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Destaque 2 || Educação 6 || Sociedade 10 || JUPBOX 13 || U.Porto 14 || FLASH 16 || Desporto 18 || Cultura 21 || Críticas 27 || Cardápio 28 || Opinião 29 || Devaneios 31 MARÇO ‘10 Jornal da Academia do Porto || Ano XXIII || Publicação Mensal || Distribuição Gratuita Directora Filipa Mora || Director de Fotografia Manuel Ribeiro || Directora de paginação Joana Koch Ferreira Chefe de Redacção Mariana Jacob 23 anos a contar história(s) Jornalismo Universitário Jornal da Academia do Porto || Ano XXIII || Publicação Mensal || Distribuição Gratuita || Directores: Filipa Mora e Manuel Ribeiro || Director de Fotografia: José Ferreira || Directora de paginação: Joana Koch Ferreira || Chefe de Redacção: Mariana Jacob

JUP_fevereiro_ Jornalismo Universitário

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Destaque 2 || Educação 6 || Sociedade 10 || JUPBOX 13 || U.Porto 14 || FLASH 16 || Desporto 18 || Cultura 21 || Críticas 27 || Cardápio 28 || Opinião 29 || Devaneios 31

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JUP || MARÇO 102 ||

Era um grupo de alunos da Facul-dade de Ciências da Universidade do Porto que decidiu reunir-se para criar o Jornal Universitário. “Uma voz activa, corajosa e determina-da”, capaz de apontar as falhas e os êxitos do sistema de ensino. Enfim, capaz de fazer a diferença. Em bre-ve, tornar-se-iam independentes da AEFCUP, para “vincar a sua indepen-dência e o seu carácter aberto”. Nas-cia assim, no final da década de 80, o “Jornal Universitário do Porto”.

Acima de tudo, a criação de um Jornal de todos os alunos “impu-nha-se quando estamos cansados de apontar (e de sentir) as falhas do nosso sistema de ensino”, conforme se podia ler no editorial da edição zero, em 1987, assinado por Jorge Pedro Sousa, actualmente jornalista, professor e investigador na área de Comunicação.

GRAnDES REPORtAGEnSOs primeiros números do JUP foram marcados por reportagens sobre os principais problemas que afectavam os universitários: condições de alo-jamento, as cantinas universitárias, as alterações no Ensino Superior, a Queima das Fitas. Foram várias as re-portagens polémicas que causaram burburinho no meio académico.

João Teixeira Lopes lembra-se de um artigo de Ana Brandão “em que ela acusava a comissão da Queima das Fitas de ter utilizado dinheiro do seu orçamento para financiar abortos”. Director na altura, confes-sa que houve tentativas de retalia-ção após a publicação da notícia. Tal

Este é o mês do 23º aniversário do JUP. Via-jamos pela história do Jornal Universi-tário do Porto, onde histórias de luta e dedicação o tornam um marco obrigatório na vida da Universi-dade e da própria cidade do Porto.

aconteceu em 1989, dava o JUP os primeiros passos na sua história.

Jorge Pedro Sousa refere também os artigos sobre “as iniciativas estu-dantis europeias, sobre os jovens e a Europa”, numa altura que come-çavam os programas de intercâm-bio. Anos mais tarde, o projecto A Ponte “acompanhou entre 2000 e 2002 as actividades da Porto 2001 – Capital Europeia da Cultura, apre-sentando uma visão reflectiva dos estudantes sobre o que se passava na cidade”, recorda Sara Moreira, presidente do Núcleo de Jornalis-mo Académico (NJAP).

Dino Almeida, jurista e um dos fundadores da revista “Águas Fur-tadas”, salienta ainda as entrevistas aos então Reitores Alberto Amaral e Novais Barbosa. Já Susana Mari-nho, antiga directora do NJAP, des-taca a reportagem “Deficientes são as Faculdades”, sobre as pessoas com dificuldades de locomoção nas ins-tituições académicas. Refere ainda o ar-tigo sobre a in-cineradora do hospital de São João e a edição c o m e -

morativa que o JUP

dedicou aos 30 anos do 25 de Abril.

Dino Almeida realça que “quando alguém queria

falar sobre um tema mais polémico e um pouco mais abertamente ia ter com o JUP”.

O espírito era sempre de expecta-tiva, de fazer algo novo, de marcar a diferença. O primeiro editorial do Jornal dizia que “ainda estamos lon-ge... muito longe... de dizer: missão cumprida”. E agora, 23 anos depois, será que o JUP continua com o mes-mo fôlego para cumprir a missão? O que mudou, afinal, no JUP nas últi-mas duas décadas?

nOVOS tEMPOSO mês de Dezembro de 2008 marcou um novo ciclo na história do J U P ,

que p a s s o u

nesta altura por uma remo-

delação, a vários ní-veis, a cargo do direc-

tor Carlos Daniel Rego.Foi feita uma nova definição

das editorias presentes no Jor-nal: Sociedade, Educação, Cultura,

Desporto e Opinião. A editoria de Internacional acabou por ser abandonada nes-ta “reestruturação”, assim como Economia e Ambiente, que foram integradas nas outras editorias. Os temas agora abordados pelo JUP passaram a ter um enfoque maior no Grande Porto e na Academia. O livro de estilo do Jornal foi tam-bém actualizado. A diferença mais notória, no entanto, registou-se a nível gráfico: o jornal foi ob-jecto de estudo da tese de mestrado de Joana Koch Ferreira, directora de Paginação.

Actualmente, a impres-são do

JUP c h e g a

aos 10.000 exemplares por

edição. Com cerca de sete publicações por ano, é

distribuído “em todas as institui-ções da Academia do Porto”, afirma Sara Moreira, presidente do NJAP.

Mais recentemente, as reporta-gens que ficaram na memória dos novos directores tratam de diferen-tes temas. Filipa Mora salienta o des-taque de Novembro de 2009, sobre o fenómeno do Admirável Porto Novo noctívago, “pela diversidade da repor-tagem e pela equipa”. A actual direc-tora refere ainda o artigo sobre a pri-

vatização do Palácio de Cristal, que “merece atenção pelo

interesse público”, e o artigo e foto re-

portagem sobre as Quintas de

Leitura, “pelo interesse e qualidade que des-per tam no espec-tro cul-tural”. Já Manuel Ribeiro destaca a cobertura

às férias desportivas

(organizadas pela Federa-

ção Académica do Porto - FAP) e

ainda a reportagem sobre os Jogos Galaico-

Durienses, da edição de Dezembro de 2009. Para o

actual director, “o “enviado-es-pecial” [Francisco Ferreira, editor de

Desporto], que acompanhou a comiti-va da UP à Galiza, virou de repórter a atleta e por sinal não desiludiu”. “En-tra seguramente para a história deste jornal com 23 anos”, destaca Manuel Ribeiro.

Dentre os antigos colaboradores, o carácter crítico do jornal é uma das características que recordam com mais saudade. “Estou convencido que foi isso que marcou os leitores”, ressalta Dino Almeida. João Teixeira Lopes considera que o JUP ainda “é um bom exemplo de jornalismo crí-tico, de um jornalismo interventivo, sem deixar de ser rigoroso”. Apesar de considerar que o jornal está mais profissional, Jorge Pedro Sousa con-sidera-o “não tão corrosivo” como o

foi nos seus tempos de estu-dante. “Infelizmente, talvez não seja tão impertinente e incomodativo, no bom sen-

tido, como o foi no final dos anos oitenta e princípios dos noventa”, confessa o investi-gador. Susana Marinho, antiga

Amador na opção, p rofissional na acção

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JUP || MARÇO 10 || 3 Des

taqu

e

Amador na opção, p rofissional na acçãodirectora do NJAP, reforça a impor-tância do espaço para a opinião no Jornal, “pois penso que uma das obrigações do JUP é defender os in-teresses dos estudantes, incluindo a crítica a alguns aspectos medíocres que possa haver no seu seio”.

Filipa Mora realça o esforço diá-rio do JUP “em despoletar interesse nos temas que cobre”, considerando que a maior evolução reflectiu-se “nos temas de teor mais investi-gativo que tentamos publicar”. “É com um misto de sangue, lágrimas e suor que cada jornal sai todos os meses”, exalta a directora.

E OS EStUDAntES?É um lugar-comum dizer-se, hoje em dia, que os alunos estão mais preguiçosos, menos motivados a participar. No entanto, os próprios alunos não o admitem. Após 23 anos de existência, o JUP continua a contar com vários colaboradores que têm uma visão nova e diferente sobre o Jornal.

Mariana Catarino, aluna do Cur-so de Ciências da Comunicação, en-trou no Jornal Universitário “para começar a ganhar alguma experi-ência” na área do Jornalismo. “Com o JUP sinto-me mais integrada na UP e conheço melhor o Porto”, confessa. Liliana Pinho, do primei-ro ano do mesmo curso, acrescen-ta que “participar neste projecto é muito gratificante”.

Dentro dos outros cursos, o caso muda um pouco de figura. Maria, estudante de Ciências Farmacêu-ticas, confessa que não lê o jornal mais vezes “porque muitas vezes as capas não chamam a atenção”. Uma colega sua comenta que fazem falta mais ar-tigos sobre todas as faculdades, pois “po-diam falar do que se faz em toda a Universidade”.

Manuel Ribeiro, di-rector do JUP, salienta a necessidade de adaptar o jor-nal a toda a Universidade, o que passa pela variedade de colaborado-res. “Uma das missões do JUP é dar

a conhecer o jornalismo a todos os estudantes do ensino superior”, explica . Não deixa de apontar ainda a falta de mais participantes, sendo esta a principal dificuldade do Jornal: “Fal-ta gente ao JUP, com vontade de par-ticipar e manter este projecto”. “O JUP sofre do síndrome Bolonha. Os estudantes têm menos tempo para desempenharem actividades em paralelo com os cursos que estão a frequentar”, lamenta o director.

Sara Moreira, do NJAP, explica como é difícil gerir “a dicotomia sempre latente no associativismo voluntário versus a necessidade de estabelecer e cumprir compro-missos para que a máquina continue a mexer”. Filipa Mora corrobora, lembran-do que “o JUP é feito por pessoas que se dedicam vo-luntariamente à causa, que é o jornalismo amador na op-ção, profissional na acção”.

O NJAP: um universo de cooperações alargadasO Núcleo de Jornalismo Académico do Porto (NJAP) reúne um conjun-to de diferentes projectos. A revista de literatura, música e artes visuais, “Águas Furtadas”, tem o objectivo

principal de divulgar artistas promissores com pouca

visibilidade. Foi lan-çada

em 1999 e teve 10 edições semes-trais até 2006. Susana Marinho, an-tiga directora do NJAP, considera a criação desta revista como um grande desafio, “não só por toda a logística que isso envolveu, como também pela qualida-de que se procu-r a -

va imprimir à re-vista”. E para Sara Moreira, não está esquecida: “continua a ser um projecto acarinhado e esta-mos a analisar formas de continuar a sua publicação”.

As Galerias JUP, localizadas na Rua Miguel Bombarda, acompanham a actividade cultural da zona onde se insere. O próprio edifício do NJAP recebe debates, palestras e acções de formação para os estudantes.

Susana Marinho aponta os prin-cipais desafios do cargo que ocu-pou: “criar uma imagem do Nú-cleo como uma associação dinâmica, aberta a todos quantos quisessem contribuir

quer c o m

textos para o JUP, quer

com o desenvolvi-mento de outras ac-

tividades e procurando sempre novos associados”.

A antiga directora fala ainda da “resistência a vários tipos de

condicionamento editorial”.Sara Moreira está esperançosa

quanto ao futuro do NJAP: “vejo o Núcleo a despontar como estrutu-ra viva, local de trabalho e convívio,

ponto de encontro de pessoas, interesses e reflexões, após

um período de 3 anos em que as portas

estiveram mais fechadas”. A

actual Pre-sidente es-pera que “nunca seja des-curada a ex-t r e m a impor-t ânc i a do papel do Nú-cleo de

Jornalismo Académico

do Porto en-quanto agente

e plataforma de reflexão e de cons-

ciência colectiva”.

“Caixinha de recordações”

Desde a sua fundação, as linhas do JUP foram delineadas pelos

próprios estudantes, que aprenderam no jornal uni-versitário novas formas

de se expressar e compre-ender o mundo académico.

João Teixeira Lopes, professor da FLUP e ex-deputado pelo Blo-co de Esquerda, conta como a participação no jornal lhe deu “uma noção muito mais vasta das nossas semelhanças e das nossas diferenças”. “Através do JUP consegui aperceber-me de realidades que me estavam dis-tantes”, conta o docente.

Os antigos colaboradores con-tinuam a ser leitores assíduos do jornal do qual fizeram parte no passado. Para Dino Almeida, “é como regressar a uma publi-cação que sentimos nossa e nos faz falta…Quando se trabalhou num projecto sentimo-lo um pou-co nosso”. O jurista salienta que “todo o arquivo do JUP é de um enorme capital cultural e social. Deu grandes coisas a esta cidade e mais do que isso inspirou muitos outros projectos de jornalismo e não só”. Dino Almeida considera mesmo que o JUP “é um marco na cidade universitária”.

Entre elogios e reclamações, não faltaram sugestões. João Tei-xeira Lopes considera que o jor-nal tem que “ser capaz de criar as suas próprias notícias, deso-cultando muitas vezes o que está obscuro, fazendo investigação, indo para além das fachadas, e tendo um papel interveniente na própria academia”. Jorge Pedro Sousa corrobora esta opinião, já que “o JUP volta-se muito para o exterior, nomeadamente para o campo cultural, o que é bom, mas que tem uma consequência nega-tiva, que é abandonar o olhar so-bre a Academia, a principal razão para que foi criado”. Dino Almei-da também refere a importância da actividade académica, insti-gando-se ainda sobre os possíveis desafios para o JUP no futuro, que podem passar pela adaptação ao acordo ortográfico e pela criação de edições electrónicas.

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JUP || MARÇO 104 || DEStAQUE

JUP: uma missão que se cumpre a cada ediçãoOutros jornais universitários juntam-se também à conversa, mostrando como cada um ultrapassa as dificuldades neste (já não tão) novo mundo digital.

Em tempo de novas tecnologias, ninguém quer ficar atrás quando se fala no salto para a Internet. O meio académico é um meio privilegiado, em que o contac-to com as novas redes são não só importantes como essenciais para o enriquecimento dos estu-dantes. Muitos assumem que os jornais universitários, inseridos neste contexto de inovação, de-vem acompanhar essa evolução. Mas isso não se passa da mesma forma em todos os jornais.

O JUP tenta aliar-se a estas no-vas potencialidades a passos cada vez maiores. Possui um site e um blog dos Espaços JUP, que destaca as actividades do NJAP (Núcleo de Jornalismo Académico do Porto).

No entanto, ainda não tem um espaço fixo para distribuir informação na Internet. A ideia do site de notícias do JUP ainda é um projecto por concretizar.

“Por mais obsoleto que possa soar em 2010, falta um site actu-alizado. Mas só depois do míni-mo de colaboradores assegurado é que partimos para o online”, explica Filipa Mora, directora da publicação. O que falta? “Tu, eu, nós e eles, os estudantes. Falta a equipa!”, pensa Manuel Ribeiro, também director.

Enquanto isso, o jornal traça o seu caminho pelas redes sociais. Além da cobertura do Fantaspor-to através de um blog em parceria com o portal Rascunho.net, está presente no Twitter (ferramenta utilizada para a cobertura das Férias Desportivas) e em outros blogs, como o que cobriu a Quei-ma das Fitas 2009 além das noites do Queimódromo e outro para trabalhos que não são publicados em papel. A pouco e pouco, o ob-jectivo é chegar cada vez mais di-rectamente aos estudantes.

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apenas um semestre porque a equipa directiva, composta, na sua grande maioria, por alunos que estavam no 4º ano e foram estagiar, se desfez.”. Desde então, o ComUM voltou-se, mais uma vez em exclusivo, à edição online, onde continua de boa saúde.

As dificuldades em manter a edição online prendem-se com a actualidade que se espera do que é publicado na Internet. “Muitas vezes perdemos alguma actuali-dade quando noticiamos, mas é complicado exigir mais numa re-dacção em que não há nenhum elemento profissional”, justifica o director do ComUM.

… E A DOS COnIMBRICEnSESO Jornal Universitário de Coimbra A Cabra nasceu em 1991, numa era onde ainda predominava o analógico. Em 2004, lança a sua versão online, que perdura até

gráficas, reacções mais momentâ-neas”, explica a jornalista. E ainda acrescenta: “O online é isso, é o explanar a realidade no agora”.

DESAFIOS DA tRAnSIÇãOA presença dos jornais na Internet tornou-se essencial, particularmen-te os jornais que têm os universitá-rios como público-alvo. É um facto que os jovens lêem cada vez menos. O preocupante seria confirmar que os estudantes perderam interesse também por jornais feitos especi-ficamente para si, como o são os jornais universitários.

A solução passa por aproximar os jornais do seu público, apro-veitando o meio onde este passa grande parte do seu tempo – a Internet – e as suas potencialida-des. “No online o objectivo é dar as notícias da cidade e do mundo, do dia, acompanhando a realidade noticiosa”, relembra Vanessa Qui-

tério. A actualidade das notícias junta-se ao multimédia, à capaci-dade de dá-las a conhecer sob vá-rios formatos, muito além do que a tinta e o papel permitem. Os tex-tos mais curtos, as imagens mais apelativas, o “zapping cibernético” pelos vários conteúdos disponíveis podem ser a arma dos jornais para que os estudantes continuem a dar-lhes atenção. Para continuar a fazer parte da sua vida.

Apesar de considerar ser difícil “pensar um jornal universitário como o JUP que não seja (também) impresso em papel”, Dino Almeida, antigo colaborador, não deixa de abordar a importância da adapta-ção aos novos meios: “não nos po-demos esquecer que as universida-des estão sempre na vanguarda e por isso não me admira que surjam alterações a esse nível”.

Demos aqui exemplos daqueles que começam já a acompanhar este clima de mudança. A Cabra foi bem sucedida na transição, o ComUM começou directamente “na crista da onda”. O JUP, apesar da falta de um site, encontrou aqui e ali soluções para informar com imediatismo na Internet.

Os jornais universitários são feitos por estudantes, para estu-dantes. Abordam questões per-tinentes, como só o pode fazer quem está por dentro de quais são os problemas que afectam o seu mundo. Estará o público dos nossos jornais realmente a migrar para a Internet – onde teremos que “armar a tenda” e voltar a ca-tivá-los – ou terá mesmo perdido grande parte do interesse sobre o que se passa no mundo imediata-mente à sua volta?

Apesar de a ligação com os jornais não ser a mesma de outros tempos, ainda há quem não desista de procu-rar informação. Para Dino Almeida, é necessário manter algumas carac-terísticas para continuar a suscitar o seu interesse e captar novos pú-blicos: “Bons textos, boa grafia, ac-tividade de reportagem intensa que cative leitores”. Na resposta a este desafio estarão sem dúvida presen-tes as próximas páginas do JUP – no papel e na Internet – onde se con-tinuará a escrever novos capítulos da História do Jornal que completa hoje 23 anos de existência.

A EXPERIênCIA DOS BRACAREnSES…A ideia de entrar de cabeça na vida dos estudantes através do meio que mais utilizam – a Inter-net – foi o que passou pela cabeça dos fundadores do ComUM, jor-nal dos estudantes de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho. Nascido no meio online, em Dezembro de 2005, sobrevive até hoje com vários colaborado-res e histórias para contar.

A experiência impresso/online é inversa aos outros congéneres: o jornal na Internet veio primeiro e, em 2008, lançaram uma versão impressa do jornal... que durou 9 edições. Primeiro semanalmente, depois quinzenalmente devido a “dificuldades em angariar fun-dos”, o projecto acabou por ser abandonado. Paulo Paulos, direc-tor do jornal bracarense, explica que “o ComUM impresso durou

O meio académico é um meio privilegiado, em que o contacto com as novas redes são não só importantes como essenciais para o enriquecimento dos estudantes.

A presença dos jornais na Internet tornou-se essencial, particularmente os jornais que têm os universitários como público-alvo.

hoje. As versões são distintas uma da outra, mas só desde o início deste ano lectivo é que, com a re-modelação do site, houve maior facilidade para gerir e articular os conteúdos da versão impressa com a online. “Desta forma, por diversas vezes remetemos para o site entrevistas na íntegra que saem na edição impressa, assim como foto-reportagens sobre te-mas abordados no jornal”, explica João Ribeiro, director d’A Cabra.

Vanessa Quitério, coordenadora do projecto online no ano passa-do, explica que existem diferen-ças entre a abordagem impressa e online. “Ambas se completam. Na Internet, pelo poder do imediato, do hoje e agora, as informações antecipavam as reportagens de profundidade de campo, levan-tavam o véu para o posterior esmiuçar do papel. Bem como a publicação de reportagens foto-

ALINE FLOR E TATIANA [email protected], [email protected]

Jornalismo universitário: intervenção continua em força

na era da Internet?

“É difícil pensar um jornal universitário como o JUP que não

seja (também) impresso em papel.”

Uma redacção à espera de mais colaboradores para arrancar com a edição online do JUP

JOSé FERREIRA

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JUP || MARÇO 106 ||Educ

ação

Promovido por uma vasta equipa de organização da Universidade do Porto (UP), o encontro de jovens investigadores tem “a investigação como pilar fundamental do conhe-cimento”. Foi o Reitor da Academia do Porto, Marques dos Santos, que procedeu à abertura da 3ª edição do evento no Salão Nobre da Reitoria. Para o Reitor, o IJUP pretende “entu-siasmar novos actores e promover novos investigadores” no plano na-cional de investigação, para o qual

no estudante a percepção de que aquilo que se conhece hoje não é um conhecimento sólido, mas algo que está em “constante mutação” e prepará-lo assim “para acompanhar melhor as evoluções desse conheci-mento”. Não deixa de referir tam-bém o “papel nuclear deste projecto na universidade”, que se constrói com “muito trabalho”, afirma.

A interdisciplinaridade e a inter-nacionalização são as palavras de ordem, uma vez que “a Universida-de do Porto pretende, cada vez mais, motivar os estudantes e atrair estu-dantes estrangeiros”. Encontravam-se presentes na sessão delegações da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual Paulista (UNESP), com quem a UP tem acor-dos de investigação. Os responsáveis das comitivas fizeram questão de sublinhar a importância e a excelên-cia do projecto. Segundo Jorge Gon-çalves, são colaborações que ultra-passam o IJUP. “A parceria com estas universidades faz com que os jovens conheçam como esse conhecimento se cria em outros contextos, noutra realidade” precisamente para adqui-rirem a confiança no seu trabalho.Quanto a possíveis acordos com ou-tras universidades, Jorge Gonçalves referiu que “nós [Universidade do Porto] já estamos em diálogo com algumas universidades espanholas para os convidar a vir cá e obvia-mente estamos abertos a esse tipo de colaborações, de experiências en-riquecedoras para ambas as partes”. Quer “para descobrir novas vocações e termos em breve novos jovens a engrossar o grupo de investigação da Universidade”, quer pela “possi-bilidade de abrir novos contactos entre a Universidade e a Sociedade.”

InICIAtIVA PROMOVE DIFEREntES áREAS DE InVEStIGAÇãODurante estes três dias foram apre-sentados diversos trabalhos de in-vestigação realizados por alunos de todas as faculdades em sessões orais simultâneas em todo o edifício, des-tacando mais uma vez o espírito empreendedor da Universidade do Porto. Os alunos participantes no IJUP parecem estar de acordo quan-do à importância deste tipo de ini-ciativas para a sua formação e para a Academia do Porto. Sandra Soares está no 4º ano de Ciências Farma-cêuticas e é a terceira vez que par-ticipa no IJUP: “comecei o primeiro trabalho e foram surgindo novas oportunidades, por isso fui continu-

Investigação ganha destaque no IJUPA Reitoria da Universidade do Porto foi palco de mais uma edição do Encontro de Jovens Investigadores. O evento decorreu entre os dias 17 e 19 de Fevereiro e contou com a participação de mais de 700 jovens.

LILIAnA PInHO

“a UP tem tido uma contribuição considerável”. Destacou ainda a im-portância das novas competências que os jovens adquirem com este tipo de eventos, uma vez que este é dirigido a alunos do 1º e 2º ciclos das diferentes unidades orgânicas.

Jorge Gonçalves, vice-reitor, con-sidera o IJUP uma “iniciativa funda-mental”, já que a “universidade é como o membro de um ecossiste-ma – precisa do conhecimento para sobreviver”.“Numa sociedade como

a de hoje, tão exigente em termos de conhecimento, isto é uma men-sagem e uma lição, que eu acho que está a ser apreendida por um grande número de jovens”, exalta. Este tipo de iniciativas “vai permitir descobrir novos talentos” e promover “a for-mação nas empresas”, mas, acima de tudo, contrariar a teoria do estu-dante passivo. “Ao envolver o estu-dante, passamos todos a fazer parte de uma comunidade de criação do conhecimento. E isto é uma contri-

buição importante. É um exemplo que nós esperamos que possa vir a marcar a evolução da universidade para o futuro”, salienta.

Além de que incute nos partici-pantes valores como auto-confian-ça, auto-estima e segurança que para o vice-reitor são fundamen-tais para preparar os jovens quer para enfrentar o futuro com mais confiança, mas também com mais humildade, “para ouvir as críticas que outros lhe vão apresentar”. Cria

O Vice-reitor da UP, Jorge Gonçalves é um dos mais

entusiastas a esta iniciativa

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JUP || MARÇO 10 EDUCAÇãO || 7

Festa no Passos Manuel marca início de Close-Up

ando”. Considera que este tipo de iniciativas são “óptimas pelo conví-vio e pelas ideias que podem surgir para aplicar nos nossos projectos. É uma mais-valia para todos”.

Tiago Garcia, aluno de Línguas, Literaturas e Culturas da Faculdade de Letras, participou no IJUP com o trabalho “Arte da repetição: sobre a possibilidade de reprodução do stencil graffiti”. Para o participante, a principal vantagem do IJUP (no qual já participa pela segnda vez) é que este “permite que, ao estarmos seguros da nossa investigação, que esta ganhe visibilidade”. O nervosis-mo é inegável, “mas depois de estar em frente à audiência, a única pre-ocupação é a de manter o público interessado”. Tiago Garcia salienta que “o IJUP contribui em muito para a confiança dos estudantes”. Todavia, não deixa de referir que “as sessões são pouco mais povo-adas do que pelos próprios orado-res”. De qualquer forma, considera que “a investigação científica deve-ria ser experimentada por todos os estudantes”.

O dia de encerramento deu espe-cial atenção às artes. Teresa Santos e Liliana Pinto, alunas de História da Arte da Faculdade de Letras, apresentaram o trabalho “Porto: Património Mundial – da Classifi-cação à Intervenção”. Ambas viram no IJUP uma nova experiência a que não podiam faltar. Liliana Pinto realça que “houve trabalhos muito interessantes e que alcançaram as minhas expectativas”. Já Teresa Santos referiu a importância de iniciativas deste género, pois “além de nos permitir praticar e divulgar os trabalhos, pode ser uma porta aberta para experiências futuras a nível profissional”. A cidade do Por-to foi a escolhida para o projecto das duas jovens. Teresa Santos faz um balanço positivo da apresenta-ção: “acho que as pessoas se inte-ressaram, porque também tem a ver com o Porto e portanto muitas pessoas senão vivem, trabalham ou estudam nesta cidade, o que faz com que se relacionem bem com o tema”. O IJUP reuniu muitos inte-ressados e, para a próxima edição, Liliana Pinto apelou a uma melhor divulgação: “uma vez que isto é só divulgado na Internet”. Teresa San-tos acrescentou ainda que “havia uma adesão superior se houvesse um contacto mais directo e se fos-se explicada a vertente prática e utilitária destes eventos”.

Yuri Prado, aluno da delegação da Universidade de S. Paulo, apre-sentou uma investigação na área da música, sobre o Samba-enredo. Optou pela cidade do Porto pois “era o sítio ideal para a pesqui-sa que estava a desenvolver, tem ligações com a cultura brasileira. Eu sabia que o povo português já tinha uma ligação com a música brasileira, mas não pensei que fos-se tanta”. O jovem brasileiro in-centivou ainda a participação dos jovens na investigação científica, algo que para este “não é uma coisa maçante, mas que dá real-mente prazer”. Yuri Prado exaltou a importância destas iniciativas, já que “incentiva quem não faz,

e porque divulga um espaço onde se pode trocar ideias”. No Brasil o número de eventos deste géne-ro é muito maior, mas para Yuri Prado “aqui a tendência também é para crescer cada vez mais”.

Para Jorge Gonçalves, o balanço da 3ª edição do IJUP é positivo. “Houve muita participação, inte-racção, trabalhos de qualidade e, portanto, sob esse ponto de vista os objectivos foram atingidos”. Além disso, “se pensarmos que a maior parte dos estudantes que estão cá desempenham estas ac-tividades sem qualquer incentivo financeiro, então, o balanço é mais que positivo”. Considera ainda que o aumento do número de partici-

o IJUP contribui em muito para a confiança dos estudantes”TIAgo gArCIA

Uma exposição no final de um curso de artes representa um momento marcante na vida do recém-licenciado. É neste âmbito que surge o projecto “Close-Up”.

A iniciativa pretende dar a co-nhecer os trabalhos de alunos finalistas da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP) e será complementada por um ciclo de conferências e pela apresentação de um catálogo sobre o projecto.

A sua orientação ficará a cargo do Professor João Cruz, docen-te da FBAUP. A apresentação irá decorrer entre 1 e 11 de Julho de 2010, na antiga sede na RDP, na Rua Cândido dos Reis.

Márcia Novais, finalista de De-sign de Comunicação da Facul-dade de Belas Artes e responsá-vel pela criação deste projecto, afirma que o Close-Up surgiu devido à “falta de plataformas que dêem a possibilidade das pessoas verem o trabalho de re-cém-licenciados” Assim, para os finalistas, este projecto deve ser encarado como “um momento de reflexão e uma oportunida-

de”, assegura Guilherme Blanc, responsável pela gestão e plane-amento curatorial do projecto.

A apresentação formal do “Close-Up” teve lugar no Passos Manuel, no passado dia 6 de Fe-

vereiro. A festa teve início com a actuação de Cavalheiro, seguindo-se Labrador + PMA e, mais tarde, o Dj Set de Concorrência. O dinhei-ro arrecadado com a venda dos bilhetes vai custear a exposição e

o catálogo final. Segundo Guilher-me Blanc, o principal objectivo da festa era “tornar o projecto públi-co”, dando a conhecer ao Porto a iniciativa que dá agora os primei-ros passos. TERESA CASTRO VIANA

pações em cada edição é um sinal optimista e que permite que o projecto cresça na Universidade. Quanto ao futuro, este é risonho. Já a pensar em futuras edições, o vice-reitor da UP espera que este número continue a crescer e que crie uma “nova geração de investi-gadores nas diferentes áreas”. Por-tanto, há todas as garantias de que “o projecto vai correr e crescer. Va-mos ter aqui uma sementeira de uma nova geração de investigado-res em Portugal”, conclui.

Cavalheiro foi um dos artistas convidados na apresentação

MIGUEL RODRIGUES

ANA ROCHA, JúLIA ROCHA, LILIANA PINHO, SOFIA CRISTINO [email protected], [email protected], [email protected], [email protected]

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JUP || MARÇO 108 || EDUCAÇãO

Porto Poliglota numa época em que falar mais de que uma língua é natural até para os mais pequenos, dar uns toques no Inglês já não basta.

E se ‘de pequenino é que se torce o pepino’, a verdade é que nunca é tarde demais para aprender uma nova língua. Os estudos confirmam: aprender e dominar uma língua que não a materna traz confiança, versa-tilidade, além de uma nova sensibili-dade para as subtilezas do falar.

Confrontado com uma cultura multilingual que produz conhe-cimento em quantidades - e qua-lidades - diferentes, e na qual a tradução é ainda deficiente, o es-tudante vê-se constantemente na necessidade de compreender e ex-plorar conhecimento em línguas que não o português. As soluções por vezes não são as melhores: os tradutores online falham e a tra-dução palavra a palavra pelo dicio-nário nem sempre é concordante com o sentido original. Entre o es-forço exigido pelo descortinar de um texto complexo ou técnico e o ignorar de uma potencial fonte de conhecimento, muitos optam pela segunda opção. As consequências são francamente nefastas.

A prova da importância crescen-te da capacidade de dominar uma língua estrangeira e do seu peso na educação e formação dos jovens es-tudantes, reflecte-se, por exemplo, nos vários cursos ligados às línguas disponíveis na Universidade do Por-to. Apesar de, para os leigos, poder soar tudo à mesma coisa, os cursos de Línguas Aplicadas, Línguas e Re-lações Internacionais, e de Línguas, Literaturas e Culturas – já para não mencionar os cursos de Ciências da Linguagem - versam aspectos dife-rentes da Língua, sempre assente na aprendizagem de uma ou mais línguas estrangeiras.

OFERtA PARA tODOS OS GOStOS nO PORtOPara os menos dedicados, existem muitas opções para quem quer aprender línguas no Porto.

Os cursos disponibilizados pelo gabinete de Formação Contínua da FLUP, que vem em vários for-matos, é um dos exemplos.

O formato mais tradicional, com duração de um ano, ronda entre os 300 e os 600 euros (para alunos ex-ternos) e os 200 e 500 euros para alunos da UP. Oferece desde os mais tradicionais, como o Inglês, Alemão, Espanhol e Francês, até ao Romeno, Sueco, Húngaro, Hindi, Japonês e mesmo Persa. São vários os níveis para cada Língua. Em alternativa, existe ainda o formato intensivo que oferece os cursos de Inglês, Alemão, Francês, Espanhol e Italiano, com 2 níveis de dificuldade, entre os 100 e os 200 euros. Por norma, o período de inscrição dos primeiros é logo no início do ano, entre Julho e Setem-bro. Os cursos intensivos têm datas específicas que convém consultar com antecedência para a candida-tura. Alguns destes cursos pedem uma prova de diagnóstico, para co-

locação no nível apropriado.De apontar que certas línguas são

próprias ou tradicionais, em certos campos profissionais e académicos. É preciso ter em conta, para além do sempre obrigatório prazer em aprender uma língua nova, as futu-ras aplicações e a real relevância no seu dia-a-dia. Por exemplo, apesar de o Mandarim estar na moda, não será a língua mais útil para o traba-lhador comum.

Quanto as línguas da moda e às apostas seguras, não é fácil distin-guir o rumo que se toma. Olhando para os dados fornecidos pelos cur-sos de línguas da FLUP, o Inglês con-tinua a ser o curso mais procurado, seguido pelo Alemão e Espanhol, que nos últimos anos revelou um crescimento exponencial. Segue-se, surpreendentemente, o Mandarim, o Japonês e o Russo. O Francês, nor-malmente no grupo das línguas tra-dicionais, é um dos cursos menos escolhidos dentro deste formato

Testing System), um sistema que mede através de exames extensivos (versando todas as partes do em-prego da língua falada – compreen-são oral e escrita, uso da gramática, expressão oral e escrita) o Inglês do examinado e o classifica em rela-ção a um quadro de competências reconhecido universalmente. No Porto, este tipo de avaliação está disponível no British Council, que aceita candidaturas de alunos ex-ternos que queiram fazer o teste.

Sempre que possível, há que op-tar por credenciais facilmente reco-nhecíveis no mundo do trabalho ou mesmo no mundo académico, caso esteja aberta a opção de estudar no estrangeiro. O Quadro Europeu Co-mum de referência para as Línguas é a alternativa europeia e foi criado como parte do projecto ’Aprendiza-gem de Línguas para a Cidadania Eu-ropeia’, entre 1989 e 1996. Descreve 6 níveis, baseados no domínio das competências orais e escritas, desde o utilizador elementar ao utilizador proficiente, a ser avaliadas por um Instituto ou pelo próprio utilizador que verifique as suas competências. É esta grelha que serve de base ao preenchimento do modelo de Curri-culum Vitae proposto pela União Eu-ropeia. Tanto os IELTS, como outros métodos de classificação usados nos grandes institutos, como o Alliance Française e o Goethe Institut (que oferece adicionalmente Cursos à Distância), estão equiparados com a classificação do Quadro Europeu. ANA PELAEz E INêS ANTUNES

o Inglês continua a ser o curso mais procurado, seguido pelo Alemão e Espanhol, que nos últimos anos revelou um crescimento exponencial

Falar fluentemente mais que uma língua continua a ser uma mais-

valia no mercado de trabalho

tradicional, mas um dos mais esco-lhidos no formato intensivo.

Para aqueles que vêem no inglês uma aposta segura, talvez seja me-lhor reconsiderar – alguns sugerem que o inglês está banalizado hoje em dia. De facto, o Inglês é hoje mais uma exigência que uma mais-valia. Mas se a aposta for mesmo essa, convém investir na aprendiza-gem de um inglês técnico. Vale a pena recorrer aos chamados IELTS (International English Language

InêS AntUnES

Para consultar

1. O QUADRO EUROPEU COMUM DE REFERênCIAS PARA AS LínGUASLink: http://europass.cedefop.europa.eu/LanguageSelfAssess-mentGrid/pt

2. BRItISH COUnCILSede: Rua do Breiner, 155. 4050-126 Porto. tlf.: 222 073 060Link: http://www.britishcouncil.org/pt/portugal

3. GOEtHE InStItUtLink: http://www.goethe.de/ins/pt/lis/

4. ALLIAnCE FRAnÇAISELink: http://www.alliancefr.pt/

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JUP || MARÇO 10

Um novo olhar sobre a docência universitária

MARIAnA CAtARInO

Kátia Ramos, docente na Uni-versidade Federal de Pernam-buco, apresentou o resultado da sua tese de doutoramento, em que conclui que o nível de ensino da Universidade do Porto está próximo do nível mundial. A autora alerta para o facto de o docente univer-sitário não ter formação para ensinar, tal como os restantes docentes. Kátia Ramos afirma que o docente universitário “aprende a sê-lo com a prá-tica e com a experiência que teve enquanto estudante”.A autora contou com a colaboração do Grupo de Investigação e Intervenção Pedagógica da Universida-de do Porto (GIIPUP) na sua investigação que durou cerca de quatro anos. No seu

estudo, Kátia Ramos analisou nove das 14 faculdades da Universidade do Porto.Kátia Ramos agradeceu o apoio de todos os docentes e do GIIPUP no seu trabalho, referindo que o livro não foi somente escrito por ela, “mas por muitas outras mãos e corações”. A autora sente-se realizada com o resultado final, não apenas por produ-zir conhecimento, mas por marcar a história da docência universitária. “Trata-se de um obra em que os actores são também autores da história”, declara a autora. A professora da Universidade de Pernam-

buco dá um “Excelente” aos professores pela sua vonta-de em melhorar e conclui afirmando que os docentes devem ter assente a sua responsabilidade de ensinar correctamente para que os alunos aprendam todos os conhecimentos importantes

para a sua formação profissional.Carlinda Leite, presidente do Conselho Directivo da Faculdade de Psicologia (FPCEUP), afirma que o livro “além de produzir co-nhecimento,

gera intervenção”. A presiden-te ressalva o apoio da reitoria da Universidade do Porto, já que todo o apoio da UP é indispensável para este tipo de projectos.Na cerimónia de lançamento do livro, António Marques, representante da U. Porto editorial, elogiou a obra e louvou o esforço da editora no seu desenvolvimento e afirmação em Portugal. Cen-trada na qualidade das suas obras, António Marques de-fende que a U.Porto Editorial preocupa-se com o “carinho e tratamento que deve ser dado aos livros”.

EDUCAÇãO || 9

o docente universitário “aprende a sê-lo com a prática e com a ex-periência que teve en-quanto estudante”

A Educação como protagonista em Ciclo de Cinema

Nos dias 22, 29 de Janeiro e 5 de Fevereiro o ciclo contou com a apresentação de três filmes, se-guidos de um debate entre o pú-blico e o convidado.

O JUP esteve presente na exi-bição do último filme do ciclo – “A Turma”, de Laurent Cantent. O filme, que ganhou a Palma de Ouro do Festival de Cannes, teve por base o livro do escritor, jor-nalista, professor e também actor principal François Bégaudeau. “A Turma” reproduz um ano lec-tivo na vida de um complicado liceu de Paris, onde Bégaudeau leccionou. Segundo a professora convidada, Isabel Batista, o filme “consegue um efeito do real bas-tante poderoso. Está muito bem feito e é um excelente recurso didáctico”. Os actores do filme são os alunos a quem o escritor deu aulas na realidade e sobre os quais escreveu, o que confere um realismo fora do comum ao filme exibido.

Partindo do nome do filme em francês “ Entre Muros”, Isabel Batista começou a discussão. “A escola é uma instituição que tem que ter muros e faz falta um olhar diferente e trabalhar entre estes muros”, afirma. “É um espaço de vida fundamental, é a partir daí que começa muita coisa... A esco-la permite o acesso à sociedade, à democracia e é onde os alunos aprendem outros sistemas e mo-delos para além dos aprendidos em casa”, acrescenta. A professo-ra fez uma reflexão sobre a ética profissional, discutindo-se onde acaba a fronteira entre o pesso-

al e o profissional. Isabel Batista questionou ainda até que ponto o docente deve envolver-se e re-lacionar-se com os alunos e res-pectivos problemas.

Segundo a sua experiência pro-fissional e pessoal, a professora fala do stress da profissão de docente, considerando-a “impos-sível”, mas também “a mais bela profissão do mundo”. A escola, como afirma a docente, “precisa de uma mudança de cultura tre-menda e de uma mudança de sis-tema, já que a escola é um espaço de vida fundamental e um lugar de hospitalidade e cortesia”.

Por fim, debateram-se o isola-mento e separatismo sociais e as relações culturais dentro da esco-la e da sala de aula. Isabel Batista conclui que “a escola é, hoje, uma organização em sofrimento”. O caminho é “encarar as coisas de uma maneira diferente”.

A Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto promoveu o ciclo de “ Cinema e Educação”, nos dias 22, 29 de Janeiro e 5 de Fevereiro.

O ciclo decorreu no auditório 1 da Faculdade de Psicologia e Ciên-cias da Educação da Universidade do Porto e foi assistido sobretudo por professores e profissionais da educação, que participaram de forma activa nos debates. Os pro-fissionais partilharam experiên-cias e vivências, numa conversa quase informal, sempre orientada para temas relevantes a nível es-colar e educacional.

No dia 22 de Janeiro o filme exi-bido foi “A Língua das Borboletas”, de José Luís Cuerda, com a pre-sença de Teresa Medina. No dia 29 do mesmo mês, os filmes em destaque foram “Zero em Com-portamento”, de Jean Vigo e “En Rachâchant”, de Danièle Huillet e Jean-Marie Straub. Os debates fo-ram conduzidos pelos convidados Regina Guimarães e Saguenail, respectivamente. ELIANA MACEdO

E dIANA FERREIRA

O filme “A Turma” foi o último a ser apresentado no Ciclo

DIREItOS RESERVADOS

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JUP || MARÇO 1010 ||Soci

edad

e

O QUE é UM JOVEM InVEStIGADOR? De uma forma filosófica, é alguém que tem como objectivo uma busca incessante de descobrir, desvendar, inovar, alguma teoria que não foi provada ou optimizada em diversas áreas. Áreas essas tão díspares como a Biologia, Medicina, Ambiente, Ma-temática, Tecnologia, Economia, Gestão, História, Literatura, Filoso-fia, Psicologia, Comunicação e em todas que assumam uma vertente de investigação dos seus próprios conhecimentos e paradigmas.

O lado juvenil desta busca, pode significar o ínicio da acti-vidade como Investigador mas também mostra que esta é a par-te mais activa do processo, mais prática, mais sonhadora, mais ex-pectante e a mais visionária de uma investigação.

O Jovem Investigador geralmen-te está inserido num projecto, seja de que natureza fôr, onde tem a seu cargo determinados objecti-vos a cumprir com um deadline definido (mas nem sempre). Esses objectivos podem ser traduzidos como processos fundamentais da investigação, como a pesquisa bi-bliográfica; a realização de testes para obter, processar e discutir dados; a inovação de novos testes, materiais ou teorias e, por fim, a apresentação dos resultados con-seguidos. Um pouco como o mé-todo científico, o percurso da in-

A vida de um Jovem Investigadornuma actividade exigente e de desgaste, existem jovens investigadores que esquecem as dificuldades e os poucos apoios para prosseguirem o seu sonho.

vestigação resume-se a localizar um problema, planear algo inova-dor respondendo a esse problema, obter dados, através de testes, que comprovem a hipótese e apresen-tá-los à comunidade científica.

A introdução à Investigação pe-rante os estudantes de licenciatura, mestrado ou até mesmo recém-licenciados faz-se geralmente por “obrigação”: projectos de final de curso, tese de mestrado, estágios, etc. As instituições que acolhem estes estudantes por norma des-tinam-lhes pequenos trabalhos ligados a projectos de forma a am-bientar e testar as capacidades de determinado Jovem Investigador. Quando obtêm “tempo de casa” su-ficiente ou avaliações excelentes as responsabilidades incrementam.

A responsabilidade já não é aquele processo chato e repetitivo que se fez durante meses, passan-do a ser novos processos chatos e repetitivos, acompanhamento (leia-se guia turístico dentro da instituição) daquele estudante es-trangeiro de ERASMUS ou de dou-toramento, ou a trabalhar com os produtos mais nocivos para a saúde porque toda a gente se re-cusa a fazê-lo. É apenas uma forma irónica de caracterizar as novas tarefas que vão sendo delegadas. Apesar disso, a cada fase superada, o respeito e crédito pelo trabalho conseguido vai sendo justamente reconhecido como um bálsamo

para as expectativas um cientista.A vida de um Jovem Investiga-

dor, na minha visão de Jovem In-vestigador da área de Ambiente, de uma forma pragmática cos-tuma ter um horário fléxivel, de-pendendo dos objectivos do dia tanto podem trabalhar 5 como 12 horas. Dependendo das responsa-bilidades de cada pessoa as horas tendem a aumentar até que se tornem workaholics. O quotidiano está repleto de processos de puro tédio de movimentos tal é o seu carácter repetitivo. Apesar de se vivenciar momentos de extrema dinâmica de acções, por vezes acaba-se encalhado num pcr de 2 horas com electrofere a seguir, contagem de colónias, micronú-cleos ou dáfnias, HPLC com 30 amostras com tempos de corrida de meia hora, repicagens às pale-tes de báctérias, fungos ou outros espécimes e outros tantos nomes técnicos possíveis para definir um processo entediante.

Semelhantes episódios deprimen-tes são as situações de falta de um produto específico que nunca mais chega, meses de trabalho intenso para um programa de estatística contradizer a teoria em causa ou aquele reagente que arruinou umas quantas amostras porque não esta-va em bom estado.

Contundo a vida de um Investiga-dor, jovem ou não, é extremamente aliciante. O testar novas hipóteses,

novas ideias, tem um efeito persua-sivo pela procura de conhecimento, pelo estudo constante que, de uma forma constante , exige um grande empenho tanto a nível intectual como a nível laboratorial (operário por vezes).

Como Michel Foucault disse um dia “saber é poder”. Poder de criar novas ideias, capacidade de cons-truir obra nunca antes vista, reali-zar o impensável, estando na linha da frente do progresso, do futuro, antevendo toda a panóplia de pos-sibilidades. O Investigador é parte integrante da inovação da nossa sociedade, da nossa vida, da nossa espécie e do nosso mundo.

No entanto persistem grandes obstáculos na sociedade para o re-conhecimento pleno do trabalho de um Jovem Investigador. Uma forma de exemplificar esses mes-mos entraves são os testemunhos de Jovens Investigadores, fascina-dos e dedicados pela ciência, lutam

na procura de uma vida estável e monetáriamente justa.

Mariana Leão, 23 anos e licencia-da em Microbiologia dá-nos conta dos seus pensamentos: “no nosso País, por norma, para seguirmos uma carreira de investigação não podemos ficar só com uma licen-ciatura. Temos que optar por tirar um mestrado e um doutoramen-to. Ser licenciado não é suficien-te para muitos laboratórios de investigação. Por saber isto, mal terminei a minha licenciatura de-cidi tirar doutoramento, porque só assim poderia fazer o que mais gostava. Como tinha uma média razoável e já algum trabalho cien-tífico publicado, decidi candida-tar-me a doutoramento. Contudo, tirar um doutoramento hoje em dia não sai barato e é impossível pagá-lo por conta própria. Can-didatei-me então a uma bolsa de doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia, pois é a

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JUP || MARÇO 10 SOCIEDADE || 11

PUBLICIDADEMIGUEL RAMOS

única instituição que financia a todos os níveis o aluno de douto-ramento. Todavia, não quer dizer que esses financiamentos sejam muito bons”.

Este último reparo de Mariana refere-se ao facto do estado desac-tualizado do regime de bolsas da Fundação para a Ciência e Tecno-logia, sem direito a descontos (po-dendo sempre optar pelo desconto voluntário), sem direito a 13º mês, e outras vantagens que num mundo empresarial são pedras basilares de um contrato de trabalho.

Outro obstáculo frequente são os critérios de avaliação das candi-daturas às bolsas. Francisco Fontes de Carvalho, 24 anos, Investigador, descreve esse mesmo facto: “para aceder a este tipo de bolsas é efec-tuada uma candidatura a nível nacional cujos critérios de selec-ção se baseiam, essencialmente, na média do candidato e número de artigos publicados em revistas

científicas. O plano de trabalho, o local onde é realizado e os orien-tadores também são avaliados, no entanto com um peso menor. Su-cede por isso que qualquer candi-dato que tenha terminado o seu curso com média superior a 15 va-lores mas sem qualquer conheci-mento ou contacto com o mundo da investigação científica, à parti-da não terá quaisquer dificuldades em aceder a um doutoramento financiado com estes critérios. Se a média do candidato for inferior, resta-lhe a hipótese de conseguir

publicar artigos em revistas cien-tíficas, o que poderá implicar um ou mais anos de trabalho, sem quaisquer certezas de o conseguir. Normalmente nestes casos, existe a remota possibilidade de a insti-tuição acolhedora conseguir uma bolsa de um ano (renovável até três) e de financiamento inferior.”

Toda esta realidade torna-se por vezes num ciclo vicioso onde o investigador pode cair na “indus-trialização da actividade bolseira”. Francisco realça ainda a necessi-dade para uma “urgente reflexão e uma atitude no sentido de mu-dar o rumo das coisas” propondo uma nova política de atribuição de financiamento onde “as verbas dis-ponibilizadas pelo estado ou pelas entidades privadas para este efeito, fossem atribuídas directamente às instituições acolhedoras, reservan-do-se a estes o direito de avaliar o mérito do trabalho proposto...”.

São os desabafos de quem vive as dificuldades de um Jovem Investi-gador que mostram, uma vez mais, que ainda se faz ciência em Portu-gal por muito “amor à camisola”, pela ciência e pela esperança de que um dia tudo será melhor. Com a mesma dedicação e paixão pelo conhecimento muitos se mantêm, cultivando os sonhos de um futuro nesta profissão.

Sonhos esses que podem passar por fazer Doutoramento e poste-rior Pós-Doutoramento idealizan-do subir a pirâmide hierárquica ambicionando um dia chegar a Professor Universitário ou chefe de Laboratório.

Uma outra visão dos sonhos é ganhar experiência para mais tarde concorrer ao sector privado, sendo que não raras as vezes o currículo académico não é reconhecido pelas empresas ou instituições privadas. Não esquecendo a alternativa mais sonhadora, o de ser contagiado pela onda do empreendorismo, criando um empresa a partir de uma ideia fantástica que sempre teve em mente.

Não se deixem enganar pelo discurso pesado, pessimista com predominância do queixume. Apesar das contrariedades, há for-ça para continuar, há motivação para inovar, há energia para des-cobrir mais além, há dedicação pelo conhecimento.

Investigação cientifica em curso num laboratório da U.P.

O Investigador é parte integrante da inovação da nossa sociedade, da nossa vida, da nossa espécie e do nosso mundo.

MIgUEL RAMOS [email protected]

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JUP || MARÇO 1012 || SOCIEDADE

Empreender: a arte de dar forma ao sonho?

Ser jovem e empreendedor é a receita mágica para o sucesso profissional no mundo em que vivemos. Esta é uma expressão que encontramos vezes sem conta no discurso dos políticos e dos empresários, nos media e nos programas de acção das ins-tituições governamentais. Exis-tem concursos e prémios que apoiam jovens talentosos na realização de ideias de negócio empreendedoras.

SOnHOS VADIOS“Não sei se o Gato se enquadra bem nesse artigo sobre empre-endedorismo”, começa assim a nossa conversa com Júlio Gomes,

o mentor do Gato Vadio, espaço na Rua do Rosário que é Livra-ria e Café-Bar e muito mais. Tal-vez pelo estereóptipo de “jovem empreendedor” ser demasiado ortodoxo para a “filosofia de va-diagem” e “personalidade felina” da casa que Júlio, um jornalista que estudou na Universidade do Minho, abriu junto com a sua companheira Maja Marek, uma designer gráfica e ilustradora.

Júlio já não consegue lembrar-se do momento exacto em que o “sonho de querer viver entre os livros” surgiu. No entanto, diz-nos que a inspiração de criar o Gato Vadio está ligada a uma convicção forte de que “não de-

O dicionário diz-nos que empreender é agir, é dar os primeiros passos para realizar um objectivo. Procurámos casos de jovens empreendedores na cidade do Porto.

MAnUEL RIBEIRO

No Gato Vadio “o que se empreendeé a vitalidade da existência”

vemos abdicar de fazer aquilo que gostamos”. Outro dos pro-pósitos do Gato Vadio é “comba-ter a cultura dominante que não valoriza o questionamento”.

Numa casa onde “o que se em-preende é a vitalidade da exis-tência”, o tempo não se rege

pelas leis da eficiência económi-ca, mas vive-se com a leitura de poesia e lançamento de livros, a projecção de documentários, o debate e o exercício de uma cidadania que gera movimentos de intervenção social (exemplo da plataforma pela Economia Social e Solidária).

Mesmo os princípios de orga-nização laboral do Gato Vadio desafiam os canônes tradicio-nais da sociedade capitalista: existe igualdade salarial entre todos os que trabalham e não há lugar para a distinção entre trabalho intelectual e manual. Ou seja, a todos cabe limpar as teias de aranha.

DO PORtO PARA O MUnDOJuntaram-se dois amigos, João Seabra e Pedro Marques, o mes-mo é dizer imagem e som, com o objectivo de produzir animação para publicidade e cinema e criar um projecto em nome próprio.

A Jump Willy, uma empresa de animação 3D, efeitos visuais e composição musical, nasceu na incubadora de empresas de som e imagem da Universidade Cató-lica, e é composta por diversos alunos desta universidade.

Já lá vão dois anos e meio desde que João Seabra, o artis-ta de animação 3D e VFX (efei-tos visuais), decide que é tempo de aceitar o desafio de Pedro Marques, compositor musical a trabalhar na Suécia na área de publicidade. Depois de alguns anos de experiência profissional, os dois amigos, que receberam o Prémio Jovem Criativo Europeu, decidem criar a Jump Willy. No primeiro ano mantêm os seus empregos investindo o dinheiro que conseguem juntar no arran-que do novo projecto.

“É preciso antes de tudo cora-gem para dar o primeiro passo”, explica João Seabra em conver-sa com o JUP. Outros “segredos de sucesso” deste projecto que

aponta são “o cuidado em esco-lher a equipa e em tratar as pes-soas que trabalham na empresa como se fossem da família”. Isto porque, “os primeiros colabora-dores que se contratam são os que fazem a empresa” e, conti-nua, afirmando que “as pessoas para serem criativas têm de ser estimuladas intelectualmente e de estar num ambiente caseiro e agradável”.

No último ano e meio, a Jump Willy executou projectos para empresas como a SAAB, BMW, Sony Ericsson, KIA, Stella Artois, focando-se essencialmente no mercado Escandinavo, mas tam-bém nos principais países da Europa e nos EUA. Não apostam tanto no mercado nacional, por-que “ir a Londres a partir do Por-to é mais rápido agora do que ir a Lisboa”. “A existência de ferra-mentas de trabalho colaborativo como o Skype que nos permitem dirigir uma orquestra a partir de um local distante e a excelente rede de internet que o país pos-sui abrem caminho para o traba-lho à distância”, explica-nos João Seabra.“Esta empresa há dez anos seria inviável”, conclui.

PROCURAM-SE “JOVEnS EMPREEnDEDORES”O Clube de Empreendedorismo da Universidade do Porto (CEdUP) e a Universidade do Porto Inovação (UPIN) promovem o iUP25k - Con-curso de ideias de negócio, que está neste momento aberto a can-didaturas dos estudantes e antigos alunos com idade até 35 anos.

Este concurso, que decorre até ao próximo dia 8 de Março, irá premiar a melhor ideia de negó-cio com 15000 euros e atribuirá os Prémios “Empreendorismo Feminino”, “Empreendedorismo Jovem”e ainda o “Prémio do Pú-blico” (o mais votado no website oficial). MARISA gONçALVES

Mais informações em http://iup25k.up.pt

“as pessoas para serem criativas têm de ser estimuladas intelectualmente e de estar num ambiente caseiro e agradável”

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JUP || MARÇO 10

LEANdRO ROdRIgUES E RITA [email protected], [email protected]

|| 13 JUPB

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“Estados” de Sítio

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Com a mutação constante da ci-dade do Porto, o JUP vem reservar o espaço desta rubrica para dar a conhecer o que os moradores e comerciantes de um sítio em par-ticular da cidade do Porto, pensa, sente e como pretende melhorar o seu local. Como ponto de partida escolhemos a Rua do Almada.Foi aberta entre 1761 e 1768 no seguimento da reestruturação urbanística da cidade do Porto pela Junta de Obras Públicas, adminis-trada por João de Almada e Melo, grande reformista que doou o nome a rua. Durante muitos anos o comércio sempre foi a principal actividade e a burguesia o principal grupo dinamizador, fazendo com que fosse uma rua repleta de lojas de ferragens e outras actividades. Hoje em dia, descendo a rua desde a Praça da República até a Rua dos Clérigos, podemos ver que muitas lojas se encontram abandonadas e larga parte dos edifícios estão degradados. No

RUA DO ALMADA entanto, após vários anos de um gradual abandono de comercian-tes, a rua revitaliza-se com a aber-tura de novos espaços comerciais. O JUP através dos depoimentos de vários comerciantes dará a co-nhecer o estado de espírito da rua através de quem da vida ao sítio. O amontoar de caixas nas estantes e o expositor de maçanetas nas paredes que forram a sala dão for-ma e cor ao ambiente que sempre caracterizou a mais antiga casa de ferragens ainda em actividade da rua, a Viúva Victória. Activa e intocável desde 1876, carregada de história é a única casa que permanece dos tempos gloriosos do Almada. Em conversa com o responsável da loja que não se quis identificar refere que os problemas da rua são a desertifica-ção dos comerciantes, o desapare-cimento dos grandes armazéns, a falta de estacionamento e a falta de condições de trabalho. “Cada porta da rua era uma loja de ferragens; era a rua mais rica da cidade”! Há 40 anos atrás a rua era completa-

mente diferente, cheia de movi-mento e prosperando em riqueza. Vinham até compradores de fora, de Trás-os-Montes e Minho. Considera também que há muitos problemas legais a serem resolvi-dos para que se possa melhorar as condições de vida e trabalho na rua. Acredita que a rua não vai vol-tar a ser o que era, pelo contrário, a tendência é que desapareça o comércio tradicional das ferragens. O depoimento de José Baptista, empregado da Raul Santos, Lda confirma o que se ouviu na Viúva Victória. Acredita que a Rua do Almada já não é o que era. “Sofreu uma transformação brutal nos últimos vinte anos. Os comercian-tes tradicionais desapareceram em grande parte, restando apenas meia dúzia das lojas originais ou de lojas de ferragens”. A falta de estacionamento e de condições de trabalho são apontadas como o principal factor de desertificação dos comerciantes.Acrescenta ainda que na rua habitam maioritaria-mente idosos, e que esta é cada

vez uma situação mais precária.Manuel Fernandes, dono da FZ, acrescenta que muitas lojas e armazéns desertaram porque já não tinham condições de traba-lho, manifestando grandes difi-culdades nas cargas e descargas da mercadoria, situação que se intensificou com as alterações feitas nos passeios da rua há uns atrás. As únicas lojas de ferragens que permanecem são aquelas mais pequenas de venda a retalho e que, como diz “se vão aguentando”. Na sua opinião a abertura de novas lojas, concentradas sobretudo na parte superior da rua junto à Praça da República, é um factor positivo porque vai mantendo a rua viva. Em relação às pinturas de streetart manifesta desagrado dizendo que dão uma má imagem à rua. Como alternativa para o melhoramento da rua, quer a nível comercial quer a nível social, aponta a recuperação dos prédios, de modo a melhorar as condições de vida dos poucos habitantes e dos comerciantes.Na Casa Almada, loja especializa-

da em mobiliário vintage aberta desde 2007, Susana Beirão refere que se considera satisfeita com as vendas no caso da sua loja, isto porque têm um nicho de compradores muito específico. Contudo esperavam mais apoio por parte da Câmara Municipal, no que respeita ao tratamento da rua. Escolheram a Rua do Almada para estabelecerem o seu negó-cio “devido à sua carga histórica ligada ao comércio” e porque garantem que “a nossa loja tinha de estar na Baixa”, portanto de-cidiram unir estes factores a um bom preço de compra do imóvel. Como aspectos negativos, assinala também a falta de estacionamen-to, a falta de limpeza e acrescenta o perigo de derrocada a qualquer momento, assim como acredita que por detrás do melhoramen-to da rua estão questões sociais ligadas aos habitantes.

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JUP || MARÇO 10

Mar e Indústrias Criativas em destaque

Esta é a oitava edição deste even-to anual no qual a Universidade do Porto se apresenta à cidade e aos seus potenciais estudantes. Em 2009 a mostra foi visitada por mais de 14.000 pessoas.

A aposta da Universidade é a de se mostrar no seu melhor dando a conhecer as suas actividades de ensino, investigação, inovação e in-teracção com a comunidade. Esse o motivo que tem deslocado para a Mostra professores e investigadores de renome, concentrando no Pavi-lhão Rosa Mota parte significativa da “massa crítica” da instituição, o que por si só seria razão suficiente para uma visita atenta e com tem-po para o diálogo com profissionais que habitualmente só poderia acon-tecer na sala de aula, no laboratório ou em conferências especializadas e com estudantes que acolhem os interessados no espaço próprio de cada faculdade e unidade de inves-tigação e podem dar conta da sua experiência.

Sem fronteiras, como o conheci-mento, a instituição vive também das transversalidades que cria. Essa é a temática principal da edição des-te ano, que se assinala pela apresen-tação à cidade de dois pólos criados recentemente pelo Parque de Ciên-cia e Tecnologia da U.Porto (UPTEC)

8ª Mostra da U.Porto: 25 a 28 de Março para “quatros dias de informação, experimentação e descoberta”

a partir de sinergias entre investiga-ção e inovação, e que cobrem duas grandes áreas de desenvolvimento estratégico da Universidade: as in-

dústrias criativas e o mar.

nOVO MAPA DA UnIVERSIDADEAs competências transversais reque-ridas por cada área e a conjugação do know how extistente em direc-ções que surgem da intersecção de interesses, meios, agentes e tecno-logias, constituem uma mais valia para a produção de conhecimento e criam oportunidades de negócio.

Certo é que a concentração de esforços se concretizou em espaços físicos: o centro da cidade para o PINC (pólo de Indústrias Criativas) que reúne a formação, produção de conteúdos, tecnologias e equi-pamentos, albergando na Praça Co-ronel Pacheco o curso de Ciências da Comunicação, o Jornal Público, a Rádio Nova e a agência Lusa, e que vai acolher uma delegação da em-presa Produções Fictícias; uma zona relevante do Porto de Leixões para o pólo do mar, com espaços destina-dos ao CIIMAR no novo terminal de cruzeiros (a sul) e, junto do antigo edifício sanidade (a norte), uma ex-tensão da UPTEC para o sector do mar, com incubação de empresas (quatro já instaladas) e serviços à comunidade.

Para antecipar o que poderá vir a ser o seu alcance, foi privilegiada a vertente experimental. Via Labo-ratório de Sistemas e Tecnologias Subaquáticas (FEUP), diversos sen-sores irão monitorizar o estado do ambiente no Pavilhão e na cidade. Do lado das Indústrias Criativas um video wall promete passar continu-amente conteúdos produzidos para o local e, durante o evento, as mui-to mediáticas Produções Fictícias, deslocam para a Mostra a marato-na de 24h de produção e edição de vídeo “Faz-me um bídeo”. Também ligado ao PINC e na vertente ligação da electrónica ao movimento, está a ser produzido um espectáculo de ginástica rítmica e multimédia.

DIREItOS RESERVADOS

A Mostra da U.Portodecorrerá no Palácio de Cristal

AGEnDA

4, 11 E 18 DE MARÇOSCREEnLABS – A CIênCIA

nO CInEMA

Passos Manuel

DIA 4: “I am a Legend”, de Francis

Lawrence; DIA 11: Selecção

U.FRAME – vídeo universitário; DIA

18:“Mary Shelley´s Frankenstein”,

de Kenneth Branagh

18 DE MARÇO A 27 DE MAIOCEntEnáRIO DA REPÚBLICA –

CICLO DE COnFERênCIAS

DIA 18: Salão Nobre da Reitoria,

18h: Fátima Marinho (FLUP); DIA

25: Anfiteatro Nobre da FLUP, 18h:

António Ventura (FLUL).

12 DE MARÇO A 17 DE ABRILEXPOSIÇãO “IMAGEnS PARA A

DIGnIDADE”

Antigo átrio de Química, Reitoria

da Universidade do Porto

Até 15 DE MARÇOCOnCURSO DE IDEIAS PARA

ARRAnJO EXtERIOR E DESEnHO

DE COBERtURA EXtERIOR nO

JARDIM DO E-LEARnInG CAFé

Equipas de 5 elementos, incluindo

pelo menos: 1 da FAUP; 1 do

Mestrado em Arte e Design para

o Espaço Público da FBAUP e 1 de

Arquitectura Paisagista da FCUP.

22 DE MARÇODIA DA UnIVERSIDADE DO

PORtO

Reitoria da Universidade do Porto,

9h30.

23 A 25 DE MARÇO“FEUP FIRSt JOB”

Faculdade de Engenharia da

Universidade do Porto (FEUP)

25 A 28 DE MARÇO8ª MOStRA DA U.PORtO

Pavilhão Rosa Mota

Quinta e sexta-feira, das 10h

às 19h; sábado, das 11h às 23h,

domingo, das 11h às 19h.

Até 26 DE MARÇOEXPOSIÇãO “ARtIStAS DO JOGO

– A ARtE COMO LUGAR DE

PASSAGEM EntRE DESPORtO E

CIênCIA”

FADEUP

http://nomadic.up.pt

Concurso para monitores da U.Júnior abre em Abril

5ª EDIÇãO

A primeira fase do concurso para monitores da Universidade Júnior decorrerá entre 5 e 16 de Abril. Os concorrentes deverão ter conclu-ído, no mínimo, o segundo ano lectivo do ensino superior e pos-suir formação adequada aos pro-jectos a que concorrem.

Os interessados deverão con-sultar o portal desta iniciativa da Universidade do Porto, em http://universidadejunior.up.pt, procu-rar os projectos com concurso aberto para monitores e reunir os elementos pedidos. Caso as vagas não tenham sido preenchi-das, está prevista uma segunda fase de concurso.

As funções de monitor desem-penhar-se-ão no tempo corres-pondente à duração do projecto. Os candidatos seleccionados par-ticiparão num curso de formação pedagógica de um dia, a decorrer na Faculdade de Psicologia e Ci-ências da Educação da U.Porto e receberão 187,5 euros por sema-nas de actividade.

O período de inscrições na Uni-versidade Júnior, para os jovens em idade escolar, abre dia 25 de Março, segundo dia da Mostra da U.Porto.

22 de Março

Viriato Soromenho Marques (Pro-fessor da Faculdade de Letras da UL), responsável pelo Programa Ambiente da Gulbenkian é o orador convidado para a sessão solene de comemoração do 99º aniversário da Universidade do Porto. Fala sobre “Ambiente, Energia e Sustentabilidade”. Programa: abertura - Luís Portela, presidente do CG da U.Porto; Sérgio Joaquim Guedes da Silva (antigo aluno da FEUP, consultor da OnU para o Programa Mun-dial de Alimentação); entrega do Prémio Incentivo; Rui Ferreira e Reis, em representação dos estudantes; Felicidade Lourenço (FMDUP), em representação dos funcionários não docentes; entrega do Prémio Excelência e-Learning U.Porto; Proclama-ção dos Professores Eméritos da Universidade; encerramento pelo Reitor da Universidade.

U.Junior: concurso para monitores de 5 a 16 de Abril

14 ||UPo

rto

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PUBLICIDADE

5ª EDIÇãO

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31 de janeiro: no passado e no presente

No dia 31 de Janeiro de 1891, no Porto, deu-se um levantamento militar contra as cedências do Governo e da Coroa ao ultimato britânico de 1890 por causa do Mapa Cor-de-Rosa. De madrugada o Batalhão de Caça-dores nº9, liderados por sargentos, diri-gem-se para o Campo de Santo Ovídio, hoje Praça da República. Descem a Rua do Almada, até à Praça de D. Pe-dro, (hoje Praça da Liberdade), onde, em frente ao antigo edifício da Câ-mara Municipal do Porto, ouvem Alves da Veiga proclamar da varanda a Im-plantação da República. Depois sobem a Rua de Santo António, em direcção à Praça da Batalha, para tomar a esta-ção de Correios e Telégrafos. São barra-dos por um destacamento da Guarda Municipal, posicionada na escadaria da igreja de Santo Ildefonso, no topo da rua. Em resposta a dois tiros que se crê terem partido da multidão, a Guarda solta uma descarga de fuzilar-ia vitimando indistintamente militares revoltosos e simpatizantes civis. Os civis entram em debandada e com eles alguns soldados. Terão sido mortos 12 revoltosos e feridos 40.

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JUP || MARÇO 10

1 4Revive-se os combates entre republicanos e monárquicos

Imortalizada nesta fotografia temos o momento em que militares e pop-ulares se reúnem na actual Praça da República para avançar para a luta2

5

3

na recriação os populares avançam juntamente com os militares e aclamam a república nesta maqueta podemos ver

o percurso seguido pelos militares e os locais defendidos pela guarda leal à monarquiaOs revoltosos fogem à fuzilaria

monárquica

|| 17 FLA

SH

TExTO dE JOSé FERREIRAFOTOS dE MANUEL [email protected],[email protected]

1

3

4

5

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JUP || MARÇO 1018 ||

O Mundial de Rugby Sevens é a grande aposta da UP para 2010, na área do desporto. Quando faltam cerca de 5 meses para o início da competição, a organização conti-nua a trabalhar a todo o gás para preparar o Mundial. Já terminou o prazo das inscrições, e, no total, fo-ram 40 as selecções (masculinas e femininas) que apresentaram a sua candidatura à prova. Entretanto, a UP ultima alguns pormenores, para que tudo esteja a postos a 21 de Ju-lho, data de início do Mundial.

áFRICA DO SUL E ESPAnHA DE-FEnDEM O títULOAo todo, são já 40 selecções que, ao que tudo indica, vão viajar até ao Porto para jogarem na 4ª Edi-ção do Mundial de Rugby Sevens (26 masculinas e 17 femininas). Na competição masculina, o favoritis-mo vai, naturalmente, para a Áfri-ca do Sul, actual campeã em títu-

rugby Sevens 2010: tudo a postos para receber os melhoresO Porto vai receber pela primeira vez o Campeonato do Mundo de Rugby Sevens Universitário, de 21 a 24 de Julho. Já há 40 selecções inscritas.

StEFAnIE HARzBECHER

Portugal já tem um forte palmarés na modalidade

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JUP || MARÇO 10 || 19 Des

port

o

FRANCISCO [email protected]

do Sul. Portugal vai-se estrear no Rugby Sevens Universitário Femini-no, e há alguma expectativa para ver até onde podem chegar as jo-gadoras portuguesas.

PROtOCOLOS E PARCERIAS COn-FIRMADOSNos últimos dias, a organização do Rugby Sevens 2010 anunciou que já está escolhida a bola oficial para a competição. A escolha recaiu sobre a bola Gilbert (da empresa com o mesmo nome), que já foi utilizada nas últimas edições do

lo. No entanto, a luta deverá ser intensa. É que os africanos terão pela frente equipas de grande va-lor. A Espanha, actual vice-campeã mundial universitária, surge tam-bém como forte candidata. Já a Rússia e a Austrália partem no lote dos favoritos, mas sem a pressão das outras duas selecções. Portu-gal ficou em 7º na última edição do Mundial Universitário, mas o factor casa pode ajudar os portu-gueses a melhorar essa prestação. De resto, a aposta é forte: Tomaz Morais está confirmado como trei-nador da selecção universitária, e o bom momento que os “Lobos” atravessam pode ajudar a conse-guir maior apoio do público. Bru-no Almeida, Director do Gabinete de Desporto da UP, refere que Por-tugal tentará chegar mais longe. “Como anfitrião, Portugal tem que fazer boa figura!”, afirma o respon-sável do GADUP. “A presença do

Tomaz Morais é importante para esse objectivo, porque é muito respeitado e conhece muito bem os jogadores”, acrescenta.Vários jogadores da Selecção Nacional de Rugby são ainda estudantes uni-versitários, e portanto poderão re-presentar a Selecção Universitária de Rugby Sevens neste Mundial. Portugal tem um historial forte no Rugby Sevens, com as seis vitórias no European Sevens, ou o segundo lugar nos World Games. A prova masculina contará ainda com a presença de várias selecções mais “exóticas”, como o Cazaquistão, o Uganda ou o Guam.

Na prova feminina, a Espanha é a principal candidata, entre as 17 se-lecções presentes. Na última edição do Mundial Universitário, foram as “nuestras hermanas” a subir ao lu-gar mais alto do pódio. A rivalizar com as espanholas deverão estar países como a Austrália ou a África

Campeonato Mundial de Rugby Universitário. A proposta da Gil-bert foi aprovada pela Federação Portuguesa de Rugby.

Fora do campo, a competição também ganha forma. O palco do Mundial já está confirmado há al-gum tempo: o Estádio do Bessa Sé-culo XXI vai acolher todos os jogos da prova, graças a uma parceria entre o Comité de Organização do Mundial, a Câmara Municipal do Porto e o Boavista FC. O Bessa, re-modelado totalmente em 2003, é um Estádio de grande dimensão, que pode receber cerca de 30 mil espectadores. Segundo os respon-sáveis pelo Mundial Rugby Sevens 2010, o Estádio do Bessa oferece excelentes condições para a reali-zação da prova.

As parcerias estendem-se ainda a outras áreas. A UP e a Organi-zação do Mundial já anunciou que existe um protocolo entre o Campeonato Mundial 2010 e os dois maiores hospitais da cidade do Porto, o Hospital S. João e o Hospital Sto. António. Estes dois hospitais estarão preparados para receber qualquer atleta que sofra alguma lesão gravidade, ou para responder a qualquer acidente que ocorra durante a competição. Ao mesmo tempo, no site oficial da prova, pode-se ainda ler que estão a ser finalizados protocolos com os Bombeiros, médicos de emergência (INEM) e outro pesso-al médico. Por fim, já foram esta-belecidas parcerias com os STCP, Metro do Porto e CP, para asse-gurar o transporte dos atletas, e com um hotel em Gaia, que de-verá assegurar o alojamento das comitivas presentes no Porto.

Neste momento ainda decorre uma campanha de recrutamen-to de voluntários para colaborar na organização do Rugby Sevens 2010. O programa de voluntariado foi lançado pela própria Universi-dade do Porto.

Recentemente, o Professor Ma-nuel Janeira, um dos principais promotores do Rugby Sevens 2010, referiu, numa entrevista, que esta competição poderá lançar as bases para a UP conseguir orga-nizar outros eventos desportivos desta dimensão. Ao mesmo tem-po, o académico refere que existe a possibilidade de a competição ser transmitida em directo na te-levisão, o que seria “uma grande oportunidade de negócio para al-

Rugby Sevens

O rugby de sete surgiu em 1883, na Escócia, mas foi apenas na década de 70 que se espalhou pelo mundo. As principais competições são o Campeonato Mundial de Rugby Sevens, disputado desde 1993, e a IRB Sevens World Series, criada em 1999. A modalidade será incluída, pela primeira vez, nos Jogos Olímpicos em 2016.O rugby sevens distingue-se da modalidade tradicional pelo menor número de jogadores – sete, em vez de quinze – e por regras que tornam o jogo mais rápido e fluído. Os jogos têm duas partes de sete minutos, em vez de 40, pelo que as com-petições costumam fazer-se em poucos dias. As equipas são formadas por três avançados e quatro defesas (um dos quais faz a ligação entre as duas partes, o scrum-half). O sistema de pontos é igual ao do rugby tradicional. Muitos jogadores de sevens pertencem também a equipas de rugby de 15.

África do Sul (Masculinos) e Espanha (Feminino) levantaram o troféu na última edição da prova

gumas empresas”. No entanto, o grande obstáculo, segundo Janei-ra, poderá ser o Mundial de Fute-bol, que acaba apnas 15 dias antes do início do Rugby Sevens 2010, o que pode relegar o campeonato universitário para segundo plano.

PEDRO JAnEIRInHO

O Rugby de 7 ganha cada vez mais adeptos

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JUP || MARÇO 1020 || DESPORtO

UP domina Campeonatos Nacionais de Pista Coberta

BREVES

Com 7 primeiros lugares, a Uni-versidade do Porto foi a grande vencedora dos Campeonatos Na-cionais Universitários de Atletis-mo em Pista Coberta.

A Universidade do Porto partia como favorita nos Campeonatos Nacionais de Atletismo em Pista Coberta, disputados em Pombal, e cumpriu as expectativas. Com uma pontuação final de 129 pontos, os portuenses foram os mais fortes em quase todas as provas. Os atle-tas portuenses conquistaram sete primeiros lugares, com destaque para os triunfos nas estafetas de 4x200 (Masculinos e Femininos), e para o Salto em Altura (Feminino), em que o pódio foi todo composto por atletas da UP. Na classificação final, a UP surge no primeiro pos-to (129 pontos), seguida da Univer-sidade de Lisboa (110 pontos) e do

IP Leiria (62 pontos). No total, foram 180 atletas que

marcaram presença na prova que abriu o calendário de provas de 2010. De entre as 17 Universidades em competição, a UP foi a que teve mais atletas presentes (29). Já o IPP (Instituto Politécnico do Porto), contou com a presença de 17 atletas.

De referir ainda que, graças à parceria entre Federação Aca-démica de Desporto Universitá-rio e a Federação Portuguesa de Desporto para Pessoas com De-ficiência (FPDD), 12 atletas com deficiência também competiram neste Campeonato de Atletismo em Pista Coberta. Os desportistas inscritos na FPDD disputaram 3 provas: 60 metros planos, Salto em Comprimento e 200 metros planos. FRANCISCO FERREIRA

UP vira-se para o marSurf e Kitesurf são as novas apos-tas do Gabinete de Actividades de Desportivas da Universidade do Porto (Gadup) para os estu-dantes da UP. As inscrições ainda não abriram, mas já há alunos interessados.

A praia vai chegar mais cedo para os estudantes da UP, graças às novas propostas do GADUP: Surf e KiteSurf. Os estudantes portuen-ses poderão praticar estes dois desportos, depois de uma parceria entre o Gabinete de Desporto da UP e a escola de Surf “Onda Pura”. De acordo com Bruno Almeida, do GADUP, o objectivo é “aumentar a oferta de actividades desportivas à comunidade universitária, a um preço mais baixo”.

Apesar das inscrições ainda não terem aberto oficialmente, Bruno Almeida revela que já houve um número considerável de estudan-tes que pediram mais informações sobre estes dois novos desportos, e a adesão à iniciativa tem sido “bastante positiva”.

Os estudantes da UP que se ins-

creverem nas aulas através do GA-DUP terão um desconto de cerca de 50% e, para os que se dirigirem directamente à escola Onda Pura rondará os 20%. Todo o material técnico necessário é fornecido pela escola de Surf. Aos estudan-tes, pede-se apenas que levem fato de banho, toalha e protector solar. VERA TAVARES

Desafio Seat já arrancouA 4ª edição do Desafio Seat conta com novidades no formato dos testes de selecção e na prova final.

nacional, 2 de cada Instituição de Ensino Superior. Estes 40 pilotos vão competir pela vitória final, atribuída à Universidade que fizer mais pontos no Estoril.

Neste momento, estão ainda 20 concorrentes por apurar. A última prova de selecção vai-se realizar no Circuito de Palmela, no dia 3 de Mar-ço. Assim que estiverem conhecidos os 40 apurados, começa o Curso de Pilotagem, no Circuito do Estoril (14 de Abril). Por fim, no dia 17 de Abril, os alunos vão competir na corrida final, a última fase do desafio.

ALGUMAS nOVIDADES EM 2010Mónica Anjos, responsável pela di-vulgação e promoção do evento, revelou que a edição deste ano con-tou com um “recorde de mais de 5 mil inscritos”. Além disso, a respon-sável da Publiracing sublinhou que as fases de testes vão “continuar a ser feitas em Kartódromos”, ao con-trário do que acontecia em anos anteriores. Também na fase final há uma novidade: nas edições an-teriores, existiam duas corridas dife-rentes para os dois alunos de cada universidade. No entanto, este ano, vai haver apenas uma única corrida, com troca de pilotos a meio, para “criar mais espírito de equipa en-tre os alunos”, refere Mónica Anjos. SARA SOUSA E dIANA FERREIRA

DIREItOS RESERVADOS

Duarte Sá Mota (FEUP) e Roberto Manuel Silva (FEUP) vão ser os re-presentantes da Universidade do Porto no Desafio Seat by Vodafone. Os dois pilotos vão agora frequen-tar um pequeno curso no Cirucito do Estoril, para depois disputar a corrida final, também na pista do Estoril. A final da prova está mar-cada para 17 de Abril.

Os dois estudantes da FEUP fa-zem parte de um grupo de 20 apu-rados após uma série de testes no Kartódromo de Braga, que contou com mais de 200 participantes, no dia 3 de Fevereiro. No total, serão seleccionados 40 alunos a nível

Perto de celebrar os 50 anos, a equipa de Rugby do Centro Des-portivo Universitário do Porto (CDUP) é hoje uma das mais em-blemáticas no panorama nacional do Rugby. O bom ambiente e a força de vontade são as principais razões do sucesso, apesar de hoje as dificuldades serem muitas.

O Rugby é o segundo maior des-porto de equipas a nível mundial, mas em Portugal ganhou especial expressividade depois da mediática participação da selecção portuguesa no Mundial de Rugby de 2007, em França.

A equipa do CDUP não foi excep-ção e viu o número de atletas au-mentar consideravelmente. Hoje, é um dos três maiores clubes nacio-

CDUP com estatuto mas dificuldades

nais e mantém o estatuto de maior clube do Norte do país. A formação portuense foi a equipa que teve mais atletas representados no úl-timo Mundial, e o jogador mais internacional de sempre, Joaquim Ferreira, é também uma figura do clube. O CDUP compete em todos os escalões de formação e tem ain-da uma equipa feminina.

Mas o grande número de atle-tas veio acentuar uma das maiores dificuldades do clube, não só para o Rugby, mas para todas as moda-lidades: a falta de infra-estruturas. Devido às divergências existentes entre a Universidade do Porto e o CDUP, o Estádio Universitário care-ce de manutenção e está cada vez mais degradado. De resto, o Rugby

é actualmente a única modalidade que ainda usa aquele relvado, mas apenas para os treinos. Os jogos são realizados no Complexo Desportivo da Lousada, o que implica custos de aluguer do espaço e de transporte, o que acaba por significar muito me-nos público para o CDUP. Para Ber-nardo Pinto, treinador do escalão sub-14 do CDUP, as infra-estruturas e os problemas económicos são, neste momento, as principais dificuldades do clube. “Só há apoios para o fute-bol”, acusa. O técnico destaca a ca-pacidade dos atletas em ultrapassar as adversidades, bem como o espíri-to de união e companheirismo, fru-to das muitas viagens que fazem.

No próximo Mundial de Rugby Sevens, organizado pela UP, espera-se que o CDUP esteja representado por alguns dos seus atletas, que tam-bém são estudantes universitários. Enquanto isso, alguns dos jogadores mais novos já se inscreveram como voluntários, para ajudar na organi-zação da competição. VERA TAVARES

JP ROCHA

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JUP || MARÇO 10 || 21 Cul

tura

Entrevista Valter Hugo Mãe

a máquina de fazer espanhóis para explicar a engrenagem portuguesaEm seu mais novo livro, o escritor faz importantes reflexões sobre o século passado e que culminam numa análise da actual conjuntura do país.

Segundo Adolfo Luxúria Canibal, vocalista dos Mão Morta e con-vidado especial no lançamento do livro, no Porto, em meados de Fevereiro, a máquina de fazer espanhóis “é angustiante e di-vertida, com uma forte memória analítica do que é Portugal aliada às histórias pessoais das persona-gens”. Para o actor Rui Spranger, trata-se de “uma obra que nos leva do choro ao riso e que con-segue na prosa manter a poesia num estado muito elevado”.O que o público pode esperar de “a máquina de fazer espanhóis”?Um livro com uma ligação mui-to forte ao tema da terceira ida-de e à ideia da precipitação para o fim da vida. Uma história con-tada a partir de episódios com um certo humor e sobre gente comum, gente simples que en-frenta a vida tal qual ela é. A vida, o instinto de sobrevivência já é uma grande aventura e esse livro é mais uma aventura de es-tar vivo.O seu romance está sempre à margem, isto é, explora frontei-ras muitas vezes ignoradas?Sim, eu parto para os meus ro-mances sempre por aproxima-ções, tento chegar ao entendi-mento do que pode ser a vida de outra pessoa que não eu. Por isso os meus romances nunca são autobiográficos, eu procuro fazer essas aproximações a par-tir de quem vê, de quem assiste, de quem presta atenção àquilo que não é óbvio ou que não está propriamente no lugar central das preocupações. Interessa-me esse cuidado com as pessoas que estão de alguma forma desfavo-recidas, injustiçadas, interessa-me entender porque o estão e como poderíamos ultrapassar esses problemas.Na sua escolha estética não há uma pureza na linguagem literá-ria. Existe sempre a recorrência a outros âmbitos, como a Filosofia e a Sociologia, por exemplo.Há uma tendência para não es-gotar a literatura somente na li-teratura. O exercício puramente estético – sem um conteúdo que seja relevante axiologicamente, que humanamente não tenha relevo – não me interessa muito. Posso apreciar na obra de outros autores a proposta e o debate puramente estéticos, mas isso não me é natural esgotar nos

meus livros. O discurso que eu construo procura explicar-me, sobretudo, a mim como cidadão e como ser humano, explicar o mundo e os outros. Por isso há uma componente de grande gozo artístico na obra, mas tam-bém de quase uma certa utilida-de da obra. Cada livro funciona para mim, de facto, como uma oficina de aprendizagem.Se os personagens não fazem parte efectivamente do seu mun-do, então o processo de alterida-de ocorre com a descoberta de si em personagens distantes do mundo em que você vive?É realmente uma relação de al-teridade. As personagens, ainda que factualmente não existam, propendem para uma evidência humana, uma sensação humana que tanto quanto possível pre-tende criar em mim e no leitor uma veracidade, uma ideia de verdade. Eu costumo dizer que a grande vitória de um livro meu está no facto de alguém dizer que uma personagem, por mais irreal que possa ser, chega à memória como um patrimó-nio afectivo e emotivo. Os gran-des livros de que eu sempre mais gostei são aqueles que me deixam um personagem para a vida, que me deixam a memória de ter conhecido e de ter con-vivido com alguém. Eu gosto de recorrer a essa utopia e fico felicíssimo quando as pessoas me dizem que não conseguem esquecer a Maria da Graça ou o Baltazar Serapião, por exemplo, e agora o seu António Silva, que é profundamente inquietante a ponto de depois de lerem o li-vro continuarem dias a pensar acerca dele. O envelhecimento é uma das temáticas que surge a partir de uma reflexão filosófica e só de-pois é que se estende para a re-flexão do que é Portugal hoje.O ponto fundamental do livro tem que ver com essa entrada dramática na cabeça de um oc-togenário para percebermos que revolução é essa a de estar vivo tão ao pé da morte, de estar vivo quando a morte é mais do que uma possibilidade, é uma pro-babilidade. Todos os restantes temas, como aqueles que envol-vem temáticas portuguesas, são uma roupagem que vão subli-nhando a ideia fundamental

FILIPE PEDRO

s

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JUP || MARÇO 1022 || CULtURA

de percebermos a idade das pes-soas através da intensificação dos sentimentos. A nossa idade, o nosso tempo de vida muda radicalmente o modo como per-cepcionamos a nossa própria vida, o mundo e, sobretudo, o modo como gerimos emoções. Esse livro é isso, é uma máquina de conhecer as emoções de um octogenário.desse modo, Portugal surge como uma construção identitária a partir da análise filosófica sobre o indivíduo, sobre o sujeito em si. Cada personagem representa uma parte da reconstrução que você faz sobre a conjuntura das últimas décadas portuguesas.O importante nesse exercício é chegar a grandes conceitos a partir de Portugal e de uma re-flexão do sujeito em si. Não me interessa as grandes variantes

macro-observadoras da nação, interessa-me perceber o lugar do pequeno cidadão, do cidadão comum, como ele se transfor-mou de um cúmplice do Antigo Regime num indivíduo livre, de-mocrata e que subitamente se vê numa circunstância comple-tamente diferente no que diz respeito à política e à sociedade em geral. Interessa-me perceber que compromisso de cidadania é esse, e por isso Portugal acaba sendo visto não a partir dessa estrutura mais centralizadora que estaria dentro dos mean-dros políticos, mas a partir das bases de uma estrutura que as-senta na vida de cada pessoa, de cada indivíduo o mais ano-nimamente possível inserido na sociedade.O livro é a impossível aprendiza-gem sobre a morte?

É essa ideia de que, de facto, a morte é uma porta que dá para onde não fazemos ideia e de que não sabemos como vamos nos sentir quando chegar a nossa vez. Por isso não há métodos de aprendizagem, podemos ganhar uma certa afeição à morte, vamos criando o hábito de que temos de desaparecer, mas é sempre im-possível uma atitude de profunda confiança em relação a esse ins-tante e por isso somos todos es-treantes no momento da morte.A morte não aparece no seu livro atrelada à eternidade, embora se-jam duas temáticas tão próximas na literatura.A nossa cultura tem nos vendi-do uma ideia de transcendência e nós temos tido a tentação de achar que a vida é tão boa que não pode acabar nunca e que tem que haver uma maneira de

continuar. Como não se fabricou ainda uma máquina de eternizar, ainda inventamos um Criador tão poderoso que teria criado um campo de flores bonitas por onde poderíamos passear depois de mortos. Estou convencido de que isso não vai acontecer e de que vamos deixar de existir em toda a amplitude da palavra. O importante é percebermos a dignidade da vida por si só, ou seja, absolutamente dessacra-lizada, a vida é preciosa em si. Creio que essa coisa das cren-dices religiosas, ao invés de nos ajudar a dignificar a vida, ajuda-nos a deturpá-la e a desprezá-la porque pensamos que, se calhar, não precisamos nos preocupar nem connosco nem com os ou-tros o suficiente – acreditamos que há sempre um Criador que é mais ou menos responsável

isso os meus romances nunca são autobiográficos, eu procuro fazer essas aproximações a partir de quem vê, de quem assiste”

Esse livro é isso, é uma máquina de conhecer as emoções de um octogenário”

ainda inventamos um Criador tão poderoso que teria criado um campo de flores bonitas por onde poderíamos passear depois de mortos”

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por nós e que a pessoa, se não for feliz agora, depois de morta será muito feliz no tal campo de flores. Isso é uma maneira de nos desresponsabilizarmos, um modo de deixarmos as coi-sas por existir porque atiramos para as mãos de uma abstracção a hipótese das pessoas serem redimidas. Eu acho isso inacei-tável, pois nós temos que pro-pender para uma sociedade que faça felizes as pessoas enquan-to estão vivas, porque acerca do que elas são quando mortas não sabemos nada. Por isso não podemos apaziguar-nos, não po-demos baixar os braços e temos mesmo de melhorar esse tempo, o nosso tempo enquanto puder-mos e urgentemente.és ateu?Sou ateu e tenho outros tipos de deuses, sou como os gregos. Rezo

mais a Billie Holiday, a Amália e ao Kafka, por exemplo, mais do que rezo a outras coisas, eu te-nho os meus santos.Acredita que o ser humano in-venta deus porque não acredita em si mesmo nem no outro?Exactamente, essa é uma das fra-ses do meu romance. Acho que o facto de nos menosprezarmos uns aos outros levou-nos a criar essa Identidade que depois dis-tribuiria a justiça uma vez que não somos capazes de nos fazer-mos justiça uns aos outros. In-ventamos uma espécie de justi-ça póstuma que eventualmente não acontecerá e, assim, baixa-mos os braços, ficamos desmo-bilizados.Quando pensamos na estética de Valter Hugo Mãe, podemos falar em selvagem delicadeza ou mes-mo em sensibilidade objectiva?

[risos] Sim, há um lado selvagem, um lado agreste, um lado que pretende desconformar alguns consensos, digamos assim, des-pentear algumas coisas – eu, ca-reca, gosto de despentear as coi-sas, a mim ninguém despenteia [risos]. Mas há esse lado mais provocador, mais propendo para uma sensibilização, até uma cer-ta delicadeza eu acho que fun-ciona como esse apanágio de esperança. É no fundo partir de um terreno duro e contribuir para que ele possa florir.António Lobo Antunes afirmou que “a maior parte dos livros é escrito para um público e este livro [“a máquina de fazer espa-nhóis”] é escrito para leitores”. O que é escrever para as massas?Eu tenho cada vez ais leitores e com isso fico muito contente, mas não escrevo os meus livros

a pensar na sua massificação. O acréscimo de vendas não signifi-ca ainda, e longe disso, qualquer massificação, o que há é uma presença mais notada da minha obra e isso deixa-me bastante grato. Agora, não sou a pessoa indicada para ser transformada em grande olímpico de vendas, acho que nunca vou ter vendas olímpicas, não é isso que me faz correr. As minhas corridas não são pelas medalhas, e se acon-tece alguma medalha não são propriamente as vendas que eu considero as mais importantes. Acho que o reconhecimento en-tre os pares e o reconhecimento dos leitores ou mesmo uma certa felicidade que vem de uma boa crítica, tudo isso é realmente a grande contribuição que podem dar a um escritor, sobretudo a um escritor como eu.

FILIPE PEDRO

No seu processo criativo, isola-se do mundo?Sim, preciso ficar sozinho, não marco nada, não pode haver compromissos. Escrevo mui-to por intensificação e durante muito tempo seguido. Os textos, a ficção acontecem ganhando muita evidência em mim, quase criando uma tridimensionalida-de muito grande, por isso isolo-me muito.Escrever dói por meio de um pro-cesso catártico?Não sei se alguns dos meus livros ou algumas passagens poderão ter contribuído como uma certa tera-pia da minha pessoa, mas escre-ver para mim não começa exacta-mente no sentido terapêutico. Eu escrevo sempre pela necessidade de perceber, de compreender al-gum assunto. Nesse processo de conhecimento existe sempre al-guma cosia dentro de mim que pode ser apaziguada e por isso eu creio que melhoro sempre, que aprendo sempre depois de escrever um livro. Essa é a escola da minha vida adulta, pois são os períodos de escrita um tempo de grande aprendizagem, inclusive o momento exterior, em que o livro chega às pessoas e elas conver-sam comigo, interpretam à sua maneira e criam as suas visões. Toda essa partilha é incrível.Você nasceu em Angola e aos nove anos foi viver para Vila do Conde. Qual a importância desse período para a sua reflexão sobre a cultura portuguesa?A minha relação com Angola permitiu-me entender que um dia vivi num sítio diferente, com gente diferente e com hábitos di-ferentes e que, por isso, o lugar onde depois fui morar era apenas mais um lugar em que as pessoas possuem apenas mais um modo de ser. Desde criança tenho a per-cepção de que há uma diferen-ça fundamental e natural entre as pessoas e eu convivo sempre magnificamente bem com todas as diferenças, sejam elas quais fo-rem. Foi assim que aprendi esse meu modo integrador. Não com-pete a mim ajuizar nem julgar as pessoas, compete-me apenas res-peitar a esfera de liberdade delas, fazê-las respeitar à minha esfera de liberdade e ser feliz.

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MANAíRA AIRES [email protected]

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GRAÇA MARtInSPIntORA

A cidade de névoa e granito

Nas minhas viagens a Lisboa, vivo com mais intensidade as diferenças gritantes entre o Porto e a Capital. Desde os três anos de idade que os meus pais vieram de Vila do Conde para o Porto. Nesta cidade frequen-tei a escola primária, o liceu Rainha Santa Isabel, a escola secundária e artística de Soares dos Reis e, por fim, a Faculdade de Belas Artes.O prazer de passear na rua de Santa Catarina, frequentar o Café Majestic, as ruas 31 de Janeiro, Passos Manuel, Cléri-gos, a avenida dos Aliados, os cafés Piolho, ( Ancora de Ouro), Ceuta, Guarany, Brasileira e claro, as livrarias do Porto. A Leitura, a Latina, a Lello. Enfim, um mundo artístico de cafés, livrarias e galerias de arte. Foi na Galeria Alvarez, do recente-mente falecido galerista Jaime Isidoro, que realizei as minhas primeiras exposições. Depois, na Cooperativa Árvore, espaço cultural de relevante importân-cia para os artistas, dinamizada pelo escultor José Rodrigues. Mas os tempos são outros e eu também não pertenço ao grupo dos saudosistas.O mundo é dinâmico, a vida avança e o futuro é transforma-ção. Sou optimista por natureza e acredito no FUTURO do Porto. A cidade está bonita, mais arran-jada. Respira-se uma atmosfera Europeia. No entanto, existe um forte obscurantismo. Lisboa revela fragilidades na área da recuperação, mas as pessoas que

frequentam a cidade exibem um comportamento urbano e aspec-to mais agradável. Relacionam-se com disponibilidade citadina, sabem apreciar os momentos do fim da tarde nas esplanadas. Há o espírito do lazer. No Porto as pessoas exprimem-se de forma agressiva, boçal. São desconfia-das. Sinto mais a diferença de classes no Porto. Mesmo nas zonas favorecidas, como a Foz, existe mendicidade. É como se o Porto do Camilo, da Agustina, do Eugénio, continuasse no século passado. Uma cidade medieval e romântica, com torres, man-sardas, clarabóias, mirantes, a reflectir a sua luz multifacetada e projectada nas pesadas massas graníticas. Uma cidade de ruas estreitas e soturnas, povoada de jardins provincianos. Uma cida-de enleada na prosa do Camilo. A tragédia, a sombra. Torturada por emoções enlameadas.A BELEZA do Porto é um postal de “Recuerdo”. O Porto na sua neblina junto ao Douro e ao casario, nas aguarelas icónicas do pintor António Cruz. Essa luz única do entardecer que atinge os habitantes. E, claro, as gaivo-tas que sobrevoam a cidade, de-sesperadamente famintas. Talvez por isso o Porto seja um lugar de pintores e poetas. Afinal, a minha pintura é intimista e me-lancólica. Uma paleta de cores secundárias, tons quentes, por vezes trágicos, que atingem a representação das figuras na sua duplicidade, de verso e reverso.(…)« Descia a neblinasobre os prédios, gaivotasvinham da Foz. Um mendigo de barbasatravessou a rua, despreocupa-damente. »

Do poema DESCIA A NEBLINA de

Isabel de Sá. Colectânea de Poesia

sobre o Porto, publicações Dom

Quixote, 2001

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No ano passado, o café mais popu-lar do mundo académico portuense apagou cem velas, resultado de um conjunto de vários factores. Quais? A dedicação dos seus clientes e o trabalho infatigável de persona-lidades como o Senhor Luís, por exemplo. Mas também não se pode deixar de lado a chefia cuidadosa dos seus actuais proprietários. O JUP foi entrevistar um deles.

“Sou Edgar Gonçalves, 50 anos, meio século no café centenario”. Juntamente com o seu cunhado, José Martins, desde Dezembro de 1979 o Senhor Gonçalves é o ge-rente do café Âncora d’Ouro, mais conhecido pelo apelido: «Piolho». Para tornar o Piolho o que ele é hoje, operou-se uma pequena revolução ao café dos anos ‘79 e ‘81: «antigamente os alunos das faculdades não podiam estudar dentro do local. Haviam folhas penduradas nos espelhos que os avisavam. Era o eliminar do aca-démico! E a partir de uma certa hora (três ou quatro da tarde) o ambiente tornava-se um bocado mau». Pela descrição, parece o exacto contrário de como o co-nhecemos. «Connosco voltaram os estudantes» defende o Senhor Gonçalves. Uma boa contribuição

foi dada também pelo horário tar-dio de encerramento.

Hoje em dia o segredo encontra-se na gestão da confusão. «Mas confusão no bom sentido: estudan-tes, caloiros, pedintes, os que já se formaram, Erasmus e tudo isso faz parte do ambiente». Para tornar re-alidade a vivência dessa espécie de caos controlado, a palavra-chave é «respeito». É saber que, posto um limite, este não será ultrapassado: «a brincar, a brincar…mas quan-do parou, parou!». E o que é que acontece quando algo correr mal? Tenta-se sempre de mediar, porque «chamar a Policia é chato». Em síntese, a tarefa prevê o afastamen-to dos que não cumprem a dita «lei» do Piolho, tendo em conta também os perigos que podem vir do exterior. Mas «dentro do esta-belecimento não permito nada que diga respeito ao Piolho» salienta.

Ao longo dos anos, quase trin-ta, o Senhor Gonçalves e o Piolho acompanharam as novidades da vida académica. Os Erasmus in-crementaram ainda mais a «troca do povo» tornando mais fácil o cumprimento da segunda regra: o conhecimento de novas pessoas passados apenas cinco minutos.

Há uns anos, existia uma peque-

...ser dono do “Piolho”

COntA-ME COMO é...

EDGARDO CECCHInI

na sala de refeições, «mas as pes-soas, ali, ficavam isoladas. Havia pessoal que pegava nos pratos e os levava para cá». Daí, a sugestão de mudar a configuração do esta-belecimento para acompanhar as exigências da gente e para tornar o café uma única grande concha de vivência humana. Sempre falando de Arquitectura, o JUP tentou de sacar uma opinião sobre as contes-tadíssimas esplanadas que estão a ser construídas em frente dos cafés da Praça Parada Leitão (que envol-vem o Café Universidade, o Café O Mais Velho, a Gelataria Cremo-si, o Restaurante Irene Jardim e o próprio Piolho). Mas perante a um resolutivo «no comment», não foi possível aprofundar a questão.

Difícil é a descrição da expressão de Edgar Gonçalves quando, pela primeira vez, o JUP o confronta com a pergunta mais importante. Os seus olhos enchem-se de um brilho particularíssimo e a boca abre-se para chutar palavras que nunca saem. No final da entrevis-ta, quando a atmosfera aproxima-se do «mais a vontade», sem mais nem menos, escoam as palavra certas: «dono do Piolho? O topo. O Cristiano Ronaldo ou o Kakà do Real Madrid». EdgARdO CECCHINI

O Senhor Gonçalves, gerente do Piolho há 30 anos

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JOSé FERREIRA

O virtuosismo vai estar à solta pelo Porto

Entre 02 e 07 de Março a Casa Música irá receber a 4ª edição do Harmos Festival, que reúne os melhores músicos/alunos das mais conceituadas escolas supe-riores de música da Europa. A no-vidade para este ano é a estreia da Harmos Festival Orchestra, di-rigida pelo maestro Dirk Vermeu-len e composta pelos 40 músicos presentes no evento.

“O objectivo é juntas as escolas numa componente física para que elas possam mostrar os projectos que desenvolvem. É a reunião da música pela música, sem a compe-tição que existe no mundo da mú-sica erudita”, afirma o director do festival, Rui Couto.

Na abertura, que ocorrera em período diurno, o público poderá acompanhar a clarinete e o piano

Jazz à moda do PortoA Esmae (Escola Superior de Música e Artes de Espectáculo) corresponde à ideia de escola de talentos, de música e de te-atros, com pautas, setlists e fo-lhas de castings penduradas nas paredes dos corredores longos e ecos de música longínquos. Para encontrar o pavilhão onde decorrem as jam sessions, actu-ações dos alunos de jazz reali-zadas às terças-feiras, bastou, literalmente, seguir a música.

A sala está a meia-luz. Os ins-trumentos reflectem as luzes douradas dos holofotes, a corti-na de veludo vermelho desbota-do completa o palco simples. À chegada, já havia música no ar. Estariam perto de 60 pessoas na sala, talvez 100 entre entra-das e saídas, o ambiente era de descontracção, de convívio e de grande apreciação pela música que se tocava. Mas nem sempre foi assim, conforme nos contou Michael Lauren, responsável pelo departamento de Jazz da ESMAE. «Esta escola tornou-se uma esco-la de jazz há sete anos. Foi uma oportunidade dos alunos toca-rem, trabalharem com música e se divertirem». É também uma oportunidade para os músicos de fora: o palco está aberto a to-dos que conheçam o repertório de jazz tradicional e que toquem com qualidade e paixão.

As Jam Sessions começaram como uma oportunidade dos estudantes e da comunidade jazz do Porto se reunir à vol-ta de um palco só. Depressa se converteram num aconteci-mento in do Porto: «era uma loucura, tiveram que proibir entradas pois já estavam a ficar 500, 600 pessoas, não havia es-paço suficiente» revelou Carlos Azevedo, um dos professores da escola. O barulho e o extravaso era tanto que se optou pelo re-torno a um formato mais fami-liar. O dinheiro da entrada (2€ actualmente), quase simbólico, era utilizado para providenciar

equipamentos e instrumentos de qualidade para o Núcleo de Jazz e para pagar a educação dos alunos de mestrado, «coisas que a escola não pôde fornecer ao longo dos anos» – segundo Michael – «é verdade que acal-mou, mas a iniciativa nunca foi pelo dinheiro, mas pela opor-tunidade de tocar, aprender e crescer, por isso, acaba por não fazer grande diferença».

Desde então, as Jams da Esmae tornaram-se um evento quase underground, pouco conhecido entre aqueles que não perten-cem à pequena, mas saudável, comunidade de jazz do Porto, embora sejam bem conhecidas pelos estudantes de Erasmus. A ESMAE tornou-se a principal es-

cola de Jazz do país nos últimos anos apesar da abertura de ou-tros centros, maioritariamen-te privados, em Lisboa e Évora apenas no ano passado, algo que contrasta com as valiosas décadas de tradição do género em Portugal, lembrando alguns grandes talentos como Bernar-do Sasseti e Mário Laginha. E foi talento mesmo que vimos em palco no Esmae. Mas ape-sar da qualidade dos concertos e da descontracção do evento, “pouca publicidade há”, lamen-ta Michael. Fica aqui portanto, uma sugestão para um serão bem passado, em proveito do que melhor se faz no Porto e no Ensino Superior. ANA PELAEz

E INêS ANTUNES

dos músicos do Conservatorio di Musica E.F.Dall’Abaco di Verona.

No dia seguinte, é a vez da Escola Superior de Música, Artes e Espec-táculo do Porto, numa apresenta-ção com violino, viola e cello, se-guida pelo Conservatório Superior de Música da Corunha.

Na Quarta-Feira, a Lithuanian Academy of Music and Theater leva ao palco o Trio Claviola, composto por viola, clarinete e piano. O Con-servatório de Superior de Música da Corunha volta a se apresentar com um quarteto e em seguida os ale-mães da Hochschule für Musik und Theater Leipzig encerram a noite.

Na Sexta-Feira, penúltimo dia (não há programação para Sába-do), a Academia Nacional Supe-rior de Orquestra concretiza o enfoque no trio violino, viola e

violoncelo nas apresentações no festival, enquanto o soprano e o piano ficam por conta dos britâ-nicos da Guildhall School of Mu-sic and Drama, Royal Academy of Music. O Koninklijk Conservato-rium Brussel fecha a noite.

Já no encerramento, a Sala Su-ggia recebe uma orquestra com-posta por todos os músicos que passaram pelo palco ao longo da semana, algo nunca realizado an-tes. Está prevista a apresentação da abertura da ópera “Le Nozze di Fiagro”, de Mozart; o concerto tri-plo para violin, violoncelo e piano em Do M, op.56, de Beethoven; e a Sinfonia nr. 4 em La M, op. 90 Ita-liana, de Mendelssohn. Os ingressos custam 5 euros por dia para o públi-co em geral e 3 euros por dia para estudante. MANAíRA AIRES

As Jam Sessions começaram como uma oportunidade dos estudantes e da comunidade jazz do Porto se reunir à volta de um palco só.

Harmos Festival na Casa da MúsicaDe 2 a 7 de Março a Casa da Música vai receber os mais jovens talentos da música clássica europeia.

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Bufete Fase deste prato e eu tive que abdicar de todo o outro tipo de serviços para me dedicar exclusivamente às francesinhas».

A casa com cinco mesas tem capacidade para um máximo de quinze pessoas e é usual chegar-se à porta do Bufete Fase e, ao perguntar se temos mesa, obter como resposta: «Vai ter de es-perar um bocadinho». Não se fazem reservas em circunstância nenhuma e «quando os clientes entram na porta têm de respeitar a ordem de chegada. Não impor-ta se é familiar, amigo ou cliente

A Francesinha é um prato típi-co das noites do Porto. O Bufete Fase impõe-se, qual santuário de degustação desta iguaria, pois quem lá entra tem apenas o ob-jecto de se deliciar com este belo petisco.

Este pequeno restaurante fa-miliar de José Menezes Pinto, que actualmente conta com o apoio da filha, Filipa Menezes, e do genro, existe desde 1984, mas foi precisamente há quinze anos que surgiu a ideia de apenas ser-vir Francesinha: «Tudo começou com uma brincadeira. Na época tinha um cliente que trabalhava na revista Ideias e Negócios e um dia decidiu fazer uma repor-tagem sobre a casa e as francesi-nhas. Eu na altura não liguei mas depois de sair a reportagem foi a explosão de clientes à procura

Pelo canudo abaixo

Estudar por um bom futuro! Para quem deixa o estudo para o fim do semestre este mês de Março é um descan-so. Para quem tem a saudá-vel disciplina de ir estudan-do todos os dias para que os exames no fim do semestre não serem tão dolorosos já vive com a pressãozinha nes-te começo de semestre. Uns e outros estão condenados a pensar num futuro sombrio. Para quem é finalista e não é extraordinário no aproveita-mento académico sente uma corda no pescoço. O véu que cobre o futuro está descain-do mas o pouco que se vê é sombrio. A licenciatura não tem muito peso nos dias de hoje e mesmo o mestrado não garante o desejado em-prego. Mas andam milhares de estudantes a procurarem esse futuro que não existirá. De quem é a culpa? O que fazer? A culpa é do governo. Só o governo pode redi-reccionar esses estudantes. A bagagem intelectual de tantos anos a estudar não se pode deitar pela cano a bai-xo. Será impossível para as faculdades criarem contac-tos que garantem a aquisi-ção profissional de 50% dos seus alunos? Será impossível que as faculdades garantam estágios para todos os cur-sos? Será impossível para os alunos entrarem para uma universidade sem receios de desperdiçar anos de estudo? Será utópico tomar como medida a redução de vagas por cursos, a criação de mais cursos específicos com menos pessoas mas com a segurança de empregabili-dade? Pode parecer utópico mas não será impossível que surjam vários proto-colos que munam cada curso com o destino dos estudantes. Se estes não o desejarem, terão a liberdade de procurar outro.

JOSé FERREIRA

História

A Francesinha foi criada, nos anos sessenta do século XX, pelo Sr. Daniel David Silva, no restaurante A Regaleira. tendo trabalhado em França, Daniel Silva criou este prato típico da gastronomia portuense, adaptan-do um tipo de tosta designada por croque-monsieur, e adicio-nando o molho da cobertura, que o torna tão característico. Questionada sobre a opção pelo nome do prato – a “Frances-inha” –, Filipa Menezes, deixa uma hipótese interessante ao relacionar o picante do prato com as francesas que eram mulheres muito modernas para a época.

MáRCIO MAtOS

Sr. José Pinto, o mestre das francesinhas

GOURMEt DAS tASCAS

habitual, mas se quiser comer, em pé, ao balcão, passa à frente».

A Francesinha do Bufete Fase é confeccionada sempre ao mes-mo ritmo e o resultado é o pão torrado, o molho a escorrer pelo bife de novilho e pelos enchidos e o queijo que derrete com a tem-peratura do líquido. Segredo? «O bife, o fiambre e os enchidos são sempre de óptima qualidade. Os produtos e o molho são sempre do dia. Se as quantidades do dia acabarem eu não aldrabo, sou sincero com os meus clientes e tenho o dia ganho». E o segredo do molho? «Bem isso não posso revelar. A receita foi inventada por mim e não uso bases pré-confeccionadas. A única coisa que posso acrescentar é que o molho tem que ser feito em gran-de quantidade para ficar bom. É como as carnes do cozido!». E o preço? «Por 10,00 euros comem francesinha, batata frita e acom-panham com uma cerveja de bar-ril fresquinha». MARIANA JACOb

O Bufete Fase impõe-se, qual santuário de degustação desta iguaria, pois quem lá entra tem apenas o objecto de se deliciar com este belo petisco.

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Aramaico, Judaico e Mirandês! Anunciava-se que a peça era falada integralmente nestas três línguas. Nada mais do que um simples engano! Revelando logo a partida o carácter particular da sua interpretação do Teatro, des-tacando o Improviso, envolvendo o público na peça com um hu-mor mordaz. A Norma coloca em relevo os valores morais e sociais da actualidade não esquecendo a actual crise económica. Ao entrar-se no Estúdio Latino pode encontrar-se Ivo Bastos e Rodrigo Santos recebendo os espec-tadores. São estes dois actores que encarnam uma multiplicidade de personagens disfuncionais. Dois pu-blicitários que têm como próximo projecto a criação da nova Imagem de Deus. O próprio Deus, vingativo e severo como é representado no Velho Testamento, que mantém uma relação de pai ausente com Jesus. Jesus é caracterizado como um comum mortal, de barba farta e barrigudo, tendo a televisão como passatempo favorito, sendo sua companheira o Diabo. Uma noiva desgostosa pela morte do noivo no altar entalado com uma hóstia. Dois pastores evangélicos que interligam as diversas cenas questionando os valores da socie-dade actual apoiando-se no Livro da Norma, interpretação muito própria da Bíblia. Com uma encenação muito bem conseguida por Ricardo Alves com uma boa fluidez de cenas onde os únicos momentos de pausa são criados pelos actores para explica-rem o conceito da peça e da sua forma de fazer teatro. Uma peça com muita boa disposição e em que o espectador se vai sentir inte-grado na acção. LEANdRO ROdRIgUES

7/10 norma PAlMIlhA DEnTADA

Passado um ano de Gran Torino, Clint Eastwood lança a sua nova longa metragem: Invictus. O filme surge de uma adaptação do livro de John Carlin Invictus – Playing The Enemy, onde é narrada a his-tória de Nelson Mandela no início do seu mandato como Presidente da África do Sul depois do fim do Apartheid e da sua libertação. Com uma interpretação mui-to bem conseguida de Morgan Freeman, Nelson Mandela parece mesmo estar presente em certos momentos do filme.A história de Invictus centra-se no Campeonato Mundial de Rugby de 1995 na África do Sul, onde os «Springboks» – a selecção nacional do país – eram tidos como derrotados certos do torneio. Para a população negra da altura, os «Springboks» eram vistos como a equipa dos brancos, e nem sequer se inte-ressavam pelo desporto. Assim, Nelson Mandela viu no campeo-nato mundial uma oportunidade única de unir o povo Sul-Africano em torno da Selecção de Rugby, acabando com as divergências e ódios que sempre os dividira.O filme é simples mas carregado de sentimento, mostrando como um dos homens mais conhecidos da história moderna conseguiu unir um povo tão antagónico apenas através da paixão pelo desporto. MIgUEL LOPES ROdRIgUES

9/10 invictus ClInT EASTwooD

Um título que contenha a palavra «memórias» despole-ta no seu leitor uma ânsia de descoberta do passado. Gabriel García Márquez, como já era de esperar, não segue a regra e distorce um pouco o conceito de «memórias».O autor não começa a contar a sua vida desde criança ou adoles-cente, centra-se no seu nona-gésimo aniversário. Um velho e solitário jornalista que durante toda a sua vida fez questão de pagar por sexo, descobre aos 90 anos que é capaz de amar.Num mar de metáforas e recursos estilísticos, Gabriel García Marquez demonstra que o verdadeiro amor não é carnal e não existe idade para amar. Um grande romance de escrita inconfundível em que o autor colombiano é capaz de combinar dois aspectos aparentemente antagónicos: a velhice e o amor verdadeiro.Numa sociedade em que mui-tos dos cidadãos são solitários, Gabriel García Márquez demons-tra que nunca é tarde para viver uma vida a dois. A idade não é um estatuto, nem uma doença, são vivências. O amor é intempo-ral. Não existe nada que impeça a existência de um brilho apaixo-nado nos olhos de um adolescen-te, ou de um idoso de 100 anos. Nunca é tarde para começar. MARIANA CATARINO

Num concerto recheado de emoções, Alex Turner, guitarra e voz, Jamie Cook, guitarra, Nick O’Malley, baixo, e Matt Helders, bateria e segunda voz, mostraram que já não são os meninos de Sheffield. Deram um espectáculo à altura do espaço e da fama que os trouxe ao Porto, ao longo de uma hora e meia de concerto.Ainda que com a postura tímida e naturalmente britânica, não deixaram de interagir com o pú-blico, quer com gestos quer com sinceros agradecimentos e um grande prazer em tocar ao vivo. O público soube corresponder com uma recepção fervorosa.A quem a banda também não esqueceu de agradecer foram aos Mystery Jets que abriram as hostes e aqueceram o palco – e o público.Arctic Monkeys escolheram «Pret-ty Visitors» do fresco Humbug para a grande abertura, mas não deixaram de premiar as cerca de três mil pessoas que inundavam o Coliseu com alguns dos melhores e inesquecíveis êxitos da banda. Apesar da ainda curta mas vibrante carreira, não houve quem não fizesse coro a «When the Sun Goes Down», «The view from the afternoon», ou «Still take you home».Sempre muito constantes, soube-ram manter ao rubro cada minuto e finalizaram com um espectáculo de confetis que surpreendeu pelo inesperado e um encore que, ainda que breve, não desiludiu. Ficou na memória um concerto intenso, convincente e, acima de tudo, surpreendente. LILIANA PINHO

9/10 memórias das minhas putas tristes gAbrIEl MárqUEz

9/10 arctic monkeys ColISEU Do PorTo

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Crít

icas

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6 DE MARÇO“tHERE IS A LIttLE BIt OF VIEnnA In EVERY CItY”Embaixada Lomográfica do Porto, 15hInAUGURAÇÕES DE EXPOSIÇÕESQuarteirão Miguel Bombarda, 16h

7 DE MARÇOFEIRA DE tROCA DE LIVROS E OBJECtOS CULtURAISSolar Condes de Resende, 9h – 19h

Até 7 DE MARÇOFAntASPORtO 2010 – 30º FEStI-VAL IntERnACIOnAL DE CInEMA DO PORtORivoli Teatro Municipal – Grande Auditório, Pequeno Auditório/ Espaço Cidade do Cinema

Até 16 DE MARÇO“PAROLE, PAROLE, PAROLE” – SESSãO DE CInEMAEspaço NEC – Fábrica Social, 22h

Até 20 DE MARÇOCALE-SE 4 – FEStIVAL IntERnA-CIOnAL DE tEAtROAssociação Recreativa de Canidelo, 22h

25 DE MARÇO“PÕE A CASSEtE DA tEMPEStADE” – QUIntAS DE LEItURAAuditório Teatro Campo Alegre, 22h

27 DE MARÇOHAnDMADE MUSIC @ DIGItÓPIA – ESPECtáCULOS – [MÚSICA E MAIS]Casa da Música, 21h30

Até 31 DE MARÇOnOMADIC.0910 – EnCOntROS EntRE ARtE E CIênCIAUniversida-de do Porto/ Faculdades da UP

Car

dápi

o5 DE MARÇODIABO nA CRUzPassos ManuelDEEP SLEEPO Meu Mercedes

6 DE MARÇOtHE POPPERSPlano BBAILE DOS VAMPIROSCORPORAL zARCOF (LAtE OF tHE PIER - DJ SEt), DJ RIDE, FRItUS POtAtOES SUICIDE, ROICE, zé PEDRO, BLACKBAMBITeatro Sá da Bandeira

8 DE MARÇOAn EVEnInG WItH JOAn BAEzCasa da Música

10 DE MARÇOMOnOSerralves

13 DE MARÇOCLASH CLUBFISCHERSPOOnER, ALI LOVE, HUORAtROn, GUn n’ ROSETeatro Sá da Bandeira

15 DE MARÇOYO LA tEnGOCasa da Música

16 DE MARÇORUSSIAn CIRCLESPlano B

18 DE MARÇOBEACH HOUSECentro Cultural Vila FlorSVEn VätHGare Clube

20 DE MARÇO

CLUBBInGBLAStED MECHAnISM, SOFA SURFERSCasa da Música

27 DE MARÇOPAntHA DU PRInCETeatro Sá da Bandeira

5 A 7 DE MARÇOFEIRA DE OBJECtOS DE DESIGn E DECORAÇãOAlfândega do Porto

6 DE MARÇOCItY zEnTertúlia Castelense, 23h30

6 MARÇO A 13 DE JULHO

LOURDES DE CAStRO E MAnUEL zIMBRO: A LUz DA SOMBRAMuseu de Serralves

09 A 18 DE MARÇOCURSO CInEMA E PSICAnáLISE: IMAGEnS REVERSíVEISdas 21:30 às 23:30 - Terças Biblioteca de Serralves

18 DE MARÇO“GUItARMAGEDDOn” - COnCURSO DE BAnDAS DE GARAGEM DA ACADEMIA DO PORtOEliminatórias - dias 9, 10 e 11 de Março. Final: Plano B

19 DE MARÇOCOSSACOS DE DOnDAnÇA Coliseu do Porto, 21h30

26 E 27 DE MARÇOI COnFERênCIA SOBRE ABUSO

DE CRIAnÇAS E JOVEnSAula Magna da FMUP. Inscrições até dia 20 (75€)

MÚSICA VáRIOSEVEntOS3 A 8 DE MARÇO“AMOR SOLÚVEL”Cine-teatro Constantino Nery – Teatro Municipal

4 A 7 DE MARÇO“FRAGMEntOS DE UM CORPO SÓ”Teatro Helena Sá e Costa

5 A 14 DE MARÇO

“BLACKBIRD”Teatro Carlos Alberto

18 A 27 DE MARÇO“QUInzEnA DE tEAtRO FíSICO E nOVO CIRCO”Teatro Helena Sá e Costa

19 A 28 DE MARÇO

“O DEUS DA MAtAnÇA”Teatro Nacional São João

Até 31 DE MARÇO“MOStRA DE tEAtRO AMADOR DO COnCELHO DE VALOnGO”Centros Culturais de Alfena, Campo e Sobrado, Sala das Artes e Fórum Cultural de Ermesinde

tEAtRO

Yo La Tengo vão estar

presentes na Casa da

Música

Page 29: JUP_fevereiro_ Jornalismo Universitário

JUP || MARÇO 10

deixou-me, em primeiro lugar, apático, quase que incrédulo e, em segundo lugar, pensativo, ten-tando compreender a dinâmica social que este país atravessa, em particular a cidade de New Delhi.

Para mim, as diferenças religio-sas, os novos costumes, as dife-rentes formas de relações sociais e tudo o resto que se pode en-quadrar no plano do denomina-do choque cultural, é tudo uma fonte de curiosidade, de conheci-mento e de aprendizagem. Enten-do que esta deve ser a postura de quem trabalha “abroad”, para que se possa assim crescer pessoal e profissionalmente com sensibi-lidade para outro tipo de factos, questões e factores com os quais temos que lidar. E nesta perspecti-va, esta minha experiência India-na é ideal, pois coloca-me fora da zona de conforto, especialmente no plano da realidade social.

PALAVRAS LEVA-AS O VEntO

|| 29 Opi

nião

Em Junho do ano passado, mo-mento em que me inscrevi no program Inov Contacto, era-me impossível adivinhar que hoje, finais de Fevereiro de 2010, pode-ria estar na incrível Índia. Em boa verdade, no final desse 6º mês de 2009, faltando-me ainda 5 cadei-ras para acabar o curso de eco-nomia pela FEP, tinha apenas uma ideia em relação à minha futura vida profissional: a de que queria ter uma experiência internacio-nal! Mas daí a vir para a Índia…

Chegado dia 15 de Janeiro à Ín-dia, sozinho e só com 1 ou 2 con-tactos de algibeira, os primeiros dias foram mentalmente devas-tadores mas fortificantes para o resto da estadia. De facto, o cho-que cultural é enorme, todavia, pessoalmente penso que se aplica melhor o termo de choque social. A miséria e a pobreza que se pode constatar facilmente pelas ruas,

Em directo da ÍndiaDepois dos primeiros dias terem

sido ocupados na procura de casa e nos normais preparativos para iniciar o meu estágio na embaixa-da de Portugal, nos dias seguintes tive a preocupação de estabelecer contactos com outros estagiários internacionais e jovens locais. Fe-lizmente, pude usufruir da minha rede de contactos que adquiri en-quanto membro da AIESEC, maior organização mundial gerida exclu-sivamente por estudantes que, en-tre outras coisas, tem também o seu próprio programa de estágios internacionais. Ora, depois de ter conhecido alguns estagiários da AIESEC e de iniciar também algu-ma vida social, estavam reunidas as condições para iniciar um ritmo de vida já minimamente normali-zado, com normal trabalho de 2ª a 6ª, interrompido pelas entusias-mantes e sempre deslumbrantes viagens de fim-de-semana.

RICARdO FRANç[email protected]

Este país surpreende-me todos os dias, quer seja na rotina diária de ida para o trabalho onde me cru-zo com vacas, macacos e elefantes, quer seja nas viagens de fim-de-se-mana onde já pude constatar que a colorida Índia, um paraíso para os fotógrafos, é culturalmente ri-quíssima nas várias perspectivas, seja na religião, arquitectura, mú-sica, gastronomia, etc.

Neste primeiro mês já tive o prazer de visitar Jaipur, uma ci-dade com belos e coloridos mo-numentos, incríveis palácios e fortes; Agra, local do fantástico Taj Mahal; Varanasi, cidade sagra-da para a religião Hindu, onde se dão as conhecidas cerimónias fú-nebres e os banhos de purificação no rio Ganges e, a cidade onde vivo e trabalho, New Delhi, palco de uma enorme riqueza cultural e patrimonial. Na calha já há pla-nos para visitar sítios conhecidos como Mumbai (Bombaim), Goa e os Himalaias, mas também outros locais menos conhecidos, como Jaisalmar (deserto), Amritsar, Rishikesh ou Udaipur.

Neste mundo global em que vi-vemos, há cada vez menos espaço para mentalidades retrógradas e fechadas no seu umbigo, no seu cantinho de terra. Como se cos-

tuma dizer quando nos referimos ao efeito borboleta, um bater de asas de uma simples borboleta na China pode provocar um furacão nos Estados Unidos e, neste sen-tido, temos de estar preparados para pensar global e agir local-mente, sendo importante estar-mos conscientes do quão vital é ter uma experiência internacio-nal, algo que o ERASMUS deixa muito a desejar. Vou ser directo e lanço-vos o repto. Numa altura em que se fala em tantas dificul-dades de emprego, porque não vir cá para fora? Não tenham medo de partir. Outrora, os Portugueses lançaram-se pelo mar fora à des-coberta do mundo (aqui, tantas vezes já me perguntaram acerca disso), tal como nesses tempos, devemos ser ambiciosos, aventu-reiros e empreendedores. Façam-no de forma planeada e objectiva, dessa forma poderão retirar ainda mais dividendos da vossa experi-ência. Este é um mundo demasia-do pequeno e belo para não ser conhecido e, como diz um amigo meu que trabalhou em Hong-Kong, “siga em frente que atrás vem gente”.

RICARDO FRAnÇA

Momento de contemplação antes ou depois de uma

reza, junto ao rio Ganges

Quotidiano de purificação nas águas do rio Ganges que precede

os momentos de oração diária

Page 30: JUP_fevereiro_ Jornalismo Universitário

JUP || MARÇO 1030 || OPInIãO

FICHA téCnICA

DIRECÇãODIRECÇãO DO nJAP/JUP - PRESIDEntE Sara Moreira VICE-PRESIDEntE Rita Falcão tESOURARIA Rita Bastos VOGAIS Pedro Ferreira (JUP) || Filipa Mora (aguasfurta-das) || Bárbara Rêgo (espaçosJUP) || Manaíra Athayde (galerias)

DIRECÇãO DO JUP Filipa Mora DIRECtORA DE PAGInA-ÇãO Joana Koch Ferreira DIRECtOR DE FOtOGRAFIA Manuel Ribeiro CHEFE DE REDACÇãO Mariana Jacob EDItORES E SUB-EDItORESEDUCAÇãO Filipa Mora SOCIEDADE Manaíra Athayde CULtURA Filipa Mora e Tiago Sousa Garcia OPInIãO Pedro Ferreira DESPORtO Francisco Ferreira COLABORARAM nEStA EDIÇãO

Aline Flor || Ana Rocha || Ana Pelaez || Artur Costa || Dana Elborno || Diana Ferreira || Edgardo Cecchini || Eliana Macedo || Filipa Mora || Filipe Pedro || Francisco Ferreira || Graça Martins || Inês Antunes || Leandro Rodrigues || Liliana Pinho || José Ferreira || Júlia Rocha || Manaíra Aires || Manuel Ribeiro || Márcio Magalhães || Mariana Catarino || Mariana Jacob || Marisa Ramos Gonçalves || Miguel Ramos || Miguel Lopes Rodrigues || Nuno Moniz || Pedro Ferreira || Ricardo França || Ricardo Sá Ferreira || Rita Gouveia || Sara Sousa || Sofia Cristino || Tatiana Henriques || Teresa Castro Viana || Vera Tavares

IMAGEM DA CAPA Arquivo JUP DEPÓSItO LEGAL nº23502/88 tIRAGEM 10.000 exemplares DESIGn LOGO JUP Bolos Quentes Design EDItORIAL/GRAFISMO Joana Koch Ferreira PAGInAÇãO Joana Koch Ferreira

PRé-IMPRESSãO Jornal de notícias, S.A IMPRESSãO nave-Printer - Indústria Gráfica do norte, S.A. Propriedade núcleo de Jornalismo Académico do Porto/Jornal Universitário REDACÇãO E ADMInIStRAÇãO Rua Miguel Bombarda, 187 - R/C e Cave 4050-381 Por-to, Portugal || telefone 222039041 || Fax 222082375 || E-mail [email protected]

APOIOSReitoria da Universidade do Porto, Serviços da Acção So-cial da Universidade do Porto, Universidade Lusófona do Porto, Instituto Português da Juventude.

EDItORIAL

Passas aqui todos os dias, olhas para as letras gordas impressas na primeira página mas não paras, continuas o teu percur-so e eu, cá fico, neste corredor, à espera que voltes, que me levantes desta banca, dobres ao meio e metas debaixo do braço. Que me leves contigo.Leias as minhas crónicas e as reportagens. Muitas vezes sirvo para te abrigar da chuva, deitas-me ao chão, limpas o sopé da porta com as minhas páginas para te sentares, fumas um cigarro, convives com os teus colegas. Desprezas-me por completo, mas sabes que estou aqui, à tua espera! Outras vezes, seguras-me com carinho, juntas-me com os teus apontamentos e levas-me para a aula, para casa. Aguardo pelo teu tempo, pela tua disponibilidade. Para que te apercebas que muitos como tu se juntam todos os meses com um único propósito: Informar! É de tempo que te falo, de tudo o que tenho feito desde que nasci (1987) para te dar voz! Passei por muitas aventuras, estive em inúmeras manifesta-ções, procurei reivindicar pelos teus direitos. Dei-te a conhecer a academia e a cidade. Levei-te à queima das fitas, ao teatro e a concertos. Mostrei-te cultura, ciência, história e arte. Ajudei-te a reflectir, a criticar e a opinar. Recebi-te em minha casa, dei-te formação, debates e festas. Ciclos de cinema e exposições. Disse-te como escrever e fotografar. Ao fim de todo este tem-po continuo a percorrer os corredores da tua faculdade. Insisto nesta árdua missão de unir toda a academia. Tenho mais ou menos a tua idade e é precisamente sobre o meu aniversário que te vou falar no Destaque. Vá, deixa o facebook! Sai para a rua, vai para o café, leva-me contigo e apresenta-me aos teus amigos! Sou o JUP – Jornal da Academia do Porto, tenho 23 anos, vivo na Miguel Bombarda e a minha casa é a tua casa! MANUEL RIbEIRO

Vieram de longe

Dana e Lara Elborno, estiveram no Porto a convite do SOS Racismo, vieram de longe falar do Oriente, dos “outros”. Ouvimos testemu-nhos que nunca são dados pelas televisões. Vieram falar da sua ex-periência como palestinas e acti-vistas e comprovaram factos que nunca nos tinham sido apresen-tados. Ouvimos falar da ocupação Israelita, tal como ela é.

Falaram de pessoas e de sofri-mento. Deram rostos às estatísti-cas e vieram dar visibilidade a um conflito que é relegado para roda-pé dos noticiários. Ouvimos rela-tos de opressão e de humilhação, de uma prisão ao ar livre e de um povo que sofre há seis décadas.

A Faixa de Gaza sofre uma crise humanitária deste Abril de 2006 quando Israel fechou a sete chaves as fronteiras, impe-dindo que bens essenciais como medicamentos, gasolina e comi-da entrassem. É uma punição colectiva por exercerem a sua “liberdade” e por terem, demo-craticamente, elegido o Hamas, eleição que Jimmy Carter, antigo Presidente dos Estados Unidos da América, classificou como uma das mais democráticas que já teria presenciado.

Existem múltiplos causadores desta catástrofe: de forma direc-ta, o Estado de Israel; de forma indirecta, com o cruzar de braços,

Isto tudo para dizer, que fala-ram da Palestina. Numa rápida análise da sociedade em Gaza, alguns números: a população de Gaza é de 1,500,202 em que 70% destes são refugiados; o desem-prego é de 45.4% e a idade média é de 17.2 anos; a dependência de ajuda externa é de 86% e o nível de pobreza é de 80%.

Mas apesar disso, nós o Ocidente e nós, Portugal, somos cúmplices na violação da lei internacional

Fontes: CIA World FactBook, UNRWA, Pa-

lestinian Monetary Authority, Palestinian

Central Bureau of Statistics, Palestinian

Economic Policy Research Institute

DAnA ELBORnO

Bandeira palestiniana que acompanhou a “Gaza Feedom March”

o Governo do Egipto. Israel en-controu um aliado para asfixiar a Faixa de Gaza: o Egipto.

O Governo de Hosni Muba-rak prepara neste momento um “muro de aço” para vedar os tú-neis subterrâneos de acesso a Gaza, alegadamente, como forma de impedir o “tráfico de armas”. De facto, este muro irá travar o tráfico de armas, mas também irá bloquear a única artéria de man-timentos que mantém as pessoas de Gaza vivas.

Gaza viveu em 2008, 23 dias de guerra militar. Porque é impor-tante que se faça justiça, deixa-mos uma lista de violações da lei internacional por parte do Estado de Israel:

O cerco a Faixa de Gaza viola directamente o Artigo 43 dos Re-gulamentos de Haia, os Artigos 33, 55 e 56 da 4ª Convenção de Gene-bra, o direito à vida, o direito a um padrão de vida decente, o di-reito à saúde, o direito à liberdade de circulação e ao direito a viver humanamente. Gaza é, assim, um epicentro da violação dos direitos internacionais.

Mas apesar disso, nós o Oci-dente e nós, Portugal, somos cúmplices na violação da lei internacional sendo que sob os acordos de Genebra, a comuni-dade internacional é obrigada a garantir que a convenção seja respeitada. RICARdO Sá FERREIRA

E NUNO MONIz

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JUP || MARÇO 10 OPInIãO || 31

Devaneios

PEDR

O FER

REIR

A

Cansei-me…Cansei-me de acreditar em quem promete e não cumpre.De esperar por quem diz vir e nunca vem.Cansei-me de gostar do mesmo que os outros.De ver os mesmos filmes.De ouvir as mesmas músicas.Cansei-me de ser inútil.Cansei-me do preto.E do branco.Cansei-me dos meios-termos.Cansei-me de ser prática.Comodista.Cansei-me de ceder.Cansei-me de compromissos.De memórias inabaláveis.Cansei-me da desarrumação.Das faltas de respeito.Dos “mal agradecidos”.Cansei-me dos invejosos.E dos oportunistas.Cansei-me de ter vergonha.De me controlar.De ser “politicamente correcta”.De respeitar tudo e todos.Cansei-me de discussões.De momentos de desespero.Cansei-me de meias palavras.E de palavras em vão.Cansei-me de ter medo.Cansei-me da ponderação.Da sensatez.Cansei-me dos “ses”, dos “quases” e dos “talvez”.Cansei-me de não alargar horizontes.De não me ultrapassar.Cansei-me de tentar ser aquilo que não sou.Cansei-me de ser.Cansei-me de parecer.Cansei-me do cansaço e afastei-o…

Teresa Viana

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