79
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em Curitiba (1860- 1908) CURITIBA 2011

JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em Curitiba (1860-1908)

CURITIBA 2011

Page 2: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

MILENA WOITOVICZ CARDOSO

JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em Curitiba (1860-1908)

Monografia apresentada ao curso de Licenciatura e Bacharelado em História do setor de Ciências Humanas Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná, como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em História.

Orientadora: Prof.ª Drª. Roseli Boschilia.

CURITIBA 2011

Page 3: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

MILENA WOITOVICZ CARDOSO

JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em Curitiba (1860-1908)

Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciado e Bacharel em História pelo Departamento de História do Setor de Ciências Humanas,

Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná, pela Banca Examinadora formada pelos professores:

Profª Orientadora:____________________________________________

Roseli Boschilia ____________________________ ____________________________ Profª Joseli Mendonça Profª Ana Paula Vosne Martins

CURITIBA, 27 de junho de 2011.

Page 4: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

A minha família que sempre me apoiou, incentivou e ajudou nessa pesquisa. A todos que me auxiliaram nessa empreitada.

Page 5: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha orientadora Professora Doutora Roseli Boschilia por ter me

auxiliado nessa jornada e ao CNPq por ter concedido Bolsa de Iniciação Científica

pelo projeto “Imigração, Cultura e identidade: portugueses em Curitiba (final do

século XIX e início do XX)”.

A Manoela Woitovicz Cardoso, Celina Fiamoncini, Giseli Cristina dos Passos,

Aleyse Trindade, Paulo Romanowski e a todos que colaboraram na pesquisa na

busca de fontes, informações e ao me incentivar.

A Victor Eduardo Pauliv, que leu, corrigiu, sugeriu e contribuiu para que o

trabalho tivesse o texto que agora se apresenta.

A minha família, por me acompanhar nos momentos difíceis e por seu apoio

incondicional.

Page 6: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

RESUMO Essa pesquisa enfoca a trajetória do imigrante português José Fernandes Loureiro,

que se radicou em Curitiba na segunda metade do século XIX. Ele foi comerciante,

constituiu laços familiares e estabeleceu relações sociais, econômicas e culturais

nessa cidade. Com isso tudo, para a realização desse estudo foi feita a

contextualização da imigração portuguesa no Brasil e no Paraná. Posteriormente,

tratou-se do referencial teórico, enfocando a História Cultural com base nas

discussões realizadas por Peter Burke e Ronaldo Vainfas, para então mencionar a

micro-história considerando os estudos de Giovani Levi, Jacques Revel e Ronaldo

Vainfas. Em virtude do trabalho se centrar em uma trajetória de vida, foi mostrado

argumentações sobre o uso da biografia nos estudos de História realizadas por

Pierre Bourdieu, Giovanni Levi, Sabina Loriga, François Dosse e Vavy Pacheco

Borges. Então, analisaram-se as três esferas (econômica, familiar, sociocultural) nas

quais José Fernandes Loureiro se inseriu, ou seja, a análise das fontes (o periódico

“O Commercio”, o testamento de José Fernandes Loureiro, e entre outros

documentos) e suas evidências sob a luz das discussões antes apresentadas.

Palavras-chave: imigração portuguesa; micro-história; História do Paraná.

Page 7: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 7

1 PANORAMA DA IMIGRAÇÃO PORTUGUESA NO SÉCULO XIX ............................ 13 1.1 IMIGRAÇÃO PORTUGUESA NO BRASIL ............................................................... 13 1.2 IMIGRAÇÃO PORTUGUESA NO PARANÁ ............................................................. 20 2 A BIOGRAFIA NA HISTÓRIA .................................................................................... 24 2.1 A HISTÓRIA CULTURAL ......................................................................................... 24 2.2 A MICRO-HISTÓRIA ................................................................................................ 29 2.3 O USO DA BIOGRAFIA NA HISTÓRIA.................................................................... 32 3 JOSÉ FERNANDES LOUREIRO ................................................................................ 38 3.1 VIDA EMPRESARIAL............................................................................................... 39 3.2 VIDA PRIVADA ........................................................................................................ 42 3.3 VIDA PÚBLICA ......................................................................................................... 46 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 50 FONTES ......................................................................................................................... 53 REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 56 ANEXOS ........................................................................................................................ 61

Page 8: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

7

INTRODUÇÃO

O presente estudo enfoca a trajetória do imigrante português José Fernandes

Loureiro, que se radicou em Curitiba na segunda metade do século XIX. José

Fernandes Loureiro era conhecido como José Nabo, foi comerciante, constituiu

família e estabeleceu relações sociais, econômicas e culturais na capital

paranaense.

Disso surge uma importante questão: por que enfocar esse imigrante em

especial? Ocorre que José Fernandes Loureiro, como muitos outros imigrantes

portugueses, vindos da região Norte, saiu de seu país em busca de um futuro

melhor. A partida dos portugueses dessa região, segundo Eulália Maria Lahmeyer

Lobo, foi causada pela multiplicação das pequenas áreas de região agrícola que

tiveram sua superfície reduzida em cada unidade.1 Ou seja, havia muitos

camponeses e poucos locais agriculturáveis. No mesmo sentido, Herbet S. Klein

relata que os emigrantes saíam de distritos superpopulosos.2

Grande parte dos imigrantes portugueses pretendia conquistar prosperidade,

para comprar uma propriedade em seu país de origem e, assim, voltar a esse. Tal

propósito nem sempre era alcançado, mas influenciava os lusitanos fixados no Brasil

a enviar poupanças às famílias, como menciona Miriam Halpern Pereira.3 Isso

porque vinham sozinhos, deixando seus familiares em Portugal.

Assim, esses imigrantes visavam se fixar no meio urbano atuando

principalmente no comércio, bem como, trabalhando como puxadores de carrinhos

de transportes, nos bondes (como motorneiros, condutores, cobradores e fiscais),

nas ferrovias, nas companhias de navegação, nas lavanderias e na costura, como

afirma Lobo.4 A autora ainda ressalta a ocupação ocupada por portugueses: caixeiro

e caixeiro viajante, que dormiam na casa comercial.

Ao conseguir certa estabilidade no Brasil, os portugueses procuravam se

1 LOBO, Eulália Maria Lahmeyer. Imigração portuguesa no Brasil. São Paulo: Hucitec, 2001.

(Estudos Históricos; 43). p. 18. 2 KLEIN, Herbet S. A integração social e económica dos imigrantes portugueses no Brasil nos finais

do século XIX e no século XX, Análise Social, Lisboa, v. xxviii (121), p. 237-238, 2. sem.1993. Disponível em: <http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1223290545Z8cUY2rh7Lu99TE5.pdf>. Acesso em: 14 dez. 2010. 3 PEREIRA, Miriam Halpern. A política portuguesa de emigração (1850-1930). Revisão técnica de

Maria Helena Ribeiro da Cunha. Bauru (SP); Portugal: Edusc; Instituto Camões, 2002. (Coleção História). p. 19. 4 LOBO, op. cit., p. 33; 39.

Page 9: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

8

casar, preferindo que a escolhida tivesse alguma ascendência lusitana, pois eram

poucas as mulheres portuguesas que imigravam, impossibilitando o estabelecimento

de laços exclusivos entre portugueses.5 E também procuravam se associar, pois

consideravam que quem não tivesse vida associativa significava que a pessoa não

teria ascendido na vida.6

Tendo isso em vista, procurou-se delinear o percurso de José Fernandes

Loureiro em Curitiba baseada na seguinte problemática: Quais os mecanismos que

esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade?

O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos da primeira

década do século XX7, em especial o jornal “O Commercio”. Desse, foram

levantados 290 números referentes aos anos 1900 e 1908-1909. A maior parte dos

exemplares pesquisados é do ano de 1900 (perfazendo num total de 240 números).

Os números referentes ao ano de 1900 (março a dezembro) 8 foram consultados por

meio do acervo de microfilmes disponíveis na Biblioteca Pública do Paraná, na sua

Divisão Paranaense. Pelos números pesquisados nota-se que a periodização do

jornal é de segunda a sábado.

Ressalta-se que a partir dos números 142 ao 240 foram consultados os

exemplares do jornal presentes no acervo da biblioteca do Círculo de Estudos

Bandeirantes (C.E.B), instituição ligada à Pontifícia Universidade Católica do

Paraná.9 Tais exemplares em geral, apresentam bom estado de conservação.

Encontram-se encadernados em capa dura e organizados seguindo a ordem

cronológica.

A respeito dos exemplares dos anos 1908-1909, foram consultados os

microfilmes disponíveis na Biblioteca Pública do Paraná, locados na divisão

5 SILVA, Maria Betriz Nizza da. Introdução. In:_____. Documentos para a história da imigração

portuguesa no Brasil: 1850-1938. Rio de Janeiro: Federação das Associações Portuguesas e Luso-brasileiras; Editorial Nórdica, 1992. p. XXIV; FLORENTINO, Manolo; MACHADO, Cacilda. Ensaio sobre a imigração portuguesa e os padrões de miscigenação no Brasil (séculos XIX e XX). Portuguese Studies Review, Trent (Canadá), 2002, v. 10, n. 1, p. 80. Disponível em: <http://www.trentu.ca/admin/publications/psr/sample/1012.pdf>. Acesso em 16 dez. 2010. 6 LOBO, 2001, p. 98.

7 Os jornais da segunda metade do século XIX foram analisados no seguinte trabalho: FIAMONCINI,

Celina. Imigração, cultura e identidade: portugueses e o comércio em Curitiba no final do século XIX. 81f. Monografia (Curso de Licenciatura e Bacharelado em História)- setor de Ciências Humanas Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2008. 8 O jornal começou suas atividades em 24 de fevereiro de 1900. A partir de 1 de março de 1900 ele

passou a ser diário, não circulando aos domingos. Algumas vezes não é possível visualizar a integralidade do jornal por estarem faltando colunas e/ou a encadernação do periódico, base da microfilmagem, não permitir vislumbrar as informações das colunas que ficaram no meio da encadernação conforme dado presente no próprio microfilme 9 O acervo não contém os exemplares referentes aos números 213, 233, 235, 237.

Page 10: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

9

supramencionada. A maioria dos microfilmes apresentava estado ruim de leitura dos

exemplares encontrados, contendo rasuras e cortes.10 Todos os números

disponíveis foram fotografados para que fosse possível a análise e categorização

dos dados obtidos.11 Com as evidências trazidas por essa fonte, constatou-se o

predomínio dos anúncios da loja de propriedade de José Fernandes Loureiro. Nota-

se a influência desse imigrante na sociedade local.

Em seguida, buscaram-se documentos na Junta Comercial do Paraná relativos

ao estabelecimento mercantil de Loureiro. Nada significativo foi encontrado, então se

consultou o acervo do Arquivo Nacional do Rio de Janeiro12 através de seu site,

sendo localizado o contrato social da sociedade Fernandes, Loureiro e Cia dos anos

1886 e 1890. Cada um contém cerca de 8 páginas em bom estado de conservação

e estão encardenados em um livro de brochura de capa dura. Trata-se de

documentos manuscritos com indicações de trâmites institucionais, que foram

fotografados e transcritos.

Para saber a amplitude de sua atuação comercial, foram consultados os livros

contábeis da sociedade Fernandes, Loureiro e Cia13, disponíveis no acervo da

biblioteca do C.E.B.14 Os livros não estão catalogados e não apresentam ordenação

cronológica entre eles. Totalizam em torno de 271 livros de diferentes formatos,

sendo que dentre eles se encontram livros diários, balanços, bloco de recibos, bloco

de emissão de faturas, bloco de remessa de mercadorias, livros que contém os

nomes dos clientes e seus respectivos pedidos, livros nos quais era anotada a

correspondência remetida pelo responsável do Armazém localizado em Antonina,

que pertencia à sociedade.15 Pelo que foi consultado, o acervo de livros contábeis

compreende o período de 1870 a 1909. Foram selecionados para o presente estudo

10

Apesar de não conter abaixo do seu título a referência de ser propriedade da Associação Commercial do Paraná, considera-se que esse jornal é o projeto contínuo do anterior. Isso porque, no último número de 1900, menciona-se a suspensão da publicação do jornal até a nova diretoria, ao reorganizar o serviço tipográfico, decida pelo seu reaparecimento. 11

As fotografias realizadas enfocam as notícias relevantes ou que implicitamente fossem relacionados a imigrantes portugueses. 12

ARQUIVO NACIONAL. Atendimento a Distância. Disponível em: <http://www.arquivonacional. gov.br/ cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=519&sid=8>. Acesso em: 10 mar. 2011. 13

Essa sociedade era formada por José Fernandes Loureiro, Manoel de Ascenção Fernandes e Alfredo Fernandes Loureiro. Todos eram portugueses, conforme se identificou na tabela organizada por Giseli Cristina dos Passos com as informações do “Livro de matrícula de sócios da Sociedade Portuguesa Beneficente 1º de Dezembro”. 14

Provavelmente doação de um de seus fundadores (José Loureiro de Ascensão Fernandes) neto de José Nabo. 15

Nesse último caso encontram-se os nomes dos navios, dos produtos importados, dos produtos estocados.

Page 11: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

10

os 7 livros de balanço encontrados, nos quais são listados os produtos presentes no

estoque, sua quantidade, seu valor unitário e total, além da lista de devedores.

Esses últimos livros foram fotografados e correspondem aos anos 1879, 1884, 1889,

1891, 1899, 1900 e 1903. A maioria deles possui bom estado de conservação,

sendo que poucos possuem páginas manchadas, ilegíveis ou rasuradas.

Percebeu-se que essas fontes apresentavam o perfil dos clientes, mas pouco

indicavam sobre a vida privada, familiar do proprietário. Assim, com base nas

informações no artigo de autoria de Rosy de Sá Cardoso16 procuraram-se dados

sobre os vínculos familiares de José Fernandes Loureiro no assento de seu

casamento, no livro Genealogia Paranaense, na carta escrita por um de seus netos

em resposta a uma reportagem publicada no Jornal O Dia e no seu testamento.

O assento do casamento de José Fernandes Loureiro foi consultado no livro

número 9 de assentamentos de casamentos, dos registros da Catedral Basílica de

Curitiba. Esse livro possui capa dura e indicação na capa dos anos que são

registrados em seu interior. O respectivo termo foi fotografado e transcrito em

documento em formato “Word”.

Ao se consultar o livro Genealogia Paranaense17, em especial o volume 5,

encontrou-se a referência a José Fernandes Loureiro e a sua família. Tal pesquisa

foi facilitada por se dispor do “Índices Genealógicos Brasileiros: Genealogia

Paranaense, de Negrão” 18. Os exemplares consultados fazem parte do acervo da

biblioteca do C.E.B. e apresentam bom estado de conservação. As passagens

consideradas relevantes foram fotografadas para análise.

A referida carta é um documento manuscrito por José Loureiro de Ascensão

Fernandes, que atualmente pertence ao acervo do Museu de Arqueologia e

Etnologia da Universidade Federal do Paraná (MAE-UFPR). Esse documento

apresenta bom estado de conservação.

O testamento foi encontrado no processo de inventário de Loureiro, sendo

parte do acervo do Arquivo Público do Paraná. O processo foi fotografado e

transcrito, sendo importante ressaltar que esse se iniciou com a juntada do

testamento feito à mão por José Fernandes Loureiro. O testamento pode ser lido em

16

CARDOSO, Rosy de Sá. A Rua José Loureiro e o ilustre José Nabo: português movimentava capital paranaense no final do século 19. Gazeta do Povo, Curitiba, 2 jan. 2005. Caderno G, memória. 17

NEGRÃO, Francisco. Genealogia paranaense. v. 5. Curitiba: Impressora Paranaense, 1946. 18

MOYA, Salvador de. Índices Genealógicos Brasileiros: Genealogia Paranaense, de Negrão. Suplemento da revista Genealógica Latina. São Paulo: [s.n.], 1961.

Page 12: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

11

quase sua integralidade, sendo prejudicada a leitura do texto próximo às margens

direita e inferior, devido ao estado de conservação do documento. O que era legível

foi transcrito para um documento em formato “Word”. Essa fonte apresenta os bens

acumulados por esse imigrante, havendo significativa doação a Santa Casa de

Misericórdia de Curitiba.

Para encontrar a existência de vínculos anteriores entre José Nabo e a Santa

Casa de Misericórdia, consultou-se os relatórios da Santa Casa de Misericórdia de

Curitiba e o livro Memória da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba. Os relatórios

da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba foram consultados a partir do volume

encadernado disponível no acervo da Biblioteca do C.E.B., sendo cronologicamente

ordenado e nem todos os anos são contemplados. Esses se encontram com páginas

envelhecidas pela ação do tempo, entretanto isso não prejudica a leitura. O livro

Memória da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba19 foi consultado na mesma

biblioteca e apresenta bom estado de conservação, tendo folhas amareladas pela

ação do tempo. As passagens que possuíam alguma referência ao personagem

estudado foram fotografadas.

A respeito das relações de sociabilidade de José Fernandes Loureiro junto à

sociedade curitibana, utilizaram-se os documentos na Sociedade Portuguesa

Beneficente Primeiro de Dezembro, informação sobre as lojas de maçonaria em

Curitiba e o livro Curiosidades Históricas da Irmandade de Nossa Senhora da Luz

dos Pinhais da Vila de Curitiba. Os documentos da Sociedade Portuguesa

Beneficente 1º de Dezembro foram consultados principalmente o livro de sócios, a

partir da tabela organizada por Giseli Cristina dos Passos.20 As informações sobre

as lojas maçônicas foram obtidas na internet, sendo disponibilizadas listas dos

participantes das lojas e dos fundadores dessas que foram copiadas em arquivo

formato “Word”.21 Ainda, deve-se discorrer sobre o livro “Curiosidades Históricas da

Irmandade de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais da Vila de Curitiba”, de autoria de

19

NEGRÂO, Francisco. Memória da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba (1842-1932). Curitiba: Empresa Gráfica Paranaense, 1933. 20

PASSOS, Giseli Cristina dos. A presença dos imigrantes portugueses no Paraná na segunda metade do século XIX. 63 f. Monografia (Curso de Licenciatura e Bacharelado em História) – Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2009. 21

MUSEU MAÇÔNICO PARANAENSE. Loja Apostolo da Caridade nº 0.344. Disponível em: <http://www.museumaconicoparanaense.com/MMPRaiz/MMP_ImagensAbertura/Loja_antigas_no_PR/Loja_0344/Historico_Loja_0344.htm>. Acesso em: 18 maio 2010.

Page 13: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

12

Nely Lidia Valente Almeida.22 Esse foi consultado na biblioteca do C.E.B. Trata-se de

um livro encadernado em capa-dura, com paginação irregular e dividido em duas

partes. Na primeira é transcrito e analisado o livro de Compromisso da Irmandade,

datado de 1741; enquanto na segunda é transcrito o livro que reúne os nomes dos

associados (denominados irmãos), data de associação, valor pago e, em caso de

ser mulher, a indicação do nome de seu marido. O livro encontra-se em bom estado

de conservação e as passagens relevantes para o presente trabalho foram

fotografadas.

Por intermédio das informações colhidas nas fontes, perceberam-se as três

inserções (econômica, familiar e sociocultural) que os imigrantes portugueses

estabeleciam na sociedade receptora. No caso desse trabalho, pode-se resumir

assim: José Fernandes Loureiro atuou no comércio; casou-se com uma

descendente de portugueses, neta de um importante capitalista da erva-mate;

estabeleceu vínculos sociais e culturais na cidade de Curitiba, como muitos outros

imigrantes lusitanos.

Com isso tudo, para a realização desse estudo foi feita a contextualização da

imigração portuguesa no Brasil e no Paraná que está apresentada no primeiro

capítulo.

O segundo capítulo tratou do referencial teórico, enfocando a História Cultural

com base nas discussões realizadas por Peter Burke e Ronaldo Vainfas, para então

mencionar a micro-história considerando os estudos de Giovani Levi, Jacques Revel

e Ronaldo Vainfas. Em virtude do trabalho se centrar em uma trajetória de vida,

foram mostradas argumentações sobre o uso da biografia nos estudos de História

realizadas por Pierre Bourdieu, Giovanni Levi, Sabina Loriga, François Dosse e Vavy

Pacheco Borges.

O terceiro capítulo discorre sobre as três esferas (econômica, familiar,

sociocultural) nas quais José Fernandes Loureiro se inseriu. Ou seja, a análise das

fontes e suas evidências sob a luz das discussões apresentadas nos capítulos

antecedentes.

E por fim, foram expostas as considerações finais.

22

ALMEIDA, Nely Lidia Valente. Curiosidades Históricas da Irmandade de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais da Vila de Curitiba. [Curitiba]: [s.n.], 1975.

Page 14: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

13

1 PANORAMA DA IMIGRAÇÃO PORTUGUESA NO SÉCULO XIX

Nesse capítulo será realizado o diálogo com os autores cuja produção

historiográfica apresenta importantes características da imigração portuguesa

durante o século XIX. Assim, no primeiro momento se discutirá a imigração

portuguesa no Brasil em que são significativos os estudos realizados por autores

portugueses e brasileiros como Miriam Halpern Pereira, Eulália Maria Lahmeyer

Lobo, Amado Luiz Cervo, Maria Beatriz Nizza da Silva, Lená Medeiros Menezes,

Roseli Boschilia, Ana Silvia Volpi Scott, Herbet S. Klein, Ismênia Martins, Manolo

Florentino, Cacilda Machado e entre outros. Para então, na sequência traçar um

panorama da imigração portuguesa no Paraná com principal ênfase a historiadores

locais, sem desconsiderar os trabalhos que tratam de aspectos relevantes sobre o

tema no território paranaense.

1.1 IMIGRAÇÃO PORTUGUESA NO BRASIL

Para se iniciar sobre o assunto, observa-se que houve um longo período de

ausência de estudos sobre o papel da emigração portuguesa na formação do Brasil

independente, devido associar a presença portuguesa à época colonial, como

menciona Miriam Halpern Pereira.23

No mesmo sentido, Eulália Maria Lahmeyer Lobo destaca que a produção

historiográfica se concentra na época dos descobrimentos até a independência do

Brasil, período em que o português desempenhava papel hegemônico nesse país e

provia os quadros intelectuais, administrativos, religiosos e militares, praticamente

monopolizando a propriedade da terra, controlando o comércio e o artesanato.24

Mas a imigração lusitana em terras brasileiras não deve ser ignorada, pois,

segundo Maria Beatriz Nizza da Silva, no Brasil existe uma “tradição” cultural

portuguesa ligada aos séculos de presença portuguesa, primeiro como

23

PEREIRA, 2002, p. 7. 24

LOBO, 2001, p. 11.

Page 15: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

14

colonizadores, depois como assimilados (e por isso tolerados) e finalmente como

imigrantes.25

O que motiva esses sujeitos a sair de seu país natal? O que eles pretendiam

alcançar no local em que se fixavam? Qual o perfil desses imigrantes? A essas

questões que se pretende abordar no presente tópico.

A emigração em Portugal é fenômeno social muito antigo que adquiriu novas

características no decorrer do século XIX, tendo sido responsável por equilibrar a

oferta de mão de obra camponesa não absorvida pelo crescimento industrial

nacional. Nesse período havia também a necessidade de força de trabalho devido

ao fim da mão de obra escrava. Tais fatores favoreceram que muitos portugueses se

dirigissem ao Brasil, sendo que nessa ocasião se tornaram uma importante fonte de

trabalhadores e não mais como funcionários dos quadros administrativos e

econômicos da Metrópole como ocorria no período colonial.

Importante dizer que a não absorção desses camponeses ocorria devido à

superpopulação nas regiões não urbanas, ao progresso tecnológico, à escassez de

terras e ainda por causa das crises de carestia e fome.

No Brasil, essa movimentação dos portugueses para o país estava inserida

no contexto da política imigratória brasileira que visava estimular a imigração livre.

Segundo Amado Luiz Cervo, essa era considerada, pelo Parlamento e pelo

Governo, como a opção para o suprimento de mão de obra a cargo do tráfico de

escravos.26

Mas o estímulo à imigração lusitana para o Brasil não teve tratamento legal ou

diretriz política especial, tanto que, até uma década após a Independência Brasileira

não havia um posicionamento oficial nos diversos órgãos dos governos dos dois

países.

Pereira afirma que os imigrantes portugueses dos séculos XIX preferiam os

países americanos, principalmente o Brasil, ao continente africano. A preferência

pela antiga colônia portuguesa era favorecida pela difusão da imagem do Brasil

como uma terra de fortuna fácil, uma vez que muitos emigrantes lusitanos

25

SILVA, 1992, p. XVI. 26

CERVO, Amado Luiz. A Imigração portuguesa para o Brasil entre 1825-1889. In: ______; CALVET DE MAGALHÃES, José; ALVES, Dário Moreira de Castro (orgs. e apresentação). Depois das caravelas: as relações entre Portugal e Brasil (1808-2000). Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2000. p. 135-136.

Page 16: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

15

objetivavam apenas enriquecer e retornar ao país natal.27 Embora a preferência dos

emigrantes fosse vir para o Brasil, o governo português preferia enviar seus

excedentes populacionais para as colônias africanas visando construir um “outro

Brasil” colonial, ou seja, conseguir afluência de riquezas a essa Metrópole.

Dessa maneira não havia por parte do governo português nenhuma restrição

à emigração, tanto que esse fenômeno era previsto na legislação do país. Entretanto

leis feitas em 1855 e 1863 estabeleceram requisitos para a concessão do

passaporte de saída28, sendo possível perceber a intenção de regular a emigração

de Portugal.

A atitude do governo português reflete a conjuntura de que muitos de seus

nacionais emigravam visando o Brasil como destino, algo que não atendia seus

interesses, contavam com o apoio da antiga colônia. Era importante para Portugal

promover as colônias africanas a ser um novo “Brasil colonial”, manter as divisas

provenientes do território brasileiro e conciliar isso tudo com as necessidades de

mão de obra da burguesia agrária e industrial local, que se interessava na existência

de certo excedente de mão de obra para seus custos continuarem baixos.

Realmente o Brasil dava suporte ao recebimento de imigrantes objetivando

assim a ocupação demográfica e econômica dos espaços considerados vazios no

seu território. Entretanto, a vinda de portugueses não era bem vista, pois Portugal

era um dos países mais atrasados da Europa, esses imigrantes chegavam sem

capital e apenas se dedicavam aos negócios, e após juntarem dinheiro, retornavam

ao seu país.

Esse comportamento de acumular capital para retornar é decorrente do

imaginário dos portugueses de que a emigração era temporária e possibilitaria

acumular riqueza que permitisse a alteração do estatuto social que possuía em

Portugal. Pois, conforme relata Pereira, a sociedade portuguesa era hierarquizada e

com pequena mobilidade social sendo que a expatriação se apresentava como

instrumento de promoção social.29

Isso permite vislumbrar a mitologia da fortuna e retorno que a maioria dos

portugueses que saiam desejava alcançar. Eles partiam para enriquecer e, caso o

27

PEREIRA, 2002, p.11-12. 28

LEITE, Joaquim da Costa. O Brasil e a emigração portuguesa, 1855-1914. In: FAUSTO, Boris (org.). Fazer a América: A Imigração em Massa para a América Latina. São Paulo: Ed. Universidade de São Paulo, 1999. p. 179 29

PEREIRA, op. cit., p. 45.

Page 17: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

16

imigrante fracassasse, isso era o resultado de sua incapacidade e não da mudança

do estatuto do português no Brasil. Já que o português era mais uma força de

trabalho e não ocupava os cargos de administração que antes lhes eram conferidos

durante o Brasil Colônia.

Com essa perspectiva se associava o retorno com a melhoria de vida. Ocorre

que, como Pereira assevera, a realidade histórica mostra a existência de dois tipos

de retorno a Portugal: o retorno resultante de ascensão econômica e o retorno do

emigrante que não fez fortuna.30

Essa realidade mostra que nem sempre o mito do retorno correspondia ao

regresso da população emigrante. Entretanto, essa ideia era um dos fatores que

justificava o envio de poupanças as famílias, sendo necessário a sua desintegração

geográfica para ocorrer o fluxo de remessas. Essas remessas equilibravam a

balança de pagamentos do Estado e ocultava a subordinação externa desse

fazendo com que a emigração fosse um fenômeno persistente. 31

Para alcançar esses objetivos, onde os imigrantes portugueses procuravam

se fixar no país de destino?

No Brasil, devido ao acesso à propriedade, os imigrantes portugueses livres32

optavam pelos empregos urbanos, trabalhando principalmente no comércio e nos

transportes. Os lusitanos também trabalhavam como pedreiros, carpinteiros,

mineiros e artesãos. Normalmente, os que se instalavam no meio urbano

conseguiam uma melhora da sua situação econômica, não significando que fizesse

fortuna.

Segundo Joaquim da Costa Leite, um português no Rio de Janeiro poderia

triplicar o salário que recebia pelo mesmo trabalho que desempenhava em sua terra.

Descontadas as despesas para sua subsistência, esse imigrante facilmente poderia

poupar o valor equivalente ao salário que conseguia em Portugal.33 Obviamente

esse valor não alcançaria a altas quantias de imediato.

Essa preferência dos imigrantes portugueses pelo comércio é evidenciada por

muitos autores. Lená Medeiros Menezes relata que

30

PEREIRA, 2002, p. 50-51. 31

Ibid., p. 18-19; 55; 111. 32

Havia também os imigrantes engajados, que saíam de Portugal com contrato de trabalho e/ou destino definido. 33

LEITE, 1999, p. 187.

Page 18: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

17

Falar da imigração portuguesa significa mergulhar em um espaço privilegiado: o do comércio, destino mistificado para todos aqueles que acalentavam sonhos de promoção social no além-mar. Nesse espaço significava, ainda, privilegiar dois atores principais do drama cotidiano: negociante e o caixeiro, figuras emblemáticas que se fizeram presentes no espaço urbano ao longo de todo o processo de urbanização. À medida que expandiu a malha urbana, o comércio português a varejo acompanhou esse crescimento tornando o português da esquina referência obrigatória.

34

Como apresentado, os portugueses tinham papel de destaque no comércio,

sobretudo desenvolvendo a atividade de caixeiro e caixeiro viajante. Tanto que uma

parcela de imigrantes lusos na cidade de São Paulo exercia essa função como

menciona Sênia Bastos.35 Fato também percebido por Silva, ao analisar as

profissões dos sócios da Sociedade Portuguesa de Beneficência em São Paulo, na

qual 29,2% eram caixeiros, e da Caixa de Socorros Dom Pedro V no Rio de Janeiro,

que, em 1867, 25% dos associados eram caixeiros.36 Em virtude desse destaque,

Lobo relata que as melhorias nas condições de trabalho conseguidas pelas

organizações de caixeiros e empregados no comércio no Rio de Janeiro e Salvador

nas duas primeiras décadas do século XX refletiram nacionalmente por causa da

influência portuguesa no comércio se estender aos vendedores ambulantes que a

maior parte era lusitana.37

Ainda, Roseli Boschilia afirma que os portugueses chegavam ao Brasil de

modo espontâneo e preferiam o espaço urbano para se fixarem, atuando no

comércio e serviços.38 Sendo que a atuação no comércio ocorria em vários ramos de

atividades com predominância para “fazendas e roupas feitas”, “comissões e

descontos” e “secos e molhados” como apontaram os estudos realizados por Lená

34

MENEZES, Lená Medeiros Jovens portugueses: histórias de sucesso, histórias de trabalho, histórias de fracasso. In: GOMES, Ângela de C. (org.) Histórias de imigrantes e de imigração no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Sette Letras, 2000. p 164 apud MATOS, Maria Izilda Santos de. Entre o lar e o balcão: mulheres imigrantes (São Paulo/Brasil 1890-1950) In: Congresso Internacional A vez e a voz das mulheres Imigrantes portuguesas, 2., 2005, Berkeley. [Livro de resumos]. [Berkeley]: s.n., 2005, p. 37. 35

BASTOS, Sênia. Negociantes e caixeiros na cidade de São Paulo em meados do século 19. In: MATOS, Maria Izilda S. de; SOUSA, Fernando de; HECKER, Alexander. Deslocamentos e história: os portugueses. Bauru, SP: Edusc, 2008. (Coleção Ciências Sociais). p. 136. 36

SILVA, Maria Betriz Nizza da. Atividades várias. In: SILVA, 1992, p. 48. 37

LOBO, 2001, p. 40. 38

BOSCHILIA, Roseli. A sociedade portuguesa em Curitiba: um projeto identitário (1878-1900). In: MATOS; SOUSA; HECKER, 2008, p.345.

Page 19: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

18

Medeiros de Menezes e Paula Leitão Cypriano que analisaram os registros do

Tribunal de Comércio da Capital do Império referentes ao período de 1851 a 1870.39

Segundo as autoras, “fazendas e roupas feitas” se refere a fazendas, roupas

feitas e a produção de fios, seda ou lã. Enquanto o “comissões e descontos” é

relacionado com atividades de transações financeiras como câmbio e seguros. A

última categoria trata de venda de gêneros alimentícios sólidos e líquidos,

normalmente ocorrida nos estabelecimentos conhecidos como armazéns.40

Destaque-se que o imigrante José Fernandes Loureiro atuava no ramo

“fazendas e roupas feitas”, vendia gêneros alimentícios, além de realizar certas

operações financeiras como empréstimo.

Além de traçar o perfil das ocupações mais frequentes entre os imigrantes, as

análises a respeito da imigração portuguesa destacam as áreas de origem desse

contingente. Segundo Eulália Maria Lahmeyer Lobo, a maioria dos imigrantes

lusitanos era originária das regiões do norte de Portugal, pois nessas as explorações

agrícolas se multiplicaram em números e reduziram-se em superfície de unidade.41

Em consonância a isso, Robertha Pedroso Triches observou que os

imigrantes portugueses “vinham principalmente das regiões interioranas e pobres do

norte de Portugal, com destaque para Minho, Douro, Beira Alta e Trás os Montes

{...}”.42

Acompanhando essa constatação, Herbet S. Klein relata que:

A maioria dos emigrantes portugueses eram provenientes dos distritos mais densamente povoados do continente. Assim, dos 1 306 501 portugueses que emigraram entre 1855 e 1914, 78% eram originários do continente. Deste total, 82% foram para o Brasil, 2% para a Argentina e 15%para os Estados Unidos. Se o Brasil era o principal destino dos emigrantes do continente, para as populações das ilhas a principal zona de emigração eram os Estados Unidos.

43

39

MENEZES, Lená Medeiros de; CYPRIANO, Paula Leitão. Imigração e negócios: comerciantes portugueses segundo os registros do Tribunal do Comércio da Capital do Império (1851-1870). In: MATOS; SOUSA; HECKER, 2008, p.109. 40

Ibid., p. 109-110. 41

LOBO, 2001, p. 18. 42

TRICHES, Robertha Pedroso. Identidades Contrastivas: a Inserção do Português na Primeira República. História, imagem e narrativas, [Rio de Janeiro], n. 5, ano 3, p. 4, set. 2007. Disponível em: <http://www.historiaimagem.com.br>. Acesso em: 23 dez. 2010. 43

KLEIN, 1993, p. 237-238.

Page 20: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

19

No que tange ao perfil desses imigrantes, cumpre ressaltar que eles eram, em

sua maioria, jovens, do sexo masculino que vinham para o Brasil solteiros ou

desacompanhados, conforme analisou, Ismênia Martins.44 Não desviando desse

perfil, Joaquim da Costa Leite divide esses imigrantes em três grupos: jovens

alfabetizados que desejavam um ofício e que tinham a emigração como carreira (o

grupo mais importante e persistente); homens adultos, normalmente casados, que

buscavam complemento de renda à família e regressavam a Portugal; e grupos

familiares que fugiam de crises e da pobreza local.45

Cabe considerar que até o final do século XIX era necessários recursos

consideráveis para que um sujeito emigrasse de Portugal para o Brasil conforme

menciona Ana Silvia Volpi Scott. Segundo essa historiadora, o perfil do emigrante

português que chegou a terras brasileiras ao longo dos anos oitocentos seria de um

jovem do sexo masculino, alfabetizado, oriundo de uma família que dispunha de

capital para as despesas de viagem e instalação no novo local e provavelmente teria

como destino a cidade do Rio de Janeiro.46 Pode-se dizer que esse imigrante seria

pertencente ao primeiro grupo da classificação elaborada por Leite, pois em ambos

há a relação de conhecimento escolar com a juventude dos sujeitos.

No final do século XIX e no início do século XX houve intenso fluxo de

imigrantes português com direção ao Brasil e nota-se que o perfil acima mencionado

se modifica. Nesse período houve eventualmente imigrantes portugueses que foram

beneficiados com subsídios uma vez que os proprietários necessitaram de mão de

obra para a lavoura de café. Assim, segundo Scott, os lusitanos que aqui chegavam

eram menos preparados, jovens que viajavam sozinhos, provenientes de camadas

sociais mais baixas.47 Aqui possivelmente se trata de portugueses pertencentes ao

grupo dos homens casados que buscavam aumentar a renda familiar.

Devido a esse panorama de presença de lusitanos predominantemente do

sexo masculino, Manolo Florentino e Cacilda Machado comentam que o imigrante

português procurava se casar com mulheres portuguesas; caso não lhes tivesse

disponível, escolhiam brasileiras brancas com origem lusa mais recente; e em último

44

MARTINS, Ismênia de Lima. Registro de imigrantes: estratégia de pesquisa. In: MATOS; SOUSA; HECKER, 2008, p.19. 45

LEITE, 1999, p.193-195. 46

SCOTT, Ana Silvia Volpi. As duas faces da imigração portuguesa para o Brasil. Paper apresentado ao Congresso de Historia Económica, Zaragoza, 2001. p. 24-25. Disponível em: <http:// www.unizar.es/eueez/cahe/volpiscott.pdf>. Acesso em 14 nov. 2010. 47

Ibid., p. 25.

Page 21: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

20

caso escolhiam a mulheres brancas dessa terra com alguma ascendência

portuguesa.48

Portanto, pode-se dizer que o que motivava os imigrantes portugueses a se

fixar no Brasil era a busca de oportunidades de se alcançar riquezas para então

retornar a sua terra tendo uma ascensão social; esses, em geral, eram jovens do

sexo masculino que partiam da região Norte de Portugal e que procuravam os

centros urbanos para conseguirem seus objetivos.

Assim, cabe delinear a imigração portuguesa no Paraná, assunto do próximo

item.

1.2 IMIGRAÇÃO PORTUGUESA NO PARANÁ

A presença de imigrantes portugueses em Curitiba não pode ser ignorada.

Isso porque, segundo Carlos de Almeida Prado Bacellar, no início do século XIX,

Curitiba representava a segunda maior colônia, em números absolutos, de

portugueses na então Província de São Paulo.49 A escolha da vila não era aleatória,

pois esses imigrantes preferiam vilas portuárias ou relacionadas a grandes rotas

comerciais, como era o caso de Curitiba.

Isso é exemplificado com o encaminhamento de colonos açorianos, em 1816,

para povoar o antigo pouso e registro fiscal do caminho das tropas, área que

constitui o atual território dos municípios de Rio Negro e Mafra.50 Esses colonos

foram instalados nessa região com o intuito de tornar seguro o caminho para os

tropeiros, evitando os ataques dos índios bravios das cercanias e os dos

bandoleiros.51

Com a Independência do Brasil se acentua a preocupação dos governantes a

respeito da necessidade de se ocupar o solo para garantir a soberania nacional e a

48

FLORENTINO; MACHADO, 2002, p. 80. 49

BACELLAR, Carlos de Almeida Prado. Os reinóis na população paulista às vésperas da Independência. In: Anais do XII Encontro Nacional de Estudos Populacionais da ABEP, Caxambu, 2000, v.1. Disponível em: <http://www.abep.org.br/>. Acesso em: 8 ago. 2010. p.6. 50

BALHANA, Altiva Pilatti. Imigração e colonização. In: ______; MACHADO, Brasil Pinheiro; WESTPHALEN, Cecília Maria. História do Paraná. Curitiba: Graphipar, 1969. v.I. p. 157. 51

WESTPHALEN, Cecília Maria; BALHANA, Altiva Pilatti. Portugueses no Paraná. In: LEITE, Renato Lopes. Cultura e poder: Portugal-Brasil no século XX. Curitiba: Juruá, 2003. p. 28.

Page 22: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

21

valorização econômica. Assim, a política imigratória passou a estimular a entrada de

novos contingentes populacionais, como mencionado no tópico anterior.

Até 1834 esse programa de colonização era de responsabilidade do Governo

Imperial, que nessa data delegou aos governos provinciais a promoção e estímulo

para estabelecimento de colônias. Essa concessão só surtiu efeito no Paraná após a

emancipação dessa província, em 1853.52

A partir de 1840, o objetivo principal da imigração no Brasil se orientou para o

fornecimento de mão de obra para agricultura, em especial o cultivo do café e não

mais exclusivamente para a ocupação de territórios. Situação diferente dessa ocorria

na área da província do Paraná na qual a política de imigração se destinava a atrair

pequenos proprietários produtores da lavoura de subsistência para se criar uma

agricultura de abastecimento, devido à inexistência de grandes propriedades rurais

que necessitassem de mão de obra assalariada em larga escala. 53

Para tanto, na década de 1870, as colônias agrícolas foram implantadas nas

proximidades dos centros urbanos com o objetivo de posicioná-las junto aos

mercados consumidores. Como é o caso da região entorno de Curitiba.

As colônias paranaenses tinham como principal componente étnico o eslavo,

em especial, poloneses e ucranianos54, havendo também a presença italiana, alemã

e holandesa.55 Esse afluxo de imigrantes alterou a composição da população

paranaense algo que não permite omitir a participação dos lusos na formação e

composição dessa população regional.56

Como se observa, não há indicação da presença portuguesa nessa política de

colonização empreendida no Paraná. Isso porque o fluxo migratório deles ocorreu

independentemente das subvenções que explicam a migração de outros europeus

para o Brasil.57

Segundo Klein, os portugueses se dirigiam para o sua ex-colônia pelo fato de

falarem a mesma língua, pelos laços históricos entre os países, pelos salários mais

elevados, pelas melhores oportunidades econômicas e por a comunidade comercial

52

BALHANA, 1969, p. 158. 53

Ibid., p. 159-162. 54

Ibid., p. 183. 55

NADALIN, Sérgio Odilon. Por uma ética do trabalho. colonização, imperialismo e liberalismo. a proposta de uma imigração de colonos brancos,”morigerados e laboriosos”. In:______. Paraná: ocupação do território, população e migrações. Curitiba: SEED, 2001. (Coleção História do Paraná; textos introdutórios). p. 79. 56

WESTPHALEN; BALHANA, 2003, p.31. 57

KLEIN, 1993, p. 242.

Page 23: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

22

brasileira conter como elemento a participação portuguesa. Devido à comunicação

estreita e aos contatos de longa data esses imigrantes conseguiam se integrar na

economia brasileira sem dificuldade.58

Os imigrantes portugueses encontravam essa situação em Curitiba, pois a

origem das famílias paranaenses do século XIX, segundo Cecília Maria Westphalen

e Altiva Pilatti Balhana, era predominantemente portuguesa, descendentes de

imigrantes avulsos oriundos de Portugal e de suas ilhas atlânticas.59

As referidas autoras mencionam as evidências trazidas pela “Genealogia

Paranaense”, organizada por Francisco Negrão, a saber: a maioria dos capitalistas

paranaenses, no final do século XIX até os anos iniciais do século XX, eram

portugueses;ou filhos/netos de portugueses; e se casaram com integrantes de

famílias tradicionais do Paraná.60

A partir desses dados, pode-se afirmar que os portugueses, estabelecidos

especialmente em Curitiba, eram bastante visíveis na economia e na sociedade

paranaense, impossibilitando ignorar ou minimizar sua presença.

Em consonância a isso, Roseli Boschilia afirma que, no Paraná, os

portugueses e seus descendentes ocupavam lugar importante no comércio e na

indústria .61

É notável, como já se mencionou, a atuação do imigrante português no

mercado urbano brasileiro. E a respeito do mercado curitibano, é importante

ressaltar que mais da metade dos estabelecimentos comerciais, anunciados entre

1854 e 1889 no jornal Dezenove de Dezembro, pertenciam a luso-brasileiros,

conforme relatam Westphalen e Balhana.62

Com base nos dados dos censos de 1872, de 1900 e de 1920, essas

historiadoras, afirmam que a emigração portuguesa no Paraná foi majoritariamente

masculina.

Esse desequilíbrio demográfico se reflete na maneira do imigrante formar sua

família, pois como já comentado no item anterior, segundo Florentino e Machado,

58

KLEIN, 1993, p. 242. 59

WESTPHALEN; BALHANA, 2003, p. 30. 60

Ibid., p. 34. 61

BOSCHILIA, 2008, p. 346. 62

WESTPHALEN; BALHANA, op. cit., p. 33.

Page 24: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

23

esse imigrante procurava uma esposa que tivesse alguma ascendência

portuguesa.63

Segundo Bacellar, no começo do século XIX, os portugueses visavam fazer

alianças com a sociedade local através do casamento. Grande parte desses

matrimônios se realizara com famílias da elite local e em inúmeras vezes ocorriam

casamentos múltiplos de vários irmãos.64

Com isso tudo, se retoma a trajetória de José Fernandes Loureiro. Nota-se

que ele se estabeleceu em Curitiba (um centro urbano), desenvolvia atividades

ligadas ao comércio e se casou com uma representante da elite local.

Mas esse trabalho não visa observar apenas as questões acima, e sim cruzar

dados e informações que possibilitem saber: quem era esse imigrante, o que teria

motivado sua saída da terra natal e, por fim, o que ele ambicionava ao se dirigir a

capital paranaense.

A problematização dessas questões exigiu uma reflexão de cunho teorico-

metodológico que possibilitasse acompanhar a trajetória desse imigrante.

Para tanto, foi necessário o diálogo com autores que refletem sobre a história

cultural e a micro-história, temas que serão discutidas no próximo capítulo.

63

FLORENTINO; MACHADO, 2002, p. 80. 64

BACELLAR, 2000, p.22.

Page 25: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

24

2 A BIOGRAFIA NA HISTÓRIA

É legítimo um trabalho histórico que se baseie em um estudo biográfico? A

trajetória de um grupo social pode ser entendida a partir da análise biográfica de um

de seus membros?

Essas questões representam o desafio que se pretende enfrentar no presente

trabalho. Isso porque a proposta é qualificar o perfil e entender os mecanismos de

inserção dos imigrantes portugueses que se radicaram em Curitiba na segunda

metade do século XIX, tendo como base o estudo da trajetória de José Fernandes

Loureiro, um desses imigrantes portugueses.

Assim, para a realização dessa análise foi necessário mergulhar no campo da

história cultural, procurando dialogar com autores cujas reflexões pudessem indicar

caminhos para a problematização do uso da biografia e da micro-história, corrente

historiográfica na qual essa questão se insere.

2.1 A HISTÓRIA CULTURAL

Um dos impasses com o qual o historiador se depara ao optar pela história

cultural é o caráter difuso desse campo, pois segundo Peter Burke não existe

consenso a respeito dos objetivos e métodos desse tipo de história.65 Para esse

historiador, a história cultural pode ser dividida em quatro fases: “clássica”; “história

social da arte”, iniciada na década de 1930; a descoberta da história da cultura

popular, ocorrida na década de 1960; e “nova história cultural”.66

Ressalta-se que a história cultural surgiu como uma alternativa à história

tradicional que tinha como objeto a política. Essa característica pode ser

vislumbrada na fase “clássica”, como se verá a seguir.

Nessa fase, entre os anos 1800 e 1950, ocorre o enfoque na cultura como

aparece nas obras “A cultura do Renascimento na Itália” (1890), do historiador Jacob

65

BURKE, Peter. História cultural: passado, presente e futuro. In:______. O Mundo como teatro: estudos de antropologia histórica. Lisboa: DIFEL, 1992. p. 15. 66

BURKE, Peter. A Grande tradição. In:_____. O que é história cultural? Tradução de Sérgio Goes de Paula. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. p. 15-16.

Page 26: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

25

Burckhardt, e “Outono da Idade Média” (1919), do historiador Johan Huizinga.

Assim, é válido ressaltar alguns pontos do pensamento desses intelectuais.

Jacob Burckhardt considerava a história como um campo em que interagiam

três forças: Estado, Religião e Cultura.67 Para ele, a cultura era o elemento dinâmico

da História.68 Explica-se:

a Cultura “corresponde às necessidades materiais e espirituais do homem no sentido mais estrito do termo necessidade”, constituindo o “cerne de tudo aquilo que se gerou espontaneamente em benefício da excelência material e como expressão da vida intelectual e moral do homem: ela inclui, portanto, todas as congregações, artes, técnicas, expressões literárias e ciências”.

69

Enquanto que Estado e Religião são “a expressão de necessidades políticas

e metafísicas”.70 Nota-se que a cultura é algo natural e espontâneo, fruto da ação

humana. Sendo que o historiador deve observar as três forças mencionadas, pois

cada uma delas interage com as outras, sendo preponderante o papel da Cultura por

representar a potência de movimento e exercer um papel crítico perante as outras

forças.71

Para Johan Huizinga, os problemas da cultura eram pensados como

indissoluvelmente ligados aos problemas da política. 72 Tanto que o desenvolvimento

da civilização, por ele chamado de desenvolvimento da cultura, “implicava o

equilíbrio entre as dimensões materiais, morais e intelectuais da vida social”.73

Cabe dizer que a história cultural, para Huizinga, teria como objetivo a

“descrição de padrões de cultura ou, por outras palavras ainda, pensamentos,

sentimentos e a sua expressão ou constituição em obras de arte e de literatura”.74

67

BURKE, Peter. O Antigo Regime na historiografia e seus críticos. In:______. A escola dos Annales (1929-1989): a revolução francesa da historiografia. Tradução de Nilo Odalia. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1997. p. 18-19. 68

CHAVES, Ernani. Cultura e política: o jovem Nietzsche e Jakob Burckhardt. Cadernos Nietzsche, São Paulo, n. 9, 2000. p.47. Disponível em: <http://www.fflch.usp.br/df/gen/pdf/cn_09_02.pdf >. Acesso em: 15 dez. 2010. 69

BURCKHARDT, Jacob. Weltgeschichtlichen Betrachtungen. Detmold-Hiddesen: Maximilian-Verlag, 1947. p.31 apud CHAVES, 2000, p. 47. 70

BURCKHARDT, 1947, p.31 apud CHAVES, 2000, p. 47. 71

LÖWITH, Karl. Burckhardt und Nietzsche In: Sämtliche Schriften, Band 7, Suttgart, J. B. Metzlerschen Verlagsbuch-handlung, 1984, p. 363 apud CHAVES, 2000, p. 48. 72

PAULA, João Antonio de. Lembrar Huizinga: 1872-1945, Nova Economia, Belo Horizonte, n. 15, jan.-abr.2005, p.143. Disponível em: <www.face.ufmg.br/novaeconomia/sumarios/v15n1/150106.pdf>. Acesso em: 15 dez. 2010. 73

Ibid., p. 146. 74

BURKE, 1992, p. 15.

Page 27: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

26

Ou seja, para esse autor, o historiador cultural deveria tentar revelar o espírito de

uma época.

Huizinga e Burckhardt, apesar de não terem posições idênticas75, tendiam a

tratar uma “época” como algo sólido e homogêneo, desconsiderando a mudança

dentro do período que estudaram, a variação regional e os contrastes entre as

culturas de diferentes grupos sociais. Nas duas obras mencionadas, está implícita a

ideia de que o historiador faz o “retrato de uma época”.76 Destaca-se que nesse

período, “os historiadores culturais concentravam-se na história dos clássicos, “um

cânone” de obras-primas da arte, literatura, filosofia, ciência e assim por diante.”77

Uma grande modificação na história cultural ocorreu nos anos 20 e 30 do

século XX, momento em que se discutiu sobre as formas de fazer ou de falar sobre

a história cultural, surgindo alternativas a esse tipo de história como os seguintes

cinco modelos citados por Burke78: o marxista79; o francês da história das

mentalidades80; o americano da história das ideias81; a abordagem de Warburg em

termos de tradição82; e a abordagem de Norbert Elias sobre o processo civilizador83.

Esses modelos têm em comum abordar a história por meio de novas

75

Os temas, figuras, sentimentos e estilos que se detiveram eram diferentes. (BURKE, 1992, p. 16) 76

BURKE, 2005, p. 16. 77

Ibid., loc. cit. 78

Ibid., p. 17. 79

Segundo Eric Hobsbawm, a maior contribuição de Marx para a História foi a sua tentativa de formulação de uma abordagem metodológica da história como um todo e considerando e explicando o processo da evolução humana (através dos modelos de produção). (HOBSBAWM, Eric. Marx e a história. In:______. Sobre história: ensaios. São Paulo: Cia. das Letras, 1998. p. 179; 181.) 80

Esse modelo surgiu dentro do movimento Escola dos Annales. Tal modelo tem como fundamento o conceito de mentalidade que, segundo Jacques Le Goff, é algo que muda mais lentamente. Isso restringe a atuação da história das mentalidades, pois não permite explicar momentos de mudanças rápidas já que, como afirma Le Goff, “a mentalidade não é reflexo”. (LE GOFF, Jacques. As mentalidades: uma história ambígua. In: ______; NORA, Pierre (direção). História: novos objetos. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1976. p. 70; 72; 78). 81

A história das ideias é definida por Robert Darnton como “o estudo do pensamento sistemático, geralmente em tratados filosóficos”. (DARNTON, Robert. História intelectual e cultural. In: ______. O beijo de Lamourette: Mídia, cultura e revolução. São Paulo: Cia. das Letras, 2010. p. 219). De forma geral pode-se dizer que a História das Ideias enfoca a linguagem como objeto de estudo. 82

Aby Warburg foi um historiador cultural interdisciplinar que tinha como foco de estudos a sobrevivência e a transformação da tradição clássica. (WARBURG, Aby. Imagens da região dos índios Pueblo da América do Norte. Concinnitas, Rio de Janeiro, ano 6, v. 1, n. 8, p. 9, jul. 2005. Disponível em: <http://www.concinnitas.uerj.br/resumos8/warburg.htm>. Acesso em: 15 dez. 2010.) 83

Elias procurou compreender como e por que a sociedade ocidental passou do padrão de civilidade para o de civilização.

(ELIAS, Norbert. O processo civilizador: uma história dos costumes. Rio de

Janeiro: Jorge Zahar, 1994. v.1. p. 77.) Segundo Landini, ele demonstrou que as mudanças nos costumes não são aleatórias e representam a relação da dinâmica psicológica com a dinâmica social, bem como a relação entre essa e a estrutura da personalidade.(LANDINI, Tatiana Savoia. A sociologia processual de Norbert Elias. IX Simpósio Internacional Processo Civilizador: tecnologia e civilização.Ponta Grossa. p. 2. Disponível em: <http://www.fef.unicamp.br/sipc/anais9/artigos/ mesa_debates/art27.pdf>. Acesso em 14 dez. 2010.)

Page 28: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

27

concepções, em geral enfocando os sujeitos que não eram estudados pela história

política e social, como o povo. Considerando também outros tipos de fontes

diferentes das usadas até então.

Na década de 1960 e 1970, surgiram novas formas de se fazer história

cultural que pretendiam preencher as lacunas na abordagem clássica e/ou na

marxista, isso devido ao diálogo com outras ciências da área de humanas.84

Essas novas formas da história cultural são chamadas de “Nova História

Cultural”. Dentre essas, há uma abordagem que utiliza a cultura popular e se insere

numa proposta mais ampla de escrever a história vista de baixo pela perspectiva do

povo. O último conceito é de difícil definição fato que, segundo Burke, nessa

abordagem há espaço para o método quantitativo, o uso de processos de Inquisição

como fonte e a tendência mais atual de se direcionar o estudo à prática cultural, às

atitudes cotidianas e ligadas à cultura material. O enfoque nas práticas culturais fez

com que os trabalhos de História utilizassem o modelo usado na antropologia,

havendo um interesse pelo simbolismo inscrito na vida cotidiana. Ainda, por

influência dos estudos de Michel Foucault, essa corrente historiográfica pode

enfocar a política, já que essa está presente em todas as relações humanas.85

A Nova História Cultural, segundo Ronaldo Vainfas, possui quatro

características: rejeição ao conceito de mentalidades (por ser vago, ambíguo e

impreciso quanto às relações entre o mental e o social); afeição pelo informal, pelo

popular; resgate do papel das classes sociais, da estratificação, do conflito social;

ser uma história plural, que apresenta caminhos alternativos para a pesquisa

histórica. 86

Como se pode notar, existem múltiplas correntes que podem se filiar dentro

da história cultural. Tanto que Vainfas menciona três: a história cultural praticada por

Carlo Ginzburg; a de Roger Chartier; e a produzida por Edward Thompson.87

Assim, é necessário apresentar as formas de cada autor acima citado, a

começar pelo historiador italiano. A história cultural feita por Ginzburg é relacionada

com as suas noções de cultura popular e de circularidade cultural. Assim, com base

84

BURKE, 1992, p. 18. 85

Ibid., 18-23. 86

VAINFAS, Ronaldo. História das mentalidades e história cultural. In: CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo (Orgs.). Domínios da História: ensaios de teoria e metodologia. 13. reimp. Rio de Janeiro: Elsevier; Campus, 1997. p.148-149; VAINFAS, Ronaldo. O Berço da micro-história. In: ______. Os protagonistas anônimos da história: micro-história. Rio de Janeiro: Campus, 2002. p.56-57. 87

VAINFAS, 1997, p. 150-151.

Page 29: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

28

na discussão de Vainfas, cabe mencionar o que é cultura popular para esse autor: é

aquela que se opõe à cultura letrada ou oficial das classes dominantes, mas que

mantém relações com ela. Tais relações não são de imposição da última sobre a

popular, sendo que a cultura dominante é filtrada pelas classes subalternas

conforme seus valores e condições de vida.88

Essa visão dicotômica entre a cultura popular e a erudita não é admitida por

Chartier. O modelo de Chartier, segundo Vainfas, adota uma noção mais ampla de

cultura, explica-se: esse historiador francês propõe um conceito de cultura enquanto

prática. A partir disso sugere duas categorias a ser utilizadas: representação e

apropriação.89 Por isso, faz-se necessário mencionar alguns aspectos desses

conceitos. A representação, para Chartier, é um conceito superior ao de

mentalidade, pois permite articular a delimitação e classificação das inúmeras

configurações intelectuais com as práticas e com as formas institucionalizadas e

objetivadas. Enquanto que o conceito de apropriação tem como objetivo uma história

social das interpretações, que se encaminham para as determinações fundamentais.

Essas são, concomitantemente, sociais, institucionais e culturais.90 Importante notar

que o conceito de representação de Chartier faz com que o social só tenha sentido

nas práticas culturais e que as classes e os grupos só podem ser identificados por

seus símbolos, como relembra Vainfas.91

Diferente dessas duas formas de história cultural é o modelo utilizado por

Thompson. Para esse historiador britânico, como relata Vainfas, a cultura popular

valoriza a resistência social e a luta de classes sendo essas relacionadas com as

tradições, os ritos e o cotidiano das classes populares num momento histórico de

transformação. Tal significado de história cultural é intimamente relacionado com a

temática da obra desse historiador inglês, que é voltada para a formação da classe

operária inglesa em meio ao processo de industrialização. 92

Assim, com esses três autores bem como com o panorama de suas ideias

reforça-se a pluralidade presente na história cultural mais recente. Ainda, devem-se

acrescentar menções sobre a decorrência da história cultural surgida na década de

1980: a micro-história que será trabalhada no item abaixo.

88

VAINFAS, 1997, p. 150; 152. 89

Ibid., p. 153. 90

CHARTIER, Roger. Introdução. In:______. A história cultural. Lisboa: Difel, 1990. p. 26 apud VAINFAS, op. cit., p. 154-155. 91

VAINFAS, op. cit., p. 154-155. 92

VAINFAS, 2002, p. 155; 157.

Page 30: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

29

2.2 A MICRO-HISTÓRIA

É preciso levar em conta que a micro-história surgiu na década de 1980 como

uma iniciativa editorial da Einaudi através da coleção “Microstorie”. Como relata

Vainfas essa iniciativa assumiu a legitimidade do “fatiamento” da História e se

preocupou com uma problematização do objeto de investigação, principalmente

quanto às hierarquias e conflitos sociais.93

A micro-história já foi considerada uma abordagem, um gênero, um modelo,

uma prática historiográfica, projeto editorial e método de trabalho histórico. Por isso

tudo, a seguir serão feitas algumas considerações sobre esse conceito.

Considerando a micro-história como uma prática, Giovanni Levi alude que

A micro-história é essencialmente uma prática historiográfica em que suas referências teóricas são variadas e, em certo sentido, ecléticas. O método está de fato relacionado em primeiro lugar, e antes de mais nada, aos procedimentos reais detalhados que constituem o trabalho do historiador, e assim, a micro-história não pode ser definida em relações às microdimensões de seu objeto de estudo. {...} Na verdade, muitos historiadores que aderem à micro-história têm-se envolvido em contínuos intercâmbios com as ciências sociais e estabelecido teorias historiográficas sem, contudo, sentir qualquer necessidade de se referirem a qualquer sistema coerente de conceitos ou princípios próprios.

94

Relevante observar que, segundo Vainfas, a micro-história surgiu da “crítica

aos excessos de irracionalismo ou psicologismo, à negligência no tocante às

hierarquias e conflitos sociais e à redução do trabalho historiográfico à simples

descrição textual de fatos registrados na documentação”.95 Ou seja, uma crítica à

História das Mentalidades, a não consciência dos questionamentos da presença do

poder/político nas diversas relações humanas e à maneira positivista de produção

histórica.

Segundo Julio Aróstegui, “a micro-história propõe uma nova inteligibilidade

para a ação humana e uma nova explicação de generalidades partindo da análise

93

VAINFAS, 2002, p. 70; 74-75. 94

LEVI, Giovanni. Sobre a micro-história. In: BURKE, Peter (Org.). A Escrita da história: novas perspectivas. Tradução de Magda Lopes. São Paulo: Editora da UNESP, 1992. p. 133. 95

VAINFAS, op. cit., p. 69.

Page 31: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

30

micro de experiências pessoais e singulares.” 96 Explica-se, levando em conta as

reflexões desse autor: a proposta da micro-história é estudar fenômenos sócio-

antropológicos em sua vertente histórica numa escala de observação do sistema

muito reduzida, isso para poder analisar certos processos mais gerais e tipificá-los. E

mais, é uma história que se baseia na recuperação do sujeito, da experiência e sua

conversão no eixo do discurso.

Em consonância a isso, Jacques Revel menciona que “a abordagem micro-

histórica se propõe a enriquecer a análise social tornando suas variáveis mais

numerosas, mais complexas e também mais móveis”.97 Algo que não é possível pelo

uso de outras formas de análise, como por exemplo a da história das mentalidades e

a história política tradicional.

Ainda considerando a micro-história como abordagem, Francisco Bethencourt

e Diogo R. Curto mencionam que essa é uma

abordagem que privilegia os fenômenos marginais, as zonas de clivagem, as estruturas arcaicas, os conflitos entre as configurações socioculturais – uma abordagem que procede a partir da microanálise de casos bem delimitados mas cujo estudo intensivo revela problemas de ordem mais geral, que põem em causa idéias feitas sobre determinadas épocas.

98

Com isso vislumbra-se que o estudo a partir da microanálise pretende revelar

indícios presentes além do objeto enfocado. Isto é: o estudo microscópico é uma

maneira de se alcançar novas interpretações de um campo mais amplo.

Em conformidade com as ideias mencionadas pelos autores já referidos,

Carlo Ginzburg considera que trabalhar numa escala reduzida permite a

reconstituição do vivido impensável através de outras abordagens. Isso porque a

micro-história pretende questionar as estruturas invisíveis, para outras abordagens,

nas quais o vivido se articula.99

96

ARÓSTEGUI, Julio. A crise da historiografia e as perspectivas: os grandes paradigmas. In:______. A Pesquisa histórica: teoria e método. Tradução de Andréa Doré; revisão técnica de José Jobson de Andrade Arruda. Bauru. SP: Edusc, 2006. p. 211. 97

REVEL, Jacques. Microanálise e a construção do social. In: ______. (Org.) Jogos de escalas: a experiência da microanálise. Tradução de Dora Rocha. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1998. p. 23. 98

BETHENCOURT, Francisco; CURTO, Diogo Ramada. Nota de apresentação. In: GINZBURG, Carlo; CASTELNUOVO, Enrico; PONI, Carlo (org.). A micro-história e outros ensaios. Tradução de António Narino. Lisboa: DIFEL, 1989. (Memória e sociedade). p. X. 99

GINZBURG, Carlo. O nome e o como: troca desigual e mercado historiográfico. In: GINZBURG; CASTELNUOVO; PONI, 1989, p. 177-178.

Page 32: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

31

Após essa exposição e por considerações emanadas dessa cabe mencionar

algumas características do gênero micro-história: apego à narrativa; cuidado com as

fontes; e abundância dessas. A respeito disso, Vainfas ressalta que os estudos

desse gênero são ancorados em uma pesquisa exaustiva de fontes, muito vezes

variadas, o que se alia a exposição narrativa e descritiva dos casos.100

O uso da narrativa pela micro-história é a causa de algumas críticas. Pois,

esse apego à narrativa, muitas vezes, evita a demonstração empírica e esmiuçada

das evidências, sendo que os críticos consideram que a micro-história inventa fatos.

A redução da escala de observação, segundo Levi, permite a revelação dos

aspectos antes ocultos.101 De maneira similar, Revel afirma que a escolha do

individual deve tornar possível uma abordagem diferente da história social, por

acompanhar a trajetória de um destino particular (de um homem ou de um grupo de

homens) e, juntamente com isso, a multiplicidade dos espaços e dos tempos, as

relações nas quais esse particular se inscreve.102

Assim, no presente estudo, segue-se essa proposta. Parte-se do pressuposto

que a trajetória de vida de José Fernandes Loureiro é semelhante à da maioria dos

imigrantes lusitanos, como já mencionado no capítulo anterior, a partir da qual se

pretende abordar a imigração portuguesa no Paraná, pelo intermédio da análise do

papel do sujeito português na sociedade curitibana. Com isso, denota-se que uma

trajetória, algo bem delimitado e restrito, traz evidências de um campo maior, no

caso a imigração portuguesa no Paraná.

Feitas essas reflexões, é primordial relatar os temas trabalhados pela micro-

história. Segundo Vainfas, a micro-história pode ter como foco temas ou

personagens desconhecidos, bem como temas e personagens célebres. Mas,

preferencialmente, os temas mais aptos a essa abordagem são os relacionados às

comunidades específicas, às situações limites e às biografias.103

O enfoque numa trajetória de vida de um sujeito em particular é uma forma de

estudo com escala de observação reduzida. Portanto, deve-se avaliar se o uso de

uma biografia em um estudo de História é possível e como se deve proceder diante

desse objeto. Tais discussões serão abordadas no tópico seguinte.

100

VAINFAS, 2002, p. 99; 100; 102. 101

LEVI, 1992, p. 139. 102

REVEL, 1998, p. 21. 103

VAINFAS, op. cit., p. 135-136.

Page 33: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

32

2.3 O USO DA BIOGRAFIA NA HISTÓRIA

Agora se retoma as seguintes questões: Quem era José Fernandes Loureiro?

Quais as relações sociais, políticas e culturais que ele estabeleceu no Brasil?

Tais perguntas são essenciais para o desenvolvimento desse trabalho. Por

conseguinte, verifica-se que o estudo do percurso de vida de José Fernandes

Loureiro está assentado nas discussões do uso da biografia em estudos da área de

História. Deve-se levar em conta a observação de François Dosse, para quem

“escrever a vida é um horizonte inacessível, que no entanto sempre estimula o

desejo de narrar e compreender”.104

Desse modo, é importante apresentar as considerações sobre o uso da

biografia feitas por Pierre Bourdieu, Giovanni Levi, Sabina Loriga, François Dosse e

Vavy Pacheco Borges. E ainda, as aproximações das ideias desses autores.

Pierre Bourdieu, em seu artigo “A ilusão biográfica”, critica o uso da biografia

nos estudo de História. Notadamente essa crítica se baseia no uso da biografia

tradicional como relembra Vainfas.105

Além disso, a crítica de Bourdieu reside no pressuposto de que vida é uma

história. Para o autor, a vida seria o conjunto de acontecimentos da existência

individual que seria considerada como história e o seu relato. Mais uma vez,

percebe-se que esse historiador discute o uso da biografia organizada por meio de

uma ordem cronológica que representaria relações inteligíveis. Tal concepção de

escrita da vida desconsidera que a realidade é descontínua, composta por

elementos únicos justapostos sem lógica, como ressalta Bourdieu. Assim, para

Bourdieu, esse relato de vida tradicional se aproximaria da descrição da pessoa,

considerando que esse personagem tivesse uma identidade social constante e

durável.106 Com base nisso, segundo Vainfas, o gênero biográfico seria então um

absurdo científico, já que tende a diluir contextos, superfície social e a pluralidade de

campos em que os sujeitos se inserem.107

104

DOSSE, François. O Desafio Biográfico: escrever uma vida. Tradução de Gilson César Cardoso de Souza. São Paulo: Edusp, 2009. p. 11 105

VAINFAS, 2002, p. 139. 106

BOURDIEU, Pierre. A ilusão biográfica. In: AMADO, Janaína; FERREIRA, Marieta de Moraes (Orgs.). Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1998. p. 183; 184; 187. 107

VAINFAS, op. cit., p. 139.

Page 34: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

33

Ocorre que as críticas centradas na consideração de uniformidade da

identidade não são cabíveis nos estudos de micro-história. Isso porque a análise

presente nessa abordagem, como afirma Levi, “rejeita simplificações, hipóteses

dualistas, polarizações, tipologias rígidas e a busca de características típicas”.108

Diametralmente oposta à maneira de pensar o uso da biografia pela História

de Bourdieu, Giovanni Levi, como já indicado acima, propõe uma valorização do

estudo biográfico. Visto que a biografia permite

{...} uma descrição das normas e de seu funcionamento efetivo, sendo este considerado não mais o resultado exclusivo de um desacordo entre regras e práticas, mas também de incoerências estruturais e inevitáveis entre as próprias normas, incoerências que autorizam a multiplicação e a diversificação das práticas.

109

Dando sequência a essa proposta, Levi formula uma tipologia das

abordagens de uso da biografia pelos historiadores, que seriam expressas em

quatro tipos de biografias: prosografia e biografia modal; biografia e contexto;

biografia e casos extremos; e biografia e hermenêutica.110

Neste momento, cabe diferenciar cada tipo de biografia. O que Levi define

como prosografia e biografia modal é a biografia que merece ser estudada porque

ilustra comportamentos mais frequentes. Assim, os dados biográficos só são

considerados relevantes quando têm alcance geral, ou seja, representam um grupo.

Então nesse tipo o biografado reúne todas as características de um grupo. 111

No que se refere à biografia e contexto, o historiador italiano afirma que nessa

modalidade o contexto é visto como pano de fundo imóvel e a trajetória individual

não age sobre ele, nem o modifica. Entretanto “a biografia conserva sua

especificidade” 112, sendo que o contexto histórico e social, segundo Vainfas, permite

compreender o que parece inexplicável e desconcertante ou tende a normalizar

comportamentos.113 Essa abordagem é criticada por Levi, pois as trajetórias

individuais não interferem no contexto em que estão inseridas e ainda é utilizado

108

LEVI, 1992, p. 160. 109

LEVI, Giovanni. Usos da biografia. In: FERREIRA, Marieta de Moraes; AMADO, Janaína. Usos e abusos da história oral.Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1996. p. 180. 110

Ibid., p.167-182. 111

Ibid., p. 174; 175. 112

LEVI, 1996, p. 175; 176. 113

VAINFAS, 2002, p.141.

Page 35: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

34

para preencher lacunas documentais por intermédio de comparações com outras

trajetórias que apresentem alguma analogia com a do personagem estudado.114

A terceira tipologia mencionada por Levi é a biografia e casos extremos.

Nessa a biografia é usada para esclarecer o contexto, que segundo o autor, é

abordado por suas margens. Esse é retratado como rígido e parece não ter relação

com o personagem, que age com liberdade e praticamente descolado da sociedade

normal.115 O grande perigo dessa abordagem, para Vainfas, é fazer do caso extremo

um exemplo de determinado grupo.116

O último tipo indicado por Levi diz respeito à biografia e hermenêutica.

Segundo o historiador, o material biográfico é discursivo e não consegue traduzir o

real e todos os significados nele presentes. Sendo indispensável a interpretação,

que torna a trajetória do sujeito algo significativo. Por essa abordagem indica-se a

impossibilidade de escrever uma biografia, porém possibilita que o material

biográfico seja abordado de maneira crítica, proporcionando a reflexão dos

historiadores a respeito do uso das formas narrativas e a busca de outras técnicas

de comunicação.117

Pelo exposto, nota-se que Levi considera que a biografia é ideal para se

verificar o espaço da liberdade de que dispõem os agentes e para se observar o

funcionamento concreto dos sistemas normativos, que nunca são isentos de

contradições. Isso porque nenhum sistema normativo é capaz de eliminar qualquer

margem de escolha consciente, de manipulação ou de interpretação de regras, de

negociação.118

Além de Levi, Sabina Loriga119 também discute o uso da biografia nos

trabalhos de História. Em seu artigo, ela traça um panorama de como a biografia que

foi, por muito tempo, utilizada com função ilustrativa ou sugestiva. A autora estrutura

sua reflexão a partir de três projetos biográficos de Thomas Carlyle, Jacob

Burckhardt, Hippolyte Taine, que são analisados para discutir as diferentes formas

de utilização da biografia. 120

114

LEVI, 1996, p. 176. 115

Ibid., p. 176-178. 116

VAINFAS, 2002, p. 141. 117

LEVI, op. cit., p. 178. 118

Ibid., 179-180. 119

LORIGA, Sabina. A biografia como problema. In: REVEL, Jacques. (Org.) Jogos de escalas: a experiência da microanálise. Tradução de Dora Rocha. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1998. p. 225-249. 120

Ibid., p. 233-244.

Page 36: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

35

Nas obras de Thomas Carlyle, Loriga identificou o herói, o sujeito que fazia

história, isto é, que tinha capacidades criadoras e com potencial de ação. Nessas

obras o culto aos heróis se fundamentava na renúncia do individualismo e visava à

universalidade. Assim, o herói era despersonalizado e desencarnado mantendo a

tradição de que a biografia pretende alcançar a totalidade e pressupõe a existência

de unidade da civilização. O projeto de Jacob Burckhardt trabalha o homem

patológico que é mortal, sofredor e admite sai dependência em relação aos

acontecimentos gerais. Com esse pressuposto, Burckhardt pretendia estender sua

análise para além dos acontecimentos com o intuito de encontrar os desejos e

imaginação dos homens envolvidos nos fatos consumados, bem como buscar as

eternizações, isto é, aquilo que os homens, como sujeitos e como povos, tinham

pensado, desejado e sofrido. Diferentemente dos anteriores, Hippolyte Taine

considera que o indivíduo possui múltiplas faces. A proposta desse pensador era

explorar o comportamento individual para explicar os fatos sociais, havendo um

diálogo entre Psicologia e a História. Com isso, a análise dos fenômenos sociais

deveria seguir pela divisão desses em milhares existências individuais que seriam

recompostas em conjuntos mais amplos. 121

Após isso Loriga relata que o enfoque mais recente dos estudos históricos é o

homem comum, que não precisa ser um caso típico, pois é relevante a verdade. E,

principalmente, tem que se levar em consideração a proposta da biografia coral,

segundo a qual o sujeito não tem a pretensão de revelar a essência da humanidade,

mas deve permanecer particular e fragmentado.122 Essa proposta a autora

apresenta como mais adequada ao atual estágio dos estudos de História, ou seja,

não é determinista e proporciona compreender partes do passado e não reconstituí-

lo.

De maneira semelhante aos outros autores citados, François Dosse também

realiza uma tipologia, distinguindo três modalidades de abordagem biográfica: a

idade heroica, a idade modal, e a idade hermenêutica. Ressalta-se que entre essas

não existe uma evolução cronológica e elas podem se combinar e surgir num

mesmo período.

Na idade heroica, a biografia foi usada como discurso de virtudes, sendo um

modelo modal para educar, transmitir valores às novas gerações. Assim as

121

LORIGA, 1998, p. 233; 237; 239; 240; 243. 122

Ibid., p. 244; 248; 249.

Page 37: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

36

biografias inseridas nessa idade seguem a tradição da Antiguidade em torno dos

valores heroicos e, com a cristianização, os valores religiosos. Dosse também

menciona que a valorização do herói apresenta o conflito entre o particular e o

universal, pois o herói é um sujeito que apresenta sinais do geral. Cumpre observar

que a figura do herói é criada conforme uma época, sendo atribuída a essa figura os

valores do período, tudo com o objetivo de se cristalizar uma simbolização

coletiva.123

Para Dosse, a biografia modal trata o individual, singular é o caminho para o

geral.124 Nota-se que a discussão do francês é influenciada pelas tipologias

prosografia e biografia modal; biografia e contexto de Levi, tanto que menciona a

crítica de Levi sobre a característica do contexto na primeira tipologia e sobre o uso

desse para suprir lacunas documentais.

Por fim, a idade hermenêutica, que é um reflexo do tipo biografia e

hermenêutica de Levi. Isso porque, segundo Dosse, essa modalidade valoriza o

singular e as pluralidades das identidades tornando fundamental o uso da

interpretação.

Ainda, cabe mencionar a discussão de Vavy Pacheco Borges. Para ela a

biografia deve considerar as potencialidades e possibilidades das decisões e dos

fatos vividos.125 Desse modo, nota-se que Borges segue a visão crítica de Bourdieu

sobre o uso da biografia, que para ele não deve ser o retrato linear do percurso de

uma vida.126 Essa linearidade significaria realizar uma história coerente e totalizante,

sem considerar a trajetória como várias posições ocupadas pelo mesmo agente num

espaço sujeito a transformações.

Todos os autores anteriormente mencionados contribuem para a análise que

se pretende realizar. O presente trabalho utiliza a biografia que enfoca o homem

comum, privilegia-se o contexto sem que esse determine a análise, dando grande

espaço para a atividade interpretativa. Nesse trabalho não se enfoca um sujeito que

representa um caso extremo, pois José Fernandes Loureiro era apenas um dos

123

DOSSE, 2009, p. 123; 151-152. 124

Ibid., p. 195. 125

BORGES, Vavy Pacheco. Gabrielle Brune-Sieler, uma vida (1874-1940): os desafios da biografia. Disponível em: <http://sitemason.vanderbilt.edu/files/.../Borges%20Vavy%20Pacheco.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2010. p.5. 126

O que para Pierre Bourdieu é denominada como ilusão biográfica. (BOURDIEU, 1998, p. 183-191).

Page 38: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

37

vários imigrantes portugueses fixados em Curitiba que alcançou fortuna e que

conseguiu retornar à sua terra natal.127

Ainda, não se considera José Fernandes Loureiro como herói, já que será

mantida sua individualidade e seu potencial de ação, isto é, seus atos não revelam

um espírito de uma coletividade, mas sim as possibilidades, as complexidades

inerentes ao contexto que ele viveu e às suas escolhas. Isso porque se reconhece

que a trajetória de José Fernandes Loureiro representa uma parcela dos imigrantes

portugueses em Curitiba, e não a maior parte do grupo. Ressalta-se que mesmo

com essa consideração, José Fernandes Loureiro alcançou os objetivos descritos na

historiografia de qualquer imigrante lusitano, tornando relevante a análise presente

nesse estudo. Também não seria o homem patológico por se considerar esse

personagem como um sujeito multifacetado e não haver uma uniformidade de

desejos e sofrimentos numa coletividade. Bem como o enfoque na psicologia não é

o objetivo da análise desse estudo.

Assim percebe-se que nenhum dos modelos de estudos feitos no século XIX

citados por Loriga é utilizado nesse estudo. Então se propõe usar a ideia de

biografia coral levantada por essa autora. Isso aliado com as tipologias: biografia e

hermenêutica; biografia e contexto de Levi, tendo ressalvas quanto ao uso do

contexto nas lacunas apresentadas nas fontes.

Biografia. Esse é um conceito chave para esse estudo. Para tanto, se utiliza o

material documental em torno da figura de José Fernandes Loureiro, seguindo a

metodologia enunciada por Levi, a saber, a redução da escala da observação, a

análise microscópica e o estudo intensivo do material documental.128

Pode-se afirmar que o estudo aqui proposto pretende revelar fatores

previamente não observados como ocorre com os demais estudos que se inserem

no ramo da micro-história. Abordar a imigração portuguesa a partir de um sujeito

pode mostrar as relações sociais, econômicas e culturais que o imigrante lusitano

realizava, no caso na sociedade curitibana como se perceberá no próximo capítulo.

127

A respeito de conquista fortuna, podem-se citar os seguintes comerciantes de origem portuguesa que possuíam suas lojas comerciais na Rua XV de Novembro no final do século XIX: Manoel dos Santos Correia (proprietário da “Casa do Sol”); Manoel Martins de Abreu (proprietário da “Casa Abreu e Cia”); Antonio Manoel da Silva (proprietário de “Ao Pharol do Sul”); Theolindo de Andrade (proprietário de “Ao figurino”); A. Carneiro e Cia (proprietário da “Casa Queiroz”); Manoel da Cunha (proprietário da “Cunha das Roupas Feitas”). 128

LEVI, 1992, p. 136.

Page 39: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

38

3 JOSÉ FERNANDES LOUREIRO

Nesse capítulo será apresentada a trajetória de José Fernandes Loureiro com

base nas fontes especificadas anteriormente e no diálogo com a historiografia. Isso

tendo como base três dimensões: vida empresarial, vida privada e vida pública.

Com isso, cabe apresentar alguns apontamentos sobre a vida de José

Fernandes Loureiro. Ele nasceu em Portugal, na freguesia de Bodiosa,

provavelmente no ano de 1839 e com 20 anos de idade veio para o Brasil “para

iniciar sua brilhante carreira commercial”129.

A respeito da sua atividade comercial, assim que se estabeleceu em Curitiba,

por volta de 1860, ele instalou sua casa de comércio conhecida como “Casa de José

Nabo”, que posteriormente se tornou “José Fernandes e Cia”.

Em 1863, ele se casou com uma neta de importante industrial da erva-mate

de origem portuguesa. Esse fato já indica que José Fernandes Loureiro estava bem

relacionado na sociedade local. Ocorre que há outros indicativos disso, como sua

inserção sociocultural em sua participação na Sociedade Portuguesa Beneficente 1º

de Dezembro (SPBPD), Clube Curitibano, na Irmandade de Nossa Senhora da Luz

dos Pinhais da Vila de Curitiba, na Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de

Curitiba, nas lojas maçônicas Apostolo da Caridade e Fraternidade Paranaense.

Relevante mencionar que há fortes indícios de relação de amizade entre José

Fernandes Loureiro e Ildefonso Pereira Correia, conhecido como Barão do Serro

Azul.

Assim, nos seguintes subtópicos se deterá sobre essas dimensões e a sobre

os pontos mais significativos, para esse estudo, da vida desse imigrante português

em Curitiba.

129

FERNANDES, José Loureiro. [Carta ao redator do Jornal Dia]. [Curitiba]: [s. n.], [ca.1932].p.1.

Page 40: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

39

3.1 VIDA EMPRESARIAL

No decorrer do século XIX, a economia provincial foi dominada pela

exportação de erva-mate e o comércio de tropas muares. Sendo que na economia

da erva-mate empregou-se boa parte da população do litoral, do planalto curitibano

e dos Campos Gerais.130

Segundo Ruy Wachowicz, a partir da segunda década do século mencionado

ampliou-se a produção de erva-mate que passou a ser beneficiada no planalto de

Curitiba, não mais no litoral como antes. Então a cidade começou a se desenvolver

tendo como principal centro urbano o Pátio da Matriz, sendo que surgiram novas e

importantes vias urbanas, com destaque para a Rua do Jogo da Bola (atual Dr.

Muricy), a dos Lisboa (Riachuelo) e a das Flores (XV de Novembro).131

Entretanto, a rua das Flores era “uma rua estreita, mal-iluminada, com

dezenas de construções baixas e acanhadas”132 e, em 1853, três construções se

destacavam: o sobrado da Presidência da Província, o da Casa do Sol e o do José

Nabo.133

Importante notar que até 1860 apenas três quadras compunham a Rua das

Flores, iniciando-se na hoje denominada Alameda Dr. Muricy até a atual Rua Barão

do Rio Branco, sendo entre a primeira e a rua Monsenhor Celso ficava o núcleo da

via.

Em 1880, José Fernandes Loureiro tinha um sobrado com duas frentes: uma

para a Rua XV de Novembro e outra para a Praça do Mercado (atual Praça

Generoso Marques). Loureiro morava com sua família na parte alta e no térreo para

a Rua XV ficava sua casa comercial.134 Em anexo a reprodução da planta da Rua

130

MACHADO, Brasil Pinheiro. Economia provincial. In: BALHANA, Altiva Pilatti; MACHADO, Brasil Pinheiro; WESTPHALEN, Cecília Maria. História do Paraná. Curitiba: Graphipar, 1969. v.I. p. 130-131. 131

WACHOWICZ, Ruy. História das histórias da Rua XV. Nicolau, Curitiba, set.-out. 1994, v. 8, n. 55. Memória, p. 8. 132

BOLETIM INFORMATIVO DA CASA ROMÁRIO MARTINS. Aspectos da rua das flores no século XIX. In: ______. A Rua 15 e o comércio no início do século. Curitiba: Fundação Cultural de Curitiba, v. 23, n. 113, jul. 1996. p. 3. 133

CORREIA, Leôncio. História da cidade: a rua quinze. O Estado do Paraná, [Curitiba], 20 fev. 1966. (Recorte disponível no Arquivo da Biblioteca Pública do Paraná, em sua Divisão Paranaense na pasta “Ruas XV de Novembro e das Flores”). 134

CARNEIRO, David. A atual Rua XV de Novembro ao tempo da vinda de D. Pedro II. Gazeta do Povo, [Curitiba], 23 set. 1979. p. 10.

Page 41: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

40

XV de Novembro em 1900, com a indicação da localização do mencionado imóvel

presente no Boletim da Casa Romário Martins sobre essa rua. (ANEXO A)

Com base no contrato social da empresa José Fernandes Loureiro e Cia de

1886, a loja comprava e vendia “fazendas, molhados, ferragens, armarinhos, ou

qualquer outras mercadorias e generos do paiz ou estrangeiro”135

Nesse contrato pode-se verificar com quem ele se associou: Manoel de

Ascenção Fernandes e Alfredo Fernandes de Oliveira, ambos portugueses. Ainda,

consta nesse documento que a gerência da firma cabia a José Fernandes Loureiro

sendo que ele também contribuiu com mais da metade do capital social da empresa.

Pela análise dos balanços da loja da Rua XV136, pode-se notar que há uma

diversidade de produtos como 416 tipos de tecidos/fazendas, 75 de chapéus, 378

itens de ferragens e drogas, 34 de calçados.137 Esses tinham preços variados

conforme a qualidade, origem e quantidade.

A divisão dos produtos por artigos nos livros de balanço138 apresentam

grande variedade, sendo que no de 1879 há as categorias: tecidos, roupas feitas,

calçados, chapéus, miudezas, utensílios, ferragens e drogas, molhados, louças,

selim, couros e gêneros com porcentagem, sendo que no total foram listados 1559

itens. Enquanto que o de 1903 apresenta como categorias: chapéus; chapéus de

sol; miudezas; gêneros com porcentagem a preços líquidos; ferragens, molhados,

drogas e perfumarias; fazendas sujeitas a porcentagem; fazendas importadas;

fazendas a preço líquido, totalizando 1262 artigos.

Na maioria dos livros contábeis (exceto os dos anos 1900 e 1903) está

registrada a lista de devedores cujos nomes indicam que a clientela não era

composta apenas de portugueses, mas também imigrantes ou descendentes de

outras etnias, como se pode notar em umas das páginas do livro de balanço 1879,

em que estão inscritos como devedores Germano Müller e Fernando

Wolff.139(ANEXO B) A lista de 1879 consta 372 nomes, na de 1884 tinha 383, em

135

JUNTA COMERCIAL do Rio de Janeiro. Contracto n. 1, 19 jan. 1886. 136

A sociedade também tinha uma loja no Largo do Mercado, armazém em Antonina e outro armazém em Ponta Grossa. 137

FERNANDES, LOUREIRO E CIA. 1879 Balanço principiado a 2 de janeiro de 1880. [Curitiba]: [s. n.], 1880. 138

Referentes aos anos de 1879, 1884, 1889, 1891, 1899, 1900, 1903 e com enfoque na sede da loja na Rua XV de Novembro (alguns livros possuem informações sobre a casa comercial do Largo do Mercado, o Armazém de Antonina e o de Ponta Grossa). 139

No final de cada livro balanço, há uma relação dos devedores com nome desses, valor devido. Alguns nomes possuem numeração própria, sendo que não se encontrou o critério para isso.

Page 42: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

41

1889 há 335 devedores, na de 1891 tem 272 devedores e na de 1899 estão 138

clientes discriminados

Notadamente a loja prosperou visto que o capital social descrito no contrato

de 1886 era de oitenta contos de réis e, no contrato de 1890, passou a ser cento e

sessenta e dois contos de réis já integralizados na sociedade. (vide ANEXO C).

Outra evidência é a quantidade de anúncios presentes nos jornais da época. No

jornal enfocado (O Commercio), excluindo os três primeiros números, todos os

exemplares de 1900 traziam anúncios da “Casa do José Nabo” e/ou “Fernandes,

Loureiro e Cia” de variados tamanhos (ANEXO D) com menções explícitas a loja ou

apenas dos produtos comercializados. Os produtos anunciados eram todos

remédios com destaque para a “Emulsão Abreu Sobrinho” e “Elixir Sucupira de

Queiroz”.

A atividade comercial de José Fernandes Loureiro não se restringia a sua loja,

pois ele também assumiu, em 1890, cargo de direção da Companhia Impressora

Paranaense. Provavelmente essa sua vinculação a essa tipografia se deve a sua

relação com Ildefonso Pereira Correia, o Barão do Serro Azul que estava no

Conselho Fiscal dessa sociedade por ações.140 Tanto que ambos estavam

envolvidos na “Junta/Comissões do Comércio”141 durante a Revolução Federalista

de 1894.142

Essa Junta fazia os empréstimos de guerra que, segundo Elson Oliveira

Souza,

{...} tinham como finalidade evitar que Curitiba fosse invadida durante a revolução federalista que assolou o Paraná. Afinal, como era de praxe dos maragatos, após conquistarem a cidade eram promovidos saques a casas comerciais, furtos e roubos. Com esses atos os maragatos conseguiam mais recursos para investirem na guerra. A intenção dos empréstimos de guerra era arrecadar dinheiro junto aos empresários locais pagar os maragatos para que esses não saqueassem a cidade, protegendo a população curitibana.

143

140

DICIONÁRIO HISTÓRICO-BIOGRÁFICO DO PARANÁ. Dezenove de dezembro - Impressora Paranaense. In:_____. Curitiba: Chain, Banco do Estado do Paraná, 1991. p. 125. 141

Pode se encontrar as duas denominações sobre a junta nomeada por negociantes e proprietários que visavam preservar os interesses da comunidade curitibana diante da resistência à invasão dos Maragatos. 142

FERNANDES, José Loureiro. A “Comissão do Comércio de Curitiba” na Revolução de1894. In: Congresso da História da Revolução de 1894, 1., Curitiba. Anais do Primeiro Congresso da História da Revolução de 1894, Curitiba: Governo do Estado do Paraná, 1944. p. 279. 143

SOUZA, Elson Oliveira. José Loureiro de Ascenção Fernandes. Disponível em: <http://www.ic news.com.br/2008.09.17/colunistas/dom-moacyr-jose-vitti-css/jose-loureiro-de-ascencao-fernandes/>. Acesso em: 19 dez. 2010.

Page 43: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

42

Ainda em relação aos laços com o Barão, vale a pena mencionar que ambos

foram fundadores da Associação Comercial do Paraná. Enquanto que José

Fernandes Loureiro assumiu o cargo de vice-presidente, Correia presidiu a primeira

diretoria.144

Em 1906, José Fernandes Loureiro estava na direção do Banco Commercial

do Paraná, sociedade anônima bancária por ações constituída em 14 de abril do

mesmo ano, que tinha 110 sócios, entre eles: Manoel de Macedo, Augusto Hauer,

Manoel Alves Magalhães, Manoel Martins de Abreu, João Egas Garrido, Pretextato

Penaforte Taborda Ribas, Guilherme Schack, Antonio Augusto de Carvalho Chaves,

Guilherme Xavier de Miranda, Alfredo Tramujas, Augusto Loureiro, Pedro Luiz de

Souza Rocha, Agostinho Ermelino de Leão Júnior, André de Barros e Wenceslau

Glasser. 145

Por isso conclui-se que esse indivíduo conseguiu prosperar seguindo a

mitologia da fortuna exposta por Pereira146, se fixou em meio urbano se dedicando

ao comércio como muitos imigrantes portugueses conforme mencionam Lobo147,

Bastos148, Silva149 e Boschilia150. Sendo que ele comercializava todos os ramos

identificados por Menezes e Cipriano151, ou seja, tecidos e roupas, gêneros

alimentícios secos e molhados, bem como, realizava operações financeiras (a

empresa possuía contatos com bancos do Rio de Janeiro e da Europa).

Visto isso, cabe apontar os indícios da vida privada do imigrante lusitano José

Fernandes Loureiro.

3.2 VIDA PRIVADA

José Fernandes Loureiro provavelmente emigrou jovem de seu país como

muitos de seus patrícios. Ele era proveniente da freguesia de Bodiosa, parte do atual

144

ASSOCIAÇÃO Comercial do Paraná. Dicionário Histórico-Biográfico do Paraná. Curitiba: Chain, Banco do Estado do Paraná, 1991. p. 30. 145

BRASIL. Sociedades Anonymas: Banco Comercial do Paraná. In:_____. Diário Official, Rio de Janeiro, 24 abr. 1906. p. 2140. 146

PEREIRA, 2002, p.45-54. 147

LOBO, 2001, p. 31-54 148

BASTOS, 2008, p. 136. 149

SILVA, 1992, p. 48. 150

BOSCHILIA, 2008, p.345. 151

MENEZES; CYPRIANO, 2008, p.109.

Page 44: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

43

concelho e distrito de Viseu. Essa freguesia faz parte da região Norte de Portugal,

sendo esse imigrante um dos muitos que seguem o perfil descrito por Lobo152 e

Triches153.

Como mencionado no tópico anterior, José Fernandes Loureiro se

estabeleceu em Curitiba por volta de 1853. Somente em 1863, ele se casou com

Amélia Joaquina de Campos que era filha de Iphigenia Maria de Bittencourt e do

Tenente Aurelio Joaquim Ribeiro de Campos. Iphigenia era filha de um importante

industrial da erva-mate que exerceu vários cargos de eleição popular e

administrativos e de Anna Mauricia (que era filha de português com uma curitibana).

Enquanto que Aurelio era português natural de Serzedelo e, ainda, filho de

portugueses.154

O significativo lapso temporal entre a fixação desse sujeito na capital

paranaense e o seu casamento pode indicar a tendência dos imigrantes em procurar

se estabelecer no seu trabalho, conseguir alguma renda para seu sustento para

depois estabelecer vínculos familiares na cidade de destino. De certa forma, o

casamento que, muitas vezes, era realizado com mulher nascida no Brasil,

representaria um obstáculo para o ideal de retorno a Portugal. Isso porque a

presença de familiares em território brasileiro favoreceria a permanência dos

imigrantes em geral.

O casamento com Amélia Joaquina gerou quatro filhas: Julia, Julieta,

Josephina e Juvelina. Sendo que Julieta casou-se com o português Manoel de

Ascenção Fernandes (que era sócio de seu pai na sociedade Fernandes, Loureiro e

Cia.), Julia casada com José Carvalho de Oliveira (filho de português que fora sócio-

fundador da Sociedade Portuguesa Beneficente 1º de Dezembro, fazendeiro de café

no norte do Paraná), Josephina casada com Adelio Paulino de Siqueira (natural da

Lapa) e Juvelina casada com Augusto Loureiro (luso-brasileiro que era seu

primo).155

Percebe-se que no âmbito privado os imigrantes portugueses davam

preferência às relações com portugueses e com luso-brasileiros, fato esse

explicitado nos casamentos realizados por José Fernandes Loureiro e suas filhas.

152

LOBO, 2001, p. 18. 153

TRICHES, 2007, p. 4. 154

NEGRÃO, Francisco. Título Corrêa Bittencourt. In:______. Genealogia paranaense. v. 5. Curitiba: Impressora Paranaense, 1946. p. 14-15; 19; 23. 155

Ibid, p. 23-24; CARNEIRO, 1979, p. 10; PASSOS, 2009 (tabela do Livro de matrícula de sócios da Sociedade Portuguesa Beneficente 1º de Dezembro).

Page 45: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

44

Após enviuvar, esse lusitano contraiu matrimônio com sua cunhada Messias

Aurelia de Campos em abril de 1885.156

Importante frisar que os casamentos de José Fernandes Loureiro seguem o

exposto por Bacellar, ou seja,

{...} os portugueses se distribuíam pelas diversas vilas e, sendo solteiros, tratavam de buscar o casamento, instrumento para a formação de alianças com a sociedade local. {...} Muitos desses casamentos se realizaram com famílias da elite local e mesmo os reinóis mais humildes parecem ter conseguido, comumente, alianças matrimoniais favoráveis. Diversas destas alianças matrimoniais eram, por vezes, complexas, com ocorrência de casamentos múltiplos de vários irmãos.

157

A questão de retorno a Portugal está igualmente presente na trajetória desse

sujeito, pois em 25 de junho de 1900 ele comunicou o retorno de viagem a Portugal

após muitos meses.158 Cabe destacar que ele estava nesse país mais uma vez

quando faleceu em 1908.159

Pelo seu testamento160 pode-se inferir que ele prosperou como se percebe

pela seguinte lista que enumera os seus bens:

- três casas na rua Quinze de Novembro;

- casa na rua Sete de Setembro;

- casa de sobrado na Praça Municipal;

- casa na rua Marechal Floriano Peixoto esquina da rua Sete de Setembro (avaliada

em quarenta contos de réis);

- terreno com casa de madeira próximo ao prado de corridas;

- vinte apólices de um conto de réis cada;

- dezoito apólices Federais de um conto de réis cada;

- dezessete contos de réis (aos herdeiros, netos não contemplados no testamento;

sendo dois contos de réis destinados a Santa Casa e um conto de réis aos pobres);

156

NEGRÃO, 1946, p. 25; LOUREIRO, José Fernandes. Testamento. In: ARQUIVO PÚBLICO DO PARANÁ. Auto de testamento em que é José Fernandes Loureiro Fallicido (autos n. 752/1908). Curitiba: [s.n.], 1908. p. 2. 157

BACELLAR, 2000, p. 22. 158

J. FERNANDES Loureiro. O Commercio, Curitiba, ano 1, n. 97, p. 1, 26 jun. 1900. 159

FALLECIMENTO. Diário da Tarde, Curitiba, ano XI, p. 1, 30 jun. 1908; J. FERNANDES Loureiro. A República, Curitiba, ano XXIII, n. 157, p. 1, 7 jul. 1908. 160

LOUREIRO, José Fernandes. Testamento. In: ARQUIVO PÚBLICO DO PARANÁ. Auto de testamento em que é José Fernandes Loureiro Fallicido (autos n. 752/1908). Curitiba: [s.n.], 1908.

Page 46: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

45

-por fim, dinheiro em conta corrente na sociedade comercial Fernandes, Loureiro e

Companhia do qual os herdeiros poderiam retirar três contos de réis mensais, salvo

outro valor acordado.

Frisa-se que a maioria dos bens fora destinada aos netos, sendo que

enquanto menores os bens seriam de usufruto de seus pais (filhas e genros de

Loureiro). Apenas a casa, avaliada em quarenta contos de réis, seria de usufruto de

Messias Aurelia de Campos que poderia vender os móveis, utensílios, carro, cavalos

e objetos que não necessitasse, sendo o valor depositado na Caixa Econômica ou

no cofre de órfãos em nome dos netos dele que ela quisesse contemplar.

As rendas provenientes dos imóveis e das apólices legados por José

Fernandes Loureiro teriam 3/4, livres de impostos e custos de seguro, destinados a

sua esposa Messias. Isso demonstra a preocupação desse imigrante com a mulher

na ocasião da morte dele, pois eles não tiveram filhos, caso não fosse agraciada

com as disposições do testamento, provavelmente teria seu estilo de vida afetado

tendo que esperar a ajuda da família para seu sustento. A esposa também foi

nomeada como testamenteira, sendo em sua ausência substituída pelo genro mais

velho em idade.

O testamento apresenta o desejo expresso de José Fernandes Loureiro de

construir um mausoléu no cemitério de Curitiba (atual Cemitério Municipal São

Francisco) destinado aos restos mortais de sua falecida esposa e de seus netos.

Para esse local também foram transferidos seus restos mortais em 1911. (ANEXO

E)

Por fim, cumpre ressaltar que às doações a Santa Casa de Misericórdia de

Curitiba e aos pobres denota a tradição dos portugueses, comentada por Lobo, de

fazer legados a Santa Casa em seus testamentos.161 Importante notar que a Câmara

Municipal e as irmandades de caridade e confrarias laicas, sendo a mais importante

a Santa Casa, segundo Charles R. Boxer, eram pilares da sociedade colonial

portuguesa162 que serão discutidas a seguir.

161

LOBO, 2001, p. 103. 162

BOXER, Charles R. Conselhos municipais e irmãos de caridade. In:_____. O Império marítimo português: 1415-1825. Tradução de Olga de Barros Barreto. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 286.

Page 47: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

46

3.3 VIDA PÚBLICA

A importância da Câmara Municipal e da Santa Casa era significativa tanto

em Portugal quanto em suas colônias (como foi o caso do Brasil). Segundo Boxer,

os membros da Câmara e da Misericórdia eram de extratos sociais idênticos e

constituíam elites coloniais.163 Sendo esse quadro sintetizado pelo seguinte

provérbio alentejano: “Quem não está na Câmara está na Misericórdia”.164

Situação que José Fernandes Loureiro vivenciou, pois em 1890 ele foi

vereador em Curitiba165, ocupou a função de provedor da Santa Casa de

Misericórdia de 1887 a 1889 e atuou como tesoureiro dessa instituição.166

O provedor da Misericórdia devia ser “um fidalgo de autoridade, prudência,

virtude, reputação e idade {...} um senhor com muito tempo livre”167 disso nota-se

que quem ocupava essa função deveria ter estabilidade financeira para não utilizar

os bens da Santa Casa em seu proveito próprio. Importante notar que o cargo

conferia elevado status social ao seu ocupante168 e que a caridade prestada por

essa irmandade se estendia amplamente aos pobres e necessitados, diferente das

outras irmandades que restringiam suas atividades caritativas aos seus membros e

familiares.169

Um exemplo disso é a Irmandade da Nossa Senhora da Luz dos Pinhais da

vila de Curitiba, da qual José Fernandes Loureiro também fazia parte (ANEXO F).170

Essa irmandade arrecadava fundos que foram destinados a construção da capela

mor e a outras obras na Igreja.

Segundo Lobo, o imigrante português considerava que quem não tinha vida

associativa era porque não havia conseguido ascender na vida.171 Essa autora

afirma que os imigrantes lusitanos tinham grande sentido de cooperação e

solidariedade e o espírito humanitário difundido pela religião católica também

163

BOXER, 2002, p. 286. 164

Ibid., p. 299. 165

Rua José Loureiro. Gazeta do Povo, Curitiba, 18 nov. 2007. Classificados, Ruas de Curitiba, p. 3 166

GARCIA, Antônio. Família Loureiro Fernandes. In:______. Dr. Loureiro Fernandes: médico e cientista; antropologia e etnologia. Curitiba: Vozes, 2000. p.197; CARDOSO, 2005. 167

BOXER, op. cit., p. 302. 168

Ibid., loc. cit. 169

Ibid., p. 305. 170

[Irmão 628] In: ALMEIDA, 1975. 171

LOBO, 2001, p. 98

Page 48: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

47

incentivava a ideia de misericórdia que aparecia em algumas dessas organizações

mesmo de cunho profano.172

Era esse o ideal da Sociedade Portuguesa Beneficente Primeiro de Dezembro

(SPBPD). Explica-se: a finalidade da Sociedade era exercer a caridade ou proteger

os portugueses, auxiliando-os na enfermidade, na prisão, faze-lhes o funeral,

emprestando dinheiro para transporte para outra localidade. 173

Segundo Boschilia, o grupo responsável pela criação da SPBPD era

constituído por portugueses que se estabeleceram há algum tempo no Paraná e que

possuíam fortes vínculos com o setor comercial.174 Esse era o caso de José

Fernandes Loureiro, que foi um dos fundadores e presidente em 1878 e 1898 dessa

sociedade.

Para Vitor Manoel Marques da Fonseca, as associações baseadas em

nacionalidade, ao mesmo tempo em que unem conterrâneos em torno de interesses

comuns, são locais de exclusão, pois não podem participar pessoas de outras

nacionalidades.175

Os fundadores da SPBPD estavam preocupados em criar mecanismos para

propiciar a coesão do grupo, integrando os associados num circuito de

relacionamentos. Sendo que a rede verticalizada de solidariedade praticada nessa

sociedade, objetivava apoiar os imigrantes necessitados, sendo que também

construía um quadro de referências simbólicas que socorria os desvalidos e

fortalecia o prestígio social daqueles que praticavam a filantropia, conforme afirma

Boschilia.176

O prestígio social era uma característica das pessoas que integravam a

maçonaria. Ocorre que José Fernandes Loureiro, como um dos homens importantes

de sua época, também participou da maçonaria através das Lojas Apostolo da

Caridade e da Fraternidade Paranaense. Sendo que de ambas ele foi um dos

172

LOBO, 2001, p. 105. 173

SOCIEDADE Portugueza Beneficente Primeiro de Dezembro. Artigo 2º. In:______. Estatutos da Sociedade Portugueza Beneficente Primeiro de Dezembro. Curitiba: [s. n.], 1878. Arquivo Público do Paraná. 174

BOSCHILIA, 2008, p.346. 175

FONSECA, Vitor Manoel Marques da. Imigração: identidade e integração, 1903-1916. In: MATOS; SOUSA; HECKER, 2008, p.362. 176

BOSCHILIA, op. cit., p. 347; 355.

Page 49: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

48

membros fundadores.177 A Apostolo da Caridade é a terceira loja mais antiga do

Paraná.178

Como já mencionado nos tópicos anteriores, José Fernandes Loureiro

possuía estreitos laços com o Barão do Serro Azul179. Sendo esse fator significante

para a criação do Clube Curitibano em 1882. Esse local, segundo Marcelo Pastre, foi

fruto do desejo das elites locais em se opor aos numerosos clubes criados pelos

estrangeiros, criando uma entidade que agregasse pessoas de origem nacional e

também as disputas dos grupos carnavalescos. Ainda, almejavam a necessidade de

associar-se, para se encontrarem em convívio amistoso e útil, com o objetivo

recreativo e cultural.180

José Fernandes Loureiro era um membro da elite comercial e seus interesses

nesse campo eram semelhantes aos dos demais comerciantes da cidade.181 Isso, e

sua relação com o Barão, corroboram para sua atuação na fundação da Associação

Comercial como mencionado anteriormente.

A vida pública desse imigrante teve inserções no campo político (José

Fernandes Loureiro foi Camarista e Presidente da Câmara da Capital182); social

(maçonaria, Associação Comercial, Irmandades) e cultural (SPBPD e Clube

Curitibano). Tudo isso para alcançar prestígio na sociedade em que ele se fixou.

De fato, o prestígio ele alcançou, pois na ocasião de seu falecimento, vários

jornais da época fizeram referência a esse acontecimento que ocorreu em Vizeu

(Portugal) no dia 30 de junho de 1908.183

Em 1911, seus restos mortais foram transladados para capela mortuária da

Família Loureiro, no Cemitério Municipal São Francisco de Paula.184 Nesse mesmo

177

MUSEU MAÇÔNICO PARANAENSE. Loja Apostolo da Caridade nº 0.344. Disponível em: <http://www.museumaconicoparanaense.com/MMPRaiz/MMP_ImagensAbertura/Loja_antigas_no_PR/Loja_0344/Historico_Loja_0344.htm>. Acesso em: 18 maio 2010; MUSEU MAÇÔNICO PARANAENSE. Loja Fraternidade Paranaense nº 0.555. Disponível em: <http://www.museuma conicoparanaense.com/MMPRaiz/LojaPRate1973/0555_Fundadores.htm>. Acesso em: 18 maio 2010 178

MUSEU MAÇÔNICO PARANAENSE. Histórico: ARLS - Apóstolo da Caridade - nº 344. Disponível em: <http://www.apostolodacaridade.com.br/historico.php>. Acesso em: 18 maio 2010. 179

CARDOSO, 2005. 180

PASTRE , Marcelo. O Clube Curitibano: representações do “plus” de educação. In: Simpósio Internacional Processo Civilizador, 10., 2007, Campinas. Anais... Londrina: UEL, [2007], p. 3. Disponível em: <ttp://www.uel.br/grupo-estudo/processoscivilizadores/portugues/sitesanais/anais10/ Artigos_PDF/Marcelo_Pastre.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2011. 181

Isso pode ser evidenciado no requerimento a Diretoria de Obras Públicas a respeito do calçamento e iluminação da Rua Riachuelo. Esse pedido foi formulado por proprietários da Rua Riachuelo. (ARQUIVO PÚBLICO DO PARANÁ. [Requerimento de obras]. Curitiba, 1890. 7 folhas.) 182

NEGRÃO, 1946, p. 23. 183

FALLECIMENTO. Diário da Tarde, Curitiba, ano XI, p. 1, 30 jun. 1908; J. FERNANDES Loureiro. A República, Curitiba, ano XXIII, n. 157, p. 1, 7 jul. 1908.

Page 50: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

49

ano, a lei municipal nº 281 determinou que certo logradouro público fosse

denominado Rua José Loureiro. A denominação da rua juntamente com a inserção

de seus descendentes no panorama econômico-social paranaense (como, por

exemplo, o caso de José Loureiro de Ascensão Fernandes, que foi médico,

professor, cientista antropólogo) fizeram com que o prestígio, alcançado pelo

imigrante português estudado, tivesse vestígios presentes no cotidiano de hoje.

184

CARDOSO, 2005.

Page 51: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

50

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Jornais, livros contábeis, livros de sociedades, testamento, livros. Uma

diversidade de tipos de fontes foi utilizada nesse trabalho. Tudo para compreender a

trajetória do imigrante português José Fernandes Loureiro.

Para isso, foi indispensável discorrer sobre a História Cultural que permite se

trabalhar com essa diversidade de materiais. Nesse trabalho, ainda, se considera a

cultura como um fator importante para o estudo desse lusitano, pois ele, como

muitos outros imigrantes portugueses, seguia a mitologia da fortuna e do retorno o

que pode ter influenciado as ações por ele empreendidas.

Obviamente não se considerou a época que ele viveu como algo sólido e

homogêneo, como Huizinga e Burckhardt tratavam em seus estudos, e sim como um

momento que apresentava potencialidades e possibilidades das decisões e dos

fatos vividos, seguindo a ideia de uso da biografia proposto por Vavy Pacheco

Borges.185

Tanto que a biografia de José Fernandes Loureiro aqui comentada, não foi

um relato linear do percurso de sua existência. Sendo notado tal modo na divisão do

terceiro capítulo, que apresentou as dimensões que o sujeito estudado se envolveu

de acordo com os vestígios apresentados pelas fontes.

De modo preponderante se usou a proposta da biografia e hermenêutica,

apresentado por Giovani Levi186, pois sem a interpretação dos momentos vividos

pelo comerciante português aliada às discussões apresentadas na historiografia

sobre a imigração portuguesa, a sua trajetória não traria outras visões do passado.

Ao enfocar um sujeito comum, que não representa a universalidade dos

imigrantes lusitanos, procurou-se trabalhar de modo que as interpretações aqui

realizadas não determinassem esse imigrante português (muitos aspectos de sua

vida não se pode conhecer com exatidão) bem como não se pretendeu reconstituir o

passado tal como ele ocorreu. O que foi reflexo do conhecimento das reflexões

apresentadas por Sabina Loriga, para quem o biografado deve permanecer

particular e fragmentado.187

185

BORGES, p.5. 186

LEVI, 1996, p. 178. 187

LORIGA, 1998, p. 244; 248; 249.

Page 52: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

51

Sem dúvida, as diferentes concepções sobre a história cultural tiveram

influência no resultado do trabalho, por ser uma história plural que apresenta vários

caminhos. Por exemplo: os livros contábeis podem ser utilizados sob outros

enfoques, como a econômica e o prisma da história da alimentação.

A vida de José Fernandes Loureiro pode ser analisada através dos conceitos

de representação e apropriação de Roger Chartier.188 E principalmente sob o

enfoque da micro-história já que a escala de observação centrada em um sujeito é

um fator característico de uma análise muito reduzida e enriquece a análise sobre o

passado.

Tudo isso, para responder a problemática proposta, ou seja, Quais os

mecanismos que esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade?

A questão da prosperidade está relacionada com a mitologia da fortuna e do

retorno que era o ideal de boa parte dos lusitanos que emigrava, como já

mencionado nesse trabalho.189

Por intermédio das informações colhidas nas fontes, foi possível perceber as

três inserções (econômica, familiar e sociocultural) que os imigrantes portugueses

estabeleciam na sociedade receptora. No caso desse trabalho, José Fernandes

Loureiro, para alcançar a fortuna, atuou como comerciante (vida empresarial);

casou-se com mulheres de família tradicional do Paraná, que também eram

descendentes de portugueses, e fez com que suas filhas casassem com membros

da elite e/ou com pessoas com ascendência lusitana (vida privada); e procurou

prestígio social ao pertencer à Câmara Municipal, à Santa Casa, à Irmandade da

Nossa Senhora da Luz dos Pinhais da vila de Curitiba, à Sociedade Portuguesa

Beneficente Primeiro de Dezembro (SPBPD), às Lojas maçônicas Apóstolo da

Caridade e a Fraternidade Paranaense, ao Clube Curitibano e à Associação

Comercial (vida pública).

Pode-se notar que para alcançar o ideal acima comentado, José Fernandes

Loureiro exerceu atividades em várias dimensões, sendo que no início enfocou a

atividade comercial para conseguir estabilidade econômica e se destacar na

sociedade receptora.

188

CHARTIER, Roger. Introdução. In:______. A história cultural. Lisboa: Difel, 1990. p. 26 apud VAINFAS, 1997, p. 154-155. 189

PEREIRA, 2002, p.45-54.

Page 53: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

52

Posteriormente, ao se casar, procurou estabelecer vínculos com uma família

tradicional paranaense provavelmente visando aumentar seu prestígio perante à

população de Curitiba. Possivelmente, para manter essa posição, após enviuvar,

conservou laços com a família de sua esposa falecida, ao se casar com a cunhada.

Ainda, deve ter escolhido os maridos das filhas que teve no seu primeiro casamento,

pois se pode afirmar que três dos quatro genros pertenciam a um estrato social

privilegiado.

Ainda, para reforçar sua posição, José Fernandes Loureiro exerceu caridade

através da sua participação na Santa Casa, na Irmandade da Nossa Senhora da Luz

dos Pinhais e na Sociedade Portuguesa Beneficente Primeiro de Dezembro

(SPBPD) e com doações a essas entidades.

Possivelmente com intuito de estreitar as relações com a elite da sociedade

receptora, esse imigrante português participou de lojas maçônicas, do Clube

Curitibano e da Associação Comercial do Paraná.

Com base em todos os indícios encontrados, é possível considerar que esse

sujeito traduz o perfil dos imigrantes portugueses e é representativo de uma parcela

desses que igualmente alcançou prestígio e fortuna. Sendo um exemplo que, ao

voltar a sua terra natal, pode ter contribuído para a permanência dessa mitologia.

Por fim, conclui-se que José Fernandes Loureiro utilizou como mecanismos

para alcançar a prosperidade: a sua atuação como comerciante; a escolha de suas

esposas que eram de origem portuguesa e integravam a elite curitibana da época; o

estreitamento das relações com outros membros dessa elite por intermédio de

associações, irmandades e clubes.

Page 54: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

53

FONTES ALMEIDA, Nely Lidia Valente. Curiosidades Históricas da Irmandade de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais da Vila de Curitiba. [Curitiba]: [s.n.], 1975.

BRASIL. Sociedades Anonymas: Banco Comercial do Paraná. In:_____. Diário Official, Rio de Janeiro, 24 abr. 1906. p. 2137-2140.

CARDOSO, Rosy de Sá. A Rua José Loureiro e o ilustre José Nabo: português movimentava capital paranaense no final do século 19. Gazeta do Povo, Curitiba, 2 jan. 2005. Caderno G, memória.

CARNEIRO, David. A atual Rua XV de Novembro ao tempo da vinda de D. Pedro II. Gazeta do Povo, [Curitiba], 23 set. 1979. p. 10.

CORREIA, Leôncio. História da cidade: a rua quinze. O Estado do Paraná, [Curitiba], 20 fev. 1966.

DICIONÁRIO HISTÓRICO-BIOGRÁFICO DO PARANÁ. Curitiba: Chain, Banco do Estado do Paraná, 1991.

FALLECIMENTO. Diário da Tarde, Curitiba, ano XI, p. 1, 30 jun. 1908.

FERNANDES, José Loureiro. [Carta ao redator do Jornal Dia]. [Curitiba]: [s. n.], [ca.1932]. Museu de Arqueologia e Etnologia da UFPR, documento III.303.

FERNANDES, José Loureiro. A “Comissão do Comércio de Curitiba” na Revolução de1894. In: Congresso da História da Revolução de 1894, 1., Curitiba. Anais do Primeiro Congresso da História da Revolução de 1894, Curitiba: Governo do Estado do Paraná, 1944. p. 279-292.

FERNANDES, LOUREIRO E CIA. 1879 Balanço principiado a 2 de janeiro de 1880. [Curitiba]: [s. n.], 1880.

______. Balanço da Caza da Rua da Imperatriz em 1884. [Curitiba]: [s. n.], 1884.

______. Livro balanço de 1889. [Curitiba]: [s. n.], 1889.

______. Livro para o balanço da caza da rua 15 de novembro. Dezembro de 1891. [Curitiba]: [s. n.], 1891.

______. Livro balanço de 1899. [Curitiba]: [s. n.], 1900.

Page 55: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

54

______. Livro balanço de 1900. [Curitiba]: [s. n.], 1901.

______. Livro balanço de 1903. [Curitiba]: [s. n.], 1904.

GARCIA, Antônio. Família Loureiro Fernandes. In:______. Dr. Loureiro Fernandes: médico e cientista; antropologia e etnologia. Curitiba: Vozes, 2000. p.197-199.

J. FERNANDES Loureiro. A República, Curitiba, ano XXIII, n. 157, p. 1, 7 jul. 1908.

JUNTA COMERCIAL do Rio de Janeiro. Contracto n. 1, 19 jan. 1886.

_____. Contracto n. 1, 30 jul.1890.

LOUREIRO, José Fernandes. Testamento. In: ARQUIVO PÚBLICO DO PARANÁ. Auto de testamento em que é José Fernandes Loureiro Fallicido (autos n. 752/1908). Curitiba: [s.n.], 1908.

MOYA, Salvador de. Índices Genealógicos Brasileiros: Genealogia Paranaense, de Negrão. Suplemento da revista Genealógica Latina. São Paulo: [s.n.], 1961.

MUSEU MAÇÔNICO PARANAENSE. Loja Apostolo da Caridade nº 0.344. Disponível em: <http://www.museumaconicoparanaense.com/MMPRaiz/MMP_Im agensAbertura/Loja_antigas_no_PR/Loja_0344/Historico_Loja_0344.htm>. Acesso em: 18 maio 2010.

NEGRÃO, Francisco. Genealogia paranaense. v. 5. Curitiba: Impressora Paranaense, 1946.

_______. Memória da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba (1842-1932). Curitiba: Empresa Gráfica Paranaense, 1933.

Rua José Loureiro. Gazeta do Povo, Curitiba, 18 nov. 2007. Classificados, Ruas de Curitiba, p. 3

SOCIEDADE Portugueza Beneficente Primeiro de Dezembro. Estatutos da Sociedade Portugueza Beneficente Primeiro de Dezembro. Curitiba: [s. n.], 1878. Arquivo Público do Paraná.

SOUZA, Elson Oliveira. José Loureiro de Ascenção Fernandes. Disponível em: <http://www.ic news.com.br/2008.09.17/colunistas/dom-moacyr-jose-vitti-css/jose-loureiro-de-ascencao-fernandes/>. Acesso em: 19 dez. 2010.

Page 56: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

55

WACHOWICZ, Ruy. História das histórias da Rua XV. Nicolau, Curitiba, set.-out. 1994, v. 8, n. 55. Memória, p. 8-11.

Page 57: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

56

REFERÊNCIAS

ARÓSTEGUI, Julio. A crise da historiografia e as perspectivas: os grandes paradigmas. In:______. A Pesquisa histórica: teoria e método. Tradução de Andréa Dore. Revisão técnica de José Jobson de Andrade Arruda. Bauru. SP: Edusc, 2006. p. 175-252.

BACELLAR, Carlos de Almeida Prado. Os reinóis na população paulista às vésperas da Independência. In: Anais do XII Encontro Nacional de Estudos Populacionais da ABEP, Caxambu, 2000, v.1. Disponível em: <http://www.abep.org.br/>. Acesso em: 8 ago. 2010. p.1-26.

BALHANA, Altiva Pilatti. Imigração e colonização. In: ______; MACHADO, Brasil Pinheiro; WESTPHALEN, Cecília Maria. História do Paraná. Curitiba: Graphipar, 1969. v.I. p. 156-184.

BASTOS, Sênia. Negociantes e caixeiros na cidade de São Paulo em meados do século 19. In: MATOS, Maria Izilda S. de; SOUSA, Fernando de; HECKER, Alexander. Deslocamentos e história: os portugueses. Bauru, SP: Edusc, 2008. (Coleção Ciências Sociais). p.131-140.

BOLETIM INFORMATIVO DA CASA ROMÁRIO MARTINS. A Rua 15 e o comércio no início do século. Curitiba: Fundação Cultural de Curitiba, v. 23, n. 113, jul. 1996.

BORGES, Vavy Pacheco. Gabrielle Brune-Sieler, uma vida (1874-1940): os desafios da biografia. Disponível em: <http://sitemason.vanderbilt.edu/files/.../ Borges%20Vavy%20Pacheco.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2010.

BOSCHILIA, Roseli. A sociedade portuguesa em Curitiba: um projeto identitário (1878-1900). In: MATOS, Maria Izilda S. de; SOUSA, Fernando de; HECKER, Alexander. Deslocamentos e história: os portugueses. Bauru, SP: Edusc, 2008. (Coleção Ciências Sociais). p.339-355.

BOXER, Charles R. Conselhos municipais e irmãos de caridade. In:_____. O Império marítimo português: 1415-1825. Tradução de Olga de Barros Barreto. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 286-308.

BURKE, Peter. História cultural: passado, presente e futuro. In:______. O Mundo como teatro: estudos de antropologia histórica. Lisboa: DIFEL, 1992. p.15-26.

______. A escola dos Annales (1929-1989): a revolução francesa da historiografia. Tradução de Nilo Odalia. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1997

Page 58: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

57

_____. O que é história cultural? Tradução de Sérgio Goes de Paula. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.

CERVO, Amado Luiz. A Imigração portuguesa para o Brasil entre 1825-1889. In: _____; CALVET DE MAGALHÃES, José; ALVES, Dário Moreira de Castro (orgs. e apresentação). Depois das caravelas: as relações entre Portugal e Brasil (1808-2000). Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2000. p. 129-168.

CHAVES, Ernani. Cultura e política: o jovem Nietzsche e Jakob Burckhardt. Cadernos Nietzsche, São Paulo, n. 9, p. 41-66, 2000. Disponível em: <http://www.fflch.usp.br/df/gen/pdf/cn_09_02.pdf >. Acesso em: 15 dez. 2010.

DARNTON, Robert. História intelectual e cultural. In: ______. O beijo de Lamourette: Mídia, cultura e revolução. São Paulo: Cia. das Letras, 2010. p. 204-231.

DOSSE, François. O Desafio Biográfico: escrever uma vida. Tradução de Gilson César Cardoso de Souza. São Paulo: Edusp, 2009.

ELIAS, Norbert. O processo civilizador: uma história dos costumes. Tradução de Ruy Jungmann. Revisão e apresentação de Renato Janine Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994. v.1.

FIAMONCINI, Celina. Imigração, cultura e identidade: portugueses e o comércio em Curitiba no final do século XIX. 81f. Monografia (Curso de Licenciatura e Bacharelado em História)- setor de Ciências Humanas Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2008.

FLORENTINO, Manolo; MACHADO, Cacilda. Ensaio sobre a imigração portuguesa e os padrões de miscigenação no Brasil (séculos XIX e XX). Portuguese Studies Review, Trent (Canadá), 2002, v. 10, n. 1, p. 58-84. Disponível em: <http://www. trentu.ca/admin/publications/psr/sample/1012.pdf>. Acesso em 16 dez. 2010.

GINZBURG, Carlo. O nome o como, troca desigual e mercado historiográfico. In: ______; CASTELNUOVO, Enrico; PONI, Carlo (org.). A micro-história e outros ensaios. Tradução de António Narino. Lisboa: DIFEL, 1989. (Memória e sociedade). p.169-178 . HOBSBAWM, Eric. Marx e a história. In:______. Sobre história: ensaios. Tradução de Cid Knipel Moreira. São Paulo: Cia. das Letras, 1998. p. 171-184

KLEIN, Herbet S. A integração social e económica dos imigrantes portugueses no Brasil nos finais do século XIX e no século XX, Análise Social, Lisboa, v. xxviii (121), p. 235-265, 2. sem.1993. Disponível em:

Page 59: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

58

<http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1223290545Z8cUY2rh7Lu99TE5.pdf>. Acesso em: 14 dez. 2010.

LANDINI, Tatiana Savoia. A sociologia processual de Norbert Elias. IX Simpósio Internacional Processo Civilizador: tecnologia e civilização.Ponta Grossa. p. 1-9. Disponível em: <http://www.fef.unicamp.br/sipc/anais9/artigos/mesa_debates/art27. pdf>. Acesso em 14 dez. 2010.

LE GOFF, Jacques. As mentalidades: uma história ambígua. In: _____; NORA, Pierre (direção). História: novos objetos. Tradução de Terezinha Marinho; revisão técnica de Gadiel Perruci. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1976. p. 68-83.

LEITE, Joaquim da Costa. O Brasil e a emigração portuguesa, 1855-1914. In: FAUSTO, Boris (org.). Fazer a América: A Imigração em Massa para a América Latina. São Paulo: Ed. Universidade de São Paulo, 1999. p. 177-200.

LEVI, Giovanni. Sobre a micro-história. In: BURKE, Peter (Org.). A Escrita da história: novas perspectivas. Tradução de Magda Lopes. São Paulo: Editora da UNESP, 1992. p. 133-161.

______. Usos da biografia. In: AMADO, Janaína; FERREIRA, Marieta de Moraes (Orgs.). Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1998 p. 167-182.

LOBO, Eulália Maria Lahmeyer. Imigração portuguesa no Brasil. São Paulo: Hucitec, 2001. (Estudos Históricos; 43).

LORIGA, Sabina. A biografia como problema. In: REVEL, Jacques. (Org.) Jogos de escalas: a experiência da microanálise. Tradução de Dora Rocha. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1998. p. 225-249.

MACHADO, Brasil Pinheiro. Economia provincial. In: BALHANA, Altiva Pilatti; MACHADO, Brasil Pinheiro; WESTPHALEN, Cecília Maria. História do Paraná. Curitiba: Graphipar, 1969. v.I. p. 130-133.

MARTINS, Ismênia de Lima. Registro de imigrantes: estratégia de pesquisa. In: MATOS, Maria Izilda S. de; SOUSA, Fernando de; HECKER, Alexander. Deslocamentos e história: os portugueses. Bauru, SP: Edusc, 2008. (Coleção Ciências Sociais). p.15-26.

MATOS, Maria Izilda Santos de. Entre o lar e o balcão: mulheres imigrantes (São Paulo/Brasil 1890-1950) In: Congresso Internacional A vez e a voz das mulheres Imigrantes portuguesas, 2., 2005, Berkeley. [Livro de resumos]. [Berkeley]: s.n., 2005, p. 31-50.

Page 60: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

59

MENDES, José Sacchetta Ramos. Triângulo imigrantista: o caso Hessels-Carière e a reemigração de portugueses do Brasil para a Venezuela e as Antilhas Holandesas. In: MATOS, Maria Izilda S. de; SOUSA, Fernando de; HECKER, Alexander. Deslocamentos e história: os portugueses. Bauru, SP: Edusc, 2008. (Coleção Ciências Sociais). p. 49-58.

MENEZES, Lená Medeiros de; CYPRIANO, Paula Leitão. Imigração e negócios: comerciantes portugueses segundo os registros do Tribunal do Comércio da Capital do Império (1851-1870). In: MATOS, Maria Izilda S. de; SOUSA, Fernando de; HECKER, Alexander. Deslocamentos e história: os portugueses. Bauru, SP: Edusc, 2008. (Coleção Ciências Sociais).p.103-118.

NADALIN, Sérgio Odilon. Por uma ética do trabalho. colonização, imperialismo e liberalismo. a proposta de uma imigração de colonos brancos,”morigerados e laboriosos”. In:______. Paraná: ocupação do território, população e migrações. Curitiba: SEED, 2001. (Coleção História do Paraná; textos introdutórios). p.53-89.

PASSOS, Giseli Cristina dos. A presença dos imigrantes portugueses no Paraná na segunda metade do século XIX. 63 f. Monografia (Curso de Licenciatura e Bacharelado em História) – Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2009.

PASTRE , Marcelo. O Clube Curitibano: representações do “plus” de educação. In: Simpósio Internacional Processo Civilizador, 10., 2007, Campinas. Anais... Londrina: UEL, [2007], p. 1-13. Disponível em: <ttp://www.uel.br/grupo-estudo/processoscivilizadores/portugues/sitesanais/anais10/Artigos_PDF/Marcelo_Pastre.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2011.

PAULA, João Antonio de. Lembrar Huizinga: 1872-1945, Nova Economia, Belo Horizonte, n. 15, p. 141-148, jan.-abr. 2005. Disponível em: <www.face.ufmg.br/ novaeconomia/sumarios/v15n1/150106.pdf>. Acesso em: 15 dez. 2010.

PEREIRA, Miriam Halpern. A política portuguesa de emigração (1850-1930). Revisão técnica de Maria Helena Ribeiro da Cunha. Bauru (SP); Portugal: Edusc; Instituto Camões, 2002. (Coleção História).

REVEL, Jacques. Microanálise e a construção do social. In: ______. (Org.) Jogos de escalas: a experiência da microanálise. Tradução de Dora Rocha. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1998. p. 15-38.

RIBEIRO, Gladys Sabina; MACHADO, Eliane Paiva. O funcionamento da comissão mista Brasil-Portugal do tratado de paz e aliança de 1825 e os seqüestros de bens. In: MATOS, Maria Izilda S. de; SOUSA, Fernando de; HECKER, Alexander. Deslocamentos e história: os portugueses. Bauru, SP: Edusc, 2008. (Coleção Ciências Sociais). p.171-188.

Page 61: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

60

SILVA, Maria Betriz Nizza da. Documentos para a história da imigração portuguesa no Brasil: 1850-1938. Rio de Janeiro: Federação das Associações Portuguesas e Luso-brasileiras; Editorial Nórdica, 1992.

TRICHES, Robertha Pedroso. Identidades Contrastivas: a Inserção do Português na Primeira República. História, imagem e narrativas, [Rio de Janeiro], n. 5, ano 3, p. 1-23 , set. 2007. Disponível em: <http://www.historiaimagem.com.br>. Acesso em: 23 dez. 2010.

VAINFAS, Ronaldo. História das mentalidades e história cultural. In: CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo (Orgs.). Domínios da História: ensaios de teoria e metodologia. 13. reimp. Rio de Janeiro: Elsevier; Campus, 1997. p.127-162.

______. Os protagonistas anônimos da história: micro-história. Rio de Janeiro: Campus, 2002.

WARBURG, Aby. Imagens da região dos índios Pueblo da América do Norte. Tradução de Jason Campelo. Revisão técnica de Roberto Conduru. Concinnitas, Rio de Janeiro, ano 6, v. 1, n. 8, p. 9-29, jul. 2005. Disponível em: <http://www.concinnitas.uerj.br/resumos8/warburg.htm>. Acesso em: 15 dez. 2010.

WESTPHALEN, Cecília Maria; BALHANA, Altiva Pilatti. Portugueses no Paraná. In: LEITE, Renato Lopes. Cultura e poder: Portugal-Brasil no século XX. Curitiba: Juruá, 2003. p. 23-35.

Page 62: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

61

ANEXOS ANEXO A – PLANTAS DA RUA XV DE NOVEMBRO COM A LOCALIZAÇÃO DA LOJA DE JOSÉ FERNANDES LOUREIRO ......................................................... 62 ANEXO B – LISTA DE DEVEDORES DO LIVRO “1879 Balanço principiado a 2 de janeiro de 1880”. .................................................................................................. 65 ANEXO C - CONTRATO SOCIAL DE 1886 E DE 1890 ....................................... 68 ANEXO D – ANÚNCIOS NO JORNAL “O COMMERCIO” ................................... 71 ANEXO E – TÚMULO DA FAMÍLIA J. F. LOUREIRO .......................................... 74 ANEXO F – INSCRIÇÃO DE JOSÉ FERNANDES LOUREIRO E DE SUA ESPOSA NA IRMANDADE DA NOSSA SENHORA DA LUZ DOS PINHAIS DA VILA DE CURITIBA............................................................................................................. 77

Page 63: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

62

ANEXO A – PLANTAS DA RUA XV DE NOVEMBRO COM A LOCALIZAÇÃO DA

LOJA DE JOSÉ FERNANDES LOUREIRO

Page 64: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

63

Fonte: BOLETIM INFORMATIVO DA CASA ROMÁRIO MARTINS. A Rua 15 e o comércio no início do século. Curitiba: Fundação Cultural de Curitiba, v. 23, n. 113, jul. 1996. p. 100.

Casa de José

Fernandes Loureiro

Page 65: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

64

Fonte: BOLETIM INFORMATIVO DA CASA ROMÁRIO MARTINS. A Rua 15 e o comércio no início do século. Curitiba: Fundação Cultural de Curitiba, v. 23, n. 113, jul. 1996. p. 102.

Casa de José

Fernandes Loureiro

Page 66: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

65

ANEXO B – LISTA DE DEVEDORES DO LIVRO “1879 Balanço principiado a 2 de

janeiro de 1880”

Page 67: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

66

Fonte: FERNANDES, LOUREIRO E CIA. 1879 Balanço principiado a 2 de janeiro de 1880. [Curitiba]: [s. n.], 1880.

Page 68: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

67

Fonte: FERNANDES, LOUREIRO E CIA. 1879 Balanço principiado a 2 de janeiro de 1880. [Curitiba]: [s. n.], 1880.

Page 69: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

68

ANEXO C - CONTRATO SOCIAL DE 1886 E DE 1890

Page 70: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

69

Fonte: JUNTA COMERCIAL do Rio de Janeiro. Art. 3º In:______. Contracto n. 1, 19 jan. 1886.

Page 71: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

70

Fonte: JUNTA COMERCIAL do Rio de Janeiro. Art. 3º In:______. Contracto, 30 jul.1890.

Page 72: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

71

ANEXO D – ANÚNCIOS NO JORNAL “O COMMERCIO”

Page 73: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

72

Fonte: O Commercio, Curitiba, 1 set. 1900, n. 142, p.3

Fonte: O Commercio, Curitiba, 3 set. 1900, n. 143, p.2.

Page 74: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

73

Fonte: O Commercio, Curitiba, 3 set. 1900, n. 143, p.4

Page 75: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

74

ANEXO E – TÚMULO DA FAMÍLIA J. F. LOUREIRO

Page 76: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

75

Page 77: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

76

Page 78: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

77

ANEXO F – INSCRIÇÃO DE JOSÉ FERNANDES LOUREIRO E DE SUA ESPOSA NA IRMANDADE DA NOSSA SENHORA DA LUZ DOS PINHAIS DA VILA DE

CURITIBA

Page 79: JOSÉ FERNANDES LOUREIRO: um imigrante português em ... · esse imigrante português utilizou para alcançar a prosperidade? O trabalho com as fontes se iniciou com pesquisa de periódicos

78

Fonte: ALMEIDA, Nely Lidia Valente. Curiosidades Históricas da Irmandade de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais da Vila de Curitiba. [Curitiba]: [s.n.], 1975.