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Juliana da Conceição Gomes Ferreira abril de 2015 Amazonites de Valença – Norte de Portugal UMinho|2015 Juliana da Conceição Gomes Ferreira Amazonites de Valença – Norte de Portugal Universidade do Minho Escola de Ciências

Juliana da Conceição Gomes Ferreira · Ano de conclusão: 2015 Designação do Mestrado: ... II.1 – Corpos pegmatíticos: tipologia estrutural, mineralogia e tipos litológicos

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  • Juliana da Conceio Gomes Ferreira

    abril de 2015

    Amazonites de Valena Norte de Portugal

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    Universidade do Minho

    Escola de Cincias

  • Juliana da Conceio Gomes Ferreira

    abril de 2015

    Dissertao de Mestrado Mestrado em Ordenamento e Valorizao de Recursos Geolgicos

    Amazonites de Valena Norte de Portugal

    Universidade do Minho

    Escola de Cincias

    Trabalho efetuado sob a orientao doProfessor Doutor Carlos Augusto Leal Gomes

  • ii

    DECLARAO

    Nome: Juliana da Conceio Gomes Ferreira

    Carto de Cidado: 13714961

    Endereo de correio eletrnico: [email protected]

    Ttulo da dissertao: Amazonites de Valena Norte de Portugal

    Orientador: Professor Doutor Carlos Augusto Leal Gomes

    Ano de concluso: 2015

    Designao do Mestrado: Mestrado em Ordenamento e Valorizao de Recursos Geolgicos

    AUTORIZADA A REPRODUO INTEGRAL DESTA DISSERTAO APENAS PARA EFEITOS DE

    INVESTIGAO, MEDIANTE DECLARAO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE

    COMPROMETE.

    Universidade do Minho, 30 de Abril de 2015

    Assinatura: ____________________________________________________

  • iii

    nesta Terra, o Planeta Azul, envolto nos farrapos brancos das nuvens,

    que reside tudo o que temos: o ar que respiramos,

    a gua que bebemos, o cho que pisamos e nos d o po.

    s com isto que contamos para viver. , pois, fundamental, conhecer melhor esta nossa casa

    que nos transporta atravs da imensido do Cosmos, velocidade de 30 Km por segundo.

    E a Geologia a cincia que nos permite chegar a esse conhecimento.

    Antnio Galopim de Carvalho

  • v

    Agradecimentos

    A vida demasiado curta para que possamos estar sempre a contestar com aquilo que nos

    contraria. Devemos tirar partido de todos os momentos, sejam eles bons ou maus. Dos bons

    realamos a alegria que aquele momento nos proporcionou; dos maus aprendemos a levantar-

    nos e a seguir em frente, pois os obstculos so para ultrapassar.

    Ao longo da nossa pequena existncia, depararmo-nos com diversas pessoas que de uma

    forma, ou de outra, nos transmitem os seus conhecimentos e colocam-nos prova, de forma a

    testar as nossas capacidades. para essas pessoas que os meus agradecimentos se dirigem.

    So inmeras. Muitas nem tm noo do valor que transmitiram pois, ensinaram algo que

    para elas era to insignificante, mas para mim foi uma lio a reter, e hoje devo muito do que

    sou e do que fao e como fao a elas.

    Depois h aquelas que esto l em diferentes etapas da nossa vida, mas que nos

    transmitiram, talvez, o maior leque de conhecimento que possumos: os professores. Desde a

    professora primria, seguindo os professores do bsico e secundrio, at aos professores da

    universidade, com eles aprendi das vogais e consoantes, biologia e geologia.

    Os amigos tambm nos instruem. Ensinam o que a amizade. Muitos vo entrando, outros

    vo saindo, outros vo ficando e, depois, h aqueles que esto sempre l. E h o tal que

    conquistou e foi mais alm. E com ele aprendo a partilhar e a conquistar um futuro melhor.

    Por ltimo, mas como os ltimos so sempre os primeiros, h os pais. Os dois seres que me

    permitiram ser o que sou.

    Obrigada Pai e Me pelos valores que me ensinaram, pelas quedas

    que me ampararam, pelos sorrisos que me proporcionaram e por tudo o que foram

    conquistando para que nada me faltasse.

    MUITO OBRIGADA!

  • vii

    Amazonites de Valena Norte de Portugal

    Resumo

    Na regio de Valena ocorre um campo pegmattico denominado por Campo Pegmattico de

    Alto dos Teares Taio Felgueiras. Este formou-se durante a orogenia Varisca, no decorrer da

    instalao dos granitos ps-orognicos (tardi a ps-tectnicos), subalcalinos. Os pegmatitos que

    constituem este campo so NYF e possuem carcter amazontico. Apresentam uma localizao

    cupular relativamente aos granitos parentais. A sua implantao intra-grantica, quando estes

    se instalaram em faixas de descompresso horizontais resultantes da relaxao interna da

    cpula, e exo-grantica, quando os pegmatitos se implantaram em ruturas paralelas

    configurao da cpula, resultado do colapso externo da mesma.

    O presente estudo, por anlise paragentica, cromtica e mineroqumica, visa um contributo

    cientfico sobre a cromatizao verde nos feldspatos potssicos amazonticos e potenciais

    mecanismos que processam a amazonitizao. Igualmente pretende definir uma tendncia de

    evoluo dos pegmatitos do campo pegmattico. As amazonites caracterizam-se por

    apresentarem cores verdes variadas, ndices de triclinicidade elevados e altos teores de Pb, Sr e

    Rb. Por sua vez, as microclinas rseas e cor de tijolo exibem baixos teores de Pb, Sr e Rb,

    resultado de processos de lixiviao, prprios deste fenmeno de enrubescimento.

    O processo de amazonitizao, metassomtico, parece resultar da presena de centros

    cromforos induzidos pelo io Pb2+ que, em associao com a gua de cristalizao, forma os

    pares dimricos [PbO.(OH)]. A presena de galena em amazonite perttica coerente com

    aquele facto e indicia que a cor verde veiculada pela presena do Pb. O fenmeno de

    enrubescimento, responsvel pelas coloraes rsea e cor de tijolo, ps-amazontico e est

    relacionado com impregnaes de poalhas de hematite, designando-se, genericamente, por

    hematitizao. Quanto tendncia de evoluo dos pegmatitos, constata-se que o mais precoce

    o pegmatito de Taio, seguindo-se o pegmatito de Alto dos Teares e o mais tardio o

    pegmatito de Felgueiras.

    Palavras chave: NYF, pegmatitos miarolticos, amazonitizao, amazonites, enrubescimento,

    Pb, galena

  • xi

    Amazonites from Valena Northern Portugal

    Abstract

    The Alto dos Teares Taio Felgueiras pegmatite field is located in the region of Valena

    (Northern Portugal), and was formed during the Variscan orogeny, during the intrusion of sub-

    alkaline post-orogenic (tardi to post-tectonic) granites. These pegmatites are NYF and amazonitic.

    They also have a cupular location in relation to the parental granites. Their placement is inner-

    granitic, when settled in parallel zones of decompression that resulted from the internal dome

    relaxation, and outer-granitic, when pegmatites intruded parallel cracks in the dome as a result of

    its external collapse.

    This study intends to shed light on the role of the chromophore that is responsible for the

    green color in potassic amazonitic feldspar and how this mechanism amazonitization

    happens. Paragenetic, chromatic, mineral and chemical analysis were used in order to achieve

    that objective.

    It also intends to determine an evolutionary trend in the pegmatite field. The amazonite

    crystals present a large diversity of green colors, high triclinicity rates and high Pb, Sr and Rb

    content. The rose and firebrick microcline crystals bear lower Pb, Sr and Rb content, as a result

    of leaching, typical of the reddening phenomenon.

    The amazonitization process, metasomatic, appears to result from the presence of

    chromophoric centers induced by the ion Pb2+, which, in association with crystallization water,

    form the dimeric pairs [PbO. (OH)]. The presence of galena in pertitic amazonite is consistent

    with that fact and indicates that the green color is obtained by the presence of Pb. The reddening

    phenomenon, responsible for the rose and firebrick hues, is post-amazonitic and is related to the

    impregnation with lamelli of hematite, known as hematitization. As for the pegmatite evolutionary

    trend was distinguished the following order of consolidation: Taio pegmatite, Alto dos Teares

    pegmatite and Felgueiras pegmatite.

    Key-words: NYF, Miarolitic pegmatites, amazonitization, amazonites, reddening, Pb, galena

  • xi

    NDICE GERAL

    Captulo I: ................................................................................................................................ 1

    INTRODUO ........................................................................................................................... 1

    I.1 Feldspatos potssicos ................................................................................................... 3

    I.2 Objetivos da dissertao ............................................................................................... 8

    I.3 - Trabalhos Prvios .......................................................................................................... 8

    I.4 Enquadramento Geolgico ............................................................................................ 9

    I.4.1 Macio Ibrico ....................................................................................................... 9

    I.4.2 Zona Centro Ibrica ............................................................................................. 11

    I.4.3 Organizao estrutural dos pegmatitos da ZCI ...................................................... 12

    I.4.4 Localizao Paleogeogrfica e Tectnica dos granitos e campos pegmatticos com

    feldspatos amazonticos .................................................................................................. 15

    I.5 - Granitos ps-tectnicos do N de Portugal ...................................................................... 18

    I.5.1 Petrologia, geoqumica e mineroqumica .............................................................. 20

    I.5.2 Modelos concetuais de implantao granito/pegmatito ......................................... 23

    I.6 - Potencial de gerao de pegmatitos por parte dos magmas parentais dos granitos ps-

    tectnicos favorabilidade geoqumica para a amazonitizao ............................................ 26

    I.7 - Anlise geomtrica e cartografia dos campos de pegmatitos amazonticos .................... 27

    I.8 - Amostragem de feldspatos amazonticos ...................................................................... 32

    I.9 - Mtodos de anlise: qumica e difractomtrica ............................................................. 34

    Captulo II: ............................................................................................................................. 37

    ESTRUTURA E PARAGNESE DE PEGMATITOS AMAZONTICOS E ROCHAS ENCAIXANTES ..... 37

    II.1 Corpos pegmatticos: tipologia estrutural, mineralogia e tipos litolgicos encaixantes ... 39

    II.2 Paradigma estrutural Anatomia do grupo pegmattico de Felgueiras ......................... 42

    II.3 Assinaturas paragenticas de filiao NYF ............................................................... 44

    II.4 Quadro paragentico ................................................................................................. 46

    II.5 - Relao entre morfologia e estrutura interna e modelos concetuais de gnese e

    instalao de pegmatitos .................................................................................................... 48

    II.6 - Fenmenos da amazonitizao e enrubescimento ....................................................... 52

    Captulo III: ............................................................................................................................ 55

    ESTADO ESTRUTURAL E MINEROQUMICA DAS AMAZONITES ................................................ 55

    III.1 - Diversidade cromtica ................................................................................................ 57

    III.1.1 Amazonites ........................................................................................................ 59

  • xii

    III.1.2 Microclinas Enrubescidas ................................................................................... 60

    III.2 - Diversidade petrogrfica tipos pertticos ................................................................... 62

    III.3 - Configuraes de difractogramas dos diferentes tipos de feldspatos potssicos e valores

    de triclinicidade .................................................................................................................. 62

    III.4 Mineroqumica .......................................................................................................... 66

    III.4.1 Composio qumica pontual das Amazonites e Microclinas Enrubescidas .......... 66

    III.4.2 Composio qumica pontual de fases feldspticas alojadas em Migmatito e Aplito-

    pegmatito estudo comparativo ..................................................................................... 70

    III.4.3 Diagrama ternrio Ab An - Or .......................................................................... 71

    III.4.4 Distribuio dos elementos-trao (vestigiais) ....................................................... 72

    III.5 Amazonitizao e Enrubescimento no Campo Pegmattico Alto dos Teares Taio -

    Felgueiras ........................................................................................................................... 77

    III.6 Minerais hospedados nos feldspatos potssicos ........................................................ 84

    III.7 - Correlaes mineroqumicas entre triclinicidade e composies .................................. 86

    III.8 - Indicadores mineroqumicos de tendncias evolutivas entre as amazonites e pegmatitos

    portadores .......................................................................................................................... 88

    Captulo IV: ............................................................................................................................ 89

    CONCLUSES ........................................................................................................................ 89

    IV.1 - Fertilidade amazontica dos granitos ps-tectnicos .................................................... 91

    IV.2 Tendncias da evoluo geoqumica dos pegmatitos amazonticos deduzidas da

    mineroqumica das suas amazonites ................................................................................... 93

    IV.3 Classificao ornamental das amazonites ................................................................. 95

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................................................. 97

  • xiii

    NDICE DE FIGURAS

    Figura 1: Estrutura cristalina da microclina (amazonite). Retirada de

    http://webmineral.com/data/microcline.shtml#.vmtawgisxx7 ................................................... 4

    Figura 2: Diagrama ternrio An-Ab-Or, com as classificaes das composies intermdias entre

    Ab e An e Ab-Or e a nomenclatura dos feldspatos. a Plagioclases; b Feldspatos alcalinos.

    Extrada de Vlach (2002). ......................................................................................................... 5

    Figura 3: Srie Reacional de Bowen .......................................................................................... 6

    Figura 4: Unidades morfotectnicas da Pennsula Ibrica, segundo Lautensach (in Ribeiro et

    al.,1979, in Mendes, 2001): 1 Bacias cenozoicas; 2 Cadeias meso-cenozoicas

    moderadamente enrugadas; 3 Cadeias alpinas; 4 Soco Varisco (Macio Ibrico) ............... 10

    Figura 5: Diviso Macio Ibrico segundo Farias et al. (1987). Retirada de Conceio (2012). . 11

    Figura 6: Distribuio dos corpos pegmatticos na Provncia Pegmattica Varisca, em Portugal

    Continental. Retirada de Guimares (2012). ............................................................................ 14

    Figura 7: Enquadramento Geolgico da rea de estudo do Campo Pegmattico de Alto dos

    Teares-Taio-Felgueiras. Excerto da folha 1C - Caminha escala 1/50000 (Legenda segundo as

    minutas de reviso proposta em Leal Gomes, 2008). .............................................................. 17

    Figura 8: Enquadramento topogrfico da rea de estudo do Campo Pegmattico de Alto dos

    Teares-Taio-Felgueiras. Excerto da folha 7 escala 1/25000. ............................................... 18

    Figura 9: Bolsadas irregulares a isodiamtricas observadas no campo pegmattico em estudo,

    sector de Felgueiras................................................................................................................ 28

    Figura 10: Dispositivos morfolgicos de evoluo resultantes da cinemtica de implantao.

    Adaptado de Leal Gomes & Lopes Nunes (2003). ................................................................... 29

    Figura 11: Protuberncias piramidais ascendentes no seio de um granito porfiroide

    essencialmente biottico, ps-tectnico Granito de Mono observadas no Campo Pegmattico

    de Alto dos Teares-Taio-Felgueiras. Retirada de Guimares (2012). ....................................... 30

    Figura 12: Bolha pegmattica observada no Campo Pegmattico, setor de Felgueiras ............... 30

    Figura 13: Cartografia do Campo Pegmattico de Alto dos Teares Taio Felgueiras ............ 31

    Figura 14: Amostragem dos pegmatitos em estudo, nos trs setores discriminados ................. 33

    Figura 15: Modelo de explicao da intruso dos pegmatitos do Campo de Alto dos Teares-Taio-

    Felgueiras (Extrado de Guimares, 2012). Blocos diagramas dos pegmatitos amazonticos:

    estrutura e anatomia dos corpos pegmatticos. 1 e 2 Intra-grantico de Alto dos Teares Norte e

    Sul, respetivamente; 3 Intra-grantico de Felgueiras; 4 Exo-grantico de Taio..................... 41

  • xiv

    Figura 16: Representao tridimensional da anatomia estrutural do sector pegmattico

    amazontico de Felgueiras os vrios modelos de instalao granito/pegmatito tm nesta

    ilustrao uma discriminao exemplar: magmatic stoping, balloning, bubbling e delaminao.

    Optou-se pela designao de plug ao setor analisado .............................................................. 43

    Figura 17: Conjunto de imagens (A a I) de minerais e associaes paragenticas tipomrficas da

    linhagem NYF dos pegmatitos amazonticos do Campo Pegmattico de Alto dos Teares-Taio-

    Felgueiras............................................................................................................................... 45

    Figura 18: Espectro da monazite-Ce da figura 17C, obtido em MEV. ........................................ 46

    Figura 19: Anlise paragentica dos pegmatitos miarolticos amazonticos filiados em granitos

    biotticos ps-tectnicos. MMI Minerais magmticos primrios; AMT Amazonitizao; PAM

    Amazonite de precipitao; R Enrubescimento dos feldspatos potssicos; EP

    Epissienitizao; ZM Zona Marginal; ZIE Zona intermdia Externa; ZII Zona intermdia

    Interna; NQZ Ncleo de Quartzo; CM Cavidade Miaroltica; MT Unidades Metassomticas.

    Retirada de Ferreira & Leal Gomes (2014). ............................................................................. 47

    Figura 20: Imagem de Google Earth da mancha grantica de Alto dos Teares na qual se evidencia

    a forma do plutonito e a localizao dos corpos pegmatticos filiados. Retirada de Guimares

    (2012). ................................................................................................................................... 49

    Figura 21: Perfil da rea pegmattica de Alto dos Teares, com deduo de cisalhamentos,

    fluidalidades e corpos pegmatticos associados aos modelos de Brisbin (1986) e Brun & Pons

    (1981). ................................................................................................................................... 50

    Figura 22: Perfil da rea pegmattica de Taio e Felgueiras ..................................................... 51

    Figura 23: Espao Colorimtrico de Munsell. Retirada de

    http://aalquimiadacor.blogspot.pt/2011/02/o-sistema-munsell.html ..................................... 58

    Figura 24: Projeo das cores das amazonites e microclinas enrubescidas em estudo no Espao

    Colorimtrico de Munsell 2D. No centro do eixo projeta-se o N que corresponde ausncia de

    luminosidade (preto puro). ...................................................................................................... 59

    Figura 25: Diversidade cromtica das amazonites do Campo Pegmattico de Alto dos Teares

    Taio Felgueiras e respetivos ndices de Munsell .................................................................. 60

    Figura 26: Diversidade cromtica das microclinas enrubescidas do Campo Pegmattico de Alto

    dos Teares Taio Felgueiras e respetivos ndices de Munsell ............................................. 61

    Figura 27: Diversidade petrogrfica perttica observada em MOLT. .......................................... 62

    Figura 28: Conjunto de difractogramas e respetivos valores de triclinicidade dos feldspatos

    potssicos - amazonites e microclinas enrubescidas com diversas coloraes ......................... 65

  • xv

    Figura 29: Projeo das amostras em estudo no diagrama ternrio Ab-An-Or ........................... 72

    Figura 30: Diagrama ternrio dos feldspatos alcalinos, Polarizao em Or das amostras

    amazonites/microclinas realando-se a distribuio no campo das microclinas pertticas ........ 72

    Figura 31: Diagramas da variao K/Rb para as amostras de amazonites e microclinas

    enrubescidas estudadas. A K/Rb vs Rb (ppm); B K (%) vs Rb (ppm) .................................. 73

    Figura 32: Diagrama de variao K/Cs vs Cs (ppm) para as amostras de amazonites e

    microclinas enrubescidas estudadas ....................................................................................... 74

    Figura 33: Diagrama de variao Ba (ppm) vs Rb (ppm) para as amostras de amazonites e

    microclinas enrubescidas estudadas ....................................................................................... 75

    Figura 34: Diagrama de variao K (ppm) vs Pb (ppm) para as amostras de amazonites e

    microclinas enrubescidas estudadas ....................................................................................... 76

    Figura 35: Diagramas da variao K/Sr e Ba/Sr para as amostras de amazonites e microclinas

    enrubescidas estudadas. A K/Sr vs Sr (ppm); B Ba (ppm) vs Sr (ppm) .............................. 77

    Figura 36: Conjunto de partculas de galena inclusas em amazonite perttica, obtidas no MEV-ER.

    .............................................................................................................................................. 79

    Figura 37: Espectros de albite (A) e de feldspato potssico (B), obtidos em MEV...................... 80

    Figura 38: Partculas de zirco (ZR), galena (GA) e mica (MI) no migmatito. Imagem obtida no

    MEV-ER. ................................................................................................................................. 80

    Figura 39: Partcula compsita de U e Th, com forma amebide, num local hidrotermalizado de

    cirtolite. Obtida no MEV-ER. .................................................................................................... 81

    Figura 40: Transio entre microclina enrubescida (MR) e feldspato potssico (FK), com

    destaque de vrias incluses hematticas e goethticas. ........................................................... 83

    Figura 41: Partcula de zirco hidratado (metamictizao), obtida em MEV-ER. ........................ 84

    Figura 42: Conjunto de partculas de sulfuretos inclusas em amazonite e microclina enrubescida,

    obtidas no MEV. ..................................................................................................................... 86

    Figura 43: Intervalo de teores mdios e valores de triclinicidade correspondentes a cada

    colorao observada ............................................................................................................... 87

  • xvii

    NDICE DE TABELAS

    Tabela 1: Classificao de granitos da ZCI segundo Ferreira et al. (1987). Retirada de Mendes

    (2001). ................................................................................................................................... 19

    Tabela 2: Sntese da classificao de granitos sin-orognicos e tardi a ps-orognicos, de acordo

    com a orogenia Varisca e a terceira fase de deformao, tal como estabeleceu Ferreira et al.

    (1987). ................................................................................................................................... 19

    Tabela 3: Valores extremos, mdia e desvio padro da composio modal dos granitos de Vila

    Pouca de Aguiar (GVPA), Pedras Salgadas (GPS) e Gouves da Serra (GGS). A composio modal

    foi calculada utilizando as composies qumicas de rocha total e biotite. %An= dados de

    microssonda. Dados foram obtidos atravs das mesonormas de Barth (1958) e corrigidas com

    base da composio da biotite. Retirada de Martins (1998). .................................................... 20

    Tabela 4: Anlises qumicas de elementos maiores (%) e elementos menores (ppm) de amostras

    selecionadas dos granitos de Vila Pouca de Aguiar (GVPA), Pedras Salgadas (GPS) e Gouves da

    Serra (GGS). Pf perda ao rubro. no determinado. Retirada de Martins (1998) .................. 21

    Tabela 5: Abundncia dos principais minerais dos granitos do macio Peneda-Gers, expressa

    em %. Retirada de Mendes (2001). ......................................................................................... 21

    Tabela 6: Composio qumica mdia dos granitos do macio de Peneda-Gers em elementos

    maiores, menores (%) e vestigiais (ppm). Fe2O3 total= Fe total sob a forma de Fe2O3.. N=n de

    amostras. Retirada de Mendes (2001). ................................................................................... 22

    Tabela 7: Classificao pegmatitos miarolticos NYF. Adaptada de ern (1991) ..................... 27

    Tabela 8: Anlise qumica pontual obtida em microssonda eletrnica das amostras de amazonite

    e microclinas enrubescidas em estudo. no determinado. Teores expressos em %. .............. 69

    Tabela 9: Anlise qumica pontual obtida em microssonda eletrnica do migmatito de Pites das

    Jnias (Montalegre) e do aplito pegmatito amazontico de Taio. no determinado. Teores

    expressos em % ...................................................................................................................... 71

    Tabela 10: Caractersticas mineroqumicas referentes s coloraes das amazonites e

    microclinas enrubescidas estudadas ....................................................................................... 87

  • Captulo III: Estado estrutural e mineroqumica das amazonites

    Captulo I:

    INTRODUO

    Um monte de pedras deixa de ser um monte de pedras no momento em que um nico homem o contempla, nascendo dentro dele a imagem de uma catedral.

    Antoine de Saint-Exupry

  • Captulo III: Estado estrutural e mineroqumica das amazonites

  • Captulo I: Introduo

    Amazonites de Valena Norte de Portugal 3

    No Norte de Portugal ocorrem numerosos pegmatitos verificando-se sobre alguns atividade

    extrativa para quartzo e feldspato, essencialmente. Propem-se neste trabalho que no decorrer

    dessas atividades pudessem ser selecionados alguns minerais por apresentarem qualidade

    ornamental. Uns por serem espcimes com valor museolgico, outros por depois de aplicado o

    devido tratamento laboratorial, serem utilizados a nvel gemolgico. A amazonite um desses

    minerais e o interesse pelo seu estudo advm da cor excecional que apresenta.

    A presente dissertao pretende dar um contributo cientfico ao tema: quais os centros

    cromforos (cristaloqumicos) responsveis pela cor verde nos feldspatos amazonticos e como

    se verifica a cromatizao, segundo o fenmeno denominado de amazonitizao, nos pegmatitos

    em estudo. Pretende-se, igualmente, estabelecer uma tendncia de evoluo dos pegmatitos,

    com base em amazonites e microclinas enrubescidas.

    Neste captulo introdutrio, alm de uma breve abordagem aos feldspatos, tambm se

    apresenta a rea de estudo, a metodologia adotada e discutidos os processos de instalao dos

    granitos e pegmatitos.

    I.1 Feldspatos potssicos

    A amazonite uma variedade do feldspato potssico, com a frmula qumica KAlSi3O8 e

    estrutura cristalina ilustrada na figura 1. Foi descoberta e descrita, pela primeira vez, por Johann

    Friedrich August Breithaupt em 1847 (Petrov et al.,1993; www.mindat.com). O seu nome to

    particular deve-se ao facto de ter sido encontrada prximo do rio Amazonas. Apresenta uma cor

    verdeazul e um hbito cristalino que lhe muito caracterstico, fazendo com que seja

    praticamente impossvel confundir com outro mineral.

    Os principais pases produtores so EUA, Rssia, Madagscar, Brasil e ndia, com destaque

    para Colorado (EUA), no qual se encontra a jazida com os espcimes mais emblemticos

    Pikes Peak (rea Crystal Peak).

  • Captulo I: Introduo

    Amazonites de Valena Norte de Portugal 4

    Os feldspatos so os minerais mais abundantes da crosta terrestre e os tectossilicatos mais

    diversificados do ponto de vista qumico. So os constituintes que se encontram em maioria nas

    rochas gneas no ultramficas, sendo, desta forma, utilizados como base da sua classificao.

    Tambm so comuns em rochas sedimentares e esto presentes na maioria das rochas

    metamrficas, dando indicaes acerca das condies de metamorfismo. Igualmente so os

    principais constituintes dos pegmatitos granticos e alcalinos simples.

    So representados pela frmula qumica geral MT4O8, na qual o lugar M ocupado por metais

    alcalinos, normalmente K e Na, eventualmente Rb1+ e raramente NH4 ou metais alcalino--

    terrosos, como o Ca, casualmente Sr2+ e Ba2+ em quantidades trao e invulgarmente Eu e Pb; o

    lugar T ocupado por Si e Al (a quantidade depende da quantidade trao de Fe3+) e

    ocasionalmente por Ti, P, B3+ e Ga3+.

    Relativamente composio qumica, os feldspatos podem ser classificados atravs de

    solues slidas no sistema ternrio Ab Or An (NaAlSi3O8 KAlSi3O8 CaAlSi3O8,

    respetivamente) (Figura 2) (Vlach, 2002).

    Figura 1: Estrutura cristalina da microclina (amazonite) . Retirada de

    http://webmineral.com/data/microcline.shtml#.vmtawgisxx7

  • Captulo I: Introduo

    Amazonites de Valena Norte de Portugal 5

    Como se pode observar na figura 2, os feldspatos com composies intermdias entre Ab e

    Or, que ocorrem atravs da substituio catinica 1+ 1+, designam-se por feldspatos

    alcalinos. Por sua vez, os feldspatos cujas composies intermdias se situam entre Ab e An por

    substituio catinica acoplada de 1+4+ 2+3+ denominam-se por feldspatos

    sdico clcicos ou plagioclases (Vlach, 2002).

    Quanto ao estado estrutural, que depende da temperatura de cristalizao e da subsequente

    histria trmica, os feldspatos nominam-se de feldspatos de alta temperatura, quando mantm a

    estrutura de acordo com a sua formao de alta temperatura; feldspatos de baixa temperatura,

    sempre que ostentem uma estrutura adequada, seja a uma cristalizao a baixas temperaturas,

    seja a um arrefecimento lento desde temperaturas elevadas; feldspatos de temperatura

    intermdia, se a estrutura exibir indcios de que a cristalizao decorreu a temperaturas

    intermdias. A diferena entre o estado estrutural de alta e baixa temperatura deve-se

    geometria da estrutura, com ou sem alterao de simetria e, ao grupo espacial e ao grau de

    ordenamento dos tomos de Si e Al nas diferentes posies tetradricas (Vlach, 2002).

    Pela Srie Reacional de Bowen, patente na figura 3, na srie contnua os primeiros feldspatos

    a formarem-se so os feldspatos clcicos, a altas temperaturas. No entanto, estes vo reagindo

    com o magma residual e o clcio progressivamente substitudo pelo sdio (sem alterao da

    estrutura interna), dando origem aos feldspatos sdicos, que se formam a mais baixas

    temperaturas. Com o aumento dos teores de slica, potssio e alumnio, as condies tornam-se

    Figura 2: Diagrama ternrio An-Ab-Or, com as classificaes das composies intermdias entre Ab e

    An e Ab-Or e a nomenclatura dos feldspatos. a Plagioclases; b Feldspatos alcalinos. Extrada de

    Vlach (2002).

  • Captulo I: Introduo

    Amazonites de Valena Norte de Portugal 6

    ideais para a formao do feldspato potssico. As temperaturas de formao so mais baixas

    que as de formao dos feldspatos sdicos.

    No que respeita ao ordenamento dos feldspatos, este pode conseguir-se diretamente a partir

    das distncias interatmicas ou das ocupaes das posies interatmicas determinadas por

    difrao RX ou fluxo neutrnico. E em certas situaes pode-se obter por mtodos, como a

    ressonncia magntica nuclear (RMN) ou espectroscopia de infravermelhos. Deste modo, os

    feldspatos podem ser classificados como: feldspatos homogneos desordenados de alta

    temperatura e feldspatos ordenados, nos quais, na sua grande maioria, a separao de fases

    com teores de Na, K ou Ca muito diferentes acontece escala macro, micro ou sub-

    microscpica (Vlach, 2002).

    Relativamente nomenclatura, a dos feldspatos de alta temperatura apoia-se na simetria dos

    cristais. No campo da sanidina (Or50 Or80), os minerais possuem simetria monoclnica; na

    diviso da albite de alta temperatura (anortoclase) pertencem os feldspatos triclnicos

    temperatura ambiente, no entanto podem possuir simetria monoclnica temperatura de

    cristalizao; no grupo da composio pura NaAlSi3O8, as formas de alta e baixa de temperatura

    tm simetria triclnica, mas a forma de alta temperatura sofre uma mudana acima dos 980C

    para a forma monoclnica (monoalbite) (Figura 2a). No domnio da composio das plagioclases,

    os feldspatos possuem simetria triclnica, quer temperatura ambiente quer temperatura de

    cristalizao (Figura 2a).

    Figura 3: Srie Reacional de Bowen

  • Captulo I: Introduo

    Amazonites de Valena Norte de Portugal 7

    A nomenclatura nos feldspatos alcalinos depende indiretamente do ordenamento Al/Si e

    Na/K, uma vez que este faz com que haja diferenas significativas na simetria, propriedades

    ticas, morfologia e texturas de exsoluo. Deste modo, os feldspatos cuja composio se situa

    no intervalo Or15 Or85 designam-se por criptopertites, pertites ou mesopertites (Figura 2b).

    Quando a composio tem mais de 85% de K, os feldspatos denominam-se de ortoclase perttica

    ou microclina perttica (Figura 2b), sendo o termo para caracterizar feldspatos ricos em

    potssico, com ordenao intermdia. Apesar da microclina ser triclnica, surge na grande

    maioria monoclnica, dado que possuem maclas de pequena escala. Como possuem graus de

    ordem variveis e uma transio gradual para a simetria monoclnica, existem dois tipos de

    microclinas: microclinas de baixa temperatura (microclinas ordenadas) e microclinas intermdias

    (microclinas de menor ordenamento cristalino) (Vlach, 2002).

    Um caso particular de um feldspato alcalino de baixa temperatura a adulria. Esta

    variedade tem um hbito e paragnese bastante caractersticos - faces prismticas desenvolvidas

    e a paragnese tpica de files alpinos, respetivamente. Tambm o grau de ordenamento

    cristalino e outras diversidades estruturais variam de amostra para amostra, o que faz com que

    existam diferenas nas propriedades ticas, no plano dos eixos ticos, que varia desde uma

    posio paralela a perpendicular no eixo (010).

    Nas plagioclases a nomenclatura puramente qumica e pode ser definida por percentagens

    moleculares de Ab - An. No entanto, na srie de alta temperatura existem terminologias para

    os seis intervalos de composio qumica, nos quais a srie foi dividida: albite (An 0-10),

    oligoclase (An 10-30), andesina (An 30-50), labradorite (An 50-70), bitaunite (An 70-90) e

    anortite (An 90-100) (Figura 2a), sendo que, estas divises foram selecionadas por mtodos

    convencionais e no por rigor estrutural ou de grau de ordenamento. Na srie de baixa

    temperatura a diviso diferente, pois esta estruturalmente complexa. Deste modo, foram

    definidos os seguintes termos: albite de baixa temperatura, peristerite, albite intermdia

    (intermdia entre os dois estados de baixa temperatura) e anortite (Vlach, 2002).

    Dada a sua abundncia e devido ao alto teor de alcalis e alumina, os feldspatos so aplicados

    em diversas indstrias: cermica (louas sanitrias, de cozinha e porcelanas), vidro, construo

    civil, na produo de vernizes, tintas, eltrodos para soldar, abrasivos leves, plsticos, espuma

    de latx e prteses dentrias (Luz & Coelho, 2008).

  • Captulo I: Introduo

    Amazonites de Valena Norte de Portugal 8

    Relativamente amazonite, dado ser uma variedade de boa colorao e de elevada pureza,

    esta pode ser utilizada como gema, pedra de adorno ou estaturia. Tem tambm boa veiculao

    comercial como mineral esotrico relacionado com as caractersticas de cor e efeito tico.

    I.2 Objetivos da dissertao

    Os objetivos desta dissertao so:

    I - Caracterizao composicional e difractomtrica dos diferentes termos cromticos da fase

    potssica do feldspato;

    II Estudo da correlao entre cor, estrutura e composio com vista evidncia de

    constituintes cromforos ou centros cristalinos cromforos;

    III Deduo de uma tendncia de evoluo dos pegmatitos com base nas caractersticas

    das diferentes coloraes das fases potssicas.

    I.3 - Trabalhos Prvios

    Leal Gomes et al. (1987) so os primeiros a fazer referncia ao aparecimento de amazonite

    na regio de Valena, no Norte de Portugal. Os autores referem que ocorre nos pegmatitos

    associados aos granitos de Felgueiras e S. Loureno e ao gnaisse de Taio. Esses pegmatitos

    so considerados ps-tectnicos em relao 3 fase de deformao Varisca - D3. Os mesmos

    autores mencionam que a amazonite possui variadas triclinicidades e que um episdio regional

    de enrubescimento o fenmeno responsvel pela mudana de cor das amazonites para

    microclinas rseas.

    Posteriormente, Leal Gomes & Nunes (1991), Leal Gomes et al. (1997) e Leal Gomes (2010),

    mencionam outras ocorrncias de amazonite no mesmo enquadramento. Referem ainda que,

  • Captulo I: Introduo

    Amazonites de Valena Norte de Portugal 9

    medida que as amazonites vo ficando enrubescidas, o contedo de Na2O diminui e o contedo

    de Fe2O3 aumenta.

    I.4 Enquadramento Geolgico

    I.4.1 Macio Ibrico

    O Macio Ibrico uma das trs grandes unidades morfotectnicas. Nele, encontra-se a zona

    ocidental da Pennsula Ibrica, sendo nesta que se encontra Portugal na sua rea continental

    (Figura 4).

    Corresponde ao afloramento mais ocidental da orogenia Varisca, com idades desde o Pr-

    Cmbrico ao Paleozoico superior, sendo coberto por formaes meso-cenozoicas (Estevo,

    2010). Possui uma direo predominante NW/SW no ncleo e delimitado a sul pela orientao

    alpina NE/SW da Cadeia Btica e a norte pela mesma orientao do Arco Ibero Armoricano

    (Pinto, 2011).

    A orogenia Varisca desenvolveu-se ao longo de 100 Ma e tem sido diferenciada em trs fases:

    1 fase entre 380 e 360 Ma Devnico Superior, 2 fase entre 370 e 350 Ma - Devnico

    Superior/Carbnico Inferior e 3 fase entre 330 e 290 Ma Carbnico Superior/Prmico

    Inferior. Durante esta orogenia, no macio, originou-se uma densa rede de fraturas resultantes

    de dois episdios muito importantes: distenso, que ocorreu desde o Trissico ao Cretcico

    superior, associada abertura do Atlntico e do Neotethis, e coliso, a partir do Miocnico

    mdio, que ocorreu devido convergncia das placas africana e euroasitica (Conceio, 2012;

    Dias, 2011).

  • Captulo I: Introduo

    Amazonites de Valena Norte de Portugal 10

    Lotze (1945), in Guimares (2012), dividiu o Macio Ibrico em seis zonas morfotectnicas,

    tendo sido modificadas por Julivert et al. (1974) e por Farias et al. (1987), citados por Dias

    (2011). Essas zonas definem-se segundo caractersticas paleogeogrficas, tectnicas,

    metamrficas e plutnicas distintas, sendo que, por vezes esto separadas por importantes

    cavalgamentos.

    O Macio Ibrico dividido em seis zonas morfotectnicas: Zona Cantbrica (ZC), Zona

    Astrico Ocidental-Leonesa (ZAOL), Zona Centro Ibrica (ZCI), Zona Galiza-Trs-os-Montes

    (ZGTM), Zona Ossa Morena (ZOM) e Zona Sul Portuguesa (ZSP) (Figura 5).

    Os pegmatitos intra-granticos esto, essencialmente, relacionados com sistemas granticos

    residuais, dependentes da evoluo da ZCI (Guimares, 2012). Deste modo, sero apresentadas

    as caractersticas que dizem respeito a esta zona morfotectnica.

    Figura 4: Unidades morfotectnicas da Pennsula Ibrica, segundo Lautensach ( in Ribeiro et

    al.,1979, in Mendes, 2001): 1 Bacias cenozoicas; 2 Cadeias meso-cenozoicas moderadamente

    enrugadas; 3 Cadeias alpinas; 4 Soco Varisco (Macio Ibrico)

  • Captulo I: Introduo

    Amazonites de Valena Norte de Portugal 11

    I.4.2 Zona Centro Ibrica

    Do ponto de vista estratigrfico, a ZCI caracterizada pela ocorrncia de uma mega

    sequncia do tipo flysch (idade Pr Cmbrica superior/Cmbrica) designada por Complexo

    Xisto Grauvquico (CXG). Relativamente s estruturas, estas devem-se deformao associada

    orogenia Varisca, na qual so conhecidas trs fases principais de deformao dctil D1, D2 e D3

    e uma fase de deformao frgil D4. A primeira fase de deformao dctil (D1) caracteriza-se

    pela formao de dobras bastante extensas e xistosidade de plano axial associada (S1) com

    direo geral NW/SE. A sequncia pr carbnica existente foi afetada por esta fase de

    deformao e as estruturas resultantes desta ao esto bem retratadas na ZCI.

    A segunda fase de deformao dctil (D2) teve efeito nas sequncias metamrficas de grau

    mdio a alto e foi responsvel pela formao de zonas de cisalhamento dcteis sub-horizontais,

    nas quais a clivagem S2 , habitualmente, a nica visvel. Tambm formou dobras menores

    Figura 5: Diviso Macio Ibrico segundo Farias et al. (1987). Retirada de Conceio

    (2012).

  • Captulo I: Introduo

    Amazonites de Valena Norte de Portugal 12

    assimtricas e dobras em bainha que afetam a clivagem S1, dando origem a uma nova clivagem,

    S2, sub-horizontal.

    A terceira fase de deformao dctil (D3) est associada a zonas de cisalhamento dctil sub-

    verticais, com movimento horizontal dextrgiro. As dobras produzidas possuem plano axial sub-

    vertical, ocasionalmente com clivagem de crenulao S3 que redobram as estruturas anteriores e

    foliao nos granitos (Conceio, 2012; Pamplona, 2001; Sant'Ovaia, 2000). As fraturas

    originadas tm orientao NNE-SSW, tendo-se tambm originado um sistema conjugado NNW-

    SSE.

    Por ltimo, a fase de deformao frgil (D4) caracterizada pela instalao dos granitides

    tardi a ps D3 e pelo desenvolvimento de um sistema de falhas de direo NW/SW a

    NNE/SSW, com movimento horizontal esquerdo (Martins, 1998), sendo esta filiao de

    granitides que aflora na rea em estudo.

    Os pegmatitos relacionados com a orogenia Varisca, aos quais pertencem os pegmatitos

    amazonticos em estudo, encontram-se, intimamente, ilustrados na figura 5 por alguns

    lineamentos. Verifica-se que a maior parte destas lineaes, localizam-se na transio entre a

    ZCI e a ZGTM. Porm, geneticamente esto relacionados com os granitos sin a ps-tectnicos

    relativamente 3 fase de deformao Varisca.

    I.4.3 Organizao estrutural dos pegmatitos da ZCI

    Aquando a instalao dos granitos, ocorreu a implantao de pegmatitos, que corresponde

    pegmatitizao Varisca citada por Leal Gomes (1994), com idades pertencentes ao intervalo 300

    e 280 Ma. ern (1982) props subdivises para a organizao estrutural dos pegmatitos. Leal

    Gomes (1994) e Leal Gomes & Nunes (2003) adaptaram essas sub-divises ao conjunto de

    pegmatitos pertencentes ZCI, tendo em conta as especificidades encontradas a nvel estrutural

    e composicional. Por conseguinte, os autores discriminaram as seguintes subdivises,

    adotadas em trabalhos posteriores dedicados a estudos pegmatticos regionais, tais como

    Sinergeo & UMinho (2013) :

  • Captulo I: Introduo

    Amazonites de Valena Norte de Portugal 13

    1 ordem Provncia Pegmattica Varisca: engloba todos os pegmatitos e/ou aplito

    pegmatitos que estejam relacionados com o metamorfismo e com os granitos da orogenia

    Varisca (Figura 6).

    2 ordem Cintura Pegmattica Centro - Ibrica: abrange todos os pegmatitos aflorantes na

    ZCI e os afloramentos situados nos terrenos parautctones da Zona de Galiza-Trs-os Montes

    (ZGTM) (os pegmatitos so alctones na ZGTM e geneticamente relacionados com granitos mais

    tpicos da ZCI). O alongamento da cintura segue a atitude e a trajetria do alongamento do Arco -

    Ibero Amoricano e dos Macios granticos sin e tardi tectnicos.

    3 ordem Campo pegmattico ou aplito pegmattico: rea pegmattica onde predominam

    pegmatitos com uma filiao comum num nico plutonito paterno. Alm destas unidades

    elementares engloba, igualmente, outros corpos com estruturas aplticas e pegmatticas

    estreitamente associadas e estruturas com origem diversificada que se relaciona de alguma

    forma com pegmatides (Leal Gomes & Nunes, 2003; Leal Gomes, 2005a). Esses corpos so:

    segregaes metamrficas hper - aluminosas, veios de quartzo, massas ou corpos originados

    por alterao deutrica, files hipabissais microgranticos e prfiros. Os campos podem ser intra

    ou exo granticos.

    4 ordem Enxame pegmattico ou aplito pegmattico: conjunto de pegmatitos nos quais a

    implantao est relacionada com um estdio de evoluo geoqumica e morfolgica do

    plutonito gerador e/ou com um campo de tenses regional (Leal Gomes & Nunes, 2003; Leal

    Gomes, 2005a). Esta subdiviso tambm engloba o termo grupo pegmattico, usado para

    descrever pares de pegmatitos intra granticos acoplados.

    5 ordem Corpo aplito pegmatito, pegmatito, pegmatide: poro litolgica com

    composio grantica residual ou silicatada hiper - aluminosa, com minerais como o quartzo,

    feldspato e moscovite (Leal Gomes & Nunes, 2003; Leal Gomes, 2005a). Quanto s

    mineralizaes possveis correspondem tipologia: LCT (Li, Cs e Ta), NYF (Nb, Y e F) ou hbridas

    (LCT e NYF).

  • Captulo I: Introduo

    Amazonites de Valena Norte de Portugal 14

    Segundo Leal Gomes (1994), a Cintura Pegmattica Centro Ibrica engloba todas as classes

    de pegmatitos mencionados por Ginzbourg et al. (1979), in Leal Gomes (1994). Contudo, e

    tendo em conta as particularidades relativamente aos aplitos-pegmatitos da ZCI, os autores

    Guimares (2012), Leal Gomes & Nunes (2003) discriminaram:

    Pegmatitos tabulares a lenticulares (t) - pegmatitos miarolticos, zonados, em corpos

    tabulares situados em cpulas de plutonitos mais ou menos superficiais - tipo I de Ginzbourg et

    al. (1979).

    Pegmatitos em forma de bolsada irregular (b) - pegmatitos miarolticos, zonados,

    cermicos em bolsadas situadas em cpulas de plutonitos - tipo I de Ginzbourg et al. (1979).

    Pegmatitos lenticulares (er) - pegmatitos homogneos e aplito-pegmatitos de elementos

    raros em grupos estruturalmente diferenciados, associados a plutonismo de profundidade

    intermdia - tipo II de Ginzbourg et al. (1979).

    Figura 6: Distribuio dos corpos pegmatticos na Provncia Pegmattica Varisca,

    em Portugal Continental. Retirada de Guimares (2012).

  • Captulo I: Introduo

    Amazonites de Valena Norte de Portugal 15

    Pegmatitos lenticulares (m) - pegmatitos profundos, micceos, homogneos a subzonados

    - tipo III de Ginzbourg et al. (1979).

    Pegmatitos lenticulares a irregulares (p) - pegmatitos zonados, de elementos raros, em

    sectores de profundidade intermdia submetidos a deformao distensiva ou cisalhamento - tipo

    II de Ginzbourg et al. (1979).

    Pegmatitos lenticulares a venulares (a) - pegmatitos abissais (de mxima profundidade),

    situados em ambientes de migmatitizao - tipo IV de Ginzbourg et al. (1979).

    O termo campo pegmattico ser utilizado nesta dissertao referente ao campo pegmattico

    Alto dos Teares Taio Felgueiras. Os pegmatitos aflorantes so pegmatitos miarolticos

    tabulares a lenticulares, e pegmatitos miarolticos em forma de bolsada irregular, pertencentes

    ao tipo I de Ginzbourg et al. (1979).

    I.4.4 Localizao Paleogeogrfica e Tectnica dos granitos e campos

    pegmatticos com feldspatos amazonticos

    A rea em estudo tem representao na cartografia geolgica da folha 1C de Caminha,

    escala 1/50 000 (Figura 7) e na carta topogrfica da folha 7, escala 1/25000 (Figura 8), em

    que se inclui o campo pegmattico de Alto dos Teares Taio Felgueiras.

    Este campo situa-se no concelho de Valena do Minho e tem uma extenso alongada de

    cerca 1,9Km. A largura varivel com 200m na parte sul e 950m na parte central (Guimares,

    2012; Lima, 2006).

    Segundo a reviso geolgica mais recentes, proposta em Leal Gomes (2008), as rochas

    regionais esto representadas por um granito alcalino gnaissco (Gnaisse de Gndara), com duas

    micas, e parte da mancha do granito de Mono. Petrograficamente, este granito apresenta gro

    grosseiro a mdio e quartzo abundante, tanto em cristais, como em mirmequites. O feldspato

    potssico ocorre sob a forma de grandes cristais de pertite e microclina-pertite, que por vezes

    adquire uma tonalidade rsea. A plagioclase varia, composicionalmente, de plagioclase-andesina

    a oligoclase-andesina e oligoclase a albite-oligoclase. As micas esto representadas pela biotite,

  • Captulo I: Introduo

    Amazonites de Valena Norte de Portugal 16

    por vezes cloritizada. Os minerais acessrios principais so esfena, zirco, apatite e alanite

    (Guimares, 2012; Lima, 2006; Ribeiro & Moreira, 1986; Teixeira & Assuno, 1961). Em

    menor extenso ocorre, como variao de fcies, um granito de gro mdio e um granito

    porfiride de gro grosseiro, todos essencialmente biotticos.

    Relativamente tectnica, e dado que os granitos aflorantes se instalaram durante a D4,

    como supracitado, esta caracteriza-se, essencialmente, por desligamentos frgeis, sendo os

    mais importantes, de direo NNE/SSW. Aquando da ascenso dos granitos instalaram-se

    numerosos files aplito-pegmatticos (Ribeiro & Moreira, 1986; Teixeira & Assuno, 1961).

    Os pegmatitos aflorantes na rea em estudo, objeto de anlise nesta dissertao, so

    miarolticos, tabulares, com espessura decimtrica a pluridecimtrica e estrutura interna zonada,

    ou ento, constituem corpos tabulares, igualmente miarolticos, que se encontram instalados no

    interior cupular de stocks de granitos ps tectnicos de gro grosseiro, biotticos com feldspato

    alcalino e em terrenos migmatticos que se encontram volta dos mesmos stocks granticos

    (Guimares, 2012; Leal Gomes et al., 1997).

  • Captulo I: Introduo

    Amazonites de Valena Norte de Portugal 17

    Figura 7: Enquadramento Geolgico da rea de estudo do Campo Pegmattico de Alto dos Teares -

    Taio-Felgueiras. Excerto da folha 1C - Caminha escala 1/50000 (Legenda segundo as minutas

    de reviso proposta em Leal Gomes, 2008) .

    rea de estudo

  • Captulo I: Introduo

    Amazonites de Valena Norte de Portugal 18

    I.5 - Granitos ps-tectnicos do N de Portugal

    A instalao dos granitos em Portugal ocorreu, essencialmente, na orogenia Varisca e durante

    a terceira fase de deformao, sendo a ZCI um excelente exemplo.

    Dada a diversidade geoqumica, petrogrfica e petrolgica destes granitos houve a

    necessidade de uma diviso e posterior classificao. Aps vrias simplificaes, uma das mais

    utilizadas para caracterizar os granitides do NW de Portugal foi estabelecida por Ferreira et al

    (1987), in Mendes (2001) (Tabela 1). Esta classificao teve em conta a relao temporal entre

    a implantao e a orogenia Varisca.

    Figura 8: Enquadramento topogrfico da rea de estudo do Campo Pegmattico de Alto dos Teares -

    Taio-Felgueiras. Excerto da folha 7 escala 1/25000.

  • Captulo I: Introduo

    Amazonites de Valena Norte de Portugal 19

    Tabela 1: Classificao de granitos da ZCI segundo Ferreira et al. (1987). Retirada de Mendes (2001).

    Na maioria dos granitos apenas so visveis os efeitos da terceira fase deformacional. Desta

    forma, os granitos sin-orognicos e tardi a ps-orognicos foram sub-divididos tendo em conta a

    relao entre a sua implantao e a atuao da terceira fase deformacional (Tabela 2).

    Tabela 2: Sntese da classificao de granitos sin-orognicos e tardi a ps-orognicos, de acordo com

    a orogenia Varisca e a terceira fase de deformao, tal como estabeleceu Ferreira et al. (1987).

    Os granitos relacionados com os pegmatitos em apreo neste estudo, nomeadamente, os

    granitos de Felgueiras e S. Loureno e o gnaisse de Taio, mencionados por Leal Gomes et al.

    (1987), incluem-se na sub-diviso dos ps-tectnicos, ou seja, instalaram-se aps a terceira fase

    de deformao (D3), desde o Estefaniano ao Prmico (Martins, 1998; Mendes, 2001). Associado

    a esta instalao, encontra-se um campo de tenses, com direo de compresso mxima 1, a

    variar entre N/S a NW/SE. Os sistemas de falhas esquerdas NNE/SSW e o sistema conjugado

    dextro NNW/ SSE foram condicionados por este campo. Exemplos destes sistemas de falhas so

    a falha de Gers-Loivos e a falha PenacovaRguaVerin. Estas falhas controlam a instalao

    dos macios granticos de Vila Pouca de Aguiar e de Peneda-Gers (Martins, 1998; Mendes,

    2001).

    Prorognicos

    Sin

    orognicos

    ante-D3 Granitos de duas micas ou biotticos com restites

    sin-D3 Granitides biotticos com plagiclase clcica e seus diferenciados

    Granitos de duas micas ou biotticos com restites

    Tardi a psorognicos (biotticos com plagiclase clcica)

    sin -

    orognicos

    Implantao e atuao da orogenia Varisca Implantao e atuao da 3 fase

    deformacional

    antetectnicos ante-D3

    sintectnicos sin-D3

    tarditectnicos tardi-D3

    pstectnicos tardi a ps-D3

  • Captulo I: Introduo

    Amazonites de Valena Norte de Portugal 20

    I.5.1 Petrologia, geoqumica e mineroqumica

    Os macios de Vila Pouca de Aguiar e de Peneda-Gers so ps-tectnicos. Deste modo, as

    suas caractersticas petrolgicas, geoqumicas e mineroqumicas macios podem ser ajustadas

    ao granito da rea em estudo, Granito de Mono.

    O macio grantico de Vila Pouca de Aguiar (GVPA) composto, essencialmente, por trs

    unidades granticas: o granito de Vila Pouca de Aguiar (GVPA), o granito de Gouves da Serra

    (GGS) e o granito de Pedras Salgadas (GPS) (Martins, 1998; Sant'Ovaia, 2000).

    A petrografia, como se pode verificar na tabela 3, apresenta diferenas composicionais entre

    as fcies granticas que compem este macio. Essas diferenas devem-se sobretudo aos teores

    de biotite e moscovite, sendo que, os teores mais elevados de biotite encontram-se no granito de

    Vila Pouca de Aguiar e os teores superiores de moscovite nos granitos de Pedras Salgadas e

    Gouves da Serra (Martins, 1998).

    Tabela 3: Valores extremos, mdia e desvio padro da composio modal dos granitos de Vila Pouca

    de Aguiar (GVPA), Pedras Salgadas (GPS) e Gouves da Serra (GGS). A composio modal foi

    calculada utilizando as composies qumicas de rocha total e biotite. % An= dados de microssonda.

    Dados foram obtidos atravs das mesonormas de Barth (1958) e corrigidas com base da composio

    da biotite. Retirada de Martins (1998).

    Na tabela 4 so apresentadas as anlises qumicas dos elementos maiores e dos elementos

    menores de amostras selecionadas dos GVPA, GPS e GGS. De destacar o carcter ligeiramente

    mais bsico de GVPA, assim como, o que apresenta menor riqueza em alcalis, menor teor em

    potssio e valor mais baixo do carcter aluminoso (Martins, 1998).

    % GVPA GPS GGS

    Min. Mx. Mdia Min. Mx. Mdia Min. Mx. Mdia

    n=14 n=11 n=4

    Quartzo 26.67 31.44 29.67 1.32 30.26 33.47 32.04 0.82 29.92 32.37 31.07 0.89

    Feldspato 18.56 23.42 20.38 1.15 21.82 23.96 22.85 0.75 23.04 24.95 24.02 0.88

    Plagioclase 38.23 42.23 40.34 1.04 34.68 38.6 36.79 1.05 36.78 38.89 38.01 0.78

    %An 16.2 30.1 6.9 14.3 16 2?

    Biotite 6.31 10.36 8.52 1.07 4.34 6.93 5.37 0.89 3.06 6.68 5.38 1.41

    Horneblenda 0.44 0.5 0.00 0.01

    Moscovite 0.12 1.19 0.65 0.32 1.65 4.67 2.68 0.98 0.93 2.26 1.71 0.57

    Apatite 0.15 0.34 0.25 0.05 0.04 0.21 0.12 0.04 0.00 0.17 0.10 0.06

    Opacos 0.06 0.68 0.21 0.16 0.07 0.31 0.14 0.13 0.00 0.49 0.15 0.22

    Fk/Pl 0.47 0.60 0.51 0.03 0.58 0.66 0.62 0.02 0.60 0.66 0.62 0.02

  • Captulo I: Introduo

    Amazonites de Valena Norte de Portugal 21

    Tabela 4: Anlises qumicas de elementos maiores (%) e elementos menores (ppm) de amostras

    selecionadas dos granitos de Vila Pouca de Aguiar (GVPA), Pedras Salgadas (GPS) e Gouves da Serra

    (GGS). Pf perda ao rubro. no determinado. Retirada de Martins (1998)

    O macio grantico ps-tectnico de Peneda-Gers constitudo, fundamentalmente, por

    granitos sub-alcalinos ferro-potssicos: o granito do Gers, o granito do Paufito, o granito de Illa,

    o granito de Carris, o granito de Calvos, e o granito de Covas.

    Na tabela 5, as fcies granticas no apresentam diferenas entre si. Essas diferenas

    somente so observadas petrograficamente ao nvel macroscpico e microscpico.

    Tabela 5: Abundncia dos principais minerais dos granitos do macio Peneda-Gers, expressa em %.

    Retirada de Mendes (2001).

    Na tabela 6 apresenta-se a composio qumica mdia dos granitos do macio de Peneda-

    Gers. de salientar o granito de Gers, pois este geoquimicamente diferente dos restantes,

    uma vez que apresenta um elevado teor em SiO2 e, quando comparado aos outros granitos,

    apresenta teores mais elevados em Fe2O3 total e menores teores em Al2O3.

    GVPA GPS GGS

    74-3 46-2 74-15 60-18 61-6 60-13 88-1 74-2 61-11

    SiO2 70.72 71.77 72.24 73.00 74.40 73.62 73.66 73.84 74.92

    Al2O3 14.51 13.56 13.35 13.57 13.48 13.38 13.44 13.46 13.13

    Fe2O3 (total) 3.08 2.72 2.22 1.76 1.62 1.77 1.99 1.64 1.63

    Fe2O3 0.83 - 0.38 - - - - 0.35 -

    FeO 2.02 - 1.66 - - - - 1.16 -

    MnO 0.06 0.04 0.05 0.04 0.03 0.04 0.03 0.04 0.03

    MgO 0.79 0.64 0.51 0.32 0.26 0.32 0.4 0.4 0.18

    CaO 1.99 1.67 1.54 1.18 1.04 0.86 1.2 0.96 0.76

    Na2O 3.68 3.47 3.54 3.52 3.45 3.45 3.55 3.74 3.63

    K2O 4.41 4.30 4.47 4.52 4.47 4.67 4.61 4.8 4.71

    TiO2 0.39 0.34 0.31 0.19 0.15 0.17 0.21 0.14 0.13

    P2O5 0.12 0.11 0.14 0.07 0.07 0.07 0.08 0 0.04

    P.F. 0.62 1.18 0.61 1.12 0.85 1.15 0.67 0.78 0.65

    Total 100.37 99.80 98.98 99.29 99.82 99.50 99.84 99.8 99.81

    Ba 330 267 362 295 277 289 238 160 99

    Rb 233 263 251 237 237 254 254 302 294

    Sr 69.0 86.4 113.0 70.4 65.6 70.5 61.0 13.0 29.0

    Quartzo Plagioclase Feldspato K Biotite Moscovite

    Gers 32.3 37.8 32.2 35.7 23.2 27.7 3.1 5.9 0.3 1.4

    Paufito 29.0 35.6 32.4 37.1 22.6 26.3 4.6 7.9 0.5 5.0

    Illa 30.4 34.8 29.5 35.7 23.7 26.9 3.2 5.5 3.6 7.1

    Carris 31.2 31.5 34.7 36.6 22.0 27.5 4.8 5.8 0.7 3.8

    Calvos 30.1 32.3 27.9 33.9 20.1 27.5 4.9 9.1 4.5 6.5

    Covas 33.9 34.3 34.5 34.7 23.4 23.6 3.2 5.3 2.2 4.4

  • Captulo I: Introduo

    Amazonites de Valena Norte de Portugal 22

    Tabela 6: Composio qumica mdia dos granitos do macio de Peneda-Gers em elementos maiores,

    menores (%) e vestigiais (ppm). Fe 2O 3 total= Fe total sob a forma de Fe 2O3 .. N=n de amostras. Retirada

    de Mendes (2001).

    Assim, das caractersticas petrolgicas destaca-se um enriquecimento em feldspato K,

    plagioclase e biotite. Quanto composio qumica, realam-se os elevados teores em SiO2, Al2O3

    e Fe2O3.

    No que respeita mineroqumica, os macios granticos tardi a ps D3 de Vila Pouca de

    Aguiar e de Peneda-Gers evidenciam algumas particularidades. So peraluminosos e tal

    demonstrado no diagrama qumico-mineralgico A-B de Debon & Le Fort (1983; 1988), in

    Martins (1998) e Mendes (2001), no qual A=(Al-K-Na-2Ca) e projetado no eixo das abcissas, e

    B=(Fe+Mg+Ti), projetado no eixo das ordenadas. So sub-alcalinos e esta filiao verificada no

    diagrama X-Or*-MM de La Roche et al. (1980), in Martins (1998) e Mendes (2001), no qual a

    varivel multicatinica X (abcissas) resulta da projeo da composio da rocha, no tringulo

    quartzo-ortoclase-plagioclase e a varivel Or*-MM (ordenadas) exibe a oscilao entre minerais

    aluminosos e ferromagnesianos. A sub-alcalinidade tambm constatada no diagrama tipolgico

    Mg vs Al total de Nachit et al. (1985), in Martins (1998) e Mendes (2001), que tem por base na

    composio das biotites, e no diagrama de Pupin (1980, 1988), in Martins (1998) e Mendes

    (2001), que se baseia na tendncia de evoluo tipolgica e os pontos mdios dos ndices A e T,

    relativamente morfologia dos zirces. So ps-colisionais e esta classificao fundamentada

    pelo diagrama Hf Rb/30 3Ta de Harris et al. (1986), in Martins (1998), e pelo diagrama

    Rb/100 Y/44 Nb/16 de Thieblemont & Cabanis (1990), in Martins (1998).

    Gers n=18

    Paufito n=11

    Illa n=8

    Carris n=6

    Calvos n=8

    Covas n=3

    SiO2 74.68 72.62 73.91 73.19 72.48 75.79

    Al2O3 12.80 13.98 13.75 13.85 13.41 12.91

    Fe2O3 (total) 2.10 2.12 1.68 1.88 1.92 1.29

    MnO 0.03 0.03 0.03 0.04 0.03 0.04

    MgO 0.26 0.42 0.25 0.32 0.41 0.12

    CaO 0.97 1.36 0.80 1.18 0.91 0.49

    Na2O 3.49 3.45 3.41 3.53 3.36 3.82

    K2O 4.56 4.62 4.78 4.57 4.87 4.35

    TiO2 0.18 0.22 0.13 0.18 0.27 0.11

    P2O5 0.06 0.09 0.08 0.05 0.23 0.10

    P.F. 0.67 0.83 0.90 0.99 1.12 0.59

    Total 99.81 99.75 99.71 99.78 99.89 99.61

    Ba 171 495 310 557 312 40

    Rb 290 242 266 291 289 414

    Sr 42 111 68 93 68 12

  • Captulo I: Introduo

    Amazonites de Valena Norte de Portugal 23

    Pelas dataes de U-Pb e Rb-Sr, a idade obtida para o macio de Vila Pouca de Aguiar de

    2993Ma e para o macio de Peneda-Gers situa-se no intervalo 290-296Ma. Assim, infere-se

    que a idade dos granitos em estudo esteja compreendida neste intervalo.

    I.5.2 Modelos concetuais de implantao granito/pegmatito

    De uma forma geral, a implantao de granito/pegmatito tem sido objeto de estudo por parte

    de vrios autores: Brisbin, (1986), Brun & Pons, (1981), Brun, (1981; 1983), Phillips, (1972;

    1974) e Roberts, (1970).

    Guimares (2012) rev estas generalizaes e modelos conceptuais e aplica-os, tambm, ao

    contexto ps-tectnico, tendo em conta as relaes geomtricas, e cinemtica e campos de

    tenses que atuaram e influenciaram as geometrias dos corpos, bem como as relaes

    granito/pegmatito.

    Um dos modelos concetuais, aquele que indicia a mistura magmtica corredores de mixing-

    mingling - tem por base as relaes de mistura de magmas granticos de fuso crustal total ou

    parcial que, por sua vez, estaria auxiliada, parcialmente, pelo calor emanado dos diferenciados

    bsicos que se encontram em ascenso. Durante esta ascenso, os magmas, provavelmente,

    hibridizaram em percentagens variveis com os fundentes neoformados, diferenciando-se em

    seguida. Deste modo, segundo Sparks & Marshall (1986), in Guimares (2012), a hibridizao

    s fica completa quando os dois magmas se comportam como um lquido antes do equilbrio

    trmico. Caso contrrio, a hibridizao incompleta e os magmas expem algumas

    diversidades, nomeadamente, bandado composicional e gradacional, incluses mficas,

    encraves homoegenos granulares e xenlitos de provenincia incerta. De acordo com Zorpi et

    al. (1989), in Guimares (2012), a transposio potencial dos constituintes higromagmfilos

    ocorre do magma mais bsico para o magma mais cido e pode ser um resultado de

    mecanismos do processo mixing-mingling. Isto levou Leal Gomes & Nunes (2003) a concluir que

    estes mecanismos promovem o enriquecimento em volteis e potenciam a formao de

    pegmatides.

  • Captulo I: Introduo

    Amazonites de Valena Norte de Portugal 24

    O modelo de ballooning, proposto por Ramsay (1981), in Guimares (2012), para o batlito

    de Chindamora em frica, pressupe que os diapiros no-penetrantes, aquando a suspenso da

    sua ascenso, devido ao esgotamento da capacidade trmica para aumentar a fluidez nos meios

    encaixantes, faziam com que o material ainda fluido das pores inferiores fosse impulsionado

    no sentido ascendente, num processo de auto-intruso, dado ainda possurem flutuabilidade

    trmica e mecnica nestas pores. Esta mobilizao contnua e policclica de material quente

    (magma de composio mais cida) para o ncleo dos diapiros, aliada ao facto dos plutonitos

    no se poderem mover verticalmente, daria origem ao esgotamento de flutuabilidade que, por

    sua vez, provocaria uma expanso radial (Guimares, 2012).

    Relativamente ao modelo de degassing (Bubbling), em magmas silicatados, este corresponde

    a uma libertao de bolhas de fases fluidas de composio e densidade variveis. Consoante a

    cristalizao do magma, estas bolhas podem desenvolver-se e dar origem a cavidades abertas

    (futuros mirolos), que mais tarde so preenchidas com cristais de minerais tardios e

    hidrotermais. Estes mirolos ocorrem em grande concentrao nas rochas vulcnicas e a sua

    ocorrncia explicada pela significativa descompresso dos respetivos magmas silicatados

    parentais. Nas rochas bsicas e intermdias a ocorrncia de mirolos diminuta, uma vez que,

    a baixa solubilidade dos constituintes volteis, em magmas silicatados destas rochas, e a baixa

    viscosidade, permitem uma remoo fugaz das bolhas do fluido. A existncia ou no de mirolos

    depende do facto dos magmas silicatados cidos serem mais viscosos do que os bsicos e

    intermdios e por terem temperaturas de liquidus e solidus mais baixas. por esta razo que se

    verifica a ocorrncia de mirolos com mineralizao em granitos e pegmatitos granticos

    (Peretyazhko, 2009, citado em Peretyazhko, 2010, in Guimares, 2012). Importa referir que os

    pegmatitos em estudo pertencem a esta filiao.

    No que respeita ao modelo de delaminao, este, na litosfera continental, atua na

    descompresso ascensional dos magmas. Tal verifica-se quer ao nvel do preenchimento de

    volumes de acolhimento apicais face s cmaras magmticas, quer na compensao gravitica,

    que s se constata quando ocorre alguma rutura no manto litosfrico e a astenosfera entra em

    contacto com a crosta, dado que esta muito menos densa que a litosfera e a astenosfera

    subjacente. Em regime colisional, como o do presente estudo, este fenmeno pode difundir-se

    ascensionalmente, at nveis de intruso apical de granitides, localizados na interface com

    complexos metamrficos, em contextos orognicos multifsicos. Neste contexto, os equilbrios

    gravticos e mecnicos podem manifestar-se na proporo das sinuosidades das cpulas

  • Captulo I: Introduo

    Amazonites de Valena Norte de Portugal 25

    granticas, dando origem a geometrias ascensionais diversificadas que abarcam a implantao

    de diferenciados granticos residuais, potencialmente pegmatticos. Estas geometrias ocorrem

    quer por regime de relaxao, quer por regime de dilatao (Bird, 1979 e Gerbi, 2002 in

    Guimares, 2012).

    Por ltimo, o modelo concetual de magmatic stoping tem sido alvo de vrios estudos com

    atribuio a diferentes definies, desde Daly (1903), in Guimares (2012), estabeleceu-se o

    modelo magmatic stoping associado a um processo de colocao ou intruso magmtica no

    qual esto envolvidos o deslocamento e incorporao de pores da rocha encaixante, sendo

    que o material agregado afunda e/ou absorvido no magma em ascenso. Mais recentemente,

    Zk et al. (2006), in Guimares (2012), esto em conformidade com Daily (1903), atribuindo a

    formao de plutes em arcos magmticos e cinturas orognicas a um extenso processo de

    magmatic stoping. No entanto, segundo Coleman et al. (2004); Glazner & Bartley (2005) e

    Glazner et al. (2004) in Guimares (2012), este processo no vivel como mecanismo de

    intruso de plutonitos, devendo essa intruso proceder-se a partir de vrios diques conjugados,

    ainda no estado mvel, que posteriormente arrefeciam abaixo da temperatura solidus. Quando

    aplicado instalao de pegmatitos, este modelo de implantao importante na medida em

    que: 1) pode atuar na vertical, facilitando a permuta de material magmtico durante a subida

    (Paterson & Fowler, 1993; Paterson & Vernon, 1995; Paterson et al.,1991; Yoshinobu et al.,

    2003a, b in Guimares, 2012); 2) pode ser utilizado para averiguar os modelos de construo

    de cmaras (Clemens, 1998, 2005; Clemens & Mawer, 1992; Glazner et al., 2004; Petford et

    al., 1994, 2000 in Guimares, 2012); 3) permite esclarecer a troca vertical de calor e massa no

    interior da crosta, em sistemas verticalmente extensivos de canalizao do magma (Paterson et

    al., 1996 in Guimares, 2012); 4) ajuda a compreender a contaminao qumica dos magmas

    durante a sua ascenso e colocao (Barners et al., 2004; Clarke et al.,1998 in Guimares,

    2012); 5) esto-lhe associados os processos de stopped-blocks e roof-pendentes, que so

    utilizados para compreender como os fabrics magmticos se formaram e evoluram (Fowler &

    Paterson, 1997; Paterson & Miller, 1998 in Guimares, 2012), sendo a presena de stopped-

    blocks uma referncia h existncia de magmatic stoping (Zk et al., 2006 in Guimares, 2012).

  • Captulo I: Introduo

    Amazonites de Valena Norte de Portugal 26

    I.6 - Potencial de gerao de pegmatitos por parte dos magmas

    parentais dos granitos ps-tectnicos favorabilidade

    geoqumica para a amazonitizao

    A grande diversidade de pegmatitos existentes em Portugal, especialmente na ZCI, deve-se

    instalao dos granitos sin e tardi a ps-tectnicos na orogenia Varisca, uma vez que, segundo

    Leal Gomes & Nunes (2003), so o resultado da especializao metalogentica dos granitos

    parentais, da fraccionao dos magmas desses mesmos granitos e das condies metamrficas

    e deformacionais dos ambientes de instalao dos respetivos diferenciados. Esta grande

    diversidade corresponde Cintura Pegmattica Centro-Ibrica (Guimares, 2012; Leal Gomes &

    Nunes, 2003).

    As peculiaridades evidenciadas pelos granitos ps-tectnicos, nomeadamente a sub-

    alcalinidade e a peraluminosidade, e o facto de estes serem granitos ps-colisionais, indiciam

    que estes resultaram da fuso parcial de materiais infracrustais ou originrios do manto

    superior, com posterior hibridizao do magma resultante (magma mantlico). A presena de

    encraves microgranulares de natureza tonaltica e granodiortica, que propem uma fonte

    mantlica ou basicrustal, fundamenta este pressuposto de origem mista crusta-manto. De notar

    que, os encraves microgranulares mficos esto, normalmente, relacionados com os granitides

    sub-alcalinos, e so admitidos como o resultado de complexos mecanismos de hibridizao que

    ocorrem entre magmas flsicos e mficos simultneos (Martins, 1998; Mendes, 2001). Deste

    modo, associam-se ao modelo concetual mixing-mingling.

    Igualmente associado a este modelo, e como j mencionado, encontra-se a troca de

    constituintes higromagmfilos do magma mais bsico para o magma mais cido (Zorpi et al.

    1989, in Guimares, 2012), tornando este mais enriquecido em volteis, e aumentando a sua

    eficcia para formar pegmatitos (Leal Gomes & Nunes, 2003). O magma cido possui maior

    viscosidade e menor temperatura liquidus e solidus quando comparado com o magma bsico.

    Devido a estas diferenas, aquando a ascenso, formaram-se bolhas de fases fluidas, que ao

    soltarem-se, desenvolveram-se, e deram origem a cavidades abertas, denominadas de cavidades

    miarolticas (Peretyazhko, 2009, citado em Peretyazhko, 2010, in Guimares, 2012). Assim, os

    pegmatitos gerados por magmas cidos, geralmente, possuem estas cavidades e so

  • Captulo I: Introduo

    Amazonites de Valena Norte de Portugal 27

    denominados por pegmatitos miarolticos. Os pegmatitos em estudo, no so exceo, e ao

    longo deles so visveis vrias cavidades miarolticas.

    De acordo com ern (1991) os pegmatitos miarolticos pertencem filiao NYF (tabela 7).

    O aparecimento de alanite e esfena, como minerais acessrios do granito parental sub-alcalino e

    portadores de elementos terras raras, sustentam este facto. A presena de elementos menores

    tpicos de cada filiao propcia, parcialmente, a ocorrncia de minerais que, no sendo

    tipomrficos dessa classificao, so mais favorveis.

    Tabela 7: Classificao pegmatitos miarolticos NYF. Adaptada de ern (1991)

    I.7 - Anlise geomtrica e cartografia dos campos de pegmatitos

    amazonticos

    A cinemtica de implantao de corpos pegmatticos intra-granticos ajusta-se a uma

    mobilizao magmtica do tipo ballooning e as geometrias resultantes desta instalao so

    bolsadas irregulares a isodiamtricas (Leal Gomes e Nunes, 2003). De acordo com os mesmos

    autores, estas bolsadas foram determinadas com base na observao e anlise geomtrica de

    frentes de desmonte de quartzo e feldspato, sendo o tamanho final das bolsadas dependente do

    ritmo dimensional das unidades de estruturao litolgica das cpulas granticas. A sua

    distribuio est relacionada com a proximidade ou incluso em corredores de mistura

    magmtica (mixing/mingling). Leal Gomes (1995) afirma que as bolsadas so o produto da

    cristalizao in situ de diferenciados granticos residuais com magma e fluido, mais ou menos

    Classe Famlia

    Elementos menores

    tpicos e

    mineralizao

    Ambiente

    Metamrfico

    Relao

    com os

    granitos

    Caractersticas

    Estruturais Exemplos

    Miarolticos NYF

    Be, Y, REE, Ti, U,

    Th, Zr, Nb>Ta, F;

    mineralizao

    pobre; gemstock

    Superficial a

    sub-vulcnico;

    ~1-2kb

    Intra

    Bolsas/vesculas

    interiores e diques

    transversais

    Pikes Peak (Colorado);

    Idaho (NW USA);

    Korosten pluton

    (Ucrnia)

  • Captulo I: Introduo

    Amazonites de Valena Norte de Portugal 28

    imiscibilizados, mas com propriedades fsicas prximas das que prevalecem no granito

    hospedeiro. Os pegmatitos em estudo apresentam este tipo de geometria - figura 9.

    Segundo Guimares & Leal Gomes (2010) e Guimares (2012) possvel deduzir a altura de

    instalao de bolsadas na cmara magmtica atravs da anlise cinemtica da formao e

    evoluo dos dispositivos morfolgicos, pois esta decorre das diferenas existentes entre a

    viscosidade e densidade do magma grantico hospedeiro e dos compsitos (magma + fluido +

    cristais) pegmatticos. Ainda, de acordo com os mesmos autores, os dispositivos funcionais

    podem propor uma posio definida de implantao na coluna magmtica, desde que sejam

    repetveis e reprodutveis.

    Na figura 10 apresentam-se exemplos desses dispositivos e algumas interpretaes acerca

    da ascenso magmtica que eles sugerem, e indiretamente, a sua utilidade funcional para a

    definio de nveis de implantao nas cpulas granticas.

    As etapas 1, 2, 3 e 4 so iniciais na evoluo cinemtica (ascenso) e a elas atribuem-se as

    formas de bolsadas menos evoludas e que representam morfologias de ascenso nas cpulas

    plutnicas hospedeiras. Nestes estdios iniciais a mobilidade dos diferenciados pegmatticos

    menor em consequncia de uma maior viscosidade e taxa de cristalizao da massa grantica

    envolvente e do espao dilatacional disponvel, que desempenham um efeito de barragem

    ascenso destes diferenciados (Leal Gomes & Nunes, 2003). Deste modo, os diferenciados, na

    sua ascenso, ao contornarem a barreira da cpula grantica do origem a formas como as

    Figura 9: Bolsadas irregulares a isodiamtricas observadas no campo

    pegmattico em estudo, sector de Felgueiras

  • Captulo I: Introduo

    Amazonites de Valena Norte de Portugal 29

    apresentadas na figura 10 (nmeros 4 e 5) que ao nvel paragentico correspondem s formas

    mais evoludas. Isto permite supor que os seus diferenciados originais seriam bastante ricos em

    fluidos que poderiam estar imiscibilizados (Guimares, 2012).

    No incio da ascenso pegmattica (etapa 1 da figura 10), o fluido pegmattico ao romper a

    massa grantica encaixante, gerou dispositivos de partida ascensional pegmattica, que

    originaram bolsadas pegmatticas embrionrias, do ponto de vista morfolgico. A forma destes

    dispositivos depende da taxa de cristalizao do granito encaixante e parental e, ou

    hemisfrica, ou piramidal (Guimares, 2012).

    Na rea em estudo, mais concretamente em manchas granticas do Gnaisse de Gndara, a

    forma identificada piramidal, sendo distinguida nas protuberncias piramidais, as quais

    correspondem a conjuntos de junes triplas estabelecidas por prismao incipiente, em regime

    dctil-frgil. Estas protuberncias encontram-se acima de uma faixa apltica horizontal,

    consequente dos processos de delaminao e magmatic stopping e organizada em painis de

    nucleao acoplada. Estes painis so representados como fluidalidades planares sub-

    horizontais, assinaladas pelos feldspatos e biotites ilustradas em Guimares (2012), tal com na

    figura 11.

    Figura 10: Dispositivos morfolgicos de evoluo resultantes da cinemtica de implantao.

    Adaptado de Leal Gomes & Lopes Nunes (2003).

  • Captulo I: Introduo

    Amazonites de Valena Norte de Portugal 30

    2 etapa de ascenso pegmattica (Figura 10) corresponde o dispositivo bolha pegmattica

    ou pegmatito esfrico. Esta forma-se devido diferena de viscosidade entre o magma grantico

    e o magma pegmattico, desprendendo-se e ascendendo, em forma quase esfrica, por entre a

    poro perifrica do batlito (Guimares, 2012).

    A ttulo de exemplo, na rea em estudo, concretamente no setor de Felgueiras, observou-se o

    dispositivo ilustrado na figura 12 que corresponde a um pegmatito esfrico com um pequeno

    grau de evoluo. Neste a amazonite surge na parte interna da bolha e esta, como se ver no

    prximo captulo, forma-se num processo tardio.

    Na figura 13 apresenta-se uma cartografia referente rea em estudo o Campo Pegmattico

    de Alto dos Teares Taio Felgueiras. Destacam-se as manchas granticas referentes ao

    Figura 11: Protuberncias piramidais ascendentes no seio de um granito porfiroide essencialmente

    biottico, ps-tectnico Granito de Mono observadas no Campo Pegmattico de Alto dos Teares -

    Taio-Felgueiras. Retirada de Guimares (2012).

    Figura 12: Bolha pegmattica observada no Campo

    Pegmattico, setor de Felgueiras

    1cm

  • Captulo I: Introduo

    Amazonites de Valena Norte de Portugal 31

    granito de Felgueiras e ao gnaisse de Taio, os pegmatitos hiperaluminosos nas proximidades do

    gnaisse de Taio e as ocorrncias de pegmatitos amazonticos, tanto na mancha grantica de

    Felgueiras, como na mancha grantica de Altos dos Teares-Taio.

    Figura 13: Cartografia do Campo Pegmattico de Alto dos Teares Taio Felgueiras

  • Captulo I: Introduo

    Amazonites de Valena Norte de Portugal 32

    I.8 - Amostragem de feldspatos amazonticos

    A colheita dos feldspatos amazonticos foi realizada em trs conjuntos de pegmatitos: Alto

    dos Teares, Taio e Felgueiras (Figura 14), sendo este ltimo uma descoberta recente no que diz

    respeito ao aparecimento de amazonite. A amostragem foi efetuada tendo em conta as variaes

    cromticas, estruturais e paragenticas que se observam na fase potssica do feldspato.

    O nmero de amostras recolhidas em cada pegmatito no foi o mesmo, tendo-se recolhido

    maior quantidade nos pegmatitos de Felgueiras (Figura 14), uma vez que, como uma nova

    descoberta, no h dados existentes para uma possvel comparao. Neste local surgiram,

    igualmente, amazonites de cor verde muito mais intensa do que tinha sido observado at ento.

    Nos pegmatitos de Alto dos Teares (Figura 14) as amostras foram recolhidas:

    1) nos granitos biotticos de gro grosseiro e de gro fino,

    2) no aplito pegmatito amazontico e enrubescido,

    3) no pegmatito-grfico,

    4) nas cavidades miarolticas e

    5) ao longo de pequenas bolsadas.

    Relativamente aos pegmatitos de Taio (Figura 14), as amostras foram colhidas:

    1) no granito de duas micas, peraluminoso com silimanite (migmatito),

    2) no filo com amazonite pertencente a um migmatito mais escuro,

    3) no migmatito com porfiroblasto com restitos micceos e

    4) na zona de bordadura de arrefecimento rpido que corresponde a uma fcies

    aplitca do tipo chillen margin miaroltica.

    5) aplito pegmatito amazontico.

    Nos pegmatitos de Felgueiras (Figura 14), a amostragem foi realizada ao longo de uma vala

    onde se demarcaram zonas chave para a colheita de feldspatos, nomeadamente:

    1) na zona de transio gradual entre o granito biottico, de gro grosseiro a

    mdio e o conglomerado de vertente subalcalino, onde so visveis files de

    quartzo com microclina rsea (enrubescida),

    2) no pegmatito miaroltico de pequenas dimenses com quartzo, amazonite e

    microclina rsea de direo (N142/78E),

    3) na falha com vrias ruturas venulares,

  • Captulo I: Introduo

    Amazonites de Valena Norte de Portugal 33

    4) no contacto entre o aplito pegmatito grfico e o granito biottico, de gro

    grosseiro a mdio,

    5) na falha de orientao N57/90,

    6) no contacto gradual entre granito biottico, de gro grosseiro a mdio e o

    granito de duas micas, peraluminoso,

    7) no filo subhorizontal amazontico,

    8) no pegmatito miaroltico subhorizontal,

    9) no filo de quartzo fumado com amazonite incrustada no quartzo que

    preenche o ncleo,

    10) no pegmatito diferenciado in situ em granito de transio com feldspato

    potssico no amazontico,

    11) no pegmatito micceo no amazontico com abundante silimanite em zonas

    distensivas de cisalhamento no migmatito, onde a diferenciao ocorre em

    pinch and swell com pertites e

    12) no pegmatito com amazonite grfica e biotite.

    Uma amostra de migmatito foi ainda colhida no migmatito de Pites das Jnias

    Montalegre uma vez que a ocorrncia similar s do campo pegmattico em estudo. A rocha

    parental desta ocorrncia pertence ao Granito do Gers, e como supracitado, tm idades de

    instalao concomitantes com o Granito de Mono, sendo a filiao a mesma.

    Figura 14: Amostragem dos pegmatitos em estudo, nos trs setores discriminados

  • Captulo I: Introduo

    Amazonites de Valena Norte de Portugal 34

    I.9 - Mtodos de anlise: qumica e difractomtrica

    Os protocolos analticos utilizados no estudo das amostras recolhidas enumeram-se de

    seguida:

    Separao macroscpica e separao de fases minerais em Lupa Binocular para a

    separao dos minerais em amostra de mo recorreu-se Lupa Binocular Leica Zoom 2000

    Z45V, do Departamento Cincias da Terra (Uminho).

    Difractometria de Raiox X (DRX) os difractogramas de RX permitiram a identificao de

    minerais desconhecidos. Para ser possvel essa identificao, utilizou-se a anlise sobre ps, em

    suporte de alumnio, no difractmetro PHILIPS-PW1710, com ampola de Cu e monocromador de

    grafite, sob radiao K de 40kV e 30mA, do Departamento Cincias da Terra (Uminho). O

    tempo de obteno de dados variou consoante a quantidade e a natureza da amostra.

    Microscpio tico de Luz Transmitida (MOLT) a anlise em MOLT incidiu,

    essencialmente, no estudo da diversidade petrogrfica perttica. O equipamento utilizado foi o

    microscpio petrogrfico Nikon Model Eclipse E400 POL, do Departamento Cincias da Terra

    (Uminho).

    Microscpio tico de Luz Refletida (MOLR) a anlise em MOLR permitiu uma

    preparao para a anlise em MEV e MSE, uma vez que, primeiramente pode-se fazer uma

    caracterizao mineralgica e, posteriormente ver se o polimento das superfcies era o adequado

    para anlises futuras. O equipamento utilizado foi o microscpio petrogrfico Nikon Model

    Eclipse E400 POL, do Departamento Cincias da Terra (Uminho).

    Microscpio eletrnico de varrimento - (MEV) as anlises em microscopia eletrnica

    foram realizadas com o equipamento Jeol JSM 6010LV Scanning Electron Microscope, na

    sede de anlise do Grupo de Investigao 3B's - Biomateriais, Biodegradveis e Biomimticos,

    em Taipas Guimares. As anlises foram efetuadas em contraste de fase em eletres

    secundrios (MEV-ES) e as imagens de contraste foram obtidas em eletres retrodifundidos

    (MEV-ER).

  • Captulo I: Introduo

    Amazonites de Valena Norte de Portugal 35

    Microssonda eletrnica (MSE) as anlises qumicas pontuais foram realizadas com o

    equipamento Hyperprobe JEOL JXA-8500F no LNEG, em S. Mamede Infesta Porto. Esta sonda

    est equipada com 5 espectrmetros por disperso de comprimento de onda (WDS), 1

    espectrmetro por disperso de energia (EDS) e detetores de eletres secundrios (SE) e

    retrodifundidos (EBS). As superfcies polidas foram revestidas a carbono.

  • Captulo III: Estado estrutural e mineroqumica das amazonites

  • Captulo III: Estado estrutural e mineroqumica das amazonites

    Captulo II:

    ESTRUTURA E PARAGNESE DE PEGMATITOS AMAZONTICOS

    E ROCHAS ENCAIXANTES

    Um dos segredos da vida fazer degraus com as pedras em que tropeamos.

    Jack Penn

  • Captulo III: Estado estrutural e mineroqumica das amazonites

  • Captulo II: Estrutura e paragnese de pegmatitos amazonticos e rochas encaixantes

    Amazonites de Valena Norte de Portugal 39

    Segundo Brisbin (1986), os corpos pegmatticos so caracterizados tendo em conta o

    tamanho, forma, ori