17
JOSEPH KI-ZERBO HISTÓRIA ~ DA AFRICA NEGRA-lI Edição revista e actualizada pelo autor 3. a edição PUBLICAÇÕES EUROPA-AMÉRICA

Ki-Zerbo, Joseph. a Civilização Africana de Ontem e de Amanhã. In_ História Da África Negra II

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Ki-Zerbo, Joseph. a Civilização Africana de Ontem e de Amanhã. In_ História Da África Negra II

Citation preview

JOSEPH KI-ZERBOHISTRIA~DAAFRICA NEGRA-lIEdiorevistae actualizada pelo autor3.a edioPUBLICAES EUROPA-AMRICAJOSEPH KI-ZERBOlI. A CIVILIZAO AFRICANA DE ONTEMEDEAMANH9A) OPONTO DEPARTIDA, OUAFRICA DEONTEMAfrica de ontem (falo essencialmente da frica Negra) ofereceumaevidentevariedadenoespao enotempo, variedade queumddselementosdasua riqueza. Ofcrecetambmumar defamlianomenosmanifesto. Os SereresouosLobis, se oscompararmos aosLubaseao~Zulos, talvezapresentemmuitos contrastes. Mas aproximemos ocon-junto deste grupodos Suecos ou dos Gregos e o seu parentescorevelar-se-automaticamente.Almdisso, a frica de ontem ainda umdado contemporneo.No estnempassadanem, sobcertos aspectos, ultrapassada. Existemcortes de chefes tradicionaisafricanos emquese repetemos mesmos ritosquehcemouhquinhentos anos. Encontram-se frmulas desacrifcioque talvez no tenham variadodesde h um milnio. Oim de Tombuctu,lguns sculosatrs, censuraVavivamente o askia Mohamed, que tinhaousadocham-l oordem: Esqueces porventura, lanavaeleaoprn-cipe, o dia em que vicste prostemar-te aos meusps parame pedires quetetomasse sob a minhaproteco?Teremos ns acertezadequenos nossos dias, emtal outal regioda frica, estejamultrapassadas tais situaes? No esto, emtodo ocaso, se pusermos a questo noplanoeconmico.Encontrvamo-nos recentemente no meio de umgrupo peule quehabitava a dez quilmetrosde Uagadugu. Descobrimosali umaglomeradoneolitico. Envoltos numa nuvemdemoscas, a dezquilmetros das gelei-ras edos climatizadores, vimoshomensqueviviamemterra batida,entrebosta, numa pequenacubata decolmo, sobreuma leveesteiradepalha,sem nenhumdos aconchegosmecanizadosquenosso tofamiliares queacabamos por os achar naturais. Oqueessa gentebebia, incluindoo leite,quetoespontaneamente nosofereceu, conservadoemodrese cabaas.Abemdizer, para muitos africanosnoexistefricadeontem, ou,antes,essa a nicafrica queexiste.Quaiseramas constantes destasociedadetradicional?Emprimeiro lugar, tratava-sedeumasociedadequeevoluaa ritmo1ento. No umasociedade estticaouadin~miea, como algunspretende-ram, por umgrosseiro errode apreciao. Em todaa parteonde se encon-9 Conferncia pronunciada perante os estudantes emDacar (Dezembro de 1966). Vertambm J. Ki-Zerbo, Le Monde African Noir, Hatier, 1964.372HISTRIA DAFRICA NEGRA - 11tra O homem encontra-se, por definio, progresso. Desdeapr-hist6-ria, ohomemdesprendeu-sedomundoimutvel dos animais, como fabere sapiens.Deuformas pedras paraaumentar o seu domniosobre a natu-reza. Projec~ou sobreas paredesda grutaos fan~asmasdo seu espirito,c~a-dor. AAfnca Negra estavaem. avanonessa epocae levousem duvIdaumaassistncia tcnicaaosoutros continentes. Soba presso externa ouoimpulso deforasinternas, associedades africanas tradicionais progre-diramumas mais outras menos. Foramactuantes, e no simplesmentefigurantes, nomovimento dahistria. Os Mossis passaram doestdio degrupos decavaleirosaodereinos muito bemestruturados. OspovosdoSudoocidental criaramcolectividades politicas cadavezmaisvastas ecada vez mais bemorganizadas, desde Gana ao Songai, passandopelo Mali.Enfim, claroque, nodecorrer dasua evoluo, a frica sempre conhe-ceu,e ataos nossosdias, personalidadesexcepcionais, queaceleraram oumodificaram o curso dos acontecimentos, lanando no corpo social,segundoa expressodeNapoleo, algumas massas de granito.Apesardetudoisso, foroso reconhecer queas sociedades africanaspossuiamumfraco coeficiente de mutao ou de progresso material.E isto por causado seu atrasotcnico. Dois exemplosna ordemdo Romofaber: a ausncia da roda, salvo na orladomundonegro. Oque no signi-fica queos Negros notivessema noodela. Portanto, ausncia de vei-culos quealiviassem oesforo dohomeme acelerassem os seus contactos.Estalacuna tcnicaacompanhada darareza dasestradas, sobretudo nafloresta. Emoutros lados existiamestradas excelentes, como aquelas dequeos autores do sculoXVInos doadescrio no Benim. Aetapasfixas encontravam~segrandesvasilhascheias degua fresca, parauso dosviajantes.. Outra carncia grave, salvorarasexcepes, aausncia deescrita.Ora aescrita uminstrumento magnifico eincomparvel, uminstru-mento depreciso, deabstracoedegeneralizaodopensamento, deacumulaoedetransmissodocapital intelectual. Apenas a escrita per-miteestabelecer umaparelho estatal demuito grandeenvergadura. Ape-nas ela permite, pelamatemtica, dar cincia umimpulsofundamental.Mas estaslacunas solacunas histricas. No socarnciasmetafisicas,consubstanciaisa nosei quenatureza negra, poiscertosnegros inven-taramsistemas de escrita e milhes deoutros aprenderama dominarestatcnica.Na verdade, como consequnciadecondiesecolgicas, geogrficasespeciais, a frica foi particularmente vulnervel aos empreendimentoshistricosdavontade dedomnio. Mosculo XVI,por exemplo, nomo-mento emqueahumanidade seapetrechava comumconjuntodetc-nicasque devia aumentar oseudominio sobre oplaneta, oNegrofoibruscamente cortado dacaravana humana. Pelae3cravatura tomou-seo373JOSEPH KI-ZERBOanimalde cargada caravana. Alm disso, quando, nosculo XIX,a EuropacaAmricadoNorte ascendem revoluoindustrial, empartegraas escravatura, o mundo negro recolher da os frutos amargos comacolO1zaoc a ocupaodocontinenteparaa sua explorao.Mas os C,ctosa esto. A sociedadc negra tradicionalera, se no fechada,pelomcnoslargamente conccntradasobresi mesmae conservadora.Esta sociedade era tambm, no entanto, uma socicdadc criadora.Encontrava-se ntllnestadodcinvenopermanente. No plano tcnico ceconmico, cada fanlia, cada aldeia, cadagrupo tribal descobriam osmeios dc umequilbrio positivo comanaturcza. Demonstram isso asvarie(hdcs dcsemcntcs seleccionadas, as tradies culturais, as ferramen-tas e as associaesdc trabalhoextremamente variadas, os mltiplosmedi.camentos aperfeioados, mesmo seeramministrados comumluxodcrituais mgicos. .Dever-se-ia citar tambm a rede dc relaes econmicas montadacmvasta escalapelos mercadorcs e, por vezes, pelos artesos dilas chaasatravsdoOesteafricano. Estagente denegcios atingiraa faseda empresa commltiplassucursais, comprticade cmbios, de emprs-timoscom juros, dodumping, etc.Do ponto devistapoltico, asinstittes negro-africanas sofor-temente originais. Mostrarammagnficas faculdades deadaptao. Ccr-tas delasduraramvrios sculossemgrave ruptura na suaprogresso.Foiassimqueoimprio achanti se transformou de176.$a1777, graasa Osei Kodjo, passando de monarquia de tipo feudal para monarquiaabsolutaecentralizada, comservios centrais muito elaborados: grandesargentrios assistidos deencarregados dasbalanas edascaixas; serviosdealfndegaa vigiaremdeperto otrficodoouro e das armasdefogoe protegendoos monopliosreais sobre as pepitas e os produtos de Inarfim;estatsticas financeiras e demogrficasrudimentares garantidaspor quanti-dades de cauris; escribas muulmanosa acompanharemos diplomatas pararubricaremas negociaeseosacordos; cOllssriospolticosjunto doschefes Illitares para trataremdaparte poltica dasoperaessegundoavelhafrmulalatinaCedant armatogae. Mas os cOllssriospolticoserameles prprios vigiadospor espies...Quanto aoplano artstico, ogniocriador dohomemafricanoafir-mou-se acomtanto brilho queintil insistir nesteponto. OFestivalMundial dasArtes Negras revelou, peloritmo luxuriante, que oartistanegrocaptoutodas as pulsaes da vida e, pela infinita variedadedas for-mas esculturais, dominou a matria neste campo. Perfeio que supealis por vezesumdomnio tcnico, como a moldagem do lato comceraperdida.Podem-se observar centenasdebancos de madeirapirogravada. Osmotivos desenhados nunca so os mesmos. No falemos j da dana,374HISTRIA DAFRICA NEGRA - IInaqual cada uminventa semprequedana. Eas cosmogonias, os mitos,oscontos, osprovrbios...Emsuma, a sociedadc africanadcontemera umasocicdadc solidria,umasociedadedc participao quchaviaatingidoumcertohumanismo:eramuito estritaa hierarquia segundoa idadeoua posiosociopolitica.Representava isso umprincpio de estabilidade. Existia umasolidariedadeno trabalho, gras propriedade comumesassociaes detrabalho,masqueexclua todooparasitismo. Quandochega oestrangeiro, d-lhede comer durante dois dias. Aoterceiro diad-lheumaferramenta.1OSolidariedadedafamlia, queerauma comunidade desangue, detraba-lho edebens materiais cespirituais, umvector essencial daculturadogrupo, nasuaqualidadedeencarregado daeducao. Aindahojeencon-tramos analfabetos que sooproduto comovente destecdigo da vidapostoem lugar de honrapelos nossos antepassados: respeito pelo prximo,por si mesmo e pelos seus bens, respcitoemparticular peloshspedes epelos maisvelhos, culto davida sobtodasas formas. Cortesia, expressacomfrequncia nasmulheres por gestosgraciososedelicados. Respeitoda palavradada. E nosei que simpatia crnal e ingnuaportodosaquelesquefazemparte datribo deAdo.E",-istiamcategorias oprimidas? Semdvida. Mas sob uma formaatenuada, tendo emconta outros exemplos histricos. Isso talvez porqueodireito depropriedade nunca revestiuocarcter absoluto e exclusivodo direitoromano edosactosnotariais. Aescravidotradicional, comovimos, nunca conheceu aalienaodo homemcomercializadopelotr-fico negreiro. Damesmamaneira, a mulher africana, apesar da sua meno-ridadejurdica frequente, apesar desedispor delaocasionalmentecomodeumbemm6vel, apesardapoligamia, .noera oanimal decargaquecerta literatura se comprazeuemnos pintar. A mulher africana noestavaenclausurada. Nunca, queeusaiba, andou comcintos decastidade. No.regime matrilinear dispunha de direitos importantes. Com frequnciasacerdotisa(aindacommaisfrequ~nciaEeiticeira, verdade), ascendiasresponsabilidades polticas supremas, como arainha Amina entreosHaas, AuraPokuentreos Bauls, oucomoa rainhadoLovedu (AfricadoSul), que era constitucionalmente solteira (mas constitucionalmente ape-nas), e que gozava de poder absoluto 11.10 Provrbio citadopor J. Nyerere.11 Arainhado Lovedumandavavir a chuvae acreditava-teque o seuestadode sadeinflua no de todo op3.s. Tomava esposas emtodos os grupos do seupovo eautorizava-asa terem homens. Mas recuperava todos os eseus> filhos e colocava-os, por sua vez, emtodasas camadas dapopulao, tomando-se assimaorigem deuma imensa rede familiar cujos ramosse estendiampor todo o pas.' .Os representantes da sua autoridade administravam assuas regies quase pela viadiplo-375JOSEPHKI-ZERBOClaro, nemtudo eracor-de-rosa nafricatradicional. Houve casosde tirania. Citemosas hecatombesperpetradas nawrte doreidoAbom.Mas abstenhamo-nos dejulgar com uma mentalidade anacrnica oshomens deoutrora. Os servidores que disputavamentre siahonra deacompanhar o rei doBenimnoalm-tmulo notinhama mesmamen-talidade que ns, nema jovem que, mutilada pela exciso, selanavanuma dana frentica e exultava de alegria pela suapromoo social,mordendo por vezes oferro queacabavadeacortar. Por viaderegra,estascomunidades no eramtotalitrias. Atodos os nveis, eramcomfrequncia protegidos osdireitos daspessoas pelofacto deaautoridadeser limitadapelocostume. Nafamlia, naaldeia c nosorganismos estataisera praticada acolegiatura. .Ao lado do campocomum, a autonomia econmicada pessoa em rela-o ao grupoera garantida porcampos individuais. Alm disso, cada colec-tividade era, no hermeticamcnte fechada, mas aberta sobreascolecti-vidades superiores, constitudas cminstncias derccurso. Assim, over-dadeiroproprietrioera comfrequncia a aldeia, e noa famlia. A divisodastarefaseosistemacolegial asseguravamuma democracia autntica.Pode parecer paradoxal falar de democracianafrica dc ontem, ondeparece terreinado o absolutismo. Mas a palavrae a essncia da democracianemsemprese encontramjuntas uma comaoutra eamoela cheiadesubstnciaencontra-se por vezes, infelizmente, fora do osso. Ora, comoescrevia LordeHaileyem1951, raroencontrar nafrica colonial bri-tnicaumexemplo emquea forma de governoantcriormente emvigorpudesse ser chamada autocrticat. Quando da morte de umrei mossi,nose gritava: Morreuorei! Vivaorei!. Istoporquc nohavia umasucesso hereditriaautomtica, o queera, de resto, por vezes, uma fontedeinstabilidade. .Maso herdeiro era eleitonafamliadodefunto por umcolgioelei-toral, aoqualele tinhadedar garantias. Oprpriocolgioera compostode tal maneiraque nenhumdos seus membros podialevar a cabo um golpedeEstado. Otansoba(general-chefe) tinha nas suasmos astropas queasseguravamaestabilidade. Oba/um(grande mordomo) detinha ostibos(vasos sagrados) necessrios para qualquer consagrao. Owidipresidias consultas polticas, etc. Todos e cadaumeramindispensveis.Citemos tambmaprtica frequente dadivisodaautoridade entreochefe dealdeia(ugutigui embambara) e ochefcdeterra (dugu k%mtica, a tal ponto eram maleveis os mecanismos, at para a cobrana do imposto. Com-preen~e-se assimpor que razo, de Mugati I aMugati III (1800-1959), cada uma das trs rai-nhas tenha reinado, em mdia, cinquenta anos.376HISTRIA DA FRICA NEGRA-lItigui). Emsuma, africadeontemaperfeioaraf6rmulas con:cretasparaque, segundo aexpressodeMontesquieu, o poder traveopode".Esteespritoprofundamente democrtico era aindaconfirmadopelocultodo verboparao dilogo. Overbo uminstrumento de participao.Sem dvidaque faz perdertempo. Mas o tempono contava.Era o tempovivido, existencial, e noo tempomatria-prima do time is money.Escreveumautor: O silncio no negro. precisoqueoNegro, ao que parece,se escuteviver. Falar umpoucoparaeleuma maneira deexistiu Poroutras palavras, para tomar ofamoso postulado cartesiano: Falo, logoexisto.. Oque, nofimde contas, nose afasta inuito da realidade quandose pensanasrelaes ntimas entre a palavra e opensamento.Portanto, nadadedemocracia aritmtica e formalista quecontabilizeosimeononuma balananumrica. Mas uma democraciavivapordilogointernnvelat ao esgotamento(ia a dizer at extino dasvozes).Mas, para concluir, as instituies entendem-se sempre para apurarema vontade geral..Overbo concebido tambm como criador. Tempoder sobreosseresepernte efectuar transferncias deforas, sobretudo quandoestligado aosritos esmbolos religiosos. Ora M. Campagnolo, secretrio--geral daSociedade EuropeiadeCultura, escrevia em1960: Para o Afri-cano, o homemnodever procurar elevar-se acimada natureza, domin--Ia, submet-Ia aosseus prprios fms.. Eacrescenta: Se a civilizao daEuropa sechama acivilizao do homem, a africana, essa, pode cha-mar-sea civilizao da natureza. Paraela, a naturezaa medidade todasas coisas. Assim, poder-se-ia dizer, no fimdecontas; quea prpriaideiade civilizao no tem para a frica qualquer significado positivo...Uma humanidade completamente africanizadasignificaria otriunfototaldanatureza sobre ohomem..Perguntamos ans mesmos onde teria ido o Sr. Campagnolo bus-car tais nstificaes himalaicas. Mas basta lembrar a importncia darelaesinterpessoaisnasociedadetradicional e osentido dosritos ouprovrbios africanos pararejeitar, semtermos de ir mais longe, elucubra-esdestegnero. Emparticular ofamoso nto dosBaluyas segundo oqual, depois dehaver criadoocosmo, portanto anatureza, Deusfez asi mesmoesta pergunta: Para quembrilhar oSol?it Foi entoque teriadecidido criar ohomem. Almdisso, a omnipresena deDeus nas con-cepesafricanas, ou, pelo menos, dos deuses que, se possodizer assim,doandamento aos assuntos correntes, vemaindainfirmar a tese de umapreeminncia absoluta da natureza defendida por umCampagnolo, oqual intitula, alissignificativamente, o seuartigo: A fricaentranahistria.. Istoem1960...377.JOSEPH KI-ZERBOB) ACRISEACTUALEvoquemos apenas de passagem a crise actual, de resto bastanteconhe-cida, dasociedade africana. Trata-se deuma sociedadeemrpida muta-o, pelo menos nas zonas privilegiadas onde o Boieng, que vence osdesertos e as florestas, se dignaaterrar. Umexemplopolticodesta fluideznaevoluo acadncia a que certos regimcs soderrubados. Esta tambmuma sociedadecomfraco coeficiente decriao. Por certo hrealizaes de maior ou menor importncia segundo ospases. Encon-tram-sepotas e romancistas, pintores e escultores africanos. Temos anova msicazairense, conguesa eguineense. Vemos tentativas deorga-nizaoeconmica e de. sntese doutrinria inspiradas pelo patrimniocultural africano. Maseis emquetermos omesmoCampagnolo apreciaestes empreendimentos: ..Osmaisautorizados representantes detodasascivilizaes falamdo problema actual do mundo emtermos idnticos,como: justia, liberdade, progresso social, bem-estar, afirmao daper-sonalidade, democracia... Isto no deveria deixar de despertar emnscerta surpresa se noslembrarmos de queesta linguagemprovmdas mes-mas escolas da Europa e da Amrica e que so europeias as lnguas nas quaisse formulamestes ideias e estes programas.)}Leva-nosestabservaoaoperodo histrico que engendroudirectamente a situao presente: o perodocolonial. Este, semcontestao, produziu resultados positivos, quandomais nofosse aconstituiodeconjuntos maisvastos, aintroduo deuma higieneedeuma cducaomodernas, aagrcgao (mesmose foifori)dae por umpreoexcessivo) aoevoluir dorestodomundo. Mas opactcolonial econmico e cultural transformou regies inteiras emterra--de-ningumdoponto devistada-iniciativa edacriao. Se verdade,comodiz Tibor Mende, que orespeito por si prprioe a considerao dosoutros comeampelaindstria pesada, compreende-se opapel dacolo-nizaono tolher do esprito criadr. OAfricano, disse-setambm,tem os ps noNeolticoe a cabea no Termonucleau Esta posio incon-fortvelnofavorecede modonenhumoautodomnio, gerador de obrasautnticas. parte alguns artigos menores, resultantes deembries deindstrias locaisque comfrequncia, alis, sopropriedade estrangeira,basta-nos abrir os olhos para ver que somos invadidos pelos produtosindustriaisdos pases dirigentessituados nas latitudessuperioresdogloboe quenostransformaramemconsumidores debensmateriais e culturais,assim comode servios comercializadosde sentidonico. Em1961 obser-vava Ulli Beir com humor - humor que ignoro se britnico seafri-cano -, a propsitodas festas da independnciada Nigria: Foi escolhidoumhinonacional cujotexto se deveaumainglesa, enquanto amsica(quese parececomuma marcha doExrcito daSalvao) foi compostapor outra filha deAlbion. Aexecuodohinonacional exigeouso do378HISTRIA DAFRICA NEGRA -11piano. A bandeirafoi desenhada por umnigeriano, mas to convencio-nalmente europeia(dividida emtrsbandas verticais, verde-branco-verde)que dificilmente se pode admitir que exprima110que querque seja o gniodanao. Numa palavra, todo oprograma dacelebraodcstamgicae paradoxal independncia infelizmente caracterstico daconfusodevalores de que sofre actualmente a Nigria e das basesextremamenteinstveissobre asquais se erguemas estruturas emocionais donaciona-lismo nigeriano..Abemdizer, a civilizao africanaest emvias de dissociao e mui-tos pases debatem-se no subdesenvolvimento cconmico e cultural.Amaior parte. das lnguasafricanas sodeixadasasimesmasevotadasaodeclnio. Obezerrode ouro dodinheiro destronou os deuses de anta-nho, que constituama argamassadocorposocial.Odinheiro atomiza asfamlias clanaumprocessodeclassificaosocial. As ~ldeias esto a ficar vazias deixamde produzir artcoumesmoartesanato aigno deste nome. Apen.'\s elaboradoparauso dos turistas umErsatz folclricoe artigos bonitos, aomesmotempo quecertas pessoasconsomememmassaos produtos, comfrequnciadeluxo, quechovemdospases ricsequemoldammentalidades denababosno seio de umaimensamisria. Vivendo nopresente, esqeve umautor libans, ,consu-mimos tambmosfrutos dopresente deoutremscmnosapercebermosdequeopresente dosoutros oresultadode umlongopassadodetra-balho e a preparao dc umfuturo. Consumimos parcelas de tcmpo.Numambiente artificial qucnoumprolongamento densprprios,vivemos do esforodos outros, deixando anossaintelignciasem nadaproduzir. Ora o conforto sem esforo nopassa de runada inteligncia..Tal o ponto de partidada independnciapresente-surpresasem contedonacional. Estequadronose aplicaatodos osafricanos, mastraaumasituao(frequente) que sobretudo dramtica.C) ASPERSPECTIVAS: ANEOCULTURA DEAMANHNestascondies, dequeser tecidooamanh? Quefazer para queo mapa dacivilizaodeamanh no apresenteno lugar daAfricaoscampos detumuli evocadores dascidadesmortas deNnive edaBabi-l6nia?Acivilizaodo universal? M. Campagnolo, esse, sabecomo serela amanh: ,Pela sua f no homemlt, escreve Campagnolo, 4