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KARINA NUNES KASPEROVICZUS Evolução das estratégias reprodutivas de Bothrops jararaca (Serpentes: Viperidae) São Paulo 2013

Karina Nunes Kasperoviczus Original

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dissertacao bothrops

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  • KARINA NUNES KASPEROVICZUS

    Evoluo das estratgias reprodutivas de Bothrops jararaca

    (Serpentes: Viperidae)

    So Paulo

    2013

  • KARINA NUNES KASPEROVICZUS

    Evoluo das estratgias reprodutivas de Bothrops jararaca

    (Serpentes:Viperidae)

    Tese apresentada ao programa de Ps-Graduao em

    Anatomia dos Animais Domsticos e Silvestres da

    Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia da

    Universidade de So Paulo para a obteno do ttulo

    de Doutor em Cincias

    Departamento:

    Cirurgia

    rea de concentrao:

    Anatomia dos Animais Domsticos e Silvestres

    Orientadora:

    Profa. Dra. Selma Maria de Almeida Santos

    So Paulo

    2013

  • Autorizo a reproduo parcial ou total desta obra, para fins acadmicos, desde que citada a fonte.

    DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAO-NA-PUBLICAO

    (Biblioteca Virginie Buff Dpice da Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia da Universidade de So Paulo)

    T.2849 Kasperoviczus, Karina Nunes FMVZ Evoluo das estratgias reprodutivas de Bothrops jararaca (Serpentes:Viperidae) / Karina Nunes

    Kasperoviczus. -- 2013. 134 f. : il.

    Tese (Doutorado) - Universidade de So Paulo. Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia. Departamento de Cirurgia, So Paulo, 2013.

    Programa de Ps-Graduao: Anatomia dos Animais Domsticos e Silvestres. rea de concentrao: Anatomia dos Animais Domsticos e Silvestres.

    Orientador: Profa. Dra. Selma Mara Almeida Santos. 1. Histrias de vida. 2. Variao geogrfica. 3. Ciclo reprodutivo. 4. Viperdae. 5. Biologia

    reprodutiva. 6. Bothrops jararaca. I. Ttulo.

  • FOLHA DE AVALIAO

    Autor: KASPEROVICZUS, Karina Nunes

    Ttulo: Evoluo das estratgias reprodutivas de Bothrops jararaca (Serpentes: Viperidae)

    Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Anatomia

    dos Animais Domsticos e Silvestres da Faculdade de Medicina

    Veterinria e Zootecnia da Universidade de So Paulo para a

    obteno do ttulo de Doutor em Cincias

    Data: _____/_____/_____

    Banca Examinadora

    Prof. Dr._____________________________________________________________

    Instituio:__________________________ Julgamento:_______________________

    Prof. Dr._____________________________________________________________

    Instituio:__________________________ Julgamento:_______________________

    Prof. Dr._____________________________________________________________

    Instituio:__________________________ Julgamento:_______________________

    Prof. Dr._____________________________________________________________

    Instituio:__________________________ Julgamento:_______________________

    Prof. Dr._____________________________________________________________

    Instituio:__________________________ Julgamento:_______________________

  • DEDICATRIA

    Dedico este trabalho aos meus pais, Nivea e

    Sergio (in memoria), por tudos que me

    ensinaram e pelo que sou hoje! Amo

    eternamente!!!

  • Ao meu marido Henrique Braz, por sua

    dedicao, pacincia (muita pacincia) e

    amor incondicional. Por estar ao meu lado

    nos bons e nos maus momentos, por todo

    incentivo, ajudae por confiar em mim! Meu

    bem... Sem voc essa tese no teria sado!

    Muito obrigado por tudo,eu te amo!!!

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo em primeiro lugar ao meu Deus, por sua bondade comigo.

    A minha orientadora Selma Maria de Almeida Santos, pela orientao, pelo exemplo profissional,

    pelo incentivo nos momentos difceis (que no foram poucos), por toda confiana, carinho,

    respeito, preocupao e acima de tudo pela amizade conquistada nesses anos de convivncia.

    Ao Otavio A. V. Marques, pelas valiosas sugestes durante a realizao deste trabalho, pelo

    apoio e amizade.

    Ao Ricardo J. Sawaya e Fausto Barbo, por me permitirem o acesso aos B. jararaca da ilha dos

    Franceses, pelos pelas valiosas sugestes, e principalmente pela amizade.

    Ao Hebert Ferrarezzi pelas preciosas sugestes, pela ajuda, amizade.

    Aos curadores das seguintes colees: Francisco L. Franco; Coleo Herpetolgica do Instituto

    Butantan. Glucia Funk Pontes; Coleo Herpetolgica da Puc Rio Grande do Sul. Mrcio

    Borges Martins; Coleo de rpteis da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Julio Cesar

    de Moura Leite; Museu de Histria Natural Capo da Imbuia. Daniel Fernandes; Coleo de

    rpteis da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Paula Passos e Ronaldo Fernandes; Coleo

    de rpteis do Museu Nacional do Rio de Janeiro. Paulo Manzani; Coleo de rpteis da Unicamp.

    Hussan Zaher; Coleo de rpteis do Museu de Zoologia da Universidade de So Paulo. Luciana

    Barreto Nascimento; Museu de Cincias Naturais da Puc-MG. Ricardo J Sawaya; (RJS), pela

    permisso do exame dos exemplares.

    A Glaucia Funk por disponibilizar dados de nascimento em cativeiro de B. jararacas do Clado

    sul.

  • Serena Migliore, Betina Flora e Daniela Gennari, por toda a ajuda com a coleta de dados e pela

    amizade.

    Ao querido amigo Valdir Jos Germano pelo companheirismo, por cada palavra de incentivo e

    apoio, tanto nos bons, como nos maus momentos, por todo carinho, por cada minuto gasto para

    me ajudar no meu trabalho que foi de extrema importncia, sem o qual no teria conseguido

    chegar at aqui. Valzinho, muito obrigado! Voc foi e muito importante pra mim!

    Ao meu Henrique B. P. Braz, pela amizade, por todo amor, pacincia e carinho. Por toda a ajuda

    em todas as fases desse trabalho, sem o qual no teria conseguido finalizar com xito. Muito

    obrigado por tudo!

    A Marta Antoniazzi e Carlos Jared por gentilmente terem liberado o uso dos equipamentos no

    Laboratrio de Biologia Celular e a Simone Jared pelo auxilio no uso dos equipamentos no

    mesmo laboratrio.

    A Lvia C. Santos e Claudio A. Rojas, pelas discusses, sugestes, confeco de algumas lminas

    histolgicas e pela amizade conquistada neste perodo de convivncia.

    As funcionrias do Laboratrio de Ecologia e Evoluo, Dona Maria M. Vendramini, Darina B.

    Favorito e Vera Moraes Torres, Kelly Kishi, Adriana Batista, Adriano, Fellone, Cristiene

    Martins, Regina Elaine da Silva por tanta ajuda com a coleta de dados, fotos, planilhas, enfim...

    pela amizade, carinho e pacincia.

    Aos colegas e estagirios do Laboratrio de Ecologia e Evoluo: Leticia R. Sueiro, Livia

    Cristina dos Santos, Karina Maria Pereira da Silva (Karina 2 hehe), Kalena Barros, Cristian

    Gomes, Natlia Torello e a todos os estagirios, pela amizade e pelo convvio e por tornarem

    meus dias mais agradveis.

    Aos colegas e integrantes do Clube do Caf, Henrique, Cristian, Natalia e Selma por cada

    cafezinho e momentos de descontrao, pela amizade e companheirismo.

  • As minhas grandes amigas Elisabeth M. Montes, Kelly Kishi, Cintia Vieira da Silva, Aline

    Barbosa, Silvia Guerra e Vanessa Meira, pela amizade, pelo apoio em todos estes anos de

    convivncia e por me fazerem mais feliz s por saber que vocs existem na minha vida. Muito

    obrigado meninas!

    Ao Ronaldo, Rose e demais funcionrios do laboratrio de histologia do departamento de

    anatomia da USP, por todo auxlio prestado.

    Ao Gileno Brasileiro, funcionrios e estagirios do Laboratrio especial de Colees Zoolgicas

    do Instituto Butantan, pela ajuda com a coleta de dados de B. jararaca e pela pacincia ao longo

    do meu doutorado.

    A minha famlia, em especial ao meu tio Rodrigues, por todo apoio que tem me dado nestes anos,

    pela correo do texto, pelo incentivo, carinho, amizade e por acreditar em mim.

    A Vilma Csar, por me ajudar com bibliografias, pela amizade, apoio e por acreditar em mim.

    A minha av, pelo amo, oraes, compreenso e apoio.

    A minha irm Karen, por existir na minha vida e ser minha irm...K, sou a pessoa mais sortuda

    do mundo por ter voc como minha irm... te amo at depois que para de respirar, obrigado por

    tudo, compreenso, amizade, cuidado, enfim...

    Ao meu cunhado Raniel, e aos mais lindos sobrinhos (Davi e Noah) de todo o mundo de todos os

    universos e de todas as galxias rsrs...por tornarem meus dias mais alegres!! Por todo amor, e

    distrao (que foram muito importantes). Obrigado por acreditar e confiar em mim.

    A meu amigo Ivan de S, por me acompanhar e por trabalhar comigo em tantas colees

    visitadas, que mesmo no gostando de serpentes e sem entender direito o que estava fazendo, me

    ajudou to prontamente!

  • A minha sogra Joilza por cada almoo, por cuidar da minha gatinha, pelo cuidado incondicional,

    Muito obrigada sogra!

    As minhas cunhadas Ana Claudia e Paula.

    Aos tios Claribel e Jlio Cesar, por terem cedido a casa de Perube para conseguir escrever a tese

    em paz.

    A FAPESP (Fundao de Amparo Pesquisa de So Paulo) pelo suporte financeiro essencial a

    este trabalho (processo n 2011/50026-0), e a Capes pelo auxilio financeiro no incio deste

    trabalho.

    A todos que de uma maneira ou de outra, foram extremamente importantes para mim, neste

    perodo em que desenvolvi a minha dissertao, mas que por um lapso de memria tenha me

    esquecido...

    Meu muito obrigado!!!

  • RESUMO

    KASPEROVICZUS, K. N. Evoluo das estratgias reprodutivas de Bothrops jararaca

    (Serpentes: Viperidae). [Evolution of reproductive strategies of Bothrops jararaca (Serpentes:

    Viperidae)]. 2013. 134 f. Tese (Doutorado em cincias) Faculdade de Medicina Veterinria e

    Zootecnia, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2013.

    Esse trabalho teve como objetivo estudar aspectos importantes das estratgias reprodutivas de

    machos e fmeas de Bothrops jararaca do clado norte (CN) e sul (CS) e das ilhas de Bzios (SP),

    Ilhabela (SP) e ilha dos Franceses (ES). Para isso, foram analisados exemplares de B. jararaca

    preservadas de diversas colees zoolgicas. Machos e fmea de B. jararaca do CN foram

    significativamente maiores que os machos e fmeas CS, no entanto tiveram cabeas

    relativamente menores e foram menos robustos. Fmeas do CN tm em mdia maior fecundidade

    e filhotes maiores do que fmeas do CS. O ciclo reprodutivo de machos e fmeas de ambas as

    populaes sazonal e no variou entre as estaes do ano. Fmeas do CN e do CS tem cpula

    outonal. A vitelognese tem incio no final do vero e fmeas grvidas so observadas a partir do

    final do inverno. Nascimentos de B. jararaca de ambos os clados podem ser observados

    principalmente no vero e podem se estender at o incio do outono. A estocagem de

    espermatozoides no tero e no infundbulo foi observada principalmente no outono e inverno.

    Ciclos reprodutivos de machos de ambos os clados so considerados do tipo ps-nupcial ou do

    tipo I. O incio da produo de espermatozoides na primavera e a fase ativa pode ser observada

    no vero. No outono e no inverno, os testculos esto inativos. Estocagem de espermatozoides

    nos ductos deferentes foi observada durante todos os meses do ano e o segmento sexual renal

    (SSR) apresentou a fase mais ativa (fase secretora) na primavera e vero (sincronizado com a

    espermatognese nos testculos) e fase no secretora no outono e no inverno. Esse padro dos

    ciclos dos machos foi observado em ambos os clados. Dessa forma, foram observadas variaes

    geogrficas nas caractersticas de histrias de vida entre as populaes do CN e CS, porm, no

    foram observadas diferenas entre os padres de ciclos reprodutivos. Assim, o ciclo reprodutivo

    de machos e fmeas de B. jararaca do CN e do CS so conservativo na espcie.

    Palavras-chave: Histrias de vida. Variao geogrfica. Ciclo reprodutivo. Viperdae. Biologia

    reprodutiva. Bothrops jararaca.

  • ABSTRACT

    KASPEROVICZUS, K. N. Evolution of reproductive strategies of Bothrops jararaca

    (Serpentes: Viperidae). [Evoluo das estratgias reprodutivas de Bothrops jararaca (Serpentes:

    Viperidae). 2013. 134 f. Tese (Doutorado em cincias) Faculdade de Medicina Veterinria e

    Zootecnia, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2013.

    This research aimed to study important aspects of reproductive strategies in male and female of

    Bothrops jararaca from north clade (CN), south clade (CS) including the islands of Bzios (SP),

    Ilhabela (SP), and Franceses (ES). We analyzed specimens of B. jararaca preserved on several

    zoological collections. Male and female of B. jararaca from CN were significantly longer than

    male and female from CS, however they had relatively smaller heads and were less robust. Male

    and female of B. jararaca from CN were significantly larger than individuals from CS, had

    relatively smaller heads and were less robust. Females from CN had on average higher fecundity

    and larger offspring than females of CS. The reproductive cycle of males and females from both

    populations was seasonal and the timing of events was also similar between clades. Females of

    CN and CS have autumn mating season. The vitellogenesis starts in the end of the summer and

    pregnant females are observed from late winter. Births of B. jararaca occurred from early

    summer to the beginning of autumn. Sperm storage in the uterus and infundibulum was mainly

    observed during autumn and winter. Reproductive cycles of male of both clades are type

    postnuptial or a type I. The beginning of the sperm production occurs in spring and the active

    phase was observed in the summer. During autumn and winter, the testicles are inactive. Sperm

    storage in the different ducts was observed throughout the year and the sexual segment of the

    kidney (SSK) shows a more active phase during spring and summer and non-secretory phase on

    autumn and winter. This pattern of cycles of male was observed in both clades. In conclusion,

    there is geographical variation in life-history characteristics between CN and CS populations.

    However, differences among the reproductive cycle pattern were not evident. Then, the

    reproductive cycles of male and female of CN and CS are conservative in the species.

    Keywords: Life-history. Geographical variation. Reproductive cycle. Viperidae. Reproductive biology.

    Bothrops jararaca.

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ............................................................................................................ 16

    1.1BOTHROPS JARARACA REVISO DA LITERATURA ......................................................... 19

    2 OBJETIVO GERAL ................................................................................................... 22

    2.1 OBJETIVOS ESPECFICOS .............................................................................................. 22

    2.2 HIPTESES E PREDIES PARA AS ESTRATGIAS REPRODUTIVAS DE B. JARARACA ....... 22

    3 MATERIAL E MTODOS ........................................................................................ 24

    3.1 REA DE ESTUDO ....................................................................................................... 24

    3.2 COLETA DE DADOS ....................................................................................................... 28

    3.2.1 Morfologia e histrias de vida ................................................................................ 32

    3.2.2 ndice de dimorfismo sexual no tamanho (SSD) .................................................... 34

    3.2.3 Caracterizao dos ciclos reprodutivos de machos e fmeas ................................. 35

    3.2.4 Contrao da Musculatura Uterina (UMT) ........................................................... 35

    3.2.5 Histologia Gonadal ................................................................................................ 36

    3.2.6 Fecundidade ............................................................................................................ 38

    3.2.7 poca de nascimento dos filhotes ........................................................................... 38

    3.2.8 Tamanho dos filhotes .............................................................................................. 38

    3.3 FORMA DE ANLISE DOS RESULTADOS ......................................................................... 39

    4 RESULTADOS ............................................................................................................. 41

    4.1 MORFOLOGIA E HISTRIA DE VIDA (COMPARAES INTERSEXUAIS) ............................ 41

    4.2 MORFOLOGIA E HISTRIA DE VIDA (COMPARAES INTERPOPULACIONAIS) ................ 47

    4.2.1 Morfologia e Maturidade sexual ........................................................................... 47

    4.2.2 Fecundidade ............................................................................................................ 51

    4.2.3 Tamanho dos filhotes .............................................................................................. 53

  • 4.3 CARACTERIZAO DOS CICLOS REPRODUTIVOS ........................................................... 54

    4.3.1 Fmeas ...................................................................................................................... 54

    4.3.1.1 Vitelognese, gestao e pocade nascimento dos filhotes .............................. 54

    4.3.1.2 poca de cpula ................................................................................................... 56

    4.3.1.3 Contrao da musculatura uterina (UMT) e estocagem de esperma .............. 57

    4.3.1.4 Morfologia e estocagem infundibular ................................................................ 60

    4.3.2 Machos ...................................................................................................................... 66

    4.3.2.1 Morfologia macroscpica ................................................................................... 66

    4.3.2.2 Ciclo espermatognico, estocagem de espermatozoides nos

    ductos deferentes e SSR ........................ 69

    4.3.2.2.1 Segmento sexual renal (SSR) ............................................................................ 69

    4.3.2.2.2 Ciclo espermatognico ........................................................................................ 73

    4.3.2.2.3 Ductos deferentes ............................................................................................... 76

    4.4 RESUMO DOS CICLOS REPRODUTIVOS DE MACHOS E FMEAS DE

    BOTHROPS JARARACA DO CN E CS ............................... 80

    4.5 JARARACAS INSULARES ................................................................................................ 82

    4.5.1 Maturidade sexual ................................................................................................. 82

    4.5.2 Tamanho do corpo (interpopulacional) .................................................................. 82

    4.5.3 Tamanho do corpo entre as populaes insulares ................................................. 84

    4.6 CICLOS REPRODUTIVOS ................................................................................................. 85

    4.6.1 Fmeas ...................................................................................................................... 85

    4.6.1.1 Contrao da musculatura uterina (UMT) ...................................................... 85

    4.6.2 Machos ...................................................................................................................... 87

    4.6.2.1 Ciclos reprodutivos .............................................................................................. 87

    5 DISCUSSO ................................................................................................................. 92

  • 5.1 MATURIDADE E DIMORFISMO SEXUAL INTRAESPECFICO ............................................ 92

    5.2 MORFOLOGIA E HISTRIAS DE VIDA ............................................................................. 94

    5.3 CARACTERIZAO DOS CICLOS REPRODUTIVOS ........................................................... 98

    5.3.1 Fmeas ...................................................................................................................... 99

    5.3.2 Machos ................................................................................................................... 104

    6 CONCLUSES .......................................................................................................... 112

    REFERENCIAS ............................................................................................................ 114

    APNDICE ..................................................................................................................... 128

  • 16

    1 INTRODUO

    Estratgias reprodutivas podem ser definidas como o conjunto de caractersticas

    manifestadas por uma espcie para alcanar o sucesso reprodutivo de modo a garantir o equilbrio

    populacional (VAZZOLER, 1996). Dentre tais caractersticas podemos citar: tamanho e nmero

    de filhotes, idade e tamanho na maturidade sexual, tamanho mdio do corpo do adulto, perodo e

    modo reprodutivo, sincronia reprodutiva intersexual, poca da fecundao e frequncia

    reprodutiva (SEIGEL; FORD, 1987; SHINE, 2003). Todas essas caractersticas se combinam

    entre si e com o ambiente impondo limites e restries de tal maneira que os organismos

    necessitam escolher uma em detrimento da outra (trade-offs) levando-os a alcanar um

    equilbrio evolutivo nos valores intermedirios (STEARNS, 1989, 1992).

    Contudo, as estratgias reprodutivas apresentam considervel variao geogrfica em

    diversas espcies animais (SIMPFENDORFER et al., 2001; WAPSTRA et al., 2001;

    MORRISON; MARC-HERO, 2003; LITZGUS; MOUSSEAU, 2006; ALTWEGG et al., 2007).

    Em particular, rpteis amplamente distribudos frequentemente apresentam variao em

    caractersticas reprodutivas como tamanho do corpo, fecundidade, tamanho do filhote, modo e

    perodo reprodutivo (TINKLE, 1961; SEIGEL; FORD, 2001; WAPSTRA et al., 2001; JI;

    WANG, 2005; JENKINS et al., 2009, ZUFFI et al., 2009). As variaes geogrficas nas

    estratgias reprodutivas podem refletir adaptao local s diferentes condies ambientais ou

    mesmo plasticidade fenotpica induzida por fatores proximais, como temperatura e

    disponibilidade de recursos (BALLINGER, 1979; SAINT-GIRON, 1982; SEIGEL; FITCH,

    1985; DUNHAM et al., 1988; SEIGEL; FORD, 2001).

    Uma caracterstica chave dentro das estratgias reprodutivas de serpentes e que

    frequentemente apresenta grande variao geogrfica o tamanho do corpo, o qual determina

    diretamente diversos parmetros reprodutivos importantes. Por exemplo, a fecundidade (i.e.

    quantidade, tamanho e massa dos filhotes) positivamente correlacionada com o tamanho do

    corpo materno, ou seja, fmeas maiores podem produzir proles mais numerosas ou filhotes

    maiores (FITCH, 1970, 1982; SHINE, 1993, 1994). Portanto, variao no tamanho do corpo

    consequentemente implica em variao tambm na fecundidade.

  • 17

    Diversos processos podem contribuir para a variao no tamanho corpreo em populaes

    naturais. Primeiro, o tamanho mdio do corpo influenciado por taxas de sobrevivncia

    diferencial nos adultos: Os animais em uma rea podem ser menores do que em outra

    simplesmente porque eles so, na mdia, mais jovens (KING, 1989). Segundo, o tamanho do

    corpo pode diferir por modificao gentica local (possivelmente por adaptao) ou mesmo

    devido a um efeito fenotpico direto da disponibilidade de alimento nas taxas de crescimento

    (MADSEN; SHINE, 1993). Caractersticas ecolgicas como diversidade de espcies, competio

    interespecfica e dimenses de nicho variam geograficamente e podem afetar a disponibilidade de

    alimento em populaes diferentes (BERRY et al., 1987; EBENHARD, 1990).

    Contudo, embora algumas publicaes relatem variao clinal no tamanho mdio do

    corpo em rpteis Squamata (e.g. ANGILLETTA et al., 2004), um claro padro de variao ainda

    no pode ser traado de forma definitiva (ASHTON, 2001; PINCHEIRA-DONOSO et al., 2008).

    Apesar disso, pode se notar que por vezes em ambientes pequenos e isolados como as ilhas,

    indivduos insulares frequentemente tendem a apresentar valores extremos de tamanhos corporais

    comparados a seus parentes continentais mais prximos (CASE, 1978; SHINE, 1987; MORI;

    HASEGAWA, 2002; BOBACK, 2003; LIMOLINO, 2005). Nesses ambientes dois padres so

    diversas vezes observados: o nanismo, descrito primeiramente por Case (1978) e mais

    recentemente o gigantismo (MORI, 1994). Esses diferentes padres sugerem mudanas

    evolutivas na taxa e no tempo de desenvolvimento bem como na ocorrncia de determinados

    eventos (heterocronia). Neste caso, o crescimento e aquisio da maturidade sexual (GOULD,

    1977; MCKINNEY; MCNAMARA, 1991).

    Assim como o tamanho do corpo dos adultos, o tamanho dos filhotes no nascimento

    uma caracterstica fundamental na histria de vida de uma espcie. O tamanho dos filhotes no

    nascimento em muitos animais assumido ser relacionado ao fitness, porque filhotes maiores so

    considerados ter melhor desempenho e, portanto, maiores chances de sobrevivncia do que os

    menores (SINERVO, 1990; STEARNS, 1992). Entretanto, como os recursos reprodutivos totais

    disponveis para qualquer fmea so finitos, ela no pode aumentar o tamanho do filhote sem

    uma concomitante reduo na quantidade de filhotes produzida (SINERVO; LICHT, 1991;

    EINUM; FLEMING, 2000). A deciso de uma fmea entre produzir poucos ovos grandes ou

    muitos ovos pequenos reflete uma estratgia adotada por ela para maximizar o nmero de filhotes

    sobreviventes. Esses trade-offs tambm tendem a variar geograficamente. A teoria das histrias

  • 18

    de vida prediz que em ambientes os quais retardam o crescimento, a produo de poucos ovos

    grandes favorecida por conta do resultante aumento do filhote (TAYLOR; WILLIAMS, 1984;

    YAMPOLSKY; SCHEINER, 1996). Caractersticas maternas e ambientais se combinam para

    determinar a estratgia reprodutiva tima. Pelo fato das caractersticas maternas serem

    parcialmente moldadas pelo ambiente, os fatores ambientais podem ter efeitos diretos e indiretos

    na estratgia reprodutiva tima.

    Outra caracterstica que varia geograficamente a poca reprodutiva. Serpentes de zonas

    temperadas possuem ciclos sazonais sincronizados s estaes mais quentes do ano (SEIGEL;

    FORD, 1987). Em regies tropicais, no entanto, os ciclos so mais variveis podendo haver

    espcies com reproduo sazonal (MARQUES, 1996a; FOWLER et al., 1998; ALMEIDA-

    SANTOS et al., 2004; KASPEROVICZUS, 2009; ROJAS, 2009; MARQUES et al., 2013) e

    outras consideradas com reproduo contnua (PIZZATTO; MARQUES, 2002; PIZZATTO et

    al., 2008; OROFINO et al., 2010), sendo que estas ltimas podem apresentar picos reprodutivos

    (PIZZATTO; MARQUES, 2002).

    A extenso do perodo reprodutivo de uma serpente pode estar relacionada a fatores

    climticos, disponibilidade de recursos e ao modo reprodutivo (SAINT-GIRONS, 1982;

    SEIGEL; FORD 1987; MARQUES, 1996a, b; MADSEN; SHINE, 2000; ALMEIDA-SANTOS;

    SALOMO, 2002; BROWN; SHINE, 2006; PIZZATTO et al., 2007; SHINE; BROWN, 2008).

    Embora estudos recentes realizados com serpentes neotropicais tenham avaliado a influncia de

    alguns destes fatores sobre o ciclo reprodutivo (MARQUES, 1996a, b; HARTMANN et al.,

    2004; PIZZATTO; MARQUES, 2002, 2006) ainda difcil fazer uma predio segura para os

    diferentes grupos de serpentes.

    Correlaes entre estratgias reprodutivas e diferentes fatores ambientais, assim como

    traos biolgicos tm estimulado pesquisadores na busca por explicaes adaptativas para a

    diversidade reprodutiva das serpentes. Entretanto, grande parte das explicaes para as variaes

    derivada de comparaes interespecficas o que acaba confundindo as interpretaes, pois, as

    estratgias reprodutivas por vezes so conservativas em determinadas linhagens filogenticas

    ocorrendo em diferentes regies (VITT, 1992; ALMEIDA-SANTOS; SALOMO, 2002;

    PIZZATTO; MARQUES, 2007). Dessa forma, comparaes intraespecficas so fundamentais

    no estudo da evoluo das estratgias reprodutivas por reduzirem a influncia filogentica e

    separarem tanto fatores genticos como no genticos, facilitando comparaes robustas na

  • 19

    caracterstica de interesse. Nesse sentido, espcies amplamente distribudas so chaves porque

    frequentemente ocupam ambientes suficientemente diversos de forma que podemos esperar

    significante diversidade nas histrias de vida. Esse foco filogentico restrito permite testes

    robustos de hipteses adaptacionistas.

    1.1 BOTHROPS JARARACA REVISO DA LITERATURA

    A serpente Bothrops jararaca proporciona uma excelente oportunidade de se investigar a

    influncia desses fatores nas variaes geogrficas das estratgias reprodutivas. B. jararaca

    distribui-se amplamente no Brasil desde o sul da Bahia at o norte do Rio Grande do Sul,

    incluindo diversas ilhas continentais (HOGE; ROMANO-HOGE, 1981; CAMPBELL; LAMAR,

    2004; CICCHI et al., 2007; CENTENO et al., 2008; SUZUKI; FURTADO, 2008). Portanto, B.

    jararaca apresenta ampla distribuio (~15 de latitude). Ocupa reas com climas distintos, ou

    seja, do tipo tropical e subtropical e regies tpicas de Mata Atlntica, podendo adentrar algumas

    regies de cerrado e populaes de coespecficos isoladas em ilhas. Tais diferenas climticas e

    ambientais ao longo de sua distribuio podem resultar em restries sazonais e seleo nos

    traos de histria de vida (JI; WANG, 2005; ZUFFI et al., 2009).

    Alm disso, trabalhos recentes parecem indicar a ocorrncia de dois filogrupos

    geneticamente distintos (um mais ao norte e outro mais ao sul) e provavelmente com histrias

    evolutivas diferentes (GRAZZIOTIN et al., 2006, SUZUKI; FURTADO, 2008). Por exemplo,

    Grazziotin et al (2006) realizaram anlises da variao no gene mitocondrial citocromo b de B.

    jararaca. Tais anlises mostraram uma espcie altamente diversa e a existncia de dois clados

    geograficamente estruturados, com uma divergncia bem enraizada e alopatria quase absoluta. O

    primeiro grupo, denominado Clado Norte, inclui as populaes mais setentrionais da

    distribuio (Norte de SP, MG, RJ e ES) e o segundo, denominado Clado Sul, abrange as

    populaes meridionais (Sul de SP, SC, PR, RS). O tempo de divergncia entre os dois clados foi

    estimado em cerca de 3,8 milhes de anos atrs, no Plioceno, um perodo de intensas mudanas

    climticas e frequentes fragmentaes da floresta tropical. Alm disso, os dados tambm sugerem

    que os dois grupos sofreram uma grande expanso em tamanho populacional entre 50 e 100 mil

  • 20

    anos atrs. Todavia, o grupo do sul exibiu um sinal mais evidente de flutuao do tamanho

    populacional do que o grupo do norte. Em contrapartida, algumas populaes insulares de B.

    jararaca apresentam grande similaridade gentica entre si e com as populaes continentais

    adjacentes (SUZUKI; FURTADO, 2008).

    Interessante notar que a zona de contato entre esses dois clados praticamente se sobrepe

    zona de transio entre os climas tropical e subtropical. Assim, diante de todas as observaes

    acima algumas questes acerca da evoluo das estratgias reprodutivas de B. jararaca podem

    ser levantadas:

    (1) Existe variao geogrfica nas estratgias reprodutivas de Bothrops jararaca ao longo de

    sua distribuio?

    (2) O padro geral das estratgias reprodutivas de B. jararaca ao longo de sua distribuio

    geogrfica se adequa aos padres preditos pela teoria das histrias de vida?

    (3) O perodo de divergncia entre os dois clados (estimado em 3,8 milhes de anos) e a

    provvel exposio a diferentes presses seletivas ao longo de sua histria evolutiva foi

    capaz de produzir diferentes padres reprodutivos, similarmente ao que ocorreu com

    congnere B. insularis, separado h aproximadamente 10 mil anos?

    At o momento, nenhum estudo sistemtico a fim de analisar as variaes nas estratgias

    reprodutivas ao longo da distribuio nesta espcie foi ainda realizado. A nica variao descrita

    entre as diferentes zonas climticas a ocorrncia de menores quantidades de escamas ventrais

    nas populaes meridionais (PR e SC) em comparao s populaes setentrionais (RJ, MG e

    ES), com os espcimes de So Paulo. Os valores apresentados so intermedirios entre os dois

    padres (HOGE et al., 1977). Na maioria das serpentes, o nmero de escamas ventrais

    positivamente correlacionado com o nmero de vrtebras e, consequentemente, com o tamanho

    do corpo (LINDELL et al., 1993; LINDELL, 1994). Portanto, a observao de Hoge et al. (1977)

    sugere a ocorrncia de maiores tamanhos corpreos nas populaes setentrionais (i.e. Clado

    Norte), o que pode ter importantes implicaes para a reproduo.

    A reproduo em populaes de B. jararaca do clado norte foi estudada apenas para a

    cidade de So Paulo, Serra do Mar e adjacncias (JANEIRO-CINQUINI et al., 1993;

    TRAVAGLIA-CARDOSO, 2001; ALMEIDA-SANTOS, 2005; ALMEIDA-SANTOS;

    SALOMO, 2002; MORAES, 2008). Apesar da proximidade dessas localidades, tais estudos

    revelaram algumas diferenas importantes nas estratgias reprodutivas. Por exemplo, Moraes

  • 21

    (2008) constatou diferenas significativas no grau de dimorfismo sexual entre populaes

    litorneas e populaes de reas adjacentes a Serra do Mar e do planalto do Estado de So Paulo

    e as considerou associadas s diferenas nos tamanhos das presas experimentadas por cada uma

    dessas populaes. Para o clado sul, Alves et al (2000) apresentaram dados reprodutivos de

    cativeiro de espcimes procedentes do Rio Grande do Sul. As observaes dos autores

    aparentemente sugerem algumas diferenas com relao s populaes do clado norte como, por

    exemplo, menores tamanhos na maturidade e menores ninhadas.

    Com relao s populaes insulares pouco tambm foi feito. Porm, algumas inferncias

    podem ser feitas a partir de estudos de algumas populaes de congneres isolados em ilhas. Por

    exemplo, B. alcatraz e B. insularis apresentam tamanhos corporais menores e atingem a

    maturidade com menores tamanhos do que B. jararaca do continente (MARQUES et al., 2002a,

    b; KASPEROVICZUS, 2009). Dados preliminares apontam diferenas no tamanho do corpo e na

    maturidade tambm nas populaes de B. jararaca de outras ilhas do estado de So Paulo

    (BARBO et al., 2012). Essas diferenas poderiam ter levado a evoluo de diferentes estratgias

    reprodutivas como observado recentemente em B. insularis da ilha da Queimada Grande,

    estreitamente aparentada com B. jararaca (KASPEROVICZUS, 2009). Qualquer variao no

    tamanho e idade na maturidade sexual tem importantes implicaes para as estratgias

    reprodutivas de uma populao em particular porque aps a maturidade a energia antes destinada

    para o crescimento, manuteno e estoque, agora repartida tambm com a reproduo

    (ANDREWS, 1982; ADOLPH; PORTER, 1993).

    Variaes nos ciclos reprodutivos tambm j foram evidenciadas. Machos de B. insularis

    apresentaram padro reprodutivo singular entre os Bothrops, principalmente quando comparado a

    jararaca continental (KASPEROVICZUS, 2009). Enquanto B. jararaca apresenta um ciclo

    reprodutivo do Tipo I (ps-nupcial), isto , a espermatognese ocorre na primavera e no vero e a

    estocagem de espermatozoides no outono, perodo em que so observadas as cpulas

    (ALMEIDA-SANTOS, 2005), B. insularis apresenta um ciclo do tipo III (pr-nupcial), isto , a

    espermatognese ocorre do outono a primavera (com um perodo de dormncia no inverno) e

    repouso reprodutivo no vero (KASPEROVICZUS, 2009).

  • 22

    2 OBJETIVO GERAL

    O presente trabalho teve como objetivo verificar a ocorrncia de variao geogrfica nas

    estratgias reprodutivas de Bothrops jararaca dos dois filogrupos geneticamente distintos.

    2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS

    1- Determinar as medidas corpreas dos adultos e verificar a ocorrncia de dimorfismo

    sexual;

    2 - Estimar o tamanho corporal mnimo de maturao sexual de machos e fmeas;

    3 - Caracterizar os ciclos reprodutivos de machos e fmeas avaliando-se o trato reprodutor

    macroscpica e microscopicamente;

    4 - Estimar o perodo de corte e acasalamento e a poca de fecundao;

    5 - Verificar a ocorrncia de espermatozoides no trato reprodutor das fmeas (vagina, tero,

    infundbulo) por meio de anlises histolgicas, bem como o fenmeno da estocagem de

    espermatozoides por meio de contrao da musculatura uterina (UMT);

    6 - Estimar a fecundidade e determinar as medidas corpreas dos neonatos;

    7 - Caracterizar a atividade sazonal das populaes dos clados norte e sul.

    2.2 HIPTESES E PREDIES PARA AS ESTRATGIAS REPRODUTIVAS DE BOTHROPS JARARACA

    Dada a diferena relativamente grande nos climas, extenso da sazonalidade e tipos de

    ambientes ao longo da distribuio de B. jararaca, presume-se que haja variao nas estratgias

    reprodutivas. Tais diferenas podem resultar em restries sazonais e seleo dos caracteres

    reprodutivos.

  • 23

    Baseado nas informaes publicadas e na teoria das histrias de vida espera-se que as

    populaes do clado sul (clima temperado) apresentem adultos com menores tamanhos corporais

    e consequentemente com menores tamanhos na maturidade, pois tal ambiente propenso a maior

    sazonalidade dificultando o crescimento. Tal condio acarretaria uma reduo na fecundidade

    para essas populaes. Contudo, buscando contrabalancear a perda no nmero de ovo e

    maximizar o sucesso reprodutivo elas investiriam em ovos maiores resultando assim em filhotes

    maiores no nascimento. Alm disso, a quantidade de filhotes tenderia a variar menos nas

    populaes de clima temperado.

    Com relao ao ciclo reprodutivo espera-se que o ciclo seja sazonal em todas as

    populaes de estudo. Entretanto, as populaes temperadas tenderiam a diferir apenas na

    extenso, sendo mais amplo na regio tropical. J o ciclo dos machos espera-se que haja

    diferenas, pois o ciclo espermatognico altamente dependente da temperatura e de

    disponibilidade de recursos (KASPEROVICZUS, 2009).

  • 24

    3 MATERIAL E MTODOS

    Consideramos os dados obtidos de alguns exemplares insulares (e.g. ilha de Bzios e ilha

    dos Franceses) bastante diferentes dos observados em B. jararaca (Figura 1) continentais,

    especialmente com relao s variaes morfolgicas. Dessa forma, essa tese ir tratar essas

    populaes insulares de forma separada das populaes continentais. No entanto, os mtodos

    utilizados para o estudo dessas populaes foram os mesmos utilizados para as populaes

    continentais.

    3.1 REA DE ESTUDO

    Esse trabalho baseou-se na diviso proposta por Grazziotin et al. (2006) em clado norte e

    clado sul (Figura 2). As procedncias dos exemplares de B. jararaca analisados abrangeram

    quase toda a distribuio da espcie (CAMPBELL; LAMAR, 2004). O clado norte compreende

    as populaes da Bahia, Esprito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e So Paulo e o clado sul os

    estados do Paran, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. No foram examinados neste trabalho

    exemplares provenientes da Bahia (GRAZZIOTIN et al., 2006). Foram avaliados tambm

    exemplares de B. jararaca provenientes de duas ilhas do litoral de So Paulo (ilha de Bzios e

    Ilhabela) e uma ilha do litoral do Esprito Santo (ilha dos Franceses) (Tabela 1).

  • 25

    Figura 1 - Foto de um exemplar adulto de Bothrops jararaca

    Foto: Ricardo J. Sawaya. (1999)

  • 26

    Figura 2 - Mapa da distribuio geogrfica de Bothrops jararaca

    Fonte: Mapa extrado com permisso de Grazziottin et al. (2006).

    Os indivduos do clado norte so representados por () e os indivduos do clado sul por (). As linhas

    slida e pontilhada indicam os limites das supostas barreiras genticas entre os clados.

    Tabela 1 Caractersticas das ilhas estudadas

    rea da ilha

    (km2)

    Distncia do

    continente

    Coordenadas

    Geogrficas Municpio/Estado

    Ilhabela 335,9 1,8 23 47S e 45 21W Ilhabela/SP

    Ilha de Bzios 7,75 24,1 23 48S e 45 08W Ilhabela/SP

    Ilha dos Franceses 0,12 4,0 2055S e 4045W Itapemirim/ES

  • 27

    As populaes do clado norte ocupam reas de clima tropical mido-seco, com

    temperaturas mdias anuais variando entre 18 e 24 C. No vero, as temperaturas variam em

    mdia entre 22 e 26 C, podendo atingir os 30 C (Figura 3). As chuvas concentram-se no

    principalmente no vero quando cerca de 70% do total mdio de 2000 a 3000 mm da rea

    precipita-se entre novembro e maro (MENDONA; DANNI-OLIVEIRA, 2007). J as

    populaes do clado sul ocupam regies de clima subtropical mido, onde a variabilidade trmica

    bastante acentuada. As mdias anuais situam-se entre 14 e 22 C, com baixas temperaturas no

    inverno. O vero apresenta temperaturas mdias mensais que variam de 20 a 26 C (Figura 4). As

    chuvas distribuem-se com maior regularidade ao longo do ano (MENDONA; DANNI-

    OLIVEIRA, 2007).

    Figura 3 Climatograma relativo rea ocupada por Bothrops jararaca do clado norte

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    per

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    )

    Meses

    Temperatura mdia Precipitao acumulada

  • 28

    Figura 4 - Climatograma relativo rea ocupada por Bothrops jararaca do clado sul

    3.2 COLETA DE DADOS

    Este trabalho envolveu a coleta de dados de animais preservados de B. jararaca

    disponvel em diversas colees zoolgicas brasileiras (Quadro 1).

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    J F M A M J J A S O N D

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    C)

    Meses

    Temperatura mdia Precipitao acumulada

  • 29

    Quadro 1 - Colees Zoolgicas que tiveram exemplares de Bothrops jararaca analisados.

    Clado Coleo (Sigla)

    Norte Coleo Herpetolgica Alphonse Richard Hoge (IBSP)

    Norte Museu de Zoologia Prof. Ado Jos de Cardoso, Universidade Estadual de Campinas

    (ZUEC)

    Norte Hospital Vital Brazil (HVB)

    Norte Museu de Zoologia da Universidade de So Paulo (MZUSP)

    Norte Animais disponibilizados pelo pesquisador Ricardo Sawaya, da Unifesp (RJS)

    Norte Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais (PUC-MG)

    Norte Museu Nacional do Rio de Janeiro (MNRJ)

    Norte Coleo Zoolgica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

    Norte Animais de trabalho de campo de Ricardo J. Sawaya ainda no tombados em coleo

    (RJS)

    Sul Museu de Histria Natural Capo da Imbuia (MHNCI)

    Sul Museu de Cincias e Tecnologia Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do

    Sul (MCP)

    Sul Coleo Zoolgica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

    Foi analisado um total de 1358 exemplares (Apndice A) de Bothrops jararaca machos e

    fmeas (maduros, imaturos e neonatos) (Quadro 2), provenientes de diversas colees zoolgicas

    brasileiras (Quadro 1). O mapa da distribuio geogrfica dos exemplares analisados encontra-se

    na figura 5.

  • 30

    Quadro 2 Nmero de exemplares de Bothrops jararaca analisados por clado

    Populao Total de animais

    examinados Procedncia dos exemplares

    Clado Norte

    So Paulo 316 IBSP, ZUEC

    Ilha de Bzios - SP 52 IBSP

    Ilhabela - SP 36 IBSP, RJS

    Rio de Janeiro 177 MNRJ, UFRJ, MZUSP

    Minas Gerais 55 PUC-MG, MZUSP, MNRJ,IBSP

    Esprito Santo 49 MZUSP, RJS, MNRJ, IBSP

    Ilha dos Franceses - ES 28 RJS

    Total 713

    Clado Sul

    Paran 298 MHNCI, MCP

    Rio Grande do Sul 201 IBSP, MCP, UFRGS

    Santa Catarina 146 MCP, UFRJ

    Total 645

  • 32

    3.2.1 Morfologia e histrias de vida

    Os dados de morfologia corprea (comprimento do corpo, comprimento da cauda,

    comprimento da cabea e massa) de B. jararaca foram obtidos a partir de exemplares machos e

    fmeas maduros sexualmente. A maturidade sexual nas fmeas inferida a partir da observao

    do menor indivduo com folculos vitelognicos (>10 mm), embries ou ovidutos pregueados no

    trato reprodutivo (Figura 6B; SHINE, 1977a) ou pela constatao da presena de

    espermatozoides no trato reprodutor (KASPEROVICZUS, 2009). Nos machos a maturidade

    sexual inferida a partir da observao do menor indivduo com ductos deferentes opacos e

    enovelados (SHINE, 1977b; ALMEIDA-SANTOS, 2005; Figura 7).

    Figura 6 Espcimes fmea de Bothrops jararaca dissecados na regio abdominal

    Fonte: Kasperoviczus, K.N. (2013)

    A - Fmea madura, porm no reprodutiva com folculos em vitelognese primria. Note o tero posterior

    pregueado. B Fmea madura com embries no ovidutos. F (folculo no vitelognicos - V1 no ovrio); I

    (intestino); OV (ovrio); UT (tero posterior); VT (vitelo); * (embrio).

    A B

  • 33

    Figura 7 - Macho de Bothrops jararaca dissecado prximo regio caudal expondo os ductos deferentes

    direito e esquerdo

    Fonte: Kasperoviczus, K.N. (2013)

    I (intestino); H (hemipnis); Setas apontam os ductos deferentes direito e esquerdo.

    Ao todo foram utilizados para as anlises morfolgicas 216 fmeas e 147 machos do

    clado norte e 182 fmeas e 157 machos do clado sul.

    Para as anlises morfolgicas de Ilhabela foram utilizados dados de 12 machos e 11

    fmeas. Da ilha de Bzios avaliamos 20 machos e 12 fmeas e da ilha dos Franceses nove

    machos e oito fmeas.

    Cada exemplar adulto teve os seguintes dados registrados: (1) comprimentos rostro-

    cloacal (CRC) e caudal (CC; ambas as medidas tomadas com fita mtrica milimetrada); (2)

    comprimento da cabea (CCAB; com paqumetro digital; 0,01 mm) (Figura 8); (3) massa, aps

    drenagem do lquido preservativo conforme Martins et al. (2001), com dinammetro Pesola; 0,5

    g e (4) sexo (exame gonadal).

  • 34

    Figura 8 Esquema indicando as medidas corpreas tomadas de cada indivduo de Bothrops jararaca

    CC (comprimento da cauda); CCAB (comprimento da cabea); CRC (Comprimento rostro-cloacal).

    3.2.2 ndice de dimorfismo sexual no tamanho (SSD)

    O ndice de dimorfismo sexual (SSD) foi calculado utilizando-se a frmula: SSD = 1-

    [CRC mdio dos adultos do sexo de maior tamanho/CRC mdio dos adultos do sexo de menor

    tamanho] conforme Shine (1944).

  • 35

    3.2.3 Caracterizao dos ciclos reprodutivos de machos e fmeas

    Para caracterizar o ciclo reprodutivo de B. jararaca cada exemplar foi dissecado por meio

    de uma inciso ventral ao longo de dois teros posteriores do corpo. As fmeas tiveram os

    seguintes dados registrados: (1) o estgio folicular, ou seja, se o animal encontrava-se em

    vitelognese primria (V1; Figura 6A) ou vitelognese secundria/ovo/embrio (V2; as distines

    entre folculos em vitelognese primria (V1) e vitelognese secundria (V2) foram feitas por

    meio do comprimento folicular; Figura 6B), (2) nmero de folculos ovarianos ou embries, (3)

    tamanho do maior folculo ovariano ou embrio (com paqumetro digital; 0,01 mm) e (4)

    presena ou no de contrao muscular uterina (Figura 9). Nos machos, os seguintes dados foram

    tomados: (1) comprimento, largura e espessura dos testculos direito e esquerdo (medidos com

    paqumetro digital; 0,01mm) e (2) largura do ducto deferente direito e esquerdo na poro caudal

    (medidos com paqumetro digital; 0,01mm; Almeida-Santos et al. (2004).

    Para clculo do volume testicular, foi utilizada a frmula: VT = 4/3 abc; onde a = 1/2

    comprimento, b = 1/2 largura e c = 1/2 espessura (SHINE, 1980). O volume dos testculos foi

    utilizado como indicador da atividade espermatognica (FOX, 1952; SHINE, 1977a; VOLSE,

    1944).

    3.2.4 Contrao da Musculatura Uterina (UMT)

    Foi averiguada em cada fmea a regio posterior do tero para constatar a presena de

    contrao muscular uterina (UMT; Figura 9). Segundo Almeida-Santos e Salomo (1997, 2002),

    contrao muscular uterina uma mudana na morfologia da regio posterior do tero resultando

    em uma obstruo que impede a passagem do espermatozoide para o tero anterior at que ocorra

    a ovulao A regio posterior do tero de fmeas de B. jararaca que apresentaram contrao

    muscular uterina foi coletada para anlises histolgicas a fim de se verificar a presena de

    espermatozoides.

  • 36

    Figura 9 Exemplar de fmea de Bothrops jararaca dissecada na regio caudal evidenciando os teros

    direito e esquerdo contorcido (UMT)

    Fonte: Kasperoviczus, K.N. (2013)

    I (intestino); Setas apontam os teros direito e esquerdo com contrao da musculatura uterina (UMT).

    3.2.5 Histologia gonadal

    Amostras teciduais de fmeas e machos adultos de Bothrops jararaca preservados foram

    coletadas aps exames macroscpicos para estudos de microscopia de luz. Fmeas tiveram

    fragmentos coletados de tero e infundbulo (fmeas com embries nos ovidutos no tiveram

    material coletado) e dos machos foram coletados rim, ductos deferentes e testculos. Para uma

    padronizao somente os rgos do lado direito foram coletados. As amostras coletadas foram

    recortadas em pequenas peas de 0,5 cm de aresta e colocadas em soluo fixadora de

    paraformaldedo a 4%, tamponado em PBS em pH 7,2. O material foi desidratado em uma srie

    crescente de etanol de 70 a 100% e diafanizado em xilol, seguido da incluso em parafina. Cortes

    I

  • 37

    finos foram realizados com 5 m de espessura e em seguida o material foi submetido a colorao

    bsica com hematoxilina-eosina.

    A documentao do material foi feita por meio de fotografias com cmera digital

    (Olympus Q-Color 5) acoplada a um microscpio de luz (Olympus BX-51) utilizando-se o

    programa Image-Pro Express Olympus.

    A fim de se caracterizar as fases espermatognicas (anlises histolgicas) dos machos de

    B. jararaca foi confeccionada uma tabela para classificao dos estgios espermatognicos,

    adaptada a partir de Goldberg e Parker (1975); Mcpherson e Marion (1981) e Saint-Girons

    (1982), utilizado por Kasperoviczus (2009), buscando assim, uma viso geral do ciclo

    espermatognico dos machos com relao s diferentes pocas do ano (Quadro 3).

    Quadro 3 - Classificao dos estgios espermatognicos em machos de Bothrops jararaca

    Estgios Descrio dos tbulos seminiferous

    1 Regresso completa; tbulos seminferos somente com poucas espermatognias

    e clulas de Sertoli; podem ter poucos espermatozoides na luz do lmen.

    2 Espermatognias aumentando (crescendo) e dividindo-se; espermatcitos

    primrios.

    3 Espermtides em metamorfose com poucos espermatozoides.

    4 Espermiognese; espermas maduros no lmen (nvel mximo de

    espermiognese).

    6

    Epitlio germinal reduzido, com poucas espermatognias, espermatcitos e

    espermtides; podem conter ou no espermatozoides no lmen de uma a duas

    camadas de clulas.

    Fonte: Adaptado de GOLDBERG; PARKER, 1975; MCPHERSON; MARION, 1981 e SAINT-GIRONS,

    982).

  • 38

    3.2.6 Fecundidade

    A estimativa de fecundidade foi realizada contando-se o nmero de ovos/embries nos

    ovidutos de fmeas reprodutivas (SEIGEL; FORD, 1987) preservadas em colees zoolgicas

    (n=56 CS e n=35 CN). A fecundidade no pode ser estimada em fmeas de ilhas devido ao baixo

    tamanho amostral (na ilha de Bzios e ilha dos Franceses, por exemplo, no foi encontrada

    nenhuma fmea grvida).

    3.2.7 poca de nascimento dos filhotes

    Registros de nascimento dos filhotes foram resgatados dos registros de tombo das

    colees zoolgicas IBSP, MHNCI e MCP. Alm disso, dados de literatura e registro de

    nascimentos em cativeiro tambm foram levantados. Informaes de 21 nascimentos em cativeiro

    foram levantadas para o CS. Esses dados foram gentilmente cedidos por Glucia Funk Pontes,

    curadora da coleo Herpetolgica da PUC-RS (MCP) a partir de registros de parturio de B.

    jararaca provenientes do desativado serpentrio da PUC-RS. Informaes de 43 nascimentos de

    B. jararaca do CN foram levantadas a partir de exemplares mantidos em cativeiro ou no

    serpentrio semiextensivo do Instituto Butantan. As informaes foram cedidas por Selma

    Almeida-Santos e Leonardo Oliveira.

    3.2.8 Tamanho dos filhotes

    Para comparar o tamanho dos filhotes do CN e CS foi tomado o comprimento rostro-

    cloacal de filhotes recm-nascidos preservados em colees zoolgicas.

  • 39

    3.3 FORMA DE ANLISE DOS RESULTADOS

    As anlises foram realizadas utilizando-se testes paramtricos ou o similar no

    paramtrico dependendo da natureza dos dados. As anlises foramo baseadas em Zar (1999) e as

    diferenas consideradas significativas quando P < 0,05.

    Para as comparaes morfolgicas foram utilizados apenas indivduos sexualmente

    maduros para evitar problemas relacionados a mudanas ontogenticas na forma do corpo

    (KING, 1989). Os indivduos com itens alimentares e as fmeas grvidas ou com folculos em

    fase final de vitelognese foram excludos apenas das comparaes de massa. O grau de

    dimorfismo sexual no tamanho corporal (SSD) das populaes foi calculado conforme Shine

    (1994) utilizando-se a frmula: SSD = 1 - (CRC mdio dos adultos do sexo de maior

    tamanho/CRC mdio dos adultos do sexo de menor tamanho). O dimorfismo sexual nos animais

    maduros foi verificado com teste-t (no tamanho do corpo) e com anlise de covarincia (para

    tamanho relativo da cauda, massa relativa do corpo e tamanho relativo da cabea). Comparaes

    interpopulacionais dos caracteres morfolgicos foram realizadas com teste-t, ANOVA ou

    ANCOVA.

    O ciclo reprodutivo das fmeas foi caracterizado pela distribuio ao longo do ano do

    tamanho dos folculos ovarianos e a presena de embries. A observao de espermatozoides no

    trato reprodutivo com uso de anlises histolgicas permitiu inferir o perodo da cpula e

    estocagem de esperma tanto em machos como em fmeas. O ciclo dos machos foi caracterizado

    pela distribuio ao longo do ano do volume relativo dos testculos e do dimetro relativo dos

    ductos deferentes.

    O volume testicular foi positivamente correlacionado com o tamanho do corpo em ambos

    os clados (CN: r = 0,34; P = 0,0009 e CS: r = 0,34; P < 0,0001). A mesma correlao foi

    observada entre o dimetro do ducto deferente e o tamanho do corpo (CN: r = 0,49; P < 0,0001 e

    CS: r = 0,32; P < 0,0001). Diante disso, variaes sazonais no volume testicular e no dimetro

    dos ductos deferentes foram testadas com anlise de covarincia (ANCOVA) utilizando o CRC

    como co-varivel.

    No entanto, simples anlises morfomtricas dos testculos e ductos por vezes tm falhado

    em encontrar sazonalidade no ciclo espermatognico dos machos (KASPEROVICZUS, 2009;

  • 40

    SANTOS, 2009; ROJAS et al., 2013). Assim, anlises histolgicas dos testculos e ductos

    deferentes so empregadas paralelamente s anlises morfomtricas para confirmao do ciclo

    espermatognico (KASPEROVICZUS, 2009). As fases espermatognicas so determinadas

    conforme tabela de classificao dos estgios espermatognicos, buscando assim, uma

    confirmao definitiva da sazonalidade do ciclo dos machos (KASPEROVICZUS, 2009).

    Quando mencionadas, as estaes do ano foram primavera, vero, outono e inverno.

    A relao entre a fecundidade (i.e. quantidade de filhotes) e o tamanho corporal das

    fmeas foi investigada por anlises de regresso linear, tendo o CRC como varivel

    independente. Comparaes interpopulacionais na fecundidade foram realizadas com ANCOVA,

    tendo como covarivel o CRC materno.

    A fecundidade de B. jararaca foi estimada calculando-se a mdia e o desvio padro do

    numero total de ovos ou embries nos ovidutos (SEIGEL; FORD, 1987) de fmeas reprodutivas

    depositadas em colees biolgicas.

    Foi realizado um teste t para as comparaes do tamanho dos filhotes entre o CN e CS.

    Todas as anlises foram baseadas em Zar (1999) e executadas no programa Statistica

    (STATSOFT, 2007) e no programa Instat, as diferenas foram consideradas significativas quando

    P < 0,05.

  • 41

    4 RESULTADOS

    4.1 MORFOLOGIA E HISTRIAS DE VIDA (COMPARAES INTERSEXUAIS)

    Os dados morfolgicos obtidos para machos e fmeas dos clados norte (CN) e sul (CS)

    foram resumidos na tabela 2. Em ambos os clados machos e fmeas diferiram quanto s variveis

    morfolgicas examinadas (CRC, CC, Ccab e massa). Fmeas adultas foram em mdia maiores e

    atingiram maiores CRCs que os machos (Tabelas 2 e 3 e Figura 10). Alm disso, em valores

    brutos, fmeas apresentaram tambm maiores cabeas e caudas e foram mais pesadas que os

    machos (Tabelas 2 e 3).

    O CRC foi correlacionado com todas as variveis morfolgicas examinadas em ambos os

    clados (Figura 11). Diante disso, os dados foram reexaminados com anlise de covarincia

    (ANCOVA), utilizando o CRC como covarivel. Essas anlises mostraram que, em termos

    relativos, as fmeas de ambos os clados apresentaram cabeas maiores e foram relativamente

    mais pesadas, porm tiveram caudas relativamente menores que machos (Tabela 2, 4 e Figura

    11). O ndice de dimorfismo sexual (SSD; Sexual Size Dimorphism) foi de 0,33 para o CN e de

    0,21 para o CS.

    A menor fmea sexualmente madura do CN mediu 746 mm enquanto que o menor macho

    mediu 613 mm. Para o CS, a menor fmea madura observada mediu 689 mm enquanto que o

    menor macho mediu 506 mm. O tamanho do corpo dos cinco menores indivduos maduros de

    cada sexo diferiu significativamente com fmeas apresentando maiores valores (Tabelas 2 e 3).

    Dessa forma, fmeas amadureceram sexualmente com maiores tamanhos corpreos que os

    machos em ambos os clados.

  • 42

    Tabela 2 - Morfologia de machos e fmeas adultos de Bothrops jararaca dos clados norte e sul. A tabela apresenta valores mdios DP e valores

    extremos para as variveis morfolgicas examinadas. CRC: comprimento rostro-cloacal, CC: comprimento da cauda e Ccab:

    comprimento da cabea

    Varivel

    Clado Norte Clado Sul

    Machos n Fmeas n Machos n Fmeas n

    CRC (mm) 794,6 88,0

    613-980

    146 1056,2 111,2

    746-1383

    210 743,0 75,7

    506-921

    162 902,2 85,2

    689-1147

    182

    CC (mm) 133,0 16,2

    90-170

    141 153,9 17,4

    109-202

    199 123,8 12,7

    85-152

    158 131,8 13,8

    96-181

    172

    Ccab (mm) 31,5 3,2

    23,9-38,9

    144 44,4 5,0

    31,2-65,4

    206 31,9 3,1

    22,2-37,6

    159 40,2 3,5

    30,5-50,4

    175

    Massa (g) 135,9 49,9

    47-338

    146 416,7 168,6

    90-980

    202 154,1 54,6

    55-390

    157 346,3 133,4

    75-900

    175

    CRC maturidade (mm) 621 4,9

    613-625

    5 790,0 27,6

    746-815

    5 573,4 38,7

    506-596

    5 735,2 28,1

    689-763

    5

    42

  • 43

    Tabela 3 - Resultados das anlises estatsticas (teste-t) do dimorfismo sexual (dados brutos) em adultos de

    Bothrops jararaca dos clados norte (CN) e clado sul (CS)

    Varivel

    Significncia do dimorfismo sexual

    gl T P

    CN Machos vs. Fmeas

    CRC 354 24,20 < 0,0001

    CC 338 11,01 < 0,0001

    Ccab 347 29,13 < 0,0001

    Massa 346 25,82 < 0,0001

    CRC maturidade 8 13,48 < 0,0001

    CS Machos vs. Fmeas

    CRC 342 18,22 < 0,0001

    CC 328 5,48 < 0,0001

    Ccab 332 22,84 < 0,0001

    Massa 330 19,01 < 0,0001

    CRC maturidade 8 7,56 < 0,0001

  • 44

    Figura 10 - Distribuio do comprimento rostro-cloacal de machos e fmeas adultos de Bothrops jararaca dos clados norte (A) e clado sul (B)

    0

    0.1

    0.2

    0.3

    0.4

    0.5

    491-5

    00

    501-6

    00

    601-7

    00

    701-8

    00

    801-9

    00

    901-1

    000

    1001-1

    100

    1101-1

    200

    12

    01-1

    300

    13

    01-1

    400

    1401-1

    500

    Fre

    qu

    nci

    a d

    e o

    bse

    rv

    a

    es

    Comprimento rostro-cloacal (mm)

    Machos -

    Clado Norte

    A

    0

    0.1

    0.2

    0.3

    0.4

    0.5

    49

    1-5

    00

    50

    1-6

    00

    60

    1-7

    00

    70

    1-8

    00

    801-9

    00

    90

    1-1

    00

    0

    10

    01-1

    100

    11

    01-1

    200

    12

    01-1

    300

    13

    01-1

    400

    14

    01-1

    500

    Fre

    qu

    nci

    a d

    e ob

    serva

    es

    Comprimento rostro-cloacal (mm)

    Machos -

    Clado Sul

    B

  • 45

    Tabela 4 - Resultados dos testes estatsticos do dimorfismo sexual em adultos de Bothrops jararaca dos

    clados norte e sul. O dimorfismo foi testado com ANCOVA com o sexo como fator e CRC

    como covarivel

    Varivel relativa ao CRC

    Inclinaes Interceptos

    gl F P gl F P

    Clado Norte

    CC 1, 336 1,52 0,22 1, 337 11,69 0,0007

    Ccab 1, 343 3,99 0,05

    Massa 1, 342 36,5

  • 46

    Figura 11 - Correlao entre o comprimento rostro-cloacal e o comprimento da cauda (CC), comprimento da cabea (Ccab) e massa corprea em

    machos e fmeas de Bothrops jararaca dos clados norte (A) e sul (B)

    46

  • 47

    4.2 MORFOLOGIA E HISTRIA DE VIDA (COMPARAES INTERPOPULACIONAIS)

    4.2.1 Morfologia e maturidade sexual

    Todas as variveis morfolgicas examinadas diferiram entre os clados em ambos os

    sexos. Machos de B. jararaca do clado norte foram maiores que os machos do clado sul (U =

    7932,0; P < 0,0001; Figura 12), tiveram cabeas relativamente menores e foram menos pesados

    (Tabelas 2, 4 e Figura 14). Embora o tamanho relativo da cauda no tenha diferido entre os

    clados, a comparao foi marginalmente no significativa, com machos do CN tendendo a

    apresentar maiores caudas. Fmeas do CN foram maiores que as do CS (U = 5495,0; P < 0,0001;

    Figura 13), tiveram caudas maiores, porm tiveram cabeas relativamente menores e foram

    menos pesadas (Tabelas 2, 5 e Figura 14).

    O tamanho do corpo na maturidade sexual diferiu entre os clados em ambos os sexos, com

    os indivduos do CN atingindo a maturidade sexual com maiores tamanhos corpreos que os

    indivduos do CS (machos: U = 0,0; P = 0,008; fmeas: U = 0,0; P = 0,008).

    Entretanto, esses resultados diferiram quando considerado o tamanho do corpo na

    maturidade relativo ao tamanho mdio do corpo. Machos do CN atingiram a maturidade em

    mdia com 79% do tamanho mdio do corpo do adulto, enquanto que os machos do clado sul

    esse valor foi de 77% (calculados como a mdia da razo entre o tamanho do corpo dos cinco

    menores indivduos e o tamanho mdio do adulto). Essa diferena no foi significativa (U = 9,0;

    P = 0,55). Fmeas do CN atingiram a maturidade com tamanhos corpreos proporcionalmente

    menores ao tamanho do adulto do que as fmeas do CS (CN = 72% vs. CS = 81%; t = 5,37; gl =

    8; P = 0,0007).

  • 48

    Figura 12 - Diagrama de Box plot. Mdia e variao do comprimento rostro-cloacal (CRC) entre machos de Bothrops jararaca do clado norte e clado sul. Linhas horizontais no interior das caixas

    representam valores mdios, limite das caixas o desvio padro e linhas verticais os valores

    mnimos e mximos observados

    Figura 13 - Diagrama de Box plot. Mdia e variao do comprimento rostro-cloacal (CRC) entre fmeas

    de Bothrops jararaca do clado norte e clado sul. Linhas horizontais no interior das caixas

    representam valores mdios, limite das caixas o desvio padro e linhas verticais os valores

    mnimos e mximos observados

    CN CS

    Clado

    600

    700

    800

    900

    1000

    1100

    1200

    1300

    1400

    1500

    CR

    C (

    mm

    )

    CN CS

    Clado

    400

    500

    600

    700

    800

    900

    1000

    CR

    C (

    mm

    )

  • 50

    Figura 14 - Correlao entre o comprimento rostro-cloacal e o comprimento da cauda (A), comprimento

    da cabea (B) e massa corprea (C) em machos de Bothrops jararaca dos clados norte e sul

    1.90

    1.95

    2.00

    2.05

    2.10

    2.15

    2.20

    2.25

    2.65 2.70 2.75 2.80 2.85 2.90 2.95 3.00 3.05

    Log

    Co

    mp

    rim

    en

    to d

    a ca

    ud

    a

    e

    Clado Sul

    Clado Norte

    A

    1.30

    1.35

    1.40

    1.45

    1.50

    1.55

    1.60

    1.65

    2.65 2.70 2.75 2.80 2.85 2.90 2.95 3.00 3.05

    Log

    Co

    mp

    rim

    en

    to d

    a ca

    be

    a

    e

    B

    1.40

    1.60

    1.80

    2.00

    2.20

    2.40

    2.60

    2.80

    2.65 2.70 2.75 2.80 2.85 2.90 2.95 3.00 3.05

    Log

    Mas

    sa

    Log Comprimento rostro-cloacal

    C

  • 51

    4.2.2 Fecundidade

    O tamanho mdio da ninhada diferiu entre os clados (t = 2,95; gl = 88; P = 0,004) sendo

    maior no CN (mdia = 15,3 5,4 embries; variao: 6-28; n = 35) do que no CS (mdia = 11,9

    4,2 embries; variao: 4-28; n = 56). O tamanho da ninhada foi positivamente correlacionado

    com o tamanho do corpo materno nas duas populaes (CN: r = 0,65; n = 34; P < 0,0001 e CS: r

    = 0,49; n = 55; P = 0,0002; Figura 15). A variao no tamanho da ninhada explicvel pelo CRC

    materno foi de aproximadamente 42% para o CN e 24% para o CS. A taxa na qual o tamanho da

    ninhada aumenta em decorrncia de aumentos no tamanho do corpo materno no diferiu entre as

    populaes (ANCOVA, inclinaes: F 1,88 = 0,12; P = 0,73; Figura 15). Mesmo aps corrigir a

    influncia do tamanho corpo materno, o tamanho da ninhada continuou diferindo entre os clados

    (ANCOVA, interceptos: F 1,89 = 4,28; P = 0,04; Figura 15). No entanto, as fmeas do CS

    apresentaram uma fecundidade relativa maior do que as fmeas do CN. Dessa forma, o maior

    nmero de filhotes produzido por fmeas do CN resulta do maior tamanho corpreo observado

    nesse clado.

    Figura 15 - Relao entre o nmero de filhotes e o comprimento rostro-cloacal materno em Bothrops

    jararaca dos clados norte e sul

    0.40

    0.60

    0.80

    1.00

    1.20

    1.40

    1.60

    2.85 2.90 2.95 3.00 3.05 3.10

    Lo

    g N

    m

    ero

    de

    filh

    ote

    s

    Log Comprimento rostro-cloacal (mm)

    Clado Sul

    Clado Norte

  • 52

    O comprimento mdio do ovo na populao do CN foi de 38,2 9,6 mm (variao: 24, 3-

    75, 5; n = 35) e no CS de 38,6 8,8 mm (variao: 20, 5-63,7; n = 55). No foram observadas

    correlaes entre o comprimento mdio do ovo e o tamanho do corpo materno em ambos os

    clados (CN: r = 0, 05; n = 34; P = 0, 76 e CS: r = -0,13; n = 54; P = 0, 36; Figura 16). O

    comprimento mdio do ovo no diferiu entre as populaes (t = 0, 21; gl = 88; P = 0, 83).

    Figura 16 - Relao entre o dimetro do maior ovo e o comprimento rostro-cloacal materno em Bothrops

    jararaca dos clados norte e sul

    Anlise de correlao foi utilizada para testar a hiptese de existncia de um trade-off

    negativo entre o tamanho da ninhada e o tamanho dos ovos. Tal anlise foi conduzida utilizando-

    se os resduos derivados da regresso entre o nmero de embries e o CRC materno devido

    existncia de relao alomtrica entre elas (Figura 17). Uma correlao negativa entre os resduos

    do nmero de embries/CRC materno e o tamanho dos ovos significa que fmeas que produzem

    ninhadas relativamente numerosas tambm produzem ovos (e possivelmente filhotes)

    relativamente pequenos e vice-versa. Conforme predito, o nmero de filhotes foi inversamente

    1.2

    1.3

    1.4

    1.5

    1.6

    1.7

    1.8

    1.9

    2.0

    2.85 2.90 2.95 3.00 3.05 3.10

    Lo

    g D

    Im

    etro

    do

    mai

    or

    ovo

    Log Comprimento rostro-cloacal

    Clado Sul

    Clado Norte

  • 53

    correlacionado com o comprimento do maior ovo para ambos os clados (CN: r = -0,45; n = 33; P

    = 0,008 e CS: r = -0,31; n = 54; P = 0,02; Figura 17). Contudo, quando os dados para cada

    populao foram contrastados o trade-off entre quantidade e tamanho dos ovos no variou

    significativamente entre as populaes (ANCOVA, com a fecundidade relativa como covarivel,

    inclinaes: F1,83 = 0,67; P = 0,41; interceptos: F1,84 = 0,01; P = 0,92; Figura 17).

    Figura 17 - Trade-off entre a fecundidade relativa e o tamanho do maior ovo em Bothrops jararaca dos

    clados norte e sul. A fecundidade relativa foi calculada a partir dos resduos da regresso entre

    o nmero de filhotes pelo tamanho do corpo materno

    4.2.3 Tamanho dos filhotes

    O CRC mdio dos filhotes recm-nascidos diferiu entre os clados (t = 3,34; gl = 181; P =

    0,0010). Filhotes de B. jararaca do CS (n = 61) apresentaram menores tamanhos (252,1 20,6

    mm; amplitude = 205 248 mm) do que os filhotes do CN (260,4 12,7 mm; amplitude = 176

    281 mm; n = 122).

    -0.5

    -0.4

    -0.3

    -0.2

    -0.1

    0.0

    0.1

    0.2

    0.3

    0.4

    1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 2.0

    Fec

    undid

    ade

    rela

    tiva

    Log Tamanho maior ovo

    Clado Norte

    Clado Sul

    Linear (Clado Norte)

    Linear (Clado Sul)

  • 54

    4.3 CARACTERIZAO DOS CICLOS REPRODUTIVOS

    A seguir, sero apresentados os resultados dos ciclos reprodutivos de machos e fmeas de

    B. jararaca do clado norte e sul e de ilhas.

    4.3.1 Fmeas

    4.3.1.1 Vitelognese, gestao e poca de nascimento dos filhotes

    O ciclo reprodutivo de fmeas de Bothrops jararaca do clado norte (CN) e clado sul (CS)

    sazonal. Folculos em vitelognese primria (V1) foram observados em todos os meses do ano

    tanto para o CN como para o CS (Figuras 18A e B). Folculos ovarianos com incio de deposio

    de vitelo (V2; > 10 mm) foram observados a partir de fevereiro (vero) para fmeas de ambos os

    clados. No entanto, um aumento substancial na atividade vitelognica (folculos > 20 mm) foi

    observado a partir de maro (final do vero) para as fmeas do CS (Figura 18B) enquanto que

    para o CN, tal aumento foi evidente mais tardiamente, sendo observado a partir de abril (incio do

    outono, Figura 18B). Apesar disso, a durao da vitelognese foi similar entre os clados,

    estendendo-se at o incio de dezembro (final da primavera; Figura 18A e B).

    Fmeas grvidas foram observadas a partir agosto (inverno) em fmeas do CN e CS

    (Figura 18A e B). Fmeas do CS parecem ter um ciclo um pouco mais curto, com fmeas

    grvidas observadas somente at metade de maro (final do vero) enquanto que fmeas do CN

    parecem ter um ciclo mais extenso onde fmeas grvidas puderam ser observadas at maio

    (outono) (Figura 18A e B). Entretanto, nascimentos no foram registrados nesse perodo.

  • 55

    Crculos pretos: fmeas em vitelognese primria (V1), crculos brancos: fmeas em vitelognese

    secundria (V2) e crculos vermelhos: fmeas com embries nos ovidutos. As figuras de serpentes

    correspondem ao perodo de nascimento dos filhotes e a seta a poca de observao de cpula no

    serpentrio do Instituto Butantan.

    Nascimentos foram registrados durante todo o vero e incio do outono (de janeiro a abril)

    nos dois clados (CS; n=21; CN; n=43). A poca de nascimento dos filhotes no diferiu entre os

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    80

    90

    J F M A M J J A S O N D

    Di

    met

    ro d

    os

    fol

    culo

    s /e

    mb

    rio

    (mm

    )

    Meses

    B

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    80

    J F M A M J J A S O N DDi

    met

    ro d

    os

    fol

    culo

    s/em

    bri

    es

    (mm

    )

    Meses

    A

    Figura 18- Variao sazonal do dimetro do maior folculo ovariano em fmeas adultas de Bothrops

    jararaca do clado norte (A) e clado sul (B)

  • 56

    clados (Figuras 18 e 19). Em ambos os clados o maior numero de nascimento ocorreu no ms de

    Maro (Figura 19).

    Dessa forma, os ciclos reprodutivos de fmeas de B. jararaca do CN e CS so sazonais e

    bastante similares em sua extenso, com folculos vitelognicos sendo observados a partir do

    final do vero at o a primavera. Fmeas grvidas so observadas principalmente a partir da

    primavera e nascimentos acontecendo principalmente no vero.

    Figura 19 - Nascimento dos filhotes de Bothrops jararaca do clado norte e do clado sul

    4.3.1.2 poca de cpula

    Foram resgatados dados de comportamento de corte e cpula entre machos e fmeas de B.

    jararaca somente para animais do CN. Esses dados foram obtidos de exemplares de cativeiro e

    do serpentrio semiextensivo do Instituto Butantan. Foram observados cpulas no cativeiro em

    abril, maio e junho (outono). As observaes de cpula em cativeiro de B. jararaca do CN

    corroboram os dados obtidos na histologia, onde animais com espermatozoides foram observados

    especialmente no outono (Figura 20). Apesar de no ter resgatado dados de cpula de B. jararaca

    do CS, as anlise histolgica dos teros desse clado tambm confirma uma cpula outonal, pois

    0%

    10%

    20%

    30%

    40%

    50%

    Janeiro Fevereiro Maro Abril

    poca

    de

    nas

    cim

    ento

    de

    B.j

    ara

    raca

    Meses

    CS

    CN

  • 57

    espermatozoides foram observados no lmen uterino principalmente nessa poca do ano (Figura

    21).

    4.3.1.3 Contrao da musculatura uterina (UMT) e estocagem de esperma

    Fmeas de B. jararaca do CN e CS apresentaram contrao da musculatura uterina

    (UMT). Foram avaliadas 215 fmeas maduras do CN. Desse total, 30,7% (n=66) apresentaram

    UMT enquanto que 64,7% (n=139) no apresentaram. Em dez ocasies (4,7%) no foi possvel

    distinguir macroscopicamente se os exemplares apresentavam ou no UMT. Foram realizados

    cortes histolgicos em 80 fmeas de B. jararaca do CN. Das 187 fmeas maduras do CS

    analisadas at o momento, 32,6% (n = 61) apresentaram UMT, enquanto que 64,2% (n = 120)

    no apresentaram. Em seis ocasies (3,2%) no foi possvel distinguir macroscopicamente se os

    exemplares apresentavam UMT. Foram realizados cortes histolgicos de 80 fmeas de B.

    jararaca do CS.

    Anlises histolgicas dos teros das fmeas do CN e CS revelaram uma grande

    quantidade de fmeas com espermatozoides estocados nos teros no outono e inverno (Figuras 20

    e 21 A e B). No entanto, o outono foi poca em que a maioria das fmeas encontrava-se com

    espermatozoides no lmen uterino (Figuras 20 e 21 A). Em ambos os clados, no foram

    encontrados espermatozoides estocados em fmeas na primavera (Figuras 20 e 21C). De uma

    maneira geral, fmeas de ambos os clados no apresentaram espermatozoides estocados no vero

    (Figuras 20 e 21 D) com exceo de trs fmeas do CN e uma fmea do CS (Figuras 20 e 21 E).

    Todas as fmeas do CN e do CS que apresentaram espermatozoides estocados nos teros estavam

    vitelognicas, isto , apresentavam folculos em V2, com exceo de duas fmeas do CS que

    apresentavam folculos em V1.

    Dessa forma, espermatozoides so encontrados especialmente no outono tanto para

    fmeas do CN como do CS. Com isso, pode-se inferir que a poca de acasalamento para ambos

    os clados outonal podendo estender-se at o inverno, confirmado pela observao de cpulas

    em cativeiro para o CN.

  • 58

    Figura 20 - Histologia de corte transversal do tero posterior de fmeas de Bothrops jararaca do clado

    norte

    Fontes: Kasperoviczus, K.N. (2013).

    A - (Rio de Janeiro) no Outono e B - (Minas Gerais) no Inverno; Exemplares apresentando muito

    espermatozoides no lmen uterino. C - (Esprito Santo) na Primavera; Exemplar sem espermatozoides no

    lmen uterino. D e E - (So Paulo) no Vero onde, (D) representa a maioria dos exemplares da estao,

    sem espermatozoides no lmen uterino e (E) exemplar com espermatozoides no tero. ep (Epitlio

    uterino); espL (espermatozoides no lmen uterino); L (lmen uterino) m (camada muscular).

    Hematoxilina-eosina.

  • 59

    Figura 21 - Histologia de corte transversal do tero posterior de fmeas de Bothrops jararaca do clado sul

    Fonte: Kasperoviczus, K.N. (2013).

    A (Paran) no Outono e B (Paran) no Inverno; Exemplares apresentando muitos espermatozoides no

    lmen uterino. C - (Santa Catarina) Primavera; Exemplar sem espermatozoides no lmen uterino. D - (Rio

    Grande do Sul) e E - (Paran) no Vero, onde (D) representa a maioria dos exemplares da estao, sem

    espermatozoides no lmen uterino. (E) exemplar com espermatozoides no tero. ep (epitlio uterino);

    espL (espermatozoides no lmen uterino); m (camada muscular). Hematoxilina-eosina.

  • 60

    4.3.1.4 Morfologia e estocagem infundibular

    Neste trabalho, estamos incluindo um dado indito para viperdeos neotropicais. Foram

    encontrados pela primeira vez espermatozoides estocados em tbulos de estocagem de

    espermatozoides presentes no infundbulo de fmeas do CN e do CS. Foi encontrada uma

    variao na morfologia infundibular entre fmeas em V1 (no reprodutiva; Figura 22 A) e V2

    (reprodutiva; Figura 22B).

    Fmeas que no apresentaram folculos vitelognicos/ovos/embries exibiram um epitlio

    infundibular ciliado baixo. As glndulas do infundbulo (presentes no tecido conjuntivo)

    apresentaram um tamanho reduzido e provavelmente no secretor (Figura 22A). As fmeas

    vitelognicas (V2), ou seja, reprodutivas, apresentaram um epitlio ciliado alto e as glndulas do

    infundbulo (presentes no tecido conjuntivo), so maiores, mais desenvolvidas e provavelmente

    secretoras (Figura 22B).

    Figura 22 - Histologia de corte longitudinal do infundbulo de fmeas de Bothrops jararaca.

    Fonte: Kasperoviczus, K.N. (2013).

    A - Regio do infundbulo de fmeas de B. jararaca no reprodutiva (V1) mostrando o epitlio do

    infundbulo ciliado baixo e com as glndulas do infundbulo de tamanho reduzido. B - Regio do

    infundbulo de fmeas rerprodutivas (V2), mostrando um epitlio ciliado alto, com glndulas

    infundibulares grande. ep (epitlio ciliado); Glu (glndula do infundbulo); L (lmen infundibular); m

    (camada muscular); tc (tecido conjuntivo). Hematoxilina-eosina.

  • 61

    Todas as fmeas tanto do CN como do CS que apresentavam espermatozoides no lmen

    infundibular ou estocados em tbulos no infundbulo estavam vitelognicas (V2).

    Foram encontrados espermatozoides em grande quantidade no lmen infundibular e em

    tbulos de estocagem de espermatozoides presentes no infundbulo de fmeas de ambos os clados

    no outono (Figuras 23 e 25A e B) e no inverno (Figuras 23 e 25C e D). Os espermatozoides

    encontrados nos tbulos de estocagem encontravam-se alinhados em feixes (Figuras 23 e 25 B e

    D). Da mesma forma como observado na estocagem uterina (UMT), espermatozoides foram

    encontrados no infundbulo com mais frequncia no outono.

    No foram encontrados espermatozoides no lmen infundibular ou em criptas de

    estocagem em fmeas na primavera de ambos os clados (Figuras 24A e 25E).

    No foram encontrados espermatozoides no infundbulo no vero no CS (Figura 25F).

    Todavia, assim como o que ocorreu com relao estocagem no tero (UMT), a regio

    infundibular da maioria das fmeas no vero no apresentou estocagem de espermatozoides, com

    exceo de trs fmeas que apresentaram espermatozoides estocados em tbulos no infundbulo

    (Figura 24C).

  • 62

    Figura 23 - Histologia de corte longitudinal do infundbulo de fmeas de Bothrops jararaca do clado norte

    Fonte: Kasperoviczus, K.N. (2013).

    A - (So Paulo) e B - (Rio de Janeiro) no outono onde, A - regio do infundbulo apresentando uma

    grande quantidade de espermatozoides no lmen e B - espermatozoides estocados nos tbulos de

    estocagem. C e D (So Paulo) no inverno onde, C - regio do infundbulo revelando espermatozoides no

    lmen infundibular e D - espermatozoides estocados nos tbulos de estocagem. ep (epitlio ciliado do

    infundbulo); espL (espermatozoides no lmen); Glu (glndulas do infundbulo); tc (tecido conjuntivo);

    tee (tbulo de estocagem de espermatozoide); tringulos apontam os espermatozoides estocados nos

    tbulos. Hematoxilina-eosina.

  • 63

    Figura 24 - Histologia de corte longitudinal do infundbulo de fmeas de Bothrops jararaca do clado norte

    (continuao)

    Fonte: Kasperoviczus, K.N. (2013).

    A - (Esprito Santo) na Primavera; Regio do infundbulo sem espermatozoides no lmen ou nos tbulos

    de estocagem de espermatozoides. B - (Minas Gerais) e C - (So Paulo) no Vero, onde B - Regio do

    infundbulo sem espermatozoides estocados no lmen e C - tbulos de estocagem com espermatozoides

    estocados no infundbulo. ep (epitlio ciliado do infundbulo); glu (glndulas do infundbulo); tc (tecido

    conjuntivo); tee (tbulo de estocagem de espermatozoide); tringulos apontam os espermatozoides

    estocados nos tbulos. Hematoxilina-eosina.

  • 64

    Figura 25 - Histologia de corte longitudinal do infundbulo de fmeas de Bothrops jararaca do clado sul

    Fonte: Kasperoviczus, K.N. (2013).

    A e B - (Paran) no Outono, onde A - Regio do infundbulo apresentando uma grande quantidade de

    espermatozoides no lmen e B - tbulos de estocagem com espermatozoides estocados no infundbulo. C

    e D - (Paran) no Inverno onde, C - Regio do infundbulo no inverno apresentando uma grande

    quantidade de espermatozoides no lmen e D - tbulos de estocagem com espermatozoides estocados no

    infundbulo. E (Santa Catarina) na Primavera. Regio do infundbulo sem espermatozoides no lmen ou

    estocados em tbulos de estocagem. F - (Rios Grande do Sul) no Vero. Regio do infundbulo sem

    espermatozoides no lmen ou estocados em tbulos de estocagem. ep (epitlio ciliado do infundbulo);

    glu (glndulas do infundbulo); tc (tecido conjuntivo); tee (tbulo de estocagem de espermatozoide);

    tringulos apontam os espermatozoides estocados nos tbulos. Hematoxilina-eosina.

  • 65

    Assim, provavelmente os espermatozoides ascendem do tero logo aps a cpula (outono

    ou inverno) at a regio infundibular. Esses espermatozoides chegam ao lmen infundibular

    (Figura 26A). Do lmen esses espermatozoides vo em direo aos tbulos de estocagem

    (criptas) e l ficam estocados at a poca de fertilizao dos folculos (Figura 26B).

    Figura 26 - Histologia de corte longitudinal do infundbulo de fmeas de Bothrops jararaca

    Fonte: Kasperoviczus, K.N. ( 2013).

    A - Viso aproximada do infundibulo de Bothrops jararaca evidenciando espermatozoides saindo da

    regio do lmen infundibular e adentrando a regio onde se encontram os tbulos de estocagem. B

    Viso aproximada de espermatozoides posicionados em feixes, estocados nos tbulos de estocagem de

    espermatozoides presentes no infundbulo. ep (epitlio do infundbulo); L (Lmen do infundbulo; tee

    (tbulos de estocagem de espermatozoides); estrela (indicam as caudas dos espermatozoides); tringulo

    (apontam a regio do ncleo dos espermatozoides). Hematoxilina-eosina.

  • 66

    4.3.2 Machos

    4.3.2.1 Morfologia macroscpica

    O volume relativo dos testculos de machos do CN variou entre as estaes (inclinaes:

    F3,121 = 0,28; P = 0,84; interceptos: F3,124 = 7,36; P = 0,0001; Figura 27 ). Testes a posteriori

    revelaram que o volume dos testculos menor no outono (teste de Tukey: P < 0,03 em todos os

    casos; Figura 27) e similar entre as demais estaes (teste de Tukey: P > 0,60 em todos os casos;

    Figura 27). No entanto, essa variao no foi observada no dimetro dos ductos deferentes

    (inclinaes: F3,122 = 0,64; P = 0,59; interceptos: F3,125 = 0,69; P = 0,56; Figura 28).

    Figura 27 - Variao sazonal no volume dos testculos de machos de Bothrops jararaca do clado norte

    Linhas horizontais no interior das caixas representam valores mdios, limite das caixas o desvio padro e

    linhas verticais os valores mnimos e mximos observados. Estaes que compartilham a mesma letra no

    diferiram significativamente (teste de Tukey: = 0,05; a > b).

    Vero Outono Inverno Primavera

    Estao

    -0,8

    -0,6

    -0,4

    -0,2

    0,0

    0,2

    0,4

    0,6

    Resd

    uo

    Log C

    RC

    /Volu

    me d

    os testcu

    los

    aa a

    b

  • 67

    Figura 28 - Variao sazonal no dimetro relativo dos ductos deferentes de machos de Bothrops jararaca

    do clado norte

    Linhas horizontais no interior das caixas representam valores mdios, limite das caixas o desvio padro e

    linhas verticais os valores mnimos e mximos observados.

    Para o CS, no foram observadas diferenas sazonais tanto no volume relativo dos

    testculos (inclinaes: F3,134 = 2,40; P = 0,07; interceptos: F3,137 = 0,62; P = 0,60; Figura 29)

    como no dimetro relativo dos ductos deferentes (inclinaes: F3,134 = 1,62; P = 0,19; interceptos:

    F3,137 = 0,20; P = 0,89; Figura 30).

    Vero Outono Inverno Primavera

    Estao

    -0,4

    -0,3

    -0,2

    -0,1

    0,0

    0,1

    0,2

    0,3

    Res

    du

    o L

    og

    Crc

    /Di

    met

    ro d

    uct

    os

    def

    eren

    tes

  • 68

    Figura 29 - Variao sazonal no volume dos testculos de machos de Bothrops jararaca do clado sul

    Linhas horizontais no interior das caixas representam valores mdios, limite das caixas o desvio padro e

    linhas verticais os valores mnimos e mximos observados.

    Figura 30 - Variao sazonal no dimetro relativo dos ductos deferentes de machos de Bothrops jararaca

    do clado sul.

    Linhas horizontais no interior das caixas representam valores mdios, limite das caixas o desvio padro e

    linhas verticais os valores mnimos e m