juliana miyuki do prado aplicação da auriculoterapia verdadeira e

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  • JULIANA MIYUKI DO PRADO

    APLICAO DA AURICULOTERAPIA VERDADEIRA

    E SHAM NO TRATAMENTO DE ESTRESSE

    EM ENFERMEIROS

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Enfermagem na Sade do Adulto da Escola de Enfermagem da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Mestra em Cincias rea de concentrao: Enfermagem na Sade do Adulto Orientadora: Prof Dr Maria Julia Paes da Silva

    SO PAULO

    2014

  • AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL

    DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU

    ELETRNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE

    CITADA A FONTE.

    Assinatura: _________________________________

    Data:___/____/___

    Catalogao na Publicao (CIP)

    Biblioteca Wanda de Aguiar Horta

    Escola de Enfermagem da Universidade de So Paulo

    Prado, Juliana Miyuki do

    Aplicao da auriculoterapia verdadeira e sham no tratamento de

    estresse em enfermeiros. -- So Paulo, 2014.

    98 p.

    Dissertao (Mestrado) Escola de Enfermagem da Universidade

    de So Paulo.

    Orientadora: Profa. Dra. Maria Jlia Paes da Silva

    rea de concentrao: Enfermagem na Sade do Adulto

    1. Terapias complementares. 2. Acupuntura. 3. Estresse reduo.

    4. Estresse profissional. 5. Enfermagem. I. Ttulo.

  • Nome: Juliana Miyuki do Prado

    Ttulo: Aplicao da Auriculoterapia Verdadeira e Sham para

    tratamento de estresse em enfermeiros.

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em

    Enfermagem na Sade do Adulto da Escola de Enfermagem da

    Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Mestra em

    Cincias.

    Aprovado em: ____/____/______

    Banca Examinadora

    Prof. Dr. __________________________ Instituio: ____________

    Julgamento: ______________________ Assinatura: ____________

    Prof. Dr. __________________________ Instituio: ____________

    Julgamento: ______________________ Assinatura: ____________

    Prof. Dr. __________________________ Instituio: ____________

    Julgamento: ______________________ Assinatura: ____________

  • DEDICATRIA

    minha me, por estar sempre presente em minha vida, pelo

    incentivo, por ser o exemplo de fora e dedicao. Minha gratido

    eterna por continuar cuidando de nossa famlia com tanto zelo e

    amor.

    s minhas sobrinhas, Clarinha e Gabi, que desde o incio me

    ensinaram o amor incondicional e o quanto maravilhoso ser tia e

    madrinha. minha irm Camila e ao meu cunhado Fernando pelo

    carinho e pela confiana depositada.

  • AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

    minha querida orientadora Prof Dr Maria Julia Paes da Silva pela

    oportunidade de crescimento profissional e pessoal e de

    aprendizado como pesquisadora. Obrigada pela pacincia e

    incentivo. Obrigada por despertar ainda mais meu interesse em

    prticas integrativas desde a graduao.

    minha professora de acupuntura Dr Leonice Fumiko Sato

    Kurebayashi pelos ensinamentos sobre acupuntura e demais

    prticas integrativas. Muito obrigada por despertar em mim o

    interesse em outras formas de cuidar. Obrigada pela orientao,

    acolhimento, ajuda e fora. Serei eternamente grata por tudo.

    querida professora Dr Ana Lucia Siqueira Costa e querida Dr

    Lia Fortes Salles pela participao no Exame de Qualificao e

    pelas valiosas contribuies que possibilitaram a realizao desse

    estudo.

    Ao Ricky, companheiro de vida, por todos esses anos de

    convivncia e amizade. Por me ajudar no apenas durante todo o

    perodo desse estudo, mas durante todos esses anos de parceria.

    Por estar presente sempre quando eu precisei. Obrigada pela

    pacincia, pelo carinho, pelo respeito e por todos os momentos que

    passamos juntos.

  • AGRADECIMENTOS

    A todos meus amigos, pela torcida, carinho e presena em todos os

    momentos da minha vida. Obrigada por caminharem ao meu lado ao

    longo de todos esses anos.

    Aos queridos amigos: Ray, Katia e Yuka pela amizade, incentivo,

    fora durante toda essa trajetria. E por tornarem os momentos mais

    leves e divertidos com suas presenas.

    s amigas da faculdade, gatas garotas, obrigada pela torcida e por

    continuar somando boas histrias de convivncia desde o primeiro

    ano de graduao.

    s colegas da Escola de Enfermagem So Joaquim pelo apoio e

    convivncia. Em especial diretora Cleide Maria Ferreira da Silva

    Zorze, pela compreenso e por possibilitar meu desenvolvimento

    como docente em Enfermagem. amiga Gilmara pelas conversas e

    cafezinhos extremamente necessrios para aguentar a jornada

    triplicada durante todo esse perodo.

    enfermeira Denise Alves Saltini por autorizar e possibilitar a

    realizao da pesquisa com os enfermeiros do Hospital Beneficncia

    Portuguesa de So Paulo.

    s colegas da Educao Continuada do Hospital Beneficncia

    Portuguesa de So Paulo (Unidade So Joaquim), pelo acolhimento,

    incentivo, carinho e parceria nessa nova jornada de trabalho e fora

    nessa etapa final.

    A todos os enfermeiros do Hospital Beneficncia Portuguesa de So

    Paulo (Unidade So Joaquim) que participaram e viabilizaram a

    realizao do estudo. Muito obrigada pela contribuio e pacincia!

  • EPGRAFE

    Todo conhecimento comea com o sonho. O conhecimento nada

    mais que a aventura pelo mar desconhecido, em busca da terra

    sonhada. Mas sonhar coisa que no se ensina. Brota das

    profundezas do corpo, como gua brota das profundezas da terra.

    Como mestre s posso ento lhe dizer uma coisa: Conte-me os

    seus sonhos, para que sonhemos juntos!

    (Rubem Alves, 2012)

  • Prado JM. Aplicao da Auriculoterapia Verdadeira e Sham para

    tratamento de estresse em enfermeiros [dissertao]. So Paulo:

    Escola de Enfermagem, Universidade de So Paulo; 2014.

    RESUMO

    Introduo: O estresse ocupacional na rea da Enfermagem est

    relacionado a fatores multidimensionais, como condies de

    trabalho, relacionamento interpessoal, gerenciamento do trabalho e

    vida pessoal, entre outros. O estresse excessivo afeta o

    desempenho e produtividade no trabalho e provoca disfunes e

    doenas. A auriculoterapia tem se mostrado como uma das prticas

    integrativas eficazes para o tratamento do estresse, alm de

    apresentar custo financeiro reduzido e no necessitar de tempo

    prolongado para sua realizao; portanto, pode ser uma tcnica

    indicada para realizao dentro do ambiente dinmico como o

    ambiente hospitalar. Objetivos: Comparar a eficcia teraputica da

    auriculoterapia verdadeira e sham no tratamento de estresse

    identificado nos enfermeiros do Hospital Beneficncia Portuguesa de

    So Paulo Mtodo: Responderam a ficha de dados scio-

    demogrficos e foram avaliados quanto ao nvel de estresse pela

    Lista de Sintomas de Stress (LSS) e pela Escala Visual Analgica

    257 enfermeiros de diferentes turnos de trabalho e setores. 168

    apresentaram nveis mdio e alto de estresse e foram randomizados

    em trs grupos: Controle, Placebo e Auriculoterapia. 133 finalizaram

    o estudo. Os grupos Placebo e Auriculoterapia receberam 12

    sesses de auriculoterapia, 2 vezes por semana. Os pontos

    utilizados para o Grupo Placebo foram Ouvido Externo e rea da

    Bochecha. Para o Grupo Auriculoterapia foram escolhidos os pontos

    Shen Men e Tronco Cerebral. A LSS foi aplicada no incio, aps 8

    sesses, aps 12 sesses e no follow-up de 15 dias, inclusive para o

    Grupo Controle. A coleta foi realizada no perodo de outubro de 2013

    a fevereiro de 2014, aps aprovao pelos Comits de tica em

    Pesquisa da EEUSP e do Hospital. Resultados: O nvel de estresse

    prevalente em todos os turnos de trabalho foi o nvel alto, com

  • 43,58% dos participantes. Os enfermeiros com cargos

    administrativos apresentaram mdia de 59,43 de nvel de estresse,

    enquanto os assistenciais 54,59. Quanto evoluo dos nveis de

    estresse, no houve diferena entre os momentos de avaliao no

    Grupo Controle. O Grupo Auriculoterapia apresentou diferena entre

    a primeira avaliao e as demais (p

  • Prado JM. Application of true and sham auriculotherapy for nurses

    stress treatment. [dissertation]. So Paulo: School of Nursing, So

    Paulo University; 2014.

    ABSTRACT

    Introduction: Occupational stress in Nursing is related to

    multidimensional factors, like work conditions, interpersonal

    relationship, work management and personal life. Excessive stress

    affects work productivity and performance and provokes dysfunctions

    and diseases. Auriculotherapy has been shown like one of effective

    integrative practices for stress treatment, beyond to present reduced

    financial cost and not to need a long time to be applicated. Therefore

    it can be a suggested practice to be achieved in a dynamic

    environment like a hospital. Obectives: To compare the therapeutic

    efficacy of true and sham auriculotherapy in the treatment of

    identified stress in nurses of Beneficncia Portuguesa Hospital of

    So Paulo. Method: 257 nurses of different shifts and departments

    answered the social data demographic form and were evaluated in

    the stress level by List of Stress Symptoms (LSS) and Analogic

    Visual Scale. 168 nurses reported high and middle stress levels and

    were randomized in 3 groups: Control, Placebo and Auriculotherapy.

    133 ended the study. The groups Placebo and Auriculotherapy

    received 12 sessions of auriculotherapy, twice a week. The points

    used for Placebo group were External Ear and Cheek area. For

    Auriculotherapy group were chosen the points Shen Men and

    Brainstem. LSS was applied in the beginning, after 8 sessions, after

    12 sessions and in 15 day follow up, including for Control group. The

    data collection was done from October 2013 to February 2014, after

    approval by the Ethic Committees in Research of EEUSP and of

    Beneficncia Portuguesa Hospital. Results: The level of stress

    prevalent in all the work shifts was high level with 43,58% of the

    participants. The nurses with administrative positions presented

    average of 59,43 of stress level, while assistencial position 54,59.

    About the evolution of stress level, there wasnt any difference

  • among the moments of evaluation in the Control group.

    Auriculotherapy group performed difference among the first

    evaluation and the following ones (p

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Ilustrao esquemtica das respostas

    fisiolgicas do estresse. So Paulo, 2014........

    Figura 2 Ilustrao do pavilho auricular e imagem fetal.

    So Paulo, 2014...............................................

    Figura 3 reas no pavilho auricular segundo origem

    embriolgica. So Paulo, 2014.........................

    Figura 4 Principais inervaes do pavilho auricular.

    So Paulo, 2014...............................................

    Figura 5 Fluxograma de participao dos enfermeiros.

    So Paulo, 2014...............................................

    Figura 6 reas inervadas e pontos da pesquisa. So

    Paulo, 2014.......................................................

    29

    35

    35

    36

    44

    49

  • LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 Distribuio dos participantes segundo sexo.

    So Paulo, 2014..................................................................

    Grfico 2 Distribuio dos participantes segundo estado

    civil. So Paulo, 2014..........................................................

    Grfico 3 Distribuio dos participantes segundo ps-

    graduao. So Paulo, 2014...............................................

    Grfico 4 Evoluo do escore de estresse entre os

    grupos ao longo das avaliaes. So Paulo, 2014..............

    52

    52

    53

    61

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Mdia e Desvio Padro das variveis: Idade,

    Tempo de formado (anos), Tempo de trabalho no setor

    (anos). So Paulo, 2014......................................................

    Tabela 2 Mdia e Desvio Padro da pontuao de LSS

    dos tipos de cargos. So Paulo, 2014.................................

    Tabela 3 Frequncia e percentual dos participantes

    segundo nveis de estresse. So Paulo, 2014.....................

    Tabela 4 Frequncia e percentual de participantes

    segundo nveis de estresse pela Escala Visual Analgica

    (EVA). So Paulo, 2014.......................................................

    Tabela 5 Distribuio dos participantes nos turnos de

    trabalho segundo os nveis de estresse. So Paulo, 2014..

    Tabela 6 Frequncia dos participantes, mdia e desvio

    padro da pontuao de estresse segundo tipos de

    setores. So Paulo, 2014.....................................................

    Tabela 7 Distribuio dos participantes que trabalham

    ou no em outra instituio, segundo carga horria

    semanal. So Paulo, 2014...................................................

    Tabela 8 Mdia e desvio padro dos escores da LSS

    dos grupos experimentais em cada avaliao. So Paulo,

    2014.....................................................................................

    53

    54

    55

    55

    56

    57

    58

    60

  • SUMRIO

    1 INTRODUO .............................................................................. 17

    2 OBJETIVO .................................................................................... 23

    2.1 OBJETIVO GERAL ................................................................. 24

    2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS .................................................. 24

    3 REFERENCIAIS TERICOS ........................................................ 25

    3.1 ESTRESSE ............................................................................ 26

    3.1.2 Estresse Ocupacional ....................................................... 30

    3.1.3 Estresse e Enfermagem ................................................... 31

    3.2 AURICULOTERAPIA .............................................................. 34

    4 HIPTESE .................................................................................... 39

    4.0 HIPTESE NULA (H0) ............................................................ 40

    4.1 HIPTESE ALTERNATIVA (H1) ............................................. 40

    5 MTODO ...................................................................................... 41

    5.1 LOCAL DE ESTUDO .............................................................. 42

    5.2 AMOSTRA .............................................................................. 42

    5.3 ASPECTOS TICOS .............................................................. 45

    5.4 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS .......................... 45

    5.5 COLETA DE DADOS .............................................................. 46

    5.6 ANLISE ESTATSTICA ........................................................ 50

    6 RESULTADOS .............................................................................. 51

    6.1 DESCRITIVA DOS DADOS SCIO-DEMOGRFICOS ......... 52

    6.2 ANLISE INTERGRUPOS E EVOLUO DOS

    NVEIS DE ESTRESSE SEGUNDO A LSS E EVA ...................... 59

    6.3 TESTE DE CORRELAO ENTRE LSS E EVA .................... 61

    6.4 REGRESSO LINEAR ENTRE OS NVEIS DE

    ESTRESSE E CARGO, SETOR E TURNO DE

    TRABALHO .................................................................................. 62

    7 DISCUSSO ................................................................................. 63

    7.1 LIMITAES DO ESTUDO .................................................... 70

    8 CONCLUSO ............................................................................... 73

    9 REFERNCIAS ............................................................................ 75

  • 10 APNDICE .................................................................................. 83

    APNDICE A ................................................................................... 84

    APNDICE B ................................................................................... 86

    APNDICE C ................................................................................... 87

    11 ANEXO ....................................................................................... 89

    ANEXO 1 ......................................................................................... 90

    ANEXO 2 ......................................................................................... 94

    ANEXO 3 ......................................................................................... 96

  • 17

    1 INTRODUO

  • 18

    Estresse um tema muito discutido na atualidade,

    popularmente e cientificamente, por meio de estudos realizados por

    diferentes profissionais. Est presente no mbito pessoal e

    profissional. H um consenso de que a Enfermagem uma profisso

    estressante. O enfermeiro um profissional que presta assistncia

    ao paciente e famlia, convivendo com situaes conflitantes, como

    sofrimento e morte, nascimento e recuperao, principalmente

    dentro do ambiente hospitalar (Bianchi, 2009).

    O estresse influencia no bem-estar biopsicossocial do

    indivduo e, alm de ter consequncias negativas no desempenho

    profissional, pode afetar a instituio e o processo de trabalho, por

    meio do absentesmo, alta rotatividade de profissionais e baixa

    qualidade da assistncia (Guido et al., 2011).

    O controle de fatores estressores depende da forma como

    cada um aprende a lidar com os desafios e dificuldades que o

    cercam, pois o estresse uma reao biolgica natural de

    enfrentamento de situaes. S se torna patolgico quando h um

    rompimento do equilbrio do organismo, fazendo com que alguns

    rgos trabalhem mais e outros menos para poder lidar com o

    problema (Lipp, 1996).

    O conjunto de estratgias utilizadas pelo indivduo para se

    adaptar a situaes adversas denominado coping. Os principais

    estudiosos desse tema foram Folkman e Lazarus, que em uma

    perspectiva cognitivista, propem um modelo dividido em coping

    focalizado no problema e coping focalizado na emoo. Portanto,

    nessa perspectiva, coping definido como um conjunto de esforos,

    cognitivos e comportamentais, que os indivduos utilizam para lidar

    com demandas internas ou externas originadas de situaes de

    estresse e avaliadas como prejudiciais (Antoniazzi, DellAglio,

    Bandeira, 1998).

    Apesar do interesse pelo estudo sobre estresse relacionado

    profisso de Enfermagem ter comeado a partir da dcada de 90 no

    Brasil, pouco se discute sobre estratgias para minimizar o estresse

  • 19

    ocupacional entre enfermeiros. Acredita-se que as prticas

    complementares em sade podem ser utilizadas como estratgias

    de enfrentamento de situaes de estresse. Essas prticas tm se

    mostrado eficazes no controle e tratamento de doenas, alm de

    proporcionar melhor qualidade de vida (Giaponesi, Leo, 2009;

    Kurebayashi et al, 2012; Nakai, 2007; Prado, Kurebayashi, Silva,

    2012; Rocha, Silva, 2011).

    Segundo a Lei Municipal de So Paulo n 13.717 de 2004, as

    prticas integrativas e complementares so definidas como prticas

    que utilizem recursos naturais para promoo de sade e preveno

    de doenas (So Paulo, 2004). Entre essas prticas, encontram-se a

    acupuntura, fitoterapia, homeopatia, entre outras.

    A auriculoterapia, ou acupuntura auricular, faz parte de um

    conjunto de tcnicas teraputicas, baseada nos preceitos da

    Medicina Tradicional Chinesa (MTC). Acredita-se que tenha sido

    desenvolvida juntamente com a acupuntura sistmica que,

    atualmente, uma das prticas orientais mais populares em

    diversos pases e tem sido amplamente utilizada na assistncia

    sade, nos aspectos preventivos e curativos (Souza, 2001). A

    auriculoterapia uma prtica que apresenta importantes vantagens

    por sua simplicidade na aplicao. Primeiro, exige pouco

    equipamento e no necessita de grande espao fsico para sua

    realizao. uma tcnica rpida, o tempo gasto para sua aplicao

    no se estende mais do que 10 a 15 minutos, com custo mnimo.

    Pode ser vantajosa, portanto, se comprovada sua eficcia como

    estratgia de enfrentamento do estresse ocupacional em

    enfermeiros hospitalares.

    A partir da Portaria 971, as prticas integrativas e

    complementares foram aprovadas no Sistema nico de Sade

    (SUS), dentre as quais se destaca a acupuntura, realizvel por todos

    os profissionais de sade como especialistas (Brasil, 2006). O

    Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) reconheceu as terapias

    alternativas, entre elas a acupuntura, como especialidade e/ou

  • 20

    qualificao do profissional enfermeiro pela Resoluo COFEN

    n197/97 (Conselho Federal de Enfermagem, 1997), fixando a

    especialidade de Enfermagem pela Resoluo COFEN n290/2004

    (Conselho Federal de Enfermagem, 2004).

    Para comprovao da eficcia de uma determinada tcnica

    recomendada a utilizao de um grupo placebo-controle. Na

    acupuntura e auriculoterapia tem se estudado formas de placebo

    que no apresente tantos vieses (Lundeberg et al., 2009).

    Em 2010 foi realizado um ensaio clnico randomizado com

    estudantes de nvel mdio de uma escola tcnica de massoterapia e

    acupuntura, cuja proposta foi observar se a auriculoterapia

    verdadeira com os pontos Shen Men e Tronco Cerebral e a

    auriculoterapia sham com os pontos Punho e Ouvido Externo,

    apresentavam efeitos similares sobre os nveis de ansiedade e

    estresse. Os resultados obtidos no indicaram eficcia dos pontos

    de auriculoterapia verdadeira, com melhores resultados para os

    pontos sham (Rocha, Silva, 2011). Como os estudantes recebiam

    outros estmulos energticos durante o curso, como massagem,

    reflexologia, acupuntura sistmica, entre outros, foi realizado outro

    estudo, com o mesmo delineamento, em 2011, porm com

    estudantes de nvel mdio de Enfermagem que no apresentavam

    essa varivel.

    Neste novo ensaio clnico concluiu-se que a auriculoterapia

    verdadeira diminuiu os nveis de estresse e ansiedade em

    estudantes de Enfermagem. A auriculoterapia sham tambm

    apresentou melhora nos nveis de estresse e ansiedade, menor em

    termos percentuais, porm no estatisticamente significativa em

    comparao com a auriculoterapia verdadeira. Como limitaes

    deste estudo, foram considerados a amostragem pequena e a

    escolha inadequada dos pontos sham, pois foram encontradas

    referncias que o ponto Punho pode ser utilizado para o tratamento

    de distrbio do sono, ansiedade, abstinncia, dficit de concentrao

  • 21

    e euforia, justificando assim os resultados positivos obtidos neste

    estudo (Prado, Kurebayashi, Silva, 2012).

    Os estudos anteriores sobre a eficcia da tcnica no tm se

    mostrado conclusivos devido ao nmero inadequado de sujeitos e

    dificuldade no estabelecimento de protocolo para ser utilizado como

    placebo, portanto, necessria a replicao em populaes diversas

    com maior nmero de sujeitos.

    Diante dessas reflexes, o presente estudo tem como

    proposta comparar a eficcia da tcnica de auriculoterapia

    verdadeira e sham em situaes de estresse em enfermeiros.

    Algumas indagaes so levantadas, como: Quais pontos podem

    ser utilizados como pontos sham no tratamento do estresse? Quais

    os efeitos da auriculoterapia verdadeira e auriculoterapia com pontos

    sham para reduo de estresse em enfermeiros? A auriculoterapia

    pode ser utilizada como estratgia de enfrentamento em situaes

    de estresse no trabalho?

  • 22

  • 23

    2 OBJETIVO

  • 24

    2.1 OBJETIVO GERAL

    Comparar a eficcia teraputica da auriculoterapia verdadeira

    e sham no tratamento de estresse identificado nos enfermeiros do

    Hospital Beneficncia Portuguesa de So Paulo Unidade So

    Joaquim.

    2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS

    Identificar os nveis de estresse dos enfermeiros em

    diferentes cargos (administrativo ou assistencial) e em diferentes

    setores hospitalares;

    Analisar a aplicabilidade dos pontos Shen Men e Tronco

    Cerebral para diminuio de estresse, e ponto Ouvido Externo e

    regio da Face como pontos sham.

  • 25

    3 REFERENCIAIS TERICOS

  • 26

    3.1 ESTRESSE

    A relao do estresse com eventos emocionais e doenas

    comeou a ser explorada no sculo XIX. No incio do sculo XX, Sir

    William Osler, mdico ingls, relacionou os eventos estressantes

    com trabalho excessivo e a reao do organismo ao estresse com

    preocupao, a partir da observao de um grupo de mdicos com

    angina pectoris que apresentavam uma rotina de trabalho e

    preocupaes com o desempenho (Lipp, 2010).

    Hans Selye, enquanto estudante de medicina na Universidade

    de Praga, j apresentava interesse no estudo do estresse a partir de

    observaes de respostas no especficas semelhantes em pessoas

    que passavam por situaes angustiantes. Em 1926, denominou

    esse conjunto de reaes como Sndrome geral de adaptao ou

    Sndrome do estresse biolgico. Em 1936, j endocrinologista,

    Selye sugeriu o uso da palavra estresse para definir esta sndrome.

    Dessa forma, deu-se a primeira definio de estresse na rea da

    sade (Lipp, 2010).

    Por meio das pesquisas realizadas por Selye, o estresse foi

    definido como um conjunto de reaes fisiolgicas que o organismo

    desenvolve frente a uma situao de esforo, desencadeado por

    estmulo ameaador homeostase. O termo homeostase, sugerido

    em 1939 por Cannon, est relacionado ao esforo dos processos

    fisiolgicos para manter um estado de equilbrio corporal interno. As

    alteraes descobertas em suas pesquisas envolvem reduo do

    timo, dilatao do crtex das suprarrenais e surgimento de lceras

    gastrintestinais.

    O estresse, de acordo com Selye, consiste em trs fases

    sucessivas: Fase de alerta ou alarme, Fase de adaptao ou

    resistncia e Fase de Exausto (Costa, 2003).

    A Fase de alerta ocorre quando a pessoa percebe o agente

    estressor e se prepara para lutar ou fugir. Sob estmulo do sistema

    nervoso simptico h alteraes hormonais e adrenalina e

  • 27

    noradrenalina so secretadas pela glndula suprarrenal. Se a reao

    de alarme for bem sucedida, ocorre a cessao dos estmulos e o

    retorno homeostasia interna do organismo, quando o estressor tem

    uma curta durao. Os sintomas presentes so: cefaleia, aumento

    da presso arterial, mos e ps frios, taquicardia, hiperventilao,

    aumento da sudorese, alteraes gastrintestinais, tenso muscular,

    zumbido nos ouvidos, presso no peito, irritabilidade, pesadelos.

    J a Fase de resistncia consiste em um perodo de

    adaptao ao estresse. A pessoa tenta resistir fazendo uso de

    reservas de energia adaptativa em busca do reequilbrio aps a

    quebra da homeostase. caracterizada por uma srie de alteraes

    neuroendcrinas. Os sintomas mais frequentes so a sensao de

    desgaste fsico generalizado sem causa aparente, dificuldades com

    a memria, sensaes de medo e nervosismo, oscilao de apetite,

    queda de cabelo, isolamento social. Ocorrem alteraes nas

    suprarrenais e a medula diminui a produo de adrenalina, porm o

    crtex das suprarrenais produz mais corticides. Se o estressor se

    mantiver por mais tempo, a pessoa entrar na fase de exausto,

    tornando o organismo vulnervel a doenas e disfunes (Costa,

    1997; Lipp, 2000).

    Aps a definio biolgica de estresse por Selye, o conceito

    de estresse foi se modificando ao longo da histria. No conceito

    atual, o estresse definido como uma ameaa real ou interpretada

    integridade fsica e psicolgica de uma pessoa, que resulta em

    respostas biolgicas e comportamentais. Situaes consideradas

    novas, imprevisveis, ameaadoras ao ego e/ou incontrolveis

    contribuem para as respostas fisiolgicas do estresse. Estas so

    ativadas pelos sistema nervoso autnomo (SNA) e neuroendcrino

    para mobilizar energia necessria adaptao das demandas da

    situao, conforme ilustrado na Figura 1 a seguir (Juster et. al.,

    2011).

    Primeiramente, ameaas percebidas e interpretadas

    acionam o eixo simptico-adrenal-medular (SAM) para liberao de

  • 28

    catecolaminas, como por exemplo, adrenalina e noradrenalina

    (Juster et. al., 2011). O sistema simptico, por meio de sua ao

    direta sobre os rgos, faz com que a adrenalina secretada pela

    adrenal em maior quantidade, seja levada pela corrente sangunea a

    todos os tecidos do corpo, intensificando o metabolismo corporal e

    aumentando a excitabilidade e atividade do organismo em diversas

    situaes. Dentre os efeitos produzidos, encontram-se: aumento da

    sudorese, dilatao ou contrao das pupilas, aumento da secreo

    gstrica, da frequncia e fora de contrao cardaca, bronco

    dilatao, reduo ou aumento do peristaltismo, aumento da

    contrao da vasculatura perifrica (Costa, 1997).

    Aps alguns minutos, o eixo hipotlamo-pituitria-adrenal

    (HPA) ativado para produo de glicocorticides. O hipotlamo,

    uma vez estimulado, libera o fator liberador de corticotrofina (CRF).

    A liberao desse fator promove a secreo do hormnio

    adrenocorticotrfico (ACTH) pela pituitria anterior ou adeno-

    hipfise, levando liberao do cortisol pelas adrenais. Os picos de

    catecolaminas e glicocorticides alteram a homeostase, ativando

    funes fisiolgicas que permitem a reao de luta ou fuga. A

    funo do crebro durante a resposta do estresse detectar a

    ameaa e se adaptar (Juster et. al., 2011).

    O cortisol, principal glicocorticoide, tem importante efeito na

    gliconeognese pelo fgado, elevando a concentrao de glicose

    sangunea. Em situaes de estresse, secretado em nvel elevado

    para ajudar nas reaes orgnicas exigidas, mobilizando

    aminocidos e lquidos das reservas celulares como fonte de

    energia para os tecidos do organismo (Costa, 1997).

    Alm das atividades da pituitria e hipotlamo, h trs

    estruturas cerebrais importantes envolvidas na regulao da

    resposta de estresse: hipocampo, ligado memria e cognio,

    alm de atuar na retroalimentao (feedback) negativa da regulao

    do eixo HPA; a amgdala, responsvel pelo medo e emoes; e o

    crtex pr-frontal, envolvido na cognio e estratgias de

  • 29

    enfrentamento, exercendo controle sobre as estruturas subcorticais.

    Em conjunto com o SNA, adaptaes do organismo durante a

    resposta de estresse, em curto prazo, so processos biolgicos

    dinmicos que asseguram sobrevivncia (Juster et. al., 2011).

    Figura 1 Ilustrao esquemtica das respostas fisiolgicas do

    estresse. So Paulo, 2014.

    Fonte: Adaptado de Costa, ALS. Anlise do stress nas situaes de vida diria e do pr-operatrio imediato de pacientes cirrgicos urolgicos. [Dissertao]. So Paulo(SP): Escola de Enfermagem, Universidade de So Paulo; 1997.

  • 30

    O estresse excessivo provoca cansao mental, dificuldade

    de concentrao, perda de memria, apatia e indiferena emocional.

    Afeta a produtividade e a criatividade. A percepo do desempenho

    insatisfatrio cria dvidas sobre si, o que gera crises de ansiedade e

    humor depressivo. A qualidade de vida afetada e frequentemente

    as pessoas com estresse excessivo sentem vontade de abandonar

    tudo (Lipp, 2010).

    Quando o estresse se torna crnico, somam-se outros

    sintomas tais como aumento da glndula suprarrenal, que pode

    levar ao infarto, diminuio do timo e gnglios linfticos,

    ocasionando depresso do sistema imune (Cardoso, 2001).

    3.1.2 Estresse Ocupacional

    Os maiores estressores so relacionados famlia e ao

    trabalho, que se configuram como ambientes permanentes

    geradores de situaes de estresse crnico. O estresse ocupacional

    frequente quando h muitas responsabilidades, mas poucas

    possibilidades de tomada de deciso e de controle. Estressores

    ocupacionais esto frequentemente relacionados organizao do

    trabalho, como carga de trabalho excessiva, insalubridade, falta de

    treinamento e orientao, relacionamento interpessoal entre lderes

    e subordinados, falta de controle sobre a tarefa e ciclos trabalho-

    descanso incoerentes com os limites biolgicos (Camelo, Angerami,

    2008). Alm de fatores como condies e natureza do trabalho,

    estrutura e clima organizacional e desenvolvimento da carreira

    profissional (Engel, 2004).

    Alm dos riscos fsicos, qumicos e biolgicos existentes no

    ambiente ocupacional, h os riscos psicossociais, oriundos da

    relao do trabalho com seu ambiente, com as condies de sua

    organizao, satisfao no trabalho, e tambm da interao entre as

    capacidades do profissional, suas necessidades, cultura e sua vida

    pessoal. Esses riscos podem influenciar na sade e rendimento do

  • 31

    profissional (Camelo, Angerami, 2008). Estressores de longa

    durao trazem consequncias mais intensas aos profissionais.

    Fatores de estresse no trabalho podem desencadear a

    Sndrome de Burnout, que uma reao de estresse crnico, que

    causa no indivduo indisposio, mal-estar em decorrncia do

    trabalho. Acomete, principalmente, profissionais em contato direto

    com pessoas e expostos a sobrecarga de trabalho. um fenmeno

    psicossocial que abrange trs dimenses que justificam a

    insatisfao pessoal com o desempenho no trabalho: exausto

    emocional (esgotamento), despersonalizao (com relao aos

    clientes) e baixa realizao profissional (auto-avaliao negativa)

    (Borges, Carlotto, 2004).

    3.1.3 Estresse e Enfermagem

    O estudo do estresse entre enfermeiros comeou na dcada

    de 60, porm, no Brasil, somente na dcada de 90 que comearam

    as publicaes na rea, devido sua relevncia no cenrio da

    profisso (Bianchi, 2000; Elias, Navarro 2006; Ferreira, Martino,

    2006; Murofuse, Abranches, Napoleo, 2005; Silva, Melo, 2006).

    A prtica de Enfermagem ocorre em diversas condies e

    est sujeita a constantes mudanas e experincias, que expem o

    profissional a uma variedade de sentimentos e emoes. Na rea da

    sade, enfermeiros lidam com o sofrimento e a morte, conflitos, falta

    de preparo e de suporte em seu trabalho. Tambm com questes

    ticas e morais, rpidos avanos tecnolgicos e questes legais.

    Essas mudanas na rea da sade tm afetado o cuidado em

    Enfermagem por meio do aumento da carga de trabalho,

    desempenho de mltiplos papis dentro da instituio, complexidade

    do cuidado ao paciente, corte de equipe e insegurana no trabalho

    (Engel, 2004).

    O estresse no ambiente de trabalho est relacionado a

    diversos fatores, como as condies de trabalho, o relacionamento

  • 32

    interpessoal, gerenciamento de conflitos, estrutura e clima

    organizacional, natureza do trabalho, desenvolvimento da carreira e

    interface do trabalho com a vida pessoal. A Enfermagem, alm de

    estar sujeita a esses fatores multidimensionais, ainda apresenta

    fatores como plantes de trabalho, relacionamento multidisciplinar,

    mltiplos papis e expectativas, polticas institucionais, limitaes de

    tempo e resistncia fsica e emocional necessrias para o trabalho.

    A luta constante para manter o equilbrio entre os fatores

    organizacionais e o cuidar no trabalho de Enfermagem, pode levar

    ao desgaste fsico e emocional (Camelo, Angerami, 2008).

    O profissional de Enfermagem geralmente possui mais de um

    vnculo empregatcio em turnos diferentes, incompatveis com o ciclo

    circadiano fisiolgico, com pouco tempo destinado ao lazer e, como

    a maioria pertence ao gnero feminino, a jornada de trabalho

    domstico tambm deve ser considerada. Esse estilo de vida

    agitado decorre, geralmente, de necessidades financeiras e

    manuteno de um padro social, o que pode levar ao estresse. As

    relaes interpessoais na equipe de sade tambm so referidas

    como fator contribuinte para o estresse relacionado ao trabalho,

    assim como o ritmo e exigncia das instituies (Silva, Melo, 2006).

    A busca constante para equilibrar os fatores organizacionais e

    a assistncia mobiliza os profissionais tanto emocionalmente, quanto

    fsica e espiritualmente. Na dimenso fsica, por exemplo,

    exposies repetidas e prolongadas s condies de estresse

    podem ocasionar tenso e fadiga. Psicologicamente, pode

    frequentemente provocar emoes como ansiedade, depresso,

    medo e raiva. Em resposta a esses sentimentos, comportamentos

    como compulso alimentar, alcoolismo e tabagismo so utilizados

    como enfrentamento ao estresse. Espiritualmente, o estresse pode

    causar uma desconexo com a crena pessoal (Engel, 2004).

    Quando os profissionais esto esgotados, emoes como

    medo e raiva podem desencadear reaes de luta ou fuga. Para

    abordar a questo do estresse dos enfermeiros, so necessrias

  • 33

    tcnicas de gerenciamento e promoo de sade no ambiente de

    trabalho (Engel, 2004).

    No Brasil encontra-se uma representao grande de

    profissionais de Enfermagem nos hospitais. Os fatores relacionados

    ao ambiente, ergonomia e risco biolgico geram tenso e ansiedade,

    principalmente quando a equipe de enfermagem est voltada ao

    cuidado de pacientes com doenas crnicas, traumas agudos,

    cuidados crticos e paliativos (Silva, Melo, 2006).

    Por meio de um estudo quantitativo, transversal e descritivo,

    realizado em 2000 com 116 enfermeiros de dois hospitais no

    municpio de So Paulo, sendo um governamental e um beneficente,

    que trabalhavam em setores fechados (UTI, centro cirrgico, centro

    obsttrico, centro de materiais, hemodilise, hemodinmica, berrio

    e endoscopia) e unidades abertas (unidade de internao, pronto

    atendimento, maternidade, controle de infeco hospitalar), verificou-

    se os estressores presentes e os nveis de estresse desses

    profissionais nos diferentes tipos de unidade. Os enfermeiros que

    apresentaram maior nvel de estresse foram os que trabalhavam em

    unidades abertas, principalmente em relao a atividades

    relacionadas administrao de pessoal, como controlar a equipe

    de enfermagem, realizar a distribuio de funcionrios, supervisionar

    as atividades da equipe, entre outras (Bianchi, 2000).

    Em contrapartida, em um estudo descritivo e exploratrio com

    profissionais de Enfermagem de unidades de Internao e unidades

    especiais como UTI, Centro Cirrgico (CC) e Pronto Socorro (PS) de

    um hospital privado na cidade de So Paulo, as autoras

    identificaram que os profissionais dos dois ltimos setores citados

    apresentaram maiores ndices de estado de ansiedade em relao

    s unidades de Internao e UTI. Fatores como estrutura de trabalho

    institucional, relaes de poder e relacionamento, foram citados

    como influenciadores e facilitadores para a ocorrncia de estresse

    (Gatti et. al., 2004).

  • 34

    Outros estudos so necessrios em diferentes instituies de

    sade em mbito nacional, portanto, a fim de avaliar o nvel de

    estresse em enfermeiros e propor estratgias para sua reduo e

    preveno.

    3.2 AURICULOTERAPIA

    A acupuntura foi introduzida a partir do sculo VI nos pases

    vizinhos China e no sculo XVI/XVII, na Europa. Nas ltimas

    dcadas vem se difundindo por todo o mundo em funo da

    crescente aceitabilidade, pelas comunidades cientficas, aps

    estudos realizados sob uma perspectiva moderna ocidental, com

    mtodos cientficos de investigao (Kurebayashi, Prado, 2011).

    A orelha mencionada no mais antigo livro de medicina

    chins, o Clssico de Medicina Interna do Imperador Amarelo,

    publicado h 2000 anos atrs. O pavilho auricular est relacionado

    com todas as partes do corpo humano e todos os meridianos

    convergem para a orelha. Em 1957, Paul Nogier, neurocirurgio

    francs, fez um estudo cuidadoso da orelha e das inervaes

    auriculares, desenhando a figura de um feto invertido,

    correspondente ao formato da orelha (Figura 2), encontrando

    diferentes pontos para a estimulao neural e tratamento de

    diferentes doenas. A terapia atravs da orelha pode ser utilizada

    para o tratamento de enfermidades agudas e crnicas, doenas

    dolorosas inflamatrias, dependncia qumica, doenas

    endocrinometablicas, perturbaes psquicas como ansiedade,

    depresso, angstia e falta de concentrao (Souza, 2001).

  • 35

    Figura 2 Ilustrao do pavilho auricular e imagem fetal.

    So Paulo, 2014.

    Fonte: Nogier, PMF. Noes Prticas de Auriculterapia. So Paulo: Andrei; 1998. p. 21.

    Por meio do mapa do feto invertido e das prvias pesquisas

    de Nogier, cuja proposta era investigar as conexes

    neurofisiolgicas entre pontos reflexos auriculares e o sistema

    nervoso central, os estudos sobre a ao da auriculoterapia

    comearam a tomar forma. Ele definiu a existncia de 3 diferentes

    reas no pavilho que corresponderiam, na orelha externa, a

    diferentes tipos de inervao neuronal e categorias de tecido

    embrionrio: a endodrmica, mesodrmica e a ectodrmica (Figura

    3) (Kurebayashi, Prado, 2011).

    Figura 3 reas no pavilho auricular segundo origem

    embriolgica. So Paulo, 2014.

    Endoderme Mesoderme Ectoderme

    Fonte: Landgren K. Ear Acupuncture: a pratical guide. Philadelphia: Churchill Livingstone; 2008. p.51-52.

  • 36

    As trs principais inervaes da orelha ocorrem atravs dos

    nervos: trigmeo, vago e plexo cervical, que so responsveis pelas

    reas mesodrmica, endodrmica e ectodrmica, respectivamente

    (Figura 4).

    Figura 4 Principais inervaes do pavilho auricular. So Paulo,

    2014.

    1: Nervo trigmeo 2: Nervo vago

    3: Plexo cervical

    Fonte: Landgren K. Ear Acupuncture: a pratical guide. Philadelphia: Churchill Livingstone; 2008. p.57.

    H, atualmente, duas linhas de auriculoterapia. Uma derivada

    da escola francesa, que determina o microssistema auricular como

    reflexologia de uma ao neurolgica conduzida pelo sistema

    parassimptico. Quando determinada rea da cartilagem auricular

    perfurada, estimula-se, a partir desse ponto, determinada rea do

    crebro, descarregando endorfinas que agiro no sistema corporal,

    acionando a liberao de um neurotransmissor. J para escolha de

    pontos, a linha chinesa da auriculoterapia baseada na concepo

    holstica, nos princpios da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) de

    que o corpo e ambiente so indissociveis (Souza, 2001). O

    presente estudo seguiu o mapa chins de auriculoterapia.

    Devido aos desacertos em relao a nomenclaturas e

    posies de pontos auriculares, desde 1982 a Organizao Mundial

    de Sade (OMS) tem organizado, juntamente com outras

  • 37

    instituies, a padronizao de pontos de auriculoterapia. E em

    1993, a Chinese Standard Ear-Acupoints estabeleceu 91 pontos

    principais adotados na China (Suen, Wong, Leung, 2001).

    A tcnica de estimulao dos pontos pode ser realizada por

    meio de diversos materiais como agulhas semipermanentes,

    sementes de mostarda, esferas de ao, esferas magnticas,

    massagem, presso, estimulao eltrica, entre outros. Antes da

    aplicao necessrio realizar a deteco do ponto, atravs da

    presso, utilizando uma pina ou instrumento de ponta romba.

    Espera-se que a estimulao gere dor presso ou crie uma

    depresso leve no local. Os pontos que se apresentam mais

    sensveis dor so considerados pontos reativos estimulao e,

    portanto, pontos que podem apresentar melhores resultados

    teraputicos (Souza, 2001).

    Em seguida, realiza-se a antissepsia local com lcool 70% e

    algodo. Com a pina ou aplicador de agulhas auriculares, o ponto

    escolhido puncionado perpendicularmente de forma rpida. Aps

    aplicao, as agulhas so cobertas com fita adesiva hipoalergnica,

    permanecendo por, no mximo, sete dias (Souza, 2001).

    Em relao aos ensaios clnicos em acupuntura, um grupo

    internacional de pesquisadores acupunturistas experientes

    desenvolveram recomendaes para realizao dos ensaios nessa

    rea, STRICTA (Standards for Reporting Interventions in Controlled

    Trials of Acupunture), adaptado a partir da lista de verificao do

    CONSORT (Consolidated Standards of Reporting Trials). Essas

    recomendaes procuram incorporar diferentes tipos e

    particularidades da acupuntura, desde pesquisas mais recentes aos

    estilos mais tradicionais, incluindo outras prticas comumente

    utilizadas em conjunto com a acupuntura. recomendado que

    nestes ensaios clnicos exista um grupo controle, ou seja, um grupo

    de comparao. Este pode envolver um comparador ativo, tais como

    fisioterapia, ou procedimentos minimamente invasivos, como o

    caso da acupuntura sham, utilizando pontos que no so indicados

  • 38

    para o tratamento. Pode tambm ser grupo controle sem interveno

    ou como lista de espera (MacPherson et. al., 2002).

    Entretanto, a acupuntura sham invasiva ou no invasiva pode

    apresentar respostas circulatrias, imunolgicas e neurofisiolgicas,

    pois o mecanismo da acupuntura e da auriculoterapia no

    totalmente conhecido. Particularmente em relao auriculoterapia,

    outro vis dificulta a escolha por um delineamento de pesquisa: a

    existncia de mais de um mapa desenvolvido e utilizado

    mundialmente. As duas principais linhas de pesquisa so derivadas

    da escola chinesa e francesa, conforme j referido, que embora

    apresentem algumas similaridades, apresentam estilos, conceitos e

    mapas divergentes. Isso dificulta a escolha de pontos verdadeiros e

    pontos sham (Hammerschlag, 1998).

  • 39

    4 HIPTESE

  • 40

    4.0 HIPTESE NULA (H0)

    Auriculoterapia verdadeira apresentar igual reduo dos

    nveis de estresse nos enfermeiros em relao auriculoterapia

    sham.

    4.1 HIPTESE ALTERNATIVA (H1)

    Auriculoterapia verdadeira apresentar maior reduo dos

    nveis de estresse nos enfermeiros em comparao com

    auriculoterapia sham.

  • 41

    5 MTODO

  • 42

    Ensaio Clnico Controlado Randomizado, simples-cego, com 3

    grupos: Controle (sem nenhum tratamento), Auriculoterapia (com

    pontos indicados para estresse), Placebo (com pontos sham).

    Para definio da amostra de participantes, foi realizado

    levantamento epidemiolgico, com caracterizao dos enfermeiros

    do Hospital Beneficncia Portuguesa de So Paulo, Unidade So

    Joaquim, por meio da aplicao do questionrio de avaliao de

    nvel de estresse e ficha de dados scio-demogrficos. A coleta de

    dados foi realizada no perodo de Outubro de 2013 a Fevereiro de

    2014.

    Foi realizado cegamento para anlise estatstica. Os

    resultados foram entregues ao estatstico em forma de banco de

    dados sem denominar os grupos, identificados por meio de siglas.

    5.1 LOCAL DE ESTUDO

    A pesquisa foi realizada no Hospital Beneficncia Portuguesa

    de So Paulo, maior complexo hospitalar privado da Amrica Latina,

    fundado em 1859. composto por trs unidades, Hospital So

    Joaquim, Hospital So Jos e Hospital Santo Antnio. Atende mais

    de 1,5 milho de pessoas por ano, tornando-se referncia no

    atendimento mdico hospitalar em diversas especialidades, como

    cardiologia, oncologia, neurologia, gastroenterologia, entre outras.

    O estudo foi realizado na maior unidade do complexo,

    Hospital So Joaquim. Possui o selo de Acreditao Excelncia

    (Nvel 3) pela Organizao Nacional de Acreditao (ONA). A

    instituio possui cerca de 6000 colaboradores, dentre os quais,

    2700 compem a equipe de Enfermagem.

    5.2 AMOSTRA

    Foram convidados a participar do estudo aproximadamente

    290 enfermeiros dos 3 turnos e diversos setores. Dentre esses, 257

  • 43

    aceitaram responder os questionrios de estresse e scio

    demogrficos. Conforme ilustrado no fluxograma (Figura 5), 89

    pessoas foram excludas, 82 por apresentarem nvel de estresse

    abaixo do critrio de incluso, 5 pessoas com nvel acima e 2

    pessoas comunicaram que estariam de frias no perodo.

    A amostra foi constituda de 168 enfermeiros que

    apresentaram escore de estresse entre 40 a 110 pontos na Lista de

    Sintomas de Estresse (LSS) e, portanto, atenderam os critrios de

    incluso. Optou-se por limitar a pontuao, correspondente ao nvel

    mdio e alto de estresse, pois poucas pessoas apresentaram nvel

    altssimo e, portanto, para obteno de amostras homogneas.

    Outros critrios de incluso foram participao voluntria e

    disponibilidade para realizao das sesses de auriculoterapia.

    A partir dos critrios de incluso, a randomizao ou diviso

    aleatria dos participantes nos 3 grupos foi realizada em blocos,

    atravs do programa Random Allocation Software. O grupo Controle

    foi composto por 54 participantes, grupo Auriculoterapia por 58 e o

    Placebo por 56 participantes. Trinta e cinco pessoas descontinuaram

    o estudo, conforme o fluxograma, pelos seguintes motivos: 17

    saram de frias, 8 saram de licena mdica, 5 indisponveis para

    realizao das sesses ou avaliao, 3 desligaram-se da instituio,

    1 ficou gestante e 1 comeou a fazer uso de medicamento

    psicotrpico.

  • 44

    Figura 5 Fluxograma de participao dos enfermeiros. So Paulo,

    2014.

    Fonte: Dados coletados pela autora.

    Foram excludas as gestantes, pois alguns pontos atuam

    sobre o tero e poderiam ser abortivos, portanto, a principal

    contraindicao para as gestantes at o 3 ms de gravidez

    (Souza, 2001); e aqueles que participavam de outra terapia

    energtica ou qualquer outro tratamento para estresse no perodo do

    estudo.

    A partir dos ensaios clnicos realizados com o mesmo

    delineamento em 2010 e 2011, que demonstraram que participantes

    com caractersticas similares apresentaram escore LSS com desvio

    padro em torno de 25 unidades, e, considerando, portanto, como

    uma diferena clinicamente importante, 15 unidades do escore (60%

    do desvio ou efeito de 0,6) entre os grupos Controle/Placebo contra

    Interveno ao final do tratamento, estimou-se uma amostra mnima

    de 44 sujeitos por grupo, sob hiptese bicaudal, poder de 80% e

    nvel de significncia de 5% (Chow, Shao, Wan, 2008). Ainda

    levando em considerao uma perda de acompanhamento de 20%.

    257

    Grupo Auriculoterapia

    58

    43

    15 Perdas

    Grupo Placebo

    56

    47

    9 Perdas

    Grupo Controle

    54

    43

    11 Perdas

    89 excludos

  • 45

    Sugeriu-se uma amostra mnima inicial de 53 sujeitos por grupo, 159

    no total.

    5.3 ASPECTOS TICOS

    Por envolver seres humanos, o estudo atendeu Resoluo

    466/2012 do Conselho Nacional de Sade. Os dados somente

    comearam a ser coletados aps aprovao pelo Comits de tica

    em Pesquisa da Escola de Enfermagem da Universidade de So

    Paulo sob o Processo n252.931 (Anexo 1) e do Hospital

    Beneficncia Portuguesa de So Paulo Parecer n408.748 (Anexo

    2), CAAE 12449413.9.0000.5392, explanao e consentimento dos

    sujeitos, mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e

    Esclarecido TCLE (Apndice A). O TCLE foi assinado em duas

    vias, sendo uma do participante e outra da pesquisadora. Somente a

    pesquisadora teve acesso identidade e resultados de cada

    participante, como previsto no TCLE.

    5.4 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS

    Foi utilizado a Lista de Sintomas de Stress (LSS) (Anexo 3).

    O LSS um instrumento de avaliao que consiste em uma lista de

    59 sintomas psico-fisiolgicos e psicossociais de stress, no qual o

    sujeito deve associar para cada sintoma uma das quatro respostas:

    nunca (0), poucas vezes (1), frequentemente (2) ou sempre (3). Os

    escores obtidos nas respostas so somados e fornecem o nvel de

    stress do indivduo. Este instrumento resultado da associao

    entre uma lista elaborada por dois estudiosos (Vasconcellos, 1984)

    e o Questionrio de Stress do Psiclogo no Exerccio Profissional

    (Covolan, 1989). Nesse questionrio a pontuao de 0 a 11

    considerada nula, 12 a 29 (nvel baixo), 30 a 59 (nvel mdio), 60 a

    120 (nvel alto) e acima de 120, nvel altssimo.

  • 46

    Foi solicitado o preenchimento de uma ficha com os seguintes

    dados pessoais: nome, idade, sexo, estado civil, telefone, e-mail,

    presena de gravidez, utilizao de outro(s) tratamento(s) para

    estresse, tempo de formao, ps-graduao, setor, cargo, horrio

    de trabalho, tempo de trabalho, carga horria semanal, trabalho em

    outra instituio (Apndice B).

    Para avaliao da percepo do estresse, foi utilizada uma

    Escala Visual Analgica (EVA) para nvel de estresse, adaptada de

    Pafaro (2002) (Apndice C). Nessa escala foi colocada uma linha na

    vertical, graduada de 0 a 10, sendo 0 ausncia de estresse e 10

    estresse severo. Cada participante assinalava o nvel de estresse

    que estava sentindo no momento, sendo de 0 a 3 nvel baixo, 4 a 6

    nvel baixo e 7 a 10 nvel alto de estresse.

    5.5 COLETA DE DADOS

    Os enfermeiros dos trs turnos foram convidados a participar

    da pesquisa a partir da explanao feita pela pesquisadora,

    agendada previamente com cada gestora dos diversos setores do

    hospital. Os que manifestaram interesse responderam os

    instrumentos de coleta de dados, LSS, EVA e ficha de dados

    pessoais.

    Aps randomizao, os participantes dos grupos

    auriculoterapia e placebo, receberam 12 sesses de auriculoterapia

    (2 sesses por semana) com durao de aproximadamente 5

    minutos cada. As sesses foram agendadas previamente e

    realizadas individualmente. Exceto o grupo controle que no recebia

    sesses de auriculoterapia. Entretanto, aqueles que fizeram parte do

    grupo controle ou do grupo placebo receberam orientao ao final

    da pesquisa sobre sua condio e foram atendidos pelo mesmo

    tempo e nmero de sesses que os que participaram do grupo

    auriculoterapia, sem qualquer nus para os mesmos.

  • 47

    Todos os sujeitos que aceitaram participar do estudo foram

    avaliados quanto a nveis de estresse aps 8 sesses, ao trmino

    de 12 sesses e 15 dias aps o trmino das aplicaes (follow-up),

    inclusive o grupo controle, que tambm realizou as avaliaes com a

    mesma frequncia que os demais.

    Todas as aplicaes foram feitas pela pesquisadora,

    enfermeira e acupunturista. Todos os custos da tcnica de

    auriculoterapia foram de responsabilidade total da pesquisadora.

    Grupo Auriculoterapia

    Na Medicina Tradicional Chinesa (MTC) no h

    padronizao no tratamento do estresse, por se tratar de doena

    multifatorial. Ressaltem-se os fatores limitantes de uma pesquisa

    relacionada MTC, uma vez que a padronizao de pontos em um

    tratamento pode subverter os princpios conceituais sobre os quais a

    MTC se estruturou. Para esta medicina, os elementos cosmolgicos

    desempenham um papel importante na determinao das

    constituies individuais, enquanto que, para a racionalidade

    ocidental, sequer so considerados. Para a Cincia Mdica, o objeto

    de estudo a doena, sua identificao, sua etiologia e sua

    classificao. Para a MTC, a classificao das doenas toma por

    referncia os sujeitos doentes e suas constituies individuais (So

    Paulo, 2002). Desta forma, a proposta de manter um protocolo de

    pontos foi feita para possibilitar a avaliao quantitativa, estatstica

    do estudo cientfico, nos moldes ocidentais, controlado e

    aleatorizado, dos efeitos de determinados pontos sobre o pavilho

    auricular e que sejam eficazes para diminuir os sinais e sintomas de

    estresse.

    Protocolo utilizado neste grupo:

    Shen Men: localiza-se na fossa triangular, logo acima da

    bifurcao da raiz superior e inferior da antihlice. um ponto usado

    no controle da ao excitatria e inibitria do crtex cerebral e tem

    efeito tranquilizante, analgsico e antialrgico (Souza, 2001).

  • 48

    Tronco Cerebral: situa-se no meio da incisura, na juno

    do antitrago com o antihlice, utilizado em afeces do crebro, com

    funo tambm de sedao (Souza, 2001).

    Aps a devida localizao dos pontos reativos com um

    localizador de pontos, era realizada a antissepsia do pavilho

    auricular com algodo e lcool a 70%.

    Os participantes foram orientados para a retirada das

    agulhas antes do perodo solicitado se houvesse desconforto

    excessivo ou prurido e sinais de alergia. Foi recomendado que o

    participante permanecesse de 2 a 3 dias com as agulhas, no

    havendo necessidade de estimular o local.

    A escolha desses pontos deve-se ao fato de que estes

    mesmos foram utilizados em um estudo desenvolvido em 2011 e

    publicado em 2012, no qual auriculoterapia verdadeira com esses

    mesmos pontos diminuiu os nveis de estresse e ansiedade em

    estudantes de Enfermagem (Prado, Kurebayashi, Silva, 2012).

    Esses pontos tambm foram utilizados em outro ensaio

    clnico controlado randomizado, publicado em 2012, que buscou

    avaliar os nveis de estresse na equipe de Enfermagem de um

    hospital e analisar a efetividade da auriculoterapia com agulhas e

    sementes. Os sujeitos foram randomizados em trs grupos: controle,

    agulhas e sementes. Os dois ltimos grupos receberam oito sesses

    nos pontos Shen Men, Tronco Cerebral e Rim. O instrumento de

    avaliao utilizado foi a Lista de Sintomas de Stress (LSS), aplicado

    no incio, aps quatro, oito sesses e follow-up de 15 dias. As

    autoras concluram que a auriculoterapia foi eficaz na reduo de

    estresse em profissionais de Enfermagem, com melhores resultados

    para agulhas do que para sementes, em escores altos, com

    manuteno de efeitos por 15 dias (Kurebayashi, Gnatta, Pavarini

    et. al., 2012).

  • 49

    Grupo Placebo

    Foram escolhidos dois pontos: um prximo rea da

    Bochecha, entre o quadrante IV e V do lbulo, indicado para tratar

    paresia facial e neuralgia do trigmeo; e outro nas imediaes do

    ponto correspondente ao Ouvido Externo, no trago, indicado para

    tratamento de inflamaes na parte externa da orelha, zumbido e

    dficit de audio. Ambos no deveriam ser responsivos

    estimulao de presso e dor, portanto, foram previamente testados

    com um apalpador antes de sua colocao (Hecker et. al., 2006).

    Os pontos utilizados neste estudo esto redesenhados na

    Figura 6. As cores representam as diferentes reas de inervao do

    pavilho auricular.

    Figura 6 reas inervadas e pontos da pesquisa. So Paulo, 2014.

    Fonte: Adaptado de Martins EIS, Garcia EG. Pontos de Acupuntura: Guia ilustrado de referncia. So Paulo: Roca; 2003.

    Foi tolerado, no mximo, perda de 3 sesses por sujeito,

    desde que no fossem consecutivas, pois a acupuntura pode

    apresentar bons resultados com no mnimo uma sesso por semana

    (Stux, Hammerschlag, 2005).

  • 50

    5.6 ANLISE ESTATSTICA

    Os dados foram submetidos a uma anlise estatstica

    descritiva. Foram calculados os valores de mdia e desvio-padro

    para as variveis quantitativas. Foi utilizada ANOVA de medidas

    repetidas de dois fatores (3x4), com teste Post hoc Tukey. Teste de

    Correlao de Pearson foi realizado para comparao entre EVA e

    LSS. Para avaliao da influncia do setor, cargo e turno e os nveis

    de estresse foi utilizado regresso linear. Foi verificado o tamanho

    de efeito do tratamento pelo eta-quadrado.

    Para todos os testes foi utilizado o programa estatstico R- v

    2.12.2.

  • 51

    6 RESULTADOS

  • 52

    6.1 DESCRITIVA DOS DADOS SCIO-DEMOGRFICOS

    Dos 257 enfermeiros que participaram do estudo, 233 eram

    mulheres (91%) e 24 (9%) homens.

    Grfico 1 Distribuio dos participantes segundo sexo. So Paulo,

    2014.

    Fonte: Dados coletados pela autora.

    Em relao ao estado civil, 122 (47,47%) eram casados, 114

    (44,36%) solteiros, 18 (7%) divorciados, 2 (0,78%) viuvos e 1

    (0,39%) no informado.

    Grfico 2 Distribuio dos participantes segundo estado civil. So

    Paulo, 2014.

    Fonte: Dados coletados pela autora.

    Feminino

    Masculino

    24, 9%

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    120

    140

    Casado Solteiro Divorciado Viuvo Noinformado

    Estado civil

    233, 91%

    122 114 18 2 1

    47,47% 44,36% 7% 0,78% 0,39%

  • 53

    A mdia de idade dos participantes foi de 36,05 anos. A

    mdia de tempo de formao foi de 8,44 anos e de tempo de

    trabalho no setor foi de 3,92 anos (Tabela 1).

    Tabela 1 Mdia e Desvio Padro das variveis: Idade, Tempo de

    formado (anos), Tempo de trabalho no setor (anos). So Paulo,

    2014.

    N Mnimo Mximo Mdia DP

    Idade 257 22 63 36,05 8,29

    Tempo de formao 257 0 41 8,44 7,82

    Tempo de trabalho

    no setor 257 0,04 30 3,92 5,69

    Fonte: Dados coletados no Hospital Beneficncia Portuguesa de So Paulo.

    Duzentos e vinte e sete (88%) enfermeiros apresentavam

    algum curso de ps-graduao e apenas 30 (12%) no eram ps-

    graduados.

    Grfico 3 Distribuio dos participantes segundo ps-graduao.

    So Paulo, 2014.

    Fonte: Dados coletados pela autora.

    A mdia de pontuao de LSS entre os tipos de cargos foi de

    59,43 pontos para os enfermeiros com cargos administrativos e

    54,59 pontos para os enfermeiros assistenciais (Tabela 2). Foram

    Sim

    No

    227; 88%

    30; 12%

  • 54

    classificados como cargo administrativo, enfermeiros que no

    trabalhavam diretamente na assistncia aos pacientes, ou seja,

    cargos de gerncia, coordenao e superviso, setores como

    Servio de Controle de Infeco Hospitalar, Educao Continuada,

    Escola de Enfermagem, Mtodos Grficos e Clnicas externas e

    internas. Como cargo assistencial todos os enfermeiros que

    prestavam assistncia direta aos pacientes, mesmo em setores onde

    existia a diviso de enfermeiro administrativo e assistencial, como

    em algumas unidades de internao e de terapia intensiva, pois

    embora exista essa diviso, os enfermeiros administrativos nesses

    setores no lidam apenas com atividades administrativas, mas

    tambm prestam cuidados aos pacientes.

    Tabela 2 Mdia e Desvio Padro da pontuao de LSS dos tipos

    de cargos. So Paulo, 2014.

    Cargo N Mdia DP

    Administrativo 54 59,43 30,54

    Assistencial 203 54,59 27,02

    Fonte: Dados coletados no Hospital Beneficncia Portuguesa de So Paulo.

    Na tabela 3 encontram-se os percentuais dos participantes

    em cada nvel de estresse segundo LSS. O nvel de maior

    frequncia foi o nvel alto de estresse, 112 (43,58%) enfermeiros

    apresentavam escore alto.

  • 55

    Tabela 3 Frequncia e percentual dos participantes segundo

    nveis de estresse. So Paulo, 2014.

    Nveis de Estresse N %

    Nulo 10 3,89

    Baixo 39 15,18

    Mdio 94 36,58

    Alto 112 43,58

    Altssimo 2 0,78

    Total 257 100

    Fonte: Dados coletados no Hospital Beneficncia Portuguesa de So Paulo.

    J os percentuais de participantes com nveis de estresse

    segundo EVA (baixo, mdio e alto) esto descritos na Tabela 4 a

    seguir. O escore predominante segundo EVA foi a faixa de

    pontuao de 4 a 7, correspondente ao nvel mdio de estresse

    (57,59%).

    Tabela 4 Frequncia e percentual de participantes segundo nveis

    de estresse pela Escala Visual Analgica (EVA). So Paulo, 2014.

    EVA N %

    Baixo (0-3) 58 22,57

    Mdio (4-7) 148 57,59

    Alto (8-10) 42 16,34

    No informado 9 3,5

    Total 257 100

    Fonte: Dados coletados no Hospital Beneficncia Portuguesa de So Paulo.

    Em todos os turnos de trabalho (Manh, Tarde, Noite e

    horrio comercial) o nvel de estresse mais frequente foi Nvel Alto,

    conforme explicitado na Tabela 5.

  • 56

    Tabela 5 Distribuio dos participantes nos turnos de trabalho

    segundo os nveis de estresse. So Paulo, 2014.

    Manh % Tarde % Noite % Comercial % NI Total

    Nulo

    1 1,06 5 5,68 2 5,71 2 5,13 - 10 Baixo

    12 12,77 19 21,59 5 14,29 3 7,69 - 39 Mdio

    38 40,43 30 34,09 10 28,57 15 38,46 1 94 Alto

    42 44,68 34 38,64 18 51,43 18 46,15 - 112 Altssimo

    1 1,06 - - - - 1 2,56 - 2 TOTAL

    94 100 88 100 35 100 39 100 1 257

    NI = no informado. Fonte: Dados coletados no Hospital Beneficncia Portuguesa de So Paulo.

    Os setores do hospital foram classificados em 3 categorias:

    administrativo, unidade aberta ou unidade fechada. O Departamento

    de Enfermagem, Escola de Enfermagem, Servio de Controle de

    Infeco Hospitalar, Educao Continuada, Mtodos Grficos,

    Clnicas Externas e Internas foram classificados como setores

    administrativos, pois os enfermeiros que trabalhavam nesses setores

    no estavam diretamente ligados assistncia aos pacientes. J as

    unidades de internao peditricas e de adultos foram classificadas

    como Unidades Abertas. As unidades de terapia intensiva adulto e

    peditricas, Pronto Socorro, Centro Cirrgico, Central de Materiais

    Esterilizados, Hemodilise e Hemodinmica foram classificados

    como Unidades Fechadas.

    Os enfermeiros que trabalham nos setores administrativos ou

    que possuem cargos de chefia apresentaram mdia de pontuao

    de estresse mais elevada em comparao com os profissionais que

    atuam na assistncia, conforme descrito na Tabela 6, a seguir. Entre

    as reas assistenciais, os enfermeiros que trabalham em unidades

    de internao apresentaram mdia maior do que aqueles que

    trabalham em setores fechados.

  • 57

    Tabela 6 Frequncia dos participantes, mdia e desvio padro da

    pontuao de estresse segundo tipos de setores. So Paulo, 2014.

    Setor N Mdia DP

    Administrativo 54 59,43 30,54

    Unidades abertas 124 56,44 27,50

    Unidades fechadas 70 51,70 26,15

    TOTAL 257 55,61 27,80

    Fonte: Dados coletados no Hospital Beneficncia Portuguesa de So Paulo.

    Os plantes no Hospital Beneficncia Portuguesa de So

    Paulo so de 8 horas dirias, com carga horria semanal de 40

    horas para os enfermeiros que esto na assistncia e, em alguns

    setores administrativos, 44 horas semanais. Esse dado difere da

    maioria dos hospitais, cuja carga horria semanal de 36 horas e

    plantes de 6 horas ou escala de 12/36h. Alm da carga horria

    semanal mais elevada, 32 (12,45%) trabalhavam tambm em outra

    instituio. A maior parte (6,23%) com carga horria de 76 horas

    semanais e apenas um trabalhava 84 horas semanais, conforme

    dados da Tabela 7.

  • Tabela 7 Distribuio dos participantes que trabalham ou no em outra instituio, segundo carga horria semanal. So

    Paulo, 2014.

    Trabalha

    em outra

    instituio

    40h

    (%)

    44h

    (%)

    54h

    (%)

    60h

    (%)

    70h

    (%)

    76h

    (%)

    80h

    (%)

    84h

    (%)

    No

    informado

    (%)

    Total

    N (%)

    No 190

    (73,93%)

    35

    (13,62%)

    225

    (87,55%)

    Sim 1

    (0,38%)

    2

    (0,78%)

    2

    (0,78%)

    4

    (1,56%)

    16

    (6,23%)

    4

    (1,56%)

    1

    (0,38%) 2 (0,78%)

    32

    (12,45%)

    Total 190

    (73,93%) 36 (14%)

    2

    (0,78%)

    2

    (0,78%)

    4

    (1,56%)

    16

    (6,23%)

    4

    (1,56%)

    1

    (0,38%) 2 (0,78%)

    257

    (100%)

    Fonte: Dados coletados no Hospital Beneficncia Portuguesa de So Paulo.

    58

  • 59

    Dentre os 257 participantes, 155 (60,31%) no apresentavam

    problemas de sade e 102 (39,69%) apresentavam alguma queixa.

    As mais frequentes foram dores osteomusculares, seguidas de

    enxaqueca/cefaleia, HAS, Hipotireoidismo, Gastrite, Dislipidemia,

    DM, entre outras.

    Durante a explanao e convite para participar do estudo

    foram explicados os critrios de excluso, portanto, os enfermeiros

    que faziam uso de algum medicamento psicotrpico ou outra prtica

    complementar no responderam aos instrumentos de coleta. No foi

    investigado o uso de demais medicamentos prescritos ou utilizados

    como auto medicao.

    Quanto aos sintomas que compem a Lista de Sintomas de

    Stress, o mais frequente foi o de nmero 5: No final de um dia de

    trabalho, sinto-me desgastado, com 94,16% dos participantes

    assinalando esse item, sendo que 66,15% dos enfermeiros

    relataram esse sintoma atribuindo maior nota na escala de 0 a 3,

    correspondente a frequncia Sempre. O sintoma que apareceu em

    menor frequncia, apenas em 9,34% dos participantes, foi o nmero

    32: Fumo demais.

    Dos 257 enfermeiros que participaram do estudo, apenas 17

    (6,6%) relataram outros sintomas que no faziam parte da LSS. Os

    sintomas listados foram: vontade de chorar por qualquer motivo (7

    participantes), dificuldade de concentrao, tontura, tenso pr-

    menstrual, espasmos palpebrais, baixa autoestima, cimbras (2

    participantes), tricotilomania, dermatite atpica, fogachos e sudorese

    (1 participante cada).

    6.2 ANLISE INTERGRUPOS E EVOLUO DOS NVEIS DE

    ESTRESSE SEGUNDO A LSS E EVA

    Para comparao entre os grupos constatou-se diferena

    estatisticamente significante (p

  • 60

    comparao entre os momentos de avaliao (p

  • 61

    O grfico 4 ilustra a evoluo dos trs grupos quanto aos

    nveis de estresse.

    Grfico 4 Evoluo do escore de estresse entre os grupos ao

    longo das avaliaes. So Paulo, 2014.

    Ao avaliar o tamanho de efeito pelo eta-quadrado, observou-

    se que o Grupo Auriculoterapia apresentou melhor resultado com

    reduo dos nveis de estresse em 34% de efeito de tratamento

    contra 8% do Grupo Placebo.

    6.3 TESTE DE CORRELAO ENTRE LSS E EVA

    Na anlise de Correlao de Pearson entre os instrumentos

    LSS e EVA obteve-se ndice de 0,57. Na primeira avaliao a

    correlao entre LSS e EVA foi bastante fraca (0,33). No segundo

    momento com 8 sesses foi de 0,57, seguido de 0,61 na terceira

    avaliao e 0,60 no follow-up. Essa situao demonstra a dificuldade

    inicial na auto percepo dos sintomas de estresse, que melhorou

    ao longo da coleta de dados.

    30

    35

    40

    45

    50

    55

    60

    65

    70

    75

    LS

    S (

    es

    co

    re)

    Auriculo

    Controle

    Placebo

    LSS 1 LSS2 LSS 3 LSS 4

  • 62

    6.4 REGRESSO LINEAR ENTRE OS NVEIS DE ESTRESSE

    E CARGO, SETOR E TURNO DE TRABALHO

    Ao avaliar a influncia do cargo, no foi possvel afirmar que o

    tipo de cargo influencia na varincia do escore de estresse pela LSS

    (p=0,257), assim como o tipo de setor (p=0,261) e turno de trabalho

    (p=0,10).

    H uma pequena tendncia do turno da tarde apresentar nvel

    de estresse menor que os demais turnos, porm no

    estatisticamente significante.

  • 63

    7 DISCUSSO

  • 64

    A amostra do estudo foi composta por 257 enfermeiros,

    predominantemente do sexo feminino (91%), com mdia de idade de

    36,05 anos, perfil semelhante a demais estudos (Guido et al., 2011;

    Lima et al., 2012; Menzani, Bianchi, 2009).

    A Enfermagem conhecida no apenas por caracterizar-se

    como uma profisso essencialmente feminina, como tambm pela

    especificidade das aes desenvolvidas no dia-a-dia. No ambiente

    de trabalho, as profissionais gerenciam o desenvolvimento de suas

    atividades e, fora desse contexto, gerenciam suas vidas como

    pessoas, esposas e mes. Essa situao, de desenvolver mltiplas

    atividades, com vnculos de trabalho formais ou no, pode tambm

    contribuir para o desenvolvimento do estresse (Menzani, Bianchi,

    2009).

    A mdia de tempo de formao foi de 8,44 anos e de tempo

    de trabalho no setor foi de 3,92 anos, ou seja, apesar de no

    trabalharem por perodo prolongado em suas unidades, eram

    graduados h mais tempo.

    A maioria dos enfermeiros (88%) apresentava algum curso de

    ps-graduao. Essa caracterstica tem sido observada entre

    enfermeiros jovens, que j buscam especializar-se em suas reas de

    interesse, para melhor insero e diferenciao na rea hospitalar.

    Segundo Elias e Navarro (2006), o ambiente hospitalar

    reconhecido como insalubre, penoso e perigoso para os que ali

    trabalham, um local propcio para o adoecimento. Alm dos riscos de

    acidentes e doenas de ordem fsica aos quais esses profissionais

    esto expostos, o sofrimento psquico tambm bastante comum,

    diante da alta presso e cobrana a que esto submetidos.

    Dos 257 enfermeiros participantes, 43,58% apresentavam

    nvel alto de estresse. Em todos os turnos de trabalho houve

    predominncia do nvel alto. No turno noturno, mais de 50% dos

    enfermeiros apresentavam essa classificao.

    O efeito do trabalho em turnos para a sade dos profissionais

    de enfermagem pode se manifestar atravs dos sintomas de

  • 65

    estresse, principalmente, distrbios neuropsquicos,

    cardiovasculares e gastrintestinais. Alm disso, interfere na vida

    pessoal e familiar do profissional, pela dificuldade de participao de

    atividades sociais e planejamento de vida (Costa, Morita, Martinez,

    2000).

    Encontrou-se outro estudo, do tipo exploratrio, cujo objetivo

    era determinar o nvel de stress, hardiness e as suas correlaes

    com o trabalho nos diferentes turnos para enfermeiros de um

    hospital escola. Verificou-se que os enfermeiros que no possuam

    horrio de trabalho fixo, trabalhavam em horrio comercial ou eram

    do turno noturno apresentaram alerta para alto nvel de stress,

    sendo que os enfermeiros do turno noturno apresentaram os

    menores valores para hardiness controle e desafio (Batista, Bianchi,

    2013).

    As aes mais tcnicas e socialmente mais qualificadas so

    realizadas pelas enfermeiras, responsveis pela chefia, coordenao

    e superviso do trabalho dos tcnicos e dos auxiliares de

    enfermagem que, por sua vez, executam o trabalho menos

    qualificado, dedicando mais tempo aos pacientes (Elias, Navarro,

    2006).

    Entre os enfermeiros que trabalhavam em horrio comercial e,

    portanto, apresentavam cargos administrativos, 46,15%

    apresentavam nvel alto de estresse. O trabalho do enfermeiro,

    inserido nas instituies de sade, muitas vezes multifacetado,

    dividido e submetido a uma diversidade de cargos que so

    geradores de desgaste. Os enfermeiros so responsveis por

    pessoas, o que os obriga a um maior tempo de trabalho dedicado

    interao, aumentando a probabilidade de ocorrncia do estresse

    por conflitos interpessoais (Guerrer, Bianchi, 2008).

    Para os cargos administrativos, a mdia de pontuao de LSS

    foi de 59,43 pontos. J para os enfermeiros que estavam

    diretamente ligados assistncia ao paciente foi de 54,59 pontos.

  • 66

    Este resultado tambm foi encontrado no estudo realizado por

    Guerrer e Bianchi (2008), onde os enfermeiros assistenciais

    apresentaram ndice elevado de estresse nos domnios assistncia

    de enfermagem e coordenao da unidade. J para aqueles com

    cargos de chefia, o ndice de estresse foi elevado para os domnios

    relacionamento, funcionamento da unidade e administrao de

    pessoal. A mdia total do nvel de estresse entre os cargos foi maior

    para aqueles com cargos de chefia e coordenao.

    Os profissionais de enfermagem que cuidam de outras

    pessoas, muitas vezes se esquecem de cuidar de si mesmos e do

    ambiente de trabalho, e por isso, tem adoecido pelas condies e

    pelos ambientes desfavorveis para desenvolver as suas atribuies

    (Ribeiro et. al., 2012).

    Cento e dois enfermeiros (39,69%) apresentavam alguma

    queixa de sade. O problema mais frequente foram dores

    osteomusculares. Das doenas ocupacionais, os distrbios

    musculoesquelticos so um dos mais graves e so considerados

    importante problema de sade. Os principais fatores de risco so a

    organizao do trabalho e as possveis sobrecargas de segmentos

    corporais em determinados movimentos, como por exemplo, fora

    excessiva para realizar algumas tarefas, repetitividade e posturas

    inadequadas (Magnago et al., 2010).

    Corroborando ainda com o presente estudo, Leite, Silva e

    Merighi (2007) tambm verificaram que a principal queixa das

    profissionais de Enfermagem estava relacionada ao sistema

    osteomuscular. Outro estudo, realizado por Borges (2013), verificou

    a eficcia da massagem para tratamento da lombalgia entre a

    equipe de Enfermagem de um Pronto Socorro localizado na Grande

    So Paulo. Foi realizado por meio de um ensaio clnico

    randomizado, utilizando a massagem por acupresso e tcnica a

    laser como placebo para o tratamento da lombalgia ocupacional. Os

    profissionais que receberam a massagem apresentaram reduo do

    escore de dor de moderada para leve e tambm melhora quanto

  • 67

    avaliao funcional relacionada lombalgia, mostrando-se uma

    teraputica eficaz para tratamento desse tipo de dor.

    Os enfermeiros que trabalhavam em setores administrativos

    apresentaram mdia de estresse mais elevada (59,43). Entre as

    unidades assistenciais abertas e fechadas, os enfermeiros que

    trabalhavam em setores fechados apresentaram menor nvel de

    estresse (51,7) em comparao com os de setores abertos como

    unidades de internao (56,44).

    Em consonncia ao resultado encontrado nessa pesquisa,

    Frana et. al. (2012), realizaram um estudo para identificar a

    Sndrome de Burnout em profissionais de enfermagem de dois

    hospitais. Ao analisar os tipos de setores, verificaram que os

    profissionais que trabalhavam no setor administrativo eram os mais

    acometidos. No universo administrativo, o enfermeiro responsvel

    responde diretamente pelas Resolues exigidas pelo Conselho de

    Enfermagem e atribuies definidas por rgo superior e, dessa

    forma, os nveis de exigncia acarretam para o profissional um

    conjunto de condies que podem resultar na Sndrome de Burnout.

    Apesar dos ambientes fechados serem carregados de atribuies e

    responsabilidades que levam o profissional a sofrer fortes influncias

    de estressores, ainda nesse estudo, os setores abertos

    apresentaram maior ndice em comparao com os fechados.

    A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) considerada uma

    unidade fechada, cujo entrosamento com outros setores bastante

    limitado. um setor onde se encontram pacientes internados que

    necessitam de cuidados intensivos diretos. A assistncia prestada a

    pacientes em setores crticos bastante polmica, pois de um lado

    ela requer intervenes rpidas, de outro, mobilizam emoes e

    sentimentos de forma muito intensa. Nesses setores, o trabalho do

    enfermeiro permeado por ambiguidades, aspectos gratificantes e

    limitantes que esto presentes no seu mundo e na vida (Guerrer,

    Bianchi, 2008).

  • 68

    Outro estudo que corrobora com esses resultados de

    Bianchi (2000) que verificou que os enfermeiros de unidades abertas

    apresentavam maior nvel de estresse do que em setores fechados.

    Os enfermeiros de unidades de internao esto sujeitos a um

    desgaste emocional. A autora discute tambm a correlao com

    sobrecarga de trabalho, tarefas repetitivas e montonas e volume de

    atividades burocrticas existente levando-os falta de controle das

    atividades realizadas, perda de energia, fadiga e esgotamento.

    Em contrapartida, Myhren, Ekeberg e Stokland (2013)

    avaliaram a relao entre o nvel de satisfao no trabalho, estresse

    ocupacional e sintomas de burnout em mdicos e enfermeiras

    intensivistas de um hospital universitrio. A mdia de satisfao no

    trabalho entre os enfermeiros foi menor do que entre os mdicos

    intensivistas. Escores mdios de Burnout foram relativamente

    baixos, porm o escore alto foi correlacionado com personalidade

    vulnervel, baixa satisfao no trabalho e alto escore de estresse

    ocupacional.

    Esses apontamentos acerca do estresse do enfermeiro

    continuam sendo levantados at a presente dcada. Os enfermeiros

    apresentam como um dos fatores de estresse o relacionamento

    interpessoal com os pacientes no hospital, como verificado em outro

    estudo publicado por Kato (2014). Este estudo avaliou a associao

    entre as estratgias de enfrentamento de 204 enfermeiros

    hospitalares para lidar com o estresse interpessoal com os pacientes

    e o estresse psicolgico em comparao com um grupo de

    vendedores. Os enfermeiros apresentaram maior angstia e

    sofrimento psquico do que o grupo controle composto pelos

    vendedores. A autora discorre sobre a importncia do coping

    construtivo na comunicao e relacionamento interpessoal

    enfermeiro-paciente. Essa estratgia de enfrentamento construtiva

    envolve esforos ativos para melhorar, manter ou sustentar um

    relacionamento por meio de uma comunicao eficaz, pois apesar

    da relao com os pacientes ser um fator potencial de estresse,

  • 69

    tambm visto como fator de satisfao no trabalho e pode reduzir

    o estresse dos enfermeiros.

    Em relao EVA, a fraca correlao entre LSS e EVA na

    primeira avaliao (0,33) pode ser explicada pelo desconhecimento

    da sintomatologia do estresse pela maioria dos profissionais. O

    mesmo ocorreu no estudo de Pafaro (2002), no qual obteve auto-

    avaliao sem estresse dos profissionais de Enfermagem que

    apresentavam sintomas de estresse.

    O sintoma mais frequente e que apareceu com maior

    intensidade foi o relacionado ao desgaste aps um dia de trabalho.

    Sempre haver desgaste psicolgico mesmo que o trabalho seja

    fsico ou manual (Hanzelmman, Passos, 2010). No caso das

    atividades do enfermeiro, o trabalho no apenas braal, mas

    envolve aspectos emocionais, mentais, gerenciais e que exigem o

    raciocnio clnico e crtico a todo instante. Dessa forma, o trabalho

    possui aspectos negativos que afetam tanto o corpo fsico quanto a

    mente do indivduo.

    Hanzelmman e Passos (2010) realizaram um estudo

    descritivo, qualitativo, a fim de identificar as representaes sobre os

    fatores desencadeadores do estresse ocupacional e sua influncia

    no trabalho, atribudos pelos profissionais de Enfermagem. Os

    fatores identificados pelos participantes do estudo foram

    relacionados s condies e organizao do trabalho e os mesmos

    interferem, respectivamente, no corpo e na mente dos indivduos.

    Quanto ao tratamento para o estresse dos enfermeiros,

    observou-se que o Grupo Auriculoterapia obteve melhores

    resultados desde a segunda avaliao, aps 8 sesses e manteve-

    se at o final do estudo. J o Grupo Placebo apresentou melhora

    somente a partir da terceira avaliao, aps 12 sesses.

    Outros estudos encontrados utilizaram os pontos Shen Men e

    Tronco Cerebral para reduo de estresse e ansiedade. Um deles,

    publicado em 2009, realizado com profissionais da equipe de

    Enfermagem em uma unidade de terapia intensiva de um hospital

  • 70

    privado na cidade de So Paulo, avaliou os nveis de estresse antes

    e aps tratamento com auriculoterapia. Os resultados mostraram

    que os sintomas apresentados foram: desgaste, dores nas costas,

    comer em excesso, cansao. Entre os profissionais, 85,4%

    apresentou melhora dos sintomas aps tratamento. As autoras

    concluram que a auriculoterapia pode contribuir para a diminuio

    de sinais e sintomas de estresse (Giaponesi, Leo, 2009).

    Como citado anteriormente, outro ensaio clnico realizado com

    profissionais de Enfermagem, utilizou os mesmos dois pontos,

    acrescidos do ponto Rim para diminuio do nvel de estresse,

    obtendo resultados favorveis (Kurebayashi et al., 2012).

    O Ponto Shen Men tambm foi utilizado no estudo de

    Kurebayashi (2013) para tratamento do estresse em profissionais de

    Enfermagem. A autora trabalhou com um grupo protocolo, com

    pontos pr-determinados, incluindo os Pontos Shen Men e Tronco

    Cerebral e um grupo sem protocolo, cujos pontos foram escolhidos

    de acordo com os diagnsticos da Medicina Tradicional Chinesa. Em

    ambos os grupos utilizou-se o Ponto Shen Men em 100% dos

    participantes.

    Apesar da dificuldade em estabelecer pontos sham para

    auriculoterapia, devido alta responsividade e inervao, a escolha

    dos pontos sham no presente estudo foi adequada. Os pontos

    Ouvido Externo e rea da Face apresentaram baixo efeito de

    tratamento (8%) para reduo do estresse entre os enfermeiros.

    Todos esses estudos obtiveram bons resultados para o

    tratamento do estresse ou da ansiedade utilizando como um dos

    pontos de tratamento o Ponto Shen Men, j descrito nos diferentes

    mapas auriculares como eficaz para o tratamento dessas desordens.

    7.1 LIMITAES DO ESTUDO

    A primeira limitao do estudo foi relacionada ao tempo para

    desenvolvimento da pesquisa, desde os problemas tcnicos para

  • 71

    submisso nos dois Comits de tica (EEUSP e Hospital) at a

    aprovao pelo hospital. Para atingir a am