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O Jornalista, Orador e escritor Membro da A.B.L. Irm JOSÉ Carlos DO PATROCÍNIO foi um Abolicionista de primeira instância. Era Mulato - filho de uma escrava e de João Carlos Monteiro vigário da paróquia de Campos dos Goytacazes - RJ. Amparou escravos fugitivos. Escreveu: Mota Coqueiro ou a pena de morte; Os retirantes e Pedro espanhol. Constitui-se em uma das mais destacadas figuras do movimento abolicionista e também republicano no Rio de Janeiro. José Carlos do Patrocínio foi outro negro atuante, sendo considerado o autor de nossa primeira fotorreportagem, numa parceira com Bordalo Pinheiro Muito se poderia falar e mostrar sobre a Revista Illustrada e sobre Angelo Agostini no auge de sua maturidade como caricaturista. Poderíamos abordar a implicância do artista com os pintores acadêmicos, notadamente Pedro Américo e Victor Meirelles. Dos tipos urbanos que vai desenhando, o vendedor ambulante, a aia fofoqueira, o engraxate, os festejos do carnaval, o imperador dormindo nas sessões do Instituto Histórico, de sua militância incansável pela causa da abolição da escravatura – tanto que nas comemorações após o 13 de maio, a revista e seu criador recebem ovações tão marcantes como as prestadas a José do Patrocínio ou Joaquim Nabuco. O mesmo Nabuco que se referiu a ela como “a bíblia da abolição dos que não sabem ler”. Sem aprofundar-se num debate estéril de idéias, Agostini usou a reportagem gráfica para realizar aquilo que hoje se ensina em jornalismo: não conte, mostre. E o caricaturista mostrou as desfaçatezes cometidas pela elite escravocrata, aumentando o tom de sua denúncia ao longo da década de 80: A série de desenhos e narrativas gráficas produzidas por Agostini, a partir de 1886, denunciando os horrores do cotidiano escravocrata representam possivelmente o ponto alto de sua obra. Exibem denúncia política e completo domínio das técnicas dramáticonarrativas,

José do Patrocínio

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O Jornalista, Orador e escritor Membro da A.B.L. Irm JOSÉ Carlos DO PATROCÍNIO foi um Abolicionista de primeira instância. Era Mulato - filho de uma escrava e de João Carlos Monteiro vigário da paróquia de Campos dos Goytacazes - RJ. Amparou escravos fugitivos. Escreveu: Mota Coqueiro ou a pena de morte; Os retirantes e Pedro espanhol. Constitui-se em uma das mais destacadas figuras do movimento abolicionista e também republicano no Rio de Janeiro.

José Carlos do Patrocínio foi outro negro atuante, sendo considerado o autor de nossa primeira fotorreportagem, numa parceira com Bordalo Pinheiro

Muito se poderia falar e mostrar sobre a Revista Illustrada e sobre Angelo Agostini noauge de sua maturidade como caricaturista. Poderíamos abordar a implicância do artistacom os pintores acadêmicos, notadamente Pedro Américo e Victor Meirelles. Dos tiposurbanos que vai desenhando, o vendedor ambulante, a aia fofoqueira, o engraxate, osfestejos do carnaval, o imperador dormindo nas sessões do Instituto Histórico, de suamilitância incansável pela causa da abolição da escravatura – tanto que nas comemoraçõesapós o 13 de maio, a revista e seu criador recebem ovações tão marcantes como asprestadas a José do Patrocínio ou Joaquim Nabuco. O mesmo Nabuco que se referiu a elacomo “a bíblia da abolição dos que não sabem ler”. Sem aprofundar-se num debate estérilde idéias, Agostini usou a reportagem gráfica para realizar aquilo que hoje se ensina emjornalismo: não conte, mostre. E o caricaturista mostrou as desfaçatezes cometidas pelaelite escravocrata, aumentando o tom de sua denúncia ao longo da década de 80:A série de desenhos e narrativas gráficas produzidas por Agostini, a partir de 1886,denunciando os horrores do cotidiano escravocrata representam possivelmente o pontoalto de sua obra. Exibem denúncia política e completo domínio das técnicas dramáticonarrativas,aliados à uma grande capacidade de provocar indignação de parcelas crescentesdos leitores, ao mesmo tempo que incomodava outro tanto. As imagens retratam,com uma crueza poucas vezes vista, o cotidiano de torturas, mutilações e assassinatoscometidos contra os escravos (MARINGONI, 2006: 134).Em 18 de fevereiro de 1886, Agostini publica uma das mais contundentesdenúncias: mostra na dupla central, em quatorze quadros, a tragédia vivida pelo negroescravizado11. É um quadro dantesco: homens amordaçados e levados a queimar no forno,açoitados, enfim, violências sem conta. Segundo Herman Lima, “Quatorze quadros quesão quatorze passos da paixão do nosso irmão cativo, em torturas que somente seriamrevividas setenta anos depois, nos campos de concentração nazista” (LIMA, 1963: 1-120).A revista, na mesma edição, publica a história, documentada com foto de que o artistareproduziu o desenho, de duas adolescentes seviciadas pela proprietária, em pleno bairrode Botafogo. As imagens da Revista Illustrada fizeram mais pela causa da abolição quemuitos ou quase todos os discursos no Parlamento.Quando a Lei Áurea é tramitada no Congresso, a Revista Illustrada 497, de 13 demaio de 1888, faz um belo trabalho de reportagem, narrando cenas dos bastidores e damovimentação na Câmara:

Capítulo 61876-1878A Revista no BrasilO SÉCULO XIX228A approvação do projecto. Era difficil, na quinta-feira, tranzitar pelos arredóres daCamara, tal era a multidão que ahi estacionava. Deutro não havia um só lugar vasio. Asessão tomava, desde o principio, um caracter solemne, como jamais vimos no ParlamentoNacional. Logo em principio, o nobre deputado, Sr. Affonso Celso Junior apresentouum projecto, para que o dia da promulgação da maior lei do Brazil fosse degrande gala. [...]

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O Povo: Finda a sessão, quatro ou cinco mil pessoas desfilaram, em prestito imponente,pela rua do Ouvidor, afim de saudarem a imprensa. Muitos discursos, eloquentes earrebatadores, foram pronunciados. saudando o Paiz, a Gazeta de Noticias, e o Diario deNoticias; o prestito dirigiu-se para a rua de Gonçalves Dias, estacionando em frente aredacção do nosso jornal. O aspecto da manifestação era importante. De uma dasjanellas, o nosso collega Luiz de Andrade recebeu os manifestantes, levantando vivas áCamara dos deputados, ao Povo fluminense e á Confederação Abolicionista. Tomarama palavra, o capitão Serzedello, professor da escola militar e uma das grandes esperançasda nossa patria; João Clapp, Dr. Bricio Filho e outros oradores que em inspiradosimprovisos saudaram Angelo Agostini, a redacção da Revista e o nosso visinho e amigoSeixas Magalhães, abolicionista da mais fina tempera. Em seguida dissolveu-se a imponentereunião, entrando numerosos amigos para a redacção do nosso jornal, aonde emcalorosos brindes, foram saudados Joaquim Nabuco, Senador Dantas, José do Patrocinio,José Mariano, Angelo Agostini, João Clapp, Luiz de Andrade, Fritz Harling, BricioFilho, o exército brazileiro, a marinha nacional, a imprensa, as escolas, a magistratura,a representação nacional, o ministerio de dez de março, assim como quasi todos osbatalhadores da grande causa, em cujo numero entravam Antonio Bento, João Cordeiro,Conselheiro Prado, João Ramos, tendo nós a satisfação de vêr que ninguem eraesquecido. Um respeitoso e enthusiastico brinde foi levantado á Princeza Regente e áFamilia Imperial. Depois de mil effusões imdescriptiveis, para as quaes não ha narraçãopossivel, dissolveu-se a reunião, na melhor ordem. Confessamo-nos gratos ao povofluminense pelos testemunhos de apreço que timbrou em dar, n’esses dias, ao nossojornal, e d’estas columnas lhe protestamos, que nos ha de encontrar sempre na defezados seus direitos e da causa sagrada da liberdade! A todos esses, que assim nos penhoraram,d’aqui lhes protestamos a nossa immorredoura gratidão. N’este momento, resumimostodas as nossas impressões, n’estas simples palavras: Viva a Patria Livre! (PR SOR00167-13, 497: 6).

6.4 Raphael Bordallo Pinheiro à frente de Psit!!! e O BesouroComo se viu no capítulo anterior, O Mosquito fechou em maio de 1877, dois anosapós a entrada do caricaturista português Bordallo Pinheiro. Não demorou muito e,menos de quatro meses depois, em 15 de setembro, Bordallo estaria de volta com numnovo jornal, Psit!!!: hebdomadario cômico, que circulou de 15 de setembro a 17 de novembrode 1877, fechando no número 9.Bordallo havia chegado ao Brasil dois anos antes, com 29 anos. Tinha um contratode 50 libras acertado com o proprietário de O Mosquito e acumulava esse trabalho com astarefas de representante comercial da empresa Valle e Silva, importadora de embutidos deporco do Alentejo. Conseguiu, nos quatro anos em que morou no Rio, ter vida boêmia econfortável (MARINGONI, 2006: 110). A impressão do Psit!!! estava a cargo daLithographia a vapor de Angelo & Robin – havia uma relação de respeito entre Bordallo eAgostini, como se viu na polêmica que envolveu os caricaturistas estrangeiros.A publicação teve vida curta. Psit!!! chamou pouco a atenção e não soube atrair osantigos compradores dos bons tempos de O Mosquito.Mas a investida seguinte de Bordallo Pinheiro contaria com um suporte financeiromais sólido que os anteriores: ele consegiu o apoio do Visconde São Salvador deMatosinhos, um rico empresário português radicado no Rio de Janeiro. Com tal suporte, econtando com colaboradores como os conhecidos jornalistas José do Patrocínio, Artur deAzevedo, Alberto de Oliveira e Guerra Junqueira, O Besouro: folha illustrada, humorística esatyrica chega aos leitores no dia 6 de abril de 1878. Era preparado na Lithografia a vaporde Angelo & Robin, de propriedade da Revista Illustrada.

José do Patrocínio, já então jornalista prestigiado no Rio, folhetinista da Gazeta deNotícias, teria participação importante n’O Besouro, tendo escrito o editorial do primeironúmero da publicação (ANDRADE, 2004: 189).

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José do Patrocínio, já então jornalista prestigiado no Rio, folhetinista da Gazeta deNotícias, teria participação importante n’O Besouro, tendo escrito o editorial do primeiro número da publicação (ANDRADE, 2004: 189). Procederemos uma análise mais detida do número 5. A capa traz em letras garrafaisa chamada: Tiragem 5.000 exemplares (seis exclamações). O tema da capa é a oferta depublicação de anúncios na revista, a “preços convencionais”, como se fosse uma páginapromocional ou sobrecapa. Sem logotipo em destaque, a que seria a capa mostra umacaricatura de Pedro II. O título é “Política. O juramento de todos os Príncipes – a garantiade todos os Povos”. O imperador, sentado, é empurrado por personagens, políticos ecônegos. A legenda diz: “Nenê, diz comigo ‘Juro manter a religião Catholica ApostolicaRomana, ser obediente á mamãi, papai e vôvô, e ser fiel ás leis’.” Nenê: “Ahrnn! Ahrnn,Ahrnn! Ahrnn”. Governo: “Está feito o juramento e garantida a monarchia. D’aqui a trintaannos sua alteza cumprirá o que diz hoje; os príncipes fazem sempre o que dizem, aindamesmo no collo das amas, de biberon em punho em vez do sceptro que tomaráõ maistarde. – Pode Vossa Alteza ir passear, sem lincença de mais ninguém. – A monarchia estásegura e o povo tranqüilo.”As páginas de texto (34 e 35 – 38 e 39, pois a revista adota a numeraçãocontínua) são enriquecidas de pequenas vinhetas e grandes capitulares. Assim, o “L” éum grande sapato com um garoto fazendo o papel da haste da letra. A letra “A” édesenhada na forma de um velho reclinado a tocar uma tuba. Dois temas perpassam aedição. Um é o sucesso de O primo Basílio, do escritor português Eça de Queiroz. Ooutro a seca do Ceará, de que se falará adiante.Sobre o romance de Eça, a revista de Bordallo fará ironia sobre as críticas e reparosque o livro recebeu no Brasil – notadamente de Machado de Assis, que parece ser o alvoda irritação do caricaturista português. “Agarrou-se á cabeça dos Srs. litterattos e tem d’alliextrahido, como um verdadeiro ungüento puxativo, uma serie interminavel de artigos, deque já não ha maos a medir. Aquelle primo não se devia chamar Basilio, mas simBasilicão!”. Sobre a seca no Ceará, a nota “A cal” faz denuncia grave: uma grande partidade farinha enviada como socorro às famílias do norte do país apresentara mistura de cal,“insufficiente é verdade para caiar convenientemente todas as peças das habitações dessespatrícios, mas bastante para estragar-lhe as diversas dobras dos intestinos, e fazel-os, comocal que é, ficarem calados – e por uma vez”.A situação da seca do nordeste estava implícita no comentário, colunas antes, sobreos retirantes. “O retirante, que symbolizava uma calamidade, passou a ser o emigrado quesymbolisa uma iniqüidade”, escreve o redator sobre o fato de meninas cearenses se viremna necessidade de se prostituir no Rio para garantir a sobrevivência. “A consequencia éserem tiradas do seio das infelizes familias, moças que se resgatam da fome pelaprostituição, e isso sem que de leve reflictam na baixeza em que vão cahir”.A revista se posiciona: “O Besouro abre um parenthesis aos seus zumbidos alegres,a sua jovialidade innata, para pedir um pouco de attenção para semelhante facto”.A contracapa desse número (página 40) traz retrato de Eça de Queiroz, “autor docélebre, belissimo livro O primo Basílio”, homenagem de Bordallo Pinheiro.A seca do Ceará está presente em diversas edições de O Besouro. A revista se referiu aela em tom cáustico na edição de 20 de abril de 1878, no artigo “A seca do Ceará”.Bordallo Pinheiro volta ao tema em 20 de julho, com a capa “Páginas tristes”, apontada

CONTINUAÇÃO NA PÁG 237 DA TESE DO CARLOS COSTA

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Se toda a propriedade é roubo, a propriedade escrava é um roubo duplo, contrária aos princípios humanos que qualquer ordem jurídica deve servir." Não

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se tratava apenas de uma retórica inflamada de nítida inspiração socialista, nem de um mero exercício de propagandismo desabusado que se poderia esperar de um dos jornalistas mais famosos do pais. Filho de um padre com uma escrava que vendia frutas, José do Patrocínio (1853 – 1905) sabia do que estava falando: senhor por parte de pai, escravo por parte de mãe, vivera na pele todas as contradições da escravatura. 

Nascido em Campos (RJ), um dos pólos escravagistas do país, mudou-se para o Rio de Janeiro e começou a vida como servente de pedreiro na Santa Casa de Misericórdia do Rio. Pagando o próprio estudo, formou-se em farmácia. Em 1875, porém, descobriu a verdadeira vocação ao um jornal satírico chamado "Os Ferrões” Começava ali a carreira de um dos mais brilhantes Jornalistas brasileiros de todos os tempos. Dono de um texto requintado e viril, José do Patrocínio - que de início assinava Proudhon -- se tornou um articulista famoso em todo o país. Conheceu a princesa Isabel, fundou seu diário, a "Gazeta da Tarde" virou o "Tigre do Abolicionismo". Em maio de 1883, criou, junto com André Rebouças, uma confederação unindo todos os clubes abolicionistas do país. A revolução se iniciara. "E a revolução se chama Patrocínio», diria Joaquim Nabuco. 

Pouco depois de a princesa Isabel assinar a Lei Áurea, sob uma chuva de rosas no paço da cidade, a campanha que, por dez anos, Patrocínio liderara enfim parecia encerrada. “Minha alma sobe de joelhos nestes paços", diria ele, curvando-se para beijar as mãos da "loira mãe dos brasileiros”. Aos 35 anos in-completos, era difícil difícil supor que, a partir dali, Patrocínio veria sua carreira ir ladeira abaixo. Mas foi o que aconteceu: seu novo jornal, “A Cidade do Rio” (fundando em 1887), virou porta-voz da monarquia – em tempos republicanos. Patrocínio foi acusado de estimular a formação da "Guarda Negra", um bando de escravos libertos que agiam com violência nos comícios republicanos. Era um "isabelista". 

Em 1889, aderiu ao movimento republicano: tarde demais para agradar aos adeptos do novo regime, mas ainda em tempo para ser abandonado pelos ex-aliados. Em 1832, depois de atacar o ditador de plantão, marechal Floriano, Patrocínio foi exilado na Amazônia. Rui Barbosa o defendeu, num texto vigoroso. "Que sociedade é essa, cuja consciência moral mergulha em lama, ao menor capricho da força, as estrelas de sua admiração?" Em 93, Patrocínio voltou ao Rio, mas, como continuou o "Marechal de Ferro", seu jornal foi fechado. A miséria bateu-lhe à porta e Patrocínio mudou-se para um barracão no subúrbio. Por anos, dedicou-se a um projeto delirante: construir um dirigível de 45 metros de comprimento. A nave jamais se ergueria do chão. 

  No dia 29 de janeiro de 1905, José do Patrocínio sentou-se em frente da sua pequena escrivaninha no modesto barracão em que vivia no bairro de Inhaúma, no Rio de Janeiro. Começou a redigir: “Fala-se na organização de uma sociedade protetora dos animais. Tenho pelos animais um respeito egípcio. Penso que eles têm alma, ainda que rudimentar,  e que têm conscientemente revoltas contra a injustiça humana. Já vi um burro suspirar depois de brutalmente espancado por um carroceiro que atulhava a carroça com carga para uma quadriga, e que queria que o mísero animal a arrancasse do atoleiro...” Não terminou a palavra nem a frase – Um jato de sangue jorrou-lhe da boca. O

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“Tigre do Abolicionismo” – pobre e desamparado – morria, imerso em dívidas e mergulhado no esquecimento.

Jornalista e abolicionista fluminenseJOSÉ DO PATROCÍNIO9/10/1853, Campos (RJ)29/01/1905, Rio de Janeiro (RJ)

José Carlos do Patrocínio era filho de uma escrava alforriada e do cônego João Monteiro. Aos 14 anos deixou a fazenda da família para tentar a vida no Rio de Janeiro, onde chegou a ingressar na Escola de Medicina. Ao fim de alguns anos, porém, abandonou o curso e formou-se em farmácia, em 1874.

Ainda estudante , fundou uma revista mensal, "Os Ferrões", onde começou a revelar seu talento como polemista que o tornaria famoso. Em 1877, ingressou na redação de "A Gazeta de Notícias", onde escreveu diversos artigos de propaganda abolicionista.

Em 1881, com dinheiro emprestado pelo sogro, adquiriu a "Gazeta da Tarde", à frente da qual permaneceu por seis anos. Neste jornal, deu início à campanha abolicionista. Em 1887, fundou a "Cidade do Rio", onde intensificou os ataques à política escravocrata.

Não se limitou a lutar apenas por escrito pelo abolicionismo. Realizou conferências públicas, ajudou a fuga de muitos escravos, organizou núcleos abolicionistas, militando ativamente até o triunfo da causa, em 13 de maio de 1888.

Seu prestígio imenso durante os últimos anos do Império decaiu após a proclamação da República, quando passou a lutar por um programa liberal. Acabou afastado da vida pública. Seu jornal, "Cidade do Rio de Janeiro", foi interditado e ele deportado para Cucuí, no Amazonas, sob a acusação de ter participado de uma revolta contra o governo de Floriano Peixoto.

Libertado pouco tempo depois, afastou-se da vida pública, colaborando esporadicamente na imprensa. Nos últimos anos de vida interessou-se pela navegação aérea, chegando a construir um aeróstato denominado Santa Cruz.

Patrocínio também escreveu obras de ficção, mas sem a repercussão nem o talento do jornalista. Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira de no. 21, que tinha Joaquim Serra como patrono.

JOSÉ DO PATROCÍNIO

Um homem cheio de amor, que lutou pela liberdade.Por sua gente um lutador, de garra, verbo e dignidade.De alma e de coração para a seu povo negro libertar.José do Patrocínio um leão, pro Brasileiro se orgulhar.

Filho de José Monteiro, e de uma Escrava alforriada.De Campos Rio de Janeiro, uma criança diferenciada.Com tudo prestava atenção, e procurava se inteirar.José do Patrocínio um leão, pro Brasileiro se orgulhar.

Saiu de casa 14 anos, de Campos pro Rio de Janeiro.Aplicado e sem enganos, em tudo leal e verdadeiro.Construía amor e afeição, com respeito em todo tratar.José do Patrocínio um leão, pro Brasileiro se orgulhar.

Entrou na Escola de Medicina, em Farmácia se formou.Falava bem e tinha uma sina, e as lutas do povo tomou.Abolicionista por convicção, o fazedor da Fé despertar.José do Patrocínio um leão, pro Brasileiro se orgulhar.

Patrocínio ainda era estudante, fundou revista mensal.Nos Ferrões é fascinante, trabalha o debate mais total.

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Mostra talento e disposição, é extraordinário no falar.José do Patrocínio um leão, pro Brasileiro se orgulhar.

O Sogro comprou Jornal, Patrocínio só Humanismo.E seu Empenho era total, trabalhos pró abolicionismo.Foi um orador de decisão, para a abolição se consumar.José do Patrocínio um leão, pro Brasileiro se orgulhar.

Abolicionista Maravilhoso, Anjo da Guarda defensor.Dedicado e tão extremoso, para seu povo o seu amor.Atacava toda Escravidão, a golpeava para ela acabar.José do Patrocínio um leão, pro Brasileiro se orgulhar.

A escravidão era uma guerra, que finalmente terminou.Sem ter distribuição de terra, nem trabalho se ganhou.E continuou a discriminação, e sem interesse de ajudar.José do Patrocínio um leão, pro Brasileiro se orgulhar.

Em 88 Escravidão abolida, em 89 o Império acabou.E o grupo escravista na partida, dar terra não deixou.Ficou uma grande privação, não ter com que alimentar.José do Patrocínio um leão, pro Brasileiro se orgulhar.

Tinha de ter reforma Agrária, tinha de terras distribuir.Uma resposta Humanitária, para o sustento conseguir.Mais que um amigo e irmão, ele fez de todo se ofertar.José do Patrocínio um leão, pro Brasileiro se orgulhar.

Em tudo grande Mistério, a Patrocínio incomodava.Caiu escravidão e Império, e a oligarquia continuava.Foi pouca transformação, não tinham do que partilhar.José do Patrocínio um leão, pro Brasileiro se orgulhar.

Tinha da terra ser partilhada, ter ferramenta e semente.Tinha de ter uma melhorada, no tratar sua negra gente.O Negro ficou sem condição, pra seu sustento ganhar.José do Patrocínio um leão, pro Brasileiro se orgulhar.

Marechal Deodoro renunciou, e tanto lutou o Floriano.E nada desses fatos mudou, o que ia vir de desengano.Sem haver transformação, a Lei de terras ia continuarJosé do Patrocínio um leão, pro Brasileiro se orgulhar.

Desde a Lei de 1850, que terra não podia ser doada.É uma maldade violenta, e causava a miséria danada.Não podendo ganhar seu pão, iam toda miséria passarJosé do Patrocínio um leão, pro Brasileiro se orgulhar.

Ao Escravo empobrecimento, a Patrocínio a tristeza.Lutara com desprendimento, agora enfrentava vileza

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A lei impedindo doação, era pra nunca a terra se dar.José do Patrocínio um leão, pro Brasileiro se orgulhar.

A Mídia daquele tempo, como o dominador escravista Não tinha sentimento, e criou um outro ponto de vistaE deram uma falsa interpretação, para o desmoralizar.José do Patrocínio um leão, pro Brasileiro se orgulhar.

Cair o império fez interromper, dar terras ao libertado.Fazendeiro não fez ceder, foi os negros na rua jogados.O Governo nem era a questão, queriam era o partilharJosé do Patrocínio um leão, pro Brasileiro se orgulhar.

Morreu cheio de tristeza, e todo o nosso povo sofria.Todo atraso com certeza, era por causa as oligarquiasEle merece toda louvação, vamos mil tambores tocar.José do Patrocínio um leão, pro Brasileiro se orgulhar.

Azuir Filho e, Turmas: do Social da Unicamp e de AmigosDe: Rocha Miranda, Rio, RJ e de Mosqueiro, Belém, PA.

Poesia de Louvor a José do Patrocínio, Orador negro apaixonado e bom de embate em prol da abolição da Escravatura que era a causa da sua vida. Como que tivesse sido preparado para enfrentar e construir a Abolição, era ele quem o tempo todo mantinha vivo este debate até que foi crescendo em âmbito nacional e não pode mais ser contido uma vez que o Ceará declarou extinta em 1884 a Escravidão naquele Estado Nordestino.

José do Patrocínio vai manter a Questão na pauta do dia, encurralando os Escravista por todo o Brasil não tendo mais como defender esta causa desumana que avilta a qualquer sociedade, até ela ser atingida em 13 de maio de 1888. O Paço Imperial no Rio de Janeiro na Praça XV estava repleto da população em mobilização para apoiar e não foi resolvida a questão de liberação de terras para receber esta população sem posses, que nos primeiros dias até ficaram andando pelos caminhos sem ter para onde irem, sem terem uma alternativa econômica, não foi feita uma Reforma Agrária. Os escravos tiveram de voltar para suas antigas fazendas que lhes impuseram condições duríssimas para os receber de volta.Ficou a Luta pela concessão de terras aos recém libertos mas, a Lei das Terras de 1850 e os fazendeiros proprietários impediam. A Princesa Isabel apóia a causa de José do patrocínio e sem apoio o Império cai em 15-11-1889. Uma outra realidade política com seus Interesses Econômicos e Patrocínio lutando pela precária Condição Econômica dos Negros. É acusado de não ser Republicano e fica isolado e sua causa perde apoio. É Preso e exilado para o Amazonas, foge e vai pra ilegalidade, não, consegue mais mobilizar os Políticos republicanos que estão infiltrados pelas Oligarquias numa nova ordem no Brasil, José do Patrocínio lutou até o fim e morreu de tristeza. José do Patrocínio um leão, pro Brasileiro se orgulhar.

DIREITOS RECONHECIDOS E AGRADECIDOSF1 http://n.i.uol.com.br/licaodecasa/biografias/patrocinio.jpgF2 http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/2/http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/2/24/Jos%C3%A9_do_Patroc

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Sobre a obra

Obra de Louvor a José do Patrocínio, o Abolicionista Negro que animava a todos os abolicionistas e a nação Brasileira. O 13 de maio de 1888, vai culminar com uma grande mobilização do povo na Praça XV, do Rio de Janeiro,para a adesão popular que tomará toda a área, vieram ativistas contra a Escravidão e Republicanos, para influírem nas votações concretizando o sonho da Libertação, Patrocínio era o grande organizador desta Causa que era a sua vida. O 13 de Maio é Vitorioso em meio a muita resistência e que a participação popular no lado Externo foi fundamental como que o Brasil não poderia mais existir em Paz se não fossem declarados Livres os Escravos. Concretizou-se a Liberdade, mas, não o direito a ocuparem terras para a subsistência porque a Lei de Terras de 1950 não vai permitir e ficou a questão insolúvel que vai perder lugar para a luta Império X República. Já houve a abolição, Patrocínio fica sozinho na luta e vai morrer triste sem conseguir resolver a questão Econômica.

QUANDO TUDO ACONTECEU...

1853: Em 9 de Outubro José Carlos do Patrocínio nasce em Campos dos Goitacazes (Província do Rio de Janeiro), filho natural do padre João Carlos Monteiro e de Justina, escrava africana. - 1868: Patrocínio começa a trabalhar na Santa Casa de Misericórdia, no Rio de Janeiro. - 1871: É aprovada a Lei do Ventre Livre. - 1874: Na Faculdade de Medicina, Patrocínio conclui o curso de Farmácia. - 1875: Com Demerval Ferreira publica o primeiro número do quinzenário satírico OS FERRÕES. - 1877: Entra na GAZETA DE NOTÍCIAS, onde se encarrega de A Semana Parlamentar. - 1879: Casa com Maria Henriqueta Sena, a Bibi. Inicia a campanha pela Abolição da escravatura. - 1881: Ingressa na GAZETA DA TARDE, acabando por se tornar proprietário do periódico. - 1882: A convite de Paula Nei desloca-se ao Ceará em campanha pró Abolição; dois anos mais tarde o Ceará será a primeira Província brasileira a dar a emancipação aos escravos. - 1883: Patrocínio redige o Manifesto da Confederação Abolicionista. - 1884: Publica o romance Pedro Espanhol. - 1885: É aprovada a Lei dos Sexagenários. José do Patrocínio visita Campos, onde é saudado como um triunfador. No Rio de Janeiro o funeral de “tia” Justina, mãe de José do Patrocínio, transforma-se num grandioso comício de repúdio à escravidão. - 1886: É eleito vereador da Câmara do Rio. - 1887: Deixa a GAZETA DA TARDE, funda e passa a dirigir A CIDADE DO RIO. Publica o romance Mota Coqueiro ou A pena de morte. - 1888: A 13 de Maio a Princesa Isabel assina a Lei Áurea que extingue a escravidão no Brasil; José do Patrocínio beija as mãos da Princesa. - 1889: Patrocínio publica o romance Os Retirantes. Incentiva e coordena a violenta acção da Guarda Negra do isabelismo. A 15 de Novembro a República é implantada no Brasil. - 1892: José do Patrocínio traz de França o primeiro automóvel que irá circular no Brasil. Por ter atacado, no seu jornal, o Marechal Floriano Peixoto, ditador de plantão, Patrocínio é desterrado para a Amazónia. - 1893: Proibida a publicação do periódico A CIDADE DO RIO, Patrocínio fica na miséria.- 1905: Numa homenagem a Santos Dumont, ao discursar, José do Patrocínio sofre uma hemoptise; falece pouco depois, a 30 de Janeiro.

A MÃE É ESCRAVA, O PAI É PADRE

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  Campos dos Goitacazes, perto do Rio de Janeiro, a Capital do Império brasileiro. Dona Emerenciana Ribeiro do Espírito Santo, senhora de terras e de escravos, é a proprietária de Justina, uma pretinha caçada em Mina, na costa de África. Dona Emerenciana empresta Justina ao Cónego João Carlos Monteiro. E tão carinhosamente o Cónego trata Justina que, aos 15 anos, ela dá à luz um mulatinho; o qual, na pia baptismal, recebe o nome de José Carlos do Patrocínio. Corre o ano de 1853.  O Cónego não reconhece a paternidade. Aliás, sem provocar escândalo, não poderia reconhecê-la. É axioma por todos aceite, embora nele ninguém acredite, que um sacerdote é sempre um homem casto...  Mas se, por um lado, paternidade não reconhece, por outro o Cónego não empurra o filho para a senzala. Benza-o Deus, que ainda lhe sobram uns restos de ternura...  Zezinho passa a infância na fazenda paterna da Lagoa de Cima. Escravo não é, porém vai assistindo à penosa vida dos escravos e aos castigos que lhes são impostos. Sofre por eles, em surdina pragueja muito, revolta a germinar...

 

NO RIO DE JANEIRO  

Patrocínio, depois de concluir o curso de Farmácia, dá aulas aos filhos do capitão Sena. Entretanto, o que está a acontecer no resto do mundo? Consulta a Tábua

 Em Campos, Zezinho aprende as primeiras letras, instrução primária. Aos 14 anos pede e o pai autoriza que vá para o Rio de Janeiro.   Na Capital, em 1868 arranja um emprego de servente de pedreiro na Santa Casa da Misericórdia. Transitará depois para um emprego na Casa de Saúde do Dr. Batista Santos. Seduzido pelo combate contra a doença, começa a estudar Farmácia, na Faculdade de Medicina. Ajudas poucas, do pai nenhuma; basicamente é ele quem paga o próprio estudo.  Terminado o curso em 1874, logo surge um tormentoso problema financeiro: dissolvida a “república” onde vivia com vários condiscípulos, José do Patrocínio terá de alugar moradia e dinheiro para isso não tem. Muito menos para se estabelecer como farmacêutico. O seu amigo e colega Pacheco Vilanova deita-lhe a mão: convida-o a morar no bairro de São

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Cronológica.

 

 

Cristóvão, na casa de sua mãe que estava casada em segundas núpcias com o capitão Emiliano Rosa Sena, homem rico, dono de terras e imóveis. Para deixar Patrocínio à vontade, o capitão propõe-lhe hospedagem gratuita contra o trabalho de dar aulas particulares a seus filhos. Patrocínio respira fundo, aceita a proposta. E passa também a frequentar o “Clube Republicano” que funciona na casa do capitão, e do qual fazem parte homens que irão deixar marcas no tempo, tais como Lopes Trovão e Quintino Bocaiúva.

 

A MINHA FILHA VAI CASAR COM UM MULATO? Entre uma lição e outra, José do Patrocínio apaixona-se por Maria Henriqueta, a Bibi, uma das filhas do capitão Sena. E é correspondido. Apaixonadamente, como ele quer e gosta, não sabe outra forma de estar na vida. Quem se opõe ao romance é o capitão Sena: “A minha filha vai casar com um mulato? Nem pense nisso!...” Contudo a impetuosa Bibi não desiste do matrimónio e José entretanto arranjara um outro emprego que lhes garantirá autonomia financeira. Mais não é preciso para casarem. E casam, em 1879 os apaixonados casam, escândalo, diatribes... 

PATROCÍNIO E O JORNALISMOEm três jornais, Patrocínio faz a campanha pró Abolição. Entretanto o que está a acontecer no resto do mundo? Consulta a Tábua Cronológica. 

 

 

 

 

 

Um outro emprego? De 1 de Junho a 15 de Outubro de 1875, de parceria com Demerval Ferreira, Patrocínio escrevera e editara OS FERRÕES, quinzenário satírico. Em 1877 Ferreira de Araújo, proprietário do jornal abolicionista GAZETA DE NOTÍCIAS, admite José do Patrocínio como redactor. A seu cargo fica a “Semana Parlamentar”, que assina com o pseudónimo Prudhome. Em 1879 (o ano do casamento com Bibi...), na mesma gazeta inicia a sua campanha pela Abolição. Incêndio, vulcão verbal que reúne à sua volta jornalistas e tribunos, entre os quais Ferreira de Meneses (proprietário da GAZETA DA TARDE), Joaquim Nabuco, Teodoro Sampaio, Paula Nei e muitos,

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muitos outros. Todos da ASSOCIAÇÃO CENTRAL EMANCIPADORA, à qual Patrocínio adere e onde passa a trabalhar graciosamente, voluntariado.   Ferreira de Meneses morre em 1881 e José do Patrocínio assume a direcção da GAZETA DA TARDE. Melhor dizendo: torna-se o novo proprietário do jornal. Como, se dinheiro não tem? Mas dinheiro não falta ao sogro, com o qual se reconciliara recentemente. É quanto basta...   Escreve artigos vibrantes; mas, a partir da Redacção, José do Patrocínio também trata de coordenar a campanha prática para a libertação dos negros, preparando e auxiliando a fuga de escravos e angariando fundos para as alforrias. Promove espectáculos ao vivo: comícios em teatros, manifestações em praça pública.   Ainda em 81 Patrocínio funda a CONFEDERAÇÃO ABOLICIONISTA e redige o respectivo manifesto que André Rebouças e Aristides Lobo também assinam.   Em 82, a convite de Paula Nei, Patrocínio visita o Ceará. É festejado como o grande líder dos oprimidos. Em 84 aquela será a primeira Província brasileira a conceder a emancipação completa aos escravos.

Em 87 Patrocínio desiste da GAZETA DA TARDE. Outra vez com o dinheiro do sogro funda e passa a dirigir A CIDADE DO RIO. Para o novo periódico conta com o apoio dos mais prestigiados jornalistas e oradores pró Abolição.

Patrocínio é também seduzido pela criação romanesca. Em 83 publicou o romance Pedro Espanhol. Em 87 o romance Mota Coqueiro ou A Pena de Morte. E em 89 publicará o romance Os Retirantes, inspirado na inclemência da seca sobre cearenses e outros nordestinos.

 

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A MORTE DE JUSTINA  Em 1885 José do Patrocínio visita Campos dos Goitacazes. Embora prossiga o combate pela Abolição, na sua terra natal o povo já o festeja como grande vencedor.   Patrocínio regressa ao Rio e leva consigo Justina, sua mãe, velha, exausta, adoentada. Pelo menos impede que, para sobreviver, ela continue a vender fruta pelas esquinas.   Em finais do mesmo ano, no Rio, morre a velha Justina do Espírito Santo. Funeral imponente, comentado em toda a Capital. Seguram as alças do caixão o Ministro Rodolfo Dantas, o jurista Rui Barbosa e dois futuros presidentes da República que será implantada um dia: Campos Sales e Prudente de Morais. Funeral que é um público repúdio à escravidão e homenagem ao grande abolicionista José do Patrocínio.

 

VERBO, INCÊNDIO, VULCÃO...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  Em França, Proudhon, o teórico do anarquismo, afirmara:   - A propriedade é um roubo.   No Brasil, José do Patrocínio avança um passo:   - Se toda a propriedade é roubo, a propriedade escrava é um roubo duplo, contrária aos princípios humanos que qualquer ordem jurídica deve servir.   Condensa o seu pensamento no grito de guerra Escravidão é Roubo. Máxima que não se cansa de atirar à cara dos escravistas, infiltrados que eles andam pelos lugares mais inesperados.   Quem pensa encontrar apenas escravistas entre os conservadores, engana-se, pois entre eles surge um desassombrado abolicionista que é o Visconde de

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Rio Branco. Quem pensa encontrar apenas abolicionistas entre os liberais, também se engana, pois entre eles surgem empedernidos escravistas como Martinho Campos e racistas como Sílvio Romero. Algo de semelhante ocorre com monárquicos e republicanos. Alguém diz que a abolição é uma batata quente a saltar de mão em mão, e inesperadas são as mãos que a recebem e as mãos que a repudiam... Contudo, nas suas lutas, os abolicionistas foram conseguindo algumas vitórias. Em 1871 foi aprovada a Lei do Ventre Livre (iniciativa do Visconde de Rio Branco), que reconhece como livres as crianças nascidas de mães escravas. E em 1885 foi aprovada a Lei dos Sexagenários que concede a liberdade aos escravos com idade igual ou superior a 65 anos. Mas os abolicionistas não se contentam com migalhas, exigem a libertação total e imediata de todos os escravos, sem qualquer indemnização aos escravocratas.   Nada consegue deter a enxurrada verbal de Patrocínio; nomeadamente contra a ilegal escravatura de africanos recém-chegados ao Brasil. Nem sequer a figura do seu pai o sustém (talvez até o atice mais):   - Agora mesmo (...) quis Deus que eu fosse vítima de uma dor profunda. Fui rever uma lista de africanos livres, confiados à guarda de pessoas da maior excepção; africanos que, tendo sido aprisionados, tinham pelo Estado garantida a sua liberdade. Não é a primeira vez que folheio este tristíssimo documento, em que estão os nomes de pessoas de grande vulto em nossa história. Mas um nome me havia escapado. Era o nome de um sacerdote de Jesus Cristo, de um cónego honorário e pregador da Capela Imperial, condecorado com as ordens da Rosa e do Cristo, vigário da vara de Campos, examinador sinodal do bispado do Rio de Janeiro e, na época, deputado provincial por esta província, o bacharel João Carlos Monteiro. Este é o nome do meu pai! Pois bem, eu declaro (...) que estes africanos foram reduzidos à escravidão. (...) Deles proveio a escravatura de meu pai, que subiu a

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92 pessoas. Estes desgraçados, por morte do senhor, foram vendidos para pagar as dívidas do homem que os havia escravizado!   Patrocínio pretende ocupar uma tribuna de prestígio para dilatar a agitação dos seus discursos. Consegue-a: em 1886 é eleito vereador da Câmara do Rio, votação maciça no seu nome.   Comentário do seu contemporâneo Américo Palha:   - Patrocínio pode olhar para testemunhar e defender o sofrimento da raça crucificada. Só ele pode chamar, gritar, ameaçar. O sangue desta raça, derramado nas senzalas, exige solidariedade humana. Exige repressão, exige justiça. Patrocínio fala pelos mártires de sua cor. Diz Carolina Nabuco: - Ele não faz discursos, interpreta-os com uma força extraordinária, mas têm ardor comunicativo e espontaneidade vibrante, o que ameniza a dramatização exagerada... Conclui Oswaldo Orico:

- Patrocínio é o Tigre da Abolição!   E Joaquim Nabuco reforça:   - Patrocínio é a própria revolução!

 

A LEI ÁUREA  Nos princípios de 1888 o Imperador D. Pedro II viaja até à Europa; a Princesa Isabel, sua filha, assume a Regência.   No Rio, a polícia reprime com violência vários comícios dos abolicionistas. Angustiada com as atrocidades cometidas, a Princesa força o Governo de Cotegipe a demitir-se. A 7 de Março convida João Alfredo Corrêa de Oliveira a formar novo Governo.   Ferreira Viana, o recém-empossado ministro da

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Justiça, aceita reunir-se com líderes abolicionistas. Informa-os que a intenção do novo Gabinete é extinguir a escravidão sem qualquer indemnização aos escravocratas. Entusiasmo, aplausos, correm lágrimas pelo rosto de Patrocínio.   A sessão parlamentar começa a 3 de Maio. Das janelas do Senado, Rui Barbosa, Rodolfo Dantas e José do Patrocínio discursam para a multidão que enche as ruas.   No dia 4 de Maio a Princesa convida 14 negros fugidos para almoçarem com a família imperial.   No dia 8 é apresentado no Parlamento o projecto final da Abolição. Resistência feroz dos parlamentares escravistas.   No dia 13 a oposição dos escravistas é vencida e a Lei Áurea (assim lhe chamam) é aprovada. Grande agitação na Capital. A Princesa vem de Petrópolis para assinar a Lei. No Paço, chuva de rosas que ela vai pisando lentamente. Começa a ser lido o texto: - A princesa imperial regente em nome de Sua Majestade o imperador, o senhor D. Pedro II, faz saber a todos os súbditos do Império que a Assembleia Geral decretou e ela sancionou a lei seguinte: Art. 1°: É declarada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil. Art. 2°: Revogam-se as disposições em contrário. Etc. A Princesa assina a lei, gritos e vivas da multidão que enche as galerias. José do Patrocínio irrompe, ninguém consegue detê-lo. Atira-se aos pés da Princesa, beija-lhe as mãos, declama: - Minha alma sobe de joelhos nestes Paços.  

 

A GUARDA NEGRA  A José do Patrocínio diz-lhe um amigo, no dia seguinte, 14 de Maio: 

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- Ontem, assinando a Lei Áurea, a Princesa Isabel evitou a guerra civil.- Ela é a Redentora da minha raça - responde Patrocínio -.- Talvez não seja, José, talvez não seja... Repare que sem reformas sociais e económicas estruturais, como a distribuição de terras aos ex-escravos, a Princesa está a condená-los à miséria extrema.- A Princesa é a loira mãe de todos os brasileiros.- De todos os brasileiros? Será? Eu acho que ela só quis antecipar o amanhã para salvar a Monarquia. A mão de obra escrava, brutal, besta de carga, já estava superada. Que o digam os prósperos cafeicultores de São Paulo que, em vez de comprarem escravos africanos, preferem comprar máquinas agrícolas e contratar mão de obra qualificada de emigrantes europeus. Mas nem com esse gesto a Princesa vai conseguir salvar a Monarquia.- Não vai? Porquê?- Só a República poderá fazer as reformas sociais e económicas que o Brasil precisa e os monárquicos rejeitam e entravam.- Os republicanos não mexeram uma palha pela Abolição e não assinaram a Lei Áurea. Quem mexeu e assinou foi a Princesa Isabel. Sou fiel à Redentora, ela pode contar comigo. Para sempre!  O isabelismo passa a avassalar José do Patrocínio e também milhares de africanos recém-libertos. Vêem na Princesa a única e abnegada senhora que os redimira da escravidão. Arregimentados e orientados por José do Patrocínio, em várias cidades do Brasil organizam-se em Guarda Negra que dissolve, pela violência, comícios e manifestações de republicanos. Pensam mostrar assim eterna gratidão à Princesa...   O isabelismo converte a razão apaixonada de José do Patrocínio em paixão irracional... Mas nada impede (nem sequer a Guarda Negra) que em 15 de Novembro de 1889 a República seja implantada no Brasil.

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DECADÊNCIA  A CIDADE DO RIO é convertida em porta-voz da monarquia e José do Patrocínio é apontado como organizador da GUARDA NEGRA. Depois do 15 de Novembro de 1889, seduzido pelas novas propostas de reestruturação da sociedade brasileira, outra vez tenta aderir aos ideais republicanos mas é enxotado pelos adeptos do regime recém-implantado. Ao mesmo tempo os monárquicos berram que ele é um troca-tintas.  Em 92 Patrocínio vai a França e traz o primeiro automóvel que irá circular no Brasil. Um automóvel a vapor, barulho a espantar os transeuntes...  No mesmo ano, n’ A CIDADE DO RIO, Patrocínio afronta o marechal Floriano Peixoto, ditador de plantão. Consequência: é desterrado para Cacuí, na Amazónia. Rui Barbosa ainda sai a público a defendê-lo, mas a ordem de desterro é mantida.  Em 93 Patrocínio regressa discretamente ao Rio. O seu jornal tinha sido fechado pelo “Marechal de Ferro”. A miséria bate à porta de Patrocínio e ele muda-se para um barracão no subúrbio.  Desiludido com a política decide-se por uma nova carreira: a de inventor. Continua a querer subir alto, mas desta vez fisicamente, e dedica-se a tentar construir um dirigível de 45 metros de comprimento e 1200 quilos de peso, o “Santa Cruz”, que jamais levantará voo.  Fome e, por arrasto, a tuberculose. Nos primeiros dias de 1905, no Teatro Lírico, numa sessão de homenagem a Santos Dumont, ao iniciar o seu discurso de saudação ao aviador, Patrocínio sofre uma hemoptise e cai para o lado. Morrerá dias depois, a 30 de Janeiro. 

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* * *   A 13 de Maio de 1898, já depois de assinada a Lei Áurea, quando José do Patrocínio era delirantemente aclamado pela multidão, disse-lhe o seu amigo José Marques:  - Que belo dia para morreres, Patrocínio!  Piada macabra? Sem dúvida! Mas se fosse um certeiro vaticínio poupar-se-iam 17 anos de inglório sofrimento a José do Patrocínio, o Tigre da Abolição...