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nº 2 o maio de 2013 SOMOS UM GRUPO DE LEIGOS CATÓLICOS DA COMUNIDADE DE SANTA SUZANA, EM SÃO PAULO, QUE TEM A CERTEZA DE QUE, COMO PARTE DO CORPO DE CRISTO, DA IGREJA CELESTE, TEMOS POR OBRIGAÇÃO PROPAGAR O REINO DE DEUS E A BOA- NOVA QUE É JESUS CRISTO AOS QUATRO CANTOS DA TERRA, A TODO SER HUMANO, EXATAMENTE COMO O SENHOR PEDIU AOS SEUS DISCÍPULOS ENQUANTO ESTEVE NESTE MUNDO. COMUNIDADE SANTA SUZANA QUEM SOMOS NOSSA NOSSA igreja VIDA DE santo VIDA moderna Irmãos e irmãs, é com muita alegria e cuidado que apresentamos o 2 º fascículo desta publicação, que tem como principal objetivo trazer de volta à prática cotidiana a verdadeira fé católica, herdada dos Apóstolos, desde que nosso Senhor Jesus Cristo encarnou há mais de 2.000 anos.Para dar cabo desse desafio, iremos adotar como premissa a centralidade de nossa fé a partir de Jesus Cristo, o Cristocentrismo. Em outras palavras, Jesus Cristo será a chave hermenêutica que usaremos para apresentar e disseminar o Evangelho e suas passagens aparentemente complexas ou mesmo conflitantes. Ao longo de todo o Evangelho, tudo que combinar com o que Jesus fez, pregou, pensou, sentiu ou decidiu se fortalece como verdade para nossa fé. Afinal, cabe a nós, leigos católicos, como disse Pedro, estarmos sempre preparados a dar razões de nossa fé e, mais ainda, a compartilhá-la com o próximo(cf. 1Pd 3,15) A QUEM Esta publicação bimestral destina- se a todo ser humano que, percebendo sua incapacidade e fraqueza diante da grandiosidade da obra de Deus, anseia por encontrá-lo e, assim, O procura a todo momento, em todos os lugares, muitas vezes aparentemente não encontrando a resposta esperada... ou mesmo qualquer resposta. Por isso, temos o objetivo de simplificar, clarear e fortalecer a fé católica em toda a sua Verdade, que reside na compreensão de que – como nos ensina o prólogo do Evangelho de São João – tudo foi feito por Jesus Cristo, o verbo encarnado de Deus (cf. Jo 1,3s). Católicos convictos, em dúvida, decepcionados, inseguros, afastados, com o coração esfriado, desesperançosos, críticos... Ex-católicos, irmãos protestantes e evangélicos, praticantes de toda e qualquer religião, eis a nossa boa-nova que queremos compartilhar com vocês: Jesus Cristo nos salvou em seu sacrifício na cruz e nos reconciliou com Deus, para que tenhamos abundância de vida, a vida eterna! SE DESTINA FASCÍCULO II: PENTECOSTES E O ESPÍRITO SANTO

Kênosis fascículo nº2

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Page 1: Kênosis fascículo nº2

nº 2 o maio de 2013

SomoS

um grupo

de leigoS

católicoS da

comunidade

de Santa

Suzana, em

São paulo, que

tem a certeza

de que,

como parte

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de criSto,

da igreja

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por obrigação

propagar

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mundo.

comunidade Santa Suzana

Qu

em

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mo

s

Nossa féNossa igrejavida de santo

vida moderna

Irmãos e irmãs, é com muita alegria

e cuidado que apresentamos o 2º fascículo desta

publicação, que tem como

principal objetivo trazer de volta à

prática cotidiana a verdadeira fé católica, herdada dos

Apóstolos, desde quenosso Senhor Jesus Cristo encarnou há mais de 2.000 anos.Para dar cabo desse

desafio, iremos adotar como premissa

a centralidade de nossa fé a partir de

Jesus Cristo, o Cristocentrismo. Em outras palavras, Jesus Cristo será a chave hermenêutica que usaremos para apresentar e disseminar o Evangelho e suas passagens aparentemente

complexas ou mesmo conflitantes. Ao

longo de todo o Evangelho, tudo que

combinar com o que Jesus fez, pregou,

pensou, sentiu ou decidiu se fortalece

como verdade para nossa fé.

Afinal, cabe a nós, leigoscatólicos, como disse Pedro, estarmos sempre preparados a dar razõesde nossa fé e, mais ainda, a compartilhá-la com o próximo(cf. 1Pd 3,15)

a quemEsta publicação bimestral destina-

se a todo ser humano que, percebendo sua incapacidade e fraqueza diante da grandiosidade da obra de Deus, anseia por encontrá-lo e, assim, O procura a todo momento, em todos os lugares, muitas vezes aparentemente não encontrando a resposta esperada... ou mesmo qualquer resposta.

Por isso, temos o objetivo de simplificar, clarear e fortalecer a fé católica em toda a sua Verdade, que reside na compreensão de que – como nos ensina o prólogo do Evangelho de São João – tudo foi feito por Jesus Cristo, o verbo encarnado de Deus (cf. Jo 1,3s).

Católicos convictos, em dúvida, decepcionados, inseguros, afastados, com o coração esfriado, desesperançosos, críticos... Ex-católicos, irmãos protestantes e evangélicos, praticantes de toda e qualquer religião, eis a nossa boa-nova que queremos compartilhar com vocês: Jesus Cristo nos salvou em seu sacrifício na cruz e nos reconciliou com Deus, para que tenhamos abundância de vida, a vida eterna!

Se deStina

FaScículo ii: pentecoSteS e o eSpírito Santo

Page 2: Kênosis fascículo nº2

kÊnoSiSreSolvemoS chamar eSta publicação

de kÊnoSiS, poiS conSideramoS

eSSe conceito um doS maiS

Fundamentalmente criStãoS

apreSentadoS em toda a bíblia Sagrada.

Mas o que é Kênosis? A definição padrão, presente no Google, diz que Kênosis (ke/nwse - ekénose, ekenõsen) é um conceito da teologia cristã que trata do esvaziamento da vontade própria de uma pessoa e a aceitação do desejo de Deus em detrimento de seu próprio. É encontrado no Novo Testamento como o esvaziamento de Jesus, na carta de Paulo aos Filipenses. Esvaziar-se – deixar a própria vontade, desejo, prioridade ou necessidade para segundo plano – parece ser o mais essencial e o mais difícil desafio do cristão atualmente, principalmente nesse mundo do “tudo mais, tudo pode, hoje, aqui, agora, só para mim”.

Kênosis é difícil, porque demanda a cada um de nós se esvaziar de si mesmo, para assumir a vontade e o projeto de Deus em nossas vidas, como Abraão na Primeira Aliança, e Maria, na Segunda e definitiva.

Mas não é só isso: Kênosis é também assumir a vontade e a posição do outro, porque para Cristo seus 2 mandamentos únicos e essenciais são indissociáveis: “amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”. Ou, como pregou João em sua 1ª Carta (4, 20): “Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu?”

Deixamos, portanto, para reflexão de cada um, como membros ativos do Corpo de Cristo e cidadãos do Reino de Deus, pelo Batismo, a passagem original da 2ª Carta de Paulo aos Filipenses, onde a Kenosis – e seu efeito transformador e salvífico se materializam para todo o sempre, como única promessa de Deus, por Cristo, no Novo Testamento: aquele que seguir seus mandamentos, de todo o coração, toda a alma, todo o entendimento e todas as forças terá a eternidade junto ao Pai.

Filipenses 2, 1-11: “Portanto, se há

algum conforto em Cristo, se alguma

consolação de amor, se alguma

comunhão no Espírito, se alguns

entranháveis afetos e compaixões,

completai o meu gozo, para que sintais o mesmo, tendo o mesmo amor, o mesmo ânimo, sentindo uma mesma coisa. Nada façais

por contenda ou por vanglória, mas por

humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo. Não atente cada um para o

que é propriamente seu, mas cada qual

também para o que é dos outros.

De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em

forma de Deus, não teve por usurpação

ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si

mesmo, tomando a forma de servo,

fazendo-se semelhante aos homens; e,

achado na forma de homem, humilhou-

se a si mesmo, sendo obediente até a

morte, e morte de cruz. Por isso, também

Deus o exaltou soberanamente, e lhe

deu um nome que é sobre todo o nome;

para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.”

por que

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Irmãos, nesse tempo de tribulações, injustiças, dúvidas e angústias, sosseguemos nossos corações, porque Jesus nos deixou o Espírito Santo como advogado. Confiemos no Espírito, que nos anima e impulsiona e conduz para o encontro definitivo com Pai e com o Filho, porque é Ele quem nos guia dia a dia no caminho da santificação que nos fará herdar efetivamente a salvação conquistada por Cristo na cruz.

Na doutrina da Trindade, a Kênosis está relacionada à divindade de Jesus: ao deixar de lado seus atributos divinos (transcendência, onisciência, onipotência, onipresença, total glória e esplendor) e abraçar integralmente sua condição humana (exceto no pecado), Jesus nos dá o exemplo de como é viver confiando e dependendo plenamente do Espírito Santo.

Cristo, o verbo criador, torna-se semelhante às criaturas criadas. Ao abandonar sua divindade, sem perdê-la (pois não pode deixar de ser o que é), Ele, que era ilimitado (infinito em sabedoria, substância e poder), torna-se limitado como o Homem, deixando de viver em sua transcendência e sujeitando-se ao tempo e ao espaço (criação). Com isso, sai do Kairós (palavra grega que significa a experiência do momento oportuno, o tempo em potencial, tempo eterno e não linear, medida temporal na perspectiva de Deus) e entra efetivamente em nosso Chronos (medida de tempo linear e sequencial; a que vivemos), tornando-se um humilde servo (criatura) com a missão de conquistar definitivamente nossa reconciliação

com Deus-Pai e nossa salvação, conforme retratada nos Evangelhos.

A exemplo de Nosso Senhor Jesus Cristo, devemos aprender a confiar em nosso Paráclito (advogado), que é o Espírito Santo, e tirar de nosso coração tudo aquilo que nos prende a esse mundo: a nossa Kênosis individual.

Os primeiros cristãos da era apostólica viviam verdadeiramente esse exercício de autoesvaziamento (At 20,24; Gl 2,20), abandonando um estilo de vida egocêntrico para adotar um estilo de vida comunitário e altruísta (2Co, 5-15). Na prática da fé cristã, isso é viver por, com, em e para Jesus Cristo e, por decorrência, se doar em serviço aos irmãos, como Jesus ensinou no Lavapés. Logo, é um abandonar os próprios interesses para buscar os interesses de Jesus Cristo e seu reino eterno.

Os cristãos primitivos absorveram essa proposta de forma tão contundente, que chegaram a vender bens materiais e distribuir o arrecadado para os que tinham necessidade, fortalecendo assim o senso de comunidade cristã, de Corpo Místico de Cristo. Foi também por causa dessa fé enraizada no coração e na mente desses cristãos primitivos que muitos perderam suas vidas na pregação do Evangelho, pois, mesmo diante das ameaças de morte e perseguições impetradas pelos judeus e pelo Império Romano, eles simplesmente não podiam deixar de falar e honrar Àquele para quem viviam.

introdução: kÊnoSiS e o

eSpírito Santoo eSpírito Santo vive entre nóS

deSde que noSSo Senhor jeSuS

criSto aScendeu aoS céuS. é pelo

eSpírito que experimentamoS maiS

praticamente em noSSaS vidaS

quotidianaS noSSa relação com o

deuS-trindade, Seja peloS donS,

Seja peloS FrutoS, Seja pela

converSa e interação contínua

que temoS com ele e ele conoSco.

Confiar totalmente no Espírito Santo, se abandonando no Evangelho do Verbo e no Amor Infinito de Cristo, é sinal efetivo da Kênosis (Esvaziamento) de um Cristão

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Page 4: Kênosis fascículo nº2

Nossa fé

Estamos vivendo o período de Pentecostes em nossa Igreja. Pentecostes é sobre o Espírito Santo, sobre a relação de Deus com a Humanidade, através do Espírito Santo. O Espírito Santo é o Senhor da Trindade que “substitui” Jesus – agora ao lado do Pai – em sua tarefa de assistir e acompanhar a Humanidade na construção do Reino de Deus, em nosso caminho de salvação rumo à vida eterna.

o espírito Santo nos evangelhosPodemos afirmar que o Espírito Santo é a presença de Deus experimentada pelo ser humano, como também é a presença de Cristo na Terra, legada pelo próprio Cristo para nos inspirar, confortar e guiar, antes de sua ascensão aos céus. Mas atentemos: o Espírito Santo não é o Espírito do Deus-Filho (Cristo) ou do Deus-Pai (Javé), mas uma pessoa interdependente da Santíssima Trindade, tão Senhor quanto o Deus-Pai e o Deus-Filho.Desde cedo, como cristãos, aprendemos a professar nossa fé, entoando o “Creio” ou “Credo”. Por isso, professamos: “Creio no Espírito Santo”. Ao contrário do senso comum, o “Credo” não é uma oração; mas uma afirmação daquilo que nós, como Igreja Corpo de Cristo, adotamos como objetos de fé; ou seja, no que cremos, de fato. Como veremos adiante, isso nem sempre foi assim. No início do Cristianismo, o Espírito Santo não era uma verdade absolutamente reconhecida e o conceito da Trindade não estava cristalizado no coração de todos os cristãos.Entretanto, como podemos ver nos diversos Evangelhos, o Espírito Santo é presença forte e permanente na vida de Jesus Cristo, como em seu batismo por João Batista ou quando, já ressuscitado, soprou o Espírito Santo sobre os discípulos.Outra passagem importantíssima está no final do Evangelho de Mateus (Mt 28,19), em que Jesus manda batizar em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, dando força à Trindade (item que também aparece na 1ª Carta de Pedro e em outras passagens).Como doutrina de fé, o Espírito Santo somente se ilumina no Novo Testamento; não sendo objeto de fé dos judeus (por exemplo, quando se escreve espírito no Antigo Testamento, sempre se escreve em minúsculo). Assim, a consciência de sua ação na história da salvação desde o princípio dos tempos veio pela revelação de Jesus Cristo. No Credo Niceno-Constantinopolitano, declarado no 1º Concílio de Constantinopla em 381, o Espírito Santo é chamado de “Senhor que dá a vida”, portanto, o vivificador, o sopro de vida (em hebraico, a palavra espírito é ruah, que

quer dizer sopro, vento). Também nessa versão do “Credo” entoamos que o Espírito Santo “procede do Pai e do Filho” e “como o Pai e o Filho é glorificado”, “Ele que falou pelos profetas ”, e que continua falando com a Humanidade, pela Igreja Corpo de Cristo, até hoje.

A doutrina da Santíssima Trindade nos ensina que “em Deus há três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo; e cada uma delas possui a essência divina que é numericamente a mesma”.Apesar de não estar formalmente formulada nos Evangelhos como doutrina, a Santíssima Trindade nos é revelada em várias passagens, quando aprendemos que cada Pessoa da Trindade tem seu papel e finalidade específica, todas elas concorrendo para o mesmo objetivo, pois têm um só plano, uma só vontade. Dessa forma, aprendemos que Deus-Pai é o criador de todas as coisas visíveis e invisíveis; que Jesus-Filho é o verbo executor e redentor e que o Espírito Santo é o consolador da Humanidade e o iluminador da revelação de Cristo sobre Deus ao longo de todos os séculos.Temos essa certeza ao confirmarmos a fidelidade infinita do Filho ao Pai e do Espírito Santo ao Filho, manifestando

Ao cair da tarde daquele primeiro dia da semana, estando os discípulos reunidos a portas trancadas, por medo dos judeus, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: “Paz seja com vocês!” Tendo dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se quando viram o Senhor. Novamente Jesus disse: “Paz seja com vocês! Assim como o Pai me enviou, eu os envio”. E com isso, soprou sobre eles e disse: “Recebam o Espírito Santo”. João 20,19-22

o espírito santo e a unidade Perfeita da Trindade

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mais fiel e incontestável hermeneuta (aquele que interpreta corretamente os sentidos das palavras em leis, decretos e/ou textos formais) e exegeta (aquele que lê, interpreta, traduz, contextualiza e atualiza textos e mensagens bíblicas, jurídicas ou literárias, tanto explícitas como implícitas) para o Homem, porque nossa capacidade de compreensão de toda revelação feita por Cristo, acerca de Deus-Pai, é limitada à nossa situação conjuntural, cultural, científica e de desenvolvimento como sociedade. Como Paráclito, o Espírito Santo age sobre nosso coração e nossa mente, nos conectando, pela Palavra, a Cristo e sua mensagem salvífica. Contudo, é fundamental compreendermos que o Espírito Santo NÃO traz novas revelações acerca de Deus e seu Reino. Cristo é a revelação integral de Deus. O que o Espírito Santo age em nós, e não na revelação. O que ele faz é atualizar essa revelação, iluminar nossa compreensão, ampliar nossas

possibilidades de absorção, exemplificar e tangibilizar a Palavra para o nosso aqui e agora, sem, entretanto, alterá-la em uma vírgula sequer, nem para mais, nem para menos, porque, à luz de Paulo, o Espírito Santo não é e não pode ser anátema, pois, sendo Deus, não pode propor ou conviver com heresias. Prova disso é o que ele afirma na 1ª Carta aos Corinthios (12-3): “E ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo”.Por isso, o papel do Espírito Santo é revitalizar e reafirmar a revelação de Jesus no campo da compreensão atualizada e evoluída de nós, como indivíduos e como sociedade. Afinal, se estamos em Cristo, todos os caminhos nos levam a Deus, mas, se não estamos em Cristo, nenhum caminho verdadeiro nos leva diretamente a Deus, de forma consciente, cabendo ao Espírito Santo direcionar o coração e a consciência daqueles que ainda não conhecem a Cristo.

o espírito santo como exegeta e hermeneuta da revelação de Jesus Cristo

Adorarmos e servirmos a um Deus que é Pai e nos ama infinitamente é a boa-nova revolucionária revelada por Jesus sob o influxo do Espírito Santo. Isso é facílimo de comprovar, bastando lembrarmos a oração que ele mesmo nos ensinou: o “Pai-Nosso”, conforme Mt. 6, 9-13. Essa visão de Deus-Pai, que ama, perdoa e quer proximidade, praticamente não existia no Antigo Testamento.É Cristo quem nos revela esse Deus-Amor (conforme João) que quer dialogar com o Homem, quer se fazer conhecer (premissa) e que espera a nossa resposta e aceitação, pela nossa fé. Toda essa dinâmica de relação e comunicação Homem-Deus passa pela Igreja Corpo de Cristo, mas é somente possibilitada pela atuação do Espírito Santo, que renova todas as coisas e sopra como e onde quer, usando quem quer para o fim que quiser, independentemente de quem seja, da fé que professe ou de seu histórico pessoal.Por isso, se Cristo é o Verbo mobilizador, pela Palavra, o Espírito Santo é seu

assim a perfeição da unidade indissociável da Trindade.Nossa fé tem origem na fé judaica, na crença no Deus único chamado Javé. Para os judeus, sua fé (Antigo Testamento) está fortemente ancorada na Lei, representada por Moisés, e nos Profetas, representados por Elias. Para eles, Jesus é, no melhor dos casos, um profeta menor. Para nós, Cristo cumpriu e encerrou a Lei, aperfeiçoando-a em 2 mandamentos perfeitos: “amar a Deus sobre todas as

coisas e ao próximo como Ele nos amou”. Para nós, Cristo é verdadeiramente Deus, pessoa da Trindade, com o Pai e o Espírito Santo. Esse Espírito que agia em, com e por Jesus é o mesmo que agira em Moisés e revelava o Pai aos judeus, pela boca dos profetas. Em Pentecostes, recebemos esse Espírito do próprio Jesus, uma vez que somente Ele, além do Deus-Pai, tem a plenitude desse Espírito.

Se Cristo é o nosso Paráclito com Deus, em nossa relação direta com Deus-Pai, pois Jesus é o Caminho, a Verdade e a Vida, porque ninguém vai ao Pai senão por Ele ou porque Ele nos foi preparar o Reino futuro quando voltou ao seio do Pai, o Espírito Santo é nosso Paráclito para com os Homens (Mt 10,19 - “Quando fordes presos, não vos preocupeis nem pela maneira com que haveis de falar, nem pelo que haveis de dizer: naquele momento ser-vos-á inspirado o que haveis de dizer”, ou ainda, como em Jo 16,33 - “ No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; Eu venci o mundo”).

Claramente, ambos concorrem para o Reino e para a salvação do Homem, em sua união eterna com Deus-Pai.A fé vem pelo ouvir e se consolida no coração, antes de se materializar na razão. Pregar a pessoa e a mensagem de Jesus Cristo é tão mais eficaz quão mais contextualizada for nossa capacidade de fazer o outro compreender sua divindade e sua proposta de salvação. Por isso, precisamos do Paráclito de Pentecostes, falando na língua de cada um, para que Cristo se faça tudo para todos, cada qual com sua forma de ouvir, sentir, enxergar.

Foi exatamente assim, com esse suporte do Paráclito e seus dons distribuídos, que os discípulos e os diferentes Evangelhos converteram as comunidades às quais eram dirigidos, que Paulo foi tão contundente em suas cartas adaptadas aos costumes de cada comunidade e região que evangelizava. Pregar Jesus é inseri-lo, portanto, na realidade humana, e não suplantá-la, porque conforme o Concílio Vaticano II, Cristo, como semente do Verbo, atua, inspira e converte ao Deus-Pai em todas as religiões que a Ele buscam e servem.

espírito santo, Paráclito, nosso Advogado nesse mundo

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Mas o que significa Pentecostes?pentecoSteS ou

quinquagéSimo dia no dia de

pentecoSteS (encerradaS

aS Sete SemanaS paScaiS) , a

páScoa de criSto Se realiza

na eFuSão do eSpírito

Santo, que é maniFeStado,

dado e comunicado

como peSSoa divina: de

Sua plenitude, criSto,

noSSo Senhor, derrama

em proFuSão o eSpírito

Sobre nóS, noS dotando

doS donS e cariSmaS que

cada qual preciSa para

viver plenamente noSSa

condição de FilhoS,

batizadoS, criStãoS e,

portanto, neceSSariamente

evangelizadoreS.

Nossa igreja

mAs o Que signifiCA PenTeCosTes?Pentecostes ou quinquagésimo dia é uma das celebrações mais importantes do calendário cristão. O dia de Pentecostes é celebrado 50 dias depois do domingo de Páscoa e ocorre no décimo dia depois do dia da Ascensão de Jesus.Histórica e simbolicamente, o Pentecostes está ligado ao festival judaico da colheita, que comemora a entrega dos Dez Mandamentos no Monte Sinai, 50 dias depois do Êxodo. Para nós, cristãos, o Pentecostes celebra a descida, na forma de fogo, do Espírito Santo sobre e para os apóstolos e seguidores de Cristo, através do dom de línguas, como descrito no Novo Testamento, durante aquela celebração judaica do quinquagésimo dia em Jerusalém.Na sequência desse texto, Pedro, nosso primeiro Papa, começa sua primeira pregação, sua primeira homilia.

“E, cumprindo-se o Dia de Pentecostes, estavam todos concordemente no mesmo lugar e de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem. E em Jerusalém estavam habitando judeus, homens religiosos, de todas as nações que estão debaixo do céu. E, quando

aquele som ocorreu, ajuntou-se uma multidão, e estava confusa, porque cada um os ouvia falar na sua própria língua. E todos pasmavam e se maravilhavam, dizendo uns aos outros: Pois quê! não são galileus todos esses homens que estão falando? Como, pois, os ouvimos, cada um, na nossa própria língua em que somos nascidos? Partos e medos, elamitas e os que habitam na Mesopotâmia, Judeia, Capadócia, Ponto e Ásia e Frígia e Panfília, Egito e partes da Líbia, junto a Cirene, e forasteiros romanos, tanto judeus como prosélitos, cretenses e árabes, todos nós

A partir desse dia, os apóstolos passaram

a pregar o Evangelho em outras línguas

diferentes de sua língua-mãe, maravilhando e convertendo muitos

a Cristo, conforme passagem dos Atos dos

Apóstolos 2,1-14:

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O Espírito Santo e as HeresiasÉ fato que a consciência e a experiência do Espírito Santo estão no Cristianismo desde os primórdios, como confirmam os escritos da Didaquê (ou Doutrina dos Doze Apóstolos, um escrito do século I que trata do catecismo cristão, obra de grande valor histórico e teológico).Infelizmente, porém, ao longo da história de Cristianismo, mesmo com todas as menções bíblicas diretas e indiretas à Pessoa do Espírito Santo no Novo Testamento e toda a comprovação inerrante de sua ação direta na História da Salvação, desde o Antigo Testamento, muitas discórdias nasceram e floresceram em torno de sua existência, papel, materialidade e origem.Por exemplo, no Arianismo, doutrina fundada pelo teólogo Ário de Alexandria (250 a 336), se negava a divindade de Cristo. Por decorrência, também se negava a divindade do Espírito Santo, que somente passa a se tornar artigo verdadeiro e definitivo de fé cristã a partir do Concílio de Constantinopla, em 381.Até cerca de 360, a maioria dos debates teológicos tratava principalmente da discussão sobre a divindade de Jesus, a segunda pessoa do Trindade. Como o Concílio de Niceia em 325 não esclareceu de forma efetiva a divindade do Espírito Santo, a terceira pessoa da Santíssima Trindade, essa questão acabou por se tornar um tema de debates calorosos, sendo que diversas correntes, como os macedonianos, negavam sua divindade.O concílio foi presidido sucessivamente por Timóteo de Alexandria, Manuel de Antioquia, Gregório Nazianzeno e Nectário, arcebispo de Constantinopla, e reconfirmou o Credo Niceno desenhado em 325, como uma verdadeira exposição de fé ortodoxa. Entretanto, ampliou a declaração de fé de Niceia, incorporando as afirmações definitivas sobre a divindade do Espírito Santo, a fim de combater a heresia dos macedonianos. Com isso, nasceu o Credo Niceno-Constantinopolitano. Também nesse Concílio se estabeleceu que o Espírito Santo, assim como Jesus, tem natureza idêntica (do mesmo ser - “ousia”) à do Deus-Pai, criando-se assim as bases para a teologia da Trindade. O texto-base, apresentado por Atanásio, e utilizado na época foi:

Nossa igreja

Por essa razão, o Dia de Pentecostes é, às vezes, considerado o dia do nascimento da Igreja. Além disso, Pentecostes é também o símbolo do Cenáculo, onde os apóstolos se reuniram, pela primeira vez, à espera do Espírito Santo e onde, desde sua fundação, a comunidade cristã se reunia para ser conduzida pelo Sopro Inspirador, compartilhando o amor em Cristo.

temos ouvido em nossas próprias línguas falar das grandezas de Deus. E todos se maravilhavam e estavam suspensos, dizendo uns para os outros: Que quer isto dizer? E outros, zombando, diziam: Estão cheios de mosto. Pedro, porém, pondo-se em pé com os onze, levantou a sua voz, e disse-lhes: Homens judeus, e todos os que habitais em Jerusalém, seja-vos isto notório, e escutai as minhas palavras”.

“O Espírito Santo procede do Pai e do Filho, não feito, nem criado, nem gerado, mas procedente. Portanto, há um só Pai, não três Pais, um Filho, não três Filhos, um Espírito Santo, não três Espíritos Santos. E nessa Trindade nenhum é primeiro ou último, nenhum é maior ou menor. Mas todas as três pessoas coeternas são coiguais entre si; de modo que em tudo o que foi dito acima, tanto a unidade em trindade, como a trindade em unidade deve ser cultuada. Logo, todo aquele que quiser ser salvo deve pensar desse modo com relação à Trindade.”

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Page 8: Kênosis fascículo nº2

O Cisma do Oriente, também chamado de Grande Cisma ou Cisma Ocidente-Oriente, foi o que separou a Igreja Católica Apostólica em Igreja Católica Romana (ocidental) e a Igreja Ortodoxa (oriental). Ocorreu no século XI, mais especificamente no ano de 1054, na cidade de Constantinopla. O Cisma do Oriente nasceu da revolta do Patriarca de Constantinopla contra a autoridade do Papa de Roma. Isso quer dizer que o cisma, que perdura até os dias de hoje, nasceu amparado pelo orgulho de homens que estavam à frente de nossa Igreja, à época.Constantinopla foi fundada pelo Imperador Constantino, que deu liberdade aos cristãos no ano 313, convertendo-se ao Cristianismo e abrindo as portas para a cristianização oficial do Império Romano em 380 (pelo Édito de Tessalônica do Imperador Teodósio). Foi também Constantino quem transferiu o poder imperial para o Oriente, rebatizando então de Constantinopla a antiga cidade de Bizâncio, atual Istambul, na Turquia.O título de Patriarca era dado apenas aos Bispos de cidades que haviam recebido a pregação direta de um Apóstolo. Assim, eram reconhecidos como principais Patriarcas o Bispo de Alexandria , onde pregara o evangelista São Marcos, o Bispo de Jerusalém, onde fora Bispo o Apóstolo São Tiago, o bispo de Antioquia, cidade em que viveu e foi Bispo São Pedro e, finalmente, Roma , que teve o mesmo São Pedro como seu primeiro Bispo.É claro que Constantinopla, por ter sido fundada apenas no século IV, não poderia ter normalmente o título de Patriarca, pois nenhum Apóstolo pregara nessa cidade, que ainda não existia nos tempos apostólicos. Entretanto, por ser a capital do Império do Oriente, os Arcebispos de Constantinopla reivindicavam essa honra, que Roma afinal lhe concedeu, a título honorário. Com o tempo,

Breve visão histórica e política

alguns patriarcas orientais, especialmente o de Constantinopla, reivindicaram uma paridade com o Papa de Roma, querendo que a Igreja não fosse mais uma organização monohierárquica, mas e sim monohierárquica. Ainda hoje, popularmente, costuma-se falar do primado de Pedro no Ocidente e de André no Oriente.Pretendia-se, com isso, que o Papa de Roma fosse apenas um chefe honorífico da Igreja, um primus inter pares, um superior em honra, entre os Patriarcas, que seriam iguais em direito, o que, de certa forma, contradizia a primazia estabelecida por Jesus, a Pedro, como pedra angular de sua Igreja. É importante lembrarmos que Cristo não anulou a liderança dos demais apóstolos e sua liberdade, mas as condicionou a uma liderança central e alinhada nas questões essenciais da fé apostólica, na figura de Pedro. Com efeito, a Igreja de Roma – ainda hoje - não é e não pode ser mais que as outras, mas é, por primazia, primeiro que as outras; não é e não pode ser a única igreja, mas é, por fundação, a mãe das demais igrejas. Outros fatores também contribuíram para o cisma, dentre os quais a crise iconoclasta, questão referente à veneração de imagens e à idolatria, e as disputas de Fócio com Roma. No século IX, Fócio, Arcebispo de Constantinopla, se rebelou contra o Papa de Roma, que o excomungou. Como resposta, Fócio se autoproclamou Patriarca Ecumênico de Constantinopla e “excomungou” o Papa São Nicolau I. Com a subida ao poder do Imperador Basílio, o Macedônico, em Constantinopla, Fócio perdeu o poder que tinha, mas o retomou em Constantinopla, mesmo depois de sua solene

No

ss

a ig

reja

o grande cisma do oriente

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Uma ruptura grave ocorreu de 856 a 867, também sob o patriarca Fócio de Constantinopla, que usou a questão da Filioque (procedência do Espírito Santo advindo somente do Pai – ortodoxos/Credo Ortodoxo – e do Pai e do Filho – ocidentais/Credo Niceno-Constantinopolitano), como ponto de discórdia, condenando a sua inclusão (procedência do Filho) no Credo da cristandade ocidental e lançando contra ela a acusação de heresia.O primeiro caso conhecido no ocidente da inserção do trecho no Credo Niceno foi quando a palavra Filioque foi adicionada, talvez inadvertidamente, ao texto latino do Credo no Terceiro Concílio de Toledo (589), se espalhando espontaneamente por todo o Império dos Francos. No século IX, o Papa Leão III, ainda que aceitando a doutrina como já o fizera seu antecessor Leão I, tentou em vão suprimir a adição da Filioque. Em 1014, porém, o canto do Credo - com a Filioque - foi adotado na celebração da missa em Roma. Desde a denúncia feita por Fócio (Cisma de Fócio), a cláusula tem sido objeto de conflitos entre o ocidente e o oriente, tendo sido fundamental para o Grande Cisma do Oriente de 1054 e se provando um obstáculo para as tentativas de reunião até os dias de hoje, uma vez que as pendências não foram apenas de natureza política, disciplinar e litúrgica, mas também de natureza dogmática. A deterioração das relações entre as duas Igrejas contribuiu largamente para o episódio do saque de Constantinopla durante a quarta Cruzada (1204) e o estabelecimento do Império Latino (ocidental), que durou 55 anos. Isso aprofundou ainda mais a ruptura e a desconfiança mútua. Houve várias tentativas de reunificação, principalmente nos Concílios Ecumênicos de Lyon (1274) e Florença (1439), mas as reuniões mostraram-se efêmeras. Essas tentativas acabaram efetivamente com a queda de Constantinopla em mãos dos otomanos, em 1453, que ocuparam quase todo o antigo Império Bizantino por muitos séculos. As mútuas excomunhões só foram levantadas em 7 de Dezembro de 1965 pelo Papa Paulo VI e o Patriarca Atenágoras I, de forma a aproximar as duas Igrejas, afastadas havia séculos. As excomunhões foram retiradas pelas duas Igrejas em 1966. Somente recentemente o diálogo entre elas foi efetivamente retomado, a fim de tentar sanar o cisma. Este ano, por exemplo, pela primeira vez, o patriarca grego, juntamente com outros patriarcas do oriente, compareceu à missa inaugural de um papado em Roma, a do Papa Francisco.

Breve visão teológica e dogmática

condenação, no ano 870. Ato contínuo, o Papa João VIII renovou a condenação de Fócio e, com o advento ao trono do Imperador Leão, o Filósofo, Fócio foi expulso pela segunda vez de Constantinopla, terminando a disputa pouco depois.O distanciamento entre as duas Igrejas católicas e apostólicas tem formas culturais e políticas muito profundas, cultivadas ao longo de séculos. As tensões entre as duas igrejas datam no mínimo da divisão do Império Romano em oriental e ocidental e a transferência da capital da cidade de Roma para Constantinopla, no século IV. Uma diferença crescente de pontos de vista entre as duas igrejas resultou da ocupação do oeste pelos outrora invasores bárbaros, enquanto o leste permaneceu herdeiro do mundo clássico. Enquanto a cultura ocidental foi paulatinamente se transformando pela influência de povos como os germanos e a Igreja Romana se interessando pelas questões do direito canônico, o Oriente permaneceu desde sempre ligado à tradição da cristandade helenística e à ritualística herdada das comunidades primitivas (chamada Igreja de tradição e rito grego). Isso foi exacerbado quando os papas passaram a apoiar o Sacro Império Romano no oeste, em detrimento do Império Bizantino no leste, especialmente no tempo de Carlos Magno. Havia também disputas doutrinárias e acordos sobre a natureza da autoridade papal.

o grande cisma do oriente

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Para ambas as igrejas católicas apostólicas, não há discussão que o Espírito Santo proceda de Deus-Pai. Mas a procedência do Filho, como defenderam Atanásio, Cirilo e Epifânio – e negada pela Igreja do Oriente –, é amplamente defensável e está baseada em diversos textos bíblicos, como em Gálatas e também na Carta aos Romanos. Ou em João, como nas passagens abaixo:

Como Igreja, é o Espírito Santo quem nos prepara para os Sacramentos

Sabemos e cremos que os Sacramentos foram instituídos por Jesus Cristo como “sinais sensíveis e eficazes da graça [...] mediante os quais nos é concedida a vida divina” - ou a salvação - e que eles foram confiados à Igreja. Através desses sinais ou gestos divinos, “Cristo age e comunica a graça, independentemente da santidade pessoal do ministro”, embora “os frutos dos sacramentos dependam também das disposições de quem os recebe”.Ao celebrá-los, a Igreja Católica, através das palavras e elementos rituais, alimenta, exprime e fortifica a sua fé e a fé de cada um dos seus fiéis. Esses sinais de graça constituem uma parte integrante e inalienável da vida cristã de cada fiel. Por isso, os sacramentos concorrem para a salvação dos crentes, porque eles conferem a graça de Deus, “o perdão dos pecados, a adoção como filhos de Deus, a conformação a Cristo Senhor e o pertencimento à Igreja”.É a Pessoa do Espírito Santo e sua ação transformadora quem nos prepara para a recepção dos sacramentos por meio da Palavra de Deus e da fé que acolhe a Palavra nos corações bem dispostos. Por isso, os Sacramentos fortalecem e exprimem a fé. O fruto da vida sacramental é, ao mesmo tempo, pessoal e eclesial. Por um lado, esse fruto é para cada crente uma vida para Deus, em Jesus; por outro, é para a Igreja o seu contínuo crescimento na caridade e na sua missão de testemunho e confirmação da fé na cruz de Cristo. Por isso, os Sacramentos são entendidos como gestos de Deus na vida de cada crente, expressando-se simbólica e espiritualmente, para o seu bem e o da Igreja.

O Espírito Santo procede do Pai e do Filho, sim!

Jesus, reunido com seus discípulos, sopra sobre eles e diz: “Recebam o Espírito Santo”: ora, ninguém dá/sopra o que não tem! Vale lembrar também, por exemplo, que Jesus dá esse mesmo sopro do Espírito (ruach em hebraico) para promover a cura do paralítico da piscina de Betesda, recriando, metaforicamente, o Novo Homem nascido do barro e de seu cuspe.

Pentecostes e a reforma diária da Igreja

“Eu e o Pai somos um;... quem me vê a mim, vê ao Pai”: ora, se o Espírito Santo procede do Pai, também procede do Filho, porque, como disse Jesus, ambos são um só!

Assim como somos herança de nossos ancestrais, a Igreja, fundada por Cristo e entregue à liderança de Pedro, é fruto do tempo, em constante processo evolutivo, corrigindo erros e rotas de nossos ancestrais, renovando seu catecismo. Apesar de comunitária por essência e obrigação, não é uma democracia, pois não é feita pelo povo, mas dada para o povo do alto, por Deus, para ser o Corpo e Esposa de seu filho Jesus Cristo, fiel guardiã de seus mandamentos. Como comunhão, é também um meio eficaz – apesar de não exclusivo – de conexão do Homem com Deus, que liga e religa e que, com o suporte firme e confiável do Espírito Santo, dissemina o Evangelho eternamente.Independentemente da visão e das diferentes opiniões que se tenha sobre o grau de heresia e/ou de verdade contidos nas 95 teses e na teologia proposta por Lutero, é fato que Jesus jamais aprovaria a divisão de seu rebanho, de sua Igreja Corpo. Jesus era adepto da regeneração e não da ruptura. Reformar e corrigir sempre, dividir jamais, teria ensinado Nosso Senhor. Jesus, como reformador da Lei e definidor de uma Nova e Eterna Aliança, deixou-nos o Espírito Santo para nos ajudar nessa tarefa contínua de evolução e caminhada como Igreja, tanto individual como coletiva. Evangelizar e converter é obrigação diária de todo batizado, de todo crente, de todo filho de Deus, cidadão de seu Reino. “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado” (Marcos 16,15). Justamente por isso, como Igreja e como evangelizadores por DNA espiritual, devemos aprender com Pentecostes, reeditando o evangelizar em línguas citado no Evangelho, em um evangelizar contínuo na língua do outro, na cultura do outro, na dinâmica existencial do outro, de forma que a Palavra, preservada e intacta, sob o ponto de vista teológico, se faça presente, viva, contextualizada e poderosa transformadora na vida do outro, porque ganha eco em seu coração, apoiado em sua razão (ou seja, em sua

confirmação de fé).

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giovanni di pietro di bernardone, maiS

conhecido como São FranciSco de aSSiS

(aSSiS, 5 de julho de 1182 - 3 de outubro

de 1226), Foi um Frade católico da itália.

depoiS de uma juventude irrequieta e

mundana, voltou-Se para uma vida religioSa

de completa pobreza, Fundando a ordem

mendicante doS FradeS menoreS, maiS

conhecidoS como FranciScanoS, que

renovaram o catoliciSmo de Seu tempo.

falecer, em 1228, e por seu apreço à natureza é também mundialmente conhecido como o santo patrono dos animais e do meio ambiente.

A aparência física de Francisco era extremamente agradável e sua face refletia a inocência de sua vida, a pureza de seu coração e o ardor do fogo divino que o consumia. Sua visão de si mesmo era, porém, peculiar: descrevia-se como um “franguinho preto”.

A fama de santidade que angariou em vida e perdura até os dias de hoje não decorreu de grandes manifestações de erudição religiosa, que jamais fez questão de possuir, e tampouco de seus milagres, que não obstante foram muitos e impressionantes, mas do seu exemplo de uma vida de completa dedicação ao próximo, dedicação que era animada por uma compreensão profunda, uma sinceridade espontânea, uma

são Francisco de assis:

simplicidade autêntica em todas as coisas, qualidades banhadas de uma calorosa fraternidade, simpatia e caridade. Na visão de seus contemporâneos ele era o mais perfeito seguidor de Jesus Cristo e sua presença em qualquer cidade era sempre um acontecimento.

Para Francisco a pobreza, a “Senhora Pobreza” que ele costumava dizer ter desposado, não era um objetivo, mas antes um instrumento pelo qual se podia obter a purificação necessária para a habitação de Deus no interior de cada um e para a perfeita comunhão com o semelhante, metas frente às quais todas as outras considerações eram subordinadas. O outro instrumento privilegiado para isso era a imitação do exemplo de vida dado por Cristo nos Evangelhos, e para tanto a obediência era fundamental. Cristo fora pobre, e assim os irmãos também o seriam, e a pobreza

vida de santopor sua Kênosis, foi o santo cheio do espírito santo

Com o hábito da pregação itinerante, quando os religiosos de seu tempo costumavam se fixar em mosteiros, e com sua crença de que o Evangelho devia ser seguido à risca, imitando-se a vida de Cristo, desenvolveu uma profunda identificação com os problemas de seus semelhantes e com a humanidade do próprio Cristo (fonte: Wikipédia).

Sua atitude foi original também quando afirmou a bondade e a maravilha da criação num tempo em que o mundo era visto como essencialmente mau, quando se dedicou aos mais pobres dos pobres e quando amou todas as criaturas chamando-as de irmãs. Dante Alighieri disse que ele foi uma “luz que brilhou sobre o mundo” e para muitos ele foi a maior figura do Cristianismo desde Jesus. Foi canonizado pela Igreja Católica menos de dois anos após

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“Quão felizes e benditos são aqueles e aquelas que amam o Senhor

‘de todo coração, com toda a alma, com toda a mente e com todas

as forças’ e ao próximo como a si mesmos, odiando seus corpos

com seus vícios e pecados, recebendo o corpo e o sangue de Nosso

Senhor Jesus Cristo e produzindo frutos dignos de penitência.”

“Sendo servo de todos, a todos devo servir as odoríferas palavras de

meu Senhor. Por isso, considerando que não posso visitar a cada

um em particular, por causa da enfermidade e debilidade do meu

corpo, fiz o propósito de comunicar-vos por meio das presentes

letras e de mensageiros as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo,

que é a Palavra do Pai, bem como as palavras do Espírito Santo,

que são “espírito e vida’.”.

“Devemos amar os nossos inimigos e fazer bem aos que nos

odeiam. Devemos observar os preceitos e conselhos de Nosso

Senhor Jesus Cristo. Devemos também renunciar a nós mesmos

e submeter os nossos corpos ao jugo da servidão e da santa

obediência como cada um prometeu ao Senhor.”

deveria ser entendida por todos os seus companheiros não só como uma disciplina de ascetismo em si, mas como fonte de verdadeira graça e alegria.

Além da pobreza exterior, comandada expressamente na sua Regra Primitiva, que proibia os monges até de andarem calçados e possuírem domicílio fixo, Francisco enfatizava a pobreza interior (Kênosis), entendida no despojamento de toda pretensão a aquisições intelectuais e mesmo morais e espirituais, consideradas como formas dissimuladas de obter domínio sobre os outros e como expressões de orgulho e individualismo.

Como pregador e pacificador, sua paciência e bondade para com todos fizeram com que fosse procurado constantemente por pessoas de todas as posições sociais que iam a ele em busca de conselho e orientação, e a todos instruía na melhor forma de alcançar a salvação na condição em que se encontravam, regozijando-se em ver que suas palavras amiúde davam frutos positivos e que os costumes se iam reformando gradualmente. Francisco desejava acima de tudo que os irmãos pregassem através do exemplo pessoal, conseguido na imitação do exemplo de Cristo. Outra de suas contribuições foi a de enfatizar a paz, a tolerância, o respeito e a concórdia, e ele sempre teve a convicção de que os irmãos deviam ser pacificadores, o que deixou expresso em vários escritos e foi repetido por seus biógrafos.

Mesmo nas missões que enviou para entre os muçulmanos fez recomendações para que os missionários mantivessem uma postura de respeito para com as manifestações da divindade em todos os credos e de sujeição às leis civis locais, e que evitassem se envolver em disputas teológicas.

São Francisco, o Papa Francisco e a Igreja como “Império” de Serviço ao Próximo

Em 2013 passamos a ser guiados por um Papa “Franciscano”; o primeiro na história, o cardeal jesuíta argentino Jorge Mario Bergoglio, que assumiu o nome de Francisco.

Em meio à crise política, financeira e teológica vivida pela Igreja nos últimos anos, que culminaram com

a renúncia do Papa Bento XVI, agora Papa Emérito, o Papa Francisco surge como uma luz do Espírito Santo forte o suficiente para iluminar nosso caminho em meio às trevas que nos cercam e que, muitas vezes, estão dentro de nossos muros e corações.

Sim, há luz no Catolicismo e seu brilho está crescendo, mas nós, leigos, temos a obrigação como cidadãos do Reino de Deus de zelar pela doutrina de Jesus Cristo, mesmo que essa seja diferente da doutrina aparentemente defendida por qualquer de nossas igrejas ao longo dos anos.

O Papa Francisco vem fortalecendo a mensagem genuína do Lavapés, orientada ao amor incondicional a Deus e ao serviço incansável ao próximo, como dogmas inegociáveis de nossa fé, a partir de diversas atitudes práticas e simbólicas, que vêm encantando a muitos não cristãos, “reconvertendo” a tantos outros e reaquecendo o coração de católicos e mais católicos. Vários têm sido esses sinais desde o mês de março deste ano, tanto comportamentais, como verbais:

Em sua primeira interação com os fiéis, no Vaticano, no dia de sua eleição, o Papa Francisco, antes de abençoar os fiéis, pediu que fosse, por eles, abençoado. Também, em sinal de humildade e em tom amigo e próximo, disse que haviam ido buscar um papa no fim do mundo, na América do Sul (dado que há séculos só havia papas europeus).

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Trechos de Cartas de São Francisco de Assis aos fiéis

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Com isso, rememoramos que nossa Igreja foi fundada por Cristo sobre a pedra angular Pedro, um analfabeto, pobre e ignorante e que o negou 3 vezes. Como aprendemos nos Evangelhos, Jesus já sabia dessa condição de Pedro e também sabia que seria assim com qualquer outro discípulo que ele escolhesse. É somente compreendendo o projeto e visão de mundo e Igreja de nosso Senhor Jesus Cristo, que conquistamos o conforto de aceitar e participar de uma Igreja que é o que é porque Jesus, como Deus, assim a quis, já que conhece profundamente – e por experiência própria carnal - a condição humana, deixando claro desde o princípio que a Igreja não seria de super-homens perfeitos, mas de líderes humanos, de coração puro e aberto à fé, abandonados em Cristo e defendidos pelo Espírito Santo, aptos a se tornarem instrumentos deste mesmo Espírito.

Ao tomar essa decisão de abraçar a imperfeição humana, Jesus aceitou nossa fraqueza, inconstância e incapacidade como parte da igreja-organização humana, tornando-a perfeita, como Igreja, por sua santidade e não por nosso mérito, dado o pecado que abunda na humanidade e, portanto, em todos (100%) dos fiéis e membros de sua Igreja. Por isso, Cristo não exigiu perfeição, mas conversão verdadeira, contrição e perdão.

Assim, como nós, membros da Igreja, somos pecadores que podemos fazer o pecado nela habitar (pois agimos em nome dela, por ela, com ela, nela), quanto mais longe ficamos da Igreja, mais propensos estamos ao pecado e, quanto mais perto de sua graça e comunhão, mais santos ficamos, pois somos santificados pela herança de Cristo. É por isso que os membros santos da Igreja fazem penitência para purificar os membros pecadores e essa comunhão de santos faz parte de nosso credo, pois somos todos pecadores e santificados por Cristo.

Aparentemente, Deus e Jesus sempre escolheram os improváveis, pecadores e fracos para realizarem sua obra: Abraão, Moisés, Salomão, Pedro, Paulo, Constantino etc. Por essa graça e por essa ausência de exigência por perfeição de Jesus ao Homem, podemos afirmar e aceitar que somos escolhidos para pregar sua Palavra, já que o Evangelho, escrito para nós, se torna legítimo para nós como instrumento de conversão de TODOS os nossos irmãos, simplesmente porque o Evangelho não é para os perfeitos, mas para os que dizem sim a Jesus.

Nessa mesma ocasião, abdicou dos trajes mais formais e luxuosos, utilizando roupas simples e um crucifixo de ferro (o mesmo que usa desde que se tornou Bispo em Buenos Aires). Imediatamente proclamou que a missão dos cristãos, como discípulos de Cristo, é caminhar com o povo, especialmente com os mais pobres e necessitados, edificar a Igreja e confessar a fé na cruz de Jesus Cristo.

Dentre outros gestos menores, mas indicativos de uma nova forma de enxergar o poder conferido ao cargo que ocupa, abriu mão do enorme aposento no Vaticano que lhe conferiram, pagou a conta de seu hotel com o seu próprio dinheiro e abraçou crianças e fiéis nas ruas, quebrando os rígidos protocolos de segurança do Vaticano.

Em sua missa inaugural, com a presença dos líderes de diversas igrejas – inclusive dos patriarcas do oriente que foram especialmente assentados nas primeiras fileiras, à frente mesmo dos cardeais romanos -, bem como de diversos chefes de Estado (como a Presidente Dilma), Francisco celebrou em grego, língua que simboliza a “unidade das igrejas do Ocidente e do Oriente”, abandonando o latim. Também usou anel de prata, ao invés de ouro e encurtou sua duração em respeito aos não crentes.

Em um de seus comunicados mais impactantes aos membros do clero, Francisco afirmou que ser sacerdote é uma unção e não uma função. Por isso, é obrigação dos sacerdotes estarem junto ao rebanho, sempre, e não dentro das igrejas e sacristias, focando-se em atividades burocráticas.

Assim como Jesus disse a Pedro (entendamos, portanto, à Igreja Católica Apostólica Romana) em Mc 10, 43-45 “quem quiser ser grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será servo de todos. Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos”, o Papa Francisco afirmou que a liderança e o poder são uma benção que trazem consigo o fardo obrigatório de terem como única finalidade o SERVIR ao próximo e o bem comum.

Como parte das celebrações da Quinta-Feira Santa, o Papa Francisco quebrou diversos tabus na tradicional cerimônia do Lavapés: lavou e beijou os pés de 12 prisioneiros em um centro de detenção de jovens infratores perto de Roma (primeira vez que essa tradição é feita fora do Vaticano e com prisioneiros). Entre os jovens estavam duas garotas – uma italiana, católica, e outra de origem sérvia e muçulmana (primeira vez que um Papa beija os pés de uma mulher e primeira vez que beija os pés de uma fiel a outra religião) claramente materializando seus valores franciscanos de igualdade, respeito, serviço, universalidade e humildade.

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jeSuS, quando neSte mundo,

não tinha igreja. quando Se

reFeria à igreja, Se reFeria

àS peSSoaS unidaS na meSma

Fé e na meSma eSperança: o

reino de deuS. meSmo dentro

daS comunidadeS que o

Seguiam, maS principalmente

naquelaS que o ignoravam

ou, SimpleSmente, não

aceitavam Sua menSagem,

jeSuS pregava aoS SeuS que

não julgaSSem o próximo,

para não correrem o riSco

de miSturar o joio com o

trigo (já que aS aparÊnciaS,

palavraS e geStoS enganam).

jeSuS noS enSinou que é

pelo Fruto produzido que

aS peSSoaS e SeuS coraçõeS

Serão conhecidoS.

Dons são carismas concedidos pelo Espírito Santo a qualquer ser humano, cristão ou não, conforme a orientação, missão e talento de cada um. Começam no espírito, mas se aperfeiçoam na carne, no dia a dia. Para serem santos, precisam gerar frutos do Espírito, pois cada cristão é sal da terra e luz do mundo.

Na Bíblia existem diferentes relações dadas por Paulo sobre os dons do Espírito Santo, ora 7, ora 9. São alguns dos dons do Espírito Santo: Amor, Ciência, Cura, Exorcismo, Profecia, Discernimento/Entendimento/Compreensão, Interpretação de Línguas/Tradução de Línguas, Oração/Intercessão, Palavra, Penitência e Fé, que é dom e graça.

vid

a m

oder

naSomando Paulo, Pedro e outros, são em

torno de 36 dons citados na Bíblia, mas essa lista não é exaustiva. Esses dons não dão o contorno total de Deus, que é infinito em poder, amor e misericórdia.

O Espírito Santo, por sua vez, é criativo ao promover os dons. Basta ver a natureza. E o corpo glorioso de Cristo – a Igreja – não pode ser menos que a natureza. Então que os dons se manifestem livremente, como o Espírito Santo, em favor do Evangelho, cada qual na melhor versão de si mesmo, que é ser parecido com Jesus e não com outra pessoa. A unidade é a diversidade de dons, de personalidades, todas imbuídas no mesmo Espírito.

Dons são dádivas de Deus para Salvação do Homem e não para propaganda de Deus ou do Homem; portanto, não se prestam à autojactância. Devem, contudo, edificar a Jesus e cumprir seu papel com os que seus benefícios recebem, segundo o Espírito Santo.

Não são, entretanto, evidência de proximidade com Cristo ou mesmo de santificação e evolução consciente na graça de Deus. Não trazem caráter especial a quem os têm e também não são sinal de saúde espiritual.

Os dons não devem se manifestar de forma apoteótica. Quando entendidos dessa forma, esquizofrenizam, alienam e geram mundos paralelos para as pessoas, pois se transformam eles em elementos maiores que o Espírito Santo que os distribui.

A experiência real com Cristo é espiritual, a partir do conhecimento real de Deus (certeza, abertura, sentimento e sabedoria) e não emocional ou psíquica. Quando a

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Dons X Frutos do Espírito Santo: um fim na confusão

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Dons X Frutos do Espírito Santo: um fim na confusãoque fazem parte de um todo, de maneira que se faltar alguma dessas virtudes em nós não estaremos completos. E, claramente, o amor é a maior delas, pois é o reflexo do caráter de Deus, sua maior definição e é a virtude que dá sentido e vida a todas as demais.

Cumpre, contudo, esclarecer que o amor é uma decisão da vontade e não um sentimento involuntário, porque é um mandamento (“amai a Deus sobre todas as coisas”, “amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”, “amai vossos inimigos”). É um sentimento independente e soberano que não exige reciprocidade (passagem Paulo “o amor é...). É a principal marca do cristão e é o elo mais forte de relação de Deus com o Homem, que nos amou primeiro e incondicionalmente dando seu único filho para nossa salvação e para a redenção de nossos pecados.

Esse é um ato de Kênosis de Deus como prova cabal de seu amor incalculável pela Humanidade que criou. Viver no amor e no perdão é o caminho certo de nossa redenção. Por isso, devemos amar até quem não gostamos, e por isso também nos confirmamos espiritualmente doentes se gostarmos de alguém ou algo que eu não possamos amar á frente do trono de Deus e da cruz de Jesus Cristo.

O Primeiro Amor (ref. Apocalipse) nunca deve ser perdido. Ele é o prazer no servir e a prioridade no servir e não um

conversão é emocional, o crente despreza o fruto, não dá frutos, porque este é sublime e deve ser tangibilizado.

Os frutos, por sua vez, são o sinal, a manifestação real do Espírito Santo pela pessoa em suas atitudes no dia a dia, seu auto-controle, o abandono da doença da carne, da mente e do coração. Do contrário, os dons acabam sendo usados para domínio dos outros, de forma vazia ou mesmo maligna. Ou, como prova o ditado popular: carisma sem quebrantamento e sem caráter é receita eficaz para a produção de diabinhos. Aliás, não é por outra razão que, em geral, as grandes obras do Espírito-Santo – a unção real – acontecem com os pequeninos, sem holofotes e plateias.

E quais são os frutos do Espírito Santo? Em Gálatas 5,22, lemos “Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio.” Agora, vejamos bem: a palavra fruto aparece no singular e não no plural, o que nos leva a entender que são nove virtudes

Por isso, todo cristão deve ser julgado por seus frutos e não por seus dons. Cada qual deve prestar contas de entregar resultados práticos, transformacionais e definitivos na vida dos irmãos que tocam.

conjunto de atos mecânicos, ou por vaidade, por ego, por posição, por obrigação, por autoestima . A Igreja avivada e renovada pelo Espírito Santo nunca perde o Primeiro Amor.

Aqueles que julgam e “marketeiam” dons e carismas que não lhes foram dados, são estelionatários do Espírito Santo. A cada qual, segundo a vontade de Deus, foi dado um ou mais de um dom para que o corpo todo tenha sentido, pois somos todos membros do mesmo corpo – o corpo de Cristo – e assim damos sentido uns aos outros e ao todo. Por isso todos os dons são importantes e complementares. Por isso todos os dons são iguais, porque todos somos iguais, mas esses dons nos são dados por um só e mesmo Espírito. Por isso, se um membro sofre, todos sofrem com ele. Se um se beneficia, todos são beneficiados.

Quem se rebela contra ser quem é, está em rebelião contra a vontade soberana de Deus. Murmurar é pecado por isso, porque diz que Deus não é Deus suficiente para nós. Não podemos, portanto, perder de foco a integridade do propósito do Espírito Santo em nossas vidas. Temos que nos voluntariar aos dons que nos são dados, com desapego e serviço. Esse processo do Espírito Santo em cada um de nós tem um papel curador, terapêutico para o nosso espírito... de conexão com o plano de Deus para cada qual.

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oder

na

o BatisMo No espírito saNto e o testeMuNho do dia a dia

O maior milagre de Deus é o moral, aquele que converte a humanidade. Por isso, a Igreja é o sinal eficaz de Cristo na Terra.

A presença do Reino de Deus em nossas vidas se verifica pela nossa fé e pelas nossas atitudes e nossas obras, mas por graça e não por mérito. Então, para que se identifique se alguém está cheio do Espírito Santo, basta identificar os frutos que produz, os frutos do Espírito em cada um. Quando agimos em favor do Reino de Deus, a conspiração positiva em

A publicação Kênosis é um fascículo bimestral da Comunidade Santa Suzana com finalidade específica de evangelização. Sua distribuição é gratuita.

Pároco: Manoel Correa Viana Neto.

Idealização e Conteúdo: Daniel Domeneghetti.

Produção: Pastoral da Comunicação - Renato e Camila Duarte.

Revisão: Maria Lúcia e Ana Lúcia Neiva

Jornalista Responsável: Letícia Tavares (MTb 36.620).

Edição de arte: 107artedesign.

Impressão: Gráfica Taboão. Tiragem: 1.500 exemplares

Secretaria Paroquial Santa Suzana: (11) 3742-4754

nosso favor cresce, sem que precisemos fazer nada, porque Este transborda de dentro de nós positivamente aos outros. Afinal, aos seus amados, Deus dá enquanto eles dormem e isso é o poder do pequeno, a força do amor.

É pelo Espírito Santo que nos apropriamos da única bem-aventurança presente no Evangelho de João, a partir da profissão de fé de Tomé, cf Jo, 20-29 “Meu Senhor e meu Deus! Jesus lhe disse: Acreditaste, porque me viste. Felizes os que creram sem ter visto”.

o Mover do espírito eM cada uM de Nós

A Palavra de Deus e o Espírito Santo não se separam, pois a Palavra e o Espírito dão testemunho de Jesus. Quem tem só a palavra tem carisma, mas não tem o poder real do Espírito. Quem busca poder, sem a Palavra, espiritismo sem a Palavra, acaba caindo no misticismo, no poder psíquico (Mt 7, 21 - “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus”). Os frutos do Espírito são a verdadeira “propaganda” do Reino de Deus,

assim como o figo é a melhor propaganda da figueira e a laranja da laranjeira. Quem é do Espírito Santo começa na Palavra, tendo Jesus como centro e o Evangelho como Caminho, ponto de apoio e ponto de chegada.

O Evangelho vivido dia a dia cria uma camada capaz de cercear os impulsos mais humanos, até o ponto em que um ser humano,

mergulhado em Deus, viver como se fosse maioria absoluta, no meio da mais absoluta maioria contrária, no meio da mais absoluta contradição em relação à sua reputação. O que importa mesmo é uma boa consciência diante de Deus, para que se viva sem medo e para Deus.

Por isso, podemos afirmar que há ação do Espírito Santo no ser humano sempre que esse se converte dos seus pecados, pelo arrependimento, e passa a crer em Jesus Cristo como único e suficiente Senhor e Salvador, pedindo a Deus que lhe revista e encha do Espírito Santo.

Tal experiência é chamada de batismo no Espírito Santo. Isso tem ocorrido durante toda a história do cristianismo. Portanto, é dos frutos e da conversão que se deve dar testemunho e não dos dons e bênçãos eventualmente distribuídos – e esse testemunho deve ser dado com a própria vida, no dia a dia, e não somente com palavras. Por isso, deve ser genuíno, experiencial, para a glória de Deus e para a referência prática dos outros irmãos.