Julio Plaza Entrevista

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Entrevista do artista Julio Plaza

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  • ENTREVISTA (PROJETO SELMA, 2002)

    Pergunta: Como foi sua carreira de artista ligado s novas

    tecnologias?

    Prof. Dr. Jlio Plaza: Eu venho dos anos 50, das artes

    plsticas, e nos anos 60 foi o ano que eu nasci

    publicamente como artista com as exposies... e essa

    questo da tecnologia, da ciberntica uma coisa que

    comea a pipocar nos anos 50, quando a questo do

    computador, depois aquela mquina hipergrande mas

    superpoderosa, a ENIAC, comea a eclodir os processos

    tecnolgicos. Praticamente na dcada de sessenta com

    plotters. Em 68, por a, expoente que me interessavam,

    falando do ano de 66, 67, 68 cheguei ao Brasil em 67 expus

    na Bienal desse ano e j tinha interesse pr essa rea

    tecnolgica mas no tinha equipamento na medida que tem

    hoje, como hoje est to democratizado, voc vai numa loja

    compra uma tinta, ...l no existia nada disso, era tudo

    pura especulao mental. Me interessei por essa rea desde

    por a, experincias permutatrias, combinatrias, a fase

    mais elementar. Nos anos 90 o computador explode para o

    mundo... ela tem uma atualidade desde 90 mas vem desde 60.

    Pergunta: Voc acha que o artista que se encaminha pra essa

    rea tem um perfil diferente dos outros ou no?

    Prof. Dr. Jlio Plaza: Ele tem que ter um perfil diferente

    sim, ele tem que ter um perfil que equilibra o artstico

    com o racional, seno ele vai... no qualquer um que se

    enfrenta com uma mquina. No meu caso, sempre tive uma

    queda muito grande para a arte construtivista, arte

    geomtrica, um princpio de racionalidade com harmonia um

    princpio da espontaneidade, no ?... um artista, pr

    exemplo, como Apolinari no campo experimental da

    fotografia, dos moduladores de luz, uma arte encaminhada

    para essa questo tecnolgica. Apolinari que, em 1922,

    faz os primeiros quadros pelo telefone, conforme aquele

    esquema milimetrado de batalha naval... Ele estava

    inaugurando o que a gente chama hoje de arte interativa,

    ento, os artistas que se ligam, que nos ligamos a essa

    tecnologia, nossa origem uma arte construtivista meio

  • classicista, uma arte geomtrica, uma arte de cunho

    racional. Em termos de Brasil, quem faz a ligao, a ponte

    com esse universo tecnolgico a poesia concreta, por

    exemplo, j se colocam a questo de lngua e poesia, a

    questo visual, no campo da tipologia e tipografia... uma

    tecnologia industrial, inicia pra l de 1964, eu diria que

    h uma linha de atuao sim.

    Pergunta: Voc acha que a produo brasileira

    significativa na arte tecnolgica?

    Prof. Dr. Jlio Plaza: Olha, aqui h muito pouco pela

    prpria condio do pas tambm, s agora que a coisa,

    depois da famigerada lei da informtica, s agora que est

    pintando material, equipamentos atuais como nesses pases,

    Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos, Frana... o Brasil

    est em condies de trabalhar isso de uma forma mais

    completa, mais qualitativa, mas at agora no, at agora s

    havia especulao, especulao terica, mas devido tambm

    ao parque tecnolgico existente. Um pouco por a.

    Pergunta: O que eu tenho notado tambm, que as

    experincias mais interessantes acabam sendo na

    publicidade, na indstria cultural... Ser que vai haver

    tempo de se constituir um campo artstico?

    Prof. Dr. Jlio Plaza: Quando h recursos, dinheiro... no

    caso da Globo, o Hans Donner produz dinheiro, seduz para os

    donos do pas, ele fez agora a fita Globo.com, no mundo

    tambm foi implementado o logotipo da Globo, famoso, ...

    e a Globo uma poderosa empresa, a Globo implementou isso

    a. Agora no campo cultural, veja bem, eu fao uma

    distino que fica claro no meu livro, entre o vetor

    conservao e o vetor inovao. O Ita o prottipo do

    vetor de conservao, o Ita nunca investiu em tecnologia

    quando ele fazia curadoria, estou falando da dcada de 80,

    85, ele conservador, armazenam memrias em discos,

    objetos artsticos feitos em outras tcnicas. Depois essa

    coisa de CD-ROM. Com os conservadores ns trabalhamos

    sempre mais no vetor inovador, uma questo de ideologia.

  • Pergunta: Voc tem registro da sua obra, de todas as

    experincias que voc fez?

    Prof. Dr. Jlio Plaza: Mas eu no tenho tempo nem saco para

    virar arquivista de mim mesmo. Tem o livro, a fotografia.

    Pergunta: E organizar isso num site, alguma coisa assim...

    Prof. Dr. Jlio Plaza: Eu estou pensando sim, tem alguns

    trabalhos mais atuais que esto na Internet, mas no posso

    mostrar agora porque o meu modem pifou, eu tenho que

    comprar outro, arrumar, s segunda-feira. Tem esse vetor

    inovador, onde o artista trabalha, onde falta verba e tem o

    vetor conservador, um vetor mais... produtivo, como o da

    Globo

    Pergunta: Voc diz ento, que existe um artista que tem um

    perfil diferente e que trabalha, esse perfil implica tambm

    numa determinada escola, digamos mais racionalista, mais

    construtivista. E o pblico, ele diferente?

    Prof. Dr. Jlio Plaza: Num modo de pensar diferente tambm,

    alis meio uma distino que precisa ser feita hoje. Uma

    distino, veja bem, atravs da histria. O ndio

    brasileiro, ele vai fazer o qu? Como vai representar a

    cobrinha, mais ou menos, como ele vai representar com essa

    tecnologia? (mostra uma artesanato indgena em ponto cruz),

    no plano, no ponto cruz... a cobrinha, a r... vai ficando

    tudo abstrato. Ento voc tem a um princpio de

    racionalidade. Como codificar seu imaginrio com um aparato

    tcnico, tecnolgico mais sofisticado, uma tendncia do

    crebro humano, entende? Agora, evidentemente, como a

    tecnologia teve essa exploso de consumo, a todo mundo

    usa, mas usa nesse sentido vetorial que eu estou falando, e

    tem artista que faz CD-ROM, mas ele est conservando, est

    fotografando uma realidade, produes que no so

    tecnolgicas, entende? o caso do papel do Ita, colocar

    Di Cavalcanti em CD ROM, tudo bem, mas memria.

  • Pergunta: Mas a dificuldade justamente a memria da arte

    tecnolgica.

    Prof. Dr. Jlio Plaza: Coloco memria enquanto memorizao

    dos ritos culturais.

    Pergunta: Voc no acha que na arte tecnolgica...

    (interrupo)

    Prof. Dr. Jlio Plaza: Agora produo tecnolgica outro

    vetor, fao questo de diferenciar os campos.

    Pergunta: Mas voc no acha que essa arte tecnolgica tende

    mesmo a performance, a efemeridade...

    Prof. Dr. Jlio Plaza: Tende a tudo, tende a tudo, tende

    tambm, (P: mas menos a uma materializao da obra) em

    determinado momento pode haver determinada nfase em

    performance, concordo pode haver determinado momento onde

    espetculo fica mais relevante, mas so categorias, elas se

    tornam dominantes conforme os tempos, conforme a

    sensibilidade do momento, mas toca tudo, no que ela

    mais apropriada para. No, apropriada para tudo, depende

    do campo tecnolgico.

    Pergunta: Como que vem a inspirao?

    Prof. Dr. Jlio Plaza: Bom, isso a eu explico no meu

    livro... (P: mas conta pra ns, sem teoria). Bem,

    inspirao, veja bem, Stravinski falava que o artista tem

    de ter 1% de inspirao e 99% de transpirao, j resolve o

    problema, a inspirao um termo romntico, no ? Claro,

    tem artes, tem artistas que cifram todo esse momento, Tem o

    princpio da espontaneidade, inclusive todo ato criativo

    comporta dois momentos: um momento espontneo, chamado

    inspirao, e um momento de pensar esse espontneo, e o

    momento de colocar as coisas no concreto. Ento esses dois

    momentos, eles vo par e passo. Quando no vem um, vem

    outro, na realidade acontece isso, voc pega um artista

    como Pollock, ele vai dar mais nfase no momento de fazer

    pr espontaneidade, no ? Pensamento e ao so

    concomitantes. Voc pega uma anttese desse momento seria

  • Mondrian, sem abrir mo da espontaneidade, ele vai

    trabalhar mais com uma questo de ordem, relao

    ordem/desordem. Ento so dois momentos inseparveis. A

    inspirao sem conceito no existe, e o conceito tambm sem

    inspirao no vale nada.

    Pergunta: Voc acha que a crtica est conseguindo

    acompanhar essas experincias?

    Prof. Dr. Jlio Plaza: Onde? Em que pas?

    Pergunta: No Brasil, eu estou falando especificamente de

    arte tecnolgica brasileira.

    Prof. Dr. Jlio Plaza: Olha, veja bem, so figuras assim de

    importncia como Mrio Pedrosa, no Brasil nunca houve

    crticas de peso no campo das artes. Eu prefiro me ater ao

    exemplo dos ensaios poticos de artistas, Waldemar

    Cordeiro, Goulart, ao contrrio, os irmos Campos, tanta

    gente que atua nesse campo, que seria a teoria da potica

    que me interessa. A crtica est esfacelada, pr um lado

    ela tem que dar servio ao jornal, pr outro lado ela tem

    que dar servio a um certo compromisso social, no sei,

    acho que no existe muito essa categoria de... Vo dar

    valor sem ter repertrio...

    Pergunta: Mas pensando que o crtico quem ensina o

    pblico a ver a obra de uma determinada forma. O que a

    gente tem notado que a crtica v mais essas exposies

    como acontecimentos do que como manifestaes artsticas,

    no ?

    Prof. Dr. Jlio Plaza: A h uma grande mistura do

    preconceito, alis, essa questo do preconceito se d

    constantemente, pelo menos a partir da Renascena, ela se

    d constantemente, essa defasagem da crtica com o real

    constante. Voc conhece El Greco? El Greco viveu no mais

    absoluto ostracismo, porque a crtica da poca no levava

    em conta, achava que aquilo era deformao, que o cara

    tinha astigmatismo. A vieram os expressionistas e

    descobriram El Greco. Entendeu? E sempre passa assim, a

    crtica fica muito alm. O prprio drama dos cubistas, dos

  • impressionistas que foram rejeitados pelos sales. H o

    processo de compreenso, de toda essa sensibilidade, ento

    nessa ruptura mais dramtica de introduo de novas formas

    tecnolgicas, o pessoal fica mais atrelado ao repertrio do

    passado.

    Pergunta: Quer dizer que pra voc essas manifestaes de

    arte tecnolgica, elas no rompem com aquilo que ns

    podemos chamar da arte da modernidade? Quer dizer, ela s

    um outro momento e no uma ruptura? No a organizao de

    um novo campo?

    Prof. Dr. Jlio Plaza: No disse isso, no afirmei. Eu

    disse sim que h ruptura sim, porque um outro momento de

    imagens de terceira gerao, que um processo tecnolgico,

    que no se confunde com as imagens pintadas a mo, tambm

    no se confunde com as imagens de fundo tcnico,

    industrial, onde a fotografia teria um papel importante,

    no ? Nesse sentido h uma ruptura, agora no significa

    que todo mundo que mexa com tecnologia vai fazer um

    trabalho bom. Ao nvel instrumental sim, h uma ruptura, no

    sentido de descontinuidade. Mas isso a um mero

    instrumento, o instrumento pr si no te traz a qualidade.

    um problema, isso acontece no teatro, na arte da

    performance, na televiso, no cinema. Para voc fazer uma

    fotografia artstica, de boa qualidade no s ter uma

    mquina e um filme.

    Pergunta: Pesquisando a Internet, justamente vendo esse

    carter democrtico, a gente encontra muita porcaria...

    Prof. Dr. Jlio Plaza: Em todos os campos, agora essa

    porcaria aparece mais porqu. Fazendo um paralelo: no campo

    da poltica, parece que ns estamos no fim do mundo,

    violncia, estupro, assalto a banco, isto, aquilo,

    o Covas, os professores da USP, a Paulista. Parece que

    ns estamos imersos num caos, pr comparao, no regime,

    nos anos de chumbo (se referindo ao regime militar), para

    usar a metfora, l no acontecia nada, estava tudo bem,

    Pr que? Porque no havia democracia, ou seja, esse

    universo catico que ns pensamos, que nos sentimos

    estressados at demais porque tem televiso, porque tem

    jornal, porque tem na web, porque as pessoas falam, porque

  • tem cinema, ento est aparecendo tudo, isso um bem do

    sistema democrtico, aparece tudo, parece que a gente est

    imerso num caos, na merda. P: Voc no acha que tambm h

    um certo amadorismo, muito experimentalismo, que ainda no

    se formou um certo padro esttico dessa mdia, desse meio?

    Ser que o padro esttico seria o conceito, mais o

    conceito? Jlio - Na web?

    Pergunta: Ser que esse padro seria mais um conceito?

    Prof. Dr. Jlio Plaza: Veja bem, ns vivemos num mundo onde

    padres estticos fixos no so coerentes, apropriados a

    esse universo mais desordenado aparentemente, ou no, mais

    catico. Porque um mundo tipicamente experimental, um

    mundo tipicamente que procura sadas, onde esses prottipos

    estticos no existem mais, a pergunta cabe mas no cabe a

    questo. Como buscar um padro esttico hoje quando tudo

    tende a fragmentao, porque o sistema ele... ento

    difcil realmente criar padres estticos estticos.

    Pergunta: Voc acha que no tem como tentar encontrar um

    padro esttico, digamos de web arte?

    Prof. Dr. Jlio Plaza: um processo que j vem da... o

    problema da democratizao dos meios de reproduo, (desde

    a fotografia?)... televiso, xerox... combinao de outros

    sistemas, tudo cada vez tende... as formas de viso, de

    veicular a informao, tudo isso um processo democrtico.

    Pergunta: Voc disse que no existe inspirao sem

    conceito, que a inspirao est junto com o conceito. O que

    eu notei...

    Prof. Dr. Jlio Plaza: Pura espontaneidade animal, animal

    puramente espontneo...

    Pergunta: Todas essas experincias com arte e tecnologia,

    pegando o caso da web arte que a minha pesquisa. Tem caso

    que so s conceitos, a gente tem que acompanhar bem

    mentalmente, no tem esse envolvimento espontneo que

  • existe quando se olha pra outras coisas. Eu achei um

    trabalho que me envolveu espontaneamente, eu me envolvi

    pela palavra, tinha conceito, era mental tambm, mas

    encontrei um .... Ento ser que tende bem mais... (a essa

    preparao) entre espontaneidade e conceito?

    Prof. Dr. Jlio Plaza: No, eu acho que... veja bem, toda

    arte tecnolgica, toda arte, isso tecnologia, isso aqui

    era feito pr 2000... vegetal, transava, isso tecnologia.

    Ento tem que partir um pouco desse campo de viso mais...

    sabe? No tecnologia porque utiliza vdeo e raio laser,

    e... so tcnicas mais um menos primrias que vo

    evoluindo, grau de complexidade maior, acrescentar... todo

    um processo, entende? Dividir o campo em tecnolgico ou

    no, errado, isso no acerta as coisas. O princpio de

    espontaneidade j est embutido aqui nesta mquina, isso

    uma mquina, no no sentido sofisticado, complexo de

    simuladores ou alta tecnologia, mas isso uma mquina no

    sentido de outra linguagem, quando voc entra, nos

    primeiros sinais h uma certa lgica que te obriga a tecer

    isso, isso mquina nesse sentido. O estncil, o estncil

    serigrfico, o estncil dos grafiteiros quase mquina

    porque reproduz, voc utiliza mesmo manualmente, isso aqui

    pode ser reproduzido em muitas unidades. Ento o princpio

    maqunico j est aqui nesse objeto to singelo. Entende

    como ? Todas as coisas tem que ser compreendidas pr a,

    seno voc cria um lapso mental, uma cultura

    epistemolgica, que no te faz compreender a passagem das

    coisas. Outro erro considerar que a arte clssica no

    tinha tecnologia, em que o lpis sempre existiu. Voc sabe

    quem criou um lpis, lpis de grafite, lpis comum existe a

    partir da revoluo francesa, no tinha esse instrumento.

    Nosso pensamento erra pr a, nessa percepo das coisas,

    tudo tecnolgico, tudo tem um... uma instrumentalidade.

    Claro, do simples ao complexo, eu vejo pr a.

    Pergunta: Eu vejo uma ruptura num sentido de que, at o

    advento da fotografia, as tcnicas ou as tecnologias

    existentes elas continham muito menos elementos

    significantes em si prprias, isso uma coisa. E segundo,

    que ainda o resultado dependia muito de uma tcnica

    dominada pelo prprio artista. Enquanto a partir da

    fotografia a gente entra num campo conceitual, abstrato

  • aonde a participao dessa expressividade fsica do artista

    vai diminuindo, diminuindo.

    Prof. Dr. Jlio Plaza: Sim, mais vai aumentando em outros

    campos, a que entra o artista. No caso da fotografia, a

    fotografia como uma entidade... que j tem codificada

    pontos de vista atravs da tica, s disparar..., a no

    caberia nunca um..., d a volta pr cima com esse

    dispositivo. Tem esse lado tambm, antes das tcnicas mais

    duras havia esse processo que esto falando... da

    internalizao, e coloco por exemplo, o caso do pintor...

    voc conhece o pintor... pincel, tinta nanquim e gua, e

    papel tipo filtro, de arroz, similar aos nossos filtros de

    caf, ou seja, voc joga a mancha, joga a gua e no pode

    mexer, no pode retocar porque a mancha j ficou gravada

    l, se voc retocar voc perde a espontaneidade. ... uma

    tcnica, eu posso falar dele porque j fiz curso com

    Sansei... l na Fundao Japo... e eu fazia bastante bem,

    claro tinha amigos meus que disseram. o seguinte, voc

    internaliza a questo da gua, da tinta, a tonalidade, a

    questo do tipo de pincel, se tem mais pelo, menos pelo, se

    ele mais absorvente, so tcnicas primrias mas que fazem

    com que o artista revele a imagem que tem dentro de si em

    harmonia com essa parafernlia tcnica. Ento no adianta

    voc ter o papel, o pincel, a tinta, voc tem que

    internalizar, essas regras, essas energias: a energia da

    gua, do pincel, um pincel com um pelo mais brando, um pelo

    mais duro que te leva aos aspectos da significao do bambu

    seco, falta de gua e de tinta. Est visualizando? O bambu

    aguado mais ying, essa equao ying-yang voc que atua.

    Quem no sabe utilizar, que no internaliza o suficiente

    fracassa, fracassa no sentido que no consegue expressar o

    que ele est imaginando, pensando.

    Pergunta: Voc ainda usa papel e lpis?

    Prof. Dr. Jlio Plaza: Sim, porque no? (P: usa?) Para

    escrever, sei l... um rascunho (risos) Se tem muito

    preconceito em dizer que isso ... tanto da parte dos

    artistas mais de vanguarda, que ns chamamos assim, que

    trabalham com alta tecnologia, com de parte do pblico,

    ainda se mexe com, dentro de muitos preconceitos, teorias,

    sabe? A dificuldade a mesma, voc fazer uma obra aberta e

    o sumi... que uma tcnica to singela, como fazer um

  • videoteipe, fazer uma pgina da Web. O problema em si o

    mesmo, s mudam os instrumentos e a sua capacidade, como

    voc internalizou esses instrumentos. H um site belssimo

    do..., voc conheceu...? Ele antroplogo, colega da

    UNICAMP, (P: Conheo) ele fez um livro sobre os Camaiurs,

    e outras tribos amaznicas, est publicado. Ento, umas

    meninas procuraram ele para ver se ele fornecia material

    fotogrfico para organizar um site, as meninas fizeram um

    site belssimo, ganharam um prmio da Naes Unidas de

    cinco mil dlares, dois anos atrs, eu acho que este site

    est na Internet, ele belssimo, no somente a questo da

    representao dos ndios, mas a linguagem da Web, grfica,

    o tempo, belssimo, ento quanto a criatividade se d,

    no depende dos meios.

    Pergunta: Voc acha que na Web as linguagens se contrapem

    democraticamente, ou existe a predominncia ou do visual,

    ou do... tecnolgico, da informtica. Com voc essa coisa

    da multimdia?

    Prof. Dr. Jlio Plaza: Tem de tudo, porque a internalizao

    dos artistas so diferentes, mais qualitativas, mais

    quantitativas, ento tem de tudo.

    Pergunta: Voc falou da tcnica sumi, a gua, a tinta, o

    papel... O que se pode internalizar quando as tcnicas...

    quando eu vou fazer uma pgina na Internet. Ento, eu

    fiquei pensando: O que eu usaria de material para pensar

    sobre o meio, pra fazer essa internalizao. O que seria?

    Seria o programa que eu estaria usando, o photoshop, uma

    coisa assim, ou justamente pensar no zero-um, nos

    espaos...

    Prof. Dr. Jlio Plaza: Voc tem muito mais recursos...

    porque o que essas tecnologias fazem na realidade

    codificar as tecnologias artesanais, quer dizer, quando um

    programa tipo photoshop, ou similares... o que voc tem a

    embutido? Um potencial, em potencial voc tem toda a

    retrica da imagem, esse que o grande barato. Agora, se

    voc tem sensibilidade para perceber ou no, a so outros

    quinhentos, ou cinqenta mil. Mas na realidade, um

    photoshop, cada ponto, cada... cresce em quantidade e

    qualidade. H excesso de ferramentas, h excesso de

  • instrumental, o olho humano no tem sensibilidade para

    perceber milhes de tons, nosso olho no est preparado

    para tanta possibilidade. Como diferenciar entre um violeta

    mais ou menos... no h... porque os problemas da percepo

    so analgicos, ela no digital, consequentemente voc

    tem milhes de cores a disposio, agora cabe a

    sensibilidade a escolha.

    Pergunta: Apesar de voc ver a manuteno de determinados

    aspectos daquilo que a gente poderia chamar de arte, eu

    vejo uma transformao muito grande, por exemplo na

    leitura, aquele usurio que est na Internet, ele um...

    ele est zapeando, ele pula, ele to fragmentado na sua

    leitura quanto o produto. Quer dizer, muito interessante,

    uma relao diferente, uma...

    Prof. Dr. Jlio Plaza: O que est em crise com essa ruptura

    uma certa ideologia de leitura, que aprendeu a ler

    linearmente, e hoje em dia isso est sendo transmudado,

    alis j foi transmudado... quer fizer experincias com o

    texto, algum me d tesoura e isso j acontecia desde o

    sculo passado, mas agora a coisa, igual na fotografia, j

    se mecanizou. Talvez se coloca em questo a ideologia de

    leitura linear, que na Internet impossvel, a leitura

    simultnea e no linear. Mas que no a Internet que

    descobriu, foram os artistas que j tinham pensado essas

    questes, ento, a Internet comenta com um olhar mais

    experimental, mais rpido, mais explorador, mas tambm um

    olho mais inteligente, que sabe o que procura, o que

    fundamental, essa questo da legibilidade dos tipos, a

    tipografia (P: a mquina tambm passa a ser fundamental) a

    fotografia, tudo. Veja, pr exemplo, depois de um perodo

    recente de estagnao da fotografia, a fotografia recupera

    tudo, ela demonstra o grande potencial que ela tem como

    matriz de criao, fotografia que tem... ela aparece...

    recupera-se o espao altamente figurativo da Renascena,

    atravs da fotografia, a o universo se amplia, um universo

    muito mais inteligente. Mas a o leitor, o espectador, o

    visualizador, o usurio, ele tambm tem que se formar

    nesse... s pagar impulso telefnico e gastar luz e

    gastar mquina, agora a procura de qu? a que entra a

    questo da interatividade, se interage para qu? O pessoal

    na ECA, principalmente, ele fala muito sobre a morte do

    autor, no sei o qu, a morte do autor...

  • Pergunta: Mais duas coisas: que a tua opinio tua

    experincia pessoal sobre o evento da Casa das Rosas, o

    Imanncia, do uso da tecnologia nesse evento (R: no vi)...

    que foram oito pessoas que ficaram encerradas, uma cama

    (vi no jornal, psicolgico de muito mal gosto). A

    tecnologia estava l, tinha uma cmera transmitindo pela

    Internet, e chegavam e-mails de pessoas (R:

    telecomunicao), ento, voc no chegou a ver...

    Prof. Dr. Jlio Plaza: Eu acompanhei pelo jornal, atravs

    de leituras, mas no fui l ver, mas uma situao que

    voc tem: voc est na sua casa, eu estou na minha e nos

    comunicamos pr Internet, inclusive, ontem saiu um programa

    bem interessante, pessoas que comearam a namorar e a

    comunicar trabalhos via e-mail, e teve at casamentos.

    Ento so situaes que hoje natureza, normal. No

    necessrio se encerrar numa galeria, na Casa das Rosas, s

    para ficar famosos, sair jornal, uma situao inerente ao

    prprio sistema.

    Pergunta: Voc diria que a Web art vai surgir

    espontaneamente do prprio uso da Internet? Quer dizer, no

    h a necessidade de que um grupo de artistas pensem

    artisticamente a Web?

    Prof. Dr. Jlio Plaza: No, porque a a figura do artista

    sobra, entende? Porque hoje em dia tem mais gente ligada

    que no se intitula artista entre aspas, sem titular

    grficos, designers, h uma porrada de arquitetos que no

    fazem arquitetura mas fazem arquitetura digital, um mundo

    que tambm democratiza as profisses, h um intercmbio...

    (P: e vai desorganizar os campos estabelecidos, os

    departamentos) Evidentemente, porque os artistas plsticos

    que esto na Web, talvez tenha um, dois, ou cinqenta ou

    cinqenta mil, mas tem milhes e milhes de pessoas que no

    se intitulam artistas plsticos. A funo do artista

    plstico... no sei, preferia trabalhar com o conceito de

    designer, mais abrangente, mais malevel, mais fluido

    nesse sentido, o artista plstico j se tipificou muito,

    certas categorias da arte, museus, galerias, empobreceu, o

    mundo est to rico em experincias que ns no precisamos

    dessas figuras... Penso assim, sou mais radical, tambm

  • penso que na Web no se pode pensar em cima de sistemas...

    de formatar o grande estilo, no (P:como?) de formatar o

    grande estilo, a esttica da Web, so milhares de

    estticas...

    Pergunta: No sei, porque nessa pesquisa que estou fazendo,

    a gente nota bem nitidamente aquelas experincias que so

    feitas fora da Web, e a Web funciona apenas como veculo,

    como telefone, e aquelas experincias em que voc percebe o

    autor internalizou a experincia da Web, ento ele sabe

    quem o seu usurio, ele sabe o tempo que ele vai destinar

    aquilo, ntida a diferena... Eu comecei estudando o

    gancho das telenovelas como elemento narrativo, eu estou

    trabalhando com a ideia do link, uma srie de outras

    coisas, a questo da interrupo e das emendas que se fazem

    nas narrativas. Ento eu comecei a ver que na verdade, se

    ns pudermos entender alguma coisa como a linguagem da Web,

    alguma coisa muito... como que eu posso dizer, muito

    mltipla.

    Prof. Dr. Jlio Plaza: Mas essa multiplicidade exatamente,

    que... complexidade que no permitiria fechar, pelo menos

    no momento, uma esttica... assim mltiplas estticas. Voc

    sabe tambm que todo meio quando chega a exausto, ao

    esgotamento porque chegou a uma frmula esttica prpria,

    caso da fotografia e do cinema, estou falando de fotografia

    qumica e de cinema normal, as frmulas esto praticamente

    esgotadas, talvez pr isso seja mais difcil fazer um filme

    bom, tematicamente diferente tudo bem, mas enquanto

    linguagem... Pr exemplo, o cinema chegou exausto, todas

    as teorias da montagem esto a, todos os filmes... esto

    de certa forma na histria do cinema, da fotografia, da

    pintura, chega-se a um ponto crtico da exausto, um

    momento que comea pintar uma outra tecnologia, isso que

    est acontecendo com a Web, ela um hbrido, e se alimenta

    de tudo, uma camaleo, a antropofagia: fotografia,

    tipologia, desenho, pintura, tempo, musicalidade, isto,

    aquilo, vdeo, cinema, jornalismo, literatura,

    tudo, cabe tudo, pr isso que difcil. No momento que

    voc fechar essa ideia de uma esttica mais... a coisa est

    morte, nesse sentido que digo que a coisa muito

    mais..., ela se doa mais como experimentalismo.

  • Pergunta: O que voc acha dos jogos? Voc tem visto os

    jogos? Eu acho que so maravilhosos, eu vi um outro dia,

    que minha filha comprou, eu achei uma das coisa mais belas

    (R: em termos de criao..) chama-se Riven, voc conhece?

    maravilho, tem cinema, tem fotografia, mas cinema de boa

    qualidade, (R: como uma obra de arte) fotografia e texto

    de boa qualidade, foi uma das melhores coisas que eu j vi

    no computador.

    Prof. Dr. Jlio Plaza: O jogo trabalha muito com a questo

    da ordem e da desordem, ou seja, a desordem do acaso, a

    partida de futebol: desordem, onde cai a bola, qual a

    energia com que a bola cai, qual a energia dos... so

    acasos, mas os jogos tem regras, ento uma metfora do

    princpio de criao, o racional e o intuitivo esto em

    jogo.

    Pergunta: Outra coisa muito interessante que h momentos

    em que h um narrador, esse jogo tem vrias etapas, ento

    tem momentos em que ele tem um narrador, o narrador fala

    com o usurio... essa interatividade tambm muito

    complexa, tem horas que a gente est escutando, tem horas

    que a gente est vendo, tem horas que a gente est lendo,

    tem horas que a gente est navegando, tem horas que a

    cmera subjetiva, tem horas que no , eu achei uma das

    coisa mais bem resolvidas.

    Prof. Dr. Jlio Plaza: O Pierre Lvy fala de uma

    inteligncia coletiva, na expresso do conceito fechado, eu

    noto sim, que essas tecnologias todas fazem de ns usurios

    seres mais inteligentes (P: eu acho que o mundo est

    ficando mais inteligente) a gente observa com os prprios

    filhos, meninos de 10-12 anos, adolescentes, eles do

    respostas que na minha infncia, na minha idade, no ?

    Pergunta: Ser que isso no acarreta outras conseqncias?

    Prof. Dr. Jlio Plaza: Claro, mundo vivo, que se transmuta.

    P: Eu vi a entrevista de um menino, de 15-16 anos, que

    criou um desses buscadores, como o AONDE, que foi vendido

    por milhes, essas coisas esto acontecendo por a. E

    perguntaram pra ele: voc no gosta de pesquisar numa

    biblioteca? Levaram ele no Rio de Janeiro, na Biblioteca

  • Municipal. No consigo, eu tenho que estar digitando, aqui

    muito calmo, e esses livros vo se deteriorar, vo

    perder, na Internet no. (R: uma outra corporalidade) ,

    ento, a ansiedade.. Jlio - Interao corpo-mquina, claro

    o corpo a no s matria, carne, emoes, espiritual,

    psicolgico, uma outra forma de... isso uma questo de,

    Chaplin no mundo moderno iria fazer uma pardia de, n? Mas

    internaliza tambm, o ato de conduzir um automvel, o ato

    de teclar a mquina, so atos j incorporados na nossa

    cultura cotidiana a partir da mquina, o ato de escovar os

    dentes, tambm so mquinas. Ento essa relao do... com o

    artifcio constante, ela no para, no que agora seja

    melhor, de uma outra forma. Eu tenho observado, porque

    tenho um problema de tendinites aqui, uma coisa to

    estupidamente simples como pegar um culos, o peso do

    brao, eu tenho aqui tendinites que j havia passado, mas

    eu ia todo dia pra Campinas, ento a mquina termina te

    apertando, afetando o corpo, no ?

    Pergunta: Agora, outra coisa que eu tenho notado nessas

    minhas pesquisas que, pensando assim no significado que a

    prpria mquina trs, quer dizer, eu acho que essa ideia da

    fico cientfica, do futurismo, da utopia, eu acho que faz

    muito parte do computador, da Web. Se a gente for perceber

    o contedo das mensagens, no a forma, mas o contedo, a

    gente v que h um apelo por essa ideia do milenarismo, da

    utopia, da...

    Prof. Dr. Jlio Plaza: Mas isso um misticismo, eu vejo

    mais a tendncia nos anos 50, viagens lua, sociedade

    mais... lembra? (P: Lembro), agora eu acho que no, porque

    h uma incorporao to real, to cotidiana, to do dia-a-

    dia, no sei. Agora, um acervo de depsito para tudo, tem

    carecas, tem estuprador, pederasta, narcotraficantes, tudo

    na rede, cabe tudo, uma metfora do mundo, ento vai

    depender muito do seu recorte, do recorte que a gente faz,

    do interesse, se l tende para isso ou aquilo, no teria

    condies porque a pesquisa seria to imensa em ternos de

    dados qualitativos... eu acho que no teria condies.

  • Pergunta: A ltima questo que eu tinha sobre a Bienal,

    (R: do Ita?), , eles so de l, e do MAC tambm outro

    que faz, uma seleo internacional.

    Prof. Dr. Jlio Plaza: Agora virou cotidiano, eu lembro que

    o primeiro projeto ligado a videotexto foi em 83. Eu tenho

    alguns slides, mas voc tem... eu vou te mostrar, eu tenho

    uma fita de vdeo sobre... (P: ah, eu gostaria).

    Disponvel em:

    http://web.archive.org/web/20100324114659/http://www.eca.us

    p.br/narrativas/intro/intro_por/narrativas/entrevistas/entr

    evista3.htm