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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Faculdade de Educação KATIA ELEOTÉRIO RUBIO A AVALIAÇÃO EXTERNA NA PERSPECTIVA DE DOCENTES DE UMA ESCOLA MUNICIPAL DO INTERIOR PAULISTA CAMPINAS 2020

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Educação

KATIA ELEOTÉRIO RUBIO

A AVALIAÇÃO EXTERNA NA PERSPECTIVA DE

DOCENTES DE UMA ESCOLA MUNICIPAL DO

INTERIOR PAULISTA

CAMPINAS 2020

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KATIA ELEOTÉRIO RUBIO

A AVALIAÇÃO EXTERNA NA PERSPECTIVA DE

DOCENTES DE UMA ESCOLA MUNICIPAL DO

INTERIOR PAULISTA

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Educação Escolar da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Mestra em Educação Escolar, na área de concentração Educação Escolar.

Orientadora: Profa. Dra. Geisa do Socorro Cavalcanti Vaz Mendes

ESTE TRABALHO CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DE DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA KATIA ELEOTÉRIO RUBIO E ORIENTADA PELA PROFA. DRA. GEISA DO SOCORRO CAVALCANTI VAZ MENDES

CAMPINAS

2020

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

A AVALIAÇÃO EXTERNA NA PERSPECTIVA DE

DOCENTES DE UMA ESCOLA MUNICIPAL DO

INTERIOR PAULISTA

Autora: KATIA ELEOTÉRIO RUBIO

COMISSÃO JULGADORA:

Geisa do Socorro Cavalcanti Vaz Mendes

Mara Regina Lemes de Sordi

Regiane Helena Bertagna

A ata da Defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no SIGA/Sistema de Fluxo de Dissertação/Tese e na Secretaria do Programa da Unidade.

CAMPINAS

2020

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AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer a minha orientadora Geisa do Socorro Cavalcanti Vaz

Mendes pelas orientações realizadas durante o processo de realização deste

trabalho. Pelas leituras atentas e devolutivas encaminhadas. Pelos conselhos dados

em momentos difíceis atravessados neste percurso. Pela injeção de ânimo quando

parecia que não seria possível.

Agradeço à escola na qual realizei a pesquisa, pela qual tenho muito apreço,

pelas relações que estabeleci, pelo aprendizado com os meus colegas de profissão

e às crianças que me animam e prosseguir.

Agradeço as professoras que dedicaram um pouco do seu tempo e aceitaram

participar das entrevistas.

Agradeço as professoras Mara Regina Lemes de Sordi, Regiane Helena

Bertagna, Sara Badra de Oliveira e Sandra Cristina Tomaz por terem participado da

banca de qualificação e terem contribuído cada uma com o seu olhar próprio e

singular.

A professora Nima Spigolon pelas constantes lutas para que o Mestrado

Profissional em Educação Escolar se efetivasse.

Aos colegas que fiz no Mestrado.

Ao meu companheiro Clóvis Côrrea Júnior que me deu total apoio desde que

decidi trilhar esse caminho. Sou grata pela compreensão, pela calma e paciência.

Aos meus pais: Márcio e Maria, que apesar de terem estudado até a quarta

série, com todos os seus esforços e limitações me permitiram chegar até aqui. Que

alegria partilhar este momento.

As minhas irmãs Tati e Vivi pelo amor, carinho e amizade.

E sempre, sempre a Deus, em quem me refugio e me abrigo.

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RESUMO

A presente pesquisa realizada no Mestrado Profissional em Educação Escolar buscou compreender a avaliação externa na perspectiva de docentes do ensino fundamental I (1º ao 5º ano) de uma escola municipal do interior paulista. Diante das observações realizadas na prática profissional, enquanto professora na educação básica e a partir de leituras relacionadas à temática, observo que as avaliações da aprendizagem e as externas têm sido o centro do processo ensino aprendizagem. Isso tem provocado alguns questionamentos, os quais norteiam esta pesquisa tais como: Em que medida a política de avaliação externa interfere na prática pedagógica docente? Como o professor tem compreendido a lógica da avaliação? Frente a essas questões buscamos conhecer a perspectiva das docentes das séries iniciais em relação à avaliação externa e sua prática docente. Este estudo é de abordagem qualitativa, abrange observação, entrevista semiestruturada e estudo documental. O período pesquisado, em relação aos dados da rede municipal, foi de 2009 a 2017. Para composição dos dados foram realizadas: a) revisão bibliográfica, estudo de artigos, dissertações e teses relacionadas ao tema; b) análise de leis e decretos do município pesquisado; c) levantamento dos dados do IDEB das séries iniciais disponibilizados pelo INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais); d) entrevistas com cinco professoras da escola estudada. O estudo nos permitiu observar e compreender as possíveis influências da avaliação externa na prática pedagógica docente. Apresentamos como principais conclusões a responsabilização vertical, a busca por melhores resultados da escola e dos professores por meio de simulados e o estreitamento curricular.

Palavras-chave: Avaliação educacional, ensino fundamental, política pública.

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ABSTRACT

This research carried out in the Professional Master's in School Education sought to understand the external evaluation from the perspective of teachers of elementary school I (1st to 5th year) of a municipal school in the interior of São Paulo. In view of the observations made in professional practice, as a teacher in basic education and from readings related to the theme, I note that learning and external assessments have been the center of the teaching-learning process. This has provoked some questions, which guide this research such as: To what extent does the external evaluation policy interfere with teaching pedagogical practice? How has the teacher understood the logic of evaluation? In view of these issues, we seek to know the perspective of teachers from Elementary School I (1st to 5th year) in relation to external evaluation and their teaching practice in a municipal institution in the interior of São Paulo. This study has a qualitative approach, covering observation, semi-structured interview and documentary study. The surveyed period, in relation to data from the municipal network, was from 2009 to 2017. To compose the data, the following were performed: a) bibliographic review, study of articles, dissertations and theses related to the theme; b) analysis of laws and decrees of the researched municipality; c) survey of IDEB data from the initial series provided by INEP (National Institute of Educational Studies and Research); d) interviews with five teachers from the school studied. The study allowed us to understand that the policies of external evaluations affect the pedagogical practice of teachers in which training takes place through simulations, narrowing the curriculum and vertical accountability.

Key words: Educational evaluation, elementary education, public policy.

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LISTA DE ABREVIATURAS

ANA Avaliação Nacional da Alfabetização

ANEB Avaliação Nacional da Educação Básica

ANRESC Avaliação Nacional do Rendimento Escolar

APM Associação de Pais e Mestres

BNCC Base Nacional Comum Curricular

EF Ensino Fundamental

EI Educação Infantil

EJA Educação de Jovens e Adultos

EM Ensino Médio

EMDEC Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas

FCC Fundação Carlos Chagas

HAPE Hora de Atividades Pedagógicas na Escola

IDEB Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

IDESP Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São

Paulo

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

LDB Lei de Diretrizes e Base da Educação

MEC Ministério da Educação

PAANE Professor Auxiliar de Alunos com Necessidades Especiais

PISA Programa Internacional de Avaliação de Estudantes

PNAIC Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa

PNLD Programa Nacional do Livro Didático

PPP Projeto Político Pedagógico

RMC Região Metropolitana de Campinas

SAEB Sistema de Avaliação da Educação Básica

TCC Término de Conclusão de Curso

TRT Tribunal Regional do Trabalho

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1. ESCOLAS DO SISTEMA MUNICIPAL DE ENSINO ................................................................................. 78

TABELA 2 - MATRÍCULA INICIAL DO ENSINO FUNDAMENTAL .............................................................................. 79

TABELA 3-. PROJEÇÃO E NOTA DO IDEB DO MUNICÍPIO PARA O EF – 1O. AO 5

O. ANO ..................................... 80

TABELA 4 -. TAXA DE APROVAÇÃO POR ESCOLA (ENSINO FUNDAMENTAL – ANOS INICIAIS)............................ 82

TABELA 5 -TAXA DE REPROVAÇÃO POR ESCOLA (ENSINO FUNDAMENTAL – ANOS INICIAIS) ........................... 82

TABELA 6 - TAXA DE APROVAÇÃO DA ESCOLA I (1º AO 5º ANO) ......................................................................... 85

TABELA 7. NOTA MÉDIA PADRONIZADA E O IDEB (2009-2017) ........................................................................ 86

TABELA 8 - RELAÇÃO DE ALUNOS POR TURMA DA ESCOLA – 2019 ................................................................... 94

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1- EVOLUÇÃO DAS TAXAS DO IDEB NAS SÉRIES INICIAIS ................................................................... 80

GRÁFICO 2– METAS E PROJEÇÕES IDEB DA ESCOLA I ..................................................................................... 83

GRÁFICO 3– TAXA DE REPROVAÇÃO ................................................................................................................... 85

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1- HISTÓRICO DA AVALIAÇÃO EXTERNA NO BRASIL (1990 – 2019) ................................................... 58

QUADRO 2 - PROFESSORAS DO ENSINO FUNDAMENTAL I E CONCESSÃO DAS ENTREVISTAS ........................... 73

QUADRO 3– CARACTERIZAÇÃO DAS DOCENTES ENTREVISTADAS ..................................................................... 76

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – HISTÓRICO ESCOLAR DO 1º GRAU – HOJE, ENSINO FUNDAMENTAL .............................................. 20

FIGURA 2 – ÓRGÃOS QUE COMPÕEM O SISTEMA MUNICIPAL DE ENSINO .......................................................... 77

FIGURA 3- ESCOLA CAMPO DE PESQUISA ............................................................................................................ 89

FIGURA 4 - BIBLIOTECA ........................................................................................................................................ 91

FIGURA 5 – FACHADA DAS SALAS DE AULA ......................................................................................................... 92

FIGURA 6 – MODELO DE CABEÇALHO DE PROVA DO SISTEMA DE AVALIAÇÃO DA REDE .................................. 101

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SUMÁRIO

MEMORIAL ............................................................................................................... 15

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 35

1. CAPÍTULO – Situando o campo da avaliação da aprendizagem e da avaliação

externa ..................................................................................................................... 41

1.1. Avaliação da aprendizagem .................................................................................... 41

1.1.1.Avaliação como instrumento de classificação ......................................................... 42

1.1.2.Avaliação diagnóstica ............................................................................................. 50

1.2. Avaliação externa da educação básica ................................................................... 53

1.2.1. A função da avaliação externa e seu desvirtuamento ............................................ 63

2. CAPÍTULO – CAMINHOS METODOLÓGICOS ................................................. 69

2.1. Levantamento bibliográfico e documental ................................................................. 70

2.2. A entrevista ............................................................................................................... 71

2.3. Conhecendo as participantes da pesquisa ................................................................ 75

2.4.1. A rede municipal .................................................................................................... 77

2.4.2. O retrato da avaliação externa da rede – 2009 a 2017 .......................................... 79

2.5. A escola e seus atores .............................................................................................. 87

2.5.1. Histórico da escola ................................................................................................ 87

2.5.2. O entorno da escola .............................................................................................. 88

2.5.3. O corpo docente e a gestão escolar ...................................................................... 92

3. CAPÍTULO – A AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM E A DE LARGA ESCALA

NA REDE MUNICIPAL: O QUE NOS REVELAM AS DOCENTES .......................... 95

3.1 – A avaliação na rede municipal................................................................................. 95

3 2. A avaliação externa na perspectiva das docentes ................................................... 102

3.2.1. Treinamento por meio de simulados .................................................................... 104

3.2.2 Estreitamento curricular ........................................................................................ 107

3.2.3. Responsabilização vertical .................................................................................. 109

3.3. Dialogando sobre as interferências da avaliação externa na prática pedagógica ... 112

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 117

REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 120

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PREFEITURA de Monte Mor. SOBRE A CIDADE. Conheça mais sobre Monte Mor.

Disponível em: http://www.montemor.sp.gov.br/site/monte-mor/sobre-a-cidade/. Acesso em:

15 mar. 2019. .................................................................................................................... 123

ANEXO 1 –Uniformização de critérios avaliativos do Ensino Fundamental Anos Iniciais – 1º

ao 5º a no da Rede Municipal de Ensino ........................................................................... 125

APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido .......................................... 126

APÊNDICE B - Roteiro de entrevista ................................................................................. 129

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MEMORIAL

Sou professor a favor da esperança que me anima apesar de tudo. Sou professor contra o desengano que me consome e

imobiliza (FREIRE, 1996).

A profissão de professora ou professor em nosso país, infelizmente não é

valorizada. Faz parte do ofício de ser professora lidar com o desprestígio social

desta ocupação, a precarização do trabalho docente, questões ligadas à

infraestrutura, ausência de materiais, autonomia, indisciplina, violência, crianças com

dificuldades de aprendizagem, questões burocráticas e tantas outras. Diante desse

cenário, ser professora exige formação docente sólida e contínua, não somente

pedagógica, mas também psicológica para lidar com todos esses fatores.

Todavia, ser professora, para mim, foi e é uma escolha. Portanto, é assumir-

me como parte responsável pela formação de sujeitos históricos, logo sendo

necessário comprometimento, responsabilidade e dedicação.

Nessa perspectiva, ao escolher o curso que faria em 2006, ansiava por algo

que me possibilitasse de alguma forma compreender a realidade e atuar no sentido

da sua transformação. Desse modo, era assim que eu pensava à época. Claro que

hoje, amadureci em muitas ideias, após um pouco de experiência e consciência de

que para transformar é preciso unir forças, realizar um trabalho coletivo, porque as

mudanças não ocorrem somente com boa intenção e de forma solitária.

Na época da escolha da faculdade, gostaria de exercer uma profissão que me

possibilitasse ser útil às pessoas e gostaria de fazer a diferença de alguma maneira

na vida delas. E eu acredito que a educação permite isso.

Embora o desânimo me visite algumas vezes, ainda mais com os

encaminhamentos que têm sido direcionados à Educação, cortes de verbas para as

Universidades públicas, cortes de bolsas para mestrandos e doutorandos. Apesar

disso, sigo lutando e resistindo e a chama em trabalhar por uma educação de

qualidade e para todos mantém-se acesa.

Essa visão, acredito que tenha nascido e sido reforçada a partir da minha

participação em ambientes que disseminavam a importância do ser em detrimento

do ter. As trocas estabelecidas através das relações e vínculos afetivos com os

meus familiares, professores e professoras, amigos e amigas constituiu-me em

como penso e sou hoje. Apesar de que, ao mesmo tempo em que vamos

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experimentando a vida, vamos aprendendo com ela e na interação com as pessoas

vamos nos modificando, transformamos e deixamos ser transformados, porque

somos seres inacabados. Cada experiência vivida nos constrói e ou desconstrói

conforme nos abrimos à aprendizagem que é uma constante.

Acho que a profissão de professora já me instigava desde a infância. Não que

eu acredite que já nascemos professores ou professoras, pois nos tornamos

professores a partir de uma escolha e da formação profissional. Mas também

acredito não nos formamos professores após a colação de grau na Faculdade,

porém, vamos nos tornando professores pela prática diária da profissão. É onde

ocorre a relação entre a teoria e a prática. E professor não para de se formar nunca.

Estamos em contínua formação.

Aos quatro anos de idade, eu e a minha família mudamos de São Paulo, da

cidade de Guarapiranga para o município de Monte Mor, no qual morei até pouco

tempo, antes da união com o meu marido no ano de 2017.

Meu pai era metalúrgico e a empresa na qual trabalhava tinha sido transferida

para Monte Mor, há 36 quilômetros aproximadamente da cidade de Campinas.

Mudamos para o bairro Vila Magal. O nome Magal deve-se ao nome da empresa. A

cidade era pequena, embora de lá pra cá não cresceu muito. Hoje tem

aproximadamente 60.000 habitantes. Na época tinha o básico: um ou outro

mercado, uma única avenida onde estão os principais bancos e lotérica e algumas

escolas. Um município pouco desenvolvido e desprovido de lazer aos adolescentes

e jovens.

Quando criança gostava muito de brincar de escola e de ser a professora,

porém não queria dividir a função com nenhum colega. Por conta disso, tenho um tio

que me chamava de professorinha e quando nos encontramos ainda me chama

assim. A sala de aula era a área que ficava nos fundos da casa onde morava com os

meus pais e minhas duas irmãs. Na sala de aula improvisada, tinha uma pequena

lousa verde, com a qual fui presenteada pela minha mãe, e eu a apoiava em uma

cadeira de ferro, parecida com essas de bar. A cor dela era vermelha. Meus pais a

tem até hoje. Depois de crescida utilizei-a para estudar para os concursos que

prestei.

Na lousa passava lição usando os tocos de gizes doados pela professora da

escola em que eu estudava. Ensinava a minha irmã mais nova e alguns colegas que

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moravam na rua de casa. Eu me sentia uma verdadeira professora. Fazia chamada,

prova e nessa escola também tinha recreio. A minha mãe era o sinal e nos chamava

quando o almoço ficava pronto. Ela servia a todos com muito amor e carinho.

Cursei toda a Educação Básica em escolas públicas: estadual e municipal.

Frequentei todo o Ensino Fundamental na mesma escola que era estadual na época

e o Ensino Médio em uma escola Técnica Municipal.

Quando fiz cinco anos fui matriculada na pré-escola. Frequentei em uma

instituição da qual trago algumas memórias. O nome dela e da professora

impossíveis de me esquecer. Foi lá, na escola Professora “Maria Antônia”, na qual

aprendi a ler aos cinco anos de idade. O prazer e gosto pela leitura se iniciaram lá,

em função dos estímulos da escola e da minha família.

Apesar de os meus pais só terem estudado até a antiga 4ª série, prezavam

pelo estudo das filhas e ajudavam-nos com as lições de casa mesmo com suas

limitações. A minha mãe fala que gostava muito de ir à escola quando criança, mas,

por força maior, foi obrigada a deixar os estudos e ir trabalhar na roça para ajudar os

seus pais.

Todavia, persistente como ela é, depois de casada e com as três filhas já

criadas, voltou à escola e concluiu o Ensino Fundamental e Médio na EJA

(Educação de Jovens e Adultos), por sinal foi na mesma época em que eu cursava

Pedagogia e tive a oportunidade de estagiar na escola e sala em que ela estudava.

Meus pais sempre incentivaram e estimularam eu e minhas irmãs ao estudo,

pois viam na escola a possibilidade de termos um futuro melhor.

Lembro-me da minha mãe fazendo janta e quebrando a cabeça comigo com

as lições de casa de Matemática. Ela ficava nervosa, pois números não eram o meu

forte. O meu pai assistia ao Jornal Nacional e ao mesmo tempo ficava “tomando” a

tabuada. Pois tinha que decorar para chamada oral.

Eu não sentia o mesmo entusiasmo com os números quanto com a leitura e a

escrita.

No entanto, hoje, como professora, desmitifiquei o bicho que na época

parecia ter sete cabeças.

Atualmente, gosto de trabalhar Matemática com os alunos e vejo que tenho

função importante no ensino desta matéria. Vejo na minha ação pedagógica a

necessidade constante de aprender, de buscar maneiras significativas, de atribuir

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sentidos e potencialidades para uma prática compreensiva, capaz de transcender as

práticas tradicionais de ensino que levam somente ao saber efetuar os algoritmos

sem conduzir as crianças a pensarem sobre o que estão fazendo e assim, serem

capazes de construir conceitos fundamentais para o processo de aprendizagem da

Matemática.

Neste momento, vejo a necessidade de aprender para ensinar melhor e

contribuir para que o ensino de Matemática faça mais sentido aos alunos e assim

não vire um bicho de sete cabeças, como um dia fora para mim.

Pois, a Matemática era como uma monstra para mim. Na 4ª série, levava lista

de continhas para fazer como lição de casa. Na época estávamos aprendendo

divisão de dois algarismos. E eu tinha dificuldade para resolver essas contas.

Para o meu desespero, no dia seguinte, a professora fazia a correção coletiva

em que cada aluno tinha que ir resolver na lousa. Não gostava nada daquilo. Pois

tinha dificuldade em fazer as divisões com dois algarismos e ser exposta diante dos

colegas e da professora. Tinha medo de errar e isso para mim era muito difícil.

No entanto, nessa etapa da escolaridade tive momentos mais leves e de

alegria. Na mesma série, a professora de Português, a dona Maria Lisboa

estabeleceu uma relação que ia além da sala de aula. Essa professora conseguiu

alimentar uma relação que não era de dominação e de poder – professor/aluno.

Tínhamos estabelecido uma relação de confiança e carinho. Mesmo ela sendo

afetuosa cumpria com excelência o seu papel de professora. É importante a relação

professor-aluno e a confiança estabelecida nessa relação para que a aprendizagem

ocorra.

No Ensino Fundamental I, durante as aulas não me lembro de haver

participação por parte dos alunos ou de fazermos perguntas aos professores, de

termos aulas diferentes. As salas eram cheias com carteiras enfileiradas, silêncio, as

professoras explicavam, davam exercícios de fixação, provas, notas, aprovação e

reprovação. As aulas eram ministradas de forma expositiva e os alunos ouvintes. Os

professores ensinavam e nós alunos prestávamos bastante atenção nas explicações

e depois fazíamos exercícios para fixar o que havia sido aprendido. Porque depois

seria cobrado em provas.

A pré-escola não estava localizada tão próxima de onde morávamos. Então,

todos os dias, a perua do Seu Osvaldo passava em casa para eu poder ir ao pré.

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Agora se tornou um Centro Odontológico. Gostava daquele percurso, porque ia

brincando e conversando com as e os colegas. Era divertido. Acho que não me

esqueço o nome da escola e da professora: Solange, porque foi naquela época em

que tive o prazeroso encontro com as letras, sílabas, frases, com o emaranhamento

delas e a formação dos textos que passei a ler com muita alegria. Como é que

poderia esquecer-me de uma fase singular, na qual iniciei as minhas primeiras

leituras e escrita. De lá para cá a leitura tornou-se algo de muito contentamento.

Em 1992 ingressei no 1º grau1 (1ª a 4ª série), aos seis anos na 1ª série - hoje,

Ensino Fundamental I -, na Escola Estadual “Jardim Vista Alegre”, que

posteriormente foi municipalizada e o seu nome modificado para Escola Municipal

“Antônio Sproesser”. Daquele período tenho algumas recordações positivas e outras

negativas.

Lembro-me em especial da formação das salas de aulas. Existiam as salas A,

B, C, D, e assim por diante. E os alunos eram distribuídos por elas de acordo com a

sua classificação. Os ótimos eram “dignos” da sala A. Aos ruins, estava reservada a

sala classificada pela última letra do alfabeto de acordo com a quantidade de salas.

Essa divisão reforçava as diferenças no sentido mais triste, pois endossava o

preconceito e a exclusão por parte dos professores e também dos estudantes. Os

“melhores” alunos eram dignos da sala A, e os professores queriam muito essa sala,

pois o andamento do planejamento e o ensino dos conteúdos fluíam com os

“melhores”.

A nota torna-se legitimadora da posição que o aluno ocupa na classe, na escola, e que possivelmente no futuro refletirá a sua colocação na sociedade. As notas acabam por gerar competição e delas os alunos se servem para propagar o seu valor. Os alunos passam a ser categorizados em função das notas e associam as mesmas à sua imagem e autoestima (BERTAGNA, 2002, p. 240).

Eu era da sala B, exceto em Matemática, que o conceito C me “perseguiu” da

quarta a sétima série, predominava o B no meu boletim. Será que era coincidência

ser da sala B e ter conceito B?

1 A lei 5692/71 estabeleceu a terminologia para o ensino de primeiro e segundo graus (antigos

cursos: primário, colegial e ginasial). Utilizarei a nomenclatura atual de ensino fundamental e médio de acordo com a LDB 9394/96.

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Figura 1 – Histórico Escolar do 1º Grau – Hoje, Ensino Fundamental

Fonte: Arquivo pessoal

Atualmente, enquanto professora de 4º e 5º ano, vivencio alguns casos de

alunos que chegam nessa etapa da escolaridade sem estarem plenamente

alfabetizados ou alguns que embora estejam, obtiveram pouca qualidade na

aprendizagem dos conhecimentos proporcionados pela escola, apresentando

defasagem da aprendizagem e ou baixo rendimento o que pode ser constatado pela

avaliação escolar.

Assim sendo, essa situação me incomoda bastante, pois os que não estão

com a alfabetização consolidada, frequentam as aulas, porém apresentam

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autonomia comprometida para acompanhar as mesmas, para realizar as atividades

propostas, leituras, compreensões e produções de textos, solucionar situações-

problemas o que acaba por gerar a exclusão no interior da própria escola, e

posteriormente na vida social, prejudicando o desenvolvimento desses sujeitos em

sua escolaridade, sendo estigmatizados muitas vezes e tendo o seu sucesso

educacional e a capacidade de integração social e autoestima comprometidas.

Os alunos começam a ficar desacreditados em suas potencialidades para

aprender e se desenvolver quando são estereotipados ou quando não há quem

acredite mais neles.

Apesar de a escola possuir a função de ensinar o conteúdo fundamental e de

formar seres humanos plenos, sem exceção, a situação de fracasso escolar está

presente em nossas escolas, pois há estudantes sofrendo com o insucesso escolar.

Diante disso, tenho me preocupado em como os alunos neste tipo de situação

estão sendo tratados pela escola e pelo sistema de ensino, principalmente em um

contexto de avaliações seletiva e classificatória que corroboram com a exclusão e

permanência das desigualdades educacionais que se transformam em sociais.

A avaliação da aprendizagem tem sido utilizada como mecanismo de

exclusão na lógica capitalista, reforçando a seleção e classificação. Os alunos

passam a acreditar que são os únicos responsáveis por sua não aprendizagem.

Quando, na verdade a aprendizagem efetiva ocorre se houver o

comprometimento e responsabilidade dos alunos, professores, escola, família e do

sistema de ensino.

Os conhecimentos trabalhados pela escola são verificados, geralmente por

meio de provas e os alunos são classificados em aptos ou inaptos para cursar a

série seguinte.

Luckesi (2005) aborda em seu livro a diferença entre a avaliação

classificatória que serve somente à verificação da aprendizagem com o objetivo de

classificar para a aprovação ou reprovação e a avaliação diagnóstica com a função

de constatar a situação do aluno “tendo em vista a definição de encaminhamentos

adequados para a sua aprendizagem” (LUCKESI, 2005, p. 81).

O uso desse tipo de avaliação possibilita a aprendizagem e o

desenvolvimento dos alunos, ou seja, “se um aluno está defasado não há que, pura

e simplesmente, reprová-lo e mantê-lo nessa situação” (LUCKESI, 2005, p. 81).

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Do Ensino Fundamental para o Ensino Médio e Técnico

Cursei o ensino Fundamental II - na mesma escola em que fiz o Ensino

Fundamental I - Vista Alegre (hoje, Professor Antônio Sproesser).

Adorava as aulas de Português, pois a professora Rose propunha de acordo

com os conteúdos trabalhados em sala que fizéssemos peças de teatro e

apresentássemos para a turma.

Ela utilizava a metodologia de trabalho em grupos. Os temas abordados pela

disciplina eram divididos entre os grupos e cada grupo se organizava para pesquisar

e estudar o assunto que fora designado, e posteriormente era apresentado à turma

em forma de seminário.

Na escola havia uma biblioteca que não era muito grande, entretanto havia

vários livros para empréstimo. Gostava de frequentá-la, de retirar livros para ler

durante a semana em casa.

Naquele período no Brasil, o acesso doméstico à internet aconteceu em 1996,

e em casa demorou a chegar. Então as pesquisas e os trabalhos solicitados pelos

professores eram realizados na biblioteca da cidade. Eu gostava muito de ir até lá,

pesquisava pelo assunto proposto e escrevia o trabalho em folhas de almaço para

entregar aos professores.

Diferentemente da professora Rose, a professora de História passava textos

na lousa para copiarmos e não me recordo de muitas explicações, porém me lembro

muito das provas cobrando o conteúdo dos textos que eram passados na lousa.

Não posso deixar de lembrar-me das aulas de Educação Física em que ficava

indignada com a professora, pois na escola havia uma quadra, no horário de aula

ela dividia os times de futebol de meninos e de meninas, mas a professora dava

tempo maior para os meninos jogarem. Eu achava um absurdo as meninas

passarem tempo menor jogando, só porque éramos meninas, se gostávamos do

esporte e queríamos jogar. E isso voltou a se repetir na época do Ensino Médio.

Concluída a 8ª série, não tinha perspectiva de cursar uma faculdade depois.

Naquele momento havia a possibilidade de cursar uma escola técnica que existia em

Monte Mor, a escola Municipal Técnica “Onofre Baldiotti” ou fazer o Ensino Médio

em outra escola. Pelo fato de não possuir muitas perspectivas futuras e de dar

continuidade aos estudos, pensava em fazer algo que serviria como profissão, no

caso o técnico. Das escolas da cidade, a escola técnica possuía fama de ser uma

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boa instituição, porque os comentários eram de que lá estava os melhores

professores, além de formar para uma profissão o que no futuro viabilizaria o meu

acesso ao mercado de trabalho. Os estudantes almejavam estudar lá. Mas, para

ingressar seria necessário realizar um processo de seleção. Era uma prova que

continha várias questões sobre o conteúdo dos anos anteriores da escolaridade.

Participei do processo de seleção e fui aprovada para o curso de Informática.

No ano de 2000 iniciei os estudos naquela escola. O curso era oferecido

juntamente com o Ensino Médio. Para concluir como técnica tinha que cursar quatro

anos.

A partir do 2º ano eram introduzidas matérias específicas de Informática.

Dedicava-me ao curso, mas não me sentia plenamente realizada. No fundo, no

fundo, não era aquilo que ansiava. Cheguei a fazer estágios na área, entretanto não

era o que me movia.

Na vida precisamos fazer escolhas. E quando é possível fazê-las que sejam

para nos mover e nos realizar de alguma forma.

No 3º ano do curso, decidi participar de uma seleção no cursinho pré-

vestibular: Cooperativa do Saber, em Campinas. Porém, só poderia cursá-lo se

conseguisse receber bolsa de estudos, tendo em vista que meus pais não teriam

condições de pagar as mensalidades.

E lá fui eu. Consegui uma bolsa de 80%. Então teria dois gastos: os 20% do

curso e o transporte, porque teria que fazer o deslocamento de Monte Mor até

Campinas todos os dias. Conversei com os meus pais sobre a situação. Meu pai

havia sido demitido do trabalho, após 21 anos de metalúrgico pela mesma empresa.

Na época estava havendo um corte grande de funcionários. Mesmo meu pai ficando

desempregado ele não mediu esforços para me apoiar, já minha mãe não deu muito

apoio, pois não concordava com a ideia de eu sair do estágio remunerado, pois era

vinculado a escola. Além disso, teria que pagar uma parte do curso e o transporte.

Mas, mesmo diante da dificuldade financeira, recebi apoio deles e deixei o

curso técnico em Monte Mor, concluindo apenas o Ensino Médio. E fui para o

cursinho pré-vestibular.

Em 2003 iniciei as aulas no cursinho. Eram bastante puxadas, devido à

quantidade de conteúdos para estudar em um curto espaço de tempo. Ali, percebi

que eu tinha bastante defasagem na aprendizagem, principalmente em Matemática,

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Química e Física. A última, fazendo-me zerar na segunda fase do Vestibular da

Unicamp em Pedagogia. Apesar de não ter sido aprovada no vestibular da Unicamp,

o cursinho foi um espaço bastante importante para minha formação, porque lá

encontrei professores que não apenas ensinavam os conteúdos. O professor

Maurinho, de História, acrescentou demais em minha formação, porque além de

ensinar o conteúdo, me fazia pensar, refletir e ativava o meu senso crítico.

Colocava-me a fazer reflexões em torno de questões sociais, políticas, econômicas

e culturais.

Embora a formação tenha sido de grande valia, foi uma fase difícil para mim,

devido à defasagem em algumas disciplinas. Além disso, tinha a pressão e a

responsabilidade de ser aprovada no Vestibular. Cobrava-me principalmente, porque

havia deixado o estágio que era remunerado e o meu pai encontrava-se

desempregado e a nossa família vivia um momento difícil financeiramente. O meu

pai, como disse anteriormente, trabalhou vinte e um anos como metalúrgico na

empresa Magal, então a nossa vida dependeu durante todo esse tempo desse

emprego. A minha mãe não tinha profissão, mas já trabalhou como doméstica e

sempre que as coisas apertavam, ela estava ali pronta a ajudar. Tenho os meus pais

como meus maiores apoiadores e exemplos. Sou muito grata a eles pela dedicação.

Já vivenciamos situações difíceis, mas nos ajudando fomos superando as barreiras.

Seguindo o caminho ... Aprendi com a vida a importância de nos superar e ir vencendo as

dificuldades postas e impostas… O sonho de ser aprovada no Vestibular da

Unicamp e cursar uma faculdade foi interrompido..., mas, apenas por algum tempo...

Minha primeira experiência em escola formal

Em 2004, aos dezessete anos comecei a trabalhar em uma escola de

educação infantil com uma turma de maternal. Frequentavam bebês de quatro

meses até os quatro anos. Éramos duas para cuidar dos bebês e das crianças que

passavam o dia inteiro conosco. Alimentávamos as crianças, dávamos banho,

levávamos ao parque e fazíamos atividades.

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Era bastante responsabilidade, além do que não tínhamos formação

específica para isso. Sem falar que a escola nos explorava, pois não tínhamos

horário de almoço e não havia registro em carteira.

Porém, foi a oportunidade que me surgiu naquele momento e tinha desejo de

dar continuidade aos estudos. Não poderia parar. Trabalhava durante o dia nesta

escola e a noite estudava em um cursinho comunitário em uma igreja evangélica em

Campinas.

Tive bastante sorte de encontrar bons professores por onde passei, pois ali

encontrei o professor Fernando, ele era piloto, mas dava aulas como voluntário.

Ministrava aulas de Geografia e assim como o professor Maurinho, ele também

promovia um ensino crítico, fazia debates sobre a realidade social e as contradições

existentes em nosso sistema.

No final do ano, prestei vestibular e novamente fui reprovada.

Então, pedi demissão do colégio onde trabalhava e fui procurar outro

emprego, um que pelo menos garantisse os direitos de uma trabalhadora: registro

em carteira, 13º salário, horário de almoço e pagamentos em dia com o objetivo de

fazer uma economia e entrar em uma faculdade.

Em busca de um emprego...

Comecei a distribuir currículos.... Fui chamada para uma entrevista em uma

loja de calçados e confecções e a função seria: caixa e crediarista. Teria que

trabalhar de segunda-feira a sábado de 8h00 as 18h00. Passei pela entrevista e em

março de 2005 iniciei.

Foram dias estressantes e cansativos, estava desprendendo energia em um

trabalho que não dava sentido a minha vida. Todavia, tinha uma meta: precisava

fazer economia para tentar ingressar em uma Universidade particular, tendo em

vista que já havia tentado o vestibular da Unicamp duas vezes consecutivas e sem

êxito.

Naquele ano só estava trabalhando e senti muita falta de estudar, sentia-me

sedentária. No final daquele ano tinha conseguido uma economia. Fiz o vestibular na

Pontifícia Universidade Católica de Campinas e iniciei em 2006 o curso de

Pedagogia.

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Foram quatro anos de muito aprendizado, estudo e dedicação. Eu tinha

comigo que ser professora seria uma responsabilidade e um trabalho muito sério e

que exigiria de mim muita preparação e formação constante para exercer a

profissão, além da consciência de que seria uma ocupação em que a Educação e os

professores não eram valorizados.

Contudo, fui trilhando o caminho e considero que o curso contribuiu para

ampliar a minha visão de mundo, fiz disciplinas que me fizeram mais humana,

acentuaram meu senso crítico, me levaram a reflexões e promoveram um desejo de

uma educação transformadora.

Estudei o primeiro ano da faculdade no período noturno, pois ainda trabalhava

na loja em Monte Mor. E era com o salário que recebia que pagava o fretado, tirava

xerox dos textos e fazia economias para no final do ano negociar o pagamento com

a PUC.

Nesse ano o curso de Pedagogia funcionava na Rua Barreto Leme, no Centro

de Campinas. Tive contato com ótimos professores.

No primeiro ano, as disciplinas eram teóricas e eu gostava bastante. Fiz

disciplina de Filosofia, na qual, o professor Jamil, frequentemente fazia referência ao

grande Paulo Freire e a sua proposta de educação. Essas aulas foram importantes

para alimentar as minhas esperanças em dar continuidade ao curso e também para

persistir na função futura enquanto docente. Nas palavras de Paulo Freire

É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir Esperançar é levar adiante. esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo...

Com essa esperança proclamada por Freire que eu continuava o curso de

Pedagogia, mesmo com todas as dificuldades impostas pela situação financeira,

pelos limites físicos e a conciliação entre o trabalho e os estudos. As leituras, os

trabalhos e os estudos, eram realizados aos domingos, porque aos sábados

trabalhava também. E não foram raras às vezes, que estudei nas madrugadas,

principalmente para as provas da professora Patrícia Vieira Trópia, que ministrava

História da Educação, por quem tenho grande admiração.

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A partir do primeiro ano de faculdade tive aulas de História da Educação,

Sociologia, Psicologia da Educação, Filosofia e etc. Considero fundamentais as

disciplinas teóricas, pois são elas que fundamentam a minha concepção de mundo e

de educação, as qual defendo hoje.

Foi no segundo ano de curso que comecei a ter disciplinas especificamente

de Ensino Fundamental e estágios.

Quando iniciei os estágios, comecei a pensar se realmente queria ser

professora, porque percebia o quanto a realidade escolar era complexa. Que as

escolas tinham diversos problemas. Que os alunos não eram ideais.

Juntando-se a isso, quando ia realizar os estágios, as professoras das

escolas me questionavam se realmente eu queria ser professora, porque estava

muito difícil essa profissão.

E realmente, ser professor não é uma tarefa fácil, é por isso que a formação

deve ser contínua para obter uma compreensão da realidade social, para entender

as políticas que interferem na prática do professor, apreender práticas pedagógicas

inovadoras para as gerações atuais. Enfim, a sociedade vai se dinamizando e suas

relações vão sendo transformadas pelas tecnologias e por novas formas de

sobrevivência. Por isso, é necessário nos manter constantemente atualizados e

antenados.

Com o intuito de me dedicar mais ao curso de Pedagogia, visto que também

trabalhava aos sábados, resolvi pedir demissão da loja em que trabalhava e comecei

a buscar estágios remunerados na área da educação.

No ano de 2007 realizei uma entrevista na EMDEC (Empresa Municipal de

Desenvolvimento de Campinas) e fui aprovada. Lá realizava um trabalho indireto

com os professores e alunos das escolas de Campinas. Realizávamos um trabalho

de Educação para o Trânsito. Ainda naquele ano iniciei uma pesquisa de Iniciação

Científica como bolsista no grupo de pesquisa Políticas e Práticas Pedagógicas. A

pesquisa tinha por objetivo compreender o impacto do neoliberalismo no movimento

docente da rede pública de ensino do estado de São Paulo: A Apeoesp na gestão

Covas (1995-1998). Este trabalho me levou um pouco à compreensão do

neoliberalismo e sua influência nas condições do trabalho docente. A professora

Patrícia Trópia, hoje professora da Universidade Federal de Uberlândia, por quem

tenho grande apreço e admiração por sua inteligência e capacidade, foi a

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responsável por instigar, em mim, vontade de aprender, de transformar, de lutar por

mais justiça. E ela acreditou em mim.

À época foi o que mais estava me motivando no curso de Pedagogia. Eu

realizava pesquisa em jornais da Apeoesp. Através deste estudo fomos à UFMG

(Universidade Federal de Minas Gerais) juntamente com os colegas: Vanessa Pires,

Beatriz Cerejo, Renan Antonieto apresentar o trabalho em forma de pôster no

Simpósio Trabalho e Educação, participei dos encontros de Iniciação Científica e

realizei apresentações orais. Foram oportunidades enriquecedoras para a minha

trajetória pessoal, profissional e acadêmica.

Encerrado o contrato de estágio com a EMDEC. Em 2008 fiz uma entrevista

de estágio remunerado no Colégio Notre Dame, de Campinas, selecionada, iniciei o

estágio na educação infantil. Lá, auxiliava a professora da sala com as atividades,

levava os alunos às aulas de música, informática e realizava a entrada e a saída das

crianças. Além do estágio, nesse momento, fiz Iniciação Científica com a professora

Graziela Giusti Pachane, pois havia encerrado o projeto da professora Patrícia.

No ano de 2009 deixei o estágio no Notre Dame e comecei o trabalho no

programa Escola da Família. Consegui a participação em uma escola próxima a

minha casa, na época. Aos sábados e domingos desenvolvíamos atividades

voltadas para o esporte e cultura com a comunidade do bairro da escola. Em troca

do trabalho recebia a Bolsa Universidade. Ficava isenta do pagamento da

mensalidade. Essa oportunidade me ajudou muito, pois consegui me dedicar mais

ao curso de Pedagogia, a realização dos estágios e ao TCC (Trabalho de Conclusão

de Curso), sem precisar pensar no pagamento da mensalidade.

Foi nesse ano que comecei o trabalho do TCC na escola municipal “Miguel

Jalbut” em Monte Mor, na qual pude também presenciar o descontentamento de

muitas professoras com a profissão. Estava fazendo estágio em uma sala de 2º ano

e a professora precisou se ausentar, então a diretora da escola me propôs assumir a

sala. Era uma sala bastante heterogênea quanto ao nível de aprendizagem em que

se encontrava. Havia uma apostila a se cumprir e alguns alunos ali que não

conheciam nem as letras do alfabeto. Ficava me questionando o porquê isso ocorria.

Como um aluno em processo de alfabetização não conhece nem as letras do

alfabeto?

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A alfabetização plena é essencial à inserção dos estudantes na prática social

e nesse sentido, vejo a importância de que a escola tem a desempenhar. A

alfabetização é o primeiro passo à inserção social e para promoção de cidadãos

conscientes de sua realidade.

Além da alfabetização, os conhecimentos básicos são essenciais aos alunos

para darem continuidade aos seus estudos. Sendo a alfabetização e letramento o

início de tudo.

No ano de 2009 concluí o curso de Pedagogia. Em 2010 surgiu o processo de

seleção para professores contratados na Rede Municipal de Monte Mor. Fiz a prova

e consegui ser chamada na primeira atribuição, mas não me sentia preparada para

assumir uma sala de aula. Então, peguei um bloco de aula diferenciada. Essas aulas

ocorriam em forma de reforço aos alunos com dificuldades. Os alunos

encaminhados às aulas de reforço pelas professoras da sala de aula eram retirados

dela para essas aulas que ocorriam duas vezes na semana para cada turma. Iniciei

esse trabalho na escola “José Luiz Gomes Carneiro” em um bairro bem carente em

que as ruas não eram asfaltadas e os ônibus passavam a cada hora. Na época não

dirigia, também não tinha carro e esperava muito tempo no ponto até que o ônibus

passasse. Eu retirava as crianças da sala de aula e trabalhava conteúdos que ainda

não haviam assimilado, como: leitura e interpretação, as quatro operações,

resolução de situações-problema e trabalhava alfabetização com os alunos ainda

não alfabetizados. Na escola não havia uma sala específica para que essas crianças

fossem atendidas. Tinha que trabalhar na biblioteca da escola, essa também servia

como um espaço para que os professores preparassem suas aulas e corrigissem

provas. Muitos desses alunos recusavam-se a fazer as atividades, além disso,

estavam em situação desigual diante dos outros colegas de classe, pois não

conseguiam acompanhar os conteúdos do ano/série em que estavam, possuíam

notas vermelhas e também não havia um espaço específico para a realização deste

trabalho. Isso gerava bastante dispersão entre os/as estudantes, devido a entrada e

saída de pessoas no espaço. Achava um trabalho difícil, porque muitas vezes não

conseguia voltar a atenção à necessidade das crianças e ao aprendizado escolar.

O processo seletivo de 2010 havia sido prorrogado para o ano de 2011.

Nesse ano, consegui trabalhar em uma escola próxima a casa em que morava. Mas

trabalhei como PAANE (Professora Auxiliar de Alunos com Necessidades

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Especiais). Auxiliava a professora da sala com um aluno autista. No final desse

mesmo ano fiz outro processo seletivo para a atribuição de 2012. Trabalhei até o

mês de maio cumprindo uma licença maternidade na escola “Alcyr Teixeira” com

crianças da 1ª Fase, as quais tinham quatro anos de idade. Voltei para a atribuição e

assumi em maio mesmo uma sala de 1º ano na escola Professor “Edison José de

Paula”. O processo de 2012 prorrogou para o ano de 2013 e novamente trabalhei

com aula diferenciada/reforço na escola Coronel “Domingos Ferreira”, escola

próxima a minha casa. E mais uma vez experienciei um descuido e falta de

investimentos aos discentes em dificuldade escolar. Esse ano foi ainda mais difícil o

trabalho de reforço, pois o espaço que existia para eu trabalhar com as crianças era

o porão da escola. A minha cabeça quase que batia no teto daquele lugar. Ademais,

a biblioteca começou a funcionar nesse mesmo espaço o que contribuiu para mais

um obstáculo ao desenvolvimento do trabalho.

Já estava me cansando dessa situação de professora contratada, pois além

das condições oferecidas não havia estabilidade alguma. Trabalhava durante todo

ano e ao final do ano letivo o contrato era reincidido. Confesso que nessas

condições não estava satisfeita em ser professora.

Em 2013 trabalhando como professora de reforço durante o dia na rede de

ensino de Monte Mor decidi voltar a estudar e prestar concurso público. A noite fazia

cursinho em Campinas para concursos públicos. No mesmo ano prestei concurso

para o TRT (Tribunal Regional do Trabalho) sendo aprovada, mas não convocada.

No final do ano de 2014 trabalhei na educação infantil na escola “Jorge

Chaud” com a 1ª fase (crianças de 4 anos) e abriu concurso para o cargo de

professor (a) no próprio município de Monte Mor fui aprovada e convocada em

fevereiro de 2015. Efetivei-me na escola que atuo até hoje. Gostei bastante da

preservação da escola e em como era cuidada pela gestão, professores,

funcionários, comunidade local e alunos. Os professores podiam imprimir matrizes

de atividades, tirar xerox sem pagar do próprio bolso. Porque até me efetivar lá eu

fazia muito isso.

Além de perceber envolvimento dos alunos e da comunidade em reuniões de

pais, em festas realizadas pela escola. Fiquei feliz em iniciar um trabalho lá.

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Nos anos de 2016 e 2017 trabalhei manhã e tarde. De manhã como

professora contratada pelo processo seletivo em uma sala de 1º ano e a tarde como

professora efetiva em uma sala de 4º ano.

Em 2017, trabalhei com os quintos anos, de manhã na escola “Maria Tonin” e

a tarde na escola em que estava como efetiva.

Nesse ano me deparei com alguns alunos que não estavam plenamente

alfabetizados, alguns com dificuldades em acompanhar a série/ano em questão e

em ano de Prova Brasil.

Percebi por parte da rede municipal de educação do município de Monte Mor

e da escola na qual exerço a docência, uma preocupação em relação aos índices do

IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), pois, há formação

específica em serviço para os docentes das séries/anos que trabalham com as

turmas que realizam a prova Brasil (5º e 9º anos). Essa formação busca capacitar os

professores para alcançar os resultados almejados, porém sem refletir a respeito do

significado da prova para os estudantes, para a instituição escolar e, principalmente,

para a formação humana dos alunos. Por exemplo, no ano de 2017, em um curso

oferecido pela Secretaria de Educação, foi apresentado pelos formadores, o trabalho

realizado por uma escola de Sobral, no Ceará, como uma instituição modelo e de

referência por atingir padrões excelentes no índice do IDEB.

No entanto, em nenhum momento foi mencionado como ocorria a formação

desses estudantes; nem sobre quais eram as metodologias de ensino e as

avaliações utilizadas no processo de aprendizagem, sobretudo como se dava a

formação humana dos discentes. Evidenciou-se que naquela escola priorizava-se os

conteúdos concernentes aos cobrados pela prova Brasil para o alcance das metas

do IDEB.

Em reunião pedagógica da escola nesse mesmo ano o encontro foi pautado,

basicamente, na identificação e análise dos índices da prova Brasil nos anos de

2011, 2013 e 2015, buscou-se comparar e analisar os avanços e ou os regressos

que a instituição obteve nesses anos. Foi constatado que no ano de 2015, os índices

em Português e Matemática foram de 84%. Uma porcentagem elevada se

comparada às escolas do próprio município e de outras cidades também.

A partir da análise dos dados, tínhamos que verificar o nível dos alunos que

realizaram a prova no ano de 2015, e pensarmos em estratégias para trabalhar com

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os alunos dos quartos anos do ano de 2018, que farão a prova em 2019. Os

docentes de todas as séries teriam que pensar em estratégias, para sanar as

habilidades ainda não atingidas 100% pelos alunos, nos anos, para atingir

resultados nas avaliações externas. Contudo, será que esse índice revela a

aprendizagem real de todos os alunos? Quais são as metodologias utilizadas para

atingir as metas estabelecidas? E os alunos repetentes, com defasagem na

aprendizagem e que apresentam baixo rendimento como são acompanhados?

Como esses alunos são vistos e incluídos no processo de aprendizagem? Há uma

preocupação com essas questões por parte da escola? O que ela tem feito para

enfrentar esses desafios a fim de promover e garantir o desenvolvimento pleno de

todos os estudantes?

Desde a conclusão da graduação ansiava continuar estudando. E depois de

formada só havia feito uma especialização lato sensu semipresencial em

Psicopedagogia e os cursos em serviço de formação continuada oferecidos pela

Secretaria de Educação de Monte Mor.

Surgiu então a proposta do Mestrado Profissional da Unicamp, o qual tomei

conhecimento através de uma colega que fez a divulgação do processo seletivo em

sua página no Facebook. De acordo com o Projeto Político Pedagógico do Mestrado

em Educação Escolar

(...) concebe-se na Faculdade de Educação da Unicamp, uma proposta de Mestrado Profissional que valorize o debate teórico, pois esse ilumina a compreensão da realidade, a qual será objeto de estudo, e que contemple rigor idêntico ao apresentado no Mestrado Acadêmico. A dimensão da experiência é, assim, foco das análises e visa enriquecer e aportar novas reflexões à prática dos profissionais da educação em serviço (UNICAMP, PROJETO PEDAGÓGICO MESTRADO PROFISSIONAL, 2015, p. 17).

Além disso,

Entende-se, na presente proposta, que esses profissionais por atuarem na prática escolar, já possuem um conhecimento acumulado que, no entanto, pode e deve ser enriquecido por um processo de formação sistemático em nível de mestrado que permita sua problematização e ressignificação. Nesse processo de formação, o MP pode se constituir como espaço de compreensão dos problemas e desafios do trabalho escolar e de reflexão sobre as possíveis transformações das práticas de gestão e de ensino na educação básica (UNICAMP, PROJETO PEDAGÓGICO MESTRADO PROFISSIONAL, 2015, p.15).

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Assim que vi o edital fiquei animada em participar do processo, pois seria uma

oportunidade de dar continuidade aos estudos e ao mesmo tempo trabalhar, porque

um dos critérios era o de ser professor ou gestor na rede pública de ensino.

Iniciei a busca da bibliografia sugerida e assim dar início as leituras e me

preparar para o processo seletivo. Meu marido tem um amigo chamado Gustavo que

estuda na Unicamp, e gentilmente emprestou alguns livros da bibliografia sugerida

da biblioteca da Educação para que eu pudesse realizar as leituras e me preparar.

Para minha tristeza o edital fechou, mas mesmo assim continuei realizando as

leituras. Ficava visitando o site continuamente na esperança de que o edital fosse

reaberto e para minha alegria, foi. O processo de seleção foi organizado em três

etapas. A primeira etapa: submissão do projeto de pesquisa e documentos

solicitados. A segunda: prova escrita e a terceira: entrevista.

Submeti os documentos solicitados assim como o projeto de pesquisa na

linha 1. Política, Planejamento, Gestão e Avaliação da Educação Básica.

Fiz a prova escrita, a qual tinha como proposta a seleção de duas bibliografias

das referências solicitadas pela linha 1. Tínhamos que fazer a relação delas com o

projeto de pesquisa. Cada etapa do processo foi uma experiência tensa.

Após ser aprovada nas duas etapas, finalmente fui para a entrevista. A qual

em minha opinião foi a mais difícil e angustiante.

Não via a hora de que o resultado fosse publicado, a ansiedade, era grande,

masafelicidade, se fosse aprovada, emergia na mesma proporção, pois seria uma

oportunidade de voltar aos estudos e ao mesmo tempo continuar a trabalhar. Um

dos requisitos era o de ser professor ou gestor na rede pública de ensino.

Após sair o resultado mal me continha de tanta alegria de iniciar os estudos

na tão sonhada Unicamp no Mestrado Profissional em Educação Escolar que:

Compreende-se, portanto, que o MP aqui proposto, deve privilegiar, no processo formativo, as práticas escolares e pedagógicas na educação básica e a atuação dos profissionais no âmbito das políticas públicas educacionais fundamentalmente na gestão, no planejamento e na avaliação das escolas e sistemas de ensino (UNICAMP, PROJETO PEDAGÓGICO MESTRADO PROFISSIONAL UNICAMP, 2015, p. 17).

Inquietudes

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As questões suscitadas e que direcionam este estudo originaram-se da minha

vivência a partir de 2015 como professora do Ensino Fundamental, em 2017 mais

especificamente, enquanto professora de um 5º ano, no qual havia crianças em

processo de alfabetização, somado a isso em período de Prova Brasil.

Durante a graduação cursei uma disciplina sobre Avaliação, a qual abordava

a avaliação da aprendizagem de forma crítica. Tive acesso aos conceitos de

avaliação somativa, formativa, mediadora e autoavaliação. Nas aulas não só eram

trabalhados os conceitos como a professora exercia a avaliação processual em sua

prática pedagógica e nós estudantes realizávamos a autoavaliação como parte do

processo avaliativo.

Em 2015, quando ingressei como professora do EF I, na rede de ensino em

que atuo e me deparei com a avaliação da aprendizagem adotada. Percebi que a

mesma ocorria por meio de um único instrumento: a prova. Essa era realizada duas

vezes por bimestre. Uma mensal com valor 4 e outra bimestral com valor 5 e 1 ponto

de participação.

Os estudos realizados sobre avaliação durante a graduação e a prática

avaliativa adotada pela rede de ensino passou a me inquietar, além disso, em 2017

como professora de 5º ano, em situação de Prova Brasil trabalhava realizando

simulados constantes de acordo com as questões de provas cobradas pela

avaliação de larga escala.

Diante do que foi exposto e das inquietações permanentes em relação à

prática educativa, no que diz respeito aos fatores que gerariam o fracasso escolar,

sendo que a avaliação poderia ser um desses. A participação na disciplina sobre:

“Avaliação Institucional: princípios e processos” ministrada pelas docentes Mara de

Sordi e Geisa Mendes, contribuiu para a delimitação do nosso objeto de pesquisa

que fomos direcionando ao tema da Avaliação. Ao passar pelo exame de

qualificação em agosto de 2019 vimos a necessidade mais uma vez de revermos os

objetivos propostos pelo estudo e direção pela qual a pesquisa estava se

encaminhando. Diante disso, o trabalho passou por alguns ajustes até chegarmos

nesta fase que é a de compreender a avaliação externa na perspectiva de docentes

das séries iniciais, a fim de buscarmos alternativas de superação da lógica da

avaliação classificatória, focada apenas em resultados e possamos contribuir com a

formação de estudantes numa avaliação menos tecnicista e mais formativa.

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35

INTRODUÇÃO

A escola possui papel fundamental na socialização dos conteúdos

historicamente acumulados pela humanidade e na formação dos sujeitos, pois é

através da apropriação dos conhecimentos que os indivíduos se humanizam, são

capazes de refletir sobre sua realidade, e, por conseguinte, organizam-se

coletivamente, em buscada transformação social (SAVIANI, 1991). Esse autor

concebe a escola como “uma instituição cujo papel consiste na socialização do

saber sistematizado” (1991, p. 22). Esse saber, por sua vez, se dá pelo processo

educativo e ocorre no ambiente escolar.

Além disso, ele explicita que

A escola existe, pois, para propiciar a aquisição dos instrumentos que possibilitam o acesso ao saber elaborado (ciência), bem como o próprio acesso aos rudimentos desse saber. As atividades da escola básica devem se organizar a partir dessa questão. Se chamarmos isso de currículo, poderemos então afirmar que é a partir do saber sistematizado que se estrutura o currículo da escola elementar. Ora, o saber sistematizado, a cultura erudita, é uma cultura letrada. Daí que a primeira exigência para o acesso a esse tipo de saber é aprender a ler e escrever. Além disso, é preciso aprender a linguagem dos números, a linguagem da natureza e a linguagem da sociedade. Está aí o conteúdo fundamental da escola elementar: ler, escrever, contar, os rudimentos das ciências naturais e das ciências sociais (história e geografia humanas) (SAVIANI, 1991, p. 23).

A educação elementar retratada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação

(LDB 9394/96) envolve a formação básica do cidadão por meio do

desenvolvimento da capacidade de aprender tendo como meios a leitura, a escrita

e o cálculo. A LDB no artigo 2º constitui ainda a educação como um direito ao

desenvolvimento humano pleno e enfatiza em seu artigo 3º que o ensino deverá

ser ministrado com base no princípio de igualdade de condições para o acesso e

permanência na escola.

Entretanto, observa-se, por meio de estudos recentes (BERTAGNA, 2017;

FREITAS, 2014; OLIVEIRA e MENEGÃO, 2012), que os sistemas de ensino

estão centrados em atender as avaliações externas visando índices e resultados

quantitativos. Conforme Freitas (2014, p. 1092):

[...] apenas para antecipar a linha geral de análise, consideremos que nesses últimos 20 anos, o grande desenvolvimento das avaliações externas (Prova Brasil, Saresp, Enem, ANA e outras)

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confirmou a posição de centralidade da categoria de avaliação e revelou outras conexões não imaginadas.

A educação escolar centrada nos resultados das avaliações externas com

vistas a garantir a qualidade do ensino e as práticas educativas voltadas a

atender aos índices propostos pode impactar no desenvolvimento pleno dos

indivíduos, conforme destaca Bertagna (2017,p.33).

[...] o esforço empreendido neste trabalho é evidenciar outra concepção de avaliação e de qualidade que potencialize e contribua para a formação humana mais ampla assentada em princípios formativos que permitam o desenvolvimento do indivíduo em sua totalidade e garanta, de fato, o seu direito à educação.

Embora, a escola possua a função de ensinar o conteúdo fundamental e de

formar seres humanos plenos, sem exceção, há alunos em situação de fracasso

escolar em nosso sistema de educação e privados dos seus direitos de acesso e,

principalmente, de permanência no sistema escolar. Apesar do acesso à

educação ter crescido em nosso país, em muitas instituições de ensino há vários

estudantes excluídos no interior da própria escola, sofrendo com o insucesso

escolare isso pode ser demonstrado por meio dos índices de reprovação e de

baixo rendimento, além deterem o seu direito à formação negligenciado devido,

principalmente, da exclusividade no ensino e preparo das crianças (desde cedo) a

conteúdos voltados aos exames externos. Nesse sentido:

A Provinha-Brasil acelerou esse empobrecimento do direito à educação da infância, reduzindo seu “direito” tão esperado ao domínio de habilidades leitoras. Esse tempo tão central na sua com-formação plena como humanos fica reduzido a acelerar o domínio de competências para se inserir no suposto mundo letrado. Uma forma benevolente de negar o direito ao desenvolvimento humano pleno tão esperado e tão determinante nesse tempo humano (ARROYO, 2011, p.188, grifos do autor).

Percebe-se no cotidiano escolar que alguns alunos são caracterizados por

“não aprender” e, por isso, não se desenvolvem e avançam. Além disso, é muito

comum professores, gestores, pais e os próprios alunos atrelarem o baixo

rendimento e desenvolvimento somente à falta de interesse e falta de estudos

por parte dos estudantes. Esse problema não pode ser limitado somente ao

indivíduo, mas deve, sobretudo, ser analisado sob a dimensão política, social e

histórica. Patto (1991) realizou um estudo das raízes históricas do fracasso

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escolar e traz esclarecimentos significativos sobre a relação do fracasso escolar

com o modo de produção capitalista, o que nos ajuda a compreender a realidade

e a desvelar a perpetuação da situação de dominação sofrida pelas famílias

menos favorecidas da sociedade.

Para compreender a situação do fracasso escolar é necessário entender

que a escola está inserida em um contexto, no nosso caso, no modo de produção

capitalista. Logo, a instituição escolar estará a serviço desse sistema a depender

da concepção de mundo, de sociedade, de homem e de educação em que os

atores da escola se pautam. Porém, os valores capitalistas não são demonstrados

explicitamente nas relações e nas práticas educativas. Então se faz necessário,

desvelar as práticas pedagógicas existentes no interior do espaço escolar. O que

pode ser observado no Projeto Político Pedagógico da escola e nas relações

cotidianas desse espaço.

O modo de produção capitalista afeta diretamente a vida humana, nos

aspectos: político, social, cultural e econômico. A escola é um ambiente

propiciador de formação de sujeitos que são atingidos pela ideologia dominante e

pela proliferação de seus valores e constituição de suas consciências. Nesse

sentido:

As crianças são levadas a crer que devem acumular o máximo de conhecimentos que lhes serão úteis para um invisível futuro, altamente competitivo, que enfrentarão quando adultos, como se coubesse a cada uma, individualmente, a capacidade de definir seu próprio destino (MENDES, 2006, p. 174).

Essa autora destaca ainda que: [...] em um mundo onde impera a lógica de que apenas alguns serão vitoriosos, prevalece a ideia de que os que estão excluídos são culpados pelo seu fracasso. Afinal, todos podem ter acesso, por exemplo, à escola. Não estuda quem não quer. Os pobres são levados a arcar com a culpa de sua pobreza, pois não se esforçam para ter uma vida melhor (MENDES, 2006, p. 174).

Ao relacionar o sucesso escolar do aluno, simplesmente, ao pouco ou

muito esforço desempenhado por ele, responsabiliza-se única e exclusivamente o

indivíduo. Os estudantes com baixo rendimento ao longo de seu processo de

escolaridade são culpabilizados pela ausência de êxito, são estereotipados e

estigmatizados, pois, se não venceram, foi porque não empenharam esforço

suficiente. Logo, essa lógica incentiva e estimula a meritocracia individual,

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discurso neoliberal em que o sucesso advém do esforço pessoal, excluindo as

questões de organização do sistema escolar, aliadas as propostas de avaliação

do sistema de ensino e a metodologia utilizada pelos docentes, por exemplo:

Numa sociedade em que a mola propulsora é a competitividade, o conhecimento vira

uma arma ou, como se diz, uma vantagem competitiva. O domínio do conhecimento

passa a ser o foco da escola para que seus estudantes possam ser bem-sucedidos. Não

é sem razão que os processos de avaliação do sistema centram-se na aferição do

conhecimento obtido em Português e Matemática. (FREITAS et al. 2014, p.21, grifos

nossos).

Segundo Freitas et al. (2014, p. 21) “a transmissão do conhecimento não é

o único objetivo da escola. Seja tácita, seja planejadamente, a escola é

formativa”. Para esses autores a escola deveria cumprir um papel dual no

processo educativo: fornecer instrução e formação plena aos indivíduos. As

avaliações externas assumem papel de controle do trabalho pedagógico do

professor, pautando o que o docente deverá ensinar. Nesse sentido:

[...] o direito à formação ampla e contextualizada que todo ser humano deve ter é reduzido ao direito de aprender o “básico” expresso nas matrizes de referência dos exames nacionais, assumido ali como o domínio que é considerado “adequado” para uma dada série escolar nas disciplinas avaliadas - não por acaso as que estão mais diretamente ligadas a necessidades dos processos produtivos: leitura, matemática e ciências” (FREITAS et. al, 2014, p. 1093).

A avaliação é um instrumento que deveria servir para o trabalho

pedagógico do professor, visando tomadas de decisão a partir dos resultados

obtidos pelos alunos para rever o que eles ainda não aprenderam e retomar

essas questões, inclusive sua prática pedagógica. Logo,

[...] colocar a avaliação nesta posição não foi uma escolha, pois a decisão de separar o ensino da criança da vida foi motivada pela necessidade de afastar a juventude dos problemas ou melhor das contradições sociais com o propósito de fornecer a ela, por antecipação, uma interpretação para tais contradições, antes de que ela mesma desenvolvesse sua própria interpretação, fora do controle dos interesses dominantes (FREITAS et al., 2014, p. 1093).

Desse modo, a escola passa a ser disputada assim como o processo

pedagógico, os conteúdos a serem trabalhados e a avaliação. De acordo com

Freitas et al. (2014, p. 1093)

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Na atual disputa pela escola, os reformadores empresariais da educação ampliaram a função da avaliação externa e deram a ela um papel central na indução da padronização como forma de permitir o fortalecimento do controle não só sobre a cultura escolar, mas sobre as outras categorias do processo pedagógico, pelas quais se irradiam os efeitos da avaliação, definindo o dia a dia da escola.

Diante disso, [...] as avaliações externas conectam-se com este processo complexo que ocorre, predominantemente, no interior da sala de aula para controlar o processo pedagógico - mas que tem suporte no planejamento da própria escola quando ela reage aos resultados das avaliações externas, através das avaliações internas (FREITAS et al., 2014, p. 1097).

Portanto, as avaliações externas combinadas às avaliações internas geram

no ambiente escolar pressão da gestão aos professores e destes para os

estudantes, contribuindo para a promoção das avaliações informais em que:

[...] se joga o destino dos estudantes, marcados por sucessivas microações no interior da sala de aula e da escola. Processos de exclusão são postos em marcha consolidando os estudantes em trilhas de progressão que nem sempre conduzem ao sucesso (FREITAS, et al., 2014, p. 1097).

Freitas ainda menciona que:

[...] com isso, os alunos que fracassam na escola, continuam a fracassar diante dessas avaliações que “não resolvem o problema das brechas de aprendizagem especialmente em relação às crianças mais pobres que são a grande “inspiração” dos reformadores empresariais da educação para introduzir as políticas de responsabilização” (FREITAS et al., 2014, p. 1098).

Diante do exposto, a nossa hipótese inicial é a de que as políticas de

avaliação externa podem interferir na prática pedagógica realizada pelos

professores e consequentemente na formação acadêmica dos estudantes.

A partir dessa hipótese, procuramos responder por meio dos dados

levantados, leituras realizadas sobre o tema e através da visão das docentes

sobre: A repercussão da avaliação externa na prática docente e a avaliação da

aprendizagem implantada nas instituições escolares no município de Monte Mor.

Essa questão provocou alguns outros questionamentos, os quais norteiam a

pesquisa, tais como:

1- Em que medida a política de avaliação externa interfere na prática

pedagógica docente?

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2- Como o professor tem compreendido a lógica da avaliação?

Partindo das questões apresentadas acima buscamos realizar a análise

dos dados por um objetivo geral:conhecer a visão das docentes em relação à

avaliação externa e sua prática docente. Do objetivo geral advêm alguns objetivos

específicos que procuraram:

1- Identificar no banco de dados do INEP (Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas) dados em relação ao IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação

Básica) das escolas municipais de Monte Mor que atendem as séries iniciais (1º

ao 5º ano) e que participaram da Prova Brasil.

2- Conhecer a perspectiva das docentes sobre a avaliação externa e de

que forma afeta a prática pedagógica realizada em sala de aula.

Na perspectiva de organizar o texto e as ideias em relação ao tema

constituímos este estudo assim:

No primeiro capítulo apresentamos a parte teórica em relação à temática

do trabalho, com isso situamos o campo da avaliação da aprendizagem e da

avaliação externa.

No segundo capítulodescrevemos os caminhos metodológicos de

realização da pesquisa, pautada em análise documental e em entrevistas

semiestruturadas e apresentamos a Rede Municipal de Ensino de Monte Mor, a

escola, o seu entorno e as características das participantes da nossa pesquisa.

No terceiro capítulorealizamos a análise de informações relativas às

entrevistas realizadas com as docentes da escola e uma proposta buscando

promover espaços de discussões e reflexões sobre a avaliação externa no

ambiente escolar.

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1. CAPÍTULO– SITUANDO O CAMPO DA AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM E

DA AVALIAÇÃO EXTERNA

Neste capítulo vamos tratar sobre a avaliação da aprendizagem e a

avaliação de larga escala.

1.1. Avaliação da aprendizagem

A cultura escolar está permeada por avaliações. No caso da avaliação da

aprendizagem tradicional, os estudantes são avaliados após o ensino dos

conteúdos escolares e lhes são atribuídos conceitos ou notas de acordo com o

resultado de um único instrumento: as provas. Desse modo o resultado pode

definir se o aluno está apto ou não a cursar a série/ano seguinte. De acordo com

Dias Sobrinho:

A avaliação, em um sentido amplo, é uma atividade que faz parte da vida humana e está presente no cotidiano dos indivíduos. Testes, provas e exames constituem boa parte da cultura escolar, como se fossem naturalmente ligados aos conhecimentos e à pedagogia. Nas práticas rotineiras, os educadores não costumam pensar que na avaliação como conceito geral pode haver relações, sentidos e intencionalidades que pouco ou nada têm a ver com a questão das aprendizagens e da formação humana, isto é, não apresentam uma intencionalidade educativa. Antes mesmo da institucionalização das escolas, a avaliação já era praticada para fins de seleção social. Com efeito, a avaliação está ligada à questão de escolhas, e a seleção social é tão “naturalmente” aderida a ela que passa como constituinte de sua essência (DIAS SOBRINHO, 2002, p. 17-18 - grifo do autor).

A avaliação neste modelo social e da escola capitalista é um instrumento

necessário a fim de avaliar o trabalho escolar, a prática docente e a

aprendizagem dos discentes, por isso deveria ser utilizado pelos professores e

pela escola visando acompanhar o desenvolvimento dos estudantes e possibilitar

o avanço dos mesmos. Essa ferramenta tem por objetivo auxiliar o processo de

aprendizagem e servir aos docentes à tomada de novas decisões por diferentes

metodologias buscando direcionar o aprendizado e, consequentemente, o

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progresso e a evolução do educando. Dito isso, ela pode servir como instrumento

de classificação ou atender aos fins da educação como um direito humano que

possibilita a emancipação dos sujeitos.

1.1.1. Avaliação como instrumento de classificação

A prática avaliativa adotada por algumas instituições escolares utiliza a

avaliação enquadrada em um formato autoritário que serve aos padrões de um

modelo social dominante e visa à manutenção e reprodução da sociedade e não a

sua transformação.

A avaliação da aprendizagem escolar no Brasil, hoje, tomada in genere, está a serviço de uma pedagogia dominante que, por sua vez, serve a um modelo social dominante, o qual, genericamente, pode ser identificado como modelo social liberal conservador (LUCKESI, 2005, p. 29 - grifos do autor).

Com isso, a avaliação passa a ser o centro do processo de ensino e a

prática educativa é direcionada pela pedagogia do exame. “A prática pedagógica

está polarizada pelas provas e exames” (LUCKESI, 2005, p. 18). Esse autor

acrescenta

Pais, sistema de ensino, profissionais da educação, professores e alunos, todos têm suas atenções centradas na promoção, ou não, do estudante de uma série de escolaridade para outra. O sistema de ensino está interessado nos percentuais de aprovação/reprovação do total dos educandos; os pais estão desejosos de que seus filhos avancem nas séries de escolaridade; os professores se utilizam permanentemente dos procedimentos de avaliação como elementos motivadores dos estudantes, por meio da ameaça; os estudantes estão sempre na expectativa de virem a ser aprovados ou reprovados e, para isso, servem-se dos mais variados expedientes. O nosso exercício pedagógico escolar é atravessado mais por uma pedagogia do exame que por uma pedagogia do ensino/aprendizagem (LUCKESI, 2005, p. 18 - grifos nossos).

Além disso, a prova é utilizada como mecanismo de controle, para manter

a atenção dos alunos e mantê-los quietos e como um “instrumento disciplinador,

típico de um modelo autoritário de educação que está a serviço de determinado

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modelo de sociedade”. (LUCKESI, 2005, p. 21). Abordando essa questão, afirma-

se que

A avaliação é usada como controle, com o objetivo de obter do aluno obediência, responsabilidade e participação. Quando o aluno não atende a estas expectativas, o professor, para conseguir o comportamento desejado do aluno, ameaça com a nota. O aluno, ao obter sua média, sabe que a nota é resultante do domínio do conteúdo e do comportamento apresentado em sala de aula. Na avaliação do aluno, havia uma variável emocional e subjetiva no ato de dar a nota. Tanto na avaliação do conteúdo (uma prova), como neste componente emocional, o “modelo de aluno” adotado pelo professor termina exercendo influência (BERTAGNA, 2002, p. 248).

Ao professor é dado poder de se fazer julgamento quanto ao destino do

aluno. Pois a avaliação realizada pelo docente é legitimada socialmente. Assim

sendo, a avaliação pode seguir um modelo autoritário, domesticador e contribuir

para a situação de fracasso escolar dos alunos.

Nesta abordagem não queremos cair na armadilha de considerar o professor como vilão (por ser o único responsável pelo fracasso da criança) ou vítima (por impossibilidade de fazer algo em função das determinações estruturais). Entendemos que o professor, como qualquer agente social, está perpassado por contradições (VASCONCELLOS, 2014, p. 39).

Porém,

A grande questão que se coloca é como vai dar conta dessa contradição, em que direção vai procurar a superação. Reconhecer suas limitações pode parecer muito ameaçador para o professor, dificultando o fluxo de emergência da consciência (fixação afetiva) (VASCONCELLOS, 2014, p. 40).

Diante da contradição posta é preciso compreender a lógica da avaliação

na sociedade em que estamos inseridos e o papel do professor no processo de

avaliação e o da educação buscando superar a lógica mercadológica de

educação e a responsabilização individual pelo fracasso escolar.

Ao professor,

[...] falta uma perspectiva de totalidade, onde compreenderia que a falha não é só dele e não é só por causa dele. A ideia corrente que se passa é que as coisas estão normais, sempre foram assim, atribuindo-se a culpa às carências das crianças e não ao sistema educacional (VASCONCELLOS, 2014, p. 40).

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Em contrapartida, a situação de fracasso não pode ser atrelada unicamente

ao aluno, pois:

[...] como vimos, normalmente, o professor percebe-se apenas a manifestação imediata do problema da avaliação, mas não consegue captar suas causas mais profundas. Falta-lhe compreender as causas determinantes desta situação, e especialmente sua participação neste processo (VASCONCELLOS, 2014, p. 40).

Quando a avaliação da aprendizagem escolar é utilizada apenas no sentido

de verificar o que o aluno aprendeu ou não, atribuindo-lhe uma nota ou conceito

sem se preocupar com a aprendizagem efetiva e com a formação dos alunos,

buscando modificar a situação na qual se encontram, a prática avaliativa utilizada

pela escola tem uma forte tendência a “reforçar e realimentar toda uma

organização já existente – da qual ela não é a origem nem a causa principal”

(VASCONCELLOS, 2014, p. 36). Portanto, pode contribuir para a reprodução da

situação atual.

Por conseguinte, a depender da concepção da escola em relação ao ser

humano que se pretende formar, a sociedade que se pretende construir, a

avaliação utilizada tende a contribuir com a classificação e estagnação do aluno.

O que pode gerar baixa autoestima e dessa forma o estudante passa a acreditar

em sua incapacidade de aprender. Assim, os indivíduos acreditam que são os

únicos responsáveis pelo seu fracasso educacional e no futuro, pelo seu fracasso

social.

Portanto, a avaliação pode servir:

[...] como instrumento de discriminação e seleção social, na medida em que assume, no âmbito da escola, a tarefa de separar os “aptos” dos “inaptos”, os “capazes” dos “incapazes”. Além disso, cumpre a função de legitimar o sistema dominante:

- Junto aos “aptos”: convidando-os a fazer parte, a tomarem seus “justos” lugares;

- Junto aos “inaptos”: impingindo-lhes a inculcação, a domesticação, convencendo-os de que são incapazes e por isso “merecem” o lugar que têm na sociedade (VASCONCELLOS, 2014, p. 36).

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Considerando o dissertado acima, compreendemos que a avaliação

classificatória como um instrumento de controle e de seleção social ocupa uma

função fundamental na sociedade capitalista que é a de reproduzir e perpetuar as

condições existentes, principalmente das camadas populares, reforçando a sua

lógica excludente e meritocrática, cujo objetivo da ideologia burguesa é:

[...] lançar a todos o convite, a sedução de chegar lá e convencer a quem “eventualmente” não chegar (ou seja, as grandes massas) de que, se não chegou, foi por sua própria responsabilidade (VASCONCELLOS, 2014, p. 36).

A síntese dessa ideia é que,

[...] as observações até aqui desenvolvidas demonstram que a aferição da aprendizagem escolar é utilizada, na quase totalidade das vezes, para classificar os alunos em, aprovados e reprovados (LUCKESI, 2005, p. 91).

O processo avaliativo classificatório possui caráter autoritário e não

diagnóstico. “Vários estudos corroboram no sentido de que a avaliação tem sido

centrada na sua função somativa (classificatória)” (BERTAGNA, 2002, p. 242).

Ainda sobre a predominância da avaliação somativa, Vianna (2002, p. 77)

pontua que:

A avaliação em nossas escolas – públicas ou privadas, confessionais ou laicas, boas ou más -, não importando suas motivações e objetivos, é eminentemente somativa, preocupada com os resultados finais, que levam a situações irreversíveis sobre o desempenho, sem que educadores considerem as várias implicações, inclusive sociais, de um processo decisório muitas vezes fatal do ponto de vista educacional.

Logo, “a função classificatória parece ser a mais valorizada, dentre as

funções da avaliação, tornando a nota mais relevante do que a produção do

conhecimento”. (BERTAGNA, 2002, p. 242). Nesse sentido,

A concepção de avaliação que marca a trajetória de alunos e educadores, até então, é a que define essa ação como julgamento de valor dos resultados alcançados. Daí a presença significativa dos elementos como prova nota, conceito, reprovação, registro e etc. nas relações estabelecidas. (HOFFMANN, 2000, p. 14).

Corroborando com esse argumento, Luckesi afirma

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O educando como sujeito humano e histórico; contudo, julgado e classificado, ele ficará, para o resto da vida, do ponto de vista do modelo escolar vigente, estigmatizado, pois as anotações e registros permanecerão, em definitivo, nos arquivos e nos históricos escolares, que se transformam em documentos legalmente definidos (2005, p. 35, grifo meu).

A função classificatória subtrai da prática da avaliação aquilo que lhe é

constitutivo: a obrigatoriedade da tomada de decisão quanto à ação, quando ela

está avaliando uma ação (LUCKESI, 2005, p. 35).

Classificações essas que são registradas e podem ser transformadas em números e, por isso, adquirem a possibilidade de serem somadas e divididas em médias. Será que o inferior não pode atingir o nível médio ou superior? Todos os educadores sabem que isso é possível, até mesmo defendem a ideia do crescimento. Todavia, parece que todos preferem que isto não ocorra, uma vez que optam por, definitivamente, deixar os alunos com as notas obtidas, como forma de “castigo” pelo seu desempenho possivelmente inadequado (LUCKESI, 2005, p. 34 – grifo do autor).

Autores como Hoffmann (2000) e Luckesi (2005) tratam a avaliação e a

definem como sendo um instrumento transcendente à mera verificação do

conhecimento e criticam a avaliação classificatória.

A avaliação, diferentemente da verificação, envolve um ato que ultrapassa a obtenção da configuração do objeto, exigindo decisão do que fazer ante ou com ele. A verificação é uma ação que “congela” o objeto; a avaliação, por sua vez, direciona o objeto numa trilha dinâmica de ação (LUCKESI, 2005, p. 93, grifos do autor).

Seguindo esse raciocínio,

A avaliação assume a função comparativa e classificatória, negando as relações dinâmicas necessárias à construção do conhecimento e solidificando lacunas de aprendizagem (HOFFMANN, 2000, p. 69).

A prática avaliativa possui função de reflexão do caminho percorrido tanto

pelo discente quanto pelo docente e por isso, deveria em seu processo buscar o

redimensionamento da direção da ação visando garantir a aprendizagem de

todos. Desse modo:

A avaliação é a reflexão transformadora em ação. Ação, essa, que nos impulsiona a novas reflexões. Reflexão permanente do

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educador sobre sua realidade, e acompanhamento, passo a passo, do educando, na sua trajetória de construção do conhecimento (HOFFMANN, 2000, p. 17).

De acordo com Hoffmann (2000, p. 32),

[...] para que se reconstrua o significado da ação avaliativa de acompanhamento permanente do desenvolvimento do educando, é necessário revitalizá-lo no dinamismo que encerra de ação, reflexão, ação.

O processo avaliativo pode comprometer o futuro dos estudantes,

principalmente, os das camadas populares dependendo do que se entende por

avaliação e a concepção de homem, de mundo e de sociedade que se pretende

formar.

Desse modo, temos observado que a avaliação, na lógica classificatória,

não tem contribuído efetivamente à aprendizagem e ao trabalho escolar, mas sido

utilizada como verificação apenas do conteúdo ensinado, visando à atribuição de

uma nota e chegando a classificação e seleção de estudantes em aptos ou

inaptos a acompanharem a série/ano seguinte.

A avaliação educacional escolar assumida como classificatória torna-se, desse modo, um instrumento autoritário e frenador do desenvolvimento de todos os que passarem pelo ritual escolar, possibilitando a uns o acesso e aprofundamento no saber, a outros a estagnação ou a evasão dos meios do saber. Mantém-se assim a distribuição social (LUCKESI, 2005, p. 37).

Quando a escola está organizada em séries pressupõe que todos os

alunos tenham o mesmo nível de conhecimentos adquiridos nos anos anteriores

da escolaridade e a mesma capacidade intelectual de aprendizagem. Entretanto,

sabemos que os indivíduos não assimilam e não produzem o conhecimento da

mesma maneira e ao mesmo tempo, porque cada sujeito histórico possui suas

próprias experiências pessoais, familiares e escolares, portanto não é possível

enquadrar os alunos em um mesmo nível, até porque a desigualdade social leva

também a privação de alguns estudantes à cultura valorizada pela escola. Diante

disso:

Para que todos aprendam adequadamente os conteúdos divididos em séries e disciplinas, é necessário que as crianças ou os

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adolescentes colocados em cada série tenham mais ou menos as mesmas condições, tanto em relação às experiências de aprendizagem quanto à capacidade intelectual (JACOMINI, 2009, p. 560).

A organização da escola em séries e a avaliação como verificação apenas

dificulta o processo de aprendizagem, o desenvolvimento e progressão dos

estudantes, pois o aluno que não conseguiu atingir os objetivos da série em que

está matriculado é reprovado ao final do ano letivo. Logo, a explicação dada ao

sucesso de alguns e ao fracasso de outros se reduz à lógica do esforço pessoal.

Todos tiveram acesso à escola e aos conteúdos ensinados ao mesmo tempo e do

mesmo modo, se alguns obtiveram êxito é porque se esforçaram mais. Para

Freitas (2014, p. 19) “A ideologia do esforço pessoal explicaria a diferença entre

ser bem-sucedido ou não”. De forma implícita, a escola reforça a prática seletiva e

dissemina a lógica meritocrática.

A escola não declara a incorporação de tal função seletiva em sua prática, antes a esconde e oculta. Em geral, neste contexto, a avaliação tem sido utilizada para legitimar a distribuição desigual das rotas de sucesso e fracasso dos estudantes, sob o argumento da meritocracia (FREITAS, et. al, 2014, p. 19).

O modelo de estrutura do Ensino Fundamental é referendado pela

organização da escola em séries, a qual reforça a seletividade, a

homogeneização dos tempos de aprendizagem e também dos altos índices de

reprovação.

A organização do trabalho pedagógico da escola em sua forma seriada, por exemplo, esconde uma concepção de educação baseada na seletividade pela homogeneização dos tempos da aprendizagem. Tal homogeneização fornece igualdade de acesso, mas não necessariamente igualdade de desempenho, já que os ritmos de aprendizagem dos estudantes são diferenciados (FREITAS, et. al, 2014, p. 19).

Esse tipo de organização apontada por Freitas também foi destacado por

Arroyo:

A organização dos tempos de ensino aprendizagem não respeita a especificidade de seus tempos de aprender, de socialização, de descobertas, de ação. A organização segmentada, linear, rígida do que aprender e como ensinar-aprender-avaliar se choca com os processos mentais próprios de mentes infantis (2011, p. 189).

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Além disso, “os docentes-educadores são obrigados a seguir essa

organização e os alunos são forçados a seguir com êxito estes percursos ou

serão reprovados, retidos e humilhados” (ARROYO, 2011, p. 190).

A prova mais clara desses desencontros entre a estrutura do Ensino Fundamental e os processos de aprender da infância são os altíssimos índices de reprovação-repetência desde a 1ª série e ao longo de todas as séries (ARROYO, 2011, p. 190).

Os alunos são estereotipados pelas reprovações que muitas vezes,

ocorrem por mais de uma vez e vistos como alunos que apresentam dificuldade

de aprendizagem sem considerar a organização da estrutura do Ensino

Fundamental e os processos de aprender da infância. Desse modo,

[...] o argumento - os alunos têm problemas de aprendizagem – aponta para algo que não está nas mentes infantis, mas no desrespeito a seus processos-tempos de aprender que as estruturas do Ensino Fundamental impõem (ARROYO, 2011, p. 190).

E assim, os alunos e os professores passam a ser responsabilizados pela

não aprendizagem. Contudo, de acordo com Arroyo,

culpar os educandos e as supostas incompetências dos mestres é uma forma de não reconhecer os desencontros entre as estruturas escolares, a organização dos tempos de ensinar-aprender e os processos específicos de aprender de crianças, inclusive de 7 a 10 anos. Desencontros que desrespeitam a especificidade de seu tempo humano submetendo a infância a uma organização que violenta seus processos de desenvolvimento pleno (2011, p. 190).

Portanto, a organização da escola em séries e o funcionamento da

avaliação compreendida na lógica classificatória corroboram com o processo de

seleção e exclusão, prejudicando o desenvolvimento e a formação de estudantes.

O EF quase foi praticamente universalizado, conseguimos superar um fator

de exclusão, a do acesso, no entanto, ainda convivemos com a exclusão pela

reprovação e evasão no interior da própria escola. Isso leva alunos, familiares e a

sociedade à crença de que “estudar não é para todos” - apesar de ser um direito

constitucional -, mas isso é compreendido não porque o sistema cria formas de

exclusão, porém, a explicação dada é porque o aluno não é capaz ou não

“nasceu para isso”.

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Mesmo após a democratização do acesso à escola, a organização do processo de ensino-aprendizagem manteve características da escola tradicional seletiva. Entre elas, pode-se destacar a distribuição dos conteúdos por séries e a utilização de metodologias, tempos e avaliações uniformes (JACOMINI, 2009, p. 564).

Essa forma de organização escolar desconsidera as diferenças do

processo de aprendizagem entre os estudantes. O ensino realizado de forma

tradicional com a transmissão de conteúdos aos alunos, geralmente de forma

oral, espera que os alunos aprendam da mesma maneira e são avaliados de

forma linear. Os conteúdos são transmitidos e cobrados nas provas, isso reforça

as desigualdades educacionais e promove a exclusão de alunos que não se

adéquam a esse tipo de sistema. Dessa forma de acordo com Jacomini (2009) a

reprovação acaba por,

[...] responsabilizar de forma unilateral os alunos e os pais, especialmente os das classes populares, pelo desempenho escolar, transformando um problema que é social e educacional em questões individuais vinculadas à capacidade ou ao empenho de cada um (2009, p. 565).

1.1.2. Avaliação diagnóstica

Para romper com a lógica de avaliação classificatória e autoritária, Luckesi

(2005, p. 32) propõe que “a avaliação educacional deverá manifestar-se como um

mecanismo de diagnóstico da situação, tendo em vista o avanço e o crescimento

e não a estagnação disciplinadora.

Para não ser autoritária e conservadora, a avaliação terá de ser diagnóstica, ou seja, deverá ser o instrumento dialético do avanço, terá de ser o instrumento da identificação de novos rumos. Enfim, terá de ser o instrumento do reconhecimento dos caminhos percorridos e da identificação dos caminhos a serem perseguidos

(LUCKESI, 2005, p. 43).

A avaliação emancipatória visa o acompanhamento da aprendizagem do

aluno, sua formação com vistas ao seu desenvolvimento, deve servir como um

instrumento para verificar a aprendizagem dos estudantes, assim como promover

a reflexão da prática docente e possibilitar o encaminhamento de novas práticas

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tendo em vista o avanço dos estudantes e não limitá-los à classificação, pois esta

“não auxilia em nada o avanço e o crescimento” (LUCKESI, 2005, p. 35).

Nesse sentido, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) n. 9394

(BRASIL, 1996) afirma que a avaliação deve ser contínua e cumulativa, ou seja, o

processo do aluno e seu desenvolvimento devem ser avaliados. Não tendo

apenas os resultados finais como critérios de avaliação e sinalização da

aprovação ou reprovação do aluno.

Art. 24 - A educação básica, nos níveis fundamental e médio, será organizada de acordo com as seguintes regras comuns: V- a verificação do rendimento escolar observará os seguintes critérios:

a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais;

Entretanto, vemos que a prática avaliativa contínua não tem sido realizada

por algumas escolas, e a avaliação tem sido baseada nos resultados finais

obtidos somente por meio das provas.

Vianna (2002, p. 77-78) aponta para a importância da avaliação formativa

no sentido de que “uma avaliação continuada do processo de aquisição de

conhecimentos, seria desejável para que as crianças/estudantes, em seus vários

níveis, pudessem ter o seu desempenho escolar orientado no sentido da

realização de objetivos claros e sequenciados”.

Todavia, ainda de acordo com o mesmo autor:

[...] essa avaliação, possível aspiração de alguns, é ignorada pela grande massa de educadores. Os procedimentos avaliativos em sala de aula, quando existem, nem sempre levam à identificação das dificuldades que as crianças/ estudantes encontram para aprender e não estabelecem um sistema de reação imediata aos possíveis problemas ligados ao ensino-aprendizagem. As aulas não constituem um ambiente estimulador e o trabalho das crianças/estudantes é proposto em função de uma nota ou um conceito. Não se discutem erros substantivos, não se reformulam experiências, com a aquisição de novas aprendizagens.

Nessa perspectiva a avaliação,

deverá encaminhar-se a um processo dialógico e cooperativo, através do qual educandos e educadores aprendem sobre si mesmos no ato próprio da avaliação. Se analisarmos seriamente as contradições hoje imanentes à avaliação, perceberemos que as

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explicações ultrapassam os muros das escolas. As relações de poder que se travam em nome dessa prática são reflexos de uma sociedade liberal e capitalista, que se nutre de exigências burocráticas para mascarar o seu verdadeiro descaso com a educação em todos os níveis. É urgente encaminhar a avaliação, a partir da efetiva relação professor e aluno, em benefício da educação do nosso país, contrapondo-se à concepção sentenciva, grande responsável pelo processo de eliminação de crianças e jovens da escola (HOFFMANN, 2005, p. 39).

É muito comum ouvir dos estudantes: “É pra nota?”; “Vai cair na prova?”.

Esses questionamentos nascem de uma cultura escolar centrada nas avaliações

e no estudar para tirar nota e não para aprender. “Na realidade, o conhecimento

aprendido só tem valor se o professor lhe atribuir uma nota. O valor do

conhecimento é reduzido à obtenção da nota” (BERTAGNA, 2002, p. 248).

Luckesi (2014) traz em seu texto o que a média dos alunos tem revelado

sobre sua aprendizagem. A nota revela realmente a aprendizagem satisfatória?

De acordo com ele não, porque os alunos devem aprender o mínimo necessário

para se autogovernar. O que temos visto é que os estudantes têm aprendido o

mínimo possível para passar de série/ano.

As notas escolares, como vêm sendo praticadas em nossas escolas, não nos ajudam a realizar o sonho, a esperança e o desejo da democratização do ensino. Ao contrário, camuflam a realidade para que não enxerguemos os seus limitados processos e resultados (LUCKESI, 2014, p. 17).

O que é o mínimo necessário? Os discentes só passariam para um

conteúdo novo, quando tivessem atingido o patamar mínimo necessário.

Alguns alunos, devido às diferenças individuais, culturais e sociais, ultrapassarão, facilmente ou com certa dose de trabalho, o mínimo necessário; outros, porém, pelo menos, chegarão ao mínimo. Isso garantiria uma equalização entre os alunos, ao menos nas condições mínimas de aprendizagem dos conteúdos escolares. Esse seria um caminho para garantir a socialização do saber, no contexto da escola, pois todos adquiririam o mínimo necessário, e a avaliação estaria a serviço desse significativo processo social e político (LUCKESI, 2003, p. 98).

É preciso salientar que de acordo com Luckesi (2003, p. 98) “o mínimo

necessário deverá ser ensinado e aprendido por todos, porém não há razão para

não ir além dele”.

Luckesi propõe que todos os alunos adquiram o mínimo equalizando as

condições de aprendizagem e desenvolvimento entre os estudantes. Dessa

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forma, é preciso garantir pelo menos o mínimo a todos, porém sem se ater ao

mínimo, pois o mínimo necessário “representa o limite mais baixo a ser admitido

numa aprendizagem essencial” (2003 p. 98).

Portanto, o que não podemos admitir é que muitos educandos fiquem aquém do mínimo necessário de conhecimentos, habilidades e hábitos que delineiem as possibilidades do seu desenvolvimento (LUCKESI, 2003, p. 98).

Este mínimo é estabelecido pelo coletivo dos educadores que trabalham

em um determinado programa escolar, em articulação com o desenvolvimento da

ciência, com a qual trabalham no contexto da sociedade contemporânea em que

vivemos. “Caso contrário, cairemos num arbitrarismo sem tamanho, com

consequências negativas para os educandos, que ficarão carentes de conteúdos,

habilidades, hábitos e convicções” (LUCKESI, 2003, p. 98).

Em contraposição ao modelo classificatório, defendemos a avaliação

emancipatória com vistas ao desenvolvimento do educando, pois deve servir

como instrumento de avaliação da aprendizagem dos estudantes assim como

promover a reflexão da prática docente e possibilitar o encaminhamento de novas

práticas tendo em vista o avanço dos alunos e não limitá-los à classificação, pois

esta “não auxilia em nada o avanço e o crescimento” (LUCKESI, 2005, p. 35).

Na próxima seção abordaremos a avaliação externa. As avaliações

externas quando bem direcionadas podem ser utilizadas para diagnosticar o

sistema educacional, e auxiliar o trabalho dos profissionais da educação,

tornando-se um instrumento para o acompanhamento e melhoria do processo

educacional.

1.2. Avaliação externa da educação básica

Nesta parte do texto, de maneira sucinta, descrevemos como foi se

constituindo a política de avaliação externa da educação básica, mais

especificamente, o SAEB e a Prova Brasil.

As avaliações de sistemas educacionais começaram a ser organizadas no

Brasil entre o final dos anos 1980 e o início da década de 1990. Esse percurso se

inicia como parte de uma agenda global para a educação, a qual certificava

centralidade aos processos de avaliação no sentido de conferir a qualidade da

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educação. Esse quadro resulta do impacto das organizações internacionais, a

exemplo da OCDE.

[...] entramos numa nova fase de desenvolvimento do Estado-avaliador e, neste novo contexto, dezenas de Estados, independentemente das suas orientações político-ideológicas e, em grande medida, acima delas, participam ou interferem ativamente, de formas diversas, na construção de um sistema de avaliação comparada internacional, cujas consequências, mais imediatas, permitem vincular e legitimar muitos discursos e muitas políticas nacionais para a educação e a formação (AFONSO, 2012, p. 475).

De acordo com Freitas (2013, p. 71) nos anos 1980 iniciou a organização

da avaliação em nosso país decorrente do “quadro crítico da expansão acelerada

e improvisada do ensino nos anos 1970, que colocou em tela o problema da

“baixa qualidade” do ensino fundamental; intensificação da demanda social pela

democratização da educação no processo de redemocratização da sociedade

brasileira; desenvolvimento de projetos educacionais com financiamento externo;

formação de especialistas em avaliação educacional e de pesquisadores em

educação”.

Buscando esclarecer a política e gestão da educação básica, nos anos

1980, foram realizados vários estudos sobre os sistemas educacionais,

instituições escolares, desempenho de alunos, recursos. A partir disso originaram

“os primeiros estudos avaliativos com procedimentos de avaliação em larga

escala” (FREITAS, 2013, p. 73).

A década de 1980 foi permeada por avaliações de rendimento dos

estudantes produzidos em alguns estados específicos do país. O baixo resultado

produzido pelas avaliações repercutiu no Ministério da Educação, nas Secretarias

de Educação estaduais e na mídia, “criando nas administrações públicas

interesse pelos processos avaliativos”(GATTI, 2013, p. 54).

De acordo com Gatti (2013)

[...] dispunha-se de muitas informações sobre as quais se poderia debruçar, refletir e tirar inferências tanto para políticas dirigidas às redes de ensino como um todo, como para questões da aprendizagem de alunos nas salas de aula (p. 54).

Considerando os resultados insatisfatórios em relação às avaliações e de

informações a respeito das escolas, dos professores e dos alunos, havia

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55

necessidade de se obter dados mais abrangentes em relação a essas questões e

no ano de 1988 foi anunciada uma proposta de Sistema de Avaliação do Ensino

Público de Primeiro Grau (SAEP) ao MEC (Ministério da Educação), que

impulsionou o desenvolvimento de uma política de avaliação nacional e culminou

com a criação do SAEB- Sistema de Avaliação da Educação Básica, mais

precisamente em 1989, um instrumento para acompanhamento global das redes

de ensino, cujo objetivo é

[...] de traçar séries históricas do desempenho dos sistemas, que permitem verificar tendências ao longo do tempo, com finalidade de reorientar políticas públicas (FREITAS, 2012, p. 47).

Ainda no início dos anos noventa o Brasil participou do Programa

Internacional de Avaliação de Proficiência (PISA). Na época esse abarcava vinte

e sete países e possuía caráter comparativo. No entanto, no Brasil somente as

capitais de Fortaleza e de São Paulo participaram o que comprometeu a

comparação pretendida. Naquele momento foram avaliados estudantes de 13

anos, independente da série em que se encontravam. Segundo Gatti (2013, p. 55)

“a ideia desse estudo internacional era procurar saber qual domínio de

conhecimentos teriam as crianças dessa idade em cada um dos países

participantes”. Os alunos dessa faixa etária das duas capitais demonstraram baixo

desempenho (VIANNA, 1992 apud GATTI, 2013, p. 56).

A implementação de uma política de avaliação mais estruturada de redes

de ensino ocorreu após resultados negativos de avaliação em âmbito

internacional - PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) tal

como o conhecemos hoje. Nessa situação, no ano de 1993 o MEC (Ministério da

Educação) juntamente com as Secretarias de Educação colocou para funcionar o

SAEB:

Essa avaliação tinha por base uma amostra nacional de alunos abrangendo séries do ensino fundamental e médio, inicialmente com provas objetivas no modelo clássico, e aplicação de questionários informativos sobre alunos e escolas, com a finalidade de estudar fatores intervenientes nos desempenhos (GATTI, 2014, p. 18-19).

O Ministério da Educação expandiu a avaliação de desempenho do

sistema educacional, a qual funcionava por amostragem (nem todos os alunos

participavam). E o objetivo era:

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Prover informações para tomadas de decisão quanto a diversos aspectos das políticas educacionais, bem como para pesquisas e discussões, a partir da geração e organização de informações sobre o desempenho acadêmico dos alunos no sistema e fatores a ele associados (GATTI, 2013, p. 56).

Desde 1990 até 2002 o SAEB foi o aparelho utilizado pelo governo federal

com o objetivo de avaliar os sistemas educacionais de educação básica do país.

Durante esse período esse instrumento foi sendo organizado, institucionalizado e

aperfeiçoado. Em sua origem fundamentava-se em teorias relativas à

necessidade da avaliação na integralidade dos processos educativos e indicava

alguns eixos multidimensionais: a universalização da qualidade, a valorização do

professor e a gestão educacional.

Após dois ciclos de levantamento de dados (1990 e 1993), o SAEB trazia

intenções de que o governo federal deveria reforçar sua capacidade de controle

dos sistemas educacionais. E isso seria possível, por meio da avaliação externa

centralizada e voltada à aferição do rendimento dos estudantes, enfatizando os

resultados dos sistemas educacionais.

Contudo, de acordo com Freitas (2013) isso não seria fácil até porque

estavam em curso mecanismos que possibilitavam a descentralização. Desse

modo, uma das metas do SAEB seria o de definir uma cultura avaliativa, isto é,

gerar bases conceituais e pressupostos invisíveis (valores, crenças,

comportamentos) para sustentar a modalidade de avaliação adotada pelo governo

federal, promovendo o sucesso de sua política centralizadora de poder de decisão

e controle. Isso propiciaria ao governo federal acionar permanentemente a

avaliação articulando-se às Secretarias de Educação de forma meramente

operacional.

Com quadro amostral e instrumental em aperfeiçoamento, o SAEB garantiu

periodicidade de aplicação bienal a partir de 1995. Nesse mesmo ano, uma

mudança abrupta ocorreu em relação à origem do sistema. Diante disso, os

“testes de desempenho e questionários ganharam protagonismo, e os outros

instrumentos previstos no projeto original deixaram de ser aplicados” (SANTOS,

2017, p. 7).

As provas começaram a ser aplicadas a cada dois anos e coletavam,

informações sobre o desempenho da aprendizagem de estudantes da 4ª e 8ª do

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ensino fundamental e do 3º ano do Ensino Médio em Língua Portuguesa (leitura)

e Matemática (cálculo e resolução de problemas). Além das provas que aferiam o

conhecimento cognitivo, eram aplicados questionários, cujo objetivo era o de

levantar informações relativas às características dos alunos, escolas e contextos

sociais a fim de identificar questões associadas aos resultados das avaliações e

informar estudos.

Inicialmente os resultados das avaliações eram baseados na Teoria

Clássica de avaliação e no ano de 1995 passou a ser utilizada uma nova

metodologia: Teoria de Resposta ao Item. Dessa forma, foi possível estabelecer a

comparação entre os resultados das avaliações ao longo do tempo. A nova

metodologia estabeleceu técnicas de elaboração de itens, construção de matrizes

curriculares de referência para a constituição das provas, organizando o

tratamento informatizado dos dados levantados e da computação de resultado.

Além disso, criação de escalas para interpretação dos resultados e

desenvolvimento para sua divulgação.

As avaliações ocorriam por amostragem e a partir da criação da Prova

Brasil, no ano de 2005, passou a ser censitária. Luiz Carlos de Freitas fez críticas

em relação a esse tipo de sistematização, pois, assim se gasta muito. A prova

poderia ser realizada por amostragem, sem comparações entre escolas e capaz

de identificar questões importantes relacionadas à aprendizagem, ensino,

insumos, contextos sociais a serem melhoradas nos sistemas educacionais.

Alguns estados do país adotaram a avaliação censitária, tendo em vista,

ser mais impactante nas redes e escolas. Somado a isso, o interesse do INEP na

instrumentação e no monitoramento nacional dos resultados do ensino

fundamental e médio.

A Prova Brasil promoveu ao governo federal agregar à avaliação de

sistemas educacionais a avaliação do desempenho de escolas públicas urbanas

de ensino fundamental. Com a adoção da metodologia censitária, essa prova

passou a oferecer dados por turma, escola, redes escolares, municípios, estados

e país.

A divulgação dos resultados da Prova Brasil por meio das mídias levou ao

conhecimento da sociedade e ao meio educacional e isso ocorreu rapidamente.

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A propagação dos resultados da Prova Brasil reverberou em comportamentos

orientados para a comparação, competição, premiação e punição.

Outra inovação realizada pelo governo federal foi o IDEB, em 2007, o

Índice de Desenvolvimento da Educação Básica une dois indicadores: o fluxo

(aprovação e evasão) e o desempenho cognitivo dos estudantes em provas. As

informações advêm do Censo Escolar, da Prova Brasil e do SAEB.

A qualidade do ensino passou a ser baseada no índice obtido pelas

escolas, município e estados e sua melhoria atrelada às metas propostas pelo

MEC a serem atingidas. O mínimo a ser alcançado até o ano 2021é 6,0.

No entanto, quando considerados fluxo escolar e desempenho na prova

pelos estudantes, “o IDEB acaba contribuindo para que a busca de melhoria da

qualidade do ensino seja vista e enfrentada de forma mais estreita” (FREITAS,

2013, p. 75).

Desde a criação do SAEB, esse sistema sofreu algumas mudanças. A fim

de acompanharmos as alterações ocorridas no formato das avaliações ao longo

dos anos apresentamos um quadro abaixo demonstrando como foi se

modificando desde a sua implantação.

Quadro 1- Histórico da Avaliação externa no Brasil (1990 – 2019)

Ano Público alvo Abrangência Disciplinas avaliadas Inovações

1990 1ª, 3ª, 5ª e 7ª séries do EF

Escolas Públicas (amostral)

Português,Matemática, Ciências e redação

_____

1993 1ª, 3ª, 5ª e 7ª séries do EF

Escolas Públicas (amostral)

Português, Matemática, Ciências e redação

_____

1995 1ª, 3ª, 5ª e 7ª séries do EF

Escolas Públicas (amostral)

Português,Matemática, Ciências Redação

Nova metodologia de construção do teste e análise de resultados: a Teoria de Resposta ao Item (TRI). Dessa forma, a comparabilidade entre os resultados das avaliações ao longo do tempo se tornou possível. Ocorreu também o levantamento de dados contextuais (Questionários)

1997 4ª 8ª série e 3ª série do EM

Escolas Públicas e particulares (amostral)

Português, Matemática, Ciências, Física, Química e Biologia

_____

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1999 4ª 8ª série e 3ª série do EM

Escolas Públicas e particulares (amostral)

Português, Matemática, Ciências, Física, Química e Biologia, História e Geografia

_____

2001 4ª, 8ª série e 3ª série do EM

Escolas Públicas e particulares (amostral)

Português e Matemática

_____

2003 4ª 8ª série e 3ª série do EM

Escolas Públicas e particulares (amostral)

Português e Matemática

_____

2005 4ª, 8ª série e 3ª série do EM

Escolas Públicas e particulares (amostral) Estratos censitários IDEB

Português e Matemática

O sistema passou a ser composto por duas avaliações: ANEB e ANRESC, conhecida como Prova Brasil. A ANEB manteve os procedimentos da avaliação amostral (atendendo aos critérios estatísticos de no mínimo 10 estudantes por turma) das redes públicas e privadas, com foco na gestão da educação básica que até então vinha sendo realizada no SAEB. A ANRESC (Prova Brasil) passou a avaliar de forma censitária as escolas que atendessem aos critérios de no mínimo 30 estudantes matriculados na última etapa dos anos iniciais (4ªsérie/5º ano) ou dos anos finais (8ªsérie/9ºano) do EF das escolas públicas, permitindo gerar resultados por escola.

2007 4ª 8ª série e 3ª série do EM

Escolas Públicas e particulares (amostral) Estratos censitários IDEB

Português e Matemática

_____

2009 4ª 8ª série e 3ª série do EM

Escolas Públicas e particulares (amostral) Estratos censitários IDEB

Português e Matemática

_____

2011 4ª 8ª série e 3ª série do EM

Escolas Públicas e particulares (amostral) Estratos

Português e Matemática

_____

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censitários IDEB

2013 5º e 9º ano

Escolas públicas (censitário) Escolas privadas (amostral)

Português e Matemática

A ANA, prevista no PNAIC, passou a compor o SAEB, inclusão em caráter experimental da avaliação de Ciências, a ser realizada com os estudantes do 9º ano do EF. Neste ano foi aplicado, em caráter de estudo experimental, um pré-teste de Ciências Naturais, História e Geografia que não geraram resultados para a edição.

9º ano

Escolas públicas (amostral)

Português e Matemática

3ª e 4ª série do EM

Escolas públicas e privadas (amostral)

Português e Matemática

2015 5º e 9º ano Escolas Públicas (censitário) e privadas (amostral)

Português e Matemática

Disponibilizada a Plataforma Devolutivas Pedagógicas que aproxima as avaliações externas de larga escala e o contexto escolar, tornando os dados coletados mais relevantes para o aprendizado dos alunos. A partir da disponibilização dos itens utilizados na Prova Brasil, descritos e comentados por especialistas, a Plataforma traz diversas funcionalidades que poderão ajudar professores e gestores a planejar ações e aprimorar o aprendizado dos estudantes.

3ª e 4ª série do EM

Escolas públicas e privadas (amostral)

Português e Matemática

2017 5º e 9 ano Escolas Públicas (censitário) e privadas (amostral)

Português e Matemática

Avaliação torna-se censitária para a 3ª série do Ensino Médio. Aberta possibilidade de adesão das escolas privadas com oferta da 3ª série do Ensino Médio.

3ª e 4ª do EM Escolas públicas (censitário) Escolas privadas (amostral) + adesão

Português e Matemática

2019 Creche e pré-escolas da Educação Infantil (utilização de questionários)

Escolas públicas (amostral) Estudo piloto

A avaliação da alfabetização será realizada no 2º ano do EF de forma amostral. Começa a avaliação da El, em caráter de estudo piloto, com aplicação de questionários eletrônicos exclusivamente para professores e diretores. Amostra de estudantes do 9º ano do EF para avaliar Ciências da Natureza e Ciências Humanas. A BNCC passa a ser referência na

2º ano do EF Escolas públicas e privadas (amostral)

Português e Matemática

5º e 9º ano Escolas públicas (censitário) e

Português e Matemática

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privadas (amostral)

formulação dos itens do 2º ano (Língua Portuguesa e Matemática) e do 9º ano (Ciências da Natureza e Ciências Humanas). Secretários municipais e estaduais também responderão a questionários eletrônicos.

9 º ano Escolas públicas e privadas (amostral)

Ciências da Natureza e Ciências Humanas

3ª e 4ª série do EM

Escolas públicas (censitário) Escolas privadas (amostral)

Português e Matemática

Fonte: Elaborado pela autora a partir de dados do INEP/2019.

Conforme já mencionado no texto, destacamos no quadro acima que a

partir de 1995 foi adotada na construção do teste e análise de resultados a Teoria

de Resposta ao Item (TRI), sendo possível comparar os resultados das

avaliações ao longo dos anos.

A partir de 2001 observamos que as provas reduzem a avaliação apenas

para duas disciplinas: Português e Matemática.

Em 2005, o SAEB começou a compor duas avaliações: a Avaliação

Nacional da Educação Básica (ANEB) a qual “manteve as características, os

objetivos e os procedimentos da avaliação efetuada até aquele momento” (INEP,

2019). A Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (ANRESC), denominada de

Prova Brasil e foi criada com o intuito de “avaliar a qualidade do ensino ministrado

nas escolas da rede pública” (INEP, 2019). Ao inserir a Prova Brasil no processo

de avaliação educacional, essa começou a ser aplicada de modo universal, isto é,

todos os estudantes passaram a realizá-la.

Freitas (2013) afirma que:

As avaliações de larga escala deixam de ser amostrais e passam a ser censitárias – mesmo que custem mais. O ranqueamento e o controle exigem que escolas e alunos sejam medidos de forma individual com vistas à implementação da responsabilização e da meritocracia (p.150).

A Prova Brasil foi agregada ao SAEB, ocorre a cada dois anos e avalia os

alunos dos quintos e nonos anos.

A Prova Brasil e o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) são avaliações para diagnóstico, em larga escala, desenvolvidas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Têm o objetivo de avaliar a qualidade do ensino oferecido pelo sistema educacional brasileiro

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a partir de testes padronizados e questionários socioeconômicos (INEP/MEC 2018).

A partir de 2007, houve a inserção de um indicador de qualidade: o IDEB –

Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, composto pelo fluxo escolar e as

médias de desempenho dos alunos, dados nacionais. Essas médias referem-se

ao desempenho no SAEB para os Estados e na Prova Brasil para os municípios.

(GATTI, 2014).

Em relação ao IDEB,

A partir de 2007 os resultados da Prova Brasil passaram a integrar o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), referência para a definição de metas bianuais com valores estimados a serem alcançados, gradualmente, pelas escolas e sistemas de ensino até 2021(BONAMINO, 2013, p. 51).

No ano de 2013 também passou a fazer parte do SAEB a Avaliação

Nacional da Alfabetização (ANA) com o objetivo de mensurar a alfabetização e

letramento em Língua Portuguesa e Matemática.

Em 2017 além das escolas públicas de EF as de EM, as públicas e as

privadas começaram a produzir resultados no SAEB, assim como no IDEB. A

partir de 2019, as siglas ANA, ANEB e ANRESC foram excluídas e todas as

avaliações serão denominadas pelo nome SAEB.

Vale salientar que as transformações educacionais ocorridas a partir da

década de 1990 são decorrentes das mudanças sociais relativas à economia, a

política e a tecnologia em que “a racionalidade econômica prevalecente ancorou o

programa brasileiro de reestruturação econômica no interior do qual as políticas

sociais subordinaram-se a imposições de mercado”.

A política educacional orientou-se para a busca de eficiência e eficácia na gestão educacional, estabelecendo novas formas de regulação educacional. Nesse contexto, a avaliação passou a ser acionada consoante a essa racionalidade, centrada nos resultados e com vistas à gestão por resultados.

Portanto, podemos perceber as transformações que o aparelho avaliativo

do governo foi sofrendo no decorrer dos anos e como essas impactaram de

maneira negativa a avaliação ocorrida Brasil a fora, com o estabelecimento de

rankings como forma de estimular a competição entre escolasvisando atingir a

suposta qualidade. Com isso, reverberando valores de comparação, competição,

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individualismo ao divulgar por meio das mídias as notas das escolas e associá-las

a visão meritocrática.

Nesse sentido, algumas instituições aderiram a esse tipo de ideologia e

passaram a organizar os seus objetivos, o seu currículo e suas metodologias de

ensino com vistas a alcançarem as metas propostas por esse tipo de política.

Concordamos e nos identificamos com a concepção de avaliação

contra hegemônica e contrarregulatória proposta por Freitas (2005), a qual,

[...] é resistência propositiva que cria compromissos ancorados na comunidade mais avançada da escola (interna e externa), com vistas a que o serviço público se articule com seus usuários para, quando necessário, resistir à regulação (contra-regulação) e, quando possível, avançar tanto na sua organização como na prestação de serviços da melhor qualidade possível (justamente para os que têm mais necessidades), tendo como norte a convocação de todos para o processo de transformação social. Contrarregulação não é a mera obstrução ou um movimento de “fechar as fronteiras da escola” com relação às políticas centrais, penalizando o usuário do sistema público (FREITAS, 2005, p. 912).

Nesse sentido, o nosso embasamento teórico e nossa posição é

frente às políticas de avaliação regulatórias e, por conseguinte, às práticas que

vêm sendo adotadas por alguns municípios a fim de reforçarem o papel regulador

das avaliações e impulsionar valores excludentes e meritocráticos.

1.2.1. A função da avaliação externa e seu desvirtuamento

A concepção formativa da avaliação como já mencionamos tem por

objetivo utilizar os resultados desta no sentido de melhorar a qualidade das

aprendizagens e do processo educativo, com a exigência de uma contrapartida de

responsabilidades assumidas pela comunidade interna da escola, com reflexos

positivos na sua organização” (FREITAS, 2005, p. 929).

A avaliação processual, diferentemente da avaliação classificatória, é

reconhecer as dificuldades apresentadas na relação ensino e aprendizagem, e a

partir disso estabelecer outro planejamento e definir metas a serem desenvolvidos

com os estudantes.

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Assim, a avaliação, como uma ferramenta importante no processo

educacional, propicia informações, auxilia e direciona a trajetória a ser trilhada,

delineando a qualidade de ensino que está sendo construída. Esse é um

processo que se faz constantemente, é um círculo virtuoso, conforme apontaram

(SORDI; LUDKE, 2009). Por isso, não se reduz em metas numéricas a serem

atingidas, como vem sendo difundido o conceito de qualidade da educação,

proposta pela nota do IDEB.

Para Freitas et al (2014) é necessário que ocorra a avaliação de redes de

ensino e que essas sejam monitoradas pelo poder público, tendo em vista o

acompanhamento dos processos de ensino realizados pelas instituições

escolares e sua constante melhoria, sendo assim alerta que isso será viável,

quando conduzidas com metodologia adequada podem trazer importantes informações sobre o desempenho dos alunos, dados sobre os professores, condições de trabalho e funcionamento das escolas de uma rede (FREITAS, et al. 2014, p. 47).

O objetivo da avaliação externa é funcionar como um diagnóstico das

escolas para refletir em ações e em processos de melhoria do ensino e da

qualidade deste, assim como “auxiliar os governantes nas decisões e no

direcionamento de recursos técnicos e financeiros” (SOUSA, 2013, p. 65).

Porém, observamos pelo histórico da avaliação em larga escala no Brasil

que essa tem dado ênfase aos resultados numéricos apenas e promovido o

ranqueamento entre as escolas. Algumas autoras e autores (GATTI, 2014;

SANTOS, 2013; SORDI, 2012) nos fazem refletir sobre como vêm sendo

conduzidos e direcionados os processos avaliativos realizados pelos governos.

De acordo com Gatti

Olhando o modelo utilizado universalmente nessas avaliações e a escala utilizada, há pouca informação que possa alimentar e orientar processos de ensino. O dado fica provocador, supondo-se parece, que cada escola, cada rede, se “vire” para atingir metas teóricas propostas (2013, p. 58 – grifo da autora).

Temos visto a ampla divulgação pelas mídias dos resultados da Prova

Brasil e do IDEB, evidenciando as melhores, as piores escolas e os sistemas do

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país em forma de ranking estimulando à cultura da classificação e comparação,

valores esses muito presentes nas escolas.

Entretanto, a apresentação dos dados do IDEB, desvinculados de outras

análises, é perigosa, porque leva as escolas e as redes à competição e não ao

estudo minucioso da realidade educacional e suas dificuldades.

A qualidade da educação veiculada pela mídia, creditadas por algumas

escolas, alguns professores, alunos e pais está atrelada às notas do IDEB, porém

esse índice revela apenas resultados quantitativos e avalia somente a dimensão

formal do conhecimento em duas áreas específicas: Português e Matemática,

tomados como referência de qualidade do ensino. No entanto, as avaliações em

larga escala avaliam apenas aspectos que podem ser mensurados, além de não

levar em consideração os processos, o que vale são os resultados.

As avaliações têm sido reduzidas a atingir as metas propostas nem que

para isso as instituições tenham que burlar o sistema e no dia da prova retirar os

alunos tidos como “fracos” para que não prejudiquem a nota da escola. Conforme

aponta Santos (2013):

[...] o desejo de subir nas pontuações pode levar as escolas a comportamentos que desvirtuam os resultados, quando, por exemplo, excluem os alunos mais “fracos” destes processos avaliativos, quando treinam os alunos para os testes ou, até mesmo, quando fornecem aos alunos as respostas das questões das provas (p. 235).

Freitas (2014) trata em sua argumentação sobre a disputa dos

reformadores empresariais da educação pelo controle da organização do trabalho

pedagógico nos dois pares dialéticos: objetivos/avaliação e conteúdos/métodos,

como as avaliações em larga escala priorizam a dimensão do conhecimento mais

especificamente nas áreas de Português e Matemática e padroniza os conteúdos

a serem ensinados pelos professores por meio de uma matriz de referência. Isso

ocorre independente das necessidades cognitivas e de formação humana dos

estudantes baseada no desenvolvimento pleno dos indivíduos atrelado ao

conhecimento da arte, cultura e promoção da criatividade (SAVIANI, 1991).

Além do mais, “a transmissão do conhecimento não é o único objetivo da

escola. Seja tácita, seja planejadamente, a escola é formativa (FREITAS, et. al,

p.21).

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Em contrapartida, assistimos nas últimas décadas a pressão que as

escolas, professores e alunos sofrem em relação aos exames nacionais. Por

conseguinte, visando alcançar os índices propostos, as escolas organizam o

trabalho pedagógico e ensino dos conteúdos nesse sentido.

Hoje é fato visível nas escolas que a avaliação externa orienta e determina os objetivos e a extensão das disciplinas (em especial português e matemática, mas não menos as demais disciplinas, pois que interfere nos tempos que a escola permite dedicar a estas). A repercussão nas outras categorias pedagógicas vai se estabelecendo por meio da pressão crescente das avaliações externas que influencia o quê o professor e a escola assume como conteúdo e como método (FREITAS, 2014, p. 1094).

Dessa forma, o ensino e a formação acadêmica dos estudantes ficam

comprometidos devido a uma avaliação que visa apenas os resultados numéricos

das avaliações e não os processos de ensino aprendizagem.

As novas inquietações não estão vinculadas a filosofias pedagógicas, mas a políticas internacionais advindas do projeto de globalização: através de mecanismos legais avaliando a educação desde o nível básico até o superior, tais mecanismos integram políticas e práticas de avaliação em larga escala, cujas repercussões colocam toda a ênfase nos resultados, em detrimento da reflexão sobre o cotidiano dos processos de ensino e de aprendizagem (FISCHER, 2010, p. 38).

Consequentemente, os processos avaliativos permitiram “um maior

controle sobre o processo educativo e igualmente sobre a padronização do

conteúdo da escola e de seus resultados” (FREITAS, 2014, p. 1095).

Os rumos que a avaliação tem tomado leva-nos a reflexão sobre como o

ensino, que deveria ter a função de socialização dos conhecimentos

historicamente acumulados, e a escola, locus de formação humana, tornam-se

mercadoria e produto seguindo a lógica neoliberal onde impera o individualismo, a

competitividade e a meritocracia. Além disso, os professores têm o seu papel

descaracterizado por essa lógica, pois o controle e a padronização dos conteúdos

e métodos já podem ser observados por meio da adoção pelas redes de ensino

de sistemas apostilados cada vez mais frequente e seu uso pelos docentes.

Uma política pública de avaliação que se pensa a si mesma como isenta de contradição é algo temerário. Ocorre que, ao ser instituída em um espaço-tempo político marcado pela lógica de produto, pela pressa dos resultados, pela certeza das escolhas e pela distribuição farta de recompensas a quem cumprir as metas,

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certamente haverá aqueles que nem se perceberão como descartados e sequer reagirão ao processo de desprofissionalização que os atinge de forma subliminar (SORDI, 2012, p. 159).

É preciso atentarmo-nos sobre qual modelo de avaliação está presente nas

avaliações em larga escala, pois “a avaliação ultrapassa de longe aquilo que à

primeira vista aparenta ser” (DIAS SOBRINHO, 2002, p. 14).

A lógica empresarial e de mercado tem ganhado cada vez mais espaço na

educação e nos processos de avaliação. Esse é um campo de disputas. Portanto,

não é neutra, pois está embutida de intencionalidades e de intencionalidades

ideológicas. Destarte, “é um campo cujo domínio é disputado por diversas

disciplinas e práticas sociais de distintos lugares acadêmicos, políticos e sociais”

(DIAS SOBRINHO, p. 15).

Segundo Freitas, (2014) a avaliação possui centralidade na escola o que

confere a ela papel controlador e isso impacta o seu cotidiano e de toda a

comunidade escolar.

Na atual disputa pela escola, os reformadores empresariais da educação ampliaram a função da avaliação externa e deram a ela um papel central na indução da padronização como forma de permitir o fortalecimento do controle não só sobre a cultura escolar, mas sobre as outras categorias do processo pedagógico, pelas quais se irradiam os efeitos da avaliação, definindo o dia a dia da escola (FREITAS, 2014, p. 1093, grifos do autor).

Portanto, a concepção de qualidade defendida pela educação neoliberal

possui caráter utilitarista e pautada em medições numéricas por meio de provas

para as séries iniciais reduzidas: a leitura e matemática. A referência de qualidade

nesse caso é baseada em uma prova e a atribuição da nota da mesma.

Além disso, existem políticas de premiação em torno da mesma e, isso

promove o ranqueamento entre as escolas, o acirramento da competição, por

meio de

Índices de sucesso ou de fracasso meritocraticamente explicados, que localizam, classificam, comparam, hierarquizam estudantes, escolas, países sob a égide de resultados obtidos de forma límpida, posto que neutros e corretamente mensurados (SORDI, 2012, p. 165).

O poder público, por meio das avaliações externas de forma amostral

deveria regular as redes de ensino realizando o diagnóstico das escolas,

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buscando assim fomentar recursos e melhorias da qualidade do ensino e da

educação.

Entretanto, o que ocorreu no processo de implementação foi o período da

cultura da auditoria – accountability - que de acordo com Freitas (2013, p. 148)

direciona a responsabilização dos resultados voltados aos atores sociais do

processo educacional, de cima para baixo, “uma responsabilização voltada para a

ponta do sistema educacional, vale dizer para o professor”. Essa questão está

ligada aos avanços das políticas de responsabilização vertical de escolas e

professores. Fundamentadas no desempenho dos alunos nas avaliações

externas, estas, contudo, deixam de ser uma ferramenta de formação para servir

como instrumento de aferição para alimentar os mecanismos externos de

controle.

Freitas (2005) propõe processos alternativos de avaliação como

mecanismos de contrarregulação no sentido de combater a regulação exercida

verticalmente.

Os índices divulgados pelas avaliações nacionais responsabilizam

professores e alunos pela situação do fracasso ou do sucesso escolar sem levar

em consideração “às assimetrias existentes entre os estudantes, entre as escolas,

entre as nações, decorrentes de fatores socioeconômicos e culturais anteriores

aos processos de escolarização e que afetam os resultados das avaliações

externas, evidenciados pelas medidas educacionais” (SORDI, 2012, p. 165). Em

grande parte dos casos, a concretização do ciclo virtuoso é comprometida pelo

uso equivocado dos resultados das avaliações, que tendem a permanecer apenas

como registros inertes em relatórios.

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2. CAPÍTULO – CAMINHOS METODOLÓGICOS

O nosso trabalho estuda a avaliação externa na visão das docentes das

séries iniciais e o modelo de avaliação realizado pela rede de ensino de Monte

Mor.

Ao me efetivar na rede de ensino em 2015 deparei-me com a avaliação

adotada pelo município, pautada somente em provas. Além disso, no ano de 2017

em ano de Prova Brasil, ao assumir uma sala de 5º ano, utilizei uma metodologia

baseada em uso de simulados e treinamento dos alunos.

Para compreender um pouco mais essa realidade e tendo em vista o

caráter do Mestrado Profissional em Educação Escolar que é uma pesquisa

realizada no local de trabalho, o estudo de campo foi realizado na escola em que

atuo como professora efetiva das séries iniciais.

Optamos pela abordagem qualitativa, pois esse tipo de pesquisa justifica-

se porque responde a questões muito peculiares. “Esse tipo de investigação visa

à compreensão da realidade, que permite aprofundar-se no quadro dos

significados das ações e relações humanas, as quais, não são possíveis de

captar através de equações, médias e estatísticas” (MINAYO, 1994, p.22).

Além dessa autora, tendo como referência a abordagem qualitativa e o

trabalho de campo Cruz Neto (1994, p. 51) destaca que:

o trabalho de campo se apresenta como uma possibilidade de conseguirmos não só uma aproximação com aquilo que desejamos conhecer e estudar, mas também de criar um conhecimento, partindo da realidade presente no campo.

A pesquisa foi pensada e realizada em quatro etapas, a saber:

1ª Etapa – Levantamento de dados em documentos oficiais: realizou-se

revisão bibliográfica, estudo de artigos, dissertações e teses relacionadas ao

tema; análise de leis, decretos e leitura do Projeto Político Pedagógico da escola

do campo de pesquisa; levantamento dos dados do IDEB da prefeitura municipal

de Monte Mor e outros dados disponíveis no INEP (Instituto Nacional de Estudos

e Pesquisas Educacionais), por exemplo, o Censo Escolar.

• 2ª Etapa – Entrevistas com os professores: foram realizadas cinco

entrevistas semiestruturadas, com professoras das séries iniciais da instituição

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escolar, a fim de perceber suas percepções quanto à avaliação externa e suas

práticas pedagógicas visando compreender o fenômeno estudado.

• 3ª Etapa – Reflexão e análise de dados: realizamos a análise das

entrevistas.

• 4ª Etapa – Proposta de atuação: em Reunião Pedagógica, autorizada,

previamente pela gestão escolar, será desenvolvido um estudo e reflexão a

respeito da avaliação externa, das concepções emanadas pelas docentes

entrevistadas e proposta pelo sistema de ensino de Monte Mor.

2.1. Levantamento bibliográfico e documental

No início do trabalho realizamos o levantamento bibliográfico na produção

acadêmica constituído de estudo de artigos, dissertações e teses relacionadas ao

tema.

Desde então, iniciamos a pesquisa da literatura sobre o tema, além do

levantamento de documentos oficiais sobre avaliação como: Portarias

estabelecidas pela rede de ensino em relação à avaliação, o IDEB da Prefeitura

Municipal de Monte Mor no INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais), além do Projeto Político Pedagógico da escola pesquisada.

No dia 7 de junho de 2018 liguei na Secretaria Municipal de Educação a fim

de obter informações sobre como ter acesso aos documentos relativos à

implementação da avaliação da rede. Fiquei um tempo ao telefone aguardando a

resposta, fui orientada a fazer um requerimento destinado à Secretária de

Educação solicitando os documentos em relação à política de avaliação da rede

municipal.

No dia 8 de junho de 2018 protocolei na Secretaria Municipal de Educação

do município de Monte Mor uma solicitação para coleta de dados referente à

política de avaliação e assim viabilizar a pesquisa.

No dia 12 de junho obtive resposta do requerimento e fui até a Secretaria.

No início fui atendia por uma recepcionista que, posteriormente, me encaminhou

para outra pessoa responsável por autorizar a entrega do documento, o qual

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dispõe sobre a Uniformização de critérios avaliativos do ensino fundamental nos

anos iniciais – 1º ao 5º ano da Rede Municipal de Ensino, pela Portaria nº 11 de

25 de fevereiro de 2016. (Anexo 1).

A partir disso, iniciamos as leituras para aprofundar a compreensão da

questão e reelaborar o projeto de pesquisa com submissão ao Comitê de Ética

que ocorreu no mês de julho e aprovação em setembro de 2018, mediante o

Parecer nº 2.918.708, em 26 de setembro de 2018, para que assim pudéssemos

ir a campo realizar a coleta de dados.

2.2. A entrevista

Optamos pela realização de entrevistas, as quais permitem coletar dados

referentes às experiências profissionais e o que pensam os indivíduos

pesquisados a respeito do tema com o objetivo de perceber suas concepções

quanto à avaliação externa e da aprendizagem e suas práticas pedagógicas

visando compreender o fenômeno estudado. Neste estudo, optamos pela

realização das entrevistas com as docentes do Ensino Fundamental I (1º ao 5º

ano), visto que é o nosso foco de pesquisa. Inicialmente pensamos em realizá-las

com as professoras efetivas, pois dessa forma poderíamos obter mais

informações sobre as concepções de avaliação das mesmas e analisá-las de

acordo com o período de cinco anos (2009-2017) estipulado pelo estudo. No

entanto, não foram realizadas somente com as efetivas, devido a questões que

serão explicitadas adiante.

De acordo com Cruz Neto a entrevista,

[...] não significa uma conversa despretensiosa e neutra, uma vez que se insere como meio de coleta dos fatos relatados pelos atores, enquanto sujeitos-objeto da pesquisa que vivenciam uma determinada realidade que está sendo focalizada (1994, p. 57).

O mesmo autor aborda a técnica de entrevista sob dois aspectos: as

entrevistas estruturadas e as não estruturadas.

Assim, torna-se possível trabalhar com a entrevista aberta ou não estruturada, onde o informante aborda livremente o tema

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72

proposto; bem como com as estruturadas que pressupõem

perguntas previamente formuladas (CRUZ NETO, 1994, p. 58).

A técnica de entrevista estruturada “pressupõem perguntas previamente

formuladas” (p. 58). A junção das entrevistas estruturadas e as não estruturadas

são as semiestruturadas, as quais foram utilizadas como instrumento de pesquisa

deste trabalho.

Elaboramos dez questões divididas em dois blocos: um relativo a questões

das características profissionais e outro envolvendo a prática pedagógica

(Apêndice B).

Cabe lembrar que dentre as questões levantadas destacamos uma questão

do roteiro estabelecido inicialmente, isso se deve a alteração dos nossos objetivos

iniciais e orientações dadas pela banca de qualificação.

Cabe esclarecer que a elaboração do instrumento inicialmente versava

basicamente sobre a avaliação da aprendizagem. No entanto, no decorrer do

levantamento de dados da pesquisa observamos que a mesma estava mais

direcionada a avaliação em larga escala,tendo em vista os dados apresentavam-

se relacionados à avaliação externa, por isso, analisamos o olhar docente em

relação à interferência desse modelo de avaliação na prática pedagógica das

docentes.

Para constituir este trabalho ouvimos cinco docentes do EF I da escola em

que realizamos a pesquisa, buscando compreender e analisar a percepção delas

em relação à interferência da avaliação externa em sua prática pedagógica.

Antes de iniciarmos os convites às entrevistadas elaboramos um quadro

que consta informações sobre a situação funcional das docentes do EF e o

período de atuação, esse procedimento fez-se necessário para iniciarmos a

solicitação da entrevista. Com vistas a preservar a identidade de cada uma,

utilizamos a codificação P1, P2 e assim sucessivamente.

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Quadro 2 - Professoras do Ensino Fundamental I e concessão das entrevistas

Ensino Fundamental I Professora Situação Funcional Período Entrevista concedida

P1 Efetiva Manhã afastada/licença médica

P2 Efetiva Manhã Sim

P3 Efetiva Manhã Sim

P4 Efetiva Manhã Não

P5 Efetiva Tarde Não

P6 Contratada Tarde Sim

P7 Contratada Tarde Não

P8 Efetiva Tarde afastada/licença médica

P9 Efetiva Tarde Sim

P10 Efetiva Tarde Sim

Fonte: Elaborada pela autora (2018)

Para iniciar o convite e contar com a participação das entrevistadas, recorri

ao contato pessoal e realizei o agendamento das mesmas, também usei os meios

eletrônicos. Considerando que trabalho no período da tarde, não encontro com as

professoras da manhã, com essas entrei em contato via aplicativo WhatsApp,

enviei um áudio convidando-as a participar da pesquisa por meio da concessão

de uma entrevista, expliquei o tema e o objetivo da mesma. Enquanto professora

e sabendo de toda a demanda que temos de responsabilidades, propus de

antemão as docentes a possibilidade de realizar as entrevistas em horário de

HAPE (Hora de Atividades Pedagógicas na Escola). Esse horário funciona da

seguinte maneira: as professoras do EF I possuem 5 horas de atividades

pedagógicas na escola que acontecem enquanto os alunos estão nas aulas de

Arte, Educação Física e Inglês. Nos horários de HAPE as docentes realizam os

planejamentos semanais e os entrega a coordenação, com a mesma uma

semana de antecedência, utilizam esse horário para preparem as provas, fazer a

correção delas e das atividades que imprimem ou xerocam, dar visto nos

cadernos. Além disso, são professoras que trabalham em dois turnos ou três

turnos em duas ou mais instituições diferentes. Diante disso, mantinha contato

constante com elas para verificar a disponibilidade de dia e horários que

atendesse as docentes de acordo com as suas conveniências e respeitasse as

entrevistadas. Conforme propõe Lüdke e André (2003, p.35) “Esse respeito

envolve desde um local e horário marcados e cumpridos de acordo com sua

conveniência até a perfeita garantia do sigilo e anonimato do informante, se for o

caso”.

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Sanados os contratempos conseguimos nos organizar e realizamos neste

ano (2019) cinco entrevistas das seis propostas. No mês de março foram

realizadas três entrevistas, uma no mês de abril e outra em maio. As entrevistas

foram realizadas individualmente. Das cinco entrevistas, quatro delas foram

gravadas no nosso horário de HAPE.

Na sala de informática, desativada para esse fim, foram realizadas três

entrevistas sendo que uma delas foi concedida ao mesmo tempo em que a

entrevistada fazia as lembrancinhas para o dia das mães.

Outra entrevista foi realizada na arquibancada da quadra da escola e outra

na casa da professora, pois a mesma não iria mais a escola devido o seu pedido

de licença afastamento por dois anos. As entrevistadas foram consultadas em

relação à autorização para gravação das entrevistas, todas elas autorizaram.

A gravação tem a vantagem de registrar todas as expressões orais, imediatamente, deixando o entrevistador livre para prestar toda a sua atenção ao entrevistado. Por outro lado, ela só registra as expressões orais, deixando de lado as expressões faciais, os gestos, as mudanças de postura e pode representar para alguns entrevistados um fator constrangedor. Nem todos se mantêm inteiramente a vontade e naturais ao ter sua fala gravada (LUDKE; ANDRÉ, 2003, p. 37).

O tempo para realização das entrevistas variou. Duas duraram em torno de

50 minutos e três em torno de 20 minutos e todas aconteceram em clima de

tranquilidade. Após serem realizadas as entrevistas gravadas, por meio de um

aplicativo, foram transcritas. Essa transcrição foi feita pelo aplicativo (Virtual

AudioCableControl).

Ouvimos novamente as entrevistas realizadas acompanhadas das

transcrições. O aplicativo não realiza a transcrição fiel das falas, por isso, foi

preciso ouvi-las repetidas vezes a fim de recuperar as respostas dadas.

Dessa forma, partirmos para a próxima etapa: a categorização dos dados

que de acordo com Gomes (1994)

As categorias são empregadas para se estabelecer classificações. Nesse sentido, trabalhar com elas significa agrupar elementos, ideias ou expressão em torno de um conceito capaz de abranger tudo isso. Esse tipo de procedimento, de um modo geral, pode ser utilizado em qualquer tipo de análise em pesquisa qualitativa (p. 70).

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A análise de dados foi realizada por meio de uma proposta interpretativa

qualitativa de dados (MINAYO, 1992, p. 77). E seguirá o método hermenêutico-

dialético em que:

[...] a fala dos atores sociais é situada em seu contexto para melhor ser compreendida. Essa compreensão tem, como ponto de partida, o interior da fala. E, como ponto de chegada, o campo da especificidade histórica e totalizante que produz a fala (MINAYO, 1992, p. 77).

A metodologia proposta permitiu realizar a análise de dados por meio de

articulações entre os dados coletados durante a realização da pesquisa e os

referenciais teóricos da mesma, procurando responder às questões dela com

base em seus objetivos. Além de ser possível estabelecer relações entre a teoria

e a prática.

2.3. Conhecendo as participantes da pesquisa

As professoras do Ensino Fundamental I (participantes da pesquisa) estão

na faixa etária entre vinte a cinquenta anos, uma delas tem entre 20 a 30 anos,

três têm entre 31 a 40 anos e outra tem entre 41 a 50 anos. Todas possuem

formação superior e pós-graduação lato sensu e quatro delas lecionam entre seis

a quinze anos, apenas uma leciona há menos de cinco anos. Ela ingressou neste

ano como professora contratada.

As entrevistadas trabalham na escola pesquisada entre 4 meses e 10 anos.

Uma delas trabalha há 4 anos, outra há 5 e outra há 2 anos. Podemos perceber

por meio das informações que das cinco docentes entrevistadas quatro delas

possuem mais de cinco anos de atuação, ou seja, têm experiência docente. Na

escola o menor tempo de atuação é da P4 com quatro meses e o maior tempo de

atuação é da P5 com 10 anos.

Abaixo elaboramos um Quadro 3 com as informações coletadas nas

entrevistas no Bloco 1 – Perfil Profissional.

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Quadro 3– Caracterização das docentes entrevistadas

Entrevistadas P1 P2 P3 P4 P5

Formação Pedagogia Letras e Pedagogia

Pedagogia Pedagogia Pedagogia

Tempo de atuação no magistério

11 a 15 anos

11 a 15 anos 6 a 10 anos

Menos de 5 anos

6 a 10 anos

Tempo de atuação na escola pesquisada

4 anos 2 anos 5 anos 4 meses 10 anos

Trabalha em mais de um turno

Não Sim Não Não Sim

Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados coletados nas entrevistas (2019)

No início de cada entrevista foi explicitado a cada participante que seus

nomes seriam mantidos em anonimato por questões éticas e cada uma delas

recebeu e assinou o Termo Livre e Esclarecido (Apêndice A).

Das quatro professoras que trabalham no turno da manhã, P1, P2 e P3

aceitaram ser entrevistadas e P4 não respondeu a mensagem – essa encontra-se

afastada em licença medical. Outra professora havia aceitado ser entrevistada,

mas adoeceu, e quando retornou tinha muitas atividades para realizar em seus

HAPES. Além disso, trabalha em outro turno e município.

Das seis docentes do período da tarde, três concederam entrevista: P6, P9

e P10; embora P7 tenha concordado em conceder a entrevista, devido às

demandas de trabalho não concedeu. Os horários de HAPE da P5 não eram nos

mesmos horários que os meus e no turno da manhã a professora trabalha em

outra instituição e município. A professora P8 encontra-se afastada desde o ano

passado em tratamento médico.

2.4.Conhecendo a rede municipal de ensino de Monte Mor

Apresentamos a seguir a Rede Municipal de Ensino de Monte Mor e os

dados em relação ao IDEB, taxas de aprovação e reprovação da rede e da escola

pesquisada.

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2.4.1. A rede municipal

A cidade de Monte Mor possui uma área territorial de 240,41 Km2 e conta

com uma população estimada em 2018 de 58.765 habitantes (IBGE/2018). Ela

compõe os 20 municípios que constituem a Região Metropolitana de Campinas

(RMC).

Em 2008 o município de Monte Mor optou pela criação de um sistema

municipal de ensino próprio por meio da lei n. 1.297 de 16 de dezembro de 2008.

A criação desse sistema ocorreu após o processo de implementação de

municipalização da educação no município que teve início no ano de 2005. O

sistema é composto pelos seguintes órgãos:

Figura 2 – Órgãos que compõem o Sistema Municipal de Ensino

Fonte: Elaborada pela autora (2019)

O município possui quarenta e três (43) escolas, sendo que quatro (4) são

particulares, oito (8) estaduais e trinta e uma (31) municipais. Uma das

particulares atende toda a Educação Básica (Educação Infantil, Ensino

Fundamental e Ensino Médio). A outra a Educação Infantil e o Ensino

Fundamental (1º ao 9º ano) e as outras duas somente a Educação Infantil. Das

instituições estaduais, três ofertam só o Ensino Médio, uma de Ensino Médio e

Técnico ligado ao Centro Paula Souza, quatro o Ensino Fundamental II (6º ao 9º

ano) e o Ensino Médio.

O Sistema Municipal de Ensino é composto pelas escolas municipais que

abrange a Educação Infantil, o Ensino Fundamental (1o. ao 9o. ano), Ensino

Fundamental com a modalidade EJA (Educação de Jovens e Adultos) e

Educação Especial.

Secretaria Municipal de Educação, Esportes e Cultura

Conselho Municipal de Educação

Conselho do Fundeb

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A Rede de Ensino de Monte Mor está organizada em séries, em que se

admite a reprovação anual.

A EI é composta pelas creches e pré-escola. A pré-escola foi denominada

pelo Sistema de Ensino de Monte Mor de Fase, a qual é frequentada por crianças

de quatro e cinco anos.

Dentre as escolas oferecidas pelo município duas atendem somente

Creche; oito atendem Creche, Fase I e II; cinco são creches, Fase I e II e primeiro

ano; três fornecem Creche, Fase I e II, primeiro ano e segundo ano; uma Creche,

Fase I e II e alunos do primeiro ao quinto ano (multisseriada); uma primeiro ao

quinto e EJA, cinco primeiro ao nono; e duas do sexto ao nono ano. Percebemos

na Tabela 2 algumas escolas que atendem crianças de creche, Fase como é

identificado pelo Sistema Municipal de Monte Mor e primeiro ano e/ou segundo

ano, isso ocorre porque na Rede Municipal de Ensino não há na nomenclatura

subdivisão de Creche, EI e EF. No sistema constam escolas, as quais ofertam

atendimento às creches, as crianças de quatro e cinco anos da EI e o EF (1º ao 9º

ano), porém o nome da instituição não especifica: Creche, Educação Infantil ou

Ensino Fundamental. De acordo com a Secretaria de Educação, o atendimento às

crianças de primeiro e ou segundo ano deve-se a necessidade da comunidade

local.

Tabela 1. Escolas do Sistema Municipal de Ensino

Escolas Quantidade

Creche 2

Creche/ Fase I e Fase II 8

Creche/Fase I e II e 1ºano do EF 5

Creche/ Fase I e II e 1º e 2º ano do EF 3

Creche, Fase I e II e 1º ao 5º ano do EF 1

EF – 1º ao 5º ano 4

EF – 1º ao 5º ano/ EJA anos iniciais e finais 1

EF-1º ano 9º ano 5

EF- 6º ao 9º ano 2

Fonte: Elaborada pela autora (2019)

A Tabela 2 a seguir nos mostra o número de alunos matriculados na rede

nas séries iniciais e nas séries finais e podemos constatar que há mais alunos no

EF I do que no EF II com matrícula inicial.

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Tabela 2 - Matrícula inicial do Ensino Fundamental

Ano Séries iniciais Séries finais

2009 4673 1076

2011 4273 1897

2012 4224 2032

2013 4278 2152

2014 4555 2027

2015 4608 2027

2016 4734 2017

2017 4787 1944

Fonte: Elaborada pela autora com base em dados do INEP/2019.

2.4.2. O retrato da avaliação externa da rede – 2009 a 2017

Optamos por realizar a pesquisa abordando os dados do ano de 2009 até

2017, tendo em vista a ocorrência da Prova Brasil a cada dois anos. Dessa forma,

pudemos estabelecer a comparação entre os resultados disponibilizados pelo

INEP durante o período de cinco aplicações consecutivas.

É importante salientar que a partir de 2007, como já referido no capítulo 1,

as notas alcançadas pelas escolas do município, por meio dessa avaliação,

passaram a constituir o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica e as

projeções das metas estabelecidas a serem atingidas pelas instituições escolares

até o ano de 2021.

Apresentamos a Tabela 3 com as metas do IDEB estabelecidas pelo MEC

desde 2007 e as notas do município. É possível observar que o mesmo vem

alcançando às metas propostas. Em relação à última prova realizada em 2017

podemos visualizar que o sistema municipal de ensino superou a projeção já para

o ano de 2021. Abaixo, segue tabela demonstrando as projeções propostas pelo

MEC até 2021 e o IDEB do município desde 2005.

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Tabela 3-. Projeção e nota do IDEB do município para o EF – 1o. ao 5o. ano

ANO 2005 2007 2009 2011 2013 2015 2017 2019 2021

META - 4,0 4,4 4,8 5,0 5,3 5,6 5,9 6,1

IDEB 3,9 4,9 5,4 5,4 5,6 6,0 6,4 - -

Fonte: Elaborada pela autora a partir de dados do INEP/2018-2019

É possível constatar que o município vem apresentando resultados

crescentes na nota do IDEB desde o ano de 2007, nos anos de 2009 e 2011 a

nota do IDEB se manteve e a partir de 2011 observamos novamente o

crescimento, conforme se observa no gráfico a seguir.

Gráfico 1- Evolução das taxas do IDEB nas séries iniciais

Fonte: Elaborado pela autora com bases em dados do INEP/2018-2019.

Visualiza-se também que, a partir do ano de 2015, o município alcançou

nota 6,0 no IDEB. Esse índice, de acordo com o MEC (2019) representa uma

educação de qualidade “comparável ao de países desenvolvidos”. Contudo ele

está baseado apenas em resultados quantitativos, tendo em vista somente a

dimensão do conhecimento em duas áreas específicas: Português e Matemática.

O sistema de ensino municipal de Monte Mor divulga as notas das

avaliações externas a cada dois anos, assim que são disponibilizados os

resultados pelo INEP, por meio de mídia local e em rede social - página de

facebook da prefeitura, por exemplo.

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No ano de 2017 a Secretaria Municipal de Educação realizou cursos de

formação específicos destinados aos professores das séries/anos que realizam os

exames externos. Em um dos cursos abordou o município de Sobral como

modelo de referência por conta das notas obtidas. Em outro, realizou a

apresentação das notas obtidas por escola e meios de trabalhar com os alunos

para a realização das provas e alcançar os índices pré-estabelecidos pelo INEP.

Portanto, essa ação visa alcançar as metas propostas. Há o estímulo ao uso de

simulados para preparação dos estudantes sem levar em conta os processos de

ensino. Além disso, conforme já explicitado, em 2005, a gestão municipal da

época, adotou o sistema Positivo na rede municipal e contratou a empresa Triani2

(Assessoria e Treinamento Educacional) para promover a formação dos

professores, assim como, o mesmo sistema produzia avaliações nos padrões da

Prova Brasil com o objetivo de identificar os aspectos a serem aprimorados com

vistas a refletir positivamente no IDEB do município. As escolas recebiam os

resultados de todas as turmas em Português e Matemática, com informações das

habilidades que necessitavam ser trabalhadas pelos docentes.

Visualizamos o crescimento na nota do IDEB na Tabela 3, contudo, ainda

há casos de reprovação na rede de ensino municipal. Portanto, a educação

escolar continua promovendo formas de exclusão, conforme destaca Jacomini

Quando a escola só consegue ensinar uma parte de seus alunos, abandonando a própria sorte os demais, ela continua operando no paradigma da educação como privilégio. A educação só se concretiza como direito numa escola em que todos possam aprender e formar-se como cidadãos (2009, p. 561).

Além disso,

é preciso superar uma organização de ensino que fragmenta os conteúdos do ensino fundamental em séries anuais e estabelece os mesmos tempos, as mesmas metodologias, os mesmos procedimentos de avaliação sem considerar a diversidade e os processos individuais na construção do conhecimento (JACOMINI, 2009, p. 562).

A Tabela 4 demonstra a taxa de aprovação das escolas que ofertam o

Ensino Fundamental I (1º ao 5º ano), que participaram da Prova Brasil no período

considerado por esta pesquisa (2009 -2017).

2A TRIANI é uma empresa que presta serviços a várias prefeituras e empresas privadas.

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Tabela 4 -. Taxa de Aprovação por escola (Ensino Fundamental – anos iniciais)

Escola 2009 2011 2013 2015 2017

Escola A 92 % 96 % 98 % 96% 97%

Escola B 83 % 84% 93% 88% 90 %

Escola C 87 % 91% 94% 93% 95 %

Escola D 82 % 85% 90% 90% 92 %

Escola E 84 % 86% 91% 92% 89 %

Escola F 77 % 81% 89% 90% 91 %

Escola G 83 % 84% 86% 90% 87 %

Escola H 80 % 91% 93% 92% 93 %

Escola I 77 % 93% 90% 91% 88 %

Fonte: Elaborada pela autora com base em dados do INEP/2018-2019

Das escolas pesquisadas percebemos que as taxas de aprovação variam

entre o mínimo de 77% a 97%. Mesmo com o aumento da taxa de aprovação, os

índices de reprovação persistem no sistema escolar.

A partir desse dado podemos concluir que três das escolas (A, C e F)

apresentaram crescimento na aprovação desde 2009. Uma delas, a Escola D

aumentou de 2009 para 2011, manteve a taxa em 2013 e 2015, e aumentou em

2017. A Escola B aumentou de 2009 até 2013, diminuiu em 2015 e voltou a

crescer em 2017. A Escola E aumentou de 2009 até 2015 e houve uma queda em

2017. A Escola G aumentou de 2009 até 2015 e diminuiu em 2017. A Escola H

aumentou de 2009 a 2013, diminuiu em 2015 e aumentou em 2017. Em relação a

Escola I (nosso foco de pesquisa) observa-se um aumento nas aprovações de

2009 para 2011, porém apresentou queda em 2013, aumentou em 2015 e

diminuiu em 2017.

Tabela 5 -Taxa de Reprovação por escola (Ensino Fundamental – anos iniciais)

Escola 2009 2011 2013 2015 2017

A 8% 4% 2% 4% 3%

B 17% 16% 7% 12% 10%

C 13% 9% 6% 7% 5%

D 18% 15% 10% 10% 8%

E 16% 14% 9% 8% 11%

F 23% 19% 11% 10% 9%

G 17% 16% 14% 10% 13%

H 20% 9% 7% 8% 7%

I 23% 7% 10% 9% 12%

Fonte: Elaborada pela autora a partir de dados do INEP/2018 - 2019.

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Podemos perceber que no ano de 2009 há as maiores taxas de

reprovação. Elas diminuíram nas escolas D e F. A Escola A possui o menor índice

de retenção, houve diminuição dos anos de 2009 até 2013, mas um aumento em

2015 e voltou a diminuir em 2017. A Escola B diminuiu de 2009 até 2013,

aumentou em 2015 e diminuiu em 2010. A Escola C também diminuiu de 2009 até

2013, manteve em 2015 e diminuiu em 2017. A Escola G diminuiu de 2009 até

2017 e aumentou em 2017. A Escola H diminuiu de 2009 para 2011, aumentou

em 2013 diminuiu em 2015 e voltou a subir em 2017.

A reprovação é um fator recorrente nas instituições de ensino, alunos são

reprovados ao final do ano letivo por não terem garantida sua aprendizagem

escolar. Essa questão pode gerar diversas consequências, como: baixa

autoestima, descrença em sua capacidade de aprender e exclusão dentro da

própria escola, pois o aluno reprovado possui dificuldades em acompanhar os

conteúdos trabalhados, metodologias utilizadas e avaliações de forma

uniformizadas a todos os estudantes. E os alunos com o passar dos anos podem

perder o interesse pelas aulas levando à evasão escolar. Sendo assim:

a reprovação torna-se recorrente e pode levar à evasão escolar. A tendência a reprovação no sistema educacional brasileiro estigmatizou os alunos, comprometendo sua autoestima, e produziu certa descrença em suas capacidades de aprender por parte de professores, pais e até mesmo dos próprios alunos (JACOMINI, 2009, p. 565).

A seguir elaboramos um gráfico para demonstrar as metas e projeções

propostas para essa escola na qual realizamos a pesquisa. E outro com os dados

a respeito da taxa de reprovação.

Gráfico 2– Metas e projeções IDEB da Escola I

Fonte: Elaborada pela autora com base em dados do INEP/2018 - 2019

5 5,2 5,5 5,84,9

5,96,7 6,8 6,6

0

2

4

6

8

2009 2011 2013 2015 2017

Ano

Escola I

META IDEB

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O Gráfico 2 da Escola I apresenta a comparação em relação ao IDEB

atingido pelos alunos dos quintos anos de 2009 até 2017. Observa-se o

crescimento da escola desde o ano de 2009, apenas uma queda de 0,2 (dois

décimos) entre o ano de 2015 e 2017.

Por esses dados observamos também que a escola superou a meta do

IDEB estabelecida pelo Ministério da Educação em todos os anos.

Percebemos que a escola foi evoluindo ao longo dos anos, mas é

importante lembrar que:

Identificar os motivos que fazem uma rede ou escola ter bons resultados é importante para a difusão de boas práticas; afinal, mesmo escolas com bom desempenho, provavelmente, possuem seus pontos fracos e podem melhorar (SOUZA, 2013, p. 168).

No estado de São Paulo os índices do IDEB das escolas vêm crescendo e

na rede de Monte Mor isso também está ocorrendo. Sendo possível perceber no

gráfico 1 e no gráfico 2 da Escola I apresentado. Porém, conforme bem ressaltou

Souza é fundamental a socialização de boas práticas e a verificação dos pontos a

serem melhorados e isso só é possível a partir do que a instituição escolar faz

com os resultados obtidos. E cabe salientar quais práticas as escolas têm

utilizado a fim de alcançarem os índices propostos pelo MEC.

Muitas vezes, as escolas não param para avaliarem o que significou os

índices e essa relação com a aprendizagem efetiva dos estudantes. Portanto,

“cabe lembrar que a avaliação não é um fim em si mesmo e ela somente terá

validade na medida em que seus resultados forem tomados como indicadores

para a ação pedagógica” (SOUZA, 2013, p. 168).

Abaixo trouxemos o gráfico 3 para ilustrar a taxa de reprovação dos

estudantes da Escola I no período de 2009 a 2017.

A nota do IDEB é dada pela nota nas provas em Português e Matemática e

a taxa de aprovação dos estudantes.

Neste gráfico observamos que embora a Escola I vem apresentando

melhora vemos que a reprovação é um fator a ser refletido.

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Gráfico 3– Taxa de Reprovação

Fonte: Elaborada pela autora com base em dados do INEP/2018 - 2019

Em relação à taxa de reprovação houve uma queda significativa do ano de

2009 para o ano de 2011. No ano de 2013 aumentou em 3%, em 2015 diminuiu

em 1% e em 2017 aumentou em 3%.

Tabela 6 - Taxa de aprovação da escola I (1º ao 5º ano)

Ano 1º 2º 3º 4º 5º Taxa de aprovação

2009 100 77,4 76,5 79,2 73,8 77%

2011 100 82,8 94,1 95,8 94,4 93%

2013 100 82,9 82,7 92,6 93,8 90%

2015 100 86,3 90,3 89,2 92,5 91%

2017 100 80,4 87,3 83,7 89,2 88%

Fonte: Elaborada pela autora em dados do INEP (2019).

De acordo com a tabela acima podemos verificar a taxa de aprovação das

turmas de 1º ao 5º ano da Escola I.

Observamos que no ano de 2009 a taxa de aprovação nas séries iniciais

esteve entre 73,8% e 79,2%. Sendo que o quinto ano obteve o menor índice de

aprovação enquanto o quarto ano apresentou a maior taxa de aprovação.

Em 2011, a taxa aumentou e esteve entre 82,8% e 95,8%. Nesse ano, o

segundo ano apresentou a menor e o quarto ano a maior taxa de aprovação.

23

710 9

12

0

5

10

15

20

25

2009 2011 2013 2015 2017

Ano

Escola I

% Reprovação

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86

No ano de 2013 a taxa esteve entre 82,7% e 93,8% e o terceiro ano atingiu

a menor aprovação enquanto que o quinto ano alcançou a maior.

As taxas de aprovação no ano de 2015 variaram entre 86,3% a 92,5% e

em 2017 as taxas de aprovação foram de 80,4% a 89,2%.

Diante dos dados apresentados, podemos concluir que as maiores taxas

de aprovação no período de (2009-2017) ocorreram nos anos de 2011 (93%),

2015 (91%) e 2013 (90%) e nos anos de 2009 e 2017 tivemos as menores taxas

de aprovação com 77% e 88% respectivamente.

O cálculo da nota do IDEB é realizado baseado em dados da aprovação

escolar, os quais são colhidos anualmente no Censo Escolar e pelas médias de

desempenho na Prova Brasil (para IDEB das escolas municipais) e o SAEB nas

escolas estaduais. As avaliações são aplicadas a cada dois anos aos alunos do

quinto e nono ano do Ensino Fundamental e para os terceiros anos do Ensino

Médio (INEP/2019).

Como vimos as disciplinas cobradas pela Prova são: Português (leitura e

Matemática (solução de problemas) e o fluxo escolar.

O índice varia de zero a 10 e a combinação entre fluxo e aprendizagem tem o mérito de equilibrar as duas dimensões: se um sistema de ensino retiver seus alunos para obter resultados de melhor qualidade no Saeb ou Prova Brasil, o fator fluxo será alterado, indicando a necessidade de melhoria do sistema. Se, ao contrário, o sistema apressar a aprovação do aluno sem qualidade, o resultado das avaliações indicará igualmente a necessidade de melhoria do sistema (INEP, 2019).

Abaixo apresentamos a Tabela 7, ela demonstra a nota média

padronizada (na tabela será nomeada por NMP) dos estudantes da Escola I e a

nota do IDEB.

Tabela 7. Nota média padronizada e o IDEB (2009-2017)

Ano NMP IDEB Taxa de reprovação

2009 6,11 4,7 23%

2011 6,34 5,9 7%

2013 7,41 6,7 10%

2015 7,39 6,8 9%

2017 7,57 6,6 12%

Elaborada pela autora baseada em dados do INEP/2019

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A partir dos dados da Tabela 7 observamos a diferença entre a nota média

padronizada e a nota do IDEB. Essa diferença ocorre em função da taxa de

aprovação. Apresentamos a Tabela 6 com intuito de demonstrar a taxa de

aprovação e a Tabela 7 para demonstrar a nota média padronizada. Observamos

que em todos os anos o IDEB apresentou redução em relação a NMP e isso

ocorre em função da taxa de aprovação. No ano de 2017 a NMP foi de 7,57,

maior que no ano de 2015 que foi de 7,39. Contudo a nota do IDEB de 2015 foi

maior em relação a 2017. Isso ocorreu devido à taxa de reprovação ter sido maior

em 2017, de 12% do que em 2015, de 9%. Desse modo a nota do IDEB em 2017

apresentou queda de (0,2) dois décimos.

2.5. A escola e seus atores

Nesta seção apresentamos a escola, o seu entorno e as características das

participantes da nossa pesquisa.

2.5.1. Histórico da escola

A escola onde foi realizada a pesquisa está localizada no município de

Monte Mor no estado de São Paulo e será nomeada por Escola I, a fim de mantê-

la em sigilo. Esta instituição atende o Ensino Fundamental I e II.

A escolha dela para a pesquisa está relacionada ao meu campo de

atuação como professora das séries iniciais desde o ano de 2015, quando me

efetivei na rede municipal de Ensino de Monte Mor.

De acordo com o Projeto Político Pedagógico (2017) ela foi inaugurada no

dia 24 de março de 1985, a princípio funcionou como escola estadual e possuía

apenas três salas de aulas, visando atender à necessidade emergencial dos

cidadãos da comunidade local. No ano de 1986 recebeu ampliação e passou a ter

seis classes. Em 1993 foram construídas mais duas salas e em 1997 ganhou

novos ambientes: um laboratório e uma biblioteca. Nesse mesmo ano foi

introduzido o Curso Supletivo de EF e em 1998 a escola emprestou duas salas

para outra instituição com o objetivo de ministrar tele salas de EF e EM.

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Em 1999 a sala que foi construída para biblioteca começou a ser utilizada

como sala de aula, com isso a escola totalizava nove salas por período. Criou-se

para a biblioteca um espaço improvisado no final do corredor das salas. Além

disso, desativou-se o laboratório de informática, nesse espaço foi instalada a

diretoria e a sala de professores.

A partir de 2002 foi implantado o curso Supletivo do Ensino Médio. Em

2005 a escola passou a ter novamente um laboratório de informática, mas sendo

utilizado para sala da direção e posteriormente como sala de professores, pois

essa foi construída neste mesmo ano com recursos próprios (APM – Associação

de Pais e Mestres)3 e outros provenientes da arrecadação da festa junina

organizada pela própria escola. Essa sala foi construída com a mão de obra dos

membros da comunidade local.

Com a municipalização do EF,2008, o prédio então passa a ser

compartilhado entre as Escolas I e Y, sendo que essa última atendia o EM e EJA.

Em decorrência da municipalização a escola obteve mais espaço e

conseguiu uma sala para biblioteca e um laboratório de informática. Além disso,

passou a ter dez salas de aula. A ampliação dessa construção, novamente,

ocorreu por meio de doações de empresas e do comércio local e regional e a

prefeitura contribuiu com a mão de obra.

No histórico da escola, percebe-se constantes desativações do espaço da

biblioteca e da sala de informática com o objetivo de atender as salas de aula.

Devido à falta de espaço físico para atender aos alunos e depois de várias

conversas e solicitações ao prefeito, de acordo com a diretora da escola e

constatado no PPP (2017), a instituição foi ampliada e concluída no ano de 2016

com mais duas salas de aula, uma biblioteca, uma sala de informática, um

sanitário feminino e outro masculino e mais dois banheiros para professores e um

jardim gramado.

2.5.2. O entorno da escola

3APM (Associação de Pais eMestres) – Tem por finalidade colaborar no processo educacional, na

assistência ao escolar e na integração família escola comunidade (PPP/2017).

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Figura 3- Escola campo de pesquisa

Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora (2019)

O bairro no qual está situada a escola é considerado de classe média

baixa. Porém, há muitas famílias em vulnerabilidade social e que necessitam ser

atendidas pelo Programa Bolsa Família. Segundo o PPP (2017), 20% dos

estudantes estão inseridos nesse benefício.

Alguns discentes estão sujeitos a violências domésticas, e isso pode

comprometer o desenvolvimento desses estudantes. Para auxiliá-los, a Secretaria

Municipal de Educação conta com um Setor de Apoio Especializado em que há

especialistas de diversas áreas, a saber: psicólogos, fonoaudiólogos,

psicopedagogos. Esses profissionais fazem atendimento aos alunos

encaminhados pela escola.

O bairro em que a escola se situa possui pequenos e poucos comércios,

como: mercado, lojas de roupas, bares e algumas igrejas de diferentes religiões.

Há uma escola que atende as crianças da creche e da pré-escola.

Ao lado da instituição há um posto de saúde e uma quadra que foi iniciada

o ano passado (2018), porém não está finalizada. Percebemos que no bairro não

há espaços de lazer às crianças e jovens que nele residem.

A Escola I é cercada por muros, os quais estão pintados com a cor azul

claro e possui quatro portões pintados de azul escuro. A entrada dos alunos é

feita por um portão pequeno localizado na frente da escola e a saída deles é

realizada por dois portões. Um deles faz a saída dos alunos do EF I e o outro a

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saída dos alunos do EF II. Os pais têm acesso à secretaria por outro portão

pequeno que fica próximo aos portões de saída dos alunos.

É uma escola bastante aconchegante, ela possui um jardim todo gramado

e algumas plantas que florescem na primavera espalhadas pela grama, há

plantas em locais próximo ao pátio e perto do muro entre o estacionamento e o

acesso ao prédio. Esse ambiente é bem preservado pela comunidade local, não

há pichações, as salas possuem as paredes limpas e são pintadas

frequentemente. As carteiras e cadeiras também estão em boas condições.

O portão de entrada dos estudantes começa um corredor cercado por um

gramado com algumas plantas. O corredor dá acesso ao lado esquerdo a duas

salas de aulas, nas quais funcionam o EM no turno da tarde e pertencem à escola

estadual que também funciona no prédio, ao lado está a secretaria da escola

estadual e a sala dos professores dessa mesma escola. Seguindo a esquerda, há

um pequeno corredor que dá acesso a sala da direção, vice-direção e das duas

coordenadoras da Escola I. As mesas de trabalho delas estão dispostas na

mesma sala. Ali próximo há dois sanitários para uso de funcionários e

professores. Saindo pelo corredor do espaço de trabalho da equipe gestora, há

um refeitório de porte pequeno, coberto, mas aberto nas laterais no qual estão

organizadas algumas mesas compridas para refeição dos alunos. Há uma

cozinha que não é grande, porém nela há todos os materiais necessários à

preparação dos alimentos e uma despensa bem organizada e limpa. Os

bebedouros estão próximos a quadra.

Do refeitório há uma porta que dá acesso a um corredor que possui nove

salas de aula.

A quadra é coberta e fica no centro que dá acesso a todos os outros

espaços da escola. Na quadra há um corredor, esse dá acesso à sala dos

professores que possui uma mesa comprida e várias cadeiras, uma geladeira,

uma pia, um bebedouro, os armários de aço dos professores de EF II (6º ao 9º

ano) e uma mesa com computador e impressora utilizada pelos professores do

EF II para preparação de planos de aula, impressão de atividades e provas. Ao

lado dessa sala está à secretaria da escola, essa sala possui três mesas com três

computadores, uma lousa para anotações gerais e dois arquivos.

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Na secretaria há uma pequena rampa e uma escada com alguns degraus

que levam até a sala de informática desativada para essa função, mas utilizada

para aulas de teatro fornecidas por um funcionário da Secretaria de Educação e

ao projeto de Alfabetização iniciado o ano passado (2018) às crianças com

dificuldades nesse processo. As aulas são oferecidas por uma psicopedagoga da

Secretaria de Educação uma vez por semana.

Bem ao lado dessa sala há uma biblioteca com algumas prateleiras de

livros organizados em: infantis, infanto-juvenis, romances, ficção, contos,

crônicas, duas mesas com computadores, uma impressora colorida e uma

máquina de xerox para uso dos professores do EF I (1º ao 5º ano) servem para

realizar os planejamentos (que são entregues semanalmente com antecedência

de sete dias à coordenadora) a impressora e a máquina de xerox que também

são utilizadas para imprimir atividades e provas. Há também um tapete e alguns

pufs coloridos.

Figura 4 - Biblioteca

Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora (2019)

Ao lado da biblioteca há quatro sanitários, um para uso de meninos, outro

para meninas e outros dois utilizados por professores e funcionários. Ao lado

dessas salas há duas classes. E ao lado delas um parquinho pequeno de areia

com alguns poucos brinquedos de madeira, o qual não é utilizado. Essa parte da

escola foi inaugurada no ano de 2017.

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Ao todo são doze salas de aula. Essas possuem cerca de 35 carteiras cada

uma, exceto as turmas que possuem mais alunos. Há também a mesa da/o

docente e cadeira, um quadro branco, um ventilador de parede, um ar

condicionado, dois armários de aço, vitrôs e cortinas. As paredes internas são

pintadas com a cor azul claro, as portas são de madeira e pintadas de laranja.

Figura 5 – Fachada das salas de aula

Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora (2019)

Na administração, a escola conta com a diretora, a vice-diretora e duas

coordenadoras pedagógicas, uma para atender o EF I e outra o II.

A escola conta com três serventes efetivas e três contratadas, quatro

merendeiras, dessas uma encontra-se readaptada e faz serviços gerais, dois

oficiais de escola, uma inspetora de alunos, um secretário de escola e 22

professoras/es efetivos.

2.5.3. O corpo docente e a gestão escolar

Para atender as 22 turmas de EF, a instituição conta com 22 professores

efetivos entre docentes de EF I e II. Em 2019 há quatro professoras afastadas,

três afastamentos são por motivo de saúde e um afastamento por licença sem

vencimentos com prazo de dois anos. Por isso, quatro professoras foram

contratadas para ocupar temporariamente a função dessas professoras. Além

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dessas, duas professoras que se afastaram para o cargo de coordenação, o que

demandou a contratação de mais duas professoras substitutas.

Neste ano de 2019, a escola conta com uma diretora, uma vice-diretora e

duas coordenadoras: uma de EF I e outra de EF II e mais 26 professores/as,

sendo 22 concursados/as e 6 contratados/as em caráter emergencial.

O cargo de direção no município de Monte Mor ocorre por meio de

concurso público, já o cargo de vice-direção é por meio de indicação. A função de

coordenação deve ser exercida por uma professora/professor que se dá por

eleição. O docente que desejar exercer essa função deve apresentar seu projeto

de coordenação na escola que desejar ser coordenadora e o corpo docente elege

ou não a/o candidato.

Com relação à formação das/os docentes efetivos, 20 possuem Ensino

Superior e duas possuem Normal Superior, 12 têm Pós graduação lato sensu e

uma mestrado. Todas as professoras efetivas atuam a mais de cinco anos no

Magistério.

A escola atende onze turmas de EF I, das quais quatro funcionam no

período da manhã e sete no período da tarde. De manhã são duas salas de 1º

ano e duas de 2º ano. As professoras que lecionam neste turno são efetivas e três

delas trabalham em duas escolas. Sendo que uma delas se encontra afastada em

licença médica e outra está de licença por dois anos sem vencimentos. Por isso,

foi necessária a contratação de outras duas professoras a fim de substituí-las.

O período da tarde atende alunos do 3º ao 5º ano. No total são sete salas.

Das professoras, cinco são efetivas, dentre essas há um afastamento por licença

médica. E das cinco, duas delas trabalham em duas ou mais escolas.

Há duas turmas na escola que não possuem professor efetivo, por isso são

salas livres para concurso, por esse motivo elas estão atribuídas para professoras

contratadas4.

Neste ano a escola possui 649 alunos matriculados. Desses, 299 são do

EF I e 350 do EF II. Há 343 alunos matriculados no período da manhã das 7:00 às

12:00 horas e 303 no período da tarde das 13:00 às 18h00 horas. Abaixo

4Os contratos ocorrem mediante processo seletivo por meio de uma empresa contratada pela

prefeitura. Os docentes são selecionados de acordo com a sua classificação na prova escrita. As salas livres ou de professores que se afastam para o cargo de coordenação, vice-direção, supervisão e licença médica podem ser atribuídas aos professores do processo seletivo. As provas são realizadas a cada dois anos, pois geralmente o edital é prorrogado por mais um ano.

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elaboramos uma tabela com o número de alunos por turma atendidos nos dois

períodos.

Tabela 8 - Relação de alunos por turma da escola – 2019

Manhã Tarde

Turma Nº. de alunos Turma Nº. de alunos

1ºA 21 3ºA 20

1ºB 20 3ºB 22

2ºA 32 3ºC 20

2ºB 32 4ºA 30

7ºA 31 4ºB 33

7ºB 30 5ºA 34

7ºC 30 5ºB 35

8ºA 30 6ºA 37

8ºB 30 6ºB 36

8ºC 28 6ºC 36

9ºA 32 - -

9ºB 30 - -

Total 346 - 303

Fonte: Elaborada pela autora (2019)

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3. CAPÍTULO – A AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM E A DE LARGA ESCALA

NA REDE MUNICIPAL: O QUE NOS REVELAM AS DOCENTES

Neste capítulo descrevemos e analisamos os dados do estudo,

sistematizados a partir das etapas da pesquisa mencionadas na metodologia, em

diálogo mais específico com os dados das entrevistas realizadas com as docentes

da escola. Dessa forma, organizamos a primeira parte do capítulo situando a forma

como ocorre à avaliação da rede municipal e a segunda parte apresentamos as

categorias que emergiram da fala das professoras ao refletirem sobre a avaliação

externa e uma possível proposta de atuação que busque alternativas que

possibilitem a reflexão sobre avaliação externa hegemônica.

3.1 – A avaliação na rede municipal

Desde 2005 a rede municipal de Monte Mor contrata serviços privados para

distribuição de apostilas e neste momento, a empresa contratada para atender as

séries iniciais é o NAME (Núcleo de Apoio a Municípios e Estados). A instituição

contratada vende o material didático e o pacote inclui: acesso às plataformas digitais

e suporte pedagógico e acadêmico dos professores.

O Name online é direcionado aos estudantes e disponibiliza páginas de

conteúdos relativos aos conhecimentos no geral (desde notícias, biografias,

simulados a atividades interativas, animações, vídeos e enciclopédia), já aos

docentes é disponibilizado o Name digital que envolve gestão do currículo e de sala

de aula.

Algumas formações de professores são realizadas por formadores da

empresa contratada e outras por professores da própria rede que se afastaram de

suas funções para realizarem formação em serviço aos docentes.

No ano de 2017, ano de Prova Brasil a Secretaria Municipal de Educação

realizou cursos aos professores dos quintos anos voltados à formação dos docentes

para a preparação dos estudantes para as provas. Em um dos cursos foi retratado o

município de Sobral como modelo de referência por suas notas no IDEB. Além

disso, foi apresentado aos docentes dos quintos anos de todas as escolas presentes

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as notas obtidas por escola referente à aplicação da prova anterior e meios para

trabalhar e melhorar o desempenho dos estudantes, que era basicamente, o uso de

simulados.

Essa prática permite observar a ênfase dada aos resultados ao indicar um

modelo de referência, sem, contudo, analisar os diferentes contextos educacionais,

sociais, estruturais. Somado a isso, temos um curso de preparação dada aos

docentes no sentido de preparar os estudantes para as provas, levando em

consideração os resultados e não os processos de ensino.

Para avaliar os municípios e escolas do Brasil que compram os serviços do

NAME são realizadas anualmente a Prova Brasil Premiada nacional aos alunos dos

quintos e nonos anos, acompanhada de resultados e prêmios para alunos e

professores que obtiverem melhores resultados. Essas avaliações abordam

questões relativas aos conteúdos abordados pelo material apostilado.

Estudiosas como Adrião (2009), Bertagna e Borghi (2011) já discutiam a

ampliação da adoção de sistemas apostilados privados em escolas públicas

municipais e as possíveis relações com os sistemas de avaliações externos. Nesse

sentido, vemos que a contratação de sistemas apostilados de ensino pelo município

está atrelada ao discurso de relacionar o uso de materiais apostilados com as

crescentes notas do IDEB. Na página do site do Name utilizam como marketing os

nomes dos municípios e suas respectivas colocações em relação ao IDEB, e

enfatizam a melhoria dos índices à adoção do material, conforme apresentado

abaixo:

Os parceiros do NAME têm se destacado no IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), garantindo no primeiro ano, em 2005, o 2º maior IDEB do Brasil com o município parceiro Dolcinópolis (SP) e nos anos seguintes, 2007, 2009 e 2011, o 1º lugar com Adolfo (SP), Cajuru (SP) e Nova Ponte (MG), respectivamente. Além disso, o IDEB indica que 90% dos municípios parceiros do NAME atingiram índices maiores que a média brasileira. Outro dado importante é que a média dos parceiros NAME é 20% maior que brasileira e 70% dos municípios que adotaram o NAME tiveram melhoras em seus índices (NAME, 2019).

Essa informação é muito importante para compreendermos a adoção do

material, a incidência das empresas privadas sobre a organização do trabalho

escolar e a avaliação que ocorre nas instituições de ensino.

Percebemos na fala de uma docente certa obrigatoriedade no uso do material

apostilado, o que acarreta no engessamento do trabalho pedagógico e certa

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97

limitação do professor a um mero aplicador de conteúdos determinados. Tendo em

vista o tempo que deveria ser destinado ao desenvolvimento dos conteúdos com os

alunos, a exigência da preparação dos estudantes para avaliação externa. Essa

situação extrai a autonomia e a caracterização do trabalho docente. Conforme

afirmam, Bertagna e Borghi (2011):

Os professores das escolas públicas passam a ser meros executores daquilo que está presente nas apostilas adotadas, fornecidas pelo setor privado. Com isso, evidencia–se a retirada do controle dos profissionais da educação pública sobre o processo de trabalho, e ainda, a transferência deste controle para o setor privado (BERTAGNA; BORGHI, 2011, p. 141).

Nesse sentido, a fala de uma professora de 3º ano demonstra que a mesma

procura realizar práticas que não estejam voltadas somente ao uso da apostila,

porém em seu relato se vê limitada ao uso do material, conforme podemos observar

abaixo:

Bom, eu não tenho muita experiência né, pedagógica, porque eu comecei não tem muitos anos, eu to como professora mesmo há três anos. Mas, eu gosto muito de usar coisas práticas na minha aula, eu gosto de trazer jogos, gosto de trazer vídeos, gosto que as crianças coloquem a mão na massa, porque acho que elas aprendem melhor. Então eu sempre trago, procuro trazer coisas diferentes, mas aqui também, como a gente usa apostila não dá pra ficar fugindo muito. Então, a gente trabalha na apostila e sempre que pode dá uma fugidinha e traz uma coisa prática pra eles poderem se distrair e aprender através do lúdico (P4 – Entrevista em 25/04/2019 – grifos nossos).

Além disso, os gastos que a rede tem com a adoção das apostilas nos

provoca a indagar a motivação que leva a rede a tal ação, tendo em vista que as

escolas já recebem livros didáticos do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD).

No entanto, as docentes, na entrevista, ao refletirem sobre a avaliação

externa e a relação com o uso das apostilas identificamos uma crítica em relação ao

distanciamento entre o conteúdo das apostilas e o que é avaliado nas avaliações

externas. Conforme apresentaremos adiante.

Ah, eu só acho que... a impressão que se tem é que quem faz a avaliação não tem ideia do que é a realidade da escola. Vem assim algumas coisas, éh… alguns conteúdos que principalmente as apostilas não trazem, às vezes até a gente como professor por ter que trabalhar a apostila deveria trabalhar isso, mas deixa a desejar porque precisa entregar o conteúdo. Então, eu acho que...não bate muito é… o que é proposto por essa prova do que a gente trabalha

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98

na escola com as crianças(P4 – Entrevista em 25/04/2019 – grifos nossos).

Percebemos na fala acima que há obrigatoriedade no uso do sistema

apostilado, a docente demonstra uma angústia ao mencionar a diferença entre os

conteúdos que as apostilas tratam e o que é medido nas avaliações em larga escala.

O relato da Professora 3, segue o mesmo raciocínio, em relação ao uso das

apostilas:

Então acaba que a gente tenta que ir além do material que a gente tem que é o sistema apostilado, que a gente tem que dar conta, a gente ainda tem que ir atrás de outras atividades porque eles não estão conseguindo dar conta dentro dos simulados (P3 – Entrevista colhida em 20/03/2019 – grifos nossos).

Nessa fala mais uma vez fica evidente a obrigatoriedade do uso das apostilas

associado ao uso de simulados para a realização da avaliação externa, evidencia-se

que mesmo havendo cobrança da gestão municipal quanto ao sistema apostilado,

esse é insuficiente para atender a avaliação externa.

A professora 1 declara em entrevista:

E… Você já viu?Você já viu as produções de texto do terceiro ano da prova Ana, do livrinho?Não tem nem nada a ver com que está dando na sala de aula, é sempre uma narrativa... e daí você tá trabalhando no livro, por exemplo, contos de fada e daí ele tem que fazer uma narrativa de algo que aconteceu na escola, de algo que aconteceu na cantina, de algo que aconteceu nas férias. E você tá lá trabalhando contos de fadas e daí, do nada, você tem que pegar e parar e falar: ó agora você vai fazer isso. (P1 – Entrevista colhida em março de 2019 – grifos nossos).

Observamos por meio das entrevistas a diferença entre o que as docentes

estão ensinando em sala de aula e o que é cobrado pelas avaliações externas.

Na corrida por melhores resultados concordamos com Bertagna e Borghi

(2011) que afirmam:

[...] “uma das estratégias adotadas pelos municípios é a compra de sistemas de ensino privados que passam a ser como os principais atores na reconfiguração do trabalho pedagógico das escolas públicas, incidindo sobre as práticas pedagógicas, o currículo, a gestão escolar, entre outros.

No ano de 2005 foram estabelecidas as Diretrizes Curriculares Municipais de

Monte Mor ao Ensino Fundamental I,para o período de 2005 a 2010. Esse

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99

documento foi elaborado por alguns profissionais da rede em parceria com o

Sistema de Ensino Aprende Brasil5.

O documento aborda o currículo, os objetivos, a metodologia, os conteúdos

de todas as disciplinas desde o 1º ao 5º ano, também faz referência as orientações

gerais sobre Avaliação no Ensino Fundamental I e apresenta instrumentos

avaliativos diversificados à avaliação da aprendizagem dos estudantes.

Foi possível observar por intermédio da leitura, na parte da apresentação das

Diretrizes, a explicitação no texto sobre a busca pela qualidade da escola pública

considerando o contexto dos alunos e as diferenças no processo de aprendizagem,

o que se pode observar nas citações abaixo:

É necessário, ainda, esclarecer que na presente proposta curricular não se encaixa qualquer concepção pedagógica. Esta equipe assume uma concepção de construção do conhecimento e do ensino vinculados à realidade dos alunos, comprometido com os aspectos sociais da comunidade atendida, em constante busca de uma escola pública com qualidade e que possa fazer diferença real na vida de todos os alunos atendidos (DCM, 2005, p. 8 – grifos nossos).

Nesse sentido,

as práticas pedagógicas precisam considerar a individualidade de cada sujeito, assim como as particularidades no processo de aprender.Não é possível homogeneizar as aulas, pois cada educando tem um jeito próprio e particular de entender o mundo e o conhecimento. Cabe à escola compreender essa dimensão e oferecer oportunidades de crescimento e aprendizagem de qualidade para todos e para cada um dos seus alunos (DCM, 2005, p. 8 – grifos nossos).

Conforme já mencionado a rede de ensino vem adotando o sistema apostilado

nas unidades de ensino desde o ano de 2005. Desde esse ano até 2012, durante

duas gestões consecutivas, o prefeito, da época, contratou livro didático integrado

da editora Positivo, assessoria pedagógica, plataforma online aos professores e

sistema de avaliação.

A partir de 2013, a nova gestão municipal contratou o Sistema Pearson6 que

assumiu a distribuição dos livros, após licitação. De 2013 até 2017 as apostilas eram

5Sistema Aprende Brasil – Esse sistema da Editora Positivo oferece livro integrado, assessoria

pedagógica, portal voltado aos educadores, Sistema de Monitoramento Educacional do Brasil (SIMEB) e Sistema de Avaliação. 6Pearson – empresa de educação que oferece na área de Educação Básica, apostilas pelo Sistema de Ensino Dom Bosco, da área privada, e NAME, da área pública.Marca específica para a comercialização com parceiros públicos municipais, como é o caso do NAME (Núcleo de Apoio a Municípios e Estados).

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do Sistema Dom Bosco para o EF I e II,a partir de 2017 as apostilas do EF I

passaram a ser do grupo Name de Ensino. Abaixo, trouxemos uma reportagem

veiculada pela imprensa online de Monte Mor:

A Prefeitura de Monte Mor continua a investir em Educação de qualidade para todos os alunos da rede municipal de ensino. Nesta semana 7.667 alunos do 1º ao 9º ano estão recebendo as apostilas do Sistema Pearson.O material didático é composto por três apostilas sendo uma com conteúdo integrado de Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia e Ciências e outras duas sendo de Artes e Inglês. A previsão da Secretaria de Educação é concluir as entregas até o final da próxima semana. (MONTE MOR, IMPRENSA OFICIAL, 2019 – grifos nossos).

Além disso, apresenta-nos, segundo eles, qual é o objetivo do sistema

apostilado e os valores que são pagos por aluno em um ano.

O objetivo do Sistema Apostilado é contribuir para um melhor aprendizado das crianças nos primeiros anos e o avanço gradual em todas as etapas do Ensino Fundamental. O valor do material por aluno é de R$ 239,76/ano. Do 1º ao 5º ano as apostilas são do Grupo Name de Ensino e do 6º ao 9º do Sistema Dom Bosco. Pearson, criado na Inglaterra, é líder em sistemas educacionais em todo o mundo. Todo conteúdo está programado dentro do cronograma estabelecido dentro do planejamento da Secretaria de Educação (MONTE MOR, IMPRENSA OFICIAL DE, 2019 – grifos nossos).

Podemos constatar, nas citações acima, que para a gestão atual, a adoção do

sistema apostilado está atrelada à qualidade da educação e à aprendizagem dos

alunos.

A prefeitura gasta anualmente, aproximadamente um milhão e novecentos mil

reais. Com isso, podemos detectar que é gasto duas vezes com a compra de

material didático, porque já são distribuídos livros do PNLD e do Material Didático,

todos os anos, às unidades de ensino, pelo governo federal.

Todavia, a adoção de material apostilado, leva a padronização do ensino e a

conotações mercadológicas. Pois,

o material didático sob a categoria de mercado – o mercado educacional -, visto que tanto o livro didático como os Sistemas de Ensino apostilados constituem o mercado privado e fazem parte do fenômeno que tem sido denominado por especialistas como “mercantilização” da educação escolar (ANDRADE, 2011, p. 2 – grifos dos autores).

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Os conteúdos trazidos pelas apostilas são objeto de avaliação por meio dos

instrumentos avaliativos da aprendizagem dos alunos do EF.

Em 2016, mediante a Portaria nº 11, de 25 de fevereiro de 2016, em seu Art.

2º, a Rede de Ensino padronizou as unidades escolares coma realização de duas

avaliações no bimestre: uma mensal e outra bimestral, com as seguintes atribuições

de notas.

A avaliação mensal valerá 4 pontos e a bimestral 5, somando 9 pontos. Para atingir a somatória de 10 pontos, deverá constar na avaliação bimestral um campo avaliativo de participação com valor total de 1 ponto, dividido em participação oral, tarefa de casa, registro no livro integrado, registro no caderno, com valor de 0,25 por item (MONTE MOR, 2016).

Podemos perceber nesse sistema avaliativo que as notas são

predominantemente obtidas com a aplicação de provas, e apenas um (1) ponto é

atribuído à participação, porém já definida previamente pela Secretaria.

Percebemos a ausência de autonomia dos docentes no ato de avaliar, pois é

imposto a eles a utilização de apenas um instrumento para isso: as provas. E à

participação é atribuído um (1) ponto distribuído por itens que também já são

previamente definidos pela Secretaria de Educação. Abaixo apresentamos o

cabeçalho da avaliação bimestral a fim de exemplificar.

Figura 6 – Modelo de cabeçalho de prova do sistema de avaliação da rede

Fonte: Dados da pesquisa

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Conforme Art. 5º da portaria citada, as crianças que não obtiveram cinco (5)

pontos na média, é concedido para elas o direito a realizar a prova de recuperação:

Ao aluno que obteve síntese bimestral inferior a 5, o professor aplicará uma prova de recuperação, pautada nas expectativas de aprendizagem bimestral. A recuperação não apresentará valor, todavia deverá ser corrigida e diante de resultado igual ou superior a 50% (cinquenta por cento) de seu total, o aluno será considerado RECUPERADO. (MONTE MOR, 2016).

Entretanto, essa recuperação não ocorre paralelamente conforme propõe a

LDB 9394/96. A recuperação do aluno é aplicada uma semana depois da prova

bimestral o que dificulta o trabalho do docente a fim de retomar os conteúdos

trabalhados durante todo um bimestre e dessa forma recuperar o aluno

efetivamente. Em entrevista, a Professora 1 relata:

[...] eu sou totalmente contra você fazer tantas avaliações eu acho. Tá... vai fazer avaliação mensal e bimestral. Tudo bem, mas uma semana depois da bimestral já faz a de recuperação(P1 – Entrevista em março de 2019 – grifos nossos).

Diante disso, observamos que os alunos permanecem prejudicados nesse

sistema avaliativo, pautado no cumprimento de burocracias e minúcias, como o

preenchimento de um cabeçalho atribuindo pontuações que são pré determinadas, o

que contraria uma concepção de avaliação formativa defendida por estudiosos da

área.

Assim, o valor da avaliação não está em um instrumento apenas, mas em sua diversificação e nos seus usos: seus resultados multifacetados têm que desencadear um processo importante de reflexão sobre as aprendizagens desejadas (SOUZA, 2013, p. 166).

Portanto, o processo de ensino aprendizagem e a efetivação da

educação dos estudantes permanecem comprometidas.

3 2. A avaliação externa na perspectiva das docentes

Para acessarmos o olhar das docentes, a respeito da avaliação, elaboramos a

entrevista semiestruturada, referida no capítulo metodológico, na primeira parte

buscamos compreender a caracterização profissional de cada docente, o tempo de

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atuação no magistério e na escola pesquisada, na segunda parte há questões que

remetem diretamente ao tema deste estudo.

A partir dos dados obtidos pudemos constatar que as cinco professoras

entrevistadas possuem o curso de Pedagogia, atendem a LDB 9394/96 para

atuarem como docentes de 1º ao 5º ano. Estudiosos como Pimenta (1999) e Freitas

(2002) da área de formação de professores defendem a formação docente como

fator fundamental, pois essa possibilita a realização do trabalho do professor (a)

juntamente à integração teoria e prática, porque é ela quem concede base teórica à

execução da prática pedagógica.

Em relação ao tempo de atuação das professoras no magistério, somente

uma docente atua há menos de cinco (5) anos e quatro (4) exercem a docência

entre seis (6) a quinze (15) anos. O período de atuação na escola, onde foi realizada

a pesquisa, uma docente atua há quatro meses e quatro atuam entre dois (2) a dez

(10) anos.

Com o fito de dissertarmos do que nos falam as docentes em torno da

avaliação externa iniciamos a nossa análise com a reflexão trazida por Menegão:

A avaliação em larga escala propõe medir a qualidade da educação escolar. Torna-se, nesse caso, necessário saber de que concepção de qualidade e de educação se trata. Tendo esse ponto esclarecido, ainda se necessita saber com qual currículo se vai atuar. Questionamentos esses que, mormente, levam-nos a indagar sobre que conhecimentos devem ser ensinados nas escolas. Isso porque nessas definições estará explicitada, ou implícita, a expressão de uma concepção de mundo, de homem e de sociedade e, assim, a qualidade que se almeja (2016, p. 643).

Essa citação nos leva a reflexão sobre que tipo de qualidade as avaliações

em larga escala estão “avaliando”. Os números têm ganhado muita força e até sido

pouco questionados quando falamos em avaliação. No caso da Prova Brasil, quanto

maior as notas do IDEB das escolas difunde-se a ideia de que melhor é a qualidade

ofertada.

Contudo, é necessário questionarmos que qualidade é essa que vem sendo

veiculada por via dos índices e quais são as práticas pedagógicas adotadas para os

mesmos serem obtidos.

Diante disso, as docentes das séries iniciais da escola pesquisada foram

levadas à reflexão sobre as avaliações externas e em que elas têm interferido em

sua prática docente, nesse processo emergiram três categorias, abaixo listadas, que

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na sequência serão analisadas e representadas com excertos das falas das

professoras.

Treinamento por meio de simulados;

Estreitamento curricular;

Responsabilização vertical.

3.2.1. Treinamento por meio de simulados

Pela leitura realizada das entrevistas, em relação à questão das avaliações

externas e a interferência na prática pedagógica, constatamos que essas

apresentam significado expressivo em relação ao trabalho desenvolvido em sala de

aula pelas entrevistadas.

Veio à tona na fala das docentes que objetivando alcançar os índices

propostos pelo IDEB as mesmas utilizam o treinamento dos alunos por meio de

simulados. Isso é relatado, por exemplo, pela P1:

Porque além de você ter que dar o conteúdo, tem que ficar treinando aluno pra fazer prova, treinando aluno para preencher gabarito. [...] Porque você tem que ficar lá ensinando a criança que ela tem que fazer um X em cima da letra e depois ela tem que preencher o gabarito. E...pra quê? O ano passado eu fiquei muito brava porque depois além de tudo ainda não fizeram a prova. Eu falava eu quero que faça essa bendita dessa prova. Porque eu fiquei matando as crianças fazendo simulado pra cima e pra baixo e não teve a prova, né?[...] Então porque você achaque são feitos os simulados e esses treinos já que são trabalhados os conteúdos, e os alunos diante da prova fariam essa prova e conseguiriam um bom desempenho?Eu acho assim, é óbvio que a gente tem que dar pra eles alguns elementos, né? Porque se você faz sempre uma prova, é dissertativa e do nada aparece uma prova optativa, ele não vai saber fazer. É óbvio que você tem, tem que dar esses, é um modelo pra ele, mas não treinar (P1 – Entrevista, em março de 2019).

As docentes P2 e P3, também, declaram que treinam as crianças para as

avaliações externas, e fazem a crítica a exigência de realização dos simulados.

Ela seria, éh… a interferência dela [avaliação externa] seria boa se a gente conseguisse trabalhar todas as habilidades que ela propõe que é bem interessante, né?! Eh...por exemplo, eee, retirar éee, informações explícitas e implícitas de um texto, fazer com que as

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crianças... com que aquele aluno consiga realmente enxergar aquilo, né?! Mas se a gente tivesse tempo pra trabalhar bem isso não ficasse preso ao conteúdo de prova seria bem interessante, mas eu vejo como um treino, então isso influencia de uma maneira não tão boa (P2 – Entrevista em 13/03/19). Bom, na minha prática pedagógica elas [avaliações externas] interferem de modo que eu tenho que trabalhar com simulados, o tempo todo. [...]Eu acho até interessante [simulado], só que eu acho que esses simulados são usados de uma forma pontual e não deveriam, entendeu? Ah, tá chegando perto da prova, ou é no 5º ano porque vai ter a prova, aí eu utilizo os simulados. Então, assim não é uma coisa que a criança construiu, né?(P3 –Entrevista em 20/03/19).

A fala das entrevistadas evidencia que a prática pedagógica realizada por

elas enfatiza o treino dos estudantes, pois utilizam simulados que versam

especificamente as áreas abordadas pela avaliação em larga escala. A adoção,

pelas docentes, desse tipo de metodologia visa alcançar melhores resultados no

IDEB. Considerando isso como sendo o objetivo da avaliação, observamos que as

metas e índices se sobrepõe à discussão da proposta pedagógica e formação dos

estudantes, esvaziando o trabalho do professor e a função da escola.

Diante disso, concordamos com Bertagna e Borghi (2011) ao afirmarem que

[...] as avaliações acabam se constituindo nos fins da escola que se organiza e trabalha em função dos resultados das avaliações e, não da construção de um projeto histórico de educação de interesse dos próprios sujeitos que deveriam se beneficiar com seu uso (BERTAGNA e BORGHI, 2011, p. 135).

Observa-se na vocalização de P2 que ela reconhece aspectos positivos da

avaliação externa, quando destaca as habilidades que poderiam ser avaliadas,

porém o aprisionamento ao treino de conteúdos específicos influencia de maneira

negativa.

De acordo com Horta Neto (2013) “outra forma mais comum e mais deletéria

à aprendizagem é ensinar para a prova”. Esse tipo de prática focaliza os resultados

e não há reflexão sobre o cotidiano dos processos de ensino e de aprendizagem.

Além disso, o treinamento de alunos para as provas reduz o ensino dos

estudantes às disciplinas apenas de Português e Matemática, visto que são essas

as disciplinas exigidas pelas avaliações.

Com isso, estreita-se o currículo ao priorizar em sala de aula somente aqueles temas das áreas de matemática e linguagens que serão testados, principalmente às vésperas dos testes, podendo ser

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mais dramático nos anos iniciais do ensino fundamental, cujas turmas são unidocentes (HORTA NETO, 2013, p. 157).

Nas séries iniciais o ensino focalizado nos conteúdos de Português e

Matemática pelo (a)s docentes pode acontecer com frequência porque nesta etapa

da escolaridade há apenas um responsável pelas áreas de Português, Matemática,

Ciências, Geografia e História. Além do que a matriz curricular já contempla mais

aulas de Português e Matemática em relação as outras áreas do conhecimento.

As colocações das docentes contrastam com a discussão sobre a importância

do ato de avaliar já debatida no Capítulo 1, por autores que pesquisam essa

temática, por exemplo: Luckesi. Diante disso, Fischer (2010, p. 40) afirma:

Não há dúvida de que os processos avaliativos constituem um elemento fundamental – se não o mais importante – da ação educativa. Entretanto, a avaliação não é um momento final do ato pedagógico, e sim, um elemento integrante do seu processo.

Os sistemas “induzem a um tipo específico de ação avaliativa: aferir o

produto, em outras palavras, medir resultados em detrimento da compreensão dos

processos e dos contextos em que ocorrem (MENEGÃO, 2016, p. 643).

A análise de Menegão ilustrada pela fala de uma das docentes, que revela um

distanciamento de uma proposta de avaliação na perspectiva da formação humana.

[...] avalia todo mundo igual, não avalia a criança de acordo com a vivência dela, com a experiência dela é...com o que ela aprende, com o que ela vive em casa, com o que ela vive na escola. Não, eles... eles...é tudo jogado Kátia é tudo imposto pra gente e a gente tem que fazer isso, tem que fazer sorrindo, corrigir sorrindo, você não pode reclamar, você não pode falar. Ninguém pergunta pra gente. Olha como que poderíamos avaliar os alunos da cidade de Monte Mor ou do estado de São Paulo. Olha, a nossa realidade é essa. Então a prova é preparada de acordo com isto. [...] por exemplo, a criança que ela é DI, ela é avaliada igual todo mundo. O síndrome de Down ele é avaliado igual todo mundo. Um autista, ele é avaliado como todo mundo. O dislexo, que ele não consegue lidar com tantos papéis, com tantas escritas, com tudo ao mesmo tempo ele é avaliado igual a todo mundo. Cadê a diferença? Se a gente tem tanta diferença porque que trabalha tudo igual. Então isso me atrapalha, porque o meu aluno DI vai fazer. Não vai fazer. Aí você reza na hora pra que ele não venha, pra não cair o rendimento da sua escola. Mas não porque você não quer ele, é porque ele não tá sendo tratado com dignidade lá de cima. E depois nós não seremos, não vamos ser tratados com dignidade também se o resultado não for de acordo com o que eles querem. Pra mostrar que a política que eles trabalham no nosso país é a melhor e ela cabe de acordo com o que a gente vive, que não cabe!(P5Entrevista em 7/5/2019).

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A avaliação centrada nos resultados leva ao treinamento das crianças, nesse

sentido a Professora 2 relata que desenvolve o trabalho com os alunos com foco nos

conteúdos abordados pela avaliação em larga escala visando os resultados.

Então a gente já tá focado para os resultados. Na verdade, a gente começou já a que. Éh… trabalhar, né?Os conteúdos da prova. E eu sinto que é meio um treino, um treino (P2 – Entrevista em 13/03/19).

Percebemos que a escola e docentes organizam o trabalho pedagógico

buscando alcançar melhores índices, contudo sem considerar os processos para

isso. A depender da percepção que se tem de avaliação, essa pode corroborar para

a avaliação

[...] como um fim em si mesma e passa a ter implicações para a organização do trabalho pedagógico, consequentemente, revelando e velando os objetivos almejados para a escola (BERTAGNA e BORGHI, 2011, p. 136).

Diante de uma avaliação voltada para os resultados e não aos processos

deparamo-nos diante de um problema “o abandono da avaliação enquanto

processo, no retorno à prática da avaliação classificatória e na negação da avaliação

diagnóstica, tantas vezes identificada como avanço em inúmeras pesquisas sobre

práticas pedagógicas de sucesso” (FISCHER, 2010, p. 47).

3.2.2 Estreitamento curricular

A redução do ensino ao processo de preparação dos alunos para os exames

em larga escala, descrita anteriormente, induzem ao estreitamento do currículo, pois

os simulados abordam apenas questões de Português e Matemática, disciplinas que

são cobradas pelas avaliações. Estudos têm demonstrado (BROOKE, 2013;

MAINARDES, 2013; MENEGÃO, 2016; SOUSA e FERRAROTO, 2016) que isso

reduz o currículo a duas áreas de saberes, ocorrendo à exclusão de conhecimentos

essenciais que são entendidos, por parte dos formuladores da política, sem

funcionalidade para os propósitos estreitos de obter um número máximo de pontos

nos testes.

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Diante disso, o campo de ação do professor torna-se reduzido, pois o ensino

baseia-se somente em duas disciplinas apenas, deixando de ensinar e desenvolver

as outras áreas do ensino “relegando as outras disciplinas a um papel de menor

importância, ao ponto de prejudicar até a formação acadêmica do aluno” (BROOKE,

2013, p. 135). Este processo também é de estreitamento, no caso, do currículo em

que revela uma interdependência entre as categorias, ou seja, treina-se para

alcançar um alto índice, para tanto volta-se aos conteúdos específicos que são

medidos no exame.

No município de Monte Mor a matriz curricular para o Ensino Fundamental

nas séries iniciais é composta por sete aulas de Português, sete de Matemática,

duas de Ciências, duas de História e duas de Geografia. Podemos perceber pela

nessa matriz que a ênfase é dada a duas áreas do conhecimento. Em ano de

avaliação externa essas são as disciplinas mais exploradas na prática docente,

conforme revelado por duas docentes de quinto ano.

A Professora 3 relata:

Né? como é um ano de prova é um ano que eu vou trabalhar simulado, que eu dou simulado, faço correção com eles, tento tirar as dúvidas pra que eles me perguntem, a gente faz a correção juntos na qual eles colocam certo no simulado deles pra eles verem o erro e o acerto e aí eu falo por quê? Quem colocou uma resposta diferente? Por que que você pensou isso? Então muda, porque talvez se eu colocasse de uma outra forma... ah! esse mesmo assunto, eu acabo trabalhando vários assuntos num único documento e aí acaba que muda minha prática por conta disso. Eu tenho que trabalhar o assunto mais os descritores que vem lá da Prova Brasil, da Prova Ana e assim por diante(P3 – Entrevista em 20/03/19).

A fala da professora revela o trabalho com simulado pautado nos descritores

exigidos pelas avaliações. Essa declaração nos permite perceber a redução do

ensino somente em duas áreas do saber, as quais são cobradas pelas provas. Além

disso, a Professora 2 declara:

Pensando nesse ano de Prova Brasil. Então a gente já tá focado para os resultados. Na verdade, a gente começou já a que. Eh… trabalhar, né? os conteúdos da prova.

Dessa forma observamos que o trabalho realizado pelas docentes dá mais

ênfase ao trabalho com as disciplinas e os conteúdos cobrados nos testes

padronizados. “A justificativa é óbvia: é por esses conteúdos e essas disciplinas e

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não outras, que são pressionados, cobrados e responsabilizados” (MENEGÃO,

2016, p. 648).

Como o IDEB é composto com os resultados das avaliações nacionais e taxas de aprovação, as matrizes de referência dessas avaliações têm influenciado o currículo das escolas e, em consequência, as práticas pedagógicas e a avaliação da aprendizagem (MAINARDES, 2013, p. 185).

As falas trazidas pelas professoras nos permitiram perceber o destaque para

o ensino de Português e Matemática e o preparo dos alunos por meio de testes

focalizando resultados, isso contribui à padronização do currículo e não a sua

ampliação.

Concordamos com Menegão (2016)

Ressaltamos que não somos contrários ao trabalho com a dimensão cognitiva no currículo escolar. Porém, a ênfase dada pela avaliação em larga escala, aos aspectos cognitivos de Língua Portuguesa e Matemática, tem induzido ao estreitamento curricular, especialmente porque promove situações em que ensinar e aprender para o teste

seja a razão principal do fazer docente (MENEGÃO, 2016, p. 646).

3.2.3. Responsabilização vertical

Essa categoria revela o que tem sido objeto de discussão sobre os efeitos dos

resultados das avaliações externas nos sistemas de ensino e a “responsabilização

das escolas e dos gestores, avaliação e responsabilização de professores

fortemente conectada com os resultados acadêmicos dos alunos” (AFONSO, 2012,

p. 474).

A qualidade do desempenho dos alunos é identificada em provas

padronizadas como responsabilidade quase que exclusiva das equipes escolares, e

principalmente à categoria de professores (as). Nesse formato avaliativo, a avaliação

externa torna-se uma política de accountability (AFONSO, 2012; FREITAS, 2013),

ou seja, de responsabilização verticalizada em que os resultados das provas são o

único fator para avaliação da qualidade da educação e os professores responsáveis

pelos resultados obtidos nos testes estandardizados.

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Percebemos na fala de P3 que as professoras são responsabilizadas e

cobradas pela nota da prova. Nesse caso, podemos visualizar a responsabilização

verticalizada.

Assim, a avaliação dos sistemas educativos aparece associada à

responsabilização pelos resultados das escolas, dos professores e dos alunos,

obtidos pela utilização de testes estandardizados.

E a cobrança, né?! Da nota da escola e do município, que se baixar vem uma cobrança em cima de nós professores. Então é um ano que a gente se descabela pra fazer tuuuudo e caminhar pra... pelo menos manter a nota que a gente atingiu no no ano anterior. Então é um ano bem difícil(P3 – Entrevista em

20/03/19).

Corroborando esse raciocínio, e externando indignação a Professora 5

declara:

E aí de repente a prova ela chega com um conteúdo bem mais avançado daquilo que você já trabalhou ou muito inferior daquilo que você já fez. Então não existe uma é... como que eu posso dizer. É jogado. Eu vejo isso como jogado. Eu vejo isso como política. O político quer é... mostrar praquele outro que o que ele faz é melhor que o que o outro estava. Então ele dá a prova e olha as crianças foram bem nessa avaliação. Então significa que o que eu estou fazendo pra educação do nosso país está boa, porque eles foram bem. - Olha, eles não foram legal, não atingiram. Então significa que o profissional que ta lá dentro não presta. É assim...Eles não vê (sic) que o que não presta é eles. Eles jogam na gente quando não foi bem e quando foi bem é porque eles estão fazendo a coisa certa. Então interferir na minha prática?,ixi interfere muito!Eu odeio fazer avaliação externa porque não trabalha a realidade do meu ALUNO ele não vê a realidade da comunidade que o aluno tá inserido(P5– Entrevista em 7/5/2019).

Em relação aos processos de responsabilização Freitas (2013, p. 157)

apoiado em Ravitch (2010) pontua:

Qualquer ênfase exagerada em processos de responsabilização é danosa para a educação. Isso leva apenas a um esforço grande em ensinar a responder testes, a diminuir as exigências e outras maneiras de melhorar a nota dos estudantes sem, necessariamente, melhorar a educação.

Diante do exposto, para superar a avaliação externa e hegemônica, com

vistas à superação das diversas consequências trazidas à educação, ao ensino e a

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prática pedagógica, conforme dissertamos: estreitamento curricular, treinamento dos

alunos e responsabilização vertical apresentamos na próxima seção algumas ações

visando criar espaços de discussão e de responsabilização compartilhada.

Consideramos que é de suma importância nos movimentar no sentido de

refletir e resistirmos às práticas de treino que vêm sendo realizadas com a finalidade

exclusivamente da obtenção por melhores índices. Pois,

[...] as escolas induzidas e/ou motivadas para a obtenção do índice considerado adequado nacionalmente, acabam restringindo o trabalho e a organização do trabalho pedagógico à obtenção dos resultados (índices), enfatizando o produto, expresso nos números do IDEB, reforçando relações de individualismo, competição e, também, de responsabilização individual, como tem ocorrido na condução das políticas atuais no Estado de São Paulo (BERTAGNA e BORGHI, 2011, p. 136).

A concepção gerencialista de educação tem como fim uma avaliação

classificatória, a qual ranqueia e busca premiar ou punir. A ideologia difundida por

essa lógica baseia-se que a falta de qualidade associada ao rendimento dos

estudantes nos testes padronizados, resulta da ausência de incentivos à

competitividade.

Em contrapartida, e é a concepção, a qual defendemos de uma educação e

avaliação formativa sugere: reflexão sobre a qualidade social de maneira coletiva e a

responsabilização horizontal.

Sendo assim, mais do que ter a nota do IDEB ou da Prova Brasil estampada

nas mídias sociais e muitas vezes em cartaz na entrada da escola, com os parabéns

pelo aumento em relação à avaliação anterior. Cabe a escola promover debates

sobre o que esses dados revelam e transformar isso em ações que garantam a

aprendizagem de todos os estudantes.

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3.3. Dialogando sobre as interferências da avaliação externa na prática pedagógica

Diante das informações obtidas nas entrevistas e na tarefa de apontar novos

caminhos vimos à necessidade que o professor, a equipe gestora e a comunidade

local têm de ter acesso aos resultados das avaliações, sobretudo de apreender e de

explorar o significado dos índices para o processo educacional.

[...] observa-se que o ciclo virtuoso da avaliação não se completa. Tende a ficar restrito a números esquecidos em relatórios que não são suficientemente explorados e/ou apropriados pelos professores/alunos/famílias/gestores. Mas geram políticas que incidem sobre as escolas e sobre a educação, de um modo geral. E assim se apequena a função social da avaliação ao legitimar determinados construtos de qualidade abstratamente explicitados (SORDI e LUDKE, 2009, p. 319).

O que ocorre é que muitas vezes, os docentes preparam os alunos para os

testes e depois chegam às notas, e essas por sua vez, acabam denotando a

qualificação do professor, estabelecida pela instituição, gestão e os pais, os quais

estão isentos do envolvimento com o processo avaliativo. De acordo com Souza

(2013, p. 164) o resultado deve propiciar “o aprimoramento do ensino e da

aprendizagem que ocasionou aqueles resultados evidenciados pela avaliação”

buscando coletivamente estabelecer metas e ações visando à melhoria do ensino da

instituição escolar.

Entretanto, ressaltamos que a avaliação em larga escala privilegia apenas a

dimensão do aspecto formal do ser humano – o cognitivo – e que só isso não

representa todo o trabalho que a escola realiza, pois não é capaz de explorar

dimensões mais difíceis de avaliar, o desenvolvimento de valores ligados à

cidadania, por exemplo (BAUER, 2017).

Diante disso, percebemos que as medidas quantitativas têm um significado

social exagerado difundindo conceito de qualidade às notas atingidas no IDEB.

Outro ponto que dificulta o contato e a interpretação com os dados é que as

escolas realizam as provas e recebem as informações somente no ano seguinte à

realização das mesmas.

Diante disso, é necessário que a instituição se organize e realize o contato

com os resultados, pois é “importante caminharmos no sentido de propiciar às

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escolas conforto para entender e usar as informações tão amplamente difundidas

nos relatórios de disseminação de resultados” (SOUZA, 2013, p. 168).

Portanto, se faz necessário a compreensão dos relatórios enviados à escola

com as notas obtidas e o nível de proficiência dos alunos nas habilidades exigidas e

quais dessas ainda não foram alcançadas, visando estabelecer tomadas de

decisões no sentido de superação das dificuldades ainda apresentadas. Dessa

forma, o processo de avaliação promoveria o uso desses resultados à reflexão do

trabalho realizado pelos atores da escola: alunos, professores, funcionários, gestão

e enfim por toda a comunidade escolar possibilitando a contrarregulação proposta

por Freitas (2005):

Contrarregulação é resistência propositiva que cria compromissos ancorados na comunidade mais avançada da escola (interna e externa), com vistas a que o serviço público se articule com seus usuários para, quando necessário, resistir à regulação (contrarregulação) e, quando possível, avançar tanto na sua organização como na prestação de serviços da melhor qualidade possível (justamente para os que têm mais necessidades), tendo como norte a convocação de todos para o processo de transformação social (p. 912).

Assim sendo, a responsabilização deixaria de ser verticalizada conforme

apontada pelas docentes em entrevista e passaria a ser participativa, pois “quanto

mais à participação e o envolvimento são estimulados, mais fortalecida a atuação,

permitindo a real expressão do coletivo” (SORDI, BERTAGNA e SILVA, 2016,

p.179).

Considerando o nosso objetivo geral que foi: conhecer a visão das docentes

em relação à avaliação externa, os dados revelados neste estudo embasou a

categorização, identificamos a necessidade de propor ações à escola que visem o

fortalecimento dos espaços de participação dos atores sociais da escola, assim

como o seu envolvimento e o seu entendimento em relação aos índices obtidos no

IDEB que levem à reflexão e possíveis mudanças na prática escolar. Portanto,

propusemos algumas ações à escola descritas a seguir.

Objetivo:

Criar espaço para refletir e discutir a avaliação externa e o significado dos

seus resultados à aprendizagem de todos os estudantes e à escola.

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Buscar a contraposição da responsabilização vertical dos professores pelos

resultados apontados nas avaliações para construção de uma

responsabilização propositiva horizontal.

Refletir coletivamente em torno do sistema de avaliação vigente na rede e os

reflexos na prática pedagógica e aprendizagens dos estudantes.

Apreender o papel de cada ator social para garantia do direito à educação de

qualidade, socialmente referenciada que envolve todos os atores da

instituição escolar.

1ª Etapa – Estabelecimento de espaços para o diálogo, reflexão e

participação

Objetivos: Levar a equipe escolar e a comunidade local à reflexão do que os

índices representam à aprendizagem de todos os estudantes, principalmente

aqueles que apresentam dificuldades, buscando enfatizar os casos de reprovação

da escola.

Discutir sobre o que os alunos ainda não aprenderam considerando os

resultados comparativos entre as avaliações externas e as de sala de aula.

Diagnosticar o que foi bom e o que precisa melhorar.

Discutir as ações desenvolvidas pela escola.

Metodologia

Reuniões pedagógicas:

Reuniões com toda a equipe escolar e convite à comunidade local

(representante das famílias e de alunos) para apresentação dos resultados da

pesquisa. Nesse encontro trataremos sobre o que é a avaliação externa, quais são

os seus objetivos, de forma dialogada em que possamos refletir sobre o que ela

representa para nossa escola? Quais os efeitos em nossas práticas pedagógicas? O

que é uma educação de qualidade?

A partir desse contato inicial, promoveremos discussões e reflexões a

respeito de como cada um se vê dentro deste processo e de que maneira pode

contribuir com o avanço da qualidade social da educação e a aprendizagem de

todos os estudantes.

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Entendemos que esses espaços coletivos de discussão vêm ao encontro do

que nos orienta Souza,

[...] escola e comunidade escolar devem ter conhecimento e compreensão clara quanto a esses resultados e beneficiar-se deles na elaboração dos seus Planos de Desenvolvimento da Escola e planos pedagógicos cujos objetivos têm, necessariamente, de priorizar a busca da aprendizagem por parte dos alunos. Mas, para isso, as escolas têm que ser orientadas nas atividades de análise de resultados e na elaboração de relatórios de informações e, consequentemente, de planos estratégicos que contenham objetivos e metas de ação (SOUZA, 2013, p. 168).

Apresentação, nos espaços de atividades coletivas da escola, os dados

coletados pela pesquisadora em relação ao IDEB, das taxas de reprovação e

aprovação disponíveis no sítio do INEP, seguida de momento para perguntas,

esclarecimento de dúvidas e reflexão para entendimento do estudo real.

Apresentação dos resultados, relatórios que são enviados pelo MEC à

escola, organização dos participantes em pequenos grupos para estudarem e

discutirem o que os resultados representam ao cotidiano escolar, na sequência o

grande grupo fará uma síntese das considerações em torno do que concluíram em

relação aos dados estudados.

2ª Etapa– Em busca de um espaço de efetivação de uma

responsabilização horizontal

Objetivo: Dialogar com a equipe e comunidade local a busca pela

responsabilização partilhada.

Metodologia

Oficina

- Leitura do texto: Para uma concetualização alternativa de accountability em

educação do autor Almerindo Janela Afonso e Qualidade negociada:

avaliação e contra-regulação na escola pública do autor Luiz Carlos de

Freitas.

Organização de pequenos grupos para possíveis interpretações e

análise dos dados, na sequência cada grupo socializará oralmente as análises

realizadas.

Com base na socialização das análises de cada grupo, pretende-se

produzir um documento com as análises realizadas que fomente o acompanhamento

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e avaliação do projeto pedagógico da escola, em que se elaborem ações coletivas

com vistas à qualidade social da educação pública.

As ações iniciais estabelecidas acima visam criar espaços e condições de

articulação dos atores sociais que fazem parte da comunidade escolar, por meio de

discussões, diálogos e reflexões, a fim de olhar a avaliação externa de forma crítica,

não sob a ótica mercadológica que foi sendo implementada ao longo dos anos pelos

reformadores empresariais, pautados na disseminação de valores de

hierarquização, classificação, individualismo e meritocracia.

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4.CONSIDERAÇÕES FINAIS

A avaliação educacional é entendida de acordo com Freitas et al. (2009), em

três níveis: avaliação de larga escala, a avaliação institucional participativa no

âmbito da escola e a avaliação da aprendizagem no âmbito da sala de aula.

Considerando essa classificação, o presente trabalho objetivou compreender a visão

das docentes das séries iniciais de uma escola municipal do interior paulista em

relação à avaliação externa, que faz parte da avaliação de larga escala.

Na parte inicial do nosso trabalho, buscamos situar a avaliação da

aprendizagem e a avaliação externa (larga escala), pontuando que o ato de avaliar

deve considerar os processos da aprendizagem e não serem reduzidos aos

resultados voltados à verificação e medição dos conteúdos apreendidos, apenas.

Defendemos que os processos em que ocorrem o ensino e a aprendizagem devam

ser considerados.

Além disso, procuramos também evidenciar que a avaliação externa surgiu a

fim de diagnosticar as escolas e o ensino realizado pelas mesmas objetivando novas

medidas educacionais e políticas para melhoraria da qualidade da educação e do

ensino. No entanto, a avaliação externa, mais especificamente a Prova Brasil

passou por várias alterações ao longo de sua implementação e acabou tomando

rumos diferentes dos propostos inicialmente. Com a inserção da Prova Brasil a

avaliação passou a ter caráter censitário e não mais amostral. Ademais, a criação do

IDEB, em 2007, estabeleceu um indicador de qualidade das escolas públicas de

ensino fundamental, e de redes de ensino. Isso gerou mudanças às escolas, aos

professores (as) e aos alunos, pois a escola passou a sofrer pressão externa a fim

obter os índices propostos pelo MEC. A partir do IDEB foi possível realizar o

levantamento das notas por escolas e municípios e isso corroborou com o

ranqueamento entre as instituições escolares, levando a divulgação pela mídia das

melhores e piores escolas, focada de maneira equivocada apenas nos resultados

obtidos sem levar em consideração os fatores sociais, econômicos e estruturais de

cada escola.

Nesta pesquisa, constatamos a forte relação da adoção de apostilas pelo

município, objeto do estudo, atrelado a busca por melhores índices no IDEB, além

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das ações formativas voltadas à preparação dos estudantes, as quais objetivam o

alcance de maiores índices do IDEB com base nos resultados e não os processos

de ensino. Defendemos, com base no referencial teórico desta pesquisa, que para

além de se obter uma boa nota é necessário garantir a melhoria das condições de

ensino e de aprendizagem a todo (a)s o(a)s estudantes.

Nas entrevistas realizadas com as docentes, das séries iniciais, constatamos

que as avaliações externas afetam expressivamente a prática pedagógica, tendo em

vista a pressão que sofrem no sentido de alcançarem as metas estabelecidas. As

mesmas são responsabilizadas e cobradas para atingir a meta proposta e realizam o

treinamento dos estudantes para que consigam índices mais altos no IDEB. Para

que consigam esse feito, realizam simulados que abordam apenas questões de

Português e Matemática, disciplinas exigidas pelas provas e isso provoca o

estreitamento curricular, que de acordo com Freitas (2013, p. 158) “dirigem o olhar

dos professores, administradores e estudantes. Se o que é valorizado em um exame

são leitura e matemática, a isso eles dedicarão sua atenção privilegiada, deixando

os outros aspectos formativos de fora”.

Este estudo contribui para o entendimento de que a avaliação externa deveria

servir como diagnóstico às políticas públicas visando tomar decisões, fomentar

recursos e corrigir as distorções existentes. Entretanto, constatamos no

levantamento bibliográfico, estudo documental e nos dados das entrevistas e que

após 30 anos de avaliações há muitas lacunas, os reformadores entendem que a

qualidade da escola pública está baseada em um único aspecto: o do conhecimento,

mais precisamente no de português e matemática. Portanto, se as notas são altas

nessas disciplinas quer dizer que há uma boa educação. Dessa forma, faz a escola

refém dos interesses mercadológicos (SORDI, BERTAGNA e SILVA, 2016).

Portanto, é necessário repensar a função da avaliação externa, de forma que

ela passe a ser entendida objetivando melhorias na qualidade do ensino e da

educação e não o estímulo à competição, a meritocracia e processos de

classificação. Assim compreendida, possa contribuir com a formação de crianças e

jovens capazes de obter formação social, promovendo a capacidade de alunos com

vistas a enfrentar e solucionar os desafios postos pela sociedade contemporânea,

para não ser mais uma “mercadoria” ao mercado de trabalho. Porém, atuar de forma

coletiva, possibilitando o desenvolvimento de uma sociedade menos injusta.

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ANEXO 1 –UNIFORMIZAÇÃO DE CRITÉRIOS AVALIATIVOS DO ENSINO

FUNDAMENTAL ANOS INICIAIS – 1º AO 5º A NO DA REDE MUNICIPAL DE

ENSINO

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APÊNDICE A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Título da pesquisa: Avaliação da aprendizagem: sua função à formação e desenvolvimento

dos estudantes.

Nome da pesquisadora responsável: Kátia EleotérioRubio

Número do CAAE:

Você está sendo convidado (a) a participar como voluntário de uma pesquisa. Este

documento, chamado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, visa assegurar seus

direitos como participante e é elaborado em duas vias, uma que deverá ficar com você e outra

com a pesquisadora.

Por favor, leia com atenção e calma, aproveitando para esclarecer suas dúvidas. Se

houver perguntas antes ou mesmo depois de assiná-lo, você poderá esclarecê-las com a

pesquisadora. Se preferir, pode levar este Termo para casa e consultar seus familiares ou

outras pessoas antes de decidir participar.Não haverá nenhum tipo de penalização ou prejuízo

se você não aceitar participar ou retirar sua autorização durante a realização da pesquisa.

Justificativa e objetivos:

A pesquisa em questão pretende analisar a relação entre a avaliação da aprendizagem e

o desenvolvimento escolar dos alunos do Ensino Fundamental I.

Procedimentos:

Participando do estudo você está sendo convidado (a) a ser entrevistado (a) pela

pesquisadora. A entrevista será semiestruturada, ou seja, será composta de perguntas com

opções de respostas e outras em que responderá livremente. A entrevista poderá ser agendada

em dia e horário disponíveis do (a) participante e terá duração aproximada de uma hora, a

depender do tempo das respostas do (a) participante. Saliento ainda que, a entrevista será

gravada em áudio, para posterior transcrição pela pesquisadora. Após a transcrição, a

gravação será descartada.

Desconfortos e riscos:

Os procedimentos realizados não oferecem riscos previsíveis ao participante e os

procedimentos utilizados obedecem aos critérios da ética na Pesquisa com Seres Humanos,

presentes na Resolução nº 510. Contudo, caso o pesquisado (a), venha sentir qualquer

desconforto decorrente da participação na pesquisa, deve avisar a pesquisadora responsável

para que possa ser providenciada a assistência integral e imediata de forma gratuita (pelo

patrocinador), pelo tempo que for necessário em caso de danos decorrentes da pesquisa.

A participação na pesquisa é voluntária e a recusa em participar não acarretará qualquer

penalidade e poderá deixar de participar a qualquer momento.

Benefícios:

Ausência de benefícios diretos ao participante, porém durante o desenvolvimento da

pesquisa os professores e a gestão escolar poderão refletir sobre a temática em questão. A

pesquisa contribuirá para a produção de conhecimento à área da Educação.

Sigilo e privacidade:

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Você tem a garantia de que sua identidade será mantida em sigilo e nenhuma

informação será dada a outras pessoas que não façam parte da equipe de pesquisadores. Na

divulgação escrita dos resultados desse estudo, seu nome não será citado. Os dados e

instrumentos utilizados na pesquisa ficarão arquivados com a pesquisadora responsável, por

um período de cinco anos, e após esse tempo serão descartados.

Ressarcimento e Indenização:

Para participar desta pesquisa, o (a) participante não terá nenhum custo nem receberá

qualquer vantagem financeira. Apesar disso, caso sejam identificados e comprovados danos

provenientes desta pesquisa, ele (a) tem assegurado o direito à indenização. A participação na

pesquisa é voluntária e a recusa em participar não acarretará qualquer penalidade ao

participante.

Contato:

Em caso de dúvidas sobre a pesquisa, você poderá entrar em contato com as pesquisadoras:

Nome: Kátia EleotérioRubio

Endereço: Rua Antônio Fernandes Leite, 1520 – Bloco D – Ap. 11 Portal do Bosque – Jardim Santa Izabel – Hortolândia CEP: 13185-230 Telefone:(19)99448 – 6141 E-mail:[email protected]

Nome:Geisa do Socorro Cavalcanti Vaz Mendes

Endereço: Avenida Bertrand Russell, 801 – Cidade Universitária – Campinas – CEP: 13083-865 Telefone:(19) 98755 - 2983 E-mail:[email protected] Em caso de dúvidas com respeito aos aspectos éticos desta pesquisa, você poderá consultar: O Comitê de Ética em Pesquisa (CEP).

O papel do CEP é avaliar e acompanhar os aspectos éticos de todas as pesquisas

envolvendo seres humanos. A Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), tem por

objetivo desenvolver a regulamentação sobre proteção dos seres humanos envolvidos nas

pesquisas. Desempenha um papel coordenador da rede de Comitês de Ética em Pesquisa

(CEPs) das instituições, além de assumir a função de órgão consultor na área de ética em

pesquisas.

Comitê de Ética em Pesquisa nas Ciências Humanas e Sociais – CEP CHS Pró Reitoria de

Pesquisa da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP

Endereço:Av.Bertrand Russell, 801, 2º Piso, Bloco C, Sala 5 - Cidade Universitária

“Zeferino Vaz”, Campinas-SP, Brasil. CEP 13083-865

Telefone: (19) 3521-6836

E-mail: [email protected]

Consentimento livre e esclarecido:

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Após ter recebido esclarecimentos sobre a natureza da pesquisa, seus objetivos, métodos, benefícios previstos, potenciais riscos e o incômodo que esta possa acarretar, aceitoparticiparedeclaro estar recebendo uma via original deste documento assinada pelo

pesquisador e por mim, tendo todas as folhas por nós rubricadas:

Nome do(a) participante: ______________________________________________________

Contato telefônico: ___________________________________________________________

e-mail (opcional): ____________________________________________________________

_____________________________ _____________________________

Rubrica da pesquisadora Rubrica do (a) participante

_________________________________________________Data: ____/_____/______. (Assinatura do participante)

Responsabilidade do Pesquisador:

Asseguro ter cumprido as exigências da resolução 466/2012 CNS/MS e

complementares na elaboração do protocolo e na obtenção deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Asseguro, também, ter explicado e fornecido uma via deste documento ao participante. Informo que o estudo foi aprovado pelo CEP perante o qual o projeto foi

apresentado e pela CONEP quando pertinente. Comprometo-me a utilizar o material e os

dados obtidos nesta pesquisa exclusivamente para as finalidades previstas neste documento ou

conforme o consentimento dado pelo participante.

______________________________________________________Data: ____/_____/______. (Assinatura do pesquisador)

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APÊNDICE B - ROTEIRO DE ENTREVISTA

Roteiro de entrevista Data: ___/___/___

Objetivo Geral: Analisar a relação entre a avaliação da aprendizagem e o

desenvolvimento escolar dos alunos do Ensino Fundamental I.

Bloco 1: Perfil profissional

Nome:__________________________________________________________

Idade: ( ) 20 a 30 anos ( ) 31 a 40 anos ( ) 41 a 50 anos ( ) mais que 50

Em qual ano/série atua? ___________________________________________

Tempo de serviço no magistério: ( ) menos de 5 anos ( ) 6 a 10 anos

( ) 11 a 15 anos ( ) 16 a 20 anos ( ) mais de 20 anos

Tempo de atuação na escola San Remo? ______________________________

Acumula função? ________________________________________________

Qual é a sua formação profissional?

( ) Graduação/ Especifique ________________________________________

Pós Graduação:

( ) Especialização/ Especifique _____________________

( ) Mestrado – Especifique a área:

( ) Doutorado - Especifique a área:

Bloco 2:Prática Pedagógica

1- Considerando a sua prática pedagógica fale um pouco do processo, as

técnicas/metodologias de ensino utilizadas por você ao fazer as aulas.

2- A avaliação da aprendizagem é um dos componentes do trabalho pedagógico

e normatizada pela rede municipal. Como você avalia as aprendizagens das

crianças além dos instrumentos propostos pela rede?

3- Quando você está diante dos resultados das avaliações o que você faz com

eles?

4- Considerando que a média definida para aprovação é de 5 pontos e os alunos

que obtiverem nota inferior a essa são reprovados; a que você atribuí o alto

e/ou baixo rendimento?

5- Diante das crianças que ficaram com um desempenho abaixo do esperado, o

que você tem feito para que elas se recuperem?

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6- Na sua opinião, o que leva alguns alunos a reprovação e/ou apresentarem

baixo rendimento?

7- Refletindo sobre a relação professor-aluno em sala de aula, ela afeta o

desenvolvimento das aprendizagens? De que forma?

8- O que considera que seja feito para melhorar a situação dos alunos que não

obtêm êxito escolar? (alunos com baixo rendimento, em distorção

idade/série/ano, reprovação)

9- Pensando nas políticas de avaliações externas dos desempenhos dos

estudantes, em que medida elas podem interferir em sua prática pedagógica?

Por quê?

10- Na sua prática diária quais são as potencialidades e os obstáculos que

encontra para exercer sua prática pedagógica?