Karl Barth

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Karl BarthKarl Barth (10 de Maio de 188610 de Dezembro, 1968) foi um telogo cristo, pastor da Igreja Reformada, e um dos lderes dos pensamentos neo-ortodoxos. Nasceu na Basilia e foi criado em Berna (ambas na Sua). De 1911 a 1921 foi pastor da aldeia de Safenwil no canto de Aargau. Lecionou teologia em Bonn, Alemanha, mas, em 1935, recusou-se a apoiar Adolf Hitler e teve que deixar o pas, retornando Basilia. Originalmente treinado na Teologia Protestante Liberal, desapontou-se com ela devido aos males e horrores da Primeira Guerra Mundial.

BibliografiaSuas principais obras so:

Carta aos Romanos (1922) Dogmtica Eclesistica (1932-1968) - obra grandiosa inacabada.

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Karl Barth (1886 1968) Paulo Roberto Rckert I Antecedentes 1. A Filosofia de Hegel 2. A Teologia do Protestantismo Liberal 3. O Fundamentalismo 4. O Manifesto dos Intelectuais Alemes 5. O Movimento Cristo Alemo II O Posicionamento Teolgico de Barth 1. O Comentrio Carta aos Romanos 2. A influncia de Kierkegaard 3. A Teologia Dialtica (Teologia da Crise) 4. O Conceito de Religio 5. Analogia entis X Analogia fidei 6. Teologia Bibliocntrica e Concentrao Cristolgica 7. A Declarao Teolgica de Barmen III A Reflexo Teolgica de Barth 1. Deus o Totalmente Outro 2. A Revelao de Deus 3. Jesus Cristo a Palavra de Deus 4. A Livre Graa de Deus 5. A Eleio em Cristo 6. A Providncia de Deus 7. A Igreja de Jesus Cristo e seu Compromisso.

I ANTECEDENTES. 1. A Filosofia de Hegel. Para compreendermos o pensamento de Hegel, precisamos fazer uma anlise do contexto desse filsofo. No sculo 19 aconteceu uma supervalorizao da pesquisa histrica. O historicismo avassalador passou a contestar verdades dogmticas. Alm disso, a idia da evoluo tornou-se o eixo da investigao cientfica. Mas, Hegel no aderiu a um evolucionismo mecanicista. Ele entendeu que a realidade evolui dentro de um processo da histria. A evoluo entendida a partir do desenvolvimento da Razo. O processo ordenado e se orienta para a autonomia da Idia. A unidade entre objetivo e subjetivo uma conquista que a razo realiza no tempo. Assim, tornou-se possvel para Hegel uma abertura para o idealismo objetivo. Georg W. F. Hegel (1770-1831) explica a totalidade do Ser a partir de uma perspectiva espiritual. Ele se interessa pelo processo evolutivo da realidade. O tema central de sua filosofia a relao entre finito e infinito. Ao descrever a trajetria do Esprito, Hegel perpassa toda histria do pensamento ocidental. Ele procura compreender a realidade a partir de uma perspectiva eterna. Em sua trajetria, a conscincia procura compreender o mundo e a si prpria. Inicialmente, a conscincia apreende o mundo. Depois, ela se encontra a si mesma nesse processo de apreenso. Finalmente, ela se reencontra na totalidade, que abrange tanto o sujeito como o objeto. O organismo do mundo d testemunho de Deus. A prpria vida de Deus fez com que ele se exteriorizasse a si mesmo. O pensamento de Hegel abrange a plenitude viva da totalidade. A verdade a totalidade. O caminho at a totalidade o processo dialtico. Todo ser particular s conhecido por sua insero no todo. a supresso do indivduo no processo csmico. O indivduo no passa de um momento do todo. O desenrolar da Histria Universal no considera a vontade individual das pessoas. Todo ser particular s conhecido por sua insero no todo. Esse posicionamento de Hegel foi contestado por Kierkegaard, que declarou que toda livre deciso e responsabilidade pessoal ficam reduzidos a um momento no processo csmico. Mais tarde, o existencialismo recebeu grande aceitao, o que mostra o quanto os anseios humanos se tornaram importantes para a reflexo filosfica. Hegel rejeitou o misticismo pantesta, que propaga a identidade abstrata e elimina toda a pluralidade. Hegel tambm rejeitou o dualismo racionalista, que separa por completo, por um abismo, Deus do mundo. Tambm rejeitou a religio testa que destri a relao entre o indivduo e o Absoluto. necessrio unir os extremos numa sntese mais elevada, para alcanar a sntese entre o pantesmo e o dualismo. Hegel sempre resolveu as oposies numa unidade superior. Mas, o panlogismo (o Logos em tudo) no pode deter-se diante do mal existente. O mal pode e deve existir. Tudo se afirma, tambm a guerra, a violncia, a crueldade, as injustias. Tudo faz parte da trajetria do Absoluto, que se encontra a si mesmo. A astcia da

Idia serve-se dos interesses e das paixes dos homens para alcanar o seu fim. O estgio final da evoluo a liberdade universal. A natureza est integrada num grande processo evolutivo. O Logos se exteriorizou a si mesmo na natureza, tornou-se ser humano, e a partir de ento a humanidade deve tornar-se Esprito. O Estado um organismo vivo. E o supremo dever do indivduo ser membro do Estado. Quando Hegel tinha 19 anos aconteceu a Revoluo Francesa. Ele vivenciou a queda do mundo feudal e o surgimento da ordem burguesa. Ele viveu numa Alemanha mergulhada num sistema feudal, e dividida politicamente em diversos Estados no unificados. A Revoluo Francesa provocou em Hegel a seguinte manifestao: Reinou nesse tempo uma emoo sublime, o entusiasmo do Esprito fez estremecer o mundo, como se s nesse momento se tivesse chegado verdadeira reconciliao do divino com o mundo. Analisando a Histria Universal, Hegel estabeleceu uma coincidncia entre o ideal e o real. O Esprito do mundo passa de um povo para outro. As naes sobem e descem. Aquela que domina, tem o direito. desse modo que o Esprito do mundo caminha para a liberdade consciente. A histria do mundo o juzo universal. O fim da evoluo total a liberdade total. O objetivo da religio o Absoluto; seu interesse coincide com o da Filosofia. A diferena entre as duas que a religio lida com representaes, e a Filosofia opera com conceitos. A Filosofia deve abranger a religio. A evoluo da religio obedece a graus dialticos. O primeiro grau o das religies orientais, onde Deus a substncia da natureza, e o indivduo no considerado. O segundo grau o da religio judaica, grega e romana, onde Deus o sujeito. O terceiro grau o da religio absoluta; no cristianismo reconhecida a trindade divina. O desenvolvimento histrico se encarrega de realizar o que a religio em essncia: contato ntimo com a divindade, experincia pessoal de comunicao com a transcendncia. Mas, a religio se realiza na subjetividade. Por isso, ela no permite ao esprito a integrao plena do Absoluto, que ainda no realidade, mas buscado como transcendncia e como destino. A vocao absoluta da Filosofia abranger a totalidade. a Filosofia que torna presente a histria em sua totalidade, realizando a sntese entre a exterioridade e a interioridade. Quem no acompanha o pensamento de Hegel at o fim, pode ver nele um conservador. Formou-se assim a direita hegeliana. Quem acentua demasiadamente a resoluo e a considera exclusivamente, v em Hegel um revolucionrio. Formou-se assim a esquerda hegeliana. A filosofia idealista enfatizou a Cristologia humanizada. Jesus Cristo passou a ser visto como o homem ideal, a expresso do ideal religioso ou moral. Sendo considerado o prottipo religioso da humanidade, Jesus Cristo passou a ser visto como um ser irreal e fantstico. Como um ser intermedirio entre o divino e o humano, ele no seria nem Deus e nem homem. A f crist convive com essa tenso: no devemos anular a humanidade de Jesus, mas tambm no devemos sobreexalt-la, adotando a fantasia de uma humanidade idealizada. Em verdade, a idia de homem ideal no passa de uma fantasia. A f crist no tem o mnimo interesse no culto de um heri (Gustaf Auln). A filosofia idealista tambm ressaltou a moralidade. Immanuel Kant (1724-1804) postulou a prova moral da existncia de Deus. Declarou que a conscincia o nico ponto da experincia em que tocamos a realidade absoluta. Segundo Kant, a lei moral postula a existncia de Deus. O cumprimento do dever a expresso da lei moral em ns. Acima de mim o cu estrelado, dentro de mim a lei moral, afirmou Kant. A moralidade aponta para a religio. Seu escrito mais radical Religio dentro dos limites da razo pura. A religio racional vem a ser teologia moral. 2. A Teologia do Protestantismo Liberal

A teologia liberal protestante tem suas razes no Iluminismo. O pensamento da poca era este: o microscpio e o telescpio no fornecem uma evidncia de Deus. Portanto, a f crist est destituda de consistncia. Os telogos liberais concentraram-se ento na pesquisa histrica. Lanaram-se ao estudo histrico-crtico do Novo Testamento. Estabeleceram uma distino entre a religio de Jesus e a religio sobre Jesus. Reduziram a f crist mensagem de Jesus sobre o reino de Deus e a vivncia do amor. Albrecht Ritschl (1822-1889) concluiu que Jesus revelou o reino de Deus como sendo o alvo tico de toda a humanidade. Temas como pecado, ira de Deus, juzo, trindade e cristologia so uma casca que encobre o cerne do evangelho. Adolf von Harnack (18511930) esforou-se para recuperar o pensamento da igreja antiga. Na sua opinio, as geraes seguintes transformaram a religio de Jesus em religio sobre Jesus. O dogma cristo o resultado da influncia do esprito grego sobre o cerne do evangelho. Harnack reduziu a f crist a trs temas: a paternidade de Deus, a fraternidade dos seres humanos e o valor infinito da alma humana. Harnack havia sido contagiado pelo otimismo e confiana inabalveis no progresso. A teologia dialtica de Barth foi acusada por Harnack de fuga irracional da era moderna para o sobrenaturalismo e dogmatismo. Ernst Troeltsch (1865-1923) pesquisou a relao entre cristianismo e cultura moderna, entre revelao e histria, entre liberdade pessoal e condicionamentos sociais. Troeltsch historiciza todo empreendimento e toda reflexo. Toda produo humana submetida ao condicionamento histrico. Ele chocou at os pesquisadores, que queriam tirar a casa para chegar ao cerne do evangelho, ao declarar: Por baixo da casca no h cerne eterno, que resista ao condicionamento histrico. Nada atemporal. E concluiu: Senhores, tudo est balanando. Portanto, aplicado Bblia e teologia, o mtodo histrico no comprova revelao e nem f. A teologia liberal havia se deixado cativar pela modernidade, acomodando-se a ela. 3. O Fundamentalismo. O Fundamentalismo surgiu como reao ao historicismo avassalador. Alm de estabelecer os fundamentos da f, o fundamentalismo tambm se empenhou em combater o evolucionismo e impor o pr-milenarismo. Os fundamentalistas passaram a enfatizar a inerrncia da Bblia. O Fundamentalismo deixou-se cativar pela modernidade, opondo-se a ela. Barth fez distino entre Palavra de Deus e as palavras da Bblia. Os fundamentalistas passaram a consider-lo mais perigoso que os liberais. Um fundamentalista rotulou a teologia dialtica de Barth de novo modernismo. A teologia dialtica foi acusada de ser um cavalo de Tria da teologia liberal. 4. O Manifesto dos Intelectuais Alemes. A guerra de 1914-1918 provocou um choque profundo e decisivo em Barth, que no conseguia compreender o conformismo de socialistas e cristos. No posso esquecer o dia sombrio do incio de agosto de 1914 em que 93 intelectuais alemes afirmaram publicamente seu acordo com a poltica guerreira do Imperador Guilherme II e seus conselheiros; para minha profunda estupefao, constatei que entre eles figuravam igualmente os nomes de todos os professores de Teologia que at ento eu havia respeitado e ouvido com conflana. Considerando que se haviam enganado to grosseiramente em seus ethos, s uma concluso se me impunha: no me era mais possvel segui-los em sua tica e em sua Dogmtica, em sua exegese da Bblia e em sua maneira de ensinar Histria: em resumo, a partir desse momento a Teologia do sculo XIX, pelo menos para mim, no podia mais ter futuro. O Manifesto dos Intelectuais

Alemes foi assinado por vrios professores de Barth, como Adolf von Harnack, Wilhelm Herrmann, Herman Gunkel e Adolf Schlatter. 5. O Movimento Cristo Alemo. Na poca que antecedeu a Segunda Guerra Mundial, o Movimento Cristo Alemo propunha uma sntese entre f crist e as teses do Nacional-Socialismo, afirmando que Deus no se revelara apenas por intermdio de sua Palavra, mas tamb6rn na ptria, na histria e na raa. Seguindo esse raciocnio, cabia Igreja colocar-se a servio do povo alemo e de sua incumbncia histrica. Barth tornou-se um dos lideres da Igreja confessante, salientando publicamente que a Igreja deve obedincia exclusiva a seu Senhor e ao Evangelho. Foi o principal redator da Declarao Teolgica de Barmen. Em julho de 1933. Barth e Thurneysen lanaram a revista Existncia teolgica hoje. No primeiro nmero, Barth escreveu: S se tem a verdadeira existncia teolgica quando se compreende que Jesus Cristo, e somente ele, o nosso Guia .... Toda invocao a um Fhrer (Guia) to v quanto o grito dos sacerdotes de Baal: Baal, escuta-nos! Alis, idolatria. O cristo deve orar para que o Estado tenha o justo e necessrio poder, mas no poder nunca depositar esperana absoluta no Estado: esta reservada a Deus. Em 1934, Barth lecionava em Bonn. As aulas deviam iniciar com a saudao nazista, mas Barth no o fazia. Como professor, ele era obrigado a prestar juramento de fidelidade a Hitler, mas Barth no jurou. Em 27 de novembro de 1934, os estudantes foram avisados que o professor Barth havia sido afastado da ctedra por no ter prestado juramento a Hitler e ao partido nazista. Tornou-se professor em Basilia, sua cidade natal, onde lecionou at se aposentar. II - O POSICIONAMENTO TEOLGICO DE BARTH. 1. O Comentrio Carta aos Romanos. Johann Christoph Blumhardt transmitiu a Barth a esperana escatolgica e universal do Evangelho. De Christoph Blumhardt, o filho, Barth aprendeu que a esperana no leva a um quietismo, mas ao pleno engajamento no mundo. Mas foi diretamente na Bblia que Barth procurou as respostas para a vida. Realizou esse empreendimento com seu amigo Eduard Thurneysen. Em 1916, os dois comearam a estudar juntos a carta aos Romanos. Junto com Eduard Thurneysen, Barth iniciou o movimento ad fontes, voltando-se para a Escritura Sagrada e a teologia dos Reformadores. Em 1919, Barth escreveu o Comentrio Carta aos Romanos. Em 1922, ele escreveu a segunda edio, completamente reformulada, marcando o surgimento da teologia dialtica, tambm conhecida por teologia da crise (ou da ruptura) por causa da crise scio-econmica e cultural (a guerra acabou com o otimismo do progresso). Nesta segunda redao do livro eliminei na medida do possvel tudo o que na primeira pudesse deixar entender que a Teologia se funda, se apia sobre uma Filosofia da existncia ou dela receba a justificao. Portanto, a segunda edio do Comentrio Carta aos Romanos o documento histrico que marca o incio da teologia da crise, pois Barth designava a Palavra de juzo divino contra todo o empreendimento humano. O ser humano descrito como um pecador que virou as costas para Deus, encontrando-se agora numa espcie de cegueira. Por si mesmo, o homem no possui a capacidade de conhecer a Deus. O conhecimento de Deus uma ddiva a ser recebida pela f em Cristo. O ser humano precisa se confrontar com a graa revelada em Cristo.

2. A influncia de Kierkegaard. O filsofo e telogo dinamarqus Sren Kierkegaard (1813-1855) posicionou-se contra o sistema filosfico de Hegel. Kierkegaard no admitia que a responsabilidade pessoal fosse reduzida a um momento dentro do processo csmico, que a marcha do Esprito em direo ao Absoluto. Tambm via com estupefao o fato de a Dinamarca ter aderido a essa filosofia. Escreveu Ataque contra a cristandade, salientando que, numa sociedade onde todas as pessoas so crists, o verdadeiro cristianismo j deixou de existir. Kierkegaard dizia que existe um abismo entre o divino e o humano. E a filosofia de Hegel insistia numa continuidade. Kierkegaard acusou a elite cultural de estar conspirando para destruir o cristianismo autntico. Kierkegaard salientou que existe uma diferena qualitativa infinita entre Deus e os seres humanos. Em sua queda e finitude, os seres humanos precisam acolher a verdade de Deus mediante uma deciso, um salto de f. Conhecer a Deus uma atitude de f, o que significa correr o risco de saltar. Deus pessoal, santo e transcendente. Os seres humanos so finitos, pecadores e dependentes. Deus s pode ser conhecido mediante um relacionamento pessoal. Somente o salto de f, o risco pode nos proporcionar o verdadeiro relacionamento com Deus. Enquanto no houver o salto de f, podemos ter uma religiosidade tica, mas no seremos cristos autnticos. Barth se identificou com o posicionamento de Kierkegaard contra o cristianismo cultural e a filosofia de Hegel de continuidade entre Deus e o mundo, reino de Deus e cultura. Tambm Barth entendeu que a f crist consiste no relacionamento entre o Deus santo e o ser humano finito e pecador. Era necessrio enfatizar a transcendncia de Deus, pois a teologia liberal havia encoberto esses temas com o racionalismo e a moralidade. Respaldado pela reflexo de Kierkegaard, Karl Barth pde declarar que a f crist no uma religio entre as outras, nem o ponto culminante dos sentimentos religiosos da humanidade, nem um sistema de moralidade, nem uma expresso cultural a servio de alguma ideologia scio-poltica. No prefcio da segunda edio do Comentrio Carta aos Romanos, em 1922, Barth mostrou seu reconhecimento reflexo de Kierkegaard. Se tenho um sistema, ele est limitado ao reconhecimento do que Kierkegaard chamou de distino qualitativa infinita entre o tempo e a eternidade, e minha opinio de que ela possui uma relevncia negativa tanto quanto positiva: Deus est no cu e tu ests na terra. O relacionamento entre esse homem e esse Deus , para mim, o tema da Bblia e a essncia da filosofia. Kierkegaard declarou que a encarnao de Jesus Cristo um paradoxo absoluto. E Barth constatou que a f crist no uma sntese de opostos (como propunha Hegel). As verdades bsicas da Palavra de Deus contm paradoxos. 3. A teologia dialtica. Barth redescobriu o Evangelho sem o auxlio de um sistema humano. E assim teve incio a teologia da Palavra de Deus. Seu postulado teolgico que a possibilidade do conhecimento de Deus encontra-se na Palavra de Deus e em nenhum outro lugar. Portanto, o Deus eterno deve ser conhecido em Jesus Cristo e no em outro lugar. A teologia dialtica no rejeita, mas questiona o mtodo histrico-crtico como chave de interpretao da Bblia. O ambiente acadmico da teologia liberal vinha apresentando o mtodo histrico-crtico corno a nica chave para interpretar a Bblia. A interpretao histrico-crtica se concentra demasiadamente em questes perifricas, ao passo que Barth enfatizava a proclamao (querigma) como sendo o fundamental. Considerava a exposio dialtica mais importante do que uma exposio filolgica e histrica. Bart considerou que o mtodo histrico-crtico tem aspectos positivos. Mas, posicionou-se

contra o abuso idealista e reacionrio desse mtodo. Barth observa que a ideologia progressista da filosofia de Hegel foi desmentida pela Primeira Guerra Mundial. O desmoronamento cultural era uma evidncia disso. No h como estabelecer uma sntese entre a f crist e a ideologia do progresso cultural. Barth aponta para a centralidade da Sagrada Escritura, o documento da revelao de Deus. Barth aconselha que sejam respeitados os limites do mtodo histrico-crtico. A autoridade da Palavra de Deus no pode ser submetida a critrios de pesquisa. A razo humana no pode ser o critrio ltimo para a anlise dos escritos bblicos. Nesse caso, corre-se o perigo de identificar Esprito Santo com razo humana. O mtodo histrico-crtico corre o risco de identificar interpretao racional com a Palavra de Deus. Tornou-se paradigmtica a declarao de Barth: Mais crticos deveriam ser os histrico-crticos. A pesquisa histrica no pode suplantar a eficcia da revelao divina na Palavra. A reverncia pela histrica no pode resultar em desconsiderao acrtica pela Palavra que est por trs das palavras. Barth aponta para o carter reacionrio do mtodo histrico-crtico, pois a dinmica escatolgica da Palavra por trs das palavras deixa de ser assimilada quando toda a tradio da f medida pela norma do existente. O mtodo histricocrtico considera como o histrico apenas o analgico (baseado em semelhana). Tudo o que foge dos esquema de analogia (relao de semelhana) rotulado de simblico, lendrio e mitolgico. Os conceitos de f naufragam na onipotncia da analogia. Os contedos decisivos da f crist devem permanecer com seu carter transformador. A dinmica escatolgica no poder ser nivelada dentro de um processo histricoanalgico. Deve ser preservada a dimenso escatolgica do agir divino o totaliter aliter (o Totalmente Outro). A dialtica acentua o contraste entre a eternidade e o tempo, entre Deus e a humanidade. O mtodo dialtico coloca os pontos de vista diferentes em confronto. Obtm-se assim um equilbrio entre as declaraes que afirmam e as que negam certa proposio. Desse modo, as respostas so interrogadas, e as perguntas, respondidas. Apenas resta, pois ... relacionar ambos, o positivo e o negativo, um com o outro. Para esclarecer o sim pelo no e o no pelo sim, sem nos demorarmos mais que um momento no sim ou no no; deste modo, por exemplo, falando da glria de Deus na criao apenas para passar imediatamente a ressaltar que Deus est completamente oculto a ns na natureza, e falar da morte e da transitoriedade da vida apenas para lembrar a majestade da vida inteiramente outra que vem a nosso encontro nessa prpria morte. 4. O Conceito de Religio. Barth denunciou todas as artimanhas de tentar aprisionar a Palavra de Deus nas sutilezas da razo humana. Salientou que existe uma distncia infinita e qualitativa entre ser humano e Deus. Alm da distncia, existe uma oposio substancial entre Deus e tudo aquilo que humano: a razo, a cultura, a filosofia. Com sua pretenso de tornar a f popular com recursos do mtodo histrico-crtico, da cultura e da filosofia, os telogos liberais injuriaram a transcendncia de Deus. Barth salientou que Deus o Totalmente Outro, sendo intil tentar capt-lo com a razo, com a cultura e com a filosofia. Deus o Deus desconhecido .... A excelncia de Deus sobre todos os deuses, a sua caracterstica como Deus, como Criador e Redentor, est no fato de que ns no podemos saber nada de Deus, no fato de que ns no somos Deus, no fato de que o Senhor deve ser temido. Por isso, legtima a rebelio contra o Deus que fruto de uma religio que, como a liberal, transforma Deus em dolo. Ela, porm, no atinge a Deus, mas somente sua caricatura humana .... Contra Zeus, o no-Deus que tomou o seu lugar, Prometeu revolta-se com toda razo. Por si mesmo o homem nada pode saber e dizer a

respeito de Deus. A pessoa que pretende falar de Deus a partir de seus sentimentos e raciocnio, est na verdade falando de um dolo. O verdadeiro Deus Totalmente Outro em relao ao ser humano em tudo o que ele pensa, sente, deseja, elabora e compreende. Atento revelao, Barth descobriu nas Sagradas Escrituras a grande ruptura: a separao entre Deus e o homem, entre o Reino de Deus e o mundo. Barth salientou que todo empreendimento humano no passa de vaidade, fraqueza, insuficincia e pecado. O Deus do Evangelho - o desconhecido, o Totalmente Outro, e absolutamente transcendente - revela-se e diz no a todos os empreendimentos da cultura e do esprito, mediante os quais o ser humano se esfora para afirmar sua autonomia e seu poder. De todos os empreendimentos humanos, a religio o mais pernicioso. O homem religioso aquele que quer captar Deus para seu proveito prprio, e desse modo se afunda na mentira e na idolatria. Nenhum outro empreendimento estimula mais a mentira e a idolatria do que a religio. A vivncia da f foi transformada em cristianismo, e a igreja crist passou a se comprometer com o mundo, com a civilizao e com a histria. Com esta vinculao perversa, cristian-ismo e igreja recusaram o no que Deus pronuncia sobre toda a humanidade. Quando ns percebermos este no, porque o Deus oculto - o Totalmente Outro - est se revelando. Deus quer falar ao homem pecador e estabelecer uma relao salvfica com ele. Ao encontrar o homem, Deus o chama a uma deciso existencial da f. Todo o empreendimento humano deve reduzir-se a nada na presena da Palavra de Deus. A revelao de Deus invade a existncia humana, levando o homem a uma deciso existencial. O nico contato possvel entre o divino e o humano por intermdio da encarnao em Jesus Cristo. O sim de Deus atinge verticalmente o homem e o mundo. O sim de Deus foi pronunciado em Jesus Cristo - o momento central e decisivo desta revelao vertical. Deus quem estabelece o relacionamento. No h caminho que se dirija da terra para o cu. 5. Analogia entis X Analogia fidei. Com muita veemncia, Barth rejeita qualquer modalidade de teologia natural. Deus no pode ser conhecido pela capacidade da razo humana, ele tambm no se revela na natureza e nem na histria. Essa recusa de Barth a qualquer tipo de teologia natural, levou-o a travar uma disputa com o telogo reformado Emil Brunner. A rejeio total da teologia natural e a desconsiderao por uma revelao mais ampla, por parte de Barth, foram criticadas por Brunner, que reconhecia a existncia de um ponto comum entre o Evangelho e a natureza humana. Em 1934, Barth escreveu uma declarao em resposta a Brunner intitulada Nein (No), rejeitando a teologia natural e no admitindo que o homem tenha certo conhecimento de Deus e uma percepo do que certo ou errado. Brunner tambm observou que a doutrina da eleio, formulada por Barth, desembocava num universalismo. Acentuando que a revelao de Deus aconteceu exclusivamente em Jesus Cristo, Barth posicionou-se contrrio doutrina catlica romana da analogia entis, contrapondo a analogia fidei. Toms de Aquino havia ensinado que existe uma correspondncia (analogia) e at uma semelhana entre Deus e sua criatura, o que nos permitiria aplicar conceitos terrenos em Deus. Essa correspondncia do ser foi denominada de analogia entis. Barth salientou que a correspondncia (analogia) acontece somente numa relao de f, e exclusivamente por iniciativa de Deus. Ela no acontece naturalmente. Por isso, ele acentuou a analogia fidei. Qualquer pretenso conhecimento racional de Deus vem a ser culpada arrogncia religiosa. A teologia catlica ensinava a doutrina da analogia entis: a idia de que possvel falar de Deus a partir do conhecimento humano. Barth declara que a analogia

entis o abominvel caminho que vai de baixo para cima, com a presuno de que a partir da terra se penetre no mistrio divino. O caminho correto o que parte da revelao de Deus de cima para baixo; o caminho da analogia fidei. a partir da f que o cristo compreende a verdade de Deus e no se baseando na sua prpria razo. Quando a f procura suportes racionais, ela deixa de ser f. ... se ns conhecemos Deus como Senhor (Criador, Reconciliador e Redentor), no porque conhecemos outros senhores e senhorias. E tambm no verdade que o nosso conhecimento de Deus como Senhor deve-se em parte ao nosso conhecimento de outros senhores e senhorias e em parte revelao. O nosso conhecimento de Deus como Senhor deve-se total e exclusivamente revelao de Deus. E Barth prossegue, argumentando em prol da analogia fidei: pergunta de como conseguimos ns conhecer Deus por meio do nosso pensamento e da nossa linguagem, devemos dar a resposta que, por ns, no podemos jamais alcan-lo e conhec-lo. Isso s acontece quando a graa da revelao de Deus nos alcana e nossos mtodos de pensar e falar, adota-nos e a eles, perdoa, salva e protege a ns e a eles. A ns s concedido e permitido fazer uso e uso com xito dos instrumentos postos nossa disposio. No somos ns que criamos esse xito e sequer os nossos meios, mas sim a graa da revelao de Deus. Mas o homem pode falar de Deus deixando que Deus e s ele fale. E a Palavra de Deus outra coisa no do que o prprio Jesus. Barth elaborou uma teologia Cristocntrica. 6. Teologia Bibliocntrica e Concentrao Cristolgica. A Palavra de Deus Barth sempre foi telogo e pastor. Sempre desempenhou sua atividade com paixo e conhecimento, com seriedade e responsabilidade, e compromisso. Independente de minha formao teolgica sempre fui impelido cada vez com mais intensidade, por inmeras circunstncias, a me ocupar com problemas pastorais como, por exemplo, o da pregao. Buscava - vs o sabeis certamente - abrir caminho entre os problemas da vida humana s voltas com as estranhas contradies da vida, proclamando-lhes a mensagem no menos estranha da Bblia. Preocupava-se com a vida e com a Bblia. A Bblia o testemunho que aponta para a eterna Palavra de Deus. Tanto a Bblia como a histria da salvao esto apontando para a Palavra de Deus. A Bblia aponta para a verdadeira, absoluta e transcendental revelao de Deus. Dar testemunho neste contexto significa apontar a uma direo definida alm de si prprio em direo a algum outro. A teologia deve estar a servio da proclamao do Evangelho. A dogmtica como disciplina teolgica a autocrtica cientfica da igreja crist relativamente ao contedo de sua linguagem prpria sobre Deus. Barth enfatiza que Deus livre, soberano e transcendente. Deus se dirige ao ser humano por intermdio de sua Palavra, que tambm livre e soberana. A Palavra o nico fundamento de toda a teologia. Ela procede do prprio Deus, que permanece para sempre o seu sujeito, e por isso ela tem autoridade. A Palavra nos atinge de trs modos: 1. por intermdio da pregao da Igreja; 2. mediante a Bblia, que o testemunho a respeito de Jesus Cristo; 3. o prprio Jesus Cristo a Palavra revelada de Deus. Por meios naturais o homem incapaz de ouvir essa Palavra, mas o Esprito Santo imprime a revelao no corao humano. No perodo entre 1927 e 1933 (quando surgiu o segundo volume da Dogmtica Eclesistica), Barth procurou libertar-se a si mesmo e tambm a transmisso da Palavra de Deus de qualquer vinculao com a Filosofia. Poderia e at mesmo gostaria de dizer o que dissera antes; mas no mais me possvel diz-lo agora da mesma maneira como j o disse antes. A Palavra de Deus no resultante de uma reflexo filosfica, ela tambm no um posicionamento sbio diante da angstia humana, mas ela revela a verdadeira natureza da af1io. O telogo pode at

empregar conceitos filosficos, mas ele no deve se vincular a uma determinada corrente filosfica. Velada ou abertamente, a teologia no pode mais ser confundida com alguma corrente filosflca, nem mesmo pode ser adaptada s estruturas de alguma escola de pensamento. O objetivo de Barth ver atravs do histrico para dentro do esprito da Bblia. O contedo da Bblia no constitudo de modo algum pelos corretos pensamentos humanos a respeito de Deus, porm pelos exatos pensamentos de Deus a respeito do ser humano. Na Bblia no consta como ns devemos falar de Deus, porm o que ele nos diz, no como ns encontramos o caminho at ele, mas como ele encontrou o caminho at ns. A Concentrao Cristolgica. O aspecto mais importante, original e central de Barth a Concentrao Cristolgica. A dogmtica eclesistica deve ser Cristolgica no seu conjunto e em cada uma de suas partes. Pois o seu nico critrio a Palavra de Deus revelada, atestada pelas Sagradas Escrituras e pregada pela Igreja; e esta Palavra revelada idntica a Jesus Cristo. Quando a dogmtica no mais se entende nem sabe se fazer entender fundamentalmente corno Cristologia porque, de certo, caiu sob domnio alheio e comeou a perder o seu carter especfico de dogmtica eclesistica. Toda a Dogmtica Eclesistica est orientada pela Concentrao Cristolgica. A mensagem da redeno - a aliana de Deus com os homens por intermdio de Cristo - traz todas as outras formulaes teolgicas consigo, em seu bojo, inclusive o testemunho da criao: primeiro a graa, e ento a natureza; primeiro o Evangelho, e ento a lei; primeiro o 2 artigo de f (de Cristo), e ento o 1 artigo de f (de Deus o Criador). ... rigorosamente falando, no existem temas que sejam independentes em relao Cristologia. importante observar que a Dogmtica Eclesistica no tem prolegmenos (a seo introdutria sobre teologia natural, ou evidncias naturais para a f em Deus e credibilidade das Sagradas Escrituras) como as outras dogmticas. A Dogmtica Eclesistica composta de 13 grandes volumes, perfazendo 7.731 pginas! Barth concentrou a revelao de Deus - na histria da humanidade - unicamente no evento em Jesus Cristo. A partir dessa nfase, Barth absolutizou o 2 artigo do Credo Apost6lico. 7. A Declarao Teolgica de Barmen. 1. Antecedentes. O documento foi elaborado a partir do posicionamento da Igreja Evanglica da Alemanha diante do nazismo. Portanto, o contexto do escrito a histria da Alemanha no perodo que antecedeu a Segunda Guerra Mundial. Em janeiro de 1923, o exrcito francs ocupou o Vale do Ruhr, com o objetivo de obrigar a Alemanha a continuar pagando as indenizaes da Primeira Guerra Mundial, o que tinha sido imposto pelo Tratado de Versalhes. Encorajados pelo governo, os mineiros e siderrgicos alemes adotaram imediatamente uma resistncia pacfica, recusando-se a trabalhar nas minas, fbricas e estradas de ferro. Isso agravou a situao econmica do pas, pois o governo alemo pagava os salrios. O governo tentou sustent-los emitindo enormes quantidades de papel-moeda. Essa poltica econmica e a sangria das reservas de ouro com as indenizaes de guerra desencadearam uma hiperinflao na Alemanha. O marco alemo perdeu totalmente a seu valor. Para termos uma idia da hiperinflao, observemos estes dados: antes da guerra, um dlar equivalia a 4,2 marcos alemes; em maro de 1923 um dlar valia 22.000 marcos; a 1 de agosto de 1923 um dlar valia mais de 1 milho de marcos, e a 10 de novembro de 1923, um dlar valia 1 bilho de marcos; e no auge da hiperinflao, um dlar era cotado em Berlim razo de 2,5 trilhes de marcos. Carregando cdulas em sacolas, a povo obtinha comida para dois ou trs dias. Trocava-se um par de sapatos por um prato de sopa, e um relgio de pulso por

uma lingia. No final de 1923, o governo lanou uma nova moeda, sendo os novos marcos trocados pelos antigos razo de 1 para 1 trilho. Muitos cidados que tinham casa prpria foram obrigados a vend-la para ter com que comer. E muitos especuladores astutos enriqueceram, comprando valiosas propriedades com uma pequena entrada e pagando a restante com prestaes insignificantes graas depreciao da moeda. Em 1929, havia 1,6 milhes de desempregados. Em 1933, o nmero de desempregados subiu para 6 milhes. A grande Crise de 1929 atingiu a economia mundial. Aps a Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos substituram os pases europeus na hegemonia mundial, tornando-se um pas credor no mercado internacional. A agricultura e a indstria desenvolveram-se rapidamente e as reservas em ouro superavam as de todo a mundo. Vultosos emprstimos foram feitos aos pases europeus. Mas na medida em que os pases europeus se recuperavam, passaram a consumir menos artigos americanos. A queda das importaes gerava uma superproduo nos Estados Unidos, que comearam ento a ter grandes estoques de mercadorias agrcolas e industrializadas. A poltica do governo, essencialmente liberal, era de no-interveno e os capitalistas, visando o lucro imediato, no diminuram a produo. Era uma crise do sistema capitalista, que, produzindo para a lucro, sem que a populao tivesse condies de consumir, provocou uma superproduo. A produo visava o lucro, no se preocupando com a demanda do mercado. Com o tempo, as estaques aumentaram assustadoramente. No conseguindo escoar a mercadoria, os fazendeiros americanos depararam-se com urna situao de insolvncia, sendo obrigados a arcar com a produo agrcola excedente e a hipotecar suas propriedades. A Crise de 1929 foi o resultado da mstica da prosperidade, que empolgava os americanos. Nem o governo e nem os empresrios adotaram medidas para fazer frente ao perigo que surgia. Para tentar diminuir a crise, a governo norte-americano interrompeu os crditos para a Europa, suspendendo bruscamente os emprstimos e gerando ali crise semelhante. este o quadro da situao econmica que culminou na crise de 1929. Diminuram as exportaes norte-americanas; as aes das grandes empresas comearam a cair; as fbricas adotaram frias coletivas, diminuram a jornada de trabalho e, par fim, demitiram em massa. O nmero de desempregados chegou a 12 milhes. Fbricas, bancos e agricultores foram falncia. Em 24 de outubro de 1929, ocorreu a quebra da Bolsa de Valores de Wall Street, em Nova York. As agitaes sociais aumentaram na Alemanha e os nazistas se aproveitaram da situao para disputar a poder. O modelo econmico nazista procurou sanear as estruturas capitalistas, abaladas com a Crise de 1929. Estava aberta a porta para a interveno do Estada. O nazismo tambm rejeitou o marxismo, considerando-o o fundamento da luta de classes que enfraquece e divide a sociedade. Os nazistas tambm identificavam o marxismo com o judasmo, salientando que os dois haviam colaborado para o declnio da Alemanha desde a Primeira Guerra Mundial. De um modo resumido, estes so os fatores que contriburam para a sucesso do nazismo: - a humilhao imposta Alemanha pelo Tratado de Versalhes; - o nacionalismo e o militarismo; - a hiperinflao de 1923 - o medo do comunismo, que estava sendo implantado com a Revoluo Russa; - a desconfiana perante o capitalismo, que se mostrou frgil com a Crise de 1929. - o anseio do povo por um governo forte, centralizador e intervencionista. Em 1932, Hitler disputou a presidncia da Alemanha, mas foi derrotado por pequena margem de votos. O Marechal Hindenburg foi reeleito. Mas o Partido Nazista aumentava consideravelmente o nmero de deputados, o que impossibilitava ao Chanceler (Primeiro Ministro) o apoio da maioria no Parlamento. Os banqueiros, industriais e grandes latifundirios pressionaram o Presidente Hindenburg e Hitler foi nomeado

Chanceler. Em 1934, com a morte de Hindenburg, Hitler passou a acumular os cargos de Presidente e Chanceler, proclamando-se Guia (Fhrer) da Alemanha. Surgia assim o Terceiro Imprio (Reich), tendo como smbolo a bandeira vermelha com a cruz sustica. A poltica interna era nacionalista e racista e tinha coma base estes princpios: - um povo (Volk), - um Imprio (Reich) e - um chefe (Fhrer). Desencadeou-se uma repulsa ao Tratado de Versalhes e Liga das Naes. Foi abolido o princpio federativo e surgiu um Estado unitrio, centralizador. A imprensa (rdios e jornais), a educao, o teatro, o cinema foram censurados. Passou-se a valorizar exclusivamente a cultura germnica. A economia alem comeou a se recuperar por intermdio de sua indstria blica. O maior comprador de armamentos era a Estado, que se preparava para a guerra. Desencadeouse uma perseguio aos judeus e outras raas. Inicialmente eram confinados em guetos; depois, nos campos de concentrao. A poltica externa era impulsionada pela teoria do espaa vital, ou seja, a conquista de novas terras pelos alemes, para que a raa ariana pudesse se desenvolver. Em 1937, os alemes apoiaram as tropas de Franco na Guerra Civil Espanhola, bombardeando cidades coma Guernica e testando assim suas armas. Em 1938, os alemes invadiram a ustria e a Tchecoslovquia, sob o pretexto de anexar territrios ocupados por minorias alems. Em 1939, os alemes queriam que os poloneses devolvessem a cidade-porto de Danzig e o Corredor Polons, perdidos na Primeira Guerra Mundial. Diante da recusa dos poloneses, Hitler ordenou a invaso da Polnia, o que deu incio Segunda Guerra Mundial. 2. O significado teolgico do documento. A Declarao Teolgica de Barmen a resoluo fundamental do Primeiro Snodo Confessante da Igreja Evanglica Alem, realizado entre 29 a 31 de maio de 1934, em Barmen, Alemanha. O documento quer proporcionar orientao para os cristos confusos diante da ideologia do nacionalsocialismo. O documento corrige os posicionamentos da Igreja em relao sua tarefa, natureza e ordem. O documento foi redigido por Karl Barth. Karl Barth tornou-se um dos lderes da Igreja confessante, salientando publicamente que a Igreja deve obedincia exclusiva a seu Senhor e ao Evangelho. Mostrou que a caracterstica essencial da Igreja ouvir a Deus. O que faz da igreja uma igreja no isto ou aquilo, por mais indicado e necessrio que seja, mas sempre uma s coisa: que a pessoa ouve porque Deus lhe falou, e ela ouve o que Deus lhe falou. A igreja no vive em arbtrio prprio, por mais bem-intencionado que seja, e sim ela vive em obedincia. Salientou tambm que o mundo nem sempre foi grato igreja por ela ignorar seus deuses. Tese I Jesus Cristo, tal qual testemunhado nas Sagradas Escrituras, a nica Palavra de Deus a qual devemos ouvir e nela confiar e a ela obedecer tanto na vida como na morte. Tese II Assim como Jesus Cristo a garantia de Deus para o perdo de todos os nossos pecados, do mesmo modo e com a mesma seriedade ele tambm a reivindicao mais poderosa de Deus sobre toda nossa vida; por intermdio dele experimentamos uma libertao feliz das amarras mpias deste mundo, para que possamos prestar um servio livre e agradecido s suas criaturas. Tese III A Igreja crist a comunho dos irmos, na qual Jesus Cristo, em Palavra e sacramentos, atravs do Esprito Santo, age de uma maneira presente como Senhor. Na condio de Igreja de pecadores agraciados, ela tem a tarefa de testemunhar em meio a um mundo pecador, tanto com sua f como com sua obedincia, tanto com sua

mensagem como com sua ordem, que ela somente propriedade do Senhor, que vive e pretende viver somente de seu conforto e a partir de sua orientao na expectativa de sua volta. Tese IV Os diversos ofcios existentes na Igreja no estabelecem o domnio de uns sobre os outros, porm fundamentam o exerccio do ministrio confiado e destinado a toda a comunidade. Tese V As Sagradas Escrituras testemunham que o Estado, por ordem divina, tem a tarefa de, neste mundo ainda no redimido, no qual tambm se encontra a Igreja, providenciar a justia e a paz. O Estado estar se desincumbindo da tarefa e para a tal poder fazer ameaas e o uso da fora de acordo com o bom senso e a capacidade humana. A Igreja reconhece o benefcio dessa ordem divina com gratido e reverncia a Deus. Ela evoca o Reino de Deus, os mandamentos e a justia de Deus, proclamando assim a responsabilidade de regente e regidos. Ela confia e obedece ao poder da Palavra, mediante a qual Deus sustenta todas as coisas. Tese VI A tarefa da Igreja, sobre a qual se fundamenta a sua liberdade, consiste em pregar a todos os povos a mensagem da graa libertadora de Deus em Cristo, e por essa razo est a servio de sua Palavra e obra, mediante a pregao e sacramentos. Com essas seis teses, a Declarao Teolgica de Barmen estabeleceu critrios para a delimitao do Estado. A Igreja se encontrava ameaada por um Estado totalitrio. Diante da ideologia do nacional-socialismo, alguns cristos se depararam com a tarefa e o compromisso de integrar a Igreja confessante, ou seja, confessar de uma maneira inequvoca a sua f crist. A partir de sua misso no mundo, a Igreja tem uma responsabilidade perante a humanidade. um compromisso com a criao de Deus. A Igreja tambm precisa estar vigilante a respeito de sua relao com o poder constitudo. Diante desse desafio, a Igreja precisa prestar contas de sua fidelidade Palavra de Deus. A Igreja confessante no aceitou a subordinao da Igreja ao Estado. A Igreja tem o seu fundamento nica e exclusivamente em Jesus Cristo. Foi afirmada a revelao suprema e definitiva em Jesus Cristo. Nenhum outro acontecimento ou poder tem a possibilidade de se tornar fonte e fundamento da f e da pregao. Para o cristo no existe nenhum mbito da vida que esteja fora da reivindicao do senhorio de Jesus Cristo. Nenhum outro poder deve ser reconhecido como revelao de Deus. Como propriedade de Jesus Cristo, a Igreja deve testemunhar sua f. A Declarao Teolgica de Barmen expressa esse testemunho, colocando-se sob a autoridade da Sagrada Escritura. O historiador Arnold Toynbee legou-nos este alerta: Como o homem no pode viver sem algum tipo de religio, a recesso do cristianismo no Ocidente tem sido seguida pelo aparecimento de religies substitutas na forma das ideologias ps-crists, nacionalismo e comunismo. Das trs ideologias ps-crists, o nacionalismo mostrou-se o mais poderoso. lamentvel que, das trs, tambm seja o mais poderosamente divisor. Estejamos todos alertas para que o nosso esprito esteja preenchido pela f em Deus revelado em Jesus Cristo. Pois se o nosso esprito no estiver preenchido pela f em Cristo, ele ser um espao aberto para alguma ideologia. E as ideologias proliferam sempre mais, sobretudo em poca de eleies. Esteja o nosso esprito em comunho e em sintonia com o Esprito de Deus, para descobrirmos a partir de nossa reflexo teolgica o verdadeiro compromisso da Igreja de Jesus Cristo.

III A REFLEXO TEOLGICA DE BARTH. 1. Deus o Totalmente Outro. Por si mesmo o homem nada pode saber e dizer a respeito de Deus. S podemos falar verdadeiramente de Deus o que ele mesmo transmitiu. Somente o que Deus revelou de si mesmo pode ser conhecido e comunicado pelo ser humano. A pessoa que pretende falar de Deus a partir de seus sentimentos e de seu raciocnio, est na verdade falando de um dolo. O verdadeiro Deus Totalmente Outro em relao ao ser humano em tudo o que a pessoa pensa, sente, deseja, compreende e elabora. Deus no um poder ou uma verdade, Deus no o Ser a ser descoberto pelo prprio ser humano para ento lhe outorgar o ttulo de divindade; ao invs, Deus aquele que se tornou conhecido do ser humano como seu real Senhor, ao ir ao seu encontro agindo, julgando, perdoando, santificando, prometendo, isto , ao se revelar a ele. Deus livre para amar. Nessa sua liberdade e em seu amor, ele deu seu Filho para a reconciliao com os homens, mesmo que o preo fosse a humilhao e a morte na cruz. O mistrio de Deus sua liberdade e seu amor ao se revelar em Jesus Cristo - verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Desde toda eternidade, o Deus vivo decidiu ser o Senhor da aliana - para restabelecer a comunho com o ser humano. Deus em sua essncia - desde toda a eternidade - o Deus do ser humano. Sem deixar de ser Senhor, sem abandonar sua liberdade - mas em amor ele o Deus humano. Deus fala e a criatura responde com seu amor e obedincia. Deus nunca renuncia aliana estabelecida com a humanidade. Deus no abandona os homens nem mesmo quando eles se afastam dele. Mesmo se desviando de Deus, o ser humano no perde a imagem de Deus. Apesar de vivermos no mundo marcado pelo pecado, este tambm o mundo criado por Deus em Jesus Cristo - que o Senhor sobre um mundo amado, perdoado e chamado ressurreio. Deus se deu a conhecer unicamente por intermdio de sua Palavra. No incio, antes deste nosso tempo e antes deste nosso espao, antes da criao e, portanto antes de uma realidade distinta de Deus, e objeto de seu amor, antes que ela pudesse ser o palco das aes de sua liberdade, Deus antecipou em si mesmo (no poder de seu amor e liberdade, seu conhecimento e seu querer), j determinou como o alvo e o sentido de todo o seu agir com o mundo que ainda no existia: em seu Filho ser gracioso ao ser humano, pois ele queria se comprometer com ele. No incio era a eleio do Pai, tornar verdade esta aliana com o ser humano, a quem entregou o seu Filho, para ele prprio se tornar um ser humano para a consumao de sua graa. No incio era a eleio do Filho, para ser obediente graa e entregar-se a si mesmo e tornar-se um ser humano, para que aquela aliana tenha sua realidade. No incio era a resoluo do Esprito Santo, para que a unidade de Deus, a unidade do Pai e do Filho por intermdio dessa aliana com o seres humanos no seja destruda, muito menos rasgada, muito mais seja mais gloriosa, para que a divindade de Deus, a divindade de sua liberdade e seu amor justamente nessa entrega do Filho se deva confirmar e comprovar. Essa aliana era no incio. E como sujeito e objeto dessa eleio estava Jesus Cristo no incio. Ele no estava no incio de Deus: Deus no tem incio algum. Mas ele estava no incio de todas as coisas, no incio de todo agir de Deus com a realidade que lhe distinta. Jesus Cristo era a eleio de Deus em relao a esta realidade. Ele era a eleio da graa de Deus dispensada ao ser humano. Ele era a eleio da aliana de Deus com o ser humano. Sempre enfatizando a absoluta transcendncia de Deus, Barth surpreendeu com uma conferncia denominada A humanidade de Deus.

2. A Revelao de Deus. Para uma correta compreenso, precisamos retornar s fontes: a auto-revelao de Deus e o testemunho da Sagrada Escritura. Deus anterior a tudo o mais que existe. Ele tambm o absoluto primeiro ao se decidir pela eleio. Ele absolutamente livre, pois de outra maneira ele nem seria Deus. A demonstrao de que o amor de Deus transborda que ele em si mesmo suficiente, no padecendo de solido, mas decidiu, em sua glria divina, compartilhar-se a si mesmo. O transbordamento do amor de Deus a essncia divina. um amor misericordioso e paciente. A deciso de Deus em Jesus Cristo uma deciso em graa. Se verdade que em Jesus Cristo a plenitude da Divindade (Cl 2:9) tomou forma de corpo, ento justamente Deus pode em toda plenitude, enquanto se distingue de tudo o que no Deus, ser recebido como o soberano que se manifesta. Se verdade que a plenitude de Deus se agradou em fazer morada em Jesus Cristo (Cl 1:19), ento o prximo passo para uma doutrina crist de Deus inevitvel. Tambm se torna imediatamente claro em que direo esse passo deve acontecer. Jesus Cristo Deus em sua manifestao ao ser humano. Jesus Cristo a deciso de Deus para esse procedimento. Ele prprio esse procedimento divino. Deus no seria Deus sem o Filho sentado direita do Pai. Jesus Cristo verdadeiro Deus, mas tambm verdadeiro ser humano e, como tal, representante da humanidade. Ns s reconhecemos Deus em Jesus Cristo. Sem este ser humano e sem este povo, Deus seria um outro, um Deus estranho; de acordo com o conhecimento cristo, ele nem seria Deus. Ao falarmos de Deus, ns precisamos imediatamente pensar em Jesus Cristo e na humanidade que ele representa. 3. Jesus Cristo a Palavra de Deus. A eterna Palavra de Deus se uniu ao ser humano Jesus de Nazar. E Deus estabeleceu uma aliana com o seu povo. Ns nos relacionamos com o Deus que se manifestou em Jesus Cristo. Esse testemunho da Sagrada Escritura impede que nossos pensamentos se dispersem. A Escritura Sagrada faz nossos pensamentos convergirem para a manifestao de Deus em Jesus Cristo. Deus s pode ser encontrado e conhecido em seu Filho e em sua Palavra. Entre Deus e o ser humano encontra-se a pessoa de Jesus Cristo, ele prprio Deus e ele prprio ser humano, e assim intermediando entre ambos. Nele Deus se manifesta ao ser humano. Nele o ser humano reconhece Deus. Nele Deus se posiciona diante do ser humano e o ser humano se encontra diante de Deus, como a eterna vontade de Deus e como a eterna determinao do homem, correspondendo vontade de Deus. Nele est estabelecido o plano de Deus com o ser humano, o juzo de Deus executado sobre o homem, a salvao de Deus consumada para o homem, a ddiva de Deus para o homem presente na plenitude, a reivindicao de Deus e a promessa de Deus pronunciada ao homem. Nele Deus se comprometeu com o ser humano. Ele a Palavra de Deus, em cuja verdade tudo foi decidido, cuja verdade no pode ser sobrepujada e nem delimitada por nenhuma outra palavra. Ele a Deciso de Deus, detrs e acima da qual no h anterior e nem superior e nem outra ao lado, contanto que todas as outras resolues s podem servir para a consecuo dessa uma. Ele o Incio de Deus, diante do qual no existe outro, exceto o nico incio que Deus tem em sei mesmo, assim que fora do prprio Deus ningum e nada pode provir de outra parte, nem olhar em retrospectiva para um outro incio. E a Eleio de Deus, antes da qual, sem a qual e ao lado da qual Deus no efetivou outra, assim que diante dela, sem ela e ao lado dela ningum e nada eleito e desejado por Deus. E justamente ele a eleio (e portanto tambm o incio, a deciso, a Palavra) da livre graa de Deus.

Pois, livre graa de Deus que Deus elege isto: ser um homem em si mesmo, intermediar-se a si mesmo e vincular-se ao ser humano. Ele, Jesus Cristo, a livre graa de Deus, na medida em que esta no s permanece idntica com o ser interior, eterno de Deus, porm poderosa nos caminhos e atividades de Deus para fora. Justamente por isso no existe nenhuma eleio, nenhum incio e resoluo, nenhuma Palavra de Deus antes e sobre, ao lado e fora dele. Livre graa o nico fundamento e sentido de todos os caminhos e obras de Deus para fora. A eleio de Deus original e propriamente a deciso de Deus para que seja assim como est descrito em Jo 1:1-2: que verdadeiramente a Palavra a Palavra, que este que se chama Jesus est no incio, junto a ele mesmo, semelhante a ele mesmo e com ele sendo um na Divindade. Justamente por isso ela per se eleio na graa. Que isso seja assim, em verdade no se compreende por si mesmo. Deus no seria Deus, ele no seria livre, se isso assim precisasse ser. .... O eterno Deus no estava devendo ao ser humano em si mesmo ser o Deus que por essncia portasse esse nome. Que ele de fato este Deus, isto o ser humano no tem merecido, isto s pode lhe ser dado de presente. 4. A Doutrina da Salvao. Em sua liberdade, ele mesmo se torna em doador e ddiva enquanto ele estabelece a aliana. Observe-se: toda a soberania desse ato j se encontra no conceito da graa. Deus demonstra graa e se evidencia como Salvador e Protetor. Deus elege em sua graa e se volta para o ser humano. o Deus da eterna eleio em sua graa. A partir da luz dessa eleio o todo do Evangelho se torna luz. Na medida em que aqui dito sim, todas as promessas de Deus so sim e amm (2 Co 1:20). O povo de Israel foi eleito. E os cristos constituem o Israel renovado e verdadeiro, recebendo todas as promessas destinadas ao povo de Deus (1 Pd 2:9). De acordo com a Sagrada Escritura, a eleio de Deus em graa um determinado agir divino esboado e tendendo para um alvo, cujo objetivo direto e prprio de modo nenhum a pessoa individual comum como tal, porm uma pessoa singular e somente nele o povo chamado e comprometido por intermdio dele e s ento, nesse povo, os indivduos em seu relacionamento pessoal com Deus. Somente naquela uma pessoa a determinao divina corresponde a uma certeza humana. Em seu sentido rigoroso, somente ele pode ser entendido a caracterizado como eleito (e rejeitado). Todos os outros o so nele e justamente no em sua prpria individualidade. 5. A eleio em Cristo. A eleio em graa a totalidade do Evangelho. Ela em si a essncia de toda boa notcia. Como tal ela compreendida e considerada digna na igreja crist. Que Deus em seu ser como aquele que ama em liberdade. Deus elege. isto que simplesmente precede todo o outro ser e acontecimento. Barth atendeu a insistncia de Pierre Maury e reformulou inteiramente a doutrina da eleio. A teologia dos reformadores no foi devidamente Cristocntrica quando eles abordaram o tema da predestinao. Ao falar de um decretum absolutum, Calvino chegou a confundir predestinao com predeterminismo. Na doutrina da predestinao em si eu preferia ter ficado com Calvino em vez de me distanciar tanto dele. Barth salientou que a eleio est includa na revelao plena de Deus em Jesus Cristo. Em Jesus se efetivou a eleio e tambm a condenao. Ele o homem eleito e tambm o homem rejeitado (At 2:23). A doutrina da predestinao a essncia do Evangelho. Ela Evangelho; boa notcia, alegre, animadora, consoladora, mensagem solcita. Sem dvida, ela tambm projeta uma

sombra. Ns no devemos deixar de ver e no devemos ultrapassar esse lado da questo. Mas ela luz e no escurido. Barth ocupou-se com o conceito da dupla predestinao. A eleio e a rejeio se realizaram em Cristo, cujo destino reflete um processo intratrinitrio: o Pai escolhe e rejeita o Filho e, nele, a humanidade toda. Jesus representa a escolha e a rejeio do ser humano. A cruz representa a rejeio de Jesus, sua morte condenatria, e a ressurreio expressa sua eleio eterna. Primeiro o Pai rejeitou, para depois elevar o Filho. O relacionamento entre o Pai e o Filho reflete o processo do drama intradivino. A predestinao uma deciso eterna feita por Deus; os seres humanos so admitidos para a salvao, enquanto que o prprio Deus assumiu sobre si mesmo a condenao. Aquilo que ocorreu na vida de Jesus Cristo um paradigma para a salvao de toda a humanidade. Seu sim no poderia ser ouvido onde tambm no ouvido o seu no. Mas em sua substncia, ela a eleio diz em sua primeira e ltima palavra sim e no no. Na eleio de Jesus Cristo, que a eterna vontade Deus, Deus confere ao ser humano ... a eleio, a salvao e a vida; e confere a si prprio ... a reprovao, a perdio e a morte. A doutrina da eleio determina de um modo inequvoco a compreenso do Evangelho. Ela no se encontra de um modo ou outro alm do sim e do no. A doutrina da eleio a essncia do Evangelho, pois isto o melhor que j pde ser dito e ouvido: Deus escolhe o ser humano e para ele aquele que ama em liberdade. Ela est fundamentada no conhecimento de Jesus Cristo, porque ele em unidade o Deus que elege e o ser humano eleito. Ela pertence doutrina de Deus, porque Deus, ao mesmo tempo que elege o ser humano, no s determina sobre ele, mas de maneira original sobre si mesmo. Sua funo consiste no testemunho fundamental da eterna, livre e constante graa como o incio de todos os caminhos e atividades de Deus. Eleio isso deve inicialmente somente sublinhar e esclarecer o que j dito com a graa. Deus elege em seu amor algum outro para a comunho consigo mesmo. Isso significa por primeiro e acima de tudo: Deus elege a si mesmo em favor desse outro. Deus d a si mesmo a determinao de no se bastar a si mesmo, na obstante ele ser suficiente para si mesmo. Ele d a di mesmo a determinao do transbordar, do voltar-se e do descer. Ele se torna a si mesmo uma ddiva. O conceito de eleio diz que a graa graa, que Deus no a deve a ningum e que ningum a pode merecer, que a graa no pode ser objeto de uma reivindicao e direito da parte daquele que a vivencia, que ela a resoluo e a determinao de sua vontade. Mais uma vez: Deus elege a si mesmo o Deus da aliana. Ele elege, pois em sua glria ele no quer ser s, mas cu e terra, e entre ambos, permite aos seres humanos serem suas testemunhas de sua glria. Ele elege a criao, o homem e a humanidade como o mbito no qual ele quer ser gracioso. Deus se elege a si mesmo como Deus da aliana. Ele elege o homem de Nazar para aquela unidade de ser consigo mesmo em seu Filho. Todas as reflexes srias sobre predestinao culminam no reconhecimento da liberdade da graa de Deus. O alvo dessas reflexes que a graa, seja entendida como graa. o reconhecimento da divindade do Deus da graa. Com a livre deciso de Deus ns nos defrontamos com o mistrio: sua resoluo oculta e impenetrvel. Perguntar pelo sentido e pelo direito dessa escolha significa no reconhecer que se trata de Deus quem decide e escolhe. Ns nos defrontamos com o mistrio da liberdade de Deus. Destacamos estes trs pontos na reflexo da doutrina da predestinao: a liberdade de Deus, o mistrio de Deus e a justia de Deus. Somente num momento parcial a doutrina da predestinao cosmoviso determinista. Precisamos aprender a compreender a atuao de Deus a partir de sua eleio em graa. O Deus que elege em graa aquele que em sua liberdade e em seu amor se compromete. Uma soberania e uma onipotncia genrica lhe estranha. um Deus que se compromete, se vincula e se relaciona. O todo-poderoso Deus, que governa o mundo,

quer se dar a conhecer. Na eleio, ele revela quem ele . No se trata de um Deus abstrato, equiparvel a um determinado princpio, mas do Deus que elege um povo para si. A eleio caracteriza a relao entre Deus e o ser humano. Em seu amor, Deus elege. E seu agir a expresso de sua liberdade. A eleio em graa o eterno incio de todos os caminhos e atividades de Deus em Jesus Cristo, na qual Deus em livre graa a si mesmo determina para o ser humano pecador e o homem pecador para ele e, portanto assume para si mesmo a rejeio do ser humano com todas as suas conseqncias e escolhe a pessoa para ter participao em sua prpria glria. O dogma da predestinao consiste pois na sua forma mais simples e mais abrangente nesta fase: a predestinao a eleio de Jesus Cristo. O conceito de eleio fala pois de um duplo relacionamento: de um que elege e de um que eleito. E assim tambm o nome Jesus Cristo encerra um duplo em si: aquele, que assim se chama, verdadeiro Deus e simultaneamente verdadeiro ser humano. Conforme isso, aquela forma mais simples do dogma da predestinao se desmembra em duas frases, que soam assim: Jesus Cristo Deus que elege, e Jesus Cristo o homem eleito. 6. A Providncia de Deus. O fundamento da eleio o livre amor de Deus. assim que Deus se posiciona a favor de sua criao. Deus preserva sua criao e se entrega a si mesmo. Mas tambm existe resistncia ao amor de Deus. O mundo se encontra numa situao de resistncia a esse amor. E assim a eleio tambm traz consigo o seu oposto. Mesmo assim, Deus continua manifestando o seu amor sua criatura; a manifestao de sua graa. a livre graa de Deus que elege. Deus pronuncia um sim para a sua criao. Ele elege a graa como graa e no como juzo. Deus procede assim em sua absoluta liberdade e movido por sua graa. Sempre de novo Deus procura alcanar sua criatura. A liberdade da graa de Deus estendida para a pessoa que s pode ainda contar com a graa. A livre graa de Deus quer nos chamar para uma vida em obedincia. Devemos viver a partir da fora de sua graa. Quando o mistrio da graa se torna o centro de nossa vida, ento descobrimos que a vontade de Deus a nossa santificao. O mistrio da eleio em graa requer a nossa obedincia, pois trata-se do mistrio do Deus vivo e vivificador. Resistir ao amor de Deus significa viver fora do mbito da eleio pela graa, e equivale a viver na inquietao. Viver na eleio pela graa significa viver na paz de Deus. A criatura pode silenciar e se aquietar diante do mistrio divino. A justia de Deus nos leva a constatar que poderamos nos encontrar no mbito da no-eleio, da rejeio. O Criador chama e escolhe, mas tambm rejeita aquilo que ele no elegeu. Ele pronuncia um sim para aquilo que ele quer, e um no para aquilo que no faz parte de seu propsito salvfico. Desde a eternidade Deus tem se voltado para o ser humano por intermdio de Jesus Cristo. Mas o homem tem tratado Deus como um estranho. Agora, se o homem quiser se queixar, que se queixe de si mesmo. A criatura traz em si a contradio - no relacionamento com Deus, consigo mesma e com os semelhantes. A criatura sempre convive com a possibilidade de uma queda. Essa realidade ocorre porque a criatura se recusa a viver sob a graa de Deus. Por isso, a culpa dessa ruptura da criatura e no de Deus. Ns no podemos acusar Deus por ter criado uma criatura sujeita tentao. Tambm no podemos acusar Deus por ter permitido a desobedincia da espcie humana. Em seu plano eterno, Deus decidiu sustentar sua criatura. Mesmo tentado e dominado pela culpa, o ser humano no abandonado por Deus. O ser humano se encontra no limite entre criatura de Deus e ouvinte da Palavra. Nesse limite a pessoa confrontada com sua responsabilidade por aquilo que deveria ter feito e no fez.

O que ento o vazio, o intil, o desprezvel, o ftil, o caos? Somente Deus e sua criatura podem efetivamente ser. Aquilo que foi rejeitado no nem Deus e nem criatura. Mesmo em se tratando de um no-ser, Deus se ocupa com o caos, lutando contra ele e superando-o. Devemos fazer distino entre o intil e desprezvel e o lado sombrio da criao. A noite, a dor, a doena, a finitude da vida e toda a carncia fazem parte da sombra da criao. E a criatura est sempre beirando esse lado sombrio. No entanto, estas provaes nos so necessrias. E a elas podemos resistir. So males relativos e tolerveis. Mas, ao ultrapassar o limite do lado sombrio, a criatura atrai o caos, o desprezvel para dentro do mundo criado. Deus Senhor sobre aquilo est sua direita e sua esquerda. O caos, que est esquerda, no deve ser visto como um segundo deus. O poder, que o desprezvel possui, foi-lhe permitido por Deus. No sendo Deus e nem criatura, o rejeitado a contradio em si mesmo, a possibilidade impossvel daquilo que foi desprezado por Deus. O intil se nutre daquilo que Deus no quer. Essa a sua possibilidade de subsistir. Mas o intil no idntico ao nada. Deus sempre quer agir de modo positivo, pois assim que ele manifesta a sua graa. Tudo aquilo que se subtrai graa de Deus. vem a ser aquilo que Deus no quer e, portanto, rejeita. Toda oposio e adversidade graa de Deus vm configurar o retorno do caos. Essa rejeio da graa de Deus o mal (do ponto de vista cristo). Nesse sentido, o maligno uma privao. A graa de Deus o fundamento e a norma de todo o ser, bem como a fonte e a medida de todo o bem. Ao negar a graa de Deus, o desprezvel se configura como corrupto e corruptor. O intil no neutro. antes um inimigo, que insulta a Deus e ameaa a criatura. O vazio o impossvel e o insuportvel. O vazio toma a forma de pecado e, nessa configurao do mal, gera a morte. No se trata de um fenmeno da natureza, pois o intil nem pode ser explicado. Aquilo que conseguimos explicar, pode ser enquadrado em normas e medidas. Mas o intil o anormal e o sem medida. O intil no segue lei alguma. unicamente desvio, transgresso e maldade. O intil no pode ser explicado, apenas pode ser constatado como sendo a adversidade. Em sua forma de pecado, o intil percebido como culpa, e em sua configurao do mal e morte, como castigo e necessidade. A livre graa de Deus o princpio bsico de todos os relacionamentos do Criador com sua criatura. Mas a livre graa de Deus no fica sem contestao; o intil se intromete como contradio e adversidade. Conclumos, portanto que o confronto com o intil vem a se constituir em assunto de Deus. A causa de Deus combater e vencer o caos. Com suas prprias foras, a criatura no consegue resistir ao intil. Gnesis 3 mostra que, na disputa com o intil, a causa da criatura est perdida. Ao invs de buscar a ajuda de Deus, a criatura tentou disputar por conta prpria, procurando se igualar a Deus. A livre graa de Deus o bem, que a atuao da misericrdia. Ao se opor graa de Deus, o intil vem a se constituir no mal. O Criador conhece o intil, que aquilo que ele no escolheu e no quis. Ele conhece o caos e sua dimenso medonha e terrvel. Ele conhece esse poder que tem ascendncia sobre a criatura. Mas ele permanece Senhor tambm sobre aquilo que se constitui em ameaa para a criao. Deus jurou fidelidade sua criatura ameaada. Ele solidrio com sua criao. O prprio Deus assumiu o confronto com o intil. Ao enviar seu Filho para a crucificao, Deus preferiu ser um Deus desgraado, que um Deus bemaventurado de criaturas desgraadas. Com a profunda humilhao de Cristo, Deus investiu toda sua glria. O majestoso Deus se apresentou como uma criatura ameaada, fraca e tentada. E de fato ele se tornou uma frgil criatura em Jesus Cristo. Cabe criatura escolher unicamente para si o bem, ou seja, colocar-se sob a graa de Deus, e ter o intil contra si do mesmo modo como Deus o tem. Assim procedendo, no ser difcil dominar o intil. Escolhendo o auxlio de Deus, a criatura descobre o que unicamente bom para ela. Deus intervm em favor de sua criatura. Quando algum se

torna receptivo graa divina, percebe tambm o quanto fortalecido em seu viver. No mbito vazio da auto-suficincia prospera a preguia do ser humano, que d espao ao intil, para em seguida ser subjugado. Sob as asas da misericrdia de Deus prospera o nimo. Nosso olhar se volta para a ressurreio de Jesus Cristo, mas tambm se abre para a sua volta gloriosa. A partir dessa confisso de f ns podemos chegar a uma s resposta: o intil a velha ameaa, a desordem e a corrupo que queria dominar a criao, mas que est vencido por intermdio de Cristo. Derrotado por Cristo, o intil no precisa mais ser temido. Os reformadores Lutero e Calvino no tinham o menor respeito pelo mal. Sabiam que ele existe, mas no o consideravam digno de respeito. Os reformadores sabiam que existe uma maldade que est alm da oposio dos homens. O inimigo de Deus tambm inimigo de sua criatura. Ns no devemos fugir das lutas, que devem ser enfrentadas. Nem devemos nos esquivar daqueles sofrimentos, que tm um propsito em nossa vida. Na orao do Pai Nosso ns pedimos livra-nos do mal, o que significa: arranca-nos de suas fauces. O mal tem poder sobre ns porque somos pecadores. Ns precisamos estar atentos para a tentao escatolgica, que pode nos levar queda total, extino definitiva. Esse mal supremo e infinito no pertence criao. Encontra-se no limite sinistro da criao e se nutre a partir da desordem. O mal absoluto se impe criao na forma de pecado e morte. Aparece no domnio ilegtimo, incompreensvel e inexplicvel, e a Bblia o denomina de Diabo. Sozinha, a criatura no tem como se defender desse perigo. Mas Deus superior e detm o controle. Sem a proteo de Deus, nada podemos contra o maligno. Ali onde Deus est ausente e no o Senhor, um outro ocupa o lugar e domina. totalmente impossvel resistir ao mal, se Deus no estiver conosco. Que Deus nos liberte desse pseudo-imprio, liderado pelo usurpador. O nosso olhar de f - para o passado e para o futuro - tem como fundamento a Palavra de Deus. A interveno de Deus derrotou o intil. No h mais razo para tributarmos respeito ao intil. Jesus Cristo reduziu o maligno a um espantalho ridculo. A obedincia da f nos proporciona liberdade. E a nossa f nos mostra que o intil foi derrotado por Jesus Cristo, nosso Senhor, que proporciona um novo comeo nossa vida. No h mais espao para o intil na vida de quem tem f! 7. A Livre Graa de Deus. Deus estabeleceu uma aliana com a humanidade. Sua deciso primordial em Jesus Cristo o fundamento e o alvo de todo o seu agir: a graa. Deus se deu a conhecer por intermdio dele mesmo. Ele o Deus vivo que ama em liberdade. Deus amor. Mas ele tambm a liberdade absoluta. A manifestao de Deus em Jesus de Nazar uma deciso de sua soberania divina. a demonstrao de sua misericrdia, justia, constncia e onipotncia. Deus age movido pela sua graa e pelo seu amor. Ele elege em sua liberdade divina. Enquanto Deus age em sua livre graa, ele quer, espera e exige algo de seu companheiro de aliana. Ele o determinou e criou para ser parceiro nessa aliana; para isso ele o elegeu e chamou; como tal ele o atrai para a responsabilidade. Ele transforma essa responsabilidade no sentido de toda sua existncia. Ele o chama ordem e o mantm em ordem, na medida em que ele lhe manifesta sua ordem e enquanto ele vigia para que ele se mantenha em ordem. Aquele que eleito recebe justamente com isso um Senhor. No existe graa sem o senhorio e a reivindicao da graa. Existe uma conexo entre a graa e a reivindicao de Deus. 8. A Igreja de Jesus Cristo e seu Compromisso.

A caracterstica essencial da igreja ouvir a Deus. Aquilo que faz da igreja uma igreja no isto ou aquilo, por mais indicado e necessrio que seja, mas sempre uma s coisa: que a pessoa ouve porque Deus lhe falou, e ela ouve o que Deus lhe falou. Igreja existe ali onde o ser humano presta ouvidos a Deus. O caminho da igreja sempre foi e sempre ser um caminho estreito. O mundo nem sempre foi grato igreja por ela ignorar seus deuses. ... a vida na igreja e a vida da prpria igreja tero que ser vida em humildade e servio. Na vida pblica e privada das pessoas sempre haver dominao. Estado dominao, cultura dominao, mesmo o melhor e mais puro desenvolvimento da essncia humana dominao. Ningum de ns no participa de dominao humana, ningum deixa de busc-la de algum modo. Dominao humana sempre dominao pecaminosa, perversa. Ela (a igreja) precisa levantar outro sinal que no seja o da dominao. ... a dominao religiosa ... a mais terrvel forma de dominao humana. O clericalismo uma dominao e uma caricatura da igreja. O sinal a ser colocado pela igreja, ou melhor, o sinal sob o qual a igreja originalmente est colocada, se chama servio, e no dominao. A igreja no igreja dos devotos, e sim igreja de Jesus Cristo. A igreja no vive em arbtrio prprio, por mais bemintencionado que seja, e sim ela vive em obedincia. A voz orientadora, por intermdio da qual ns nos deixamos instruir por Deus mesmo sobre Deus, foi, pois, a voz de Jesus Cristo. a voz que deve reinar sozinha na Igreja. Deus o sujeito de tudo aquilo que deve ser dito e ouvido na Igreja. Barth salientou que a dogmtica deve ser necessariamente eclesistica. Ningum poder ser telogo dogmtico sem ter recebido a misso de ser doutor da Igreja, isto , algum que, na Igreja ensinar Igreja as doutrinas da Igreja, no na qualidade de simples erudito, mas de um homem realmente chamado a ensinar. Eleio no NT a determinao divina para o discipulado, para o apostolado, para a comunidade: para o apostolado, contanto que este constitui a comunidade, para a comunidade, contanto que esta constituda de apostolado, de uma maneira ou de outra, a determinao divina para a participao na salvao do futuro messinico. aquele livro escriturado por Deus (Ex 32:32), que tem sido identificado como razo com a eleio em graa, de acordo com o Sl 69:29 denominado de modo inequvoco o livro dos vivos ou de acordo com a designao do NT (Fl 4:3; Ap 3:5; 17:8; 20:12.15) o livro da vida: no se pode permanecer nesse livro; pode-se ser novamente apagado; esse livro no contm eventualmente duas colunas, porm apenas uma. Esta a verdade que a Igreja deve ouvir e ensinar. Barth abordou a tica na exposio da auto-revelao de Deus em Jesus Cristo. A tica foi includa na doutrina de Deus. E, assim, a tica crist considerada novamente como intrnseca dogmtica. No podemos identificar a tica crist com a filosfica. A tica crist analisada luz da soberana liberdade de Deus, revelado em Jesus Cristo. A tica crist se orienta a partir da revelao. E a tica filosfica, a partir da razo. Esta requer uma reta norma de razo. A tica crist no est empenhada em encontrar o Bem, assim como a tica filosfica prope. Para a tica crist, o Bem j conhecido e pressuposto. A tica crist se interessa em saber o que eu devo fazer, como crente em Jesus Cristo e membro de sua igreja. Para a tica crist central o tema da obedincia. Observamos, portanto, que a preocupao de uma, no se constitui em tema relevante para a outra. A tica filosfica entende que o homem elabora os seus princpios ticos. A tica crist tem como ponto de partida a busca pela vontade de Deus, que determinante para a formulao de princpios de conduta. Deus inicia e estabelece a humanidade do homem. Precisamente porque a eleio divina a determinao ltima do homem, surge a questo da autodeterminao do homem luz de sua determinao por Deus. A tica crist no necessita e nem pode rechaar a tica filosfica, e no o faz. a tica filosfica que deve rechaar a tica crist, e o faz. A tica crist no repudia e nem

ignora a filosfica. A tica teolgica deve incluir toda a verdade tica sob o mbito da graa de Deus. Porm, precisamente porque tal relao entre a tica teolgica e filosfica bsica e concreta, trata-se de uma relao crtica, no de colaborao. Uma tica crist tem como origem e base o mandamento de Deus. neste aspecto que a tica filosfica se torna insuficiente. Como se posiciona a tica crist perante o mundo da moral humana, isto , diante dos costumes e hbitos, diante das regras de vida, diante das velhas e tambm diante das novas, diante das tradicionais e talvez tambm revolucionrias, nas quais o ser humano imagina reconhecer e fazer o bem de modo aparentemente independente da histria das mesmas? Responde-se a isso: a tica crist perpassa todo o mundo da moral, prova tudo e mantm o melhor, somente o melhor, e isso significa o modo pelo qual a graa de Deus melhor louvada. Certamente no pode ser diferente: a tica crist sempre de novo ocasiona surpresas ao ser humano com seu padro moral. A graa de Deus protesta contra toda tica humanamente estabelecida como tal. Porm, um protesto positivo: a graa no s no nega o homem, seno que afirma mais ainda o homem ao perseguir a soluo do problema tico que a graa proporciona em refutao ativa, resoluo e suspenso de todas as respostas humanas a esse problema. Barth enfatiza a ntima relao entre a conduta do homem e a sua existncia como pessoa. A preocupao tica na verdade o questionamento pela bondade, pela integridade, pela retido, pela autenticidade existencial. E assim Barth conseguiu conduzir o protestantismo da acomodao racionalista liberal para um retorno ao pensamento dos reformadores. Desta maneira ele resumiu sua caminhada teolgica: Quando olho para a minha vida que ficou para trs, vejo-me como algum que sobe s apalpadelas na escurido de um campanrio. E, ao faz-lo, sem perceber, ao invs do corrimo da escada, segura uma corda, a corda do sino. E, de repente, cheio de consternao, ele ouve o sino comear a tocar. E, naturalmente, no s ele que o escuta. Em 1957, o telogo catlico Hans Kng obteve o grau de doutor em teologia com a tese Justificao: a doutrina de Karl Barth e uma reflexo catlica. Hans Kng argumentou que a teologia de Barth concorda com a da Igreja Catlica Romana e vice-versa. O Papa Pio XII considerou Karl Barth o maior telogo desde S. Toms de Aquino. BIBLIOGRAFIA BARTH, Karl. Ddiva e Louvor (Artigos Selecionados). So Leopoldo: Editora Sinodal, 1986. BARTH, Karl. Kirchliche Dogmatik. (Textos selecionados por Helmut Gollwitzer). Mnchen: Siebenstern Taschenbuch Verlag, 1969. BARTH, Karl. Kirchliche Dogmatik Gottes Gnadenwahl (A Eleio de Deus em Graa). Zrich: Evangelischer Verlag A G. Zollikon, 1959, 4 edio. BARTH, Karl. La Oracin. Buenos Aires: Editorial La Aurora, 1968. DUMAS, Andr BOSC, Jean CARREZ, Maurice. Novas Fronteiras da Teologia, So Paulo: Livraria Duas Cidades, 1969. LANE, Tony. Pensamento Cristo da Reforma Modernidade, Volume 2. So Paulo: Abba Press Editora, 1999. TILLICH, Paul. Perspectivas da Teologia Protestante nos Sculos XIX e XX. So Paulo: Associao dos Seminrios Teolgicos Evanglicos (ASTE), 1986. TILLICH, Paul. Teologia Sistemtica. So Leopoldo: Sinodal e So Paulo: Paulinas, 1984.

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