5
Julho/Agosto 2016 Ano 3 Nº 18 PROJETOS EMBRAPII CRIA UNIDADE DE PESQUISA E INOVAÇÃO VOLTADA AOS MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO ECOEFICIENTES Pág. 3 O QUE ESTOU LENDO MARCO REGULATÓRIO DO TERCEIRO SETOR E AS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL Pág. 4 ACONTECE NA POLI EDUCAÇÃO CONTINUADA EM ENGENHARIA: UMA VISÃO DO FUTURO Pág. 5 BIOGRAFIA RAMOS DE AZEVEDO EMPREENDEDOR E INOVADOR Pag. 6 EDUCAÇÃO TREINAR EQUIPES É COMPARTILHAR CONHECIMENTO Pág. 7 TIME LINE CONCRETO DE QUALIDADE COM MENOS CIMENTO Pág. 8 CURTAS • PESQUISADOR DA POLI CONQUISTA 1º PRÊMIO CÁTEDRA ABERTIS-USP • HORA DO CÓDIGO Pág. 8 Os cursos de extensão da USP e os projetos desenvolvidos pela universidade, atendendo necessidades da indústria, promovem o desenvolvimento tecnológico, garantem a arrecadação de recursos para investimentos no campus, como a instalação de equipamentos e de laboratórios, me- lhorando a qualidade do ensino e da pesquisa em todos os níveis. Porém, a USP tem poucos cursos de extensão em algumas áreas muito específicas. Na opinião do diretor da Escola Po- litécnica da USP (Poli-USP), professor José Roberto Castilho Piqueira, os cursos são ótimos, mas em pequena quantida- de. “Com mais cursos poderíamos atender melhor, o que é de interesse da população. Podemos dar bons cursos de extensão a custos muito mais baixos do que as universi- dades particulares e de melhor qualidade. Nossos cursos de extensão são amplamente satisfatórios, o mercado vem para a USP para fazer os cursos, as pessoas querem partici- par porque eles são muito atualizados”, afirma Piqueira. Várias empresas contratam os cursos oferecidos pela USP, mas nenhuma tem privilégio. Caso uma montadora preten- da matricular 10 alunos no curso de Engenharia Automoti- va, por exemplo, esses alunos precisam estar entre os 20 aprovados no processo seletivo. Não é um curso de uma empresa, é um curso de interesse da indústria automotiva, explica Piqueira. Além dos cursos de extensão, a Poli-USP mantém um bom mecanismo de arrecadação de recursos que vem dos pro- jetos. Agora, por exemplo, há um projeto em conjunto da escola com a Shell e ajuda da Fapesp no valor de R$ 70 milhões, que serão colocados na escola em equipamentos, em bolsas de iniciação científica, de mestrado, doutorado. “Desse total, uma parcela vem para a unidade e, com esse recurso vamos construir o Mezanino de Inovação”. O pro- fessor Piqueira explica que essa obra, a ser construída no Laboratório de Máquinas da Engenharia Mecânica, será um espaço para as equipes de Baja, Aero Design, Keep Flying. “Essas equipes, formadas por alunos da graduação terão o espaço delas, sem depender de recurso orçamentário”. Esse projeto com a Shell tem duração de cinco anos. Provavel- mente, dessas equipes sairão spin off, empresas de alunos, etc. Esse é o bom negócio, que é honesto e todos os atores poderão ganhar alguma coisa”. Existem casos em que a indústria tem a necessidade de realizar pesquisas em um laboratório mais moderno, mas ao invés de implantá-lo em suas instalações se propõe a investir dentro da USP. Nesse exemplo o diretor da Poli ex- plica que a escola não pode ter laboratório dedicado a uma indústria, uma universidade pública não pode ter isso. Mas, pode realizar um projeto para a Petrobras, por exemplo, e ganhar como contrapartida um laboratório que depois é de uso público. O nosso Tanque de Provas Numérico (TPN) é um exemplo disso. Ele foi construído com recursos da Pe- trobras e hoje presta serviços para uma porção de empresas públicas e privadas. “O TPN é talvez o parque tecnológico de maior utilidade para a sociedade brasileira e motivo de or- gulho para nossa comunidade”. Piqueira explica que o Brasil tem um mecanismo de exportação de grãos que utiliza os diversos portos que precisam ser cada vez mais eficientes para atender navios de altíssima tecnologia. “O Brasil do- mina essa tecnologia porque algumas universidades, entre elas a USP, fizeram um trabalho de desenvolvimento muito grande na área de simulação de sistemas portuários”. Outro exemplo é o Laboratório de Hidrodinâmica Computacional. Inicialmente o laboratório fazia parte de um projeto para a Marinha e depois se transformou em patrimônio da uni- versidade. Hoje, no laboratório, vários alunos de mestrado, doutorado e de graduação realizam suas pesquisas. “Preci- samos deixar de ser dependentes exclusivamente do ICMS. Devemos ser capazes de pegar esse dinheiro e transformá- -lo em tecnologia, em produto, em saúde pública, políticas sociais, e essas transformações têm que trazer recursos para que a universidade continue andando”. CURSOS DE EXTENSÃO DA USP PODEM GERAR INDEPENDÊNCIA FINANCEIRA Professor José Roberto Castilho Piqueira Continua na página 2

Julho/Agosto 2016 Ano 3 CURSOS DE EXTENSÃO DA USP ......Não é um curso de uma empresa, é um curso de interesse da indústria automotiva, explica Piqueira. Além dos cursos de extensão,

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Julho/Agosto 2016 Ano 3 CURSOS DE EXTENSÃO DA USP ......Não é um curso de uma empresa, é um curso de interesse da indústria automotiva, explica Piqueira. Além dos cursos de extensão,

Julho/Agosto 2016Ano 3Nº 18

PROJETOSEMBRAPII CRIA UNIDADE DE PESQUISA EINOVAÇÃO VOLTADA AOS MATERIAIS DECONSTRUÇÃO ECOEFICIENTES Pág. 3

O QUE ESTOU LENDOMARCO REGULATÓRIO DO TERCEIRO SETORE AS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL Pág. 4

ACONTECE NA POLIEDUCAÇÃO CONTINUADA EM ENGENHARIA:UMA VISÃO DO FUTURO Pág. 5

BIOGRAFIARAMOS DE AZEVEDOEMPREENDEDOR E INOVADOR Pag. 6

EDUCAÇÃOTREINAR EQUIPES É COMPARTILHAR CONHECIMENTO Pág. 7

TIME LINECONCRETO DE QUALIDADE COMMENOS CIMENTO Pág. 8

CURTAS• PESQUISADOR DA POLI CONQUISTA 1º PRÊMIO CÁTEDRA ABERTIS-USP• HORA DO CÓDIGO Pág. 8

Os cursos de extensão da USP e os projetos desenvolvidos pela universidade, atendendo necessidades da indústria, promovem o desenvolvimento tecnológico, garantem a arrecadação de recursos para investimentos no campus, como a instalação de equipamentos e de laboratórios, me-lhorando a qualidade do ensino e da pesquisa em todos os níveis.

Porém, a USP tem poucos cursos de extensão em algumas áreas muito específicas. Na opinião do diretor da Escola Po-litécnica da USP (Poli-USP), professor José Roberto Castilho Piqueira, os cursos são ótimos, mas em pequena quantida-de. “Com mais cursos poderíamos atender melhor, o que é de interesse da população. Podemos dar bons cursos de extensão a custos muito mais baixos do que as universi-dades particulares e de melhor qualidade. Nossos cursos de extensão são amplamente satisfatórios, o mercado vem para a USP para fazer os cursos, as pessoas querem partici-par porque eles são muito atualizados”, afirma Piqueira.

Várias empresas contratam os cursos oferecidos pela USP, mas nenhuma tem privilégio. Caso uma montadora preten-da matricular 10 alunos no curso de Engenharia Automoti-va, por exemplo, esses alunos precisam estar entre os 20 aprovados no processo seletivo. Não é um curso de uma empresa, é um curso de interesse da indústria automotiva, explica Piqueira.

Além dos cursos de extensão, a Poli-USP mantém um bom mecanismo de arrecadação de recursos que vem dos pro-jetos. Agora, por exemplo, há um projeto em conjunto da escola com a Shell e ajuda da Fapesp no valor de R$ 70 milhões, que serão colocados na escola em equipamentos, em bolsas de iniciação científica, de mestrado, doutorado. “Desse total, uma parcela vem para a unidade e, com esse recurso vamos construir o Mezanino de Inovação”. O pro-fessor Piqueira explica que essa obra, a ser construída no Laboratório de Máquinas da Engenharia Mecânica, será um espaço para as equipes de Baja, Aero Design, Keep Flying. “Essas equipes, formadas por alunos da graduação terão o espaço delas, sem depender de recurso orçamentário”. Esse projeto com a Shell tem duração de cinco anos. Provavel-mente, dessas equipes sairão spin off, empresas de alunos, etc. Esse é o bom negócio, que é honesto e todos os atores poderão ganhar alguma coisa”.

Existem casos em que a indústria tem a necessidade de realizar pesquisas em um laboratório mais moderno, mas ao invés de implantá-lo em suas instalações se propõe a

investir dentro da USP. Nesse exemplo o diretor da Poli ex-plica que a escola não pode ter laboratório dedicado a uma indústria, uma universidade pública não pode ter isso. Mas, pode realizar um projeto para a Petrobras, por exemplo, e ganhar como contrapartida um laboratório que depois é de uso público. O nosso Tanque de Provas Numérico (TPN) é um exemplo disso. Ele foi construído com recursos da Pe-trobras e hoje presta serviços para uma porção de empresas públicas e privadas. “O TPN é talvez o parque tecnológico de maior utilidade para a sociedade brasileira e motivo de or-gulho para nossa comunidade”. Piqueira explica que o Brasil tem um mecanismo de exportação de grãos que utiliza os diversos portos que precisam ser cada vez mais eficientes para atender navios de altíssima tecnologia. “O Brasil do-mina essa tecnologia porque algumas universidades, entre elas a USP, fizeram um trabalho de desenvolvimento muito grande na área de simulação de sistemas portuários”. Outro exemplo é o Laboratório de Hidrodinâmica Computacional. Inicialmente o laboratório fazia parte de um projeto para a Marinha e depois se transformou em patrimônio da uni-versidade. Hoje, no laboratório, vários alunos de mestrado, doutorado e de graduação realizam suas pesquisas. “Preci-samos deixar de ser dependentes exclusivamente do ICMS. Devemos ser capazes de pegar esse dinheiro e transformá--lo em tecnologia, em produto, em saúde pública, políticas sociais, e essas transformações têm que trazer recursos para que a universidade continue andando”.

CURSOS DE EXTENSÃO DA USP PODEM GERAR INDEPENDÊNCIA

FINANCEIRA

Professor José Roberto Castilho Piqueira

Continua na página 2

Page 2: Julho/Agosto 2016 Ano 3 CURSOS DE EXTENSÃO DA USP ......Não é um curso de uma empresa, é um curso de interesse da indústria automotiva, explica Piqueira. Além dos cursos de extensão,

32

EDITORIAL

A rivalidade entre brasileiros e argentinos é antiga e, no futebol, chega a tornar-se motivo de brigas físi-cas. Eu mesmo, quando posso, torço contra a Argen-tina (no futebol).

Ainda assim fiquei muito impressionado com a hos-tilização sistemática da torcida brasileira, nas Olim-píadas, aos atletas argentinos, mesmo que não se tratassem de disputas contra atletas brasileiros.

Ali atravessou-se uma linha tênue entre a rivalidade e a intolerância. Somos anfitriões e, como tal, sim-plesmente não temos o direito de receber mal qual-quer dos países convidados para as provas disputa-das na Rio 2016.

Tolerância, na verdade, se aprende em casa. E, em nome de uma convivência civilizada, é preciso prati-cá-la em todos os ambientes. Tolerância é, entre ou-

INTOLERÂNCIAtras coisas, a capacidade (e a disposição) de colocar--se na pele do outro.

Pessoas tolerantes são, em geral, cidadãos melhores. Temos defendido, na Escola Politécnica, respeito aos diferentes - sejam diferenças de gênero, de opinião, de etnia ou de classe social.

Que nossos jovens não sigam o exemplo da torcida presente aos jogos olímpicos, vaiando o adversário, principalmente quando este está em menor nú-mero e é visitante de nossa casa. É assim que tem início o bullying, problema enorme no meio escolar. E o que é o bullying, senão a intolerância levada ao extremo?

Que recebam bem o estudante diferente daquilo julgado como “padrão”. Ou que têm dificuldades e características diversas das suas, ou ainda origens

diferentes. Que, principalmente, percebam o quan-to este comportamento - a tolerância - desde que disseminado, poderá contribuir para uma sociedade mais justa e equilibrada.

TECNOLOGIA E MERCADO

O Laboratório de Microestrutura e Ecoeficiência de Materiais (LME), do Departamento de Construção Civil da Poli-USP, a Universidade de São Paulo e a Fundação para o Desenvolvimento da Tecnologia (FDTE) estão formando a Unidade Embrapii Poli/USP – Materiais para Construção Ecoeficiente, que será coordenada pelo professor Vanderley John. Esta é a primeira unidade da Associação Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) volta-da para a construção civil.

O professor Vanderley John afirma que o modelo de operação da Embrapii, inspirado em experiência européia, em vez de criar um novo centro de pes-quisa, opta por selecionar, dentro de uma universi-dade ou de um instituto de pesquisa, um grupo que já tenha tradição em trabalhar e ter contratos com a indústria. “O grupo é selecionado pela Embrapii por edital público e passa a operar sob três bandeiras. No nosso caso, recebe o nome de Unidade Embra-pii/Poli/USP e será administrada pela FDTE, que é parceira em quase todos os projetos do LME. Esta unidade será uma instituição com objetivo de tra-zer para a USP empresas interessadas em inovação”, afirma. Os projetos que estiverem nessa plataforma Embrapii poderão receber apoio financeiro do go-verno via Embrapii. São recursos orçamentários de até 30% do valor do projeto, dependendo do pro-cesso de negociação, do grau de inovação e do ris-co que a proposta representa. O restante é dividido entre a universidade e a empresa.

Em parceria com a FDTE e com o apoio da reito-ria e da pró-reitoria de pesquisa da USP, a Poli está criando esta plataforma, que será a primeira unida-de Embrapii da USP. “Vamos fazer algo focado, ágil do ponto de vista burocrático, com procedimentos padronizados, o que permitirá a fixação da equipe, aumentando nossa capacidade de atender a indús-tria. A reitoria vai alocar dois engenheiros da USP para reforçar a equipe do laboratório. Isso é muito importante porque hoje temos uma equipe bas-tante limitada”, afirma o professor. Diz ainda que a Unidade Embrapii Poli/USP – Materiais para Cons-trução Ecoeficiente irá trabalhar com uma série de componentes de construção, sistemas construti-vos, sempre com a visão de reduzir o impacto am-biental sem aumentar os custos.

Com o apoio da Embrapii e da FDTE, o LME vai or-ganizar um grupo para tornar o processo de nego-ciação e contratação de pesquisas pelas empresas

EMBRAPII CRIA UNIDADE DE PESQUISA E INOVAÇÃO VOLTADA AOS MATERIAIS DE

CONSTRUÇÃO ECOEFICIENTES

junto à USP muito mais rápido. A empresa e a pes-quisa contarão com o apoio de recursos públicos. “A ideia dos recursos públicos não é reduzir o investi-mento empresarial, mas permitir que as indústrias façam coisas mais arriscadas e mais avançadas”.

a sociedade. “Tem muita coisa que a gente faz e que as pessoas não se dão conta. Este mecanismo da Embrapii ajuda porque traz recursos e obriga a universidade a modernizar seus processos de estabelecer parcerias com entidades privadas”. Nesse sentido ele defende a implantação efetiva do parque tecnológico inaugurado ao lado USP para que projetos como este da Embrapii possam deslanchar. “Esta área aqui da cidade de São Paulo que abriga o campus da USP tem um acúmulo de conhecimento que, se houvesse sensibilidade do governo em implementar o parque tecnológico, a sociedade se beneficiaria significativamente. Com pequenos investimentos poderíamos multiplicar os benefícios do conhecimento que está estocado na USP, e a Embrapii é um caminho nesse sentido”, concluiu.

EMBRAPIIA Embrapii, associação criada em 2013 pelo gover-no federal, visa contribuir para o desenvolvimento da inovação na indústria brasileira através de sua colaboração com institutos de pesquisas e univer-sidades.

Para desenvolver seus projetos, a indústria inte-ressada pode entrar em contato com a Unidade Embrapii ou na própria Embrapii - http://embrapii.org.br/categoria/polos-embrapii-if/ que atenderão a demanda por pesquisa, desenvolvimento e ino-vação. As Unidades credenciadas têm um modelo de cooperação flexível e ágil e, como a UE Poli-USP, são especialistas em competências tecnológicas, garantindo alto nível de atendimento.

Nos projetos desenvolvidos em parceria com uma Unidade Embrapii, as empresas têm as seguintes vantagens: menor custo, pois o investimento é compartilhado; foco na demanda por inovação; parte dos recursos do projeto já disponível; agilida-de nos contratos; melhor nível de desenvolvimento tecnológico e profissionalização na execução dos projetos.

A Embrapii não tem participação na propriedade intelectual e antecipa os recursos para suas Unida-des credenciadas, que contratam projetos direta-mente com as empresas. Portanto, o financiamento já está disponível assim que o contrato é assinado. Esses recursos são para o custeio do projeto, que é negociado diretamente entre a Empresa e a Unida-de credenciada.

Professor Vanderley John: A Poli estácriando a primeira unidade Embrapii da USP

“A ideia é permitir que as indústrias façam

coisas mais arriscadas”

André Steagall Gertsenchtein

Segundo o professor Vanderley John, a Embrapii estava sem unidades voltadas a tecnologias mais avançadas na área da Engenharia Civil, mas a Poli convenceu-a de que era importante ter uma unida-de voltada ao setor da construção civil. “Estamos na fase final de contratação, houve alguns problemas associados ao fato de que a Embrapii nunca havia feito um contrato com uma unidade estadual pau-lista. O lançamento será em agosto, durante a Con-crete Show, maior feira de materiais cimentícios da América Latina”.

O professor comenta que o projeto ajuda a au-mentar o nível de resposta que a universidade dá

Na opinião do professor Piqueira, a USP deveria fazer com que todas as unidades acompanhassem a Es-cola Politécnica, a FEA e o Instituto de Matemática, que têm ótimos cursos de extensão que podem ser abertos a toda população, levando a uma melhoria de nível dos profissionais do mercado e trazendo recursos para a universidade para que ela continue mantendo sua excelência. Para tanto, primeiro é pre-ciso desburocratizar os processos internos dos cur-sos de extensão. Há um histórico de opiniões de que a USP não deve cobrar pelos cursos. “Há uma visão equivocada dos cursos de extensão. Para aprovar um curso de extensão existe um mecanismo burocráti-co quase intransponível. Além disso, na USP temos uma politização partidária muito deletéria que se posiciona contra estes cursos. Política acadêmica é

importante de se realizar, mas a universidade assu-mir posições partidárias radicais é muito ruim”. Para a aprovação desses cursos há mecanismos legais difíceis de serem transpostos. A universidade não vai conseguir manter-se no nível que ela tem hoje se não tiver mecanismos de captação de recursos extraorçamentários, complementa.

Distribuição dos RecursosO dinheiro que entra por esses cursos é dividido em percentuais entre a reitoria, a unidade e o de-partamento. O percentual da reitoria, que é o maior deles, é um mecanismo de democratização, de equalização dos potenciais de ganho. Desse modo, um curso de engenharia de pontes, por exemplo, ajuda a manter uma pesquisa sobre o idioma Tupi. “Um curso de saúde pública, ou de nutrição atrai muita gente. O dinheiro arrecadado transforma-se em patrimônio da universidade”.

O segundo percentual é aquele que é da unidade, utilizado na melhoria do ensino e da pesquisa. “Se os nossos laboratórios tivessem apenas o dinheiro orçamentário estaríamos na mais absoluta penúria, e os alunos da Poli estariam fazendo experimentos em equipamentos da década de 1970. Vários foram construídos ou reformados com projetos da Marinha, da Vale e da indústria eletrônica trazendo ótimas condições para o ensino de graduação. A unidade também equaliza seus recursos, pois os departa-mentos têm potenciais diferentes de captação. Final-

mente há o percentual do laboratório que captou os recursos, pois é necessário manter esse potencial de arrecadação com atualização de máquinas, forman-do gente, permitindo que os professores e os alunos participem de congressos, publiquem papers, etc.

Aprovação dos ProcessosA aprovação dos processos para realização de cur-sos e projetos diz respeito apenas à parte buro-crática interna da universidade e não de verbas. O mecanismo de aprovação implica o recolhimento de taxas, mas não há aporte de recursos da Univer-sidade.

O diretor da Poli, professor José Roberto Castilho Piqueira ressalta que há pessoas que afirmam que ao participar do processo, o professor vai ganhar e vai parar de dar aulas de graduação. Entretanto, só pode participar de atividades de extensão o pro-fessor que estiver em dia com a CERT (Comissão Especial de Regimes do Trabalho), que verifica se o professor dá aulas de graduação, de pós-gradua-ção. Só pode participar de atividades de extensão o professor que já faz um trabalho de alto nível para a universidade.

Na USP os professores ficam seis anos em regime probatório e a cada dois anos apresentam um rela-tório de atividades à CERT. Cumprido esse período, somente aqueles que querem se credenciar para trabalhar são avaliados

Continuação da matéria de capa: CURSOS DE EXTENSÃO DA USP PODEM GERAR INDEPENDÊNCIA FINANCEIRA

Page 3: Julho/Agosto 2016 Ano 3 CURSOS DE EXTENSÃO DA USP ......Não é um curso de uma empresa, é um curso de interesse da indústria automotiva, explica Piqueira. Além dos cursos de extensão,

54

O QUE ESTOU LENDO

“A Ordem Jurídica Nacional não proibia e não proíbe a remuneração da alta administração das fundações e das associações. Sempre houve um pressuposto social de que estas modalidades de pessoas jurídi-cas deveriam ser dirigidas por meio do voluntariado. Mas nunca passou de uma expectativa da sociedade a ideia de que estas entidades devessem ser geridas sem a possibilidade de remuneração de seus gesto-res”, afirmou o promotor Airton Grazziolli, durante palestra proferida no seminário sobre o “Marco Re-gulatório do Terceiro Setor - Remuneração de Diri-gentes e Prestação de Contas em Debate”, realizado no dia 06 de junho, pelo Conselho Regional de Con-tabilidade CRC-SP.

Em sua participação Grazzioli falou sobre os valores, limites e disposições legais para essa remuneração. “Tanto a Lei n.º 9.637, de 15 de maio de 1998, que trata das Organizações Sociais (OS), como a Lei n.º 9.790, de 23 de março de 1999, sobre as Organi-zações da Sociedade Civil de Interesse Público (Os-

MARCO REGULATÓRIO DO TERCEIRO SETOR E AS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL

cip), permitem a remuneração dos dirigentes de acordo com um parâmetro de mercado da região de atuação da instituição. Com o novo Marco Re-gulatório, a remuneração passou a ser prevista no ordenamento jurídico”.

Durante o seminário foi realizado o lançamento do livro “Organizações da Sociedade Civil Associações e Fundações: constituição, funcionamento e remu-neração dos dirigentes”. Os autores, Airton Grazzioli, José Antonio de França, José Eduardo Sabo Paes e Marcelo Henrique dos Santos, autografaram exem-plares da obra. O livro traz a experiência profissional e acadêmica dos autores sobre o Terceiro Setor e as Organizações da Sociedade Civil, dentre elas as Fundações e as Associações, e trata da constituição das Associações e das Fundações, de suas estru-turas de poder, da maneira como funcionam, do regime contábil, e das possibilidades legais que o ordenamento jurídico confere na questão remune-ratória dos seus dirigentes.

Destaca a origem do terceiro setor, as suas prin-cipais características, as entidades que integram esse segmento específico da sociedade contem-porânea e a legislação existente; trata das Asso-ciações, das Fundações e suas atividades e dispõe sobre as formas de reconhecimento político das Organizações da Sociedade Civil, em especial das Organizações Sociais, as Organizações da Socieda-de Civil de Interesse Público, as Organizações de Utilidade Pública e as Entidades Beneficentes de Assistência Social, abordando os termos de fomen-to e de colaboração previstos na Lei 13.019/14. Aborda as formas de remuneração no Terceiro Se-tor e o papel do voluntariado, além de questões relacionadas à remuneração, imunidade tributária e questões contábeis.

Seminário O novo Marco Regulatório do Terceiro Setor - Re-muneração de Dirigentes e Prestação de Contas em Debate, que entrou em vigor em 23 de janeiro deste ano, foi o tema do seminário realizado pelo CRC-SP. A lei estabelece normas gerais para as parcerias en-tre as organizações da sociedade civil e os órgãos da administração pública, aumentando a transparência do processo.

O evento foi dividido em dois painéis que abordaram temas como a prestação de contas das organizações sem fins lucrativos, a remuneração dos dirigentes dessas entidades e as novidades na legislação para 2016. No primeiro painel, o conselheiro do CRC-SP e coordenador do Programa de Voluntariado da Clas-se Contábil, Marcelo Roberto Monello, falou sobre os impactos do novo Marco Regulatório na Con-tabilização e Prestação de Contas. O presidente da Fundação Brasileira de Contabilidade (FBC), Juarez Domingues Carneiro, coordenou o painel, que teve mediação do presidente do Sindicato dos Contabi-listas de São Paulo, Jair Gomes de Araújo, e do presi-dente do Sescon-SP e da Aescon-SP, Márcio Massao Shimomoto.

No segundo painel, que tratou das “Inovações Legislativas na Remuneração de Dirigentes da Sociedade Civil”, o curador de Fundações de São Paulo, promotor Airton Grazzioli, abordou sobre os valores, limites e disposições legais para essa remuneração. Este painel foi coordenado pelo presidente do CRC-SP, Gildo Freire de Araújo, e contou com a mediação do procurador de justiça do Ministério Público do Distrito Federal José Edu-ardo Sabo Paes.

Promotor Airton Grazzioli Promotor Airton Grazzioli,

André Gertsenchtein e Antonio Fonseca, da FDTE

Constituição, funcionamento e remuneração de dirigentes de associações e fundações

EDUCAÇÃO

EDUCAÇÃO CONTINUADA EM ENGENHARIA: UMA VISÃO DO FUTURO

Professor Alex Abiko

O desenvolvimento profissional é um processo

contínuo, movido pelas transformações tecnológicas

Prof. Alex Abiko*De 17 a 20 de Maio aconteceu na cidade do Porto, em Portugal, organizada pela ACEE (International Association for Continuing Engineering Education) e pela Universidade do Porto e de sua Faculdade de Engenharia, a 15ª Conferência Mundial em Edu-cação Continuada em Engenharia, cujo tema foi Educação Continuada em Engenharia: uma visão do futuro. (http://www.iacee2016.com/).

Tivemos a oportunidade de estar presentes a esta conferência que tratou de vários temas, todos liga-dos ao conceito de Desenvolvimento Profissional Continuado (em inglês CPD, Continuing Professio-nal Development): o futuro dos CPDs, garantindo uma aliança entre universidade, indústria e negó-cios em CDPs e os stakeholders dos CPDs.

Ficou claro para os participantes que é importante disseminar a ideia já consagrada de que o desen-volvimento profissional é um processo contínuo, movido pelas transformações tecnológicas que no campo da engenharia são intensas, mas não apenas isso. As transformações sociais também têm sido intensas e a engenharia muitas vezes tem dificuldade de acompanhá-las e se harmonizar com elas. Um bom exemplo é o que ocorre com as transformações nas cidades em todo o mundo.

As universidades ao diplomar engenheiros e técni-cos oferecem a capacitação básica de seus quatro ou cinco anos de formação. Mas, este período em que os alunos permanecem na universidade já não é suficiente para que o aluno tenha acesso a todas as informações que necessitará ao longo de sua carreira. Isso posto, as pós-graduações tanto do tipo strictu-sensu (mestrados profissionais e mestrados e doutorados acadêmicos) e do tipo lato-sensu, tam-bém conhecidos como cursos de extensão (MBAs, especializações, atualizações e aperfeiçoamentos) têm sido importantes instrumentos para manter o profissional em dia com as transformações tecno-lógicas e sociais que ocorrem de maneira acelerada.

Podemos alinhar os principais desafios da Educa-ção Continuada em Engenharia que foram discuti-dos no Porto: a pertinência e a eficiência dos cursos do tipo EAD, Educação a Distância; a realidade dos MOOCs, Massive Open Online Courses, que são cursos gratuitos oferecidos pela internet e como viabilizá-los de maneira sustentável; a garantia da qualidade dos cursos de educação continuada; como conscientizar e mobilizar os engenheiros e as empresas para se envolver em atividades de CDP.

As conferências da IACEE são momentos importan-tes do esforço de garantir que a engenharia conti-nue a prestar serviços relevantes para a sociedade. A história do IACEE e de suas Conferências começa em 1973 com a Unesco, preocupada com a forma-ção continuada dos engenheiros. Nesta data ela forma o Grupo de Trabalho em Educação Continua-da de Engenheiros e Técnicos (em inglês, WGCEET).

tão da educação continuada em engenharia e em 1989, em Beijing, por ocasião na 4ª Conferência Mundial em Educação Continuada é criada a IACEE. A Helsinki University of Technology foi a primeira instituição a sediar a IACEE, seguida em 2002 pela American Society of Engineering Education. Desde 2010 a IACEE tem sede na Georgia Institute of Tech-nology, em Atlanta.

A Escola Politécnica e a FDTE estiveram presentes nos principais momentos de criação da IACEE por meio dos Profs. Hélio Guerra Vieira e Nelson Zua-nella chegando a sediar o 6ª Conferência Mundial, pois sempre acreditaram na importância da forma-ção continuada em engenharia.

Os principais objetivos da IACEE que são persegui-dos pelos seus membros presentes nos principais países são os seguintes:

promover a transferência internacional de tecno-logia por meio de um melhor entendimento do processo de educação continuada;

melhorar a qualidade da educação e do treina-mento de engenheiros e técnicos, e da infor-mação técnica por meio da cooperação inter-nacional;

desenvolver e fortalecer a cooperação entre edu-cação e indústria;

promover o estabelecimento de centros de edu-cação continuada;

apoiar a igualdade das mulheres na engenharia.

A próxima Conferência Mundial da IACEE aconte-cerá de 22 a 25 de Maio de 2018 em Monterrey, no México, organizada pela ITESM, Instituto Tec-nológico e de Estudos Superiores de Monterrey, conhecido também como Tecnológico de Mon-terrey. Esperamos que os engenheiros brasileiros consigam comparecer trocando a sua experiência com os colegas de todas as partes do mundo.

* Alex Kenya Abiko é professor titular em Ges-tão Urbana e Habitacional da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo desde 2002. Possui graduação em Engenharia Civil pela Escola Poli-técnica da Universidade de São Paulo, mestrado e doutorado em Engenharia Civil pela mesma Universidade. Em Engenharia Civil atua nos se-guintes temas: cadeia produtiva da construção civil, gestão urbana e habitacional, engenharia urbana, habitação social, urbanização de favelas e sustentabilidade urbana (http://alexabiko.pcc.usp.br)

A partir deste Grupo de Trabalho organiza-se em 1979 a 1ª Conferência Mundial em Educação Conti-nuada em Engenharia na Cidade do México, já com uma preocupação em relação a esta questão do chamado também ensino de 4º. Grau.

Em 1987 o WGCEET da Unesco apresenta a ideia de uma associação mundial que abraçasse a ques-

Page 4: Julho/Agosto 2016 Ano 3 CURSOS DE EXTENSÃO DA USP ......Não é um curso de uma empresa, é um curso de interesse da indústria automotiva, explica Piqueira. Além dos cursos de extensão,

76

Os setores de recursos humanos das empresas se deparam com uma questão nem sempre fácil de resolver: a formação de treinadores para orientar as suas equipes de trabalho, principalmente quando envolve profissionais de nível superior. Segundo José Rodrigues Passarinho, diretor da Maix Treina-mentos, normalmente o treinador costuma ensinar do jeito que gosta de aprender, mas que isso pode não funcionar, pois as pessoas têm perfis diferentes de aprendizagem.

Ele explica que quando uma pessoa gosta de aulas e palestras, provavelmente irá oferecer um treina-mento focado neste perfil. Quem aprecia dinâmica e prefere colocar a mão na massa o treinamento tende a ensinar deste modo, mas acaba deixando de atingir parte da equipe. Em sua visão, o treinamento tem que passar por diversos perfis de aprendiza-gem. “Para dividir conhecimento com uma pessoa mais sinestésica, mais mão na massa, deve propiciar que ela faça experiências; para quem é auditivo se faz necessário conversar, debater. O treinador deve conquistar a atenção de todos, do mais intelectual ao mais emocional”, afirma.

Para a formação de treinadores, Passarinho diz que o ideal é adotar a andragogia, metodologia de educa-ção para adultos. Esta ciência leva em consideração

TREINAR EQUIPES É COMPARTILHAR CONHECIMENTO

nharia a uma equipe de vendas de uma empresa de data Center. O caminho mais fácil, diz, seria tentar mostrar todo o processo usando PowerPoint. No entanto, buscou-se uma alternativa mais interativa e menos cansativa. “Todas as etapas do processo foram transformadas em frases. Entregamos umas cartolinas enormes e tiras de papel com essas fra-ses. Os vendedores tinham que montar o processo. Cada um montou uma caixinha, uma espécie de campeonato para ver quem conseguia montar seu kit primeiro e melhor. A segunda fase envolveu toda a equipe, umas 20 pessoas. Elas tinham que desco-brir qual a caixinha que vinha antes, qual a que viria na sequência, criando uma discussão sobre as fases corretas do processo, o que ajudou a todos a en-tender o processo. Com essa movimentação ficou mais fácil entender o processo de engenharia do que com 500 slides de PowerPoint”, afirma. Passa-rinho comenta que este treinamento foi realizado durante uma convenção e que é importante tirar as pessoas de seu ambiente de trabalho. “Quanto mais lúdico e mais diferenciado for o ambiente, melhor será o resultado”.

Na formação de treinadores primeiro se trabalha o mapa mental e depois se explica o porquê mudar e as vantagens de um treinamento diferente. Em

seguida são apresentados as ferramentas, o perfil de aprendizagem, a andragogia, o treinamento holístico, o que é dinâmica, o que não é dinâmica, e só então tem início a parte prática e, nesta hora, as ideias de como fazer vêm do treinador. “Atua-mos para uma empresa que precisava treinar fun-cionários para montar um sistema de vedação de passagens de cabo para um data Center. Primeiro o treinador pensou em usar o PowerPoint, mas os aprendizes precisavam manusear as peças. Neste caso, a montagem é feita sob piso elevado e o trei-nador pensou em colocar todos os participantes debaixo da mesa. Quando eu disse que era uma boa ideia ele pensou que eu estivesse brincando. Colocar todos sob a mesa foi lúdico e pertinente, afinal, no dia a dia eles montam as peças sob piso elevado”.

Segundo Passarinho, “não existe motivo nenhum para um treinamento ser chato, mesmo se for essencialmente técnico”. Ele cita como exemplo apresentações do especialista em estatística Hans Rosling, que em suas palestras sobre crescimento populacional no mundo usa várias caixas, e para cada uma diz que ela representa um determinado número de pessoas. Sobre os anos 60, Rosling diz que as pessoas queriam ter um carro e então pega um carrinho e coloca na caixa, mas que no terceiro mundo o que elas queriam era ter um calçado, e coloca um calçado na caixa correspondente, e as-sim por diante. “Com isso ele transforma um tema estatístico, que poderia ser chato, em algo total-mente lúdico, demonstrando o resultado da evolu-ção mundial, sem usar o PowerPoint”, afirma.

Sobre o treinamento de como fazer palestras Pas-sarinho diz que o primeiro passo é definir o ro-teiro. No início cria-se a conexão com as pessoas. Deve-se evitar começar uma palestra dizendo seu nome, o assunto e sua biografia. Cria-se conexão contando uma história, se aproximando das pes-soas, contando alguma coisa pessoal, depois você entra com a argumentação e faz um fechamento de impacto. “As partes que mais prendem a atenção em uma palestra são o início e final. No meio é pos-sível argumentar com histórico sobre o tema, mos-trando contrastes. Para prender a platéia é preciso ser um bom contador de histórias”, define.

José Rodrigues Passarinho - Arquiteto formado pela USP, com MBA em Marketing pela ESPM. Possui mais de 25 anos de experiência profissional como empreendedor e como executivo nas áreas de co-municação, marketing, publicidade e treinamentos.

José Rodrigues Passarinho, diretor da Maix Treinamentos

EDUCAÇÃO

“não existe motivo nenhum para um treinamento

ser chato, mesmo se for essencialmente técnico”

que o aluno tem experiência prévia que deve ser le-vada em conta. “Se tratarmos um engenheiro como um aluno do ensino médio, por exemplo, ele não irá prestar atenção em seu treinamento. Hoje tro-camos a imagem do professor oráculo, que despeja conhecimento por um facilitador, alguém que diz: vou ajudar vocês a trabalhar num tema, vamos jun-tos descobrir como chegar ao objetivo desejado”.

Em relação às técnicas de aprendizado com inte-gração social, trabalhos realizados em áreas verdes, visando vencer desafios em equipe, Passarinho alerta que o importante é promover experiências pertinentes ao conteúdo desejado. Ele conta que enfrentou o desafio de ensinar o processo de enge-

Ramos de Azevedo voltou sua atenção para a formação

de mestres e operários

BIOGRAFIA

Com a extinção do tráfico de escravos, em 1850, os imigrantes europeus assalariados passaram a ser contratados, principalmente para trabalhar nas fa-zendas de café em expansão. As cidades, sobretudo a de São Paulo, começam a receber os imigrantes dispostos a trabalhar na construção civil. Em 1872 um grupo de fazendeiros se organizou para cons-truir uma ferrovia, a fim de propiciar o escoamento da produção de uma das regiões mais produtivas do estado de São Paulo: Mogi-Mirim e Amparo. Nesse mesmo ano, o jovem Ramos de Azevedo, nascido em Campinas e filho de Anna Carolina de Azevedo e do major aposentado João Martins de Azevedo, interrompe os estudos na Escola de Ar-tilharia Militar no Rio de Janeiro. Retorna a Campi-nas e passa a trabalhar como “praticante” nas obras das estradas de ferro da Companhia Mogyana de Estradas de Ferro. Por sua dedicação conquistou o apadrinhamento do presidente da Companhia Pau-lista e Mogyana de Estradas de Ferro, Antônio de Queirós Telles, Barão de Parnaíba.

O propósito de Ramos de Azevedo era formar-se engenheiro civil e, em 1875 foi estudar na École Speciale du Génie Civil et des Arts et Manufactures Annescée da Universidade de Gante, na Bélgica. Em 1878 recebeu o título de Ingenieur Architecte e no mesmo ano teve seus desenhos expostos na Exposi-ção Universal de Paris.

De volta ao Brasil em 1879, Ramos de Azevedo ins-tala-se em Campinas onde começavam a surgir as primeiras construções de tijolos. Apenas 19 dias após o seu retorno ao país anunciou no jornal a abertu-ra de seu escritório, no mesmo endereço da loja de seu pai. Iniciando sua carreira fez uma exposição dos trabalhos feitos na Bélgica. Defensor de idéias ur-banísticas e sanitárias em voga no exterior, e com a intenção de inovar, aplica aos projetos públicos que executa conceitos de saneamento básico praticados nos grandes centros urbanos da Europa.

Em 1881 Ramos de Azevedo casa-se com Dona Eugê-nia Lacaze, com quem tem duas filhas e um filho: Lúcia, Laura e Francisco. Durante sete anos (de 1879 a 1886) trabalha em Campinas e nas cidades do interior. Neste período retomou a amizade e o trabalho conjunto com o engenheiro civil Antonio Francisco de Paula Souza.

Em agosto de 1886, anunciou ao amigo Paula Sou-za que a sua indicação para a construção do Edifício do Tesouro Nacional, obra do governo central de

RAMOS DE AZEVEDO EMPREENDEDOR E INOVADOR

São Paulo, aniquilava as hesitações que ainda tinha em mudar-se para São Paulo. Em março de 1891 o prédio foi inaugurado. Em 1887, em parceria com Paula Souza, iniciou a reforma da Matriz de Itu e, em 1888, as obras do quartel da Luz. Em 1890 projetou a Escola Normal da Praça da República. Em abril do mesmo ano, assumiu a chefia da carteira imobiliária do Banco Unido de São Paulo.

A localização da Escola Politécnica no bairro da Luz foi apropriada, pois a região refletia as transforma-ções por que passavam o Estado e o País. A estação da Luz trouxe luxo aos arredores, que já ostentavam um afrancesado jardim desde 1825. Assim, a Poli-técnica, que em seus primórdios também formava arquitetos, era vizinha de um conjunto de edifícios projetados por Ramos de Azevedo. A diretoria, co-mandada por Paula Souza, decidiu construir um novo prédio no mesmo local. As obras começaram em 1895, com projeto de Ramos de Azevedo, que pretendia criar um edifício capaz de acompanhar as evoluções do ensino de engenharia no país e as exi-gências da sociedade. Em 21 de janeiro de 1899, cer-ca de cinco anos depois da primeira aula, o chamado Prédio Novo foi inaugurado, com o nome de Paula Souza, conforme proposta do professor Alexandre Albuquerque. Foi vice-diretor da Escola Politécnica de São Paulo entre os anos de 1900 e 1917. Assumiu o cargo de diretor (1917-1921) logo após a morte do professor Antônio Francisco de Paula Souza.

Em 1896 foi inaugurado o edifício da Secretaria da Agricultura e no ano seguinte foram iniciadas as obras da Secretaria de Justiça e da nova ala do Palá-cio do Governo. Em 1890, Ramos de Azevedo apre-sentou à Câmara o projeto do Teatro Municipal de São Paulo. Em 1904 foi eleito senador estadual, mas renunciou em 1905.

Em 1907 constitui o Escritório Técnico F.P. Ramos de Azevedo, tendo Ricardo Severo como sócio. Em 1908 expôs seu álbum de construções na Exposição Na-cional de 1908, no Rio de Janeiro, comemorativa ao centenário da Abertura dos Portos. Em 1910 funda a Cerâmica Vila Prudente. Em 12 de setembro de 1911 é inaugurado o Teatro Municipal. Participa também da fundação do Banco Ítalo Belga e da Sociedade dos Arquitetos de São Paulo. O Escritório Ramos ad-mite novos sócios: Arnaldo Dumont Villares e Domi-ziano Rossi. Em 1914 é eleito diretor da Estrada de Ferro Mogiana.

Em 1917 é eleito vice-presidente do Conselho Ad-ministrativo da Caixa Econômica do Estado. Em 1919 é cogitado para prefeito de São Paulo. Em 1921 é festejado pelos seus 70 anos de vida. Em maio de 1924 é inaugurado o Palácio das Indústrias. Em 1925 assume a presidência da Caixa Econômica do Estado de São Paulo, cargo que ocupa até falecer. Ramos de Azevedo nasceu em 08 de dezembro de 1851 e fale-ceu em 1 de junho de 1928.

Ramos de Azevedo

Com genialidade e dons artísticos, construiu e transformou a província de São Paulo

Devido à falta de mão de obra qualificada, Ramos de Azevedo voltou sua atenção para a formação de mestres e operários. Sua proposta, junto de Paula Souza, era criar uma escola que reunisse a Enge-nharia e a Arquitetura em um único curso. A Escola Politécnica foi inaugurada em 1894, no antigo solar do Marques de Três Rios. Ramos de Azevedo proje-tou os laboratórios da escola em 1895, ano em que assumiu o controle do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo.

Page 5: Julho/Agosto 2016 Ano 3 CURSOS DE EXTENSÃO DA USP ......Não é um curso de uma empresa, é um curso de interesse da indústria automotiva, explica Piqueira. Além dos cursos de extensão,

8

Expediente

FDTEDiretor-Superintendente: André Steagall GertsenchteinDiretor de Operações: João Antonio Machado NetoDiretor Administrativo e Financeiro: Antonio Carlos FonsecaDiretora de Assuntos Especiais: Edith RanziniCONSELHO CURADORPresidente: Nelson ZuanellaVice-Presidente: Claudio Amaury Dall’Acqua

Membros: Antonio Hélio Guerra Vieira, Claudio Amaury Dall’Acqua, Ivan Gilberto Sandoval Falleiros, João Cyro André, José Roberto Car-doso, José Roberto Castilho Piqueira, Lucas MoscatoEndereço: Rua Catequese, 227, 3º Andar – Cep: 05502-020Butantã - SP - Telefone: (11) 3132 - 4000Jornalista responsável: Luiz Voltolini (MTb - 11.095)Revisão: Maria Aparecida MasucciFotos: Zé Barretta - [email protected]ção: Samuel Coelho - [email protected]

Tiragem: 1.000 exemplaresPeriodicidade: bimestralA reprodução do conteúdo desta publicação é permitida mediante autorização prévia e citada a fonte.

FDTE Informa é uma publicação da FDTE - Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia. Disponível no site da entidade (www.fdte.org.br) e distribuída gratuitamente. Os textos e artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores.

CURTAS

Pesquisa Premiada - A tese de doutorado apresentada por Luis Augusto Manfré, orienta-do pelo prof. José Alberto Quintanilha da Escola Politécnica da USP, conquistou o 1º Prêmio Cá-tedra Abertis-USP de Gestão de Infraestruturas de Transportes, patrocinado pela Arteris/Abertis. A pesquisa, que resultou em uma metodologia para identificar e mapear áreas de deslizamen-tos às margens de rodovias, utilizando imagens de sensoriamento remoto, recebeu 10 mil euros. Ao todo concorreram 32 pesquisas em âmbito nacional. Na cerimônia de premiação estiveram

presentes: a vice-diretora da Poli, Liedi Bernucci; David Díaz, CEO da Arteris; Josep Mirmi, chefe de Relações Internacionais da Abertis; e André Steagall Gertsenchtein, diretor superintendente da FDTE. A professora Liedi Bernucci, que dirige a cátedra no Brasil, ressaltou a importância deste tipo de parce-ria, entre a academia e a iniciativa privada, para o desenvolvimento do setor. Os melhores trabalhos, convocados pela Cátedra Abertis em diferentes países participarão do Prêmio Internacional Abertis de Gestão de Infraestruturas de Transportes, que será entregue em outubro.

ACONTECE NA POLI

O Laboratório de Microestrutura e Ecoeficiência de Materiais (LME), do Departamento de Constru-ção Civil da Poli-USP com apoio da InterCement, iniciou em 2012, o projeto Concreto Ecoeficiente, para desenvolver pesquisas visando reduzir o im-pacto ambiental da produção de concreto e ma-teriais cimentícios em geral. O coordenador do projeto, professor Vanderley John, explica que a ideia é desenvolver uma plataforma de conceitos e de tecnologias que permita atender à demanda da sociedade por materiais cimentícios usando me-nos cimento. “Na prática estamos desenvolvendo ferramentas que permitirão à indústria reduzir a quantidade de cimento para fazer concreto e arga-massa. Esta é a única forma que temos de resolver o problema de gases de efeito estufa preservando os investimentos da indústria sem aumentar o cus-to de produção”, afirma o professor.

A tecnologia que está sendo desenvolvida altera um procedimento industrial. “Hoje, a indústria uti-liza 10% de filler (calcário moído que não passou pelo forno) para diluir o cimento. Nós consegui-mos aumentar a quantidade de filler para 70% e obtivemos o mesmo cimento”, afirma John. Ele explica que a indústria já está adaptando alguns

ceria com a InterCement. Um trabalho como esse é da escola, mas é também da empresa e esperamos estender o contrato para depois de 2017”.

O projeto InterCement está em sua segunda versão e o impacto ambiental é ainda menor. O prédio será construído com base nessa versão. “No início reduzi-mos as emissões em 20% e na segunda versão po-demos reduzir o impacto ambiental em 60%, sendo que em laboratório atingimos até 70%”.

Esta nova versão é mais complicada industrial-mente e requer outra estrutura técnica. A pla-taforma abre possibilidades para que os enge-nheiros que projetam formulações, blocos de concreto, argamassa, façam coisas muito mais sofisticadas, como por exemplo, variar o módulo de elasticidade do concreto sem variar a resistên-cia. “Hoje não se faz concreto impermeável se ele não tiver alta resistência e isso será possível na nova versão, que permite fazer concreto para bar-ragens com características inimagináveis e com grande redução de custos. “Esta nova versão vai abrir novos horizontes para o cimento, material mais usado pela humanidade”. humanidade”, afir-ma o professor Vanderley John.

produtos onde é possível aplicar esse conceito e al-guns produtos da linha da InterCement vão adaptar essa tecnologia. “Serão produtos com a mesma fun-cionalidade, em alguns casos até melhor do que a de produtos convencionais, emitindo muito menos CO2, com o mesmo custo de produção”.

O professor Vanderley John conta que a equipe está se preparando para construir o primeiro prédio pilo-to dentro da Poli, onde será instalado o CICS - Centro de Informação de Construção Sustentável. O prédio terá uma estrutura com teor de cimento extrema-mente baixo. “Devemos conseguir colocar isso no Li-vro de Recordes, e vamos usar como demonstração”. A construção do prédio faz parte do projeto. Além da InterCement, outras 25 empresas vão colaborar. “Esperamos construir o prédio incluindo novas tec-nologias de 30 empresas”, diz John, ao explicar que a tecnologia desenvolvida com a InterCement será aplicada na estrutura. A empresa Leonardi é o parcei-ro industrial que fará a estrutura pré-moldada. O pro-fessor acredita que a obra esteja concluída no meio do ano que vem. “Se olharmos para os objetivos do projeto, que termina no final de 2017, o que estamos fazendo hoje é muito mais ambicioso do que aquilo que foi a nossa imaginação quando formamos a par-

CONCRETO DE QUALIDADE COM MENOS CIMENTO

Hora do Código – O Centro de Engenharia Elétrica Solidário da Poli-USP (CEE Solidário) desenvolveu, no dia 11 de junho, a 4ª edição do evento “A Hora do Código” com mais de 40 crianças da ONG Sinhazinha Meirelles. A enti-dade, integrada por estudantes de Engenharia Elétrica, é uma das editorias do Centro Acadê-mico do curso, responsável por desenvolver projetos de cunho social dentro da Universida-de de São Paulo. O “Hour of Code” é um projeto internacional que ensina a lógica da programa-ção a crianças e adultos.