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GRADUAÇÃO 2015.1 JURISPRUDÊNCIA ATUALIZADA DO STF AUTORA: FLAVIA BAHIA

Jurisprudência atualizada do stF - direitorio.fgv.br · Constituição Federal de 1988, art. 40, § 4º, III. ... JURIspRUdêncIA ATUALIzAdA dO sTF FGV dIREITO RIO 7 mais de quinze

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GRADUAÇÃO 2015.1

Jurisprudência atualizada do stF

AUTORA: FLAVIA BAHIA

SumárioJurisprudência Atualizada do STF

SúmUlAS VincUlAnTeS ....................................................................................................................................... 3

DeciSõeS DO STF ................................................................................................................................................ 5

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SúmulaS VinculanteS

Súmula Vinculante 33

Aplicam-se ao servidor público, no que couber, as regras do regime geral da previdência social sobre aposentadoria especial de que trata o artigo 40, § 4º, inciso III da Constituição Federal, até a edição de lei complementar específica.

Fonte de PublicaçãoDOU de 24/4/2014, p. 1.

LegislaçãoConstituição Federal de 1988, art. 40, § 4º, III.Lei nº 8.213/1991, art. 57 e 58.

PrecedentesMI 721, MI 795, MI 788, MI 925, MI 1328, MI 1527, MI 2120, MI

1785, MI 4158 AgR-segundoMI 1596 AgR, MI 3215 AgR-segundo

Súmula Vinculante 34

A Gratificação de Desempenho de Atividade de Seguridade Social e do Trabalho — GDASST, instituída pela Lei 10.483/2002, deve ser estendida aos inativos no valor correspondente a 60 (sessenta) pontos, desde o advento da Medida Provisória 198/2004, convertida na Lei 10.971/2004, quando tais inativos façam jus à paridade constitucional (EC 20/1998, 41/2003 e 47/2005).

Fonte de PublicaçãoDJe nº 210 de 24/10/2014, p. 1.DOU de 24/10/2014, p. 1.

Súmula Vinculante 35

A homologação da transação penal prevista no artigo 76 da Lei 9.099/1995 não faz coisa julgada material e, descumpridas suas cláusulas, retoma-se a si-

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tuação anterior, possibilitando-se ao Ministério Público a continuidade da persecução penal mediante oferecimento de denúncia ou requisição de in-quérito policial.

Fonte de PublicaçãoDJe nº 210 de 24/10/2014, p. 1.DOU de 24/10/2014, p. 1.

Súmula Vinculante 36

Compete à Justiça Federal comum processar e julgar civil denunciado pe-los crimes de falsificação e de uso de documento falso quando se tratar de falsificação da Caderneta de Inscrição e Registro (CIR) ou de Carteira de Habilitação de Amador (CHA), ainda que expedidas pela Marinha do Brasil.

Fonte de PublicaçãoDJe nº 210 de 24/10/2014, p. 1.DOU de 24/10/2014, p. 1.

Súmula Vinculante 37

Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos sob o fundamento de isonomia.

Fonte de PublicaçãoDJe nº 210 de 24/10/2014, p. 2.DOU de 24/10/2014, p. 1.

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DeciSõeS Do StF

1. CPI estadual e quebra de sigilo fiscal — 6Em conclusão de julgamento, o Plenário, em virtude da perda superve-

niente de objeto, assentou o prejuízo de pedido formulado em ação cível originária, processada segundo o rito do mandado de segurança. A ação havia sido ajuizada pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro — Alerj contra ato coator do Chefe da Superintendência Regional da Receita Federal na 7ª Região Fiscal. Na espécie, questionava-se decisão da mencio-nada autoridade, que, com base no dever do sigilo fiscal, negara pedido de transferência de dados fiscais relativos aos principais investigados em comis-são parlamentar de inquérito — CPI, criada pela autora, destinada a apurar a ação de milícias no referido Estado-membro — v. Informativo 578. Na presente assentada, em voto-vista, o Ministro Dias Toffoli julgou prejudicado o pedido diante do encerramento das atividades da mencionada CPI. Não obstante, ressalvou seu entendimento quanto à possibilidade de CPI estadual obter informações dessa ordem, desde que observado o âmbito de poder e das competências que um Estado-membro teria. O Ministro Joaquim Barbosa, relator e Presidente, reajustou seu voto no sentido do prejuízo.

ACO 1271/RJ, rel. Min. Joaquim Barbosa, 12.2.2014. (ACO-1271)(Informativo 735, Plenário)

2. Reclamação: cabimento e Senado Federal no controle da constitu-cionalidade — 11

Em conclusão de julgamento, o Plenário, por maioria, julgou procedente pedido formulado em reclamação ajuizada sob o argumento de ofensa à au-toridade da decisão da Corte no HC 82.959/SP (DJU de 1º.9.2006), em que declarada a inconstitucionalidade do § 1º do art. 2º da Lei 8.072/1990, que veda a progressão de regime a condenados pela prática de crimes hediondos. Na espécie, juiz de 1º grau indeferira pedido de progressão de regime em favor de condenados a penas de reclusão em regime integralmente fechado, à luz do aludido dispositivo legal — v. Informativos 454, 463 e 706. O Minis-tro Gilmar Mendes, relator, determinou a cassação das decisões impugnadas, ao assentar que caberia ao juízo reclamado proferir nova decisão para avaliar se, no caso concreto, os interessados atenderiam ou não os requisitos para gozar do referido benefício. Considerou possível determinar, para esse fim, e desde que de modo fundamentado, a realização de exame criminológico. Pre-liminarmente, quanto ao cabimento da reclamação, o relator afastou a alega-ção de inexistência de decisão do STF cuja autoridade deveria ser preservada.

Rcl 4335/AC, rel. Min. Gilmar Mendes, 20.3.2014. (Rcl-4335)(Informativo 739, Plenário)

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3. Reclamação: cabimento e Senado Federal no controle da constitu-cionalidade — 12

O relator afirmou, inicialmente, que a jurisprudência do STF evoluíra relativamente à utilização

da reclamação em sede de controle concentrado de normas, de maneira que seria cabível a reclamação para todos os que comprovassem prejuízo re-sultante de decisões contrárias às suas teses, em reconhecimento à eficácia vinculante “erga omnes” das decisões de mérito proferidas em sede de contro-le concentrado. Em seguida, entendeu ser necessário, para análise do tema, verificar se o instrumento da reclamação fora usado de acordo com sua desti-nação constitucional: garantir a autoridade das decisões do STF; e, superada essa questão, examinar o argumento do juízo reclamado no sentido de que a eficácia “erga omnes” da decisão no HC 82.959/SP dependeria da expedição de resolução do Senado que suspendesse a execução da lei (CF, art. 52, X). Para apreciar a dimensão constitucional do tema, discorreu sobre o papel do Senado Federal no controle de constitucionalidade. Aduziu que, de acordo com a doutrina tradicional, a suspensão da execução, pelo Senado, do ato declarado inconstitucional pelo STF seria ato político que emprestaria eficá-cia “erga omnes” às decisões definitivas sobre inconstitucionalidade proferi-das em caso concreto. Asseverou, no entanto, que a amplitude conferida ao controle abstrato de normas e a possibilidade de se suspender, liminarmen-te, a eficácia de leis ou atos normativos, com eficácia geral, no contexto da CF/1988, concorreriam para infirmar a crença na própria justificativa do ins-tituto da suspensão da execução do ato pelo Senado, inspirado em concepção de separação de poderes que hoje estaria ultrapassada. Ressaltou, ademais, que, ao alargar, de forma significativa, o rol de entes e órgãos legitimados a provocar o STF no processo de controle abstrato de normas, o constituinte restringira a amplitude do controle difuso de constitucionalidade.

Rcl 4335/AC, rel. Min. Gilmar Mendes, 20.3.2014. (Rcl-4335)(Informativo 739, Plenário)

4. ADI: chefia do Poder Executivo estadual e autorização para viagem — 1O Plenário confirmou medida cautelar e julgou procedente pedido for-

mulado em ação direta para declarar a inconstitucionalidade das expressões “ou do País por qualquer tempo” e “por qualquer tempo”, contidas, respec-tivamente, no inciso IV do art. 53 e no art. 81, ambos da Constituição do Estado do Rio Grande do Sul (“Art. 53 — Compete exclusivamente à Assem-bleia Legislativa, além de outras atribuições previstas nesta Constituição:... IV — autorizar o Governador e o Vice Governador a afastar-se do Estado por mais de quinze dias, ou do País por qualquer tempo”;... “Art. 81 — O Governador e o Vice Governador não poderão, sem licença da Assembleia Legislativa, ausentarem-se do País, por qualquer tempo, nem do Estado, por

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mais de quinze dias, sob pena de perda do cargo”). A Corte asseverou, na cautelar, que a referência temporal contida na Constituição gaúcha não en-contraria parâmetro na Constituição Federal.

ADI 775/RS, rel. Min. Dias Toffoli, 3.4.2014. (ADI-775)(Informativo 741, Plenário)

5. ADI: chefia do Poder Executivo estadual e autorização para viagem — 2

O Plenário confirmou medida cautelar e julgou procedente pedido for-mulado em ação direta para declarar a inconstitucionalidade da expressão “por qualquer tempo”, contida no inciso X do art. 54 e no “caput” do art. 86 da Constituição do Estado do Paraná, com a redação dada pela EC 7/2000 (“Art. 54. Compete, privativamente, à Assembleia Legislativa:... X — con-ceder licença, bem como autorizar o Governador e o Vice-Governador a se ausentarem do País por qualquer tempo, e do Estado, quando a ausência exceder a quinze dias”;... “Art. 86. O Governador e o Vice-Governador não poderão, sem licença da Assembleia Legislativa, ausentar-se do País, por qual-quer tempo, e do Estado, quando a ausência exceder a quinze dias, sob pena de perda do cargo”). A Corte asseverou, na cautelar, que o processo legislativo dos Estados-membros deveria obedecer aos parâmetros federais. Aduziu ha-ver falta de simetria com o modelo federal (CF: “Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:... III — autorizar o Presidente e o Vice--Presidente da República a se ausentarem do País, quando a ausência exceder a quinze dias”).

ADI 2453/PR, rel. Min. Marco Aurélio, 3.4.2014. (ADI-2453)(Informativo 741, Plenário)

6. ADI: prioridade em tramitação e competência processualO Plenário julgou procedente pedido formulado em ação direta para de-

clarar a inconstitucionalidade da Lei 7.716/2001, do Estado do Maranhão. A norma estabelece prioridade na tramitação processual, em qualquer ins-tância, para as causas que tenham, como parte, mulher vítima de violência doméstica. O Tribunal esclareceu que a competência para normatizar tema processual seria da União e, por isso, a lei estadual impugnada teria afrontado o art. 22, I, da CF.

ADI 3483/MA, rel. Min. Dias Toffoli, 3.4.2014. (ADI-3483)(Informativo 741, Plenário)

7. Amicus Curiae“EMENTA: “AMICUS CURIAE”. JURISDIÇÃO CONSTITUCIO-

NAL E LEGITIMIDADE DEMOCRÁTICA. O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL COMO “mediador entre as diferentes forças com legitimação

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no processo constitucional” (GILMAR MENDES). POSSIBILIDADE DA INTERVENÇÃO DE TERCEIROS, NA CONDIÇÃO DE “AMICUS CURIAE”, EM SEDE DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM RE-PERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. NECESSIDADE, CONTU-DO, DE PREENCHIMENTO, PELA ENTIDADE INTERESSADA, DO PRÉ-REQUISITO CONCERNENTE À REPRESENTATIVIDADE ADEQUADA. DOUTRINA. CONDIÇÃO NÃO OSTENTADA POR PESSOA FÍSICA OU NATURAL. CONSEQUENTE INADMISSIBILI-DADE DE SEU INGRESSO, NA QUALIDADE DE “AMICUS CURIAE”, EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. PRECEDENTES. PEDIDO INDEFERIDO...”

Rel. Ministro Celso de Mello, STF RE 659.424/RS* (transcrições). Inf. 742.

8. CNJ — Poderes — Controle Incidental de ConstitucionalidadeEMENTA: Conselho Nacional de Justiça. Processo legislativo instaura-

do por iniciativa de Tribunal de Justiça. Suposta eiva de inconstitucionali-dade. Impossibilidade de o Conselho Nacional de Justiça, sob alegação de “aparente vício do projeto original”, impor, cautelarmente, ao Presidente do Tribunal de Justiça, que se abstenha de cumprir o diploma legislativo edita-do. Limitações que incidem sobre a competência do Conselho Nacional de Justiça (CF, art. 103-B, § 4º). Precedentes. Magistério da doutrina. A instau-ração do processo legislativo como ato de caráter eminentemente político e de extração essencialmente constitucional. Doutrina. A questão do controle de constitucionalidade pelo Conselho Nacional de Justiça. Reconhecimento, pelo Relator desta causa, de que há, na matéria, controvérsia doutrinária. Inadmissibilidade, contudo, de referida fiscalização segundo precedentes do STF e do próprio CNJ. Medida cautelar deferida.

DECISÃO: Trata-se de mandado de segurança, com pedido de liminar, impetrado contra ato emanado de eminente Conselheiro Relator do E. Con-selho Nacional de Justiça, ratificado pelo Plenário daquele órgão, que deter-minou ao eminente Senhor Presidente do E. Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas que se abstenha de adotar providências necessárias à execução da Lei Complementar amazonense nº 126/2013, por aparente vício de incons-titucionalidade de referido diploma legislativo, além de haver neutralizado os efeitos decorrentes do envio de outro projeto de lei que dispõe sobre a criação de cargos administrativos no âmbito do “2º grau de jurisdição”.

Rel. Ministro Celso de Mello, STF MS 32.582 (transcrições). Inf. 744.

9. AR: concurso público e direito adquirido à nomeação — 1O Plenário julgou improcedente pedido formulado em ação rescisória na

qual se buscava desconstituir decisão proferida pela 2ª Turma do STF, nos autos do RE 367.460/DF (DJe de 9.10.2008). No caso, os ora autores teriam

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sido aprovados na 1ª etapa de concurso público para fiscal do trabalho, mas não teriam sido selecionados para a 2ª fase do certame (programa de forma-ção). Esperavam que, no prazo de validade do concurso, fossem convocados para a 2ª etapa e, na sequência, nomeados. No aludido recurso extraordiná-rio, ficara consignado que a jurisprudência da Corte seria pacífica no sentido de inexistir direito adquirido à nomeação em hipóteses análogas. No que se refere à rescisória, de início, a Corte afastou suposta contrariedade ao art. 485, II, do CPC (“Art. 485. A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:... II — proferida por juiz impedido ou absolu-tamente incompetente”). A respeito, os autores alegavam que o Ministro Gil-mar Mendes, relator do RE 367.460/DF, estaria impedido, pois teria atuado como Advogado-Geral da União em processos nos quais discutida idêntica matéria tratada na decisão rescidenda. No ponto, o Colegiado assentou que o impedimento, nos termos do art. 485, II, do CPC, pressupõe que o magis-trado tivesse contrariado as regras do art. 134 do CPC no processo em que atuasse. Assim, a circunstância de o Ministro Gilmar Mendes ter funcionado como Advogado-Geral da União em processos distintos não causaria seu im-pedimento no RE 367.460/DF.

AR 2274/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, 15.5.2014. (AR-2274). Inf. 746.

10. Perda de mandato — Deputado EstadualO Plenário julgou procedente pedido formulado em ação direta, para de-

clarar a inconstitucionalidade da expressão “nos crimes apenados com reclu-são, atentatórios ao decoro parlamentar”, contida no art. 16, VI, da Cons-tituição do Estado de São Paulo, introduzido pela EC 18/2004 (“Artigo 16 — Perderá o mandato o Deputado:... VI — que sofrer condenação crimi-nal em sentença transitada em julgado, nos crimes apenados com reclusão, atentatórios ao decoro parlamentar”). O Tribunal asseverou que contrariaria a Constituição Federal jungir a atuação da Assembleia Legislativa, quanto à perda de mandato de deputado estadual, no caso de condenação crimi-nal, aos crimes apenados com reclusão e atentatórios ao decoro parlamentar. Apontou que os princípios do § 1º do art. 27 da CF (“§ 1º — Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais, aplicando-se-lhes as regras desta Constituição sobre sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades, remunera-ção, perda de mandato, licença, impedimentos e incorporação às Forças Ar-madas”) deveriam ser observados. Destacou que a limitação da Constituição paulista conflitaria com o que a Constituição Federal dispõe relativamente a deputados federais.

O relator acolheu a tese de que o art. 55, VI, da CF/88, segundo o qual ocorre a perda do mandato do parlamentar que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado (independentemente da natureza do de-lito ou da pena imposta — reclusão ou detenção) é norma de reprodução

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obrigatória nas constituições estaduais, e por isso os Estados não podem dis-por de maneira diversa.

ADI 3200/SP, rel. Min. Marco Aurélio, 22.5.2014. (ADI-3200). Inf. 747.

11. Reclamação e MPESTF publica decisão monocrática do Min. Celso de Mello (Rcl 15.028)

que confirma a jurisprudência atual do STF, no sentido de que “o Ministério Público estadual, quando atua no desempenho de suas prerrogativas institu-cionais e no âmbito de processos cuja natureza justifique a sua formal partici-pação (quer como órgão agente, quer como órgão interveniente), dispõe, ele próprio, de legitimidade para ajuizar reclamação, em sede originária, perante o Supremo Tribunal Federal”. O Ministério Público do Trabalho, no entanto, por pertencer ao MPU, não possui legitimidade para atuar perante do STF. Essa legitimidade é privativa do PGR, que é o chefe do MPU (Rcl 7318 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, Tribunal Pleno, j. em 23/05/2012; Rcl 6239 AgR--AgR, Rel. p/ Acórdão Min. Rosa Weber, Tribunal Pleno, j. em 23/05/2012).

Rel. Ministro Celso de Mello, Rcl 15.028 (transcrições). Inf. 748.

12. Restrições à liberdade de expressão e Lei Geral da CopaO Plenário, por maioria, julgou improcedente pedido formulado em

ação direta de inconstitucionalidade ajuizada contra o § 1º do art. 28 da Lei 12.663/2012 — Lei Geral da Copa (“É ressalvado o direito constitucional ao livre exercício de manifestação e à plena liberdade de expressão em defesa da dignidade da pessoa humana”). Após o início do julgamento, o Tribunal acolheu proposta da Ministra Cármen Lúcia para que houvesse a conversão do exame da medida cautelar em julgamento de mérito da ação direta, razão pela qual a Procuradoria-Geral da República emitiu parecer em sessão. A Corte esclareceu que o principal fundamento da ação seria a impossibilidade de a legislação impor restrições à liberdade de expressão, além das já consti-tucionalmente previstas. Ressaltou que o constituinte não concebera a liber-dade de expressão como direito absoluto, insuscetível de restrição, fosse pelo Judiciário, fosse pelo Legislativo. Mencionou que haveria hipóteses em que a liberdade de expressão acabaria por colidir com outros direitos e valores tam-bém constitucionalmente protegidos. Explicou que essas tensões dialéticas precisariam ser sopesadas a partir da aplicação do princípio da proporciona-lidade. Afirmou que a incidência desse princípio se daria quando verificada restrição a determinado direito fundamental ou quando configurado con-flito entre distintos princípios constitucionais, o que exigiria a ponderação do peso relativo de cada um dos direitos por meio da aplicação das máximas que integrariam o mencionado princípio da proporcionalidade. Realçou que se deveria perquirir se, em face do conflito entre dois bens constitucionais contrapostos, o ato impugnado afigurar-se-ia adequado, ou seja, apto para

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produzir o resultado desejado. Além disso, verificar-se-ia se esse ato seria ne-cessário e insubstituível por outro meio menos gravoso e igualmente eficaz, e proporcional em sentido estrito, de modo que se estabelecesse uma relação ponderada entre o grau de restrição de um princípio e o grau de realização do princípio contraposto.

ADI 5136/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, 1º.7.2014. (ADI-5136). (Infor-mativo 752)

13. Direito à saúde e manutenção de medicamento em estoqueA 1ª Turma negou provimento a recurso extraordinário para assentar a

legitimidade de determinação judicial no sentido de que o Estado do Rio de Janeiro mantivesse determinado medicamento em estoque. No caso, o Mi-nistério Público Federal ajuizara ação civil pública, cujo pedido fora julgado parcialmente procedente, na qual se postulava a aquisição, pelo referido ente federativo, de medicamento a portadores da doença de Gaucher, e a manu-tenção de estoque por certo período, para evitar interrupção do tratamento, tendo em conta lapsos na importação do produto. Preliminarmente, a Turma afastou o sobrestamento do feito por falta de similitude com o RE 566.471 RG/RN — processo com repercussão geral reconhecida, que versa sobre o dever do Estado de fornecer medicamento de alto custo a portador de doença grave —, por entender diversa a matéria. No mérito, reafirmou a jurispru-dência da Corte quanto à ausência de violação ao princípio da separação dos Poderes quando do exame pelo Poder Judiciário de ato administrativo tido por ilegal ou abusivo. Aduziu, ademais, que o Poder Público, qualquer que fosse a esfera institucional de sua atuação no plano da organização federa-tiva brasileira, não poderia se mostrar indiferente ao problema da saúde da população, sob pena de incidir, ainda que por censurável omissão, em grave comportamento inconstitucional. RE 429903/RJ, rel. Min. Ricardo Lewan-dowski, 25.6.2014. (RE-429903). (Informativo 752)

14. Procurador-Geral do Estado e foro por prerrogativa de função — 1O Plenário denegou a ordem em “habeas corpus”, afetado pela 2ª Tur-

ma, no qual discutida eventual nulidade de ação penal por incompetência do juízo de 1º grau e pretendida a revogação da prisão cautelar imposta ao paciente. Ademais declarou, “incidenter tantum”, a inconstitucionalidade da expressão “os Agentes Públicos a ele equiparados”, contida no art. 77, X, a, da Constituição do Estado de Roraima. No caso, o paciente, Procurador--Geral do Estado à época dos fatos, pretendia fosse-lhe garantido o foro por prerrogativa de função no TJ/RR, à luz da regra prevista no art. 77, X, a, da Constituição estadual [“Art. 77. Compete ao Tribunal de Justiça:... X — pro-cessar e julgar, originariamente: a) nos crimes comuns e de responsabilidade, o Vice-governador do Estado, os Secretários de Estado, os Agentes Públicos

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a ele equiparados, os Juízes Estaduais, os membros do Ministério Público e os Prefeitos, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral”], bem assim do que disposto no parágrafo único do art. 4º da LC Estadual 71/2003 (“O Procurador-Geral do Estado terá, além do contido nesta Lei Complemen-tar, as mesmas prerrogativas, subsídio e obrigações de Secretário de Estado”). Inicialmente, o Tribunal rememorou decisão proferida, em situação análoga, nos autos da ADI 3.140/CE (DJU de 29.6.2007), oportunidade em que declarada a inconstitucionalidade de norma de Constituição estadual, tendo em vista ser ela incompatível com o art. 125, § 1º, da CF. Salientou que, na ocasião, o STF ponderara que a Constituição estadual haveria de definir, de um lado, o que o tribunal de justiça poderia julgar e, de outro, quem poderia ser julgado por aquela Corte. Nesse sentido, o art. 125, § 1º, da CF, firma o âmbito de atuação do constituinte estadual na matéria especificada, de modo a caber a ele definir a competência do tribunal de justiça. Em outras palavras, a Constituição da República convoca o constituinte estadual para demarcar a competência do tribunal de justiça. O Colegiado salientou que esse mesmo entendimento deveria nortear a decisão em comento, na qual o constituinte do Estado de Roraima, ao promulgar norma aberta referente à definição de competência do tribunal estadual, delegara ao legislador infraconstitucional o poder de dispor sobre a matéria e de ampliar seus limites, circunstância in-compatível com o art. 125, § 1º, da CF. Concluiu, no ponto, pela inconstitu-cionalidade da expressão acima referida, contida na norma constitucional es-tadual. HC 103803/RR, rel. Min. Teori Zavascki, 1º.7.2014. (HC-103803). (Informativo 752)

15. MS: admissão de “amicus curiae” e teto remuneratório em serven-tias extrajudiciais

Não é cabível a intervenção de “amicus curiae” em mandado de segurança. Com base nessa orientação, a 1ª Turma resolveu questão de ordem suscitada pelo Ministro Dias Toffoli (relator) no sentido de se indeferir pedido formu-lado pela Associação dos Notários e Registradores do Brasil — Anoreg/Br para que fosse admitida no presente feito na condição de “amicus curiae”. A Turma consignou que, tendo em conta o quanto disposto no art. 24 da Lei 12.016/2009 — dispositivo que afirma serem aplicáveis ao rito do mandado de segurança as normas do CPC que disciplinam exclusivamente o litiscon-sórcio —, a intervenção de terceiros nessa classe processual seria limitada e excepcional. Asseverou que entendimento contrário poderia, inclusive, com-prometer a celeridade do “writ” constitucional. No mérito, a Turma dene-gou a segurança e, em consequência, cassou liminar anteriormente deferida. Reafirmou a jurisprudência do STF no sentido da necessidade de concurso público para o preenchimento de vaga em serventias extrajudiciais. Assentou, por outro lado, a legitimidade da incidência do teto remuneratório, aplicável

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aos servidores públicos em geral, àqueles interinamente responsáveis pelos trabalhos nas serventias vagas.

MS 29192/DF, rel. Min. Dias Toffoli, 19.8.2014. (MS-29192). (Infor-mativo 755)

16. Ação perante o INSS e prévio requerimento administrativo — 4A exigibilidade de prévio requerimento administrativo como condição

para o regular exercício do direito de ação, para que se postule judicialmente a concessão de benefício previdenciário, não ofende o art. 5º, XXXV, da CF (“XXXV — a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”). Esse o entendimento do Plenário, que, em conclusão de julgamento e por maioria, proveu parcialmente recurso extraordinário em que discutida a possibilidade de propositura de ação judicial para pleitear aposentadoria rural por idade, por parte de segurada que não formulara pré-vio requerimento administrativo — v. Informativo 756. Preliminarmente, por maioria, o Colegiado conheceu do recurso. Vencida, no ponto, a Minis-tra Rosa Weber, que entendia cuidar-se de ofensa meramente reflexa à Cons-tituição. No mérito, o Colegiado asseverou que, na situação dos autos, para se caracterizar a presença de interesse em agir, seria preciso haver necessidade de ir a juízo. Reputou que a concessão de benefício previdenciário depende-ria de requerimento do interessado, e não se caracterizaria ameaça ou lesão a direito antes de sua apreciação e eventual indeferimento pelo INSS, ou se o órgão não oferecesse resposta após 45 dias. Ressalvou que a exigência de pré-vio requerimento não se confundiria, entretanto, com o exaurimento das vias administrativas. Consignou, ainda, que a exigência de prévio requerimento administrativo não deveria prevalecer quando o entendimento da Adminis-tração fosse notório e reiteradamente contrário à postulação do segurado. Acresceu que, nas hipóteses de pretensão de revisão, restabelecimento ou ma-nutenção de benefício anteriormente concedido — uma vez que o INSS teria o dever legal de conceder a prestação mais vantajosa possível — o pedido poderia ser formulado diretamente em juízo, porque nesses casos a conduta do INSS já configuraria o não acolhimento da pretensão.

RE 631240/MG, rel. Min. Roberto Barroso, 3.9.2014. (RE-631240). (Informativo 757)

17. Inconstitucionalidade de lei e decisão monocrática — 2É possível o julgamento de recurso extraordinário por decisão monocráti-

ca do relator nas hipóteses oriundas de ação de controle concentrado de cons-titucionalidade em âmbito estadual de dispositivo de reprodução obrigatória, quando a decisão impugnada refletir pacífica jurisprudência do STF sobre o tema. Com base nessa orientação, por maioria, o Plenário recebeu os em-bargos de declaração como agravo regimental e a este negou provimento. Na

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espécie, tratava-se de declaratórios opostos de decisão monocrática proferida pelo Ministro Dias Toffoli (CPC, art. 557, § 1º, a), na qual assentada — com fundamento na jurisprudência consolidada da Corte — a inconstitucionali-dade de lei que dispõe sobre a criação de cargos em comissão para funções que não exigissem o requisito da confiança para o seu preenchimento. Na mencionada decisão, o relator destacara que os cargos, consoante a norma impugnada, deveriam ser ocupados por pessoas determinadas conforme a descrição nela constante — v. Informativo 707. Em acréscimo, o Ministro Teori Zavascki, tendo em conta a natureza objetiva do recurso extraordinário nesses casos, destacou que o procedimento se justificaria pelas mesmas razões que autorizariam a dispensa da cláusula da reserva de plenário (CPC, art. 481, parágrafo único), invocáveis por analogia. Observou, também, que a análise pelo órgão colegiado não estaria excluída, pois poderia ser provocada por recurso interno. Vencido o Ministro Marco Aurélio quanto à conversão e ao mérito. Destacava impossibilidade de o relator, monocraticamente, julgar o tema de fundo de processo objetivo a envolver controvérsia constitucional.

RE 376440 ED/DF, rel. Min. Dias Toffoli, 18.9.2014. (RE-376440). (In-formativo 759)

18. Ementa: AÇÃO PENAL CONTRA DEPUTADO FEDERAL. QUESTÃO DE ORDEM. RENÚNCIA AO MANDATO. PRERROGA-TIVA DE FORO.

1. A renúncia de parlamentar, após o final da instrução, não acarreta a perda de competência do Supremo Tribunal Federal. Superação da jurispru-dência anterior.

2. Havendo a renúncia ocorrido anteriormente ao final da instrução, decli-na-se da competência para o juízo de primeiro grau. QUEST. ORD. EM AP N. 606-MG, RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO. (Informativo 759)

19. EMENTA: CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. CONTRO-LE DE CONSTITUCIONALIDADE. INADMISSIBILIDADE. ATRI-BUIÇÃO ESTRANHA À ESFERA DE COMPETÊNCIA DESSE ÓR-GÃO DE PERFIL ESTRITAMENTE ADMINISTRATIVO. ATUAÇÃO “ULTRA VIRES”. [...]

MS-MC 32.865/RJ, RELATOR: MIN. CELSO DE MELLO. (Informa-tivo 760)

20. EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI 4.663/2005 DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. AUTORIZAÇÃO PARA A COMERCIALIZAÇÃO, EM FARMÁCIAS E DROGARIAS, DE PRODUTOS DE CONSUMO COMUM E ROTINEIRO (ARTIGOS DE CONVENIÊNCIA). LEI FEDERAL 5.991/1973. USURPAÇÃO DA

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COMPETÊNCIA DA UNIÃO PARA LEGISLAR, POR MEIO DE NOR-MAS GERAIS, SOBRE PROTEÇÃO E DEFESA À SAÚDE. OFENSA AO DIREITO À SAÚDE. INOCORRÊNCIA. POSICIONAMENTO ALCANÇADO PELO PLENÁRIO DESTA CORTE, À UNANIMIDA-DE, NO JULGAMENTO DA ADI 4.954/AC, REL. MIN. MARCO AU-RÉLIO. AÇÃO JULGADA IMPROCEDENTE.

I — A aferição de compatibilidade da norma estadual ora impugnada com os dispositivos constitucionais invocados — principalmente aqueles relativos às regras de repartição da competência legislativa entre os entes federados — não prescinde, em absoluto, do prévio cotejo entre o ato local contestado e a legislação federal mencionada. Ação direta conhecida.

II — O Plenário, ao apreciar legislação acriana em tudo semelhante ao diploma objeto desta ação direta, assentou à unanimidade que a disciplina nela disposta — autorização para a comercialização de determinados produ-tos lícitos de consumo comum e rotineiro em farmácias e drogarias — não guarda relação com a temática da proteção e defesa da saúde (art. 24, XII, da CF), visto que somente aborda, supletivamente, o comércio local.

III — A Lei Federal 5.991/1973 não veda expressamente a comercialização de artigos de conveniência em drogarias e farmácias, e a exclusividade, por ela fixada, para a venda de medicamentos nesses estabelecimentos não autoriza interpretação que obste o comércio de qualquer outro tipo de produto. Atu-ação legítima da iniciativa legislativa estadual no campo suplementar.

IV — É completamente destituída de embasamento a suposta correlação lógica, suscitada na inicial, entre a venda de produtos de conveniência em farmácias e drogarias e o estímulo à automedicação.

V — Ação direta de inconstitucionalidade cujo pedido se julga impro-cedente. ADI N. 4.949-RJ, RELATOR: MIN. RICARDO LEWANDO-WSKI. (Informativo 761)

21. EMENTA: CONSTITUCIONAL. ELEITORAL. ART. 5º DA LEI N. 12.034/2009: IMPRESSÃO DE VOTO. SIGILO DO VOTO: DIREI-TO FUNDAMENTAL DO CIDADÃO. VULNERAÇÃO POSSÍVEL DA URNA COM O SISTEMA DE IMPRESSÃO DO VOTO: INCONSIS-TÊNCIAS PROVOCADAS NO SISTEMA E NAS GARANTIAS DOS CIDADÃOS. INCONSTITUCIONALIDADE DA NORMA. AÇÃO JULGADA PROCEDENTE.

1. A exigência legal do voto impresso no processo de votação, contendo número de identificação associado à assinatura digital do eleitor, vulnera o segredo do voto, garantia constitucional expressa.

2. A garantia da inviolabilidade do voto impõe a necessidade de se assegu-rar ser impessoal o voto para garantia da liberdade de manifestação, evitando--se coação sobre o eleitor.

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3. A manutenção da urna em aberto põe em risco a segurança do sistema, possibilitando fraudes, o que não se harmoniza com as normas constitucio-nais de garantia do eleitor.

4. Ação julgada procedente para declarar a inconstitucionalidade do art. 5º da Lei n. 12.034/2009. ADI N. 4.543-DF, RELATORA: MIN. CÁR-MEN LÚCIA. (Informativo 763)

22. EMENTA: ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRE-CEITO FUNDAMENTAL. ATOS QUE INSTITUÍRAM SISTEMA DE RESERVA DE VAGAS COM BASE EM CRITÉRIO ÉTNICO-RACIAL (COTAS) NO PROCESSO DE SELEÇÃO PARA INGRESSO EM INS-TITUIÇÃO PÚBLICA DE ENSINO SUPERIOR. ALEGADA OFENSA AOS ARTS. 1º, CAPUT, III, 3º, IV, 4º, VIII, 5º, I, II XXXIII, XLI, LIV, 37, CAPUT, 205, 206, CAPUT, I, 207, CAPUT, E 208, V, TODOS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. AÇÃO JULGADA IMPROCEDENTE.

I — Não contraria — ao contrário, prestigia — o princípio da igualdade material, previsto no caput do art. 5º da Carta da República, a possibilidade de o Estado lançar mão seja de políticas de cunho universalista, que abran-gem um número indeterminados de indivíduos, mediante ações de natureza estrutural, seja de ações afirmativas, que atingem grupos sociais determina-dos, de maneira pontual, atribuindo a estes certas vantagens, por um tempo limitado, de modo a permitir-lhes a superação de desigualdades decorrentes de situações históricas particulares.

II — O modelo constitucional brasileiro incorporou diversos mecanismos institucionais para corrigir as distorções resultantes de uma aplicação pura-mente formal do princípio da igualdade.

III — Esta Corte, em diversos precedentes, assentou a constitucionalidade das políticas de ação afirmativa.

IV — Medidas que buscam reverter, no âmbito universitário, o quadro histórico de desigualdade que caracteriza as relações étnico-raciais e sociais em nosso País, não podem ser examinadas apenas sob a ótica de sua compa-tibilidade com determinados preceitos constitucionais, isoladamente consi-derados, ou a partir da eventual vantagem de certos critérios sobre outros, devendo, ao revés, ser analisadas à luz do arcabouço principiológico sobre o qual se assenta o próprio Estado brasileiro.

V — Metodologia de seleção diferenciada pode perfeitamente levar em consideração critérios étnico-raciais ou socioeconômicos, de modo a asse-gurar que a comunidade acadêmica e a própria sociedade sejam beneficiadas pelo pluralismo de ideias, de resto, um dos fundamentos do Estado brasilei-ro, conforme dispõe o art. 1º, V, da Constituição.

VI — Justiça social, hoje, mais do que simplesmente redistribuir riquezas criadas pelo esforço coletivo, significa distinguir, reconhecer e incorporar à

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sociedade mais ampla valores culturais diversificados, muitas vezes considera-dos inferiores àqueles reputados dominantes.

VII — No entanto, as políticas de ação afirmativa fundadas na discrimi-nação reversa apenas são legítimas se a sua manutenção estiver condicionada à persistência, no tempo, do quadro de exclusão social que lhes deu origem. Caso contrário, tais políticas poderiam converter-se benesses permanentes, instituídas em prol de determinado grupo social, mas em detrimento da co-letividade como um todo, situação — é escusado dizer — incompatível com o espírito de qualquer Constituição que se pretenda democrática, devendo, outrossim, respeitar a proporcionalidade entre os meios empregados e os fins perseguidos.

VIII — Arguição de descumprimento de preceito fundamental julgada improcedente. ADPF N. 186-DF, RELATOR: MIN. RICARDO LEWAN-DOWSKI. (Informativo 764)

23. ADI: norma processual e competência legislativa da UniãoO Plenário julgou procedente pedido formulado em ação direta para de-

clarar a inconstitucionalidade do art. 7º e parágrafos da Lei 6.816/2007 do Estado de Alagoas. O dispositivo criara como requisito de admissibilidade, para a interposição de recurso inominado no âmbito dos juizados especiais, o depósito prévio de 100% do valor da condenação. O Tribunal sublinhou que a norma atacada versaria sobre admissibilidade recursal e, consequentemente, teria natureza processual. Dessa forma, seria evidente a inconstitucionalidade formal por ofensa ao art. 22, I, da CF (“Compete privativamente à União le-gislar sobre: I — direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho”). Ademais, a mencionada lei dificultaria ou inviabilizaria a interposição de recurso para o conselho recur-sal. Assim, vulneraria os princípios constitucionais do acesso à jurisdição, do contraditório e da ampla defesa, contidos no art. 5º, XXXV e LV, da CF.

ADI 4161/AL, rel. Min. Cármen Lúcia, 30.10.2014. (ADI-4161). (In-formativo 765)

24. ADI: divulgação de obras públicas e princípio da publicidadeO Plenário julgou improcedente pedido formulado em ação direta ajuizada

em face da Lei 11.521/2000 do Estado Rio Grande do Sul, a qual obriga o Po-der Executivo do referido Estado-membro a divulgar na imprensa oficial e na internet a relação completa de obras atinentes a rodovias, portos e aeroportos. A Corte apontou não se verificar a existência de vício formal ou material na edição da norma em comento, visto que editada em atenção aos princípios da publicidade e da transparência, a viabilizar a fiscalização das contas públicas.

ADI 2444/RS, rel. Min. Dias Toffoli, 6.11.2014. (ADI-2444). (Informa-tivo 766)

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25. ADI: órgão de segurança pública e vício de iniciativaO Plenário julgou procedente pedido formulado em ação direta ajuizada

em face da EC 10/2001, que inseriu a Polícia Científica no rol dos órgãos de segurança pública previsto na Constituição do Estado do Paraná. A Corte afirmou que não se observara a reserva de iniciativa legislativa do Chefe do Poder Executivo para disciplinar o funcionamento de órgão administrativo de perícia.

ADI 2616/PR, rel. Min. Dias Toffoli, 19.11.2014. (ADI-2616). (Infor-mativo 768)

26. ADPF: fungibilidade e erro grosseiroO Plenário desproveu agravo regimental em arguição de descumpri-

mento de preceito fundamental, na qual se discutia a inconstitucionalidade por omissão relativa à Lei 12.865/2013. O Tribunal, de início, reconheceu a possibilidade de conversão da arguição de descumprimento de preceito fundamental em ação direta quando imprópria a primeira, e vice-versa, se satisfeitos os requisitos para a formalização do instrumento substituto. Afirmou que dúvida razoável sobre o caráter autônomo de atos infralegais impugnados, como decretos, resoluções e portarias, e alteração superve-niente da norma constitucional dita violada legitimariam a Corte a adotar a fungibilidade em uma direção ou em outra, a depender do quadro nor-mativo envolvido. Ressaltou, porém, que essa excepcionalidade não estaria presente na espécie. O recorrente incorrera naquilo que a doutrina proces-sual denominaria de erro grosseiro ao escolher o instrumento formalizado, ante a falta de elementos, considerados os preceitos legais impugnados, que pudessem viabilizar a arguição. No caso, ainda que a arguição de descum-primento de preceito fundamental tivesse sido objeto de dissenso no STF quanto à extensão da cláusula da subsidiariedade, nunca houvera dúvida no tocante à inadequação da medida quando o ato pudesse ser atacado mediante ação direta de inconstitucionalidade. Por se tratar de impugnação de lei ordinária federal pós-constitucional, propor a arguição em vez de ação direta, longe de envolver dúvida objetiva, encerraria incontestável erro grosseiro, por configurar atuação contrária ao disposto no § 1º do art. 4º da Lei 9.882/1999. Os Ministros Roberto Barroso, Gilmar Mendes e Cármen Lúcia negaram provimento ao agravo por outro fundamento. Considera-ram que o requerente, Sindicato Nacional das Empresas de Medicina de Grupo, por não ser uma confederação sindical, não preencheria o requisito da legitimação ativa “ad causam”.

ADPF 314 AgR/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 11.12.2014. (ADPF-314). (Informativo 771)

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27. ADI: chefia da polícia civil e iniciativa legislativaO Plenário julgou procedente pedido formulado em ação direta para dar

interpretação conforme ao § 1º do art. 106 da Constituição do Estado de Santa Catarina, no sentido de que se mostra inconstitucional nomear, para a chefia da polícia civil, delegado que não integre a respectiva carreira, ou seja, que nela não tenha ingressado por meio de concurso público. A norma impugnada, na redação conferida pela EC estadual 18/1999 — esta última de iniciativa parlamentar —, dispõe que o chefe da polícia civil, nomeado pelo governador, será escolhido entre os delegados de polícia. Na sua redação originária — norma também impugnada — o dispositivo determinava que a escolha recaísse sobre delegados de final de carreira. O Colegiado asseverou que, no caso, estaria viabilizada a disciplina da matéria em comento mediante emenda constitucional, considerado o parâmetro da Constituição Federal, portanto, a simetria. Não procederia, assim, a alegação de vício formal de-corrente do vício de iniciativa privativa do Poder Executivo. No tocante ao vício material, ressaltou que, consoante disposto no art. 144, § 4º, da CF (“Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apura-ção de infrações penais, exceto as militares”), as polícias civis seriam dirigidas por delegados de carreira. Não caberia, portanto, a inobservância da citada qualificação, nem a exigência de que se encontrassem no último nível da organização policial.

ADI 3038/SC, rel. Min. Marco Aurélio, 11.12.2014. (ADI-3038). (In-formativo 771)

28. Vedação ao nepotismo e iniciativa legislativa — 1Leis que tratam dos casos de vedação a nepotismo não são de iniciativa

exclusiva do Chefe do Poder Executivo. Esse o entendimento do Plenário, que, por maioria, deu provimento a recurso extraordinário para reconhecer a constitucionalidade da Lei 2.040/1990, do Município de Garibaldi/RS, que proíbe a contratação, por parte do Executivo, de parentes de 1º e 2º graus do prefeito e vice-prefeito, para qualquer cargo do quadro de servidores, ou função pública. Discutia-se eventual ocorrência de vício de iniciativa. Na espécie, o acórdão recorrido, proferido em sede de ação direta de inconsti-tucionalidade, declarara a inconstitucionalidade formal do referido diploma normativo sob o fundamento de que, por se tratar de matéria respeitante ao regime jurídico dos servidores municipais, a iniciativa do processo legislativo competiria ao Chefe do Poder Executivo. O Colegiado, de início, rejeitou preliminares suscitadas acerca das supostas intempestividade do recurso e ile-gitimidade do Procurador-Geral do Estado para a interposição de recurso ex-traordinário contra acórdão proferido em ação direta de inconstitucionalida-de estadual. No tocante à legitimidade do Procurador-Geral do Estado para o

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recurso, a Corte destacou o que disposto no § 4º do art. 95 da Constituição do Estado do Rio Grande do Sul (“Quando o Tribunal de Justiça apreciar a inconstitucionalidade, em tese, de norma legal ou de ato normativo, citará previamente o Procurador-Geral do Estado, que defenderá o ato ou texto impugnado”), que repetiria, por simetria, o disposto no § 3º do art. 103 da CF (“Quando o Supremo Tribunal Federal apreciar a inconstitucionalidade, em tese, de norma legal ou ato normativo, citará, previamente, o Advogado--Geral da União, que defenderá o ato ou texto impugnado”). Pela teoria dos poderes implícitos, se a Constituição atribuísse competência a determinada instituição jurídica, a ela também deveria ser reconhecida a possibilidade de se utilizar dos instrumentos jurídicos adequados e necessários para o regular exercício da competência atribuída. No caso, a Constituição Estadual confe-rira ao Procurador-Geral do Estado — em simetria com o Advogado-Geral da União — o papel de defesa da norma estadual ou municipal atacada via ação direta, o que o tornaria, portanto, legitimado para a interposição de re-curso extraordinário contra acórdão que tivesse declarado a inconstituciona-lidade da norma defendida, sob pena de se negar a efetiva defesa desta última.

RE 570392/RS, rel. Min. Cármen Lúcia, 11.12.2014. (RE-570392). (In-formativo 771)

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