JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS - Uma_abordagem_ critica

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  • 7/22/2019 JUIZADOS ESPECIAIS CVEIS - Uma_abordagem_ critica

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    JUIZADOS ESPECIAIS CVEIS

    UMA ABORDAGEM CRTICA LUZ DA SUA PRINCIPIOLOGIA

    Marcos Jorge Catalan

    Mestrando em Direito Negocial pela Universidade Estadual de

    Londrina. Especialista em Direito Civil e Direito Processual Civil pela

    Universidade Paranaense. Professor Convidado do Curso de

    Especializao em Direito Civil e Direito Processual Civil da

    Universidade Estadual de Londrina. Professor de Direito Civil e Direito

    Processual Civil na UNIPAR - Universidade Paranaense, campus

    Paranava e da Universidade Estadual de Maring (2001/2002)

    Sumrio: Introduo. 1. Origem legislativa 2. Princpios que regem a lei n.

    9.099/95. 3. Princpio da oralidade. 4. Princpio da simplicidade. 5. Princpio da

    informalidade. 6. Princpio da economia processual. 7. Princpio da celeridade.

    Concluso.

    Resumo: O artigo versa sobre os princpios aplicveis a Lei 9.099/95 que institui

    os Juizados Especiais Cveis e como sua correta observncia e obedincia podemlevar a melhor aplicao da Lei e principalmente ao acesso Justia e satisfao

    das partes.

    Palavras chave: Juizados Especiais. Princpios. Acesso Justia.

    A Revoluo Francesa deu autonomia ao Poder Judicirio,

    que passou a distribuir justia por ato de soberania, e no,

    como at ento acontecera, por favor real.

    Paulino Jacques

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    2Introduo

    pacifica a discusso quanto ao fato de que, hodiernamente, incumbe ao poder

    estatal assegurar a observncia do ordenamento jurdico, visto que no direito moderno, o

    Estado quem monopoliza a fora (Wambier; Almeida; Talamini, 1999, p. 27). Deste modo,

    estabeleceu-se a jurisdio, como o poder que toca ao Estado de elaborar as normas e aplicar,

    no mundo dos fatos, a regra jurdica abstrata (Liebman, 1968, p. 10) quando houver violao

    do ordenamento, sendo vedada a autotutela enquanto regra.

    Neste sentido, como leciona Dinamarco (1999, p. 103), o sistema, ao final e se

    necessrio for, deve atuar substituindo a vontade das partes que no cumpriram sua obrigao,

    pela dos agentes do poder estatal, que com sua atividade devem proporcionar situao social

    ou econmica equivalente quela que teria sido alcanada mediante o cumprimento voluntrioda obrigao.

    Dessarte, tambm pacifico que o sistema, na maioria das vezes, no garante os

    meios necessrios soluo destas questes. Teoricamente os conceitos so magnficos e as

    instituies, soberbas; porm, os efetivos destinatrios da Justia, no compartilham de tal

    entendimento, ao verem, diuturnamente, seus direitos sonegados, seja por dificuldades

    financeiras que os impossibilitam arcar com as custas processuais, seja pelos anos ao longo

    dos quais os processos se arrastam pelos Tribunais, fazendo com que ao final, se alcanarem o

    almejado acesso justia, este no mais surtir efeitos prticos; j que a falta de acesso no

    permite que o cidado libere-se da insatisfao trazida pelo conflito (Marinoni, 1996, p. 100)

    Questiona-se assim, se h justia em decises tardias, especialmente no que

    pertine ao descontentamento da parte, que, impedida de ter seu direito efetivado diante de um

    sistema judicial catico, se v de mais atadas, pois o que realmente interessa aos cidados que

    recorrem ao Poder Judicirio, sem sombra de dvida, no ter facilitado o ingresso em juzo,

    ou mesmo a anlise do mrito das demandas existentes, mas sim a pacificao da tenso

    surgida entre as mesmas no mundo real.

    Neste condo, imprescindvel que o processo oferea s partes resultados

    efetivos, capazes de reverter situaes injustas e desfavorveis, diminuindo os resduos

    externos e prejudiciais ao processo. E tal idia coincide com a de efetividade na prestao

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    3jurisdicional, e por conseqncia com a sonhada plenitude do acesso Justia e com um

    processo civil de resultados(Dinamarco, 1996, p. 55).

    Imperiosa a lio de Capelletti e Garth, (1988, passim) ao discorrerem que no

    adianta permitir-se s partes o acesso aos rgos judicirios se no existirem mecanismos que

    tornem seus direitos exeqveis, para que primordialmente se alcance a justia social.

    neste contexto que, na busca da efetividade e do verdadeiro acesso Justia,

    nasce a Lei 9.099/95, substituindo a antiga Lei 7.244/841, buscando o legislador, por meio da

    nova norma, criar mecanismos capazes de desafogar a Justia Comum de seus infindveis

    autos sem soluo, a fim de que toda a sociedade comungue de uma Justia rpida e eficaz.

    Os Juizados Especiais Cveis, vieram acabar com algumas distores sociais,

    facilitando a vida daqueles que tinham dificuldades financeiras para buscar aprestao jurisdicional e que hoje podem ter acesso a essa prestao, sem onus das custas processuais e sucumbncia em honorrios advocatcios,permitindo-se-lhes propor e contestar as reclamaes sem a necessidade deassistncia de advogado quando o valor atribudo causa no for superior a20 salrios mnimos. (Silva, 1998, p. 01).

    Apesar de a referida norma, principalmente devido aos princpios que a amparam,

    desburocratizar o acesso Justia, observa-se que a esta mesma lei no se tem dado a devida

    importncia, com a inobservncia em muitas situaes de seus escopos polticos e sociais.

    Ao apontar os fatores que dificultam a aplicao da Justia, mediante o estudocrtico dos princpios que regem a Lei 9.099/95, buscar-se- solues para efetivar o acesso

    ordem jurdica justa.

    Indaga-se se os Juizados Especiais Cveis vm cumprindo ou no, com o seu

    papel fundamental de facilitar o acesso Justia, solucionando as lides e os conflitos extra-

    jurisdicionais delas decorrentes. Pergunta-se tambm se o procedimento da lei facilita o

    acesso da populao menos favorecida tutela jurisdicional, e ao mesmo tempo, se d a

    necessria prestao jurisdicional; pois o problema que se apresenta hoje reside na dificuldade

    de se alcanar a Justia, como j dito, entre outros fatores, em razo da demora nas solues

    das demandas em face da crise sociolgica do direito, bem como ante as inmeras

    dificuldades no prprio acesso aos rgos judicirios.

    1Lei dos Juizados Especiais de Pequenas Causas

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    4No se pode esquecer nunca que, apesar de o Brasil ser uma das maiores

    economias mundiais, aproximadamente 50% de sua populao economicamente ativa,

    sobrevive com renda mdia de um salrio mnimo mensal.

    Dessarte, no se pode aceitar que esta nefasta realidade sirva como desculpa para

    um comportamento passivo, como o adotado pelos homens na caverna de Plato. Muito

    embora as adversidades sejam inmeras, entre elas os problemas culturais e econmicos que

    se elevam exponencialmente ante a falta de vontade poltica existente no pas, no se pode

    fechar os olhos para uma parcela significativa de brasileiros que precisam do judicirio.

    Mudanas so necessrias e com urgncia. E tais mudanas devem partir do

    prprio individuo, no plano comportamental, no sendo possvel aceitar-se que a sociedade se

    cale diante do caos que a cada dia torna a vida dos homens ainda mais difcil.

    Em muitos habita o receio natural de inovar, de vasculhar e buscar novoshorizontes, de enveredar-se por novos caminhos, os quais somados ao outrolado, queles que detm o poder em seus vrios graus, colaboram para quese mantenha a situao catica que se abate sobre ns cotidianamente, semque percebamos. Os coronis do norte e os caudilhos do sul, apesar deesquecidos pelos livros de histria, continuam a exercer seu poder,conduzindo seus domnios a seu bel prazer, muitas vezes a troco de cestasbsicas, etc. (...) Pior, este temor da evoluo, aliado ao descrdito emmudanas, permite que vrias vezes nossos anseios sejam ignorados,deixados de lado, priorizando-se o interesse de alguns, em detrimento dopovo brasileiro. Finalmente, quando novos expoentes destacam-se, tentandofazer valer a lei e a verdade, em prol da sociedade, so freados de todas asmaneiras possveis. Quando o povo brasileiro tiver real conscincia de seupoder, certamente haveremos de viver muito melhor (Catalan, 1999, p. 04).

    Na busca por solues, questiona-se se a Lei 9.099/95 realmente conseguiu

    desburocratizar e agilizar o acesso Justia de modo a atingir e beneficiar seus destinatrios

    ou se apenas letra morta no sistema ?

    O povo brasileiro merece uma resposta, pois diuturnamente v seus direitos

    sonegados, enquanto o poder pblico age de modo taciturno, mostrando apenas nmeros e

    falsas imagens da realidade; enquanto pesquisas demonstram que menos de 10% da

    populao tem acesso ao Poder Judicirio.

    A lei que rege os Juizados Especiais Cveis engloba, em tese, a soluo para

    infindveis problemas em relao ao acesso Justia, especialmente fatores ligados aos

    elementos tempo e recursos financeiros. necessria agora, sua adequada e eficaz aplicao.

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    51. Origem legislativa do juizado especial

    A experincia mais antiga do que muitos imaginam. A Inglaterra, nosculo XI, j utilizava um sistema semelhante em matria cvel, exemplo

    seguido pela ustria em 1.873. A Noruega por sua vez, resolveu implantar osistema alternativo no fim do sculo XIX, com o objetivo de proteger oscamponeses que no podiam pagar advogados. (Consulex, 1999, p. 15).

    A origem legislativa dos Juizados Especiais no ordenamento jurdico ptrio,

    encontra-se na Constituio de 1967, capitulada no artigo em seu Art. 144, 1, alnea b.2

    Em que pese a existncia do referido dispositivo constitucional, a regulamentao do mesmo

    se deu apenas dezessete anos depois, em prejuzo exclusivo da sociedade, pois somente em 07

    de novembro de 1.984, por meio da Lei n. 7.244, foram institudos os Juizados Especiais de

    Pequenas Causas, que por onze anos estiveram em plena vigncia.A Constituio Federal de 1.988, por sua vez, no Art. 98, inciso I, prev que a

    Unio, no Distrito Federal e nos Territrios, e os Estados, criaro os Juizados Especiais

    Cveis. Assim, a Carta Magna3vigente, traz expressamente consignado em seu texto que os

    Juizados Especiais sero criados para que neles sejam processadas e julgadas causas de menor

    complexidade, prevendo tambm rito especial e clere4para o processamento das demandas

    que iro tramitar perante os Juizados Especiais. O mesmo texto prescreve ainda que a

    competncia para legislar sobre os Juizados Especiais concorrente5, sendo atribuio da

    Unio e dos Estados da Federao.

    2Cf: Constituio Federal de 1967.

    Art. 144. Os Estados organizaro a sua Justia, observados os artigos 113 a 117 desta Constituio e osdispositivos seguintes:

    1. A lei poder criar, mediante proposta do Tribunal de Justia:

    ...

    b) juizes togados com investidura limitada no tempo, os quais tero competncia para julgamento de causas depequeno valor e podero substituir juzes vitalcios.3Assim dispe o artigo 98 da Constituio Federal:

    Art. 98. A Unio, no Distrito Federal e nos Territrios, e os Estados criaro:

    I - juizados especiais, providos por juzes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliao, ojulgamento e a execuo de causas cveis de menor complexidade e infraes penais de menor potencialofensivo, mediante os procedimentos oral e sumarssimo, permitidos, nas hipteses previstas em lei, a transaoe o julgamento de recursos por turmas de juzes de primeiro grau.4A lei determina que o procedimento deve ser oral e sumarssimo.5O artigo 24 da CF/88 reza que:

    Art. 24. Compete Unio, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: ...

    X - criao, funcionamento e processo do juizado de pequenas causas.

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    6Precisamente em 26 de setembro de 1.995, alguns anos aps entrar em vigor o

    texto constitucional, promulgada a Lei n. 9.0996, que instituiu no ordenamento jurdico

    ptrio os Juizados Especiais Cveis e Criminais. A nova lei cria um mecanismo processual

    paralelo Justia Comum, na tentativa de ampliar a possibilidade de acesso ao Poder

    Judicirio para pessoas mais simples, que at ento no buscavam solues jurisdicionais para

    seus problemas.

    De fato pode at mesmo afirmar-se que introduziu-se no mundo jurdico um

    novo sistema ou ainda melhor, um micro sistema de natureza instrumental e obrigatrio7

    destinado rpida e efetiva atuao do direito (Figueira Junior; Lopes, 1995, p. 27), com a

    pretenso de prestar a tutela jurisdicional de forma simples, desprovida de formalismos,

    atuando de modo clere e com baixssimo custo, visando pacificar os conflitos jurdicos esociolgicos dos jurisdicionados, principalmente em benefcio das camadas menos

    afortunadas da sociedade (Figueira Junior, 1996, p. 13).

    2. Princpios que regem a Lei n. 9.099/95

    H de destacar-se que princpios no so meros acessrios interpretativos, mas

    normas que consagram conquistas ticas da civilizao e, por isso, estejam ou no previstos

    na lei aplicam-se cogentemente a todos os casos concretos (Portanova, 1997, p. 14), devendoser utilizados mesmo quando em conflito com a regra positivada. Observa-se assim a

    importncia que merecem os princpios que regem a cincia do direito, principalmente no

    momento da aplicao da norma abstrata no caso concreto, ou seja, no momento da aplicao

    da lei escrita realidade ftica presente nos autos.

    O atento legislador no se descuidou da importncia da principiologia no caso dos

    Juizados Especiais Cveis, e como se depreende da letra da lei8, positivou os comandos

    orientadores do processo, devendo estas diretrizes jurdicas serem utilizadas para que atuem

    6Art. 1 Os Juizados Especiais Cveis e Criminais, rgos da Justia Ordinria, sero criados pela Unio, noDistrito Federal e nos Territrios, e pelos Estados, para conciliao, processo, julgamento e execuo, nas causasde sua competncia.7No concordamos com este posicionamento.8Art. 2. O processo orientar-se- pelos critrios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processuale celeridade, buscando, sempre que possvel, a conciliao ou a transao.

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    7como um maestro ao reger sua orquestra, para que brilhe apenas a leveza e a suavidade da

    msica a ser ouvida em um nico compasso.

    Saliente-se oportunamente que mesmo que no positivado expressamente, o

    princpio do devido processo legal h sempre de ser observado, haja vista que o processo

    deve cumprir seus escopos jurdicos, sociais e polticos, garantindo: pleno acesso ao

    judicirio, utilidade dos procedimentos e efetiva busca da Justia no caso concreto

    (Portanova, 1997, p. 48).9

    Este princpio, bastio na salvaguarda dos direitos individuais e coletivos da

    sociedade, baluarte da justia nas decises, teve sua origem h sculos. Na Inglaterra, fora

    insculpido na Magna Carta10e preconizava que:

    nenhum homem livre ser preso ou privado de sua propriedade ou liberdade,declarado fora da lei ou exilado ou de qualquer maneira destrudo, nem ocastigaremos ou mandaremos fora contra ele salvo julgamento legal feitopor seus pares ou pela lei do pas.

    Tal clusula evita a restrio liberdade ou aos direitos de qualquer homem, sem

    que intervenha o Poder Judicirio (Ferreira Filho, 1992, p. 245), sendo certamente uma

    importante garantia constitucional, assegurada enquanto direito fundamental de primeira

    gerao. Nesta mesma esteira, Portanova (1997, p. 147), com o saber que lhe peculiar,

    adverte que este princpio to amplo e to significativo que legitima a jurisdio e seconfunde com o prprio Estado de Direito [...] produto da histria, da razo, do fluxo das

    decises passadas e da inabalvel confiana na fora da f democrtica que professamos.

    O devido processo legal certamente um princpio processual de elevada

    relevncia, do qual derivam inmeros outros, entre eles o princpio da isonomia, do

    contraditrio, do duplo grau de jurisdio e o da motivao das decises judiciais. Destaque-

    se outrossim que enquanto conditio sine qua non para a validade dos processos no direito

    ptrio, resta mais uma vez evidenciada a importncia do mesmo.

    9 Continua o autor: O princpio da instrumentalidade mantm o processo preocupado com a lgica doprocedimento e sua celeridade, mas tambm busca ser mais acessvel, mais pblico e mais justo ... o processoajusta-se realidade scio - jurdica atravs de um instrumentalismo substancial fundada numa tica social ... ebusca sua efetividade (onde se ressalta o acesso ao Judicirio e a justia das decises).10Artigo 39 da Magna Carta.

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    83. Princpio da oralidade:

    O princpio da oralidade consiste na exigncia constitucional da observncia da

    forma oral no tratamento da causa, destinada a cumprir com inmeras funes dentro do

    processo, agilizando-o na busca de resultados efetivos.

    Exclusivamente oral era, entre os romanos, o procedimento no perodo dasaes da lei. A oralidade perdurou no perodo clssico, mas j ento afrmula se revestia de forma escrita [...] Inteiramente oral era oprocedimento entre os germanos invasores, o que veio a influir no do povoconquistado [...] Mas o direito cannico reagiu contra o sistema e no direitocomum generalizou-se o procedimento escrito [...] Na Frana, porm, ocdigo de processo napolenico acentuou o trao oral do procedimento, queno fora jamais abandonado (Cintra; Grinover; Dinamarco, 1993, p. 274).

    Como se observa, a previso da utilizao do princpio da oralidade no nova,sendo proveniente do direito romano germnico. Especificamente, quanto a sua utilizao no

    procedimento da Lei 9.099/95, tem importncia mpar, eis que

    o princpio da oralidade aparece como norteador geral do processo civil commaior ou menor intensidade, dependendo do tipo da lide, tal qual como postapelo sistema apreciao do Estado Juiz. Todavia, no processo comum,pelas suas prprias caractersticas, a oralidade no consegue ser erigida aoseu ponto mximo, enquanto no processo especializado a possibilidadeaumenta de sobremaneira, como podemos verificar, por exemplo, nosseguintes dispositivos da Lei n. 9.099/95: artigo 13, 2 e 3, artigo 14,artigo 17, artigo 19, artigo 21, artigo 24, 1, artigo 28, artigo 29 e artigo 30

    (Figueira Junior; Lopes, 1995, p. 48).

    O princpio da oralidade apresenta grandes vantagens: primeiramente objetiva

    tornar o procedimento mais gil, possibilitando que nas audincias se reduza a termo apenas o

    essencial ao processo. Outra grande vantagem de ordem psicolgica, pois as partes tm a

    impresso, ao pronunciar-se diante do magistrado, de exercitar, elas mesmas, uma influncia

    decisiva no deslinde da demanda, e, em contrapartida, no melhoramento da imagem do

    judicirio perante os jurisdicionados.

    Destaque-se ademais que ao permitir-se s partes que se manifestem livremente,facilita-se a conciliao, propiciando uma maior aceitao das situaes em razo das

    decises serem obtidas por mtuo consenso (Capelletti; Garth, 1988, passim). Ao permitir-se

    s partes um contato mais direto com o magistrado, colabora-se para a reduo dos conflitos

    no jurisdicionveis, pois as partes sentem-se mais a vontade para exporem seus problemas.

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    9O princpio da oralidade intrinsecamente traz consigo outros princpios

    processuais, entre eles o da imediao, que consiste no contato do juiz da causa com os

    litigantes e as provas que esto a produzir, recebendo o magistrado, sem a interferncia de

    terceiros, o contedo probatrio que formar sua convico (Cintra; Dinamarco; Grinover,

    1993, p. 275). O contato direto do juiz com as partes, aliado determinao legal emanada do

    princpio expresso na lei, facilita a cognio e fatalmente permitir decises mais prximas da

    realidade.

    Outro princpio que acompanha o da oralidade, o da concentrao, que consiste

    em reduzir-se ao mximo o nmero de audincias (no caso da lei tentativa de conciliao e

    instruo) bem como o prazo entre os atos processuais.

    ululante a importncia da oralidade, ante um dos escopos colimados pela leiespecial que consiste em descongestionar as Varas Cveis existentes na Justia Comum, bem

    como permitir ao cidado que no teria acesso Justia, a possibilidade de recorrer ao Poder

    Judicirio, para ver sua pretenso satisfeita.

    Ressalte-se por derradeiro, que o referido princpio visa a possibilitar um efetivo

    acesso Justia, haja vista ser permitido que as aes sejam propostas verbalmente, devendo

    o responsvel pela escrivania reduzi-las a termo. Ademais, de acordo com o prprio texto

    legal, permite-se que sejam gravadas as contestaes, quando orais, os depoimentos das partes

    e os testemunhos, bem como manifestaes das partes em audincia, em fitas cassete ou

    similares, que se anexam aos autos, agilizando em muito o ato processual, sem a necessidade

    de que seja ditado e digitado o texto, reduzindo-se a termo apenas a sntese do colhido no ato

    processual, tornando certamente tais atos processuais mais cleres.

    Dessarte observa-se no dia-a-dia dos Juizados Especiais, que tal prtica ainda no

    foi adotada, por receio ou falta de apoio do Poder Publico, especialmente no aspecto

    financeiro, que no colabora com a efetiva aplicao da norma legal ao desprover as

    escrivanias dos mecanismos necessrios aplicao da norma em comento.

    A realidade tem demonstrado que as audincias ainda so registradas pelo mtodo

    tradicional de registro datilogrfico, o que as mantm longas e enfadonhas. Certamente, nota-

    se aqui hialina ofensa ao texto legal e que culmina com o desrespeito prpria Constituio

    Federal.

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    104. Princpio da simplicidade:

    Um dos pressupostos de admissibilidade da Lei 9099/95, consiste em que as

    questes que sero julgadas pelos Juizados Especiais Cveis sejam de menor complexidade

    (Silva, 1998, p. 05).11 No se pode olvidar que ao permitir-se a propositura de aes

    complexas perante o Juizado Especial Cvel, estar-se-ia desnaturando seu procedimento, pois

    este foi criado objetivando a celeridade e a rpida realizao da justia.

    Superada a questo que no precisa de maiores comentrios, h de destacar-se

    ainda que, outro fruto da simplicidade, j que a lei em questo autoriza que os atos

    processuais sejam presididos por conciliadores e juizes leigos, o que, segundo Capelletti e

    Garth (1988, passim) enriquece a vida da comunidade criando uma justia mais sensvel s

    necessidades locais. De fato, pessoas mais simples, s vezes, no se sentem muito a vontadedefronte aos juizes togados e do natural formalismo do seu cotidiano.

    Destaque-se tambm a expressa previso quanto a possibilidade das partes

    postularem seus direitos sem a assistncia de advogado, reduzindo os custos, bem como

    permitindo aos mais humildes solucionarem seus problemas. Neste condo, h de destacar-se

    que nova postura h de ser adotada pelos operadores do direito, posto que no se pode exigir

    do leigo o mesmo conhecimento que possui um profissional, especialmente no que pertine a

    questes de ordem processual; sendo imperioso o abandonando de formalismos

    desnecessrios.12

    Como se v, no basta apenas a previso legal de aplicao do referido princpio,

    mas acima de tudo, necessria a modificao da viso do processo e seu formalismo, para

    que se consiga por meio da lei alcanar os objetivos por ela colimados.

    11Cf: TJSC. C. C. 96.011259-6. 3 C. C. Rel. Eder Graf. 22.04.97. No mesmo sentido. TJSC. C. C. 97.000813-9.2 C. C. Rel. Nelson Schaefer Martins. 10.04.97 In: CD Rom Juris Sntese Millennium. Porto Alegre: Sntese,2000, que tem se posicionado no seguinte sentido: Competncia. Ao de indenizao de seguro obrigatrio.Necessidade de percia complexa. Inviabilidade de sua realizao no mbito dos juizados especiais. O artigo 35

    caput e seu pargrafo nico, da Lei Federal n. 9.099, de 26.09.95, em consonncia com o princpio geral daoralidade do artigo 2 do mesmo estatuto, conduzem concluso de que no sistema dos juizados especiais, aprova tcnica poder ser produzida, desde que o seja apenas oralmente. A realizao de percia mdica, queimplique na produo de prova fora da audincia, com a apresentao de laudo escrito, enseja o prolongamentoda instruo, em dessintonia com os princpios da simplicidade, informalidade, economia processual eceleridade, todos norteadores do sistema especial.12 Merece destaque o relato da Dra. Rita Ciarlini ao afirmar que vrias formalidades que eu consideravaimprescindveis para um bom andamento do processo no tem nenhuma valia nesse sistema. Eu mudei minhamentalidade. Muita coisa aplicada no Juizado deveria ser tambm utilizada nas varas cveis.( 1999, p. 15).

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    11No se pode esquecer tambm que uma alterao no texto legal permitiu s

    empresas enquadradas no sistema simples de tributao que ajuizassem demandas no Juizado

    Especial, em confronto com o texto anterior, que s permitia pessoas naturais no plo ativo

    das aes que tramitam sob a gide da Lei 9.099/95. Segundo a lio de Capelletti e Garth

    (1988, passim), pode-se afirmar que tal alterao, vem em prejuzo do esprito da norma em

    questo, haja vista transformar, de certo modo, a lei especial, e toda a estrutura por ela criada,

    em uma empresa de cobrana, acumulando a carga de trabalho nos Juizados, j sem muita

    estrutura, com suas centenas, ou s vezes, milhares de aes.

    Dever-se-ia considerar que a pessoa jurdica, mesmo de pequeno porte, possui

    mais condies de resguardar-se contra problemas jurdicos e de arcar com as despesas

    naturais dos processos que tramitam sob o rito ordinrio ou sumrio nas varas cveis, quandocomparados com a massa de destinatrios da Lei em exame: os juridicamente excludos.

    5. Princpio da informalidade:

    O princpio da informalidade determina em sntese que os atos processuais devem

    ser informais, despindo-se do apego forma. Justifica, pelo mesmo, por exemplo, a permisso

    dada parte para que proponha sua reclamao de forma oral, por meio de simples pedido,

    sem necessidade da assistncia por advogado nas causas cujo valor no ultrapasse os 20(vinte) salrios mnimos, devendo a mesma ser reduzida a termo pelo secretrio do cartrio;

    ou ainda, a permisso de que os juizes leigos presidam as audincias de conciliao e

    instruo e julgamento.13 Portanto, deve ser observado especialmente quando suscitada a

    existncia de nulidades processuais, no sentido de que os atos que tiverem alcanado seu fim

    e no prejudiquem a defesa, devam ser aproveitados.

    Os Juizados Especiais sugerem um modelo que atendam s demandas demenor complexidade, para as quais seja suficiente uma verso simplificadado processo comum, a fim de se solucionar o litgio, tendo por finalidade

    oferecer soluo de forma rpida, descomplicada e a baixos custos,principalmente para os casos que envolvam pequeno valor econmico.(Cunha, 1999, p. 25)

    13 Art. 13. Os atos processuais sero vlidos sempre que preencherem as finalidades para as quais foremrealizados, atendidos os critrios indicados no artigo 2 desta Lei.

    1. No se pronunciar qualquer nulidade sem que tenha havido prejuzo

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    12O princpio em anlise justifica mais uma vez a necessidade de nova postura a ser

    adotada por todos que atuam no sistema criado pela Lei 9099/95. Os magistrados, por

    exemplo, devem ser mais ativos, servindo como apoio soluo dos litgios, maximizando

    assim as possibilidades de um resultado justo, atuando de forma a diminuir as desigualdades

    existentes entre as partes (Capelletti; Garth, 1988, passim). Os serventurios, por sua vez,

    devem estar preparados para atender adequadamente os que buscam os servios jurisdicionais.

    E os advogados tambm possuem sua responsabilidade, cumprindo com seu dever tico,

    especialmente quando a outra parte no estiver devidamente assistida, evitando linguagem

    rebuscada e estratgias que desequilibrem a balana de Thmis.

    Depreende-se tambm do princpio da informalidade a possibilidade de que os

    atos processuais sejam dirigidos por juzes leigos (advogados ou mesmo bacharis emdireito), o que torna possvel o enriquecimento da vida da comunidade e cria uma Justia

    sensvel s necessidades locais (Cunha, 1999, p. 25), haja vista que aquele que atua como juiz

    da causa, especialmente nos centros menores, conhece os problemas cotidianos da

    coletividade a que pertence e com a qual interage diuturnamente; ou no mnimo, conhece mais

    da realidade dos seus do que os juizes togados, que a cada curto perodo de tempo so

    deslocados de uma comarca para a outra.

    Fica facilitada, portanto, a aplicao das regras de experincia no julgamento do

    feito, em benefcio exclusivo da incessante busca por uma justia de fato, sem meias

    verdades, nem vus que encubram decises injustas sob a gide da neutralidade.

    6. Princpio da economia processual:

    Partindo da premissa de que o processo um instrumento, destaque-se que deve

    haver uma necessria proporo entre fins e meios, para equilbrio do binmio

    custo/benefcio (Cintra; Dinamarco; Grinover, 1993, p. 67).

    Em sntese, o princpio da economia processual, previsto expressamente no texto

    da Lei 9.099/95, determina que se deve buscar o melhor resultado na aplicao do direito com

    um mnimo de atividades processuais. Importante frisar que, em respeito ao princpio da

    economia processual, a Lei 9.099/95 determina que o nico recurso cabvel o recurso

    inominado, alm claro, dos embargos declaratrios.

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    13Perante o rito imposto pela lei especial, essencial a observncia do princpio da

    economia processual, sendo que feitos que no se coadunem com os princpios insculpidos na

    norma devem obrigatoriamente ser remetidos Justia comum.

    Ao de reparao de danos causados em acidente de trnsito. Denunciaoda lide. Inadmissibilidade nos processos em curso nos juizados especiais.Artigo 10 da lei n. 9.099/95. A denunciao da lide, mesmo em se tratandode ao de ressarcimento de danos ocasionados em acidente de trnsito, tornainadmissvel o processamento do feito perante o Juizado Especial, nos termosdo artigo 10, da Lei n. 9.099/95, porquanto representa maior complexidadepara a causa. Percia complexa. Inviabilidade de sua realizao no mbito dosjuizados especiais [...]14

    No se pode olvidar que um dos objetivos dos Juizados Especiais Cveis que as

    demandas sejam rpidas e eficientes na soluo dos conflitos, devendo ser simples no seu

    tramitar, informais nos seus atos e termos, bem como econmicas e compactas na consecuo

    das atividades processuais. Destaque-se que o termo adotado para o procedimento

    estabelecido na Lei n. 9.099/95 no sumrio, e sim sumarssimo, isto , um rito

    extremamente rpido.

    7. Princpio da celeridade:

    O princpio da celeridade visa, em sntese, permitir que o processo, suas decises

    e os efeitos prticos delas decorrentes ocorram de maneira rpida. Em sntese: o Estado deve

    fazer justia com brevidade.

    Portanova (1997, p. 171), escreve com maestria peculiar, que a celeridade uma

    das quatro vertentes que constituem o princpio da economia processual. As outras so

    14TJSC. C. C. 97.002717-6. 3 C. C. Rel. Des. Eder Graf. J. 03.06.97. CD Rom Juris Sntese Millennium. PortoAlegre: Sntese, 2000. Continua o acrdo afirmando que: A necessidade de realizao de percia fora dasingeleza contida no artigo 35, da Lei n. 9.099/95, no se compatibiliza com os princpios da oralidade,simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade insculpidos no artigo 2, do mesmo pergaminholegal, afastando a competncia que inicialmente seria do Juizado Especial e impondo o deslocamento do feito auma das Varas Cveis.

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    14economia de custo, economia de atos e eficincia da administrao judiciria.15 Frise-se

    ainda que a norma determina de modo claro, que, no conseguida a conciliao, se possvel,

    de imediato, ou no prazo mximo de quinze dias, deve seguir-se a instruo processual.

    H autores ainda (Figueira Junior; Lopes, 1995, p. 145), que consideram o prazo

    de 15 dias destinado exclusivamente para oferecimento de resposta, demasiado longo para o

    rito sumarssimo dos Juizados Especiais Cveis.

    Se o motivo do adiantamento foi a exigidade do prazo para oferecimento deresposta, tendo em considerao o recebimento da comunicao citatria terse realizado prximo da data da audincia previamente marcada, o juizdever compensar com o novo perodo o tempo que lhe parecer necessrio complementao dos trabalhos a serem realizados pela defesa. Assim,exemplificativamente, se o ru alega ter sido impossvel articular a sua

    defesa porque recebeu a citao trs dias antes da audincia, dever o juizconceder-lhe novo prazo e marcar o prosseguimento do ato para os prximoscinco ou sete dias seguintes (Figueira Junior; Lopes, 1995, p. 145).

    Infelizmente tal determinao, ao que parece, letra morta na lei, pois na maioria

    das vezes, os Juizados Especiais Cveis, neste aspecto, seguem as longas pautas da justia

    comum. Tal problema talvez tenha gnese no fato de no existir em regra magistrados

    destacados especificamente para tais funes, cumulando outras obrigaes. O legislador cria

    a norma, mas o Poder Judicirio, responsvel por sua aplicao, no instrumentaliza os meios

    necessrios sua aplicao. Certamente a criao de quadros prprios em muito colaboraria

    para a soluo destes problemas.

    Outro fator negativo que se observa, consiste em que, no mundo real os processos

    que tramitam perante os Juizados Especiais tm seus atos paralisados durante as frias

    forenses, muito embora tal atitude seja contrria ao texto legal. E cr-se que tal fato se

    observa em razo da ausncia de quadro prprio de magistrados.

    15Cf: Revista Consulex. n. 35. p. 15. Continua a matria asseverando que Outra interessante iniciativa adotadapelo Juizado Especial Cvel a Justia Itinerante, que visa atender a populao mais carente, em locais onde noh Frum. Trata-se de um nibus equipado pela Fundao Banco do Brasil com uma sala de conciliao e outrade instruo e julgamento, onde o juiz profere as sentenas e decide questes no resolvidas pelos conciliadores.O nibus sai diariamente no perodo vespertino, transportando juzes, conciliadores e policiais militares.Primeiro h um atendimento inicial, no qual as pessoas contam seus problemas e fazem as suas reclamaes. Aofinal do dia esses pedidos so encaminhados secretaria de apoio, que expede a citao do reclamado e asintimaes. Aps trinta dias, o nibus volta ao mesmo local para a realizao das audincias, sendo que aspessoas j saem com o acordo homologado ou a sentena.

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    15No se pode esquecer que preciso cautela quando se defende processos cleres,

    pois h de ser considerado que a atividade jurisdicional tem por fim pacificar os espritos dos

    litigantes e neste contexto no seriam admitidos erros nas decises a serem justificados pela

    rapidez destas. Celeridade essencial para que as partes acabem com as animosidades

    surgidas com a lide, entretanto, mais importante para a sociedade certamente , no apenas

    segurana, mas justia e correo nas decises.

    Concluso

    A partir do momento em que a palavra escrita passou a ser difundida, a

    humanidade teve facilitado seu acesso ao conhecimento, e isto muito antes de seres

    desenvolvidos os recursos de multimdia hodiernamente difundidos no seio da sociedade.

    Grande parte do conhecimento, que hoje pertence aos homens, foi transmitido por meio dos

    papiros da antiguidade e dos livros escritos e copiados nos monastrios da Idade Mdia. Em

    homenagem palavra escrita, durante longa data proibida de ser transcrita no papel, seu

    principal parceiro, conclui-se, aps este modesto estudo, que:

    1. Os princpios elencados no presente trabalho devem realmente ser observados

    pelos aplicadores da lei, pois assim no sendo, de nada valero as inovaes trazidas pelo

    legislador em 1.995.2. A tendncia do direito moderno a libertao das amarras impostas pelo

    positivismo jurdico, especialmente, no foco em questo, quanto ao exacerbado formalismo,

    sendo imperiosa a adoo de condutas que rompam com esta tradio de certa forma egosta

    em benefcio da sociedade contempornea.

    3. A Lei 9099/95 d um grande passo nesta direo, ao elencar princpios que, se

    observados pelo julgador e respeitado seu esprito, certamente sero de grande valia para

    todos aqueles que buscam o Poder Judicirio esperando uma soluo para seus problemas.

    4. A oralidade facilita a cognio do magistrado e alegra a parte que se sente

    capaz ao poder argumentar diante do juiz. Alm disso agiliza o processo, sem a necessidade

    de pginas e pginas nos autos processuais, s vezes sem a menor importncia. Deve-se citar,

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    16neste aspecto, tambm a maior rapidez nas audincias, principalmente nas instrues e

    julgamento.

    5. A simplicidade e a informalidade, por sua vez, possibilitam ao cidado comum,

    mesmo sem patrocnio de advogado, postular seus direitos em juzo sem conhecimentos

    cientficos. Entretanto, aqui a cautela necessria, pois ao mesmo tempo em que traz

    benefcios parte quando em litgio com outrem nas mesmas condies, pode lhe trazer

    prejuzos quando a demanda tiver no outro plo, parte acostumada aos litgios, com

    experincia no trato com as aes, devidamente assistida por profissionais competentes; e

    deve neste caso, o magistrado que dirige o processo, buscar equilibrar a relao jurdica, no

    como Thmis, e sua balana, que pesa o direito das partes sem saber quem so, j que seus

    olhos esto vendados, mas como algum de corao nobre, que analisa os valores ticos emorais aliados as normas jurdicas. E assim agindo, no precisa o juiz preocupar-se em estar

    eventualmente infringindo o princpio da isonomia, posto que o direito moderno busca antes

    da igualdade formal a similitude material.

    6. A celeridade e economia processuais se bem observadas impediro manobras

    meramente protelatrias. No so cabveis recursos contra decises interlocutrias, o que

    podemos considerar neste caso um avano. Dessarte, crticas so merecidas quando da

    designao da pauta de audincias e da inobservncia do prazo mximo fixado por lei quando

    da inexistncia de conciliao na primeira audincia. Talvez se fossem impostas sanes ante

    tal inobservncia, a letra da lei fosse levada a srio e deixariam de ser encontradas desculpas.

    7. Essencial tambm a mudana de comportamento. Os magistrados devem ser

    mais ativos. Necessitam, em seu mister, ser democraticamente responsveis, livrando-se da

    servido geomtrica em que o direito se encontra, exercendo de maneira hialina seu ofcio,

    criando um direito em sua acepo mais pura, extraindo da norma jurdica o maior proveito

    possvel s partes. Deve o juiz ainda amparar-se no princpio do livre conhecimento, dando

    valor s provas que entender necessrias e desprovendo-as de seu valor absoluto e escalonado.

    Os serventurios devem estar atentos as naturais dificuldades das pessoas menos favorecidas.

    E os advogados devem atuar de modo a no desrespeitar os ditames elementares da tica

    aristotlica na busca do bem comum.

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    178. Acertou o legislador quando disps que o processo deve amparar-se nos

    mandamentos preconizados pela economia processual e celeridade, aproveitando os atos

    processuais que no tragam prejuzos parte adversa, e determinando que a tramitao dos

    autos obedea ao rito sumarssimo, oriundo da Constituio Federal. Entretanto, como

    exposto, celeridade no pode ser confundida com injustia.

    9. Outrossim, no se pode esquecer que em que pese a regra que determina a no

    sujeio dos autos em trmite perante os Juizados Especiais Cveis s frias forenses, em

    muitos momentos, tambm acompanham a triste paralisao dos que tramitam na justia

    comum, por falta de quem os impulsione.

    10. A boa aplicao dos princpios essencial evoluo do direito enquanto

    pacificador social. Seu estudo aprofundado, facilitar o deslinde das demandas com decisesacertadas. Entretanto, tambm pode afirmar-se que a partir do momento que aqueles que

    lidam com a norma em anlise, passarem a dar mais valor aos princpios a ela aplicveis,

    observando a realidade dos casos concretos de uma outra forma, rompendo com o

    individualismo exagerado que ainda hoje atormenta a comunidade jurdica, quebrando as

    correntes que os prendem ao formalismo exacerbado e estrita observncia aos textos legais,

    fugindo deste legalismo absurdo que contaminou o corao de muitos, adentrando na norma e

    extraindo dela os maiores benefcios possveis s partes, interpretando-as em consonncia

    com as diretrizes dos princpios, certamente multiplicar-se-o decises com muito mais

    qualidade e acerto, em benefcio de toda a coletividade.

    11. A exclusiva aplicao dos princpios que regem a Lei 9.099/95 no resolvero

    a crise que o direito vive neste incio de sculo, mas, sua fiel observncia j constitui um

    grande passo na construo de um sistema jurisdicional mais justo e eficiente.

    12. A semente est plantada, s preciso reg-la, para que, ocorra, como na lio

    de Emile Zola, o surgimento de homens; um exrcito negro, vingador, que germinava

    lentamente nos alqueives, nascendo para as colheitas do sculo, e cuja germinao notardaria a fazer rebentar terra, transformando este pas em um lugar melhor para todos.

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