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Durante a Semana de Observação pude perceber um espaço educativo em que os sujeitos estavam engessados em posições muito bem demarcadas. O adulto na condição de professor, apresentando muito do sentido etimológico da palavra, como aquele que professa, e as crianças como aqueles que escutam, que são alvo da ação docente. À professora cabe ensinar tudo, como epicentro de todo fazer pedagógico: propunha as atividades, as resolvia diante da turma que copiava e realizava a discussão das mesmas dando pouco espaço para a fala das crianças; em um “verdadeiro processo de transferência de conhecimentos”. Às crianças, por sua vez, cabia o silêncio, a postura correta na cadeira, o foco contínuo no que era proposto, a realização das atividades. O controle sobre os corpos estava fortemente presente em todos os momentos dentro e fora da sala de aula através da realização de filas, da organização dos materiais sobre a mesa, da disposição dos pés embaixo das cadeiras, da impossibilidade de transitar pela sala de aula. No terceiro dia de observação dei-me conta que só ouvia a risada das crianças quando a professora não estava em sala, por algum motivo e me peguei escrevendo em minhas anotações: “quando ela sai, a vida entra...” Em primeiro momento, ainda imerso pela sensação de silenciamento respirável na sala de aula, e que me atingiu de todo - mesmo que na confortável posição de observador - pensei que Artes seria a temática integradora. Isso porque pretendia “desorganizar” este espaço de sala de aula, tirar as crianças da cadeira, produzir “sujeira”, movimentação,

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Reflexão pedagógica sobre a prática

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Durante a Semana de Observao pude perceber um espao educativo em que os sujeitos estavam engessados em posies muito bem demarcadas. O adulto na condio de professor, apresentando muito do sentido etimolgico da palavra, como aquele que professa, e as crianas como aqueles que escutam, que so alvo da ao docente. professora cabe ensinar tudo, como epicentro de todo fazer pedaggico: propunha as atividades, as resolvia diante da turma que copiava e realizava a discusso das mesmas dando pouco espao para a fala das crianas; em um verdadeiro processo de transferncia de conhecimentos. s crianas, por sua vez, cabia o silncio, a postura correta na cadeira, o foco contnuo no que era proposto, a realizao das atividades. O controle sobre os corpos estava fortemente presente em todos os momentos dentro e fora da sala de aula atravs da realizao de filas, da organizao dos materiais sobre a mesa, da disposio dos ps embaixo das cadeiras, da impossibilidade de transitar pela sala de aula. No terceiro dia de observao dei-me conta que s ouvia a risada das crianas quando a professora no estava em sala, por algum motivo e me peguei escrevendo em minhas anotaes: quando ela sai, a vida entra...Em primeiro momento, ainda imerso pela sensao de silenciamento respirvel na sala de aula, e que me atingiu de todo - mesmo que na confortvel posio de observador - pensei que Artes seria a temtica integradora. Isso porque pretendia desorganizar este espao de sala de aula, tirar as crianas da cadeira, produzir sujeira, movimentao, fala, voz, escuta. Permitir que a Vida entrasse na sala de aula. Entretanto, em razo de um exerccio feito em sala de aula, em que deveramos escrever uma carta professora titular da turma observada, falando sobre a sua prtica de forma respeitosa e construtiva, comecei a pensar que poderia propor algo que tocasse tambm a docente. Em uma semana de aula, no poderia eu pretender completa revoluo, mas, se de alguma forma, pudesse gerar um novo olhar, uma reflexo, uma sensao diferente, o abrir das cortinas da sala que passaram a semana toda fechada consideraria uma vitria. Por isso, pensei que os sentimentos, as emoes seria um tema interessante. Contudo, no o sentimento pelo sentimento, como palavra, como conceito desligado do sentir humano, mas como algo que existe em mim e que tambm existe no outro, algo que surge na nossa subjetividade, mas tambm na vida do coletivo. O intento era o de desacomodar e de sensibilizar o olhar para o outro, para o ser senciente, para o ser que vive, que fica feliz e por isso ri, que est desconfortvel e por isso no permanece parado, que est triste e por isso no parece focado, que est alegre e por isso que conversar...