menos,.

    ( * )

    Publicado originalmente e m

    Cincia e

    Cultura,

    vo-

    l um e

    27,

    n m e r o

    9,

    Sociedade Brasileira

    para o Progresso

    da Cincia, Setembro de 1975, pp. 943-948. Reproduzido

    no

    Caderno de Sbado (suplemento

    literrio do

    Correio

    do Povo ,

    Porto

    Alegre ,

    4 de

    setembro

    de

    1976,

    pp.

    8-9.

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    comprometerem-se com a vida do m u n d o que os

    produz.

    Seu

    modo

    de ser

    impe que,

    nesse

    plano,

    um

    par de

    aspas seja,

    por

    prudncia, colocado

    nos

    extremos da palavra educativamente . que a

    existncia autori tria dos personagens con dio da

    ditadura

    do s quadrinhos. A reflexo crtica consti-

    tu i

    inequvoca manifestao subversiva, pois de -

    mocratiza

    a

    educao, t ransformando

    o

    hospedeiro-

    -objeto de coisa passiva em pessoa. Nesse pequeno

    mundo fantasioso

    no

    apenas cada personagem

    um a

    coisa contemplada,

    mas o

    prprio leitor

    coisa, repositrio passivo qu e nele se integra para

    abrigar sem reflexo cada membro da sociedade

    centrada nessa famlia.

    Neste trabalho registro uma leitura sociolgica

    das histrias cujos personagens so os habitantes

    de Patpolis, figuras criadas

    pela

    empresa de Wal t

    Disney. Procuro descrever

    as

    relaes sociais

    que

    vinculam os vrios personagens e, atravs do seu

    contedo, m ostrar que elas hierar quiz am os pato-

    politanos por

    meio

    de uma

    escala implcita

    de va-

    lores fundada na figura do capitalista clssico. Essa

    escala de valores que se pretende educativa, por

    meio

    da definio do gosto do lei tor, procurando

    incutir

    nele

    as

    noes morais

    de

    bom, ridculo,

    de -

    l inqente

    e louco, entre outras. Tal lei tura seria

    impossvel sem a constatao preliminar de que

    cada

    personagem

    ,

    antes

    de

    tudo, mercadoria,

    qu e

    se vende e se compra . D a resulta o imobilismo

    que explica os vrios tipos e a posio passiva do

    leitor educando . Torna-se possvel, desse modo,

    a leitura sociolgica da s historietas, uma vez que

    a

    substncia

    da s

    relaes sociais

    no

    est primeiro

    nos

    vnculos entre

    os

    personagens,

    mas sim na re-

    lao

    da

    empresa

    que

    produz

    e

    vende

    a

    histria

    e oconsumidor que a compra. A historieta sistema-

    tiza

    o

    universo simblico

    que

    suporta

    e

    explica

    a

    relao entre produtor-vendedor e o comprador de

    histria em quadrinhos, projetando-o, no entanto,

    para todas

    as

    outras relaes,

    como

    se

    substanti-

    vamente fossem um a nica relao e, em decorrn-

    cia,

    os

    personagens

    se

    reduzissem

    a um

    Tio

    Patinhas, alm

    da s

    suas excentricidades

    de

    rico, te m parentes, amigos e inimigos. Cada um

    possudo por

    suas prprias caractersticas,

    s

    con-

    segue

    definir-se,

    no entanto, contraponteando co m

    ele. Patinhas o nico personagem que serve de

    referncia

    na

    definio

    e

    consti tuio

    de

    todos

    os

    outros.

    Donald, se u sobrinho, vem primeiro na lista do s

    circunstantes. Um dos herdeiros da

    for tuna

    de Pa-

    tinhas, persegue dolorosamente

    a

    existncia anma-

    la de rico potencial, cuja vida oscila entre o desem-

    prego

    eos

    empregos

    que o Tio lhe

    oferece. Quando

    empregado

    pelo

    Tio vive, entre irado e apavorado,

    as

    hum ilhaes

    que

    aquele

    o faz

    sofrer,

    desde o

    sal-

    rio miservel at as art imanhas e engenhos uti l iza-

    dos para mant-lo desperto e at ivo conforme as

    Com

    este

    artigo no tenho a descabida pretenso

    de parafrasear o surpreendente e timo estudo de Ariel

    Dorfman

    e A r m a n d

    Matte lar t (Dor fman

    e Mattelart,

    1972)

    sobre o

    conjunto

    dos

    personagens

    das historietas

    industrializadas de Walt Disney. Apenas retomo uma an-

    lise que fiz em 1970, como recurso didtico, em cursos

    de Sociologia

    para

    alunos de currculos diferentes do de

    Cincias Sociais. Recebi de diversas

    pessoas,

    especial-

    mente

    ex-alunos, a sugesto

    para sistematizar

    e publicar

    as

    minhas formulaes de ento. Depois de resistir por

    algum

    tempo,

    arrisco-me a faz-lo agora por vrias razes,

    a principal das quais a de que, fundando-se o trabalho

    na

    mesma

    perspectiva que

    orientou

    aqueles autores

    decorrendo da vrios pontos de

    contato

    guarda, no

    entanto, uma identidade

    prpria

    que sugere a explorao

    de outros aspectos do mesmo tema, como

    notar

    o leitor.

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    expectativas

    do

    patro.

    Sua

    h u m i lh a o

    maior

    porque

    o

    delr io acumulativista

    de

    dinheiro

    do Tio

    t ransforma-o numa das peas de um sistema de

    produzir riquezas, cujo carter espoliativo consegue

    perceber, mas ao qual se

    confo rma

    para no ser

    deserdado. Excludo dos benefcios da riqueza que

    ajuda

    a crescer, com ela se compromete, como se

    por antecipao fosse sua. Vive o sonho de

    desfru-

    tar a r iqueza que na realidade lhe vedada.

    Seu

    drama imenso. pai

    sem-

    te r

    f i lhos.

    H u-

    guinho, Zezinho e Luizinho, os trs sobrinhos, re-

    presentam

    para

    ele um encargo paterno e um pesa-

    delo.

    Podem

    acompanhar, de modo adulto, toda a

    incompetncia de Donald para o desempenho da

    maior parte da s

    atividades

    a que o

    obrigam

    as

    cir-

    cunstncias, no emprego ou em casa. Sua determi-

    nao de vencer, a desesperada necessidade de ser

    capaz

    a que as expectativas inflexveis de Pat inhas

    o submetem, impedem-no de reconhecer-se inca-

    pacitado,

    bem

    como

    o

    impedem

    de

    aceitar suges-

    tes

    e

    auxlios

    dos

    trs sobrinhos.

    na

    inter fern-

    cia dos

    trs

    que se

    apoia

    a

    maior par te

    da s vitrias

    de Donald. S o eles que , depreciando-o ain da m ais,

    de

    fato

    se

    realizam segundo

    as

    regras

    de

    P a t inhas.

    Embora os trs correspondam melhor s espe-

    ranas de Patinhas do que Donald, eles no repe-

    tem

    o modo de ser, as tticas, as intenes, os re-

    cursos

    do tio senil . So de uma gerao de tecno-

    cratas, para os qua i s no vivelo projeto do enri-

    quecimento

    pessoal

    pelo trabalho,

    pela

    sorte

    e

    pela

    astcia.

    Por isso, agem coordenadamente. Nunca

    cada

    um

    deles

    senhor

    de um

    pensamento com-

    pleto. No mais das vezes cada um se limita a emi-

    ti r um a

    nica palavra

    que se

    j u n t a

    palavra

    do

    ou t ro e do

    outro para

    que surja um a

    sentena

    e uma

    idia.

    Esto

    articulados entre

    si

    como peas

    ajustadas

    de um mecanismo rigoroso. Eles tm o

    que

    falta

    a

    Donald

    apenas

    os

    pedaos

    das

    idias

    enquanto Donald

    tem o que j

    obsoleto

    as

    idias

    po r

    inteiro. Isso seria paradoxal,

    em se

    tra-

    tando de idias, se para eles o pensamento e a ins-

    pirao

    no fossem objetivamente determinados.

    Para toda nova situao no h uma idia nova: h

    o Manua l do

    escoteiro",

    fonte inesgotvel de in-

    formaes que cobre todo o saber possvel e do

    qual

    se

    pode receber qualquer resposta

    ou

    dado

    com rapidez, como se viesse de um computador.

    Para eles

    a

    situao

    clara:

    no

    existem para

    repe-

    ti r

    ind iv idua l i zadamente

    a s

    mesmas palavras,

    os

    mesmos gestos

    e os

    mesmos atos

    que

    criaram

    o

    uni-

    verso de Patinhas. No nasceram para produzir o

    universo, mas para reproduzi-lo.

    a que representam um pesadelo p r Donald,

    pois este compelido a repetir sozinho palavras,

    gestos e atos do criador Pat inhas sem efeito

    algum.

    Seus ataques

    de ira so

    indicativos

    de uma

    incapacidade fundamenta l

    para entender

    porque a

    su a

    ativ idade estril . que sua condio de her-

    deiro

    obscurece

    a sua condio de trabalhador.

    N o

    est entre

    os

    deserdados

    da

    terra.

    N o

    pode

    ve r na riqueza o

    produto

    do

    trabalho, inclusive

    do

    se u

    trabalho, porque ela constitui a massa de bens

    que

    espera receber e que totalmente despropor-

    cional

    sua

    pequena participao

    na

    tarefa

    de

    pro-

    duzi-la. No pode ver-se na condio de explorado

    porque

    se v na de

    benef icir io

    da

    explorao.

    Por

    isso,

    a sua

    indignao

    sempre

    e

    jus t i ficadame nte

    um a

    indignao pessoal, escoada p r o nvel da

    irritao descontrolada.

    Essa

    a

    articulao ade-

    q u a d a para transformar o pesadelo de Donald-tra-

    balhador e Donald-desempregado em irritao c-

    mica,

    em

    atividade comicamente desastrada.

    O

    d r a m a

    do

    t rabalhador

    obscurecido pela

    comicida-

    de do herdeiro.

    Donald tambm marido sem ter mulher. Sua

    namorada Margar ida o submete ao regime duro do

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    parceiro

    de

    cama

    e

    mesa,

    sem as

    vantagens

    do car-

    go,

    transformado

    no

    perene carregador

    de

    pacotes

    e fazedor de servios. Margarida no lhe oferece as

    penas

    clidas e

    macias para

    que recoste a

    cabea

    atormentada. E la tambm o submete ao duro re -

    gime

    da

    explorao domstica.

    D e

    Margarida

    no

    se

    ouve

    ou v uma

    palavra

    ou

    atitude

    de

    a m o r ,

    de

    afeto

    desinteressado.

    Para

    ela, pata venal,

    a

    relao

    entre

    os

    sexos

    assexuada

    e

    utilitria. Nesse plano,

    ela estabelece

    com

    Donald

    um a

    relao

    que

    amplia

    a sua

    esterilidade:

    no se acasalam nem procriam.

    Margarida a

    fmea

    ftil

    espera da doao e da

    rendio incondicional

    e

    material

    dos

    patos.

    N o

    trabalha. Afora o trato das trs sobrinhas (Laia,

    Lel e

    Lil i ) ,

    resumido no adestramento que, por

    contraposio aos sobrinhos de Donald, as t rans-

    formar em

    novas Margaridas, esgota

    o seu

    tempo,

    acompanhada da galinha Clara, nas fest inhas da

    sociedade, vivendo

    vicariamente a

    condio

    de

    con-

    sumidora,

    no se

    sabe

    a

    part i r

    de

    que. Para

    ela

    Donald

    importante apenas enquanto

    servil.

    Para manter Donald subjugado ao s seus capri-

    chos,

    no

    hesita

    em

    aceitar

    a

    corte

    de

    outros patos,

    enciumando-o.

    O

    primo

    de

    Donald, Gasto, pato

    de vida fcil, de caracterst icas mais prximas s

    deMargarida , s i s temat icamente emp enhadoe m cor-

    tej-la,

    pode

    satisfaz-la em seu af de

    consum o ,

    representando

    sempre

    um

    desafio

    a

    mais para

    que

    Donald

    se

    em penhe

    na

    luta para preservar

    ou

    ganhar aquilo que deseja e nunca alcana: dinhei-

    ro ou companhia feminina. S Margarida no perde

    com

    Donald

    ou

    Gasto

    ela

    herdei ra v i r tua l

    de uma parcela da

    fortuna

    de

    Patinhas.

    Mas, Gasto

    dotado

    de um

    dom:

    ele tem

    sorte, que lhe dada por um infalvel p-de-coelho,

    desde

    que o

    tenha sempre consigo. Para ele, tudo

    se resolve graas aos eflvios desse tal ism, suporte

    externo

    que

    legitima

    se u

    modo

    de

    ganhar

    a

    vida

    e

    at a futura

    herana

    de

    parte

    da

    riqueza

    de

    Pati-

    nhas. O tal ism tem a uma importncia muito

    grande, pois Patinhas tambm tem o seu a moe-

    dinha

    n.

    1. A

    presena desse componente mgico

    no universo de Patinhas consti tui como que a fonte

    de

    um

    direi to natural ,

    o

    direito

    de

    enriquecer.

    J

    que todos trabalham

    Donald trabalha, Hugui-

    nho, Zezinho

    e

    Luizinho trabalham

    e

    vrios outros

    m em bros

    do

    universo trabalham

    preciso

    ex-

    plicar porque

    uns tm a

    riqueza

    e

    outros

    no a

    tm.

    Esse componente mgico institui uma diferenciao

    inte rna

    fundamental

    no

    universo

    de

    Patinhas:

    h os

    predestinados e

    escolhidos,

    cujos talentos se multi-

    plicam (estou aqui trocadilhando com a palavra

    bblica

    "talento",

    usando-a

    ao

    mesmo tempo

    no

    sentido

    de

    m oeda

    e de

    dom )

    e h os

    demais

    que no

    s o

    servos

    nem

    bons

    nem

    fiis,

    de tal

    modo

    que

    misteriosa entidade sobrenatural neles

    n o

    confia.

    A

    sorte representa, portanto,

    um

    chamamento

    m -

    gico, apoiado em smbolos externos. Com isso, nem

    Gasto

    nem

    Patinhas parecem senhores

    de si

    mes-

    mos, pois ambos esto subjugados

    pelos

    objetosmgicos

    que

    lhes

    garantem

    a

    sorte

    e a

    riqueza.

    Dessa maneira,

    a

    excepcional riqueza

    de

    Patinhas

    torna-se legtima em face, por exemplo, da modesta

    existncia

    de

    Donald.

    O

    componente mgico instau-

    ra a

    ordem

    do

    universo, pois,

    do

    contrrio,

    o

    Pato

    Donald subversivamente declararia guerra

    a seu

    Tio, dando estrutura e direo sua irritao pe-

    rene, efet ivando,pois,

    a

    profecia

    de que no fim dos

    tempos filhos lutariam contra pais, i rmos cont ra

    i rmos.

    Aparentemente,

    a

    sorte

    de

    Gasto

    destinada

    a

    contrabalanar

    as

    adversidades

    de

    Donald,

    ,'travs

    de um contraste que torna a este ltimo mais um a

    vez

    cmico.

    Quase sempre,

    no

    entanto,

    a

    ajuda

    tecnocrtica

    e

    secularizada

    dos

    sobrinhos

    de Do-

  • 7/21/2019 Jos de Souza Martins - Tio Patinhas No Centro Do Universo - In -O Modo Capitalista de Pensar

    5/9

    nald , senhores

    de um tal i sm moderno, o j re-

    fer ido M a n u a l do escoteiro , me dian te recursos

    que

    separam

    o

    p-de--coelho

    de seu

    dono , a t e nua ,

    desvia ou inver t e a pr ivi legiada sor te de Gas t o .

    Esse personagem se rve ,

    a um s

    tempo, para refor-

    ar os

    f u n d a m e n t o s

    mgicos da ex i s t nc ia de Pa-

    t i n h as

    e a sua negao, que o r e c u r so tecnocrt i -

    co ao M a n u a l . O M a n u a l a e spe r ana dos

    de se spe r anados . N u m mundo c r e sc e n t e me n t e se -

    cular izado ,

    o r e i nado abso l u t o dos t a l i sm s na d i s -

    t r ibu io d o s b e n s p r o d u z i d o spelo t r a b a l h o c o m u m

    poder ia

    fazer com que o

    D o n a l d

    irascvel se t r a n s -

    f o r m a sse no D on ald cons c iente , descobr indo que a

    m g i ca

    s u p r e m a c i a

    dos

    t a l i sm s pode r i a

    ser

    que s -

    t i onada

    e at de s t r u da . O Man ua l de moc r a t iz a

    mai s

    do que o

    acesso

    r i q u e z a ,

    a

    c o n v i v n c i a

    co m

    a

    d i s t r i b u i odes igual

    da

    r i que z a , po i s r e s t au r a ,

    no

    p l ano secu la r , o p r inc p io o r de nador da v i da soc i a l

    q u e e n c o n t r a r a su a p r i m e i r a ef iccia n a sor te jus-

    t i f i cada pe los ta l i sms .

    O

    Pato D o n a l d

    n o

    c u m p r e s o z i n h o

    as

    adve r s i -

    dades do u n iv e r s o de P a t i nhas . S e u p r i mo P e n i nha

    a c o m p a n h a - o ,

    de

    modo d i ve r so ,

    n a

    trajetr ia des-

    favorve l . E n q u a n t o D o n a ld

    e s s e n c i a l m e n t e

    um

    c u m p r i d o r

    de

    o r d e n s ,

    u m

    pato

    n o

    t r a b a l h o

    ou em

    busc a

    de

    t r a b a l h o , P e n i n h a

    u m

    pato cheio

    de

    imaginao e i n i c i a t i v a . Sua i me nsa submi s s o e

    b o a

    v o n t a d e

    n o

    a t e n d i m e n t o

    das

    o r de ns

    do Tio le-

    va-o

    c o n s t a n t e

    t e n t a t i v a

    de

    i n o v ar . E n t r e t a n t o ,

    cada

    in ic ia t iva

    e cada inovao reve lam-se sempre

    desastrosas.

    A o

    c o n t r r i o

    de

    D o n a l d ,

    n o

    a m a r g a

    a i m p o s s i b i l i d a d e

    do

    c u m p r i m e n t o

    f o r m a l do que

    lh e

    d e t e r m i n a d o .

    N o

    c onse gue e n t e nde r

    por que

    suas in tenes nunca

    se

    r e a l i z am,

    por que

    levam

    sempre a atos que p r oduz e m r e su l t adosopostos aos

    de se j ados . P e n i nha

    n o

    c onse gue e n t e nde r nunc a

    oque

    faz, pois entre

    a

    i n t e n o ,

    o ato e o

    resul tado

    i n t ro m e t em - s e ou t r os c ompone n t e s

    da

    s i t ua o

    q u e

    10

    no esto sob seu c on t r o l e , de sv i r t uando os seus

    obje t ivos .

    P or isso, no pode dec i f rar o sentido do

    q ue f az . E m t e r mos mannhe i mi anos , P e n i nha est

    me r gu l hado

    n a

    r ac i ona l i dade f unc i ona l

    de um

    uni-

    ver so ins t i tu do que

    dispensa

    os patos e os ho-

    me ns , abso r ve ndo-os ape nas no c umpr i me n t o do

    r i tua l

    dos papis sociais r igidamen te demarcad os.

    P e n i n h a e Patinhas esto contrapostos, pois, no

    p l ano

    da

    c r i a t i v i dad e . Enq uan t o

    o

    segundo

    cria-

    dor e

    c r i a t u r a

    na

    gnese

    do

    un i ve r so ,

    senhor

    das

    aes e das c onse q nc i as das

    aes,

    tem o dom-

    nio do que f az , com P e n i n h a se d o c on t r r i o .

    que a c r i a t i v i dade de Pat inhas se

    to rna

    impessoal

    na m e d i d a em que ele se submete ao quere r obje-

    t ivo representado pe la moe da

    n.

    l". Nesse pro-

    cesso,

    s u b m e t i d o

    ao

    r e i n a d o

    das

    coisas,

    ele se

    torna

    agente e no suje i to da reproduo das coisas e do

    universo c o i s i f i c ado . P a t i nhas no se nhor do

    d i nhe i r o , m as servo do dinhe i ro . No e le quem

    diz

    ao

    d i nhe i r o

    o que

    deve

    ser

    f e i t o ,

    mas o

    d i nhe i r o que precisa do crebro de Pat inhas , de

    t odos

    os

    se us msc u l os

    e

    sent idos , para cumpr i r

    a

    sua lei

    n a t u r a l

    que a

    reproduo crescente,

    inces-

    s an te

    e

    i ne xor ve l .

    P or

    isso Patinhas

    um

    home m

    a t o r m e n t a d o com a segurana do seu d i nhe i r o , pois

    es t i r r emedive l

    e

    tota lmente ident i f icado

    com

    ele.

    P e n i n h a

    i nve r t e

    a

    imagem

    de

    P a t i nhas .

    Tom ado

    de i n i c i a t i vas v i t i mado p or e l as c ons t an t e me n t e .

    q u e essas in ic ia t ivas no so canal izadas para o

    l e i to natural do que nesse universo concebido

    como cr iao. Peninha quer cr iar solues. Pati-

    nhas quer c r iar d inhe i ro . Peninha

    n o

    sucumbiu

    a i n d a de suman i z a o que a

    posse

    impessoal do

    sujei to

    pela r iqueza impe. que a s possibilidades

    de

    c r iar

    de

    novo

    o

    mesmo universo

    j

    esto

    esgo-

    tadas .

    A

    fase

    da ac umul a o o r i g i n r i a encerra-se

    co m P a t i n h a s .

    11

  • 7/21/2019 Jos de Souza Martins - Tio Patinhas No Centro Do Universo - In -O Modo Capitalista de Pensar

    6/9

    Donald, Gasto e Peninha nascem num mundo

    constitudo

    e

    integrado. Nenhum pato pode possuir

    mais a envergadura herica do civil izador Patinhas

    porque no momento histrico por este vivido os

    dons podiam ser encontrados no mesmo pato. J

    seus sobrinhos receberam

    fatias

    de um mundo espe-

    cializado: o trabalho para Donald, a sorte para

    Gasto, a inic iat iva para Peninha. A associao en-

    tre eles, porm, no reco nsti tui o pato herico:

    j

    esto confrontados

    e em

    confl i to,

    espera

    da

    he-

    rana

    que

    vir

    com a

    m or t e

    do Tio

    sovina

    e

    obso-

    leto, com suas suas e polainas antiga. Os peda-

    os no podem ser jun tados para comear de

    novo

    porque cada

    um

    deles ainda est tomado pelo

    mi to

    do

    capitalista-heri

    e

    considera , pois ,

    que o

    se u

    prprio dom o dom essencial. Desse modo, as

    freqentes

    associaes entre Donald e P en inha re-

    sultam em

    fracasso, pois cada

    um

    t en ta

    a seu mo-

    do assumir individualmente a to ta l idaded o m undo .

    Os pedaos podem ser juntados apenas para re-

    produzir o j produzido, como fazem Zezinho,

    Hugui nho

    e

    Luizinho.

    No pode criar de novo quem

    no

    te m

    acesso

    m oeda

    n. l e sua

    vontade

    impessoal.

    Os

    sujeitos misturam-se

    ao s

    objetos,

    sern

    distino

    entre uns e outros. Os

    sujeitos

    esto so-

    brecarregados

    de

    exigncias

    e

    significaes

    que no

    decorrem deles mesmos, tornando-se, p or tan to, es-

    tranhos em relao a si prprios. A

    natureza

    hu-

    mana subvertida pela mediao dos objetos

    c r ia-

    dos pela at ividade hum ana.

    Somente quando essa famlia volta

    n a t u r e z a

    que pode encontrar a sua paz. na fazenda da

    Vov Donalda , no re torno ao mu ndo natura l , que

    Patinhas aparentemente deixa de reinar. Vov Do-

    nalda o substi tui . A ela a senhora do m u n d o . A

    natureza dadivosa atenua a explorao dos patos

    pelos

    patos.

    Gansolino, o empregado da

    fazenda,

    pode tranqilamente t irar

    as

    suas sonecas

    nos mon-

    12

    tes de feno sem que por isso a vida animal e vege-

    tal do estabelecimento rural sofra grandes conse-

    qncias.

    Nem por isso Vov Donalda

    deixar

    de

    fazer

    as

    suas tortas, sempre disponveis para

    todos,

    inclusive para

    o

    prprio

    Gansolino. Por

    essas

    ra -

    zes,

    as nicas reunies familiares, em que todos

    confraternizam,

    s o

    presididas

    por

    Vov Donalda,

    apesar da completa anomalia na estrutura familiar:

    ela av sem ter tido filhos; Patinhas tio sem te r

    tido irmos

    e o

    mesmo

    se d com Donald; os trs

    sobrinhos

    no conhecem pai e me. A trgica es -

    terilidade biolgica de todos os membros da fam-

    lia s possvel porque na verdade esto em dife-

    rentes graus destitudos

    de

    humanidade. Vov

    D o-

    nalda simboliza apenas a recomposio artificiosa

    do

    mundo natural . Ainda

    a, por

    trs

    das

    aparn-

    cias, Patinhas quem reina. A unidade familiare m

    face

    da

    natureza

    apenas utopia

    que

    ocasional-

    mente

    se

    concretiza para logo mais

    se r

    desfeita

    em

    resultado

    de

    processos substantivos

    que

    separam

    ao invs de uni r , que conflitam ao invs de harmo-

    nizar.

    q u e a

    unidade

    do

    universo

    de Tio

    Patinhas

    no

    garantida pela apropriao comum

    das

    con-

    dies de existncia. Por isso, os parentes no for-

    m am um a

    comunidade,

    nem

    mesmo

    um a

    comuni-

    dade familiar e por isso no formam um a famlia.

    O s vnculos familiares mais constantemente

    presen-

    tes no so de parentesco por consanginidade ou

    afinidade, mas so

    vnculos dominados pela linha

    de herana das riquezas. Entre um parente e out ro

    interpem-se

    os bens tidos ou esperados. Esto jun-

    to s

    porque

    a

    riqueza

    fo i

    acumulada,

    fo i

    juntada .

    Em conseqncia, as relaes sociais que piodu-

    zem

    outros personagens do universo, no parentes

    amigos

    e

    inimigos

    em nada

    diferem

    das re-

    laes aparentemente familiares.

    13

  • 7/21/2019 Jos de Souza Martins - Tio Patinhas No Centro Do Universo - In -O Modo Capitalista de Pensar

    7/9

    M a g a Pa ta l j ika , aux i l i ada p o r M a d a m e M i n ,

    es t o b cec a d a m en te v o l t a d a p a r a

    a

    ca p tu r a

    da

    jioe-

    da

    n.

    1. Deseja para si a

    fonte

    mgica da r iq u eza

    e supe que a posse do

    ta l i sm

    far com que e la ,

    que j d ispe de t a n to s e

    var i ados

    poderes , possa

    reproduz i r em seu

    benefc io

    a

    r iq u e z a

    de

    P a t in h as ,

    Nesse p la n o , ela e P a t i n h a sso

    iguais .

    A m b o s

    acre-

    di tam na i m p o r t n c i a t r a n sc e n de n t a l do ta l i sm

    como

    p r o d u t o r

    e r ep r o d u to r d e

    r iquezas .

    O talis-

    m

    r e p r e se n t a

    a,

    para

    P a t i n h a s

    e

    M a g a ,

    os

    r iscos

    i m p o n d erv e i s do

    c ap i t a l i s mo :

    a sorte de um a

    desgraa do

    o u t r o . P r e se r v a r

    a

    d i m e n s o

    mg ica

    da r e p r o d u oda r iqueza no a p en a s um e l e m e n -

    to de coerncia i n t e r n a na

    d i t ad u r a

    dos

    q u a dr i n h o s ,

    mas

    t a m b m

    a ten ta t iva de m o s t r a r que o

    ta l i sm,

    e m b o r a

    n ecess r io ,no

    e x c lu s iv o .

    M a g a tem po-

    deres e xcepc iona is , pode fazer e

    desfazer ,

    m as

    ao

    pode cr i a r

    e

    recr ia r

    o capi ta l ,

    pois

    os

    o u t r o s dois

    c o m p o n e n t e s p r e s e n t e s n a consc i nc ia burguesa de

    P a t i n h a s

    a

    in i c i a t i va

    e o

    t r a b a l h o

    n o p o d e m

    ser subst i tu dos por b r u x a r i a . C om Maga refora-se

    o p r in c p iod o d i r e i to na tu ra l r i q u eza , ao t a l en to .

    N o

    f u n d o , Maga serve para

    s i tuar n o s l imi te s da

    ordem

    o

    p r e t en so ca r t e r m g ico

    da

    a c u m u l a o

    da

    r iqueza .

    No o p a t o q u e esco lhe o

    ta l i sm ,

    m as

    o

    ta l i sm

    qu e

    e sco lh e

    o

    p a to .

    E n q u a n t o

    M a g a

    deseja

    apossar -se do que ela

    supe ser a

    fonte

    da r iq u eza , os i r m o s

    M e t r a l h a

    busc am

    apossar-se

    d i r e t a m e n t e

    da r iq u ezaja c u m u -

    lada. N o

    u n iv e r s o

    de P a t i n h a s e les

    r e p r e se n t a m

    a

    c o n d u t a

    an mi c a

    dos que ace i t am os f ins do siste-

    ma, mas no os

    m e i o s

    ins t i tuc ionais

    p a r a a l ca n -

    -los.

    T a n t o

    q u a n t o

    P a t i n h a s ,

    esto sedentos de ri -

    queza. M as r e p u d i a m o s c a m i n h o s

    ins t i tuc iona is

    para obt-la . N a v e r d a d e , as exper i ncias de c a d a

    um dos o u t r o s m e m b r o s do u n iv e r so , p a r e n t e s ,

    amigos

    e

    inimigos

    de

    P a t i n h a s ,

    co n s t i t u em

    a

    reite-

    r ada d e m o n s t r a ode que os M e t r a l h a t m r a zo .

    14

    Acontece, porm,

    que a

    mesma riqueza gerada para

    as

    m o s

    de

    Pat inhas cr ia

    os

    outros componentes

    do

    mundo, inc lusive

    os

    recursos

    de

    defesa

    d apropria-

    o pr ivada da riqueza. A diferena entre Patinhas

    e os Met r a lh a que Patinhas chegou primeiro. A

    inst i tucionalizao

    do s

    canais

    de

    acesso

    riqueza

    legit imou

    essa pr imazia , t ransformando

    em

    ilcitas

    todas

    as

    outras fo rmas

    de

    apropriao

    dos bens.

    Da que a

    vida

    livre do s

    Metralha seja sempre ape-

    n as cur ta temporada fora da cadeia.

    Esto

    sempre

    re tornando priso. Basicamente so iguais a Pa-

    t inhas ,

    concordam quanto acumulao da rique-

    za, discordando apenas quanto aos detalhes na

    fo rm a de

    faz-lo.

    Esto

    certos

    de que a

    melhor coi-

    sa

    do

    cap i ta l i smo

    ser

    capitalista .

    O

    grau

    de

    orga-

    nizao

    dos

    Metralha para obteno

    da

    riqueza

    chega

    a ser

    empresarial .

    O s

    ard is

    que so interpos-

    tos por Pat inhas most ram que entre este e aque-

    les o que h uma verdadeira compet io , f r e q e n -

    temente decidida atravs

    da

    polcia

    que

    responde

    pela

    observncia da conduta ins t i tuc iona l izada , que ,

    garan t indo a igua ldade ju r d ica , garan te ao mesmo

    tem p o

    a

    desigua ldade econmica (Dah rendorf ,

    1966:29).

    Em

    su m a ,

    os

    amigos

    de

    Patinhas

    s o

    amigos do capital . Os seus inimigos so inimigos

    das form as ins t i tuc iona is e dos mi tos de susten tao

    do

    capital , embora

    na

    verdade

    sejam

    amigos

    do

    capitalismo.

    A s histrias se tornam atraentes e engraadas na

    medida

    em que os

    seus vrios cmicos, como

    D o-

    nald e

    Peninha , re t i ram

    a sua

    comicidade

    das

    dis-

    crepncias

    que h

    en tre suas condutas

    e o

    per-

    sonagem-padro : Pa t inhas .

    A

    t r a m a

    das

    h is tor inhas

    una e

    slida, amarrada

    pela

    valorizao

    do capi-

    talis ta-heri

    chamado Patinhas. Ora, Patinhas,

    sa-

    bemos, personif ica o capital , assumindo a vida da

    coisa,

    v iv i f icando

    o que

    mor to ,

    o que

    trabalho

    mor t o ,

    social , acumulando

    em

    suas mos particula-

    75

  • 7/21/2019 Jos de Souza Martins - Tio Patinhas No Centro Do Universo - In -O Modo Capitalista de Pensar

    8/9

    rs. Portanto, cada um ridculo, delinqente, in -

    gnuo ou louco na medida em que a sua razo

    particular

    no a

    razo pela qual

    o

    capital

    se

    insti-

    tucionalizou socialmente.

    nesse tipo

    de

    contraste

    que o

    cientista tambm

    te m

    a sua parte na degradao moral que vincula

    cada

    um ao Tio

    Patinhas.

    O

    prof. Pardal, inventor

    desastrado, desespera-se

    na

    tentat iva

    de

    solucionar

    com a sua inteligncia, as suas pesquisas e a sua

    incansvel dedicao

    inveno

    e

    descoberta

    os

    grandes e

    pequenos problemas

    de Patpolis. Seu

    desligamento dom u n d o

    proverbial

    nosquadrinhos ,

    em que o

    cient ista

    freqentemente apresentado

    como louco, ingnuo, al ienado, sonhador, perigoso

    enfim. Por

    isso, Pardal

    no

    pode

    ter no

    universo

    de

    Patinhas seno

    a

    tolerncia

    que

    piedosamente

    a

    nossa hipocrisia burguesa dedica

    ao s

    al ienados men-

    tais. Ele se

    preocupa

    co m

    pequenas coisas

    (e

    nisso

    quase

    infant i l ) ,

    como

    a

    inveno

    de um

    pu la-pula

    que

    facilite

    o transporte da s

    pessoas,

    ou de um

    combustvel

    que

    torne mais

    rpido, os

    meios

    de

    transporte,

    ou de uma

    banheira voadora. Vive,

    en-

    f i m na esperana de resolver

    aflitivos

    problemas do

    dia-a-dia

    dos

    patopoli tanos

    ou na

    esperana

    de an-

    tecipar e

    solucionar

    os

    problemas

    que os

    patopoli-

    tanos

    provavelmente enfrentaro no futuro. S que

    Pardal esquece

    f reqentemente de uma

    coisa

    m u i to

    impor tan te no

    universo

    de Pat inhas : que a no

    h

    lugar para

    a

    primazia

    da util idade dos

    objetos.

    Cada objeto

    tem que

    ser, antes

    de

    mais nada,

    um a

    mercadoria.

    Por

    isso,

    as

    loucuras

    de

    Pardal

    s de-

    saparecem quando

    s o

    absorvidas pelo delrio

    acumulativista de

    Pat inhas . Quando

    este faz uma

    encomenda ou sol ici ta uma inveno que resolva

    um

    problema crucial para

    o

    capital, como

    um a

    defesa contra

    os

    Metralha

    ou um

    e qui pame nt o

    que

    o

    torne mais rico.

    O

    cientista

    s

    deixa

    de ser

    doido

    quando trabalha para

    o

    capital , quando perde

    de

    16

    vista a

    perspectiva tola

    e

    infantil

    da condio hu-

    mana

    dos patos para atender a demanda da repro-

    duo do dinheiro pelo dinheiro. A ele se torna

    racional , porque a racionalidade a dos objetos e a

    do enriquecimento que propiciam quando s o com-

    prados

    e

    vendidos.

    Entre Pardal e Peninha h semelhanas e dife-

    renas. A s semelhanas dizem respeito crena ine-

    ficaz

    na

    atividade criadora.

    As

    diferenas dizem

    respeito

    a que um se

    apoia

    no

    pensamento cient-

    fico

    e o out ro no senso comum para pr em prti-

    ca o

    impulso criador. Ambos

    s o

    iguais, porm,

    quando ignoram que tudo j est criado se se le-

    va em conta que a dinmica do universo regida

    pela

    riqueza acumulada

    que

    insaciavelmente preci-

    sa crescer.

    De fato, o

    universo

    de

    Patinhas

    educativo

    se

    tomamos

    a

    educao como veculo impositivo

    de

    valores. Diante dele as crianas e os adultos podem

    descobrir como

    s o

    estpidos, como

    s o

    ridculos

    e

    al ienados quando toleram que na sua personali-

    dade se

    manifestem

    grotescos t raos humanos. Pat i-

    nhas

    consti tui um

    c hamado

    razo:

    a

    razo

    que

    faz com que as coisas se relacionem umas com as

    outras

    como

    se fossem

    dotadas

    de

    condio

    huaia-

    na e que faz com que as

    relaes entre

    os

    home ns

    paream

    relaes entre coisas,

    conforme j cbser-

    vou um sbio alemo.

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    So

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