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JUVENATRIX JUVENATRIX – Fanzine de Horror & Ficção Científica ANO 21 – Número 127 – ABRIL 2011

Juvenatrix 127

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Fanzine

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  • JUVENATRIX JUVENATRIX Fanzine de Horror & Fico Cientfica

    ANO 21 Nmero 127 ABRIL 2011

  • JUVENATRIX Amaldioado pelo Horror e Metal Extremo, em circulao desde Janeiro de 1991, com 3.446 pginas de publicao

    Editor Renato Rosatti

    Capa Rafael Tavares / Contra capa Dimitri Kozma

    INTERNET Blogs: www.infernoticias.blogspot.com & www.juvenatrix.blogspot.com

    E-mail: [email protected] Twitter: www.twitter.com/juvenatrix

    Site Boca do Inferno: http://bocadoinferno.com/author/renato-rosatti/ Portal Gore Boulevard: http://gore-boulevard.webnode.com.br/novidades/walpurgis-rites/

    Lanamento dessa edio: 26/04/2011 So Paulo/SP

    Distribuio gratuita Solicite o envio por e-mail

    Metal and blood come together as one (Exodus, Estados Unidos)

    EDITORIAL

    No dia 11/03/11 tivemos uma invaso norueguesa em So Paulo/SP, com a devastao sonora das bandas

    de Black Metal Mayhem e Taake, no Carioca Club (Pinheiros), alm da abertura do Coldblood, Death Metal do Rio de Janeiro/RJ. Fotos seguem mais adiante.

    Quem acompanha meu trabalho com o Juvenatrix, j percebeu que gosto muito de futebol e sou so-paulino. De vez em quando, fao alguma homenagem ao tricolor paulista nas pginas do fanzine, principalmente aps a conquista de ttulos. E agora, fao questo de homenagear o grande goleiro artilheiro Rogrio Ceni, um dos maiores jogadores da histria vitoriosa do clube, pelo 100 gol feito no dia 27/03/11, contra o rival Corinthians. Golao de falta, que ajudou na vitria apertada por 2 x 1. Sou f do Rogrio Ceni, assim como de seu antecessor Zetti. Os goleiros do So Paulo F. C. sempre foram excelentes.

    HORROR & METAL EXTREMO

  • Msica: My Dark Desires / Banda: Dark Funeral (Sucia) / lbum: The Secrets of the Black Arts (1996)

    Father. I call your name upon the furious winds. I'm possessed by the spiritual strength of hell. In the chambers of my dark heart a black flame burns. Satan. I summon the horned one from the darkened realms. Grant me the darkened unholy power. To please my evil wicked lust. The coveted hour has finally arrived. The hour when darkness over skies descends. Under the pale light of the frozen moon. I prepare the virgin for sacrifice. I whisper forbidden names upon the skies. Nocturnal visions reveal before me. Nightfall embraces my hateful cries. As I fullfil my dark desires. My dark desires. My dark desires. My dark desires. My dark desires. Satan. Take my soul to hell. I must burn in the inholy flames. Satan. Take my soul to hell. I must burn to purify my weak soul. Father. I call your name upon the furious winds. I'm possessed by the spiritual strength of hell. In the chambers of my dark heart a black flame burns. Satan. I summon the horned one from the darkened realms. Grant me the darkened unholy power. To please my evil wicked lust. The coveted hour has finally arrived. The hour when darkness over skies descends. Under the pale light of the frozen moon. I prepare the virgin for sacrifice. Bring damnation upon my soul. My dark desires. My dark desires. My dark desires. My dark desires. Satan. Take my soul to hell. I must burn in the unholy flames. Satan. Take my soul to hell. I must burn to purify my weak soul. -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Mayhem e Taake: Black Metal noruegus devastando So Paulo em 11/03/11

  • Veja mais fotos em: http://infernoticias.blogspot.com/2011/03/mayhem-e-taake-black-metal-noruegues.html

    Morreu Phil Vane, o vocalista da banda inglesa Extreme Noise Terror

  • Phil Vane, vocalista da banda Extreme Noise Terror, faleceu em 21/02/11 na Inglaterra. Segundo informaes, Vane sofreu um A.V.C. (acidente vascular cerebral) e morreu enquanto dormia. O vocalista entrou na banda de Ipswich (ING) logo na formao, em 1985, e ajudou a moldar o som que mesclava Punk, Crust e Grindcore. Phil atuou com o Extreme Noise Terror entre 1985 e 1996. Aps um breve perodo no Napalm Death, retornou banda entre 1997 e 1999. Deixou o grupo e retornou em 2006, permanecendo at a sua morte. Phil ainda participou de diversos outros projetos, inclundo o Optimum Wound Profile e o Death Dealers. (Fonte: www.roadiecrew.net)

    NOTCIAS & DICAS & DIVULGAO

    Crucified lust breaks their holy will, 666 baphomet, the christians to the lions (Belphegor / ustria, Swarm of Rats / Goatreich Fleshcult, 2005)

    LIVROS, REVISTAS E FILMES

  • Conhea o projeto do prximo livro de horror de Andr Bozzetto Junior

    O escritor e especialista em lobisomens Andr Bozzetto Junior, autor de Na Prxima Lua Cheia, est anunciando o site oficial do seu prximo livro intitulado Jarbas, e que ser lanado no segundo semestre de 2011 pela Editora Estronho. Segue o link: www.estronho.com.br/jarbas

    Em tempo: ele tambm escreveu um artigo intitulado Do folclore para as telas: um olhar sobre o mito do lobisomem atravs das telenovelas brasileiras, que foi publicado na edio de nmero 46 da Revista Espculo, da Universidad Complutense de Madrid (Espanha). Segue o link para o texto na verso on-line da revista: http://www.ucm.es/info/especulo/numero46/lobisomen.html

    Livro de horror: Criaturas, de Rochett Tavares

    (Fonte: Blog Contos e Cantos Escuros www.asadecorvo.blogspot.com Ravens House Brasil)

    A conhecida e aclamada Ligia Fagundes Telles declarou certa vez, em entrevista, que antes de investir em si mesma como autora, tornou-se bacharel em Direito, para que assim pudesse garantir seu prprio sustento e que, apesar do reconhecimento, o ofcio do escritor no financeiramente compensatrio. Diante disso, possvel imaginar os obstculos que um autor iniciante precisa enfrentar para obter espao no meio literrio, principalmente se o seu estilo, como por exemplo, o horror, no for considerado vendvel. Este o caso de Rochett Tavares que, depois de construir uma carreira slida na rea de informtica, decidiu investir nas histrias de horror que escrevia dentro do nibus, a caminho do trabalho. Aps receber alguns nos de certas editoras, tomou a difcil e arriscada resoluo de rodar 200 cpias daquela que seria sua primeira obra publicada: Criaturas - uma coletnea de oito contos do gnero horror fantstico ambientados em um universo no qual as personagens so confrontadas com o sinistro, o obscuro, o inslito. Ele conseguiu espao como autor independente para lanar Criaturas na IX Bienal do Livro do Cear 2010. Meses depois, seu livro foi um dos selecionados no Prmio Autor Cearense de 2010, na categoria Otaclio de Azevedo (reedio). Atualmente est fechando com uma editora portuguesa a publicao de sua segunda obra, com previso de lanamento ainda este ano. O lanamento da segunda edio de "Criaturas" ocorreu na Saraiva Megastore (do Iguatemi) em Fortaleza-Cear no dia 24 de maro, s 19:30 horas.

    SOBRE O AUTOR

    Rochett Tavares nasceu em 1975 na cidade do Rio de Janeiro, mas reside em Fortaleza h 18 anos. Ainda na infncia, comeou a se interessar por aventuras fantsticas, quando conheceu as histrias de Conan, o Brbaro, de Robert E. Howard. Filmes de horror tambm fazem parte de sua vida. Fora Sinistra e Nas Montanhas da Loucura so exemplos dos quais o autor recorda imediatamente quando questionado sobre o tema. No se pode tambm deixar de citar o escritor de horror fantstico H. P. Lovecraft, cujas obras so grande fonte de influncia e inspirao. No campo da msica, bandas como Black Sabbath, Iron Maiden, AC/DC, Jethro Tull, Ramones dentre outras so a trilha sonora do autor quando no desenvolvimento das narrativas. O autor prope, com Criaturas, uma reflexo sobre a tnue linha que divide o humano do desumano. Ele no s desafia a estrutura de civilidade criada por e para ns, mas a destri completamente, desnudando aquilo que tanto nos esforamos para camuflar: o mal, o sujo, o feio, o egosta; e at mesmo sentimentos altrustas que, s vezes, escondemos por receio de sermos vistos como tolos. A premissa bsica deste livro a de levar o leitor a mundos diversos ao que se observam por recorrentes no meio literrio, resgatando um gnero raro no pas. As histrias apresentadas fogem ao vulgar, bem como se utilizam de elementos cujo peso provoca toda sorte de consideraes, valendo-se de extensa pesquisa para compor a ambientao de cada narrativa e explorando a emoo mais forte e mais antiga do homem, aquilo que assombra a humanidade desde sua aurora at o presente: o medo do desconhecido. Soldados, policiais, seres fantsticos, ordens iniciticas so algumas das personagens que desfilam em textos nos quais o horror tratado como deve ser: uma fora na escurido, um tero purulento onde entidades hediondas rastejam aguardando o momento para saltar sobre vtimas cujo esprito perceber tarde demais que o aparentemente no visto existe e as observa. Aventure-se por este universo e descubra que, para a desgraa da espcie humana, mais uma pgina se cumpriu! Criaturas pode ser adquirido diretamente com o autor atravs do site do autor: http://www.rtavaresconsultoria.com.br/pergaminhos/livros/ Ou pelo e-mail: [email protected]

    Livro: O Voo de Icarus, de Estevan Lutz

  • Num futuro prximo, na cidade martima de Agartha, a vida do jovem Icarus oscila entre dois vcios: a realidade virtual e uma droga alucingena denominada nirvana. Em busca de tratamento mdico, ele acaba se tornando voluntrio para a experimentao de um avanado medicamento baseado na nanotecnologia, o Sinaptek, o qual, posteriormente, lhe causa uma extraordinria reao adversa: a projeo de sua conscincia, o que lhe permite viajar por diversos lugares do planeta e para outros mundos, empreendendo uma jornada do centro do universo ao centro da inconscincia humana. Estaria tudo, apenas, na mente de Icarus?

    Sobre o autor: Estevan Lutz gacho, natural de So Sebastio do Ca/RS. Exerce a profisso de projetista eltrico industrial e, nas horas vagas, dedica-se arte da literatura. J participou de duas antologias, Invaso e Draculea O Livro Secreto dos Vampiros. Desde a adolescncia, amante das histrias de fico cientfica. Tem como referncia os autores Arthur C. Clarke, Isaac Asimov, Aldous Huxley, Carl Sagan e Douglas Adams.

    Nas livrarias, o livro est 29,90. Ou com o autor: http://www.skoob.com.br/usuario/24865-estevan-lutz Ou http://estevanlutz.xp3.biz O escritor Emanuel R. Marques est lanando seu livro Os candidatos e outros devaneios

    cnicos

    O escritor portugus Emanuel R. Marques est anunciando o lanamento de sua ltima publicao, atravs da associao Abismo Humano. Desta vez, um conjunto de textos existencialistas para teatro que do pelo nome de "Os candidatos e outros devaneios cnicos". Publicao independente da Abismo Humano, a primeira de muitas, estreando a Coleo Mephisteatros.

    Os Candidatos e outros devaneios cnicos (por Emanuel R. Marques), uma viagem existencialista para palcos de teatro. O livro est sendo lanado em formato fsico nos dias 18 e 19 de Maro na Gravefest em Portugal, porm os textos podem ser tambm consultados gratuitamente atravs do seguinte link: http://radioabismohumano.blogspot.com/2011/03/os-candidatos-e-outros-devaneios.html

    O Ogro animao de Mrcio Jnior e Mrcia Deretti

    (Dica de Mrcio Sno) Mrcio Jnior uma das figuras mais conhecidas da cena underground nacional, por conta de sua atuao frente ao fanzine Bizarre Inc., o selo Monstro Discos e a banda Mechanics. Como se no bastasse estar nesse monte de frentes ele, junto com sua esposa Mrcia Deretti, esto para lanar a animao "O Ogro", inspirado na obra de Jlio Shimamoto e Antnio Rodrigues, de 1984. O filme com durao de 7 minutos vai circular no circuito de festivais pelo Brasil afora. Por isso, fique atento pois, segundo Mrcio, est bem fiel ao original. Enquanto isso, recomendo visitar o site oficial do filme, onde tem fotos, storyboards, estudos de personagens e muitas coisas mais! O endereo : http://www.oogro.com.br Dica: siga tambm o filme no twitter (http://twitter.com/filmeoogro), para acompanhar as novidades! Abaixo, a apresentao do filme. Estou ansioso para ver, pois vindo de quem vem, a coisa boa! Abraos, Mrcio Sno http://marciosno.blogspot.com Estou no: twitter myspace facebook vimeo skype msn: [email protected] O OGRO Uma floresta sombria, um castelo em runas, dois cavaleiros medievais e uma diablica criatura de tempos imemoriais. Baseado na HQ de Antnio Rodrigues e Julio Shimamoto, legenda dos quadrinhos brasileiros. Se h um gnero que pode ser associado s histrias em quadrinhos brasileiras, este gnero, com certeza, o terror. Tal vocao no surgiu por acaso. A onda conservadora que varreu os Estados Unidos na dcada de 1950, arrastada pelo senador Joseph McCarthy na esteira da guerra fria, respingou nos assustadores quadrinhos que eram ento publicados por ali e republicados no resto do mundo. Absurdamente responsabilizadas pela delinquncia juvenil norte-americana, as HQs de terror foram literalmente queimadas em praa pblica e o gnero virou fumaa como um vampiro diante da cruz. Ruim para eles, bom para ns. Sem material gringo para traduzir, as editoras comearam a contratar quadrinistas brasileiros para atender a demanda que continuava a crescer. Se no princpio os quadrinhos de terror feitos no Brasil emulavam sua matriz

  • anglo-sax, logo eles foram desenvolvendo caractersticas tipicamente tupiniquins, como o uso de lendas populares e picantes pitadas de erotismo. Nascia ento a HQ brasileira de terror, nica, mpar em relao s suas congneres mundo afora. Durante mais de trs dcadas, os leitores refestelaram-se com banhos de sangue, cangaceiros amaldioados, lobisomens de vilarejo, macumbeiros barra pesada e vampiras seminuas. Na criao, uma horda de gnios: Flavio Colin, Jayme Cortez, Nico Rosso, Lyrio Arago, Julio Shimamoto... Mestres da narrativa quadrinstica, dotados de traos transbordantes de originalidade e brasilidade. No deixa de ser melanclico perceber que hoje, grande parte do pblico leitor de HQs praticamente desconhece os heris deste gnero, um dia to popular, que teve seus estertores no final dos anos 1980. As sucessivas crises econmicas e a estagnao editorial conduziram artistas de primeirssima grandeza a um indesejvel, injusto e constrangedor ostracismo. A ideia de transformar clssicos das HQs de terror brasileiras em desenhos animados um sonho antigo. A riqueza de traos e vises, bem como a irrefrevel imaginao de nossos autores, oferecem um infinito manancial de possibilidades cinematogrficas. A questo de por onde comear foi facilmente solucionada: Julio Shimamoto, o mestre Shima, foi uma escolha natural pela inquietude e diversidade de sua obra. E tambm por ser um dos poucos quadrinistas ainda vivos da primeira gerao do terror brazuca. Ao longo de uma carreira que j ultrapassa 50 anos, Shima se notabilizou pelo desenho dinmico e mutante. De tempos em tempos, o samurai dos quadrinhos se reinventa lanando mo de novas e improvveis tcnicas criadas por ele mesmo, tais como usar bexigas para distorcer imagens, ou desenhar por meio de raspagens em superfcies cermicas previamente pintadas. Se no Brasil existe o dito Cinema de Inveno, o que Julio Shimamoto faz pode e deve ser considerado o legtimo Quadrinho de Inveno. O Ogro uma HQ publicada em 1984 na edio 27 da saudosa revista Calafrio. Nela, desenhando com tinta branca sobre cartolina preta, Shima antecipou em uma dcada o que Frank Miller viria a fazer em Sin City. A atmosfera densa e a abordagem expressionista impostas pela arte de Shimamoto transformaram o roteiro de Antnio Rodrigues que lidava com clichs de um terror gtico em uma pequena obra-prima. A escolha da HQ a ser adaptada foi feita pelo prprio Shima, por inaugurar uma nova etapa em seu uso grfico do claro-escuro. Desenvolvidos roteiro e storyboard de O Ogro, deu-se incio batalha para a realizao do filme. Depois de diversas negativas, o projeto venceu o Primeiro Prmio Estadual de Cinema e Vdeo de Curta Metragem do Estado de Gois. Um gigantesco desafio norteou toda a produo de O Ogro: o trao moderno, arrojado e indcil do mestre Julio Shimamoto deveria estar presente em cada frame na tela. Imitar o inimitvel no foi tarefa das mais fceis. Mas residia a toda a fora e sentido da obra. O Ogro no um resgate de Julio Shimamoto. Ele no precisa. Aos 72 anos, em plena atividade, Shima est muito acima disso. O Ogro , de fato, uma homenagem apaixonada a um artista que jamais se acomodou e a um gnero que ele ajudou a fundar. Uma homenagem ao prprio quadrinho brasileiro. Que venham as prximas.

    Livro: Sete Sombras e Uma Vela, do Sr. Arcano

    SETE SOMBRAS E UMA VELA rene vrios poemas sombrios de Sr. Arcano. Alguns inditos, outros j publicados em sites e blogs. O livro dividido em oito partes, cada uma apresentando uma esttica sombria originada do estilo soturno que o autor abraa especialmente para essa obra, tendo como causa a realidade e os sentimentos dela recorrentes. O livro tinha sido publicado originalmente em 2009, mas sofreu alteraes e esta a edio definitiva aps vrias revises, ampliaes e acabamentos feitos pelo prprio autor. A poesia apresentada neste livro fala sobre tristeza, pessimismo, pesadelos e sonhos, loucura, degradao, morte, mistrio e pecado. O arteso das sombras, por assim dizer, deixa para a literatura brasileira seu grito preso na alma, fruto de suas experincias sombrias libertadas aqui com magia e arte. At despedir-se de tudo que luz, pois essas experincias sombrias assassinaram a pessoa normal que escreveu a obra. E agora, como uma vela que se apaga, torna sua existncia baseada no fim. Um novo comeo para sua vida. O nascimento de uma poesia que cobre tudo com suas sombras. Juntando SETE SOMBRAS E UMA VELA e a obra ANJO VADIO, temos dois livros com todos os poemas de Sr. Arcano publicados na internet, incluindo os inditos cujos manuscritos foram recuperados aps anos de abandono. Em SETE SOMBRAS E UMA VELA os poemas so sombrios e introspectivos. Este poeta brasileiro, natural do Rio de Janeiro, apresenta o que sente e observa atravs de seus cnticos soturnos. personalidade de destaque na literatura underground e fantstica. Suas performances em saraus so impactantes e chamam a ateno por sua profundidade. Tristeza, pesadelos e sonhos, pessimismo, degradao, loucura, morte e mistrio so os temas deste livro. Demorou anos para que todos os poemas fossem aqui reunidos. Portanto, a publicao deste livro uma das mais importantes da minha vida que, relacionada com a literatura, teve incio aos quatorze anos, quando escrevi meu primeiro poema: 'Noite m', publicado nesta obra. E hoje, com meus 30 anos revelo: SETE SOMBRAS E UMA VELA uma espcie de despedida de uma fase potica. No que eu mude de estilo, mas sim porque meus versos ganharam um novo refinamento. Quando se faz poesia, aprende-se com a prtica uma evoluo criativa cujo desenvolvimento torna-se cada vez mais abrangente. E eu aprendi que essa uma rea sem escola voc estuda sozinho com suas prprias experincias e faz dela a sua profisso. Tendo-se, a partir da, o que as pessoas chamam de dom. "Quando me refiro minha relao com a literatura, falo de forma apaixonada como um devoto para com sua religio. No basta envolver-se com a narrao, temos que praticar o artesanato das palavras. Por isso, que me perdoem os romancistas,

  • mas sem poesia no h literatura. E a minha literatura , sob um nvel pessoal, soturna como a vida a mim se apresenta. No por regra, mas sim por escolha e experincia. (Sr. Arcano)

    Ttulo: SETE SOMBRAS e uma vela. Autor: Sr. Arcano. Editora: Clube de autores. Ano em que foi lanado: 2011 Edio: 1 (2011). Pginas: 194. Valor (inpresso): R$ 39,90 + frete. Valor (e-book): R$ 8,44 Sr. Arcano - www.senhorarcano.com / MSN: [email protected]

    FANZINES

    Quadrinhos Independentes Foi lanada a edio 108 (Maro / Abril de 2011), editado por Edgard Guimares, com 24 pginas, formato meio ofcio e impresso digital. Contedo: quadrinhos, artigos, anncios, seo de cartas dos leitores e divulgao de fanzines. Contatos: A/C Edgard Guimares fone 35-3641-1372 (sbado e domingo) Rua Capito Gomes 168 Braspolis/MG CEP 37530-000 e-mail: [email protected]

    EVENTOS

    6 CineFantasy abre inscries para filmes de horror, fico cientfica e fantasia

  • Esto abertas as inscries para a sexta edio do Festival Internacional Cinefantasy, evento que acontecer entre 30 de agosto e 11 de setembro em vrios espaos culturais da cidade de So Paulo. Diferente do que o Brasil est acostumado a assistir em termos de festival, o Cinefantasy incentiva, divulga e debate a diversidade temtica no cinema nacional h cinco anos. Hoje um evento de grande porte, cuja programao totalmente voltada ao cinema fantstico. O material grfico do Festival apresenta, neste ano, uma divertida, e ao mesmo tempo sombria, ilustrao criada especialmente pelo animador e designer Victor-Hugo Borges. O carter ldico e fabuloso dessa criao delineia perfeitamente o conceito do Cinefantasy. O que o cinema fantstico? um termo usado para unir todos os gneros que tm um p no real e outro no irreal. Ou seja, horror, fico cientfica e fantasia so subgneros que integram o fantstico. O Festival nasceu em 2006 no litoral de So Paulo, migrou para a capital paulista h trs anos e hoje ocupa trs salas de cinema durante duas semanas. A edio de 2010 consolidou o Cinefantasy como o principal festival de gnero no pas, tendo o reconhecimento do pblico, crtica e mdia. Com programao dividida em mostras competitivas (curta-metragem, longa-metragem, Desafio Mestre dos Gritos), mostra paralela e atividades de formao, o Cinefantasy visa fomentar a produo do cinema fantstico e a formao de pblico. As mostras competitivas selecionam o melhor do mundo em curtas e longas-metragens do gnero fantstico para competir pelo cobiado prmio Corpo-Seco Dourado. Em 2010, os longas que conquistaram a estatueta foram o belga Christopher Roth, o hngaro 1 e o anglo-romeno Strigoi; na competitiva de curtas, o gacho Quiropterofobia, o paulista Coda, o francs La Revelacion e o argentino Deus Irae. A mostra paralela traz retrospectivas, homenagens, exibies temticas e encontros com diretores e figuras de importncia para o universo fantstico. O Festival tambm oferece oficinas, workshops e palestras gratuitamente. Parcerias e intercmbios com entidades e eventos estrangeiros so provas do prestgio internacional que o Cinefantasy conquistou. Em 2010, uma seleo dos vencedores do 4 Cinefantasy viajou pela Amrica Latina, sendo exibida em festivais da Aliana Latino-Americana Fantafestivales, da qual o Cinefantasy membro fundador. O Cinefantasy tambm faz parte da recm-criada Aliana Internacional de Filmes de Gnero.

    Inscries As inscries para o 6 Cinefantasy podero ser feitas no perodo de 15 de abril a 26 de junho, pelo site do Festival. Para conhecer o regulamento e se inscrever, acesse o endereo www.cinefantasy.com.br. O participante ter trs opes de competitiva: Curta, Longa e Desafio Mestre dos Gritos. Sero 15 prmios para a categoria Curta-Metragem e 12 para Longa-Metragem. Entre os prmios esto: Melhor filme de Horror, Melhor Vilo, Melhor Vtima e Melhor Criatura. O prmio Mestre dos Gritos ser entregue ao filme que arrancar mais gritos e sustos da plateia em, no mximo, 5 minutos.

    Servio: 6 CINEFANTASY Inscries: at 26 de junho www.cinefantasy.com.br / [email protected]

    OBITURIO

    O ator ingls Michael Gough morreu aos 94 anos no dia 17/03/11

  • O ator ingls Michael Gough, conhecido por seu papel como Alfred Pennyworth na franquia de Tim Burton/Joel Schumacher, BATMAN, faleceu em 17/03/11 aos 94 anos. Entre seus quase 180 filmes da carreira, destacam-se para os fs de terror o seu papel no clssico da Hammer, de 1958, O Vampiro da Noite, atuando ao lado de Peter Cushing e Christopher Lee. Ele tambm esteve na verso de O Fantasma da pera, de 1962, assim como The Skull (1965), novamente com Cushing; The Corpse (1971); Horror Hospital (1973), mesmo ano de A Casa da Noite Eterna, onde ele fez o papel no-creditado de Emeric Belasco. Cough tambm esteve em A Lenda do Cavaleiro Sem Cabea, de Tim Burton, com quem repetiu a parceria com vozes em A Noiva-Cadver e Alice no Pas das Maravilhas. (Texto de Marcelo Milici fonte: site www.bocadoinferno.com)

    Im your Lord crucified. Come taste the blood from my wounds before I die (Hate, Polnia)

    CONTOS

    Meu Inferno Sou Eu por Mario Carlos Carneiro Junior

    Muito tempo aps a partida do cortejo fnebre, Bia Valente continuou encarando a lpide branca, esculpida em Mrmore Carrara. A pea tinha certo ar aristocrtico, mas ainda parecia pouco para algum de sua posio social.

    Depois de tudo que fiz, isso que mereo? Uma laje fincada na grama? Preferia ter sido sepultada num daqueles jazigos enormes, igual o da Vandinha Albuquerque. Aquela esnobe deve ter se achado grande coisa quando morreu! Bom, ao menos esse cemitrio mais chique, eu acho...

    Em busca de consolo, baixou o rosto para olhar seu novo aspecto. Nunca gostara de sua forma fsica em vida, mesmo aps vrias cirurgias plsticas, centenas de dietas mirabolantes e infindveis horas nas melhores academias do Rio. Agora, seu corpo fantasmagrico era lindo e esbelto, do jeito que ela sempre lutara para conquistar. Claro que no poderia ficar se exibindo por a, mas em compensao no precisava mais se preocupar com o que os outros pensavam da sua aparncia.

    Isso sim descansar em paz... Ento, escutou um barulho vindo das profundezas de sua cova. Afastou-se flutuando, olhando amedrontada para trs. Seu marido Aristeu costumava dizer que ela era valente

    apenas no sobrenome, algo muito irritante, ainda mais por ser verdade. Como a morte no a deixara mais corajosa, se escondeu atrs de um pinheiro ao ver o montinho que se erguia da sepultura. Seria o diabo vindo busc-la?

    No pode, sempre fui uma boa pessoa! E todas aquelas festas beneficentes que organizei pra Fundao da... ah, daquela doena l, isso no conta?

    Ficou na expectativa, esperando o surgimento de uma cabea chifruda e flamejante que iluminaria a noite nublada. Porm, a nica coisa que rompeu o solo foi uma mo feminina, com uma aliana de diamante no dedo anular.

    O diabo roubou meu anel? perguntou-se tolamente, antes do outro brao esticar para fora e fincar os dedos na grama. Um rosto de olhos vidrados apareceu em seguida, envolto por cabelos desgrenhados e sujos de terra.

    Qu? No, NO! Se pudesse desmaiar, Bia teria perdido os sentidos antes que seu cadver terminasse de levantar da cova. A coisa

    esticou os braos, deu trs passos trpegos e falou: - Clebros! Bia quase teve um ataque, ou ao menos, o mais prximo de um ataque que um esprito poderia ter. No justo! J virei um fantasma bonitinho e limpinho, meu corpo no tinha nada que sair andando todo

    malacafento! Flutuou em direo carcaa, que repetiu: - Clebros! - creblos, anta! gritou o espectro, finalmente atraindo a ateno do defunto. Quero dizer, crebros e...

    Ah, no importa, volta j pra tumba, criatura infeliz! Com rapidez insuspeita, o ente cadavrico deu trs passos em direo ao esprito, que no foi rpido o bastante

    para desviar dos dedos que atravessaram sua cabea. - Cle... Crebro? - Sinto muito, dear respondeu a assombrao, sentindo-se confiante por descobrir que no podia ser ferida. -

    Agora seja uma boa... Aquilo saiu caminhando em direo ao muro, deixando a aturdida Bia para trs. Ver seu cadver desalinhado

    daquele jeito era como ver a si mesma quando acabava de acordar, mas dez vezes pior. E exposta para o mundo todo ver.

  • - Espera a! gritou a alma sem corpo para o corpo sem alma, que terminava de escalar o muro em direo liberdade.

    O defunto j tinha andando dez quadras, sem se importar com as ordens para voltar ou com as mos incorpreas

    que tentavam segur-lo. Os poucos transeuntes noturnos sempre atravessavam a rua antes de chegar perto, julgando que aquela estranha senhora devia estar drogada. Bia at tentou entrar no antigo corpo, mas o misterioso dispositivo que conectava a alma com a carne jazia desligado.

    Estou no inferno, s pode... - A madame t perdida? disse um rapaz encostado num poste, com uma tranqilidade suspeita quela hora da

    madrugada. Mesmo assim, era algum que poderia auxili-la. - Moo, poderia me ajudar? Mocinho? perguntou a alma penada, parada na frente do rapaz. Porm este no

    podia v-la, ou talvez estivesse muito concentrado no anel daquela mulher imunda e trpega. Ele colocou a mo no bolso que tinha um canivete e se aproximou.

    - C t bbada, ...? - Crebro! Mos geladas enlaaram a cabea do ladro, que se defendeu enfiando a lmina na barriga da atacante. - Meu Deus... gemeu o fantasma. Os dedos cadavricos comearam a apertar, provocando um som de rachadura que foi abafado pelos gritos

    atrozes do rapaz. Ele tentava escapar, mas por algum motivo, a morte dera uma fora sobrenatural ao defunto. - Que horror! Aps alguma resistncia o crnio cedeu, espirrando pedaos cinzentos numa erupo de encfalo e sangue. - Olha quanta banha! exclamou Bia, olhando o rasgo que o canivete havia feito no vestido, revelando seu

    antigo abdome. Por favor, corpinho, volta pro cemitrio, voc j conseguiu o que queria! A carcaa engoliu a massa craniana em poucas dentadas e ento voltou sua marcha obstinada, para algum lugar

    que s ela sabia. - Crebros! - Porra! Se continuar comendo, vai engordar! Mais! - Que droga essa... gemeu uma voz confusa. Bia se voltou para o esprito do assaltante, parado ao lado do prprio cadver com expresso incrdula.

    Repentinamente, um buraco surgiu abaixo do espectro masculino, que caiu no abismo berrando em desespero. A socialite fantasma permaneceu imvel por alguns segundos, antes de lamentar: - Maldito sortudo. E voltou perseguio. Quinze minutos depois, a situao de Bia havia mudado. Para pior, pois descobriu que seu corpo estava voltando

    para a manso onde morava em vida. Oh my God, se o Aristeu me v assim, vai morrer de desgosto! Quando estavam a poucos metros do porto, uma idia a sossegou. Nem em sonho o Fonseca deixa esse infortnio entrar! Fonseca era o segurana que ficava na guarita, um homenzarro de dois metros que se vangloriava de no ter

    medo de nada. Nesse caso, um cadver semovente devia ser a exceo que confirmava a regra, pois ele gritou como uma garotinha ao ver sua antiga patroa pulando o muro. Tentou fugir, mas tropeou e bateu a cabea, desmaiando. A causadora dessa ceninha ridcula cambaleou em sua direo.

    - Cr... - No, nada de crebro aqui! gritou a alma penada, saltando diante do corpo como uma cheerleader

    enlouquecida. Pra l, pra l tem mais crebros, bem gostosos e nutritivos! - Crebros... l? - Isso darling, tem crebro ao vinagrete, ao molho de amndoas, miolos de todo tipo...! - Miolos no! Crebros! - T, que seja, vem! O defunto esqueceu o vigia, porm no foi para o lado que Bia indicou. Estava atravessando o jardim em direo

    casa. - No, burra, no! O silncio noturno foi invadido por latidos nervosos, que a socialite espectral reconheceu de imediato. Os ces de

    guarda iriam estraalhar aquela monstruosidade! A carcaa parou, olhando para os pastores alemes que chegavam correndo. Agora voc vai ver, piranha flcida! Os animais saltaram, salivando de antecipao. Isso! E comearam a lamber o rosto do cadver. Bosta!

  • - Brutus... Tit... balbuciou o defunto. Os cachorros faziam festa para aquilo que ainda reconheciam como a dona, que sempre arrumava um tempinho para brincar com eles. A coisa morta acariciou suas barrigas com uma expresso de felicidade abobalhada, com filetes de pus escorrendo da boca aberta.

    Bia tentou chorar de frustrao, mas nem isso conseguiu. Ento, o porto comeou a abrir. Ainda encoberta pelas sombras das rvores do jardim, a criatura cadavrica claudicou em direo BMW que

    entrava. Caso Aristeu tivesse o hbito de cumprimentar o segurana, poderia ter percebido sua ausncia. Mas como sempre, no olhou para os lados e foi direto at a garagem. Bem arrogante, mas era o homem que Bia amava. Agora, aquele corpo nojento iria atacar o recm-vivo.

    - Pare! gritou a assombrao, correndo inutilmente ao lado do cadver que, em poucos instantes, alcanaria a porta da casa.

    - Pare j! Tem crebros em outro lugar, volte... Estava quase alcanando o caminho asfaltado, onde ficaria vista. - PARE AGORA, RETARDADA! berrou o fantasma, dando um tapa que virou o rosto perplexo do antigo

    corpo. Diante da intensa e inexplicvel manifestao de fria na atmosfera, os ces ganiram e correram para longe, deixando rastros de urina pelo cho.

    - AGORA T ESCUTANDO, N COISA FEIA? PORCA! LIXO! berrava Bia, dando golpes e socos violentos no defunto, que se afastou gemendo.

    - Di... - PRA DOER, VACA! rosnou o esprito, agarrando os cabelos do cadver e esfregando sua cara no solo.

    VAI PARAR AGORA? VAI? O corpo no respondeu, apenas continuou chorando com o nariz enfiado nas folhas secas, de forma pattica. Bia afastou-se repentinamente, tomada por um sentimento parecido com autopiedade. Ver aquele reflexo

    deplorvel era algo que ningum devia ser forado a suportar. Concentrando o resto de sua ira, agarrou uma pedra de peso considervel e ergueu acima da cabea do defunto, pronta para acabar com aquilo.

    Sinto muito. Mesmo. Mas antes de dar o golpe final, escutou algo vindo da manso. Gargalhadas. Femininas. Deve ser a TV pensou a alma penada, largando o pedregulho no cho. Imaginando que o cadver no sairia do

    lugar, voou at a residncia. Quando entrou no quarto, sentiu um estranho aperto que no julgava mais ser possvel. Afinal no possua mais corao, tecnicamente falando.

    - Conseguimos, gostoso! exclamou a belssima loira agarrada no pescoo de Aristeu, que percorria seu corpo escultural com mos vidas. Era a personal trainer de Bia.

    - Vanessa, a gente no devia estar junto hoje, acabei de enterrar minha esposa... - Ah, faz favor, n? Ningum vai nos ver aqui, e mesmo que vissem, todos sabem que vocs ricaos no prestam!

    N, cachorro? - Au! fez o homem de meia-idade, fingindo que ia mord-la. Ela correu soltando gritinhos e atravessou o corpo

    intangvel da falecida. Bia no podia acreditar naquilo, seu marido sempre fora to correto, to srio! Bem, claro que andava tendo

    mais reunies ultimamente, alm de ter adquirido uma sbita preocupao com a aparncia, mas... - Eu ainda estou preocupado. E se exumarem o corpo? Os pais da Bia no engoliram bem essa histria de ataque

    cardaco. - Linduxo, j falei, no tem como detectar aquele veneno, o corpo metaboliza tudo aps a morte. O negcio

    importado de Nova Orleans, coisa fina! A assombrao andou para trs at encostar-se penteadeira, onde um porta-retratos mostrava o dia de seu

    casamento com um Aristeu jovem e sem posses, mas ganancioso o bastante para cair nas graas do sogro. - Alm do mais, tua mulher tinha muuito corpo para metabolizar, se que voc me entende ironizou a loira,

    fazendo uma fraca tentativa de inchar a barriga tanquinho. O porta-retratos caiu com estrondo, espalhando cacos pelo cho. Vanessa olhou, assustada. - O que... - Caiu. - Isso bvio, mas... - Esquece isso. Vem c, deliciosa, vamos aproveitar nossa primeira noite livres! Bia flutuou pelo jardim, parando ao lado do cadver que ainda choramingava. Sentiu um sbito remorso por ter

    tratado seu corpo daquela maneira; o corpo que desconfiava das traies do esposo a cada abrao menos intenso, em todo perfume fraco que seu nariz percebia na roupa, a cada desculpa que roava seus ouvidos de forma pouco convincente. Sim, seu corpo sabia, mas a alma se recusava a acreditar. Talvez isso explicasse porque estava indo atrs do marido com tanto empenho.

    Para fazer justia. - Pobrezinha... disse o espectro, passando os dedos transparentes pela cabea da carcaa, que ergueu os olhos

    desconfiados.

  • - Di...? - Chega de dor. Vem, voc ainda deve estar com fome. S no faa barulho. O defunto acompanhou a socialite fantasma, que abriu a fechadura da frente sem esforo. Estava ficando boa em

    mover objetos. Subiram a escada sob o som dos gritos de prazer do casal, que se transformaram em brados de pavor quando a entidade cadavrica chegou ao quarto.

    - Crebros? - Se voc encontrar algum nesses dois, querida, pode se esbaldar falou, dando passagem ao cadver antes de

    trancar a porta. Apesar da raiva, o esprito preferiu ficar do lado de fora. No queria ver aquilo que sua nova amiga faria l dentro.

    Sorrindo enquanto ouvia os crnios sendo estilhaados, Bia pensou na ironia da situao. Finalmente havia feito as pazes com seu corpo.

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    O Segredo de Rochefort por Emanuel R. Marques Quando o pequeno Jacques T. foi trabalhar como assistente do notvel pintor Rochefort, longe estava de poder

    imaginar o impacto que a experincia iria ter na sua vida. Enviado pelo seu pai, e com apenas quatorze anos de idade, foi bater porta da sublime habitao do artista pedindo-lhe trabalho. Rochefort, que caminhava j para uma recatada velhice gasta pela bomia da juventude, e no lhe sendo conhecido qualquer descendente, talvez tenha visto no rapaz o sucessor que h muito esperava. Os modos educados de Jacques de imediato cativaram a sensvel afinidade do pintor. A funo que teria? Misturar e fazer tintas, preparar as telas e carreg-las dentro da casa e para fora dela, quando alguma fosse vendida. Quanto pintura, primeiro teria de aprender a observar, e s depois a desenhar e pintar. O rapaz estava feliz. Tinha um trabalho, um bom patro e algum estatuto, que lhe era concedido por trabalhar para Rochefort.

    O aspecto que mais intrigava Jacques, quanto ao trabalho do seu patro, era que este nunca pintava modelos ao vivo, ou seja, nunca sua casa se dirigiam pessoas para serem retratadas. Nunca o artista, e poucas eram as ocasies em que saia dos arredores da sua propriedade, se dirigia casa de algum para elaborar um trabalho. Ao incio da noite, aps uma breve refeio, o pintor Rochefort fechava-se no grande salo, onde o pequeno Jacques j tinha acendido inmeras velas, e ficava a trabalhar solitariamente at amanhecer. Durante o dia, continuava a pintar e retocar o que havia comeado durante a noite.

    Por vezes, grupos de pessoas, possveis compradores, visitavam a casa de Rochefort e eram-lhes exibidas as ltimas obras do artista. Quase sempre algum quadro era vendido, apesar dos retratos serem sempre de rostos desconhecidos. Numa dessas visitas, uma jovem rapariga, ao ver um dos trabalhos do artista, entrou em choque e comeou a soluar compulsivamente, pois o retrato que era exposto era de algum muito semelhante sua falecida irm. O pintor disse tratar-se de uma coincidncia, mas que se ela quisesse levar o quadro, ele oferecer-lho-ia, visto a imagem lhe ter causado tanto impacto. Apesar da evidente calma do artista, Jacques percebeu que ele ficara afetado com a reao da rapariga.

    Certa vez, sem conseguir controlar a curiosidade, Jacques escondeu-se dentro do salo, por detrs de umas enormes telas cobertas com um lenol, e esperou pela chegada do patro.

    Mantendo-se escondido, ele ouviu o pintor murmurar algumas palavras e comear a pintar. De a em diante, o silncio tomou conta do salo. Jacques decidiu ento espreitar e viu o concentrado patro executar a sua obra. Ao olhar na outra direo, os seus joelhos tremeram de medo e o seu corao disparou, pois dois vultos encontravam-se a servir de modelos. O grande Rochefort pintava fantasmas. O que poderia ele fazer? A sua mente encontrava-se dividida entre a simpatia e benevolncia do patro e o fato de ele lidar com espritos. Como que seria dali para a frente? Ouviu ento um risinho vindo do seu lado e o seu corpo petrificou-se quando viu uma fantasmagrica menina olhar para si. Jacques soltou um berro, que chamou a ateno do pintor, e derrubou as telas que o protegiam. De imediato, os fantasmas desapareceram. Rochefort, sorrindo para Jacques, afirmou:

    - Bem, rapaz, descobriste o segredo. Agora resta-te aprende-lo. As semanas seguintes foram de inquietao e suspeita, mas rapidamente o jovem se habituou quela realidade. De a em diante, Jacques trabalhou arduamente para alcanar as tcnicas do seu mestre. Aps a morte do artista, a

    manso de Rochefort passou a pertencer-lhe e inmeros retratos do pintor Rochefort foram feitos pelo ilustre pintor Jacques, que os executou j aps a morte do antigo patro. No entanto, o quadro que maior notoriedade deu a Jacques foi o retrato de uma bela menina a brincar no cho do seu salo.

    ARTIGO DE LITERATURA FANTSTICA

    Stefan Wul, um Pulp Europeu por Marcello Simo Branco

  • Na terra consagrada a autores clssicos como Rousseau, Dumas, Proust e Sartre, entre outros igualmente ilustres, houve espao tambm para a fico cientfica. Sim, o nome facilmente lembrado o de Julio Verne, um mestre da antecipao. Mas quero me referir a um autor pouco celebrado, talvez mesmo entre os franceses. Estou falando de um sujeito que nasceu com o nome de Pierre Pairault, mas que se popularizou entre os fs europeus de fico cientfica como Stefan Wul.

    A minha primeira experincia literria com Wul foi uma das mais curiosas e marcantes. Para comear, nunca tinha ouvido falar ou lido qualquer coisa a respeito dele. Era janeiro de 1989, estava em frias em Joinville com minha famlia. De forma surpreendente descobri um sebo na cidade e l tinha dezenas de livros da Coleo Argonauta, de Portugal. Comprei alguns e na viagem de volta a So Paulo, de forma aleatria, escolhi um livrinho despretencioso com o nome de O Templo do Passado.

    Era um livro de Wul e o li de uma s sentada, durante as sete horas de viagem. Um enredo que abordava o destino de dois viajantes espaciais, que em visita a um planeta eram engolidos por um gigantesco monstro marinho, que era cultuado como um Deus por uma raa de lagartos inteligentes. Narrado em um rtmo gil, com muita ao e suspense, alm de imagens vvidas e coloridas, traz uma revelao em seu final, daquelas de cair o queixo, como se costuma dizer.

    Stefan Wul morreu em 26 de novembro de 2003, aos 81 anos. Sua carreira literria foi curta e intensa: publicou 10 de seus 11 livros entre 1956 e 1959. Cirurgio dentista por profisso, Wul tinha uma imaginao poderosa, era um competente contador de histrias, no qual a aventura, as situaes pulp e sense of wonders eram a tnica, rivalizando com o que de melhor fizeram os americanos nos anos 30 e 40 neste tipo de histria.

    A exemplo do norte-americano Robert Silverberg, Wul tambm um escritor que teve uma produo impressionantemente concentrada em alguns anos e depois parou de produzir por vrios anos. Em dois momentos posteriores o autor retornou ao campo. Primeiro em 1977, ao publicar o romance Noo. E, justificando sua inserso bissexta, reaparece no cenrio vinte anos depois, em 1997, com a republicao inteira de sua obra, provavelmente para recuper-lo entre leitores de uma nova gerao e como uma espcie de reconhecimento de sua obra, no contexto da fico de gnero francesa (e mesmo europia) contempornea. Para se ter uma idia de como Wul est circunscrito no continente europeu, apenas um livro seu foi publicado em ingls, justamente o que eu li, Le Temple du Pase (como The Temple of the Past, em 1973).

    Duas de suas obras foram adaptadas para desenho animado na Frana. Oms en Serie (O Mundo dos Draags, em portugus da Argonauta), como Fantastic Planet, de 1973, e LOrphellin de Perdide (O Vagabundo das Estrelas em portugus), como Les Maitres du Temps, em 1982, com desenhos de Moebius.

    Ns que lemos lngua portuguesa, contudo e de forma surpreendente, somos privilegiados, pois oito dos seus 11 livros foram publicados em nossa lngua, por meio da Coleo Argonauta - ou seja, uma coleo portuguesa, dentro da Europa. So eles: Regresso a Zero (n.54), Pr-Histria do Futuro (56), O Vagabundo das Estrelas (60), O Mundo dos Draags (64), Misso em Sidar (72), Degelo em 2157 (76), O Templo do Passado (85), Armadilha em Zarkass (90) e O Imprio dos Mutantes (107) tambm publicado como A Cadeia das Sete, pela editora brasileira Futurmica n.4 , que serviu de inspirao para o nome do grupo de rock brasileiro Os Mutantes, com Rita Lee, ao final dos anos 60.

    O crtico francs Lorris Murail (1993), tentou explicar as razes que o fizeram interromper sua carreira quando j se tornara um escritor de entretenimento conhecido em sua ptria. Stefan Wul era um autor que escrevia motivado por uma espcie de impulso irressistvel e no no sentido de construir intencionalmente uma carreira ou pertencer a um gnero ou a uma corrente determinada. Assim, quando as idias cessaram aps a dezena de pequenos romances que escreveu em fins dos anos 50, ele se voltou para uma profisso sria e segura.

    Wul foi o tpico autor popular esnobado por uma certa inteligentsia literria, que por ter qualidade, surpreende aos que o lem e acaba sendo adotado por esta mesma elite como um autor cultuado. Mas antes disso e fundamentalmente , ele um autor pulp, com as virtudes e limites inerentes a esta autntica forma de expresso literria: uma literatura de entretenimento, recheada de boas idias.

    Desta forma, se em suas rondas por sebos, voc por acaso encontrar livrinhos com capas coloridas, ttulos chamativos e de autoria de um certo Stefan Wul, deixe suas prevenes de lado e experimente. Primeiro porque, afinal de contas, o livro dever ser

  • baratinho. E depois, e mais importante, aposto que voc ir gostar, ou no mnimo se surpreender com um tipo de narrativa muito imaginativa, mesmo dentro dos padres da fico cientfica.

    Livros de Stefan Wul:

    ANO TTULO EM PORTUGUS TTULO ORIGINAL EDITORA/COLEO

    1956

    Regresso a Zero/ Regresso a O/ Regresso a O

    Retour O Argonauta 54/ Crculo dos Leitores 10/ Novaera 20

    1957 Misso em Sidar Rayons pour Sidar Argonauta 72 1957 Pr-Histria do Futuro Niourk Argonauta 56

    1957 O Mundo dos Draags/ Cativeiro Humano Oms en Srie Argonauta 64/Tridente 5

    1957 Degelo em 2157 La Peur Gante Argonauta 76 1958 O Templo do Passado Le Temple du Pass Argonauta 85 1958 O Vagabundo das Estrelas Lorphelin de Perdide Argonauta 60

    1958 O Imprio do Mutantes/ A Cadeia das Sete La Mort Vivante Argonauta 107/ Futurmica 4

    1958 Armadilha em Zarkass Pige sur Zarkass Argonauta 90 1959 Indito Terminus 1 No publicado 1959 Indito Odyss sous Contrle No publicado 1977 Indito No No publicado

    Referncias: BRANCO, Marcello Simo, ed. (2003). Megalon, ano XVI, n.70, dezembro. JAKUBOWSKI, Maxim e CLUTE, John (1993). Stefan Wul, The Encyclopedia of Science Fiction, John Clute e

    Peter Nicholls, orgs., St. Martin Press, New York. MURAIL, Lorris (1993). Le Matres de la Science-Fiction, Bordas, Paris. NASCIMENTO, R.C. (1985). Quem Quem na Fico Cientfica Vol. 1 A Coleo Argonauta. Joo Scortecci

    Editor, So Paulo. NASCIMENTO, R. C. (1994). Quem Quem na Fico Cientfica Vol. 2: Catlogo de Fico Cientfica em Lngua

    Portuguesa: 1921-1993, Fascculo. 1: Autores/Ttulos em Portugus, QanatFantasia e Fico Cientfica. NASCIMENTO, R.C. (1999). Argonauta 5000 Edio Comemorativa, Clube de Leitores de Fico Cientfica e

    QanatFantasia e Fico Cientfica.

    Marcello Simo Branco um dos autores do Anurio Brasileiro de Literatura Fantstica e organizador da antologia Assembleia Estelar: Histrias de Fico Cientfica Poltica (Devir Livraria, 2011).

    ARTIGOS E RESENHAS DE CINEMA FANTSTICO

    Daqui a Cem Anos por Renato Rosatti

  • O fim est prximo. A vitria est chegando. O inimigo est prximo de ser destrudo. Algumas aeronaves no

    foram localizadas. Evite reas onde bombas caram, pois esto infectadas pela Peste dos Errantes. No beba gua estagnada. trecho de um jornal de Setembro de 1964

    Em 1940 o mundo est s voltas novamente com a ameaa de uma guerra mundial. O medo da populao grande,

    principalmente com um ataque de gases letais, levando todos a procurar proteo em mscaras contra gases. O conflito chega trazendo destruio por muitos anos e como principal consequncia do colapso geral, surge em 1966 uma doena terrvel, chamada de Peste dos Errantes, onde os infectados passam a caminhar como zumbis desnorteados, espalhando o horror pelo mundo devastado e sendo dizimados friamente com tiros certeiros. Parte da humanidade do ps-guerra regride tecnologicamente e volta para uma condio de barbrie, com uma luta selvagem constante pela sobrevivncia.

    Surgem ento pequenas comunidades independentes e totalitrias. Uma deles comandada por um militar tirano (Ralph Richardson) conhecido como O Chefe. Em determinado momento, eles recebem a visita inesperada de um avio pilotado por John Cabal (Raymond Massey), um representante de uma sociedade pacifista que preza a irmandade da eficincia e a liberdade da cincia. E que, ao contrrio de boa parte da populao, no regridiu e ainda conseguiu manter conquistas importantes como voar pelos cus a bordo de avies, algo impensvel para muitos aps a guerra. O visitante veio em misso de paz, tentando introduzir nos grupos isolados novamente um conceito de civilidade, mas logo preso e considerado uma ameaa. Porm, ele consegue escapar com a ajuda de um mecnico de avies, Richard Gordon (Derrick De Marney).

    Mais algumas dcadas se passam e a humanidade progride tecnologicamente vivendo em 2035 em belas cidades futuristas rodeadas de mquinas e carros voadores, estando prestes a realizar uma viagem espacial com destino Lua, atravs de uma cpsula lanada por um imenso canho. Mas, novamente surge uma crise com a populao inflamada se revoltando contra o progresso, colocando-o como o responsvel pelas guerras que devastaram o planeta no passado. Reunidos num grupo numeroso, eles decidem destruir o canho espacial, smbolo mximo desse progresso supostamente letal. Porm, antes de conseguirem o objetivo, uma cpsula pilotada por um casal de jovens aventureiros intrpidos, lanada ao espao pelo canho, iniciando uma explorao espacial e uma possvel nova era para a humanidade.

    Daqui a Cem Anos (Things to Come, Inglaterra, 1936), dirigido por William Cameron Menzies, um filme com histria baseada na obra do cultuado escritor ingls de Fico Cientfica H. G. Wells (1866 / 1946). Apesar de sua importncia para o gnero, um filme menos conhecido em comparao com outros mais populares como A Guerra dos Mundos (1953) e A Mquina do Tempo (1960), tambm inspirados em sua literatura. Wells escreveu muitos livros divertidos que se transformaram em filmes, e por sua formao cientfica, suas histrias ganharam um cuidado maior com os aspectos da cincia ao invs, por exemplo, dos livros do escritor francs Jules Verne, que tambm se destacavam pela diverso, mas com histrias mais voltadas para a fantasia descompromissada com a cincia. A obra de H. G. Wells desfilou por vrios temas interessantes como viagens no tempo e invaso aliengena (os j citados A Mquina do Tempo e A Guerra dos Mundos), alm de manipulao gentica (A Ilha do Dr. Moreau), viagens espaciais (Os Primeiros Homens na Lua), cientistas loucos (O Homem Invisvel) e efeitos radiativos (O Alimento dos Deuses), entre outros.

    Daqui a Cem Anos foi lanado em DVD no Brasil em 2007 pela NFK Filmes, dentro de sua coleo de Fico Cientfica e Fantasia. O filme, com fotografia em preto e branco, apesar de apresentar um elenco com atuaes nitidamente teatrais, possui efeitos especiais muito interessantes principalmente para a poca da produo, na longnqua dcada de 1930. Entre os destaques, temos os avies imensos, os prdios enormes com elevadores panormicos e arquitetura futurista (similar ao clssico alemo Metrpolis, 1926) e a plataforma colossal abrigando o canho espacial.

  • Nunca contabilizaram a devastao causada pela Peste dos Errantes, assim como a peste negra na Idade Mdia. Ela matou mais da metade da humanidade. Ningum que a contraiu sobreviveu. Aos poucos, viram que a epidemia

    havia terminado e que a vitalidade social estava retornando.

    Daqui a Cem Anos (Things to Come, Inglaterra, 1936) # 563 data: 27/02/11

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    O Menino e Seu Cachorro por Marcello Simo Branco

    Perambulando pelos sebos do centro de So Paulo achei o DVD do filme O Menino e seu Cachorro (A Boy and His Dog), uma autntica raridade. Filmado em 1975, conhecia de ouvir falar, mas nunca tinha tido a chance de v-lo. Baseado numa novela premiada de Harlan Ellison (que tambm contribui no roteiro), o filme mostra o mundo em 2024 sob as runas de uma quarta guerra mundial. Os que vivem na superfcie procuram se agrupar em bandos que assaltam e pilham o que podem. Um rapaz e um cachorro tambm esto nesta situao e lutam principalmente por abrigo, comida e sexo, neste caso para o cara.

    Filmes sobre homens e ces no so poucos, mas este alm do cenrio incomum, tambm aumenta a estranheza pelo fato deles se comunicarem. O cachorro fala com seu dono por telepatia e este responde verbalmente. E o relacionamento dos dois no dos mais afetivos: um ironiza e critica o outro na maior parte do tempo, e o cachorro mostra-se mais culto e maduro do que o prprio rapaz. L pelas tantas uma linda garota aparece e transforma radicalmente o relacionamento do co e seu dono. Existe uma comunidade subterrnea que vive com relativo bem estar, mas os homens esto estreis e preciso achar um homem viril para perpetuar a espcie nas mulheres da comunidade. Adivinhe quem ser o escolhido? Mas nem tudo sai como se planeja e o desfecho dos mais fortes e tocantes que vi em muito tempo.

    Um filme poderoso e inexplicavelmente esquecido, enriquecido ainda por uma singela trilha sonora que ressalta a amizade entre humanos e seu melhor amigo. Foi lanado em DVD no Brasil pela Platina Filmes.

  • Lua Sangrenta por Renato Rosatti

    Dirigido pelo cultuado cineasta espanhol Jesus Franco, Lua Sangrenta (Die Sages des Todes / Bloody Moon) um slasher alemo do incio da dcada de 1980.

    Miguel (Alexander Waechter) um jovem com o rosto parcialmente desfigurado, que tem uma paixo platnica pela bela irm Manuela (Nadja Gerganoff). Com dificuldades em se aproximar das mulheres devido ao machucado no rosto, num momento de fria aps a rejeio de uma delas, ele comete um assassinato brutal com golpes de tesoura. internado numa clnica psiquitrica e ao sair da instituio cinco anos depois, ele vai com a irm para um resort na Espanha, onde um grupo de mulheres est estudando espanhol numa escola internacional de idiomas. Ele herdeiro de uma fortuna da Condessa Maria Gonzales (Maria Rubio), uma senhora idosa numa cadeira de rodas e que no gosta de Manuela. Entre as belas estudantes temos Angela (Olivia Pascal), Eva (Ann-Beate Engelke), Laura (Corinna Gillwald) e Inga (Jasmin Losensky), e entre os homens do local est o administrador da escola Alvaro (Christopher Brugger) e o jardineiro e tenista metido a gal Antonio (Peter Exacoustos). Porm, a aparente tranquilidade do lugar terrivelmente abalada quando ocorre uma srie de violentos assassinatos envolvendo as belas mulheres como vtimas, instigando a curiosidade do espectador em descobrir a identidade e os motivos do criminoso.

    Lua Sangrenta, a despeito da reconhecida trajetria de Jesus Franco como diretor, um filme europeu apenas comum dentro do subgnero slasher. O roteiro de Erich Tomek to convencional que os destaques ficam apenas por conta

  • da presena de belas mulheres e nas cenas ousadas de mortes sangrentas, principalmente pela poca da produo. Apesar de trazer uma cena desnecessria e equivocada de decapitao real de uma cobra, temos em contrapartida vrios momentos interessantes com direito a decapitao com uma serra gigante de cortar pedras, o atropelamento cruel de uma criana, alm de mortes dolorosas com fogo, golpes de faca e at motossera. Fora isso, a histria banal demais, com furos imensos e final previsvel. Vale como curiosidade.

    Lua Sangrenta (Die Sages des Todes / Bloody Moon, Alemanha, 1981) # 564 data: 08/03/11

    Retrograde por Renato Rosatti

    Por 50 mil anos os meteoros e suas pragas permaneceram enterrados na vasta paisagem da Antrtida. Desde o

    seu descobrimento quase 200 anos atrs, o destino da humanidade chegou ao limiar da extino. Por tempo demais, vimos famlias inteiras, parentes e pessoas queridas transmutarem, morrerem e queimarem em incontveis

    piras funerrias e valas comuns. Nossa nica esperana de sobrevivncia reside num punhado de homens e mulheres geneticamente singulares, cujo sistema imunolgico possui a fora necessria para combater os efeitos

    dessa bactria mortal de outro mundo. Mas o tempo est se esgotando...

    A narrao de abertura reproduzida acima procura em poucas palavras situar rapidamente o espectador sobre o argumento bsico do filme de ao com elementos de Fico Cientfica Retrograde (Retrograde, 2004), com Dolph Lundgren, lanado no mercado brasileiro de DVD em Junho de 2005, pela Europa Filmes.

    A histria inicia-se em Los Angeles no ano 2204, quando o planeta est assolado por uma grave doena de origem extraterrestre, que causa loucura e deteriorao da pele nos infectados. A humanidade est beira do caos e extino, graas a essa praga que veio junto com meteoros que caram na Terra h milhares de anos e que estavam adormecidos e esquecidos nas geleiras da Antrtida, at serem descobertos h duzentos anos atrs por uma expedio cientfica bordo do navio Nathaniel Palmer, iniciando a disseminao da doena ao redor do mundo.

    Um grupo de homens geneticamente especiais no combate doena, liderados por John Foster (o sueco Dolph Lundgren, de Soldado Universal, 1992), ento enviado na nave espacial Parsival, tendo entre os membros da tripulao

  • os oficiais Dalton (Joe Montana) e Vacerri (James Chalke), entre outros. A misso consistia numa viagem pelo tempo, chegando ao passado momentos antes da descoberta dos meteoros, com o objetivo de destru-los e impedir a propagao da bactria mortal na humanidade.

    O navio quebra gelo Nathaniel Palmer comandado pelo Capito Robert Davies (Ken Samuels), e foi contratado por um empresrio sem escrpulos, Andrew Schrader (Joe Sagal), o lder de uma expedio de pesquisas que tem ainda no grupo a bela astrobiloga Renne Diaz (Silvia De Santis), seu companheiro de laboratrio Mackenzie (Jamie Treacher), alm de outros como o mdico Dr. Jefferson (David Jean Thomas), o chefe das mquinas Bruce Ross (Marco Lorenzini) e o marinheiro Markus (o ingls Gary Daniels).

    Porm, quase chegando no destino da misso, o truculento Foster, vindo do futuro, surpreendido por uma sabotagem atravs de um motim liderado por Dalton, dificultando ainda mais seu trabalho de destruio dos meteoros, tendo que enfrentar alm dos tripulantes do navio de pesquisas, tambm seus companheiros traidores que queriam controlar o passado para poderem determinar o futuro.

    Com direo de Christopher Kulikowski, Retrograde basicamente mais um filme de ao e veculo de divulgao para o ator Dolph Lundgren, que no tem o mesmo carisma e popularidade de Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger, mas que faz parte do mesmo time de astros que esto sempre com seus nomes frente de filmes de ao, porradas e tiroteios, juntamente com outros como Jean Claude Van Damme, Steven Seagal e Chuck Norris. A nica diferena para as dezenas de outros filmes similares a idia central com elementos de Fico Cientfica como a ambientao num futuro catico para a humanidade e a viagem temporal para o passado, que alis so clichs j exaustivamente explorados pelo cinema do gnero. Tanto que o roteiro apenas se preocupa com as cenas de ao, com muitas brigas, tiroteios e perseguies, no dando a menor importncia para questes cientficas pertinentes como por exemplo no explicar o procedimento de viagem ao passado e no especular sobre os efeitos causados pela alterao de eventos do passado que influenciariam no futuro. Essas questes so tratadas com muita superficialidade, sendo apenas meramente coadjuvantes para a trama central de ao.

    Mas interessante notar como Retrograde no um filme pretensioso, muito pelo contrrio, at bastante honesto com suas prprias limitaes, deixando claro que apenas mais um filme de ao, estrelando o troglodita Dolph Lundgren fazendo sua especialidade (porradas e tiroteios), numa histria que utiliza sutilmente elementos de Fico Cientfica e que de forma proposital no so explorados mais detalhadamente.

    E dentro dessa proposta o filme at consegue atingir seu objetivo, e talvez at agradar os fs no exigentes que esto apenas interessados numa sesso despretensiosa de uma hora e meia de cinema, com uma histria simples e sem nenhuma novidade, oferecendo aventura, ao e muita correria e barulho, alm de um final super previsvel, onde qualquer espectador um pouco mais atento j deve imaginar o que ir acontecer com o heri valento, o destino do vilo malvado e o resultado da misso para destruir os meteoros contaminados e salvar a humanidade.

    Quem controla o passado, determina o futuro frase do vilo Dalton e tambm a tagline de divulgao

    Retrograde (Retrograde, Estados Unidos / Inglaterra / Itlia / Luxemburgo, 2004) # 346 data: 29/10/05

    O Doce Avano da Faca por Wagner Teixeira

    Desde os anos 90, Petter Baiestorf se firmou como o grande nome do cinema trash transgressor marginal nacional com sua Canibal Filmes. E muito bom constatar que aps quase 20 anos passados do seu primeiro filme, ele continua com o mesmo esprito. O Doce Avano da Faca tem tudo que aprendemos a amar nos filmes da Canibal: personagens caricaturais, sangueira, mortes toscas, forte ironia crtica, e muita sacanagem. provocante e provocativo, seguindo a linha de Vadias do sexo Sangrento, de 2008.

  • Filmado em apenas 5 dias, no buclico cenrio de Palmitos / SC, um mdia metragem sobre o apaixonado e despojado casal Rerinelson (Coffin Souza) e Ana Clara (Gisele Ferran) que, por suas atitudes e crenas tidas como obscenas, despertam a ira de seus vizinhos fanticos religiosos.

    A maior inspirao recente para o Doce Avano foi Machete, de Robert Rodriguez. Mas aqui temos Gisele Ferran desempenhando o papel da caadora com facas. E, convenhamos, por mais que Danny Trejo seja uma figura lendria de Hollywood, Gisele fica muito mais interessante nesse papel. E ela realmente rouba a cena, completamente vontade (e como), com atuao segura em todo o filme, transitando com facilidade de uma ternura maliciosa para uma sede sanguinria de vingana. Alis, onde que o Baiestorf arruma tantas musas de tanta desenvoltura para seus filmes?

    As demais atuaes tambm so bem eficientes, hilrias e exageradas na medida certa para a proposta do filme, com destaque para o trio Coffin Souza, Ellio Copini e Jorge Timm, que acompanham Baiestorf desde o incio de suas produes e com ele atingiram um alto grau de entrosamento. Tudo est bem encaixado, desde as timas inseres sonoras, que do um tom cmico nas cenas mais ousadas, at o trabalho de direo e fotografia, que proporciona interessantes enquadramentos e cenas bem conduzidas. visvel a evoluo tcnica do diretor e sua equipe aps esses anos de estrada, mas sem nunca deixar de lado a tosqueira e a forma visceral e despojada de filmar.

    Um tema que preciso destacar nessa produo a interlinguagem. Rerinelson um desenhista de Histrias em Quadrinhos erticas, e em certo momento do filme temos uma verdadeira exposio de seus desenhos sado-masoquistas, enquanto Ana Clara recita versos ultra-sacanas. Uma boa sacada que sem dvida proporciona um diferencial, constituindo um pequeno filme dentro do filme, que pode at ser visto de forma independente. Os criativos e ousados desenhos so de autoria de Leyla Buk, em homenagem principalmente ao estilo de Carlos Zfiro.

    Se a primeira parte do filme, que apresenta, em literal profundidade, os personagens, bem desenvolvida, talvez a falha de O Doce Avano seja a sequncia final, depois que Ana Clara se transforma em Fria, o terror dos fanticos religiosos. Tudo acontece muito rpido. Embora as cenas das mortes sejam inventivas, a sensao que a caada perpetrada por Fria poderia ter sido mais trabalhada. Talvez um pouco mais de suspense e combates mais intensos. O filme bem poderia ter pelo menos uns vinte minutos a mais. Mas, obviamente, a falta de recursos e de tempo pode ter sido um empecilho. E essa sensao de quero mais que temos no final no deixa dvidas de que o filme realmente bom.

    Enfim, mais um clssico do Baiestorf. Explcito. Direto. Sem concesses. E assim sendo, no recomendado para conformistas e conservadores. Mas quem procura diverso e contedo forte vai saborear cada minuto...

    A morte apenas o comeo... de uma eterna vida de dor...