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1 Llevar la fuerza de la periferia al centro”: as milícias e o Exército na consolidação da unidade política argentina. 1 Aline Goldoni 2 Resumo: Durante grande parte do século XIX, as duas formas de organização militar predominantes na Argentina foram o exército regular e as milícias. Essas instituições, no entanto, não operaram de forma continua, nem foram estabelecidas com base em regimentos legais que garantissem uma atuação constante e organizada em escala nacional. Esse sistema era gerenciado diretamente pelos governos provinciais, que exerciam sobre essa atividade um o importante papel político, mobilizando e comandando essas forças com base em redes de poder firmadas a partir de pactos de lealdade, interesses e finalidades subjetivos. Essa conjuntura foi um dos principais entraves à consolidação do Estado central na Argentina, ao longo do século XIX. O objetivo deste trabalho é entender a participação dessas forças militares no processo de consolidação da unidade política na Argentina. Palavras-chave: Argentina. Províncias. Milícias. Exército. Estado Central. Abstract: During most XIX century, the two predominant forms of military organization in Argentina were the regular army and the militia. Those institutions, however, did not operate in a continuous way, neither were they established based on legal regiments that kept a constant operation and organized at a national level. This system was managed directly by the provincial governments, which exert on this activity an important political role, mobilizing and commanding those forces based on networks of power consolidated through pacts of subjective loyalty, interests and ends. This conjuncture was one of the main barriers against que consolidation of the central State in Argentina, throughout the XIX century. The purpose of this work is to understand the participation of those military forces in the process of consolidation of the political unity in Argentina. 1 Segundo Beatriz Bragoni e Eduardo Míguez, esta era uma expressão usada durante o século XIX na Argentina, que evidencia as formas políticas que regeram as diversas e complexas direções tomadas entre Nação e província, desde 1852. De la periferia al centro: laformación de un sistema político nacional, 1852-1880. In: BRAGONI, Beatriz; MÍGUEZ, Miguel (orgs.). UnNuevoOrden Político – Provincias e Estado Nacional (1852-1880). Buenos Aires: Editorial Biblos, 2010, p. 9. 2 Doutoranda do Programa de Pós- Graduação em História Social da UFRJ [email protected]. Este artigo é parte integrante da minha pesquisa de doutorado, que busca entender até que ponto a política de recrutamento de tropas, engendrada pelo governo central argentino durante a Guerra do Paraguai, foi determinante e funcional para o projeto de consolidação do Estado, que se encontrava em curso naquele momento. A pesquisa conta com apoio financeiro da FAPERJ.

Key-words · 1Segundo Beatriz Bragoni e Eduardo Míguez, esta era uma expressão usada durante o século XIX na Argentina, que evidencia as formas políticas que regeram as diversas

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“ Llevar la fuerza de la periferia al centro”: as milícias e o Exército na consolidação da

unidade política argentina.1

Aline Goldoni2

Resumo: Durante grande parte do século XIX, as duas formas de organização militar

predominantes na Argentina foram o exército regular e as milícias. Essas instituições, no

entanto, não operaram de forma continua, nem foram estabelecidas com base em regimentos

legais que garantissem uma atuação constante e organizada em escala nacional. Esse sistema

era gerenciado diretamente pelos governos provinciais, que exerciam sobre essa atividade um o

importante papel político, mobilizando e comandando essas forças com base em redes de poder

firmadas a partir de pactos de lealdade, interesses e finalidades subjetivos. Essa conjuntura foi

um dos principais entraves à consolidação do Estado central na Argentina, ao longo do século

XIX. O objetivo deste trabalho é entender a participação dessas forças militares no processo de

consolidação da unidade política na Argentina.

Palavras-chave: Argentina. Províncias. Milícias. Exército. Estado Central.

Abstract: During most XIX century, the two predominant forms of military organization in

Argentina were the regular army and the militia. Those institutions, however, did not operate in

a continuous way, neither were they established based on legal regiments that kept a constant

operation and organized at a national level. This system was managed directly by the

provincial governments, which exert on this activity an important political role, mobilizing and

commanding those forces based on networks of power consolidated through pacts of subjective

loyalty, interests and ends. This conjuncture was one of the main barriers against que

consolidation of the central State in Argentina, throughout the XIX century. The purpose of

this work is to understand the participation of those military forces in the process of

consolidation of the political unity in Argentina.

1Segundo Beatriz Bragoni e Eduardo Míguez, esta era uma expressão usada durante o século XIX na Argentina, que evidencia as formas políticas que regeram as diversas e complexas direções tomadas entre Nação e província, desde 1852. De la periferia al centro: laformación de un sistema político nacional, 1852-1880. In: BRAGONI, Beatriz; MÍGUEZ, Miguel (orgs.). UnNuevoOrden Político – Provincias e Estado Nacional (1852-1880). Buenos Aires: Editorial Biblos, 2010, p. 9. 2 Doutoranda do Programa de Pós- Graduação em História Social da UFRJ [email protected]. Este artigo é parte integrante da minha pesquisa de doutorado, que busca entender até que ponto a política de recrutamento de tropas, engendrada pelo governo central argentino durante a Guerra do Paraguai, foi determinante e funcional para o projeto de consolidação do Estado, que se encontrava em curso naquele momento. A pesquisa conta com apoio financeiro da FAPERJ.

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Key-words: Argentina. Provinces. Militia. Army. Central State.

1. Forças militares e política.

As invasões inglesas – tentativa de ocupação de Buenos Aires por tropas britânicas no

contexto das Guerras Napoleônicas – são reconhecidas como o evento determinante para a

constituição das milícias na Argentina. De acordo com Hilda Sabato, este foi um momento

crucial na história das milícias argentinas, pois marcou o início da participação popular na

política da região, imprimindo função de ferramenta política a essas forças.3 Entre outros

elementos, o caráter heterogêneo do grande número de arrolados, a realização de atividades

relacionadas à defesa da cidade e de suas instituições e a existência de facções no interior das

tropas podem explicar a função política adquirida pelos corpos milicianos. Essa conjuntura,

formada a partir das invasões inglesas, constituíram um cenário ideal para sedimentar naquela

sociedade um caráter militarista, que pouco tempo depois seria reforçado pelas guerras de

independência.

Durante toda a primeira metade do século XIX, as milícias funcionaram como um

modelo de organização militar descentralizado, que fortaleceu os governos provinciais em

detrimento da organização nacional centralizada. Os governos locais tinham o controle tanto

protocolar quanto informal sobre essas forças. Por possuírem diversas formas de organização,

nomenclatura, funcionamento e recrutamento a ordenação das instituições funcionou de

maneira bastante complexa e muito confusa. Esse perfil só começou a ser alterado a partirda

promulgação da Constituição de 1853, que tentou organizar de forma mais centralizada as

forças militares atuantes na região.

Após a formação do primeiro governo livre da interferência metropolitana– as

Províncias Unidas do Rio da Prata (1810)– a ausência de um centro de poder fortalecido,

atuando como um governo único e centralizado, impediu o estabelecimento de um exército

nacional.4O sistema de milícias utilizado durante o período colonial foi conservado e continuou

3 SABATO, Hilda. Povo e Política. A Construção de uma República. Tradução: Daniel da Silva Becker. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2011, p. 47. 4 No contexto das invasões francesas à Espanha, os colonos do Vice Reinado do Rio da Prata deram início a primeira experiência de governo autônomo na região, sob a liderança de Buenos Aires, a antiga capital do Vice Reinado. A Revolução de Maio, como o evento ficou conhecido, deu início ao processo de surgimento do Estado argentino, mas na ocasião não foi proclamada a independência oficialmente. A Primeira Junta de Governo não reconhecia a autoridade da Junta Suprema Central (órgão ligado ao rei espanhol responsável pelo governo da Espanha e de suas colônias durante as invasões francesas), mas passou a governar em nome da coroa espanhola. A declaração de independência só viria mais tarde, durante o Congresso de Tucuman em 1816, onde foi proclamada

3

operando como a principal força militar da região.Organizadas pelas lideranças locais, essas

forças acabaram por acumular um grande peso político, constituindo-se em um importante

canal pelo qual a população tinha a possibilidade de participar de forma ativa da vida política.

Na regiãodo Prata, no século XIX, pegar em armas para a defesa do território era um direito e

uma obrigação de todo cidadão. As milícias, não funcionavam somente como uma força

militar, elas representavam, acima de tudo, a cidadania.

A relação entre cidadania e milícia, entre o direito de voto e o dever da defesa, constituía um tema central na tradição republicana. Foi assim desde a antiguidade grega e romana ou dos Estados italianos dos séculos XV e XVI até a França da Revolução e os Estados Unidos. No Rio da Prata e em outras regiões da América Latina, esta relação esteve presente desde o primeiro momento revolucionário e levou à formação de milícias com base nas novas províncias.5 Uma das ações iniciais da Primeira Junta de Governo, que foi estabelecidaapós a

deposição do vice-rei Baltasar Hidalgo de Cisneros (1810), foi a tentativa de transformar as

milícias em exércitos, com o objetivo de garantir a fidelidade dos territórios. As Guerras de

Independência,que imprimiram um caráter militar à sociedade argentina, impuseram a

constante necessidade do recrutamento de homens e da mobilização de recursos para a

manutenção dos conflitos, um panorama ideal para a formação das milícias.6

Um proclame emitido, por ocasião da regulamentação da milícia de Buenos Aires em

29 de maio de 1810, expõe a intenção dos membros da Junta Governativa de estabelecer a

militarização da sociedade: “esta recíproca union de sentimentos ha fijado lãs primeras

atenciones de la Junta, sobre la mejora y fomento de la fuerza militar de estas Provincias; y

aunque para justa gloria del país es necesario reconocerun soldado en cada habitante”7.

De acordo com Marcela Ternavasio, nesse contexto inicial do processo de

independência foram “lãs milicias urbanas las que volcaron el equilibrio a favor de la

autonomia”.8A mobilização de homens para a formação dos contingentes e a militarização

originada pela conjuntura política iniciada com a Revolução criaram novos espaços de

comunicação e integração entre os diferentes grupos sociais. Tal condição possibilitou o

a independência das Províncias Unidas da América do Sul. Não se tratava ainda da formação do Estado argentino como uma nação unificada. 5SABATO, Hilda. Op. cit., p. 46. 6 TERNAVASIO, Marcela. Historia de la Argentina (1806-1852). Buenos Aires: SigloVeintiuno, 2009, p.73. 7Registro Official de la Republica Argentina. Buenos Aires: Imprenta Especial de Obras, 1879, tomo 1, p. 28. 8Ibidem, p.71.

4

conhecimento mútuo, a convivência entre oficiais e tropa, e em algumas ocasiões, gerou laços

de solidariedade entre indivíduos que estavam submetidos às mesmas situações.

Aliada a isso, a criação de Juntas de Governo Provinciais a partir de 1811 gerou o

perfeito cenário para que as lideranças locais assumissem o controle sobre as tropas que seriam

reunidas. O documento expedido em 10 de Fevereiro de 1811, que criou as Juntas, ordenava

que as essas instituições “podrán particular esmero em la disciplina einstruccion de las milícias,

para que sirviendo a conservar el orden interior, estén tambien prontas y espeditas para

culquier auxilio exterior [...]”9. Tal princípio deixou sob a responsabilidade das lideranças

provinciais a organização das forças militares que atuariam na região, abrindo o precedente

para a formação de verdadeiros exércitos provinciais identificados com a estrutura de poder

local em detrimento de um comando central.

Passado o período inicial da Revolução de 1810, a guerra permaneceu como parte do

cotidiano da população, pois vários focos de resistência à liderança exercida pela Junta de

Governo de Buenos Aires tiveram que ser combatidos. Esse quadro de permanente embate

entre as lideranças portenhas e as demais regiões, mais tarde províncias argentinas, gerou uma

constante demanda por forças militares. O clima de acirrada disputa entre os partidários de um

regime político centralizado e aqueles que defendiam a formação de uma confederação

desgastou a autoridade estabelecida, que foi derrubada em 1820.10

Uma vez extinto aquele que seria o germe de um governo central para a região, as

províncias começaram a se constituir como novas unidades territoriais autônomas, que

simultaneamente se organizaram com base em um modelo republicano e aderiram à

perspectiva de um pacto constitucional.Às milícias foi atribuído um papel como elemento

constituinte das forças militares provinciais e a partir de então, a região passaria a contar com

dois sistemas de defesa combinados: o Exército de Linha e as milícias. Essa organização

militar predominaria na Argentina durante a maior parte do século XIX e, só começaria a ser

modificada com a Guerra do Paraguai, que lançou as bases necessárias para a formação de um

exército, único, centralizado e de caráter nacional.

2. Estrutura e composição social das milícias provinciais – a militarização da sociedade.

As milícias funcionavam como corpos auxiliares do Exército de Linha eeram reunidas

ou desmobilizadas de acordo com conjunturas circunstanciais. Desde os tempos coloniais, as

9Registro Official de la Republica Argentina. Buenos Aires: Imprenta Especial de Obras, 1879, tomo 1,p. 103. 10 Entre 1810 e 1820 a região da Argentina foi governada por duas juntas de governos.

5

milícias estavam ligadas a “vecindad”, isto é, somente os habitantes (“vecinos”) de

determinada comunidade, com idade entre 16 e 45 anos, estavam aptos a integrarem os copos

milicianos compostos exclusivamente por cidadãos, que assumiam o compromisso de defesa

territorial, entre outras atividades. A dinâmica de disposição dos corpos, salvo algumas

especificidades, não variava muito de uma localidade para outra.

No geral, essas forças tiveram como base para sua organização o “Reglamento para

lãs milicias disciplinadas de infantería y caballería del Virreynato de Buenos Ayres”11.

Aprovado pela Coroa espanhola em 1801, o objetivo desse Regulamento era ordenar a

formação das milícias na região do vice-reinado de Buenos Aires. Os diversos artigos que

compunham o documento elencavam uma série de normas para a composição e disposição dos

contingentes nas diversas localidades. A existência de diferentes armas na composição das

forças milicianas e o número de indivíduos que seriam arrolados variava dependendo da região,

em alguns casos – Corrientes, por exemplo – houve a reunião de corpos de cavalaria, em

outros, as forças ficaram restritas a batalhões de infantaria.

A organização e disposição dos contingentes das milícias foram marcadas por

períodos distintos: o primeiro vai da promulgação do Regulamento de 1801 até a primeira

invasão inglesa (1806), quando foram estabelecidos dois regimes milicianos – as Milicias

Regladas e as Milicias Urbanas. O que diferenciava esses dois grupos era a presença de

profissionais de guerra entre os oficiais das Milicias Regladas, que eram responsáveis por

realizar o treinamento dos seus subordinados, com exercícios adequados e para isso recebiam

soldos. Os corpos das Milícias Urbanas, por sua vez, tinham sua atuação restrita ao cenário

urbano, operando em situações relacionadas à manutenção da ordem social. Aqueles que

estivessem alistados nesse grupo eram isentos do serviço no outro. Os indivíduos que

participavam de ambos os grupos passavam a ter acesso a uma série de direitos específicos que

os distinguiam dos demais cidadãos.

Organizadas tanto na esfera urbana quanto na rural, as milícias eram compostas por

homens a partir de 16 anos com residência na cidade onde o corpo fosse formado. Em fevereiro

de 1814, as disposições para a formação das milícias deixavam determinado que, “todo

ciudadano habitante en esta ciudad deberá alistarse precisa e indispensablemente en alguno de

los cuerpos de ella. Todo individuo que pueda mantener caballo y que no pase de 40 años y

11Reglamento para lasMilicias disciplinadas de Infantería y CaballeríadelVirreynato de Buenos Ayres. Buenos Aires: Real Imprenta de NiñosExpósitos, 1802.

6

pueda uniformarse á su costa, se alistará em la caballería ligera”12.As disposições traziam ainda

em seu texto, a formulação de um prazo de 15 dias para que todos os cidadãos passíveis de

alistamento se apresentassem, caso contrário, estariam sujeitos à punição. Esta consistia no

pagamento de 200 pesos de multa ou a obrigação de servir nas armas por dois anos, não

importando a classe ou condição social do indivíduo. As demais disposições contidas nesse

regulamento seguem uma clara tentativa de estender a militarização a toda população pobre

ativa, inclusive oferecendo o valor de 200 pesos, que seriam pagos como multa, àqueles que

denunciassem cidadãos não alistados.13

Nas áreas rurais a responsabilidade pela disposição dos contingentes ficou a cargo de

importantes estancieiros, que constituíam a oficialidade dos corpos. Já no âmbito urbano, a

organização se deu por ação das elites políticas. A preocupação em controlar os milicianos foi

constante e funcionou como um importante espaço de negociação e estabelecimento de poder

para os chefes e líderes provinciais. Uma vez por mês os milicianos deviam apresentar-se para

revista, estavam obrigados a realizar rondas noturnas, praticar exercícios de treinamento e estar

prontos para agirem na defesa do território ou dos interesses de seus comandantes.

Os contingentes das milícias eram formados em sua grande maioria por camponeses e

assalariados, frequentemente com família e cumpriam o serviço militar de forma eventual. Na

instrução aos comissários de guerra, publicada em 23 de março de 1811, era indicado que em

tempos de paz:

en que no se necesitatener sobre las armas tanto numero de tropas, hallase por conveniente, asi este Superior Gobierno, como el de cada una de lasProvincias Unidas a el dar a sus respectivos labradores y artesanos auxilio de brazosútiles para facilitarleslostrabajos, lassiembras y larecolección de lascosechas por el grande interés que de ello resulta al Estado y aun a lamisma milícia [...].14

Com este fim, um terço dos membros das milícias devia ser licenciado por não mais

de quatro meses, de maneira rotativa. Os milicianos também eram responsáveis por

desempenhar serviços de polícia e atividades burocráticas atuando como escrivães ou

secretários. Em suma, esses indivíduos possuíam uma ampla gama de tarefas. Exercendo toda a

sorte de atividades, as milícias possuíam elementos que eram indispensáveis àqueles que

desejavam controlar o cenário político nas diversas localidades. Atuavam como uma força

militar concreta, mas na prática as milícias também representavam uma força eleitoral, que

12Registro official de la Republica Argentina. Buenos Aires: Imprenta Especial de Obras, 1879, tomo 1, p. 261. 13Registro official de la Republica Argentina. Buenos Aires: Imprenta Especial de Obras, 1879, tomo 1, p. 261. 14Ibidem, p.149.

7

promovia a formação de redes de poder estruturadas de forma hierárquica, tanto nas cidades

quanto no campo, com capacidade de ações coletivas.

Na prática, a maior parte dos contingentes reunidos nas diversas localidades eram

organizados de acordo com as regras estabelecidas pelos chefes dos corpos.Os grupos sociais

abarcados pelo regulamento de organização das milícias variavam de acordo com as

circunstancias e as necessidades do momento.A partir de conjunturas de guerra, por exemplo,

ao recrutamento exclusivo de cidadãos, foi adicionado o alistamento de indivíduos não

livres.As situações de conflitos foram responsáveis por promover as mudanças mais

significativas na composição social dos regimentos, inclusive com a admissão de indivíduos

sem nenhum status social. Dessa maneira, o serviço das armas acabou sendo estendido a todos

os habitantes e as distinções passaram a se configurar no interior das forças militares.

Em 19 de dezembro de 1816, o diretor supremo das Províncias Unidas da América do

Sul afirmou: “por cuanto la seguridad y defensa del pátrio suelo es una obligación que

compreende a todas lãs clases del Estado, sin escepción de persona”. E ainda, ordenou a

organização e a disciplina “[...] em cuerpos reglados los esclavos de esta capital [...] em su

consecuencia se procederá al estabelecimiento de esta clase de milicia [...]”.15 Tempos depois,

em 6 de fevereiro de 1820, o Diretor do Estado ordenou aos donos de escravos o dever de

garantir que esses estivessem presentes regularmente nos treinamentos militares,aos quais os

batalhões estavam submetidos.

Siendo escandalosa la falta de losesclavos que componenlosbatallones argentinos á losejercicios diários en circunstancias de que por lasalida por lamayor parte de los cívicos, se haceindispensables que contribuvan por su parte á aliviar á estos es elservicio de laguarnición [...].16

Ao longo dos anos, não foi só a composição dos contingentes de soldados que sofreu

alterações. Os corpos de oficiais também passaram por algumas mudanças durante o período de

existência das milícias. Essas modificações, diferentemente do que ocorreu com os indivíduos

dos escalões inferiores, não eram direcionadas a composição social, mas a organização

burocrática. Inicialmente, os oficiais eram nomeados a partir de uma eleição feita pela tropa,

entretanto, com o tempo essa prática foi sofrendo variações, que visavam a uma limitação do

poder dado aos soldados. Segundo Hilda Sabato, o regime eleitoral, mesmo antes de passar por

15Registro Official de la Republica Argentina. Buenos Aires: Imprenta Especial de Obras, 1879, tomo 1, p. 393. 16Ibidem, p. 193.

8

alterações, na prática, não garantia o estabelecimento de um preceito democrático na

organização dos batalhões de milicianos.

A maioria das votações de oficiais estava fortemente condicionada por práticas de clientelismo que reduziam o espaço de autonomia dos soldados. Os eleitos eram geralmente aqueles que já vinham com influências políticas e com certo capital social, o que significava que a maioria dos oficiais pertencia a setores sociais mais privilegiados da tropa.17

Neste sentido, a política era um elemento presente – e muitas vezes determinante –

nas relações estabelecidas entre os oficiais e os seus subordinados. Sabato defende, todavia,

que mesmo sendo comum a situação descrita acima, isso não significava que os oficiais fossem

alheios à tropa. Na verdade, muitas vezes, os eleitos chegavam ao posto utilizando seus

próprios recursos para garantir o apoio dos seus subordinados.18

Os vínculos estabelecidos entre oficiais e soldados, que constituíam uma importante

forma de integração, não eram interessantes apenas aos indivíduos dos altos escalões das

milícias, mas também para os soldados. Esses passavam a contar com a proteção de seus

comandantes, criando um sentimento de pertencimento firmado por meio do compromisso de

lealdade, que acabava se estendendo a política, através, por exemplo, da identificação

partidária da tropa com as causas a favor das quais os contingentes lutavam.

3. As milícias como instrumentos de centralização da política.

A partir de 1835, com a superação de uma série de conflitos interprovinciais, as

províncias se reuniram sob o regime de uma confederação formada por estados independentes,

que eram responsáveis, entre outras coisas, pela regulamentação das forças militares. Durante

esse período mantiveram experiências políticas diversas, algumas mais voltadas à

institucionalização, outras profundamente influenciadas pela ação de poderosos caudilhos. O

sistema de milícias foi mantido e, na maioria dos casos, essas organizações representaram a

base para a manutenção de algumas lideranças locais.

Apesar do importante papel que exerciam, as milícias não eram a única força militar

em atuação nas províncias durante o processo de consolidação do Estado, o Exército de linha

também operou durante o período. No entanto, após a Revolução de 1810, inexistiu uma

separação clara entre os milicianos e os militares do Exército, situação que se perpetuou

17 SABATO, Hilda. Op. cit., p.64. 18SABATO, Hilda. Op. cit., p.65.

9

durante toda a primeira metade do século XIX.19 Nesse sentido, o sistema de recrutamento de

tropas tornou-se bastante confuso e permaneceu assim até a Batalha de Caseros (1852), quando

da derrubada de Juan Manuel de Rosas, um dos principais caudilhos da região, que liderou a

província de Buenos Aires durante o período da Confederação.20

O fim do regime rosista em 1852 levou a formação de uma nova ordem política, não

menos conflituosa que a anterior, que buscava se fundamentar na legitimação e centralização

do Estado nacional. Sob a liderança de Justo Jose de Urquiza um Estado federal começou a ser

institucionalizado. Essa nova fase da história política da Argentina foi marcada pela

promulgação da Constituição de 1853, que criou instituições nacionais, dando início uma

importante etapa do longo processo de consolidação da ordem política. A partir desse

documento, operou-se uma profunda transformação na estrutura e disposição das milícias. As

formas de organização militar estabelecidas foram determinantes para o processo de formação

do Estado nacional, que se buscou a partir da segunda metade do século XIX.

Esse novo Estado que estava sendo organizado manteve uma relação extremamente

conflituosa com a província de Buenos Aires, que se retirou da Confederação e passou a atuar

como um Estado independente, este era formado pela província e pela cidade de Buenos Aires.

Os portenhos assumiram uma postura de unidade político-econômica diferenciada do restante

do território. Segundo Oscar Oszlak, “Caseros y, más precisamente el Acuerdo de San Nicolás,

inauguraban un nuevo capítulo de la lucha por la organización nacional, signado por la unión

de los diversos sectores porteños para enfrentar a la Confederación Argentina liderada por

Urquiza”21

O governo estabelecido durante esse importante período determinou algumas

mudanças significativas em relação ao modelo de organização da estrutura militar da região,

existente até aquele momento. Houve uma tentativa mais contundente no sentido de instituir

19 Em 1825, na iminência da Guerra da Cisplatina, houve um longo debate no Congresso Nacional, em que foi discutida a formação de um Exército Nacional. Nessa ocasião, ficou resolvido que a formação de um exército nacional não seria possível, uma vez que, não havia uma nação consolidada. Ver: WASSERMAN, Fabio. Revolución y Nación enelRío de la Plata 1810-1860. In: MORENO, Oscar (coord.). La Construcción de la Nación Argentina – El Rol de lasFuerzas Armadas. Buenos Aires: Ministerio de Defensa, 2010, pp. 38-39. 20 Batalha ocorrida em 1852, na qual Juan Manuel de Rosas foi derrotado por forças aliadas das Províncias de Entre Ríos e Corrientes e, ainda, forças brasileiras e uruguaias. Contrário à união nacional e a promulgação de uma constituição, Rosas foi derrubado pelas tropas lideradas pelo governador da província de Entre Ríos Justo José de Urquiza. 21 Por esse acordo, assinado em 31 de maio de 1852, treze províncias menos Buenos Aires, firmaram as bases da organização nacional argentina, servindo como precedente para a promulgação da Constituição de 1853. Além disso, o Acordo nomeou Urquiza como diretor provisório da Confederação Argentina, que passou a exercer o comando da região a partir da cidade de Paraná, capital da província de Entre Rios. (Ver: OSZALAK, Oscar. La Formacióndel Estado Argentino – Orden, Progreso y Organizacón. Buenos Aires: Emecé, 2009, p. 73.)

10

um caráter nacional e não mais provincial às forças militares. À frente do governo, o líder

entrerriense Justo Jose de Urquiza iniciou a formação de um Exército Nacional regular e

profissional, formado a partir da integração do Exército de linha com as milícias provinciais,

que ficariam responsáveis por garantir a ordem local. Além disso, uma nova força criada: a

Guarda Nacional.

4- O governo de Urquiza (1852): uma tentativa de nacionalização das forças militares.

Com o objetivo de ordenar a Confederação e fortalecer o poder central, Urquiza

tomou algumas medidas no sentido de submeter às forças de origem provincial ao seu

comando. No entanto, sem meios para monopolizar o poder coercitivo, o governo nacional

dependia da capacidade de convocação militar dos governos provinciais. Esta conjuntura

funcionava como uma espécie de entrave à instauração de um poder centralizado forte e

atuante, uma vez que, não livrava tal poder da ingerência das lideranças locais, que possuíam a

capacidade de movimentar sistemas de laços sociais e lealdade política a seu favor. Sendo

assim, essa nova ordem impetrada a partir de 1852 teria que dispor de práticas e instituições

criadas e atuantes, primeiramente no âmbito local, para então promover a elevação dessas ao

nível nacional.

Em junho de 1854, o presidente da Confederação argentina, criou a Inspección

General delEjército Nacional para tentar otimizar a constituição da força militar,

supervisionando o processo de reunião dos contingentes nas diversas províncias da

Confederação. Urquiza considerava “que es de suma urgencia para el buen servicio del Ejército

Nacional, la imediata instalación de la oficina de la Inspección General [...].”22 Apesar das

medidas adotadas por ele, o envio de tropas, no entanto, não foi muito eficiente. Entre outros

motivos, os governadores não podiam lançar mão de seus contingentes e deixar as províncias

desguarnecidas em caso de rebeliões. Naquele momento o contingente organizado contou,

basicamente, com os soldados da força que o próprio Urquiza havia formado em Entre Ríos.

Apesar desse esforço empreendido por Urquiza, a fragmentação política, que marcara

todo o processo de unificação do Estado argentino desde 1810, mais uma vez acabou

dificultando a formação de um Exército Nacional. A estruturação de um conjunto de

instituições necessárias à organização de um governo nacional precisou ser feita com recursos

provinciais. Ponto bastante delicado, pois tocava em uma questão cara a organização social, 22 DOMINGUEZ, Ercilio. Colección de Leyes y Decretos Militares ConcernientesalEjército y Armada de la República Argentina 1810-1896. Buenos Aires: CampañiaSud-Americana de Billetes de Banco, 1898, tomo 2, p. 47.

11

política e econômica das províncias – a autonomia militar. Ao abordar essa situação, em um

longo trabalho que analisa a formação do Estado argentino, Oscar Oszlak afirma que:

La construcción de lasinstitucionesnacionales no pudo superar loslazos que ligabanlaexistenciadelgobierno nacional a los recursos de entre Ríos y se atrofióenelestrecho marco del Litoral. Las bases materiales para llevar a cabo laefectivaunificacióndelterritorio nacional se hallabanenlaprovincia de Buenos Aires, donde, mientras tanto, se consolidabaungobiernoindependiente.23

A falta de recursos para a reunião de tropas e a necessidade de deslocar os batalhões

provinciais, para proteger as fronteiras contra invasões indígenas, também prejudicavam a

organização de um exército de caráter nacional. Mesmo após a Constituição de 1853 atribuir o

cargo de Comandante em Chefe de todas as forças da nação ao presidente da Confederação,

essa atribuição só saiu do papel, em algumas ocasiões, através da formação de alianças entre o

governo federal e as lideranças provinciais.24

Afora todas essas medidas tomadas por Urquiza no sentido de unificar as forças

militares sob um comando nacional, a criação da Guarda Nacional em 1853 foi o ponto central,

pois, em tese, transferia para o governo central a gerência sobre as milícias provinciais. Essa

força, que funcionava como auxiliar do Exército, participaria de forma ativa de todos os

confrontos militares em que a Argentina esteve envolvida a partir de sua criação. A Guarda

Nacional possuía caráter miliciano e respondia diretamente à administração provincial,

responsável por sua organização, mas a mobilização ficava a cargo do governo central.

Controlada pelos governadores, a milícia acabou atuando como uma instituição diretamente

ligada às questões provinciais.

O alistamento na instituição implicava o compromisso por parte dos soldados de

participarem de treinamentos militares periódicos. Apesar da obrigatoriedade do serviço se

estender a todos os homens entre 17 e 60 anos, diversos indivíduos tinham direito a isenção.

Esse era o caso dos ministros, membros do congresso, governadores, membros das legislaturas

provinciais, juízes, diretores e reitores de universidades, médicos entre outros. Todo indivíduo

apto a alistar-se na Guarda que não o fizesse, estaria obrigado a prestar serviço durante dois

anos no Exército de linha e, para piorar a situação, esse tempo poderia ser dedicado ao serviço

nas regiões de fronteira.

23 OSZALAK, Oscar. Op. Cit., p. 64. 24 Constituição da Nação Argentina, sancionada em 1º de maio de 1853 por treze das quatorze províncias (exceto Buenos Aires). Cap. III, Art. 86, § 15. Ministerio de Justicia, Seguridad y Derechos Humanos de la Nación, Departamento de Biblioteca, Centro de Documentación y Traducción. Disponível em: www.biblioteca.jus.gov.ar/constituciones-argentina.html - (acessado em 09/11/2014).

12

Havia uma diferença de status social entre o soldado da Guarda e o militar do

Exército de linha. O primeiro possuía um status mais elevado, por se tratar de um cidadão

soldado, com seus direitos políticos assegurados. O segundo era membro de uma instituição

que, em muitos casos, era utilizada para promover a correção de indivíduos socialmente

excluídos, portadores de uma conduta moral indesejada “vagos” e “mal entretenidos”.25Desta

maneira, o Exército de linha e a Guarda Nacional possuíam uma composição social bastante

diferenciada.No entanto, a Guarda era uma força auxiliar do Exército, por isso além do

cumprimento das funções que lhe eram inerentes, a milícia ainda era responsável por atuar em

atividades destinadas aos militares. Os contingentes da Guarda eram constantemente

requisitados para dar volume aos diminutos efetivos do Exército profissional.

Com relação a sua organização, o ritmo de estruturação da milícia cívica foi bastante

diferente nas diversas províncias. Sem os meios necessários para monopolizar o poder

coercitivo, o governo nacional dependia da competência convocatória dos governos provinciais

e da mediação dos próprios governadores. Em Tucumán, por exemplo, a organização dos

corpos da Guarda só foi completada no início da década de 1870, a milícia de La Rioja, por sua

vez, teve seu arranjo concluído no início da década de 1860.26

Em Buenos Aires, politicamente separada da Confederação à época da Constituição

de 1853, a organização da Guarda Nacional ocorreu um ano antes, em março de 1852. Esta

medida fazia parte de uma política de reorganização dos serviços públicos implementada, após

Caseros, pelo governador Vicente López. A especificidade do caso bonaerense se deve ao fato

de ter sido a primeira província a dissolver as milícias e reuni-las sob a forma de uma Guarda

Nacional.27 Os portenhos foram convocados a se alistarem de maneira voluntária. A posição de

fronteira e de liderança no desenvolvimento de uma nova ordem política proporcionava a

Buenos Aires uma destacada militarização da sociedade, motivada pelas constantes

circunstâncias de guerra civil e de luta contra as invasões indígenas.

Segundo Julio Nuñes, que foi membro dos corpos formados em 1852, assim que os

contingentes da Guarda Nacional portenha começaram a ser reunidos, o principal objetivo de

25 MACÍAS, Flávia; SABATO, Hilda. La Guardia Nacional: Estado, política y uso de lafuerzaenla Argentina de la segunda mitaddelsiglo XIX. In: Dossier – Historia de la Republica. Variaciones sobre elorden político enla Argentina delsiglo XIX. Buenos Aires: PolHis. Ano 6, no 11, p. 75. 26Ibidem, p. 76. 27 LITERAS, Luciano. Milicias y fronterasenlaformacióndel Estado argentino. La regulación de laGuardia Nacional de Buenos Aires (1852-1880). In: Avances delCesor. Ano 2012, noIX, p. 12.

13

seus organizadores era apresentar os batalhões completos, uniformizados e treinados para os

festejos de 25 de maio.28 Nessa ocasião, segundo o autor,

Los jóvenesguardiasnacionalesconcurrianconasiduidad á esosejercicios, y tanto empeñoponíanensuinstrucción, que alpocotiempoestaban suficientemente adiestradosenlos movimentos y manejo de las armas. Ochodías antes delgran aniversario pátrio, los dos batallonesestabanlujosamente uniformados, y suficientemente disciplinados para ocupar supuestoenla línea.29

Apenas cinco meses após a sua criação, a Guarda Nacional portenha precisou entrar

em ação. Em 11 de setembro, teve início uma revolta que levou à separação de Buenos Aires

da Confederação e que tinha como objetivo restaurar o predomínio desta província sobre as

demais. Na ocasião, Bartolomé Mitre futuro presidente da Argentina, foi designado chefe das

tropas de infantaria da Guarda Nacional e ficou responsável por sua organização. Em um

proclame dirigido à milícia, ele convocou os “cidadãos de todas as classes” para que lutassem

pela “glória da pátria”, numa clara tentativa de fomentar a união entre o povo e o governo de

Buenos Aires, em oposição a uma Confederação sob o comando de um governo que não fosse

sediado nessa província.

Habéis visto que se ha pretendido presentar nuestraprovincia ante elcongreso, como una cautiva ante latolderíadel pampa: atada de pies y manos y con una mordazaenla boca. [...] ¡Ciudadanos de todas lasclases! ¡A las armas! Ennombre de laley, por ordendelgolnerno y enelinterés y la gloria de lapatria, os llamo [...].30

Nos meses de novembro e dezembro do mesmo ano de criação da Guarda

(1852),foram sancionados uma série de decretos com a intenção de ampliar seus efetivos e

também suas funções. Os corpos de milícias existentes até então foram dissolvidos, e seus

membros viram-se obrigados ao alistamento naquela nova instituição que se formava. A partir

daí, ficou estabelecido que aqueles cidadãos que não se arregimentassem nos corpos da

Guarda, ou que uma vez alistados deixassem de cumprir suas responsabilidades, seriam

28 A data 25 de maio de 1810 marca a deposição oficial do vice-rei Baltasar Hidalgo de Cisneros em Buenos Aires e a consequente formação da Primera Junta de Gobierno. Os acontecimentos da Semana de Mayoocorreram entre os dias 18 e 25. A Revolução de Maio deu inicio ao processo de surgimento do Estado argentino, sem, no entanto, haver uma proclamação formal da independência, que só aconteceria em 1817. 29 NUÑES, Julio. La Guardia Nacional de Buenos Aires – Datos para su Historia . Buenos Aires: C. Casavalle Ed., 1892, pp.12-13. 30Arengas de Bartolomé Mitre – Colección de Discursos Parlamentarios, Políticos, Económicos y Literarios, Oraciones fúnebres, AlocucionesConmemorativas, Proclamas y Alegatos in voce Pronunciados desde 1848 hasta 1902. Buenos Aires: Bliblioteca de La Nación, tomo 1, p. 26 e 27.

14

penalizados com o serviço nos corpos do Exército de linha por dois anos consecutivos,

correndo o risco de serem alocados para a guarnição de fronteira.

O serviço da Guarda Nacional de Buenos Aires foi muito utilizado durante a década

de 1850, devido às tentativas de rebeliões promovidas por grupos insurgentes e a ação contra

os índios nas fronteiras, que frequentemente invadiam o território da província. Os conflitos

com a Confederação, no entanto, ocuparam um lugar central na rotina de ação da instituição,

demandando recorrentemente a intervenção dos milicianos. Neste sentido, o recrutamento em

larga escala para os corpos da milícia funcionava como um recurso legal utilizado para suprir a

escassez de soldados nos quadros do Exército de Linha. Assim como a Guarda Nacional

organizada nas províncias da Confederação, a milícia bonaerense também se caracterizava por

ser uma força auxiliar do Exército de Linha.

Para garantir um amplo alistamento de milicianos, em 1856 o governo ordenou um

“severo enrolamiento” 31 para os corpos de infantaria. Essa medida foi implementada para

tentar resolver os problemas relacionados à mudança de domicílio e ausências que vinham

prejudicando o serviço da Guarda. No início do ano de 1855, o governo lançou outras medidas

com o intuído de promover uma conveniente organização a Guarda Nacional das áreas rurais,

que tinha uma atuação bastante importante e estratégica. “Estas fuerzas prestaron importantes

servicios en la defensa de la línea de fronteras, especialmente lasdel centro sur, librando

contínuos combates con los índios que invadían con mucha frecuencia [...]”.32 Em 1857, uma

nova lei foi sancionada com o objetivo de fortalecer a ordem e a disciplina nos corpos da

milícia.

É possível perceber, através da leitura das fontes e da bibliografia relacionada à

Guarda Nacional argentina (incluindo aqui a portenha e as das demais províncias) que as

instruções normativas da instituição variaram muito de acordo com os conflitos e as demandas

conjunturais que envolveram Buenos Aires e a Confederação. O recrutamento também fora

influenciado por situações de conflito, que geravam a necessidade de um maior número de

homens. No entanto, ao mesmo tempo em que se tentou promover o recrutamento em larga

escala, o governo de Buenos Aires criou meios para que alguns setores da população pudessem

ficar de fora. Para os mais abastados, existia a possibilidade de se pagar para enviar um

“personero”, ou seja, uma espécie de substituto. Tal medida também foi adotada pela

Confederação.

31 NUÑES, Julio. Op. cit., p. 91. 32Ibidem, p. 90.

15

Além disso, ainda havia a questão das isenções. Alguns indivíduos que ocupavam

certas funções estavam isentos do serviço na Guarda, principalmente no campo, onde o

recrutamento em larga escala poderia comprometer a produção agrícola. Segundo Luciano

Literas, “la consideración del papel del individuo en la estructura económica de la campaña

para su enrolamiento, fue recurrenteen el caso porteño [...]”33, o autor afirma ainda que:

El trabajofue una cuestión relevante desde losprimerosaños de la Guarda Nacional bonaerense, reflejandolapreocupación por minorar su impacto enla economia de lacampaña al considerar tanto el papel ocupacional de la persona como los ciclos productivos de laactividad agrícola y ganadera.34

Afora os trabalhadores do campo, também estavam isentos indivíduos que

possuíssem “enfermidades”, “defeitos físicos” que os incapacitassem de realizar as atividades

relativas ao serviço na instituição e alguns grupos como: advogados, médicos, universitários,

escritores, professores entre outros figuravam na lista de isentos.35 Essa dinâmica se manteve

até 1858, ano anterior a Batalha de Cepeda, quando o governo de Buenos Aires através do

Decreto 932 de 13 de agosto, extinguiu o direito a isenção de alguns grupos específicos,

principalmente os indivíduos que exerciam atividades no campo.36 Alegando que eram

repetidas as denuncias

[...] que se hacenalGobiernocon motivo de los abusos introducidos relativamente a excepciones delservicio militar a que sonllamadoslosGuardiasNacionales de Caballeria de Campaña; siendofrecuente pretextar para obtenerlas, elhallarsedesempeñandoenlosestablecimientos de campo, las funciones de mayordomos ó capataces, cuyos títulos se apropianindebidamentehombres que sin dirigir trabajos, nitenerpeones á sus órdenes, á excepción de uno ó dos, se hallan al cargo aun de pequeñospuestos [...].37

Na ocasião em que o decreto mencionado acima foi lançado, o governo portenho

precisava alargar o conjunto de cidadãos recrutáveis, para reunir o maior número de homens

em vista ao iminente enfrentamento contra o Exército da Confederação. Essa alteração nas

regras de concessão de isenções colocava a disposição do governo um grande número de

indivíduos que viviam nas estâncias. Alguns grupos, entretanto, continuaram tendo direito a

33LITERAS, Luciano. Op. cit., p. 18. 34Ibidem, p. 18. 35 DOMINGUEZ, Ercilio. Op. cit., p. 95-96. 36 Na Batalha de Cepeda enfrentaram-se os exércitos de Buenos Aires e da Confederação, o primeiro foi derrotado e como consequência do conflito, Buenos Aires foi novamente integrada a Confederação (1859). 37DOMINGUEZ, Ercilio. Op. cit., p. 95-96.

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ficar de fora das listas de recrutamento – diretores de escolas, professores, juízes, chefes de

repartições públicas entre outros.

No ano seguinte à modificação no regulamento, a Guarda Nacional foi mobilizada em

grande número para atuar na Batalha de Cepeda. A organização dos contingentes foi feita

através do sorteio de batalhões inteiros, para evitar que o espírito de corpo, a organização e o

companheirismo já existentes entre os soldados dos diversos batalhões fosse quebrado.

Segundo Nuñes, “desde luego estos batallones, perfectamente armados y equipados se pusieron

á las ordenes del General en Jefe, y un mes después emprendían su marcha á campaña.”38 Os

unitários de Buenos Aires saíram derrotados desse conflito, que teve como principal

consequência a reincorporação da província à Confederação.

Durante quase uma década em que Buenos Aires esteve separada das demais

províncias, a Guarda Nacional foi constantemente mobilizada pelos governos de ambos os

lados, a ação dessas milícias foi fundamental em todos os episódios de enfrentamento. Após a

Batalha de Cepeda, a instituição seguiu operando de forma ativa em outros episódios, que

seriam determinantes para o processo de consolidação da unidade política argentina. Como

veremos a seguir, a Batalha de Pavón e a Guerra do Paraguai são os dois exemplos mais

significativos da ação das milícias nesse sentido.

5- De Pavón à Guerra do Paraguai: a formação de um Exército Nacional.

A Batalha de Pavón marcou o princípio da definitiva hegemonia de Buenos Aires no

cenário político argentino, apesar de não ter garantido o fim dos conflitos internos relacionados

à ordem política. A partir desse conflito, teve início, na prática, o projeto de consolidação de

uma autoridade central estável entre as províncias, sob a liderança portenha. Na ocasião, a

Confederação passava por um momento muito complicado, marcado por confrontos internos e

dificuldades econômicas, essa conjuntura facilitou a vitória de Buenos Aires e a ascensão de

Bartolomé Mitre à presidência da nação unificada. No entanto, apesar desse ter sido o

momento de concretização da unidade territorial da Argentina, foram necessários ainda vários

anos para que se pudesse construir e solidificar um sistema de instituições nacionais que fosse

incontestável em todo o território.

A partir dessa batalha, o esforço de unificação política, que chegaria após cinco

décadas de conflitos e guerras internas, refletiu-se, sobretudo, na tarefa de organizar as forças

militares de forma a compor uma instituição nacional. O governo, com sede em Buenos Aires 38NUÑES, Julio. Op. cit., p.95.

17

tratou de promover a centralização das forças, mas a estrutura pensada para aquele momento

foi a mesma utilizada nas tentativas anteriores. O Exército seria formado pelas tropas regulares,

pela Guarda Nacional e pelas milícias provinciais, que tiveram seus contingentes reduzidos,

dada a sua transferência para os batalhões da Guarda.

Sob essa perspectiva, a concepção de ordem política defendida pelos unitários, grupo

vitorioso em Pavón, estava diretamente relacionada à subordinação das instituições e poderes

públicos ao controle do novo governo nacional que se estabelecera. Uma das primeiras

medidas tomadas por Mitre, que à época assumiu a chefia do executivo nacional, foi submeter

a Guarda Nacional bonaerense e as forças militares das demais províncias a um comando

unificado. Desde o início do governo da Confederação, Urquiza já havia entendido que a

organização militar era o ponto chave para se chegar ao estabelecimento da ordem interna. No

entanto, sem o apoio de Buenos Aires, esse projeto liderado pelos federalistas não se

concretizou.

Ao longo do ano de 1862, o governo de Mitre tomou diversas medidas legais que

buscavam criar meios para se chegar a esse objetivo, alguns decretos foram lançados para

reestruturar o comando das forças militares, visando de uma vez por todas acabar com o

conceito de Exército provincial39.A primeira medida tomada, no entanto, não versava sobre a

organização, funcionamento ou qualquer outro ponto estrutural das forças armadas. Em 14 de

janeiro de 1862, Bartolomé Mitre “deseando el Gobierno manifestar el alto aprecio que tanto á

él como al pueblo que preside le merece la valiente Guardia Nacional”40 promulgou o Decreto

no 1049, apontando como seria realizada a recepção e as honras prestadas a Guarda Nacional

vitoriosa em seu retorno a Buenos Aires. A partir da leitura deste documento, fica clara a

intenção de Mitre em reforçar a vinculação da Guarda Nacional ao sucesso bonaerense sobre as

forças da Confederação em Pavón e, a partir daí, intensificar a ideia de uma força militar

nacional identificada com a milícia portenha.

Como afirmou Alberto Lettieri, a Guarda Nacional foi um dos principais pontos de

formação de identidade portenha a partir da década de 185041. Para esse autor, a instituição

começou a desempenhar um papel ativo na política nacional na ocasião em que Buenos Aires

separou-se da Confederação, quando a milícia foi responsável por combater as forças que

39 Formado pelo estabelecimento do sistema de milícias desde 1820 – e instituir a ideia de Exército Nacional 40DOMINGUEZ, Ercilio. Op. cit., p.196. 41LETTIERI, Alberto. La guerra de las representaciones: la revolución de 1852 y el imaginário social porteño. In: SABATO, Hilda; LETTIERI Alberto (orgs). La Vida Política enla Argentina delSiglo XIX – Armas, Votos y Voces. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica de Argentina, 2003, p.111.

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tentaram invadir a província. No entanto, de acordo com Lettieri, essa posição foi bastante

inflada pela postura adotada por Mitre. A partir de seus discursos, ele foi responsável por

definir a matriz de representação da Guarda como uma instituição que:

No había sido creada por hombres, sino que se trataba de un principio orgániconacido de laRevolución de Mayo, que fundíaensu doble condición cívica y militar lavitalidaddel temperamento patriotico, su amor a laliberdad y el repudio a cualquierclase de tiranía. Esos valores, según Mitre, resultabanproprios de laindiosincrasia de losporteños y atravesabaneltejido social y clivajes facciosos.42

O autor acrescenta, que toda essa representação de valores constituída em torno da

milícia cívica “[...] se acompanho de la creación de una mística guerrera, que anteponía el

compromiso de los porteños con su ciudad a cualquier facción o división de intereses que

pudiesse existir.”43Neste sentido, organizar um Exército nacional a partir de uma instituição

identificada com a liderança portenha seria mais conveniente para o governo de Mitre. A

existência de tropas nacionais seria fundamental para a atuação do governo central em diversas

províncias, que muitas vezes eram contrárias ao domínio por parte de Buenos Aires.

Diante desse panorama, nos primeiros anos de centralização do Estado, o governo de

Mitre procurou demonstrar que a gerência das forças militares não ficaria a cargo das

províncias, tal política foi corroborada pela nacionalização do Ministério da Guerrae pela

criação da Inspección General de MiliciasProvinciales.44 As milícias continuariam sendo

estabelecidas pela administração provincial, mas o governo central procurou tornar seu

regulamento mais homogêneo, no que se refere a sua disposição nas diversas províncias.

Essasituaçãoé um caso exemplar, que nos permite entender que o processo de centralização do

poder na Argentina, como observado por Leonardo Canciani, foi resultado das dinâmicas

provincial e nacional que convergiram. Desta maneira, “la presencia de la Nación en las

provincias, entonces no aparece como la penetración de un actor ajeno [...], más bien, como la

construcción de un conjunto de acuerdos y de instituciones que las propias elites provinciales

estabelecieron [...]”.45

O programa de unificação do comando das forças militares também promoveu o

licenciamento dos exércitos provinciais. No início de 1862, as tropas da província de Entre

Ríos, que lutaram pela Confederação durante Pavón, foram licenciadas com o aval de Urquiza.

42LETTIERI, Alberto. Op. cit., p.112. 43Ibidem, p. 112. 44Registro official de la Republica Argentina. Buenos Aires: Imprenta Especial de Obras, 1879, Tomo I, p.532. 45CANCIANI, Leonardo Daniel. Hombres de Frontera. Lasguardiasnacionalesenla pampa argentina. In: Revista Latino Americana de Historia. Vol. 1, no1. Janeiro de 2012, p. 77.

19

Em correspondência enviada por este a Mitre, o general assegurou a desmobilização de suas

tropas, mas pediu garantias de que o mesmo seria feito com o exército de Corrientes,

defendendo tal atitude como uma condição para o estabelecimento da paz entre as províncias.

“Con esta misma fecha expido las órdenes convenientes, licenciando el ejército de la provincia.

He contado con la seguridad que V. E. me oferece de que Corrientes lo efectuará en seguida,

como conviene en bien de la confianza y la paz general.”46

Um mês após o pedido de Urquiza, Mitre respondeu-o afirmando que “[...] incitaba á

aquelgobierno [o de Corrientes] a desarmarse y ponerseen pie de paz.”47 Posteriormente, em

mais uma correspondência enviada ao líder entrerriense, ele diz que “en carta que recebí del

governador Pampin me asegura el completo licenciamento del ejército correntino, dejando sólo

algunas pequenas guarniciones en pie.”48Essa deliberação por parte do governo central era uma

tentativa de desmobilizar qualquer força provincial que pudesse ser usada em uma investida

contra Buenos Aires e, consequentemente, atrapalhasse ou impedisse a afirmação da unidade

política que se buscava estabelecer.

6- Concluindo:a Guerra do Paraguai e a formação de um Exército Nacional.

O advento da Guerra do Paraguai colocou o governo de Mitre em uma posição que

anularia a possibilidade de estabelecimento de uma liderança política por parte de qualquer

outra província. Pela primeira vez, o país esteve envolvido em um conflito que ultrapassava as

esferas locaise lançava todas as províncias, agora unidas sob a forma de uma única Nação, em

uma guerra internacional. Essa visão, no entanto, não foi compartilhada pela população de

todas as províncias, que em algumas regiões mostrou-se bastante contrária à causa da Guerra,

principalmente no que diz respeito à reunião e ao envio de contingentes para o Exército em

operação. Durante o conflito com o Paraguai o processo de recrutamento de tropas esbarrou na

formação miliciana da população das províncias e, em muitos casos, essa circunstância

constituiu-se em um entrave a ação do governo federal.

Em Buenos Aires o alistamento de voluntários foi grande. Núcleo do projeto de

centralização política que vinha sendo desenvolvido pelos unitários, a identificação com a

causa bélica foi mais forte naquela província. Segundo Julio Nuñes, “En menos de las 24 horas

46Archivo del General Mitre. Documentos y Correspondencia. Pacificación y Reorganización Nacional. Buenos Aires: Biblioteca de la Nación, 1911, tomo 10, p. 76. 47Ibidem, p. 78. 48Archivo del General Mitre. Documentos y Correspondencia. Pacificación y Reorganización Nacional. Buenos Aires: Biblioteca de la Nación, 1911, tomo 10, p. 80.

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los cuarteles de la Guadia Nacional se vieron inundados de ciudadanos que acudieron á tomar

sus puestos, y en muy poco tempo más los regimentos estaban totalmente formados con su

respectiva organización.”49Embora a capital federal tenha reagido de maneira entusiasmada, na

maioria das províncias, apesar da tentativa, por parte dos governadores, de estimular o

alistamento de guardas, o entusiasmo pelo serviço de guerra não foi muito grande. Mais do que

a falta de adesão, em muitos casos, o governo federal foi obrigado a lidar com a aversão, que se

deu de várias maneiras – desde a resistência e a deserção até a formação de motins, que em

alguns casos assumiram a forma de montoneras.50

No entanto, a efetivação do recrutamento de tropas nas províncias, para um conflito

de tamanha envergadura, possibilitou o reforço de alianças que já vinham se formando a partir

de Pavón e, ainda a formação de novas lideranças locais. Tal situação fortificou as relações de

mando firmadas a partir do centro político estabelecido em Buenos Aires. Não existia mais

espaço para um modelo de organização militar descentralizado, como havia sido, durante a

primeira metade do século XIX, o sistema de milícias. Ou mesmo para um modelo bipartido,

formado por Exército de Linha e Guarda Nacional.

“La Guerra del Paraguay y sus resultados instlarón en el marco de la opinión pública

debates em relación al tipo de ejército que debía fojarse.”51 O sucesso do projeto dos grupos

que buscavam a centralização política e estatal dependia da afirmação de um exército único e

profissional, capaz de fornecer ao governo central o monopólio sobre os meios de coerção. A

Guerra do Paraguai deu um importante passo nesse sentido, mas a solução para essa questão foi

adiada para a década de 1880, quando seria concluído o processo de consolidação do Estado e

fortalecimento de suas instituições, uma longa tarefa levada a cabo durante anos pelos grupos

dirigentes que buscavam “llevar la fuerza de la periferia al centro”.

Bibliografia - Fontes: Constituição da Nação Argentina, sancionada em 1º de maio de 1853. Ministerio de Justicia, Seguridad y Derechos Humanos de la Nación, Departamento de Biblioteca, Centro de Documentación y Traducción. Disponível em: www.biblioteca.jus.gov.ar/constituciones-argentina.html- (acessado em 09/11/2014).

49 NUÑES, Op. cit., p. 124-125. 50 Essas eram uma espécie de milícia de caráter militar organizada hierarquicamente, mobilizadas por caudilhos para atuarem em rebeliões contra o governo central e não se tratavam de uma força permanente. 51MACÍAS, Flávia. Op. cit., p.30.

21

Arengas de Bartolomé Mitre – Colección de Discursos Parlamentarios, Políticos, Económicos y Literarios, Oraciones fúnebres, AlocucionesConmemorativas, Proclamas y Alegatos in voce Pronunciados desde 1848 hasta 1902. Buenos Aires: Bliblioteca de La Nación, tomo 1. Archivodel General Mitre. Documentos y Correspondencia. Pacificación y Reorganización Nacional. Tomo 10. Buenos Aires: Biblioteca de la Nación, 1911 DOMINGUEZ, Ercilio. Colección de Leyes y Decretos Militares ConcernientesalEjército y Armada de la República Argentina 1810-1896. Buenos Aires: CampañiaSud-Americana de Billetes de Banco, 1898, tomo 2. NUÑES, Julio. La Guardia Nacional de Buenos Aires – Datos para su Historia. Buenos Aires: C. Casavalle Ed., 1892. Registro official de la Republica Argentina. Buenos Aires: Imprenta Especial de Obras, 1879, tomos1-3. Reglamento para lasmilicias disciplinadas de infantería y caballeríadelVirreynato de Buenos Ayres. Buenos Aires: Real Imprenta de NiñosExpósitos, 1802. - Referência Bibliográfica: BRAGONI, Beatriz; MÍGUEZ, Miguel (orgs.). UnNuevoOrden Político – Provincias e Estado Nacional (1852-1880). Buenos Aires: Editorial Biblos, 2010. CANCIANI, Leonardo Daniel. Hombres de Frontera. Lasguardiasnacionalesenla pampa argentina. In: Revista Latino Americana de Historia. Vol. 1, no1. Janeiro de 2012, pp. 76-98. FUENTE, Ariel de la. Los Hijos de Facundo – Caudillos y Montoneras em laProvincia de la Rioja durante el Processo de Formacióndel Estado Nacional Argentino (1853-1870). Buenos Aires: PrometeoLibros, 2007. GOLDMAN, Noemi; SALVATORE, Ricardo. CaudillismosRioplatenses – Nuevas Miradas a um Viejo Problema. Buenos Aires: Eudeba, 1998. HARARI, Emilio Fabián. La organización Miliciana en Buenos Aires (1810-1820): Creación, Reclutamiento y Elección de Oficiales (1810-1820). In: Temas Americanistas. 2013, no 3, pp. 98-123. LITERAS, Luciano. Milicias y fronterasenlaformacióndel Estado argentino. La regulación de laGuardia Nacional de Buenos Aires (1852-1880). In: Avances del Cesor. Ano IX, no 2012, pp. 9-32. LETTIERI, Alberto. La guerra de lasrepresentaciones: larevolución de 1852 y el imaginário social porteño. In: SABATO, Hilda; LETTIERI Alberto (orgs). La Vida Política en la Argentina del Siglo XIX – Armas, Votos y Voces. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica de Argentina, 2003, 469-493. MACÍAS, Flávia; SABATO, Hilda. La Guardia Nacional: Estado, política y uso de lafuerzaenla Argentina de la segunda mitaddelsiglo XIX. In: Dossier – Historia de la Republica. Variaciones sobre elorden político enla Argentina delsiglo XIX. Buenos Aires: PolHis. Ano 6, no 11, pp. 70-81. OSZALAK, Oscar. La Formacióndel Estado Argentino – Orden, Progreso y Organizacón. Buenos Aires: Emecé, 2009. SABATO, Hilda. Povo e Política. A Construção de uma República. Tradução: Daniel da Silva Becker. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2011. TERNAVASIO, Marcela. Historia de la Argentina (1806-1852). Buenos Aires: SigloVeintiuno, 2009.

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