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Informativo Nº: 0535 12 de março de 2014. DIREITO CIVIL. INAPLICABILIDADE DA SÚMULA 332 DO STJ À UNIÃO ESTÁVEL. Ainda que a união estável esteja formalizada por meio de escritura pública, é válida a fiança prestada por um dos conviventes sem a autorização do outro. Isso porque o entendimento de que a “fiança prestada sem autorização de um dos cônjuges implica a ineficácia total da garantia” (Súmula 332 do STJ), conquanto seja aplicável ao casamento, não tem aplicabilidade em relação à união estável. De fato, o casamento representa, por um lado, uma entidade familiar protegida pela CF e, por outro lado, um ato jurídico formal e solene do qual decorre uma relação jurídica com efeitos tipificados pelo ordenamento jurídico. A união estável, por sua vez, embora também represente uma entidade familiar amparada pela CF – uma vez que não há, sob o atual regime constitucional, famílias estigmatizadas como de

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Informativo N: 0535 12 de maro de 2014.

DIREITO CIVIL. INAPLICABILIDADE DA SMULA 332 DO STJ UNIO ESTVEL.Ainda que a unio estvel esteja formalizada por meio de escritura pblica, vlida a fiana prestada por um dos conviventes sem a autorizao do outro. Isso porque o entendimento de que a fiana prestada sem autorizao de um dos cnjuges implica a ineficcia total da garantia (Smula 332 do STJ), conquanto seja aplicvel ao casamento, no tem aplicabilidade em relao unio estvel. De fato, o casamento representa, por um lado, uma entidade familiar protegida pela CF e, por outro lado, um ato jurdico formal e solene do qual decorre uma relao jurdica com efeitos tipificados pelo ordenamento jurdico. A unio estvel, por sua vez, embora tambm represente uma entidade familiar amparada pela CF uma vez que no h, sob o atual regime constitucional, famlias estigmatizadas como de "segunda classe" , difere-se do casamento no tocante concepo deste como um ato jurdico formal e solene.

Alis, nunca se afirmou a completa e inexorvel coincidncia entre os institutos da unio estvel e do casamento, mas apenas a inexistncia de predileo constitucional ou de superioridade familiar do casamento em relao a outra espcie de entidade familiar. Sendo assim, apenas o casamento (e no a unio estvel) representa ato jurdico cartorrio e solene que gera presuno de publicidade do estado civil dos contratantes, atributo que parece ser a forma de assegurar a terceiros interessados cincia quanto a regime de bens, estatuto pessoa, patrimnio sucessrio, etc. Nesse contexto, como a outorga uxria para a prestao de fiana demanda absoluta certeza por parte dos interessados quanto disciplina dos bens vigente, e como essa segurana s obtida por meio de ato solene e pblico (como no caso do casamento), deve-se concluir que o entendimento presente na Smula 332 do STJ segundo a qual a fiana prestada sem autorizao de um dos cnjuges implica a ineficcia total da garantia , conquanto seja aplicvel ao casamento, no tem aplicabilidade em relao unio estvel. Alm disso, essa concluso no afastada diante da celebrao de escritura pblica entre os consortes, haja vista que a escritura pblica serve apenas como prova relativa de uma unio ftica, que no se sabe ao certo quando comea nem quando termina, no sendo ela prpria o ato constitutivo da unio estvel. Ademais, por no alterar o estado civil dos conviventes, para que dela o contratante tivesse conhecimento, ele teria que percorrer todos os cartrios de notas do Brasil, o que seria invivel e inexigvel. REsp 1.299.866-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomo, julgado em 25/2/2014.

Informativo N: 0535 12 de maro de 2014.DIREITO EMPRESARIAL. DIREITO DE REGRESSO RELACIONADO A CONTRATO DE FACTORING.A faturizadora tem direito de regresso contra a faturizada que, por contrato defactoring vinculado a nota promissria, tenha cedido duplicatas sem causa subjacente. Por um lado, a doutrina praticamente unnime no sentido de que a faturizadora no tem direito de regresso contra a faturizada com base no inadimplemento dos ttulos transferidos, haja vista que esse risco da essncia do contrato de factoring e por ele a faturizada paga preo at mais elevado do que pagaria, por exemplo, em um contrato de desconto bancrio, no qual a instituio financeira no garante a solvncia dos ttulos descontados. Por outro lado, essa circunstncia, no tem o alcance de afastar toda e qualquer responsabilidade da cedente em relao existncia do crdito, haja vista que tal garantia prpria da cesso de crdito comum pro soluto. por isso que a doutrina, de forma unssona, afirma que no contrato de factoring e na cesso de crdito ordinria a faturizada/cedente no garante a solvncia do crdito, mas a sua existncia sim. Cuida-se, na verdade, de expressa disposio legal, nos termos do que dispem os arts. 295 e 296 do CC. Nesse passo, o direito de regresso da faturizadora contra a faturizada deve ser garantido quando estiver em questo no um mero inadimplemento, mas a prpria existncia do crdito. No reconhecer tal responsabilidade quando o cedente vende crdito inexistente ou ilegtimo representa compactuar com a fraude e a m-f. bem verdade que h precedentes do STJ que no permitiram o regresso da faturizadora, em situaes que, aparentemente, diziam respeito a duplicatas frias. Em todas essas hipteses, porm, inexiste nota promissria emitida como garantia do negcio jurdico relacionado ao factoring, o que diferencia os julgados do caso em exame. Por sua vez, em reforo tese ora adotada, h outros precedentes que permitiram, inclusive, o pedido de falncia com base em nota promissria recebida como garantia de duplicatas apontadas como frias endossadas a sociedades defactoring. REsp 1.289.995-PE, Rel. Ministro Luis Felipe Salomo, julgado em 20/2/2014.

STJ, SMULA n. 503O prazo para ajuizamento de ao monitria em face do emitente de cheque sem fora executiva quinquenal, a contar do dia seguinte data de emisso estampada na crtula.DIREITO EMPRESARIAL. PRAZO PRESCRICIONAL PARA AJUIZAMENTO DE AO MONITRIA FUNDADA EM CHEQUE PRESCRITO. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ).O prazo para ajuizamento de ao monitria em face do emitente de cheque sem fora executiva quinquenal, a contar do dia seguinte data de emisso estampada na crtula. Com efeito, qualquer dvida resultante de documento pblico ou particular, tenha ou no fora executiva, submete-se ao prazo prescricional de cinco anos, que est previsto no art. 206, 5, I, do CC. Cabe registrar que o cheque ordem de pagamento vista que resulta na extino da obrigao originria, devendo conter a data de emisso da crtula requisito essencial para que produza efeito como cheque (art. 1, V, da Lei 7.357/1985 Lei do Cheque). O art. 132 do CC ainda esclarece que, salvo disposio legal ou convencional em contrrio, computam-se os prazos, excludo o dia do comeo e includo o do vencimento. Assim, o termo inicial para a fluncia do prazo prescricional para a perda da pretenso relativa ao crdito concernente obrigao originria corresponde ao dia seguinte quele constante no cheque (ordem de pagamento vista) como data de emisso quando, ento, se pode cogitar inrcia por parte do credor. REsp 1.101.412-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomo, julgado em 11/12/2013.

STJ, SMULA n. 504O prazo para ajuizamento de ao monitria em face do emitente de nota promissria sem fora executiva quinquenal, a contar do dia seguinte ao vencimento do ttulo.DIREITO EMPRESARIAL. PRAZO PRESCRICIONAL PARA AJUIZAMENTO DE AO MONITRIA FUNDADA EM NOTA PROMISSRIA PRESCRITA. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ)O prazo para ajuizamento de ao monitria em face do emitente de nota promissria sem fora executiva quinquenal, a contar do dia seguinte ao vencimento do ttulo. Com efeito, qualquer dvida resultante de documento pblico ou particular, tenha ou no fora executiva, submete-se ao prazo prescricional de cinco anos, que est previsto no art. 206, 5, I, do CC. Cabe registrar que a nota promissria ttulo de crdito abstrato, isto , pode ser emitida em decorrncia de qualquer negcio jurdico e o seu pagamento resulta na extino da obrigao originria. O art. 132 do CC ainda esclarece que, salvo disposio legal ou convencional em contrrio, computam-se os prazos, excludo o dia do comeo e includo o do vencimento. Assim, o termo inicial para a fluncia do prazo prescricional para a perda da pretenso relativa ao crdito concernente obrigao originria corresponde ao dia seguinte quele previsto na crtula para o pagamento do ttulo de crdito quando, ento, se pode cogitar inrcia por parte do credor. REsp 1.262.056-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomo, julgado em 11/12/2013.---------DIREITO DO CONSUMIDOR. ABUSIVIDADE DE CLUSULA DE CONTRATO DE PROMESSA DE COMPRA E VENDA DE IMVEL. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ).Em contrato de promessa de compra e venda de imvel submetido ao CDC, abusiva a clusula contratual que determine, no caso de resoluo, a restituio dos valores devidos somente ao trmino da obra ou de forma parcelada, independentemente de qual das partes tenha dado causa ao fim do negcio. De fato, a despeito da inexistncia literal de dispositivo que imponha a devoluo imediata do que devido pelo promitente vendedor de imvel, inegvel que o CDC optou por frmulas abertas para a nunciao das chamadas "prticas abusivas" e "clusulas abusivas", lanando mo de um rol meramente exemplificativo para descrev-las (arts. 39 e 51). Nessa linha, a jurisprudncia do STJ vem proclamando serem abusivas situaes como a ora em anlise, por ofensa ao art. 51, II e IV, do CDC, haja vista que poder o promitente vendedor, uma vez mais, revender o imvel a terceiros e, a um s tempo, auferir vantagem com os valores retidos, alm da prpria valorizao do imvel, como normalmente acontece. Se bem analisada, a referida clusula parece abusiva mesmo no mbito do direito comum, porquanto, desde o CC/1916 que foi reafirmado pelo CC/2002 , so ilcitas as clusulas puramente potestativas, assim entendidas aquelas que sujeitam a pactuao "ao puro arbtrio de uma das partes" (art. 115 do CC/1916 e art. 122 do CC/2002). Ademais, em hipteses como esta, revela-se evidente potestatividade, o que considerado abusivo tanto pelo art. 51, IX, do CDC quanto pelo art. 122 do CC/2002. A questo relativa culpa pelo desfazimento da pactuao resolve-se na calibragem do valor a ser restitudo ao comprador, no pela forma ou prazo de devoluo. Tese firmada para fins do art. 543-C do CPC: Em contratos submetidos ao Cdigo de Defesa do Consumidor, abusiva a clusula contratual que determina a restituio dos valores devidos somente ao trmino da obra ou de forma parcelada, na hiptese de resoluo de contrato de promessa de compra e venda de imvel, por culpa de quaisquer contratantes. Em tais avenas, deve ocorrer a imediata restituio das parcelas pagas pelo promitente comprador integralmente, em caso de culpa exclusiva do promitente vendedor/construtor, ou parcialmente, caso tenha sido o comprador quem deu causa ao desfazimento. Precedentes citados: AgRg no Ag 866.542-SC, Terceira Turma, DJe 11/12/2012; REsp 633.793-SC, Terceira Turma, DJ 27/6/2005; e AgRg no REsp 997.956-SC, Quarta Turma, DJe 02/8/2012. REsp 1.300.418-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomo, julgado em 13/11/2013.--------------DIREITO TRIBUTRIO. PROTESTO DE CDA. possvel o protesto de Certido de Dvida Ativa (CDA). No regime institudo pelo art. 1 da Lei 9.4921997 (Protesto o ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplncia e o descumprimento de obrigao originada em ttulos e outros documentos de dvida.), o protesto foi ampliado, desvinculando-se dos ttulos estritamente cambiariformes para abranger todos e quaisquer "ttulos ou documentos de dvida". Nesse sentido, h, tanto no STJ (REsp 750.805RS) quanto na Justia do Trabalho, precedentes que autorizam o protesto, por exemplo, de decises judiciais condenatrias, lquidas e certas, transitadas em julgado. Dada a natureza bifronte do protesto o qual representa, de um lado, instrumento para constituir o devedor em mora e provar a inadimplncia e, de outro, modalidade alternativa para cobrana de dvida , no dado ao Poder Judicirio substituir-se Administrao para eleger, sob o enfoque da necessidade (utilidade ou convenincia), as polticas pblicas para recuperao, no mbito extrajudicial, da dvida ativa da Fazenda Pblica. A manifestao sobre essa relevante matria, com base na valorao da necessidade e pertinncia desse instrumento extrajudicial de cobrana de dvida, carece de legitimao por romper com os princpios da independncia dos poderes (art. 2 da CF) e da imparcialidade. Quanto aos argumentos de que o ordenamento jurdico (Lei 6.8301980) j instituiu mecanismo para a recuperao do crdito fiscal e de que o sujeito passivo no participou da constituio do crdito, estes so falaciosos. A Lei das Execues Fiscais disciplina exclusivamente a cobrana judicial da dvida ativa e no autoriza, por si, a concluso de que veda, em carter permanente, a instituio ou utilizao de mecanismos de cobrana extrajudicial. A defesa da tese de impossibilidade do protesto seria razovel apenas se versasse sobre o "Auto de Lanamento", esse sim procedimento unilateral dotado de eficcia para imputar dbito ao sujeito passivo. A inscrio em dvida ativa, de onde se origina a posterior extrao da Certido que poder ser levada a protesto, decorre ou do exaurimento da instncia administrativa (na qual foi possvel impugnar o lanamento e interpor recursos administrativos) ou de documento de confisso de dvida, apresentado pelo prprio devedor (como o DCTF, a GIA e o Termo de Confisso para adeso ao parcelamento). O sujeito passivo, portanto, no pode alegar que houve "surpresa" ou "abuso de poder" na extrao da CDA, uma vez que esta pressupe sua participao na apurao do dbito. Note-se, alis, que o preenchimento e entrega da DCTF ou GIA (documentos de confisso de dvida) corresponde integralmente ao ato do emitente de cheque, nota promissria ou letra de cmbio. Outrossim, a possibilidade do protesto da CDA no implica ofensa aos princpios do contraditrio e do devido processo legal, pois subsiste, para todo e qualquer efeito, o controle jurisdicional, mediante provocao da parte interessada, em relao higidez do ttulo levado a protesto. Ademais, a Lei 9.4921997 deve ser interpretada em conjunto com o contexto histrico e social. De acordo com o "II Pacto Republicano de Estado por um sistema de Justia mais acessvel, gil e efetivo", definiu-se como meta especfica para dar agilidade e efetividade prestao jurisdicional a "reviso da legislao referente cobrana da dvida ativa da Fazenda Pblica, com vistas racionalizao dos procedimentos em mbito judicial e administrativo". Nesse sentido, o CNJ considerou que esto conformes com o princpio da legalidade normas expedidas pelas Corregedorias de Justia dos Estados do Rio de Janeiro e de Gois que, respectivamente, orientam seus rgos a providenciar e admitir o protesto de CDA e de sentenas condenatrias transitadas em julgado, relacionadas s obrigaes alimentares. A interpretao contextualizada da Lei 9.4921997 representa medida que corrobora a tendncia moderna de interseco dos regimes jurdicos prprios do Direito Pblico e Privado. REsp 1.126.515-PR, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 3/12/2013.-------------DIREITO CIVIL. PROVA EM AO NEGATRIA DE PATERNIDADE.Em ao negatria de paternidade, no possvel ao juiz declarar a nulidade do registro de nascimento com base, exclusivamente, na alegao de dvida acerca do vnculo biolgico do pai com o registrado, sem provas robustas da ocorrncia de erro escusvel quando do reconhecimento voluntrio da paternidade. O art. 1.604 do CC dispe que ningum pode vindicar estado contrrio ao que resulta do registro de nascimento, salvo provando-se erro ou falsidade do registro. Desse modo, o registro de nascimento tem valor absoluto, independentemente de a filiao ter se verificado no mbito do casamento ou fora dele, no se permitindo negar a paternidade, salvo se consistentes as provas do erro ou falsidade. Devido ao valor absoluto do registro, o erro apto a caracterizar o vcio de consentimento deve ser escusvel, no se admitindo, para esse fim, que o erro decorra de simples negligncia de quem registrou. Assim, em processos relacionados ao direito de filiao, necessrio que o julgador aprecie as controvrsias com prudncia para que o Poder Judicirio no venha a prejudicar a criana pelo mero capricho de um adulto que, livremente, a tenha reconhecido como filho em ato pblico e, posteriormente, por motivo vil, pretenda livrar-se do peso da paternidade. Portanto, o mero arrependimento no pode aniquilar o vnculo de filiao estabelecido, e a presuno de veracidade e autenticidade do registro de nascimento no pode ceder diante da falta de provas insofismveis do vcio de consentimento para a desconstituio do reconhecimento voluntrio da paternidade. REsp 1.272.691-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 5/11/2013.--------Smula 301: interpretao a contrario sensu aplicada ao filho: impossibilidadeDIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. EFEITOS DO NO COMPARECIMENTO DO FILHO MENOR DE IDADE PARA SUBMETER-SE A EXAME DE DNA.Em ao negatria de paternidade, o no comparecimento do filho menor de idade para submeter-se ao exame de DNA no induz presuno de inexistncia de paternidade. De fato, crucial que haja uma ponderao mnima para que se evite o uso imoderado de aes judiciais que tm aptido para expor a intimidade das pessoas envolvidas e causar danos irreparveis nas relaes interpessoais. Nesse contexto, no tico admitir que essas aes sejam propostas de maneira impensada ou por motivos esprios, como as movidas por sentimentos de revanchismo, por relacionamentos extraconjugais ou outras espcies de vinganas processuais injustificadas. Portanto, impende cotejar, de um lado, o direito identidade, como direito da personalidade, e, do outro, o direito honra e intimidade das pessoas afetadas, todos alados condio de direitos fundamentais. Alm disso, o sistema de provas no processo civil brasileiro permite que sejam utilizados todos os meios legais e moralmente legtimos para comprovar a verdade dos fatos. Assim, o exame gentico, embora de grande proveito, no pode ser considerado o nico meio de prova da paternidade, em um verdadeiro processo de sacralizao do DNA. Com efeito, no intuito de mitigar esse status de prova nica, a Lei 12.004/2009, acrescentando o art. 2-A da Lei 8.560/1992, positivou o entendimento constante da Smula 301 do STJ, segundo a qual, em ao investigatria, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz presuno juris tantum de paternidade, posicionamento aplicvel tambm ao no comparecimento injustificado daquele para a realizao do exame. Nesses casos, a recusa, por si s, no pode resultar na procedncia do pedido formulado em investigao ou negao de paternidade, pois a prova gentica no gera presuno absoluta, cabendo ao autor comprovar a possibilidade de procedncia do pedido por meio de outras provas. Nesse contexto, a interpretao a contrario sensu da Smula 301 do STJ, de forma a desconstituir a paternidade devido ao no comparecimento do menor ao exame gentico, atenta contra a diretriz constitucional e preceitos do CC e do ECA, tendo em vista que o ordenamento jurdico brasileiro protege, com absoluta prioridade, a dignidade e a liberdade da criana e do adolescente, instituindo o princpio do melhor interesse do menor e seu direito identidade e desenvolvimento da personalidade. Vale ressaltar, ainda, que o no comparecimento do menor ao exame h de ser atribudo me, visto que ela a responsvel pelos atos do filho. REsp 1.272.691-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 5/11/2013.----------DIREITO CIVIL. LEGITIMIDADE ATIVA PARA REQUERER DESCONSIDERAO INVERSA DE PERSONALIDADE JURDICA.Se o scio controlador de sociedade empresria transferir parte de seus bens pessoa jurdica controlada com o intuito de fraudar partilha em dissoluo de unio estvel, a companheira prejudicada, ainda que integre a sociedade empresria na condio de scia minoritria, ter legitimidade para requerer a desconsiderao inversa da personalidade jurdica de modo a resguardar sua meao. Inicialmente, ressalte-se que a Terceira Turma do STJ j decidiu pela possibilidade de desconsiderao inversa da personalidade jurdica que se caracteriza pelo afastamento da autonomia patrimonial da sociedade, para, contrariamente do que ocorre na desconsiderao da personalidade jurdica propriamente dita, atingir o ente coletivo e seu patrimnio social, de modo a responsabilizar a pessoa jurdica por obrigaes do scio , em razo de uma interpretao teleolgica do art. 50 do CC/2002 (REsp 948.117-MS, DJe 3/8/2010). Quanto legitimidade para atuar como parte no processo, por possuir, em regra, vinculao com o direito material, conferida, na maioria das vezes, somente aos titulares da relao de direito material. Dessa forma, a legitimidade para requerer a desconsiderao atribuda, em regra, ao familiar que tenha sido lesado, titular do direito material perseguido, consoante a regra segundo a qual Ningum poder pleitear, em nome prprio, direito alheio, salvo quando autorizado por lei (art. 6 do CPC). Nota-se, nesse contexto, que a legitimidade para requerer a desconsiderao inversa da personalidade jurdica da sociedade no decorre da condio de scia, mas sim da condio de companheira do scio controlador acusado de cometer abuso de direito com o intuito de fraudar a partilha. Alm do mais, embora a companheira que se considera lesada tambm seja scia, seria muito difcil a ela, quando no impossvel, investigar os bens da empresa e garantir que eles no seriam indevidamente dissipados antes da concluso da partilha, haja vista a condio de scia minoritria. REsp 1.236.916-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/10/2013.-------------DIREITO CIVIL. DIREITO REAL DE HABITAO.A companheira sobrevivente faz jus ao direito real de habitao (art. 1.831 do CC) sobre o imvel no qual convivia com o companheiro falecido, ainda que tenha adquirido outro imvel residencial com o dinheiro recebido do seguro de vida do de cujus. De fato, o art. 1.831 do CC reconhece ao cnjuge sobrevivente, qualquer que seja o regime de bens, sem prejuzo da participao que lhe caiba na herana, o direito real de habitao relativamente ao imvel destinado residncia da famlia, desde que seja o nico daquela natureza a inventariar, silenciando quanto extenso desse direito ao companheiro sobrevivente. No entanto, a regra contida no art. 226, 3, da CF, que reconhece a unio estvel entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua converso em casamento, norma de incluso, sendo contrria ao seu esprito a tentativa de lhe extrair efeitos discriminatrios entre cnjuge e companheiro. Assim sendo, o direto real de habitao contido no art. 1.831 do CC deve ser aplicado tambm ao companheiro sobrevivente (REsp 821.660-DF, Terceira Turma, DJe 17/6/2011). Alm do mais, o fato de a companheira ter adquirido outro imvel residencial com o dinheiro recebido pelo seguro de vida do de cujus no resulta excluso do direito real de habitao referente ao imvel em que residia com seu companheiro, ao tempo da abertura da sucesso, uma vez que, segundo o art. 794 do CC, no seguro de vida, para o caso de morte, o capital estipulado no est sujeitos s dvidas do segurado, nem se considera herana para todos os efeitos de direito. Dessa forma, se o dinheiro do seguro no se insere no patrimnio do de cujus, no h falar em restrio ao direito real de habitao, porquanto o imvel adquirido pela companheira sobrevivente no faz parte dos bens a inventariar. REsp 1.249.227-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomo, julgado em 17/12/2013-----------DIREITO PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTRIO. NUS DA PROVA REFERENTE IMUNIDADE TRIBUTRIA DE ENTIDADE DE RELIGIOSA.Para fins de cobrana de ITBI, do municpio o nus da prova de que imvel pertencente a entidade religiosa est desvinculado de sua destinao institucional. De fato, em se tratando de entidade religiosa, h presuno relativa de que o imvel da entidade est vinculado s suas finalidades essenciais, o que impede a cobrana de impostos sobre aquele imvel de acordo com o art. 150, VI, c, da CF. Nesse contexto, a descaracterizao dessa presuno para que incida ITBI sobre imvel de entidade religiosa nus da Fazenda Pblica municipal, nos termos do art. 333, II, do CPC. Precedentes citados: AgRg no AREsp 239.268-MG, Segunda Turma, DJe 12.12.2012 e AgRg no AG 849.285-MG, Primeira Turma, DJ 17.5.2007. AgRg no AREsp 444.193-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 4/2/2014.DIREITO CIVIL. PRORROGAO AUTOMTICA DE FIANA EM CONTRATO DE MTUO BANCRIO.Havendo expressa e clara previso contratual da manuteno da fiana prestada em contrato de mtuo bancrio em caso de prorrogao do contrato principal, o pacto acessrio tambm prorrogado automaticamente. O contrato de mtuo bancrio tem por caracterstica ser, em regra, de adeso e de longa durao, vigendo e renovando-se periodicamente por longo perodo. A fiana, elemento essencial para a manuteno do equilbrio contratual do mtuo bancrio, tem como caractersticas a acessoriedade, a unilateralidade, a gratuidade e a subsidiariedade. Alm disso, no se admite, na fiana, interpretao extensiva de suas clusulas, a fim de assegurar que o fiador esteja ciente de todos os termos do contrato de fiana firmado, inclusive do sistema de prorrogao automtica da garantia. Esclarea-se, por oportuno, que no admitir interpretao extensiva significa to somente que o fiador responde, precisamente, por aquilo que declarou no instrumento da fiana. Nesse contexto, no h ilegalidade na previso contratual expressa de que a fiana prorroga-se automaticamente com a prorrogao do contrato principal. Com efeito, como a fiana tem o propsito de transferir para o fiador o risco do inadimplemento, tendo o pacto contratual previsto, em caso de prorrogao da avena principal, a sua prorrogao automtica sem que tenha havido notificao resilitria, novao, transao ou concesso de moratria relativamente obrigao principal , no h falar em extino da garantia pessoal. Ressalte-se, nesse ponto, que poder o fiador, querendo, promover a notificao resilitria nos moldes do disposto no art. 835 do CC, a fim de se exonerar da fiana. REsp 1.374.836-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomo, julgado em 3/10/2013.DIREITO CIVIL. INDENIZAO POR DANOS MORAIS A PESSOA JURDICA DE DIREITO PBLICO.A pessoa jurdica de direito pblico no tem direito indenizao por danos morais relacionados violao da honra ou da imagem. ... Finalmente, cumpre dizer que no socorrem os entes de direito pblico os prprios fundamentos utilizados pela jurisprudncia do STJ e pela doutrina para sufragar o dano moral da pessoa jurdica. Nesse contexto, registre-se que a Smula 227 do STJ (A pessoa jurdica pode sofrer dano moral) constitui soluo pragmtica recomposio de danos de ordem material de difcil liquidao. Trata-se de resguardar a credibilidade mercadolgica ou a reputao negocial da empresa, que poderiam ser paulatinamente fragmentadas por violaes de sua imagem, o que, ao fim, conduziria a uma perda pecuniria na atividade empresarial. Porm, esse cenrio no se verifica no caso de suposta violao da imagem ou da honra de pessoa jurdica de direito pblico. REsp 1.258.389-PB, Rel. Min. Luis Felipe Salomo, julgado em 17/12/2013.DIREITO CIVIL. OBRIGAO DE PRESTAR ALIMENTOS.O esplio de genitor do autor de ao de alimentos no possui legitimidade para figurar no polo passivo da ao na hiptese em que inexista obrigao alimentar assumida pelo genitor por acordo ou deciso judicial antes da sua morte. De fato, o art. 23 da Lei do Divrcio e o art. 1.700 do CC estabelecem que a obrigao de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor. Ocorre que, de acordo com a jurisprudncia do STJ e com a doutrina majoritria, esses dispositivos s podem ser invocados se a obrigao alimentar j fora estabelecida anteriormente ao falecimento do autor da herana por acordo ou sentena judicial. Isso porque esses dispositivos no se referem transmissibilidade em abstrato do dever jurdico de prestar alimentos, mas apenas transmisso (para os herdeiros do devedor) de obrigao alimentar j assumida pelo genitor por acordo ou deciso judicial antes da sua morte. Precedentes citados: AgRg no REsp 981.180/RS, Terceira Turma, DJe 15/12/2010; e REsp 1.130.742/DF, Quarta Turma, DJe 17/12/2012. REsp 1.337.862-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomo, julgado em 11/2/2014.DIREITO PENAL. AUTOFINANCIAMENTO PARA O TRFICO DE DROGASNa hiptese de autofinanciamento para o trfico ilcito de drogas, no h concurso material entre os crimes de trfico (art. 33, caput, da Lei 11.343/2006) e de financiamento ao trfico (art. 36), devendo, nessa situao, ser o agente condenado s penas do crime de trfico com incidncia da causa de aumento de pena prevista no art. 40, VII. De acordo com a doutrina, denomina-se autofinanciamento a situao em que o agente atua, ao mesmo tempo, como financiador e como traficante.O legislador, ao prever como delito autnomo a atividade de financiar ou custear o trfico (art. 36 da Lei 11.343/2006), objetivou em exceo teoria monista punir o agente que no tem participao direta na execuo no trfico, limitando-se a fornecer dinheiro ou bens para subsidiar a mercancia, sem importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor venda, oferecer, ter em depsito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas ilicitamente. Observa-se, ademais, que, para os casos de trfico cumulado com o financiamento ou custeio da prtica do crime, expressamente foi estabelecida a aplicao da causa de aumento de pena do art. 40, VII, da referida lei, cabendo ressaltar, entretanto, que a aplicao da aludida causa de aumento de pena cumulada com a condenao pelo financiamento ou custeio do trfico configuraria inegvel bis in idem. De outro modo, atestar a impossibilidade de aplicao daquela causa de aumento em casos de autofinanciamento para o trfico levaria concluso de que a previso do art. 40, VII, seria incua quanto s penas do art. 33, caput. REsp 1.290.296-PR, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 17/12/2013