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HABEAS CORPUS N 196.497 - SP (20110024581-0)RELATORA:MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA

IMPETRANTE:JOS MIGUEL DA SILVA JNIOR E OUTROS

ADVOGADO:JOS MIGUEL DA SILVA JNIOR E OUTRO (S)

IMPETRADO:TRIBUNAL DE JUSTIA MILITAR DO ESTADO DE SOPAULO

PACIENTE:FBIO DTILO

PACIENTE:OSVALDO MENDES PINTO NETO

PACIENTE:MANOEL VIEIRA JUNIOR

EMENTAHABEAS CORPUS.IMPETRAO SUBSTITUTIVA DE RECURSOORDINRIO. IMPROPRIEDADE DA VIA ELEITA. FURTO COMDESTRUIO DE CAIXA ELETRNICO DE BANCO. POLICIAISMILITARES. INTERCEPTAO TELEFNICA. DECISO JUDICIAL.FALTA DE FUNDAMENTAO. NO OCORRNCIA. NULIDADE.AFASTAMENTO. TRANCAMENTO DA AO PENAL POR INPCIADA DENNCIA. PEDIDO PREJUDICADO. SUPERVENINCIA DESENTENA CONDENATRIA. NO CONHECIMENTO DOWRIT.

1. imperiosa a necessidade de racionalizao do emprego dohabeascorpus, em prestgio ao mbito de cognio da garantia constitucional, e, emlouvor lgica do sistema recursal.In casu, foi impetrada indevidamente aordem como substitutiva de recurso ordinrio.

2. No ilegal a deciso judicial de interceptao telefnica se, bemfundamentada, expe a necessidade da medida, nos termos da lei de regncia,tendo em vista o acervo investigativo que lhe deu supedneo, a gravidade dosfatos (policiais envolvidos em furto de caixas eletrnicos de bancos) eindispensabilidade da medida.

3. Fica prejudicado o trancamento da ao penal, por inpcia da denncia, emface da supervenincia de sentena condenatria, ainda mais se, como naespcie, est a alegao atrelada nulidade das interceptao telefnica,devidamente afastada.

4. Ausncia de ilegalidade flagrante apta a fazer relevar a impropriedade davia eleita.

5.Habeas corpusem parte julgado prejudicado e no mais no conhecido.

ACRDOVistos, relatados e discutidos os autos em que so partes as acima indicadas,acordam os Ministros da SEXTA Turma do Superior Tribunal de Justia: A Sexta Turma, porunanimidade, julgou parcialmente prejudicado o pedido e, no mais, dele no conheceu, nostermos do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros Sebastio Reis Jnior(Presidente) e Marilza Maynard (Desembargadora Convocada do TJSE) votaram com a Sra.Ministra Relatora.

Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Rogerio Schietti Cruz.

Braslia, 11 de maro de 2014 (Data do Julgamento)

Ministra Maria Thereza de Assis Moura

Relatora

HABEAS CORPUS N 196.497 - SP (20110024581-0)RELATORA:MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA

IMPETRANTE:JOS MIGUEL DA SILVA JNIOR E OUTROS

ADVOGADO:JOS MIGUEL DA SILVA JNIOR E OUTRO (S)

IMPETRADO:

PACIENTE:FBIO DTILO

PACIENTE:OSVALDO MENDES PINTO NETO

PACIENTE:MANOEL VIEIRA JUNIOR

RELATRIOMINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA:Trata-se dehabeas corpus, com pedido liminar, impetrado em favor deFBIO DTILO, OSVALDO MENDER PINTO NETO e MANOEL VIEIRA JUNIOR,apontando-se como autoridade coatora o Tribunal de Justia Militar do Estado de So Paulo(HC n. 2.23910).

Narra a impetrao que os pacientes foram denunciados como incursos, porduas vezes, no artigo240, 6, incisos I e IV, cc os arts.53,79e70, III, alnea g, cc art.9,II, alneac, todos doCdigo Penal Militar, sendo decretada sua priso preventiva.

Irresignada, a Defesa impetrou o prviowrit, mas a ordem foi denegada,conforme a seguinte ementa (fl. 15):

POLICIAL MILITAR - Habeas Corpus - Alegao da existncia dcprova ilcita decorrente de interceptao telefnica - Inpcia da denncia -Priso preventiva que no se justifica e viola o principio da presuno deinocncia - Pedido de trancamento da ao penal, reconhecimento denulidade de prova ilcita ou concesso de liberdade provisria -Interceptao telefnica realizada com a devida autorizao judicial -Observncia do disposto na Lei n9.29696 - Garantia da sujeio da provaao princpio do contraditrio - Denncia oferecida nos exatos termos doart.77doCPPM- Descrio dos fatos e individualizaro das condutasdevidamente demonstradas - Substrato ftico-probatrio suficiente paraincio e desenvolvimento da ao penal - Anlise mais aprofundada queultrapassaria os estreitos limites do habeas corpus - Priso preventivadecretada de forma motivada e de acordo com os preceitos legais -Revogao pelo motivo da convenincia da instruo criminal - Manutenodiante da existncia de outros motivos que ensejaram a custdia cautelar -Art.255, letras a, c, d, e e doCPPM- Liberdade provisriaindeferida para garantia da ordem pblica, periculosidade dos acusados,segurana da aplicao da lei penal militar e por exigncia da manutenodos princpios de hierarquia e disciplina - Aplicao do princpio dapresuno de inocncia no inviabiliza a decretao de priso provisria seesta medida adotada de acordo com os requisitos legais - Ordemdenegada.

No presentemandamus, os impetrantes sustentam que nula a quebra dosigilo telefnico dos pacientes, pois no havia autorizao judicial para tal fim, porquanto adefesa somente teria tido acesso s gravaes no dia 21 de dezembro de 2010, pouco antes dointerrogatrio, com violao do art.8da Lei9.29696.

Aduzem que a denncia inepta, pois no preenche os requisitos do art.77doCdigo de Processo Penal Militar, deixando de individualizar a conduta de cada ru.

Defendem que a denncia est "lastreada por degravaes que so meios deprovas isoladas, no tendo outras que corroboram as alegaes da pea vestibular, que totalmente confusa no descrevendo os fatos com preciso e clareza" (fl. 10).

Requerem, liminarmente e no mrito, o trancamento da ao penal ou,subsidiariamente, o desentranhamento das interceptaes telefnicas, bem como dabilhetagem oriunda da quebra do sigilo telefnico dos pacientes.

Indeferida a liminar (fls. 3334) e prestadas informaes (fls. 46107 e fls.108542), o Ministrio Pblico Federal opinou pela denegao da ordem (fls. 545550).

Informaes complementares (fls. 559567), prestadas em outubro de 2013,esclareceram que, quela poca, estavam os pacientes condenados, por sentena transitadaem julgado para o Ministrio Pblico, da seguinte forma: 05 anos e 03 meses de recluso, noregime semiaberto, para os pacientes Fbio Dtilo e Manoel Vieira Jnior e 04 anos e 08meses de recluso, no regime semiaberto, para o paciente Osvaldo Mendes Pinto Neto.

Em consulta ao stio eletrnico do Tribunal de Justia Militar do Estado de SoPaulo, apurou-se que a apelao dos pacientes ainda no foi julgada (fls. 569570).

o relatrio.

HABEAS CORPUS N 196.497 - SP (20110024581-0)EMENTAHABEAS CORPUS.IMPETRAO SUBSTITUTIVA DE RECURSOORDINRIO. IMPROPRIEDADE DA VIA ELEITA. FURTO COMDESTRUIO DE CAIXA ELETRNICO DE BANCO. POLICIAISMILITARES. INTERCEPTAO TELEFNICA. DECISO JUDICIAL.FALTA DE FUNDAMENTAO. NO OCORRNCIA. NULIDADE.AFASTAMENTO. TRANCAMENTO DA AO PENAL POR INPCIADA DENNCIA. PEDIDO PREJUDICADO. SUPERVENINCIA DESENTENA CONDENATRIA. NO CONHECIMENTO DOWRIT.

1. imperiosa a necessidade de racionalizao do emprego dohabeascorpus, em prestgio ao mbito de cognio da garantia constitucional, e, emlouvor lgica do sistema recursal.In casu, foi impetrada indevidamente aordem como substitutiva de recurso ordinrio.

2. No ilegal a deciso judicial de interceptao telefnica se, bemfundamentada, expe a necessidade da medida, nos termos da lei de regncia,tendo em vista o acervo investigativo que lhe deu supedneo, a gravidade dosfatos (policiais envolvidos em furto de caixas eletrnicos de bancos) eindispensabilidade da medida.

3. Fica prejudicado o trancamento da ao penal, por inpcia da denncia, emface da supervenincia de sentena condenatria, ainda mais se, como naespcie, est a alegao atrelada nulidade da interceptao telefnica,devidamente afastada.

4. Ausncia de ilegalidade flagrante apta a fazer relevar a impropriedade davia eleita.

5.Habeas corpusem parte julgado prejudicado e no mais no conhecido.

VOTOMINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA (Relatora):Preliminarmente, cumpre registrar a compreenso firmada nesta Corte,sintonizada com o entendimento do Pretrio Excelso, de que se deve racionalizar o empregodohabeas corpus, valorizando a lgica do sistema recursal. Nesse sentido:

HABEAS CORPUS JULGAMENTO POR TRIBUNAL SUPERIOR IMPUGNAO. A teor do disposto no artigo102, incisoII, alnea a, daConstituio Federal, contra deciso, proferida em processo revelador dehabeas corpus, a implicar a no concesso da ordem, cabvel o recursoordinrio. Evoluo quanto admissibilidade do substitutivo do habeascorpus. PROCESSO-CRIME DILIGNCIAS INADEQUAO. Umavez inexistente base para o implemento de diligncias, cumpre ao Juzo, naconduo do processo, indeferi-las.

(HC 109956, Relator (a): Min. MARCO AURLIO, Primeira Turma,julgado em 07082012, PROCESSO ELETRNICO DJe-178 DIVULG10-09-2012 PUBLIC 11-09-2012)

inadmissvel que se apresente como mera escolha a interposio de recursoordinrio, do recurso especialagravo de inadmisso do Resp ou a impetrao dohabeascorpus. imperioso promover-se a racionalizao do emprego domandamus, sob pena desua hipertrofia representar verdadeiro ndice de ineficcia da interveno dos TribunaisSuperiores. Inexistente clara ilegalidade, no de se conhecer da impetrao.

Passa-se, ento, verificao da ocorrncia de patente ilegalidade.

No tocante interceptao telefnica, duas so as alegaes: a) que a provadecorrente da interceptao telefnica nula, porque no estava nos autos principais, mas emapenso, que deveria ter sido apresentado defesa, prejudicada pelo fato de somente tertomado conhecimento das gravaes em 21 de dezembro de 2010 e b) que a denncia inepta porque no teria descrito, de maneira suficiente, a conduta de cada ru.

de se ver, inicialmente, que o raciocnio da defesa um tantosui generis,porque, ao que se pode dessumir, pelo modo em que redigida a irresignao, seria nula ainterceptao telefnica, por falta de deciso judicial fundamentada, porque a cincia da provasomente teria ocorrido no final da instruo, pouco antes do interrogatrio, em 21 de dezembrode 2010. Na viso da defesa, estando o material gravado em apenso, deveria ter-lhe sidoapresentado.

Ora, a partir do momento em que a defesa faz carga dos autos ou a eles temacesso, pressupe-se que tomou conhecimento de tudo o que eles encerram, sejam osprincipais eou os apensos. Outrossim, no se conhece na lei processual penal regradeterminando que os apensos de um processo tem de ser"apresentados" defesa. Se estoapensos, cabe ao advogado a eles acorrer e se inteirar do que consta naqueles autos-apensos.Veja-se, no se alega que os apensos estivessem em algum lugar diferente ou separados dosautos principais e, pois, se estavam"apensos", ou seja, atrelados queloutros autos principais,no h como amparar uma lgica de nulidade nestes termos apresentada.

O acrdo atacado, neste particular, muito claro em consignar que, muitoantes da data alegada (21 de dezembro de 2010) a defesa tivera acesso s transcries doque fora gravado, em 15 de dezembro de 2010, tanto que teria pedido o desentranhamento daprova, por t-la como rrita.

Alm disso, as interceptaes foram realizadas ainda na fase inquisitorial,constando nos autos no s a notcia da sua realizao, mas descrio detalhada do que forarealizado, no alentado relatrio do Inqurito Policial Militar. Nesse contexto, no faz,datavenia, sentido algum a lgica da impetrao no sentido de ser ilegal a prova por estar emapenso, at porque a medida cautelar efetivada em autos apartados e, depois de concluda costumeiramente apensada aos autos principais.

Confira-se, por oportuno, a fundamentao do julgado do Tribunal de origem,secundado, inclusive, por jurisprudncia deste Superior Tribunal de Justia (fls. 1924):

No que tange aos questionamentos apresentados em relao quebrado sigilo telefnico dos pacientes, o exame dos autos apartados nos quaisse encontram as Medidas Cautelares de ns 2.75410 e 2.68610 permiteconstatar que foram devidamente observadas as disposies contidas naLei n9.296, de 24 de julho de 1996, que regulamentou a parte final doincisoXIIdo artigo5daConstituio Federal.

......

Sem razo os impetrantes ao pretenderem se valer do contido nacertido, cuja cpia consta das fls. 27, expedida pelo Coordenador doCartrio da 4 Auditoria Militar, para tentarem demonstrar a existncia deprova ilcita, interpretando o teor daquela certido de forma tal aprocurarem sustentar que somente no dia 21 de dezembro teriam tomadoconhecimento da existncia de autos apartados relacionados com ainterceptao telefnica.

Conforme bem destacou o juzo ao prestar as informaes a elerequeridas, contraditria de certa forma a alegao apresentada pelosimpetrantes no sentido de que no teria tido acesso aos autos apartadosrelacionados com as interceptaes telefnicas at o dia 21 de dezembro,uma vez que, por outro lado, na Sesso de Incio de Sumrio, realizada nodia 15 de dezembro, conforme Ata constante das fls. 257259, consta opedido por eles formulado para que fossem desentranhadas dos autos asprovas relativas s interceptaes telefnicas.

Alm disso, h de se registrar que tanto no relatrio do inqurito policialmilitar, elaborado pelo Oficial encarregado da apurao (fls. 75171),quanto na denncia ofertada pelo Ministrio Pblico (fls. 5972), queinclusive menciona expressamente a "bilhetagem", s fls. 1.0631.070 dosautos principais, bem como no prprio decreto da priso preventiva (fls.176179), citada a realizao da interceptao das comunicaestelefnicas entre os trs pacientes e os envolvidos nos fatos, tendo,inclusive, o referido relatrio do IPM apresentado detalhada descrio sobreas provas resultantes da adoo dessa medida, garantindo-se dessa formana sua inteireza a vigncia do princpio do contraditrio no processo emcurso na Primeira Instncia, que ainda se encontra na fase do artigo417, 2, doCPPM.

Nessa conformidade, deferida a medida cautelar nos exatos termos daLei9.29696, uma vez que existiam sim indcios razoveis de autoria ou departicipao em infrao penal em delito punvel com pena de recluso (art.2, I e III); que foi determinada pelo Juzo a requerimento da autoridade depolcia judiciria militar, na investigao criminal (art. 3, I); e, querepresentou no sentido da necessidade da medida (art. 2, II), no h comoreconhecer qualquer vcio na produo da prova decorrente dainterceptao das comunicaes telefnicas.

No tocante ao assunto, o C. Superior Tribunal de Justia, em recentejulgamento do Habeas Corpus n 126.231-RS, realizado em 09.11.2010,que teve como Relator o Ministro Gilson Dipp, assim se expressou:

"PENAL. HABEAS CORPUS. TRFICO DE ENTORPECENTES.INTERCEPTAO TELEFNICA. DEFERIMENTO DA MEDIDA EPRORROGAES DEVIDAMENTE FUNDAMENTADAS. LEGALIDADEDA MEDIDA. INDISPENSABILIDADE DA MEDIDA DEMONSTRADA.DEGRAVAO INTEGRAL. DESNECESSIDADE. NULIDADE. NOOCORRNCIA. ESCUTA REALIZADA FORA DO PERODO DEMONITORAMENTO. OCORRNCIA. DESENTRANHAMENTO.DESCONSIDERAO COMO MEIO DE PROVA. NULIDADE DASPROVAS SEGUINTES. NO VERIFICAO. ORDEMPARCIALMENTE CONCEDIDA.I. Hiptese em que as decises de deferimento de interceptaotelefnica e de prorrogao da medida encontram-se adequadamentefundamentadas, eis que proferidas cm acolhimento s postulacs daautoridade policial necessrias para a continuidade das investigaes emcurso voltadas para a apurao da prtica do delito de trfico deentorpecentes.II. A jurisprudncia do Supremo Tribunal FederaI consolidou oentendimento segundo o qual as interceptaes telefnicas podem serprorrogadas desde que devidamente fundamentadas pelo juzo competentequanto necessidade para o prosseguimento das investigaes" (STF, RHC88371SP, 2 Turma, Rei. Min. Gilmar Mendes, DJU de 020207).

III. In casu, o monitoramento foi deferido nos exatos termos da Lei9.296(...), uma vez que, havendo indcios razoveis de autoria ouparticipao em infrao penal em delito punvel com pena de recluso, foideterminado pela Juza a requerimento da autoridade policial, nainvestigao criminal, que representou no sentido da necessidade damedida.IV.Entendimento jurisprudencial no sentido de que a averiguao daindispensabilidade da medida como meio de prova no pode ser apreciadana via do habeas corpus, diante da necessidade de dilao probatria que sefaria necessria.V.Desnecessidade de transcrio integral dos dilogos gravados durantea quebra do sigilo telefnico. Precedentes.

VI.Dada a regularidade da medida, tem-se como legtimas asdiligncias advindas das interceptaes telefnicas realizadas, quais sejam, apriso em flagrante e a busca e apreenso, bem como de todo oprocedimento criminal, a sentena condenatria e a priso do ru, eis queembasados em elementos de prova idneos.

VII.Verificada a realizao dc escuta cm data no includa no perodode monitoramento autorizado, a mesma deve ser excluda e desconsideradacomo meio de prova, o que no representa a nulidade das provas seguintesque no derivaram desta escuta em particular, mas do primeirodeferimento, proferido cm consonncia com as disposies legais.

VIII. Ordem parcialmente concedida.

De outra parte, com olhos especficos na decretao da quebra do sigilotelefnico no caso concreto, no se pode afirmar no existir nos autos deciso fundamentadade juiz para a diligncia. Esto juntadas dez (10) decises do Juiz de Direito CorregedorPermanente. A primeira, autorizando (fls. 8081), originariamente as interceptaestelefnicas e tambm as de prorrogao e redirecionamento das escutas (fls. 82106).

Pelo que delas se dessume, se no so um primor de tcnica jurdica, tambmno podem ser consideradas desprovidas de fundamentos, porque so ditos claros e objetivos,com observncia dos parmetros legais, aptos realizao das diligncias, mostrando aexistncia de inqurito policial militar, a gravidade dos fatos (pena de recluso) e aindispensabilidade das escutas para aprofundar nas investigaes.

A deciso de quebra (originria), prolatada em 2 de julho de 2010, est assimredigida (fls. 8081):

1 - Vistos.

2 - Por ofcios n 35BPMM-011000610 e 011120610, datados de010710 e 020710 respectivamente, o Encarregado do IPM acimareferido, o Cap PM Lourival Wladimir de Abreu Pereira, solicita autorizaojudicial para interceptao das comunicaes telefnicas dos seguintes IDs,da Operadora NEXTEL: 11*10874, com redirecionamento para a linha (12)9188-3716; 93*37107, com redirecionamento para a linha (12) 8122-3796;86*27690, com redirecionamento para a linha (12) 9188-3826; 86*18566,com redirecionamento para a linha (12) 9110-7988; 7*4198, comredirecionamento para a linha (12) 9188-3742 e 82*25765, comredirecionamento para a linha (12) 8127-9685.

3 - Solicita que a Operadora acima mencionada fornea senha paraacesso ao histrico de ligaes e localizao de torres utilizadas (chamadasefetuadas e recebidas), bem como a quebra de cadastro), e que todas asinformaes sejam remetidas para o [email protected] - Solicita, tambm, que seja disponibilizada senha junto as OperadorasTIM, VIVO, NEXTEL, OI e CLARO, para acesso ao histrico de ligaese localizaes de torres utilizadas (chamadas efetuadas e recebidas), bemcomo a quebra de cadastro, e dados que possibilitem a localizaoaproximada dos interlocutores de todos os nmeros de telefones envolvidosat o momento (futuros interlocutores dos nmeros interceptados) ao CapPM Lourival Wladimir de Abreu Pereira, CPF 057.070.948-22 e 1 Ten PMClovis Lucindo da Silva, CPF 253.442.928-05.

5 - O expediente foi com vista ao Excelentssimo representante doMinistrio Pblico que se manifestou favoravelmente s fls. 07.

6 - Decido.

7 - Da representao do Senhor Encarregado constata-se que o IPMvisa apurar, em tese, crime praticado por oficial da PMESP, afigurando-seindispensvel, pois, para melhor elucidao dos fatos, a vinda desta espciede prova aos autos: provvel conversao telefnica entre pessoassuspeitas e o investigado. Pelos tipos de crimes que se apuram, ainterceptao telefnica da comunicao entre os suspeitos eficaz e nopode ser substituda por outros meios de prova.

8 - Defiro pois as realizao da interceptao telefnica, nos termos daLei n 9.296, de 27041996, e da Resoluo n 59, de 09092008, doConselho Nacional de Justia, por estarem presentes os requisitos do"fumus boni iuris" - tudo indica que os crimes ocorreram e, qui, ocorrem- e do "periculum in mora", a demora no atendimento do pedido podecausar prejuzo investigao criminal.

9 - As interceptaes das comunicaes duraro 15 (quinze) dias,podendo ser renovveis por igual tempo, por este Juzo, desde que o OficialEncarregado solicite e demonstre a indispensabilidade por meio de provas.

10 - Oficie-se Operadora para que sejam remetidas, diariamente, arelao de chamadas originadas e recebidas pelas linhas interceptadas, e deseus respectivos ID, bem como sejam fornecidos os dados cadastrais dosassinantes das linhas alvo para o [email protected] - Requisite-se que sejam disponibilizadas operao e senha de acessoao sistema Vigia ou equivalente, para acesso a ERBs, em tempo real, dosalvos e seus interlocutores para o Cap PM Lourival Wladimir de AbreuPereira, CPF 057.070.948-22 e 1 Ten PM Clovis Lucindo da Silva, CPF253.442.928-05.

12 - Solicita, tambm, que seja determinado s Operadoras Tim, Vivo,Oi e Claro a liberao de senha judicial, caso os alvos acima mencionados einterceptados realizem contato telefnico com interlocutores usurios dasempresas citadas.

13 - Fica, desde logo, determinada a transcrio (degravao) para osautos do que for gravado na operao.

14 - A interceptao de comunicao telefnica ser processada emAutos Apartados, apensados aos Autos do Inqurito Policial Militar,preservando-se o sigilo das diligncias, gravaes e transcriesrespectivas.

15 - Requisite-se do encarregado do IPM a retirada do presenteexpediente para a execuo dos procedimentos autorizados, lanando-se ociente e responsabilizando-se pelo fiel cumprimento do que lhe cabe, nostermos da Lei.16- D-se cincia ao Ministrio Pblico.

Vale ressaltar que so fatos envolvendo policiais militares que teriamparticipado de furtos a caixas eletrnicos de bancos, sendo certo que a portaria de instauraodo IPM de 04 de maio de 2010, o que demonstra que antes da quebra do sigilo telefnico asinvestigaes transcorreram por dois meses (a primeira de 2 de julho de 2010). No se podeafirmar tratar-se de diligncias prospectivas.

Alis, o relatrio do Inqurito Policial Militar d a dimenso do que forainvestigado e apurado antes das interceptaes telefnicas (fls. 131133):

1.8. PROVAS PERICIAIS

1.8.1. das fls. 137 s 154, encontra-se a Informao Tcnica n022510 que diz respeito a percia realizada nas imagens do circuito internodo Banco do Brasil;

1.8.2. das fls. 155 s 168, encontra-se o Laudo de Material udioVisual n 368310 que diz respeito a percia realizada nos computadores(servidor) da Lanchonete Habib"s, os quais armazenavam as imagens docircuito internoexterno, e poderiam ter registrado o possvel encontro dosPoliciais Militares e os infratores civis na noite do crime;

1.8.3 das fls. 225 s 233, encontra-se o Laudo Pericial n 428410 quediz respeito a localizao dos veculos de marca Fiat, modelo Fiorino,utilizados para transportar os caixas eletrnicos na data dos fatos;

1.8.4. das fls. 234 s 243, encontra-se o laudo Pericial n 425810 quediz respeito ao Banco Real;

1.8.5. das fls. 244 s 250, encontra-se o laudo Pericial n 27210 quediz respeito ao Banco do Brasil.

1.9 INSTRUMENTOS, OBJETOS E COISAS APREENDIDAS:

1.9.1. Em cumprimento dos mandados de busca e apreenso, das fls.376 s 534, foram apreendidos diversos objetos, tais como cilindros deacetileno, cilindros de oxignio, mscaras protetoras, mangueiras emaaricos de cortes utilizados para arrombamento de caixas eletrnicos,ps de cabras, cabos de ao, celulares, CPU, munies de diversos calibres(cal. .40, . 380 e .38), coletes balsticos, toucas"ninjas"entre outros, osquais foram encaminhados ao Instituto de Criminalstica, conforme ofciosacostados s 905, e os objetos que no interessavam para as investigaes,foram devolvidos em Autos prprios aos respectivos interessados.

1.10. OUTROS DADOS TEIS:

1.10.1. nas fls. 885, consta o Fluxograma de ligaes telefnicasreferente a madrugada de 160410, compreendendo o horrio das 02:00 s05:00 horas;

1.10.2. nas fls. 884, consta o Organograma estrutural dos integrantesda quadrilha;

1.10.3. das fls. 252 s 260, encontram-se as cpias das telas decadastro das ocorrncias - COPOM-Mogi, havidas momentos antes dosfurtos aos caixas eletrnicos.

2. DOS FATOS

Constata-se que os fatos ocorreram da seguinte forma:

2.1. Na madrugada do dia dezesseis de abril de dois mil e dez, por voltadas 03:29 horas, uma quadrilha formada por aproximadamente dezoitointegrantes, utilizando-se de veculos modelos PoloVW, Peugeot206,MontanaGM, SpaceFoxVW, FiorinoFiat, e outros no identificados,totalizando um nmero aproximado de nove carros, desembarcaram naPraa Padre Joo lvares n 185 - Centro - ItaquaquecetubaSP, armadosde pistolas, metralhadoras e fuzis, mediante concurso de pessoasromperam e destruram obstculos para consumarem o furto a dois caixaseletrnicos do Banco do Brasil, subtraindo a quantia de R$ 427.340,00(quatrocentos e vinte e sete mil e trezento e quarenta reais), conformeOfcio do referido banco, fls. 221.

2.1.1. Concomitante a ao acima descrita, outros indivduosdesencadeavam o furto aos caixas eletrnicos do Banco Real, localizado naRua Sebastio Ferreira dos Santos n. 175, Centro-ItaquaquecetubaSP,utilizando-se de maarico, vieram a cortar dos caixas eletrnicos, vindo asubtrair a quantia de R$ 56.440,00 (cinquenta e seis mil quatrocentos equarenta reais), conforme Ofcio do referido banco acostado as fls. 540.

2.1.2. Fixou latente, logo no incio das apuraes, o possvelenvolvimento de policiais militares com os delitos acima citados, pois oscriminosos que adentraram no Banco do Brasil realizaram conduta depatrulha, ou seja, tcnica policial de tomada de ambiente; junte-se a isso,outros fatores determinantes, tais como: a audcia dos infratores derealizarem os furtos aos caixas eletrnicos que estavam localizados amenos de cem metros da Base Comunitria Central (banco do brasil) e amenos de cem metros da Delegacia de Polcia (Banco Real).

2.1.3. Os criminosos que atuaram no banco do brasil, conformeimagens do circuito interno, fls. 137 ss, sequer se preocuparam com apresena de policiais militares que se encontravam a aproximadamente 100(cem) metros de distncia do local dos fatos (Base PM Centro), poisconforme as imagens do circuito externo, fls. 807 e 808, os infratores nemse preocupam em vigiar o lado da Praa Joo lvares, onde seencontravam trs policiais militares de servio na Base Comunitria da PM.As imagens demonstram que no fixou nenhum infrator na viglia(conteno) de uma possvel chegada de viatura policial, ou at mesmo achegada dos policiais militares da base centro PM. Contudo, possvelnotar que um dos criminosos j desce do veculo se comunicando em umcelular, e permanece durante toda a empreitada criminosa, ou seja, naverdade est sendo monitorado por algum que possui informaesprivilegiadas, como comunicao da rede-rdio (COPOM), de modo queficou bvio que os criminosos sabiam que as viaturas PM, bem como ospoliciais militares da Base Centro, no chegariam naquele local de crime,mantendo-se afastados, permitindo assim, que eles (criminosos) agissemtranquilamente na empreitada delituosa.

No h, portanto, se falar em nulidade das interceptaes por falta de decisojudicial fundamentada.

Por fim, o trancamento da ao penal, por inpcia da denncia, encontra-seprejudicado, diante da supervenincia de sentena condenatria, porquanto no faz maissentido em decidir se a pea acusatria apta ao desencadeamento dapersecutiose j hpronunciamento sobre o prprio mrito da acusao, depois de tudo o quanto fora coligido sobo crivo do contraditrio, ainda mais porque, na espcie, veio a pecha atrelada nulidade dasinterceptaes telefnicas, devidamente afastadas.

A propsito, confiram-se as seguintes ementas desta Corte:

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DO RECURSO CABVEL.IMPOSSIBILIDADE. NO CONHECIMENTO. HOMICDIOQUALIFICADO. EXCESSO DE LINGUAGEM NA PRONNCIA.INEXISTNCIA. FUNDAMENTAO DO DECRETO DE PRISOCAUTELAR. INPCIA DA DENNCIA. EXCESSO DE PRAZO PARA AFORMAO DA CULPA. PERDA DE OBJETO. SENTENACONDENATRIA TRANSITADA EM JULGADO.

1. Esta Corte no deve continuar a admitir a impetrao de habeascorpus (originrio) como substitutivo de recurso, dada a clareza dotexto constitucional, que prev expressamente a via recursal prpria aoenfrentamento de insurgncias voltadas contra acrdos que no atendams pretenses veiculadas por meio do writ nas instncias ordinrias.

2. Verificada hiptese de deduo de habeas corpus em lugar dorecurso cabvel, impe-se o no conhecimento da impetrao, nadaimpedindo, contudo, que se corrija de ofcio eventual ilegalidade flagrantecomo forma de coarctar o constrangimento ilegal.

3. Alegaes de excesso de linguagem na sentena de pronncia,inpcia da denncia, ausncia de fundamentao para a custdia cautelar, ede excesso de prazo para a formao da culpa.

4. No caso em apreo, ao examinar a fundamentao exarada nasentena de pronncia, no se vislumbra qualquer concluso categricaquanto efetiva responsabilidade do paciente. Suposto excesso delinguagem no configurado. Referncias acerca da possvel autoria delitivacom base nos depoimentos das testemunhas.

5. Quanto ao que mais se alega, observa-se que o presente writ, naverdade, perdeu o objeto, pois a priso, antes cautelar, tornou-se definitivadecorrente de condenao transitada em julgado, no havendo mais se falarem excesso de prazo para a formao da culpa, ou mesmo de ausncia defundamento para a priso.

6. Consoante entendimento das Cortes Superiores, a alegao deinpcia da denncia perde fora diante da supervenincia de sentenacondenatria," ttulo jurdico que afasta a dvida quanto existnciade elementos suficientes no s para a inaugurao do processo penalcomo tambm para a prpria condenao"(HC n.88.963RJ, RelatorMinistro Carlos Britto, DJ de 1142008).7. Impetrao prejudicada em parte, e no mais, no conhecida.

(HC 207.313ES, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEXTA TURMA,julgado em 04042013, DJe 16042013)

PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EMHABEAS CORPUS. TRANCAMENTO DA AO PENAL, PORAUSNCIA DE JUSTA CAUSA. ALEGAO DE INPCIA DADENNCIA. SUPERVENINCIA DA SENTENA CONDENATRIA.WRIT PREJUDICADO. JURISPRUDNCIA DO STJ. AGRAVOREGIMENTAL DESPROVIDO.

I. A supervenincia de sentena condenatria - que considerouapta a denncia e as provas suficientes para a condenao - tornasem objeto o habeas corpus, em que se busca o trancamento da AoPenal, em face da ausncia de justa causa, por inpcia da denncia,que no teria descrito, suficientemente, o fato delituoso e todas assuas circunstncias, quanto ao ora paciente.II. No julgamento da apelao, perante o Tribunal de 2 Grau, em que acognio mais ampla, poder ser verificada a aptido da pea acusatria,em face das provas, a existncia de provas da materialidade do delito e desua autoria, inclusive em relao ao paciente (STJ, AgRg no RHC33.119GO, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTATURMA, DJe de 04122012; HC 148.669SC, Rel. Ministro OGFERNANDES, SEXTA TURMA, DJe de 25102012; HC 84.644SP, Rel.Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, DJe de01072010).

III. Agravo Regimental desprovido.

(AgRg no HC 68.075SP, Rel. Ministra ASSUSETE MAGALHES,SEXTA TURMA, julgado em 19022013, DJe 01032013)

Assim, tem-se que a impetrao substitutiva no comporta a extraordinriacognio.

Ante o exposto, julgo prejudicado, em parte, estehabeas corpuse, no mais,dele no conheo.

como voto.

CERTIDO DE JULGAMENTOSEXTA TURMANmero Registro: 20110024581-0PROCESSO ELETRNICOHC 196.497 SP

Nmero Origem: 22392010

MATRIA CRIMINAL

EM MESAJULGADO: 11032014

RelatoraExma. Sra. MinistraMARIA THEREZA DE ASSIS MOURAPresidente da Sesso

Exmo. Sr. Ministro SEBASTIO REIS JNIOR

Subprocuradora-Geral da Repblica

Exma. Sra. Dra. RAQUEL ELIAS FERREIRA DODGE

Secretrio

Bel. ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA

AUTUAOIMPETRANTE:JOS MIGUEL DA SILVA JNIOR E OUTROS

ADVOGADO:JOS MIGUEL DA SILVA JNIOR E OUTRO (S)

IMPETRADO:TRIBUNAL DE JUSTIA MILITAR DO ESTADO DE SO PAULO

PACIENTE:FBIO DTILO

PACIENTE:OSVALDO MENDES PINTO NETO

PACIENTE:MANOEL VIEIRA JUNIOR

ASSUNTO: DIREITO PROCESSUAL PENAL - Ao Penal - Trancamento

CERTIDOCertifico que a egrgia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epgrafe na sessorealizada nesta data, proferiu a seguinte deciso:

A Sexta Turma, por unanimidade, julgou parcialmente prejudicado o pedido e, no mais,dele no conheceu, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora.

Os Srs. Ministros Sebastio Reis Jnior (Presidente) e Marilza Maynard(Desembargadora Convocada do TJSE) votaram com a Sra. Ministra Relatora.

Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Rogerio Schietti Cruz.

M&PODER JUDICIRIOTRIBUNAL DE JUSTIA DE SO PAULOTRIBUNAL DE JUSTIA DE SO PAULO

ACRDO/DECISO MONOCRATICA

REGISTRADO (A) SOB N

ACRDO1046*

Vistos, relatados e discutidos estes autos de

Habeas Corpus n 990.09.311695-2, da Comarca de

Jundia, em que so impetrantes ALBERTO ZACHARIAS

TORON, EDSON JUNJI TORIHARA, CLAUDIA MARIA SONCINI

BERNASCONI, RENATO MARQUES MARTINS e Paciente MARCEL

TEREZAN.

ACORDAM,em 15* Cmara de Direito Criminal do

Tribunal de Justia de So Paulo, proferir a seguinte

deciso: "DENEGARAM A ORDEM. V. U. FAR DECLARAO DE

VOTO VENCEDOR O 3 o JUIZ, DES. AMADO FARIA.", de

conformidade com o voto do Relator, que integra este

acrdo.

O julgamento teve a participao dos

Desembargadores RIBEIRO DOS SANTOS (Presidente),

PEDRO GAGLIARDI E AMADO DE FARIA.

So Paul tie) abril de 2010.

RIBEIRO7DOS SANTOSPRESIDENTE E? RELATOR

PODER JUDICIRIO

TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE SO PAULO

15 Cmara Criminal

HABE AS CORPUS n 990.09.311695-2

Voto n 15.068

IMPETRANTES: OS ADVS. ALBERTO ZACHARIAS TORON, EDSON JUNJI

TORIHARA, CLAUDIA M. S. BERNASCONI e RENATO

MARQUES MARTINS

PACIENTE: MARCEL TEREZAN

COMARCA: JUNDIA

TRANCAMENTO DA AO PENAL -Inpcia da denncia Inocorrncia -Indcios suficientes de autoria e

materialidade que autorizam a

propositura da ao penal e o exerccio da

ampla defesa - Inteligncia do artigo 41 do Cdigo de Processo Penai

QUEBRA DE SIGILO BANCRIO,

FISCAL E TELEFNICO - Deciso

carente de fundamentao - No

acolhimento - Autorizao judicial

embasada em representao oferecida

pela autoridade policial justificando a

necessidade da medida Precedentes do Superior Tribunal de Justia.

NULIDADE DE OBTENO DE

DADOS CADASTRAIS DE LINHAS

TELEFNICAS - Inocorrncia -Fornecimento de senha pelo Juiz

Corregedor dos Presdios ao Delegado da Corregedoria Auxiliar com a finalidade de clere fornecimento das informaes

necessrias s/ investigaes policiais,

tratando-se, n/este oaso, de quebra de

sigilo de dados eAio de interceptao telefnica - (fRpEMDENEGADA.

1

PODER JUDICIRIOTRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE SO PAULO15 Cmara CriminalHABEAS CORPUS n 990.09311695-2Voto n 15.068Trata-se de Habeas Corpus impetrado pelos advogadosALBERTO ZACHARIAS TORON, EDSON JUNJI TORIHARA, CLAUDIAM. S. BERNASCONI e RENATO MARQUES MARTINSem favor deMARCEL TEREZAN,alegando que este sofre constrangimento ilegal perante o MM. Juzo da 2 Vara Judicial do Foro Distrital de Campo Limpo Paulista, Comarca de Jundia, porquanto recebeu denncia inepta, decretou a quebra de seus sigilos bancrio, fiscal e telefnico sem a imprescindvel fundamentao idnea, permitindo ainda, a obteno de dados sigilosos por meio de senha concedida autoridade policial. Pleiteia, assim, a anulao da ao penal e das decises acoimadas de nulas.

A medida liminar restou indeferida (fls. 78/80).

Prestadas as informaes pela douta autoridade impetrada, opinou a Procuradoria Geral de Justia pela denegao da ordem.

rE o relatrio.Trata-se de ao penal intentada contra o empresrioMARCEL TEREZAN,ora paciente, e os policiais civis ANTNIO BATISTA DE OLIVEIRA, RUBENS ALVES, VALDECIR ROBERTO DE PAULA, CRISTIANO GERALDO DE ARAJO e ROGRIO AR7ELRM0 DA SILVA, e ainda Adilson Jos de Almeida, Cicelina Mocinha Pirpejpel Karolski e Elcio

2

PODER JUDICIRIOTRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE SO PAULO15 Cmara CriminalHABEAS CORPUS n 990.09.311695-2Voto n 15.068Peletti, pela suposta prtica dos delitos de concusso, seqestro, tortura, denunciao caluniosa e corrupo passiva.

Em sntese, a acusao imputa aos policiais o

envolvimento com o empresrioMARCEL TEREZAN,na explorao de mquinas caa-nqueis. Assim, em decorrncia da influncia e subordinao ao referido empresrio, supostamente foram cometidos os crimes descritos na denncia.

Alegam os impetrantes, resumidamente, total impossibilidade de defesa, ante o recebimento da denncia inepta e genrica. Insurgem-se, tambm, contra a deciso imotivada que determinou a quebra dos sigilos fiscal, bancrio e telefnico, opondo-se ainda contra a utilizao indiscriminada de senhas concedidas previamente pelo Juiz Corregedor da Polcia Judiciria de Campo Limpo Paulista autoridade policial com o objetivo de obter dados cadastrais telefnicos.

A irresignao no prosseguimento da ao pecal nos termos em que foi proposta no comporta acolhimento, porque, conforme entendimento jurisprudencial, "Existindo prova, indiciaria que seja, dalautoria e do fato penalmente punvel, no h falar em falta de justa causa warapirocesso

PODER JUDICIRIOTRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE SO PAULO15 Cmara CriminalHABEAS CORPUS n 990.09.311695-2Voto n 15.068na esfera criminal". (RJDTACrim, vol.3, julho/setembro, 1989, relator Nogueira Filho, voto vencido Marrey Neto).

Portanto, s seria possvel a anulao da actio na forma perseguida por esta via, vale dizer, que medida de exceo, se emergisse dos autos de forma indubitvel a inocncia do acusado, a atipicidade da conduta ou a extino de sua punibilidade.

E, no caso em anlise, a exordial acusatria trouxe em seu bojo indcios suficientes de autoria e materialidade que autorizaram a propositura da ao. Alis, para oferecer denncia, baseou-se o representante ministerial em farta documentao produzida nos autos de inqurito policial conduzido pela Corregedoria da Polcia Civil.

Portanto, a pea inaugural encontra-se apta, obedecendo todos os requisitos do art.41doCdigo de Processo Penal, porquanto descreve com detalhes, os fatos e os classifica adequadamente, demonstrando suficientemente a condutalem tese praticada pelo paciente, conforme se extrai da leitura s fls. 25/33, possibilitando de forma indubitvel o exerccio do direito de defesa em toda a sua extertoj

4PODER JUDICIRIOTRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE SO PAULO15 Cmara CriminalHABEAS CORPUS n990.09.311695-2Voto n 15.068Resumidamente, infere-se da pea acusatria que

MARCEL TEREZAN,operador de jogo ilegal, teria ordenado aos policiais

civis que capturassem e investigassem Victor Rubio Camargo e Aurlio Tiago

Bianchini, eis que agindo em conluio, furtaram componentes eletrnicos

instalados em mquinas de jogo de azar de propriedade do empresrio. Assim, os

policiais seqestraram as vtimas, exigiram-lhes dinheiro, dentre outras prticas

ilcitas.

Desta feita, descrito o fato criminoso e seu suposto

autor, no h que se falar em inpcia da denncia ou falta de justa causa para

credenciar a ao penal ao trancamento.

Neste sentido o posicionamento da jurisprudncia

ptria:

"AO PENAL - Justa causa - Exame pretendido em

" Habeas corpus "- Denncia que descreve fato em tese criminoso - Matria dependente de apreciao de prova incompatvel com o mbito restrito da via eleita

- Ordem denegada" (TACrimSP - RT 676/303).

"Habeas-Corpus - Trancamento da ao penal por falta de justa causa - Hipteses. Somente possvel \o

trancamento de ao penal por falta dejusta causa, se, prima facie', constatar-se a atipicidade da conduta ou

a inocncia do acusado. Definido, em tese, olmcito

5 f FPODER JUDICIRIOTRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE SO PAULO15 Cmara CriminalHABEAS CORPUS n 990.09.311695-2Voto n 15.068penal e apontada a autoria, no h razo para que se

obste o Prosseguimento do processo". (HC n 990081319063 SP - TJSP)

"Habeas-corpus. Trancamento da ao penal.

Existncia de causas que autorizam o trancamento da ao penal. Prescrio da pretenso punitiva. Ordem concedida. O trancamento da ao penal por falta de justa causa, na via estreita". (Habeas-Corpus n

2502008 MA-TJMA)

"Trancamento de ao penal. Inviabilidade.

Descrevendo a denncia fato tpico, antijurdico e culpvel, em tese, no h como se dar acolhida pretenso de trancamento da Ao Penal". (HC

1446757 PR - HC Crime 0144675-7 - TJPR)

Ademais, os detalhes questionados pela defesa e que no

se fazem presentes na denncia no so capazes de torn-la inepta, at porque a lei

processual penal exige indcios de autoria e materialidade para a instaurao da ao,

sendo no processo ordinrio que se far a valorao do conjunto probatrio, para

diz-los adequados ou no a um juzo condenatrio.

Incabvel, portanto, o trancamento pretendido atravs

do presente ym ante a presena de justa causa, no se verificando qualquer

constrangir ilegal que demande a concesso do remdio herico buscado

neste aspec

6

PODER JUDICIRIOTRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE SO PAULO15 Cmara CriminalHABEAS CORPUS n 990.09.311695-2Voto n 15.068No que se refere alegada nulidade da deciso de quebra dos sigilos fiscal, bancrio e telefnico por falta de fundamentao, em que pesem as ponderaes dos impetrantes, o pleito aqui tambm no pode ser acolhido.

que os sigilos bancrio, fiscal e telefnico, apesar de serem garantias individuais, podem ser violados em casos denotadores de ilegalidade e com autorizao judicial. Logo, no so garantias absolutas, tratando-se de direito relativo, que deve ceder diante do interesse coletivo. Portanto, quando assume carter de excepcionalidade, visando buscar a verdade dos fatos e instruir procedimentos investigatrios, so permitidos acesso a dados e documentos bancrios, bem como s interceptaes telefnicas. Por conseguinte, o que a lei veda o fornecimento indiscriminado e imotivado de informaes sigilosas.

Este o posicionamento do Supremo Tribunal Federal: "A quebra do sigilo bancrio no afronta o artigo5, incisosXeXII, daConstituio Federal(Precedente: Pet. 577)" (RT 715/549).

Como afirma CELSO BASTOS, "a quebra de si

bancrio s admitida quando baseada em razes fundamentadas, ondei

interesse pblico relevante, como o da investigao criminal ou insjtrrf&o

PODER JUDICIRIOTRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE SO PAULO15 Cmara CriminalHABEAS CORPUS n 990.09.311695-2Voto n 15.068processual penal ou em virtude da excepcionalidade do motivo, desde que

mediante a autorizao judicial".

Portanto, "o que cumpre ser feito uma legislao

cuidadosa que permita a manuteno dos princpios da privacidade e do sigilo

de dados, sem torn-los basties de criminalidade. De resto, reza a sabedoria

popular que quem no deve no teme. A recproca verdadeira". (Sacha

Calmon Navarro Coelho, "Caderno de Pesquisa Tributria", v, 18, Ed. Resenha

Tributria, 1993, SP, p. 100).

Nesse sentido est assentada a jurisprudncia das

Cortes Superiores:

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO

DE INSTRUMENTO. MATRIA

INFRACONSTITUCIONAL. SIGILO BANCRIO.

QUEBRA. PROCEDIMENTO LEGAL. OFENSA

INDIRETA CONSTITUIODO BRASIL. 1.

Controvrsia decidida luz de normas

infraconstitucionais. Ofensa indireta Constituiodo Brasil. 2. O sigilo bancrio, espcie de direito privacidade protegido pelaConstituiode 1988, no

absoluto, pois deve ceder diante dos interesses

pblico, social / da Justia. Assim, deve ceder

tambm na forma e:om observncia de procedimento legal e com respeito ao princpio da razoabilidade.

Precedentes. rf^Asgravo regimental a que se nega

PODER JUDICIRIOTRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE SO PAULO15 Cmara CriminalHABEAS CORPUS n990.09.311695-2Voto n 15.068provimento. (STF - AI-AgR 655298/SP - Rei. Min.

Eros Grau).

MANDADO DE SEGURANA. SIGILO BANCRIO.

PRETENSO ADMINISTRATIVA FISCAL. RGIDAS EXIGNCIAS E PRECEDENTE AUTORIZAO

JUDICIAL. LEI8.021/90 (ART 5 , PARGRAFO

NICO). I. O sigilo bancrio no constitui direito absoluto, podendo ser desvendado diante de fundadas razes, ou da excepcionalidade do motivo, em

medidas e procedimentos administrativos, com

submisso a precedente autorizao judicial.

Constitui ilegalidade a sua quebra em processamento fiscal, deliberado ao alvitre de simples autorizao

administrativa. 2. Reservas existentes autoaplicao do art.8,pargrafo nico, da Lei8.021/90 (REsp. 22.824-8-CE - Rei. Min. Antnio de Pdua Ribeiro) 3. Precedentes jurisprudenciais. 4. Recurso sem provimento. (STJ - REsp. 114741/DF - Rei. Min. Milton Luiz Pereira).

CRIMINAL. RESP. INQURITO POLICIAL.

QUEBRA DE SIGILO BANCRIO, TELEFNICO E FISCAL. FUNDAMENTAO SUFICIENTE.

AUSNCIA DE PROTEO ABSOLUTA AO

SIGILO. RESPALDO LEGAL. RELATIVIDADE DO DIREITO PRIVACIDADE. LEGALIDADE DA

MEDIDA. RECURSO PROVIDO. II. A proteo aos sigilos bancrio, telefnico e fiscal no direito

absoluto, podendo ps mesmos serem quebrados

quando houver a prevalncia do direito pblico sobre o privado, na apw-a^ao de fatos delituosos ou na instruo dos paoaessos criminais, desde que a

PODER JUDICIRIOTRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE SO PAULO15 Cmara CriminalHABEAS CORPUS n 990.09.311695-2Voto n 15.068deciso esteja adequadamente fundamentada na

necessidade da medida. Precedentes. (RESP

690877VIU, 5 Turma, Min. Rei. Gilson Dipp, DJUde 30/05/2005).

Como se sabe, o feito, na fase inquisitorial, visa a apurao de materialidade, autoria e tipificao, ainda sendo pesquisados os fatos, sobretudo para determinao do tipo, se culposo ou doloso, em relao aos eventos ocorridos.

In casu, presentes os indcios de autoria e do fato penalmente punvel, necessria a produo da prova pleiteada pela autoridade policial, em busca de elementos informativos, objetivando compor o conjunto probatrio essencial para que o Ministrio Pblico forme, enquanto destinatrio precpuo das atividades investigatrias desenvolvidas pela Polcia Judiciria, a sua opinio delicti.

Ademais, no caso em tela, a quebra dos sigilos fiscal, bancrio e telefnico do paciente, ao contrrio do alegado, lastreou-se em deciso fundamentada, embora sucinta, conforme se v s fls. 40 e 97/98.

Ocorre que a deciso guerreada faz meno expressa representao oferecida pela autoridade policial, que justificou com mincias a necessidade da medida, ratificando sua validada

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PODER JUDICIRIOTRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE SO PAULO15 Cmara CriminalHABEAS CORPUS n 990.09.311695-2Voto n 15.068Neste sentido, j decidiu o E. Superior Tribunal de Justia:

"As decises que decretaram a quebra do sigilo bancrio e a interceptao telefnica, ao se remeterem expressamente aos fundamentos utilizados pelo Ministrio Pblico e pela autoridade policial,

restaram suficientemente motivadas" (STJ - HC n 51.586-PE - Rei. Min. Maria Thereza de Assis Moura - 6 Turma).

Por derradeiro, o argumento de nulidade do requerimento para quebra do sigilo de dados cadastrais de linhas telefnicas do paciente tambm no prospera. Neste sentido, esclareceu a indigitada autoridade impetrada que "O MM. Juiz de Direito Jefferson Barbin Torelli forneceu sua senha judicial ao requerente, Delegado da Corregedoria Auxiliar (fls. 938/941). Logo, no h que se cogitar de ausncia de autorizao judicial. Acrescento ainda que, tratando-se de medida tomada em sede de inqurito policial conduzido pela Corregedoria de Polcia, o MM. Juiz mencionado, na condio de portador da senha fornecida pela Corregedoria dos Presdios e Polcia Judiciri/ipor meio de regular procedimento, tinha competncia para o ato praticado, ifulidade existiria se o requerente tivesse tido acesso senha do Juiz, sem sua autorizao, ou se o Magistrado no tivesse jurisdio criminal" (fls. 97/98&T % V

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PODER JUDICIRIOTRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE SO PAULO15 Cmara CriminalHABEAS CORPUS n 990.09.311695-2Voto n 15.068Como registrado, o presente caso no trata de interceptao telefnica, eis que o alvo do inconformismo so os dados dos usurios e no o contedo das ligaes telefnicas.

A interceptao distingue-se da quebra de sigilo de dados, sendo que a primeira hiptese refere-se captao da conversa, enquanto que a segunda hiptese diz respeito aos registros das ligaes realizadas, nmero dos telefones discados, dados pessoais e as Estaes de Rdio Base - ERB's -utilizadas pela linha.

A deciso, com base neste prisma, no se apresenta genrica e indeterminada e foi proferida com a premissa de garantir um fornecimento clere das informaes necessrias s investigaes policiais e ao combate aos crimes em geral, privilegiando assim, o princpio da segurana social.

E o Desembargador Federal NFI CORDEIRO, em seu voto no jul ;amento d/ Apelao no Mandado de Segurana n 2004.71.00.022811-2/RS, seguido' por unanimidade pela 7 Turma do Tribunal Regional 4 Regio, vai aln

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PODER JUDICIRIOTRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE SO PAULO15 Cmara CriminalHABEAS CORPUS n 990.09.311695-2Voto n 15.068"Diversa , porm, a situao concernente ao acesso aos registros telefnicos. No meu entendimento, sobre tais dados inexiste previso constitucional ou legal de sigilo, pois no fazem parte da intimidade da pessoa, assim como sobre eles no paira o princpio da reserva jurisdicional".

O julgamento ficou assim ementado: "MANDADO DE SEGURANA. GARANTIA CONSTITUCIONAL. SIGILO TELEFNICO. PEDIDO DE INFORMAO. CADASTRO DE USURIO DE OPERADORA DE TELEFONIA MVEL. DELEGACIA DE POLCIA FEDERAL. INQURITO. DESNECESSIDADE DE AUTORIZAO JUDICIAL. DIREITO DE

INTIMIDADE. NO-VIOLAO. DIREITO LQUIDO E CERTO.

INEXISTNCIA. 1.Havendo inqurito policial regularmente instaurado eexistindo necessidade de acesso a dados cadastrais de cliente de operadora detelefonia mvel, sem qualquer indagao quanto ao teor das conversas, talpedido prescinde de autorizao judiciai2. H uma necessria distino entre interceptao (escuta) das comunicaes telefnicas, inteiramente submetida ao princpio constitucional da reserva de jurisdio (CF, art.5,XII) de um lado, e o fornecimento dos dados (registros) telefnicos, de outro. 3. O art.7da Lei9.296/96 - regulamentadora do inciso XII, parte final, do art.5daConstituio Federal determina poder, a autoridade policial, para os procedimentos de interceptao de que trata, requisitar servios e tcnicos especializados s concessionrias de servio pblico. Se o ordenamento jurdico confere tal prerrogativa autoridade policial, com muito mais razo, confere-a, tambm, em casos tais, onde pretenda-se, to-somente informaes acerca de dados cadastrais. 4. No havendo violao ao direito de segredo das comunicaes, inexiste direito lquido e certo a ser protegido, bem como no h qualquer ilegalidade ou abuso de poder por parte da autoridade apontada como coatora".

Nenhum constrangimento ilegal, portanto, evidenciase, sendo de rigor o indeferimento do writ em sua integralidadj>r

13 LJfPODER JUDICIRIOTRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE SO PAULO15 Cmara CriminalHABEAS CORPUS n 990.09.311695-2Voto n 15.068Isto posto, denega-se o Habeas Corpus.

RIBEIRO DOS SANTOSRelator14PODER JUDICIRIO

TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE SO PAULO

Dcima Quinta Cmara Criminal

Voto n 8.642

Processo n. TJSP 990.09.311.695-2 - Pedido de "Habeas Corpus"

Comarca de Jundia

Paciente MARCEL TEREZAN

Relator Desembargador RIBEIRO DOS SANTOS - Voto 15 068

DECLARAO DE VOTOSenhor Presidente, acompanho a soluo

preconizada por Vossa Excelncia no seu brilhante voto condutor do Acrdo.

Acrescento algumas consideraes, em

homenagem s sustentaes orais, ambas com aprofundados argumentos, posto que necessrio fixar alguns pontos da controvrsia suscitada na impetrao do pedido de "habeas corpus".

A propalada inpcia da Denncia no

est configurada. A Pea Inicial ofertada pela Promotoria de Justia contm descrio clara das condutas que perfazem a "imputado libelli".

PODER JUDICIRIO

TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE SO PAULO

Dcima Quinta Cmara Criminal

A crtica concernente ao emprego da

expresso"por ordem","concessa venia", infundada.

Com efeito, cumpre distinguir, na

imputao, aqueles vocbulos que reclamam explicitao do "modus operandi" do agente, para permitir que se compreenda o

desenvolvimento da ao ilcita, daqueles outros em que o cerne da ao delitiva neles j est contido.

inevitvel lembrar, por conseguinte, que

o Direito, quer como cincia, quer enquanto hermenutica de inteleco da norma jurdica, se encontra entrelaado com a lingstica.

O emprego da linguagem como meio de

comunicao da regra normativa exige a anlise de seu significado, ou seja, incide aqui a Etimologia.

Considerando que a Etimologia

representa "o estudo das palavras, de sua histria, e das possveis

mudanas de seu significado, alm da origem e evoluo histrica de um vocbulo" , AURLIO BUARQUE DE HOLANDA FERREIRA - "in"

Dicionrio Eletrnico, no se pode olvidar que "dar ordem" ou ordenar ou mandar possuem significado unvoco.

No se estando frente a vocbulo

equvoco, cujo significado se subordina forma de realizao comportamental, no h se cogitar da inpcia da Denncia.

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A relao entre a norma, sob o prisma da

pragmtica jurdica ou conjunto de suas regras e formalidades, j foi realada pela Teoria dos Signos ou semitica, formulada como uma resposta a este vnculo da sintaxe com a semntica, esta incorporando os objetos extralingsticos.

Neste campo, CARNAP ("Introduction to

Semantics" , Cambridge, 1947) e MORRIS ("Foundations of the Theory of Signs" , Chicago, 1938), alm da obra de "Language and Behavior" de ENGLEWOOD CLIFFS que remonta a 1946.

Consulta-se, ainda, a respeito do tema, o

Professor Doutor TRCIO SAMPAIO FERRAZ JNIOR, em seu magnfico opsculo intitulado "Teoria da Norma Jurdica", I edio, Cia. Editora Forense, 1978, Rio de Janeiro, p. 2 e seguintes.

Descabe maior explicitao da expresso

em comento,"por ordem"possui um nico significado e prescinde de explicitao do modo como o agente ordenou aos demais acusados a realizao de alguma conduta ilcita.

irrelevante, ento, explicitar como o

mandante de um crime o ordenou. Mister somente que a Justia Pblica venha a se desincumbir do nus de provar em juzo que o agente indicado na Denncia o emissor da ordem de execuo da conduta criminosa perpetrada pelos demais agentes.

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Anoto, de outra parte, que a discusso

sobre a quebra do sigilo telefnico, de fato, no alcana os dados cadastrais do usurio dos servios de telefonia. O sigilo, segundo se depreende da regra constitucional inserta no art. 5 , inciso XII, diz respeito scomunicaes propriamente ditas,ou seja,ao contedoda correspondncia, das comunicaes telegrficas, de dados ecomunicaes telefnicas.O vocbulo acima indicado, "dados", no

se acha vinculado aos registros de assinatura de linhas de telefonia e a proteo da inviolabilidade quanto s comunicaes telefnicas, conversaes havidas entre dois interlocutores, que ficam a salvo da escuta de terceiros, com a exceo consignada pela prpria norma daConstituioda Repblica, mediante autorizao judicial.

bvio que, para se instruir o

requerimento ou a representao colimando obter essa autorizao judicial, de modo a quebrar o sigilo constitucional, imprescindvel se identificar quais as linhas telefnicas que estaro, a partir da, sujeitas interceptao e monitoramente no curso de investigao criminal ou de instruo do processo penal.

Da a razo de considerar at mesmo

desnecessria a autorizao judicial para a obteno de dados cadastrais, os quais ensejaro, conforme a natureza dos fatos ilcitos e o desenrolar da apurao criminal, o pedido para eventual levantamento do sigilo.

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Observa-se que o entendimento esposado

pelo eminente Desembargador PINHEIRO FRANCO, abarcando no sigilo tambm os dados de ordem cadastral, embora respeitvel, no vingou e minoritria nesta Corte de Justia, no encontrando respaldo na orientao preconizada pelos Tribunais Superiores.

Assim, d-se um contorno ao que

efetivamente est acobertado pelo sigilo e aquilo que desborda da garantia lanada no texto daCarta MagnaBrasileira.

O caso em exame, por outra banda, autoriza a medida em apreo.

Os fatos sob investigao envolvem a

explorao de mquinas de jogos de azar, verso contempornea do antigo "jogo do bicho", cuja extenso e execuo caracterizam ao praticada por organizao criminosa, sendo de colher a prova de acordo com os ditames da Lei9.034, de 3 de maio de 1995.

A crtica externada pelos advogados

impetrantes fundamentao do Decisrio no merece prosperar.

A motivao suficiente. Mais seria

avanar em demasia no exame da questo futura de mrito, antecipando-se um indesejvel prejulgamento da imputao, a qual sequer veio a ser deduzida em juzo.

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Com estas observaes, torno a repetir

que, acompanhando Vossa Excelncia, o senhor Presidente e Relator sorteado,rejeito as argies de nulidades, para denegar a ordem.'V\^Cks^k QL/

Amado de FariaDesembargadorTerceiro Juiz