KATO - O Que Fazemos Quando Lemos

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  • 5/13/2018 KATO - O Que Fazemos Quando Lemos

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    o QUE FAZEMOS QUANDO LEMOS? S9Segundo Britton et alii, as diferentes formas-funcoes nao apa-recem sempre totalrnente dissociadas, Frequentemente elas se mes-clam; dentro de urn discurso, e e mais em funcao da predorninancia

    de urn ou outro tipo que se caracteriza a natureza do genera.Poderiamos acrescentar que se pode deixar de obedecer a essacorrelacao Iorma-funcao; isso acontece quando 0 autor procura

    intencionalmente obter certos efeitos indiretos. E como se tivessemosuma maxima cooperativa que dissesse:"Para cada funcao escolha apenas uma forma",e que sua violacao intencional acarretasse urn significado indireto

    ou visasse a algum efeito, da mesma forma que da violacao inten-cional das maximas griceanas decorrem as implicaturas.

    ResumoVimos nesta secao que os atos de ler e escrever sao atoscomunicativos verbais e, como tal, sao passiveis de serem analisadosnuma abordagem funcionalista da linguagem. Sob essa perspectiva,a comunicacao se rege por uma serie de "contratos" entre emissor

    e receptor, e a mensagem veiculada e bipartida entre intencoes doemissor e conteiido proposicional; as primeiras sao interpretadaspelos postulados griceanos e pela teoria dos atos da fala, e 0segundo e visto como a parte do significado 1igada a memoriasemanticae epis6dica do leitor e do redator. A comunicacao eainda efetivamente bem-sucedida se ambos objetivam a coerenciae procuram adequar a forma a Iuncao, obedecendo a alguns prin-cipios operacionais fundamentais como 0 do dado-novo e 0 defigura-fundo.o sucesso da comunicacao escrita depende tambem de urnfatiamento adequado da intormacao, acompanhado dos devidosindices de coesao textual.

    o que fazemos quando lemos?Nossos comportamentos durante a leituraPensando na leitura que fiz para escrever esta secao, possoenumerar varias coisas que fiz para chegar ao meu objetivo. Paraselecionar as obras e artigos que me serviram de base, dei uma

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    60 A NATUREZA DA LEITURA E DA ESCRITURA

    rapida Iida, em diagonal, nos capitulos, secoes e resumos de livrose artigos, concentrando-me no inicio e no fim dessas partes. Depoisde Ieita a selecao, passei a ler corn cuidado cada trecho escolhido,grifando partes que me pareciam importantes, fazendo questiona-mentes quando nao concordava com 0 autor, tendo em voz altaquando 0 trecho ficava mais obscure e mais tecnico, pulando trechosque nao me pareciam relevantes ou eram previsiveis pelo que jatinha lido ou pelo que ja conhecia db assunto ..A multiplicidade de estrategias que nos, leitores maduros,empregamos no ato de ler leva-me a erer que ha processos devarias naturezas nele envolvidos. Ora, as teorias que procuramresponder it pergunta "0 que Iazemos quando lemos?" parecem

    focalizar urn desses processos, generalizando-o como sendo 0 pro-prio definidor do ato de ler.Da mesma forma que nao acredito que possamos caracterizar

    a escrita de forma iinica e invariavel, dada a variacao a que elaesta sujeita, penso que a atividade da leitura tambem nao podeser definida par urn unico processo. Cada urn dos processos pro-postos na literatura me parece descrever alguma coisa que facoou fiz algumas vezes em minha atividade como leitora.o tipo de processo utilizado depende, a men ver, de variascondicoes: a) do grau de maturidade do sujeitccomo leiter; b) donfvel de complexidade do texto; c) do objetivo da leitura; d) dograu de conhecimento previa do assunto tratado ; e) do estiloindividual do leitor, entre outtos.

    Para maier clareza, Iarei uma exposicao geral do que OCOf-reu no desenvolvimento das concepcoes sabre leitura para. emseguida, apresentar os rnodelos que julgo mais significativos. 0termo "modelo" esta sendo usado aqui para designar as concepcoesformalizadas do que ocorreern termos de comportamento do leitorou no interior inacessivel de sua mente.

    A Iingi.Hstica e 0 desenvolvimento das teorias sobre leituraDe certa forma, 0 desenvolvimento das teorias sobre' leitura

    acompanha a desenvolvimento da propria linguistica; isto e , aprincipio, 0 objeto de estudo sao as unidades menores, para, aosPOllCOS, a extensao do foco ir aumentando, ate chegar ao texto.

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    o QUE FAZEMOS QUANDO LEMOS? 61Assim, na teoria estruturalista, a concepcao de leitura e a

    da leitura oral da palavra, isto e, a decodificacao sonora da palavraescrita.

    Essa preocupacao com a palavra continua a existir, mas, aospoueos, corneca-se a pereeber que sua identiticacao leva muito emconta 0 conhecimento lexical do leitor, criando-se, assim, umasegunda concepcao, na qual 0 lei tor e visto como antecipador dapalavra que vai ler.

    Ja sob a influencia da teoria linguistica gerativista, corneca-sea observar a tomada de consciencia do investigador com relacao aocontexto sentencial onde ocorre a palavra, percebendo-se, entao,que urn fator crucial na identificacao de uma palavra e seu contextolinguistico. Ja estamos, nesse estagio, operando francamente como tipo de leitura que se faz em nivel sentencial.

    Mas, ao se levantar a problema do contexto, das hip6tesesque 0 leiter aventa e da busca seletiva que eleempreende paraconfirmar suas hipoteses, comeca-se a perceber que nao e apenaso contexto lingiiistico imediato que e relevante para essa capacidadepreditiva do leitor.o conhecimento previo, que permite fazer predicoes, podeadvir do proprio texto ou de inforrnacoes extratextuais que provemdos esquemas mentais do leiter. 0 foco nao e mais a sentenca,mas 0 texto. A compreensao pass a a ser vista nao mais comoresultado de uma decodificacao dos sinais lingiiisticos, mas comourn ate de construcao, em que as dados linguisticos sao apenasurn fator que contribui para 0 significado construido.

    Com 0 advento da pragrnatica, temos 0 aparecimento do autorna consciencia do leitor, 0 qual, atraves da sua interacao com 0texto, proeura interpretar os objetivos e prop6sitos do escritor.Da pergunta "0 que a texto diz?", ele passa para a pergunta "Porque 0 autor est a dizendo x?".Modelos de leitura

    A concepceo estruturalistaVimos, no capitulo anterior, que a primeira distincao a ser

    feita, ao mencionarmos a tala e a escrita, e aquela relativa anatureza do input: no primeiro caso, temos estfmulos auditivos e,no segundo, visuais. Para os estruturalistas a leitura e urn processo

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    62 A NATUREZA DA LEITURA E DA ESCRITURA

    mediado pela compreensao oral, isto e, 0 1eitor produz, em respostaao texto, sons da fala (no easo da leitura oral) au movimentosinternos substitutivos (no caso da leitura silenciosa) , e e essa res-posta-estimulo que e associada 8,0 significado. Podemos representaressa concepcao segundo o esquema abaixo:ESTIMULO ------ RESPOSTA-ESTIMULO ------SIGNIFICADOVISUAL AUDITIVOTrabalhos mais reeentes Iazem supor tambem que essa fala

    interna, na leiturasilenciosa, ocorre principal mente com aquelesque tiveram experiencia com escrita alfabetica, Nessa concepcao,o que e retido na memoria de curto termo e ume.especie de fala,admitindo-se, porem, que possa haver uma Ieitura sem recodi-ficacao sonora, como acontece com os surdos ..

    Aconcepc;ao estruturalista v e ainda a leitura como urn pro-cesso instantdneo de decodificacao de letras em sons, e a associacaodestes com 0 significado.Podemos aceitar que, na Iase inicial de nossa alfabetizacao,utilizamos largamente a vocalizacao como urn processo auxiliar eque, mesmo como leitores maduros, ainda recorremos a essa voca-Iizacao ou a subvocalizacao para enfrentar trechos de dificil corn-preensao, au ainda para assegurar a retencao, Porem, nao nosparece coerente postular simultaneamente que esse processo possaenvoIver urn reconhecimento rapido do input visual, grafico. Pare-ce-nos que essa vocalizacao, ou subvocalizacao, justamente nosimpede de dar maior velocidade a leitura, por implicar uma dupladecodificacao: letrasem sons e sons em significado.

    o modelo de processamento de dadoso que as variantes do modele de processamento de dados tern

    em comum e a suposicao de que qualquer tarefa cognitiva podeser analisada em etapas ordenadas, cornecando com urn estimulosensorial e terminando com uma resposta.

    Examinaremos aqui a versao radical de Gough 11, que podeser mais bem entendida na traducao de suas pr6prias palavras:

    "No modelo que construi, a feitor nso e um adivinhador. Do ledode fora, ele parece ir de escrite para a significado como em um

    11GOUGH, P. B. One second of reading. In: KAVi.lNAGH, I. F. & MATINGLY,I.G., orgs., Language by ear and by eye, p. 3"53.V. "Bibliogratia cornentada".

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    o QUE FAZEMOS QUANDO LEMOS? 63passe de msqtc, Mas eu digo que tudo isso e apenas i1usiio, queele rea/mente camlnha oele sentence. letra por letre, palavra porpelevre. Pode ate ser que ele neo ieee isso, mas, para mostrer queele niio 0 iez, e preciso demonstrar qual e a sua maglca."Sao as seguintes as etapas propostas, nas quais Gough usa

    interessantes metaforas para visualizar a processo :a) Transformacao do estimulo percebido em uma imagem

    visual (composta de barras, curvas e angulos). 13 a identi-ficacao, a meu ver, da configuracao geral da palavra.

    b) Identificacao letra por 1etra, da esquerda para a direita,e colocacao dos tipos dentro de urn "registro de caracteres",

    c) Interpretacao das letras em fonemas; para Gough. a inter-pretacao chega apenas ao nivel abstrato do Ionema, ficandoa representacao fonemica "gravada em uma fita", a esperade que a "bibliotecaria" Iaca a busea lexical.

    d) Deposito dos itens lexicais na memoria operacional, ondese d a a cornpreensao a nfvel sentencial, atraves de urn mis-terioso operador sintatico-semantico chamado "Merlin".

    e) Aplicacao, por urn "editor", de regras fonologicas a essasentenca interpretada, resultando dai urn enunciado tone-tico.

    Esse modelo, como vimos, e linear e indutivo, e nao faz a refe-renda ao usa de estruturas superordenadas rnaiores que caracterizaa Ieitura proficiente. '

    Leiture sem tnedieciio sonoraUma visao que se opoe a de Gough e a de Luria, neuropsico-

    loga russa que, estudando a dislexia, descreve 0 processo normalde leitura como se segue:

    "0 leltor experiente deixa de extrelr letres e sllebes individuals.EIe aprende a reconhecer palavras como 'individuos'; as palavras saotransformadas em ideogramas visuals. 0 reconhecimento do sIgni-ficado da palavra pode ocorrer sem reierencie if sua estruture iono-logic a (: , .), Com base nisso ele adivinha 0 sent/do da palavra comoum todo. Neese processo 0 contexte de palavra a ajuda enorme-mente. Em certos cesos 0 contexte pode ser tal que 0 numero detrecos dtsttnttvos neceeserioe, ne propria palavra, para um reco-nhecimento preciso, pode ser reduzido a quase zero" 12.

    12 LURIA, A. R. Traumatic aphasia. Haia, Mouton, 1970. p, 348.

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    Ve-se aqui ja urna concepcao bastante diferente das anteriores ..A leitura e entendida exclusivamente como urna atividade de reco-nhecimento e de cornpreensao, e nao como urna atividade queexige uma recodificacao sonora, que, par sua vez, Ievaria aosignificado.

    Segundo essa concepcao, 0 que teriamos entao seria urn lexicovisual, e nao fono16gico, como quer Gough. Por ter uma concepcaosensfvel ao contexto, essa abordagem ja se assemelha ji propostado modele da analise pela sintese, que verernos a seguir.

    a modele da analise pela sinteseAntes de descreverrnos esse modelo, lembremos rapidamente

    o que significam urn processo de SfNTESE e urn processo de ANALISE.o processo de sintese consiste na construcao de unidadeshierarquicamente mais altas au maiores, a partir de unidades meno-res au mais baixas: sintetizamos quando simulamos a producao dafala; a crianca sintetiza, ao Ier, se a base de sua leitura e 0 b + a=~ ba .. Por outro lado, se partirmos do todo para chegar a s suasunidades constitutivas, estarernos usando a processo analftico,Assim, se a crianca chega ao co e ao ca atraves de Coca-cola, parexemplo, ela realizou urn processo de analise. Na interpretacaosernantica usamos tambern do processo sintetico (au composicional)para interpretar algo complexo. Assim, interpreto bolo de chocolatea partir dos significados de bolo e chocolate. Posso tambem chegarao significado de uma unidade a partir do to do a que ela pertenee.Se uma crianca I e uma sentenca como:

    o dromedario nao e igual ao carnelo porque tern s6 urnacorcova.

    e nao sabe 0 que signifies dromedario, eta podera chegar aD sentidoda palavra pela analise do significado do todo.

    Note-se que, nesse processo analitico, ela precisa passar parfases em que 0 significado parcial e obtido pela sintese de algunselementos contiguos. Por exernplo, em . algum momento ela estarafazeudo uma operacao do seguinte tipo: na~ + e + igual =ife-rente. Mas para entender 0 significado de dromeddrio a criancaprecisa forrnular alguma hipotese e tentar confirma-la, Assirn, aoler:

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    o QUE FAZEMOS QUANDO LEMOS? 6So dromedario nao e igual ao camelo ...

    ela j a deduz que dromedario e urn animal e que esse animal ternalguma parecenca com 0 camelo, pois nunca compararfamos coisasque pertencem a universes totalmente distintos - como, por exem-plo, urn sapato com uma flor -, porque a diferenca seria 6bviademais, Ao Iormular essa hipotese, a crianca teria de confirma-Ia,e, para isso, poderia voltar ao processo de sintese. A posse deuma corcova confirmaria finalrnente sua hipotese, 0 processo daanalise pela sintese nao e , portanto, linear, pais, para conferir urnvalor a urn item qualquer, a s vezes 0 lei tor tern de ir ate maisadiante e depois voltar.

    Demos como exemplo a adivinhacao do significado de umapalavra desconhecida, mas esse processo pode explicar tambem 0que 0 lei tor eficiente faz com urn texto sem elementos desconhe-cidos: ao inves de le-Io Ietra por letra e palavra por palavra, comosupoe Gough, ele antecipa os elementos textuais que se seguem.

    A enfase dada ao uso da hipotese e da antecipacao fez comque Goodman 13 definisse a leitura como urn jogo psicolingiiisticode adivinhacao. B, porem, necessario ter-se cautela, para naoacreditar que a leitura bem-sucedida dependa essencialmente dessejogo, pois sabemos que urn mau leitor pode ser caracterizado tantopelo uso excessivo de estrategias sinteticas, como pelo abuso deadivinhacoes nao-autorizadas pelo texto.

    Conviria chamar a atencao, aqui, para 0 termo ASCENDENTE(bottom-up), usado para designar 0 processo linear, sintetico eindutivo, e 0 termo DESCENDENTE (top-down) 14, reservado parao processo nao-linear, analitico e dedutivo. Se 0processo sintetico- \-indutivo, ou ascendente, e Iacil de se Imaginar, 0 analitico-dedu-

    ~ tivo nao e tao evidente. Depois que formulamos urna hipotese,'~como sabemos onde e 0 que olhar? Com base em que elementosfazemos predicoes? No contexte lingiiistico? No contexto extralin-giifstico? Tambem nao fica claro se 0 que 0 leitor faz sao adivinha-coes ou se ele apenas forma expectativas.13 GOODMAN, K. Reading: a psycholinguistic guessing game. Journal of theReading Specialist; 6:126-35, 1967.H Os termos foram assim traduzidos em KATO, M. A. Processos de decodi-ficacao: a integracao do velbo e do novo em Ieitura. In: ENCONTRO DEREDA9AO-LEITURA NO 3. GRAU, 1. Anais ... Sao Paulo, CETEC/PUC, 1983.p. :33-42.

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    A base empirica para a abordagem hipotetico-dedutiva estana observacao de que 0 leitor proficiente faz fixacoes oculares ernmenor numero e rnais distanciadas umas das outras. A cad a fixacaoo leitor estaria planejando quanta e onde olhar ern seguida, usandosua visao periferica. E necessario, porern, distinguir essa buscaperiferica, que se baseia ern contexto lingiiistico, da busca cognitiva-mente orientada, que se apoia na inforrnacao previa. Para tamarmais concreta essa concepcao analitico-sintetica, vou tamar oscomportarnentos possiveis de urn leitor em urn teste doze, que eessencialmente baseado nesse modele de leitura. Veja, par exemplo,o doze abaixo, corn as palavras do texto original escritas entreparenteses:

    Scotland Yard acha ouroA Scotland Yard recuperou parte do 1 roubado em

    (auro)novembro de 1983 de __ 2_ carro forte da empresa Brinks-

    (urn)-Mat. 0 ------ considerado 0 maior ja realizado na(assalto)

    4 rendeu aos 1adr6es 0 equivalente a 29(Gra-Bretanha)

    5 de dolares. Ontem, a Scotland Yard 6 que(milhOes) (informou)durante batidas policias em casas de 7nas cidades de Londres, Bristol e Bath (suspeitos)8recuperar a equivaIente a 278 mil dolares,

    (conseguiu)9 seja, menos

    do que urn por 10(ou)

    do total roubado.(cento)

    (Adaptado da Folha de S. Paulo, 31-1-85, p. 26.)Ao ler a texto acima, urn Ieitor pode preencher as lacunas

    usando como dados apenas 0 que obteve atraves de sua visaoperiferica: assim, se ele preencher, por exernplo, a lacuna 4 comAmerica do Norte, nao estara levando em conta informacoes pre--vias - no caso, a referencia a Scotland Yard -, e estara usandoapenas a sua visao periferica, dentro da qual encontra a palavrad6lares.

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    o QUE FAZEMOS QUANDO LEMOS? 67o Ieitor pode ainda usar informacoes previas para levantar

    sua hipotese, e continuar se apoiando em sua visao periferica, 0que 0 levara a preencher a lacuna de modo coerente com tudoo que veio antes, mas ainda erradamente. 0 preenchimento sopodera ser totalmente satisfat6rio se for eoerente tarnbem com 0que vern depois, ate 0 final do texto. Se apresentar incoerenciacom essa parte do texto e porque 0 leitor nao se deu ao trabalhode confirmar sua hip6tese. Seria 0 caso da lacuna 6, se preenchidacom achar, por exemplo.

    Uma outra questao que nos parece irnportante discutir aquie a forma como passamos do input visual para 0 significado.Como vimos, e na memoria operacional que as palavras retidas

    mudam de natureza, isto 6, passam do estatuto de palavras parao estatuto de significado. Como isso se da nao e facil explicar.Ha, essencialmente, duas alternativas: uma se baseia no usa inicialde operacoes de natureza sintatica e a outra, no usa de operacoesde natureza semantica, N as duas explicacoes a conceito de consti-tuinte sentencial e vital, pois e eIe, e nao qualquer sequencia depalavras, que alimenta esse processo de conversao. 1S80 e bastantefacil de entender pois na frase:

    A baixa renda do brasileiro de classe media pode surpreendero F~I. -ha sequencias que fazem sentido e outras que nao, Assim, asseqiiencias baixa renda, classe media, brasileiro de classe media,surpreender 0 FMI podem seT entendidas separadamente, enquantoa baixa, do brasileiro de, surpreender 0 DaO podem ser entendidas.Isso porque a primeiro grupo e constituido de seqiiencias queformam constituintes, e a segundo nao. A conseqtiencia disso eque uma segmentacao errada na hora de leitura leva a falhas decompreensao.

    Na explicacao sintatiea, a compreendedor aprende uma seriede estrategias para segmentar correta e automaticamente a cadeiaa medida que vai interpretando a sentence. As pistas usadas saoprimordialmente as palavras gramaticais (artigos, preposicoes, con-juncoes, verbos auxiliares ), que iniciam mas nao fecham consti-tuintes. No easo do exemplo acima, 0 ouvinte ou leitor Iaria aseguinte segmentacao (0 feehamento de co1chete indica 0 feeha-mento de constituinte):

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    [A .[A baixa .[[A baixa renda] do .[[[A baixa renda] do brasileiro] de .[[(A baixa renda] do brasileiro] de classe .etc.A interpretacao da sentenca nao s6 confere fungoes sintaticas,como sujeito, objeto, mas tarnbem sernanticas, como entidade-agente,

    entidade-paciente etc. 0 produto dessa interpretacao e 0 que seconvenciona chamar de representacao semantics.

    Na explicacao semantica, 0 compreendedor ja tern a expecta-tiva de encontrar intormacoes sobre estados, processos e acoes etc.,e procura 0 verbo como pista indicadora desses tipos de informacao.Se encontrar urn verbo que codifica a

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    a QUE FAZEMOS QUANDO LEMOS? 6'

    entao decisoes parciais coordenadascom as decisoes tomadas emoutros nfveis. Voltando a ilustracao atraves do doze, podemosimaginar urn leitor proficiente tentando adivinhar 0 item que devepreencher uma lacuna x. Ele estara operando simultaneamente anivel local (frasal ) , a nfvel do que ja foi compreendido ate aquelalacuna e tomando sua decisao em fun~ao tambem do que verndepois, no texto,

    Acredita-se que esse proeessamerrto em varies niveis, em leituranormal, seja altamente eficiente porque inconsciente. Mas acredi-ta-se tambern que haja mementos em que as alternativas se tornamconscientes e 0processamento se torna sequencial e relativamentevagaroso,

    Voltarernos a essa distincao entre processamento inconscientee consciente rnais adiante,

    o modele construtivistaDo modele de Gough para as abordagens da analise pela sin-

    tese houve uma mudanca significativa, que foi a intrcducao docontexto como fator que afeta a Ieitura, Esse conceito, porem,restringiu-se inieialrnente ao do contexte Iingiiistico imediato, istoIS, 0 que vern antes au depois daquilo que esta sendo produzidoou entendido. 0 que tivemos ate aqui foi a concepcao de que 0significado vern basicamente do input Iingufstico, visual, no easoda Ieitura.

    Com 0 surgimento do conceito de informacao previa. a COD-cepcao se expande para alern do contexte lingiifstico imediato, masnao sabemos se iS50 englobaria tambem a inforrnacao iextratexto.

    Goodman parece entender "contexte' em urn sentido ample,envolvendo ja a conhecimento de mundo do 1eitor,e apresenta,por iS50. mais afinidade com a:utores construtivistas, comb Smith 15e Spiro 16,. Para Smith, muito do significado que extrafmos dotexto vern de intorrnacoes nao-visuais. Da mesma forma que temosuma teoria lingtiistica que nos permite interpretar a forma Iingtifs-tica, temos tambern uma teoria do mundo que nos faz imprimirsentido ao texto.JJ5 SMITH, F. Reading. V. "Bibliografia cornentada".HI SPIRO, R. 1. Constructive processes in prose comprehension. In: SP1RO,R. J. et alii, orgs., Theorethical issues in reading comprehension. V. "Biblio-grafia comentada",

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    Para Spiro, 0 significado nao reside em palavras, sentencas,paragrafos ou mesmo textos; a que a lingua preve e urn "esqueleto",uma base para a criacao do sentido. Esse esqueleto deve ser preen-chido, enriquecido e embelezado, de forma que 0 resultado seconforme com a visao de mundo e a experiencia do leitor.Segundo os construtivistas, essa visao de rnundo vern orga-nizada ern estruturas ccgnitivas, sejarn elas esquemas, scripts au

    frames.Embora interessante como proposta, ha ainda muita coisa vagaa ser esclarecida na teoria dos esquemas, POI exemplo, se elescodificam 0 nosso conhecimento do mundo, e se urn campo desseconhecimento e a competencia Iingiilstica, esta nao deveri a tambernter a forma de esquema? Qual seria nesse caso a relacao entreeste esquema e os dernais? Vejamos.1. Tenho meus esquemas (rninhas teorias) sabre posslveiseventos, de forma que quando, por exemplo, assisto a urn acidentede automovel, meu esquema correspondente a 'acidente de carro'me ajuda a interpretar esse evento particular como urn exernplo de

    esquema 'acidente de carro'.2. Tenho meus esquemas (minha teoria) sobre possiveis sen-tencas de lingua, de forma que, quando vejo uma seqiiencia lin-gtiistica qualquer, posso identificar tal sequencia como uma sen-tenca dessa lingua.3 .. Interpretada essa sentenca, tenho uma certa descricao deuma cena de acidente de carro, Nao se trata rnais do even to real,mas de uma representacao,4. 0 rnesmo esquema que me ajudou a interpretar uma ceriareal de acidente de carro me ajudara a aceitar ou njio a represen-tacao verbal desse evento, isto e, a leitura literal e confrontadacom a inforrnacao que vern de meus esquemas.Nota-se que Ireqiienternente lemos algo e dizernos: "Isso fazsentido", e nao "Is so tem sentido". Urn texto analisado e sinteti-zado apenas do ponto de vista lingtiistico tem sentido. Urn texto

    cornpreendido em terrnos dos nossos esquernas jaz sentido. Masobserve-se que ao dizermos "Esse texto faz sentido" devemos tam-bern atribuir a ele senti do literal, Iinguistico, para poder verificarsua coerencia com nosso conhecimento do mundo.o que frequenternente fazemos e nao completar 0 sentidoliteral, usando apenas parte dele para construir, na busca da coeren-cia, alga que faz sentido para nos. Suponhamos que no meio de

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    o QUE FAZEMOS QUANDO LEMOS? 71urn texto exista algo anorrnal, como por exemplo uma palavramal escrita. Quantas vezes deixamos de perceber a anornalia justa-mente porque pressupomos que 0 texto se conform a com 0 queesperamos dele?B irnpossfvel comprovar empiricamente, em uma leitura semdesvios do sentido litera], essas estrategias descendentes, de deduziro sentido do texto com base em algumas pistas Iinguisticas visuais,A prova de que tais estrategias existem esta nos erros que come-ternos, muitos dos quais podem ser atribuidos a esse processamentopreditivo, adivinhador. Podemos tambem dar como evidencia aIeitura que corrige automaticamente os defeitos au incoerencias dotexto. 0 leitor nao percebe essas irnperfeicoes porque, se as levarem conta, Q texto niio [a: sentido, Alem das distorcdes podemosverificar tambem informacoes adicionais que 0 leitor pensa ter lidono texto, mas que resultam de esquemas desnecessariarnenteativados.

    O modelo reconstrutorQuando estamos conversando com alguem, nossa participacaocomo ouvinte e muitas vezes caracterizada por intromissoes nafala do nosso interlocutor. Essas intromiss5es DaO constituern umamudanca de turno real: apenas acompanhamos a fala do outro ea complementamos corn uma palavra aqui, outra la, e ate sentencasinteiras,o modele da analise pela sintese nos da a explicacao para

    esse fenomeno, a nivel de palavra e de sentenca. Podemos dizerque 0 mesmo ocorre a nivel de urn discurso mais extenso. 0meu ate de ouvir meu interlocutor consiste em sintetizar au simular,mentalmente, sua tala, Minha compreensao se resume em confirmarau desconfirmar 0 que predigo em meu planejamento.Levy 17 propoe urn modelo de leitura pautado em hip6tesesemelhante. A Ieitura seria urn ato de reconstrucao dos processosde producao. Ao contrario das propostas anteriores, que, apesardas diferencas, partilhavam entre si uma visao formalista da leitura,a concepcao reconstrutora se ap6ia em pressupostos funcionalistas:enquanto aquelas viam 0 ato da leitura como uma integracao entreo conhecimento do leitor e a informacao dada pela forma do11 LEVY, D. Communicative goals and strategies: between discourse andsyntax. In: Grv6N, T., argo Syntax ...

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    texto, este modelo ve 0 ate de ler como uma interacao do leitorcom a proprio autar, em que 0 texto apenas Iornece as pegadasdas intencoes deste ultimo.

    A producao verbal e vista como uma atividade de planeja-mento, atraves da qual 0 agente traca urn curso de a

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    o QUE FAZEMOS QUANDO LEMOS? 73b) 0 texto veicula so e somente as intencoes do autor, e a

    leitor interpreta-as apenas parcialmente - a leiter e me-diana ou fraco:

    c) 0 texto veicula s6 e somente as intencoes do autor, e 0leiter interpreta-as de forma totalmente dlferente - aleitura v e resulrado de infortnacoes extratexto; portanto,nfio houve- compreensao :

    d) 0 texto nao revela totalmente as intencoes do autor, maso leiter as recupera atraves:i) de sua capacidade de interpretar violacoes intencionaisde prirrcipios; au

    ii) de sua capacidade de reconstruir urn texto ma1cons-truido.E 0 Ieitor que usa ao maximo sua capacidade ccoperativa:

    o que fica claro em propostas que trabalham dentro de umaabordagem funcionalista e que 0 leitor e encarado como partici-pante cooperativo de urn ato de comunicacao .. Embora a comuni-

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    cacao nao se d e face a face, como em uma conversacao, podemosdizer que, na medida em que 0 leitor interage com 0 texto, buscandoas intencoes do autor par tras das palavras efetivamente eseritas,ele esta atuando como membro cooperativo de uma interacaocomunicativa.

    Processos metacognitivosVoltando a abordagem das multiplas hipoteses, vimos que,para ela, 0leitor atua oraconsciente, ora inconscienternente,As estrategias conscientes, ou metacognitivas, caracterizam 0cornportamento do Ieitor maduro, pois derivam do controle plane-

    jado e deliberado das atividades que levam a compreensao., Podemos aqui falar em niveis de maturidade, pois uma criancaque esta objetivando apenas a leitura de palavras podera monitorarsell comportamento para 0 reconhecimento nesse nivel, assim comoo adulto proficiente 0 faz no nivel de cornpreensao do texto, Masentre uma crianca que Ie errado e nao se autocorrige e outra queo Iaz, a segunda seria mais madura, pois conseguiu detectar umafalha em seu comportamento. A nivel de texto, se 0 leitor passade uma leitura automatica e fluente (obedecendo a principios emaximas de forma Inconsciente) para uma leitura pausada e vaga-rosa, 1S80 pode ser urn sinal de que ele detectou alguma falha ernsua leitura e passou a usar uma estrategia mais ascendente, maisvinculada ao texto. Essa desaceleracao assinala tambem urn corn-portamento metacognitivo,

    Fatores que determinam a forma da leituraMinha posicao inicial foi a de que cada urn dos modelospropostos na literatura retrata urn tipo particular de processo deleiturae que 0 usa de urn processo ou outro au a combinacao demais de urn depende das condicoes de leitura, dentre as quais

    relevaremos as seguintes:a) 0 grau de maturidade do sujeito como Ieitor; b) 0 nivel decomplexidade do texto; c) 0 estilo individual; d) 0 genero do texto.A maturidade do leiter

    Se avaliarmos os modelos vistos em termos do que fazemoscomo leitores maduros, verificarernos que muitos dos processos

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    o QUE FAZEMOS QUANDO LEMOS? 75descritos realmente comp6em nosso ato de ler, ou sao usadoscomplementarrnente, dependendo de outras variaveis,

    Para Gibson e Levin 18 a leitura e urn processo adaptativo dospropositos que 0 Ieitor se coloca, Essa concepeao de leitura e aque eu consideraria 0 modele de urn Ieitor maduro, e nao 0 modelode urn processo.

    Sao relevantes ainda para uma leitura madura a capacidadede estabelecer metas bern definidas e de monitorar a conrpreensao,tendo em vista esses objetivos.

    E importante fazer aqui uma distincao entre ler com 0 obietivogeral de compreender 0 texto (fazer sentido do texto) e ler comobjetivos especificos de busca de informacao: no primeiro caso, aconsecucao do objetivo geral pode estar a myel inconsciente, mas,no segundo, ados objetivos espeeificos e sempre consciente.A visao acima apresentada e coerente COin a teoria da r e t en e ao ,em aquisicao, segundo a qual as estrategias aprendidas e usadasnas Iases anteriores nao sao descartadas, Assim, ao aprender urnprocesso novo, OS anteriores se mantem como recurs os comple-mentares Iatentes, A leitura voealizada, por exeroplo, embora naousada norrnalmente, e urn expediente de que Iancamos mao quandoenfrentamos urna passagern complexa, A leitura estritamente sinte-tica e usada para palavras descontextualizadas como, por exemplo,R Ieitura de urn nome estranho de remedio, Assim, 0 leiter maduroconta com varies processes, dependendo seus usos das condicoesde leitura. Mas a aquisicao desses processes e gradativa e cumula-tiva, 0 que significa que, para cada estagio do desenvolvimento, 0leitor conta com urn subconjunto diferente, cada vez mais inclusive,

    A complexidade textualE preciso, antes de tudo, distinguir acompJexidade oriunda

    de urn conteudo pouco familiar da complexidade proveniente deIatores lingufsticos, Urn texto de conteudo altamente familiar possi-bilita ao leitor usar muitos de seus esquemas, 0 que nos faz preveruma leitura com urn born cornponente de processos descendentes,dedutivos e analiticcs .. Se, por outro Iado, a texto e sobre assunto18GIBSON, E. & LEVIN, H.. orgs., The psychology of reading. V. "Bibliografiacomentada" ..

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    poueo familiar, de nada lhe serve 0 seu arsenal de esquemas.Donde, nesse cas0, podemos prever uma abordagem essencialmenteascendente, atraves da qual 0 leitor constroi novas esquemas.Quanto aos aspectos Iingufsticos, ha tres niveis a considerar: 0vocabulo, 0 perfodo e 0 texto.

    Acredita-se que urn texto com muitas palavras desconhecidasseja de leitura diffcil e se processe palavra por palavra, Na verdade,o que influi na escolha do processo e a possibilidade ou na o deo texto oferecer condieoes para 0 leitor inferir seu significado. Aexistencia de palavras desconhecidas fara com que ele use muitode sua capacidade de processamento descendente, pais 0 ascendentenao 0faz progredir em sua compreensao ..As palavrasnovas, quandoestrategicamente colocadas, nao devem, pais, retardar a Ieitura,

    A nivel sentencial, acredita-se que certas estruturas sao maisdificeis do que outras, Por exemplo, ha uma crenca generalizadade que as subordinadas sao mais diffceis que as coordenadas, queas passivas sao mais diffceis que as ativas e que a ordem inversae de diffcil percepcao, Contudo, a complexidade, definida a nivelsentencial, nem sempre e assim interpret ada a nivel textual. Damesma forma que com a palavra contextualizada,a dificuldadepode ser minimizada se 0 leitor ja faz uma leitura preditiva a nivelde unidades maiores. Quando, a nivel de estruturas majores, ousuperordenadas, a predicao do que ocorre em nfveis subordinadosnao is Iacil, pode-se prever que a estrategia basica sera 0processa-mento ascendente.

    o estilo individual na lettureDentre as variaveis que determinam a escolha de urn dos varies

    processos descritos pelos modelos, urn dos rnais importantes e aestilo pessoal do leiter. Neutralizadas todas as outras variaveis,ainda assim podernos constatar diferencas de comportamento.

    Hoi Ieitores que saornais adivinhadores do que outros, Sao asque fazem largo usa de processarnento descendente. Ha outros quepreferem se ater a s informacoes estritamente textuais : sao as Ieitoresque dao preferencia a leitura ascendente. Hoi leitores que gostamde ler vocalizando; ha outros que tern dificuldade de entenderquando Ieem em voz alta; ha outros, ainda, que usam camplemen-tarmente ambos os processos.

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    o QUE FAZEMOS QUANDO ESCREVEMQS'I 77Esses comportamentos e preterencias mostram que a variacao

    individual pode ser descrita em termos da preferencia e da Irequen-cia de uso des diversos processes,

    o genero do textoVilla evidencia de que 0 tipo de processamento e variavel pode

    ser vista nas formas diversas de interacao do leitor com textosde diferentes generos.

    Hi poesias que sao essencialrnente compostas para serem Iidasem voz alta. Outras - as concretistas - sao compostas paraserem vistas. As ficcoes tern uma natureza que exige essencialmenteuma abordagern construtivista, em que 0 leitor tern uma amplamargem de liberdade para criar sobre 0 texto, Os textos da areade ciencias exatas exigem essencialmente uma abordagem analitico--sintetica. Os textos politicos exigem, par sua vez, quase sempreuma reconstrucao das intencoes do autor, que nem sempre as codi-fica de forma implicita.

    ResumoPara responder a pergunta "0 que fazemos quando Iemos",

    examinamos as varias propostas de modelos de leitura, desde aquelaque a v e apenas como urn ato de decodificacao sonora ate aquelasque a veem como urn ato de identificacao das intencoes do autore de reconstrucao do planejamento de seu discurso, Embora estaultima se aproxime bast ante do comportamento e dos processos deurn leiter mais maduro, considerarnos todos esses modelos comosimulacoes de urn tipo particular de estrategia do leitor. 0 leitermaduro, a nosso vet, vern adquirindo cis processos cumulativamente,e 0 usa de cada urn deles euma funcao de varies fatores condi-cionantes, tais como sua maturidade, a complexidade do texto, 0genera, seu estilo individual etc.

    o que fazemos quando escrevemos?Hist6ricoOs modelos psicolinguisticos sobre a producao oral sao mais

    recentes do que aqueles sobre a compreensao oral, e e natural