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QUEM FAP… Jornal da Academia do Porto | Ano XXVI | Publicação mensal | Distribuição gratuita director Nuno Moniz | chefe de redação Joel Pais director criativo Sergio Alves | directora ilustração Constança Araújo Amador Criada em 1989, a Federação Académica do Porto fala hoje por 27 Associações de Estudantes e cerca de 60 mil alunos. Diogo Vasconcelos foi o primeiro presidente. Depois dele, foram já 16 os q ocuparam o cargo. O JUP foi descobrir quem são e onde estão hoje estes dirigentes. DESTAQUE / P 04-07 MARÇO 2014 SOCIEDADE/ P 12-13 EDUCAÇÃO/ P 08

Jup Março 2014

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Jornal da Academia do Porto | Ano XXVI | Publicação mensal | Distribuição gratuita | director Nuno Moniz | chefe de redação Joel Pais | director criativo Sergio Alves | directora de ilustração Constança Araújo Amador | fotografia Luís Coelho e Luisa Silva Gomes

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Page 1: Jup Março 2014

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Criada em 1989, a Federação Académica do Porto fala hoje por 27 Associações de Estudantes e cerca de 60 mil alunos. Diogo Vasconcelos foi o primeiro presidente. Depois dele, foram já 16 os q ocuparam o cargo. O JUP foi descobrir quem são e onde estão hoje estes dirigentes.

DESTAQUE / P 04-07

MARÇ

O 2014

SOCIEDADE/ P 12-13EDUCAÇÃO/ P 08

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EDITORIAL E OPINIÃO02 JUP — MARÇO 2014

EDITORIAL

Há dois anos a crise bateu à porta do Jornal Universitário do Porto. Dois anos depois da última edição impressa, estamos de volta. Foram 730 dias de batalhas, propostas para apoios, contactos e bastantes frustrações. Va-leu a pena? Valeu pois.

No entanto, uma nota. Embora não tenha visto a luz do dia, o JUP che-gou a fazer a edição de Maio de 2012. Era uma edição especial para todas as pessoas envolvidas, e foram muitas mais pessoas: em colaboração com o Mestrado em Ilustração e Animação do Instituto Politécnico do Cávado e do Ave a edição era toda ilustrada. Deu imenso trabalho, principalmente a quem se dedicou à ilustração das peças, e esse trabalho não foi recom-pensado, ao serem distribuídas as suas dez mil cópias.

O passado lá vai. Diz o Jorge Palma que a gente vai continuar. É verdade, vamos então ao futuro.

Neste regresso, marcamos uma nova vida para o JUP: além de quatro edições imprensas, agora podes seguir diariamente a versão online, em juponline.pt

Temos noção que não é um passo a ser tomado de ânimo leve. A respon-sabilidade é maior e precisamos de mais pessoas. Mas tendo como objecti-vo levar o trabalho produzido na nossa redação ao máximo número de pes-soas, é um passo que tem de ser tomado. Peca por tardia, disseram algumas pessoas. Talvez. Será desta, perguntaram outras. É mesmo desta vez.

O que assumimos é que este jornal mudará um pouco, principalmente nos seus conteúdos. O tempo entre edições permite-nos ter ambição, pen-sar um pouco mais alto e ir mais fundo. É essa a proposta. Queremos um jornal para os estudantes do Porto que lhes dê algo que achamos fazer falta. Podemos chamar “caçar histórias”, inspirado na entrevista à Vanessa Ri-beiro desta edição. Levantar a poeira, “ir à procura de resgatar memórias”. Dizer algo que não o costumeiro, fazer o que não se conseguiu fazer antes e pensar em novas ideias. Não só na escrita, mas também na fotografia e na ilustração. Este retorno, esta edição, é um primeiro ensaio dessa nova linha.

E por isso o nosso destaque de regresso é sobre os 25 anos da Federação Académica do Porto. Não sobre como a actual direção pensa comemorar o feito, aliás isso não seria possível porque o seu Presidente não atendeu ou respondeu a qualquer chamada ou mensagem que o JUP lhe endereçou. A peça é sobre quem é a FAP. Quem são os ex-presidentes, as 16 pessoas que falaram por 60000 estudantes. O que fizeram depois de acabarem os seus mandatos. Que acham dos percursos dos colegas quando olhados em conjunto. As juventudes partidárias têm ou não influência nas suas deci-sões. Existem conflitos de interesse ou não. Factos e história, foi aquilo que procurámos, e é o nosso destaque.

Sobre Educação fomos perguntar a quem está no Conselho Geral da Universidade do Porto qual é o seu propósito. Porque os estudantes ligam pouquíssimo quando chega à hora de eleger os seus representantes? Sa-berão que as propinas foram aumentadas, há poucos anos atrás, numa vo-tação que deu empate, tendo sido decidida pelo voto de qualidade do seu Presidente? Saberão que a única falta injustificada a essa reunião foi do Luís Rebelo, ex-presidente da FAP?

Quantos alunos da Academia do Porto conhecem as ilhas do Porto? É esse o desafio da secção de Sociedade. Falar com as pessoas da Ilha da Bela Vista e conhecer o projecto de reabilitação que está a decorrer, a ver se é desta.

Em que Europa vivemos e quais são os seus desafios? Quais são os seus perigos? Falámos com a Professora Teresa Cierco para nos dar algumas indicações e alguma informação sobre o que se passa na Ucrânia, se é de esperar que esta situação se repita com a Moldávia e a Geórgia. A situação actual da Bósnia-Herzegovina, qual é?

É esta a vontade deste jornal. Aliás, sejamos justos. Sempre foi. Um es-paço crítico, de aprendizagem mútua e que quer aprender. A diferença é que acumulámos dois anos de ideias.

Mas agora, sim, estamos de volta.

Nuno Moniz

Sim, estamos de volta.

"Não passa de hoje"

Existia uma curiosidade genuína, vontade de preencher em con-junto as páginas de um jornal,

mas não era só isso. Havia disponibi-lidade para o encontro – a partilha era palpável – e um certo sentido de ur-gência – mesmo que as horas já fossem altas – para discutir, investigar, pensar, entrevistar, registar, contar a história. Pelo menos é assim que quero recor-dá-la, a associação de jornalismo aca-démico do Porto. Claro que havia tam-bém por vezes mais do que suficiente predisposição para lançar farpas, ar-rancar cabelos, dramatizar, escrever actas inflamadas, corruptelas poéticas e outros manifestos ultimatos. Havia um processo de aprendizagem sobre o que é deliberar e informar em conjun-to, e deliberar sobre deliberar: meta--discussão do que é ser dono da voz. Saber escutar, argumentar, lidar com as próprias resistências às cedências.

Da autonomia, era lição que ha-via. Em prol da consciência colectiva. Havia um mosaico de histórias que

se compunha feito obra de imprensa. Eram várias as mãos de estudantes que ficavam sujas de tinta. Ombros com contraturas, que improvisar ares de ar-dina tem o seu quê de corporal quando eram aos milhares os jornais que saíam do forno. Eram tempos de poucos me-gapixeis, mas havia a vaidade das cre-denciais de imprensa, das folhas ama-relas dos arquivos, das peças de museu centenário, incluindo um valioso espó-lio fotográfico. E tudo o mais que talvez já não permaneça. No vão de escadas, onde o chão cedia, tomava-nos uma vertigem de asssalto: mãos ao alto, in-formação é poder. O jornalismo é uma linguagem maldita: serve para moldar a formação da ideia política. Havia independência de partidos. Havia in-filtrações nas caleiras, infestações nas traves, intervenções nas águas-furtadas e inaugurações bombásticas. Depois por algum motivo a sede perdeu-se.

Mas pediram-me para falar no fu-turo do jornalismo universitário e dos seus desafios e já gastei mais de meta-

de deste espaço a exercer o direito ao saudosismo que cabe a qualquer cida-dão cá da terra.

O problema em falar no porvir é que "vivemos o fim do futuro", como se re-fere o sociólogo polaco Zygmunt Bau-man a estes tempos de fragmentação e indignação, numa entrevista à Época brasileira. Pensar para além do fim do futuro é já saber consertar o vazio que ficou de uma qualquer perda de refe-rências políticas, culturais e morais da sociedade. Mudar isso, diz Bauman, “depende da imaginação e da determi-nação [dos jovens]”, é preciso “resistir às pressões da fragmentação e recupe-rar a consciência da responsabilidade compartilhada para o futuro”.

Havia o dia de fecho, virado para a direcção do futuro que era fazer chegar a obra de imprensa às mãos de toda a gente. Havia a inscrição na parede num recanto suspeito gravada a dourado: “Não passa de hoje”. Não deixes pas-sar, dá mais um trago, começa hoje.•

DIRECÇÃO NJAP/JUP

presidente Dalila Teixeiravice-presidente Cristiana de Barbosavogal JUP Nuno Monizvogal galerias Rui Silvapublicidade Sandra Mesquitatesoureiro Ricardo Duarte

DIRECÇÃO JUP

director Nuno Monizdirector criativo Sergio Alveschefe de redacção Joel Paisdirectora de ilustração Constança Araújo Amadordirecção de fotografia Luís Coelho

e Luísa Silva Gomes

EDITORES

online Joana Gordinhoopinião Bárbara Silva e Inês Morais educação Bárbara Silva cultura Mariana Carvalho, Diogo Vital, Margarida Cardoso e Luís Azevedo gadgets Isabel Rodriguessociedade Gonçalo Marques e Mónica Moreira política Joel Pais e Sara Pereira desporto Pedro Maia e António Gonçalves

COLABORARAM NESTA EDIÇÃO

Alexandre Marinho, António Gonçalves, Bárbara Silva, Bernardino Guimarães, Carlos Matos, Catarina Andrade, Catarina Soares, Cristiana Moreira, Diogo Nogueira, Fabiana Coelho, Filipe Coelho, Luís Azevedo, Luís Coelho, Luísa Silva Gomes, Isabel Rodrigues, Joana Costa Machado, Joel Pais, Júlia Ferreira, Margarida Cardoso, Mariana Carvalho, Mónica Moreira, Nuno Moniz, Pedro Maia, Sara Monteiro, Sara Moreira, Sara Pereira e Sofia Araújo

ilustradores — Catia Vidinhas, Joana Pinto, Sara Cunha, Tiago Lourenço e Tina Siuda

imagem de capa JUP Sara cunhaimagem de capa Parentesis Virgil Apger / Fondation John Kobal - Margaret Hamilton "Le magicien d'Oz (1939)depósito legal nº 23502/88tiragem 10.000 exemplaresdesign atelier d'alvestipografia Trump Gothic by Canada Type

e Mafra by DSType

impressão Nave-printer - Indústria Gráfica, S.A.propriedade Núcledo de Jornalismo Académico do Porto/ Jornal Universitárioredacção e administração Praça Coronel Pacheco, nº 08 4050 Porto (Portugal)tlf 00351 910 972 146e-mail [email protected]

APOIOS

Reitoria da Universidade do Porto, Serviços da Acção Social da Universidade do Porto e Instituto Português da Juventude

por Sara Moreira

por Fabiana Lopes Coelho

Comer comida é um dos maio-res desafios dos seres humanos do século XXI. Todos os dias,

chegam milhares de novos produtos aos supermercados que se esforçam por convencer-nos que são comida, quando realmente são um amontoado de ingredientes altamente processados que a nossa bisavó não faria a míni-ma ideia do que se trataria. Sulfato de amoníaco, goma xantana e glutamato monossódico são coisas que se co-mem? Parece que sim. Toda a gente já os trouxe do supermercado, no pão embalado, nos iogurtes gregos ou nas bolachas para bebés. São aditivos quí-micos usados para intensificar o sabor dos alimentos, conservá-los e dar-lhes cor e aromas apelativos, ou seja, todas as características que um alimento fresco e não tratado tem, naturalmente.

Outra característica fora do padrão clássico alimentar é a obsessão pe-las propriedades dos alimentos que supostamente vão-resolver-todos--os-problemas-da-sua-vida. São os fitoesteróis do creme vegetal que vão

acabar com o seu colesterol, é a vita-mina B6 dos mini-iogurtes que vão protegê-lo contra todas as gripes e constipações e os sumos recheados de antioxidantes que vão mantê-lo jovem para sempre.

Então, aqui vai a pergunta que se tor-na praticamente inevitável diante das longas prateleiras dos supermercados apinhadas de alimentos processados: Porquê? Bem, vender legumes frescos que apodrecem numa semana, arroz que ganha bicho e pão tosco que ganha bolor rende muito menos dinheiro. Já pensou como é um quilo de batatas pré-fritas congeladas é mais barato do que um vulgar quilo de batatas que nem descascadas estão? É claro que comer alimentos altamente proces-sados, cheios de aditivos químicos e desprovidos da maior parte dos seus nutrientes naturais, aumenta radical-mente a probabilidade de virmos a sofrer de diabetes, obesidade, doenças cardiovasculares e cancro, coisa que o material promocional destes alimentos nunca refere, tal como os relações pú-

blicas da indústria da saúde não falam dos estudos que afirmam que a maior parte destas doenças pode ser reverti-da através da alimentação*. Saber que para ser saudável basta comer vegetais frescos, alimentos inteiros e ler os in-gredientes das embalagens para evitar os que não conseguimos imaginar no seu estado natural, não é nada fasci-nante. Nem vende medicamentos.

Para todos os efeitos, toda a gente sabe o que deve comer. No entanto, na alimentação pós-moderna, a confusão paira e, para tornar a nossa vida mui-to mais fácil e deslumbrante, temos os especialistas em nutrição que desco-brem coisas sensacionais e explicam o que devemos comer. Temos a indústria alimentar que refaz e publicita os seus produtos de acordo com as novas des-cobertas. E a comunicação social que tem sempre grandes novidades sobre nutrição e saúde para escrever. Todos ganham, menos quem tem de comer.•

Comida Pós-Moderna

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JUP — MARÇO 2014 03OPINIÃO

Manuel Rodrigues | 21 anosEstudante de Criminologia Faculdade de Direito da UP

Quando ando. Sei lá. Estás quieto e não consegues fugir dela. Não sei, sei lá. Porque se estiver a andar ela consegue apanhar-me. Se for a correr escapo pelo meio, desvio-me e ela não me vê e assim consigo fugir. •

Ricardo Alves | 23 anosEstudante de Tecnologias da Comunicação Audiovisual

A chuva… depende. Se eu correr abrigado não vai molhar nada. Mas dizem que quando corres e está a chover acabas por ficar mais molhada. É o que dizem. Pensar nisso é muito fácil. Então, se tu estás em movimento e também há chuva a cair e tu estás a correr vai ser maior o tempo em que estás a apanhar chuva. Ou seja, há uma curta distância que tu percorres. Durante essa curta distância está a chover e tu vais apanhar mais chuva porque estás a percorrer aquela curta distância a correr. Se fores a andar acabas por apanhar menos chuva. Há leis da física para explicar isto.•

Lara Pinho | 18 anosEstudante de Medicina ICBAS

Quando ando, porque é mais lento, logo o impacto é maior. Como demoramos mais tempo também há mais chuva que cai e quando corro é muito mais rápido. Isso é uma perspetiva científica. Claro que eu tenho sempre tendência. Como é mais rápido, maior a distância e menor o tempo, logo menos chuva. •

Marta Rodrigues | 21 anosEstudante de Artes PlásticasFaculdade de Belas Artes UP

Depende do tempo que estou a andar ou a correr. Se calhar a correr molha menos. É menos tempo e assim a chuva não tem tanto tempo para chegar ao teu corpo. Se estamos a correr atravessamos a chuva, enquanto a andar estamos ali. Levamos com cada vez mais chuva na mesma área do corpo. Acho que vai por aí. Eu tento sempre correr para não apanhar chuva. •

A chuva molha mais quando andas ou quando corres?

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04 JUP — MARÇO 2014DESTAQUE

NOS 25 ANOS DA FEDERAÇÃO ACADÉMICA DO PORTO O JUP FOI À PROCURA DOS SEUS ANTIGOS PRESIDENTES DA DIRECÇÃO. QUEM SÃO, O QUE FIZERAM APÓS OS SEUS MANDATOS. MAS TAMBÉM A POLÍTICA E AS AMBIÇÕES.

FAP:25 anos e 17 presidentes

por Nuno Moniz, Joel Pais e Sara Pereira ilustração Sara Cunha

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JUP — MARÇO 2014 05DESTAQUE

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(16)Luís Rebelo (FEUP)

09-12 Membro do CG da UP10-10 Estagiário na CCDR-N11-12 Presidente da FAP11-13 Membro do CNE13-14 Facilitador na Rede de Percepção e Gestão de Negócios

(17) Rúben Alves(ESTSP)

O Presidente actual

(1) Diogo Vasconcelos (FDCUP)

87 Fundador do JUP89-92 Presidente da FAP 96-02 Vice-Presidente da Associação Nacional de Jovens Empresários99-00 Vice-Presidente do PSD02-03 Deputado na AR pelo PSD02-05 Porta-Voz do PSD para a Sociedade de Informação02-04 Presidente da União de Missão Inovação e Conhecimento05 Mandatário Digital da Campanha de Cavaco Silva05-07 Consultor da Presidência da República08-11 Presidente da Associação Por-tuguesa para o Desenvolvimento e Comunicação07-11 Dir. Sénior da Cisco Internacional07-11 Presidente da SIX – SocialInovation eXchange09-11 Presidente da Dialogue Café

(3) Luís Pinheiro (ISEP)

90-92 Presidente da AEISEP93-94 Presidente da FAP98-09 Gerente da Luso Ricuni99-07 Jornalista em Portugal TT00-06 Fundador da A.G.A 01-09 Dir. Comercial da Meamo12-13 Gestor da Aveicorte S.A.

(2) Miguel Freitas (FEUP)

94-95 Presidente da FAP97-14 SOLIDAL

(4)Fernando Medina(FEP)

95-96 Presidente da FAP95-97 Membro do Senado da UP96-98 Membro do CNE98-00 Consultor do INOFOR99-01 Membro do Conselho Consultivo do Porto 2001 S.A.00-02 Assessor de António Guterres03-14 Quadro da AICEP05-09 Secretário de Estado do Emprego e Formação Profissional 09-11 Secretário de Estado Adjunto, da Indústria e do Desenvolvimento11-13 Deputado na AR pelo PS 13-14 Vereador da CML13-13 Consultor da Administração da Fundação Calouste Gulbenkian

(5) Ricardo Almeida (FEUP)

96-99 Membro do Senado da UP97-98 Presidente da FAP98-05 Membro do Conselho Nacional da JSD98-99 Membro do CNE99-06 Deputado pelo PSD99-12 Membro do Conselho Nacional do PSD00-02 Secretário-Geral da JSD05-06 Professor Convidado na Universidade Independente06-11 Director da PortoLazer11-13 Presidente da Empresa Municipal Gaianima11-13 Presidente do PSD-Porto13-14 Vereador da CMPorto13-14 Gestor da Blueaegean Consultores

(6) Miguel Pinto(ISEP)

97-98 Vice-Presidente da FNESP99-99 Presidente da FAP99-03 Gestor de Qualidade na Yazaki Saltano03-06 Gestor do Departamento de Qualidade da Continental07-09 Gestor de Produção da Enercon09-10 Gestor Industrial da Enercon09-13 Deputado Municipal Póvoa de Varzim pelo PS10-14 Gestor de Fábrica da Colep

(7) Hugo Neto(FDUCP)

00-02 Presidente da FAP02-03 Assessor do Secretário de Estado da Juventude e Desporto03-05 Chairman da Movijovem 05-06 Consultor para a Youth and Entrepreneurship Consulting07-08 Assessor dos assuntos Juventude, Educação e Inovação da CMPorto08-11 Gestor da Helpo11-13 Dir. Geral da PortoLazer13-14 Administrador da PortoLazer

(8) Nuno Mendes(FDUP)

01-01 Vogal da FAP02-03 Presidente da FAP03-04 Representante dos Estudantes no Conselho Consultivo do Ensino Superior05-07 Assistente de Supervisor na PT07-07 Consultor Internacional de Negócios na SPI Consulting08-09 Supervisor no Barclays09-09 Coord. Local de proj. na Helpo09-10 Dir. de Op. na Sun Life Financial10-11 Analista de Dados na Google12-14 Analista Financeiro no Linkedin

(9) Nuno Reis(FMDUP)

02-14 Deputado Municipal na Assembleia Municipal de Barcelos02-09 Dir. Comercial da Empresa Gasdome Gases Medicinais Lda02-04 Membro do Conselho de Avaliação da Fundação das Universidades Portuguesas03-09 Gerente da Medicalbar 04-05 Presidente da FAP04-05 Membro do CNE04-05 Membro dos Promotores de Bolonha04-14 Membro da Assembleia da Grande Área Metropolitana do Minho05-09 Gerente da Aerovida09-14 Deputado na AR pelo PSD (10) Pedro Esteves(ISEP)

05-06 Presidente da FAP06-10 Assessor do Presidente do IPP10-10 Fundação IPP11-14 Chefe de Gabinete do PSD no Grupo Partido Popular Europeu

(11) Pedro Barrias(FDUP)

03-05 Membro do Senado da UP06-08 Presidente da FAP09-09 Assessor do Ministério de Agricultura, Pescas e Desenvolvimento Rural09-11 Assessor do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior11-14 Assessor Técnico da Fundação das Universidades Portuguesas

(12) Ivo Santos(ISEP)

04-05 Repr. dos estudantes no CG do IPP05-05 Presidente da Mesa da Assembleia-Geral da FNAEESP05-07 Repr. dos estudantes do Politécnico no CNE07-08 Vice-Presidente da FAP08-09 Presidente da FAP11-14 Sócio da MAMOA12-14 Presidente do CNJ

(13) Filipe de Almeida (FEUP)

06-10 Assembleia de Representantes da FEUP09-09 Presidente da FAP

(14) Ricardo Rocha(FMUP)

09-09 Presidente da FAP12-14 Hospital Amadora-Sintra

(15) Ricardo Morgado(FDUCP)

09-09 Vice-Presidente da FAP10-11 Presidente da FAP10-11 Membro do CNE11-11 Trainee Lawyer na MCSC e Associados11-14 Assessor do Secretário de Estado do Ensino Superior

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06 JUP — MARÇO 2014DESTAQUE

Federação Académica do Porto, mais conhecida como FAP, assume-se como o organismo coordenador do movimento estudantil, criando os meios para a união das diversas asso-ciações. Fala por 27 associações de estudantes, 60 mil estudantes. Com acções não só na Educação, mas também na Cultura e na Acção Social, já são 17 os homens que assumiram o cargo de Presidente da Direcção. Criada em 1989 com Diogo Vasconcelos, também fun-dador do JUP, assume um papel de diálogo sobre as questões do Ensino Superior com os Governos. Passaram 25 anos e o JUP foi à procura dos seus antigos Presidentes.

[SOBRE O CONVITE PARA DEPUTADO]

ERA MUITO NOVO E ACHEI QUE ERA UM DESAFIO DA MINHA VIDA E ACEITEI, E FUI ELEITO.

AS PRESSÕES DO GOVERNO E DA OPOSIÇÃO (DIRECTAS OU INDIRECTAS) SÃO PERMANENTES.

EXISTEM MUITAS MANEIRAS DE INFLUENCIAR O EXERCÍCIO DUMA FUNÇÃO COMO ESTA..

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presidentes

associações de estudantes

estudantes

17

27

60.000

anos25-> os números

> OS MOMENTOS ALTOSApesar de na maioria dos casos já ter passado mais de uma década, as memórias dos momentos altos estão bem presentes. Miguel Freitas, licen-ciado em Engenharia Electrotécnica pela FEUP e Presidente da FAP durante um mandato no ano de 1993, recorda a contestação das propinas no Ensi-no Superior, sendo a Dra. Manuela Ferreira Leite a Ministra do Ensino Superior na altura. Lembra

também o processo de construção da sede da FAP, que já havia come-çado com o primeiro Presidente, Diogo Vasconcelos, e que conti-nuou no mandato seguinte.

Ricardo Almeida, também da FEUP, ocupando o cargo durante dois mandatos em 1997 e 1998, aponta a “afirmação da FAP en-quanto entidade representante dos estudantes”. Segundo o pró-prio, contrariar a falta de ligação directa entre a FAP e os estudantes foi a parte mais importante do seu exercício, referindo a importância deste feito tendo em conta a con-testação na altura à Lei de Finan-ciamento do Ensino Superior.

Presidente nos anos 2002 e 2003, Nuno Mendes, da FDUP, refere dois momentos altos. Em primeiro lugar a adjudicação da segurança da Queima das Fitas à PSP e o fim dos grupos informais

de segurança. Em segundo lugar refere a data de 5 de Novembro de 2003 que, segundo o próprio, foi a maior manifestação nacional de estudantes de sempre, onde o Porto se fez representar por mais de mil estudantes.

Ivo Santos, do ISEP, Presidente da Direcção no ano 2008 refere o “reconhecimento e valorização do trabalho da Federação ao longo dos anos” com a visita do Presidente da República à FAP, relacio-nada com o trabalho da Federação no contexto da economia social, com o projecto Aconchego.

> OS CARGOS POLÍTICOS DEPOIS DA FAP

Sobre a influência das juventudes partidárias e a suposta utilização do cargo de Presi-dente da Direcção da Federação enquanto antecâmara de cargos de relevo na política nacional ou de confiança política as respostas são claras. Em reacção aos resultados da investigação do JUP o ex-Presidente Luís Filipe Pinheiro, licenciado em Engenha-ria Electrotécnica pelo ISEP, que exerceu o mandato de 1993, lembra que “a FAP é uma Federação que representa a segunda maior academia portuguesa” e que “para as juventudes partidárias é uma mais valia na sua lógica de progressão política e partidá-ria”. Valoriza os independentes que vencem essas estruturas e faz notar que, os “car-gos políticos para filiados são decorrentes e os de confiança política são isso mesmo, confiança política”.

Responsável máximo durante a “guerra das propinas”, e na altu-ra filiado na Juventude Social Democrata, Miguel Freitas lembra o caso de Fernando Medina, que poucos anos após o término dos seus mandatos foi nomeado para assessor do Governo PS encabeçado por António Guterres. Mas não fica por aqui e dá o seu próprio exemplo para ilustrar a sua resposta. Lembra os “debates” com os colegas par-tidários, por discordar da proposta das propinas. Acrescenta, sobre este assunto que “não está a ser cumprido aquilo que foi inicialmen-te a intenção” da Ministra de então. Tal como Luís Filipe Pinheiro, relembra que as estruturas estudantis detêm um grande “poder de intervenção” que eventualmente acaba por levar a cargos públicos ou partidários de relevo. No entanto, sublinha que a questão de ser ou não Presidente da FAP não é o maior factor, mas que tal “dá-lhes outros conhecimentos” e “mais-valias” que possibilitam a ocupação desses cargos.

Ricardo Almeida, actualmente Vereador da Câmara Municipal do Porto, dá também o seu caso como exemplo. Após o término do seu mandato na FAP em 1998 assumiu o cargo de Presidente da Distrital da JSD, tendo sido escolhido para a lista do PSD nas eleições de 1999. Admite surpresa pela convite da altura, mas encarou como “um desafio” e aceitou, tendo sido eleito.

Classificando como “uma consequência normal” no percurso de pessoas que alimentam desde cedo “preocupações cívicas e interes-ses políticos”, Nuno Mendes critica “um certo preconceito” contra os “protagonistas de altíssima qualidade” que têm passado nas estrutu-ras representativas do movimento estundatil. Apesar de referir que não fez qualquer carreira política não se coibe de afirmar que este preconceito “resulta somente da velha tendência nacional de siste-maticamente reduzir o mérito pessoal e intelectual a uma questão de sorte ou de favorecimento”.

O ex-presidente Ivo Santos reforça esta ideia afirmando que as crí-ticas sobre a relação entre os dirigentes da FAP com partidos políticos é recorrente, no seu entender “injustamente e de forma preconceituo-sa”. Afirma que o problema não é o envolvimento de líderes na política mas o seu inverso, fazendo questão de lembrar a importância do envol-vimento de dirigentes associativos estudantis no “progresso intelectual e social”, pelo menos no século XX, e o seu contributo progressista nos

partidos. Lamenta a “diabolização” da relação entre os dirigentes estudantis e os parti-dos políticos relembrando o aparente “divórcio entre representados e representantes”. Afirma que “em nada contribuem para uma democracia madura”. Sem deixar de re-lembrar os casos em que antigos dirigentes da FAP exerceram cargos governamentais e o seu contributo, admite que no que diz respeito à Federação, a estabilidade dos proces-sos políticos cria uma certa "endogamia" que apesar das críticas recorrentes, “favorece uma escola de maturidade e crescimento das lideranças da FAP com base numa coe-rência politica e programática de continuidade”.

RICARDO ALMEIDA

LUÍS FILIPE PINHEIRO

MIGUEL FREITAS

Page 7: Jup Março 2014

JUP — MARÇO 2014 07

Estas fases de transição entre as lides de liderança associativa, no caso do mundo estundatil, e oportunidades de em-prego ou lugares de destaque no aparelho de estado ou em empresas públicas e privadas em lugares de nomeação polí-tica, reflecte uma lógica que podemos considerar um tanto perversa da nossa actual democracia e da nossa sociedade.

Qualquer pessoa que passa algum tempo à frente de uma associação tem de gerir pessoas e portanto adquire uma bagagem em termos de trabalho de equipa, duma certa visão de desenvolvimento da organização que representa. E isso, em princípio, para qualquer gestor que vá depois selecionar alguém, algum jovem para ocupar cargos de respon-sabilidade com certeza levará em conta a experiência da pessoa. Teoricamente, até poderiamos considerar que as pes-soas que passam pela liderança das associações estudantis terem oportunidades no mundo empresarial e nos cargos públicos assenta nessa experiência de liderança, embora ache que, genericamente, não seja essa a razão principal.

Acho que existem aspectos que estão relacionados com a própria sociedade portuguesa e outro aspecto tem a ver com a própria dinâmica dos partidos políticos em Portugal, em especial, do arco do poder: PSD, CDS-PP e PS.

No que diz respeito à sociedade, na verdade, ela evoluiu, como tantas outras, para esta lógica individualista, da con-corrência e do mercado, desde os anos 60, 70, até agora, a partir dum contexto de maior envolvimento, intervenção pública e debate político e social, em que a construção das redes passou a obedecer a uma ambição pessoal e o desejo de ocupar posições com alguma vantagem, tanto ao nível da vida política e pública como ao nível profissional.

O que nos deve inquietar enquanto cidadãos é até que ponto este networking se destina a pôr ao serviço da socie-dade, as organizações, as empresas e os grupos que lideramos, ou se interessa unicamente à ambição pessoal e à ne-cessidade de conquistar ou reforçar lugares melhor remunerados ou de maior visibilidade e protagonismo de cada um.

Portanto, acho que do ponto de vista da sociedade foi crescendo ao longo da década de 90 e nesta viragem do século e do milénio, uma cultura tecnocrática que se foi impondo ao que seria tipicamente a cultura democrática do debate permanente, do questionamento, do sentido crítico da vida, da abordagem que leva a questionar o status quo.

A tecnocracia, em expansão desde os primeiros governos do Dr. Cavaco Silva, diz-nos o seguinte: a política é dos po-líticos. Quem está, está, quem tem poder, decide. E o resto tem apenas que seguir os critérios dos que estão nos lugares de topo, porque as suas decisões obedecem, supostamente, apenas a critérios técnicos.

Essa tecnocracia esvaziou o sentido da política. E levou a que as novas gerações que chegam à vida adulta ou a ex-periências deste tipo de associativismo incorporasse essa cultura mais propensa ao individualismo e menos inclinada para a problematização da sociedade e para a discussão ideológica e política.

Há outra elemento que é necessário juntar, que são os partidos e as suas organizações juvenis, as chamadas “jotas”. Porque acho que esses partidos que já referi, PSD, CDS-PP e PS, os partidos com experência governativa em Portugal, enveredaram muito nessa lógica. Criaram aparelhos que se tentaram aperfeiçoar, e que seguiram aquela cultura e ati-tude que referi, da lógica tecnocrática, o individualismo, o carreirismo, a tutela e o princípio da tutela.

Isto no fundo é aquilo que podemos considerar de seguidismo, que também são elementos que se substituem ao de-bate público e à democracia interna dos grandes partidos. No caso dos estudantes, e do movimento estudantil, aquilo que pressentimos olhando para esse mundo, é que essa cultura mais propensa ao individualismo e ao seguidismo traduz-se em práticas e comportamentos que são muito de reprodução da hierarquia, de vincar o poder e o poder simbólico da antiguidade, fenómeno que também se vê nas praxes. Não nos esqueçamos que é muito no contexto das praxes que se criam esses laços de lealdade, essas tutelas, a figura de padrinho que se apresenta como um protector e como tal, tem maior poder para recrutar os seus seguidores.

Tradicionalmente, desde que a juventude se impôs, ligada às universidades, as sociedades habituaram-se a que trou-xessem uma nova mensagem, um ar fresco, que renovasse a própria agenda social, cultural e política. Infelizmente não é isso que está a acontecer, e uma das razões porque não é isso que acontece é pelos dados que são apresentados nesta in-vestigação, que embora seja referente ao Porto, estou convencido que pode ser extensível a outras universidades e a outra realidade. É por essa razão que a maioria dos jovens, dos estudantes, eles próprios também muito condicionados por essa mesma cultura estudantil e consumista que há pouco enunciei, tendem a não participar. Desconfiam, mas não questio-nam. Não têm a iniciativa de contrariar, de oferecer alternativas, de participar massivamente na criação de alternativas.

Por isso, vemos que as direcções associativas são eleitas em geral por 20%, 30%, sendo que esta última já é muito. Portanto, 70% de abstenção já achamos ser natural. Isto é um sintoma da corrosão da nossa democracia que se reper-

cute neste ambiente do associativismo estudantil. Acho absolutamente impressionante que num quadro que temos vivido nos últimos 3 ou 4

anos, de crise, austeridade, de ausência total da perspectiva de futuro para os jovens, de imigração massiva daqueles que saem da universidade depois de acabar o curso, ou seja, uma juventude universitária sem futuro, vítima da precariedade e do desemprego, não se veja a presença da mo-bilização dos jovens a partir do movimento universitário português que são de facto as principais vítimas desta crise e desta austeridade.

E uma das razões acho ser que, de facto, as “jotas” penetram nas lógicas das associações mesmo quando elas não se assumem como partidárias, que diria ser a maioria dos casos, e essa lógica que prevalece é a lógica da “partidite”, e uso exactamente no sentido pejorativo da palavra.

Isto traduz-se num desligar, num divórcio crescente das suas bases e do eleitorado em geral, e no caso do associativismo estudantil, também um divórcio cada vez mais evidente entre as estru-turas dirigentes e a sua base de apoio que deveriam ser os seus estudantes.

NATURALMENTE NUNCA SENTI NENHUM CONFLITO DE INTERESSES COM O GOVERNO DE ENTÃO [...]

[...] OS MEMBROS DA FAP [...] DEVERÃO CORRESPONDER A UMA NOVA GERAÇÃO DE LIDERANÇAS POLITICAS QUE O PAÍS TANTO RECLAMA E PRECISA.

DESTAQUE

n

> OS CONFLITOS DE INTERESSES

Em relação a situações de conflito de interes-ses, para a maioria dos entrevistados a situação é normal e decorrente do peso institucional que a FAP representa. O ex-presidente Luís Filipe Pi-nheiro diz mesmo que quer a Direcção, quer a As-sembleia Geral da FAP “sabem e estão preparadas para lidar com essa realidade” fazendo notar que as pressões, directas ou indirectas, tanto por parte dos Governos ou da oposição são permanentes.

Miguel Freitas não tem qualquer dúvida sobre a existência de conflito de interesses e afirma mesmo que “quem diz o contrário está a faltar à verdade”. Salienta que, “mesmo sem querer”, no exercício das funções de Presidente da FAP aca-ba-se sempre por “cair inevi-tavelmente num lado ou nou-tro”. Esclarece o que entende por pressão dizendo que isso não significa “estarem a bater à porta” ou constantemente a “chatear a cabeça”, comparan-do com a influência exercida sobre membros do Governo, que diz não ser feita com “uma pistola à cabeça”. Fazendo parte duma equipa enquanto Presidente da Federação admi-te que sejam “indirectamente influenciados” ou por atitudes que tomam ou pela equipa com que trabalham.

Também dando o seu exem-plo, Ricardo Almeida garante que sempre assumiu as posi-ções que eram as dos estudan-tes, independentemente de serem contrárias às posições oficiais da JSD e do PSD, partido do qual também faz parte, re-cusando que houvesse qualquer interferência por parte dessas organizações partidárias.

Nuno Mendes, referindo não pertencer na altura a qualquer juventude partidária, diz nunca ter sen-tido qualquer conflito de interesses com o Governo de então, de coligação entre PSD e CDS de Durão Barroso e Paulo Portas. Relembra as acções promo-vidas pela Federação Académica do Porto da altura, sempre que “os estudantes as reputaram como ne-cessárias à defesa dos seus interesses colectivos”.

Declarando ser normal resultarem conflitos de interesses que colidem com outras perspectivas, Ivo Santos não nega “vários conflitos de interes-ses e discussões acesas com o Governo”. Refere momentos de tensão entre o Governo e a FAP, aquando da revisão de estatutos das instituições de ensino superior, relativamente às relações en-tre estas e os Municípios, onde a FAP promovia iniciativas que geravam receitas. Comenta que, não fosse também esse o papel da FAP, a orga-nização seria “irrelevante, indiferente e por isso dispensável”, contrapondo com aquilo que crê ser actualmente um “exemplo de relevância social, política e institucional”. Referindo que é militante do PSD há vários anos tendo interrompido a sua participação partidária sempre que esteve envol-vido em cargos de representação de organizações juvenis ou estudantis, considera que “a FAP terá a ganhar quanto mais intervenção política tiver” e que os dirigentes da FAP deverão corresponder a “uma nova geração de lideranças políticas que o País tanto reclama e precisa”.

COMENTÁRIO DE ELISIO ESTANQUE Professor de Sociologia da Universidade de Coimbra

NUNO MENDES

IVO SANTOS

Nota: O actual Presidente da Direcção da Federação Académica do Porto, Rúben Alves, foi contactado várias vezes quer através dos contactos oficiais da Federação, quer directamente, no sentido de colaborar com uma entrevista sobre os 25 anos da FAP e as suas posições actuais. Nenhum desses contactos foi atendido e nenhuma mensagem respondida.

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08 JUP — MARÇO 2014EDUCAÇÃO

por Bárbara Silvailustração Catia Vidinhas

Constituído por 23 membros, entre eles, 4 estudantes, 12 representan-tes dos docentes e investigadores, 1 representante não docente e ainda 6 membros externos à universida-

de, o Conselho Geral da Universidade do Porto (CGUP) é, segundo a professora de Psicologia e Ciências da Educação, Isabel Menezes, “um órgão de controlo do governo, não é executivo, mas legislativo, que tem a função de fiscalizar os órgãos da universidade, nomeadamente o reitor, assim como emitir pareceres e aprovar regula-mentos, como as propinas”.

Para a docente, membro do CG, eleita pela lista C - "Renovação, Diversidade e Cultura Democrá-tica", com 56 votos, a particularidade deste órgão, da gestão central da universidade, começa nas próprias eleições que são “simultaneamente uma votação em lista e numa pessoa”, o que demons-tra um “grande pluralismo no interior da universi-dade, e uma eleição mais personalizada”.

Esta é a base da constituição do Conselho Geral sendo que, são os membros internos à universidade que escolhem os representantes da sociedade, ou seja, pessoas que se querem interventivas e preocupadas com a realidade do ensino superior em Portugal. Traçam-se perfis, os mais diversificados possíveis, “escolhem-se pessoas do mundo das empresas, da cultura, que podem dar um contributo para ajudar a pensar as questões da universidade”, normalmente pes-soas com outras visões, o que segundo Isabel Menezes é “bastante vantajoso para a UP”.

O atual presidente do Conselho Geral, Alberto José de Sousa (membro externo da universidade), considera que a ligação da academia à sociedade é imprescindível e é possível graças à “difusão e transferência do conhecimento, sobretudo do conhecimento científico e da investigação com valorização económica” o que, segundo o antigo provedor da justiça, explica e justifica a integra-ção no Conselho Geral dos membros externos”.

Esta inclusão acaba por fazer cumprir o de-sígnio do art.º15 e 17, que esclarece a importân-cia em desenvolver e estabelecer relações com “entidades subsidiárias de direito privado, como fundações, associações e sociedades”.

Um olhar sobre o reitorO papel do CG começa na eleição do reitor, sen-do que posteriormente está incumbido de, sob proposta do reitor, aprovar regulamentos, planos estratégicos assim como decidir sobre tudo o que se prenda com planos científico, pedagógico, fi-nanceiro e patrimonial.

O caso da revisão das propinas é o exemplo que, para Isabel Menezes, melhora ilustra o pa-pel deste órgão: a decisão de não aumentar o

valor pago pelos estudantes coube aos CG, que é as-sim soberano em vários campos do governo da univer-sidade, “em muitos assuntos as deci-sões do Sr. Reitor, são decisões que tomadas a partir da decisão do Conse-lho Geral”.

A revisão da or-gânica do governo da Universidade do Porto é ou-tra das questões que tem ge-rado discussão, e embora não seja uma questão prioritária, a docente da Faculdade de Psico-logia e Ciências da Educação, considera que não deve ser esquecida, “uma vez que o importante é a qualidade de vida e de trabalho nesta casa e tudo deve ser feito para

conduzir ao sucesso da instituição”.

Mais recentemen-te, as praxes esti-veram em cima da mesa do Conselho Geral, proposta feita pelo membro exter-no e antigo depu-tado, José Pacheco Pereira. Desta dis-cussão saiu o reforço da posição, do reitor e da universidade, tomada em Setem-bro do ano anterior, face a qualquer “ati-vidade desta nature-za”. Em comunicado à agência Lusa, Al-berto José de Sousa, adiantou ainda que não deve ser faculta-do “qualquer apoio

financeiro, instalações ou qualquer outra cola-boração com grupos associados a estas práticas”.

Lista A e B – As representantes dos estudantesA eleição dos estudantes processa-se da mesma forma que a eleição dos representantes dos do-centes e investigadores: vota-se em pessoas de cada lista. Foi com 343 votos que Pedro Ferreira venceu o lugar no Conselho Geral, pela Lista A, num total de 719 votos. Já Daniel Freitas conse-

guiu pela lista B 561 votos, enquanto Francisco Silva conseguiu 296 e Joana Magalhães 201, num total de 1180. Para trás ficaram as Listas C e D com 213 e 73 votos respetivamente, não elegendo nenhum representante.

As listas vencedoras destacavam-se pela clara posição de lutar por uma universidade mais justa e de todos, onde as principais preocupações dos estudantes fossem discutidas. O estudante da Fa-culdade de Engenharia, Daniel Freitas, vencedor pela Lista B, salientou ainda a importância de um trabalho conjunto que favoreça a participação estudantil, explicando, no entanto, que o grande objetivo do Conselho Geral não é representar os estudantes, mas sim “pensar a universidade”.

E é com este mote que Daniel Freitas aponta a redefinição da orgânica da universidade como prioritária para este novo mandato. Uma medida que vem de anos anteriores e que tem gerado al-guma polémica, depois do reitor ter manifestado interesse em “reorganizar a academia, com vista a uma melhor gestão”.

Esta reorganização passaria pela redução “de alguns diretores e unidades orgânicas, sendo que a proposta reitoral era diminuir centros de deci-são, forçar as unidades orgânicas a juntarem-se”.

Pouca participação eleitoral dos estudantesNa eleição dos representantes docentes votaram cerca de 61% dos inscritos, nos estudantes a per-centagem de participação nas eleições ronda os 10%. Valores que, segundo Isabel Menezes, po-dem sugerir “um distanciamento dos estudan-tes relativamente a este órgão, o que não é sur-

preendente, pois é sempre mais fácil o envolvimento ao nível local, das faculdades”. No entanto estes números não significam afas-tamento do CG, que se esforça “por ouvir as pes-soas”, embora não sendo um órgão que interaja diretamente com os membros da academia.

Também Daniel Freitas salienta que as intera-ções que existem são muitas vezes pessoais, fora dos meios legítimos, “há sempre uma tentativa de chegar aos estudantes, trabalho facilitado pelo conhecimento prévio da realidade estu-dantil: normalmente os estudantes membros do CG acabam por conhecer as lutas estudantis e as opiniões dos estudantes, pois por norma já fizeram parte de outros órgãos de gestão e dire-ção”, como aliás é o caso de Daniel, presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Engenharia. Isabel Menezes considera mesmo os representantes dos estudantes são um “interface importante na comunicação entre os estudantes e o CG e vice-versa”.

A fraca participação dos estudantes nas elei-ções de 13 de Dezembros (que elegeram os 4 re-presentantes do Conselho Geral) é reconhecida como um problema, que Isabel Menezes vê com preocupação e para o qual aponta “um trabalho mais sistemático e um maior cuidado na marca-ção de eleições, numa altura que seja razoável” como possíveis soluções. Também o presidente, Alberto José de Sousa, que o CG não deixará “em futuros atos de estimular uma maior participa-ção, não só nas eleições dos estudantes para este órgão como para outros órgãos". •

Conselho Geral da UP: um órgão fiscalizador

[SOBRE O CGUP] ...É UM ÓRGÃO DE CONTROLO DO GOVERNO, NÃO É EXECUTIVO, MAS LEGISLATIVO, QUE TEM A FUNÇÃO DE FISCALIZAÇÃOlizar os ór

-ISABEL MENEZES

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JUP — MARÇO 2014 09EDUCAÇÃO

As ciências sociais não são ciências pobresJOÃO TEIXEIRA LOPES É PROFESSOR NA FACULDADE DE LETRAS NA UNIVERSIDADE DO PORTO. PASSADO UM MÊS DESDE QUE PUBLICAMENTE CRITICOU O CONCURSO PARA BOLSEIROS DE DOUTORAMENTO E PÓS-DOUTORAMENTO DA FUNDAÇÃO PARA A CIÊNCIA E TECNOLOGIA, RECUSANDO VOLTAR A PARTICIPAR COMO JÚRI, O JUP ENTREVISTOU O PROFESSOR JOÃO TEIXEIRA LOPES SOBRE A ACTUALIDADE E O FUTURO DA CIÊNCIA EM PORTUGAL.

Na sua opinião, como está a Ciência em Portugal nos dias de hoje?Se olharmos para os níveis de financia-mento eles estão a cair não desde há três ou quatro anos. E vem geralmente acompanhada por um discurso de legi-mitação dessa queda. Ou seja, o discur-so dominante diz-nos que na verdade não há menos dinheiro para a Ciência, há menos dinheiro público, mas isso até pode ter um lado positivo. Porquê? Porque supostamente o dinheiro públi-co cria dependências. Se quiseres, é, mutatis mutandis, o discurso da sub-sidiodependência que habitualmente se cola ao campo cultural e artístico. E por conseguinte, diz-se que o ideal seria que o Orçamento de Estado para a Ciência diminuisse porque isso signi-ficaria quer o aproveitamento dos fun-dos comunitários quer principalmente o aproveitamento do investimento privado. Mas isto é uma falácia com-pleta. Porque se há outra coisa que os números demonstram também é que o financiamento privado, empresarial, de Investigação e Desenvolvimento é muito pequeno, é reduzidíssimo, e não tem aumentado.Como comenta o facto das Ciências Sociais estarem a ser mais atingidas que as outras áreas?Isso é evidente particularmente nos úl-timos concursos de projectos científicos e de bolsas individuais de doutoramen-to e pós-doutoramento. Tens variações que vão de 15% de bolsas atribuídas nas ciências biológicas ou noutro ramo da engenharia e depois tens 5%, 6% áreas das ciências sociais. Essa é outra ques-tão importante. Desde sempre as ciên-cias sociais têm sido preteridas com o argumento de que, por um lado, a sua aplicabilidade é menor, por outro lado, os seus próprios custos de funciona-mento seriam menores. As ciências sociais, ainda que seja muitas vezes as ciências dos pobres ou que estudam os pobres, não são ciências pobres. São ciências que exigem o mesmo grau de sofisticação e complexidade. Mas são ciências que desde sempre têm levan-tado por parte dos poderes instituídos alguma desconfiança. Então, como responde a quem diz que as ciências sociais não criam va-lor para a sociedade?A resposta que eu dou é que quem afir-ma isso tem uma visão de lucro ime-diato, tem uma visão ultra restrita da aplicabilidade e, em terceiro lugar, es-quece-se como o pensamento sobre a própria Ciência é desenvolvido. Como é que se produzem as teorias e os con-

ceitos? Epistimologia. Quais são as condições instituicionais favoráveis à propagação da cultura científica? A so-ciologia da ciência dá um bom contri-buto para isso. Porque é que certos te-mas são previligiados face a outros, que dificilmente são estudados? Porque é que as mulheres demoram mais tempo a chegar ao topo das hierarquias cien-tíficas? Enfim. Todas essas questões fundamentais para uma política cientí-fica, para um política pública moderna, são património, ou da filosofia, ou das ciências sociais, ou do conhecimento crítico em geral. Logo, a visão restrita da aplicabilidade é uma visão muito curta, muito mesquinha, que só vê uti-lidade na Ciência se ela produzir ime-diatamente, amanhã, uma patente, ou se tiver um qualquer efeito mecânico numa empresa, numa organização. Quais são as maiores implicações que os resultados do concurso da FCT teve, na sua opinião?Apesar da FCT ter dito que, e isso foi público, iria atribuir 10% de bolsas de forma tranversal independemente das áreas ou domínios, o que já de si é muito pouco, é uma quebra brutal em relação a concursos anteriores e que significa desinvestimento público na Ciência. A meu ver, o principal efeito foi essa hierarquização das áreas cien-tíficas do ponto de vista institucional. E há um terceiro aspecto, além do desin-vestimento e da hierarquização que são os procedimentos, a meu ver, ilegais, de alterar classificações do juri, sem que o juri tenha sido avisado.

Há um recuo duplo da FCT no en-tretanto. A FCT vai tentar repor os 10% através deste orçamento adicional que apareceu por causa duma reacção transversal da comunidade científica. E há outra coisa que é a FCT ter manifes-tado abertura para repor as classifica-ções que o juri tinha dado em sede de audiência prévia. A ver vamos.Como é que isso afecta a sua decisão, tornada pública, de recusa em voltar a pertencer a esse juri?Eu não vou voltar a ser avaliador em futuros concursos, e isso tenho certe-za. Não quero mais colaboração com a FCT enquanto ela funcionar nestes moldes e tiver esta orientação ideo-lógica de subfinanciamento público, hierarquização das áreas científicas. A minha única dúvida neste momen-to prende-se com participar ou não na audiência prévia. Se eu achar que, como houve estes recuos, para os can-didatos pode ser mais útil eu estar lá nas audiências prévias, como membro

do júri, e se for reposta a classificação anterior, considero a hipótese de par-ticipar no painel no que diz respeito às audiências prévias. Mas em futuras avalições não farei parte porque acho que seria uma colaboração com um sistema científico em desestruturação e que gera injustiças e desigualdades.Passemos para o futuro. Até onde nos levará a implementação e manuten-ção destas políticas científicas?Eu acho que nos colocará numa posi-ção ainda mais subalterna no que diz respeito à nossa posição na divisão in-ternacional do trabalho científico. Nós tínhamos conseguido recuperar atra-sos, tínhamos até, em alguns aspectos, uma posição próxima das boas práticas ou das boas médias. Acho que agora iremos ficar claramente subalternati-zados. Isto é, acho que vamos ter um apoio ultra concentrado, ultra selecti-vo, ligado para aquilo que o Governo considerar ser o mais interessante em termos de exportações no momento acutal. O que quer dizer uma visão de curtíssimo prazo sobre a Ciência e isso significa o desmantelamento do siste-ma científico nacional, ponto. Signi-fica uma hipoteca do futuro. Significa também que, no futuro, a lógica ren-tista das empresas se vai desenvolver, porque vão ter dinheiros públicos para fazer investigação privada segundo in-teresses privados. Por fim, o que é central e urgente alte-rar na política de Ciência em Portugal?A questão da precariedade dos cien-tistas, eu acho que é fundamental. Ou seja, unidades científicas com um qua-dro de financiamento estável e com uma equipa e recursos humanos está-veis que possam ter previsibilidade e algum tipo de estabilidade. Porque eles são avaliados. A ideia de que a previsi-bilidade é inimiga da boa performance científica, é errada. A boa performance científica faz-se com avalições rigo-rosas entre pares. Eles estão expostos constantemente. Essa exposição ga-rante à partida a qualidade do produto científico. A estabilidade garante tam-bém, creio eu, a possibilidade de se fazerem projectos que, mais uma vez, não sejam condicionados pela necessi-dade absoluta do momento. Isso é que é futuro científico.

6 meses de Europa

Passei seis meses em Estrasburgo, uma pequena cidade no nor-deste francês que faz fronteira com a Alemanha e, posso dizer, que foi uma das melhores experiências da minha vida. Cresci, aprendi e diverti-me.

Fiz amizades que, além de colocarem determinados assuntos numa outra perspetiva através das diferenças de culturas, hábitos e gostos, mas, e acima de tudo, pude perceber que há valores que nos aproximam devido a algo em comum, a Europa. Sim, pode-mos ser e considerar-nos sem dúvida europeus.

Viajei por grandes capitais e pequenas vilas, por França e no es-trangeiro, tive experiências novas e consolidei algumas antigas. De qualquer das formas, há episódios que sempre irei recordar como: ver neve pela primeira vez, ir à Oktoberfest, ir à casa de Anne Frank ou visitar um campo de concentração. Também marcou--me percorrer as catacumbas de Paris, beber chocolate quente no meio dos Alpes ou até mesmo adormecer na estação de comboios de Amesterdão. Novo ou repetido, nada que alguma vez possa ser esquecido. Porém as experiências não foram só além-fronteiras, muitas delas mantiveram-se por Estrasburgo… Para uma pessoa que sempre viveu em casa dos pais e que quando decide sair, em-bora que por um período relativamente curto, vai para outro país para uma cidade a 2000 km, há certas vivências que podem pare-cer banais mas que acabam por ter um significado impressionan-te. Começando pelo típico cozinhar e as invenções gastronómicas, como pôr a roupa para lavar e ter um dia de limpezas semanal. Viver sozinha é algo bastante bom, principalmente para quem não está habituado a esse tipo de rotina. É poder sair e entrar sem dar explicações, ir lanchar e depois com o desenrolar das coisas chegar a casa às 4h da manhã, acordar ao meio dia ao domingo e só almo-çar às cinco da tarde ou não ter nada mais e lanchar uma omelete. O dia-a-dia por vezes dava-me oportunidades que só vistas, desde poder assistir à entrega do prémio Sakharov a Malala Yousafzai até assistir, por norma, às sessões plenárias do Parlamento Europeu.

O Erasmus resume-se então a isto, viagens, experiências e ami-gos. No entanto nem tudo é um mar de rosas. Passei momentos difíceis tanto pelas saudades, que na minha opinião é como se fossem fásicas, porque ora afectam mais ou menos, como por per-calços em ocasiões mas que acabavam por passar. A própria língua estrangeira, burocracias, simplesmente pessoas ou qualquer outra coisa que agora não recorde. A verdade é que na contabilização fi-nal posso dizer que é uma experiencia que vale totalmente a pena e que superei dificuldades que nunca imaginei possíveis. •

texto Adriana Figueroa AndradeFaculdade de Direito da Universidade do Porto

> ENTREVISTA

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JUP — MARÇO 2012EDUCAÇÃO10

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nº09março 2014

caderno cultural integrante do Jornal Universitário do Porto

destaque p/06.07

34ºFantasPorto

entrevista p/04.05

VanessaRodriguesCaçadora de histórias, jornalista, escritora, documentarista. Aprendeu com a vida no Brasil e na Jordânia. De volta ao Porto, é uma das oradoras do próximo TedxOporto. }

flash p/06.07

LaosEsta galeria do Carlos Matos retrata um pouco dos quase 3 meses em que percorreu sozinho mais de 3 000 km, através do norte da Tailândia e o Laos de Norte a Sul..}

O “tempo da Festa das Artes e do Cinema” enche os corredores do Teatro Rivoli para mais uma edição do Festival Internacional de Cinema do Porto. Iniciativa que pôs a Invicta no mapa mundial de festivais dedicados à sétima arte. }

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{ parêntesis jup março 201402/destaque

A FESTA DOS 34 ANOS DO FANTASPORTO DÁ VIDA AO TEATRO RIVOLI ATÉ AO PRÓXIMO DOMINGO, REAVIVANDO OS CLÁSSICOS E DANDO A CONHECER MAIS DE 200 FILMES, MUITOS EM ESTREIA. UMA EDIÇÃO RECHEADA DE SUCESSOS QUE PROMETE ORGULHAR A INVICTA.

O “tempo da Festa das Artes e do Cinema” enche os corredores do Teatro Rivoli para mais uma edi-ção do Festival Internacional de Cinema do Porto. Nas suas mais

de trinta edições, o FANTASPORTO fez render o público, cada vez mais internacional, à magia do grande ecrã e colocou a Invicta no mapa mundial de festivais dedicados à sétima arte.

2014 trouxe ao Fantasporto, a decorrer desde quinta-feira (28 de Fevereiro) até ao próximo domingo, a habitual dedicatória ao cinema euro-peu: mais de 70% dos filmes em cartaz, tornan-do o Rivoli na maior “sala de visitas de cultura da cidade”.

A mais famosa sessão do Festival, a “Semana dos Realizadores”, celebra os seus 24 anos com a apresentação de filmes de grande qualidade e reconhecimento internacional. Depois dos festi-vais de Toronto, Cannes e Veneza, estas longas--metragens chegam àquela que é, por estes dias, a capital portuguesa do cinema. “Lá fora fala--se do Fantasporto, fala-se de Portugal” frisou Beatriz Pacheco Pereira, diretora do Festival, na abertura da sua 34ª edição.

por Margarida Cardoso fotografia Sara Pereira

Lá fora fala-se do Fantasporto, fala-se de PortugalBeatriz Pacheco

Mas o “palco” do Fantas não descriminou e es-tendeu o cartaz a nível mundial, tendo represen-tadas cerca de 30 nacionalidades. Há lugar para a nova arte cinematográfica oriental, as produções africanas, latinas e provenientes da Oceânia.

Dividimos entre os dois auditórios do histórico Teatro portuense, estão a ser exibidos cerca de duzentos filmes, chegando, muitos deles, pela primeira vez a um ecrã nacional. Entre eles, des-tacam-se 10 antestreias mundiais, assim como várias europeias.

Esta edição do Fantasporto destaca-se ainda pela distribuição de bilhetes low-cost. A organi-zação pretende tornar a cultura cinematográfica de qualidade “acessível a todos”, tendo disponi-bilizado bilhetes a 1€, 2€ e 3€. Esperando longas filas, pretende-se “dar vida ao Festival”, culti-vando o ambiente dinâmico de convívio e diálo-go que tem vindo a caracterizar o Fantas.

Hollywood à moda do PortoO Festival transporta o Porto para o centro das grandes atenções cinematográficas, trazendo à cidade produtores, realizadores, críticos, jorna-listas e fieis amantes de cinema que vêm assistir às estreias inéditas do cartaz. “Todos os filmes europeus terão cá cinco, dez representantes”, garante Mário Dorminsky, acrescentando que o Fantas terá um “surpreendente número de con-vidados” dado o orçamento estabelecido.

O Presidente do Fantasporto salienta ainda a enorme importância que a distinção do Porto como Melhor Destino Europeu em 2014 tem para a promoção do festival. Aliado à aposta feita pela Câmara do Porto, Mário Dorminsky acredita que este reconhecimento internacional se refletirá num chamamento do turismo cultural e no au-mento do número de espectadores estrangeiros nos auditórios do Rivoli.

“O Festival não precisa de renascer, ele este-ve sempre vivo, agora deu mais um salto”, são as declarações de Dorminsky quando questio-nado sobre uma possível queda da estrutura do Festival nos anos anteriores. Beatriz Pacheco Pereira vinca a postura de “plena maturidade do Festival”, que se reflete no reconhecimento internacional e nas referências dos produtores europeus. O crescimento daquele que é o maior evento de Cinema do país é visível na facilidade que a organização afirma ter em receber filmes para o Festival e na credibilidade que este assu-me “lá fora”.

Quando o Porto se rende ao cinema…

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2014 março jup parêntesis } destaque/03

Volta a terra encantada de OzEnquanto a edição passada prestou homenagem a René Laloux, o Festival coloca, este ano, o clás-sico “Feiticeiro de Oz” no foco das atenções. 75 anos depois da estreia internacional do maior dos trabalhos de Victor Fleming, o Fantas trouxe de volta ao grande ecrã uma versão restaurada da obra-prima do cinema mundial.

Aquele que é considerado um dos 10 melhores filmes da história cinematográfica vinca a pre-sença dos clássicos do cinema no Fantas, ao lado das recentes produções cinematográficas que marcaram artisticamente o mundo do cinema no ano passado. Justificam-se assim as novida-des nas sessões do festival: a criação do “Fantas Classics” e da “Industry Screenings”,que reúne os trabalhos cinematográ-ficos mais recentes e os apresenta aos convidados e profissionais presentes no Festival, como uma “montra de cinema”.

A presença do clássi-co de Oz criou uma certa nostalgia no ambiente marcado pelo universo do Fantástico. “Faz lembrar os velhos tempos do Ri-voli”, recorda o Presiden-te do Fantasporto. Esta foi, segundo a visão de Beatriz Pacheco Pereira, “a última oportunidade das nossas vidas de ver o Feiticeiro de OZ como foi feito em 1939”. Mas a magia de Vitor Flemming continua dia 7, sexta--feira, às 14horas, com “E tudo o Vento Levou”.

Guiados pela yellow brick road do clássico musical dos anos 30, os espetadores entraram na animada primeira noite do Festival com a estreia da música “Porto à noite”, interpretada por Filipa Azevedo.

Mas foi a febre dos vampiros que começou por marcar a primeira noite do Fantas. O festival abriu com a estreia nacional de “Vampire Academy”. Nas mãos de Mark Waters, realizador de “Mean Girls”, a longa-metragem ficcional entregou o pa-pel principal a Zoey Deutch, contando ainda com caras conhecidas do mundo das séries america-nas. Com claras influências da filmagem caracte-rística da saga Twilight, a longa metragem dividiu as opiniões: se por um lado a acessibilidade do enredo e o seu humor conquistou os mais jovens, o dramatismo e previsibilidade do filme entregou a desilusão a outros.

pro-grama

O Melhor Filme para TarantinoNum total de 22 filmes a concurso, a distinção de filme mais esperado nesta edição do Fantaspor-to é entregue a "Big Bad Wolves". A longa-me-tragem de Aharon Keshales e Navot Papushado marca o regresso, dois anos depois, dos realiza-dores israelitas ao Festival depois da apresenta-ção de “Rabies”. Este, que é o segundo filme dos realizados, é esperado com enorme expectativa, após as declarações de Quentin Tarantino que consideraram “Big Band Wolves” o “Melhor de 2013”. Ter tal distinção em estreia no Fantas não poderia elevar mais o nome do Festival!

Mais uma vez não poderá faltar o tradicional “Baile dos Vampiros”. O evento de encerramen-to ao ritmo do cinema assombrará o Hard Club na noite de dia 8 (sábado), numa verdadeira ce-lebração do universo Fantástico que exige um desscode muito característico. A festa acabará com o nascer do último dia do Festival, prepa-rando o Porto para conhecer os vencedores.

Entre muita espectativa, palpites e apostas, o público tem vindo a encher um Rivoli transfor-mado numa das mais prestigiadas salas de cine-ma da Europa. A comissão organizadora deixa a garantia de que “este é um Fantasporto de que a organização e a cidade se podem orgulhar”.

O Festival não precisa de renascer, ele esteve sempre vivo, agora deu mais um saltoMário Dorminsky

Pronúncia portuguesa no grande ecrãEsta é a 34ª edição do festival e, pela primeira vez, a arte nacional concorre em todas as cate-gorias oficiais do concurso. O destaque vai, tam-bém, para o Prémio de Cinema Português e para concurso de Escolas de Cinema. Esta competição colocou escolas de todo o país dedicadas à séti-ma arte a lutarem por um lugar no Festival, que de outro modo não seria conquistado. No con-curso será distinguido o Melhor Filme e a Melhor escola, num total de 8 participantes.

Este é um projeto que a organização define como “ambicioso” e ao qual pretende dar con-tinuidade, de forma a combater o “ensino an-tiquado” e melhorar a produção de cinema de autor português.

Também o talento nacional fora de câmaras é homenageado: o produtor Henrique Espírito Santo, grande figura do cinema português e for-temente ligado ao Fantas desde a sua primeira edição, receberá o Prémio Carreira. Nos seus 80 anos de idade, o produtor de cinema tem um his-torial de 70 filmes, entre eles a produção de “O Recado” de José Fonseca Costa e “Veredas” de João César Monteiro, sendo marcante o contribu-to que teve na arte cinematográfica e no cineclu-bismo português.

O seu percurso de vida foi marcado pela per-seguição que sofreu por parte da polícia política do regime de Oliveira Salazar. As acusações da PIDE levaram a que o produtor tivesse passado 18 meses preso, acusado do crime de subversão. No entanto, numa vida dedicada à arte do grande ecrã, Henrique Espírito Santo deixa continua-mente uma marca de respeito por todos aqueles com quem trabalha. O texto de apresentação do Festival de Cinema da Invicta elogia-o como um Homem que em “os valores da ética e dos princí-pios de respeito mútuo se sobrepuseram sempre aos valores materiais”.

Outro dos destaques produzido em terras lu-sas vai para a estreia nacional do filme “Pecado Fatal”, do realizador português Luís Diogo. Con-corrente na “Semana dos Realizadores”, a longa--metragem independente foi uma das grandes atrações do terceiro dia do Festival. Com o prota-gonismo de Sara Barros Leitão, José Eduardo, João Guimarães e Miguel Meira, o filme acompanha o drama de uma jovem que se debate com o aban-dono da sua família e a sua busca para a encontrar.

Uma outra estreia nacional em foco nesta edi-ção do Fantasporto é a longa-metragem luso-gui-neense de Filipe Henriques, “O Espinho da Rosa”, que encheu o Grande Auditório no passado sába-do (dia 1). O filme, de braços dados com a fantasia dramática, teve já uma excelente receção por par-te do público, tendo sido considerado “uma das produções africanas mais criativas do ano”.

Nem só o cinema é arteApesar da dedicação primordial ao cinema, esta edição do Fantasporto alia à sétima arte outros modelos de expressão artística. A apresentação das curtas e longas-metragens faz-se acompanhar por várias exposições que complementam o car-taz cinematográfico: as obras plásticas de Helena Leão e Antónia Gomes e o trabalho fotográfico “O Porto”, de Rui Videira são os principais destaques. Esta última exposição, que pode ser visitada no 3ºpiso do Rivoli, pretende distinguir aquele que é um dos mais premiados fotografos nacionais e o seu grande contributo para o festival.

Sexta — dia 714:00 Fantas Classics: Gone With the Wind18:30 La Casa del Fin de los Tiempos21:15 Violet & Daisy23:15 Eclipse em Portugal01:15 Hansel & Gretel Get Baked

Sábado — dia 813:30 The Fake15:30 Johnny Christ17:15 Savaged19:00 Scintilla21:00 The Railway Man00:15 Filme Premiado

Domingo — dia 914:30 Filme Premiado16:30 Filme Premiado18:30 Filme Premiado21:15 Filme Premiado

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entrevista Nuno Monizfotografia Luís Coelho e Vanessa Rodrigues

Somos uma mescla de várias culturas;

no nosso ADN corre o mundo e talvez seja isso que me inspira”

Vanessa Rodrigues

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2014 março jup parêntesis } entrevista/04.05

(P) São Paulo, Amazónia, Jordânia entre outros países do Médio Oriente… Consideras-te uma cidadã do mundo?Acho que basta ser português para sermos cidadãos do mundo. No livro “A primeira aldeia global”, o jornalista inglês Martin Page es-creveu que, através dos Descobrimentos, fomos pioneiros no que se entende por globalização. Somos uma mescla de várias culturas; no nosso ADN corre o mundo e talvez seja isso que me inspira.

(P) Qual é a condição que dirias ser essencial para o ser?Curiosidade. Mas casa um saberá o que o move.

(P) Quando entraste para a Faculdade, era assim que te imaginavas?Quando entrei para a faculdade, aos 18 anos, apenas sabia que queria escrever, viajar, e estudar vários assuntos ao longo da vida. Escolhi o jornalismo porque me pareceu a profissão onde poderia ser mais livre. Percebi, ao longo do tempo, que ele me permite, por isso, ser uma pessoa melhor, na generosidade de olhar o Outro com respeito, mas sobretudo com a responsabilidade de denunciar situa-ções erradas que muitas vezes ficam na invisibilidade.

(P) Que memórias surgem quando pensas nos sítios onde viveste?Sou um pedaço desses mundos, inevitavelmente. Os lugares onde vivi “invadiram-me”. Lembro-me, sobretudo, de aprendizagens. Se me perguntares sobre particularidades, arriscaria afirmar que na Amazónia brasileira, aprendi sobretudo sobre a liberdade e o des-pojamento; no Brasil, em geral, sobre a leveza da vida; na Jordânia sobre a pesada condição humana; e no Porto aprendo todos os dias a ser feliz.

(P) O que é ser uma "caçadora de histórias"?Engraçado, já não sei de onde veio esse epíteto. Mas gosto dele por-que me identifico. Há muitos jornalistas que são caçadores de histó-rias. Caçar histórias é coleccionar elementos do real, ir à procura de resgatar memórias e redescobrir testemunhos escondidos. Fascina--me ouvir as pessoas e, às vezes, agarro essas histórias que se trans-formam em reportagens, fotografias, documentários, poesias, contos.

(P) Fala-nos um pouco sobre o teu trabalho. Além de jornalista, és escritora e documentarista. Comecemos pelo teu livro "O Barulho do Tempo", de 2013. Como surgiu a ideia?Tenho várias paixões e é nessa diversidade que os meus olhos bri-lham. “O Barulho do Tempo”, que também tem fotos a preto e branco, foi um convite da editora Culture Print que já conhecia o meu trabalho. O Jornalismo começou a não ser suficiente para me expressar, por isso as outras atividades surgiram naturalmente: os trabalhos multimedia, documentário, fotografia. Permitem-me ex-plorar várias linguagens e diferentes formas de contar histórias.

(P) Viveste na Jordânia e fizeste um documentário sobre o campo de refugiados Palestinianos em Gaza, "Remember Us". Que im-pacto teve fazê-lo?O documentário é da autoria da jovem realizadora palestiniana Dalia Abuzeid, que me convidou para fazer a pesquisa, ajudá-la a encontrar os personagens e, depois, escrever em co-autoria o guião a partir das histórias no campo de refugiados de Gaza, em Jerash, a norte de Amã. Este é um documentário com histórias inspiradoras, num contexto muito duro que é viver num campo de refugiados. Quem ali vive está privado de direitos fundamentais, como cida-dania, igualdade, justiça e liberdades. Como estrangeira, por exem-plo, tenho mais direitos que um refugiado palestiniano de Gaza, que nasceu na Jordânia. Muitos jordanos sequer têm noção deste cenário. Há um apartheid que é aceite tacitamente e é perceptível a hipocrisia dos sistemas internacionais de Direitos Humanos.

(P) Também estiveste na Palestina. Como vês o tratamento jorna-lístico que se dá cá em Portugal às questões da Palestina e Israel?Vou-te contar uma história. Depois de ter visitado várias aldeias pa-lestinianas com amigos palestinianos e portugueses, conhecedores do cenário, depois de ter estado numa manifestação pacífica sema-nal junto ao muro, na aldeia de Bil'in, e de ter recuado perante gás lacrimogénio, pensei que era inevitável não escrever várias repor-tagens sobre o que vivenciei: desde o atropelo de direitos humanos ao apartheid vincado e socialmente aceite. Fiz várias propostas a revistas e jornais portugueses sobre o assunto, até porque havia o gancho da atualidade: o estado de Israel nasceu em 1948, logo há ocupação há 65 anos. Tive várias respostas curiosas, desde a habitual falta de espaço a respostas como esta que transcrevo: «como deves calcular, a questão israelo-palestiniana provoca demasiados anti-corpos e a maioria dos nossos leitores já nem quer ouvir falar.» Esta resposta é um termómetro muito perigoso e grave de como funciona a cabeça de alguns editores em Portugal, naquilo que se filtra como sendo interesse público. Em Portugal, houve já várias e sérios tra-balhos publicados sobre o assunto, como o da jornalista Margarida Santos Lopes, entre outros. Mas basta abrir os jornais para perceber que a questão não ocupa espaço na nossa imprensa. Sabemos muito pouco sobre o assunto e, a não ser aqueles que procuram informar--se melhor sobre o tema, há muita ignorância e muitos estereótipos arraigados.

(P) Além das imensas coisas que continuas a fazer, agora és profes-sora. Como está a ser o retorno a casa, agora no outro lado da sala?Estou a adorar dar aulas – pois são espaços de discussão onde tam-bém aprendo muito com os alunos. Acho que o mundo continua a ser a minha casa, embora adore viver em Portugal, cada vez mais, e fato de o Porto ser a cidade com maior qualidade de vida que já vivi. Estar aqui permite-me estar próxima de mim e da família, evi-dentemente, e fazer o exercício de consolidar o que aprendo. Ser professora também é isso, permite-me ser uma pessoa melhor, uma melhor profissional.

(P) Num mundo do jornalismo com bastante precariedade, como vês o futuro dos novos e das novas jornalistas?Os sonhos são sempre projetos de vida à espera que arregacemos as mangas para o fazer. Eu também tenho problemas e dificuldades como toda a gente, apesar de felizmente fazer o que mais amo e ser feliz. A minha família sempre me apoiou neste percurso. Às vezes ainda ouço de pessoas mal-intencionadas a frase de que deveria ar-ranjar um trabalho de jeito, mas estou bem comigo por poder fazer o que o meu coração diz para fazer. Terminei a Licenciatura de Jor-nalismo há 11 anos e já nessa altura não era fácil. O Jornalismo até pode estar numa crise de identidade, mas nunca como hoje houve tantas oportunidades: multimedia, videojornalismo, redes sociais, documentário, blogues. Cada geração tem os seus desafios e a chave de tudo é a união para se fazer um jornalismo melhor.

(P) No próximo sábado, 8 de Março, és uma das oradoras no Te-dxOporto, sobre o tema de jornalismo independente. Dá-nos umas dicas sobre o assunto: quais são os seus maiores desafios?Os maiores desafios do Jornalismo independente, pelo que perce-bo da minha experiência, é convencer os editores que eles sabem muito pouco sobre os seus leitores, quando acreditam que se uma história não é sexy ou a pessoa não fica bem na foto, a revista não vai vender. O maior desafio do Jornalismo independente, feito por jornalistas que andam na rua e conhecem as necessidades dos lei-tores, é convencê-los que a reportagem é vital para a sanidade do jornalismo e a saúde da nossa democracia.}

�Caçadora de histórias, jornalista, escritora, documentarista. Vanessa Rodrigues entrou para o jornalismo para tornar visível aquilo que é invisível. Aprendeu com a vida no Brasil e na Jordânia. De volta ao Porto, sítio onde aprende a ser feliz, acrescenta mais um ofício: professora. É uma das oradoras do próximo TedxOporto.

Vanessa Rodrigues, 33 anos. Jornalista, documentarista.

Licenciada em Jornalismo, Pós-Graduação em Direitos Humanos, Mestre em Informação e Jornalismo, Doutoranda em Estudo dos Media. Viveu 5 anos em São Paulo como correspondente da rádio TSF, Diário de Notícias e NM. Viajou 4 meses pela amazónia brasileira num projeto pessoal e profissional de reportagens. Viveu 3 meses na Jordânia para trabalhar num documentário. Atualmente está dedicada ao jornalismo de viagens, a escrever um livro e a terminar um documentário.

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A FOTOGRAFIA E AS VIAGENS SURGIRAM AO MESMO TEMPO NA MINHA VIDA E COINCIDIRAM COM A MINHA ENTRADA NA UNIVERSIDADE. SURGIRAM NÃO COMO COMPANHIA, NEM COMO OBJECTO DE ESTUDO, MAS COMO ESCAPE À ROTINA, PERMITINDO-ME ALCANÇAR ALGUM EQUILÍBRIO DESEJADO. SEMPRE FUI AUTODIDATA. COMECEI A FOTOGRAFAR DEPOIS DA MINHA PRIMEIRA VIAGEM, À ÍNDIA E AO NEPAL. DURANTE O ANO REVELAVA E IA REVIVENDO OS MOMENTOS E AS PESSOAS QUE ENCONTRAVA. FUI APRENDENDO LENTAMENTE E GANHEI VONTADE POR PARTIR EM MAIS VIAGENS E TIRAR MAIS FOTOGRAFIAS.

QUANDO TERMINEI A MINHA FORMAÇÃO JÁ TRABALHAVA. ACONTECEU TUDO MUITO DEPRESSA E SENTIA QUE ME FALTAVA CUMPRIR UM OBJECTIVO. SUSPENDI A MINHA ACTIVIDADE E DECIDI PARTIR. ATERREI EM BANGKOK A 7 DE OUTUBRO DE 2008. VENDI A MOCHILA E COMPREI UMA BICICLETA. DURANTE QUASE 3 MESES PERCORRI SOZINHO MAIS DE 3 000 KM, ATRAVÉS DO NORTE DA TAILÂNDIA E O LAOS DE NORTE A SUL. ESTAS SÃO ALGUMAS DAS IMAGENS QUE TROUXE COMIGO. }

fotografia Carlos Matos

LaosOlhar através

do

Olhar

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2014 março jup parêntesis } flash/06.07

Laos

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{ parêntesis jup março 201408/breves

O Museu Nacional da Imprensa acolheu a exposição “Manoel de Oliveira, 105 revis-tas”, em homenagem ao 105º aniversário

do cineasta no passado dia 11 de dezembro.Quem já visitou a exposição pôde acompanhar

os 80 anos da vida e obra de Manoel de Oliveira em 105 jornais e revistas nacionais e internacio-nais. São várias as publicações presente desde o Jornal de Notícias, Diário de Notícias, Público, Expresso, Jornal de Letras e, até mesmo, o Liberá-tion. Quanto a revistas, são muitas as que tiveram oportunidade de marcar presença nesta mostra documental: Cineclube, Seara Nova, Vértice, Ci-néfilo e, ainda, L’Avant-Scène Cinéma, Cahiers du Cinéma, L' Acchiappa Film e, Beaux Arts. “Os media franceses são, pelo destaque apresentado, o exemplo do reconhecimento internacional de Manoel de Oiveira”, afirmou José Neves, coorde-nador do museu.

A viagem começa em 1931 com “Douro, Faina Fluvial”, a sua obra primordial. Segue-se a estreia de “Aniki Bóbó”, em 1942, a primeira longa-me-tragem do cineasta e um grande sucesso na época. “A Carta”, “A Caça”, “O Vale-Abrão” ou “O Con-vento” são outros êxitos evocados na exposição.

Ao descer as escadas em direção ao piso in-ferior e, já no final da exposição, estão expostas algumas capas de jornais e revistas de referência, que fizeram alusão aos 100 anos de Manoel de Oliveira. Em 2008, o Jornal de Notícias preencheu a primeira página com mensagens deixadas por atores, historiadores e até mesmo pela Primeira--dama, Maria Cavaco Silva. “Génio gigante em país pequeno” foi a manchete do Diário de No-tícias. O Expresso fez também questão de fazer parte desta homenagem ao desejar os “parabéns” ao cineasta.

“A exposição apresenta pela primeira vez um acervo de imprensa e jornalístico bastante alarga-do sobre o tema, uma visão variada sobre a obra do cineasta mais velho do mundo em atividade, que parte dos primeiros filmes até à mais recente estreia de ‘O Gebo e Sombra’ em 2012”, disse ao JUP o coordenador do MNI.

A exposição estará disponível até ao final de março mas, até ao momento, já contou com a pre-sença de cerca de 3000 pessoas. } Mariana Carvalho

Portugueses a caminho

dos Óscares

Portugal prepara-se para “comicar”

Segunda-feira há poesia

E sta é a história de uma criança selvagem que cresceu num bosque e que, depois de ter sido encontrada, tenta adaptar-se

à civilização. Com raízes cabo-verdianas, Daniel Sousa viveu em Portugal até 1986 tendo-se mu-dado para os EUA onde estudou Design na Rho-de Island School. Esta nomeação é o culminar de uma onda de nomeações e conquista de prémios como o prémio da RTP2 “Onda Curta”, na edição de 2012 do Cinanima, e três distinções no Festival de Annecy em 2013.

Pela pré-nomeação ficou o músico Rodrigo Leão que concorria, com o “O Mordomo”, ao Ós-car de Melhor Banda Sonora Original e a longa portuguesa “As Linhas de Wellington”, candidato à categoria de Melhor Filme Estrangeiro.

A cerimónia dos Óscares tem data marcada para a noite de 2 de março, no Kodak Theatre em Los Angeles, e contará com a apresentação de El-len DeGeneres. } Catarina Andrade

P artindo do mote “I just want to be a su-perhero”, o evento contará com exposi-tores de jogos, merchandising, torneios,

concursos de cosplay, workshops de desenho e de banda desenhada ocidental e oriental, que permitirão ao comum mortal tornar-se naquilo que quiser.

São esperados artistas nacionais e internacio-nais da banda desenhada, do cinema, da televisão, dos jogos, do anime e do RPG (role-playing game), para promover e lançar novos filmes e séries.

A organização do evento espera atrair cerca de 20 mil curiosos, nesta que será a primeira edi-ção do evento em Portugal. Importa referir que a primeira edição da Comic-Con foi realizada em 1970 em San Diego, na Califórnia. O even-to universalizou-se, realizando-se atualmente no Japão e em diversos países europeus, como o Reino Unido e a França.

Segundo a organização, além de apresentar as novidades internacionais, o evento pretende destacar o melhor destas áreas em Portugal. Fica a promessa de um Comic-Con repleto de sur-presas e com a garantia de uma grande interação entre os visitantes, que serão também protago-nistas nesta mostra da cultura e da arte popular aliada ao comic.

O evento realizar-se-á na Exponor, Matosi-nhos, nos dias 5, 6 e 7 de Dezembro, com or-ganização da CITY – Conventions In The Yard. Interessados poderão acompanhar as últimas novidades do Comic-Con Portugal no website www.comic-con-portugal.com e nas redes so-ciais.} Cristiana Moreira

A celebrarem 25 anos de história, as noites poéticas do Café Pinguim ainda são, na visão de Rui Spranger, “um ponto de pa-

ragem obrigatória à segunda-feira”, constituindo--se como um marco cultural da cidade do Porto.

O projeto começou com Joaquim Castro Cal-das e desde então passou por várias mãos. Da-niel Maia Pinto Rodrigues, Isaque Ferreira, Pedro Lamares e Cristina Bacelar são alguns dos nomes que ajudaram a dar continuidade à iniciativa e que atraíram novo público, mantendo-se fiéis aos moldes simples que a compõem.

Um espaço pequeno e acolhedor, na cave de um icónico café da Invicta, serve de palco à leitu-ra de textos de autor ou próprios, completamente livres de censura. Para quem não vem preparado, os livros estão à disposição, mas Rui Spranger ga-rante que “ não se obriga ninguém a ler”.

Os temas são inesgotáveis e muitas vezes de cariz social, de chamada de atenção e de inter-venção em problemas atuais que preocupam a sociedade. Os leitores vão adequando e adaptan-do as suas leituras, numa linha lógica, não com-binada, que faz a noite fluir naturalmente.

A poesia é acompanhada de música geral-mente calma, sendo Rui David o músico residen-te. Todas as semanas há um músico convidado e a cave já contou com um quarteto de jazz, com Bilan e vários outros nomes.

Ao público fiel, “um núcleo de pessoas que vem com muita regularidade” e que se reúne no primeiro dia da semana para dizer poesia, jun-tam-se os curiosos, gente que “vai ficando”.

Para celebrar as bodas de prata do evento, foi lançada, na Biblioteca Almeida Garrett, a obra “Antologia da Cave”, que conta com textos de cin-quenta e seis autores, muitos com grande reco-nhecimento no panorama literário nacional, como Valter Hugo Mãe, Manuel Jorge Marmelo e Jorge Reis-Sá. Habitualmente, muitos deles são frequen-tadores habituais das segundas-feiras poéticas.

Com quatro décadas de existência, as noites na cave continuam a formar novos disseurs, dei-xando a promessa de multiplicar os anos e os versos. } Sara Monteiro

“FERAL”, O NOME DA CURTA DE 12 MINUTOS DO ANIMADOR PORTUGUÊS DANIEL SOUSA

QUE ESTÁ NA CORRIDA AOS ÓSCARES 2014 NA CATEGORIA DE MELHOR CURTA-

METRAGEM DE ANIMAÇÃO.

SUPER-HERÓIS, FEITICEIROS, VAMPIROS E OUTROS SERES SOBRENATURAIS PREPARAM-SE PARA VISITAR PORTUGAL PELA PRIMEIRA VEZ NUM DOS

MAIORES EVENTOS DE CULTURA POP DO MUNDO.

O CAFÉ PINGUIM É ANFITRIÃO DAS NOITES DE POESIA. SEMPRE NO INÍCIO DA SEMANA,

À SEGUNDA-FEIRA, JÁ É UM MARCO CULTURAL DA CIDADE DO PORTO E CASA PARA POETAS DA INVICTA E ARREDORES.

"AMBICIOSO, DESAFIANTE E ESTIMULANTE" - É ASSIM QUE TELMA RODRIGUES E JOÃO BARROS, DA ORGANIZAÇÃO, CARACTERIZAM O "PENSAR FORA DA CAIXA”.

Uma viagem pela obra de Manoel de Oliveira em

honra dos seus 105 anos

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2014 março jup parêntesis }

roteiro/09

Rota do Chá

Moustache

Costa Coffee

-> Rua de Miguel Bombarda 457

O Rota do Chá é um sítio acolhedor que propor-ciona a quem o frequenta uma plena tranquili-dade. A originalidade da decoração do próprio espaço, que alude à cultura oriental, é uma das características mais apelativas à passagem neste “café”. Além disso, o facto de facultar Internet grátis e permitir a utilização de pequenas salas privadas para facilitar a concentração durante o estudo, funciona ainda como uma mais-valia.

O Rota do Chá é também conhecido pela qualidade do serviço pois oferece uma inúmera variedade de chás (mais de 300) e bolos e com-potas caseiras.

Assim, e porque reúne todas estas “encanta-doras”, este famoso salão de chá cresce a olhos vistos, expandido cada vez mais o espaço. Situa--se na Rua Miguel Bombarda, rua esta perpendi-cular à Rua de Cedofeita.}

-> Passeio dos Clérigos

Situado junto aos Clérigos, mesmo no centro da cidade, o Costa Coffee reúne determinadas ca-racterísticas que o tornam um dos estabeleci-mentos públicos preferidos pelos alunos da Aca-demia para estudar.

O facto de ser amplo, bem iluminado e confor-tável tornam o espaço chamativo. Nem o barulho de fundo nas horas de maior enchente parece incomodar aqueles que por lá passam. A somar o seu serviço, especializado em bebidas quentes, acaba por também atrair os mais jovens. É difícil encontrá-lo vazio quando se aproximam épocas de exames e isso mostra a relevância deste espa-ço para os académicos.

Foi no Porto que nasceu o primeiro café da ca-deia britânica em Portugal.}

-> Praça Carlos Alberto, n.º 104

Um dos cafés preferidos dos estudantes, é o Moustache, que abriu as suas portas há cerca de dois anos. Desde então o número de universi-tários que o frequentam, quer para se reunirem quer para estudarem, não pára de aumentar.

O que torna o Moustache um dos cafés com maior popularidade entre os estudantes é não só “a qualidade do serviço prestado”, como também a oferta de Internet grátis, essencial na elaboração dos trabalhos e estudo. É, por isso, frequentado por alunos das diversas faculdades da Universida-de do Porto, nomeadamente das faculdades mais próximas como o ICBAS e a FDUP.

Os universitários encontram no Moustache um espaço agradável, sereno e acolhedor, ideal para se passarem as tardes de estudo.}

O Piolho é eterno, será sempre o café dos estudantes da Academia. No entanto, e com o passar do tempo, a concepção de “O que é o Piolho” alterou. Antigamente era lugar de reunião, discussão e estudo. Hoje é lugar de boémia. Quais serão hoje os cafés eleitos para as longas tardes de estudo? O Porto está repleto deles. Eis alguns preferidos dos estudantes.

texto Joana Costa Machado e Mónica Moreirafotografia Luís Coelho

café

s

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{ parêntesis jup março 201410/gadgets

Konstruktor DIY Slr Camera

Hi! Magnetic Voice Recorder

A geração digital chegou e parece estar para ficar. Apesar disso, uma nova frente analógica reinven-ta-se a cada dia. No campo da fotografia, novas aplicações apresentam filtros de outros tempos. Imagens de hoje são tranformadas em imagens do século passado, tudo com o recurso às novas tecnologias digitais. Mas houve um tempo em que digital era miragem e as fotografias se tiravam ma-nualmente. Como funcionava, afinal, uma máqui-na fotográfica nessa altura? Como é que através de uma simples lente e uns quantos filtros se faziam imagens cuja semiótica não enganava o tempo? Como funciona, afinal, a mecânica de uma má-quina fotográfica? Para estas e outras questões, a Lomography apresentou uma proposta. Chama--se Konstruktor e está no mercado desde 2013.

Trata-se de uma câmara de 35 mm que chega às mãos do utilizador totalmente desmontada. Numa espécie de "faz-tu-mesmo", os utilizadores são convidados a penetrar o mundo da fotografia analógica, construindo, a partir do zero, a sua pró-pria máquina.

Não são legos, mas bem que poderiam ser. Não são móveis Ikea, mas a ideia não é muito diferen-te. Montar uma Konstruktor leva entre uma a duas horas, consoante a agilidade. Depois de monta-da, a máquina pode ser personalizada. No pacote encontram-se uma série de adesivos e couros de cores e feitios diversos que podem fazer de cada máquina uma peça única.

Se és um Lomográfico sem emenda, a Kons-truktor está à venda no site da Lomography e pode ser adquirida por 35 euros.

www.microsites.lomography.com

03

0402

01Quantas árvores mais vais deitar a baixo para dei-xar o recado ao namorado, à namorada, à mãe, ao pai, à tia, à avó ou ao piriquito? O JUP foi à procu-ra da resposta e encontrou o Hi! Magnetic Voice Recorder. Esquece os post-it amarelos espalhados pela casa. Tudo o que precisas de fazer é pressio-nar o botão e falar.

Com uma capacidade de 10 segundos de grava-ção, o O Hi! Magnetic Voice Recorder é fabricado em silicone e tem uma parte trazeira magnética para que o possas colocar na porta do frigorífico.

É o presente ideal para aquela pessoa que se es-quece do teu aniversário, do teu vinho preferido ou da lista de compras lá para casa.

Tudo que precisas de fazer é pressionar o mi-crofone e falar. Sempre que houver uma nova mensagem, o Hi! Magnetic Voice Recorder dará a indicação através de uma luz vermelha. O recep-tor da mensagem precisará apenas de pressionar o outro botão e escutar.

Se estás cansado de post-it, se queres contri-buir para um planeta mais verde ou se preten-des simplesmente surpreender alguém, vai ao site da Luckies Of London. Podes aquirir um Hi! Magnetic Voice Recorder pelo simpático valor de 16.45 euros.

www.luckies.co.uk

Idealizado para reproduzir música sem o cons-tragimento de fios, o Wow Speaker chegou ao mercado e já está a dar que falar. O JUP foi des-cobri-lo e decidiu reinventá-lo, porque nem tudo tem de ser o que é.

És da "Geração à Rasca" e queres dizer ao mun-do, em alto e bom som, que não és um escravo de ninguém; que tens direitos e que estágios não remunerados não põem comida na mesa, não pagam proprinas nem a renda da casa?

Acordas cedo para ir para a faculdade, apanhas o autocarro, estás farto de ouvir os saudosismos do tempo da "outra senhora" e apetece-te gritar 'tou cheio de te ouvir'?

Não sabes a letra da "Grândola Vila Morena" mas não queres perder uma "Grandolada"?

Estás bem como estás, a vida dos outros não te interessa para nada, achas que o país e o mundo vão bem e apetece-te dizer "o que é preciso é ba-ter punho"?

Seja qual for a tua ideia ou apetite, agora já pode utilizar o Wow Speaker.

Pensado pelo designer londrino Atónio Are-valo e concebido pela Kakkoii, o Wow Speaker é uma espécie de ´coluna-megafone-portátil´. Com um sistema de wi-fi incorporado, a Wow permite transmitir som, sem fios, a partir de qualquer dispositivo Bluetooh.

Disponível numa série de cores, o Wow Speaker pode ser adquirido no site da Kakkoii por 55 libras.

www.kakkoii-me.com

Numa sociedade que tem uma jovem laicização do Estado e onde uma forte cultura patriarcal subsiste, sexo e prazer são tabu e aulas de edu-cação sexual uma miragem. Os resultados são assustadores: milhares de mulheres com proble-mas em atingir o orgasmo e outras tantas que não sabem, sequer, qual o seu ponto G. Segundo um estudo da Universidade do Minho, sete em cada dez mulheres portuguesas sofrem de disfunção sexual, na maior parte dos casos relacionada com problemas em atingir o orgasmo.

O JUP foi à procura de produtos que te po-dem ajudar a conhecer melhor o teu corpo, por-que prazer não tem de ser tabu. Encontrámos a Kokoro, uma jovem empresa italiana, criada em 2011, que apresenta uma linha de vibradores di-vertidíssima. Chamam-lhe os Adult Toys. Cheios de cor, prometem diferentes texturas, materiais anti-alérgicos e configurações ajustáveis.

Não deixes para os 40 aquilo que podes deco-brir hoje.

Os Adult Toys podem ser adquiridos no site da Kokoro a partir de 69 euros.

www.kokoromilano.com

Isab

el R

odri

gues

Wow Speaker

Adult Toys By Buxxxer

Page 21: Jup Março 2014

2014 março jup parêntesis } crítica/11

O Princípio da Incerteza

cin

ema

sica

livr

osPhilomena

Shelter

Navegação de Acaso

Blue Is the Warmest Color

Beautiful Africa

Para o habitual e dedicado fã de Alcest, o seu quarto ál-bum de originais não desilude, pelo contrário, atesta a posição de destaque que a banda mantém dentro dos panoramas Shoegaze e Pós-Rock. No entanto, quando comparado com os mais recentes trabalhos de outras bandas prolíferas da cena Pós-Rock, como God is an Astronaut ou Russian Circles, Shelter fica-se por uma tal simplicidade técnica que, apesar de encantadora, suave e capaz de aprazer ao ouvinte de praticamente qualquer género musical, acaba por não exigir muito aos seus músicos. De louvar é o facto de Neige, mentor da banda, levar a cabo a difícil tarefa de criar as linhas para voz, baixo, guitarra e sintetizador, deixando as de bateria para Winterhalter. Num longo adeus ao Black Metal por que começaram, os Alcest aproximam-se, neste Shelter, muito mais do Pós-Rock luminoso e etéreo de uns Sigur Rós, ou não tivesse este álbum sido produzido por Birgir Jón Birgisson, produtor do estúdio Sundlaugin, proprie-dade daquela banda.. } Diogo Nogueira

«As nuvens dissipam-se sobre os recifes; e os primeiros/ náufragos aproximam-se da costa, trazendo notícias/ do abismo com a voz entrecortada por um soluço/ de anémo-nas azuis.» A publicação de Navegação de Acaso coincide com atribuição do Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero--americana ao seu autor, o poeta Nuno Júdice. Neste que é seu último opúsculo de poesias, o poeta fez-se ao mar sem outro propósito que o poético; nenhum porto para onde zarpar, nenhuma rota previamente traçada; e isso ao ponto de não sabermos ao certo se cada poema é um atracar temático ou apenas uma enseada onde o poeta, no reflexo do mar, se contempla, confundindo-se, poesia. Só embarcando com ele, de poema em poema à deriva, perceberemos que aquele que está ao leme não é tan-to o argonauta da Trácia quanto sua sublimação, Acaso. } Alexandre Marinho

“A Vida de Adele”, de Abdellatif Kechiche, reflete a verda-deira genialidade do cinema francês. Reconhecida com a Palma de Ouro em Cannes, a longa-metragem – ênfase em longa – lança uma jovem numa viagem de descoberta pessoal, que quebra a realidade como esta a conhecia e a faz refém do seu primeiro amor. A personagem procura descobrir-se, crescer e enquadrar-se numa típica socie-dade europeia, um mundo a que não pertence. Um argumento que poderia ser facilmente banalizado, faz sobressair o génio de uma realização de estilo eu-ropeu. Os pequenos detalhes fazem a obra contornar o cliché e assumir-se como um dos filmes mais aclamados de 2013. Desempenhos humanos, personagens acessí-veis, emoções à flor da pele e uma filmagem repleta de sentimentos, que compõem uma experiência única.O filme, que se orgulha de ser pouco civilizado, sem preocupações com as maneiras ou com a política cor-reta, denota um desempenho fluído, natural e sem os típicos dramatismos artísticos do cinema moderno.} Margarida Cardoso

Filomena é a história verdadeira de uma jovem irlan-desa grávida entregue a freiras católicas, cujo filho é vendido, e do jornalista que a acompanha em busca de verdade e justiça.Qualquer produtor a quem fosse apresentada a história de Philomena Lee temeria a inverosimilhança: a per-sonalidade da mãe; a carreira, causa de morte e local de enterro do filho; a figura do jornalista desencantado parecem matéria de narrativa ficcional. Mas os dados centrais do filme de Stephen Frears são reais. Filomena assenta na biografia de Martin Sixsmith e a protagonista permanece viva e activa, até na defesa do filme, acusado de anti-catolicismo, no seguimento de The Magdalene Sisters, de Peter Mullan. Há, ainda assim, um segundo ní-vel a que só Frears acede: o próprio autor da biografia e o trajecto de escrita desta. Criou, assim, um objecto polié-drico muito mais desafiante no estudo de perdão e justi-ça. Para lá de tudo, este é o filme de Steve Coogan –actor, co-autor e produtor–, num trabalho notável.} Sofia Araújo

Em Beautiful Africa, Rokia Traoré presenteia-nos com uma bela melodia de raiz africana. Do Mali, chega-nos a batida de um tambor, despido, que se prolonga durante alguns segundos convidando-nos a mergulhar na graça rítmica e quente de Traoré.Afastando-se das influências blues que caraterizam os trabalhos anteriores e afirmando que Beautiful Africa é um álbum rock, não podemos deixar de concluir que é um rock filtrado por um prisma africano. Ouvimos a forma como a sua guitarra se enrola com outras guitar-ras acompanhadas pelo som nítido e carregado de ritmos transversais e nuances cromáticas do n'goni.Cantando essencialmente em Bambara, traduz tristeza e melancolia, referindo-se, por vezes, à violência que as-sombra o Mali. Na canção que dá título ao álbum, é com raiva que indaga com o riff mais poderoso, “Can guilt be the cause of these destructive quarrels?” e responde ”Conflict is no solution”, misturando a indignação com o amor sentido pelo continente Africano. Um álbum me-morável. } Catarina Soares

“Não se escreve melhor porque se escreveu muito.” Eis as primeiras palavras do narrador de Joia de Família, o primeiro volume da Trilogia O Princípio da Incerteza, distinguido com o Grande Prémio de Romance e da No-vela da APE em 2001 e adaptado ao cinema por Manoel de Oliveira. Partindo do conceito roubado à Física Quân-tica (princípio da incerteza), neste romance é o narrador que nos envolve numa teia de incertezas em que um bebé, num mesmo episódio, tanto pode ter dez dias (p. 25) como oito (p. 66), pois as personagens são examina-das por um caleidoscópio que reforja tempo e espaço em memória ambígua. Atacam se com lucidez e modernida-de, sem pejos moralizadores, mas alguma análise ética, os desafios do crescimento da sociedade dos anos 90, em que tanto a ascensão como a queda económica e social, a violência doméstica e do sexo, a sordidez da droga e da prostituição constituem os alicerces de uma trama que nos arrasta para um vórtice labiríntico de extravio da ino-cência. } Júlia Ferreira

Alcest

de Stephen Frears Abdellatif Kechiche

de Nuno Júdice de Lisa Gardner

Rokia Traoré

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8 SÁBADOCOLISEU DO PORTORITA GUERRA21H30 – DESDE 12,50 EUROS

14 SEXTA-FEIRACASA DA MÚSICALeopold Hager, Um Mestre Dos Clássicos21H – 17 EUROS

21 SEXTA-FEIRACOLISEU DO PORTOAna Moura e António Zambujo21H30 – DESDE 25 EUROS

25 TERÇA-FEIRACASA DA MÚSICAArmandinho21H – DESDE 20 EUROS

28 SEXTA-FEIRACOLISEU DO PORTORui Veloso Trio21H30 – DESDE 20 EUROS

emMÚSICA TEATRO VÁRIOSEXPOSIÇÕES

DE 6 A 9 DE MARÇOTEATRO HELENA SÁ E COSTAMenino da sua avóQUINTA-FEIRA A SÁBADO 21H30DOMINGO 17H – DESDE 3,50 EUROS

DE 7 A 16 DE MARÇOTEATRO SÁ DA BANDEIRALoucura dos 50SEXTA-FEIRA E SÁBADO 21H30DOMINGO 16H – DESDE 10 EUROS

DE 13 A 26 DE MARÇOTEATRO NACIONAL S. JOÃOTurismo InfinitoQUARTA-FEIRA A SÁBADO 21H30DOMINGO (DIA 16) 16H, QUARTA-FEIRA (DIA 26) 20H30 – DESDE 7,50 EUROS

DE 26 A 29 DE MARÇOTEATRO NACIONAL S.JÕAOAi Mada NadaQUARTA-FEIRA 23HQUINTA-FEIRA A SÁBADO 21H30 – DESDE 7,50 EUROS

DE 20 A 30 DE MARÇOTEATRO CARLOS ALBERTOO filho de mil homensQUINTA-FEIRA A SÁBADO 21H30DOMINGO 16H – DESDE 10 EUROS

ATÉ DIA 9RIVOLI TEATRO MUNICIPALFantasporto 2014PREÇO: 4 EUROS

ATÉ DIA 15PRAÇA CARLOS ALBERTOMercado Porto BeloTODOS OS SÁBADOS DAS 11H ÀS 17HENTRADA LIVRE

16 DOMINGOPARQUE DA CIDADECorrida dia do paiA PARTIR DAS 10H

22 SÁBADOHARD CLUBVicious Hip-HopBILHETES PRÉ-VENDA 8 EUROS, NO PRÓPRIO DIA 10 EUROS

ATE DIA 9 DE MAIOCATÓLICA FOZ – CAMPUS FOZCiclo mente à sexta-feiraSEXTAS-FEIRAS DAS 11H ÀS 13HENTRADA LIVRE

ATÉ DIA 10 DE MARÇOMUSEU NACIONAL DA IMPRENSAManoel de Oliveira, 105 revistasTODOS OS DIAS DAS 15H ÀS 20HPREÇO: 2 EUROS

ATÉ DIA 15 DE MARÇOGALERIA PORTO ORIENTALExposição do Acervo e de Novas ObrasTERÇA-FEIRA A SÁBADO DAS 15H ÀS 19HENTRADA LIVRE

ATÉ DIA 15 DE MARÇOBIBLIOTECA MUNICIPAL DO PORTOO Mundo das Aves – exposição de literaturaSEGUNDA-FEIRA A SÁBADO DAS 10H ÀS 18HENTRADA LIVRE

ATÉ DIA 16 DE MARÇOCENTRO PORTUGUÊS DE FOTOGRAFIAArrábida 50TERÇA-FEIRA A SEXTA-FEIRA DAS 10H ÀS 12H/14H ÀS 18H. SÁBADOS E DOMINGOS DAS 15H ÀS 19H

ATÉ DIA 30 DE MARÇOEDIFÍCIO ALFÂNDEGA DO PORTO 3D Magic Art – Exposição de pintura de Imprensa LiteráriaSEGUNDA-FEIRA A SEXTA-FEIRA DAS 10H ÀS 18H. FINS-DE-SEMANA DAS 10H ÀS 20HCRIANÇAS (ATÉ AOS 11 ANOS) 5 EUROS, ADULTOS 7 EUROS

Ana Moura DR Menino da sua avó DRMarçoç

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JUP — MARÇO 2014

AGENDA

21 MARÇODIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO11h00: Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, inaugura novo edifício da UPTEC, Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto, situado no Pólo Tecnológico da Asprela. 15h00: Cerimónia, no salão nobre do edifício da reitoria, que assinala o Dia da Universidade. Terá como orador convidado Maria Helena Nazaré, presidente da Associação Europeia de Universidades. Contará ,ainda, com a intervenção da arquiteta Paula Silva, antiga aluna da Universidade

27 A 30 DE MARÇOMOSTRA DA UNIVERSIDADE DO PORTO. Palácio de Cristal. A Mostra é aberta ao público em geral. Visitas de grupos escolares mediante inscrição prévia. Entrada livre.Exposição anual da oferta formativa da Universidade mais procurada pelos estudantes que terminam o Ensino Secundário. São quatro dias de informação, experimentação e descoberta.Quinta e sexta : 10h00 - 19h00Sábado: 11h00 - 20h00Domingo: 11h00 - 19h00.

12 MARÇODEBATES SOBRE NOVOS PARADIGMAS DA EDUCAÇÃO Debate com três painéis no auditório B032, das 14h30 às 17h15, e um debate no Grande Auditório da FEUP, das 18h00 às 20h00, com o Professor Marçal Grilo, Administrador da Fundação Gulbenkian e ex-Ministro da Educação e o Professor António Ferrari, ex-Vice-Reitor da Universidade de Aveiro.

27 DE FEVEREIRO A 27 DE JUNHO EXPOSIÇÃO: “INAUDITO – A AVENTURA DE OUVIR”Exposição, de caráter interativo e informativo, integralmente dedicada à audição. “Inaudito – A Aventura de Ouvir” está patente nas novas salas de exposições temporárias do edifício histórico da U.Porto. Pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 10 às 17 horas, e aos sábados, por marcação através de [email protected]. Entrada livre.

ATÉ 30 DE ABRILEXPOSIÇÃO: “NO CORAÇÃO DO PORTO”A exposição reúne trabalhos de pintura e escultura de Isabel Saraiva e José Rodrigues, respetivamente, inspirados na cidade do Porto, em particular no centro histórico da cidade. Está patente na Sala de Exposições Temporárias da Reitoria da Universidade do Porto. Pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 10 às 17 horas. Entrada livre.

U.PORTO 11

Mostra da Universidade do Porto

T ermina a 15 de março o prazo para o envio de resumos para o congresso SciCom Por-tugal 2014. O foco central da edição des-

te ano do congresso, que acontece dias 3 e 4 de junho, na Universidade do Porto, recai no papel da comunicação de ciência no desenvolvimento local, regional, nacional e internacional, em espe-cial nas comunidades de língua portuguesa.

As comunicações serão organizadas em torno de seis temas. “Quem somos: Repensar a co-municação de ciência à luz da mediação de co-nhecimento (knowledge brokering)” é o título da sessão de abertura. Haverá mesas redondas sobre Comunicação de Ciência e a sessão de en-cerramento incidirá sobre “A ciência com e para a sociedade, no âmbito de uma perspetiva de Investigação e Inovação Responsável (RRI)”. As sessões paralelas, que irão decorrer também du-rante os dias 3 e 4 de junho, subdividem-se de acordo com os seguintes temas: Grassroots, Faça Você Mesmo (DIY), ciência de cidadãos (citizen science), projetos e atividades de ciência desen-volvidos em comunidades; Educação informal e projetos dirigidos a grandes públicos; Multimédia e projetos de arte e ciência; Atividades empresa-riais, angariação de fundos e marketing científi-co; Relação com os media, jornalismo científico

e projetos influenciadores de políticas científicas e Projetos internacionais ou de larga escala em Ciência e Sociedade. Relativamente a cada tema, os trabalhos podem ser apresentados de duas for-mas: estudos teóricos e de avaliação, ou projetos e descrição de práticas.

As propostas melhor classificadas serão aceites para apresentação oral e as que obtenham nota mínima na avaliação serão aceites para apre-sentação em poster. As comunicações aprovadas serão conhecidas a 30 de Abril e as inscrições encerram a 15 de Maio. O valor da inscrição é 30 euros (incluindo almoços volantes, coffee--breaks, programa social e material informativo).

O SciCom Portugal surgiu no Facebook, como uma comunidade informal de comunicadores de ciência que proporcionou uma plataforma de cooperação e de partilha de boas práticas, ao identificar os vários agentes, e as suas preocupa-ções e necessidades. O primeiro encontro conte-ceu em 2013, no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa. O Congresso de Comunicação de Ciência é um ponto de encontro e discussão para todos os que trabalham e se interessam pela comunicação e divulgação da Ciência.

É um projeto de Cátia Carvalho, de 23 anos, finalista do Mestrado Integrado em Psi-cologia na Faculdade de Psicologia e de

Ciências da Educação da U.Porto. Possível graças ao apoio do Alto Comissariado das Nações Uni-das para os Refugiados (ACNUR) n, este projeto pretende estudar as condições de vida dos refu-giados e lançar as bases para um plano de inter-venção junto das respetivas populações. Neste caso específico, falamos do campo de refugia-dos Molé, na República Democrática do Congo. A estudante partiu para o terreno com o objetivo de identificar em que condições humanitárias se vive nos campos de refugiados e lançar as bases para a criação de um plano de intervenção, a ní-vel psicológico, junto destas populações.Na prática, irá estudar o quotidiano dos refugia-dos, “os problemas, as atividades que desenvol-vem para passar o tempo, a prestação de cuida-dos de saúde que recebem e a forma como se dá escolaridade às crianças e jovens. Também me interessa perceber quais as soluções que os cam-pos oferecem para resolver os seus problemas e, por último, se sentem necessidade de interven-

ção psicológica, que é escassa em campos de refugiados”. A partir dos resultados obtidos, a es-tudante espera lançar as bases para futuros pro-jetos de intervenção “ao nível da saúde mental, da demografia e política” junto das populações dos campos de refugiados. Mas não só. “Quero também chamar a atenção das autoridades e governos para o paradoxo do que se diz ser uma solução humanitária. Ora, o que acontece é que os campos são uma solução permanente e de in-definição em relação ao futuro para a maior parte dos refugiados, que passam vidas inteiras neles”. Este retrato dos problemas vividos no campo de refugiados será depois entregue ao ACRUN. Des-ta experiência, Cátia espera trazer “uma nova área de estudos e uma temática pouco conhecida “para Portugal e para a U.Porto” onde, confessa, gostaria de assistir a um maior investimento “em parcerias com centros de investigação de outras universidades, ONG’s e fundações internacio-nais e assim levar para outros ‘mares’ a produção científica cá produzida”.

A Universidade do Porto está entre as 200 melhores escolas do mundo em sete das 30 áreas de ensino analisadas pela edi-

ção 2014 do “QS World University Rankings by Subject”, um dos mais reputados rankings in-ternacionais de ensino superior, publicado pela empresa multinacional Quacquarelli Symonds. Ao todo, foram analisados mais de 3.000 univer-sidades e 10.000 cursos de todo o mundo, através de três indicadores de qualidade em cada área de ensino: reputação académica, reputação entre empregadores e produção científica.A Universidade do Porto surge entre a “elite mundial” – assim se refere a Quacquarelli Sy-monds ao top 200 do seu ranking – em sete áreas (Agricultura e Silvicultura, Ciências do Mar e da Terra, Direito, Engenharia Civil, Engenharia Ele-trotécnica, Engenharia Química e Farmácia e Farmacologia), o que representa um crescimento em relação ao ano anterior, quando a Universi-dade do Porto viu seis das suas áreas de ensino

classificadas entre as 200 melhores do mundo. Para além da ascensão da Engenharia Eletro-técnica ao top 200 mundial, a Universidade do Porto tem este ano duas áreas (Engenharia Civil e Engenharia Química) classificadas entre a 101ª e 150ª melhor escola do mundo nas referidas áreas de ensino. A notícia surge no ano em que a U.Porto alcançou novo record de estudantes e investigadores estrangeiros: o número ultrapassa já os 3.800 e são oriundos de 112 países. A maio-ria dos estudantes é proveniente da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e o Brasil conti-nua a ser o país com maior representação.Já em Setembro passado a Universidade do Por-to surgiu como a universidade portuguesa mais bem colocada no “QS World University Rankin-gs”, o ranking de avaliação genérica das insti-tuições de ensino superior desta multinacional, ocupando o 343.º lugar entre mais de 800 uni-versidades mundiais classificadas.

Com todas as unidades orgânicas reu-nidas num mesmo espaço, a Mostra da U.Porto afirma-se como um es-paço privilegiado para questionar, experimentar e aprender. Mas o que

vem a seguir ao curso também nos interessa e é por isso que nesta 12ª edição da Mostra unimos esforços em torno de uma preocupação comum: a empregabilidade. Vamos mostrar tudo o que a U.Porto tem para oferecer, incluindo as estra-tégias de encaminhamento dos estudantes no mercado de trabalho. Como? Os gabinetes de empregabilidade das unidades orgânicas vão reunir-se num balcão comum para prestar todos os esclarecimentos sobre oportunidades de em-prego, sistema de colocações e possibilidades de estágio. Todas as unidades orgânicas que desen-volvam ações continuadas de encaminhamento profissional e estágios vão estar presentes neste stand. No fundo, a Universidade vai concentrar informação sobre todos os mecanismos de que dispõe de aproximar os estudantes do mercado

de trabalho. À semelhança de anteriores edições, teremos ainda um conjunto de atividades parale-las. O Departamento de Engenharia Eletrotécni-ca da FEUP vai fazer uma demonstração de robôs autónomos, haverá conferências relâmpago com temas ligados à ciência, ao nutricionismo e à ar-quitetura e workshops de observação da nature-za com oficinas de desenho e pintura aplicados à representação de animais e plantas, oficinas de identificação de exemplares de líquenes “à moda do Norte” e desafios para dar “a volta ao musgo dos jardins do Palácio de Cristal em 90 minutos” e fazer “percursos guiados através dos jardins que rodeiam o Pavilhão Rosa Mota” para desvendar alguma da biodiversidade aí existente.

A 12.ª Mostra da Universidade do Porto é uma oportunidade impar de esclarecer dúvidas com colegas e professores, descobrir uma vocação ou aprofundar convicções sobre o futuro académico. Aparece no Pavilhão Rosa Mota de 27 a 30 de mar-ço, quinta e sexta das 10h00h às 19h00, sábado das 11h00 às 20h00 e domingo das 11h00 às 19h00.

Congresso de Comunicação de Ciência – Sci Com PT 2014

Estudar as condições de vida dos refugiados

U.Porto entre as 200 melhores escolas do mundo

textos Anabela Teixeira Santos/ Gab.de Com. da Reitoria da U.P.

DE 27 A 30 DE MARÇO O PALÁCIO DE CRISTAL VOLTA A CONCENTRAR TODA A OFERTA FORMATIVA DA UNIVERSIDADE DO PORTO.

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JUP — MARÇO 2014SOCIEDADE12

entre o passado e o futuro

FORAM DÉCADAS A VIVER ALI, MUITOS NÃO CONHECERAM OUTRO SÍTIO. FORAM ANOS DE PROMESSAS POR CUMPRIR, DE LUTAS E RESISTÊNCIAS POR FICAR. ANTES, ERAM CERCA DE TREZENTAS PESSOAS. AGORA, APENAS TREZE VIVEM NA ILHA DA BELA VISTA. O DESEJO DE PERMANECER ALI, ESSE, CONTINUA TÃO VIVO COMO NO PRIMEIRO DIA, AGORA UM POUCO MAIS FORTE E ESPERANÇOSO COM O PROJETO LABORATÓRIO DE HABITAÇÃO BÁSICA E SOCIAL (LHBS). texto Bárbara Silvafotografia Luís Coelho

A Ilha da Bela Vista

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JUP — MARÇO 2014 13SOCIEDADE

O portão verde, do 832 da Rua Dom João IV, esconde uma realidade antiga, estranha aos portuenses. A passagem estreita rodeada de pedra, o hall, que dá para divisões independentes,

apertadas e esquecidas no tempo pelas entidades mais diversas da cidade.

Depois de anos de luta, Domingos Aloísio, que vive na ilha há cerca de 40 anos, revisita o passado de “muitas promessas que nunca foram cumpridas”. Também Rosa Pinto, nascida ali há 69 anos, recorda que “diziam que isto ia a bai-xo, andaram muitos anos a vir cá e depois nunca mais voltaram”.

Mas, agora, os primeiros ventos de mudança parecem começar a fazer sentir-se: “isto nunca foi encarado como é agora”. E as dúvidas em re-lação ao futuro dão lugar à expectativa. Hoje sur-ge esperança: quando se veem “as pessoas a vir cá, acredito mais que isto vai andar”.

É por acreditar que as ilhas podem ser uma al-ternativa aos bairros em altura, constituindo-se como uma oportunidade e um novo conceito de habitação mesmo no coração da cidade – a ha-bitação lowcost –, que o antropólogo Fernando Matos agarrou-se à Ilha da Bela Vista, no Labo-ratório de Habitação Básica e Social (LHBS). Esta corresponde a uma tipologia de habitação que abre portas à fixação de “casais jovens, de estu-dantes e à heterogeneidade social”, ao mesmo tempo que permite que “os que estão lá a viver se mantenham”.

Diminuir a exclusão social, melhorar a qua-lidade de vida e a mobilidade da população e, “acima de tudo devolver a vida à cidade” são os grandes objetivos deste projeto que vê, em julho, o arrancar das obras.

Modelos de construçãoTodo o processo de construção deve ser de bai-xo custo, cujos valores finais não excedam os 10.000 euros, de modo a gerarem rendas men-sais que não ultrapassem os 200 euros, sendo atribuídas segundo os rendimentos das famílias e dando prioridade aos habitantes que sempre viveram nessa ilha. Muitos deles, já perto dos 80 anos, e para os quais a atualização da renda não irá representar uma subida excessiva até porque, como afirma Fernando Matos, promotor do pro-jeto, “seria imoral pedir a um idoso uma renda insuportável”.

Para isso, a proposta é “fazer casas através do aproveitamento do espaço, compensando o pou-co espaço com bons desenhos”, como explica um dos arquitetos do projeto, Fábio Rodrigues.

A fachada dos edifícios irá manter-se, assim como todo o perfil do bairro. As habitações terão áreas compreendidas entre os 20 e os 47 metros quadrados e serão o mais sustentável possível. Para Fábio Rodrigues, a ideia desta construção é, “através de técnicas passivas, sem material muito caro e aproveitando a dinâmica do próprio espa-ço”, resolver os problemas de iluminação, aque-cimento e ventilação. Também Fernando Matos reforça que o objetivo deste projeto é construir “habitação básica, introduzindo qualidade em termos de aquecimento e acústica, sem que haja grandes alterações de áreas”.

A arquitetura é o pilar deste projeto, a par de uma forte valorização do associativismo de mo-radores, através de uma aposta sólida numa pro-gramação que, de acordo com Fernando Matos, traduz-se num “mix de convergências inteligen-tes, criativas e solidárias em prol de um projeto que queremos pragmático e que seja um modelo de reabilitação a custos básicos para a cidade do Porto”, devendo ter sempre o cuidado de incluir os próprios moradores.

Este projeto resulta de vinte anos de estudo desta tipologia de habita-ção e de um conjunto de sinergias entre várias entidades: a Escola Su-perior Artística do Porto, Instituto Superior de Serviço Social do Por-to e as Universidades do Minho, de São Paulo, Boston, Passo Fundo e de Harvard, mas que também con-ta com o apoio da Câmara Munici-pal do Porto, que vê agora no novo presidente uma lufada de ar fresco: “havia um compromisso que se o Dr. Rui Moreira ganhasse a câmara o laboratório seria instalado na Bela Vista”.

Domingos, Rosa, Manuel e Ana são os rostos da Bela Vista, os resistentes, que viram pessoas a chegar e a partir, uns nascer, outros morrer, viram e ouviram de tudo sem que nada acontecesse. Para já, o entusiasmo é geral e os pedidos são os mesmos: uma “casinha pe-quena” e gente boa, que venha com boa fé e com “espírito de bem-estar”, especialmente “casais com crianças, que deem vida a isto”.

As ilhas estendem-se de Campanhã a Ramalde, passando pela baixa da cidade. São os grandes e imponentes edifícios de fa-chada antiga, que, por trás, albergam uma realidade, muitas ve-zes, estigmatizada e incompreendida.

Muitas refletem a cidade industrial dos anos 20 e 30, ou-tras são o marco das migrações cidade/campo, das décadas 50 e 60. Eram “casas que albergavam um casal com três filhos e de repente passam a ser espaços que albergam os primos e os tios”, tornando-se, naquilo a que Fernando Matos denomina de “oceano de gentes que veem do mundo rural e que caiem na cidade”, sendo por isso a ilha “o primeiro momento da entrada na cidade”.

No entanto, o antropólogo recusa “a ideia folclórica e român-tica de que a ilha é um espaço de partilha absoluta”, alertando que o quotidiano nestes espaços assenta numa “relação de con-vivência entre o que é meu e o que é do outro”, havendo por isso “valores intrínsecos ao habitar que num bairro não existe”. São estes valores que fazem das ilhas sinónimo de identidade urba-na, constituindo mais “do que um elemento físico, são um ele-mento sociocultural da cidade”, uma vez que são “espaços de memória” de onde sai muita gente, pessoas que fazem o Porto.

AS ILHAS – UM ESPAÇO DA CIDADE, NA CIDADEentre o passado e o futuro

SERIA IMORAL PEDIR A UM IDOSO UMA RENDA INSUPORTÁVEL-FERNANDO MATOS (PROMOTOR DO PROJETO)

Srª. Rosa Pinto

Sr. Domingos Aloísio e Srª Maria Eugénia

Sr. Domingos Aloísio, Srª Rosa Pinto, antropólogo Fernando Matos e arquitecto Fabio Rodrigues Azevedo

A Ilha da Bela Vista

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JUP — MARÇO 2014POLÍTICA14 11

Como descreve a União Europeia atual? Hoje as prioridades da União Europeia (UE) encontram-se cen-tradas em questões de carácter económico-financeiro. A recessão económica e as sua implicações sociais irão fazer-se sentir durante vários anos no espaço europeu. Os problemas sociais como a ele-vada taxa de desemprego, o aumento do descontentamento social dadas as acentuadas desigualdades, e o aumento da criminalidade, contribuem para a instabilidade social que se faz sentir sobretudo nos Estados que foram alvo de resgates financeiros.

Há, assim, uma clara reorientação da União Europeia para os problemas internos e os projectos que implicam um maior apro-fundamento, estão por agora estagnados.

No próximo mês de maio, as eleições para o parlamento europeu, irão mostrar se os cidadãos mantêm a confiança na UE enquanto projecto económico, políticos e social. Pela primeira vez, irão tam-bém escolher, indirectamente, o presidente da Comissão Europeia para os próximos cinco anos. Contudo, as críticas à falta de legitimi-dade democrática continuam presentes sobretudo junto daqueles que consideram que há, cada vez mais, um evidente distanciamento dos cidadãos dos principais centros de decisão que se reflecte, por

entrevista Joel Paisilustração Tina Siuda

EM QUE EUROPA VIVEMOS E QUAIS SÃO OS SEUS DESAFIOS? QUAIS SÃO OS SEUS PERIGOS? O QUE SE PASSA NA UCRÂNIA? É DE ESPERAR QUE ESTA SITUAÇÃO SE REPITA NOUTROS PAÍSES? QUAL É A SITUAÇÃO ACTUAL DA BÓSNIA-HERZEGOVINA?

Que se passa Europa?

exemplo, na baixa participação destes nas eleições europeias. É, no entanto, necessário lembrar que este afastamento progressi-vo ocorre ao mesmo tempo que na UE atribuiu uma maior influên-cia ao papel do Parlamento Europeu

É de prever que a economia estará no centro da campanha po-lítica que se vai desenvolver nos vários Estados membros. Desde 2010 que o debate se situa entre a austeridade versus políticas de crescimento económico.

Neste contexto de difícil situação económica de alguns países, não nos podemos esquecer da ameaça do nacionalismo, e de políticas de carácter xenófobo que acabam por ter uma expressão política impor-tante em alguns Estados membros. Ao longo da nossa história, as cri-ses económicas são normalmente acompanhas por um reacender dos nacionalismos que surgem como resposta à crise. Estes podem colo-car em causa a unidade política que se pretende construir na Europa.

A discussão à volta do projecto europeu implica, da parte da socie-dade europeia, uma reflexão sobre a sua vontade em nele participar.

Penso que há hoje uma clara falta de visão por parte da elite po-lítica europeia em relação ao sentido da integração europeia e uma das consequências deste facto reside no aumento da desconfiança dos cidadãos europeus no próprio projecto.

Doutorada em Ciência Política e Relações InternacionaisInvestigadora do Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade (CEPESE), da Universidade do PortoDocente na Faculdade de Letras da mesma universidade.Publicações recentes incluem A Influência Político-económica da Alemanha na Europa (1945-1995), Edições Pedro Ferreira,Lisboa, 1997; e O Conceito de Refugiado e o Asilo na Perspectiva das Relações Internacionais: O Caso da União Europeia (tese de doutoramento), Universidade do Minho, 2002. Foi a principal responsável pelas entradas relativas às Organizações Internacionais.

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JUP — MARÇO 2014 15POLÍTICA

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Quais as principais diferenças entre a Europa Ocidental e a Eu-ropa de Leste?A Europa de Leste é uma região que compreende várias culturas, etnias, línguas e herança histórica. É preciso lembrar que este gru-po de Estados esteve sob a esfera de influência soviética durante várias décadas, e este facto ajuda a explicar o atraso de desenvolvi-mento nesta parte da Europa, e que é diferente daquele que existe na Europa Ocidental.

Um dos fenómenos mais importantes do continente europeu após a guerra fria consistiu na re-inclusão da Europa Central e de Leste nas relações político-económicas da Europa Ocidental. Fortes laços foram gerados entre a União Europeia e estes países, sobretudo a partir do apoio que a UE deu aos difíceis e complexos processos de transição empreendidos pelos países desta parte da Europa, e que foi essencial ao seu sucesso. Claro que, como afirma Geofrey Pridham, a consolidação da democracia demora gerações a efectuar-se.

Actualmente, com três décadas de democracia, este grupo de Es-tados apresenta já indicadores positivos em várias áreas. No entanto, continuam a enfrentar sérios problemas como é o caso da corrupção, que se faz sentir mais na Bulgária e na Roménia, dado o evidente atra-so de desenvolvimento destes dois países em relação aos restantes.

Sei que grande parte da sua investigação está relacionada com a Bósnia-Herzegovina (BH). Como a situação instalada neste mo-mento no país?É uma situação preocupante que se arrasta há vários anos. Os líde-res políticos têm se mostrado incapazes de resolver os problemas que afectam a sociedade: elevada taxa de desemprego (40%) que afecta sobretudo os jovens, pobreza e miséria generalizada.

Tuzla (3ª maior cidade do país), uma das mais importantes ao nível da indústria (metalúrgica, petroquímica e carvão), e Saraje-vo (capital), são as cidades onde se faz sentir o descontentamen-to generalizado.

É necessário lembrar que a BH era a mais pobre das repúblicas da ex-Jugoslávia. Além disso, mais de um milhão de refugiados e deslocados da guerra civil (que terminou em 1995) regressaram nos últimos anos à Bósnia, agravando a situação já por si compli-cada do ponto de vista económico e social.

A acrescentar a esta difícil situação económica e social, a BH, tal como qualquer outro país da região dos Balcãs, sofre de uma pesa-da herança do passado – a corrupção, que está presente em todos os níveis da sociedade e que abrange também a elite política. As manifestações são o resultado do descontentamento relativamen-te à administração do Estado, com uma divisão política que, em vez de promover a união, acentua as divergências entre Bósnios (Muçulmanos), Sérvios (Ortodoxos) e Croatas (Católicos).

A BH é constituída por duas entidades politicamente separa-das e autónomas: a Federação da Bósnia-Herzegovina (Bósnios e Croatas) e a República Srpska (Sérvios da Bósnia), cada uma é subdivida em cantões e regiões. Os cantões dispõem de grande au-tonomia e de um governo próprio. Isto representa uma complexa administração, onde as profundas divisões produzem estagnação política e vulnerabilidade perante fenómenos como a corrupção e o crime organizado, retraindo o investimento estrangeiro.

O poder central é dirigido por uma presidência colegial tripar-tida – um sérvio, um bósnio e um croata – e as decisões requerem unanimidade das 3 comunidades, resultando num bloqueio per-manente das instituições e em crises frequentes.

E quanto Ucrânia, tema obrigatório diário nos media?Vive um período de grande instabilidade, falando-se mesmo de possível “guerra civil”. Para já foi assinado um acordo onde se anteciparam as eleições presidenciais, e se iniciou, não só, o pro-cesso de regresso à Constituição de 2004, redistribuindo o poder a favor de uma república parlamentar, como também, o processo

para formar um governo de unidade nacional.As manifestações na Ucrânia surgiram como resposta à adopção de um conjunto de leis que limitava seriamente a liberdade dos ucranianos. Estas constituíam um recuo claro no processo de tran-sição democrática.

As divisões na Ucrânia são agravadas por factores lin-guísticos, geográficos e religiosos. A leste, a população fala russo e pertence à Igreja Ortodoxa Russa, sentindo--se mais próximos de Moscovo. A Ocidente, a popula-ção fala ucraniano, pertence à Igreja Ortodoxa da Ucrâ-nia ou são Católicos de rito bizantino, sentindo-se mais próximos do Ocidente. A geração mais jovem é mais favorável a uma aproximação à UE e pretende um com-promisso com os valores europeus e, sobretudo, novas leis que salvaguardem os princípios democráticos.

Na base da situação actual encontra-se a pressão que a Rússia tem desenvolvido no sentido de travar que países, tradicionalmente na sua esfera de influên-cia, assinem Acordos de Associação com a UE no âm-bito do Programa das Parcerias a Leste. O primeiro a desistir foi a Arménia, quando o presidente Serzh Sar-gsyan declarou que a Arménia suspendia a preparação dos Acordos de Associação com a UE, acabando por optar em se juntar à União Aduaneira com a Rússia, Bielorrússia e Cazaquistão.

A Ucrânia acabou também por desistir do Acordo de Associação com a UE em Novembro de 2013, aproximando-se po-lítica e economicamente da Rússia.

A pressão da Rússia fez-se sentir com a ameaça de sanções eco-nómicas, o aumento dos preços do gás natural russo e o apertar do controlo fronteiriço. Num ano, em que as exportações para Rússia baixaram drasticamente, a compensação financeira oferecida pela UE não compensava os prejuízos.

É também provável que a pressão russa se faça sentir na Moldá-via e na Geórgia.

AS DIVISÕES NA UCRÂNIA SÃO AGRAVADAS POR FACTORES LINGUÍSTICOS, GEOGRÁFICOS E RELIGIOSOS.

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JUP — MARÇO 201416 DESPORTO

Um novo espião, um velho propósito

Lançado pela F3M (uma das maiores empresas nacionais especializadas em Tecnologias de Informação e Comunicação) trata-se de uma pla-taforma web-based que permite a

criação de bases de dados de jogadores, a orga-nização de relatórios de observação e relatórios de jogo, a comparação entre futebolistas e a aná-lise de estatísticas e o planeamento de tarefas. Um novo produto que vem dar resposta a “uma clara necessidade das estruturas de scouting de-terem uma ferramenta inteiramente dedicada e com todos os atributos-chave para um trabalho de criação, arquivo e relação de base de dados de observação de jogadores”, como aponta o Pro-duct Manager do Software, Pedro Matos Vital, algo ainda mais relevante numa época marcada pela chegada do Fair-Play financeiro imposto pela UEFA e pelas restrições orçamentais de que a maioria dos clubes sofre.

Sendo uma ferramenta especialmente focada na prospecção de novos talentos, esta aplicação revela-se fundamental para clubes, treinadores, agentes de atletas, olheiros e observadores, mas pode também ser interessante para jornalistas ou meros treinadores de bancada e curiosos, uma vez que permite a criação de uma conta gratuita (ainda que com possibilidades limitadas). Neste ponto, convém salientar que se trata de uma so-lução de baixo custo, estando acessível tanto aos grandes clubes como aos de menor dimensão.

No fundo, como destaca Pedro Matos Vidal, “através de uma plataforma focada nesta área, qualquer estrutura de scouting tem a possibilida-de de criar relatórios de observação uniformiza-dos, planear tarefas de visionamento e pesquisar jogadores por atributos-chave devidamente clas-sificados”, acrescentando que “as bases de dados são próprias de cada estrutura e a confidenciali-dade é absoluta e devidamente garantida através de um processo externo de certificação de segu-rança e encriptação de dados” – tudo para desco-

texto Filipe Coelhoilustração Tiago Lourenço

brir potenciais Messis ou Ronaldos.A componente tecnológica desta ferramen-ta é evidente. Sendo uma plataforma on-line, está disponível para desktops e ta-blets, tendo sempre o utilizador como foco: a aplicação está em constante actualização, no sentido de respon-der às necessidades de quem a usa, permitindo ainda o suporte para outros conteúdos digitais (fotos, vídeos ou pdf´s).

FuncionalidadeTendo um propósito claro, o ‘Football Talent Spy’ assu-me-se como mais um meio de “enformar” a paixão da bola em moldes científicos. Para tal, a plataforma online revela-se intuitiva e de fácil utilização.

À cabeça, a possibilidade de se escolher o tipo de con-ta pretendido, conforme as funcionalidades de que se pre-tende usufruir (e inerentemente o preço em causa). A partir daqui, surge um mundo por explorar, com a potencialidade de criação de uma base de dados – desde perfis de joga-dores individualmente, fruto de relatórios de observação (classificação global e quatro tipos de parâmetros de observação, com a possi-bilidade da escala de observação ser configurada assim como as características alvo de relatório), até à planificação de observação de uma deter-minada equipa.

O menu principal revela-se apelativo e com a informação mais relevante sobre um jogador desde logo disponível, afirmando-se como uma aplicação imediata. Permite ainda, que um perfil de um jogador seja inserido numa determinada lista em função do valor demonstrado, podendo serem associados vídeos, fotos ou outros docu-mentos a este.Entre outras funcionalidades, é também possível introduzir dados sobre um jogo que se pretenda observar (a priori, portanto) e ainda gerir deter-minadas tarefas, divididas por diversas catego-rias consoante o seu estado de execução.

ExpansãoO ‘Football Talent Spy’ está ainda em fase de implementação no mercado futebolístico. Nes-te aspeto, tendo como objectivo levar a área de observação de jogadores e de equipas para um patamar verdadeiramente profissional, é de des-tacar o esforço que tem sido feito para se dotar dos melhores especialistas, como é o caso de Rui Malheiro, recentemente nomeado Chief Scout.De facto, a aposta tem sido consolidada e come-çam a surgir os primeiros frutos: a nível interno, o Estoril-Praia está a testar a plataforma e há negociações a decorrer com outros clubes nacio-nais; por outro lado, atravessando o Atlântico, a receptividade tem sido também ela grande, com clubes brasileiros de nomeada a mostrarem-se interessados no produto.

Como uma solução inovadora, o ‘Football Talent Spy’ destaca-

-se pela sua contínua actualização e busca por novos conteúdos. Há a

preocupação de uma constante evolu-ção (estão programadas novidades ao ní-

vel da avaliação dos jogos ou do melhoramento das posições disponíveis dentro do software) que pode ser acompanhada nas diversas plataformas onde a aplicação está presente – desde o Face-book ao Youtube ou do Tumblr até ao Twitter.

‘FOOTBALL TALENT SPY’. É ESTE O NOME DO SOFTWARE, PRODUTO MADE IN PORTUGAL, CRIADO PELA EMPRESA F3M DE BRAGA, QUE SE PROPÕE REVOLUCIONAR O FUTEBOL MUNDIAL NOS PRÓXIMOS ANOS E QUE TEM COMO FOCO A PROSPECÇÃO DE JOVENS TALENTOS FUTEBOLÍSTICOS.

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JUP — MARÇO 2014

Maia Olímpica em 2014

DESPORTO 17

Do futebol à ginástica, do ande-bol ao voleibol, da natação ao automobilismo, dos desportos

adaptados aos desportos radicais, todas as modalidades vão passar pela Maia. Serão cerca de 200 eventos desportivos, num investimento de 700 mil euros, que farão do município maiato, uma das ci-dades europeias do Desporto em 2014.

A ACES Europe (Associação de Ca-pitais Europeias do Desporto), em par-ceria com a Comissão Europeia, dis-tinguiu a cidade nortenha devido a um conjunto de fatores que nos últimos anos fomentaram a prática desportiva no concelho. "A Maia tem uma boa or-ganização desportiva, infraestruturas de grande qualidade, a favor dos cida-dãos, combinando vários sistemas, o público, o privado, a escola e a faculda-de, pontos fundamentais para ter sido escolhida", explicou Gian Francesco Lupatteli, presidente da ACES Europe, no momento da eleição, em Julho do ano passado.

Para Hernâni Ribeiro, Vereador do Desporto da Câmara Municipal da Maia, o título de Cidade Europeia do Desporto é “o reconhecimento de um trabalho impar elaborado ao longo das últimas três décadas, quer na constru-ção de equipamentos, quer nas políti-cas de fomento das práticas desporti-vas”. Atualmente, a Maia possui cerca de 80 estruturas municipais ligadas ao Desporto, dos quais se destaca o Es-tádio Municipal, onde vão decorrer as provas de Futebol e Atletismo.

A par das infraestruturas, Hernâni Ribeiro, salienta a ligação que a cidade tem a algumas modalidades: “temos bastante tradição em alguns desportos, como na ginástica e o ciclismo”, refe-rindo-se a associações como a União Ciclista ou o Acro Clube da Maia, entre outras, que ao longo dos últimos anos têm vindo a dar cartas a nível nacional. Mas para além das modalidades com as quais os Maiatos estão mais fami-liarizados, no programa de atividades figuram ainda desportos praticamente desconhecidos para o público local, como é o caso da Orientação ou do Corfebol.

De todo o cartaz deste ano, desta-cam-se os 64 eventos de âmbito in-ternacional. Desde provas da Taça do Mundo de Ginástica Acrobática, até à Final Four da Taça de Portugal em An-

debol, passando pela Volta a Portugal em Bicicleta, a Maia espera atrair mi-lhares de atletas e adeptos. Um dos eventos mais esperados decorre no final deste mês. Nos dias 24 e 25 de Março, grandes nomes do treino des-portivo, como André Villas Boas, Paulo Bento, Manuel José ou Jorge Braz, vão ocorrer à Maia para participar no Fó-rum Nacional de Treinadores de Fute-bol e Futsal.

Para Hernâni Ribeiro, a organização da Cidade Europeia de Desporto tem três objetivos principais: “Incutir a prá-tica desportiva nos cidadãos, de forma a aumentar a qualidade de vida, au-mentar o nível de competitividade das associações locais através do exemplo dos atletas que este ano vão passar pela Maia e aumentar a coesão social, algo muito importante numa cidade que tem vindo a crescer demografica-mente nos últimos anos”. Para além disso, o Vereador do Município da Maia espera ainda que a iniciativa sirva para dinamizar o desporto adaptado junto dos clubes locais. Por último, Hernâni Ribeiro não nega que o reconhecimen-to internacional traz notoriedade e visi-bilidade às atividades locais.

Campeonatos Universitários na Cidade EuropeiaEm abril, os estudantes-atletas de todo o país vão competir na Fase Final dos Campeonatos Nacionais Universitários (CNU’s). De 7 a 12 de abril, no âmbito da iniciativa Cidade Europeia do Des-porto, a Federação Académica do Porto (FAP) em parceria com a Câmara Mu-nicipal e com o Instituto Superior da Maia, vai organizar aquela que é con-siderada a maior festa do desporto uni-versitário a nível nacional. No final de fevereiro já estavam a ser executados os últimos passos na organização do evento, que se vai concentrar no Com-plexo Desportivo Central da Maia. “Os estudantes vão encontrar um programa que vai para além do Desporto”, adian-tou o vereador sobre o ambiente que o Municipio pretende proporcionar aos atletas universitários.Os CNU’s 2014 vão concentrar na Maia as modalidades de Andebol (f/m), Basquetebol (f/m), Futebol 11 (m), Futsal (f/m), Rugby 7s (m) e Voleibol (f/m). A prova vai integrar ainda as competições diretas de Hóquei em Pa-

tins (f/m), Rugby 7s (f) e Corfebol (Mis-to). As Fases Finais Concentradas, que resultam de três zonas de apuramento, Lisboa, Porto e Nacional, vão contar com a presença de mais de 2000 atle-tas nos 6 dias de competição.No ano passado, a fase final dos CNU’s foi organizada pela Universidade da Beira Interior, na zona da Cova da Beira. Nesse evento a Universidade do Porto foi bronze no Rugby 7s feminino, no Voleibol masculino (onde o IPP ven-ceu a medalha de ouro), no Andebol feminino e no Atletismo de Estrada, onde também venceu uma medalha de Prata. Sagrou-se ainda vice-campeã no Hóquei em Patins masculino, depois de perder frente à Académica de Coim-bra numa final decidida no prolonga-mento. Este ano, talvez o fator “casa” beneficie os atletas portuenses.

Espanha e Itália dominam o desporto europeuDesde 2001 que a ACES (Associação de Capitais Europeias do Desporto) e a Comissão Europeia elegem anual-mente uma Capital do Desporto e vá-rias cidades europeias do Desporto. A primeira cidade a receber a distinção máxima da associação comunitária foi Madrid. Este ano a honra cabe a Car-diff (capital gaulesa), e para o ano será Turim, palco dos Jogos Olímpicos de Inverno em 2006.

Até ao momento nenhuma cidade portuguesa foi considerada Capital do Desporto pela ACES, apenas a Maia (este ano) e Guimarães (em 2013) re-ceberam o título de Cidade Europeia do Desporto. Para o próximo ano é candidata ao mesmo reconhecimento, a cidade algarvia de Loulé.

Apesar destas duas distinções, Por-tugal mantem-se bem longe dos gran-des centros europeus, nomeadamente Itália e Espanha, que têm vindo a do-minar as nomeações da ACE’s e que ao longo dos últimos anos se afirma-ram como um exemplo a seguir no que toca a políticas e práticas despor-tivas. Desde 2001, a europa já assistiu a 3 Capitais espanholas (Madrid 2001, Alicante 2004 e Valencia 2011) e 2 Ita-lianas (Milão 2009 e Turim 2015). Para além disso, 22 cidades italianas e 14 espanholas já receberam o título de “Cidade Europeia do Desporto”, agora entregue à Maia.

Prova da Taça do Mundo de Ginástica Acrobática 7 a 9 de Março

Fórum Nacional de Treinadores de Futebol e Futsal 24 e 25 de Março

Campeonatos Nacionais Universitários 7 a 12 de Abril

Final Four Taça de Portugal em Andebol 12 e 13 de Abril (data provisória)

Campeonato da Europa de Futebol de 7 para pessoas com Paralisia Cerebral 20 de Julho a 3 de Agosto

Final de Etapa da Volta a Portugal Entre 30 de Julho e 10 de Agosto

Europeu de Corfebol 25 de Outubro a 2 de Novembro

DEPOIS DE GUIMARÃES EM 2013, A MAIA RECEBE AGORA O TÍTULO DE CIDADE EUROPEIA DO DESPORTO. O RECONHECIMENTO VAI SER CELEBRADO COM DEZENAS DE EVENTOS ONDE A COMPETIÇÃO, NACIONAL E INTERNACIONAL, VAI CHEGAR A TODAS AS MODALIDADES.

CALENDÁRIO MAIA CIDADE EUROPEIA DO DESPORTO

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JUP — MARÇO 2014CRÓNICAS18

Casanova escritor

A Golpada do Marketing

CRÓNICA LITERÁRIA

CRÓNICA CINEMATOGRÁFICA

CONTA-ME COMO É…

Pelas movimentadas ruas do Por-to, surgem inúmeros espaços onde cada um de nós pode re-

pousar um pouco e aproveitar para beber um bom copo de vinho, ou então, para conviver. E que local mais indicado que uma tasca para servir estes propósitos?

É a caminho da Ribeira, a par de ou-tros estabelecimentos comerciais, que encontramos a tasquinha “Mar Lindo” cujo dono, Alberto Ferreira, nos revela como é trabalhar neste ramo. Na ver-dade, já com treze anos havia traba-lhado num café na região de Paranhos, tendo exercido outras profissões, che-gando mesmo a passar por África.

Foi há cerca de oito anos e “com an-siedade de trabalhar” que Alberto abriu as portas da sua agradável taberna aos moradores e visitantes da cidade In-victa e, desde então, são muitas as his-tórias que tem para contar. “Era raro o dia em que não houvesse chatices, em que não tivesse que pôr alguém lá fora, por desacatos, por falta de educação”, conta. “Já tivemos aqui situações em que virávamos a cara para o lado e os clientes desapareciam sem pagar”, acrescenta o proprietário.

Por estes motivos se percebe que, para além da firmeza que é necessário ter para lidar com situações conflituosas, é precisa dobrada atenção por parte da pessoa que trabalha do outro lado do balcão. Os carteiristas são outro motivo de preocupação de Alberto que já pre-senciou um assalto a um idoso, conse-guindo na altura ainda recuperar uma boa parte do dinheiro. Ser um bom vigilante é portanto fundamental neste tipo de ramos, sendo uma caracterís-tica que deve constar em trabalhado-res deste setor. Por vezes é necessário também saber “recusar a bebida a um cliente porque está embriagado” pois, ficando psicologicamente afetado, co-meça a perturbar o ambiente.

Apesar de todos os percalços que vão surgindo no seu dia-a-dia o balanço é positivo, é um espaço que proporcio-na acima de tudo bom convívio e bons petiscos, em que há troca de ideias e de experiências. Na opinião deste em-presário, espaços como estes deviam persistir “mas parece que a câmara e as autoridades estão a tentar que isto acabe de vez, o que é um grande erro”.

Alberto acrescenta o facto de que há exemplos de tabernas que, por terem

sido modernizadas, passado pouco tem-po acabaram por fe-char, porque “o pes-soal não gosta disso, o pessoal gosta disto assim”. De facto, as tascas pelo seu caráter modesto e tradicional ainda atraem pessoas que encontram neste es-paço um espaço em que se faz amigos e em que se fala de tudo, “quase como um bar-beiro”, como afirma, e em que também há sempre lugar para bons conselhos. “A minha obrigação aqui é fazer negócio mas eu não conto só com isso”. Verdadeiramente, Alberto já aju-dou quem não queria deixar o vício da bebida, sendo notório o ambiente de entreajuda e proteção que neste espa-ço, à semelhança de outros deste gé-nero, se faz sentir.

E, apesar do cansaço evidente por tra-balhar tantas horas, uma vez que abre o estabelecimento por volta das seis e só o volta a fechar quando o sol já não se vê, Alberto continua a fazer do “Mar Lindo” um espaço “boa onda". • Inês Morais

O Romanceiro do último quartel do século passado está reple-to de histórias mirabolantes.

Relatos de decadência, de pequenos mafiosos que sobem a pulso, de trapa-ceiros que atingem o topo e, inevita-velmente, o fundo. Nestas últimas ca-tegorias encontramos os protagonistas de “American Hustle”.

Não imagino sequer se foi este o grande vencedor dos Óscares 2014 (escrevo antes da cerimónia) ou ape-nas mais um dos candidatos que tinha buzz muito à custa da máquina publi-citária que detinha. Muito se escreveu sobre o caráter “Scorseseano” da obra. Teria sido mais seguro assumi-lo de-liberadamente como uma hommage. Prefiro, porém, fixar-me na história em si e em O’Russell que, depois de “The Fighter”, pensa ter descoberto a fórmula para garantir nomeações ou ganhar prémios.

Este é um filme onde as prestações (competentes, mas não impagáveis) do elenco não conseguem fazer esquecer uma realização previsível e carregada de déjà vu. Incluir De Niro não é sinó-nimo de Ter De Niro num filme.

É um rodízio de vigarices e jogos de enganos, perpetrados por vilões onde

acabamos por apoiar o único que tem um bom coração (irónico no mínimo, tendo em conta os problemas cardíacos da personagem de Bale). O’Russell vai conduzindo este filme como se estives-se num circuito. Vemos a meta a apro-ximar-se facilmente e o realizador leva--nos pela mão até essa meta tentando, inutilmente, causar alguma vertigem.

Em suma, mais um filme que tenta criar a crença de que o futuro do ci-nema passa pelo passado do mundo. E Hollywood, cada vez mais vergada ao poder e encanto do cinema inde-

pendente, atribui nomeações a todos aqueles que respirem, ainda que de longe, da matriz indie (olhemos para as nomeações recentes). “American Hustle” parece que basta colocar o Bradley Cooper com permanente, mascarar Bale, vesti-los com calças boca-de-sino e colarinhos enormes para ter um blockbuster.

É moda ser retro.

H á já dois dias que dedico mi-nhas viagens de suburba-no à leitura da História da

Minha Vida de Giacomo Casanova, na tradução de Pedro Tamen recentemente publicada pela Divina Comédia Editores. Porém devo dizer que, antes de me decidir a viajar na companhia de Casanova, receava ter de gramar com uma sucessão de masturbações nostálgicas escritas por um decrépito libertino então em fim de vida e, muito provavelmente (ironicamente), já impotente. Ora contrariamente ao mito instalado, mito injusto que o aproxima de Valmont (seu contemporâneo), acontece que Casanova se revela ser, bem pelo contrário, um dos mais cultos e genuinamente afáveis companheiro de viagem que se possa ter. Mais, ao viajar com esse decrépito libertino, não só temos a oportunidade de ouvir aventuras magníficas como a de sermos seduzidos por um magnífico

contador. Como se, tendo atingindo a velhice, doravante incapaz de seduzir através dos seus atributos físicos, ele tivesse, contudo, atingindo o domínio total de nos seduzir através desses seus dotes que suscitaram a admiração e o encanto dos salões mundanos do século XVIIII, os dotes retóricos e narrativos. É que, embora se adivinha que as memórias de Casanova não ofereceram a Pedro Tamen o mesmo grau de resistência que ele certamente ressentiu aquando da tradução de Em Busca do Tempo Perdido de Marcel Proust, não podemos, porém, menosprezar as qualidades literárias do célebre liber-tino veneziano. Aliás, se esta tradução de História da Minha Vida permite ao leitor português, e isso pela primeira vez, «reler» a tão rocambolesca quanto desenvolta e leviana existência de Ca-sanova, ela tem, fundamentalmente, o mérito de consagrá-lo «escritor».

de Alexandre Marinho

de Luís Azevedo

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JUP — MARÇO 2014 DEVANEIOS 19

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