Karl Marx e a história da exploração do homem

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    Karl Marx e a hist6ria da exploragaodo homem

    Vimos ate agora que 0pensamento socio16gico, em seu desenvolvimen-to, abordou niveis diferentes da realidade. Sabemos que, se iluminarmos umamesa cheia de 0bjetos com luzes de diferentes cores, partindo de diversosfocos, estaremos produzindo imagens d is tin ta s d os mesmos objetos. Nenhu-rn a delas, en t r etan to , e desnecessaria ou incorreta. Carla um a delas "poe aluz" ou pr iv i leg ia de te r rn inados aspectos. Assim tambem acontece com asteorias cientificas e, entre elas, as sociais.o metoda positivista expos ao pensamento humane a ideia de que umasociedade e mais do que a soma de individuos, que ha normas, instituicoes evalores estabelecidos que constituern social. Weber, por sua vez, reorgani-zou os fatos sociais "it luz" da hist6ria e da subjetividade do agente social.

    Agora falarernos de Karl Marx e do mater ia li smo h is to r ic o , a correntemais revolucionaria do pensamento social nas con-sequencias te6ricas e na pratica social que pro-

    Ipoe. E tambern urn dos pensamentos maisdificeis de compreender, explicar ou sintetizar,pais Marx produziu muito, suas ideias se desdo-braram em varias correntes e foram incorpora-das por inumeros te6ricos.

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    Com 00bjetivo de entender 0capitalismo,Marx produziu obras de filosofia, economia esociologia. Sua intencao, porem, nao era apenascontribuir para 0 desenvolvimento da ciencia,mas propor uma ampla transforrnacao politica,economica e social. Sua obra maxima, 0 capi-tal, destinava-se a todos os homens, nao apenasaos estudiosos da economia, da poIitica e da 80-ciedade. Este e urn aspecto singular da teoriade Marx. Rei urn alcance mais amplo nas suasformulacoes, que adquiriram dirnensoes de idealrevolucionario e acao politica efetiva. As contra-dicoes basicas da sociedade capitalista e aspossibilidades de superacao apontadas pelaobra de Marx nao puderam, pais, permanecerignoradas pela sociologia.

    Podemos apontar algumas influencias ba-sicas no desenvolvimento do pensamento deMarx. Em prirneiro lugar, coloca-se a leitura en-

    tica da filosofia de Hegel, de quem Marx absorveu e aplicou, de modo pecu-liar, 0 metoda dialetico. Tambem significativo foi seu cantata com 0 pensa-mento socialista frances e Ingles do seculo XIX, de Claude Henri de Rouvroy,au conde de Saint-Simon (1760-1825), Francois-Charles Fourier (1772-1837)e Robert Owen (1771-1858). Marx destacava 0 pioneirismo desses criticos dasociedade burguesa, mas reprovava 0 "utopisrno" das suas propostas de mu-danca social. As tres teorias desenvolvidas tinham como trace comum 0 de-sejo de impor de uma so vez uma transformacao social total, implantando,assim, 0 imperio da razao e da justica eterna. Nos tres sistemas elaboradoshavia a eliminacao do individualismo, da competicao e da influencia da pro-.priedade privada. Tratava-se, por isso, de descobrir urn sistema novo e per-

    feito de ordem social, vindo de fora, para implanta-lo na sociedade, por meioda propaganda e, sendo possivel, com 0exemplo, mediante experiencias queservissem de modelo. Com esta formulacao, as tres desconsideravam a ne-cessidade da luta politica entre as classes sociais e 0 papel revolucionario doproletariado na realizacao dessa transicao.

    Finalmente, hit toda a critica da obra dos economistas classicos ingle-ses, em particular Adam Smith e David Ricardo. Esse trabalho tomou a aten-930 de Marx ate 0 final da vida e resultou na maior parte de sua obra te6rica.

    Essa trajet6ria e marcada pelo desenvolvimento de conceitos importan-tes como alienacao, classes sociais, valor, mercadoria, trabalho, mais-valia,modo de producao. Vamos examina-los a seguir. . ~tanos e r...d ~

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    K A R L M A R X E A H 1S TO R IR D R EXPLORACAO D O H O M EM 85

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    As classes sociais, . .~~~~nClasque

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    As ideias liberais consideravam os hornens, par natureza, iguais politi-ca e juridicamente. Liberdade e justica eram direitos inalienaveis de todo ci -dadao. Marx, par sua vez, proclama a ine-xistencia de tal igualdade natural e observaque 0 liberalismo v e os homens como atomos,como se estivessem livres das evidentes desi-gualdades estabelecidas pela sociedade. Se-gundo Marx, as desigualdades sociais obser-vadas no seu tempo eram provocadas pelas re -laciies de broduciio do sistema capitalista, que dividem os homens em proprie-tarios e uao-nronnctanos dos meios de producao, As desigualdades sao abase da formacao das classes sociais.As relacoes entre os homens se caracterizam par relacoes de oposicao,antagonismo, exploracao e complementaridade entre as classes sociais.

    Marx identificou relacoes de exploracao da classe dos proprietaries -a burguesia sabre ados trabalhadores 0 proletariado. 1s80 porque a

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    A SOCIOLOG IA c L A s S i e R

    posse dos meios de producao, sob a forma legal de propriedade privada, fazcom que os trabalhadores, a tim de assegurar a sobrevivencia, tenharn devender suaforfa detrabalho ao ernpresario capitalista, 0 qual se apropria doproduto do trabalho de seus operarios,

    Essas rnesmas relacoes sao tambem de oposicao e antagonisrno, namedida em que os interesses de classe sa o inconciliaveis. 0 capitalista dese-ja preservar seu direito a propriedade dos meios de producao e dos produtose a maxima exploracao do trabalho do operario, seja reduzindo os salarios,seja ampliando a jornada de trabalho. 0 trabalhador, par sua vez, procuradiminuir a exploracao ao lutar por menor jornada de trabalho, melhores sala-rios e participacao nos lucros.

    Por outro lado, as relacoes entre as classes sa o complementares, poisuma so existe em relacao a outra. S6 existem proprietaries porque ha umamassa de despossuidos cuja unica propriedade e sua forca de trabalho, queprecisam vender para assegurar a sobrevivencia. As classes sociais sao, pais,apesar de sua oposicao intrinseca, complementares e interdependentes.

    A hist6ria do hornem e , segundo Marx, a hist6ria da luta de classes, daluta constante entre interesses opostos, embora esse conflito nem sempre semanifeste socialmente sob a forma de guerra declarada. As divcrgencias,oposicoes e antagonismos de classes estao subjacentes a toda relacao social,nos mais diversos niveis da sociedade, em todos os tempos, desde 0surgimento da propriedade privada.

    I) dinamismo d-nercadc. Comdores "livres" ee empregavam-s

    A origem histcrica do capitalismoo salarioo capitalisrno surge na historia quando, por circunstancias diversas,

    uma enorme quantidade de riquezas se concentra nas maos de uns POllCOSindividuos, que tern por objetivo a acumulacao de lucros cada vez maiores.

    No inicio, a acumulacao de riquezas se fez por meio da pirataria, doroubo, dos monopolies e do controle de precos praticados pelos Estadosabsolutistas. A comercializacao era a grande fonte de rendimentos para asEstados e a nascente burguesia. Uma importante mudanca aconteceu quan-do, a partir do scculo XVI, 0 artesao e as corporacoes de oficio foram subs-titutdas, respectivamente, pelo trabalhador "livre" assalariado 0 operario- e pela industria.

    N a producao artesanal da Idade Media e do Renascimcnto, 0 traba-lhador mantinha em sua casa os instrumentos de producao. Aos poueos,porern, estes passaram a s maos de individuos enriquecidos, que organiza-ram oficinas. A Rcvolucao Industrial introduziu inovacoes tecnicas na

    producao que aceleraram 0 processo de se-paracao entre 0 trabalhador e os instrumen-tos de producao. As maquinas e tudo 0maisnecessario ao processo produtivo forcamotriz, instalacoes, materias-primas fica-ram acessiveis somente aos mais ricos. Osartesaos, isolados, nao podiam competir com

    o operariogada a sobrevivd e trabalho seder. Surge assi

    pnmeiro comptroca, paga aoo salariocadoria. Comoinseparavel dopermita ao opc

    acelerou 0 processo de alienacao dotrabalhador dos meios e dos produtosde seu trabalho.

    energlas e, aSSvras, 0 salariotrabalhador e So calculotencia do trabahabitos e dos clugar para lugae da destreza e

    Segundo Marx, a Hevolucao Industrial

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    K AR L M AR X E A H ISr6 RIA D R E XP LO RAc;AO D O H OM EM 81

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    Trabalho, valor e lucro o cda do proples aummas. Dedades deCom isslhantes,preco denos dern

    o capitalismo v e a forca de trabalho como mercadoria, mas e claro quenao se trata de uma mercadoria qualquer. Enquanto as produtos, ao seremusados, simplesmente se desgastam ou desaparecem, 0 usa da forca de tra-balho significa, ao contrario, criacao de valor. Os economistas classicos in-gleses, desde Adam Smith, ja haviam percebido isso ao reconhecerem 0 tra-balho como a verdadeira fonte de riqueza das sociedades.

    Marx foi alem, Para ele, 0 trabalho, ao se exercer sobre determinadosobjetos, provoca nestes uma especie de "ressurreicao". Tudo 0 que e criadopelo homem, diz Marx, contern em si urn trabalho passado, "marta", que s opode ser reanimado par outro trabalho. Assim, par exemplo, urn pcdaco decouro animal curtido, uma faca e fios de linha sao, todos, produtos do traba-lho humano. Deixados em si mesrnos, sao coisas mortas; utilizados para pro-duzir urn par de sapatos, renascem como meios de producao e se incorpo-ram num novo produto, uma nova mercadoria, urn novo valor.

    Os economistas ingleses ja haviam pos-tulado que 0 valor das mercadorias dependiado tempo de trabalho gasto na sua producao.Marx acrescentou que este tempo de trabalhose estabelecia em relacao a s habilidades indi-viduais medias e a s condicoes tecnicas vigen-

    tes na sociedade. Por isso, dizia que no valor de uma mercadoria era incorpo-rado 0 tem po de traba lho soc ia lmen te necessaria a sua producao,

    De modo geral, as mercadorias resultarn da colaboracao de varias ha-bilidades profissionais distintas; par isso, seu valor incorpora todos os tem-pos de trabalho especificos. Por exemplo, 0valor de urn par de sapatos in-clui nao s o 0 tempo gasto para confecciona-lo, mas tambern ados trabalha-dares que curtiram 0 couro, produziram fios de linha, a maquina de costu-rar etc. 0 valor de todos esses trabalhos esta embutido no preco que 0 capi-talista paga ao adquirir essas materias-primas e instrumentos, os quais, jun-tamente com a quantia paga a titulo de salario, serao incorporados ao valordo produto.

    Imaginemos urn capitalista interessado ern produzir sapatos, utilizandopara esse calculo uma unidade de rnoeda qualquer. Pais bern, suponhamosque a producao de urn par the custe 100 unidades de moeda de materia-pri-ma, mais 20 com 0desgaste dos instrumentos, mais 30 de salario diario pagoa cada trabalhador. Essa soma 150 unidades de moeda representa suadespesa cominvestimentos. 0 valor do par de sapatos produzido nessas con-dicoes sera a soma de todos as valores representados pelas diversas merca-dorias que entraram na producao (materia-prima, instrumentos, forca de tra-balho), 0 que totaliza tambem 150unidades de moeda.

    Sabemos que 0 capitalista produz para obter lucro, isto e , quer ganharcom seus produtos mais do que investiu. No exemplo acima, vemos, porern,que 0 valor de urn produto corresponde exatamente ao que se investe paraproduzi-lo. Como entao se obtem olucro?

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    o capitalismo, segundo 0 marxismo RcI dioma a. . . .ras. Nessalario,capitalisseis horque theportantolista pro

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    o.-.~.::.:.)s para pro-

    o capitalista poderia lucrar simplesmente aumentando 0 preco de ven-da do produto por exemplo, cobrando 200 pelo par de sapatos. Mas 0 sim-ples aumento de precos e urn recurso transit6rio e com 0 tempo cria proble-mas. De urn lado, uma mercadoria com precos elevados, ao sugerir possibili-dades de ganho imediato, atrai novas capitalistas interessados em produzi-Ia.Com isso, porern, corre-se 0 risco de inundar 0mercado com artigos seme-lh an tes, c ujo preco fatalmente caira. De outro lado, uma alta arbitraria nopreco de uma mercadoria qualquer tende a provocar elevacao generalizadanos demais precos, pois, nesse caso, todos os capitalistas desejarao ganharmais com seus produtos. 1S80 pode ocorrer durante algum tempo, mas, se adisputa se prolongar, podera levar 0 sistema econornico a desorganizacao.

    Na verdade, de acordo com a analise de Marx, nao e no ambito da com-pra e da venda de mercadorias que se encontram bases estaveis nem para 0lucro dos capitalistas individuais nern para a manutencao do sistema capitalis-taoAo contrario, a valorizacao da mercadoria se da no ambito de sua producao .

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    Retomemos nosso exemplo. Suponhamos que 0 operario tenha umajomada diaria de nove horas e confeccione urn par de sapatos a cada tres ho-ras. Nestas tres horas, ele cria uma quantidade de valor correspondente ao seusalario, que e suficiente para obter 0 necessaria a sua subsistencia. Como 0capitalista the paga 0valor de urn dia de forca de trabalho, 0 restante do tempo,seis horas, 0operario produz mais rnercadorias, que geram urn valor maior doque the foi pago na forma de salario, A duracao da jornada de trabalho resulta,portanto, de urn calculo que leva em consideracao 0quanta interessa ao capita-lista produzir para obter lucro sem desvalorizar seu produto.

    Suponhamos uma jornada de nove horas, ao final da qual 0 sapateiroproduza tres pares de sapatos. Cada par continua valendo 150 unidades de

    Imoeda, mas agora eles custam menos ao capitalista. E que, no calculo dovalor dos tres pares, a quantia investida em meios de, producao tambern foimultiplicada par tres, mas a quantia relativa ao salario correspondente aurn dia de trabalho permaneceu constante. Desse modo, custo de cadapar de sapatos se reduziu a 130 unidades.

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    de moeda, ainda que seu trabalho tenha rendido 0 dobra ao capitalista:

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    20 unidades de moeda, em cada urn do s tres pares de sapatos produzidos.Esse valor a mais nao retorna ao operario: incorpora-se no produto e eapropriado pelo capitalista.

    Visualiza-se, portanto, que uma coisa e 0valor da forca de trabalho, istoe, 0 salario, e outra e 0 quanta esse trabalho rende ao capitalista. Esse valorexcedente produzido pelo operario e 0 que Marx chama de mais-valia.o capitalista pode obter mais-valia procurando aumentar constantemen-te a jornada de trabalho, tal como no nosso exemplo. Essa e, segundo Marx,

    Ia mais-valia absoluta. E claro, porem, que a extensao indefinida da jornadaesbarra nos limites fisicos do trabalhador e na necessidade de controlar apropria quantidade de mercadorias que se produz.

    - -~

    diferencas env a d e riq ue za sduos de um aque inclui valAessastribuicao demente dominpermitem apseus interess

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    da Renau It, n a F ra n ce ,em 1931 )

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    Agora, pensemos numa industria altamente mecanizada. A tecnologiaaplicada faz aumentar a produtividade, isto e , as mesmas nove horas de tra-balho agora produzem urn numero maior de mercadorias, digamos, 20 paresde sapatos. A mecanizacao tambern faz com que a qualidade dos produtosdependa menos da habilidade e do conhecimento tecnico do trabalhador in-dividual. Numa situacao dessas, portanto, a forca de trabalho vale cada vezmenos e, ao mesrna tempo, gracas a maquinaria desenvolvida, produz cadavez mais. Esse e , em sintese, 0 processo de obtencao daquilo que Marx de-nomina mais-valia relativa.

    o processo descrito esclarece a dependencia do capitalismo elll rela-< ; 3 . 0 ao desenvolvimento das tecnicas de producao, Mostra, ainda, como 0trabalho, sob 0 capital, perde todo 0 atrativo e faz do operario mere "apendi-ce da maq uina" .

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    nomica humprocura darem todo 0 teseu metoda

    Marx preflete a formducao socialvas e as rela

    As for ccao. Qualquerias-primas i

    As relacoes polltlcas ~ou seja, 0 cmem, comonica espccificsavel par faz

    Apos essa ana li se de ta lhada do modo de producao capitalista, Marx passaao estudo das formas politicas produzidas no seu interior. Ele constata que as

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    K AR L M AR X E A H IS TO RIA D R E XP LO RA ~A O D O H OM EM 91-----_- -----

    diferencas entre as classes sociais nao se reduzem a uma diferenca quantitati-va de riquezas, mas expressam uma diferenca de existencia material. Os indivi-duos de uma mesma classe social partilham de uma situacao de classe comum,que inclui valores, comportamentos, regras de convivencia e interesses .A essas diferencas economicas e sociais segue-se uma diferenca na dis-tribuicao de poder. Diante da alienacao do operariado, as classes economica-mente dominantes desenvolveram formas de dorninacao politicas que lhespermitem apropriar-se do aparato de poder do Estado e, com ele, legitimarseus interesses sob a forma de leis e planos economicos e politicos .

    Cada forma assumida pelo Estado na sociedade burguesa, seja sob 0regime liberal, monarquico, monarquico constitucional au ditato rial , repre-senta maneiras diferentes pelas quais ele setransforma num "comite para gerir os neg6cioscomuns de toda a burguesia" (K. Marx e F.Engels, Manifesto do Partido Comunista, in Car-ta s filosoficas e ou tros e sc ri to s , p. 86), seja sob re-gime liberal, monarquico-constitucional, parla-mentar au ditatoriaL

    ~~~:.~=,:; produzidos.. . . . . . , ; ~ " . ' : 1 produto e e. - - - : ~ = trabalho, isto. ... ~~ista, Esse valor. . . .. .. .. .,..~.....alia' . I ,_ _ ... ~ _4 .. ,--. ..~..-..~.~.:_,~.mstantemcn-: : . ~ .~ ~- :- gundoMarx,. .. , .. .. . da i d..~ .~~~~_ .~_IJ a a lorna a

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    As classes sociais nao apresentamapenas uma diferente quantidadede riqueza, mas tambern poslcao,interesse e conscienca diversa .

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    Para Marx as condicocs especificas detrabalho geradas pela industrializacao tendem a promover a consciencia deque hi interesses comuns para 0 conjunto da classe trabalhadora e, conse-qtientemente, tendem a impulsionar a sua organizacao politica para a acao. Aclasse trabalhadora, portanto, vivendo uma mesma situacao de classe e so-frendo progressivo empobrecimento em razao das formas cada vez mais efi-cientes de exploracao do trabalhador, acaba par se organizar politicamente .Essa organizacao e que pennite a tomada de consciencia da classe operaria esua mobilizacao para a acao politica .

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    Materialismo hlstorico

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    Para entender 0 capitalismo e explicar a natureza da organizacao eco-nomica humana, Marx desenvolveu uma teoria abrangente e universal, queprocura dar conta de toda e qualquer forma produtiva criada pelo homemem todo 0 tempo e lugar. Os principios basicos dessa teoria estao expressos emseu metoda de analise 0materialismo hist6rico .

    Marx parte do principio de que a estrutura de uma sociedade qualquerreflete a forma como os homens organizam a p roducii o soc ia l de bens. A pro-ducao social, segundo Marx, engloba dois fatores basicos: as larras produti-vas e as re lac ii es de produci io.As forcas produtivas constituem as condicoes materiais de toda a produ-cao. Qualquer processo de trabalho implica: deterrninados objetos, isto e , mate-rias-primas identificadas e extraidas da natureza; e determinados instrumentos,ou seja, 0 conjunto de forcas naturais ja transfonnadas e adaptadas pelo ho-mem, como ferramentas ou maquinas, utilizadas segundo uma orientacao tee-nica especifica. 0 homem, principal elemento das forcas produtivas, e 0 respon-savel par fazer a ligacao entre a natureza e a tecnica e as instrumentos. 0 de-

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    senvolvimento da producao vai detenninar a cornbinacao e 0usa desses diver-sos elementos: recursos naturais, mao-de-obra disponivel, instrumentos e tee-nicas produtivas. Essas combinacoes procuram atingir 0 maximo de producaoem funcao do mercado existente. A cada forma de organizacao das forcas pro-dutivas corresponde Ulna determinada forma de relacoes de producao,As relacoes de producao sa o as formas pelas quais as homens se orga-nizam para executar a atividade produtiva. Essas relacoes se referem a s di-versas rnaneiras pelas quais sa o apropriados e distribuidos os elementos en-volvidos no processo de trabalho: as materias-primas, as instrumentos e atecnica, as proprios trabalhadores e 0 produto final. Assim, as relacoes deproducao podem scr, nUID determinado momento, cooperativistas (comonum mutirao), escravistas (como na Antiguidade), servis (como na Europafeudal), ou capitalistas (como na industria moderna).

    Forcas produtivas e relacoes de producao sao condicoes naturais e his-toricas de toda atividade produtiva que ocorre em sociedade. A forma pelaqual ambas existem e sao reproduzidas numa deterrninada sociedade consti-tui 0 que Marx denominou modo de produci io.Para Marx, 0 estudo do modo de producaoe fundamental para compreender como se orga-

    niza e funciona uma sociedade. As relac6es de)

    Emdamentovolvirnentcar urn pgente e a~_____... .--~---

    tor rnacornutundae da msutlcque pe ob rirriqace ramprodiproor

    o estudo do modo de procucao efundamental para se saber como se producao, nesse sentido, sa o consideradas asmais importantes relacoes sociais. Os modelos

    de familia, as leis, a religiao, as ideias politicas, osvalores sociais sao aspectos cuja explicacao de-

    pende, em principia, do estudo do desenvolvimento e do colapso de diferentesmodos de producao. Analisando a historia, Marx identificou alguns modos deproducao especificos: sistema C0 11 1 un aiprimitioo, modo de produci io asiatica,m odo de producdo antigo, modo de produciio germdnico, modo de p roduci io f eu -da l e modo de produciio cabitalista. Cada qual representa diferentes fonnas deorganizacao da propriedade privada e da exploracao do homem pelo homem.

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    94 A SOCIOLOG fA c L A s S i e R

    As ideies de Marxs erv ira m d e b a separa a Revoluc;ao

    d e 1 91 7, n a R U 5 S J a .(Oleo de V. Serov)

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    sim como do.io da soc ied adsamento cien~es, formandoxismo. A prim.ao ab olida s a28.0. Outra e;6es, desvend

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    com o urn conjunto de relacoes de producao que caracteriza cada sociedadenum tempo e espaco determinados. Foi assirn que analisou, em 0 18Brumario de Luis Bonaparte, 0golpe de Estado ocorrido na Franca no seculoXIX , quando 0 sob rinh o d e N apo le ao I, paro diou 0 feito do tio que, em 1799,conseguiu substituir a Republica pela Ditadura.

    Por outro lado, cada sociedade representava para Marx uma totalidade,isto c, urn conjunto unico e integrado das diversas form as de organizacaohumana nas suas m ais dive rsa s instancias familia, poder, religiao. Entre-tanto, a pe sa r d e c on sid era r as sociedades da sua epoca e do passado comototalidades e como situacoes hist6ricas concretas, Marx conseguiu, p ela p ro -fundidade de suas analises, extrair conclusoes de carater geral e aplicaveis aformas sociais diferentes. Assim, ao analisar 0golpe de Luis Bonaparte, iden-tifica na estrutura de classes estabelecida na Franca aspectos universais dadinamica d a lu ta de classes.

    -nom em , de mNao e p

    ria marxista psocials. A abotorica, da rela.la correta inscontexte sociada s pelos socicom que 0m edeslocamentonifestacoes h:nana individuA sociolog

    A amplitude da contrtbulcao de MarxA teoria

    como politicaFriedrich EnestruturaramInternacional.o sucesso e a penetracao do materialismo hist6rico, quer no campo daciencia ciencia po li ti ca, economica e social , quer no campo da organiza-

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    K AR L M AR X E A H IST OR IA D R E XP LO RA;~i\f-~~/i/t>?~:d;;.. . _ ..:~~:i, ; - ) ' : ' '~ : = . : = < t . : - : ' . " : ,- - . , " , . ~ ~ : :.

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    A ideia de uma sociedade "doente" ou "normal", preocupacao dos cien-tistas sociais positivistas, desaparece em Marx. Para ele a sociedade c consti-tuida de relacoes de conflito e e de sua dinamica que surge a rnudanca social.Fenornenos como luta, confiito, revolucao e exploracao sao constituintes dosdiversos momentos historicos e nao disfuncoes sociais.

    A partir do conceito de movimento historico proposto por Hegel, as-sim como do historicismo existente em Weber, Marx redimensiona 0 estu-do da sociedade humana. Suas ideias marcaram de maneira definitiva 0pen-samento cientifico e a acao politica dessa epoca, assim como das posterio-res, formando duas diferentes maneiras de atuacao sob a bandeira do mar-xismo. A primeira e abracar 0 ideal cornunista, de uma sociedade onde es-tao abolidas as classes sociais e a propriedade privada dos meios de produ-cao. Outra e exercer a cntica a realidade social, procurando suas contradi-coes, desvendando as relacoes de exploracao e expropriacao do homem pelohomem, de modo a entender 0 papel dessas relacoes no processo historico.

    Nao e preciso afirmar a contribuicao da teo-ria marxista para 0 desenvolvimento das cienciassociais. A abordagem do confiito, da dinamica his-torica, da relacao entre consciencia e realidade eda correta insercao do hornem e de sua praxis nocontexto social foram conquistas jarnais abandona-das pelos soci6logos. Isso sem contar a habilidadecom que 0metodo marxista possibilita 0 constantedeslocamento do geral para 0particular, das leis macrossociais para suas ma-nifestacoes historicas, do movimento estrutural da sociedade para a acao hu-mana individual e coletiva.

    ~~ociedade,: 2111 0 18~ ~ :L = ~0 seculo~,-m 1799,

    Marx contribuiu para uma novaabordagem do conflito, da relacao

    . .~=,~alidade,entre consclencia e realidade, eda dinarnica historica.

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    A teoria marxista teve arnpla aceitacao te6rica e metodol6gica, assimcomo politica e revolucionaria. J a em 1864, em Londres, Karl Marx eFriedrich Engels companheiro em grande parte de suas obras -estruturaram a Primeira Associacao Internacional de Operarios, au PrimeiraInternacional, promovendo a organizacao e a defesa dos operarios em ni -vel internacional. Extinguida em 1873, a difusao das idcias e das propos-tas rnarxistas ficou por conta dos sindicatos existentes em diversos paisesenos partidos, especialmente as social-democratas,

    A Segunda Internacional surgiu na epoca do centenario da RevolucaoFrancesa (1889), quando diversos congressos socialistas tiveram lugar nasprincipais capitais europeias, com varias tendencias, nem sempre con-ciliaveis. A Primeira Guerra Mundial pas :tim a Segunda Internacional, em1914. Em 1917, uma revolucao inspirada nas ideias marxistas, a RevolucaoBolchevique, na Russia, criava no mundo 0 primeiro Estado operario. Em1919, inaugurava-se a Terceira Internacional au Comintern, que, como a pri-meira, procurava difundir os ideais comunistas e organizar os partidos e aluta dos operarios pela tomada do poder. Ela continua atuante ate hoje, en-

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    96 A SOCIOLOG[A ClRSS[CA

    frentando intensa crise provocada pelo fim da Uniao Sovietica e pela expan-sa o rnundial do neoliberalismo.

    A aceitacao dos ideais marxistas nao se restringia mais apenas a Euro-pa. Difundia-se pelos quatro continentes, a medida que se desenvolvia 0capi-

    "\talismo internacional. A formacao do operariado no restante do mundo se-guia-se 0 surgimento de sindicatos e partidos marxistas. Os ideais marxistasse adequavam tambem perfeitamente a luta pela independencia que surgia

    I ,nas colonias europeias daAfrica e daAsia, apos a Primeira e a Segunda Guer-ra Mundial, assim como a l u m por soberania e autonornia, existente nos pai-ses latino-americanos.

    Em 1919, surgiram partidos comunistas na America do Norte, na Chinae no Mexico. Em 1920, no Uruguai; em 1922, no Brasil e no Chile; e, em 1925,em Cuba. 0 movimento revolucionario tornava-se mais forte i t medida que osEstados Unidos e a URSS emergiam como potencias mundiais e passavam adisputar sua influencia no mundo. Varias revolucoes como a chinesa, a cuba-na, a vietnamita e a coreana instauraram regimes operarios que, apesar dassuas diferencas, organizavam urn sistema politico com algumas caracteristi-cas comuns forte centralizacao, economia altamente planejada, cole-tivizacao dos meios de producao, fiscalismo e usa intenso de propaganda ide-ologica e do culto ao dirigente.

    Intensificava-se, nos anos cinqiienta e sessenta, a oposicao entre asdais blocos mundiais 0 capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e 0socialista, liderado pela URSS. A polarizacao politica e ideo16gica etransferida para 0 conjunto do metoda e da teoria marxista que passam aser usados, sob 0 peso da direcao do stalinismo na URSS e dos partidoscomunistas a ele filiados, como urn corpo doutrinario fechado para legiti-mar a tese do "socialismo em urn s6 pais", preconizada pela lideranca 80-vietica, e da gestae burocratica dos estados socialistas. 0 rnarxismo deixoude ser urn metoda de analise da realidade social para transformar-se emideologia, perdendo, assirn, parte de sua capacidade de elucidar as homensem relacao ao seu momenta hist6rico e rnobiliza-los para uma tomada cons-ciente de posicao.

    Entre 1989 e 1991, desfazia-se D bloco sovietico apos uma crise internae externa bastante intensa dificuldade em conciliar as diferencas regio-nais e etnicas, falta de recursos para manter urn estado de permanente beli-gerancia, atraso tecnol6gico, excesso de burocracia, baixa produtividade, es-cassez de produtos, inflacao e corrupcao, entre outros fatores. 0 fim da UniaoSovietica provocou urn abalo nos partidos de esquerda do mundo todo e 0redimensionamento das forcas internacionais.

    Toda essa explicacao a respeito do marxismo se faz necessaria pardiversas razoes. Em primeiro lugar porque a sociologia confundiu-se comsocialismo em muitos paises, em especial nos paises subdesenvolvidos ouem desenvolvimento como sao hoje chamados as paises dependentes da,America Latina e da Asia, surgidos das antigas co16nias europeias. Nessespaises, intelectuais e lfderes politicos associaram de maneira categorica 0desenvolvimento da sociologia ao desenvolvimento da luta politica e dos

    oartidos marxi. . . . .como uma con

    , E precisepropos, transceuma validadecam viab ilizarsera bastantede producaomunista teorizrealizacoes lepropostas deimprocedentecom 0 idearioum e outro m

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    KAR L M AR X E A HISTORIA D R E XP LO RACAO D O HOMEM 97

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    partidos rnarxistas. Entre eles, a derracada do imperio sovietico foi sentidacomo uma condenacao e quase como a inviabilidade da propria ciencia .,E preciso lembrar que as teorias marxistas, como 0 proprio Marxpropos, transcendem 0 momenta hist6rico no qual sao concebidas e ternum a validade que extrapola qualquer das iniciativas concretas que bus-cam viabilizar a sociedade justa e igualitaria proposta par Marx. Nuneasera bastante lembrar que a ausencia da propriedade privada dos meiosd e p ro du ca o e condicao necessaria mas nao suficiente da sociedade co-munista teorizada por Ma rx . A ssim , nao se devem confundir tentativas derealizacoes levadas a efeito par inspiracao das teorias marxistas com aspropostas de Marx de superacao das contradicoes capitalistas. Tambcm eimprocedente e de maneira ainda mais rigorosa confundir a cienciacom 0 ideario politico de qualquer partido. Pode haver intcgracao entreurn e outro mas nunca identidade.

    Em segundo lug ar, e precisoentender que a hist6ria nao termina emqualquer de suas manifestacoes parti-culares, quer na vit6ria comunista, querna capitalista. Como Marx mostrou, 0proprio esforco par manter e reproduzirurn modo de producao acarreta modificacoes qualitativas nas forcas em opo-sicao, Assim, em termos cientificos e marxistas, e preciso voltar 0 olhar paraa compreensao da emcrgencia de novas forcas sociais e de novas contradi-coes. Enganam-se os teoricos de direita e de esquerda que veem em dadomomento a realizacao mitica de urn modele ideal de sociedade.

    Em terceiro lugar, hoje se vive nas ciencias, de uma maneira geral,urn momenta de particular cautela, pais, apos dais au tres seculos de cren-ca absoluta na capacidade redentora da ciencia, em sua possibilidade deexplicitar de maneira inequivoca e permanente a realidade, ja nao se acredi-ta na infalibilidade dos modelos, e 0 trabalho permanente de discussao, re-visao e cornplernentacao se coloca como necessario. Nao poderia ser dife-rente com as ciencias sociais, que, do contrario, adquiririam urn estatuto dereligiao e fe, uma vez que se apoiariam em verdades eternas e imutaveis .

    Assim, 0 fim da U niao Sovietica nao significou 0 tim da historia ou dasociologia, nem 0 esgotamento do marxismo como postura teorica das maisamplas e fecundas, com urn poder de explicacao nao alcancado pelas anali-ses posteriores. Nem sequer terminou com a derrubada do Muro de Berlimo ideal de uma sociedade justa e igualitaria, 0 que se torna necessario erever essa sociedade cujas relacoes de producao se organizarn sob novasprincipios enfraquecimento dos estados nacionais, mundializacao do ca-pitalismo, formacao de bloeos nacionais e organizacao politica de minoriasetnicas, religiosas e ate sexuais entendendo que as contradicoes nao de-sapareceram mas se expressam em novas instancias.Em seu livro D e v olta ao p alac io do ba rba azu l, Steiner mostra como asociedade pos-classica acabou par desmanchar os antagonismos mais agu-dos que existiam na sociedade ocidentaL Os grupos etarios se aproximam, as

    " " I I I~ ~~~elaxpan-.~~r as a Euro-~ . -, - = lvia 0 capi-~: .nundo se-.~~-marxistas..- _ : _ = lue surgla~Z'_::1da Guer-

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    A teoria marxista transcende a momentahistorico no qual foi concebida e os regimespoliticos inspirados par ela.

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    98 A SOC IO LOGIA C LR S S1 CA

    distincoes comportamentais dos sexos desaparecem, 0mundo rural e 0 ur-fbane se integram numa estrutura unica industrial, e assim por diante. E nessa

    perspectiva que ele prop6e uma releitura da teoria marxista, tentando encon-trar em diferentes conjunturas sociais formas de contradicao e exploracaocomo as que Marx distinguiu na realidade francesa e na inglesa. Por maisque pretendesse entender 0 desenvolvimento universal da sociedade huma-na, Marx jamais deixou de respeitar cientificamente a especificidade e ahistoricidade de carla uma de suas manifestacoes.

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