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Juliana Veroneze Léo Tempo, movimento e o Intangível Poemas de quem tem vento na alma e voa Sumário Viver... ......................................................................................................... 7

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Juliana Veroneze Léo

Tempo, movimento e o Intangível

Poemas de quem tem vento na alma e voa

Sumário

Viver... ......................................................................................................... 7

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

A arquitetura da vida .................................................................................. 8

Gravitação ................................................................................................... 9

Parece o mesmo poço ................................................................................ 10

Partir na companhia de si mesmo ............................................................. 11

E acordo... .................................................................................................. 12

No findar da noite ...................................................................................... 13

Espelhos ..................................................................................................... 14

O colapso de uma estrela ........................................................................... 15

Ninar palavras, ........................................................................................... 16

Autenticidade ............................................................................................. 17

Os livros dizem coisas ............................................................................... 18

Ontem uma certeza .................................................................................... 19

A alma preenche-se de sentido ................................................................. 20

Na alçaria, .................................................................................................. 21

Vagar por aí ............................................................................................... 22

Um vazio na existência alheia ................................................................... 23

Não é factível permanecer parte do que se é ............................................ 24

Aforismo I ................................................................................................. 25

Aforismo II ................................................................................................ 26

Aforismo III............................................................................................... 27

A ignorância dá um sentido às palavras, .................................................. 28

Eu dancei Laban, Graham, Ballet, Tango... .............................................. 29

No ventre do tempo .................................................................................. 30

Benditos sejam teus braços ........................................................................ 31

Deixai que o tempo craquele o verniz ....................................................... 32

Dos revezes do tempo ............................................................................... 33

Não é a quantidade de tempo ................................................................... 34

Tiremos um instante ................................................................................. 35

Ausência constante, .................................................................................. 36

No silêncio, ................................................................................................ 37

Aqueles que nos matam aos poucos ......................................................... 38

Movimento ................................................................................................ 39

De uma intenção sem tensão, o experimentar. ........................................ 40

Um silêncio... O dançar .............................................................................. 41

Quero me enroscar em você ...................................................................... 42

O cair da noite ........................................................................................... 43

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Sua dança me irrita!!! ............................................................................... 44

Sem pedir .................................................................................................. 45

Pelo clarão da Lua de outrora, .................................................................. 46

Do distante e buliçoso olhar, .................................................................... 47

Você transbordante ser, ............................................................................ 48

Por vezes esse corpo não compreende ...................................................... 49

Festejar os anos de forma especial ........................................................... 50

O silêncio teu discorre sobre coisas ........................................................... 51

Compreendo com a essência do corpo ..................................................... 52

Momentos de tragédia .............................................................................. 53

Você é a poesia que grita ........................................................................... 54

Ouvir a música .......................................................................................... 55

Desejar corpos, .......................................................................................... 56

Acordei e avistei diante do espelho .......................................................... 57

A arte não está a serviço da vaidade, ........................................................ 58

Momento de parar de transbordar, .......................................................... 59

Há seres que conseguem estagnar o movimento dos elétrons ................. 60

O partir de um ente querido ...................................................................... 61

Teus olhos nos meus ................................................................................. 62

O necessário... E essencial ........................................................................ 63

Abraço, ...................................................................................................... 64

Um poema puro e constante ..................................................................... 65

E de tão livre, sumimos... .......................................................................... 66

Ter você impresso em mim!...................................................................... 67

A partilha da vida... ................................................................................... 68

Ele amava a mim mais que eu mesma ...................................................... 69

Diante de teu caos ..................................................................................... 70

Similitude de essência! .............................................................................. 71

Ela me despertava profundo interesse, .................................................... 72

A arte ......................................................................................................... 73

Há algo na vida que incomoda... ............................................................... 74

É no silêncio da madrugada ...................................................................... 75

Um Shakespeare sussurrado ao pé do ouvido .......................................... 76

Como quem pede socorro .......................................................................... 77

Olhos que tocam a alma ............................................................................ 78

Ao longe em meio à multidão, .................................................................. 79

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Quais os sentidos das cores que nascem dos olhos teus? ........................ 80

Creio eu nesse instante, ............................................................................ 81

Um doce e eterno outubro ........................................................................ 82

Um ser desperta ........................................................................................ 83

A lembrança de um doce outubro, ............................................................ 84

Em meados de dezembro surge, ............................................................... 85

O tempo preservou em um, ...................................................................... 86

Por vezes a Lua ausenta-se do céu ............................................................ 87

Quem houve a cotovia... Parte .................................................................. 88

Terá sido a cotovia que Shakespeare ........................................................ 89

Por tempos você contempla o pássaro ..................................................... 90

Bendita seja a Filosofia, ............................................................................. 91

Joguei-me na cama com a sensação de corpo adoecido .......................... 92

Saltar no abismo ....................................................................................... 93

Expulsos do inferno!!!............................................................................... 94

Não há limites para nada! ......................................................................... 95

Mergulho no profundo do "oceano", ........................................................ 96

Há tempos ................................................................................................. 97

E a cada nascer de noite, ........................................................................... 98

Eu já o sentia transbordar pelos meus poros, .......................................... 99

Independe do arquétipo protagonista, ................................................... 100

Uma profundidade, que faz a alma pulular ............................................. 101

EPIGRAMAS DA ALMA ......................................................................... 102

Dançar é rasgar os tecidos do corpo ....................................................... 103

Que os olhos ............................................................................................ 104

Dançar, .................................................................................................... 105

Todas as situações da vida ...................................................................... 106

A dança esmaece a dor da alma... ............................................................ 107

À distância, um corpo mobiliza o gesto .................................................. 108

Qualquer hora dessas .............................................................................. 109

As esquinas do meu corpo me convocam para dançar............................ 110

Quando a vida está repleta de poesia, ......................................................111

Não entender nada... ................................................................................ 112

O Belo da Alma......................................................................................... 113

Escrevo o que sinto .................................................................................. 114

Na vida há um repertório vasto de arquétipos ........................................ 115

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Parar de viver ........................................................................................... 116

Buscar... .................................................................................................... 117

Ceder às necessidades da moeda ............................................................. 118

É só não encalacrar a alma que a vida acontece... ................................... 119

De repente era um vazio de palavras, ..................................................... 120

Um abraço alcança a infinitude do Universo .......................................... 121

Diante do caos, a Arte .............................................................................. 122

Olhar para trás pelo desejo ...................................................................... 123

Sua fala me convida a olhar o universo do outro .................................... 124

O intangível .............................................................................................. 125

Pelas baixas torrentes .............................................................................. 126

Deita-te ò amada mulher sobre os meus braços ..................................... 127

O que a alma parece segura agora .......................................................... 128

Anda-te pequena criança pela estrada .................................................... 129

O intangível ............................................................................................. 130

Descobri que o caminho .......................................................................... 131

Da grandeza do BELO .............................................................................. 132

A nobre Valentina de Verneze ................................................................. 133

Uma silente e prolongada caminhada... .................................................. 134

O prosseguir na cronologia da vida... ...................................................... 135

O fulgor a contornar ................................................................................. 136

Há momentos que a vida ......................................................................... 137

Tão cedo já em prontidão, ...................................................................... 138

Eu vi o infinito dentro de mim................................................................. 139

E aqui ...................................................................................................... 140

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

A Vida é a matéria prima da poesia...

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Viver...

É ser tirada para dançar e simplesmente dizer sim!

Sair da inércia e mover-se na transitoriedade dos instantes

É ouvir a música que toca no interior do eu e entregar-se

Viver...

É um convite para conhecer a si mesmo, em uma inesquecível trajetória

É ter coragem e não se intimidar

É descer até o porão do inconsciente e libertar os demônios

Que lá estão oprimidos, enfrentá-los com bravura e aceitá-los

Para que amansem e convivam com nossas deidades no quintal do eu

É ter a certeza que a vida não pretende nos desgastar, mas nos preparar

É permanecer no tempo presente e se for para olhar para trás

Que seja apenas para prolongar um instante de beleza, nada mais

É criar-se como uma obra de arte e retocar-se quando necessário

É ir à cena como protagonista e não se esconder na coxia

Nem virar antagonista do próprio espetáculo

Viver,

É ter os olhos sempre a diante e mover-se rumo ao desconhecido.

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

A arquitetura da vida

É feita pela alma

O miúdo eu é que insiste

Interferir no projeto...

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Gravitação

Uma criança engolida por um camelo

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Parece o mesmo poço

o mesmo fundo

Num instante afundado

noutro ressignificado

Ora a dor toma você,

ora você se vale da dor

E sucumbe...

Na mais sublime manifestação

de vida que te é possível

Mutações da alma

no abrigo da ARTE...

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Partir na companhia de si mesmo

Na mala o essencial!

Pelos poros o transbordar

Da paixão pela vida

São asas, como as de Frida, que nascem

É a liberdade que arrebata

É a música interna que toca silenciosa

Enquanto o mundo insiste

Em uma verborragia inútil.

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

E acordo...

E fico tão eu...

Na famigerada rua da existência,

Basta permear a faixa

Para defrontar-me com a fraude

E seguir pelo vazio

Das possibilidades de mim mesma...

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

No findar da noite

Fecham-se as cortinas

Mais uma Julieta adormece

Acompanhada do vazio

Da platéia que se foi...

Pendurada no cabide

Do solitário camarim

Ou fragmentada vai-se

Na fantasia de cada espectador

que ali passou...

Na dúvida de estar inteira pendurada

Ou fragmentada na vida de cada um,

Recolhe-se em silencio.

Esvazia-se de tudo que é,

Deixa de ser...

E preenche-se do nada que resta.

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Espelhos

Hoje, resolvi arrumar a casa

Jogar fora tudo que não serve mais

A cada cômodo

Mentiras guardadas,

Valores sem valor,

Crenças descabidas,

Conceitos cheio de prenoções,

Críticas que não constroem,

Dedos em riste a julgar

Tentativas de ser feliz,

Regras e punições desnecessárias...

Diante de um enorme espelho

Uma mulher em pedaços, esvaziada...

O refletir de uma criança assustada e temerosa,

Sentada a beira da escada

Que levava ao velho e temido porão,

Ao me aproximar, percebi

A porta do porão aberta...

Aqui as palavras se calam

Morrem.... Encovam-se

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

O colapso de uma estrela

É como o colapso do ser

Em cada instante colapsado

Um buraco negro surge

E o que soa sombrio, vazio e morto

Nada mais é do que o nascimento

De um novo universo

E cá nesse instante

Uma ilusão tridimensional

Que angustia... aprisiona...

E noutros momentos

Realidades bidimensionais

Que pensamos ser do nosso ser

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Ninar palavras,

Acordar o silêncio,

Inquietar os pensamentos,

Revirar o corpo inteiro

Em incertezas,

Manter-se diante do onírico

Abismo que suga

Qualquer concreta ou

Objetiva opinião

Uma caótica confusão

Entre realidade e sonho.

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Autenticidade

Não sou uma fraude

Sou isso aí

Que oxida tuas entranhas

Isso que você pensa que sou

Não sou eu

Talvez seja o seu eu

Projetado em mim.

Não crie falsas expctativas

A meu respeito

Eu não tenho nenhuma mentira

Para te contar

Nem sou de inventar verdades,

Não faça de mim seu alicerce

Nem tão pouco construa um eu

Inesistente

As “coisas” da minha vida

Talvez não sejam tão belas,

Mas elas me aprazem

A tal ponto de me manterem viva...

Não pense que irá me modificar

Nem tão pouco me entristecer

Apontando meus erros e defeitos

Eu adoro e acho graça de todos eles.

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Os livros dizem coisas

Que as pessoas não contam...

E assim caminhemos...

Ao nosso modo pela vida

Como se ninguém estivesse olhando

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Ontem uma certeza

Certa e certeira

Hoje a única certeza

É que pisco!

Uma coisa pisco,

Outra coisa pisco,

Qualquer coisa pisco...

Entro silenciosamente

No mundo das palavras piscando

E encontro um pedacinho do eu

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

A alma preenche-se de sentido

Na continuidade do dia piscante,

Nos instantes que se próxima

Do que lhe é essencial

Recolhe mais um pedacinho do eu

Por entre os altos e baixos relevos

De Rodin e Camille...

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Na alçaria,

Só os que foram embalados

Em berços de egrégia educação

Expulsa-se as "górgonas"

E no quintal do castelo

Os demônios transitam livres...

Afoitos para estrafegarem

Os primatas bípedes

Que só murmuram

E vivem pela metade

Nos nichos da vida

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Vagar por aí

Em misantrópicas caminhadas,

Para que as luzes do castelo

Se apaguem

E os dípodes de mentira adormeçam,

Abrandar a alma que há tempos

Encontra-se embargada

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Um vazio na existência alheia

Açoda o taciturno eu

Que mudo

Coloca-se diante de sua exigüidade

E não concede a ninguém

Direito de penetrar

Nesse universo

De arengas mortas

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Não é factível permanecer parte do que se é

Não é factível permanecer parte do que se é, na visão e conceito dos

outros. O modo que você será composto terá sempre interferência das

experiências, vivências, valores... de quem te compõe em inúmeras

situações dessas convenções sociais, que está longe de ser "A VIDA".

São diretores do teatro da não existência, que delegam o seu

papel/personagem, muito distante de uma dramaturgia de

possibilidades.

Não é praticável, para quem vive as margens do rio, aprofundar-se.

É impossível silenciar, quando se está preenchido de banalidades, nessas

situações nem o próprio sujeito dá conta de ficar com si próprio, diz a

sabedoria oriental: "faz barulho porque está vazio". “Eis que são os

bípedes contaminados pelo achismo, no labirinto da desabitação de sua

essência”

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Aforismo I

“O eu é uma obra inacabada e cabe somente o dono do eu retocar-se e se

dar acabamento (se é que é possível)”

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Aforismo II

Tenho uma preguiça enorme desses animais bípedes, da ordem dos

primatas, que constroem seus frágeis edifícios, cujas bases estão

alicerçadas no que consomem. Asseguram-se pelo que têm e não pelo que

são.

Não há arte, poesia, sabedoria... nem profundidade alguma. São vidas

desguarnecidas com necessidades de provarem o tempo todo que

existem... Que são... quando na verdade não são nada, são almas

dissipadas que corroboram com o desequilíbrio da órbita. E sopesam os

acrômios, tornando-se fardos sociais, impossíveis de conviver. Cá fico eu

observando a espécie não dançante, inanimada e com a essência em

coma, mantendo-me presencialmente distante.

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Aforismo III

Há pessoas que por muitas vezes, se embrenharam pelos caminhos

estreitos da vida e se renderam ao doloroso processo de individuação,

fizeram escolhas, e não vestiram as convenções sociais. Pessoas que "são"

e não brincam de ser, passam pelos percalços da vida sorrindo, pois o

lamento não ajudará em nada, não terceirizam, culpando sempre o outro

por questões que não lhe cabem, enfrentam a própria mediocridade e

nunca impõem o desejo de seu ego onde a demanda é coletiva. Essas

pessoas estão em movimento constante... Pulsam a vida...

Os demais estão sempre em busca de um culpado, troam o universo,

violam a imanência, invadem o espaço alheio, querem protagonizar a

cena do outro na esperança de legitimar a miserável existência.

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

A ignorância dá um sentido às palavras,

Calar e deixar o diálogo virar um monólogo

Não se violar em ouvir barbáries

Subir o volume da música que toca

Internamente enquanto o outro vocifera

Sorrir e observar o inflamado perdido em razões

Incertas e desconhecidas

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Eu dancei Laban, Graham, Ballet, Tango...

Eu dancei Laban, Graham, Ballet, Tango... Chorei diante das mulheres de

Picasso

Conheci e estudei grandes gênios das artes, li Pessoa, Shakespeare,

Boudalaire, Nietzsche... Estive na Grécia com Aristófanes e mundo a fora

dentro de uma caixinha preta mágica ... Apreciei Franz Kafka por corpos

em movimento, pintei muitas obras boas e ruins, me diverti!

Peguei todas as coisas da minha casa e doei, sentei-me debaixo do

viaduto e almocei com aqueles que não tinham o que comer...

Fiquei no acampamento dos sem terra e brincamos uma ciranda. Por

incontáveis vezes estive presente nos encontros para mudar o mundo.

Fiquei muito no cantinho do pensamento, que para os outros era castigo,

para mim, a oportunidade de criar grandes coisas... Fui expulsa do colégio!

Vivi grandes paixões e as abandonei quando não faziam mais sentido, deixei

que tocassem todas as minhas vértebras estateladas no chão do improviso.

Fiz poucos, mas eternos amigos que não permitiram que o tempo nem a

distância embolorasse a essência. Abandonei um grande emprego, um bom

salário, um “amor” e voltei para o teatro. Já fiquei sem dinheiro pra entrar

no metrô, já perdi o último ônibus e dormi na rua... Já recusei um suborno e

disse não ao alto valor que queriam pagar pela minha LIBERDADE.

Já fiquei muito triste e disse tchau pra vida, tomei um AS infantil e fui

dormir.

Arrumei a mala e parti várias vezes... Abandonei-me, resgatei-me e não

desisti de mim mesma. Rezei, Jejuei, meditei... E a certeza de que sempre

tudo vai dar certo.

Enfim, abri a porta e disse SIM para a VIDA!!!

Então hoje, amanhã e para sempre...

Permaneço fiel as mutações e inconstâncias do meu eu.

Minha vocação É SER FELIZ!

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

No ventre do tempo

Um leão engole um camelo...

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Benditos sejam teus braços

Que confortaram minhas angústias;

Bendito seja teu colo

Que ninou meu ser perdido de mim mesma

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Deixai que o tempo craquele o verniz

Desta efêmera obra criada

Na matéria primal

Está contida a essência de Ser.

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Dos revezes do tempo

Os cacos de mim

Das mentiras que vivi,

Dos personagens que construí

Do Tempo que morri

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Não é a quantidade de tempo

Que possibilita conhecer,

Mas a intensidade

Que os instantes são vividos

Tudo não é sempre como é,

Mas as coisas acontecem

Em um constante movimento de vida

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Tiremos um instante

Inútil e necessário

Para passarmos juntos

A inexistência desse Tempo...

Eu, você... e o movimento

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Ausência constante,

Respeito

Sem compreensão

O tempo move

O estar perto

Para a lembrança

E varre as lembranças

Para o esquecimento.

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

No silêncio,

A alma encontra conforto

Observa atentamente a verborragia

Daqueles que dizem saber tudo

O tempo, companheiro de outrora,

Encarrega-se de espatifar as máscaras

Do conhecimento vil

Pensei mergulhar em rio a ouro nu,

Enganei-me, o garimpo se faz necessário!

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Aqueles que nos matam aos poucos

Tem na ponta da espada o esquecimento

E de tanto morrermos

Nada parece restar

Nasce o silêncio, a pausa,

Enquanto o tempo se move

O ventre da alma gesta o vazio

E um dia,

Ainda que haja vida

Inumação!

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Movimento

Um leão gesta uma criança

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

De uma intenção sem tensão, o experimentar.

A entrega desnudou as verdades que

O pequeno eu escondeu por entre as juntas

Diante dos sábios olhos e repousado em suas mãos

Estava um corpo que eu acreditava ser tão meu,

Mas ele o conhecia mais do que eu

E a cada desenrolar as inverdades caiam

E pareciam escorrer por entre seus dedos,

Que firme, segurava somente o essencial...

Nesse instante na alma e pelos poros,

Escorrem lágrimas,

O som do silêncio,

O silêncio das palavras

E as palavras mortas no gesto estático.

O vazio, o nada... A Dança!

(primeiro contato com Feldenkrais, pelo pensar de Gilles Deleuze)

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Um silêncio... O dançar

E nessa silenciosa fala necessária,

O gesto nasce e permite que

As palavras descansem

E tudo que há para ser dito

Brota da essência e resvala

Pelas extremidades do corpo mudo.

(Sensações sobre Pina Baush)

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Quero me enroscar em você

Até que invadas minhas entranhas,

Transborde pelos poros,

Resvale pelas fibras da alma

E me dissolva em nada para ficar em tudo

Que vibra

Que pulsa

Que move

Que quer...

43

Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

O cair da noite

Escureceu os dourados fios

Que agraciavam aquela dança...

E por instantes tristes

O silêncio

Não há mais nada a ser feito

Ou dito neste momento

44

Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Sua dança me irrita!!!

Ela dilata meu tempo

Desorganiza meu espaço

Adormece minha razão

Desperta meu desejo

Acorda minhas vértebras

Descentraliza meu eixo

Liberta minh'alma...

Mobiliza minha fuga,

Despe-me de tudo...

E pelo silêncio

Dos seus olhos nos meus,

Eu me entrego...

45

Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Sem pedir

Você se apropria dos meus maléolos

Acomoda minhas 33 vértebras nas suas,

Toca as fundidas e ainda movimenta

As minhas imóveis conjuntivas,

E assim o gesto é concebido,

Como se nada mais restasse no mundo

Que não a nossa dança.

Sem o menor domínio do meu eu...

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Pelo clarão da Lua de outrora,

Ficou o pássaro na esquina de açúcar

Enquanto um ser introspectivo e desnudo

tomava distância para discorrer

Por entre as linhas Do Espírito Absoluto.

Diante da lacuna crescente

O silêncio deixou na memória das asas

O balançar das árvores...

Evoé! Evoé! Evoé!

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Do distante e buliçoso olhar,

Moveu-se num grande decolar da alma

Por entre arvoredos dançantes ao vento

Despiu-se das penas.

E pousou em ninho tórrido

Aquietando-se por instantes

Com um delicado sorriso lascivo

Num álveo de desejo lúbrico

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Você transbordante ser,

Diletante alma que sacia,

Dicotômico movimento de vida.

Inebria o entorno de desejos e vontades

E num piscar de olhos parte,

E deixa a essência exalar

Como perfume

No limiar do ser...

49

Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Por vezes esse corpo não compreende

Sua própria composição

E necessita ir além

Transgride essa ilusão tridimensional

E repousa em movimento

Em uma realidade bidimensional.

Apropriar-se do corpo do outro

Para dançar com vossas almas.

E "nietzschianamente"

Suportar as convenções

Com o espírito da dança

E não de gravidade!

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Festejar os anos de forma especial

Tu, que há tempos desejei a distância,

Em nosso primeiro encontro

Aconchegaste-me em teu colo

Assustei-me com vossa imensidão

Esteve presente nos melhores momentos da vida minha

Posso lhe assegurar: foi amor à primeira vista

Não prometo ficar para sempre, pois

Me desperta constantemente o desejo de alçar vôos,

Mas juro lhe amor eterno.

Foi por você que uma noite inquietante,

Onde a saudade rasgava minha razão

Arrumei a mala com o que me era essencial (1 sapatilha, escova de dente e

um livro do Fernando Pessoa) e parti.

E hoje és tu que abrigas meus sonhos, minha obra,

Minha poesia em dança, meu eu...

Num passar descuidado e distraído,

Deuses dançando me param os gestos,

Silenciam minhas palavras, despertam meu desejo.

Não poderia ter encontrado melhor momento e lugar

Para cantar-te em silêncio

Prolfaças...

(À dança)

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

O silêncio teu discorre sobre coisas

Que o corpo anseia tocar

Um gesto improvisado pela alma

Abranda as angústias do momento,

Ora as minhas ora as tuas

Desejo de comer, devorar, fruir... dissolver

Fusão do meu eu com o teu eu

Nos esquecemos, nos abandonamos,

Para necessariamente nos encontrarmos

Teus tormentos guardados na memória da célula

Deslizam pelas vértebras

Para nascer aquilo que não sabemos o que é

(Uma dança a dois)

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Compreendo com a essência do corpo

Alguns desses conceitos

Mas hoje é impossível verbalizar

Você compreende se eu dançasse algumas respostas?

53

Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Momentos de tragédia

Para uma tão iniciante razão concluir sozinha...

A Essência faz sentido

Escreveremos em gestos nossas questões...

54

Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Você é a poesia que grita

Silenciosamente,

Na escuta do outro

Em constante prontidão

Palavras mudas

Resvalam na alma

De um corpo que preserva

Uma eterna dança

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Ouvir a música

Permitir o movimento

Assenhorar o corpo,

E reconhecer

Que sem arte,

Somos todos

Mentira...

56

Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Desejar corpos,

Deslizar as mãos pelos contornos

Sentir o movimento nas vísceras

Um monólogo da alma...

E pelas paredes

Cada parte do eu recosta-se

E denota em gestos

Histórias mudas

Na sala dos espelhos diante de si mesmo

O eu misturado nos ângulos

Dos muitos eus que morrem e renascem

Corpos sobre corpos

O tempo dilata, os olhos cerram-se

E as mãos sutilmente tocam

A matéria imaginária

Da completude do seu ser

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Acordei e avistei diante do espelho

Um olhar tristonho de uma alma aprisionada,

Em um corpo dissonante

Que por audíveis palavras se abandonou.

Na busca de compreender o que havia,

Silenciosamente a essência inundou o corpo

E sutilmente em gestos revelou

A necessidade de uma dança estaticamente abandonada...

As convenções não me convencem a entrar no contexto.

58

Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

A arte não está a serviço da vaidade,

Mas da “Essência”...

O gesto toca a “Forma do mundo inteligível”,

Impossível colocar palavras.

Tudo inútil para esse mundo tão utilitário

Nada importa,

Todo esse inútil

É necessário e essencial

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Momento de parar de transbordar,

Emborcar o eu até o nada...

Depois?

Desvira ou assim permanece

De qualquer forma

O movimento dos átomos continuam

Os elétrons entrelaçados no que é essencial.

E que cheguem juntas,

A loucura e o repouso da vida!

Eis que vem cá mais um outono

Enquanto do outro lado, de onde não vim,

mas de onde sou, o florescer das cerejeiras...

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Há seres que conseguem estagnar o movimento dos elétrons

Há seres que conseguem estagnar o movimento dos elétrons, aniquilar a

potência do átomo, cortar o entrelaçamento quântico... Resumindo

brocham a VIDA! São seres que rastejam pela miséria de suas existências.

Causam ânsia e náuseas! O que é potência retorna, o que é banal deixa de

existir...

61

Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

O partir de um ente querido

Aperta a alma

Dancemos a dor...

Da morte nascem gestos

Enquanto as lembranças

Vertem pelos olhos

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Teus olhos nos meus

E um silêncio

Seguido de um sempre

Sorriso e abraço

Duas pessoas que se compreendem

Mas nem sempre encontram possibilidades

De verbalizar o que sentem

Na sincronicidade da vida,

O pensamento voa...

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

O necessário... E essencial

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Abraço,

Encontro entre dois corpos

Momento onde os eus se dissolvem

E um prolonga a existência do outro

Na latência das possibilidades de ser Um só

Para experienciarem a infinitude do Universo

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Um poema puro e constante

Que a vida traz para perto

Ensinamento silencioso

E olhar cheio de vida

Assim são os amigos...

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

E de tão livre, sumimos...

Nunca um do outro

Mas um no outro...

Você impresso em mim

Transborda pelos poros

Acorda meu arrimo vertebral

E o "esverdeante" olhar

Cala a palavra

Para gritar o riso.

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Ter você impresso em mim!

Alma soberana da orbe!

É desadormecer meu esteio vertebral,

E viver um desvairo de instante

Que vale por si só...

Minha fulcral substância,

Meu intrépido eu...

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

A partilha da vida...

Nesse poético e verdadeiro dueto

Um refletir de imagem luminosa

Onde a direção permanece definida,

Sem absorver sem espalhar...

Nós, "speculum" de nós próprias.

Em duelo constante

Com tudo que é externo,

Senhoras... Senhoras...Senhoras!

Ah! quantos escravos ressentidos

Jaz nas pontas dessas sorridentes espadas...

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Ele amava a mim mais que eu mesma

E assim a árdua e difícil tarefa

Que cabia somente a mim

Estava na mão do outro,

Com o tempo, sentei na platéia

De minha própria vida

Que parecia já não mais me pertencer

Alguém estranho protagonizava

O papel que fora escrito para mim.

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Diante de teu caos

Dar-te – ei quatro coisas:

A profundeza do olhar

O aconchego de um silêncio

A alegria do sorriso,

A eternidade de um abraço

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Similitude de essência!

Nosso ser foi composto por metade dos átomos

Que se bipartiram propositalmente

E se emprestaram para que acontecêssemos

Nós somos a alegria de um átomo dividido.

(Dividido com inteireza e totalidade).

Sua ausência já canta pelos meus dias, feito a cotovia.

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Ela me despertava profundo interesse,

Era a única que não falava de si própria

No meio daqueles humanos verborrágicos

Doentes por existência.

Em silêncio ela ouvia atentamente

Histórias vazias.

Dentre todos, era a mais bela,

Pois era a única que mantinha a todo instante

A plenitude do seu ser,

Os que mais próximos estavam

Não podiam enxergá-la

Pois desconstruíam-se

À medida que tentavam se firmar,

Perdendo-se em palavras e

Lampanas inventadas.

73

Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

A arte

Coloca-nos em um impenetrável universo

Onde o tempo é suspenso... Dilatado...

E as angústias são alento da criação.

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Há algo na vida que incomoda...

Inquieta... angustia...dói...

Há algo na arte

Que dá conta de tudo isso

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

É no silêncio da madrugada

Que sussurra uma voz,

Num ato intenso de amor

A obra grita por vida

Enquanto a vida morre sem obra

E sem querer entender

A entrega ao caminho

Sem rumo certo

De onde se vai parar...

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Um Shakespeare sussurrado ao pé do ouvido

Faz o ser transbordar, e pelos dourados fios

Livres por entre seus dedos resvalava um eu

Que só se entrega ao essencial

Pelo desejo de estar sempre inteira

Assim, descolam-se os selos sociais...

Derruba-se os infindáveis modelos

E incabíveis pré conceitos

Para simplesmente vivermos o Instante

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Como quem pede socorro

Pediu-me que o amasse

Parecia-me estranho o pedido

Uma vez que nem ele amava a si próprio.

E olhando-o firmemente nos olhos

Como num gesto de lamento

Em silêncio parti...

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Olhos que tocam a alma

Invisíveis muralhas deslocadas

Adentradas sem pedido de licença

E rubra desconserta-se... Sorri...

E se refaz

Poucos são os que penetram

Nesse universo

Morada do mistério

79

Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Ao longe em meio à multidão,

Por sobre a faixa avistei você...

Eu indo e você vindo,

E novamente um desencontro

Olhares se buscaram e dialogaram desejos

E continuamos, cada um para onde precisava ir

Mas, inevitavelmente olhamos para trás...

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Quais os sentidos das cores que nascem dos olhos teus?

Possibilidades para imaginar!

A plenitude da Arte fascina...

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Creio eu nesse instante,

Ser a tormenta de seu dilúculo.

Perdido na concupiscência

Insiste em desadormecer

O que jaz no canto do mundo

Não olvides meu caro,

Que “é nessa hora que a cotovia canta.”

(Uma forma poética de dizer “Eu não volto mais”)

82

Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Um doce e eterno outubro

Da alegria de um sorriso cantado,

Fez-se o instante de agora...

Nessa noite a Lua repousa em colo quieto

Como outrora em um "doce e eterno outubro"...

Nessa madrugada o som de outubro

Meu silêncio ei de quebrá-lo

por certo no nascer do dia

Com nenhum não...

83

Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Um ser desperta

Um sorriso sorrateiro,

Um corpo que baila levanta,

A agenda cheia é fechada

A razão é guardada

Em uma página qualquer

Como papel importante

Que não se pode perder,

Mas naquele momento

Não tem onde colocar...

E sai para viver, feito criança

Que vai brincar na rua.

Na licença poética de um doce outubro

O estado de alegria invade tudo,

Pela poesia que está por vir...

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

A lembrança de um doce outubro,

Momento perene

Onde não houve pretensão de posse...

De nada que não fosse a poesia da vida.

E assim a lembrança torna eterno

O que não houve dia para iniciar,

Mas data certa para findar.

85

Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Em meados de dezembro surge,

Cujos lumes pareciam brilhar

Mais que a lua.

A eternização dos instantes

Acontecem pela intensidade

Que a poesia é vivida...

Nada mais, do contrário

A memória se esquece

De tudo que foi soez.

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

O tempo preservou em um,

A essência do outro,

Que não se lembrava

Quem era

Tem MAGIA...

Tem CORAGEM...

Tem GENTILEZA...

Tem POESIA...

Então tem VIDA!

87

Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Por vezes a Lua ausenta-se do céu

E desce para sussurrar

Em colo quieto e abraço calmo

Memórias de um outubro...

88

Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Quem houve a cotovia... Parte

Queria mesmo que por instantes

Pensar que estava a sonhar...

Ao longe eu ouvia os dissonantes agudos

E as separadas frases melódicas que

Vagarosamente se aproximava pela madrugada

Não tive dúvida,

Era sim o Anjo da primavera no alto dos céus

Que me convidava com seu canto a dançar...

Sem titubear, entreguei-me...

89

Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Terá sido a cotovia que Shakespeare

Terá sido a cotovia que Shakespeare colocou a cantar na madrugada de

Julieta e Romeu?

Ou será que foi a linda Cosette em Lês Miserables que Victor Hugo

transformou em cotovia?

"Tu que nunca foste pássaro"' na ode de Shelley,

Ou do teu cantar das eternas e mesmas cinco notas como descreveu Jane

Jonhnson,

Estarás tu na casa de bonecas de Ibsen e atendes quando Helmer chama

por Nora?

Ou será você tão dócil e amiga que passeia entre os franciscanos?

És tu simplesmente cotovia...

Que nunca estás nas chegadas, mas sempre chegas nas partidas.

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Por tempos você contempla o pássaro

Que livre - voa, que alegre - canta

Dos grandes vôos,

Um dia pousa em teus braços

E você se faz gaiola

Oh, humano!

Por que apequenas tanto a vida?

Os instantes não param, não esperam,

Não concedem segunda chance.

Cronos continua a comer os seus!

Quando não os engole

Irado, com goivas em punho

Talha a face com duras linhas de tristeza

Em outras alisa com estecas

Alegres linhas da vida...

E pelos poros a questão

"Da pobreza do riquíssimo":

“Queres ser amada?

Tens que ficar mais pobre!

O mundo gosta de gente que sofre.

Parece que engoliu ouro!

Um dia menina, hão de querer

Cortar sua barriga também!"

(Poema de Nietzsche- citar)

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Bendita seja a Filosofia,

Que escolhe e acolhe

os que exaustos ficaram

De rastejar na miséria de ser

Bendita seja a Arte

que ergue as ruínas da existência

apara as arestas dos que disseram

Sim à vida.

Bendito sejam os corajosos

que escolhidos, não titubearam diante do caos

e a duras braçadas travaram duelos

Cuspidos pela arrebentação,

Incertos do que encontrariam nas profundezas.

Bendito seja esse eu que adormece

e deixa de existir, para ver o outro desnudo...

Sem selos, sem rótulos, sem estigmas.

Bendito seja o sensato, que diante

da exacerbação do ego alheio afundado na ignorância,

sorri... silencia...e parte..

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Joguei-me na cama com a sensação de corpo adoecido

Joguei-me na cama com a sensação de corpo adoecido, porém,

percebi que era a alma que estava enferma...

O diagnóstico?

Desequilíbrio no Yin do fígado por insuficiência de poesia.

O que fazer?

Ler Shakespeare, aquietar e repousar a alma

Posteriormente:

Ler Nietzsche e Dançar!

Afastar-se por um período da "Crítica da Razão Pura" de Kant

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Saltar no abismo

Transbordar

E na tempestade...

Momentos de ficarmos quietos

E mesmo assim continuarmos vivos

(De Nietzsche a Sêneca)

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Expulsos do inferno!!!

O Sorriso... A Alegria... Eu.

Nada tem importância se não A VIDA!!!

No jardim de Epicuro aprende-se a criar "Desvios".

Assim, Ataraxia.

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Não há limites para nada!

Tudo se pode quando se quer!!!

Você sabe no seu íntimo

Onde é o lugar certo do instante

E saberá fazer o que tem que ser feito.

Encorajar o vôo...

“não cultivar lagartas e sim borboletas”

Um dia na solitária trajetória da imaginação,

Encontra-se pessoas que também desconhecem "limites"

Diante do QUERER, não se para!

O acreditar traz a certeza do factível...

Mesmo que pareça impossível!

Arrogância? Prepotência?

Isso se chama CORAGEM!

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Mergulho no profundo do "oceano",

Vôo no abismo,

Coragem de se jogar no caos, emborcar a vida...

Sorrir na escuta de um não

E transformá-lo em sim diante do querer

Tratar com sabedoria e desdém

"As consequências"

E como se nada tivesse acontecido

Ajeitar a roupa, os cabelos, olhar a Lua,

Evocar Zaratustra e dizer "SIM" e "OUTRA VEZ"...

Mesmo que de nós só restem os cacos.

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Há tempos

Havia uma autocensura,

Da essência livre de outrora,

Pelas frágeis bases apolíneas

E tomada por um vazio cheio

E uma solidão populosa

Eu me movia sem ar.

Esbarrava em você

Em rápidos momentos

Onde meu olhar corria curioso

Eu era tomada por uma espécie de paixão,

Que ainda pequena

Não me era possível compreender,

Eu me encontrava diante de você.

E a cada piscar uma nova Aurora nascia,

Convidando a loucura encenar

Esses instantes velados de um ser dormente

Que por hora podia viver.

Pelos poros, o desejo incontrolável

De tocar-te, devorar-te...

(ao Nietzsche)

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

E a cada nascer de noite,

Repouso contigo em meus braços

E ouço você sussurrar a vida

Pelas minhas orelhas...

Se Dionísio é o labirinto de Ariadne,

Você é e serás eternamente o meu

No paux de deaux de um

Belo ballet despudorado,

Sucumbirei com o teu ser...

(Ao Nietzsche)

99

Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Eu já o sentia transbordar pelos meus poros,

Agora, parece -me possível tocar -te a alma.

LENDO Nietzsche

100

Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Independe do arquétipo protagonista,

Há sempre um dorso dionisíaco

Que acorda na calada do dilúculo.

101

Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Uma profundidade, que faz a alma pulular

Guardemos neste instante a cartesiana "Paixão da Alma"

E caminhemos para beira do abismo

Em um delicioso vôo nietzschiano...

Para transbordar e sucumbir

102

Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

EPIGRAMAS DA ALMA

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Dançar é rasgar os tecidos do corpo

Para tecer a vida

Com as fibras da alma...

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Que os olhos

Não se impressionem

E ousem

Ir além

E que o viver

Tenha a leveza da dança

E não o peso da gravidade

Eu serei sempre

O que teus olhos alcançam

E teu corpo sente...

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Dançar,

É sorrir diante da dor!!!

Quem tem vento na alma tem desejo de voar!

Não me enquadro,

não me encaixo,

não me acho...

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Todas as situações da vida

é uma dança de instantes e verdades

As verdades da vida Dançam!!!

Não se perca de si...

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

A dança esmaece a dor da alma...

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

À distância, um corpo mobiliza o gesto

Um convite para contemplar a dança

Escutar e olhar o centro de si mesmo

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Qualquer hora dessas

Quem sabe eu saiba

Para onde ir...

Enquanto isso

Eu vou

A lugar algum...

Mas preencho de sentido

Onde quer que eu passe

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

As esquinas do meu corpo me convocam para dançar

Há pedaços de mim em cada canto do mundo...

E em cada cantinho estes pedaços me tornam inteira...

Há algo que vale a pena amar... E algo que vale a pena esquecer...

É difícil abrir as asas, quando se passou a vida inteira preso...

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Quando a vida está repleta de poesia,

A tristeza tem outra conotação.

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Não entender nada...

Mas,

Permanecer no absoluto de si...

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

O Belo da Alma

Uma silente e prolongada caminhada...

Bailar...

Uma quietude do ser à gratidão das dádivas...

Lagrimar diante da imensidão de Tudo.

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Escrevo o que sinto

Penso, sou ou estou,

Isso não quer dizer

Que será assim sempre,

Posso modificar, melhorar ou piorar,

Entregue às mutações constantes

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Na vida há um repertório vasto de arquétipos

nunca se sabe qual deles vai despertar a cada momento

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Parar de viver

Inventadas verdades

Que não são suas

E criar as suas

Desindustrializar -se

Retornar para o lugar

Onde a vida nasceu

No prelúdio de si mesmo

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Buscar...

O imperfeito no perfeito

E o perfeito no imperfeito

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Ceder às necessidades da moeda

ou

Acalentar as angústias da alma?

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

É só não encalacrar a alma que a vida acontece...

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

De repente era um vazio de palavras,

Que não me parecia um silêncio...

Necessidade de um pouco de silêncio do outro em mim

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Um abraço alcança a infinitude do Universo

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Diante do caos, a Arte

Para tirar das entranhas

O que dói!

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Olhar para trás pelo desejo

De prolongar um instante de beleza

Que passa e arrebata a alma

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Sua fala me convida a olhar o universo do outro

E eu te convido a olhar o universo do si mesmo

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O intangível

Apenas uma criança...

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Pelas baixas torrentes

Eu deitava-me às margens do carvalho

Intrépido movimento

A vaguear sob a pele fria

Nebulosos rochedos gritavam

Eis-me aqui tomada de ti

No sussurro sombrio de teu silêncio

À espera...

Empresta-te ò musa dadivosa

A sutil singeleza da vida

Chego agora em nau flutuante

Onde o cais parece-me alento

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Deita-te ò amada mulher sobre os meus braços

E descansa teus infortúnios

Eis-me aqui como outrora

Escorregando pelas entranhas tuas

Repousa, aquieta-Te

Empresta-te ó intempestuosa mulher

Escuta aos altos

Eis-me aqui

Aquieta-te a alma onde abrigas

Morada tua nesse instante de outrora

Entrega-te a mim

Em abandono seguro

Estarás incólume

Não penses, não ouse compreender

Sinta!

As palavras não conseguirão explicar

Dar-vos ei

Entrega-te seguramente

Aqui me encontro

Acalma-te... não interfira.

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

O que a alma parece segura agora

A lua repousa quieta a olhar-vos

Não fujas

Empresta-te, concedas

Eu sou o que habita no mais profundo de ti

Silencie a mente

Respira... Mais fundo no profundo de ti mesmo

Senta-te no subir da Lua

Tua fuga são grunidos

Aquieta-te os teus

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Anda-te pequena criança pela estrada

Acalma o coração em chamas

Irradias o amor que em teu peito flama

Não te poupes

Na morada da lareira

Encontrarás abrigo

Refugia-te

Pelos que estão a vossa espera

Escutai-vos

Em silencio ouça-te

Trabalhai na seara

Ceifar o que de necessário há de ser

Retorne à vossa casa

Aqueça-te

Não transponha a nada que te pareça estranho

Gratidão à tua fonte

Nada mais a de ser feito por agora

É hora de aquietar-vos e ouvir

Ampara-te dos teus

Que pouco a pouco

Mostram-te o caminho

E segue sem questionar

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O intangível

Diante do sibilar de Teu silêncio

O pequeno eu

Recosta na Tua grandeza

Nesse fragmento de mim

Somente o desejo de ser guardada,

Tocar o intangível e retornar

Às brumas de onde vim...

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Descobri que o caminho

Do lugar que procuro

É feito de silêncio e vazio.

Retornar e aquietar

Enquanto não conseguir

Permanecer no silêncio do Eu

Não poderás ir a lugar algum.

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Da grandeza do BELO

Acessa-ME

Inócua solidão

Pelas esferas infindáveis

Move-se o corpo alegre

Arrisca-te pelos passos

Mova-se!

Não há nada de desconhecido

Nos mistérios

Está nas lembranças

Da memória da alma tua

(Inverno - 2016)

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A nobre Valentina de Verneze

É trazida ao reino pelas musas

A majestosa mulher perdida

Entre a miséria moral do mundo

Conservava o nobiliário prumo

Cravejado com 33 diamantes.

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Uma silente e prolongada caminhada...

Um bailar...

Uma quietude do ser

À gratidão das dádivas...

Sentar e lagrimar

Diante da imensidão de Tudo

E ir um pouco além de si mesmo...

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

O prosseguir na cronologia da vida...

Nesse instante parece uma insanidade

Continuar em bases construídas

Nas inverdades das crenças

A metempsicose para punir e descolar-nos da vida?

Não! Assim? Não!

O seguir da própria natureza, e o tempo presente

Se há fim, início, retorno...

Tudo entra nas certezas incertas de cada ser

E assim, o leme fica em punho próprio,

Nada mais se terceiriza

Decidimos então, se a caminhada será no proscênio

Diante das ribaltas

Ou se nos arrastaremos na miséria pelas coxias

Na autonomia de Ser... Viver!

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

O fulgor a contornar

O escuro da madrugada,

Para o nascer do dia,

Uma incidência de luz,

Tal qual uma obra de Rembrandt...

Sim! Esse é o espetáculo da vida

Que noite foi essa...?

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Há momentos que a vida

Aconchega no colo e sussurra:

"Aquieta-te coração inquieto,

O que era necessário você já fez,

“Agora é minha vez”

E canta cantiga de ninar

A magia do sagrado

Entrelaça essência

E o indivíduo dilui-se, expande

O tudo no todo e todo no tudo...

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Tão cedo já em prontidão,

Nesse descuido de tempo

O corpo aspira repouso

Cansaço? Não!

Só uma vontade imensa

De ficar com a essência e divagar

Na quietude da alma...

Um ente, o silêncio,

E inúmeras possibilidades

De Existir

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Revista Pandora Brasil – Nº 79 – fevereiro de 2017 “Tempo... Movimento... E o intangível” Poemas de quem tem vento na alma e voa... Juliana Veroneze Léo

Eu vi o infinito dentro de mim

O Universo me habita e se faz vida!

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E aqui

O eu granula...

Dissolve-se ...

Para prolongar a existência de tudo que tem vida...

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