201
8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 1/201  

L. L. G. - Prazeres Proibidos

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 1/201

 

Page 2: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 2/201

 

P  P  r r a a  z zeer r ees s  

P  P  

r r ooi i  b  b i i d  d  oos s  LLaauurraa LLeeee GGuuhhrrkkee 

Tradução e Revisão: Míriam Pimenta

Page 3: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 3/201

Page 4: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 4/201

 

Sinopse

Para a recatada e tímida Daphne Wade, seu prazer proibido mais doce éobservar as escondidas seu patrão, Anthony Courtland, duque de Tremore,enquanto ele trabalha na escavação arqueológica de suas propriedades naInglaterra. Anthony contratou Daphne para que restaurasse os preciosos tesourosque ele ia desenterrando. No entanto era duro para uma mulher se concentrar notrabalho quando tinha em sua frente um homem como Anthony, cuja beleza eraesmagadora. Ele nem sequer tinha reparado nela como mulher, mas quem

 poderia culpá-la de ter se apaixonado perdidamente?

Escondida atrás de uns óculos enormes, Daphne era a restauradora melhor preparada para realizar este trabalho e Anthony sabia disso. Quando uma nova eencantadora Daphne sai de sua concha, as regras do jogo mudam. Anthonyconseguirá convencê-la de que é a mulher de seus sonhos?

Page 5: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 5/201

 

O amor destruído, quando volta a nascer, cresce mais

 bonito que o primeiro, mais forte, maior.WILLIAM SHAKESPEARE 

Page 6: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 6/201

 

Capítulo 1

 Hampshire, 1830

 Ninguém que olhava Daphne Wade imaginaria que ela pudesse ter algum prazer proibido, secreto. Seu aspecto era normal, os óculos não ajudavam muito,tinha o cabelo castanho claro e o usava preso na cabeça. Todos os seus vestidoseram de diferentes tons de bege, marrom ou cinza. Sua altura era normal e suafigura ficava escondida debaixo dos grandes e cômodos aventais que utilizava

 para trabalhar. Tinha uma voz suave e agradável de escutar, sem sons estridentesque chamassem a atenção.

 Ninguém que a julgasse só pela sua aparência poderia imaginar que asenhorita Daphne Wade tinha o escandaloso costume de observar o torso nu deseu patrão sempre que tinha a oportunidade, embora a maioria das mulheresestivesse de acordo que Anthony Courtland, duque de Tremore, tinha um torsoque valia a pena observar.

Daphne apoiou os cotovelos no peitoral da janela e levantou a luneta de bronze. Utilizar esse aparelho com lentes era difícil, assim que o deixou na

 prateleira. Voltou a colocar os óculos e a distância, olhou toda a escavação, procurando Anthony entre os trabalhadores.Sempre que pensava nele pensava usando seu nome. Quando falava com

ele, o chamava de «senhor», como todo mundo, mas em sua cabeça e em seucoração, ele sempre era Anthony.

Ele estava falando com o senhor Bennington, o arquiteto da escavação ecom sir Edward Fitzhugh, o vizinho mais próximo do duque e antiquário amadorcomo ele. Os três homens estavam no meio de uns campos da escavação,rodeados de muros, colunas quebradas e restos do que havia sido uma vila

romana. Nesse momento, discutiam sobre o mosaico que estava debaixo dosseus pés e que havia sido descobertos pelos trabalhadores nessa mesma manhã.Quando Daphne localizou a forte figura de Anthony, sentiu uma familiar

chateação em seu coração, uma mescla viciante de prazer e incômodo. Era umacombinação que quando estava em sua presença a calava e lhe fazia querer semisturar com seu ambiente, passar despercebida; em troca quando ocontemplava como agora, desejava se transformar no centro de toda sua atenção.O amor pensava, deveria ser algo agradável, cálido, doce, não algo que

 prejudicasse o coração com sua intensidade.Daphne sentia essa intensidade agora, enquanto o observava. Quando

estava em Tremore Hall, ele passava sempre dois ou três horas ao dia

Page 7: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 7/201

 

trabalhando junto com o senhor Bennington e o resto dos homens na escavação.Algumas vezes ela não estava nas ruínas e às tardes de agosto eramexcepcionalmente quentes, e Anthony sempre tirava a camisa. O dia era muitocaloroso.

Para Daphne, ele quase formava parte da escavação romana que o rodeava.Era como uma escultura. Com sua pouco freqüente altura de mais de um metro eoitenta e seus grandes ombros e desenvolvidos músculos, apesar de seu cabeloescuro e sua pele bronzeada parecia um deus romano esculpido em mármore.Ela o observava enquanto os três homens continuavam discutindo sobre omosaico e teve a estranha sensação que experimentava cada vez que o via e quefazia lhe custar a respirar e que seu coração se acelerava como se estivesseestado correndo.

Sir Edward tratou de mover uma urna que cobria parte do mosaico, masAnthony o impediu e ele mesmo a levantou. Daphne se encantava com essecavalheirismo, que só reafirmava a boa opinião que já tinha dele. Talvez fosseduque, mas não permitia que um homem como sir Edward, muito mais velhoque ele pudesse se machucar.

Anthony levou a urna para o carro que estava próximo e a colocou junto auma serie de ânforas de vinhos quebradas, estátuas de bronze, fragmentos deafrescos e outras descobertas. No final do dia moveriam as peças a um edifício

 próximo, onde se armazenavam todos os objetos e esperando que Daphne pudesse restaurar-los, desenhá-los e catalogá-los para a coleção de Anthony.

O ruído de passos se aproximando da biblioteca a distraiu de suas

clandestinas observações. Dobrou o telescópio e saindo da janela o guardou no bolsinho de seu avental. Quando Ella uma de muitas moças que trabalham emTremore entrou na sala, Daphne estava sentada em seu escritório, com um livrode cerâmica romano-inglesa, fingindo que trabalhava.

 — Eu pensei que poderia querer um pouco de chá, senhorita Wade  — disseElla enquanto deixava uma xícara e o bule na grande mesa de Daphne, ao ladodas montanhas de livros de antigüidade romanas e latinas.

 — Obrigada, Ella — replicou, tratando de fingir muita concentração.A moça se virou para ir embora.

 — Pensava que não podia enxergar sem seus óculos, senhorita  — dissesobre seu ombro — . Não acredito que sejam de muita utilidade ali na prateleirada janela.

A moça desapareceu no corredor e Daphne escondeu seu rosto vermelhoentre as páginas do livro. «Eu me tornei uma pilhagem.»

Ainda assim, quem poderia culpar uma moça tímida, discreta e simples que passava a maior parte de seu tempo enterrada entre madeiras velha e livros delatim, por estar apaixonada por seu patrão quando ele é tão atraente?

Daphne se espreguiçou em sua cadeira com um suspiro e continuou, com a

mão apoiada embaixo do queixo, contemplava o vazio; sonhava com coisas quesabia que nunca se tornariam realidade.

Page 8: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 8/201

 

Ele era um duque, pensava Daphne e ela trabalhava para ele. Há tinhacontratado fazia cinco meses e lhe pagava o generoso salário de quarenta e oitolibras ao ano por ela restaurar afrescos, mosaicos y antiguidades e porconfeccionar um catálogo para o museu que ele estava construindo em Londres.

Era um trabalho exigente, com um patrão exigente, mas estava feliz. Fazia todoo que lhe pedia, não só porque era seu trabalho, mas também porque estavaapaixonada por ele e amá-lo era para ela um prazer secreto e oculto.

Anthony se inclinou na banheira de cobre com um suspiro de satisfação.Por Deus, estava cansado, mas o trabalho havia valido a pena. O piso da sala queele e os trabalhadores haviam descoberto essa manhã era extraordinário.

Também haviam encontrado uma parede inteira cheia de afrescos,danificados e meio descoloridos, mas que pareciam bem eróticos. Ele devia selembrar para contar a Marguerite, especialmente o que mostrava o amo de umacasa como se fosse o deus Príapo com o pênis em um dos pratos de uma balançae barras de ouro no outro. Não tinha necessidade de dizer a Marguerite qual lado

 parecia o mais pesado. As amantes sempre entendiam esse tipo de piadas. — Senhor?Abriu os olhos e se deparou com Richardson de pé ao lado da banheira com

um pedaço de sabão e um novo balde de água quente. Anthony se mexeu um pouco para que seu mordomo pudesse lhe lavar o cabelo e desfrutou o aroma dosabão de limão e a sensação de toda a sujeira e pó de um dia de trabalho.

Quando Richardson tinha acabado, Anthony se levantou e saiu da banheira.Pegou a toalha quente que o mordomo oferecia e começou a se secar enquantoeste abandonava a habitação.

Pensar em Marguerite fez que Anthony pensasse e se desse conta de quefazia meses que não via a beleza de olhos e cabelos negros. Fazia um ano queera sua amante, mas apenas a tinha visitado em media meia dúzia de vezes. Aescavação de Tremore havia captado toda sua atenção e o havia mantido longeda casa que ele tinha comprado nos arredores de Londres.

Anthony tirou a toalha e penteou o cabelo ainda molhado com as mãos.

Depois se dirigiu ao seu dormitório onde Richardson lhe esperava com umacamisa de linho e um roupão de seda de jacquard negro e dourado. Levantou os

 braços para que lhe passasse pela cabeça a camisa e então a porta se abriu eentrou um empregado.

 — Lady Hammond está aqui, senhor  — disse o rapaz fazendo umareverencia.

 — Viola? — Anthony não esperava sua irmã e olhou surpreendido por cimado ombro do empregado enquanto seu mordomo lhe abotoava a camisa.

 — Quando chegou?

 — Faz quinze minutos, senhor.Anthony proferiu um insulto. Se Hammond havia envergonhado outra vez

Page 9: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 9/201

 

Viola com um escândalo iria pegar a cabeça desse canalha. — Diga a viscondessa que estarei logo com ela, traga logo o Porto e o

Madeira. — Muito bem, senhor. Lady Hammond disse que lhe esperaria em sua sala

de estar.O servo se foi e Anthony colocou os braços das mangas do roupão.Minutos mais tarde saiu de sua habitação e foi à procura de sua irmã que estava

 justo na outra extremidade da passagem. Um serviçal abriu a porta para queentrasse. A sala era uma fantasia barroca de veludo rosa, brocados brancos eadornos dourados que combinavam perfeitamente com a beleza dourada e ocaráter forte, mas feminino de Viola.

A preocupação de Anthony de que a visita se devia a más notícias sedissipou quando sua irmã o viu e sorriu. Esse sorriso o tranqüilizou e meiosorriso surgiu em seu rosto. Estava feliz de ouvi-la rir. Era muito melhor queouvi-la chorar por culpa de seu desgraçado marido.

 — O que você achou tão divertido? — Você  — disse ela se levantando do sofá — . Parece um decadente turco

com esse roupão e essa expressão no rosto. É como se estivesse a ponto deordenar que cortassem a língua de alguém.

 —  Não, a língua não — respondeu ele, pegando as mãos — .O que tinha emmente era a cabeça de Hammond.

Viola o beijou afetuosamente nas bochechas e ele deu outro de volta.Anthony não lhe passou despercebido que ela não o olhava nos olhos.

 —  Não há necessidade de fazer algo tão drástico, querido irmão  — disse evoltou a se sentar no sofá.

 — Você quer dizer que finalmente decidiu se comportar?  — Anthony sesentou na cadeira de listras rosa e brancas que estava na frente dela.

Antes que pudesse responder uma criada entrou na habitação com osvinhos Porto e Madeira e dois copos. Colocou a bandeja numa mesa ao lado deViola e saiu.

 — Você quer o Porto, é claro — disse Viola e serviu o vinho. — Está se comportando ou não?  — Anthony se inclinou para frente para

 pegar o copo das mãos de sua irmã — . Me olha Viola e me conta a verdade.Viola olhou em seus olhos.

 — A verdade é que não sei. Hammond não me informa de suas atividades,mas ontem descobri que seu mais recente passatempo são os banhos de mar.

Pelo seu tom de voz, Anthony teve certeza que nada havia mudado. — Hammond está em Brighton? — Sua chegada me obrigou a partir dali imediatamente.Anthony franziu a testa.

 —  Não podes evitar-lo para sempre, Viola. Para melhor e para pior é teu

marido e você passou apenas duas semanas com ele neste último ano. As fofocasestão desenfreadas. Inclusive chegam até aqui, a Hampshire, já se ouvem.

Page 10: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 10/201

 

 — Falando de rumores  —   interrompeu ela — . Escutei vários sobre tiultimamente. — Levantou seu copo e lhe dirigiu um olhar curioso a seu irmão — .É possível que tenha em breve uma irmã?

Suas palavras irritaram Anthony. Não porque ela lhe fizera tal pergunta,

sim porque não gostava nada de ser objeto de rumores e especulações. — Ah — disse ele e tomou um gole do Porto — . Vejo que as últimas notíciassobre mim viajaram até Londres e já chegaram até a costa de Brighton.

 — Você pensava que não chegariam?  — respondeu Viola sorrindo — . Omagnífico duque de Tremore um homem que nunca dança nas festas, que nemmorto entraria em Almack's, que evita as jovenzinhas de linhagem impecávelcomo se tivessem peste, de repente leva as esmeraldas ducais a Londres para queas limpassem. A maioria de nossos amigos acredita que é um claro indicio deque vai em breve haver uma duquesa. Você vai se casar finalmente? Por favor,me fala que sim. Gostaria muito de saber que você encontrou alguém que te fazfeliz.

Ele estudou o rosto de sua irmã por cima da borda de seu copo sem dizernada durante alguns instantes. Como podia uma mulher casada com um homemcomo Hammond ser ainda tão otimista sobre a felicidade no casamento?

 — Sim, vou me casar — confirmou.Viola gritou de alegria.

 — Oh, é maravilhoso! Passei todo o caminho imaginando nomes, mas não posso imaginar quem capturou teu coração. Você esta trancado aqui desdemarço. Quem é ela?

 — Você não imagina? Uma escolha sobressai acima do resto. Trata-se deSarah, a filha mais velha de Monforth.

 — Puf!  — Viola estava sobre as almofadas do sofá com uma careta dedesgosto — . Você não pode estar falando serio.

 — Monforth é um marquês muito bem relacionado. Lady Sarah será umaexcelente duquesa. Ela é bem educada e tem uma fortuna surtida. Também temsaúde, elegância e é bastante bonita.

 — E tão inteligente quanto um poste.Ele deu de ombros e pegou seu copo.

 —  Não tenho intenção de manter conversas intelectuais com ela  — disseenquanto bebia um pouco de Porto — . Que importância tem isso?

 — Oh, Anthony!  — Viola se levantou, rodeou a mesa e se sentou no braçoda cadeira que ele ocupava — . Lady Sarah não sente nada por você.

 — E o quê que tem? — Ela parece doce como mel, mas é só fachada  — continuou Viola, com

desgosto refletindo em sua voz — . A única coisa que lhe importa de verdade é odinheiro e posição social. Você tem as duas coisas e ela venderia sua alma paraconsegui-las.

 — Sim — concordou ele desapaixonadamente — .Ela faria. — Então por que?  — gritou Viola — . Podendo escolher entre centenas de

Page 11: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 11/201

 

moças, por que ficar com alguém tão vã e calculadora como lady SarahMonforth? Ela nunca te fará feliz.

 — Bom, Viola, eu não me caso esperando obter a felicidade no casamento,eu faço a coisa sensata. Preferiria não ter que me casar, mas preciso de um

herdeiro e não posso adiar o inevitável por mais tempo. Escolhi a jovem damaque melhor se encaixa no papel de duquesa, uma que não me exigirá nada alémde mantê-la.

 — Compreendo o que você quer dizer  — respondeu Viola lentamente —  Você escolhe uma mulher a quem não se importará que não sinta nada por ela,nem respeito nem carinho e que não se sentirá ferida ao saber que não a ama,sempre que a mantenha rodeada de luxos cuja principal obrigação será te dar umfilho.

 — Exatamente. — Oh, Anthony, você fala serio?  — exclamou Viola desalentada pondo-se

em pé. Ele a observava andar para cima e para baixo. Nenhum dos dois falou.Ela estava perdida em seus pensamentos e ele esperava que ela aceitasse suadecisão.

Finalmente, Viola parou e o encarou diretamente. — Você já fez o pedido de casamento a lady Sarah? —  Não — respondeu ele — . Está em Paris com sua mãe. Passarão o outono

lá. — Bem, assim tenho tempo de te fazer mudar de ideia.  — E ela sorriu

daquele modo tão doce que ela sempre tinha que lhe fazia fazer tudo o que ela

queria.Mas desta vez Anthony estava decidido.

 —  Não vou mudar de opinião. Por esse rostinho — adicionou e viu como seapagava seu sorriso — , parece que isso é o fim do mundo. Esta parecendo muitozangada.

 — Claro que estou zangada — respondeu ela e voltou a andar novamente — .Você esta a ponto de tomar uma decisão irreversível que a única coisa que vai tegarantir será infortúnios. Prefiro morrer antes de te ver infeliz.

 — Viola, como de costume você está sendo muito dramática. Estou bastante

contente com a vida que levo, estou bem e não entendo por que razão meucasamento com lady Sarah poderia alterar isso.

 — Trocar Marguerite por lady Sarah arruinaria a vida de qualquer homem — replicou ela tão forte que ele não pode deixar de sorrir.

Marguerite não era nenhum segredo, mas discutir sobre sua amante comsua irmã não entrava em seus planos. No entanto, nesta ocasião Anthony queriaque Viola entendesse suas intenções.

 —  Não vou deixar Marguerite.Viola parou e olhou surpresa.

 — Você não pode pensar em mantê-la quando estiver casado.Ele devolveu o olhar de reprovação.

Page 12: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 12/201

 

 — Por que não? — Oh, Anthony, não gosto nada de lady Sarah, eu confesso, mas se

comportar assim é cruel e não posso acreditar que você faria tal coisa.Ele se incomodou com aquele ataque.

 — Viola, você deve estar esquecendo que minha escolha de noiva não éassunto teu, como tampouco são sobre minhas amantes. — Oh, não fique dando ares de duque comigo, Anthony  — espetou ela — .

Sou tua irmã e cada dia tenho que fazer frente à dor de estar casada com umhomem que não sente nada por mim. Como você pode justificar isso quandosabe o que tenho sofrido?

Viola sempre tinha que mostrar seus sentimentos com dramatismo. — Eu sei — respondeu ele mais calmo — , e me dói profundamente. Por toda

a dor que tem lhe causado, daria em Hammond uma surra com minhas própriasmãos se pudesse, mas tua situação e a minha são bem diferentes.

 — Em quê? — Sarah não se importará nada que eu tenha uma dezena de amantes

enquanto ela nade em luxo. Ela não sente nada por mim, nem eu por ela. Já,você é diferente, ainda sente algo pelo Hammond e por isso te dói ocomportamento dele. Ainda por que sente algo por ele é para mim um dosmistérios da sua vida. Ele é um desalmado e te trata de uma maneira desprezível.

 — É minha própria e amarga experiência que me obriga a odiar tua escolha pela filha de Monforth. Eu quero que você seja feliz com tua esposa tão feliz quenão tenha necessidade de apelar pela companhia de mulheres como Marguerite

Lyon tão feliz que não tenha que organizar tua vida para não coincidir na mesmacasa que tua mulher. Não posso evitar acreditar que é possível ser feliz com essecasamento, apesar de minha péssima escolha.

Algo no suave romantismo de suas palavras o irritou, porque lhe fezrecordar algo que ele acreditava e Viola havia enterrado para sempre. Colocouessas lembranças de volta no fundo de sua mente e disfarçou sua ira com um arde indiferença.

 — Como você pode ser ainda tão romântica? Nunca deixa de mesurpreender, Viola.

 — Talvez porque eu acho que nossos pais tiveram a sorte de se amarem umao outro apaixonadamente, enquanto que você acredita que isso foi umadesgraça.

Anthony notou como seus dedos apertavam o delicado copo de cristal quesegurava e se surpreendeu que ele não se quebrava. Deixou o copo com cuidado.

 — O amor é bom  — replicou ligeiramente enquanto se inclinou nacadeira — , mas tem pouco a ver com o casamento. Olha os nossos conhecidos.Todos estão apaixonados. Só que não por suas esposas.

O tom despreocupado de Anthony fez com que sua irmã voltasse a seu

lado. Se sentou outra vez e pegou suas mãos entre as suas. — Falo sério. Por que você não tenta ao menos encontrar alguém a quem

Page 13: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 13/201

 

 possa amar?Anthony estudou sua face por um momento e não sabia o que dizer. Viola

havia se casado com Hammond por amor. Ele apesar de sua relutância não havia podido negar a Viola seu desejo e o resultado havia sido desastroso. Não tinha

intenções de cometer o mesmo erro que sua irmã. — Eu imploro que pelo menos considere a opinião  — insistia ela —   Vocêmerece alguém melhor que lady Sarah. Você merece uma mulher que sejagenerosa, que sinta paixão por ti, alguém que se importe mais que teu título outua fortuna.

Toda aquela loucura sentimental era ridícula. — Meu Deus, Viola — replicou impaciente — , eu não preciso de paixão na

minha esposa. — Bom, pois deveria.Também, lady Sarah não te ama. Duvido que seja

capaz de sentir essa emoção. — O quê?  — O olhar determinado de Anthony colidiu com o desesperado

de sua irmã — . Desde quando o amor é necessário para o casamento?Viola o olhou longamente e suspirou.

 — Talvez não seja necessário — disse e saiu de seu lado —  Mas poderia seragradável.

Page 14: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 14/201

 

Capítulo 2

 — Então essas são as últimas descobertas da senhorita?Sir Edward sorriu para Daphne por cima das jóias espalhadas pela mesa da

 biblioteca. Havia cadeiras de ouro, vários pares de brincos de pérolas, algunscamafeus e um esquisito colar de esmeraldas enfiadas em folhas douradas. As

 jóias brilhavam a luz da manhã que entrava pelas janelas da biblioteca eofereciam uma resplandecente imagem acima do tecido branco.

 — Esmeraldas preciosas  — analisou, estudando o colar utilizando omonóculo.

 —  Não tão requintadas como as esmeraldas da família do duque  — disse asenhora Bennington enquanto ele inclinava sua forte e rechonchuda figura sobrea mesa para poder observar-las mais de perto. Ele fez uma careta de decepção.

 — Quando Bennington me contou sobre as jóias romanas, estava ansiosa paravê-las, mas agora que as vi me decepcionei. São tão rudimentares… Nenhumamoça poderia querer!

Daphne riu. — Mas a senhora Bennington, estas jóias não são para dar a alguém. São

 para o museu. Sua senhoria não quer este apenas para os ricos e privilegiados,mas para o mundo todo. Não é um objetivo nobre? Todos os britânicos, ricos ou

 pobres poderiam conhecer sua historia. — Fala como Tremore, não é? — Uma voz feminina veio da porta.Os três se voltaram para ouvir a mulher que tinha acabado de entrar na

 biblioteca. Daphne empurrou os óculos para ver melhor e graças aos retratos dagaleria a reconheceu. Era a irmã de Anthony, embora o quadro não lhe fizesse

 justiça. Nele apenas se via uma mulher bonita, loira e olhos de cor avelã comoos de seu irmão. Mas na realidade seu rosto faria parar milhares de barcos a

Troya.Lady Hammond sorriu amavelmente para Daphne e para a senhoraBennington e em seguida cumprimentou ao homem que estava no fim da mesa.

 — Sir Edward — disse se aproximando dele — . Que bom ver você tão cedode novo.

 — Lady Hammond  — falou ele e beijou a mão que ela lhe haviaoferecido — .Estou gostando muito de jantar ontem a noite em Tremore e sua

 presença tornou ainda mais agradável. — Eu também gostei sir Edward. Fiquei fascinada com a conversa que teve

com o duque sobre a escavação.Daphne gostaria de estar presente no jantar, mas isso nunca aconteceria.

Page 15: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 15/201

 

Sendo uma empregada ela não jantava com Anthony e seus convidados. Comiacom os Bennington em um jantar aparte, embora fosse o caso, tampouco poderia

 participar. Ela tinha passado a noite toda cumprindo as ordens que Anthonytinha lhe dito pouco antes da hora do jantar.

<< — Você poderia terminar estas listas de jóias para amanhã de manhã,senhorita Wade?>>Restaurar jóias era um processo árduo e muito longo, mas ela havia

 passado alegremente à tarde a noite toda para chegar lá.A viscondessa viu as jóias que estavam na mesa.

 — Estas devem ser as esmeraldas de que meu irmão me falava ontem ànoite. É difícil imaginar que estavam debaixo da terra todo este tempo.Realmente elas têm mais de quinhentos anos de idade?

 —  Na realidade mais de seiscentos  — replicou Daphne e então aviscondessa se voltou em sua direção.

 — Lady Hammond  — se entreviu sir Edward — , me permita apresentar-lhea senhorita Wade e a senhora Bennington. A senhora Bennington é a esposa doarquiteto do projeto e a senhorita Wade… 

 — Ela faz tudo  — interrompeu a viscondessa — .Eu já ouvi. Sir Edward aestava elogiando a noite toda, senhorita Wade. Inclusive Anthony admitiu que asenhorita é a melhor restauradora que conhecia.

 — Ele disse isso?  — Daphne sentiu um calafrio ao saber que Anthony atinha elogiado, mas não demonstrou temerosa de revelar seus sentimentos — .Fico feliz em ouvir isso.

 — Espero que sim querida, porque é um grande elogio  — apontou a senhoraBennington — . O senhor Bennington sempre diz que é muito difícil ganhar aestima do duque que nunca a concede com rapidez.

 — Isso é verdade  — confirmou lady Hammond — . Sempre é sincero emsuas opiniões e as vezes brutalmente sincero e agora afirma que a senhoritaWade é uma magnífica restauradora de mosaicos. Como aprendeu a fazer isso,senhorita Wade?

 — Eu acho que você poderia dizer que eu nasci para fazer isso  — respondeu ela — . Tenho vivido e trabalhado em escavações em toda minha vida.

 — Falando de escavações  — continuou sir Edward — , tenho que meencontrar com o duque na escavação. Ele quer me ensinar o hipocausto

 — O hipocausto!; Soa ser muito importante  — comentou a viscondessa — ,mas o que é?

Todos riram, mas foi Daphne quem respondeu: — O hipocausto era uma espécie de adega que se construía debaixo da casa

e que os escravos mantinham cheio de água quente para que estivessem quentesno inverno e assim lutar contra o frio. Um projeto bastante inovador.

 — Então tenho que vê-lo. Qualquer coisa capaz que mantenha os pés

quentes no clima frio inglês deve ser uma grande ideia. — Seguramente poderíamos encontrar mais de um sistema, lady Hammond,

Page 16: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 16/201

 

tenho certeza  — respondeu sir Edward — . Devem me perdoar, mas tenho que ir — disse fazendo uma reverencia.

 — Eu vou com você  — acrescentou a senhora Bennington — . Tenho quefalar com meu marido.

 — Claro, querida, claro.  — Sir Edward lhe ofereceu o braço e os dois seforam.Quando saíram, Daphne se virou para viscondessa que a estava estudando

com grande interesse.Seus olhos se encontraram e a viscondessa sorriu.

 — Meu irmão sempre quis escavar as querido ruínas que tem aqui emTremore. Me conte, como ele a contratou para este projeto?

 — Meu pai era sir Henry Wade um dos restauradores de maior renome emespecialidade romana. E eu era sua ajudante. O duque manteve correspondênciascom meu pai durante anos. E muitas vez comprava peças que meu pai e euencontrávamos e diversas vezes meu pai reservava as melhores para oferecê-las

 primeiro a ele. Finalmente, seu irmão nos contratou para trabalhar nestaescavação, mas meu pai morreu de repente. Nós… — Ela parou e custou aengolir.

Agora quase um ano depois de sua morte e ainda lhe doía falar de seu pai.Demorou um momento para se recompor e então continuou:

 — Estávamos acabando nosso trabalho em Volubilis no Marrocos e nos preparávamos para vim para cá, quando ele morreu. O duque já tinha pagado

nossas passagens e então decidi vir. Sua senhoria teve a gentileza de mecontratar como ajudante do senhor Bennington. Claro, meus conhecimentos não

 podem se comparar com os de meu pai, mas tenho feito o melhor que posso.A viscondessa voltou a prestar atenção nas jóias.

 — São peças preciosas. Não posso acreditar que as jóias antigas puderam seconservar em tão ótimas condições.

 — E não podem, eu garanto  — disse Daphne sorrindo — . Este colar estavadestruído quando o duque as descobriu, a maioria das pedras tinha perdidos seusligantes. Primeiro eu limpei as jóias e mais tarde consegui desenhá-las no

catálogo.Viola fez uma careta de desaprovação.

 —  Nenhuma jovem dama deveria trabalhar tão duro. — Oh, mas sua senhoria quer que o museu seja inaugurado em meados de

março. E eu não me importo de trabalhar. Eu gosto. E estas peças são resultadosextraordinários. Jóias valiosas são difíceis de encontrar porque no geral sãoroubadas antes que um arqueólogo tenha a oportunidade de descobri-las.

 — Você deve ser uma mulher especial, senhorita Wade. Eu não seria capazde apreciar o que você faz. Restaurar jóias, restaurar mosaicos e assoalhos,

reconstruir jarros e vasos não é par mim uma boa ideia de diversão,especialmente sobre o controle do meu irmão. Deve ser impossível trabalhar

Page 17: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 17/201

 

com ele, disso não tenho nenhuma dúvida. — Oh, não  — se apressou em dizer Daphne — . É um bom patrão. Se não

tivesse sido por Anthony, eu… — quando se deu conta de que tinha pronunciadoseu nome se calou de repente.

Tinha parecido que a viscondessa não havia percebido sua gafe, felizmenteela estava olhando os desenhos que Daphne tinha feito das jóias. Ela pegou doisesboços e analisou.

 — Desenha todos os objetos que encontra? Acredito que tenha dito que era para um catálogo.

 — Sim  — respondeu aliviada — . Faço um esboço de cada um. Constituemum arquivo completo da coleção.

A viscondessa estudou os desenhos e depois os deixou. Ao largá-los viu a pasta de Daphne que estava em cima da mesa e a abriu. Lembrando o que tinhadentro, Daphne tentou detê-la, mas foi tarde demais. A viscondessa já estavarevendo seus desenhos.

 —  Não acredito que estes possam lhe interessar, lady Hammond  — disse,apreensiva — . Não são para o catálogo. Estes são apenas meus rabiscos.

 — Senhorita Wade, é muito modesta. São muito bons.Querendo arrancar os papéis de suas mãos, não havia nada que Daphne

 pudesse fazer assim se resignou a ver como a viscondessa estudava seusdesenhos da escavação e dos trabalhadores. Ela olhou um por um, examinoucada página e cada cena chegando aos últimos.

Daphne queria que a terra se abrisse e a levasse junto. Lady Hammond

chegou finalmente nos desenhos de Anthony e ficou durante muito, muito,muito tempo olhando o último, uma figura de seu irmão de pé no meio daescavação sem camisa. Daphne sentiu corar de vergonha e tentou olhar aqualquer parte menos a face de Viola.

Aquilo lhe parecia uma eternidade, a viscondessa guardou o desenho ecolocou a pasta de couro marrom de Daphne no lugar onde a tinha encontrado.

 — Você tem muito talento — insistiu — . O último é especialmente melhor eé muito semelhante.  — Fez uma pausa e continuou — : Meu irmão é um homemmuito atraente, não é?

 — Imagino  — respondeu, tratando de fingir indiferença — . Para mim é decostume  — continuou seria — . Apenas desenho as pessoas que estão naescavação. Isso me ajuda a documentar tudo para mais tarde.

 — Claro.  — Pelo tom de voz de Viola, Daphne percebeu que ela nãoacreditava em absoluto, mas não fez nenhum comentário sobre a inutilidadesobre os desenhos de Anthony sem camisa posteriormente e então ela setranquilizou um pouco.

Os barulhos de alguns passos familiares advertiram Daphne de que estavamse aproximando e rodeou a mesa para se colocar na outra extremidade. Nunca

em sua vida tinha estado tão agradecida de a terem interrompido. Pegou umaflanela e quando Anthony passou pela porta, estava polindo uma peça de ouro,

Page 18: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 18/201

Page 19: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 19/201

 

Capítulo 3

Um dos muitos motivos porque Daphne admirava Anthony era pela suagrande praticidade. Quando o duque decidiu iniciar as escavações em sua

 propriedade, dois anos atrás, ordenou a construção de um pequeno edifício pertodas ruínas; o chamavam de antika e era o lugar onde se guardavam asdescobertas até estarem completamente restauradas e serem enviadas a Londres.

Antika tinha três espaçosos compartimentos. Um era uma sala para asantiguidades que Daphne ainda não tinha restaurado. Outra servia para guardá-las quando já tinham passado por suas mãos. A terceira habitação era seu lugarde trabalho e Anthony o tinha desenhado bem. O quarto estava bem ventilado

 para entrar luz natural. As paredes e o chão de pedra mantinham o lugar frescono verão, um fato que a senhora Bennington gostava muito, mas que Daphnenão se importava nem um pouco. Para ela, o verão na Inglaterra era agradável enada caloroso. Desde sempre, muito melhor que o mês de agosto nos desertos doMarrocos.

Tinha também uma bomba de água e uma pilha, além de enormes mesas decarvalho para os trabalhos de curso. Um desses trabalhos era o assoalho de

mosaico que haviam encontrado essa manhã e que agora Daphne estava dispostaa restaurar.

Concentrada em seu trabalho, que não tinha se dado conta de que ladyHammond a observava na porta, até que ela tossiu ligeiramente.

 — Espero não interromper algo de grande importância histórica  — disse aviscondessa sorrindo — . Estava dando uma volta pelas escavações com meuirmão quando nos interromperam. Aparentemente trabalhadores encontraramuma estátua de grande importância.

 — Verdade? Que estatua?

Lady Hammond sacudiu a mão dando pouca importância ao tema. —  Não tenho ideia. A atenção de meu irmão se concentra completamentenessa nova descoberta e eu tive a oportunidade de escapar.

 — Escapar? — se surpreendeu Daphne. — Sim, claro. Quando Anthony começa a falar de antiguidades romanas,

devo lhe confessar que me aborreço muito. Ontem, quando me mostrava umainacabável coleção de jarros, facas e objetos de metal, tive que fazer grandeesforço para não bocejar. A visita de hoje de paredes, telhados quebrados ecamadas e camadas de poeira era demais para mim, e me vi encurralada para

fugir. Você é como Anthony e sem dúvida nenhuma gosta de tudo isto. Eu,entretanto, não sou uma intelectual e lamento não poder ficar horas discutindo

Page 20: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 20/201

 

sobre uma velha garrafa de vinho quebrada.Daphne se perguntou como era possível que alguém achava enjoadas essas

conversas. Em seus sonhos, ela e Anthony debatiam apaixonadamente sobreesse tipo de coisas todo dia; claro, isso nunca acontecia de verdade, já que ela

ficava sem palavras sempre que ele se aproximava. — Por isso  — continuou lady Hammond interrompendo seus pensamentos —  eu fugi do meu irmão e vim até aqui. Eu estava a observando na porta e pensei que poderia entrar e visitá-la um momento. Se você não seimporta.

Daphne hesitou. Ainda se sentia incomodada ao pensar que a viscondessatinha visto seus desenhos no dia anterior. Ninguém gosta que seus segredos maisíntimos saiam para luz, especialmente na frente de gente estranha.

Como se pudesse lhe ler o pensamento, lady Hammond disse: — Devo lhe confessar que tenho uma opinião muito definida sobre os

segredos. Sempre os guardo.Ambas trocaram um olhar de compreensão.

 — É uma qualidade admirável  — respondeu Daphne — . Acredito que seusamigos lhe estão muito agradecidos.

 — Talvez alguns, ainda que meus amigos menos íntimos se perturbemenormemente.

Daphne não pode evitar rir do comentário. A irmã de Anthony era amistosae direta, gostava dela e por isso lhe deu bem-vindas a antika.

 — Gostaria muito de aproveitar de sua companhia.

 — Que bom. — Lady Hammond entrou e atravessou a habitação até chegarà mesa. Ela olhou para as telhas de pedra calcária que estavam em cima damesa.

 — Que está fazendo? — Estou restaurando um mosaico. Olhe.Daphne colocou um par de couro grossas e tirou uma garrafa de debaixo da

mesa. A abriu com cuidado, derramou uma pequena quantidade de líquido sobreas colocação de azulejos. A medida que a sujeira se dissolvia ia aparecendo aimagem de uma mulher nua deitada numa balsa.

 — É incrível!  — exclamou a viscondessa enquanto estudava a imagem — .Sabe a quem representa?

 — É Vênus — respondeu rapidamente Daphne — . A deusa romana do amor.Esta imagem devia estar pendurada em cima da porta do dormitório dos donosda casa. Graças a este mosaico sabemos que dormiam juntos e por outros objetosencontrados na escavação, acredito que ainda devia de ser um casamento deconveniência, e acabaram se apaixonando.  — Fez uma pausa e contemplou omosaico, continuou — : Devem ter sido tão felizes como meu pai e minha mãe.

 — Então seus pais tiveram um casamento feliz?

 — Oh, sim. Eles tinham um amor e respeito tão profundos como poucoscasais podem desfrutar. Eu apenas era uma menina quando minha mãe faleceu,

Page 21: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 21/201

 

mas até então, entendia quão apaixonados estavam. — Você acredita que o amor é importante em um casamento, senhorita

Wade?Daphne olhou a viscondessa que estava do outro lado da mesa. Ela ficou

surpresa que ela lhe perguntasse algo que tinha uma resposta tão óbvia. — Claro. Acaso não nem todo mundo acredita? —  Não, querida  — respondeu lady Hammond com um tom de ironia que

Daphne não conseguiu entender  — , nem todo mundo acredita. Ultimamente euouvi a teoria de que o amor e o casamento não tem nada a ver um com o outro.O que você acha disso?

 — Quem quer que lhe tenha dito isto deve ser uma pessoa infeliz e cínica. — Daphne pegou um pequeno pincel e o submergiu em uma jarrinha com águaque tinha no chão ao seu lado. Se endireitou — . Que outra razão há então para secasar?  —  perguntou, passando o pincel por cima das pequenas colocações deazulejos para eliminar a sujeira que ainda tinha entre as junções.

 — Os filhos são uma excelente razão. — Verdade? — Daphne se deteve e não pode evitar lançar a viscondessa um

olhar de fingida surpresa por cima de seus óculos — . Não sabia que eranecessário pronunciar votos para ter filhos.

A outra mulher riu suavemente. — Uma observação muito atrevida, senhorita Wade. Na sociedade, uma

frase como esta faria que as pessoas achassem que você é muito direta. — Atrevida talvez, mas também sensata. Se o objetivo são os filhos, o amor

entre as duas partes possibilitaria que pudessem ter vários.Para surpresa de Daphne, a viscondessa deixou de sorrir e sua expressão se

tornou melancólica. — Sim, suponho que seria assim  — admitiu e sacudiu a cabeça — . Mas

continuemos com nossa discussão sobre o casamento. Além das crianças,existem outras considerações práticas, não acha? Alianças entre famílias,acúmulo de riquezas, obterem poder e uma melhor posição social. Tem muitagente que acha que todo isso é mais importante que o amor quando se trata deescolher com quem se casar.

 — De que serve tudo isso se não se é feliz? Eu acredito que se casar semamor só serve para ter uma vida infeliz.

A viscondessa inspirou profundamente de um modo que Daphne seassustou e se virou para olhá-la.

 — Lady Hammond, esta indisposta? —  Não, não, estou bem. É só que o amor também pode levar sua cota de

sofrimento senhorita Wade.Daphne deixou de trabalhar, seus dedos apertaram o pincel que tinha na

mão e a olhou diretamente nos olhos.

 — Sim  — admitiu — , suponho que pode ser assim se você ama e não écorrespondido. Mas seguramente tem a recompensa da experiência de estar

Page 22: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 22/201

 

apaixonada. — Ah, é?  — murmurou lady Hammond e em seus lábios se desenhou um

sorriso irônico. Tinha seu olhar perdido num ponto distante do horizonte  — Euficaria surpresa.

Daphne sentiu de repente uma grande afinidade com ela. — Eu também  — admitiu — . Mas acho que soou muito nobre e poéticoquando lhe disse.

As duas mulheres se olharam e começaram a rir. — Assim que a conheci eu sabia que ia gostar de você  — exclamou a

viscondessa ainda rindo — . Temos que ser amigas.Daphne lhe devolveu o sorriso, agradecida e emocionada com tal

 possibilidade. — Gostaria muito, lady Hammond. Nunca havia tido oportunidade de fazer

amigos, tenho vivido em muitos lugares. — Pode me chamar de Viola e eu chamarei você de Daphne. Você se deu

conta que nós duas temos nomes de flores? Já temos algo em comum. — Mas não no amor por vasos. —  Não. Nisso você se parece muito mais com o Anthony, mas nunca

conseguirei entender porque você acha tão fascinante estas peças de cerâmica. — Bom, a cerâmica nos revela a história real de uma escavação…  —  Não, não! — Viola levantou a mão para detê-la. — Já ouvi antes. Eu fugi

dele alguns momentos atrás, não se lembra? — É verdade. De acordo, não obrigarei você a escutar as grandezas da

cerâmica samariana, nem como se limpa ou a pole. — Certo, porque a verdade é que eu gostaria muito mais que você me

falasse sobre você. Sir Edward me disse que você nasceu na Ilha de Creta.Daphne não pode evitar se sentir lisonjeada. Poucas vezes era o centro das

atenções. — Sim, meu pais estavam escavando em Knossos. Não lembro muito sobre

essa escavação. Mas me lembro do calor e da aridez. Minha mãe me descreviaos campos e os bosques da Inglaterra. Soava celestial.

 — Seus pais eram ingleses?

 — Oh, sim. Eles se conheceram quando ele veio à Inglaterra para dar palestras sobre suas descobertas em Knossos. Havia sido nomeado Cavalheirode Bath e estava em Londres para receber seus honorários. Depois de umnamoro relâmpago escaparam e voltaram a Creta juntos.

 — E que aconteceu com o resto da tua família? — Eu… — hesitou e depois continuou — : meu pai era órfão. — E a família da sua mãe?Daphne ficou petrificada, pressionava o pincel tão forte que os seus pelos

estavam totalmente liso sobre o mosaico. A menção da família de sua mãe lhe

trouxe recordações de um dia horrível em Tánger e da carta que tinha recebidode uns advogados de Londres, dois meses depois da morte de seu pai.

Page 23: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 23/201

 

Obrigado pelo interesse demonstrado por lord Durand com

relação à certa lady Wade, que solteira era Jane Durand, de quem o

 senhor afirma que era a esposa de sir Henry Wade. Sua confirmação

é impossível, já que a honorável senhorita Durand permaneceu solteira até sua morte, na fazenda de seu pai em Durham, em 1805,

com a idade de vinte anos. Não havia nenhuma possibilidade de que

 poderia ser sua mãe e lord Durand lamenta não poder lhe ser de

maior ajuda neste assunto. Qualquer outro tentativa de ganhar

dinheiro ou proteção do senhor é inútil.

Ao se lembrar da carta, voltou a sentir todo o medo que sentiu naqueletempo, o nó que lhe apertava o estômago em pensar que estava sozinha, que odinheiro estava se acabando, que ninguém ia ajudar-la e que já não tinha nada devalor. Nada, exceto a passagem para a Inglaterra.

Daphne procurou esquecer as lembranças naqueles dias em Tánger. Nãoqueria falar sobre a família de sua mãe ou sobre a vingança de se sentir ignoradae rejeitada.

 — Mamãe nunca falava de seus parentes. — Alguma coisa ela tinha que te dizer.Pressionada, Daphne admitiu:

 — Disse que meu avô era um barão, nada mais. Minha mãe morreu quandoeu tinha oito anos e meu pai e eu nunca falávamos dela.

 — Um barão. Não sabe nem ao menos o seu nome, ou onde vivia? —  Não — mentiu. — Mas isso é surpreendente! Que espécie de pai deixa sua filha sem

família, sem recursos e sem proteção ao morrer e sem lhe dizer quem a podeajudar?

 — Meu pai não era tão inconsciente como você pensa!  — gritou Daphne,obrigada a defender seu pai — . Era um homem sem igual, não podia imaginarque ia morrer tão de repente. Era o pai mais carinhoso que alguém poderia ter,você me ofende se disser o contrário.

Viola se calou. Depois de um momento disse: — Fez bem em me repreender, Daphne. Me sinto envergonhada. Minha

única desculpa é que me preocupa ver uma jovem moça sozinha, sem proteção,obrigada a trabalhar, mas não devo intrometer em suas coisas. Por favor, aceiteminhas desculpas.

 Na verdade parecia envergonhada e Daphne reconsiderou. — Claro. — Vocês ficaram em Creta depois da morte de sua mãe? —  Não, nós fomos da ilha alguns meses depois. Papai não podia ficar ali.

Tinha muitas lembranças. Destruiu seu coração quando mamãe morreu. — E a dor era obsessiva? —  perguntou Viola em um tom meio agressivo — .

Page 24: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 24/201

 

Eram felizes, mas quando ela morreu ele abandonou suas obrigações, seusfilhos? Acaso sua tristeza lhe fez perder o juízo?

Daphne estava surpresa em frente essa repentina troca de tom da conversa. — Que perguntas tão estranhas! Claro que estava triste, mas nunca

abandonou suas obrigações. Nunca me ignorou, nem perdeu o juízo.Viola sacudiu a cabeça como se ela tivesse terminado uma conversa particular.

 — Confesso que estava pensando em outra pessoa. Eu sinto. Onde você foiquando deixou Creta?

 — Para a Palestina. Também estivemos em Petra, Síria, Mesopotâmia,Túnez e Marrocos. As grandes escavações geralmente duram vários anos, masdepois da morte da minha mãe, meu pai era incapaz de passar muito tempo nomesmo lugar.

 — Mas o que aconteceu com a sua vida social? —  Nunca tivemos muito. Alguns jantares ocasionais com uns amigos do

 papai em Roma, isso é tudo. —  Nenhuma festa? Nenhum baile? — Lamento nunca fui a nenhum.  — Daphne negou com a cabeça,

sorrindo — . Nem sei dançar. Não tive muitas oportunidades para ir no meio dodeserto. Estou mais acostumada à companhia de asnos, camelos, árabes e velhose pesados arqueólogos.

 — Você teve uma vida fascinante Daphne, mas há tantos prazeres que você perdeu… 

 — Talvez, mais eu aproveitei cada momento. Sinto falta do meu pai, masacho que ele gostaria de vir para a Inglaterra se não tivesse morrido. Ele queriaque eu conhecesse este lugar. Por isso aceitei a oferta do duque de vim para cá.

 — Já foi em Londres? —  Não. Viajei com uma caravana de temperos desde o Marrocos a Tánger,

depois peguei um barco até Portsmouth e vim diretamente a Tremore Hall. — Uma caravana de temperos! — Viola começou a rir.Daphne a olhou perplexa.

 — Eu disse algo engraçado?

Ainda rindo, a outra mulher negou com a cabeça. — Divertido? Oh, Daphne!, você disse as coisas mais extraordinárias; como

se viajar em caravanas fosse a coisa mais normal do mundo. — Bom, é normal  — respondeu ela rindo junto com ela — , talvez ainda não

aqui, em Hampshire.As risadas foram diminuindo e a viscondessa olhou pensativa para Daphne.

 — Marrocos, Palestina, Creta. Não posso evitar pensar que você deve seencontrar Tremore Hall bastante aborrecida em comparação.

 — Oh, não! Para mim viver aqui é um luxo que ainda não posso acreditar.

Devo reconhecer que dormir em um colchão de plumas é muito melhor que emum saco em uma cabana de pedra em uma tenda no deserto.

Page 25: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 25/201

 

 — Céus, eu imagino que qualquer mulher acredita. Você gosta de estaraqui?

 — Sim, eu gosto. Quando cheguei à Inglaterra tinha a estranha sensação quevoltava para casa, mas nunca estive aqui. Tudo na Inglaterra é tão legal, tão

verde, tão bonito comparado com os áridos desertos em que vivi… É comominha me mãe dizia que era. Não quero nunca sair daqui. — O que você acha de Tremore Hall? — Eu tenho receio que não visito muito o local. Tenho estado muito

ocupada com os trabalhos na escavação e não tenha tido tempo para explorar,apesar de ter andado várias vezes pelos jardins. É uma propriedade esplêndida,mas intimida um pouco quando se chega pela primeira vez.

 — Sim  — confirmou Viola — , eu sei o que você quer dizer. Quando era pequeno, estive em um internato na França por vários anos. Viver fora, euesqueci que foi intimidador, mas me lembrei o quanto queria voltar. Anthonynunca me deixa mudar nada. A história da família e todas essas coisas.

 — Posso entendê-lo. — Sim, claro, Daphne, mas você também entende sua afeição por vasos de

 barro. Se esta fosse a tua casa, sem dúvida seria como Anthony e você se recusaa redecorar nada.

Daphne ficou sem respiração ao sentir uma onda de saudade com esseinocente comentário, mas procurou esquecer. Aquela não era sua casa. Ela nãotinha casa.

 — Há uma coisa que eu mudaria  — respondeu, se forçando a relaxar  — .

Tiraria essas horríveis carrancas da escada principal e as jogaria fora. — São horríveis. Quando era pequena me causavam pesadelos. Talvez

quando Anthony se casar, sua duquesa as tire para que seus filhos não tenhammedo.

Daphne imaginou em sua mente a imagem de Anthony com sua duquesa eseus filhos, levantando o queixo para disfarçar sua expressão.

 — E você quer se casar?  —  perguntou Viola, interrompendo seus pensamentos.

 —Eu… — respirou fundo e se abaixou debaixo da mesa para submergir

outra vez o pincel na água — , eu nunca pensei  — respondeu, quando serecompunha. Ela retornou a seu trabalho e não olhou a que tinha na sua frente — .

 Não há probabilidade de acontecer. — Porque diz isso? — Estou ciente que eu sou uma mulher comum e já tenho pouco mais de

vinte e quatro anos. Tenho poucas oportunidades de conhecer gente nova. E seme casasse, seria apenas por um grande, profundo e duradouro amor. Entãoagora você vê — continuou, levantando a vista e sorrindo levemente — , eu tenhoabsolutamente tudo contra.

Viola não respondeu, mas Daphne podia notar como sua nova amiga aolhava enquanto ela prestava atenção outra vez em seu trabalho. Tendo passado

Page 26: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 26/201

 

uns minutos, Viola ficou em silêncio. — É uma pena que você não foi a Londres.Daphne levantou a vista surpresa pela mudança de assunto.

 — Eu gostaria, talvez vá algum dia. Você vive lá com seu esposo?

 — Depende da época do ano  — respondeu Viola — . Passo o outono e oinverno em Enderby, nossa fazenda fica em Chiswick, aos redores de Londres.Enquanto, Hammond está em Hammond Park, em Northumberland. Na

 primavera, alugamos uma casa na cidade, onde passamos juntos a temporadasocial. No verão eu vou a Brighton e Hammond volta para Northumberland. Éum arranjo que convém a nós dois, porque nos obriga a passar juntos apenasalguns meses do ano. O suficiente para manter as aparências.

Daphne estava surpresa, mas disfarçou. Sentia compaixão por sua novaamiga.

 — Eu vejo — murmurou. — Eu mantenho Enderby muito animado no inverno  — continuou Viola

com certo tom de amargura — . Celebro festas constantemente e que participammuitas pessoas, não gosto de estar sozinha.  — Se interrompeu e riuentrecortando.  —  Não me olhe assim sentindo pena. Deveria se envergonhar.Minha única desculpa é que você é uma boa ouvinte, Daphne.

 —  Não precisa ficar com vergonha de se sentir sozinha — disse Daphneamavelmente — . Eu também sei o que é estar sozinha. Grande parte da minhavida passei em desertos, longe de qualquer lugar; lugares em que eu era a únicamulher inglesa em quiilômetros ao redor. Papai e eu estivemos um inverno em

Roma enquanto passava o tempo com outros acadêmicos e restauradores, euvagava por bibliotecas e museus, lendo tudo o que podia encontrar sobre aInglaterra. História, política, sociedade, costumes. Gostaria muito de poderconhecer Londres algum dia.

 — Oh, Daphne, eu gostaria tanto de ser eu que pudesse te ensinar! É umacidade tão excitante… Eu gostaria que você pudesse vir comigo quando voltar aEnderby. Seria muito boa a sua companhia e Chiswick é só uma hora decaminho. Se você estivesse ali durante a temporada, poderia vir comigo a cidadee te apresentaria em sociedade. Inclusive poderia encontrar a família da sua mãe.

 — Isso é impossível  — respondeu Daphne. Anthony estava ali e ela não podia se imaginar abandonando Tremore Hall em um futuro próximo.  — Aindatenho muito que fazer.

 — O museu de Anthony vai inaugurar em março. Não poderia vir depois? —  Não. Embora com o museu inaugurado, terei que continuar trabalhando

na escavação. Eu duvido que esteja completamente terminado antes de cincoanos.

 — Eu entendo, mas é realmente uma pena.  — De repente, Viola suspirouchateada.  — Oh, meu Deus, tenho que voltar. Se meu irmão descobrir que

escapei de sua escavação se chateará comigo. Ele sempre trata para que eu meinteresse por coisas intelectuais.

Page 27: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 27/201

 

Viola se dirigiu a porta, mas no caminho se virou e a olhou mais uma vez. — Outra coisa, Daphne: saiba que a beleza não significa nada.Daphne viu como sua nova amiga desapareceu no corredor e sorriu um

 pouco forçado.

 — As mulheres bonitas sempre dizem isso — murmurou para a porta vazia.

Page 28: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 28/201

 

Capítulo 4

Anthony inclinou seu quadril no piano estudando a expressão de Viola, que jogava a luz das velas olhando para o infinito. Ele não deixou de se dar conta deque sorria ligeiramente.

 — Você parece muito satisfeita consigo mesma  — disse — . Quando vocêfica com essa cara é que esta tramando alguma coisa. O que você esta pensando?

 — Em Vênus  — respondeu ela e olhou o homem que estava de pé ao seulado.

Ele ergue as sobrancelhas fazendo menção de uma pergunta. — A deusa do amor? O que faz você pensar em Vênus?  — Desconfiado,

olhou.  — Você esta planejando arruinar meu casamento com lady Sarah e meconseguir outra melhor? Por favor, nem tente, Viola já sabes o que penso arespeito.

 —  Não, não.  — Viola deixou de jogar por um momento para negar com amão em sua direção e em seguido retomou a tecla.  — Você já fez a sua escolha esei que seria inútil tentar fazer com que você mude de ideia. Eu pensei melhor  —  continuou com um suspiro —  e acho que é a melhor opção. No final das contas

você é o duque de Tremore e tem que se casar de acordo com tua posição,mesmo que isso signifique que você desista de amor e carinho. Não, eu decidique vou me concentrar em arranjar o casamento de outra pessoa: o de Daphne.

 — Daphne? — Ele franziu a testa — . Não lembro de... — A senhorita Wade.Encarou Viola e a imagem de uma mulher com cabelos castanhos em um

coque, com óculos, vestidos marrons, aventais de trabalho e incapaz de falarsem gaguejar lhe apareceu de repente.

 — Você vai tentar arranjar um casamento para a senhorita Wade?  — 

 perguntou atônito. — Sim e se eu a convencê-la a vir comigo para Enderby, vou apresentá-la aalguns dos solteiros mais cobiçados e ver o que acontece.

 — Você não vai fazer isso.A veemência de seu tom surpreenderam Viola. Deixou de tocar o piano

outra vez e o olhou estupefata. — Por que você ficou alterado assim, Anthony? Eu não tinha idéia que ela

te importava tanto. — Eu me importa muito. O trabalho que a senhorita Wade desempenha aqui

é de grande importância. Não vou permitir que vá perder tempo contigo emLondres. O que vai acontecer com meu museu e minha escavação?

Page 29: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 29/201

 

 — Ultimamente você só pensa nessa escavação. Tem coisas maisimportantes no mundo que tua villa romana.

 —  Nada pode ser mais importante que descobrir a historia.  — Ele própriosentiu a paixão com que falava.  — Viola, estas ruínas são de vital importância

histórica. É o melhor local encontrado de vestígios romanos na Inglaterra As peças que estamos encontrando aqui serão de grande ajuda para os acadêmicos eestudiosos e os museus de Londres poderão oferecer aos britânicos a

 possibilidade de conhecer melhor suas origens. Isto é um pedaço da nossahistoria.

 — Eu não me importo com a história, querido irmão  — disse Viola, semsequer tentar entender o que ele quis dizer  — . Eu me importo com a vida de uma

 jovem dama de boa família que por trágicas circunstâncias se vê obrigada atrabalhar, que não pode ter uma vida própria e que nunca aproveitou nada. Nemsequer sabe dançar. É impressionante o quanto seu pai foi descuidado na hora dese preocupar com seu futuro e seu bem-estar.

Viola fez uma pausa para recuperar seu fôlego, mas antes que Anthony pudesse se lembrar da historia e das antigüidades eram muito mais importantesque dançar, ela continuou:

 — E agora Daphne se vê obrigada a se sustentar na vida. Uma jovem damatrabalhando até a exaustão esfregando mosaicos e arranjando vasos como sefosse uma empregada e o pior de tudo é que não tem nenhuma outraoportunidade no futuro.

Anthony franziu a testa, chateado pelo tom de acusação nas palavras de sua

irmã; como se as supostas dificuldades da senhorita Wade fossem culpa sua. — O trabalho que a senhorita Wade faz para mim é vital para tornar este

 projeto um sucesso e eu pago muito bem por seus esforços. — Para mim seu futuro parece incerto. — Dificilmente. O museu de Londres vai abrir em meados de março, mas

vai demorar muito mais para terminar a escavação da villa. Ela tem trabalho nomínimo por mais cinco anos.

 — E quando acabar? Quando teu museu estiver pronto e tua escavaçãofinalizada o que acontecerá com ela depois?

 — Encontrará um novo trabalho, suponho. — Então terá quase trinta anos, uma idade que praticamente a eliminará do

mercado de casamento. Você sabia que ela é neta de um barão? — Isso é absurdo, seu pai não tinha parente. — Estou falando do pai de sua mãe. Ela não sabe nada sobre ele ou se sabe

não quis compartilhar comigo. Não acho que ela queria me dizer alguma coisa,mas deixou escapar um comentário sobre o seu avô. Não entendo por que querguardar segredo. Orgulho talvez.

 — Ou sentido de privacidade. Tem gente que valoriza sua intimidade.  — 

Fez uma pausa. — Em qualquer caso seu futuro é assunto seu. — Eu estou transformando em negócio meu.  — Antes que pudesse

Page 30: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 30/201

 

responder, continuou: — Este não é o tipo de vida que se deve levar a neta de um barão, embora ela mesma tenha ignorado suas origens. Mas ela sabe tão poucosobre seus parentes e não tem amigos que podem ajudá-la… 

 — Ela parece ter encontrado uma amiga em você.

 — Sim, ela tem. Eu gostei dela e nós nos tornamos amigas. E mais, vouconsiderá-la minha protegida. Agora vou apresentá-la em sociedade, lheajudando a conhecer pessoas novas e talvez lhe assegurando um casamento nofuturo. Têm muitos cavalheiros solteiros que eu quero lhe apresentar. Ela talvez

 possa gostar de algum e a natureza segue seu curso. — Pobre menina.Viola deu-lhe um olhar que indicou que não tinha gostado de seu divertido

comentário irônico. —  Não é todo mundo que escolhe esposa como você, Anthony, escolhendo

a menor possibilidade que possa ganhar teu coração. Nem tampouco todomundo que se apaixona é infeliz. Gostaria muito de ver Daphne desfrutando deuma temporada em Londres, se apaixonar e conseguir um casamento feliz comum honorável cavalheiro de bom caráter que a amará e cuidará dela.

Anthony se viu obrigado a mencionar o que para ele era óbvio. —  Não entendo por que você quer embarcar numa tarefa tão inútil. As

mulheres como a senhorita Wade não são feitas para romance e tampouco secasam.

 — Anthony que comentário tão estranho. Posso saber o que você quer dizercom isso?

 — Quero dizer que essa menina não tem nenhum um fio de romantismo nocorpo inteiro. Se tivesse um dote ou se suas conexões com o barão fossemcertas, suas perspectivas de casamento seriam melhores, mas sem isto, você estáembarcando numa questão sem futuro. É só olhar a menina para se dar conta.

 — Eu não me dou conta e eu a olhei bastante nos últimos dias. Acho quemuitos jovens bem educados a acharão encantadora.

 — Encantadora? Com esse coque horrível que sempre usa e essas roupascostumeiras, a menina é tão atraente como um inseto em cima de uma folha. Écomo uma peça da mobília. Duvido que algum homem se desse conta de que ela

existe mesmo que estivesse debaixo de seus narizes; e mesmo assim seesqueceriam dela no mesmo instante em que desaparecesse das vista deles. Eusei por que isso acontece comigo.

Viola ficou tensa. —  Não sabia que a beleza física de uma mulher fosse a única qualidade que

chamasse a atenção dos homens — expressou friamente.Anthony reconheceu a crítica dessas palavras.

 —  Não quis dizer isso. — O que você quis dizer, então?

 — Seu rosto nunca muda de expressão e eu nunca sei em que está pensandoou no que está sentindo. A não ser que fale de antigüidades, essa menina é

Page 31: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 31/201

 

incapaz de manter uma conversa.Viu que Viola o olhava preocupada, mas continuou:

 — Quando ela finalmente consegue dizer algumas palavras, não pode fazersem gaguejar. Eu não sei o que está errado. O primeiro dia que esteve aqui foi

razoavelmente bem, mas desde então quase não diz nada. Por isso tudo, possodizer que é a criatura mais insignificante que conheci em minha vida. — Ainda assim é tão importante para tua escavação que ela não pode ir

embora. De modo que alguma qualidade desejável deve ter. — É inteligente, isso eu te garanto e excelente em seu trabalho. Pode

traduzir do latim, do grego e não sei quantas línguas antigas mais. É umamagnífica restauradora e artista. Desenha bem. Mas todas essas qualidadesdificilmente a treinaria para um casamento. Não tem dote, não tem conexõesaparte com esse suposto barão e nenhum atrativo físico que compense estascarências.

 — Ela me conhece e seu avô é um barão, então já tem duas conexões, aomenos. Se pudéssemos encontrar seu avô ele lhe poderia lhe dar um dote. E noque você se refere a suas outras assim chamadas carências, é só tua opinião. Sóvocê a vê como uma empregada doméstica, como o senhor Cox e o senhorBennington e alguns de seus trabalhadores. Duvido que nunca sequer a olhoucom uma mulher.

 — A senhorita Wade não é uma mulher. É uma máquina. Uma perfeita eeficiente máquina. Nunca está doente, nunca comete erros. Você sabia? Eununca lhe ouvir rir.

 — Oh, não seja absurdo. Eu ouvi seu riso esta manhã. — Pois eu nunca vi.  — Anthony parou e tentou encontrar uma maneira de

explicar a Viola como via a senhorita Wade do ponto de vista de um homem. — Quando um cavalheiro procura uma esposa não quer uma máquina. Ele

quer uma mulher com certos atributos femininos. A senhorita Wade,desafortunadamente, não tem nenhum. Na realidade, é muito patética.

 —  Não tinha idéia de que a visse deste ponto de vista tão desfavorável  — comentou Viola pensativa.

 — Acho que qualquer homem concordaria com minha opinião sobre a

menina. — Você quer parar de chamá-la de menina? — espetou Viola irritada. — Ela

tem vinte e quatro anos, é uma mulher.Anthony pensou no avental sem forma que escondia qualquer curva

feminina que pudesse esconder a senhorita Wade. — Se você diz. — Eu digo. Todo o que você disse é uma falta de educação, não de seu

caráter nem de sua beleza. Eu acredito que Daphne poderia ser bastante atraentese seguir meus conselhos. Ela tem belos olhos e um corpo bonito. Muito morena

segundo a atual moda, mas nem tanto se levarmos em conta que viveu grande parte de sua vida no deserto. Tem um sorriso bonito, é inteligente, culta, te

Page 32: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 32/201

 

garanto que ainda é uma jovem bastante séria e talvez um pouco tímida, mas é perfeitamente capaz de rir.

 — A melhor coisa a fazer é procurar sua família, porque damas sérias,tímidas, agradáveis e tão comuns chegam a se confundir com papel pintado de

 parede, não tem nenhuma possibilidade de conseguir um marido. Setransformam em solteironas. Uma palavra desgraçada, mas correta.Viola lhe lançou uma olhar de censura que deu a entender claramente o que

 pensava de sua opinião e o que o fez se sentir um pouco culpado. Talvez tenhasido duro, mas realmente, Daphne Wade era tão sem graça como fevereiro naInglaterra. Ainda assim, decidiu que o melhor seria não fazer mais comentáriossobre o assunto.

 —  Não tem importância, não falemos mais disso. A menina não irá anenhum lugar até que o meu museu e as escavacações estiverem finalizados.

«Como um inseto em cima de uma folha.»Daphne tinha ficado congelada, sua mão ainda estava segurando a

maçaneta da porta da sala de música. A porta estava entreaberta e a conversaque acabava de ouvir ainda pairava no ar como o odor de uma fumaçaremanescente após um incêndio.

«Nenhum atrativo físico.»Ela olhou para o texto da tábua de cera que tinha na mão, sua mente estava

em branco. Ela não conseguia se lembrar porque estava tão ansiosa para

encontrar Anthony e lhe ensinar a tradução. Agora nem conseguia lembrar o queia dizer.

Apertando a tábua contra o peito, deu meia volta e começou a correr, semsaber onde ia, incapaz de pensar em nada. Ela estava muito confusa, aturdidademais para sentir, mas novamente ouviu em sua cabeça a descrição brutal einsensível dela do homem que ela adorava.

«A senhorita Wade não é uma mulher é uma máquina. Na realidade, émuito patética.»

Como uma borboleta que segue a luz, Daphne entrou no emaranhado de

corredores que formava Tremore Hall; guiada apenas pelo instinto e pelanecessidade de buscar refúgio em seu quarto.

 Na privacidade de seu quarto, fechou a porta, deixou cair no chão à tábua,não se importando onde ela iria parar e tapou os ouvidos com as mãos, mas foiinútil. As palavras de Anthony ainda zumbiam em seus ouvidos, amortecidosapenas pelo som do seu coração romper em mil pedaços.

Page 33: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 33/201

 

Capítulo 5

O coração humano deve ser realmente forte e resistente, pensou Daphne aodespertar-se na manhã seguinte. Ela ficou surpresa de não sentir dor nem naalma destruída. Em vez disso de uma maneira estranha se sentia como se tivessenascido de novo.

Ela passou toda a tarde e quase toda a noite inteira chorando no travesseiroe tentando curar seu coração ferido. As insultantes palavras de Anthony tinhamlhe feito derramar infinitas lágrimas. Ela disse a si mesma, mas guiada peloorgulho do que pela sinceridade, que ele podia ficar com essa lady Sarah comquem ele quer se casar. Repetiu para si mesmo milhares de vezes que ela erauma tola por cultivar sonhos impossíveis, mas agora o que mais lhe doía era adestruição devastadora de todas as suas esperanças que tinha de Anthony algumdia sentir afeto por ela; uma vontade que ela mesma não tinha reconhecido quetinha até que a opinião dele a esmagou de vista.

Essa manhã, o vestígio da tristeza ainda estava presente, Daphne não sesentia triste, nem tonta. Se sentia livre.

Enquanto se vestia, tentou entender o que acontecia e percebeu que tinha

tirado um peso de cima dela. Tinha passado os últimos cinco meses tentando sero que Anthony queria, tentando se adiantar a seu mais pequenos desejos eordens, trabalhando como uma escrava para agradá-lo e a única coisa que tinhaconseguido era sua indiferença e seu desprezo.

Daphne se sentou em frente a seu toucador e observou seu reflexo noespelho enquanto se penteava. Um sorriso se desenhou em seu rosto. Anthony atinha chamado de patética e a verdade é que tinha um aspecto lamentável, comos olhos inchados de chorar, mas o único patético de tudo aquilo era o muito queela tinha se preocupado com ele.

As palavras de Anthony haviam sido duras, mas a haviam feito entenderalgo sobre si mesma que nunca havia visto antes.Desde a morte de sua mãe tinha passado a vida querendo ser necessitada,

tratando de preencher o vazio que essa morte tinha deixado no coração de seu pai, tentando ser sua companheira de trabalho, um alivio para suas penas. Ali,em Tremore Hall tinha desejado fazer o mesmo com Anthony. Desejavadesesperadamente que ele necessitasse dela, que a fizesse se sentir valiosa,apreciada, amada.

«Ela é tão atraente como um inseto em cima de uma folha.»

Agora, a luz de um novo dia, jurou a si mesma que as coisas iriam serdiferentes. Lembrou-se das perguntas que Viola lhe tinha feito no dia anterior

Page 34: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 34/201

 

em antika e se deu conta de que a conduzia a mais importante de todas: E agora?Daphne virou a cadeira e observou a habitação que estava, ornamentada

com opulência. Algumas cortinas de damasco douradas e verdes rodeavam acama, os muros e a chaminé estavam recobertos de madeira de pau rosa, tinha

anjos no teto e o toucador em que estava sentada, era decorado com malaquita,tinha gavetas pintadas como se fossem penas de pavão real.Como todos os cômodos de Tremore Hall, era grande e intimidante;

transmitia a ideia de uma imensa riqueza e um verdadeiro sentido de história,mas era uma casa sem calor. Bastante parecida com seu dono, pensou. Elequeria se casar sem amor e sem afeto. Como podia ser tão frio e quão cega deviater estado para não ter percebido isso antes.

Daphne voltou a se concentrar em seu próprio reflexo no espelho, se olhoudiretamente nos olhos e tomou sua primeira decisão sobre seu futuro. Tinha queir embora de Tremore Hall. Não podia mais ficar ali. Estar perto daquele homemdesprezível, continuar trabalhando para ele como uma escrava durante os

 próximos cinco anos sabendo o desprezo com que a olhava, era uma perspectivaintolerável.

Mas onde poderia ir? Que podia fazer? Tinha trabalhado em escavações suavida toda. Pela primeira vez se perguntava se tinha tido alguma outra escolha defuturo para ela.

«Gostaria muito que você viesse a Enderby comigo.»Daphne se lembrou das palavras que a viscondessa lhe tinha dito no dia

anterior em antika. Também lembrou que Viola havia mencionado certos planos

que tinha para ela e sentiu um pouco de emoção. A viscondessa tinha admitidoque se sentia sozinha, que considerava Daphne sua protegida e que queria lheencontrar um marido. Talvez deixasse que Daphne ficasse um tempo com ela, aapresentaria as pessoas e lhe ajudaria a fazer amizades. Quem sabe o que podiaacontecer? Com a viscondessa como guia poderia aprender a andar e secomportar em sociedade, poderia ver coisas que até então só tinha lido emlivros.

Talvez essa oportunidade permitisse se tornar uma instrutora de uma boafamília. Ou talvez deixar o orgulho e tentar entrar em contato de novo com a

família de seu avô. Ela poderia até mesmo tornar reais as ilusões de Viola e secasar com alguém que realmente a amasse e a respeitasse.

Daphne decidiu que já era hora de deixar de pensar que não tinha opções defuturo. Havia chegado o momento de começar a decidir seu próprio destino. Atéquem sabe se divertir um pouco.

Ela poderia ir lá e entrar no brilhante mundo da alta sociedade inglesa. Eela não se referia a Anthony, ele poderia ir para o inferno com todas as suasopiniões.

 — Como? — Atônita, Viola largou a caneta e encarou Daphne.

Page 35: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 35/201

 

Ela sabia que tinha sido muito atrevida, mas estava desesperada. — Ontem você comentou que gostaria que fosse contigo a Enderby quando

você se for daqui. Dado o pouco tempo que nos conhecemos, sei que é presunçoso da minha parte perguntar, mas estava falando sério?

Viola se recuperou e apontou para a cadeira que estava a sua frente noescritório. — Se senta, Daphne.Ela sentou, com os dedos cruzados no colo e esperou a resposta.

 — Claro que falei sério — respondeu Viola — , mas e o seu trabalho aqui? — Tenho intenção de abandoná-lo. — Achava que gostava de estar em Tremore Hall.  — Viola se endireitou na

cadeira e olho sério para Daphne. — Algo ruim aconteceu ontem? —  Não, nada sério  — se apressou a tranqüilizá-la . Esperava que soasse

convincente, não poderia suportar que Viola ou Anthony descobrissem que tinhaouvido sua conversa e a pobre opinião que o duque tinha dela.  — Eu gostavadaqui, mas suas palavras sobre Londres fizeram me dar conta do que estou

 perdendo.Viola se endireitou na cadeira em que estava sentada.

 — Querida Daphne, estou surpresa. Não poderia suspeitar que minhas palavras pudessem provocar tal reação em você.

Havia um certo ar de preocupação na voz da mulher e Daphne tinha ocoração pesado. Talvez as palavras de amizade da viscondessa tenham sido ditascom ligeireza. Talvez tivesse estado falando com Anthony sobre ela por suas

 próprias razões. Em qualquer caso, Daphne sabia que tinha que ir embora deTremore Hall e Viola era sua melhor oportunidade para fazer isso.

 — Desde a morte de meu pai, minha vida tem seguido um caminho programado sobre o que eu não tinha um menor controle.

 — Porque você é uma mulher — disse a viscondessa com a voz tensa. —  Nóstemos muito pouco controle sobre nossas vidas.

 — Talvez, mas eu estive pensando sobre nossa conversa de ontem e não posso deixar de pensar que já é hora de procurar a família de minha mãe e queeu ocupe o lugar que me pertence na sociedade.

 — Claro que sim! Eu te disse ontem, mas você insistia em ficar aqui. Vocêestá convencida de que quer isso?

 — Sim. Nunca tinha tido a oportunidade de estar em sociedade ou de fazeramigos; papai e eu sempre estávamos viajando. Eu estou aqui enterrada nocampo, trabalhando sozinha todo dia, sem nunca conhecer ninguém.

 — Claro que você se sente muito sozinha aqui e não viver de acordo comouma neta de um barão. Confesso que estive pensando no maravilhoso que seria

 poder se reunir com sua família e te ajudar a entrar em sociedade. Mas penseique seus sentimentos… — A mulher se interrompeu sem continuar o que tinha

estado a ponto de dizer. Em lugar disso, baixou a vista e guardou a caneta, perdida em seus pensamentos.

Page 36: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 36/201

 

Daphne esperava, em silêncio, desejando que a hesitação da viscondessanão fosse negativa.

Passado um momento, Viola levantou a vista. — Você já comunicou ao duque?

 —  Não. Achei que deveria primeiro falar com você.Ela confirmou com a cabeça. — Te disse que gostaria muito de sua companhia comigo em Enderby e eu

não teria dito se não fosse verdade. De qualquer maneira Anthony não vaigostar. O que ele vai fazer sem você?

Daphne mordeu a língua para não responder que Anthony não ia lamentarem nenhum momento sua partida.

 — Encontrará outra pessoa para o posto. — Mas jamais tão boa como você. Na outra noite sir Edward nos contava a

quão dotada é você para este trabalho. Admira muito sua inteligência e seusconhecimentos.

E isso era tudo que admirava nela, já que ela era como um inseto e nãotinha nenhum atrativo físico. Daphne não queria pensar nessas palavras nuncamais. A luz do novo dia, se lembrou, sentia vontade de lhe atirar na cabeçaalgumas de suas preciosas ânforas samarianas.

 — Esta escavação e o museu significam muito para meu irmão  — continuouViola. — Ele quer que você fique aqui até que o projeto esteja concluído; não vaideixar você ir.

Daphne não se importava com nada que Anthony deseje.

 —  Não ficarei forçada. — Anthony é duque desde que tinha doze anos. Está acostumado que as

coisas saiam como ele quer. Ele passa toda vida fazendo isso. —  Não pode me obrigar a ficar. — Oh, Daphne, você subestima o poder do duque. A noticia de sua partida

não agradará nada a ele, especialmente quando souber que sou eu quem te leva.O coração de Daphne deu um salto.

 — Odiaria ser a causa de um confronto entre você e seu irmão  — disse,tentando disfarçar seu desgosto. — Entenderia se você retirar seu convite.

Viola considerou a situação por um instante e então negou com a cabeça. —  Não vou fazer isso! Em minha opinião é inconcebível que uma jovem

que é filha de um cavalheiro e neta de um barão tenha que se sustentar na vida.Você merece recuperar seu lugar na sociedade e Anthony está apenas sendoegoísta. Será um prazer ter você comigo em Enderby.

O alivio de Daphne foi tão grande que quase caiu da cadeira. — Obrigada. Estou em dívida contigo. — De nada. Gostaria muito de sua companhia. Tudo o que eu te peço é que

quando você desistir de seu trabalho dê há Anthony um mês antes de ir embora.

Precisará desse tempo para encontrar alguém que te substitua.Mas um mês ali sabendo o que Anthony pensava dela seria difícil de

Page 37: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 37/201

 

suportar, mas não tinha outra escolha. — Claro.Viola pegou a caneta e escreveu numa folha de papel.

 — Irei embora daqui em breve e irei para Chiswick. Esperarei lá sua

chegada dentro de aproximadamente um mês. Se você mudar de ideia, meescreva para esse endereço.Daphne pegou o papel que lhe dava.

 —  Não mudarei de opinião. —  Não estou segura disso. Esta escavação é muito importante para Anthony

e ele não vai gostar de perder você. Conheço muito bem a meu irmão. Pode sermuito persuasivo quando quer. E muito teimoso.

Daphne não respondeu. Iria embora e não tinha mais nada a dizer.

Anthony cavou o solo com cuidado, retirando a terra sem causar danos aos possíveis tesouros que poderia encontrar debaixo dela.

Ele era provavelmente o único nobre de toda Inglaterra que realmentegostava do trabalho físico, pensava enquanto apertava sua bota contra a pá paraconseguir outro monte de terra úmida. A grande maioria de suas amizades seescandalizaria se o vissem agora, coberto de areia, sem camisa e com o corpoensopado de suor.

Ele jogou todas as pás de areia na caixa de madeira ao seu lado e ao fazerisso viu que a senhorita Wade se aproximava, abrindo o caminho entre os

trabalhadores e nos muros meio descobertos da escavação. Ele parou e colocou acamisa antes dela chegar.

 — Posso falar com o senhor um momento?  —  perguntou.  — É bastanteimportante.

 — Aconteceu alguma coisa? —  perguntou enquanto se secava do suor com amanga da frente da camisa.

 —  Não, é um assunto pessoal. Poderíamos falar em particular?Suas palavras o deixaram surpreso. Por um lado, a senhorita Wade

raramente dizia mais de duas palavras seguidas. Por outro, não podia imaginar

que ela tivesse assuntos pessoais e menos ainda que quisesse discuti-lo com ele.Ele estava curioso, assim foi com ela até antika.

 — Sobre o que você quer falar? —  perguntou quando já tinham entrado. — Eu… — começou ela, e continuou em silêncio, olhando para frente,

concentrada na abertura da camisa desabotoada do homem, como se ela pudessever através dela. A luz do sol entrava pelas janelas se refletia nos cristais dosseus óculos, impedindo que ele pudesse ver seus olhos e sua atitude como decostume, não revelou nem um pouco do que estava pensando. Esperou.

O silêncio se estendeu. Impaciente por voltar a seu trabalho, Anthony

tossiu assim para captar sua atenção. Ela respirou fundo, levantou a vista e dissea última coisa que ele esperava ouvir.

Page 38: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 38/201

 

 — Renuncio a meu posto. — Quê?  — Anthony pensava que não tinha ouvido bem — . O que quer

dizer? — Que eu vou embora. — Colocou a mão no grosso bolso do avental e tirou

uma folha de papel dobrada. — Aqui tem minha carta de demissão.Ele olhou o papel perfeitamente dobrado que ela lhe oferecia, mas não a pegou. No lugar disso, cruzou os braços sobre o peito e disse à única que poderia pensar.

 —  Não penso em aceitá-la.Uma espécie de choque alterou o rosto de Daphne, um lampejo de emoção

 proveniente da máquina. Anthony estava ainda mais impressionado. — Mas não pode recusá-la — disse ela franzindo a testa. —  Não posso. — A não ser que o rei me diga o contrário, eu posso fazer tudo o que quiser

 — respondeu, esperando aparentar autoritário.  — Para todos os fins, sou umduque.

Essa resposta só a desconcertou durante um instante. — É importante supor que sua importante linhagem deve me impressionar,

senhor?  — ela perguntou com voz calma, mas com um surpreendente ar deaborrecimento que nunca tinha. Ela aproximou a carta de novo e quando ele nãoaceitou, abriu a mão e deixou o papel cair no chão.

 — Senhor, me demito do meu posto. Vou deixar exatamente depois de ummês a partir de hoje.

Ela se virou para sair, mas a voz dele a deteve.

 — Posso saber para onde irá? Te convenceram a trabalhar em outraescavação… 

 — Vou para Enderby com lady Hammond. Ela me apresentará emsociedade e me ajudará a encontrar a família de minha mãe.

Aquilo era tão ridículo como aquilo que a sua irmã tinha sugerido. Sófaltavam apenas sete meses para a inauguração do museu. Apenas setes mesesem que tinham muito trabalho por fazer.

Que maldito interesse repentino de Viola por romance. Ela sabia oimportante que era para ele a escavação e também o vital que era a habilidade da

senhorita Wade para que seu projeto fosse bem. Não tinha intenção de deixarque aquela confusão chegasse muito longe.

 — Posso entender seu desejo de encontrar sua família, senhorita Wade, mas podemos realizar as investigações perfeitamente daqui. Viola não vai fazer nadaque envolva a senhorita ir embora sem o meu consentimento. Eu me recuso adar e já disse isso a ela.

Um sorriso, que não poderia se descrever como triunfante, se desenhou noslábios dela.

 — Lady Hammond me disse que a única coisa que tinha que fazer era falar

com o senhor e me demitir oficialmente do meu posto lhe dando um mês paraencontrar alguém que me substitua. — Ele apontou para a carta no chão: — Olha

Page 39: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 39/201

 

agora que eu fiz. — Encontrar um substituto? Por Deus, mulher, gente como a senhorita não

cresce em árvores! A senhorita sabe perfeitamente que qualquer um que tenhaseus conhecimentos em restauração já está comprometido em um projeto com

anos de antecedência, levei três anos para encontrar seu pai. O museu abre daquia sete meses e a senhorita sabe que a villa precisa no mínimo de cinco anos detrabalho. É impossível substituí-la a estas alturas. Me comprometi com ele noClube de Antiquários e que o museu estaria aberto para a temporada de Londres,afim de atrair o máximo de interesse possível. Não atrasarei a inauguração

 porque a senhorita se demitir de repente e põe na cabeça que quer ir a Londres para procurar um marido e aproveitar da frívola vida social. Você não pode sairaté que o projeto seja concluído. Eu tenho projetos a cumprir e eu dei minha

 palavra. — Senhor, senhor, senhor!  — gritou ela. Um surto que surpreendeu

Anthony. Não só porque ela se atreveu a falar nesse tom, mas porque era a primeira vez que a tinha visto expressar alguma emoção.

 — Pode ser que o senhor seja duque  —  prosseguiu Daphne — , mas não é osol que todo mundo tem que girar. Na verdade, é tudo o contrario. O senhor é ohomem mais egoísta que jamais tinha conhecido, além de imprudente. Sempredar ordens aos seus trabalhadores e empregados sem nunca dizer sequerobrigado e nem por favor. Não se importa com que as pessoas sintam, é tãoarrogante que acha que seu título lhe dar permissão para se comportar dessamaneira. Eu… — Ela parou e abraçou a si mesma, para tentar controlar suas

emoções. Ela tinha que fazer. Essa torrente de inexplicáveis críticas eraminjustas e indesculpáveis.

Ele abriu a boca para repreendê-la por sua explosão, como faria comqualquer pessoa que estivesse a seu serviço, mas ela falou antes que ele pudessefalar algo.

 — A pura verdade, senhoria, é que não gosto do senhor e que não desejocontinuar trabalhando para o senhor nem mais um dia sequer. Falei com ladyHammond se quiser saber, mas eu só vou embora dentro de um mês, não meimporta se a proíba de me ajudar.

Anthony olhou para ela de volta enquanto ela saia de antika sem dizer maisnada. Não sabia se a seguia ou pedia explicações a Viola por lhe ter enchido acabeça de bobagens. Finalmente, não fez nenhuma dessas coisas.

Em vez disso, se abaixou e pegou a carta de demissão da senhorita Wade.Ele a abriu e leu as duas linhas escritas em caligrafia perfeita e precisa.

Ao voltar a dobrar a carta, uma lembrança lhe veio à mente, no dia quechegou a Tremore Hall, fazia cinco meses. Hoje não tinha sido o primeiro diaque a senhorita Wade tinha lhe surpreendido.

Durante muito tempo, ele queria escavar as ruínas romanas que tinham em

sua fazendo e imaginava o museu que exibiria suas descobertas. Um lugar ondeos apenas os ricos e privilegiados poderiam conhecer sua historia, mas também

Page 40: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 40/201

 

todos os cidadãos da Inglaterra, sem se importar sua classe social. Não havianada disso em Londres.

Sir Henry Wade era reconhecido internacionalmente como o melhorrestaurador e antiquário vivo do mundo e Anthony queria o melhor para sua

escavação. Demorou três anos em convencer a sir Henry de aceitar trabalhar para ele. Enquanto, tinha sido obrigado a contratar a outros, muito menoscapacitados e com menos pericia, mas tinha conseguido convencer sir Henry devoltar para a Inglaterra e tomar as rédeas de seu projeto.

Entretanto, não foi esse excepcional cavalheiro a quem encontrouesperando na ante-sala do grande salão de Tremore Hall aquela tarde de marçocinco meses atrás. De pé, entre as estatuas de bronze, as colunas de mármoreverde e as lâmpadas de cristal da ante-sala, encontrou uma jovem séria de rostoredondo e óculos dourados, uma mulher que seu mordomo que lhe tinha dito queera a filha de sir Henry Wade. Vestida com um velho casaco marrom de viajem,umas botas marrons de coro grosso e um grande chapéu de palha, com umsimples baú aos seus pés, parecia tão seca como o deserto do Marrocos de ondetinha chegado.

Com uma suave e educada voz que não exalava nenhum sentimento pessoal, lhe disse que seu pai tinha morrido e que ela estava ali para ocupar olugar de sir Henry e completar a escavação.

A recusa imediata dele devia tê-la feito correr para a porta, mas não fezisso. Ignorou totalmente suas palavras como se não tivesse dito nada e falou comele em troca de seus conhecimentos e suas experiências de um modo conciso,

enumerando metodicamente todas as razões porque ele deveria permitir que elaocupasse o posto de seu pai.

Quando finalmente, usando seu tom mais autoritário, ela a interrompeu lhedisse que tinha escolhido ao seu pai porque queria o melhor restauradordisponível e que não tinha nenhuma intenção de contratá-la e sim seu pai,Daphne não discutiu. Não tentou apelar a seu cavalheirismo nem sua simpatiacom nenhuma historia comovedora sobre o muito que precisava do trabalho.Simplesmente, piscou atrás de seus óculos e lhe olhando com um rostoinescrutável, como uma pequena e solene coruja, respondeu muito séria:

 — Eu sou o melhor restaurador disponível.Ela ignorou sua risada incrédula e continuou.

 — Sou a filha de sir Henry Wade que era o melhor. Ele me ensinou e agoraele está morto, não há ninguém mais qualificado que eu para este trabalho.

Ela não tinha intenção de contratá-la, mas ele tinha pouca escolha. Parasobreviver, aceitou e a fim de proteger sua reputação, mandou que o senhor e asenhora Bennington deixassem sua residência no campo e se instalarem em suacasa. Assim a senhora Bennington atuaria como sua dama de companhia.

Durante os cinco meses que a senhorita Wade estava ali e ela havia podido

comprovar que não tinha exagerado. Sabia mais sobre a antiga Roma e seustesouros do que poderia nunca chegar a aprender. Era uma excelente

Page 41: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 41/201

 

restauradora de mosaicos e seus afrescos eram de realmente perfeição. Elequeria o melhor e tal como ela havia lhe dito sem rodeios e era realmente.

Anthony saiu de seu devaneio e amassou a carta na mão em uma bola. Atéo projeto não estivesse concluído, a senhorita Wade não iria a parte alguma. Se

ele tinha o melhor restaurador, iria encontrar a melhor maneira de conservá-lo.

Page 42: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 42/201

 

Capítulo 6

Viola já tinha previsto que Anthony não gostaria nada da ideia de Daphnese demitir e quando entrou em sua sala de estar, quase uma hora depois queDaphne tinha se despedido, sabia que estava certa. Estava uma fera.

 — A senhorita Wade quer ir embora  — disse sem rodeios.  — Você que aanimou a ir, não é?

Viola levantou a vista de suas cartas e olhou primeiro a sua empregadaCeleste, que fez uma pausa de costurar seus vestidos e a Anthony.

 — Se vamos brigar  — respondeu com calma — , preferiria fazer em particular.

Anthony disse a empregada: — Deixa-nos — ordenou.A moça deu o último ponto no vestido e o colocou no manequim, fez uma

rápida reverência aos dois e saiu da sala.Viola observou seu irmão um momento. Viu que tinha a testa franzida e o

maxilar fechado. Sua aparência era realmente intimidante, inclusive para ela. — Daphne veio me ver  — lhe explicou —   e me disse que tinha decidido

renunciar a seu posto. Que tinha intenções de encontrar o seu avô e freqüentar asociedade e se tudo fosse bem, poderia conhecer algum bom jovem educado.Pediu-me ajuda. O que poderia fazer?

 — Se recusava. Me parece uma resposta obvia. —  Não posso fazer semelhante coisa. Ela é neta de um barão. — Talvez. Isso ainda não sabemos.Viola ignorou o comentário.

 — Mas é filha de um cavalheiro então  — continuou sorrindo.  — Eu gostodela, nos tornamos amigas e acho que ela merece ter a oportunidade de

encontrar a sua família. Não é uma qualquer empregada criada num orfanato. Éuma jovem dama e merece ocupar o lugar que lhe pertence na sociedade. — E essa aventura de vocês não pode esperar até a primavera? Ou melhor

ainda, daqui a cinco anos? — Você não tem compaixão, Anthony!  — lhe brigou Viola — . Cinco anos

eliminariam qualquer oportunidade que estivesse no mercado de casamento.Além do mais ela que deseja ir e você não pode culpá-la de querer conheceu seuavô. Eu disse a ela que estava convencida de continuar com esse plano, que aajudaria, mas primeiro tinha que falar contigo.

Ele a olho sarcástico. — Você que a incentivou a se demitir.

Page 43: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 43/201

 

 —  Não me neguei a ajudá-la, se é isso que você quer dizer. Daphne temtodo o direito de reclamar seus privilégios de nascimento.

 —  Não me refiro a isso. Você a deslumbrou lhe contando o quanto Londresé excitante, os divertidos que são os bailes, as festas, inclusive se ofereceu a

ajudá-la a encontrar um marido. Só Deus sabe que outras estúpidas ideias lhecolocou na cabeça! —  Não há nada de estúpido em desejar entrar na sociedade, conhecer gente

e encontrar um marido. Aqui ela se sente muito sozinha e você sabe disso. — Essa não é a questão  — respondeu ele.  — Você sabe o quão importantes

que são este museu e a escavação. Você sabe que tenho obrigações a cumprir. Não posso acreditar que você está fazendo isso, Viola.

Ela levantou as mãos e as moveu incrédula. — Anthony, você parece muito alterado. Não entendo por que você se

importa tanto com o que ela faça ou deixe de fazer. A única que coisa que tensque fazer é substituí-la.

 — A senhorita Wade é insubstituível. É de suma importância para o êxitode meu projeto e não irá a nenhum lugar nos próximos sete meses. Nem emcinco anos, e eu conseguirei da minha maneira.

Viola começou a rir. — Caro irmão, não pode obrigá-la a ficar aqui contra sua vontade. A

escravidão é contra a lei, não sabia?Ele não achou nada engraçado.

 — Quando a contratei, ela contraiu uma obrigação comigo até que este

 projeto estivesse finalizado. Agora quer faltar a seu compromisso. E ainda teve acoragem de me chamar de insensível.

 — Ela fez isso?  — Viola estava surpreendida. Anthony tinha uma posiçãotão elevada que muita gente, inclusive ela mesma, não se atrevia a falar com elenesses termos. —  Não posso acreditar.

 — Pode acreditar, porque foi isso que disse. Que nunca lhe peço por favor enem lhe digo obrigado. Disse que sou insensível, arrogante e, qual era o outro?,Ah, sim, egoísta. Me disse que se demitia porque não queria trabalhar para mimnem mais um dia.

Parecia indignado e ofendido e também desconcertado: não entendia nadado ponto de vista de Daphne. Viola estava assim um pouco confusa. O que teriaacontecido com Daphne para se atrever a falar assim? Parecia uma pessoa tãocalma e serena.

 — Anthony, quando ela disse a você que se demitia, o que você fez?Repreendeu, suponho.

 — Claro que não. E a lembrei de seu dever somente a mim e as obrigaçõescom o clube. De repente ela explodiu e começou a falar todo tipo de insultoscontra minha pessoa. Quem ela pensa que é para falar assim comigo?

Ainda não tinha entendido o repentino desejo de Daphne de abandonarHampshire, Viola podia ler entre linhas o respeito de seu irmão e não tinha

Page 44: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 44/201

 

nenhuma dúvida de que tinha feito Daphne explodir foi à rejeição de suademissão. Provavelmente, Anthony tinha enumerado tudo o quanto que eraimportante para ele, independente do quanto era importante para ela.

Viola tinha vontade de rir. Sentia um grande afeto por Anthony, mas tinha

seus defeitos e Daphne não havia hesitado em apontá-los. Começava a sentir umgrande respeito por Daphne. Ela talvez fosse reservada, mas também era capazde dizer o que pensava e de enfrentar Anthony.

 —  No que essa menina estava pensando? —  prosseguiu ele, andando até suairmã. — Ela não sabe qual o seu lugar? Meu Deus, ela não sabe o que eu poderialhe fazer por seu comportamento?

Viola o observava andar de um lado par o outro, como um leão enjaulado e percebeu que nunca o tinha vista assim. Sem dúvida, era a primeira vez em suavida que escutava semelhante críticas e se sentia tão ofendidos com elas que suafrieza e seu autocontrole o tinham abandonado. Se Daphne lhe tinha provocadoessa reação, provavelmente porque tudo o que tinha dito era verdade e que nofundo ele sabia.

 — Um duque pedindo as coisas como por favor e dizendo obrigado  — continuou. — Isso não é ridículo?

Viola estava demais preocupada para responder. De repente ela teve umaideia, um pensamento que antes parecia impossível, mas que pouco a pouco foitomando força. Oh, seria maravilhoso convencer a Anthony de que se casassecom Daphne em vez de casar com lady Sarah.

Quanto mais ela pensava mais ela gostava da ideia. Se Daphne era

realmente neta de um barão, poucos se atreveriam a dizer que não era adequada.Desde que Viola tinha visto sua expressão outro dia, sabia que apesar de suecomportamento distante, Daphne era uma mulher de grandes paixões. Estavaapaixonadíssima por Anthony e por outro lado, parecia saber bem o que queria,além de ter ousado enfrentar o duque, tudo previa um futuro feliz. Claro queantes deveria mudar a equivocada opinião que ele tinha dela, assim como aintenção de Daphne de ir embora dali e de repente sentiu antipatia por ele, umsentimento que ainda intrigava Viola. De onde tinha vindo?

 — Oh, Meu Deus!  — exclamou, compreendendo tudo de uma só vez.  — 

Claro. Como não percebi antes? — Isso que eu quero saber.  — A voz de Anthony a interrompeu e se deu

conta que tinha falado em voz alta.  — Estou tão aborrecido com você comoestou com ela. O que você estava pensando?

Viola deixou seus pensamentos de lado por um momento e respondeu: — Desculpe se te aborreci, Anthony.Com certeza Daphne tinha escutado a conversa entre ela e Anthony que

tiveram na sala de música. Isso explicava tudo. Não era de estranhar quequisesse ir embora tão depressa, que quisesse freqüentar a sociedade e encontrar

algum pretendente que a consolasse. Se não, nem se atreveria a atacar Anthony.Que mulher não se ofenderia se a comparassem com um inseto?

Page 45: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 45/201

 

 — Pelo menos você deveria ter me consultado  — ele falou enquantocontinuava andando.  — Ela teve a coragem de me dizer que ela estava sedemitindo porque não gostava de mim. É preciso ter coragem. Eu não tenho quegostar dela, quem ela pensa que é?

 — Obviamente, uma mulher que não tem medo de dizer o que pensa.Apesar de querer muito que seu irmão mudasse de opinião que tinha deDaphne, se perguntava se valia à pena. Daphne estava apaixonada por ele, dissotinha certeza, que fazia seu orgulho ferido fosse muito mais difícil de curar.

Juntar os dois de repente parecia uma missão impossível e Viola estava sedesanimando. No entanto, Daphne era uma pessoa amorosa e faria Anthonymuito mais feliz que Sarah.

 — Ela tem todo o direito de pensar assim, Anthony.Ele parecia irritado e continuou a andar.

 — Você é a responsável por toda essa situação. Espero que você retire suaoferta para a menina agora.

Viola cruzou os braços e teimosa uma característica da família, respondeu. —  Não farei isso. Se Daphne quiser vir comigo, não me recusarei.Anthony deixou de andar e a olhou com intimidação de duque.

 — Vai me desafiar?Ela se manteve firme.

 — Eu tento fazer o que é correto. Daphne merece encontrar sua família eocupar seu lugar na sociedade. Eu ofereci minha ajuda nesse sentido e aconvidei a ficar comigo em Chiswick A apresentarei em sociedade, lhe

apresentarei as amizades mais adequadas e a apresentarei aos solteiros maiscobiçados. Não vou retirar meu convite só porque para ti não convém. Se vocênão quiser que ela vá, sugiro a você que encontre uma maneira de convencê-la aficar. Se possível.

Quando ela acabou de dizer essas palavras, a esperança de Viola renasceu.Anthony nunca recusava um desafio. Tal como esperava, seu irmão a olhou edisse:

 — Eu posso e vou. — Posso sugerir que se você tentar convencê-la a ficar, mostre a ela seu

lado mais suave?  — continuou Viola sorrindo.  — Você terá mais chances deconseguir mudar de idéia se você se lembrar que é ela é uma jovem e temsentimentos, suas necessidades e seus próprios sonhos de mulher. Daphne não éuma máquina. Se chegar a conhecê-la, talvez consiga entendê-la e que irá te

 beneficiar.Ele não reagiu quando ele lhe lembrou a descrição que ele fez de Daphne,

nem agradeceu o conselho. Em vez disso, se dirigiu a porta. — Vou me lembrar. — Bom. Então acho que vou embora amanhã mesmo e irei a Chiswick. Não

quero me ver mais envolvida neste assunto. — Excelente. — Ele parou na porta para olhar por cima do ombro — Eu irei a

Page 46: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 46/201

 

Londres dentro de uns meses e então irei a Enderby para ver como está tudo. SeHammond fez algo… 

 — Vou avisar você logo. — Sim.

Viola olhou seu irmão indo embora e desejou com todas as suas forças queDaphne e Anthony ficassem juntos. Tentar ser cupido era complicado, masacreditava que aqueles dois realmente tinham possibilidades. Na realidadeDaphne não era tão bonita como lady Sarah, mas as suas formas eramigualmente atrativas. Além do que compartilhava dos mesmos interesses deAnthony e tinha inteligência e senso comum suficiente como para poder manejarcom facilidade a casa de um duque. Ela estava apaixonada e tinha um bomcoração. Embora ele não percebesse isso, Daphne era a mulher que poderia fazê-lo feliz. Seria um casamento perfeito.

Mandou Celeste preparar sua bagagem. Havia feito tudo para assegurar a possível futura felicidade de Anthony, teria de se contentar com isso. Podia fazerno máximo escrever uma ou duas cartas para guiar os dois para um bomcaminho, mas se o amor estava destinado a surgir entre eles, deveria nascer deuma maneira espontânea. Agora o melhor que podia fazer era embora e deixá-los sozinhos.

Além de ajudar a Anthony a encontrar uma esposa que o amasse, tambémteria a satisfação de vencer lady Sarah Monforth, uma das damas maisdesprezíveis de toda a Inglaterra. A ideia de obter também esse doce triunfo fezViola sorrir.

Daphne observava como dois trabalhadores entravam num grande ponto dosolo de mosaico dentro de antika. Fechou os olhos quando um grande golpemarcou a porta e um pequeno pedaço quebrou e caiu no chão.

 — Oh, por favor, tenham cuidado. —  Nunca peça, por favor, aos trabalhadores  — lhe sussurrou no ouvido um

voz suave. — Se pedir, não a respeitarão.O som das palavras de Anthony, logo atrás dela, a sobressaltou e Daphne se

virou. — Obrigada pelo conselho, senhor  — disse ela — , mas eu sempre estive

rodeada de trabalhadores em toda a minha vida, eu acho que posso administrarsem a sua ajuda para mover um piso de mosaico.

E dizendo isto, se afastou, mas podia sentir o olhar de Anthony nas suascostas enquanto seguia os homens na Antika.

 — Obrigada — lhes disse quando depositaram o pavimento encima da mesade trabalho — . Agora precisaria… 

 — Saiam — interrompeu Anthony atrás.

Os homens obedeceram imediatamente, ignorando os protestos de Daphne,quem enfrentou ele quando os trabalhadores tinham saído do edifício.

Page 47: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 47/201

 

 — Suponho que não tinha lhe ocorrido se perguntar se eu necessitava de suaajuda antes de despedir-los.

 —  Não  — respondeu ele, direto como sempre — . Queria falar com asenhorita em particular, então eu os mandei sair.

 — Sempre consegue o que quer?Daphne viu como levantava as sobrancelhas, surpreso com suaimpertinência e não pode evitar sentir um pouco de satisfação. Se mostrarindiferente era tão fácil agora que já não sentia nada por ele… 

 —  Normalmente sim  — respondeu Anthony.  — Talvez porque souarrogante, insensível e egoísta, já me disse isso.

Ouvi-lo citar suas próprias palavras a desconcertou um pouco, mas seesperava que se desculpasse, estava muito equivocado.

 — Todos os duques são assim  — continuou ele.  — É a maneira que noseducam. Crescemos rodeados de gente que só espera satisfazer nossos menoresdesejos e obedecer qualquer ordem sem questioná-la. Não espere que um duquese comporte de outro modo.

Ela mexeu a cabeça em diferença a seu superior conhecimento sobre osduques.

 — Como o senhor como exemplo, asseguro-lhe que não vai conseguir o quequer.

Ele proferiu um ruído entrecortado que soou como uma risada suspeitos e osentimento de satisfação de Daphne se evaporou. Ela tinha querido que suas

 palavras lhe doessem.

 — Vejo que finalmente encontrou sua voz, senhorita Wade — comentou ele,com displicência.

 — Eu não sabia que a tinha perdido — replicou ela rapidamente. — Pelo queeu sei, tem estado comigo todo este tempo.

 — Um fato que só estou descobrindo agora — murmurou Anthony e deu um passo em direção a ela, mas Daphne não retrocedeu. Pelo contrario, lhe encaroufirmemente o olhar enquanto a estudava.

 — Seus olhos não são azuis  — disse ele, surpreso, como se tivessedescoberto algo inesperado. — Eles são cor de lavanda.

O coração de Daphne se explodiu e toda a sua recente confiança aabandonou. Havia algo no olhar dele, em sua voz, que a feriram e fizeram selembrar da mulher que havida sido até o dia anterior, uma mulher afortunadaque não sabia a dor que era a de um coração quebrado.

Respirou profunda e serenamente. Essa mulher já não existia e agoraocuparia seu lugar não sentiria dor por causa dele. Nunca mais.

 — Certamente sua senhoria não queria comentar sobre a cor dos meusolhos. — Ao ver que ele não respondia, se virou. Por cima do ombro, continuou:

 — Seja o que quiser discutir, espero que não me incomode que trabalhe enquanto

falamos.Daphne tomou seu silencio como uma afirmação. Não fez nenhuma

Page 48: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 48/201

 

tentativa de averiguar por que queria falar com ela. Ele poderia estar em suadimensão ou algo relacionado com a escavação. Não lhe importava. Tudo o quequeria era sair.

Caminhou até a mesa em que estava o mosaico a espera de que ela o

restaurasse. Examinou a mistura preparada antes e a removeu com uma espátulade madeira para estar segura de que tinha a consistência adequada. Satisfeita,levantou a tampa da caixa de madeira contendo pequenos azulejos. Todas essas

 peças tinham sido encontradas na mesma parte da escavação e as tinhasseparado em cores. Agora tinha que selecionar as que utilizariam para preencheros ocos do mosaico.

Enquanto escolhia vários quadrados de mármores azuis verdes e oscomparava com o verde oceânico do mosaico, esperava o que Anthony falava,mas não fez isso, assim levantou olhar e o encarou e se encontrou com ele queainda a estava observando.

 — Disse que queria falar comigo — falou subitamente. — Sim, claro.  — Ele saiu de seu devaneio e caminhou até onde ela estava.

 — Minha irmã já partiu para Chiswick. — Sim, eu sei…— respondeu Daphne e selecionou a caixa pelos pequenos

azulejos de cor verde rio e azul cobalto.  — Ela se despediu de mim faz umtempo, enquanto preparam sua carruagem.  — E não ela não pode resistir eacrescentou: — Há verei dentro de um mês.

 — É disso que eu queria falar com a senhorita.  — Fez uma pausa econtinuou: — Senhorita Wade, apesar de ser uma mulher, eu cheguei a valorizar

enormemente suas qualidades como restauradora e como intelectual.Daphne pensou em todas as horas que tinha trabalhado para lhe demonstrar

seu valor e ganhar seu respeito. E agora, quando já era tarde demais, efinalmente quando lhe oferecia uma pitada de seu respeito. Ela deveria ficarimpressionada com tal condescendência?

 — Obrigada, senhor. O senhor apesar de ser um duque, parece ter certosconhecimentos sobre antiguidades.

Desta vez, ele riu abertamente, sem fazer nenhum esforço para ocultar suadiversão.

 — Sim, realmente tem voz. E agora já não tenta escondê-la. Não esperava que respondesse e ela tampouco tinha intenção de fazer. No

lugar disso, Daphne se concentrou em seu trabalho. Começou a comparar as pedras que tinha na mão com as que já tinha colocado em espaços vazios;escolheu a que se parecia mais. Enquanto trabalhava, tentava ignorar o homemque estava de pé ao seu lado. Gostaria que dissesse o que tinha dito e depois irembora. Passou uma eternidade até que ele falou.

 — Eu gostaria que ficasse.Apertou as pedras que tinha na palma da mão, mas apenas por um

momento. O que ele não queria não lhe importava. —  Não.

Page 49: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 49/201

 

Esperava ter dado o assunto por resolvido e se abaixou para comparar mais perto das colocações de azulejos.

 — Muito verde, acredito — murmurou para si enquanto se erguia e deixavade lado a peça descartada. Se aproximou de novo da caixa, mas antes que

 pudesse selecionar uma nova peça, os dedos de Anthony rodearam a suamunheca detendo seu movimento. — Ao menos, não pode me negar à oportunidade de fazê-la mudar de

opinião — disse. — Seria uma perda de tempo. Estou lhe deixando. — De onde vem esse repentino desejo ir embora?Seu dedo acariciava sua munheca e Daphne sentiu como lhe acelerava o

 pulso. Com raiva de si mesmo, se soltou. — Minhas razões não são de sua conta. — Viola me contou sobre seu avô. Se a senhorita deseja conhecê-lo eu

 poderia lhe ser de muita ajuda nesse sentido. Se ficar aqui até que a escavaçãoacabe, usarei minhas influencias necessárias para encontrá-lo.

Ela preferia morrer a aceitar sua ajuda. —  Não necessito desse tipo de ajuda, senhoria. Eu gostaria de conhecer meu

avô porque acho isso correto, não porque se sentiria intimidada por um homemde um nível mais alto. Também, não quero ficar aqui. Tenho estado trabalhandoem escavações em toda minha vida e quero mudar de ares. Quero conhecergente nova.

 — E segundo ouvi, também quer encontrar um marido.

Daphne se incomodou com essas palavras. Não pode detectar nenhumasuspeita de escárnio em sua voz, mas devia estar rindo-se interiormente ante aideia de que alguém quisesse se casar com ela.

 —  Não vejo nada de errado nisso. — Se seu objetivo é se casar, senhorita Wade, me permita dissuadi-la. Nesta

vida é muito melhor não procurar complicações, se possível. — Obrigada por sua cínica opinião sobre o tema, senhoria, mas não a

compartilho. Eu gosto de acreditar que o casamento é uma combinação de amor,respeito e companhia, não é uma complicação. E como disso, há muitas outras

razões por que me demito do meu posto. — Então não gastarei saliva tratando de convencê-la de que a esqueça. A

única que peço é que adiei até que minha escavação esteja acabada ou nomínimo, até que o museu esteja aberto.

Quando ela não respondeu e continuou escolhendo as pedras como se elenão estivesse falando, Anthony se aproximou mais, o bastante para que cada vezque ela mexia o braço, seu cotovelo o roçava.

 — Eu pensei que gostasse de seu trabalho, senhorita Wade  — murmurou. — Acredita que era feliz aqui.

Daphne se deteve, uma enorme dúvida a invadiu. Sim, ali ela tinha sidofeliz, tinha desfrutado de seu trabalho; um trabalho que era agradável e familiar

Page 50: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 50/201

 

e que a enchia de orgulho e estava a ponto de abandonar todo esse por ummundo muito diferente. Não pode evitar se perguntar se estava fazendo ocorreto.

 Não, no dia anterior tudo tinha mudado, sua felicidade tinha sido destruída

e não queria continuar trabalhando para um homem que a respeitava tão pouco. —  Não há nada que o senhor possa dizer para me convencer de que eu fiqueaqui mais de um mês.

 — Eu dobro seu salário. —  Não. — Eu triplico então.Ela interrompeu seu trabalho com um exasperado suspiro e virou a cabeça

 para olhá-lo. — O senhor é incapaz de entender a palavra «não»? — Tenho certa dificuldade com essa palavra concreta — reconheceu ele. —  Não me surpreende  — respondeu ela retomando seu trabalho.  — 

Certamente não ouvi muitas vezes. — Raramente  — aceitou Anthony.  — Sou arrogante, reconheço  — 

continuou — , e todo o resto. Eu admito, senhorita Wade. Mas lhe peço paraesquecer meus defeitos, aceite minha oferta de triplicar-lhe o salário e fique.

Daphne não estava surpresa com suas sinceras tentativas de auto-desprezo,mas nunca mais ia ceder a ele.

 — Quanta persistência, senhor, os meninos de rua de Cairo poderiamaprender com o senhor, mas a minha resposta continua sendo não.

 —  Não poderia ficar no mínimo até março? Eu prometi a meus amigos queo museu estará aberto até o dia quinze desse mês. Preciso dos melhores que

 posso encontrar para este projeto. Como a senhorita mesma me assegurou umavez que é a melhor restauradora disponível. Não posso encontrar ninguém tãocapaz como a senhorita.

Ela não se empolgou com seus elogios. — Esse é o problema — respondeu friamente. — Certo. — Ele se afastou dela e não disse mais nada.O silencio se prolongou e Daphne esperava que finalmente tivesse aceitado

sua demissão. No entanto, um momento antes, ele falou de novo e suas palavrassugeriram o contrario.

 — Eu gostaria de chegar a um acordo.

Page 51: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 51/201

 

Capítulo 7

Ele era realmente impossível. Daphne soltou as pedras que tinha na mão,que se espalhou sobre a telha danificada e se virou para ele.

 —  Não tenho nenhuma intenção de chegar a um acordo com o senhor. — Me escute. Se ficar, não só triplicarei o seu salário, vou lhe pagar um

 prêmio.Ela fez uma careta de desprezo.

 — Isso não é um acordo. Isso é apenas que o senhor acha que pode comprartudo o que quiser.

 —  Normalmente posso. Outra característica dos duques acredito.O lado sábio e prático dela estava tentado de perguntar qual era o prêmio,

mas não fez. — O senhor não pode me comprar. — Palavras orgulhosas, senhorita Wade. E se não encontrar sua família? E

se não encontrar um marido com quem compartilhar amor e carinho? Que iráfazer? Não pode ficar com Viola para sempre.

 — Então procurarei trabalho. Aprenderei tudo o que posso sobre boas

maneiras e me tornarei uma instrutora. — A senhorita já tem um trabalho e o que faz é muito mais interessante que

ser instrutora. Garanto-lhe que as instrutoras ganham muito menos do que lhe pago aqui e seu trabalho é muito menos gratificante. A senhorita não gostaria.Acredite em mim pelo menos nisso, senhorita Wade.

 — Eu não acredito no senhor em nada, senhoria. — Porque eu não gosto da senhorita. — Exatamente.Ele não parecia chateado.

 — Então, se quiser que fique, serei obrigado a gostar da senhorita e ser maisdigno de sua confiança e de seu agrado. —  Não perca seu tempo. Não vou ficar. E encerrou o caso, procuraria outra

escavação aonde trabalhar. Estou convencida que sua irmã conhece muita genterica com villas cheias de ruínas romanas. Certamente que alguns gostariam deescavar essas ruínas. Parece estar na moda na Inglaterra.

 — E por que acha que contratariam a senhorita? — Por que não? — respondeu ela suavemente. — O senhor fez isso. — Isso é ridículo — disse impaciente. — Por que você quer ir para Londres

se a senhorita pode consegui-lo aqui? Tem os domingos livres para conhecergente nova. Estou certo de que a senhora Bennington lhe apresentaria aos

Page 52: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 52/201

 

habitantes daqui. — Que emocionante. E acredito que nos próximos meses o senhor faria

desfilar até mim todos os cavalheiros que conhece encontrar marido.Ele nem sequer piscou.

 — Se quiser. — Oh!  — exclamou ela. Já não podia agüentar mais.  — É o homem maisegoísta que conheci em toda a minha vida! Se acha que vou aceitar uma ofertatão ridícula… 

 — Eu vou te pagar em libras.Daphne pestanejou.

 — Desculpe? — Fique até que termine as escavações e lhe pagarei um prêmio de

quinhentas libras.Daphne tomou fôlego.

 — Está brincando. É uma quantia enorme. — Também é um dote. Muitos nobres estão arruinados. Seu avô, embora o

encontrasse, poderia não estar em uma situação de lhe procurar um dote é o queestou fazendo. Agora que eu lhe ofereci tudo o que eu queria, reconsideraráminha oferta e ficará?

Daphne baixou a vista e olhou as lustrosas botas negras de Anthony.Quinhentas libras era uma quantidade que nunca tinha visto em sua vida.

E se apesar da influencia de Viola, a família de sua mãe se recusasse areconhecê-la? Que aconteceria se Deus não quisesse, seus pais não estavam

casados e ela era ilegítima? Não conhecia suficiente a Viola para confiar nelaem caso de que um destas desgraças sucedesse. Que aconteceria se voltasse aficar sozinha sem nada nem ninguém?

Pensou na escura habitação do hotel de Tánger onde tinha passado oitosemanas atrás a morte de seu pai. Ele quase não tinha deixado dinheiro aomorrer. Ela tinha vendido seus livros e sua equipe para ficar o maior tempo

 possível. Quando só tinha dinheiro suficiente para agüentar outra semana,chegou à carta do advogado de seu avô aniquilando qualquer esperança. Daphnenão tinha se sentido tão assustada em toda sua vida. A única coisa que lhe

restava era um pequeno baú com sua roupa e todas as passagens a Inglaterra pagas pelo duque de Tremore.

 Nunca antes dessas semanas se tinha imaginado o perigoso que podia ser omundo para uma mulher sem família, sem dinheiro e sem ninguém a recorrer.Tinha estado à beira da miséria e não queria nunca mais voltar a se sentir tão

 precária.Anthony esperava e ela podia sentir seu olhar enquanto tentava se decidir.

Ressentia-se da complacência com que ele tinha jogado em sua cara quinhentaslibras, acreditando que aceitaria. Ele sabia perfeitamente que essa quantidade,

ainda que para ele fossem apenas algumas moedas, mas para ela era umafortuna.

Page 53: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 53/201

 

Talvez devesse aceitar. Seria muito mais prudente engolir seu orgulho edizer que sim, que se arriscar a um futuro incerto e desconhecido.

Daphne se manteve firme, se agarrou a seu orgulho e focou para ondeestava disposta a ir. Então, levantou o queixo, olhou Anthony diretamente nos

olhos e disse: — Deixe-me explicar minha resposta, senhoria. Ficarei até primeiro dedezembro, três meses, em vez de um. Durante esse tempo, restaurarei a maiorquantidade de antiguidades possível até minha partida, lhe ajudarei a encontraruma pessoa para me substituir. Uma mudança, o senhor me triplicará meusalário, vou ter outro dia de folga, quinta-feira seria ótimo e me pagaria o prêmiode quinhentas libras.

 — Deixe-me ver se entendi direito: eu triplico seu salário, lhe pago o prêmio, lhe dou outro dia de folga e em troca ficaria apenas três meses. Estálouca.

 — Esta quantidade de dinheiro não significa nada para o senhor. Louca ounão, é minha única oferta.

 — Tem certeza que não quer mais nada? Não gostaria de ter livres as tardesdos sábados para poder visitar seus amigos?

 —Já que perguntou…, sim, tem mais uma coisa. Eu gostaria que o senhorfosse menos sarcástico e mais educado. Pode ser que o senhor seja duque, maseu sou neta de um barão, filha de um cavalheiro e amiga de uma viscondessa e

 por isso tudo, mereço que me trate como uma dama e não como uma empregada.Ele levantou a cabeça e a olhou. Duvidava que valesse a pena continuar

discutindo, assim que aceitou. — Está bem. Aceito suas condições e farei tudo o que puder para ser mais

educado com a senhorita, mas lhe advirto uma coisa. — O que? — Até dezembro, não apenas serei educado, farei o possível para que mude

de opinião obrigá-la que fique até o fim da escavação. —  Não sou sua escrava e o senhor não pode me obrigar a nada. — Pois então digamos que a persuadirei. Quando quero posso ser muito

 persuasivo.  — De repente sorriu e seu sorriso foi como um sol deslumbrante

abrindo caminho entre as nuvens. — Quero que fique.Daphne tomou fôlego, seu sorriso tinha lhe afetado. Era consciente que ele

só estava sendo amável para conseguir o que queria, mas durante um instante deloucura esteve tentada de dizer-lhe que sim, que ficaria até o fim.

 — E eu, senhoria  — disse sem nenhuma emoção — , posso ser muitoteimosa.

 — Então estamos os dois advertidos  — replicou ele ainda sorrindo. Lhe fezuma reverencia e saiu da habitação.

Já sozinha, Daphne lembrou-se como tinha lhe afetado o sorriso de

Anthony a primeira vez que o viu.Ela estava esperando na sala anterior do grande salão, oprimida ante há

Page 54: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 54/201

 

tanta opulência e surpresa de que alguém vivesse num lugar como aquele.Tremore Hall não era uma casa, era um palácio.

O barulho das imensas portas se fechando atrás dela a assustou. O barulhodos fortes passos que se aproximaram lhe fez reviver o medo que tinha sentido a

se ver sozinha, pobre e desesperada. Mil perguntas cruzaram sua menteenquanto ouvia seus passos. E se a rejeitasse? E se lhe perdesse? Que faria senão pudesse convencer-lhe a contratá-la?

Então ele entrou na sala e ela ficou petrificada. Era o homem mais bonitoque tinha visto na vida: tinha o cabelo negro, os olhos cor de avelã com grandes

 pestanas e uns lábios carnudos. Mas essas características de menino travessoficavam desbotadas ante seus outros atrativos. Não tinha nada de infantil emsuas maçãs do rosto, nem em seu nariz reto, nem em sua mandíbula implacável.Daphne soube nesse mesmo instante que era um homem que destacava no meiodos outros. Sim Tremore era um palácio, e ele era seu príncipe.

Era muito mais alto que Daphne. Vestia botas de montaria, calças claras,casaco azul de veludo e uma camisa de linho branco imaculado. Seus grandesombros se destacavam embaixo da roupa e seu corpo bloqueava a porta porcompleto. Não se parecia a nenhum homem que Daphne tivesse visto antes. Elaestava acostumada aos magros e envelhecidos árabes que trabalhavam nasescavações. Nada tinha preparado para o duque de Tremore, que exalava força,vitalidade e poder por todos seus poros.

Se aproximou dela e com uma voz suave, disse: — Vejamos, a senhorita é filha de sir Henry? Onde está seu pai, senhorita

Wade?De algum modo, Daphne foi capaz de dizer a ele o que tinha acontecido,

disse-lhe que seu pai estava morto e que ele devia ainda assim, contratá-la.Inclusive agora, não sabia como tinha sido capaz de dizer-lhe. Seus olhosestiveram a estudando todo o tempo e ela chegou a pensar que ela sairia dali aoschutes.

Era evidente que ele duvidava de sua palavra, que não confiava em suashabilidades como restauradora. E quem poderia culpar-lhe? Ela estava ali,tentando convencê-lo de que não encontraria ninguém melhor que ela para sua

escavação. Tinha todo o direito a se mostrar cético.Mas no final não só lhe olhou, mas disse:

 — Está contratada, senhorita Wade. — E lhe estendeu a mão.Ela a aceitou, sentido-se muito aliviada e agradecida de ter a oportunidade

de demonstrar tudo o que sabia.A olhou e então sorriu assim se transformando de um príncipe frio para um

homem encantador. Este sorriso a deixou sem fala, quase fizeram seus joelhostremerem, lhe aceleraram o pulso e disparou todas as emoções que ela era capazde sentir. Todas, exceto o medo que durante tantos meses a tinham atormentado.

O medo tinha desaparecido. Ao lado daquele homem não tinha nada o quetemer, estava a salvo e voltou a ter um lugar no mundo. Nesse instante, se

Page 55: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 55/201

 

apaixonou pelo duque de Tremore.Por sorte, agora era melhor que cinco meses atrás. Tinham ficado longe a

admiração, a gratidão e deslumbramento. Tudo isso tinha se apagado, igual auma vela que se acende só por um instante. Que tonta havia sido.

Daphne voltou a se concentrar no seu trabalho. Por muito persuasivo queele pudesse chegar a ser, ela iria embora, já não podia conquistá-la com seusorriso. Se alguma vez tinha tido algum poder sobre ela, agora tinhadesaparecido. Não havia nada que Anthony pudesse fazer para que Daphneficasse até que passasse primeiro de dezembro. Nada.

Anthony gostava de levar uma vida tranqüila. Sempre que visitava TremoreHall se adaptava aos horários do campo e cumpria estritamente com a rotina.Pela manhã passeava com o senhor Cox, o capataz da fazenda, e repassava a elevárias questões. Logo se reunia com seu secretario, o jardineiro, a governanta eoutros membros do serviço para resolver qualquer assunto que pudesse tidosurgir. Ainda depois de cumprir com todas as suas obrigações ducais, podiatrabalhar varias horas na escavação. Jantaram no local as seis e as dez foram

 para cama.Mas desde a demissão da senhorita Wade, sua rotina tinha mudado. Estava

indignado, tudo lhe fazia pensar nela e na discussão que tinham tido e que aindanão saber como convencê-la para que ficasse.

Se lembrou dela quando o senhor Cox lhe explicou que tinha problemas

com os novos aquedutos e sugeriu que talvez a senhorita Wade pudesse ajudar-lhe. Depois de tudo, ela era uma especialista em aquedutos romanos.

Se lembrou dela quando levou sua correspondência. Muitas cartas faziamreferencia ao museu, inclusive uma de lord Westholme, membro do Clube deAntiquários e seu sócio nesse projeto. Westholme se lembrou da expectativa quetinha em torno da abertura próxima do museu.

Quando foi visitar o vigário, tampouco teve sorte, já que este insistiu emfalar-lhe da historia do homem rico e do cordeiro. Anthony declinoueducadamente seu convite para ficar e jantar.

A senhorita Wade contava com que ele encontraria um substituto antes dodia primeiro de dezembro. Mas a verdade era que ainda pudesse, não tinhanenhuma intenção de procurar.

O museu e a reconstrução da villa eram de vital importância. Ele não sóqueria impressionar os estudiosos, mas também que desejava que todo mundo

 pudesse ter acesso a sua própria historia. E isso requeria tempo.Devia convencer à senhorita Wade que no mínimo, ficasse até março e ele

 podia ser mais, muito melhor. Se pudesse sair com ele, ela permaneceria ali atéque a villa estivesse totalmente reconstruída, até que todos os mosaicos e todos

os afrescos estivessem pintados e todas as ânforas e todas as jóias estivessemdesenhadas, catalogadas e expostas em seu museu em Londres.

Page 56: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 56/201

 

Anthony soltou as rédeas de seu cavalo. Queria que  Desafio  galopasseenquanto ele analisava as diferentes táticas que podia utilizar para que elaficasse em Hampshire, durante os seguintes quatro ou cinco anos.

«O senhor não pode me obrigar a ficar.»

Ah, sim, sim que podia, talvez a senhorita Wade ainda era inocente demais para acreditar nisso. Já lhe tinha ocorrido varias opções.O dinheiro não há tinha convencido. Assim percebeu que tinha tentado de

tudo.Com todo o poder e a influencia que tinha, tinha certeza que pudesse

encontrar alguma maneira diferente para atingir seus objetivos, mas não queriaseguir esse caminho. No fim, era um cavalheiro honrado e não o homem cruelque ela achava.

 Não, Viola tinha razão. Sim queria que a senhorita Wade ficasse emHampshire mais valia mais habilidade do que forço. Quando chegou a TremoreHall, sabia exatamente o que ia fazer.

Page 57: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 57/201

 

Capítulo 8

Já era de noite quando finalmente chegou a casa. Ele ordenou o jantar e pediu a Richardson que lhe preparasse um banho quente; logo perguntou pelasenhorita Wade e averiguou se estava na biblioteca.

Estava amontoada em um dos sofás de coro que havia junto a janela.Estava lendo, com os pés escondidos embaixo de sua saia e os sapatos no chão.A luz do sol a iluminava a suave luz do candelabro em cima da mesinha nocanto.

Anthony caminhou até ela. Suas botas não fizeram nenhum ruído ao pisarno fofo tapete turco. Nunca a tinha visto tão tarde e se surpreendeu ao ver quenão tinha o cabelo preso naquele odioso coque. Em vez disso, tinha feito umagrossa trança, que, resplandecente, descansava sobre seu ombro.

Estava tão absorta em sua leitura que nem sequer levantou a vista quandoele se aproximou, o fato deixou ele muito irritado.

Era impossível que não se desse conta de que estava parado na frente dela.Anthony esperou alguns segundos que ela detectaria sua presença, mas não

 percebeu e assim se cansou. Nunca tinha sido um homem paciente, de modo que

tossiu. — Eu gostaria de falar com a senhorita por um momento.  — Ao ver que ela

não respondia, continuou:  — Por favor.Ela continuou lendo.

 —  Nosso acordo não combinava que eu trabalhasse de noite. Dado queagora é de noite minhas obrigações já foram finalizadas. Poderíamos deixar paraamanhã de manhã?

Anthony se perguntou se estava sonhando. No dia anterior ela teriacumprido sua ordem sem questionar nada, como qualquer outro membro de seu

serviço. Mas agora a senhorita Wade já não era a senhorita Wade. Numa noiteapenas tinha se convertido em uma criatura descarada, capaz de se demitir deseu trabalho sem se calar, de criticá-lo e inclusive capaz de dizer-lhe que seuhorário já tinha sido finalizado. Quando ainda tinha tanto por fazer!

«Não sou sua escrava.»Murmurou baixinho um monte de palavrões.Ao ouvi-lo a senhorita Wade levantou a vista.

 — Disse algo?Ele se deu conta que estava ali em pé, como um idiota, quando o que queria

de verdade era falar com ela. O problema era que ela não cooperava. Tinhadecidido que o melhor modo de convencê-la para que ficasse era fazer que sua

Page 58: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 58/201

 

vida ali fosse tão maravilhosa que não quisesse ir embora. Mas até agora nãotinha êxito.

Viu como ela se concentrava de novo no livro e voltou a tentar. —  Não quero falar de seu trabalho, que poderia dizer disso? Sempre é

impecável. — Obrigada — disse ela e passou para outra página. — Mas se acha que meagradando conseguirá que eu fique, está muito equivocado.

 — Senhorita Wade, não poderíamos fazer as pazes?  — Como ela nãorespondia, continuou: — Depois de tudo, vai estar aqui nos próximos três meses.Assim que… 

 — Dois meses, três semanas e três dias —  ela não pode evitar corrigir-lhe — , e nem um dia a mais.

Ele ignorou o comentário, pois não queria que voltassem a discutir. — Claro. Só queria dizer que vamos passar tanto tempo juntos e dado que

agora nós temos que acelerar o ritmo de trabalho, poderíamos manter umarelação cordial. Tenho pensado que para começar, poderíamos falar ummomento.

Ela hesitou por um instante, mas não recusou, mas apenas fechou o livro etirou os óculos. Deixou ambas as coisas encima da mesinha que tinha ao lado, sesentou corretamente no sofá, levantou a vista e se dispôs a conversar com ele. Eesqueceu completamente o que queria dizer.

Ela tinha lindos olhos. Era a primeira vez que a via sem seus horríveisóculos e a mudança o deixou sem palavras. A luz das velas, eles estavam

escuros, mas se lembrava que eles eram de uma extraordinária de cor lavanda.Sem os óculos impedindo, ele pode apreciar também que seus grandes olhosestavam rodeados de uns cílios longos.

Sempre tinha pensado que ela não tinha nenhum atrativo, mas vendo-aagora, Anthony percebeu que estava equivocado. Com os cabelos iluminados

 pelas chamas e aqueles enormes olhos mirando-lhe, percebeu que ela era bonita.Talvez não uma beleza deslumbrante, mas também não era comum.

 — Senhoria?Sua voz lhe fez retornar a realidade e lembrou o verdadeiro motivo de sua

visita. Se sentou diante dela e se concentrou em procurar um assunto deconversa inócuo e amável.

 — Que está lendo? —  perguntou finalmente. — Uma biografia de Cleópatra. — Verdade?  — Então olhou o delgado livro vermelho que tinha encima da

mesa. As letras douradas do título brilhavam a luz das velas.  — Esse estudosobre sua vida é bastante chato. Realmente queria entender Cleópatra, acreditoque em algum lugar tenha uma biografia muito melhor.

 — Que tem de mal nesta?

 —  Não tem valor histórico só fala de sua vida pessoal. — Isso é exatamente o quero saber. Eu sei tudo sobre o valor histórico dela.

Page 59: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 59/201

 

Eu quero saber como ela era como mulher. — Eu vejo.Ela não deixou escapar o tom irônico dele, mas mordeu a língua e desviou

o olhar. Passado alguns segundo, voltou a lhe olhar e disse:

 — Todos falam que…, o quero dizer é que…, ela não era uma mulher bonita, mas tinha certo… certo… bom…  — Atrativo sexual?  — ajudou ele e lhe encantou ver como ela corou com

suas palavras. Deus, a senhorita Wade tinha se ruborizado. Normalmente semantinha inalterável, mas depois desses últimos dois dias, Anthony se

 perguntava se debaixo dessa fria aparência não havia uma mulher, afinal. — Isso está claro  — concordou ela tentando ser séria e acadêmica.  — Mas

devia ter algo mais. Algo indescritível. Algo mágico e cativante. — Isso é tudo que quer senhorita Wade?  —  perguntou  — Ser mágica e

cativante?De repente, ela ficou tensa e se sentiu incomodada.

 — O senhor está me provocando? —  perguntou em voz baixa.A pergunta o surpreendeu, já que a ideia de provocá-la nem lhe tinha

 passado pela cabeça. —  Não  — respondeu em seguida.  —  Não estou provocando a senhorita.

Simplesmente sentia curiosidade.Ela não acredita, mas encolheu os ombros como se não tivesse importância

e continuou. — César sabia que as pessoas não o apoiariam e transformou Cleópatra em

rainha, mas a queria tanto que mesmo assim se casou com ela. Ele foiassassinado por causa dessa paixão.

 —  Não —  a corrigiu Anthony. — César foi assassinado porque era estúpido.A paixão que sentia por essa mulher só foi o causador de sua morte.

 — Talvez, mas é certo que sentia por ela era algo muito forte. Está bem,Repare então Marco Antonio. Na batalha de Actium jogou todo o que tinha porrecuperar o reino de Cleópatra e poder assim conquistá-la. Por quê?

 — Realmente importa? Marco Antonio foi tão estúpido como Cesar. Quaisforam seus sentimentos, nunca devia lutar nessa batalha. Foi um suicídio.

 — Um suicídio? Quase ganhou.Antes que pudesse responder-lhe alguma coisa a interrompeu desde o outro

lado da habitação. — Desculpe incomodar-lhe, senhoria, mas o senhor Richardson me mandou

dizer-lhe que já tem o banho preparado e que seu jantar estará pronto em breve.Anthony olhou e viu o lacaio que esperava sua resposta.

 — Só demorarei um momento.O servente fez uma reverencia, saiu da habitação e Anthony voltou a se

concentrar na mulher que estava sentada em sua frente.

 —  Na guerra, senhorita Wade, o fato de estar prestes a ganhar não significanada. Marco Antonio era um brilhante general e deveria ter se dado conta de que

Page 60: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 60/201

 

em Actium perderia. Tinha todo o exército de Octavio avançando sobre ele.Retirar-se era a única opção lógica.

 —  No que faz pensar que a lógica tivesse algo a ver com tudo isso? Ele aamava e o amor não entende de lógica.

 — Bem próprio de uma mulher por os sentimentos em frente da razão  — respondeu ele impaciente. — Bem próprio de um homem negar o poder do amor.Ele cruzou os braços e se reclinou no sofá.

 — O amor nunca deveria prevalecer sobre a razão. — Isso acontece muitas vezes. — Com trágicos resultados. — Talvez para Marco Antonio e Cleópatra  — reconheceu ela.  — mas não é

sempre assim. Há quem é muito feliz. — Essa felicidade dura sempre muito pouco.Ele estava começando a frustrar sua firme convicção de que o amor não

valia à pena e levantou o olhar para o céu em um claro gesto de desespero. — Oh, por Deus! — exclamou. — Acredito que alguma vez já viu alguém se

apaixonar perdidamente e ser feliz.Anthony lembrou a noite em que encontrou seu pai morto, com quatro

tubos de láudano a seu lado. — Sim — respondeu ele. — mas teve um trágico final.  — Então se levantou

 bruscamente. Nós não queremos continuar falando.  — Queira me perdoar, masmeu banho está esfriando. Boa noite.

E saiu da habitação sem dizer mais nada.Primeiro Viola, com aquela conversa tão estranha sobre o amor e agora a

senhorita Wade. Maldita seja. Por que as mulheres eram incapazes de entenderque o amor não era importante na vida?

Apesar do muito que Daphne gostasse do clima úmido inglês, tinha quereconhecer que para seu trabalho era um problema, especialmente quando setratava de restaurar um afresco. Nos desertos da África, Palestina e

Mesopotâmia era suficiente retirar a areia e as imagens reapareciam intactas,com toda sua beleza, mas na Inglaterra a umidade fazia tudo mais complicado.

A lama cobria o afresco e a causa de ter permanecido seiscentos anosembaixo daquela terra úmida, a pintura estava tão degradada que para Daphneera quase impossível distinguir qualquer imagem. Encontrar a cor que mais se

 parecia ao original e tentar desenhar os fragmentos que faltavam era um trabalhoexasperante, embora alguns dias fossem mais dos que os outros. Aquele era umdesses dias.

Reuniu todos os fragmentos do afresco que dos trabalhadores tinham

descoberto até o momento e os classificou por grupos segundo as imagens quese representavam nele. Logo, com a ajuda de uma pequena espátula, começou a

Page 61: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 61/201

 

 juntar as peças como se fosse um enigma. Parecido com um solo que tinhareparado no dia anterior, à medida que os restaurava ia aparecendo à figura deVenus.

 Não estava acostumada a trabalhar com um material tão delicado; as peças

se quebravam facilmente, assim que tinha que concentrar toda sua atenção. O problema era que uma e outra vez, se distraía recordando o que tinha passadoumas noites atrás e a conversa que Anthony e ela tinham tido na biblioteca.

Daphne não podia deixar de pensar no que tinha dito sobre conheceralguém perdidamente apaixonado e cujo final tinha sido trágico. Se perguntavade quem estaria falando. De si mesmo talvez? isso explicaria sua atitude tãocínica, fria e calculadora frente ao casamento. Tinha que concentrar-se. Ela nãose importava nada com o que o pensava sobre o casamento nem com quem fossese casar.

Desde essa noite na biblioteca, cada vez que ele lhe pedia algo adicionava«por favor», e quando ela finalizava a tarefa que pedia, lhe diz sempre obrigado.Muitas vezes conversava com ela sobre coisas sem importância, como o climade como as quentes temperaturas deviam ser melhores para seu trabalho. Àsvezes lhe comentava as noticias do dia, por especial ênfase em excesso degovernantas que inundavam a Inglaterra a chateação que era a vida social deLondres. Inclusive tinha ordenado que cada hora um empregada fosse a antika

 perguntar se queria uma taça de chá e muitas vezes enviava os trabalhadores para lá para ver se precisava de ajuda.

Como se nada disse pudesse convencê-la a ficar. Ao comprovar que com

dinheiro não ia convencê-la, agora o duque tentava lhe demonstrar que era capazde ser encantador e atencioso.

Ela fez uma careta de desdém. Ele não era atencioso. Era egoísta, altivo, enão levava em conta os sentimentos dos outros. Além de frio, tão frio que deuma maneira calculista, tinha escolhido se casar com uma mulher que nunca

 pudesse se apaixonar. No entanto, apesar de todos esses defeitos, ela tinha achado que estava

apaixonada por ele. Por quê? Daphne deixou de trabalhar e olhou o infinito pensando nele. O que tinha visto nele que a tinha cativado?

Se lembrou de Cleópatra e se deu conta que não só as mulheres podem teresse algo que as transformam em mágicas e fascinantes. Anthony também tinha.

Pensou em todas as vezes que ele a tinha olhado como se fosse especial,como se por um instante para ele unicamente ela existisse em seu mundo. Masapenas por um instante, somente quando ele queria algo dela. Quando precisavaque fizesse algo difícil em pouco tempo, tinha recorrido a esse sorriso para queela não podia se negar. Uma vez tinha obtido tudo o que queria, tinha levandocom ele a magia, sem lhe dizer obrigado por ter passado milhares de horastrabalhando.

Agora sabia que todas essas vezes que a tinha olhado desse modo especialnem sequer a tinha visto falar. Só a tinha usado para alcançar seus fins. E, apesar

Page 62: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 62/201

 

de tudo isso, quando no outro dia tinha pedido que ficasse, durante um segundoesteve tentada a aceitar e obedecê-lo.

Sim, ele tinha essa inexplicável alquimia que podia que uma funcionáriafosse procurar à manteiga fresca todas as manhãs sem se aborrecer, que a

senhora Bennington ficasse com a respiração acelerada só em estar falando comele sobre o mal estado do caminho e que a ordinária e comum Daphne Wade sesentisse uma das mulheres mais belas do mundo. Mas não era real.

Respirou fundo e recomeçou seu trabalho. Por sorte agora já o conhecia eessa magia não podia afetar-lhe.

Daphne pegou outra peça com a espátula, começou a espalhar sobre ela um pouco de cimento, A pressão deve ter sido muito forte que a delicada peça se partiu em dois entre suas mãos. Era a quarta vez que acontecia isso, quatrofragmentos únicos e irreparáveis tinham se convertido em pó e dreno entre seusdedos.

 — Oh, maldita lama inglesa! Destrói tudo o que toco!  — gritou eexasperada, lançou a espátula com força. O ruído que fez cair acompanhado deum assobio e quando Daphne se voltou viu Anthony de pé em um umbral deantika.

 — Olhe para onde joga as coisas, senhorita Wade — disse e se abaixou pararecolher a espátula.

 — Lhe acertei? —  Não — respondeu, — mas foi por pouco.Daphne olhou enquanto ele se aproximava dela. Sabia que ainda não tinha

ido visitar o senhor Bennington na escavação já que ainda não vestia casaco nemgravata, sua camisa era de um branco imaculado, sem um grão de poeira ousujeira. Daphne se alegrou de que a tinha posto.

Desviou o olhar. — Eu estou feliz de não ter-lhe ferido  — disse, enquanto ele se colocava

 justo do seu lado. — Por que estava maldizendo a lama da Inglaterra?  — Colocou a espátula

na mesa, do lado do bolo preparado de cimento.Daphne tomou fôlego e ao fazer isso, inalou seu aroma mesclado com um

 pouco de essência de limão. Estava ficando nervosa e não sabia o que fazer. Erarealmente necessário que estivesse tão próximo dela?

 —  Não é nada — respondeu e voltou a colocar a espátula.  — É só que hojeestou de mal humor.

 — De mau humor? Devo estar sonhando.Ela pegou um pouco de cimento.

 —  Não sei o que se refere — disse e começou a repartir a massa por cima deuma peça que tinha pego antes.

 —  Nós últimos dias me senti perdido, como se estivesse num sonho

estranho — explicou e se afastou dela.Daphne se sentiu aliviada que ele se afastasse, mas ainda notava seu olhar

Page 63: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 63/201

 

fixo enquanto ela se colocava justo de frente para a mesa. — A senhorita não é nada que eu tinha imaginado  —  prosseguiu ele,  — e a

verdade é que estou muito confuso.Daphne juntou às peças do afresco e não respondeu. Enquanto esperava

que o cimento secasse, levantou a vista e viu como Anthony arregaçava asmangas da camisa. À medida que o linho branco desaparecia, ela observava seusmarcados antebraços e como ia aparecendo sua pele morena. Começou a sentircalor e lembrar a imagem de Anthony sem camisa, mas lutou para se concentrarno que ele estava dizendo.

 — Acho que todas as opiniões que tinha da senhorita estão desmoronando.Uma a uma.

Ela era humana, não uma máquina, assim que não pode evitar perguntar. — E que opiniões eram essas?Logo que disse isso, desejou poder retirar aquelas palavras. Não se via

capaz de ouvir outra vez falsos elogios destinados a convencê-la que ficasse.Olhou de novo as peças que tinha na mão e tentou reconciliar a conversa paraum assunto mais seguro.

 — Esquece. Não quero saber. — Eu vou lhe dizer de qualquer maneira. Achava que a senhorita era uma

 jovem tímida e maleável, disposta a fazer tudo o que pedisse e quando eu pedisse.

«Também pensava que era como um inseto em cima de uma folha.»Daphne não se atreveu a fazer esse comentário em voz alta, ainda que uma parte

dela quisesse provocar para que ele se sentisse culpado de tudo o que tinha ditonesse dia.

 — Pois estava equivocado. — Eu já percebi  — admitiu ele.  — Agora me dei conta de que não é nem

tímida nem maleável. Na verdade, senhorita Wade, tem bastante caráter. Nãotem medo de jogar objetos através da habitação quando está irritada e tampoucoteme dizer o que pensa. Cinco meses atrás tinha uma atitude serena e paciente,há apenas alguns dias a senhorita expressou com bastante eloqüência o que

 pensa de mim. Compreenderá que me sinto desconcertado e que me pergunto a

razão dessas mudanças.Todo seu corpo ficou tenso ao ouvir essas palavras, mas jurou que nunca

lhe diria a verdade. Seria vergonhoso demais. Respirou fundo e respondeu. — Eu não sei o que aconteceu comigo no outro dia. Não costumo ser tão

 brusca. — Aceito suas desculpas.Daphne levantou o queixo e percebeu que ele estava sorrindo, pondo a

caminho sua magia. —  Não estava me desculpando  — replicou ela enfática.  —  Nunca me

desculpo quando sou provocada, dou minha sincera opinião.Anthony apoiou as mãos na mesa e se aproximou mais dela. Ainda não

Page 64: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 64/201

 

tinha um sorriso em seus lábios parecia que seus olhos estavam sorrindo. — Senhorita Wade, não consegue perceber quando alguém está brincando? — Estava brincando? — Suponho.

Ela não queria que ele brincasse com ela. Isso fazia com que ela baixasse aguarda e fosse muito mais difícil de odiá-lo. Certamente ele sabia disso. — O senhor gosta de provocar as pessoas? — Agora, eu gostaria de provocar-lhe. Confesso-lhe que achei …

fascinante. Eu tenho que fazer isso mais vezes.  — Retrocedeu e se afastou damesa. Com as mãos atrás das costas, propôs:  — Jante comigo amanha, senhorita Wade. 

 — É um convite ou uma ordem? — Um convite.Ela se sentiu embaraçado e desviou o olhar. Não queria jantar com ele, não

queria conhecê-lo melhor. —  Não acho que seja apropriado. — Convidarei também o senhor e a senhora Bennington.  — Ainda que seu

semblante estavesse serio, seu olhos se mantinham com aquele sorriso de antes. — Para persuadi-la estou inclusive disposto a pedir-lhe por favor.

Daphne não queria que a persuadisse, mas como tinha dito na semanaanterior, manter uma relação cordial, o tempo que ficassem juntos resultariamuito mais agradável.

 — De acordo, aceito seu convite.

 — Excelente, senhorita Wade. Se continuarmos assim, pode até ser quesejamos amigos.

Daphne voltou a se sentir incomodada. — Eu não apostaria nisso, senhoria.

Page 65: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 65/201

 

Capítulo 9

O despejo dos camponeses era sempre uma questão delicada. Muitosnobres deixavam essa tarefa nas mãos de seus secretários, mas para Anthonyisso era para os covardes e por mais desagradável que fosse o assunto, preferiafazer isso pessoalmente.

 — O homem está doente.  — Olhou seu secretario, que estava em frente aolado do escritório. — Me nego a acreditar que não há outra opção.

O senhor Cox só tinha seis meses trabalhando para Anthony e ainda nãoconhecia todas as excentricidades de seu patão, mas sabia que o duquevalorizava a sinceridade acima de tudo, assim que respondeu sem rodeios:

 — Sua senhoria já tinha permitido que ele ficasse um ano sem pagar asrendas. Faz um ano que não trabalha e como está de cama, tampouco poderácolher nada nesta temporada. Se permitir que ele e sua família fiquem, criará umantecedente.

 — Senhor Cox  — interrompeu impaciente Anthony,  — estando tão doenteque tampouco poderá alimentar a sua meia dezena de filhos. Não vou jogá-lo desua casa tendo outras condições.

Cox, como um bom secretario, o olhou resignado. — Que deseja que eu faça? — Sua mulher tem saúde. Diga a senhora Pendergast que encontre um

trabalho para ela e para sua filha mais velha na lavanderia. Trabalharão alienquanto ele estiver doente. Encarregue-se também de encontrar algum vizinhoque tenho o cargo de seus outros filhos pequenos. Com isso bastará para pagaras despesas.

 — Senhor, o salário de uma lavadeira não cobre…  —   Estas são minhas ordens, senhor Cox. Leve-as a sério. Se dentro de

quinze dias ele continuar doente, quero que seus vizinhos recolham sua colheita para que não estrague. Como pagamente lhes darei licor, seguro que assimestarão mais dispostos a colaborar.

 — Muito bem, senhor.Cox se levantou e se foi. Anthony relaxou, esperava não tivesse que ter que

falar de despejos até o ano seguinte. Olhou pela janela e viu que estavachovendo. Uma chuva como essa causava estragos nas escavações. Então selembrou de quando a senhorita Wade jogou a espátula maldizendo a lamainglesa e lhe deu vontade de rir. Não era nada próprio dela, mas como tinha dito,

não era a mulher tímida que ele tinha imaginado. Na realidade, estava resultandoser muito mais imprevisível que isso.

Page 66: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 66/201

 

Caminhou até a janela para observar lá fora e o que viu confirmou o queestava pensando. Ali, de pé embaixo da chuva, sem chapéu e sem roupas dechuva estava à senhorita Wade, com a cabeça para trás com toda a chuva caindo.

Que estava fazendo lá fora com aquele tempo? Agosto tinha sido um mês

quente, mas em setembro as temperaturas já tinham baixado consideravelmente.Se ficasse em baixo de semelhante chuva durante mais tempo pegaria umresfriado.

Anthony afastou-se da janela e saiu de seu escritório. Alguns minutos maistarde já vestia uma capa de chuva e como faria qualquer pessoa sensata, pegouum guarda-chuva e foi buscá-la.

Ela continuava no mesmo lugar em que ele tinha visto do seu escritório.Em frente de uma fonte, entre dois canteiros de flores e com a cabeça para trás.

 Não estava com os óculos e tinha os olhos fechados. Estava completamenteimóvel, com os braços abertos, concentrada em sentir como a chuva caía sobreseu rosto.

 — Que está fazendo aqui fora, senhorita Wade? —  perguntou.Ao ouvir sua voz ela abriu os olhos e o olhou.

 — Olá. Quer se juntar a mim? — Deus, não. Eu vim buscá-la.Se aproximou mais dela e com o guarda-chuva, cobriu a ambos. Estava

desconcertado pelo sorriso dela. Não havia nada de divertido em estarencharcada pela chuva de uma fria tarde de outono.

 — Aconteceu algo? —  perguntou ela.

Ele não tinha outro remédio que lhe dizer o óbvio. — Está chovendo e a senhorita está aqui fora, molhando-se. — Eu sei — admitiu ela, e logo, ante a surpresa de Anthony, começou a rir.

 —  Não é maravilhoso? — Acho que ficou louca senhorita Wade. Isso é tudo o que posso pensar

 para justificar seu pensamento.  —  A pegou pelo braço para tentar levá-la paracasa.

 —  Não, não  — se opôs ela, soltando-se.  —  Não fiquei louca, eu lheasseguro. Só quero ficar aqui fora um pouco mais.

 —  Não pode estar falando sério.Ela afirmou com a cabeça e deu um passo para atrás para sair de da

 proteção do guarda-chuva. — Estou falando serio  — respondeu enquanto se molhava. Tinha a roupa

encharcada e o cabelo pregado em seu rosto.  — Eu gosto da chuva. O senhornão?

 —  Não, eu não. E a senhorita tampouco. Não se lembra de que ontemmesmo estava maldizendo o barro inglês?

Ela riu.

 — É verdade. Odeio a lama porque dificulta meu trabalho, mas ainda assimeu gosto da chuva. Vejo que não entende.

Page 67: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 67/201

Page 68: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 68/201

 

aventais.Anthony afastou a vista de sua escandalosa e encharcada figura e se

concentrou na estatua que tinha no alto da fonte que ficava atrás de Daphne. Umsatírico. «Que apropriado», pensou, enquanto tentava apagar o desejo que havia

inundado todo seu corpo.Ela trabalhava para ele e tinha regras para essas coisas. Voltou a olhá-la etentou se concentrar em suas palavras.

 — Enquanto tenho oportunidade, quero caminhar na chuva. Eu gosto. Aquina Inglaterra é especialmente agradável, quedas suaves e faz com que os jardinssejam bonitos. O primeiro dia que despertei nesta casa, em março, sai para

 passear na propriedade queria conhecer o cheiro da erva molhada. Foimaravilhoso.  — Suspirou profundamente.  — Oh, não posso nem imaginar o queé estar aqui quando se tem vivido em climas secos e quentes em toda a vida.

Anthony não podia ordenar seus pensamentos de forma coerente. Emalgum lugar de sua mente entendia o que ela estava dizendo e tentou imaginar oduro que devia ser viver assim, especialmente para uma mulher. Também sentiucerta raiva de seu pai, como pode um homem honorável obrigar sua filha a vivernessas circunstancias? Mas diferente disso, Anthony era incapaz de seconcentrar. Diante dele tinha uma mulher que nunca tinha visto antes, umamulher cujo corpo era um tesouro oculto e cujos olhos eram da mesma cor queas violetas que floresciam nos canteiros que tinha atrás dela. Uma mulher quegostava do aroma da erva molhada e cujo inocente prazer de se molhar embaixoda chuva tinha demonstrado ser para ele mais erótico que qualquer afrodisíaco.

Fazendo esforço para reunir toda sua disciplina, Anthony apertou amandíbula e tentou se lembrar qual era sua posição e da dela.

 — Diga-me, a senhorita vai tornar isso um costume?Ela piscou, não sabia o que havia feito porque ele a tinha assustado com

seu tom de voz ou porque a água entrava em seus olhos. — A que se refere? —  perguntou ela. — Permanecer embaixo da chuva? — Há perder o tempo se divertindo em vez de estar trabalhando. Não quero

ter que lembrá-la que lhe pago muito bem, extremamente bem, para isso. — Porque ficou de mau humor?  —  perguntou ela com um pouco de

aspereza, mas antes que ele pudesse responder, levantou a mão para calar-lhe. —  Não importa, não quero saber.

 —  Não  — disse ele com uma voz que soou estranha inclusive em seus próprios ouvidos — , melhor não saber.

 — Mas já que o senhor perguntou pelo meu trabalho  — continuou Daphne, — deixe-me dizer-lhe que estava trabalhando quando começou a chover. Estavana biblioteca, tratando de averiguar algo sobre uns fragmentos de cerâmica, masnão pude resistir à tentação de… 

 — De se molhar  — interrompeu ele. — Eu sei.

Então a olhou e viu que isso também tinha sido um erro, porque não podeevitar o impulso de tirar-lhe da face um fio de cabelo encharcado. Ele sentiu os

Page 69: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 69/201

 

dedos sob a pele de suas bochechas quentes. Se perguntou como uma mulherque tinha vivido tantos anos em um deserto podia ter uma pele tão lisa e suave.Acariciou os lábios igual que ela tinha feito antes. Pareciam de veludo.

Daphne também o olhava, mas seus olhos estavam abertos não apenas de

surpresa mais de algo mais; algo semelhante ao que ele estava sentindo. Sim, odesejo também estava presente em seu olhar, no modo em que sua entrecortadarespiração acariciava seus dedos. Era o desejo que lhe paralisava e endurecia,como um cervo a ponto de escapar. Certamente sua mão deslizou, sentia como ocoração dela batia tão rápido como o seu.

Ele começou a fazer, mas de repente retirou a mão. — Vamos entrar  — disse,  — está ensopada e pode pegar um resfriado.

Conheço este clima melhor que a senhorita e não vou permitir que fique doentequando há tanto trabalho por fazer.

Anthony se sentiu aliviado ao ver que ela não discutia sua ordem. Baixou oguarda-chuva, acompanhou-a até a casa. Uma vez dentro, entregou o encharcadoguarda-chuva e a ensopada senhorita Wade a uma surpresa senhora Pendergast,a quem ordenou:

 — Prepare um banho quente e um copo de brandy para a senhorita Wade. — Então ele se virou para Daphne disse:  — A próxima vez que quiser se livrardas lembranças do deserto, tome um banho dentro de casa, por favor. Espero queisto que não se repita no jantar desta noite.

 — Claro que não  — respondeu ela tentando manter certa dignidade apesarde estar chovendo e formando poças no solo.

 — Bem. Então a verei esta noite.Anthony deu a volta e sem uma palavra a mais, retornou a seu escritório.

Dizia a si mesmo que Daphne Wade era sua empregada, uma mulher jovem einocente. Uma mulher a quem nunca tinha prestado atenção e que nunca, nuncatinha desejado. Até nesse momento.

Agora, se pensava nela, pensava com aquele ensopado vestido bege, não podia controlar o forte e ardente desejo que se apoderava de todo seu corpo. Nem tampouco podia deixar de ver a cara do satírico zombando dele.

Page 70: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 70/201

 

Capítulo 10

A principio, a teoria de Anthony de que jantassem juntos poderiam acabarsendo amigos não parecia muito viável.

Para começar, a sala de jantar era muito grande para que jantasse apenasquatro pessoas, apesar de um deles ser um duque. O altíssimo telhado dourado e

 prateado, a longa mesa com suas cadeiras de veludo granada, as colunas demármore branco, os espelhos e os querubins, nada disso ajudava a criar umambiente confortável, ao menos para Daphne.

Logo estava o problema da comida. Tinha dois tipos diferentes de sopa,uma fria e uma quente. E seguiram três pratos de pescado e de carne, cada umcom quatro variedades diferentes. Tudo estava muito bem apresentado e eradelicioso, mas para Daphne pareceu-lhe um exagero e um grande desperdício.Era impossível que quatro pessoas comessem tudo aquilo.

Ela estava acostumada a jantar sobre uma mesa coberta de pó no deserto ouem uma modesta pensão italiana. Nesse jantares ela e seu pai sempre falavam dehistoria, de antiguidades ou de escavação em que estavam trabalhando.

Para finalizar, estava o problema do anfitrião. Ele tentava ser amável e o

senhor e a senhora Bennington escutavam encantados seus comentários, mas elanão podia. Suas maneiras, especialmente com ela eram educadas e atenciosas.

Daphne sabia que esse desenvolvimento de encantos formava parte do plano de Anthony para que ficasse em Hampshire. Ele podia ser o homem maisencantador do mundo, mas Daphne não podia suportar que ele fosse com elasabendo que ele pensava de verdade.

Por outro lado, Anthony não só se preocupava se ela gostava da comida,mas parecia estar observando-a a todo o momento. Cada vez que levantava avista, o flagrava olhando-a com uma intensidade difícil de definir.

Ela tinha o mesmo aspecto de sempre. A única coisa que tinha feito foicolocar seu melhor vestido, que era de um cinza pálido e estava muito fora demoda e retirou os óculos. Era impossível que nenhuma dessas mudanças tivessecaptado a atenção de Anthony, assim que chegou a conclusão de que seudesconcertante exame se devia a seu passeio embaixo da chuva. No fim de tudo,ele tinha tachado ela de louca.

Quando chegou a hora da sobremesa ela não agüentava mais. — Senhora Bennington  — se dirigiu a velha senhora que estava sentada na

frente dela,  — não acho que o duque está me olhando muito esta noite? Me

examina como se fosse um artefato. — Santo céu, querida!  — exclamou a senhora Bennington e riu quando

Page 71: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 71/201

 

olhou para o duque e depois voltou para Daphne.  —  Não deveria falar de simesma nesses termos. Um artefato!

Anthony que estava sentado no outro lado da mesa, colocou seu copo devinho e através de suas espessas pestanas, a olhou como um leão observando sua

 presa. — Eu mesma poderia descrevê-la desse modo, senhora Bennington  — disseAnthony.  — Os artefatos são objetos misteriosos, intrigantes e difíceis deinterpretar. Normalmente emito julgamentos equivocados sobre eles.

Daphne apertou o guardanapo no colo. Que estava dizendo? que no fim detudo não era um desprezível inseto? Obrigou-se a relaxar e pegou seu copo.

 — Acha que eu sou um mistério, senhor? — É sim, senhorita Wade. —  Não vejo por que. —  Tomou um gole de vinho tinto e deixou o copo.  — 

Asseguro-lhe que não há nada misterioso em mim. — Senhorita Wade, acredito que o duque tem razão  — interviu de novo a

senhora Bennington. — Desde que se demitiu, o senhor Bennington e eu estamosum pouco desconcertados.

 — Suponho que se surpreenderam, mas…  — Surpreendemos?  — interrompeu a senhora Bennington.  — Que Deus nos

 bendiga, foi uma revelação. Não é que não a compreendamos, claro. Em suasituação, quem não aceitaria a oferta de lady Hammond, e a senhorita semdúvida merece. Sinceramente é que não tínhamos ideia de que a senhorita e aviscondessa fossem tão amigas. Assim quesua senhoria tem razão em afirmar

que a senhorita é um mistério. Tão fechada como uma ostra.Daphne não sabia o que dizer, nunca lhe ocorreu pensar que ela pudesse ser

misteriosa e intrigante. — Vê?  — continuo a anciã dama.  — Inclusive agora continua calada. Seria

 bom se a senhorita se tornasse mais aberta e mais expressiva. Com isso éimpossível saber o que está pensando ou sentindo.

 —  Não esperará que os jovens dândis de Londres lhe leiam a mente, não é? — continuou o senhor Bennington com um sorriso.

 — E já não se chamam dândis, querido — corrigiu sua esposa. — Esse termo

saiu de moda, agora os chamam de beaux. — Acredito que todos estamos de acordo que a senhorita Wade é um

mistério  — interviu Anthony,  — O que acham de deixarmos que seja ela quemescolha qual será nosso entretenimento esta noite? Assim talvez descobrimosalgo mais sobre ela,  — Deixou seu copo e se mexeu um pouco. Olhou Daphnecomo se sua resposta fosse de vital importância.  — O que escolhe, senhoritaWade?

 — Deve me ajudar, senhoria  — respondeu ela sorrindo.  — O senhor é tãoatento e atencioso que acredito que tem preparado vários divertimentos para nós.

Me conte o que tem previsto. — Uma resposta direta e muito prática —   disse ele rindo.  — Me lisonjeia,

Page 72: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 72/201

 

ganha um pouco de tempo e continua sem nos revelar nada sobre sua pessoa.Muito bem, vou dar-lhe várias opções. Se quiser música podemos trazer-lhemúsicos. Ou prefere poesia?

 —  Não escolha a poesia, senhorita Wade, lhe suplico  — rogou o senhor

Bennington. — Sempre acabou dormindo —  Não, senhor Bennington  — riu Anthony.  —  Não peça tal coisa. Eugostaria de recitar Byron, a Shelley o a Keats se a senhorita Wade desejar. Seusdesejos são ordens para mim.

Daphne não suportava ouvi-lo falar assim, como se ela fosse de verdadeimportante para ele. A mera ideia de ouvi-lo recitar os românticos versos deByron colocava os cabelos de pé. Se levantou e deixou o guardanapo de lado.

 — Eu acho que gostaria de ver a sua estufa, senhor. A senhora Benningtonme disse que é impressionante e nunca tive a oportunidade de visitá-la.

 — Então daremos um passeio pela estufa  — aceitou Anthony e se levantou junto com o resto dos convidados.  — Haverstall, mande um lacaio para queacenda os candelabros.

 — Sim, senhor — respondeu ele e enviou um lacaio cumprir a tarefa.Anthony se aproximou de Daphne e ofereceu seu braço.

 — Vamos?Ela apoiou a mão no antebraço dele e saíram da sala de jantar com o senhor

e a senhora Bennington atrás.Passearam pelo longo caminho que levava até a estufa. Nenhum deles

falava, mas Daphne podia sentir como Anthony não deixava de olhá-la. Ela

tinha o olhar perdido e estava concentrada em disfarçar seus sentimentos, masquando estavam perto de chegar a seu destino não pode evitar perguntar:

 — Acredita que revelei de mim em minha escolha de entretenimento? — Que a senhorita gosta de flores?Daphne não pode evitar rir ante a resposta tão rápida e tão evidente que ele

lhe tinha dado. — Veja como não sou misteriosa?  — comentou ela.  — Todas nós mulheres

gostamos de flores. — Eu gosto de ouvi-la rir.

Se corpo todo tremeu e quase ficou paralisada ali mesmo, mas por sorte serecuperou a tempo. Não respondeu e continuaram o resto do caminho semfalarem.

Quando chegaram à estufa, foi ele quem rompeu o silencio. — Devo lhe confessar, senhorita Wade, que este passeio não foi o que eu

esperava que a senhorita sugerisse como entretenimento. — O que esperava então? — Vinte perguntas  — sussurrou ao entrar na estufa.  — Mas só se eu

 perguntasse e a senhorita respondesse.

 —  Nem em um milhão de anos — respondeu seria.Depois, pegou os óculos do bolsinho de sua saia, os colocou-os e se dispôs

Page 73: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 73/201

 

a observar o jardim interior que a rodeava.Como todas as partes de Tremore Hall, a estufa era enorme. O telhado

estava composto por painéis octogonais de cristais e tinha no mínimo quinzemetros de altura. As paredes eram também de cristal e os painéis que as

formavam estavam separados por umas colunas de pedra que se arqueavam até juntar-se com as colunas que tinha no centro da habitação, com um tribunalromano. Nos cristais se refletiam a luz procedente da casa e os candelabros quetinha encima dos altos pilares contribuíam para uma luz adicional.

O senhor e a senhora Bennington começaram seu passeio por um dos lados,mas Daphne, com Anthony a seu lado, se colocou no centro para ter assim umavista geral. Tinha limoeiros, palmeiras e plantas de todas as partes como daPalestina e cheio de fontes, estatuas e bancos de pedra em que se sentassem.Flores brilhantes cores se abriam por todas partes, muitas eram conhecidas porDaphne, mas outras nunca tinha visto em sua vida.

 — Tinha razão ao dizer que era magnífico?  —  perguntou à senhoraBennington de trás das palmeiras.

 — Tinha, é magnífico — lhe deu razão Daphne e levantou a vista até o tetode cristal.  —  Nunca tinha visto algo assim.  — Então se dirigiu a Anthony:  — Estou impressionada, senhoria. Realmente impressionada.

Ele lhe sorriu e ela voltou a perder o fôlego. — Vindo de alguém que viu a metade do mundo, esse é o melhor elogio.

Obrigado.Daphne girou e quando estava de novo na frente dele disse:

 — É muito inglês, não acha?Ele riu e ela, sem entender seu riso, o olhou surpresa.

 — Senhorita Wade, tem ao seu redor estatuas gregas, limoeiros, bonsais japoneses e abacaxis das ilhas de Sándwich. Como pode ser isto inglês?

Daphne não pode evitar devolver-lhe o sorriso. — Eu acho muito inglês. Olhe, na Itália ninguém tem um limoeiro em sua

casa e as palmeiras de Palestina parecem esqueletos ao lado destas. E, por certo,que demônios é um bonsai?

Ele disse que tinha a planta a seus pés e ela surpreendida ante a pequenez

da árvore, se abaixou. — Que curioso, é uma árvore em miniatura com pequenas maçãs.  — 

Levantou a vista até ele e perguntou: — São de verdade? — Comprove a senhorita mesma.  — Anthony se ajoelhou a seu lado,

arrancou uma diminuta maçã e colocou em seus lábios. Ela hesitou um instante,antes de abrir a boca.  — Sabe que a maçã é a fruta da tentação?  — disse eleenquanto aceitava a fruta que ele lhe oferecia.

Daphne quase se engasgou ao notar o tato de seus dedos sobre os seuslábios. Embaixo da chuva ele tinha acariciado ela dessa mesma forma e ela

voltou a sentir o calor que sentiu naquela ocasião. Era como se uma deliciosaonda do mar Egeu lhe envolvesse. Queria ficar ali para sempre. Queria escapar

Page 74: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 74/201

Page 75: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 75/201

 

simboliza a devoção.Ela se voltou até ele e olhou intrigada.

 — Maçãs para a tentação, abacaxis para dar boas vindas, flores paradevoção. Todas as plantas simbolizam algo?

 — Em muitos casos sim. Já leu alguma vez Le langage des fleurs? — A linguagem das flores — murmurou ela. — Fala francês? — Sim, eu aprendi no Marrocos; ali quase não se fala em inglês. — Quantos idiomas conhece, senhorita Wade? —  Não sei, deixe-me pensar; francês, latim, grego, aramaico, hebraico,

 persa e árabe — enumerou com os dedos. — Oito, se conto também com o inglês. — Extraordinário  — disse ele olhando ela surpreso.  — Confesso-lhe que eu

apesar das insistências de meus tutores e de minha estrita educação emCambridge, só fui capaz de aprender latim e francês. Me deixou sem palavras,senhorita Wade.

Por um momento, Daphne se sentiu lisonjeada por esse elogio, masrapidamente lembrou que ele não estava sendo sincero.

 —  Nunca tinha ouvido falar da linguagem das flores. Realmente todas temum significado?

 — Isto é. Existem muitos livros a respeito, mas o primeiro foi  Le langage

des fleurs, de madame Charlotte de la Tour. Está na moda expressar ossentimentos através das flores; assim, um ramo de flores pode dizer tantas coisascomo uma carta.

 — Que modo tão belo de expressar os sentimentos, eu gostaria de receberalgum desses ramos.

Ele se abaixou e de um pote arrancou um ramalhete de flores, se levantou eas ofereceu. Ela estava tão surpreendida que a única coisa que pensou foi deaceitá-las.

 — Cheiram muito bem  — disse ela, aproximando o nariz.  — Qual o nomedelas?

 —  Daphne odora, estas flores tem o seu nome. — E o que significam?  —  perguntou rindo-se.  —  Não me diga que

significam algo horrível, não poderia suportar. —  Não se preocupe, pelo contrário.  —   Então ele pegou o ramo que ela

segurava e suavemente, colocou as flores no seu cabelo. Daphne não podia nemrespirar. — Significam «eu gosto de você do jeito que és».

Ela se afastou e pensou em algo para dizer, necessitava recuperar o ar. —  Não entendo por que a flor da paixão simboliza a devoção. Não tem

sentido, seria mais lógico que significasse paixão, não é? — Ah, senhorita Wade, se equivoca; a que simboliza paixão é a fruta,

madura e deliciosa, como o próprio sentimento.

Uma onda de calor a inundou e deu a volta antes que ele pudesse ver oquanto ruborizada estava.

Page 76: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 76/201

 

 — Deveria prová-la algum dia — comentou por fim e continuou seu passeio. — Agora não estão em seu melhor momento  — explicou ele caminhando

atrás dela. — Se ficar, dentro de alguns meses poderia prová-las. —  Não, obrigada.  —   Notava como lhe estava acelerando a respiração.  — 

Assim não vai conseguir nada, senhoria. —  Decidiu que o melhor era mudar deassunto. —  Nem todos os desjejuns exóticos do mundo conseguirão me tentar. — Então ficarei todas as datas e todos os figos para mim. — Sim, por favor, faça isso. Eu já comi o bastante para toda minha vida.

 Não me tentam em absoluto. — Eu gostaria de saber como tentá-la, senhorita Wade.Daphne não respondeu e se dirigiu ao outro corredor da estufa. Nada do

que ele lhe oferecia poderia tentá-la, nem agora nem nunca.Para tranqüilizar-se, Daphne respirou fundo e um maravilhoso aroma a

embriagou. Quando procurou de onde vinha, se encontrou com a flor maismaravilhosa que nunca tinha visto.

 — Oh!  — exclamou e com os dedos acariciou suas suaves pétalas — . Eracomo estar no céu.

Ele a olhou sorrindo. — Eu vejo que gosta de flores, especialmente as aromáticas.Ela inspirou de novo profundamente.

 — Qual o nome delas? — Gardênias. — Humm. —  Fechou os olhos. —  Nunca em minha vida tinha ouvido falar

de algo tão maravilhoso. — Amor proibido. — O que? — Daphne retrocedeu como se tivesse lhe caído encima um balde

de água gelada. Abriu os olhos, mas foi incapaz, de olhar o homem que estavaao seu lado. — Eu… — tossiu. — O que disse?

 — As gardênias simbolizam a declaração de um amor proibido.Tinha que gosta desta flor, típico dela. Exasperada, deu a volta e começou a

andar para os Bennington, que os esperavam sentados em um banco. — Há ofendi em alguma coisa? —  perguntou ele seguindo-a.

 —  Não, nada disso. — Forçou um sorriso. — É que às vezes posso ser muito,muito, muito desajeitada.

 — A senhorita? Não acredito, nunca comete erros, senhorita Wade. Nemsequer posso imaginá-la fazendo algo mal.

«Nunca está doente. Nunca comete erros. É uma máquina.» — Uma vez me apaixonei, sabe?  — disse sem saber muito bem por que.  — 

Todos fazemos bobagens por amor. — Suponho.Tinha algo estranho em sua voz, algo que ela não conseguia entender.

 — Eu nunca estive apaixonado  — continuou ele vendo que ela lhe olhavadiretamente nos olhos.

Page 77: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 77/201

 

 —  Nunca se apaixonou? — Só em meus sonhos, senhorita Wade.Essa reposta foi tão surpreendente e tão pouco própria dele que Daphne

 parou e o olhou enquanto ele chegava a onde estavam os Bennington.

 — Então somos dois — murmurou e retirou as flores que ele tinha colocadoem seu cabelo.

Page 78: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 78/201

 

Capítulo 11

Anthony sempre tinha sido um homem disciplinado. Tanto quanto estavaexpressando suas opiniões na Câmara dos Lordes como estava resolvendoassuntos domésticos como uma governanta, nunca se distraía, nunca permitiaque nada se intrometesse em seu trabalho e muito menos uma mulher.

Mas desde a cena com a senhorita Wade tinha tido sérios problemas deconcentração. Levava dias evitando-a e ainda assim não podia afastar de suamente a imagem de Daphne ensopada pela chuva. O desejo de estar com ela lheatacava nos momentos mais inoportunos.

O que mais lhe preocupava era que tinha mais de cinco meses vivendo comuma mulher que tinha um corpo de uma deusa e ele não tinha se dado contadisso.

Anthony olhava sem prestar atenção uma dúzia de homens moviam uma peça do solo reparado ao hipocausto. O senhor Bennington não parava de gritar-lhes ordens, mas ele não entendia nem uma palavra. Estava totalmente ausente.

Tinha sido necessário vê-la embaixo da chuva para apreciar o quanto elaera bela. Agora a evidencia dessa beleza o dominava. Na noite em que jantaram

 juntos, apesar de que ela estava com um insosso vestido cinza, não podia deixarde olhá-la e desejá-la durante nenhum instante. Como tinha-lhe passado por altoessa beleza durante cinco meses? Ele sempre tinha sido muito esperto emreconhecer essas coisas.

Talvez fosse porque ela trabalhava para ele e ele nunca tinha se permitidoobservar as mulheres que estavam a seu serviço; especialmente naquelas que seesforçavam em passar despercebidas.

Talvez tenha estado trabalhando demais, deixando – se levar pela pressão deabrir o museu a tempo e suas obrigações com o Clube de Antiquários. Não tinha

desfrutado dos prazeres de um corpo de mulher desde a última temporada emLondres.Anthony se remexeu nervoso e se perguntou se as pernas de Daphne seriam

tão longas como tinham-lhe parecido em baixo do vestido molhado. Desde quehá tinha visto embaixo da chuva, sonhava com essas incríveis pernas.

 — Senhoria? — Humm.  — Anthony despertou abruptamente se encontrou com o senhor

Bennington observando-lhe. — O senhor está bem? —  perguntou o ancião, preocupado, — Se me permite

ser direto, ultimamente parece cansado, senhoria. — Estou bem, senhor Bennington  — respondeu ele passando a mão pelo

Page 79: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 79/201

 

cabelo. — Continue com seu trabalho.Ele sabia que não podia permitir que seus sensuais sonhos sobre Daphne o

distraíssem de seu museu e de sua escavação. Nenhuma mulher valia essesacrifício, ainda que tivesse o corpo de uma deusa.

Só tinha dado dois passos até os estábulos quando inconscientementemudou de direção e se dirigiu a antika. Levava duas semanas evitando-a, permitindo que sua imaginação o atormentasse. Talvez por isso tinha chegado aficar tão obcecado. Se a visse outra vez, se curaria. Se visse uma vez mais esseglorioso corpo conseguiria esquecer ela por completo.

Daphne estava em antika, mas outra vez tinha posto aquele horrível aventalque ocultava suas arredondas curvas e sua perfeita silhueta. Quando Anthony oviu, primeiro se lamentou de não poder desfrutar de tão agradável vista, maslogo decidiu que era melhor assim. Quem tinha podido imaginar que um aventalfuncionasse tão bem como proteção ou melhor dizendo como cinturão decastidade.

A verdade é que esse avental era muito útil para seu trabalho, mas nãoentendia por que ela o usava se não estava na escavação e tudo o que estavafazendo era lendo uma carta.

 — Se não cumpre com seu horário de trabalho agora que é de dia, senhoritaWade, sairei muito prejudicado do nosso acordo  — disse ele ao entrar nahabitação. Quando ela levantou o olhoar, ele viu que algo a preocupava.

 — Aconteceu alguma coisa? —  perguntou. — Eu recebi uma carta de sua irmã.

 — E o que disse Viola em sua carta para que a senhorita fique com essacara de preocupação?

 — Faz dias que escrevi dizendo-lhe que eu ficaria aqui até primeiro dedezembro.

 — E...? — Ela disse que Londres é muito sem-graça em dezembro, mas que por

sorte o marquês de Covington vai celebrar um grande baile em sua casa no diade fim de ano para festejar os setenta e um anos de aniversario de sua avó. Disseque vai se assegurar de que eu também, esteja convidada.

 — E...?Sem responder a sua pergunta, ela deu meia volta e se dirigiu a janela.

 — Quando aceitei ficar três meses eu não contei com os bailes  — disse a simesma.  — Em que estava pensando? Suponho que posso recusar o convite deCovington, mas não poderei recusar todos.

 — Senhorita Wade, não entendo nem uma palavra. Por que lhe preocupatanto um baile? Pensava que morria de vontade de entrar na sociedade.

 —  Não sei dançar  — respondeu, surpreendida de que ele fosse incapaz deentender o problema.

 — Ah. — a observou caminhar ao outro lado da habitação. — Isso sim é um problema. Andar na sociedade já é difícil quando nascido nela e suponho que

Page 80: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 80/201

 

saber dançar é de rigor para as jovens damas.Ela resmungou.

 — Sempre pode ficar aqui — continuou ele, incapaz de resistir. — Oh sim, disso o senhor gosta. Estou certa de que está adorando ver o mal

que estou passando. Não entendo como lady Hammond pensou nesse disparatesabendo que o senhor pensa de mim. — Disparate? Que disparate?Daphne levantou a carta e começou a ler:

Querida Daphne: Se queremos te introduzir na sociedade, você

tem que aprender a dançar. Não acho que gostaria de assistir as

classes para meninas no sábado pela manhã em Wychwood, assim

que, por favor, atende meu conselho e peça ajuda a meu irmão.

 Anthony não tem costume de frequentar festas, mas é um excelente

dançarino e estou segura de que não se negará a lhe ensinar a dançar

valsa e um par de quadrilhas.

Ela lhe olhou diretamente e fez uma careta de incredulidade. — Duvido que o senhor aceite me ensinar nada.Anthony estava encantado com a ideia. Por fim tinha encontrado um modo

de convencer Daphne para que ficasse em Tremore Hall mais tempo.Era brilhante, assim os dois conseguiriam o que queriam. Ante tal

descobrimento não pode evitar sorrir.

 — Vê?  — gritou ela aborrecida ao vê-lo tão contente. Confirmouacusadoramente com a carta que ainda tinha nas mãos. — Adora ver como minha

 pouca educação em artes da alta sociedade me impede em alcançar o meu sonho.Acho que pensa que se fracasso voltarei aqui com o rabo entre as pernas e queaceitarei ficar até que a escavação esteja concluída.

 —  Não pense tão mal de mim. Eu gostaria que ficasse porque quisesse ficar,não porque não tivesse outra opção.

Ante essa inesperada resposta, ela dobrou a carta e a guardou no bolsinho —  Não acredito.

 — Com todo o poder e a influencia que tenho, se quisesse poderia obrigá-laa ficar até que a escavação da villa estivesse finalizada. Poderia fazer semimportar se é ou não neta de um barão. Tenho muitos defeitos, senhorita Wade,mas nunca gostaria de ver como alguém passa apuros na sociedade. A senhorita

 já deixou bem claro que eu não lhe gosto, mas não acredita que não sou umcavalheiro.

Ela afastou o olhar por um segundo e logo respondeu: — Eu sinto, não queria insultar-lhe. É só que não posso entender o motivo

de sua amabilidade.

Desde que Anthony tinha se tornado duque aos doze anos, ninguém lhetinha questionado seus motivos e ele raramente sentia a necessidade de justificar

Page 81: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 81/201

 

suas ações, mas nessa ocasião decidiu que era importante fazê-lo. — Quando lhe disse que queria que ficasse, falei serio senhorita Wade.

Enquanto estiver aqui, tentarei convencê-la de todos os meios, mas se depois detudo a senhorita quiser ir, não a obrigarei a permanecer em Tremore Hall nem

um dia mais. Prefiro que meu museu não abra a tempo que forçá-la a fazer algoque não deseja. — Enquanto falava, Anthony viu que esse era o melhor momento para realizar seu plano.  — Como vejo que não acredita em mim, eu gostaria dedemonstrar.

 — Como? — Contrariando o que pensa, eu não quero que a senhorita fracasse, assim

que estou disposto a atender a sugestão de Viola e ensinar-lhe a dançar. — Antesque ela pudesse responder, continuou: — Em troca de mais tempo, claro.

 — Humm. Suponho que não teria feito esse oferecimento sem esperar nadaem troca, não?

 —  Não, mas devo admitir que estou sendo muito sincero com minhasintenções.

 — Que consideração de sua parte.  — Ela o olhou diretamente nos olhos,cruzou os braços e inclinou a cabeça, e perguntou: Quantos bailes? E quantotempo quer em troca? — continuou desgostosa.

Anthony tinha sensação de estar discutindo os términos de um negociofinanceiro. Bom, era no fundo o que estava fazendo.

 — As danças populares são complicadas e uma jovem dama deve aprendermuitos passos. Dar-lhe-ei aulas todas as noites, lhe ensinarei a dançar valsa e as

danças mais comuns em troca de que fique até março. — Ficarei até quinze de dezembro. — Duas semanas? Não é uma oferta justa, eu não gosto nada de dançar e

duas semanas a mais não me compensa. Doze semanas, talvez.Ela golpeava a carta contra seu braço enquanto o olhava. Anthony sabia

que ela lutava entre o desejo de fazer um bom papel em seu debut social e aanimação que sentia em relação a ele. Ainda não sabia o que causou essaantipatia, mas estava disposto a averiguar e a convencê-la de que ficasse maistempo. Estava impaciente para ouvir sua resposta.

Por desgraça, o medo de fracassar nesse baile não era suficiente para tentá-la a ficar por mais tempo.

 — Três semanas: ficarei aqui até o dia vinte e um de dezembro  — respondeunegando com a cabeça.

 — Fevereiro. —  Não me servirá de nada ter aulas se não posso ir a esse baile, não acha?

Três semanas.Anthony aceitaria tudo o que pudesse conseguir.

 — É uma adversária muito dura, senhorita Wade, mas aceitarei as suas

condições. No dia vinte e um de dezembro será seu último dia. A verei na salade baile esta noite as oito. Avisarei aos músicos e a senhora Bennington.

Page 82: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 82/201

 

 — A senhora Bennington? Por quê?Ele a olhou surpreso e respondeu:

 — Por quê? É uma dama de companhia. — Só no sentido mais amplo da palavra. A senhorita e eu estamos sozinhos

muitas vezes.  — Ele abriu os braços mostrando ao seu redor.  — Agora mesmosestamos sozinhos.  — Desviou o olhar e tomou fôlego.  — Preferiria queestivéssemos só o senhor e eu.

Anthony começou a sentir curiosidade. Não teria a senhorita Wadeintenções românticas a respeito dele? Não, isso não era possível. Ela nem sequergostava dele. Ainda que ele não se importasse. Desde que a tinha visto embaixoda chuva queria que gostasse, mas optou por descartar esses pensamentos edisse:

 —  Não estaremos sós, os músicos também estarão lá. — Eu sei que os músicos estarão lá, suponho que isso não pode-se evitar.

Mas a senhora Bennington é algo completamente diferente  — respondeuruborizada.

Anthony não entendia nada. — É que  — continuou ela —   não posso suportar fazer algo errado. Eu fico

com vergonha.Anthony se lembrou então de que seu trabalho sempre era perfeito,

imaculado e de repente entendeu tudo. — O que está tentando dizer que não suporta passar o ridículo na frente de

outros, que só permite que a vejam com tudo sobre controle, é isso?

 —É… sim. — Senhorita Wade, é demais exigente consigo mesma, todo mundo comete

erros. — Sim, eu sei… mas… — Fez uma pausa e mordeu o lábio inferior. Depois

de um momento, suspirou e continuo:  — A verdade é que tenho um medohorrível que riam de mim  — confessou em voz baixa.  — Até que eu não dancerazoavelmente bem preferiria que ninguém me visse.

Anthony a olhou e começou a entender por que sempre era tão reservada, por que nunca mostrava suas emoções e por que não deixava de trabalhar até

que tudo estivesse perfeito. E nesse instante teve vontade de matar seu pai. Porque era tão insegura? Por que era incapaz de ser feliz e de rir de suas falhas?Podia entender que seu pai a tinha arrastado pela metade do mundo, mas pormais que tentasse nunca entenderia que não tinha se preocupado com ossentimentos e emoções de sua filha. Quanto mais conhecia Daphne, menosrespeito sentia por seu pai.

 — Eu verei seus erros — sussurrou ele com uma voz muito suave. — É diferente. Eu não me importo com que o senhor pensa.Ele caiu nas gargalhadas.

 — Isso eu acredito. Muito bem, senhorita Wade, estaremos só a senhorita eeu. Esta casa é suficientemente grande para que um quarteto de cordas, um

Page 83: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 83/201

 

duque e sua pupila possam se esconder. Encontrarei o lugar adequado. — Obrigada  — disse ela e evitando-lhe, se dirigiu até a porta. Já ia sair

quando Anthony falou e ela parou. — Além de dançar, poderia tentá-la que fique mais tempo em troca de

lições de etiqueta? —  Não, obrigada.  — Deu dois passos e notou como ele a seguia com oolhar.

 — Por que não?Daphne voltou a parar e respondeu por cima do ombro.

 — Encontrei quatro livros de etiqueta em sua biblioteca.Anthony começou a rir e ela abandonou a sala. Estava aproveitando muito

dessa batalha com a senhorita Wade. Não havia podido conseguir mais tempoem troca de aulas de etiqueta, mas com certeza que surgiriam novasoportunidades. Se estivesse alerta, podia inclusive conseguir que ficasse até queo museu inaugurasse.

Page 84: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 84/201

 

Capítulo 12

Essa noite, depois do jantar, Daphne estava na biblioteca, trabalhando,quando um lacaio veio buscá-la.

 — Senhorita Wade? —  perguntou na porta.Daphne levantou a vista do texto romano-britânico que estava traduzindo.

 — Sim, Oldham? — Sua senhoria me mandou vir buscá-la.Devia ser a hora de sua lição de dança. Olhou par o relógio que tinha sobre

a mesa: ainda faltava um quarto de hora para as oito. Talvez estivesse atrasada.Deixou de lado a tradução e seguiu o lacaio por umas escadas até chegar à alanorte casa. Anthony tinha encontrado um lugar onde não teriam público.

Durante os seis meses que Daphne estava em Tremore Hall, só tinhaconhecido uma pequena parte da imensa casa ducal, ainda não tinha tempo deexplorar o resto. Assim que, quando finalmente chegaram a seu destino, nãotinha idéia onde estava. Oldham abriu-lhe a porta e se afastou para deixá-la

 passar.Anthony estava esperando de pé junto à chaminé e quando ela entrou fez-

lhe uma reverencia, logo indicou a Oldham que podia sair. Essa sala não tinhasido usada há muito tempo, pensou Daphne, o assoalho estava coberto de pó e ascortinas não se limpavam fazia anos. O único objeto que tinha na sala era uma

 bonita caixa de madeira talhada encima de uma mesa. —  Nunca tinha estado nesta parte da casa  — disse ela olhando ao seu redor.

 — Onde estamos? — Esta é a ala das crianças. — Está muito longe das outras habitações. —  Não acho que Tremore Hall fosse projetada pensando nas crianças  — 

respondeu olhando com um olhar um pouco cínico.  — É comum colocar ashabitações das crianças longes  — continuou com humor,  — assim nãoatrapalham.

 — Que bobagem.  —   Observou a habitação com detalhe.  — Era esta suahabitação?

 — Sim.Tentou imaginar Anthony criança, mas não era fácil. Olhou a parede e

riscou com o dedo umas marcas de pintura. — Um mapa do Império romano  — disse, sorrindo ao se dar conta do que

eram. — Bom, esse tentava ser. Não era perfeito, mas segundo a minha mãe era

Page 85: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 85/201

 

 bastante bom.Ele nunca antes tinha mencionado seus pais.

 — Como era sua mãe?Anthony fechou os olhos como se estivesse lembrando.

 — Era uma pessoa extraordinária. Duvido que consiga descrevê-la. Sempreestava ocupada com suas obrigações de duquesa, mas nunca nos deixava delado, nem a mim e nem a minha irmã. Encontrava tempo para conversar comnossos instrutores sobre as aulas que nos davam, se encarregava de que acozinheira nos preparasse nossos pratos preferidos e esse tipo de coisas. Viola eeu a adorávamos. Eu só tinha nove anos quando ela morreu, mas lembro quetodo mundo estava muito triste.  —   Então abriu os olhos e a olhou.  — Está

 preparada para sua primeira aula de dança? — Sim, claro, — Olhou surpresa ao seu redor. — E os músicos?Ele observou a bonita caixa de madeira em cima da mesa.

 — Depois de nossa conversa nesta manhã, pensei que talvez preferisse istoa um quarteto de cordas. Assim não teria público.

Uma caixa de música. Daphne se aproximou lentamente até ele com umolhar fixo na madeira talhada. Queria continuar odiando-lhe por todo o quehavia dito sobre ela, mas cada vez essa tarefa ficava mais difícil.

Deslizou um dedo pela superfície trabalhada. — Quanto eu era pequena tinha um pássaro que cantava  — disse ela, — mas

quando papai fomos embora de Creta deixou de cantar. Acho que a areia e a poeira da Mesopotâmia foram demais para ele. — Girou a cabeça e se encontrou

com olhar dele que estava observando-a.  — Obrigada, senhoria. É muitaconsideração de sua parte.

Anthony desviou o olhar. —  Não tem importância  — disse e pigarreou. Parecia incomodado.  — 

Suponho que podemos começar. A primeira coisa que tem que saber é que… Voltou a olhá-la e interrompeu seu discurso. Olhou-a de cima a baixo,

começou pelo colo de seu vestido marrom, continuou pelo avental e terminounas botas de trabalho. Com certeza que a estava comparando com algum insetoou com outra coisa semelhantemente desagradável. Mas quando por fim falou

suas palavras não foram as que ela esperava. — Tire-o. — Como disse? — O avental, senhorita Wade, tire-o, por favor.Como ela não se movia ele se aproximou e colocou suas mãos em seus

quadris. Antes que ela pudesse raciocinar, ele estava desfazendo os laços doavental. Perplexa, Daphne tentou se afastar, mas ele segurou nas cintas comforça e a impediu.

 —  Não se mova — ordenou enquanto desfazia completamente o nó.  — Vou

tirar-lhe isto. Asseguro-lhe que é a peça mais horrível que já vi em minha vida. — Acreditei que tinha aprendido a pedir as coisas com, por favor  — atacou

Page 86: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 86/201

Page 87: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 87/201

Page 88: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 88/201

 

caricias, fizeram com que ela se imaginasse como seria seu cabelo por cima dotravesseiro dele e imediatamente se arrependeu disso. Tinha que recordar a dorque tinha sentido ao ouvir o que de verdade pensava dela. Mas quando o olhou,a única coisa que viu em seu olhos foi o mesmo calor, a mesma necessidade que

ela sentia.Daphne se obrigou a não se afastar do olhar. — Assim que a aparência exterior de uma mulher é o que mais importa?  — 

 perguntou-lhe, como se estivessem falando do tempo. — Para todos os homens émais importante o envoltório do pacote do que há em seu interior?

Ele colocou outra forquilha em sua mão e continuou mexendo em seucabelo.

 — Os homens não são muito profundos quando pensam nas mulheres. —  Não parece que tenha muito bom conceito de inteligência de seu próprio

gênero — disse ela com desaprovação. —  Nós os homens perdemos toda nossa inteligência frente às mulheres. O

amor nos transforma em idiotas ou em completos vilões. Muitas vezes, ambas ascoisas.

 — Por que sempre fala do amor em uns termos tão denegridos? — Eu? — Fez uma pausa e apertou os lábios até formar uma fina linha. — É

irônico, sabe? A verdade é que o amor me dar pânico, maldita seja, sempre ficoaterrorizado. Por isso nunca permitirei me apaixonar.

Ela nunca podia ter imaginado que aquele homem que caminhava como sefosse o dono do mundo tivesse medo de algo.

 — Por que tem medo do amor? — Desculpe minhas palavras — disse ele desviando olhar, — um cavalheiro

não deve se maldizer frente a uma dama.  —  Retomou sua tarefa.  — Conversascomo esta conseguem tirar o pior de mim.

 —  Não respondeu minha pergunta — insistiu. — Por que o amor lhe assusta? — A senhorita deveria saber a resposta  — respondeu ele na vez que

colocava outra forquilha e a colocava no lugar.  — A senhorita também seassusta.

 —  Não, a mim não.

 — Oh, sim eu acho que sim. —  Não seja ridículo. O amor não me assusta. — Verdade?  — Ele abaixou a mão até seu queixo e levantou até que seus

olhares se encontraram.  — Por que insiste em colocar este horrível avental ou por que nunca tira os óculos, por que usas esses vestidos tão feios e um penteadoda pior maneira? A senhorita está se escondendo.

Daphne se deu conta de que ele tinha conseguido trocar os papéis pondo elade defensiva e sem ele confessar nada em troca. Como desejava não ter feitoessa pergunta. Se afastou de sua caricia e baixou a vista até sua perfeita gravata.

 — Sou uma pessoa prática e me visto de acordo com meu trabalho. — Muito prático se alguém deseja passar totalmente despercebido.

Page 89: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 89/201

 

«Como um inseto em cima de uma folha.»Cada vez que se lembrava dessas palavras, sentia um vazio no estômago.

Se lembrou de todas às vezes que por medo que alguém descobrisse o que sentia por ele, ela tinha se escondido, dissimulado. Tinha tentado passar o mais

despercebida possível. No fundo, sabia que tarde ou cedo iria para outraescavação ou a outro projeto, e que então teria que dizer-lhe adeus para sempre. Não era de estranhar que tivesse lhe magoado tanto ouvir sua opinião.

Talvez tenha sido desagradável, mas tinha sido claro. Todavia, ainda que tivesserazão, morria antes de reconhecer.

 —  Não tenho medo do amor — mentiu. — Se fosse assim, não me poria em procuraria encontrar um marido.

Anthony não respondeu e tampouco olhou-a, mas estavam tão próximosum do outro que até sem os óculos, podia ver perfeitamente suas características.Tinha as sobrancelhas juntas, como se estivesse muito concentrado no queestava fazendo, os olhos estreitos e o olhar fixo em seus dedos.

Colocou a última forquilha e baixou os braços. Se afastou um pouco para poder observar melhor o resultado e Daphne sentiu uma horrível pontada devulnerabilidade. Misturar-se com o papel pintado da parede era muito maisseguro.

Ele apertou os lábios. Se dissesse algo horrível, por mais insignificante quefosse ela romperia seu acordo. Seu museu e sua escavação podiam ir para oinferno.

 — Muito melhor, senhorita Wade  — disse e tomou ar.  — Parece… muito

 bonita.Havia algo nessas palavras, o modo inseguro em que as pronunciou, que

lhe tocaram o coração e desejou acreditar que o que ele dizia era verdade, aindasabia que isso era impossível.

 — Dois elogios na mesma noite? Estou impressionada com essa sua novatendência de me bajular.

 — Eu nunca bajulo ninguém. Simplesmente dou minha opiniãosinceramente.  — Tirou de seu bolso os óculos e os ofereceu.  — Se realmentequer encontrar um marido, senhorita Wade, deixe de se esconder. Então talvez

descobriremos se é um marido o que realmente quer.Justo no momento em que Daphne pegou os óculos, ele deu uns passos

 para trás. — Acho que nós nos distanciamos um pouco de nossa aula de dança.A ideia de dançar com ele nesse momento, quando tinha todos os sentidos a

flor da pele, era intolerável. Suas palavras, suas caricias e o fato que ele sabiaseu mais profundo medo, já a tinham alterado bastante.

 — Talvez devêssemos deixá-lo para amanhã — sugeriu ela. — De acordo  — aceitou ele, surpreendendo ela mais uma vez. Deu um

 passo par trás, fez-lhe uma reverencia e deu a volta. — Eu gostaria de falar com a senhorita amanhã de manhã  — disse já de

Page 90: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 90/201

 

costa.  — Teremos que começar a catalogar os artefatos que estão prontos parasua remoção a Londres. Esteja na antika as dez. Por favor.

Daphne observava suas costas enquanto ele ia embora, sentindo ainda acaricia de seus dedos em sua pele. Estava a ponto de sair quando compreendeu o

que ele estava dizendo. — Amanhã é quinta-feira, senhor — gritou, — me deu esse dia livre segundonosso acordo. Lembra-se?

 — Sim, assim é.  — Parou na porta e voltou a olhá-la.  —  Nos veremos nasexta-feira. Aproveite de seu dia livre, senhorita Wade.  — E com esta frase sefoi.

Daphne continuava parada onde ele a tinha deixado, olhando surpresa paraa porta vazia. Aquele homem era imprevisível. Um dia ela era apenas um insetoe depois tinha os olhos bonitos. Quando conseguia odiar-lhe fazia algomaravilhoso e voltava a gostar dele de novo e quando gostava dele fazia algodesprezível e o odiava de novo.

Daphne tocou no colo ainda sensível pelas caricias de seus dedos e percebeu que ainda já não lhe importava o que ele pensava dela, ela nunca poderia chegar a odia-lo.

Page 91: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 91/201

 

Capítulo 13

Durante os seis meses que Daphne estava em Tremore Hall, não tinha tidotempo de explorar a casa ou seus arredores, nem tampouco a cidade. Nosdomingos sempre assistia com os Bennington o culto religioso em Wychwood,mas nunca tinha visitado as lojas nem tinha passeado por suas ruas.

Agora que também tinha livres as quinta-feiras podia aproveitar para ir acidade e fazer algumas compras. Daphne tinha decidido gastar um pouco dodinheiro que tinha ganhado trabalhando. Seria seu primeiro passo que fazia emsua nova vida de menos trabalho.

Enquanto se dirigia a Wychwood, ia passeando tranquilamente,desfrutando da beleza das casas, dos velhos carvalhos e das cores de outono dasfolhas que cobriam o caminho. Não podia evitar comparar a paisagem deHampshire com as palmeiras e a areia do norte da África, ou com as vermelhasmontanhas de Petra ou com os montes de Creta, cobertos de verde alecrim. Tudotinha seu encanto, mas para Daphne a Inglaterra era o lugar mais belo que tinhavisto. Duvidava que pudesse se cansar do clima inglês, mas se alguma vezacontecesse, só teria que pensar nas tempestades de areia da Mesopotâmia para

voltar a pensar que a chuva da Inglaterra era maravilhosa.Ao pensar em chuva pensou em Anthony e como ele a olhava agora. Como

uma mulher. Recordou o tato de seus dedos sobre sua pele e de suas palavrassobre a obsessão que podia despertar em um homem o cabelo de uma mulher.Então voltou a sentir aquele calor, aquela necessidade que tinha sentido quando,às escondidas, lhe observava tirar a camisa na escavação. Mas não culpava elede se sentir arrependido. Depois de tudo era fantástico que um homem que tinhaadorado durante meses finalmente se desse conta de que ela existia, inclusiveainda que já fosse tarde demais. Ainda não significava nada.

Talvez ele achasse que tinha os olhos bonitos, talvez agora a visse comoalgo mais que uma máquina, mas Daphne sabia que para ele o museu e aescavação continuavam sendo o mais importante. Afastou todos os pensamentossobre Anthony e acelerou o passo.

Em Wychwood tinha uma rua cheia de lojas. Daphne a percorreu todinha,detendo-se um instante em todas as vitrines, mas quando chegou à loja daesquina, não teve tempo o bastante.

Daphne ficou hipnotizada ante a vitrine da senhora Avery, a modista dacidade. Ela já tinha exposto uns lindos vestidos capazes de tentar a qualquer

 jovem que passasse por ali e um deles tinha tentado ela mesma. Era um vestidode seda rosa, com um decote que deixava os ombros descobertos e mangas

Page 92: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 92/201

 

combinadas com um rosa mais escuro. A seu lado tinha expostos uns sapatos deseda bordada que combinavam perfeitamente. Daphne nunca em toda sua vidahavia visto algo tão feminino, bonito e incomum.

Se aproximou para vê-lo melhor e um incontrolável desejou a tomou. Ela

nunca tinha se interessado por roupas, a seda não era muito útil em Marrocos ouem Petra e não tinha considerado oportuno ter uma peça tão superficial comoum vestido de noite. Mas agora sua vida ia mudar, já não estava no deserto.

Daphne imaginou como se sentiria vestindo esse vestido e antes que pudesse mudar de opinião, abriu a porta e entrou na loja.

Soou uma campainha e todas as mulheres que ali tinha levantaram a vista para olhar a nova visitante. Daphne sorriu a todas e deu a volta para observar ovestido.

Quando o tocou supôs que estava perdida. Queria esse vestido, necessitavadesse vestido e não se importava em gastar nele todo o seu dinheiro. Parecia deseu tamanho, mas se não, encomendaria que lhe fizesse um na medida.

Voltou a soar a campainha da porta e entrou à senhora Bennington, querapidamente se aproximou dela.

 — Querida senhorita Wade, eu a venho seguindo por toda a cidade, nãoouviu como eu lhe chamava? Não sabia que hoje ia vim fazer compras, por quenão me disse na hora do café da manhã?

 — Eu ainda não sabia e quando decidi vim à senhora e o senhor Bennington já tinham ido.

 — Pois tem sorte de que a tenha encontrado, assim poderia voltar a casa

conosco. O duque teve a amabilidade de oferecer-nos a mim e ao meu maridouma carruagem. —  Deu-lhe uma carinhosa palmada na mão.  — Me alegro tantode que se distraía. Deus sabe que deveria ir para a Enderby, leva não sei quantotempo presa naquela cabana suja, como o senhor Bennington a chama?

 — Antika. — Ah sim, sim, antika. É um nome muito estranho. — Bom dia, senhora Bennington — interrompeu uma jovem dama ruiva que

estava perto delas. — Senhorita Elizabeth, é um prazer voltar a vê-la. Como se encontra?

 — Está bem, ela sempre está bem — respondeu por ela uma moça um poucomais velha, — ainda continua a mesma tonta.

 — Do mesmo jeito que você — respondeu a senhorita Elizabeth e continuouolhando primeiro Daphne e depois a senhora Bennington, que suspirouenvergonhada.

 — Oh, as três não se conhecem, não é? Que descuido de minha parte!Senhorita Wade, eu lhe apresento a senhorita Anne Fitzhugh  — disse apontando

 para a mais velha  —   e ela e a senhorita Elizabeth Fitzhugh. Minhas queridasdamas, ela é a senhorita Wade.

Todas a saudaram com cortesia. — É um prazer conhecê-la — disse a senhorita Fitzhugh. —  Não entendo por

Page 93: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 93/201

 

que a senhora Bennington não nos apresentou antes, ao acabar o culto dedomingo na igreja.

 — Eu teria  — respondeu à anciã rindo-se,  — mas logo que acaba acerimônia a senhorita Wade sai correndo para Tremore Hall.

As duas moças a olharam de tal modo que Daphne se viu obrigada a seexplicar. — O senhor Bennington descobre artefatos a tal velocidade que se não

 passo as tardes do domingo encerrada na biblioteca do duque, não tenho tempode catalogá-las todas.

 — Se eu morasse em Tremore Hall, também, aproveitaria qualquer desculpa para não sair dali  — confessou Anne.  — Pois o duque poderia querer falarcomigo.

 — Se ele te dirigir a palavra  — interveio sua irmã —   você desmaia, comcerteza.

 — Eu não faria isso. — Claro que faria — respondeu Elizabeth rindo. —  Não, não faria! — Já está bom, queridas  — interrompeu uma mulher mais velha que

acabava de se meter no grupo. —  Não briguem.Quando a mulher se aproximou de Elizabeth e Anne, para Daphne foi

evidente que era mãe das duas. Era una mulher muito bonita, de pele lisa ecabelo de um vermelho mais escuro que o de suas filhas.

Quando a apresentaram, lady Fitzhugh disse:

 — É um prazer conhecê-la finalmente, senhorita Wade, meu marido nãodeixa de elogiar seu trabalho.

 — Sir Edward é muito amável. — Adora antiguidades, acredito que já tenha percebido. Acho que já leu

todos os artigos que seu pai escreveu, o admirava muitíssimo. — Papai disse que a senhorita desenha muito bem — interrompeu Elizabeth,

 — e que fala latim e grego e que morou em um monte de lugares. Já esteve naAbissínia? Ali está o Nilo, não é?

 — Sim — respondeu Daphne sorrindo. — É, já estive ali.

 — Tem que vim tomar um chá conosco no domingo e nos contar todas assuas aventuras. Anne e eu não somos muito boas estudantes e papai acha quesomos umas criaturas frívolas, por isso lhe gosta muito, senhorita Wade. Elesempre disse que a senhorita é uma pessoa muito prática — riu contenta. — Paraele isso é um grande elogio.

 —  Nos encantaria que viesse no domingo  — continuou lady Fitzhugh,  — ainda que talvez minha filha tenha sido direta demais não tinha considerado quea senhorita já esteja ocupada.

 — Oh  — se lamentou Elizabeth,  — é verdade, não me lembrava de que a

senhorita não tem as tardes de domingo livres. Teria que pedir-lhe permissão aoduque e com ele é intimidante, talvez seja um problema. Suponho que é normal

Page 94: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 94/201

 

que seja assim, sendo duque e todas essas coisas. — Em tudo, senhorita Elizabeth  — disse a senhora Bennington,  —  parece

intimidante, mas quando se o conhece é bastante amável. A gente que vive emsuas terras o considera um senhor justo e bom e o senhor Bennington lhe tem

grande estima. Direi-lhe mais, faz duas semanas, o senhor Bennington, asenhorita Wade eu mesma jantamos com ele foi encantador. Não é senhoritaWade?

 — Sim, foi encantador  — admitiu Daphne, «demais para minha paz deespírito».  —  Não é necessário que lhe peça permissão, estarei encantada detomar o chá com as senhoras no domingo, lady Fitzhugh. Obrigada pelo convite.

 — Excelente, Edward sempre disse que a senhorita é uma dama seria eresponsável, acredito que será uma boa influencia para minhas filhas.

 — Ao contrário  — disse Daphne,  — ultimamente estão me dizendo que soumuito seria e restrita, acho que suas filhas que serão uma boa influencia paramim.

 — Então já está decidido  — declarou Anne.  — Venha tomar o chá e noscontará todo o que sabe a respeito do duque.

 — Sim!  — gritou Elizabeth.  — Falar de Tremore será muito maisinteressante que falar de Abissínia. Nós a vimos um par de vezes, mas papai étão chato. Se nega a nos levar com ele quando visita a senhora Bennington,tampouco é de muita ajuda. Nunca nos conta nada.

 — Eu não sei nada  — respondeu a anciã.  — Eu quase nunca vejo o duque. Nossas habitações ficam muito distantes das suas e ele é um homem muito

reservado. Além do mais, o senhor Bennington fala muito pouco sobre ele. — Que nem o papai, assim que acho que a senhorita Wade, é nossa melhor

fonte de informação. Nós sempre vamos ao baile que o duque oferece para todaa cidade e às vezes o vemos cavalgando no campo em cima de seu cavalo negro,mas isso é tudo. Ele não celebra outras festas nem bailes e nunca vem para acidade. Oh, como eu gostaria que ele viesse, talvez assim pudesse dançar comele. Isso seria maravilhoso.

 — Então você que desmaiaria  — disse Anne,  —   e deixaria todos nós passando o ridículo.

 — Anne, já basta de dizer bobagens interrompeu lady Fitzhugh.  — Viemosaqui fazer algo mais que falar sobre o duque. Temos que encontrar para você umvestido novo.  — Veio até Daphne.  — Senhorita Wade, a esperamos em casa nodomingo e a senhora também, senhora Bennington.

Lady Fitzhugh e sua filha mais velha se separaram do grupo e então aatendente se dirigiu as outras três para perguntar se poderia ajudá-las em algo.

 — Eu já gastei toda a mesada do mês  — disse Elizabeth negando com acabeça. —  Não posso comprar mais nada.

 — Eu tampouco vou comprar algo  — disse a senhora Bennington.  — Só

entrei aqui para falar com a senhorita Wade. — Esperemos que você, senhorita Wade, não seja tão chata como nós  — 

Page 95: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 95/201

 

comentou Elizabeth —  e tenha intenções de comprar algo.Daphne apontou o vestido de seda rosa da vitrine.

 — Eu quero esse vestido. — Oh, sim!  — exclamou Elizabeth.  — Essa cor é perfeita para a senhora,

cairá muito bem. Parece de seu tamanho e acho que estará pronto para que odomingo possa usá-lo em nossa pequena reunião. — Oh, a senhorita Wade usará esse vestido em celebrações muito mais

importantes que nossas reuniões  — disse a senhora Bennington afastando-se davitrine para que para que pudessem tirar o vestido. —  Dentro de pouco tempo iráa Chiswick e passará o inverno com lady Hammond. Depois, irá a Londres paraa temporada de bailes.

 — Londres!  — gritou Elizabeth.  — Verdade? Quando? Nós iremos depoisdo ano novo, papai tem alguns negócios lá que tem que atender e nós ficaremostoda a temporada.

 — Eu irei ir antes — respondeu Daphne. —  No dia vinte e um de dezembro émeu último dia em Tremore Hall e logo ficarei na casa de lady Hammond.  —  Ao dizer isso, Daphne sentiu um pouco de saudade, mas rapidamente se lembrouque Tremore Hall não era sua casa.

 — Oh, deve ser maravilhoso ser acompanhante da irmã do duque  — disseElizabeth. — Eu gostaria de poder ter essa oportunidade.

 —  Não será sua acompanhante, querida — a corrigiu a senhora Bennington, — a senhorita Wade é amiga de lady Hammond.

 — Melhor para mim, assim poderei ir visitá-la enquanto estiver em sua

casa. Vi a viscondessa uma vez em Brighton, quando papai nos levou de férias.É muito bonita, não é? Se é sua amiga, se envolverá em meios de pessoas muitoelevadas.

 — Eu sei e devo confessar-lhe que me sento um pouco intimidada  — admitiu Daphne. —  Não estou acostumada a andar em sociedade.

 — Eu menos ainda, mas isso não deve assustá-la, senhorita Wade.Enfrentaremos juntas os mistérios da alta sociedade e me apresentará a todos osseus sofisticados amigos.  — Um atrevido sorriso lhe iluminou o rosto.  — Se

 passamos o ridículo, nos consolaremos umas com as outras.

 — Bobagens  — exclamou a senhora Bennington.  — As duas vão se sairmuito bem.

Daphne viu que a vendedora aguardava com o maravilhoso vestido rosa nasmãos.

 — Me perdoe, mas já que não posso esperar mais. Tenho que experimentá-lo.

Deixou as duas mulheres e seguiu a lojista até o provador; não recordavater estado tão nervosa por uma peça de roupa.

Assim quando a saia roçou seus tornozelos sabia que tinha acertado. Se

virou para que a modista pudesse prender os botões da costa, se olhou noespelho e se sentiu a mulher mais bonita do mundo. A lojista marcou com umas

Page 96: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 96/201

 

agulhas os pequenos ajustes que eram necessários e Daphne voltou a se olhar. Jánão era a jovem discreta com óculos em que ninguém reparava, agora era umamulher bonita, por dentro e por fora. Não entendia como um simples vestidotinha conseguido convencê-la disso, mas estava entusiasmada que assim seja.

Alguém bateu impacientemente e a tirou de sua absorção. — Ficou bem? —  perguntou Elizabeth — . Saia para que possamos vê-la.Descalça, Daphne se aproximou da porta e quando a abriu, esperou ansiosa

a reação de Elizabeth. — Está belíssima!  — declarou à jovem e entrou no provador fechando a

 porta atrás dela. — Tinha certeza de que este vestido ressaltaria sua silhueta e acor de seus olhos. Vai ficar com ele, não?

 — Sim. —  Na verdade favorece, senhorita  — disse a modista enquanto colocava as

últimas agulhas em sua cintura.  — Só necessita de alguns ajustes nas mangas eno decote e será perfeito para a senhorita.

Elizabeth ouviu como alguém a chamava no corredor, abriu um pouco a porta e colocou a cabeça.

 — Oh, essa deve ser Anne — disse e voltou a fechar a porta. — Suponho quemamãe já quer voltar para casa, assim tenho que ir.

Elizabeth colocou as mãos nas de Daphne e as apertou carinhosamente. — Eu morro de vontade de que venha tomar chá conosco. Espero que nos

conte muitas coisas sobre Abissínia e sobre todos os lugares em que esteve, masespecialmente espero que nos conte coisas do duque. É tão bonito e tão alto, é

como o príncipe encantado dos contos de fada. E um duque é quase um príncipe,não é?

Elizabeth saiu do provador antes que ela pudesse responder. Daphnecolocou um pouco a cabeça e observou como suas novas amigas saíam da tenda.

 — Sim, por um instante eu também achei que era um príncipe  — sussurrou, — mas é apenas um homem.

Voltou a entrar no provador e fechou a porta. A modista começou adesabotoar os botões da sua costa, mas Daphne a deteve.

 —  Não, ainda não. Eu gostaria de ficar com ele um pouquinho mais.

A mulher levantou a vista e olhando-a nos olhos, compreendeu o que sentiae se afastou. Daphne voltou a observar sua imagem no espelho e a felicidade e aalegria voltaram a inundar-lhe. Nesse instante se sentia a mulher mais bela domundo e isso era muito mais gratificante que sonhar com um príncipeimpossível. Não podia deixar de sorrir, tinha comprado um vestido maravilhoso.

Page 97: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 97/201

 

Capítulo 14

Alguns nobres pensavam que seu título já os transformava em cavalheiros,mas para Anthony ser um cavalheiro requeria muito mais que ter nascido com

 privilégios. Ele tinha se oferecido para ensinar a senhorita Wade a dançar eainda que ele quisesse que ela ficasse, ia fazer o melhor possível. Iria cumprirsua palavra ainda que ela pusesse a prova sua honra até limites perigosos.

Quando pediu-lhe que tirasse o avental não tinha sido totalmente sincero. Não era só que ele que achava que aquela peça era horrível, mas queria voltá-laa vê-la sem ele. Vislumbrar de novo a magnífica figura que tinha descobertonaquele dia embaixo da chuva.

Ele havia tido razão ao classificá-lo mentalmente de cinturão de castidade,mas com o corpo como o dela pode ser necessário. Na outra noite tinha tido queconter-se para não acariciar nada mais que seus cabelos. Era sua primeira aulade dança e seu mestre só pensava na dança mais velha do mundo.

 Nessa mesma manhã, só em pensar nela todo seu corpo voltou a arder dedesejo.

Anthony parou o Desafío junto ao lago e o lacaio que cavalgava junto deles

 parou a uma distancia prudente de seu amo.Era uma tarde quente e gloriosa, os carvalhos e os álamos olhava todas as

suas cores de outono, mas ele não percebeu. Enquanto sua montagem refrescava,Anthony se permitiu fechar os olhos e imaginar que poderia fazer com aquele

 par de longas e sedutoras pernas.Quando abriu os olhos, seu cavalo já tinha saciado a sede e disposto a

continuar o passeio, mas ao levantar a vista, algo na colina captou sua atenção.Ali, embaixo da sombra de um grande carvalho, viu a mulher que havia

ocupado seus pensamentos toda a manhã. Estava sentada em uma toalha branca

e tinha uma grande cesta de picnic de um lado e seu chapéu de palha do outro.Anthony fez um gesto ao lacaio para que lhe seguisse e dirigiu a  Desafío até o alto da colina.

Como todos os jardins da propriedade, a rotatória, o avô de Anthony tinhamandado construir, o nono duque de Tremore tinha sido desenhado porCapability Brown. Levava o ostentoso nome do Templo de Apolo, mas não eranada mais que um círculo de colunas decoradas com falsas esculturas romanas.

Ao ouvir o barulho Daphne levantou a vista. — Este lugar é lindo!  — exclamou ao ver os homens que desmontavam a

 poucos metros dela. — Espere aqui. — Anthony entregou as rédeas de seu cavalo ao lacaio e foi

Page 98: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 98/201

 

reunir-se com a senhorita Wade. — Fico lisonjeado que goste de minha propriedade — disse ele enquanto se

aproximava. Se deteve ao chegar ao lado da toalha e a saudou. Então viu ocaderno que ela tinha no colo e se deu conta de que estava desenhando o lago, os

 jardins, as fontes e Tremore Hall ao fundo.  — Vejo que já veio desenhar a paisagem. — Como poderia não desenhar?  — Observou a cesta que tinha no lado.  — 

Mas também tinha uma cesta de picnic. Gostaria de acompanhar-me?  — Afastouo chapéu para que ele pudesse sentar-se a seu lado.  — Seu cozinheiro é muitogeneroso com a comida, acredito que há de sobra.

Ele não se moveu. — Está segura de quer que eu fique? Depois de tudo  — continuou

suavemente, — Eu não gosto da senhorita, lembra-se? — Se continua esperando que me desculpe, pode ir  — respondeu ela com

decisão, — mas se está disposto a ser amável pode ficar. — Obrigada  — disse e fez uma reverencia.  — Me esforçarei para ser tão

amável como minha natureza permita. —  Não sei se isso será suficiente, senhoria  — disse ela olhando-o com

suspeita.Anthony riu, mas sua risada se evaporou quando ela se moveu para dar um

lugar e ele pode ver seus preciosos pés descalços. Com o movimento levantou-se um pouco de sua saia e ainda só pode vislumbrar os pés, a imaginação deAnthony seguiu pelos tornozelos, as pernas e suas suaves e firmes coxas.

 — Está tudo bem?  —  perguntou Daphne levantando a vista por cima dosóculos.

Bem? Não, Deus, estava ficando louco.Anthony se sentia como se estivesse lutando para não fundir-se em areias

movediças. Tomou fôlego e respondeu. — Sim, claro. —  Se sentou rapidamente, não queria que ela percebesse do

 problema que estava crescendo justo na altura de seus olhos. Por sorte, elacontinuava olhando no rosto. — Estou perfeitamente bem, obrigado.

Anthony tirou o casaco, sem nenhuma cortesia, dobrou sobre seu colo

estirando as pernas. Afrouxou a gravata e apoiou todo seu peso nos braços,estendidos para atrás. Fazendo isso, viu as botas de Daphne e as meias

 perfeitamente dobradas em seu interior. Ficou hipnotizado olhando-as, tentando pensar em algo que dizer. A única coisa que lhe ocorreu para controlar sualuxúria foi… lhe importunar.

 — Assim que deste modo eu decidi passar seu dia livre  — disse, com um arde fingida decepção. — Trocou o tempo de estar comigo por uma cesta de picnice desenhar as paisagens?

 — Eu temo isso — respondeu ela e sua pequena desculpa lhe apaziguou um

 pouco. — Mas o senhor teria me feito trabalhar. — Enquanto que a senhorita pode perder tempo em algo tão frívolo como

Page 99: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 99/201

 

isso. — É muito pior do que o senhor imagina  — respondeu ela seria.  — Esta

manhã eu fui a cidade e comprei sabonetes com aroma de gardênia e uma caixade bombons.

 — Pensei que talvez tivesse comprado um vestido novo.Ela se aproximou mais dele e como se lhe estivesse fazendo umaconfidencia, disse:

 — Eu comprei.Anthony, surpreendido, olhou o vestido marrom que usava, mas isso fez-

lhe pensar outra vez em suas pernas, assim que decidiu se concentrar na paisagem.

 — Se comprou um vestido novo, pode saber por que não o vestiu?Ela lhe deu uns toques no ombro com o lápis.

 — Eu comprei um vestido de noite  — respondeu rindo.  — E não caçoe dasminhas roupas.

 — Um vestido de noite? Senhorita Wade, nunca deixa de me surpreender.De que cor? Não me diga que é marrom, se for, eu mesmo irei à loja da senhoraAvery e lhe encomendarei um traje de outra cor; logo, arruinarei a reputação deseu negocio para sempre.

 —  Não é marrom, é rosa e o tecido é de seda — suspirou absorta.Ele se voltou para vê-la melhor. Tinha uma expressão de total felicidade.Como todos os homens, ele era incapaz de entender como uma peça de

roupa podia produzir tal felicidade em uma mulher, mas lhe encantavam os

resultados. Uma mulher era tão bonita quando se sentia e parecia que a senhoritaWade não era imune aos efeitos de um maravilhoso vestido de seda rosa. Amulher que ainda agora estava sentada ao seu lado não se parecia em nada com asenhorita Wade que ele conhecia.

 — Eu tirei um grande peso.E a observou enquanto ela voltava a se concentrar em seu desenho. Fixou-

se em como o sol se refletia em seu suave cabelo, recolhido em delicados laços. — Vejo que decidiu seguir meu conselho. — Que conselho?

 — Sobre seus cabelos.Ela não o olhou, mas ele se deu conta de que sorria ao colocar atrás da

orelha uma mecha rebelde. — Ella me ajudou. Trabalho para uma dama. — Ella? — Uma das empregadas. Não conhece o nome de seus empregados? — Só os mais classificados  — negou Anthony com a cabeça.  — Tenho sete

 propriedade a maioria só as visito uma vez ao ano para comprovar seu estado efalar com o capataz. Cada uma tem seus serventes e nunca os contrato; disso se

encarregam a governanta e o mordomo. Ainda que quisesse, não poderia melembrar do nome de todos meus trabalhadores.  —   A olhou resignado.  — 

Page 100: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 100/201

 

Suponho que agora vai me jogar em rosto e me dizer que deveria saber. — Talvez  — admitiu ela e apontou para o lacaio que estava próximo deles

esperando qualquer ordem. — Sabe como ele se chama? —  Não sei e não quero saber  — respondeu Anthony na defensiva e sem

saber como se explicar. —  Não seria apropriado. Um homem de minha posição,a não ser que seja absolutamente necessário, só falo com os empregadoschegados. Ele trabalha nas cavalarias.

 — Mas é um homem. —  Não, não é, não para mim. Para mim é um lacaio. Se soubesse seu nome,

se souber qualquer coisa sobre ele, se tornaria uma pessoa e isso reduziria adistancia entre ele e eu. Com o tempo, poderíamos inclusive chegar a sermosamigos.

 — E isso seria ruim? —  Não é a questão de que seja bom ou mal, não é apropriado. — É um modo muito conveniente de evitar que as pessoas se aproximem do

senhor — murmurou ela e continuou desenhando.  — Sempre com a desculpa desua posição.

 —  Não acho que o tratamento que dou aos empregados seja assuntou seu. —  Não — respondeu seca sem levantar a vista, —  é assunto seu. — Já estamos discutindo de novo, senhorita Wade? — Tomou ar e passou a

mão pelo cabelo. — Por que será que fazemos tanto isso ultimamente? — Talvez porque já não lhe permito que me trate como uma empregada

sem nome.

 — Acaso fazia antes? — Sim — ela respondeu, olhando-lhe diretamente nos olhos, mas mantendo-

se tão inexpressiva como uma estatua. Logo abaixou a cabeça e voltou a seconcentrar no desenho.

Ele ficou absorto observando seu perfil e pela enésima vez nesses dias, se perguntou em que devia estar pensando. Daphne tinha se transformado em umenigma que necessitava resolver; necessitava saber que era o que ela sentia.

Voltou a se soltar uma mecha de seu cabelo e ele carinhosamente tirou deseu rosto acariciando cada centímetro de sua mecha até colocá-la atrás da orelha.

Mas não parou ai, seus dedos deslizaram suavemente pelo colo até chegar àsubida da camisa branca de seu vestido. Devagar, se aproximou mais e com amão pegou-lhe na nuca.

 — Eu não penso na senhorita como uma empregada.Ela se sobressaltou um pouco e se afastou.

 — Que faz exatamente um lacaio de cavalaria?  —  perguntou ela tentandodesesperadamente voltou a manter uma conversa normal.  — Me temo que seimuito pouco sobre cavalos. Ainda que seja esperta montando camelos, sou uma

 péssima amazona.

Ele poderia ter continuado tocando-a, mas percebeu sua tentativa deescapar da situação e retirou a mão.

Page 101: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 101/201

 

 — Camelos? — Sim — afirmou varias vezes movendo a cabeça. Tinha o lápis fortemente

apertado entre os dedos e continuava desenhando.  — Os camelos são animaiscomplicados, difíceis de cavalgar e além do mais cospem.

 —  Não consigo imaginar que pudesse montar um camelo, senhorita Wade. — Ele viu como seus pés descalços voltaram a se esconder debaixo da saia e eledesejou voltar a golpear-lhe. — Eu nunca seria capaz de fazer isso.

 — Bom — disse ela tímida — melhor assim. — Sim, estou de acordo. — Anthony se obrigou a afastar a vista daqueles pés

 — Gostaria de aprender a montar cavalo?Ela continuava desenhando sem olhar-lhe no rosto.

 — E quanto tempo mais teria que ficar em troca dessas aulas de hípica? Nesse momento, não era tempo exatamente o que ele queria em troca, e sim

algo mais sedutor e muito menos honorável. — Um mês? — Obrigada, mas não — respondeu ela rindo as gargalhadas. — Cavalgar em Row está muito na moda  — disse ele tentar atrair sua

atenção.Funcionou, porque ela levantou a vista e perguntou:

 — Row? O que é isso? — O Rotten Row é um passeio de arena que já em Hyde Park e onde se dar

nomeação as pessoas da sociedade a partir de doze do meio-dia para se ver ecavalgar juntos.

 — Rotten Row. Que nome! — Cavalgar por Row é um excelente modo de impressionar a um cavalheiro

ou uma jovem dama. Passear a cavalo durante a temporada lhe proporcionarámuitas ocasiões de conhecer a maridos em potenciais. Assim que se dará contado necessário que é para a senhorita aprender a cavalgar.

Ela mordiscou lápis considerando suas palavras. —  Não acho que um mês seja uma troca justa  — disse finalmente  —  No

final das contas, se sei montar num camelo, um camelo não será tão difícil. — Estou disposto a negociar. O que acha justo?

 — Como eu disse, os camelos são uns animais complicados assim que achoque um dia de prática será suficiente para aprender a dominar um cavalo.

Uma imagem dela vestindo calças ajustadas e montando num camelo passou-lhe pela mente e decidiu arriscar-se com a seguinte pergunta.

 — E quando montava um camelo utilizava sela de montar?Agora sim a tinha embaraçado.

 —  Não tinha pensado nisso —  piscou surpresa. — Tal como lhe disse antes, sou sincero quando digo que quero ajudá-la. — 

Ainda se era sincero tinha que admitir que tinha jovens damas que por não saber

ou por preferência, não montavam cavalo, mas nem louco ia confessar asenhorita Wade. Depois de tudo, ocultar informações não era o mesmo que

Page 102: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 102/201

Page 103: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 103/201

Page 104: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 104/201

 

tedioso, trivial e muito chato, ainda que também tenha suas recompensar:riqueza, poder e prestigio.

 — E influencia. Pense em todas as cosas boas que pode fazer com essedinheiro. Se tivesse visto a pobreza de certos lugares em que eu estive… 

 — Me aborrecerei e odiaria, nunca poderia suportar perceber que não possofazer nada resolver as coisas. Ainda que doasse todo meu dinheiro, continuariahavendo pobreza no mundo. É triste, mas é assim.

 — Sim — aceitou ela, — suponho que sim. — Eu faço o que posso para ajudar. Participar de obras benéficas é uma de

minhas principais obrigações. Também é política, claro, e as pessoas que moranas minhas terras. E tudo o que devo fazer baixa o constante exame de minha

 pessoa as vezes que luto por manter minha privacidade. — Esta manhã, quando estive na cidade, conheci a esposa e as filhas de sir

Edward. Estavam falando sobre o senhor com a senhora Bennington, todas pensam que é um homem muito reservado.

Ele se sentiu incomodado ao pensar em todo o que tinha dito dele. Aenfermidade e a morte de seu pai eram um dos assuntos preferidos da conversa enão deixavam de gerar todo tipo de fofocas e especulações.

 — Duvido que só disseram isso, senhorita Wade. —  Não me disseram mais nada e não tinha um pingo de maldade em suas

 palavras.Anthony riu as gargalhadas.

 — Então, deve ter sido uma conversa muito curta.

A olhou e percebeu que ela tinha parado de cortar queijo. O estava mirandoseria… Sua expressão não era diferente de outras ocasiões, mas desta vez

 percebia um ar de tristeza e uma censura em seus olhos. — Eu não gosto de fofocas, senhorita Wade — se sentiu obrigado a explicar.

 — Eu não gosto que minha vida e a vida da minha família sejam assuntos deconversas. Me esforço muito para não dar nenhum motivo para que falem demim.

 — E ainda assim, o senhor me acusa de ser reservada e misteriosa, de nãocontar nunca nada sobre mim. Talvez, apesar de nossas diferenças, não sejamos

tão diferentes. —  Disse essas palavras como se ela mesma não acreditasse. —  Não, suponho que não. — Mas pode estar tranqüilo, todos as fofocas que me contaram sobre o

senhor são inofensivas. Descreveram-lhe como um homem extremamente bonito, amável e importante. As únicas críticas que as filhas de sir Edwardfizeram foi que não celebra festas suficientes, que nunca freqüenta as que têmem Wychwood e que é talvez um pouco intimidante. As duas concordam que seo senhor lhe dirigisse alguma vez uma palavra é um de seus passeios ou astirasse para dançar em festa, desmaiariam no mesmo instante.

 — Me alegra saber que causo esse efeito nas damas. Afinal e depois,conseguir com que uma dama desmaie é uma das muitas obrigações que tem um

Page 105: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 105/201

 

duque. —  Não acho que sua adoração é algo digno de agradecimento?A censura que sentiu em sua voz fria fez que voltasse a se colocar na

defensiva.

 —  Nem sequer me conhecem. Meu título, minha riqueza e talvez minhaaparência física seja tudo o que vêem e tenho construído uma fantasia ao seuredor, uma fantasia que não existe.

Daphne mordeu o lábio, como se tratasse de não dizer o que estava pensando. Desviou o olhar dele e disse:

 — Talvez seja uma fantasia, mas é totalmente inofensiva.Anthony percebeu que isso não era o que tinha querido dizer na realidade e

esperou a que se decidisse a continuar, mas não fez. Contemplou o infinito eobservou como a luz do outono começava a iluminar suas terras.

 — Tem razão. Eu admito sinceramente. Suas bajulações são inofensivas éuma verdadeira honra para mim.  —  Voltou a olhar a mulher que tinha ao seulado. — Deveria recordá-lo.

 — Sim — respondeu ela retornando o olhar, — deveria fazer. — Por que será que quando estou com a senhorita, não me sinto tão

arrogante como a senhorita me acusa de ser?  — sorriu-lhe.  — Muito pelocontrário. Com a senhorita sempre tenho a sensação de que me está mecolocando em meu devido lugar.

 —  Não tinha nem ideia de que meus comentários fizessem tal coisa. — Pois fazem e estou começando a valorizar sua opinião. Por favor, não

acredite que minha falta de entusiasmo ante aos elogios das filhas de sir Edwardse deva que sou um convencido. Mas em ocasiões meu título tem uma grandecarga e essas meninas não podem entender o complicado que isso resulta àsvezes.

 — Entendo o que quer dizer  — afirmou ela baixando a vista até a faca quetinha na mão, — mas deve reconhecer que é normal que muita gente inveje seus

 privilégios. — Asseguro-lhe que eu nunca dei por merecida minha posição. Sempre

tenho sabido valorizar o afortunado que sou ao ter nascido com esses privilégios

e com todas as comodidades e riquezas que lhe implica. — É muito mais que isso  — respondeu ela com paixão. O senhor tem um

lugar no mundo e saber isso é algo muito reconfortante.Daphne não se moveu, mas ele notou a intensidade com que ela o olhava.

Um mês atrás, ele tinha tomado sua passividade como um sinal deinsensibilidade, mas agora sabia que não tinha nada mais longe da realidade. Amaneira em que apertava a faca, tão forte que os nódulos dos dedos começavama ficar brancos, demonstrava que embaixo da superfície fria, se escondia umagrande paixão.

 —  Não tem nem ideia do que se sente ao não pertencer a nenhum lugar —  prosseguiu ela com um fio de voz. —  Não ter raízes que lhe atem a nenhum lugar

Page 106: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 106/201

 

que lhe dê sentido. Isso é o que mais invejo no senhor. — É compreensível se sentir sem raízes se não tem um lar.  —  Ele viu que

ela começava a tremer e com a mão levantou-lhe o queixo. Ainda usava osóculos e queria ver-lhe os olhos. — Acredito que algum dia encontrará seu lugar,

senhorita Wade. Todo o mundo encontra cedo ou tarde. — Espero isso, senhoria.Ele lhe acariciou os lábios com a ponta dos dedos.

 — Diga-me  — disse antes de poder se flexionar.  — Como uma mulher queviveu tanto tempo no deserto tem uma pele tão suave como veludo?

Ela separou os lábios embaixo de seus dedos. — Eu… — Parou, tomou fôlego e exalou lentamente contra sua mão.  — 

Sempre trabalhava protegida por uma tenda. — Ah, é? — Ele desenhou o contorno de sua boca. Era tão suave e quente. — Sim, e costumava usar um chapéu e… um véu.Seu sangre frio era admirável. Só o leve tremor de sua mandíbula indicava

a Anthony que aquelas caricias a afetavam tanto como ele. Ela também sentia paixão. Que aconteceria se todos esses sentimentos viessem à tona?

 — Sabe? — sussurrou ele enquanto os dedos corriam pela sua mandíbula, — ninguém me chama pelo meu nome. Quase todo mundo se dirige a mim como«senhoria» ou Tremore, mas apenas Viola me chama de Anthony. Inclusive parameus amigos, que na verdade são muito poucos, minha posição é sempre umobstáculo. Nem sequer eles me chamam pelo meu nome.

Ele tocou numa pequena pinta que ela tinha na bochecha e ela levantou a

mão como se quisesse se afasta da caricia, mas não fez.O que seria preciso se perguntou, para que ela baixasse a guarda. Ele

sempre se achou o rei do autocontrole, mas ela dava-lhe mil voltas. — Se fossê-mos amigos, senhorita Wade, me chamaria de Anthony?Então ela mexeu o rosto.

 —  Não acho que seja apropriado. Eu… preferiria não fazer tal coisa.Ele se aproximou. Se a beijasse, talvez o muro se romperia ou se quebraria

e toda aquela paixão viria a tona. Tocou-lhe o rosto e a obrigou a encarar o rostode novo até ele.

 — O senhor quer que sejamos amigos, senhoria? —  perguntou ela. — Sim, acredite, realmente desejo isso.  —   Ele podia sentir seu desejo,

notava-lhe os nervos a flor da pele e tinha-lhe acelerado a respiração.Aproximou os lábios dos seus.

 — Os amigos se aproveitam assim de sua condição?Essas palavras causaram mais efeito que uma bofetada.Anthony se deteve a alguns milímetros de sua boca, com as mãos ainda

acariciando-lhe a nuca, olhou-a outra vez e recuou. Desde que era um meninonão tinha voltado a sentir a agonia da incerteza.

Ele não tinha experiência com virgens. Aos dezesseis anos tinha escolhidoa sua primeira amante e depois disso já tinham se passado treze anos. Tinham

Page 107: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 107/201

 

acontecido muitas coisas desde até então e tinha conhecido intimamente adiferentes mulheres, inclusive a algumas cortesãs. Mas nenhuma dessasmulheres tinha sido virgem.

O desejo não esta ligado a experiência e ele podia sentir como Daphne o

desejava tanto como ele deseja ela, mas ela trabalhava para ele e nesse momento parecia muito frágil e vulnerável. Se insistisse, talvez ganhasse um beijo, mas ahonra, que predominava na vida de Anthony, lhe dizia o contrario.

Respirou fundo, recorreu à vontade de ferro que desde pequeno tinha-lhe permitido enfrentar todos os seus problemas e soltou Daphne.

Disse a si mesmo que todo o incidente tinha sido inofensivo, que não tinhaacontecido nada. Não tinha nada de mal em tê-la acariciado, mas tinha que seafastar da tentação, assim que se afastou um pouco e acabaram a comida cadaum sentado num lado da toalha.

Page 108: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 108/201

 

Capítulo 15

Daphne não sabia o que esperar de suas aulas de dança, mas acreditava quesobre tudo consistia em aprender alguns passos. Estava totalmente equivocada.

 — Que quer que eu faça? —  perguntou, olhando surpresa para Anthony. — Que caminhe.  —  E dizendo isso, a pegou pelo braço e a levou fora da

sala, até o início do enorme corredor. — Que tonta sou eu  — murmurou ela,  —  pensava que ia me ensinar a

dançar. — E ensinarei, mas primeiro quero ver como caminha.Essa era a última coisa que Daphne desejava fazer, mas quando viu que ele

coloca as mãos em sua costa e começou a andar, não teve outro remédio a nãoser segui-lo.

 — Para dançar bem, senhorita Wade  — continuou,  — tem que andar bem.Dançar não é mais que caminhar com música.

Só tinham dado alguns passos quando Anthony parou. — Por que parou? —  perguntou Daphne.Ele não respondeu, mas virou-se para ela e a rodeou com suas mãos.

Colocou uma encima do diafragma e a outro no final de sua costa. Ao notar ocontacto ela ficou sem respiração. Ele não deve ter se dado conta, porqueapertou ainda mais as mãos contra seu corpo e em um tom muito pragmático,disse:

 — Lembre-se sempre de manter a coluna erguida. Esta noite não é umarestauradora tentando restaurar um velho vaso de bronze, e sim uma jovemdama desfrutando de um agradável passeio.

Então ela a soltou, mas a pele dela continuava quente ali onde ele a tinhatocado e Daphne se sentia capaz de tudo menos de se imaginar que era uma

 jovem dama passeando. Tentou caminhar como ele lhe dizia, mas seu coraçãoressoava em seu peito como se estivesse estado correndo durante horas. Não estava acostumada que a tocassem isso era tudo, disse a si mesma. Nos

últimos dias ele a tinha tocado varias vezes e ela sempre se surpreendia o muitoque ela gostasse disso. Se derretia só de pensar que tinha sentido quando ele aacariciou no rosto ou agora, quando tinha colocado suas mãos sobre seu corpo.Ela não queria se sentir assim, não queria que ele lhe fizesse se sentir assim.

Percorreram o corredor inúmeras vezes sem dirigindo-se apenas a palavra,apenas para as correções que ele fazia. Queixo para cima, ombros para atrás,

sem correr.Ela não o olhava, só o olhava ele pelo canto do olho, mas ele sim a

Page 109: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 109/201

 

observava detalhadamente. Quando achava ter percorrido aquele corredor umasmil vezes, finalmente disse para ele parar.

 — Excelente, senhorita Wade — comentou e indicou-lhe que voltasse para asala. — A senhorita tem uma graça natural, acredito que dançará muito bem. Me

atreveria a aconselhar-lhe que usasse espartilho, isso lhe ajudaria a manter acoluna ereta. Além do mais, se não usa, seu par de dança se escandalizaráquando lhe por as mãos na sua cintura e a nota sem a peça.

Anthony caminhou até a chaminé e começou a dar corda a caixa de música. — Mas procure não apertá-lo muito. Não gostaria que desmaiasse no meio

do baile por falta de ar. —  Não acho que seja apropriado que o senhor faça comentários sobre

minha roupa íntima —  disse ela com a maior dignidade que foi capaz.Ele fez uma pausa no que estava fazendo e a olhou diretamente nos olhos.

 — Acho que estava comentando algo sobre a ausência de roupa íntima  — respondeu ele serio, ainda com um meio sorriso apontando.

Ela tinha visto outras poucas vezes esse sorriso travesso. Começava agostar dele e não pode evitar sorrir.

Anthony deixou a caixa encima da mesa e começou a sussurrar a música. — A valsa é uma dança muito simples — disse-lhe enquanto se colocava em

frente a ela. Pegou sua mão direita em sua esquerda e colocou a outra em suacintura. Daphne ficou nervosa no mesmo instante.

 — Relaxe, senhorita Wade. — Estou relaxada — mentiu.

 — De verdade? Pois seu corpo parece achar o contrario.  —   Ele afrouxouseu abraço.  —  Não se preocupe, não tenho nenhuma intenção de violá-la. Pelomenos agora — se corrigiu. — Relaxe.

Daphne queria, mas a ideia de que ele não quisesse violá-la agora, mas simem outro momento não ajudava muito. Se sentia tonta, como se tivesse bebidomais vinho que o normal. Se lembrou de que naquela mesma tarde, na colina,ele quase a tinha beijado. Agora era nitidamente consciente da mão dele na suacosta e tinha que controlar-se para não sair correndo. De repente, a sala tinhaaumentado demais de temperatura. Demais para dançar.

 — Quando se dança uma valsa  — continuou Anthony como se não tivessenotado que ela tinha re ruborizado, — o primeiro é manter a distancia apropriada.Tem que estar a um pé de seu acompanhante, justo como estamos agora. Ponhaa mão em meu ombro.

Ela hesitou um instante antes de apoiar a mão em seu escuro casaco verde.Podia notar contra sua palma os fortes músculos de seu ombro e lembrou aforma que tinha sem camisa. O tinha desenhado muitas vezes e conhecia cada

 parte de seu torso, mas ao tocá-lo sentiu como se um estranho fogo o queimava por dentro e teve que se concentrar para escutar o que ele dizia.

 — A segunda coisa que deve lembrar é que eu mando e a senhorita mesegue. Seu corpo vai aonde o meu lhe conduz.

Page 110: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 110/201

 

 — Acho que gostaria mais se fosse o contrário. — Verdade?  — murmurou ele.  — Essa sim que é uma ideia interessante,

senhorita Wade. Talvez algum dia lhe permita.  —   Voltou a colocar a mão elevantou o braço adotando a postura previa ao inicio dança.  — Os passos da

valsa são muito simples, é uma contagem de um, dois, três. Assim.Anthony começou a se mover levando ela com ele, mas ela só olhava os pés e ele parou um instante.

 — A terceira coisa e a mais importante é que tem que me olhar, senhoritaWade, não para o assoalho.

 — Mas e seu eu lhe pisar? — Sobreviverei, estou seguro. Não se preocupe, se errar só estou eu para

vê-lo e já sabemos que a senhorita não se importa com o que eu penso.  —  Anthony começou a se mover de novo levando ela. — Um, dois, três — contavaele ao ritmo da melodia e os dois iam completando as figuras da valsa ao longode toda a sala. — Um, dois, três.

Daphne se sentia bastante desajeitado dando voltas sem sentido, e inclusivedepois de tê-lo pisado e tê-lo feito que parasse incontáveis vezes, ele não semostrou impaciente nem um instante. Simplesmente lhe dizia que voltasse atentar. Uma e outra vez.

 — Já está fazendo muito bem — a tranqüilizou dando corda pela terceira veza caixa de música. — Sabia que seria uma boa dançarina.

 — O senhor é um bom professor — reconheceu ela ao vê-lo de novo em suafrente. — Só desejaria não me sentir tão desajeitada e insegura.

 — Isso requer prática. — Voltou a pegar-lhe na mão e começaram a dançar.Anthony tinha que se lembrar constantemente que olhasse ele e não chão.

 — É que acho que o único modo de não pisar-lhe é se olho onde ponho os pés —  confessou ela.  — Mas não importa o que faça, temo que quando acabe anoite vai estar cheio de contusões.

 — Então deveria apreciar o sacrifício que estou fazendo pela senhorita.Ela o olhou com fingida preocupação.

 — Oh, coitado. Com certeza está sofrendo muitíssimo, ainda poderia ser pior. Eu poderia pesar cem quilos.

A mão dele apertou a cintura dela. — Isso seria uma pena  — murmurou e a olhou,  — ainda continuaria tendo

esses olhos incríveis.O coração dela deu um pulo e quase tropeçou de novo.

 — Dança muito bem — disse ela para mudar de assunto. Não queria que elelhe elogiasse pois sabia que não eram sinceros. — Por que não gosta de dançar?

 —  Na verdade é que dançar eu gosto, o que eu não gosto são suasconseqüências.

 — A que se refere? Que conseqüências?

 — As mesmas que me obrigam a evitar as damas com tendência a desmaiar.Ser um duque rico e além de mais solteiro me transforma numa presa perfeita

Page 111: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 111/201

 

em um baile. Tudo o que faço, tudo o que digo, é estudado e analisado em todasas notas da sociedade. Se danço com uma dama, as velhas fofoqueiras espalhamrumores na mesma velocidade que a música e se por acaso eu desfruto de suacompanhia e danço outra vez com ela, já estou perdidamente apaixonado; se

danço uma terceira vez, meu casamento é iminente. — Isso é uma loucura. — Ainda é pior para a dama em questão. As fofocas sempre se

concentraram mais nela. Não importa o quão bela seja, doce ou educada, semprehaverá uma mãe maldosa que acredita que sua filha seria muito mais adequada

 para ser minha duquesa. — Suponho que isso é inevitável — riu-se ela. — Sim, é assim. Por isso não danço. — Bom, já que aqui não hã ninguém que nos veja e possa criticar-lhe,

deveria tentar desfrutar desta noite. — Já estou fazendo isso.  —   Apertou-lhe a mão mais forte.  — Acredite,

estou desfrutando muito.Antes que Daphne pudesse pensar numa resposta, a música foi se

desvanecendo até desaparecer por completo. Anthony parou e afastou a mão desua cintura, mas não soltou a outra; seus dedos continuavam entrelaçadosquando lhe disse:

 —  Nenhuma falha. — É verdade!  — exclamou ela surpreendida.  — Bem, eu esqueci de contar

os passos.

 — Exatamente. —  Ele caminhou até o lado. — Quando finaliza a dança, seu par a escolta até seu lugar.  —  Acompanhou suas palavras com ações, como serealmente estivessem num baile. Soltou-lhe a mão e fez-lhe uma reverencia. Elasupôs que provavelmente ela também devia saudar-lhe, assim que cruzou umtornozelo atrás do outro e o cruzou os joelhos brevemente.

 —  Não, não, senhorita Wade  — disse ele sorrindo.  — Tem que dobrar os joelhos completamente. Depois de tudo, sou um duque. Se supõe que seu joelhoquase deveria tocar o chão.

Ela se abaixou de novo, com uma saudação muito mais pronunciada.

 — Está desfrutando disto, realmente? — Sim, muito  — admitiu ele quando ela se levantou. Olhou seus lábios e

seu sorriso desapareceu por completo. — Desde que me acusou tão severamentede tentar me aproveitar de nossa amizade estou querendo me vingar. Tenho queaproveitar a mais mínima ocasião para fazer isso.

Essa tarde ela não tinha querido repreender-lhe, só tinha sido uma tentativadesesperada de sair da situação. Ele tinha desejado beijá-la e o pior de tudo éque ela o desejava com todas as suas forças.

 — Eu não fiz isso.

 — Eu não vou voltar a brigar com a senhorita, por isso não vou morder aisca. Ainda sim me vejo obrigado a lembrá-la que uma dama nunca, nunca

Page 112: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 112/201

 

contradiz um duque. — Há muitas regras, não é?  —  perguntou ela tentando parecer relaxada.  — 

Eu li todos os seus livros de etiqueta, mas ainda me sinto intimidada. Há algomais que deveria saber?

 — Sim  — respondeu ele aproximado-se dela.  — Como já disse em outraocasião, uma dama que queira estar na moda nunca usa óculos quando vai a um baile.  —   Ele ignorou seus protestos e tirou-lhe os óculos.  — Tente usá-los omenor tempo possível e se puder acostume a ficar sem eles.

 — Eu li que uma dama deve saudar sempre aos seus conhecidos. Comoespera que eu faça isso sem poder vê-los?

Daphne tentava recuperar seus óculos, mas ele não parava de mover o braço mantendo-os inalcançáveis. Ela ficou na ponta dos pés, mas ele era tãoalto que não serviu de nada e Daphne não se atrevia a saltar por medo de quebrá-los. Deixo de tentar e com os braços nos quadris, o olhou furiosa.

 — Vamos ter que discutir outra vez sobre esse assunto? —  Não.  — Anthony guardou os óculos no bolso de seu casaco.  — Porque

não penso devolvê-las até que finalizamos nossa aula de dança. Desta vez queroque dance sem os óculos.

 — Mas não vejo nada.Ele a apertou contra seu corpo.

 — Consegue me ver?Ela o olhou nos olhos: de perto pareciam de um verde escuro parecido com

musgo, com lampejos dourados.

 — Sim, mas…  — Bem, seu par é o único que tem que ver.  —   Deu um passo para trás

tentando levá-la até o centro da sala, mas ela soltou sua mão e se negou a semover.

Odiava não usar seus óculos, a partir de que tudo que ficava em umcentímetro de dois metros ficava confuso para ela e isso fazia se sentir muitoinsegura. Mordeu o lábio inferior e olhou o bolso dele: tinha que haver um modode recuperá-los.

Anthony leu-lhe o pensamento e negou com a cabeça.

 —  Não pense em tentar fazer isso.Apesar da advertência, ela aproximou a mão de seu casaco, mas antes que

 pudesse abrir o bolso, ele agarrou seu pulso. — Já tinha avisado  — disse ele enquanto afastava a mão de seu bolso —   e

ignorou meu aviso. Nunca ignore um duque. Detestamos que nos ignorem.O coração de Daphne começou a bater com força. Ele a soltou, mas não se

afastou. Ela sabia que devia retroceder, que o melhor seria que saísse dahabitação, entretanto, ficou onde estava como se estivesse enfeitiçada. Quesentiria se ele a beijasse?

Até que ele eliminou a pouca distancia que tinha entre os dois ela não deuum passo para trás e logo outro, e outro. Mas ele a seguia, mantendo alguns

Page 113: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 113/201

Page 114: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 114/201

 

 — Três dias? Não é muito generoso de sua parte, senhorita Wade.Ela tinha que se manter firme, tinha que ser forte.

 — Três dias. Nem um dia a mais. — Uma semana.

 — Três dias. —  Não. Que mais pode me oferecer?Ele abaixou a cabeça aproximado-se cada vez mais. Desta vez ela ia

 permitir que a beijasse. Já começava a sentir a mesma excitação que a inundavaquando o observava as escondidas com a luneta. Quando sonhava que ele um diaa beijasse e por um momento, tudo se assemelhava a esse sonho.

Em uma tentativa de ganhar um pouco de espaço, Daphne se apertou contraa parede, mas não lhe serviu de nada. Sua própria imaginação a estava traindo.Queria que ele a beijasse, queria saber como era na realidade aquele homem quetinha estado perseguindo em seus sonhos. Era uma idiota, apesar do dano queele lhe tinha feito queria que ele a beijasse.

Anthony inclinou sua cabeça um pouco mais e então ela recordou queaquilo era só um jogo, o dele e que ela estava a ponto de perder. Maldito fora em

 jogar assim quando ela nem sequer era capaz de girar o rosto e ir embora dali. — Lhe devolverei os óculos se… — Se deteve quando seus lábios quase se

roçavam. — Se a senhorita me der um beijo.Fruto do desespero e pensando só em fugir de todos os sentimentos que ele

lhe estava despertando, Daphne ficou na ponta dos pés e lhe deu um casto beijono canto dos lábios.

 — Aí está — disse enquanto se apertava. — Agora me devolva os óculos. —  Não, não. Acho que está muito equivocada. Isso não foi um beijo. — Para mim foi. — Para mim não e acho que o que se refere a beijos eu sei muito mais que a

senhorita. —  Não brinque. —  Daphne se ofendeu ante ao comentário. — Brincando?  — riu ele.  —  Não estou brincando. Na realidade isso é a

última coisa que quero fazer nesse momento, especialmente com a senhorita. Naverdade é que estou fazendo grandes esforços para me controlar.

 — Mentiroso — disse ela incrédula. — É verdade. Estou sendo distinto e estou me esforçando por controlar a

vontade que tenho de beijá-la. — É distinto imprensar uma dama contra uma parede e tentar chantageá-la

 para que a beije? —  Nem sequer a estou tocando e a senhorita sabe muito bem que não vou

chantageá-la. Já disse-lhe que devolveria os óculos ao finalizar nossa lição. Noque se refere a estar empresada, não está, pode ir quando queira. Eu não háimpedirei.

 — Eu… — Se calou e engoliu saliva. — Eu não acho que isto seja um jogo. —  Continuava sem se mover.

Page 115: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 115/201

 

 — Mas é. A senhorita e eu estamos enfrentando uma dura luta e é incapazde se dar conta do poder que tem sobre mim.

Ela não conseguia entender o que ele queria dizer. — A única coisa que sei é que estamos jogando o seu jogo e com suas

regras. — Ao contrario, as regras vão sempre a seu favor, porque, como cavalheiro,não está me permitindo beijá-la e a senhorita em troca pode me torturareternamente com a promessa de um beijo.

Ela levantou a cabeça e o olhou intrigada. Não saber se ele estava dizendo averdade ou se apenas queria provocá-la. Dizia que as mulheres tinham umgrande poder sobre os homens, mas ela nunca tinha se sentido assim na frentedele, muito pelo contrario. A tentação de comprovar se isso era certo era muitogrande e Daphne decidiu tentar.

Umedeceu os lábios lentamente e desta vez foi ela que se apertou contraele.

 — Se refere a isto? — Suspirou de um modo sensual enquanto se repetia quesomente era um jogo. — Estou lhe atormentando?

 — É uma grande aluna, senhorita Wade. —  Ele estava muito quieto. — Isso é um elogio a minha inteligência, senhoria? Me sinto lisonjeada. — Devo confessar-lhe que agora mesmo sua inteligência é a última coisa

que me preocupa. Deus, vai me beijar ou não? —  Não será necessário.Então Daphne se afastou e sorrindo mostrou-lhe os óculos que tinha na

mão.A fisionomia de surpresa de Anthony foi sua maior satisfação e antes que

ele pudesse raciocinar e reclamar seu beijo, ela escorreu por debaixo de seus braços. Colocou os óculos, o encarou diretamente nos olhos e desfrutou de seutriunfo.

 — Eu acho que ganhei essa partida, senhor.Deu meia volta e saiu da sala.

 — Isto é apenas o começo, senhorita Wade  — gritou-lhe ele rindo.  — Apenas o começo.

Page 116: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 116/201

 

Capítulo 16

 No domingo, Daphne veio com os Bennington para a casa de sir Edward elady Fitzhugh para tomar chá e como era de esperar, o principal assunto daconversa foi seu tão ilustre vizinho.

 — Ontem fiquei sabendo de uma ótima noticia  — disse a senhoraBennington introduzindo assim o assunto. — Minha boa amiga Margaret Trevesme escreveu de Londres para me contar que o duque foi fazer em sua últimavisita a capital.  —   Se aproximou mais de seus ouvintes, ansiosa por dar anoticia. — Disse que levou as esmeraldas ducais a uma joalheria de Bond Street

 para que as limpassem. Isso só pode significar uma cosa. — Sim  — interrompeu Anne,  — as notas de sociedade levam semanas

especulando sobre quem será a afortunada. Quase todos acham que lady Sarah éa escolha mais acertada.

Daphne apertou tão forte a taça ante a confirmação de que ela já tinhaouvido naquele dia na sala de música que temeu que se quebrasse.

 — Ah, sim, a filha mais velha do marquês de Monforth  — disse ladyFitzhugh. — Sim, suponho que poderia desempenhar bem o papel, mas não acho

que seja seu tipo. — Uma bela mulher sempre é o tipo de um homem  — disse sir Edward e

recebeu um olhar de reprovação de sua esposa.Daphne fechou os olhos e lembrou o que Viola tinha dito nessa noite.«Você é o duque de Tremore e tem que se casar de acordo com tua posição,

ainda que isso implique renunciar ao amor e ao carinho.»Já fazia tempo que Daphne sabia que ele ia ser casar com lady Sarah

Monforth, mas ainda assim não podia evitar se aborrecer de novo. Ele não aamava, só ia se casar com ela para cumprir com suas obrigações.

Abriu os olhos, se sacudiu de raiva e deixou a taça encima da bandeja. Nãoera assunto seu. — Sua amiga lhe contou mais detalhes?  —  perguntou lady Fitzhugh a

senhora Bennington.  — Aos seus vinte e nove anos de idade, o duque já tinhaidade para se casar, mas já anunciaram seu compromisso?

 —  Não, ainda não, mas reconheço, lady Fitzhugh, que não sei mais nada. — Bom, estou convencida de que escolheria a dama adequada. — Oh, quem dera que não fizesse isso — exclamou Elizabeth. — Uma dama

inadequada seria muito mais interessante.

 — Elizabeth! —  advertiu lady Fitzhugh. — Dizem que lady Sarah é muito chata — continuou ela sem se calar.

Page 117: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 117/201

 

 — Elizabeth — interveio agora sir Edward, — não corresponde a nós criticarsua escolha de esposa.

 — Suponho que tinha razão. Eu gostaria que ele freqüentasse os bailes dacidade. Nossa prima Charlotte me contou que lord e lady Snowden vai com seus

filhos as festas de Dorset cada ano. Por que não poderia nosso duque fazer omesmo? Papai já o viu em varias ferias de agricultura e em corridas, mas eutenho vivido toda minha vida em Wychwood e apenas o vi em um par de festas.

 — Aparentemente, ele não gosta muito de freqüentar atos da sociedade  — reconheceu a senhora Bennington, — mas isso era muito raro em um duque.

 — Certo  — concordou lady Fitzhugh.  — O velho duque gostava defreqüentar as festas locais, mas nem todo mundo gosta das mesmas coisas e é

 perfeitamente aceitável que o novo duque não goste. — Mas mamãe  — replicou Elizabeth,  — não acha que é estranho que passe

tão pouco tempo em sua casa, ou que nunca tenha celebrado um baile ou umacaça? É muito raro, especialmente sendo como é um duque.

 — O peso de suas obrigações deve ser difícil de suportar — disse sir Edwardolhando sua filha.  — Talvez quando entra em Tremore Hall vai para descansarcom privacidade e não para passear por toda a cidade.

 — Espero que se case logo  — suspirou lady Fitzhugh.  — Acredito que tudoirá melhorar quando tiver uma duquesa na mansão. Sua mãe era uma mulhermuito bonita e atenciosa e enquanto viveu, celebraram muitas festas que vinhammultidões de pessoas. Era uma mulher muito generosa. O velho duque ficoudestroçado com sua morte. Ainda me recordo de como chorava no funeral, como

um menino desconsolado, enquanto seu filho se mantinha ali de pé, estóico, semdizer nenhuma palavra, sem derramar nenhuma lágrima. Doía o coração só dever-lhe.

Daphne mordeu o lábio e baixou a vista até sua taça. Isso era tão próprio deAnthony, estar sofrendo por dentro e ocultar. Ela lhe entendia perfeitamente, eela tampouco gostava de perder o controle de suas emoções.

 — Pobre homem! — disse a senhora Bennington. —  Não me surpreende quenão goste de passar muito tempo aqui. Com muitas más recordações.

 — Demais  — concordou Anne,  — eu faria o mesmo. Não posso imaginar

algo mais horrível que perder a sua mãe e que seu pai tornou-se um louco.Incapaz de acreditar em seus ouvidos, Daphne olhou surpresa para a

menina. — Anne!  — repreendeu-lhe lady Fitzhugh.  — O velho duque acabava de

 perder a sua amada esposa. Pobre homem, a pena fez que se comportasse de ummodo um pouco estranho, nada mais. Não ficou louco.

 — Os criados da mansão diziam que só falava com ela  — disse a senhoraBennington.  — De noite percorria os corredores de cima abaixo gritando seunome. Falava dela como se ainda estivesse viva. Disse que o velho duque

chegou a açoitar um lacaio que se atreveu a dizer-lhe que ela estava morta. Seufilho se viu obrigado a trancá-lo em uma parte da casa e também dizem que essa

Page 118: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 118/201

 

foi à única vez que viram o menino chorar. Depois disso, todas asresponsabilidades recaíram sobre ele.

Oh, Deus. Daphne pensou no menino, na coragem e na valentia deve tertido, e logo pensou no homem em que tinha se tornado. Alguém que odiava

fofocas e que lutava para manter sua privacidade. Olhou a taça que tinha na mãoe algo dentro dela despertou. —  Não acho que devemos falar dessas coisas  — disse enquanto deixava a

taça sobre a mesa.  — Perdeu a sua mãe e seu pai. A tristeza e o luto são algomuito íntimo e não um acontecimento social.

Lady Fitzhugh se virou até ela e apoiou a mão em seu ombro. — Fez muito bem em nos repreender, querida. Não voltaremos a falar disso.Daphne não respondeu e a conversa se encaminhou para assuntos muito

mais tranqüilos e que ela não prestou nenhuma atenção. Se lembrou de seu pai,de como tinha se sentido profundamente triste de ter perdido sua esposa, masconseguiu encontrar consolo em seu trabalho e em sua única filha. O pai deAnthony em troca se abandonou a essa tristeza, perdeu a sanidade e deixou seusdois filhos órfãos.

«O amor nunca deve estar encima da razão.»Agora entendia a quê se referia quando falava da trágicas conseqüências do

amor e também por que tinha medo de se apaixonar.«Oh, Anthony.»

 — Senhorita Wade  — a tirou de Elizabeth de seus pensamentos,  — nos falede suas viagens.

Daphne agradeceu a mudança de assunto e tomou fôlego. — O que gostaria de saber, senhorita Elizabeth? — Muitas coisas. Verdade que na África se comem o coração das pessoas? — Só os leões — respondeu tentando sorrir.

Durante as três semanas seguintes, as aulas de dança com Anthony sedesenrolaram na mais absoluta correção entre um cavalheiro e uma dama; seuscorpos na distancia apropriada. Daphne comprovou que Anthony tinha razão. Se

lhe olhava o rosto e falava com ele, não tropeçava tanto, ainda às conversas queagora mantinham eram totalmente inocentes. Daphne perdeu negociações, asinsinuações, as caricias e quando ele saiu em viagem de negócios a Surrey, viuque ficar sem Anthony era pior do que tinha imaginado.

Enquanto ele estava fora, Daphne não pode deixar de pensar na tarde que passou na casa dos Fitzhugh. Quando estava trabalhando na biblioteca,aproveitava qualquer desculpa para dar um passeio pela galeria onde

 penduravam os retratos da família. Agora, com tudo o que sabia, os viadiferentes. Se parava mais um pouco em frente aos de Anthony pequeno se

 partia a alma ao imaginar a dor que deve ter sentindo ao ter que trancar seu pai.O trabalho lhe ocupava grande parte do dia, mas as tardes sem ele ficavam

Page 119: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 119/201

 

cada vez mais longas. Era uma boba, sentia falta de um homem que aconsiderava uma máquina. Mas de um modo estranho tinham se tornado amigose cada dia, enquanto restaurava o mosaico ou reparava vasos, olhava pela janelada antika para ver se chegava.

Pela noite, quando estava na cama, voltava a pensar nele, em suas cariciasem suas insinuantes palavras. Se lembrava de como tinha tentado convencê-la deque lhe desse um beijo e se arrependia de não tê-lo beijado. Pensava tanto nele ecustava tanto a dormir que chegou a sentir a tentação de mudar de ideia e ficar,mas isso seria uma bobagem ainda maior. Ele ia se casar se ficasse a única coisaque conseguiria seria seu coração todo dilacerado.

Uma semana depois de sua partida, Daphne estava tão absorta com seus pensamentos que estava farta de dar voltas na cama e apesar de que ainda nãotinha amanhecido, se levantou e se vestiu. O melhor que o trabalho conseguiatranqüilizá-la um pouco. O caminho para antika passou pela cozinho e pegou um

 bolo. «Oxalá já estivéssemos em dezembro», pensou.Quando entrou em antika ouviu alguém armazenando e viu que o senhor

Bennington tinha chegado ali antes que ela. Se surpreendeu ao ver-lhe, já queninguém começava a trabalhar a essa hora. Se deu conta de que ele pensava omesmo.

 — Bom dia, senhorita Wade,  — saudou-a respeitosamente levantando ochapéu. —  Não sabia que se levantava ao romper da aurora.

Daphne notou que estava tenso e um pouco incomodado. — Sou madrugadora.  —  Ela olhou perplexa as prateleiras que tinha detrás

dele. Voltavam a estar cheia de peças de afresco quando ela estava convencidade que já tinha restaurado todos.  —   De onde saiu tudo isso?  —  perguntousurpresa apontando para as prateleiras.

O senhor Bennington parecia ainda mais incomodado, nem sequer seatrevia a olhá-la no rosto.

 — Oh, as encontraram fazia algumas semanas. Sua senhoria ordenou que asguardassem aqui, mas esta manhã me pediu que as preparassem para seremtransportadas a Londres, junto com as peças que o senhor e eu restauramosdurante sua ausência.

Daphne ao ouvir essas palavras, seu coração deu um pulo. — O duque já retornou? — Sim, chegou ontem à noite.Ela mordeu o lábio e afastou o olhar, não devia demonstrar tanta alegria.

Quando tem controlado suas emoções voltou a se concentrar no arquiteto. — Mas por que vão levar estas peças a Londres?Acaso não quer que as

restaure e as catalogue?O homem se ruborizou.

 — Acho que sua senhoria quer que estas peças fazem parte de sua coleção

 particular. Mas adiante encarregará que as restaurem em Londres. Agora o maisimportante é que vá para o museu e a senhorita já tem muito o que fazer.

Page 120: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 120/201

 

Daphne entendeu imediatamente e apertou os lábios para evitar rir. — Me alivia saber que não terei que me encarregar também delas  — 

respondeu tentando parecer agradecida.  — Tinha razão ao dizer que agora omuseu é muito mais importante que a coleção particular do duque, assim que

vou por mãos a obra.Saiu da habitação e ele continuou preparando as peças. De volta a suamesa, Daphne começou a desenhar o afresco de Orfeu. O senhor Bennington lhelembrava tanto seu pai que não pode evitar sorrir. As vezes os homens eram tãoinocentes.

Logo que o arquiteto abandonou antika para tomar o café da manhã,Daphne entrou para inspecionar de perto aqueles misteriosos afrescos. Tiroualguns dos fragmentos da cesta onde estava e rapidamente confirmou suassuspeitas: se tratava de pinturas eróticas.

Provavelmente, o afresco completo não teria nada que Daphne não tivessevisto antes, mas não pode evitar começar a juntar as peças e tentar adivinhar querepresentavam.

Passado alguns minutos, tinha reunido peças o suficiente para ter uma ideiado desenho final. Nos afrescos romanos, a imagem de um casal despido fazendoamor não era incomum. Naquele afresco, a mulher estava encima do homem erodeava com as pernas seus quadris enquanto ele lhe acariciava os seios. Uma

 postura comum, mas ao vê-la ali pintada, Daphne começou a notar como o calorinundava todo seu corpo. Era o mesmo calor que sentia cada vez que Anthony atocava, quando sonhava com seus beijos ou quando o espiava sem camisa.

«Lhe devolverei os óculos se me der um beijo.»Mas ela não tinha feito isso e a satisfação que sentiu ao ganhar nesse

momento já não a reconfortava. Quanto mais olhava a imagem do casal mais searrependia de não tê-lo beijado. Só tinha que rodear-lhe o colo com os braços ecolocar seus lábios aos dele, assim teria satisfeito sua curiosidade. Tinha tido aoportunidade de beijar Anthony e a deixou escapar. Três semanas de lições de

 baile, noite após noite e nem uma só vez ele tinha voltado a lhe propor. Tinha secomportado como um perfeito cavalheiro educado e distante, como se nuncativesse pedido algo semelhante.

Ela iria embora em poucas semanas e sabia que provavelmente, nuncavotaria a ter a oportunidade de beijar um homem como ele. E lamentou

 profundamente e jurou que se ele voltasse a pedir não hesitaria em aceitar.Olhava a pintura e pensando em Anthony acariciou seus lábios com os

dedos, como ele tinha feito. Fechou os olhos e imaginou que a beijava, que aacariciava e muito mais.

O barulho da porta se abrindo a sobressaltou e a obrigou a se despertar deseu sonho tão maravilhoso. Viu como Anthony entrava em antika e se dirigia aoarmazenamento. Ao vê-la ali parou e depois de um breve instante, fechou a

 porta e caminhou até Daphne.Ela se deu conta do qual descuidada que tinha sido ao deixar a porta do

Page 121: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 121/201

 

depósito aberta, agora já não podia esconder as peças. — Bom dia — ela disse, tentando disfarçar. — Vejo que já está de volta. — Desde ontem a noite — respondeu ele.Cruzou a habitação e quando parou na frente dela, Daphne sentiu como se

tivesse mil borboletas no estômago.Tossiu e tentou esconder o afresco com seu corpo. — Teve uma viagem agradável? — Rezou para não corar.Ele se moveu um pouco par um lado e em sua boca se desenhou um meio

sorriso travesso. — Achava que a senhorita não tinha que ver isto  — disse, encarando-a

diretamente nos olhos. — O senhor Bennington foi bem cortês a respeito. — Sim, estou convencida disso  — respondeu ela olhando o queixo de

Anthony. — Mas eu sou uma restauradora profissional. — Acho que o senhor Bennington pensava na senhorita como uma jovem

dama e não como uma restauradora. — Já tinha visto dezenas destes em varias ocasiões  — sussurrou. Que Deus

a ajudasse. Não podia deixar de pensar no homem que estava na sua frente e emcomo queria que a tocasse igual à cena da sensual pintura.

 — Excelente — comentou ele e antes que ela se desse conta, deu a volta e acolocou de frente ao fresco.  — Eu gostaria de ouvir sua opinião sobre este,senhorita Wade.

Daphne olhou a imagem, incapaz de raciocinar e totalmente dominada dedesejo. Ele tinha ficado atrás dela. Sentiu que começava a arder sua pele e os

 joelhos já não há sustentavam. — Que opina da técnica do artista? — sussurrou-lhe ao ouvido. — Acha que

só tem interesse histórico ou acha que poderia ter valor artístico?Ela corou e tentou se afastar, mas ele colocou as mãos em seus ombros e a

impediu. — Vamos, senhorita Wade, me dei sua opinião. Estamos na frente de uma

representação de uns deuses ou são simplesmente um homem e uma mulherfazendo amor?  — Ele se encostou contra suas costas.  — Faça-me uma análiseintelectual. Eu acho bastante erótico, mas eu imagino que a senhorita não se

afeta com esse tipo de coisa.Essas palavras lhe incendiaram como se tivessem jogado licor sobre uma

chama ardendo. — Por que acha que não me afeta a sensualidade desse afresco?  — 

 perguntou ela tentando se virar outra vez, mas ele a tinha bem presa e de novo aimpediu. — Acha que sou tão fria? Acha que não tenho sentimentos?

 —  No pode me culpar  — sussurrou ele em seu ouvido.  — É muito hábilescondendo seus sentimentos, senhorita Wade.

Ela respirou fundo e abraçou a si mesma para controlar seus tremores.

 — Mas eu tenho. Tenho os mesmos desejos e os mesmos sonhos quequalquer mulher. Como pode pensar que não sou assim?

Page 122: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 122/201

 

 — Talvez seja porque não quis me beijar — murmurou e roçou-lhe os lábiosem sua orelha.  — Eu desejava, desejava com todas as minhas forças que me

 beijasse, mas não quis. E como já disse, eu sou um cavalheiro e como tal nãoestá permitido beijá-la.

Ao ver que ela não respondia, ele se afastou e tirou as mãos de seusombros. — Me distraí de nossa conversa, senhorita Wade  — disse ele e encostou

nele ao apontar os afrescos. — Quando que esta cor vermelha do fundo combinacom ocre ou com cochinilla?

Ela olhava como ele acariciava com os dedos uma das peças. — Ocre  — suspirou.  — Eu estou lhe atormentando com a promessa de um

 beijo? — Profundamente. Mas fez bem em me lembrar que os amigos não se

aproveitam de situações como aquela. É o que teria feito qualquer jovem dama.Ela olhou ao homem e a mulher que apareciam no afresco.

 — Suponho que sim — sussurrou, — mas que acha que teria feito Cleópatra?Teve um longo silencio e depois o que parecia uma eternidade ele abaixou

a cabeça e sussurrou-lhe no ouvido. — Por que, senhorita Wade?  — murmurou.  — Mudou de ideia? Esta me

 pedindo que a beije? —  Não, não sei o que estou pedindo. — Me pareceu que sim, ou a tenha entendido mal.  —   Se aproximou do

afresco para contornar a forma da mulher e ao fazer isso encostou outra vez em

Daphne. — Este desenho é especialmente bom. Não está de acordo? —  Não sabia que uma mulher tivesse que pedir a um homem que a beijasse.Ela prendeu a respiração e esperou ansiosa pela sua resposta enquanto o

dedo dele deslizava de cima a baixo da mulher pintada. — E não é, a não ser que esse homem já tenha tentado beijá-la e tenha sido

rejeitado. Então, a mulher tem que dar o próximo passo.  — Afastou o dedo eavançou até ela. — Se quiser que a beije, senhorita Wade, só tem que me pedir,alto e claro.

 Na realidade já não estava mais apaixonada por ele, nem tampouco se

importava o que ele pensava dela. Segura que já tinha beijado a muitasmulheres, seria um grande especialista. Odiaria que seu primeiro beijo fossedecepcionante.

Ela era consciente que entre eles não tinha nada mais que um jogo. Um jogo que ele agora estava dando entrada e Daphne aceitou.

Tomou ar e virou-se para olhá-lo de frente. Se apoiou na prateleira quetinha atrás dela, levantou o queixo e o olhou nos olhos.

 — Eu gostaria muito que me beijasse  — disse-lhe com uma tranqüilidadeque não sentia na realidade.

Apertou os punhos e seu corpo ficou tenso, ansioso, esperando suaresposta. Viu como ele começava a sorrir, como brilhavam-lhe os olhos.

Page 123: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 123/201

 

 — Isso foi bastante claro.Deu um passo até ela e o coração de Daphne começou a bater com a força

de um tambor somali quando ele tirou-lhe os óculos e os deixou na prateleira.Ele acariciou-a no rosto e aproximou sua boca da sua. Ela sentiu uma

estranha sensação no estômago, como se acabasse de saltar de um precipício.Seus lábios se juntaram. Nunca em toda sua vida tinha experimentado algo tão especial, tão doce

como aquilo. Era como se tivesse mil borboletas se agitando por todo o seucorpo.

 Nesse momento se sentia viva, tinha todos os sentidos à flor da pele, queriase concentrar em cada caricia, em cada beijo até que nada mais importasse. Oresto do mundo desapareceu num instante.

Ela absorveu seu aroma de sabonete de limão junto com seu sabor. Foi sesentindo menos tensa e abriu as mãos para poder tocar-lhe. Queria tocar seusfortes músculos contra suas palmas, sua respiração, a batida de seu coração.

Ele tomou seu queixou e ao acariciar-lhe o rosto, ela notou que tinha umcalo no dedo indicador. Com o outro braço a rodeou pela cintura e a levantou,

 para tê-la assim mais perto, para sentir todo seu corpo contra o seu. Separou-lheos lábios com os seus de um modo sensual, bebendo dela completamente eoferecendo-se por inteiro. Oh, como podia algo tão simples dar tanto prazer?

Daphne o rodeou o colo com os braços e se agarrou a ele. Invadia-lhe umasensação que nunca tinha sentido antes, mas era extremamente familiar. Sim,seu corpo parecia dizer-lhe que era daquilo que os poetas escreviam e que os

artistas pintavam; daquela necessidade, do prazer que causava-lhe sentir seucorpo tão próximo do seu.

Ele acariciou seus cabelos e se apertou contra eles, rodeando-lhe com as pernas em uma tentativa de senti-lo ainda mais perto. Era como se seu corposoubesse exatamente o que tinha que fazer, ainda que seu cérebro não tivessenem ideia. Esfregou a perna de Anthony com seu pé e ele emitiu um gemido de

 prazer que se intercalou com o seu.Com uma brusquidão que a surpreendeu, ele se afastou de repente e com a

respiração entrecortada, finalizou o beijo. Afrouxou um pouco o abraço e

começou a soltá-la. Ela não outro remédio que baixar a perna e apoiar-se noassoalho de novo.

Ainda acariciando-lhe o rosto, baixou a cabeça até encarar seu rosto emfrente ao dela.

 — Se da conta —  perguntou, olhando-a diretamente nos olhos e ainda com arespiração acelerada —  do poder que tem sobre mim quando decide usá-lo?

Ela se dava conta. Ela que tinha vivido por todo o mundo seguindo seu pai,que tinha lhe resignado a não ter nada, nem ninguém em sua vida, que tinhaadorado um homem que a ignorava, ela tinha poder agora e o tinha sobre esse

homem.De repente, a simples e previsível Daphne se sentia tão sedutora e

Page 124: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 124/201

Page 125: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 125/201

 

Capítulo 17

Beijos em troca de tempo. Anthony estava convencido de que era a proposta mais estranha que tinha feito a uma mulher, mas Daphne não pareciaimpressionada.

 — Muito próprio do senhor em pensar algo assim  — disse ela enquanto sedistanciava dele rindo. — Assim o senhor sempre saí ganhando.

Isso era verdade e não pode evitar rir junto com ela, mas nas três semanasseguintes deixou de fazer graça. Não podia deixar de pensar naquele beijodurante todo o dia. A esquisitice com que a perna dela tinha se amoldado a sua,seus braços rodeando-lhe o colo. O perfume de gardênia inundando-lhe ossentidos, o doce tacto de sua boca e o calor que irradiava de seu corpo. Mas oque mais lembrava era sua expressão quando se separaram. A surpresa, o prazergenuíno que tinha em seu sorriso e que não tinha sido capaz de escondê-lo.

Ele tinha razão. Ela era muito apaixonada, mas mantinha esse sentimento prisioneiro embaixo de sua serena superfície. Ele tinha conseguido liberá-lo poralguns segundos e morria de vontade de fazer isso de novo.

Pelas tardes, revisavam as peças e escolhiam quais enviariam ao museu e

quais não. Cada noite a pegava entre seus braços e dançava com ela. Perguntou-lhe tudo o que queria saber sobre os lugares em que tinha vivido, sobre as

 pirâmides, o Coliseu, os mercados de Tanger e Marrocos. Discutia com ela, provocava ela, flertava com ela, mas nunca, nessas três semanas, nem uma sóvez tentou beijá-la de novo.

Beijá-la seria somente o prelúdio de tudo o que tinha imaginado fazer comela e isso comprometeria a honra dele e a inocência de Daphne. Tinha que selembrar uma e outra vez que ele era um cavalheiro, algo que nunca tinha estadotanto estar presente. Fazia dezessete anos que cumpria com as obrigações de seu

cargo, levava toda uma vida acatando as normas da sociedade e cumprindo comuma estreita disciplina, tudo isso agora podia ajudar-lhe. Não importava a posição que tivesse, nem seu título, um autêntico cavalheiro não se aproveita deuma dama inocente, especialmente se ela trabalha para ele. Beijar Daphne outravez não seria correto e Anthony sabia que tinha que controlar-se. Mas tinha tantavontade, Deus, tanta!

As implicações que ele tinha sugerido a ela não deixavam de perseguir-lhe.Cada dia pensava em infinitas maneiras de dar-lhe prazer em troca de queficasse mais tempo. Maneiras que o obcecavam de dia e de noite invadiam seus

sonhos.Ela aprendeu a dançar valsa muito bem, assim começou a ensinar-lhe os

Page 126: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 126/201

 

 passos básicos de outras danças populares. Não foi fácil, já que a maioria dessasdanças requeriam de no mínimo quatro pessoas. Tratar de explicar-lhe que eraum moulinet  ou um interchassé sem outros pares era quase impossível, mas eletentou de todos os modos. Pegar-lhe nas mãos era a maior intimidade que tinha

nessas danças, assim que para Anthony eram muito mais seguros que dançarvalsa.A presença de outras pessoas tinha sido de mais utilidade que sua

determinação, claro, e agora provavelmente ela já não teria medo de que avissem, mas ele não o sugeriu. Que Deus o ajudasse, não estava disposto asacrificar o prazer de estar sozinho com ela. Necessitava estar com ela e queriasaber quem ganharia, se seu desejo ou sua resistência. Uma aposta muito

 perigosa.Sabia que estava brincando com fogo, mas o risco valia à pena. Três

semanas depois do beijo em antika percebeu de que não podia agüentar mais, deque estava no limite e deu corda a caixa de música para que soasse uma valsa.

 — Vamos praticar valsa esta noite? —  perguntou Daphne ao ouvir a melodia. — Faz muito tempo que não dançamos uma.

Anthony pegou-lhe a mão. — Devemos repassá-la de vez em quando.  —  Aproximou-a dele e rodeou-

lhe a cintura.  — Além do mais, prefiro dançar uma valsa com o senhor queformar as chatas figuras da quadrilha através da habitação.

 — Verdade? — Sim, ainda que minha parceira de dança seja tão cruel comigo.

 — Estou sendo cruel? —  perguntou ela sorrindo ante seu tom zombeteiro devoz. — E como?

 — A senhorita sabe o quanto é importante o museu para mim e se nega ame dar mais tempo em troca do beijo que dei-lhe há três semanas, um beijo quesei que desfrutou. —  Ele viu como ela se ruborizava e se perguntou como tinha

 podido achá-la sem graça antes. Era a criatura mais excitante que tinha nuncatinha conhecido. Decidiu se arriscar de novo.  — Talvez pudéssemos voltar anegociar.

 — Oh, não, não  — negou sorrindo. Ela também gostava do jogo que tinha

entre os dois. —  Não vou dar-lhe mais um mês. — Pois então duas semanas. — Que presunçoso de sua parte! — exclamou ela ainda rindo e deu-lhe uma

 palmada carinhosa no ombro. — Seja serio em suas negociações ou não me faça perder o tempo com elas.

Anthony aproximou-a mais a ele, muito mais do que era apropriado emuma valsa.

 — Que consideraria a senhorita uma oferta seria?Daphne fingiu pensar durante alguns instantes.

 — Aquele beijo deve ter durado dois minutos, no máximo. Assim queestaria disposta a dar-lhe dois minutos a mais de tempo.

Page 127: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 127/201

 

Anthony olhou-a com fingida indignação. — Dois minutos? Isso é tudo o eu que mereço? Daphne me sinto insultado.

Acho que uma jovem dama que espera entrar na sociedade deveria valorizarmais meu beijo. No fim das contas, sou um duque.

Os belos olhos dela brilharam com malícia. — Talvez valesse mais se pudesse contá-lo, mas se conto em Londres oquanto o senhor beija bem, arruinaria minha reputação.

Ele sorriu, gostava de poder flertar com ela. — Mas faria maravilhas com a minha  — respondeu ele. — Eu gosto da ideia

de que todas as mulheres de Londres estejam a par de meus encantos. — O senhor dizia que não gostava de ser o centro das atenções.Ele aproximou-a ainda mais.

 — Ah, Daphne, para um homem, ser considerado um bom amante é muitomais gratificante, que qualquer outra fofoca que pudesse dizer sobre ele.

Ele achava que a respiração dela estava acelerando, mas podia não tercerteza. Quando respondeu, fez de maneira seria e breve, mas ainda podia notaro seu sorriso em seus olhos.

 —  Ninguém ouvirá de mim que beija bem, senhoria. — A senhorita não é dessas que se gaba de suas próprias conquistas? —  Não. —  Baixou a vista para logo olhá-lo diretamente nos olhos. — Além

do mais, se quer que eu fique mais tempo, tem que me oferecer algo maistentador que um simples beijo.

Isso sem dúvida podia fazer. Sabia todos os lugares onde queria beijá-la:

nos suaves lóbulos de suas orelhas, em seu sedoso cabelo, no interior de seus pulso, nas bochechas.

Sua imaginação se descontrolou. Sues seios redondos com rosadosmamilos excitados por seus lábios. O centro de suas costas, seu umbigo. Oscachos dourados e a doce e quente virilha entre suas pernas.

 — Um simples beijo pode ser muito mais tentador do que se imagina  — disse ele sem reconhecer sua própria voz.

Tinham deixado de dançar e ele nem sequer tinha se dado conta. Em algumlugar, distante, ouviu como a música ia parando.

Ele ia beijá-la outra vez. Ia permitir que o desejo que sentia por ela sedescontrolasse por um instante. Seguro que logo conseguiria contê-lo.

Apenas um beijo. Só um. Abaixou a cabeça. — A música parou. — Ela recuou alguns passos, virou-se e caminhou até a

caixa de música.Ele não iria permitir que ela se afastasse, assim que a agarrou pela cintura e

a atraiu com força até ele. Os dois ficaram petrificados, as costas dela contra o peito dele.

Anthony fechou os olhos e inalou a essência de gardênia de Daphne. Sentia

seus suaves cabelos roçando sua mandíbula. Podia notar como ela acelerava arespiração em seu braço e sentia suas nádegas apertadas contra seus quadris.

Page 128: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 128/201

 

 Notava como seus seios roçavam sua mão, tudo o que tinha que fazer era moverum pouco os dedos.

Mas no lugar disso, se afastou um pouco dela e abriu os olhos. Secou-lhe agarganta ao ver sua nuca. Tinha o cabelo recolhido em um belo coque que Ella

tinha-lhe feito naquela manhã. Os minúsculos pentes de concha pareciam âmbara luz da velas. Queria desfazê-lo, passar os dedos por aquela densa cabeleira. Não fez isso, mas inclinou a cabeça e beijou-lhe na nuca. Tinha os tendõesrígidos como as cordas de uma harpa.

 — Está segura de que outro beijo não conseguiria tentá-la?  —  perguntou-lhee se inclinou um pouco para poder beijar-lhe o colo.

 —  Não ficarei outro mês — disse ela tranquilamente por cima do ombro. — Aquele beijo não foi tão bom.

Ele riu suavemente e seu hálito roçou-lhe a orelha. — Só foi o momento mais extraordinário de sua vida — sussurrou ele. — Foi

o melhor elogio que jamais tinha recebido de uma mulher, Daphne.Ele lambeu-lhe a orelha e ela emitiu um entrecortado suspiro. Ainda tentou

continuar discutindo com ele. — Eu disse… que… tinha sido… um dos momentos mais extraordinários.

Um de muitos. Eu já tive outros, sabe? — Verdade? — Também, acho que dois minutos é… é… muito generoso de minha parte.

Para o senhor, me beijar deveria ser uma recompensa em si.Recompensa? Ele estava totalmente excitado pelo roçar de suas costas,

tremia pelo esforço que estava fazendo por se conter. Aquilo era uma tortura,não uma recompensa. Se naquele instante ela lhe pedisse que lhe daria um mêsem troca de permitir-lhe continuar abraçando-a daquele modo, aceitaria. Deus,sim. Imediatamente.

Moveu a mão e cobriu seu seio com ela. Ela se assustou e se virou.Colocou as palmas de suas mãos sobre seu tórax, como se tivesse intenção deafastá-lo.

Ele não podia deixá-la ir. Ainda não. — É esta é minha recompensa? —  perguntou ele deslizando as mãos até sua

cintura. Inclinou a cabeça. — Me ensine.Seus lábios acariciavam entreabertos os seus. Enquanto a beijava, movia

suavemente a mão que tinha em suas costas fazendo tímidas caricias, masDaphne não se moveu. Não devolveu-lhe o beijo. Em vez disso, se manteverígida, com os lábios fortemente apertados.

Agora que Anthony tinha decidido sucumbir a tentação não iria permitirque ela resistisse e sabia que se queria desfrutar de sua paixão tinha queenfeitiçá-la. Acariciou-lhe as bochechas com a ponta dos dedos e lambeu-lhelentamente os lábios, de um lado para o outro, uma e outra vez, obrigando-a a

suspirar.A boca dela tremeu com a suave caricia de sua língua, mas ainda não

Page 129: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 129/201

 

estava disposta a render-se. — Daphne, Daphne, me beija. Te peço, por favor. — Eu… — começou a dizer ela, ao falar, abriu seus lábios entre os seus.

Anthony aproveitou para beijá-la profundamente, introduzindo sua língua ao

notar como ela relaxava. Baixou as mãos até sua cintura e se apertou contra ela atempo que dava um passo adiante fazendo-a recuar até chegar a parede. Osdedos de Daphne se agarravam a sua camisa: puxando o tecido atraindo até ela.A boca dela contra a dele, sua língua buscando a sua. Uma permissão silenciosa.Ele procurou suas mãos e entrelaçou os dedos com os dela, assim junto,respirando um a essência do outro, pouco a pouco ela foi relaxando em seuabraço até render-se a ele.

Anthony soltou-lhe as mãos e rodeou-lhe a cintura. Começou a acariciar-lhe as costelas. Graças a Deus não tinha feito caso em usar espartilho; a últimacoisa que queria agora seria esse tipo de impedimento. Foi subindo até chegar aseus redondos seios e notou como se endureciam embaixo de suas mãos.Somente duas camadas de roupas separavam a sanidade da loucura.

«Me deterei —  prometeu-lhe ela em silencio — . Eu juro.»Parou de beijá-la e enquanto acariciava-lhe os seios, trilhou um caminho de

 beijos ao longo de sua mandíbula. As suaves curvas dela queimava-lhe ondequer que as tocasse. Seus quadris se moviam ansiosos contra suas coxas e ondasde prazer inundavam todo seu corpo.

Queria derrubá-la no chão e sentir como esses quadris ondulavam embaixodos seus, queria notar suas longas pernas ao redor. Queria ouvir-lhe pronunciar

seu nome, uma e outra vez, enquanto faziam amor. Ele não podia, não podia,mas tinha que beijá-la um pouca mais antes de deixá-la ir.

Separou seus lábios dos dela e afundou seu rosto na suavidade de seu colo.Beijou cada centímetro de sua pele, saboreando cada um dos suspiros de prazerque ela exalava ao acariciar-lhe os seios. Quando pegou o mamilo entre seusdedos e o rodeou com lentas caricias, esses suspiros se transformaram emgemidos: foi o som mais doce que tinha ouvido em sua vida. Todas as peças deseu autocontrole agora estavam destruídas, recordava que tinha que parar. Masainda assim não parar.

Beijou-lhe o colo, a mandíbula e o queixo até voltar a capturar sua boca.Desta vez, ela separou seus lábios um instante; tinha abandonado toda suaresistência. Desejava-lhe tanto como ele desejava ela. Antes que ele pensasse

 parar, ela rodeou-lhe o colo como os braços e apertou seu corpo contra o seu. Alíngua dela introduziu em sua boca, eliminando assim de sua mente qualquerestúpido resíduo sobre a honra que ainda pudesse ter.

Sentiu como perdia totalmente o controle e deslizou as mãos por todo seucorpo até acariciar-lhe as nádegas. Levantou-a do chão até notar que seusquadris ficavam na mesma altura que os seus. Daphne separou as pernas todo até

onde permitia sua saia e se apertou contra ele. Seus corpos se moviam numuníssono, cada balancear incrementando o prazer. Ele ouvia os suaves suspiros

Page 130: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 130/201

 

que ambos emitiam, sentia como suas línguas se acariciavam como seus quadrisse acompanhavam. Permitiu-se alguns segundos mais dessa primorosa tortura elogo deixou de beijá-la. Tinha chegado o momento de parar.

Anthony sussurrou uma maldição contra seu colo. Estava excitado e

ansioso, mas a soltou e deu um passo para trás, logo outro, e outro, afastando-sedela em uma tentativa de controlar o desejo insatisfeito que ardia dentro dele. Nenhum dos dois falou. Quando ele deu dois passos se deteve, ali já não tinha atinha a seu alcance.

Ela não tinha experiência nesses assuntos, mas ele sim. Sabia que não podia ficar ali nem um minuto a mais ou faria algo que não devia fazer. Podiaarruinar a reputação dela e perder toda a sua honra.

Enquanto ainda restava um pouco de sanidade, Anthony deu a volta e sefoi, tinha que afastar-se o máximo possível. Mas dois passos não foramsuficientes para fugir dela. Suas roupas tinham se impregnado de seu aroma degardênia e apesar da insistência de seu mordomo, dormiu com a camisa queestava vestindo e essa essência o torturou a noite toda, inundando seus sonhos deimagens eróticas. Quando despertou pela manhã, ela ocupava todos os seussentidos e sabia que a coisa mais segura era por terra no meio.

 Na hora do café da manhã ela soube que ele tinha partido. O senhorBennington contou-lhe que ele tinha ido a Londres com todas as peças queestavam prontas para o museu. Não, não tinha dito quando iria retornar. Tinha

uma carta junto ao prato de Daphne, mas não era uma carta de despedida dele. Oselo não tinha o escudo de Anthony. Era uma carta de Viola.

Daphne olhou sem ver a carta fechada na mão. Anthony tinha ido por culpado que tinha passado entre eles, ou melhor, dizendo, pelo o que quase tinhaacontecido. Nem sequer tinha-lhe dito adeus.

«Um beijo pode chegar a ser muito mais tentador do que se imagina.»Tentador sim tinha sido para ambos.Daphne jurou a si mesma que não iria se torturar recordando e abriu a carta

de Viola. Dentro tinha outra sobre a primeira, mas primeiro leu a da

viscondessa.

 Daphne:

 A noticia de que Anthony está te ensinando a dançar me deixou

muito feliz, dominar essa arte te ajudará a desfrutar mais de tua

estadia em Londres. Também estou muito contente de saber que

 finalmente se deu conta de que meu irmão é encantador, eu sempre

 pensei, mas por ser sua irmã talvez não seja objetiva. Ele sempre se

 preocupou tanto por mim… 

Querida Daphne, tenho que confessar-te uma coisa. Temo quetenha abusado de tua confiança e me atrevi a investigar sobre o

Page 131: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 131/201

 

casamento de teus pais. Incluí a carta que recebi do vigário de uma

 pequena paróquia de Gretna Green na Escocia. Nela encontrarás o

certificado de casamento que contraíram sir Henry Wade, G. C. B, e a

 senhorita Jane Durand, filha de lord Durand, no dia 24 de fevereiro

de 1805. Dado que você tem vinte e quatro anos, as datas coincidem perfeitamente. 

Se o nome de solteira de sua mãe era Jane Durand, acho que já

tem bastantes provas para reclamar teus direitos. Espero que me

 perdoe por ter-me intrometido assim em sua vida, mas eu fiz com a

melhor intenção. Você merece que sua família te reconheça e te

ofereça todo seu apoio, e desejo muito que sejas feliz!

 Enquanto isso espero ansiosa tua chegada. Dê minhas

lembranças ao senhor e a senhora Bennington.

Tua amiga,

V  IOLA 

 — Alguma novidade interessante de Chiswick ou Londres?  —  perguntou àsenhora Bennington.

Sem responder, Daphne olhou a carta que tinha na mão. O barão não aqueria e ela não tinha nenhuma intenção de exigir-lhe nada, nem dinheiro nemapoio. Sabia que era muito orgulhosa e que talvez estivesse errada, mas a não serque não tivesse nenhuma outra escolha, nunca iria perdir-lhe nada a uma famíliaque não a queria. Primeiro viajaria a Londres e desfrutaria da temporada social

tal como tinha previsto, logo procuraria trabalho como instrutora.Dobrou as duas cartas e guardou-as no bolso.

 —  Nada de novo, receio  — respondeu para a senhora Bennington — . LadyHammond manda-lhe lembranças.  —   E logo, dirigindo-se ao senhorBennington, perguntou:  — O duque disse-lhe que queria que fizesse enquantoele não estava?

 — ele mencionou os mosaicos que lhe dei ontem e, todavia há um ou doisafrescos. Sem esquecer, claro, as muitas peças que ainda nos faltam pararestaurar e catalogar. Acredito que tem trabalho suficiente para estar ocupada até

o dia de sua partida.Daphne notou a ironia de sua voz e se animou um pouco.

 — Com efeito, mais que suficiente  — reconheceu.  — Sorte que já tenhachegado o frio e tiveram que parar de escavar.

 — Está fazendo um excelente trabalho, senhorita Wade. Tenho queconfessar-lhe que ainda sentia um grande respeito pelo trabalho de seu pai,quando o duque me disse que a senhorita iria ocupar seu lugar, pensei que nãoseria uma substituta adequada. Mas agora me dou conta que estava errado, asenhorita é insubstituível. O duque não poderá encontrar ninguém tão bom.

Sentirei sua falta, querida. —  Não falaremos de sua partida  — disse sua mulher,  — é muito triste.  —  

Page 132: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 132/201

 

Logo se dirigiu a Daphne: — Ainda tenho a esperança de que mude de opinião efique conosco.

 — O senhores tem sido muito amáveis comigo e eu sentirei a falta dos dois — disse Daphne com os olhos cheios de lágrimas e sorrindo-lhe com afeito.  — 

Mas deixamos de falar disso, ainda faltam seis semanas para minha partida. — Eu sei — disse o senhor Bennington enquanto se levantava da cadeira.  — Mas a próxima primavera não será a mesma sem a senhorita. Tenho que deixá-las. Sua senhoria quer que todo o solo esteja restaurado até sua volta e eu aindatenho muito que fazer.

O arquiteto se foi e sua mulher se aproximou de Daphne. — Eu recebi outra carta de minha amiga, a senhora Treves  — comentou a

senhora Bennington. —  Nela me conta que em Londres todo mundo faz apostassobre quem será a próxima duquesa. A dama que se case com um homem da

 posição do duque tem que ser, no mínimo, filha de um conde e agora emLondres não há ninguém que cumpra com esse requisito. Ainda é muito cedo.Assim se o duque foi para Londres tão cedo, duvido que tenha ido ver ladySarah. Deve ser uma viagem de negócios ou talvez quisesse visitar sua irmã.  —  Olhou para Daphne esperando que confirmasse sua posição.

 — Lady Hammond não dizia nada disso em sua carta. Se me perdoa.  — Levantou-se e começou a caminhar em direção a cozinha, deixando à senhoraBennington desconcertada.

 — Daphne, querida, se sente bem? — Sim — respondeu ela na porta. — É que eu tenho muito coisa para fazer.

 No caminho para antika repetiu uma e outra vez que ela não se importavacom quem fosse casar com Anthony. Iria se esquecer do que tinha acontecido nanoite anterior. Iria esquecer.

Encima de sua mesa tinha um mosaico com a representação da Europa.Daphne olhou fixamente e a imagem do continente começou a mudar até formaroutra forma diferente. Daphne via um homem e uma mulher nus e lembroucomo Anthony tinha contornado com os dedos as formas da mulher.

E tinha a acariciado assim também. Ondas de calor inundaram seu corpo aolembrar-se dessas caricias. Era impossível deixar de pensar no que tinha sentido

quando ele a abraçou pelas costas e apertou seu corpo contra o seu. Sua vozsussurrando-lhe ao ouvido, seus beijos, sua excitação.

Contemplar os afrescos eróticos era uma coisa, mas sentir as mãos delesobre sua pela, sua boca torturando a sua, era outra coisa muito diferente, que adeixou ardendo e desejando algo mais.

Ele ia se casar com outra. Como tinha podido tocá-la desse modo se iria secasar com outra?

«Os homens não tem permanência no que se refere a mulheres.»As palavras de Anthony voltaram para atormentá-la e entendeu que um

homem podia desejar uma mulher e não sentir nada especial de por ela. Elesdois tinham estado flertando durante semanas. Ele a tinha beijado e ela tinha

Page 133: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 133/201

 

correspondido o beijo. Os dois queriam algo a mais e os dois tinham tido.O amor e o desejo não eram a mesma coisa. Talvez ele a desejasse, mas

não estava apaixonado por ela. Ela também o desejava ansiava por suas caricias,mas já não o amava. A noite anterior, ambos tinham sentido desejo, não amor. O

desejo tinha-lhe proporcionado um dos melhores momentos de sua vida. O amortinha destruído o seu coração. Faria bem em não esquecê-lo.

Page 134: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 134/201

 

Capítulo 18

Anthony decidiu se concentrar em seu trabalho. Freqüentava a seushabituais encontros com os membros do Clube de Antiquários que estavam nacidade e cumpria com todas as suas obrigações. Só controlar o projeto do museuo tinha ocupado desde que o sol nascia até chegar à noite. Tudo para manter amente em outra parte e deixar de pensar naqueles olhos cor de lavanda e odesejo que eles lhe despertavam.

Mas ali, de pé no meio sala albergaria a maior coleção de objetos romano britânicos do mundo, cada afresco, cada mosaico, cada ânfora, recordavamaquilo de que ele queria escapar.

Que tinha aquela mulher que não podia tirá-la da cabeça? Alguns mesesatrás apenas olhava para ela. Teve uma época em que era incapaz de se lembrardela a não ser que tivesse de pé na frente dele. Recordava como incomodava-lheouvi-la gaguejar ao tentar explicar-lhe sua última tradução do latim ou aodescrever-lhe os detalhes mais ínfimos de um mosaico. Ela obedecia todas assuas ordens sem protestar, não importava ou exigentes ou poucos razoável queestas fossem; ela sempre as cumpria com perfeição. Na verdade, se comportava

como qualquer outro membro do serviço: sem queixas, sem perguntas ecobrando um salário pelo trabalho bem feito.

Então se demitiu e disse-lhe na cara que ela não gostava dele e que nãoqueria trabalhar para ele nem mais um dia. Nesse momento, cinco meses depoisde sua chegada, ela se transformou diante de seus olhos. Se tornou alguémdesconhecido, alguém quem não se importava com seu título nem sua posição.Ele acreditava que ela sempre tinha sido assim, mas por medo de perder seuemprego, tinha se escondido atrás de uma máscara de eficiência. Quando tinhase apresentado a primeira oportunidade de sair dali, tinha aceitado sem hesitar e

desde então ele tinha se visto obrigado a recorrer a todo o sua inteligência paratentar convencê-la de que ficasse tempo.E tudo por quê? Porque ela não gostava dele. Mas tinha gostado que a

abraçasse; tinha gostado que a beijasse; tanto como ele.Anthony sabia que ele sim gostava dela. Demais. A desejava como nunca

antes tinha desejado outra mulher. Era tudo tão inesperado, tão incrível. Tinhaestado equivocado a respeito de Daphne a principio e agora ela invadia cadacanto de sua mente. Maldita honra! Por que não tinha aproveitado aoportunidade de fazer amor com ela? Pelo menos assim deixaria de imaginar o

que sentiria se fizesse e talvez pudesse afastar de sua mente essa obsessão e seconcentrar em seu trabalho. Olhou o afresco que tinha a sua frente e suas cores

Page 135: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 135/201

 

envelhecidas; o cacho de uvas que tinha sido roxo e agora era de cor lavanda.Ele bateu com o punho na mesa.

 — Que vá pra o inferno! — Você me chamava? —  perguntou uma voz masculina no corredor.

 — Dylan Moore! — exclamou Anthony reconhecendo essa voz sem ter quelevantar a vista. Tomou fôlego e agradecido pela interrupção, afastou a vista da pintura.

 — Isto que você chama de museu, Tremore?  — disse Dylan olhando ao seuredor. — Parece mais com um mausoléu, está tudo cheio de pedras e de estatuas.Mas olhe, inclusive tem um sarcófago.

 — Vejo que continua sem cortar o cabelo  —   comentou Anthony, seafastando da mesa. — Até quando vai resistir os ditames da moda?

 — Ainda não decidi — respondeu seu amigo sorrindo. — Meu mordomo merepreende por isso constantemente, acho que é até capaz de me drogar e cortá-loenquanto durmo. Mas estou decidido que vai voltar a modad as cabeleiraslongas nos cavalheiros. Por favor, Tremore, esses janotas de Londres necessitamde alguém que os guie.

 Ninguém podia acusar Dylan de janota. Era o compositor mais famoso deInglaterra e sua aparência era sempre um pouco chocante. Até o ponto quequando alguém o via pela primeira vez, ficava tão impactado que não podia nemraciocinar. Foi tudo muito estudado.

Era tão alto como Anthony e usava uma cabeleira vasta e negra quechegava aos ombros; sempre despenteada, como se acabasse de se levantar da

cama. Seus olhos também eram negros, com umas invisíveis pupilas tão escurasque lady Jersey o tinha apelidado de o moderno Mefistófeles. A comparaçãotinha caído como uma luva. Suas sobrancelhas se arqueavam zombando,enquanto seus lábios sorriam sedutores. O encanto dos anjos e a sorte dodemônio.

Se vestia de acordo com seu apelido e alimentava essa imagem deMefistófeles usando sempre roupas negras, qualquer que fosse a ocasião. Seucasaco negro com forro dourado era conhecido por todos, igual que era o seucomportamento que a cada ano se tornava mais escandaloso. Dylan era

selvagem, rebelde e sempre convidavam-lhe todas as festas. Mas também era ocompositor das melodias mais belas que Anthony tinha escutado em sua vida. Seconheceram em Cambridge e eram amigos íntimos desde então.

 — Por que você chamava o demônio, Tremore? Suponho que por algorelacionado com o trabalho, isso é a única que pode fazer, trabalhar.  —  Dylannunca tinha sido capaz de ficar quieto, assim, que começou a caminhar pela salaobservando os objetos expostos.  — Ou talvez a ideia de colocar as esmeraldasducais ao redor do colo de certa dama está fazendo você soltar maldizeres?

 — Eu não posso ter uma vida privada?  —  perguntou Anthony exasperado.

 — Até onde chegaram os rumores? —  Na semana passada apareceu no jornal uma lista das possíveis

Page 136: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 136/201

 

candidatas. Que esperava meu amigo? Achava que podia levar as esmeraldas auma joalheria de Bond Street sem que ninguém soubesse?

 — Foi uma bobagem, eu sei. — Muito grande  — continuou Dylan e parou de caminhar para encarar

diretamente a seu amigo. — Vamos, desembucha. Quem é a afortunada dama? — Lady Sarah Monforth.Seu amigo, incrédulo, olhou-o fixamente e afastou um par de estatuas até

ficar de frente para ele. — Você esta brincando comigo, Tremore. Me diz a verdade. — Te disse a verdade. Ela estará em Paris até o natal, então eu ainda não lhe

falei. Te peço por favor que mantenha isso em segredo. — Estou muito chocado para guardar. Posso saber por que precisamente

você, que é um homem inteligente, vai se casar com uma boba de tal calibre? — É uma união vantajosa para ambos. — Sem dúvida. Seu nome era o primeiro da lista.  — Dylan pegou uma faca

de bronze que estava sobre a mesa e a observou atentamente por um instante,logo devolveu-a seu lugar.  — Sabendo como sei que odeia o casamento tantocomo eu, suponho que vai fazer para ter um herdeiro.

Anthony estava irritando. Não gostava que seus amigos se metessem emseus assuntos.

 — Tem algo para se opor? — Você vai ter que dormir com ela  — disse Dylan olhando-o nos olhos e

fazendo uma cara de nojo.  — Lady Sarah é uma dessas mulheres que apesar de

serem bonitas, não tem nenhum ápice de sensualidade em todo seu corpo. — Você fala como o hedonista que é, eu estou sendo prático.A risada de Dylan ecoou por todo o museu.

 — Meu Deus, Tremore, como eu gostaria de ser como você. Você é tãoresponsável, tão disciplinado e tem tanta determinação que consegue sempre oque quer. Suponho que já tenha informado a Deus de que precisa de pelo menostrês filhos homens para assegurar a descendência de Tremore.

Anthony já estava acostumado ao cáustico sentido de humor de Dylan e senegava a morder a isca.

 — Estou muito contente de te ver, amigo. — Confesso que eu também. Nós passamos sempre muito bem quando se

decide visitar a capital. Que vamos fazer desta vez? Poderíamos ir a Seven Dials para fumar ópio. Eu fui faz uns dias e foi uma experiência indescritível. Achoque inclusive me inspirou para compor cinco novos concertos.

Anthony sabia que era provável que Dylan estivesse dizendo a verdade.Visitar Seven Dials e fumar ópio era a típica situação perigosa que Dylangostava. Ele sempre fazia coisas assim.

 — Ou talvez poderíamos invadir os bordéis, Tremore. Pelo que eu sei, nesse

tempo tem sido bastante inteligente para não se apaixonar por uma atriz e depoisde tudo, dentro de pouco tempo vai se casar com uma mulher tão erótica como

Page 137: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 137/201

 

esta peça aqui — disse, apontando a estatua que tinha do lado.  — Assim que mediz, visitamos as prostitutas esta noite?

Por um instante Anthony esteve tentado em aceitar. A melhor, um períodocom uma cortesã de Londres era o que necessitava para se livrar daquela tensão,

daquela necessidade que o consumia por dentro. Depois de tudo, se o quenecessitava era estar com uma mulher, em meia hora uma prostituta podiaresolver.

 — Uma ideia tentadora, Moore  — admitiu,  — mas não posso. Já tenho umcompromisso.

 —  Não seja chato. Levo dias trabalhando em uma nova ópera e faz mais deuma semana que não estou com uma mulher.

A mão de Anthony roçou a borda do afresco que tinha na mesa e inclinou acabeça para examinar mais de perto o desenho. Fechou os olhos e cheirava um

 pouco a essência de gardênia. A preferida dela. — Tanto? —  perguntou enquanto voltava a si. — Qual é esse compromisso? Monforth e sua família não estão em Londres,

acho que passam estes dias em Hertfordshire.  —   Fez uma pausa e repassoutodas as opções.  — Ah  — sorriu — , suponho que te referes a encantadoraMarguerite.

Ao ouvi-lo, Anthony se deu conta de que tinha mais de oito meses semvisitar sua amante. Deus, nem sequer tinha lembrado dela.

 —  Não vou ver Marguerite  — respondeu ele, pensando que talvez pudesseconsiderar fazer. Talvez assim conseguiria recuperar um pouco de paz.  — Vou

 jantas com os membros do Clube de Antiquários, temos muitas coisas que falarsobre o museu. Gostaria de vir? Estou convencido de que nunca conheceramalguém que nem você. Se me prometer não fazer nada vergonhoso, como porexemplo, recitar versos obscenos, deixo que você me acompanhe.

Dylan se arrepiou todo só de pensar. — Me sentar para beber vinho do Porto rodeado de velhos arqueólogos e

tratando de me comportar? Não, obrigado. Acho que prefiro que me açoitem em praça pública ou beber limonada com as debutantes em Almack's.

 —  Não pode. Te expulsaram de lá faz dois anos e tem a proibição de

entrada. Lady Amelia. Se lembra? — Ah, sim. Lady Amelia. Já tinha esquecido.Lady Jersey e o resto das grandes damas que comandavam Almack's

tinham-lhe proibido a entrada a tão respeitável instituição quando Dylan tinha senegado a se casar com lady Amelia depois de tê-la beijado diante de todo mundoenquanto dançavam uma valsa. Dylan não lamentava a perda realmente.

 — Se não chega a te esbofetear tão rápido, a reputação de lady Amelia nãotinha se recuperado desse incidente  — continuou Anthony.  — Esse beijo a teriaarruinado para sempre.

 — Eu disse-lhe para me bater. Era a única solução, todo mundo estava nosolhando.  — Dylan se separou da estatua e começou a caminhar até a porta. A

Page 138: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 138/201

 

cada passo que dava, o forro dourado de seu casaco brilhava atrás de suas botas. — Se não quer vir comigo a perseguir saias, terei que ir sozinho. Acho que omelhor será que vá ao teatro, Abigail Williams apresenta Os rivais. Saltarei deminha caixa e vou subir ao palco.

 — Sério, Moore  — gritou-lhe Anthony a seu amigo.  —  Não acha que levamuito longe esse papel de artista maluco? — Quem disse que é um papel?  —  perguntou Dylan na porta; continuou

 parado e sorriu-lhe. — Eu mesmo não tenho nada ainda claro. Quando se decidirfazer algo divertido, me chame, Tremore.

Anthony viu como seu amigo desaparecia na escuridão e negou com acabeça. Dylan era um homem brilhante, com talento, mas cada vez parecia

 perder mais o curso. Desde seu acidente em Hyde Park fazia três anos, nãa tinhavoltado a ser o mesmo.

Anthony deixou de pensar em Dylan e voltou a olhar o afresco. Deslizou odedo sobre uma pequena rachadura que tinha sido perfeitamente reparada.

Ele nunca queria tanto algo cuja perda pudesse levá-lo a loucura. Nunca.Afastou a mão da pintura. Logo que fosse de Londres, iria a Hertfordshire

 para ver Sarah. Tinha chegado o momento de fazer oficial seu compromisso.

 —  Não, não — disse Elizabeth rindo. — .Tem o lado errado. — a pegou pelosombros e a fez girar.

 — Tem razão  — admitiu Daphne entre gargalhadas — . Receio que nunca

vou aprender essas quadrilhas — reconheceu e voltou a dançar tentando recordaros passos que Anthony tinha-lhe ensinado. A música correu a cargo de trêsviolinistas e não de uma caixa de música. Elizabeth e não Anthony era agora seu

 par de dança e outros casais já não eram imaginários. Nessa sala tinha em voltaum total de vinte e duas meninas tentando aprender os passos das danças

 populares.Graças a Anthony, já não tinha medo de tomar suas lições em uma sala

cheia de gente. Agora tinha suficiente auto-estima para poder rir de si mesma seerrasse. Quando três semanas atrás tinha confessado a Elizabeth que não

conhecia as danças populares e que queria aprender, ela insistiu em vir cadaquinta-feira pela manhã essas aulas.

 —  Não te desanimes, Daphne — disse-lhe lady Fitzhugh de uma cadeira quetinha junto a parede. — Dançar bem requer prática. Anne e Elizabeth freqüentamessas aulas de dança desde que completaram dez anos. Já esta fazendo muito

 bem, querida — animou-a quando voltou a girar até o lado equivocado. — É verdade  — disse Elizabeth enquanto voltavam a alinhar-se com as

demais meninas para começar uma nova quadrinha.  — Para quando você for aLondres, já estará fazendo muito bem. Dança melhor do que possa imaginar.

Anthony tinha-lhe dito o mesmo, mas dançar com tanta gente ao redorainda parecia complicado e fazia com que suas carências fossem mais evidentes.

Page 139: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 139/201

 

Mas não queria pensar em Anthony, assim que se obrigou a começar umaconversa.

 — Então você vai em duas semanas?  —  perguntou a Elizabeth enquantogiravam fazendo um moulinet .

 — Sim. Tenho tanta vontade… Quando você chegar vamos ficar tão bem juntas!Daphne queria sentir o mesmo entusiasmo que Elizabeth, mas não

conseguia. Estavam dançando e ela tentava se concentrar em contar os passos,mas não podia deixar de sentir falta dele, ele era seu par de dança favorito.

Já estava um mês fora e ainda não tinha anunciado sua volta. Ou melhornão retornava até que ela não tivesse ido. Por outro lado, qualquer dia podiamchegar noticias sobre seu compromisso. Talvez nunca voltasse a vê-lo. Trêsmeses atrás, a ideia de ir embora dali a enchia de alegria, mas agora só sentiamelancolia.

Tinha tentado esquecer aqueles momentos entre os dois, mas não tinha podido. Havia ocupado seus dias com quantidades enormes de trabalho, passavaas tardes e os domingos e as quinta-feira com a família Fitzhugh e Elizabethtinha-lhe ajudado a escolher um novo vestido na loja da senhora Avery.Trabalhava durante todo o dia, mas Anthony aparecia em sua mente cada vezque pegava um artefato, cada vez que dançava, cada vez que caminhavaembaixo da chuva.

Apesar de todos os seus esforços, não tinha podido continuar aborrecidacom ele. Nas doze semanas que tinha passado desde que ele tinha apresentado

sua demissão seu orgulho tinha se recuperado da dor infligido pela conversaouvida. E, enquanto dançavam e flertavam, tinha indo nascendo entre ambosuma agradável camaradagem. Ele a tinha feito se sentir bela e interessante cadavez que lhe perguntava por suas viagens ou a tocava. Não sabia como, tinhamchegado a serem amigos. Mas ter um amigo que com um simples beijo podiaacender seu corpo era algo muito perigoso. Especialmente se tratasse de umduque que iria se casar com alguém chamado lady Sarah, uma mulher que semnenhuma dúvida estava destinada a ser duquesa.

Anthony passou horas sentadas em sua carruagem, olhando a distanciacomo a chuva molhava os muros e as janelas da mansão Monforth, mas foiincapaz de ordenar a seu cocheiro que cruzasse o portão. Ficou ali, no caminho,escutando como as gotas respingavam no teto da carruagem naquela melancólicae fria tarde de dezembro.

Pensou em Sarah, em sua incrível beleza, em seu mercenário coração e emsua excelente preparação para cumprir com as obrigações de uma duquesa. Elaera absolutamente perfeita para o posto, mas Dylan tinha razão, não era sensual.

Anthony a tinha beijado um par de vezes e sabia que se sugerisse algo maisatrevido só conseguiria que desmaiasse e o consideraria um bárbaro. Mas por

Page 140: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 140/201

 

isso os homens casados, como os solteiros, tinham amantes.Pensou brevemente em Marguerite. Não há tinha visitado nem uma só vez

durante todo o tempo que tinha estado na cidade e nem ele mesmo podiaentender por que. Todo seu corpo ardia com um desejo desesperado e

incontrolado.Pensou em suas responsabilidades. Tinha que fazer um bom casamento para poder assegurar o futuro de seu título. Ter descendência era uma de suas principais obrigações e já tinha demorado muito.

Pensou no poder que teriam seus filhos se sua mãe era a filha de ummarquês. Nessa união, ambos sairiam ganhando e estava convencido de queSarah aceitaria encantada. Assim que tivesse as esmeraldas de Tremore ao redordo colo estaria disposta a pronunciar os sagrados votos. Era exatamente o tipo deesposa que necessitava um duque e era o tipo de mulher que nunca conquistariasua alma.

Ali sentado, vendo como o entardecer envolvia a mansão Monforth, sentiuo peso de das obrigações de sua posição como nunca antes tinha sentido.Escutou o repicar das gotas contra a coberta e se deu conta de que continuavasem saber por que alguém podia ficar feliz em caminhar embaixo da chuva,embora fosse uma quente tarde de agosto.

Já tinha ficado de noite. Anthony ordenou a seu cocheiro que desse a voltae voltasse para Londres e nem ele mesmo entendeu por que fazia isso.

Page 141: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 141/201

 

Capítulo 19

Quando Anthony se foi, Daphne jurou que não contaria os dias desde sua partida e cumpriu. Não corria para a janela para olhar de antika cada vez queouvia que se aproximava uma carruagem. Não perguntou ao senhor Benningtonse sabia quando iria voltar. Não voltou a se aproximar da ala norte nem a passear

 pela estufa.Mas nada disso pode evitar que sentisse falta dele, que sentisse falta de

suas brigas verbais, suas danças a meia noite, suas negociações e seus beijos. Elase repetia constantemente que isso não lhe fazia nenhum bem, já que tanto se elevoltasse como se não, ela iria embora, tentava recordar uma e outra vez todas as

 palavras desagradáveis que ele tinha dito sobre ela com a esperança de que issoa curasse de sua saudade, mas tampouco funcionou. Essa lembrança tinhadeixado de doer-lhe.

Decidida não sentir mais sua falta, Daphne se concentrou em seu trabalho.O armazenamento de antika ainda estava cheio de peças para restaurar; logo,

 passava duas tardes da semana com a família Fitzhugh e ocupava resto do tempolendo tudo o que encontrava sobre política inglesa, moda ou nobreza. Inclusive

chegou a ler um livro que encontrou na biblioteca da cidade sobre como preparar-se para ser uma boa instrutora. A única coisa que Daphne evitava comtodas as suas forças eram os jornais da sociedade. Não queria ler as especulaçõesque tinham sobre Anthony e sua futura prometida.

Seguido as instruções de Anthony, o funcionário dos estábulos ensinou-lhea montar em cavalos. Dada sua experiência com os camelos, só foramnecessários um par de dias para que se sentisse cômoda na sela de montar, aindacontinuava pensando que era um invento totalmente ridículo.

Quando chegaram as férias o senhor e a senhora Bennington foram passar o

natal na casa de seu sobrinho, em Wiltshire e lady Fitzhugh convidou Daphne aLong Meadows. Ela aceitou encantada e escreveu a Viola para informar-lhe deque ficaria alguns dias a mais em Hampshire, Daphne nunca tinha celebrado onatal na Inglaterra e tinha muita vontade de comemorar essa festa com osFitzhugh. Naqueles últimos meses tinha tido muito carinho a essa família e elesa tratavam como se fosse parte da família.

Em sua primeira ceia de Natal inglesa, Daphne comeu os pratos maisexóticos que tinha visto em sua vida, ainda que para seus anfitriões eram maisque comuns. O porco assado não conseguiu gostar, mas gostou do pudim de

ameixas.Os Bennington retornaram a Tremore Hall para se despedir dela e

Page 142: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 142/201

 

desejaram-lhe uma aventura melhor. No dia cinco de janeiro, o senhor Cox pagou-lhe o prêmio de quinhentas libras. Já não tinha nada que a retese emHampshire. Tinha chegado o momento de ir embora.

Lady Fitzhugh se escandalizou ao saber que Daphne pretendia pegar a

diligencia para ir a Londres e insistiu que ficasse com eles em Long Meadows.Eles partiriam até Londres no fim de poucos dias e podiam deixá-la emChiswick sem nenhum tipo de problema, assim poderia viajar com eles em suacarruagem. Daphne aceitou o convite. No mesmo dia cinco de janeiro, Anthonyvoltou para casa.

Ela estava em antika, acabando de restaurar sua última peça, uma esquisitavasilha samariana. Tinha passado todo o dia e grande parte de da noiterecompondo-a e já era quase meia noite quando acabou de catalogá-la.

Sob o desenho que tinha feito podia ler:«Vasilha redonda. Grupo D: cerâmica rústica, fig. 16.2. Vasilha de Samada

com adornos vermelhos e negros; Adriático, século II. Villa de Drucus Aurelius,Wychwood, Hampshire. 1831».

Daphne olhou fixamente o desenho. Aquele era o último objeto da villaromana de Anthony que iria restaurar. Talvez o visse em Londres, talvez algumdia visitaria seu museu, mas aquela vasilha simbolizava o fim de seus dias emTremore Hall e de repente se sentiu desconsolada. Um futuro excitante lheesperava e cheio de possibilidades, mas quando pensava em Anthony tudo sedesvanecia.

Fazia muito tempo que já não sentia por ele aquela adoração estúpida do

início. Agora se tratava de algo muito mais profundo, tinha respeito e amizade.Também desejo, isso sempre tinha estado ali. Um sentimento que fazia que elase derretesse como manteiga simplesmente ao imaginá-lo sem camisa ou selembrava dos fortes que eram seus braços quando a abraçou ou de como atinham embriagado seus beijos. Doía-lhe recordar essas sensações, doía-lhetanto que era como se um grande peso tivesse sido instalado em sua alma. Seutempo juntos tinha acabado. Tinha sido maravilhoso trabalhar ombro a ombrocom ele, dançar, comer no picnic, negociar sobre o tempo que ela iria ficar.Tinha sido mágico e especial e pensar em sua partida era quase insuportável.

Uma lágrima deslizou pelo seu rosto e bruscamente secou-a com um lenço.Tinha jurado que nunca voltaria a chorar por ele e iria cumprir essa promessa.

Daphne viu que na chaminé, o fogo tinha se reduzido a brasas e começou asentir frio. Flexionou os dedos, cansados depois de um dia tão duro de trabalho eressentidos pela baixa temperatura de antika. Apoiou os cotovelos na mesa eesfregou os óculos sob o vestido, tinha as mãos geladas e isso aliviou suas

 pálpebras cansadas. Bocejou, era muito tarde, deveria ir dormir, os Fitzhughesperariam a primeira hora e tinha que madrugar.

A porta se abriu. Daphne levantou a cabeça e uma fria corrente de ar

apagou as velas de sua mesa de trabalho e reavivou as brasas do fogo. Aschamas acenderam o bastante para que ela pudesse ver quem estava de pé no

Page 143: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 143/201

 

umbral e logo voltaram a se apagar.Era ele. Ela distinguia perfeitamente sua inconfundível silhueta no marco

da porta, seus grandes ombros pareciam um muro negro contra a prateada luz dalua.

 — Eu a vi aqui.  —  Fez uma pausa e enigmático, continuou:  — Onde querque fosse.Daphne tossiu nervosa.

 — Já voltou. —  Foi à única coisa que conseguiu dizer. Não se via capaz deformular nada mais complicado. Quando ele entrou na habitação, ela se levantoue cruzou os braços para se proteger do frio que tinha entrado ao abrir a porta.

Ele a fechou e se apoiou nela, seu rosto permanecia na escuridão. — E a senhorita ainda está aqui — disse ele tranquilamente. — Pensei que já

tinha ido. Seu último dia de trabalho não era no dia vinte e três de dezembro?Ele não tinha tido nenhuma intenção de se despedir dela. Daphne recorreu

ao orgulho para controlar suas emoções. — Amanhã vou para Long Meadows. Estarei ali duas semanas e quando os

Fitzhugh forem à cidade, me acompanharam a casa de sua irmã.Ele não respondeu e à medida que crescia o silencio entre eles assim como

a raiva dela. — Quê, não vai tentar para que eu fique senhoria?  — finalmente disparou,

irritada diante de sua indiferença. —  Não vai me falar de nossa amizade, de meus belos olhos?  — A voz lhe falhou.  —  Não vai se despedir nem me desejar sorte,como faria com qualquer outro membro de seu serviço?

Ele se afastou da porta e caminhou até ela como uma sombra cinza e negra. — Deus, Daphne, de que acha que sou feito?  —  perguntou enquanto

rodeava a mesa e ficava atrás dela. — Acaso pensa que sou de pedra? —  Não é isso que acha que eu sou feita?  — atacou ela e tentou se afastar,

mas ele não permitiu.Ele colocou uma mão em seu ombro e com a outra acariciou-lhe o rosto e

afastou uma mecha de cabelo do rosto dela. —  Não, não é de pedra — sussurrou-lhe, apertando-se contra suas costas. — 

Eu acho que você é melhor como uma trufa.

 — Obrigada por me comparar com um cogumelo — disse ela e tratou de sesoltar dos braços para assim se separar um pouco dele.

Anthony pôs a mão no outro lado do ombro para mantê-la onde estava esua cálida risada acariciou-lhe o rosto.

 —  Não o vegetal — explicou ele e beijou-lhe o rosto, — o chocolate. É comouma trufa de chocolate, doce, suave e deliciosa no interior, mas protegida poruma caixa de papelão.  —  Deslizou suas mãos até as suas.  — Uma trufa gelada,receio. Tem as mãos congeladas.

O calor de seu corpo contra o seu começava a fazê-la ficar com calor. Ela

 preferia ter frio. — Deixe que eu te aqueça. —  Ele soltou-lhe as mãos e deu-lhe a volta.

Page 144: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 144/201

 

Tirou-lhe os óculos e os guardou no bolsinho de seu avental. Pegou-lhe orosto entre as mãos e então baixou a cabeça e a beijou, mas parou.

 — Eu tentei ficar longe de você — disse-lhe, dando-lhe pequenos beijos noslábios, nas bochechas, na testa.  — Se voltasse para me despedir não iria ser

capaz de resistir a isto. Daphne, tem sido como uma sombra para mim duranteestas seis longas semanas te via em todas as partes. Não sou feito de pedra. Sósou um homem e que Deus me ajude, não posso deixar de te desejar. Não metorture mais. — Acariciou-lhe os lábios com a língua. — Me beija.

Ela abriu os lábios embaixo dos seus e fechou os olhos se entregando.Fazia tanto tempo… Ele tinha estado longe tanto tempo que ela já tinhaesquecido da sensação de sua boca sobre a sua.

Daphne pegou-lhe na aba de seu casaco e puxou-o, como resposta, eleaprofundou o beijo saboreando-a consciente. Ela rodeou-lhe o colo e com osdedos, acariciou-lhe os cabelos.

Ele interrompeu o beijo e se afastou um pouco para olhá-la, parecia muitodeterminado.

 — Diga meu nome — ordenou-lhe e baixou a mão até os nós de seu avental.Começou a desfazê-los. — Anthony.

 — Deixe de me dar ordens, senhoria  — disse ela e ficou na ponta dos pés para poder beijá-lo. —  Não estrague tudo.

Ele tirou-lhe o avental e atirou-o sobre a mesa atrás dela.Daphne ouviu como algo caia e se quebrava em mil pedaços contra o solo e

supôs sem nenhuma dúvida que acabava de quebrar a preciosa vasilha. Seu

último dia de trabalho desperdiçado. Começou a rir contra seus lábios. — Você quebrou. — O que era?  —  perguntou ele deixando de beijá-la e enterrando a cabeça

no colo dela. — Uma vasilha de Samada  — suspirou ela,  — do século II, de um valor

incalculável.Ele desabotôo o casaco e a roupa pesada deslizou até seus pés.

 — Me arrependerei disso de manhã. — Voltou a beijar-lhe o colo. — Diga.Daphne acariciou-lhe o tórax com as mãos notando seus poderosos

músculos embaixo da camisa e voltou a se sentir a excitação de suas antigasnegociações.

 — E se eu disser que me oferece em troca, senhoria? — Que quer?Ela pensou naquele afresco, naquele casal, em como o homem acariciava o

seio da mulher, com seus corpos unidos e decidiu que tinha chegado o momentode ser sincera consigo mesma e de reconhecer o que sentia.

 — O mesmo que você  — respondeu e tentou desfazer-lhe o nó da gravatasem conseguir.

 — Deixe-me fazer.  —   Ele só demorou um segundo em afrouxá-la e agravata caiu também no chão. Tirou seu casaco e tirou a camisa.

Page 145: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 145/201

 

Daphne não podia deixar de olhar-lhe, agora já não necessitava da luneta pra ver-lhe. Tocou-lhe o peito e se deu conta de que estava quente embaixo desuas mãos. Seus músculos eram duros como pedra, mas agora eram quentes. Elenão se mexia, mas ela sentia como a observava enquanto ela traçava com seus

dedos aquelas formas que tantas vezes tinha desenhado. Apoiou as mãos em seuabdômen e se inclinou para beijar-lhe o peito.Ele gemeu e agarrou-lhe os pulsos.

 — Basta — disse. — Agora, diga.Ela não queria dizer. Ainda soava estranho, parecia-lhe que era muito

íntimo. Era capaz de beijar-lhe o peito nu, mas não queria dizer seu nome elembrar de seu amor anterior. Aquele momento de paixão era real e também odesejo, mas não era amor. Ela lhe desejava, queria viver esse momento e não terque imaginá-lo, como tinha feito quando ela o observava com a luneta. O olhoudiretamente nos olhos e sem dizer uma palavra, pegou-lhe na mão e colocou-aem seu peito.

Anthony abriu a mão e ela suspirou. Uma doce sensação a inundou porcompleto, era como se pelo seu corpo circulava uma corrente de mel quente. Eleacariciou-lhe os seios e aquela suave excitação se transformou em umanecessidade desesperada. Ela se afastou contra sua mão desejando mais.

 Não conseguiu. Ele se afastou, mas antes que pudesse protestar, notoucomo suas mãos estavam desabotoando o vestido.

Quando tinha soltado todos os botões, Anthony deslizou o vestido por seusombros e começou a beijá-la justo por cima do corpete.

 — Meu nome — sussurrou contra sua pele. — Farei com que você diga.Ela sabia que estavam a ponto de realizar o ato mais íntimo que pode haver

entre um homem e uma mulher, mas nem podia pronunciar seu nome. Negoucom a cabeça e colocou as mãos nos quadris para atraí-lo até si.

Ele acariciava-lhe a pele nua de cima dos seios e Daphne gemeu. Tratavade se agarrar a mesa que tinha atrás, pois seus joelhos já não podiam sustentar-lhe. Ele desabotoou-lhe o corpete e deixou seus seios totalmente descobertos,

 para logo cobri-los com suas mãos.Daphne podia ouvir os estranhos gemidos que saiam de sua própria

garganta a cada caricia. Ele moldou seus seios com as mãos fazendo-a arder dedesejo, um desejo que a impulsionou a arquear-se contra ele. Esfregou seusquadris com os seus e o atrito ainda produziu mais prazer.

Essa caricia pareceu acender algo nele, que deslizou o corpete pelosombros e logo começou a levantar-lhe a saia até a cintura. Ela sentiu o frio emsuas pernas desnudas e como as mãos dele ardiam contra suas coxas quando alevantou e a sentou na mesa.

Podia sentir seu pênis ereto contra seu joelho enquanto ele a acariciavasuavemente no interior de suas coxas.

 — Sim, sim — sussurrou para evitar dizer seu nome.Apoiou as mãos na mesa e se recostou nela; seus quadris se moviam ao

Page 146: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 146/201

 

ritmo das caricias do homem. O vestido, que agora estava desabotoado,apertava-lhe incomodamente os braços, mas não se importava.

Ele abaixou-se e beijou seu umbigo, um beijo quente e molhado enquantoos dedos do homem se dirigiam a um lugar que ela não podia nem falar, cada

caricia mais doce e insuportável que a anterior. Ele sabia, sabia o que Daphnequeria melhor que ela mesma e a estava atormentando sem piedade. — Diga meu nome — respirou contra sua pele. — Diga Daphne, diga.Ele a acariciou com o polegar e essa pequena caricia desatou algo nela a

libertou de todas as restrições e de todas as limitações que tinha se impostodesde o dia em que o conheceu. Com a força com que um rio rompe umarepresa, um prazer puro, indescritível a inundou e não pode evitar fazer o que ele

 pedia. — Anthony — suspirou, — oh, por favor, oh, sim, sim.Ele ouviu como ela dizia seu nome em meio a outros sons incoerentes,

súplicas e gemidos que lhe demonstram como suas caricias a estavam afetando.Deus, ela era tão doce.

Anthony a acariciou até que ela teve outro orgasmo e então se colocouentre suas pernas. Se agüentasse mais iria explodir. Nervoso, desabotoou suascalças e separou-lhe um pouco mais as pernas dela.

 — Daphne  — disse e moveu as mãos atrás de suas costas para sentá-la namesa.

Ela se aproximou da borda da mesa e quando ele a sentiu, úmida e quentecontra sua ereção, só pode pensar em que tinha que possuí-la. Com um único

movimento a penetrou.Ela gritou um pouco, ele sabia que tinha-lhe machucado, assim resolveu se

manter quieto, mas Daphne rodeou-lhe o colo com os braços, os quadris com as pernas e o introduziu mais profundamente em seu interior. Anthony perdeu o pouco de sanidade que ainda lhe restava. Acariciou-lhe os seios, beijou-lhe orosto e não parou de murmurar-lhe palavras sem sentido enquanto a penetravacom mais força até chegar ao abismo. Quando alcançou o clímax caiu por esseabismo como nunca antes tinha feito em sua vida.

Depois, enquanto estavam tombados na mesa, com um braço dele em baixo

da cabeça dela para servir-lhe de travesseiro e cobertos com seu casaco para nãosentirem frio, ele se deu conta do que tinha feito.

Se deu contas das inevitáveis conseqüências do que tinha acabado deacontecer.

Page 147: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 147/201

Page 148: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 148/201

 

casaco.Ela o olhou durante um instante.

 — Anthony, por favor, não se preocupe comigo. A dor foi insignificante. — Fico feliz em saber.

Ele acabou de vestir-se sem encará-la.Daphne voltou a se sentir incomodada. Virou-se e começou a arrumar suasroupas. Primeiro vestiu o corpete e logo depois o vestido. Os dois se vestiramem silencio. Quando os dois estavam prontos ele apoiou as mãos sobre seusombros por um instante e ela se surpreendeu de que ele a tocasse. Mas voltou ase afastar e colocou sua gravata, levantou a gola da camisa e fez o nó.

 — Anthony, o que aconteceu?Ele terminou de ajeitar seu pescoço e então pegou suas mãos e as levou aos

seus lábios para beijá-las. — Eu assumo toda a responsabilidade do que aconteceu  — disse ele e

soltou-lhe as mãos. —  Não precisa se preocupar com teu futuro.Ela o olhou surpresa sem entender do que ele estava falando.

 — Meu futuro?Ele pegou seu casaco do solo.

 —  Nos casaremos assim que terem lido os proclames. Celebraremos acerimônia aqui na capela ducal, se você achar bom. Se preferir a capela dacidade, só tem que me dizer

Anthony estava lhe propondo casamento? Ela não podia acreditar no queestava ouvindo. Soava tão desapaixonado que Daphne não sabia se acabava de

falar de casamento ou estava comentando o tempo. A doce sensação que a tinhainundado ao despertar já desaparecido completamente.

Ele colocou o casaco, se virou e caminhou até a janela. — Até o dia do casamento você terá que viver em outro lugar  — disse,

olhando o firmamento ainda escuro.  — Enderby estará bem. Não seriaapropriado que estivesse aqui. Eu explicarei tudo a Viola. Devido à grandediferença de classe que há entre você e eu haverá falatórios e lamentavelmente,não posso evitar.

Ele se calou, continuava de costas e Daphne não podia distinguir bem sua

expressão. Não entendia por que ele estava falando de casamento, mas selembrou do que ele tinha dito a sua irmã de que nunca se casaria por amor esupôs que, antes de poder considerar sua proposta, teria que saber uma coisa.Tomou fôlego e perguntou:

 — Esta me propondo casamento porque você se apaixonou por mim?Ele virou a cabeça, mas não a olhou na face.

 — A estas alturas já deve ter percebido que eu..., que eu..., bom..., sintouma forte..., uma grande paixão, sim..., isso..., uma forte atração por você e quete desejo intensamente.

 — Entendo  — Daphne não sabia qual era a etiqueta para recusar uma proposta de casamento, mas com certeza no mínimo, tinha que ver o rosto da

Page 149: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 149/201

 

 pessoa que rejeitava. Se abaixou e pegou os óculos do bolsinho do avental, queainda estava no chão. Com os óculos no rosto caminhou até ele e acariciou-lhe o

 braço.  — O desejo é maravilhoso, Anthony; mas não é o suficiente. Não mecasarei contigo.

 — Agora já não temos escolha. —  Ele não a olhava. — Eu eliminei qualqueroutra alternativa para ambos. — Você fala como se eu não tivesse tido nada a ver com tudo isso. Foi uma

decisão de nós dois, Anthony, eu também te desejo intensamente, mas isso étudo. Sem amor, não vejo nenhuma razão para que tenhamos que nos casar.

Ele colocou na frente dela e em sua expressão não tinha nem um pouco deafeto, só via uma férrea determinação de fugir com ela. Uma expressão que elaconhecia muito bem.

 — Você tem que reconhecer que não podemos fazer nada. Teremos que noscasar. Não temos escolha.

 — Eu não tenho que fazer nada. Suas obrigações e suas normas não seaplicam a minha vida, senhoria  —  disse ela tentando parecer tão fria como ele.

 — Já sei que o casamento é a resposta mais habitual diante de situações comoesta, mas há outras opções. Ninguém tem que saber o que aconteceu. Eu irei aLondres tal como tinha previsto e… 

 — Isso é para não mencionar. Agora mesmo poderá estar grávida de umfilho meu. Ou você não tinha pensado nisso?

Deus santo, não tinha pensando nisso. Inconscientemente acariciou sua barriga e sentiu uma emoção até então desconhecida. Uma mistura de esperança

e medo e entendeu que tinha que ser forte e não permitir que as circunstanciasmarcassem seu destino ou o de seu possível bebê.

 —  Não sabemos se estou grávida — respondeu ela. — Além do mais você éum bom homem e sei se necessário, você iria cuidar de nós. Filhos ilegítimos dehomens de sua classe não sofrem penúrias.

 — Por Deus, Daphne, de que está falando? Você pretende se tornar minhaamante?

Antes que ela pudesse respondeu, Anthony respondeu por ela. — Você não pode ser minha amante. Se isso fosse possível, claro que eu

cuidaria de ti. Te compraria uma casa e te daria dinheiro, mas isto esta fora dequestão.

 — Você parece familiarizado com os detalhes de ter uma amante.  — Adúvida a consumiu e ela perguntou. — Tem alguma agora? Uma amante?

 — Eu tinha, sim  — respondeu ele com toda a dignidade que correspondia aum duque. — Mas eu não há vejo desde… 

 — Ela tem…? — Fez-se um nó no estômago de Daphne, mas se obrigou aacabar a pergunta, — ela tem algum filho que possa…? —  Não pode continuar.Tapou a boca com as mãos e se virou.

 —  Não. —  Ele respondeu a pergunta que ela não tinha acabado de formular. — Marguerite não tem filhos, nem meus nem de ninguém. Daphne, isso agora

Page 150: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 150/201

 

não tem importância. Eu arruinei sua reputação e não vou permitir que viva coma vingança de ter um filho ilegítimo. Assim que tal como te disse, temos que noscasar.

Ela se colocou do outro lado da mesa para que esta servisse de barreira

entre os dois e se virou para olhá-lo.Ele não a seguiu, mas permaneceu onde estava. — Aparentemente, é neta de um barão. Viola me disse que não sabe quem

é, mas o encontraremos. O obrigaremos que te reconheça e obteremos sua permissão para nos casarmos. Uma mera formalidade, dadas as circunstancias,mas necessária afinal. Negociarei com ele os términos de teu dote e quandotivermos nos casado, te assegurarei um generoso salário para teus gastos. Comominha esposa, terás sempre todo meu apoio.

Daphne começou a sentir como a ira e a frustração invadiam todo o seucorpo. Ele estava falando como se ela não pintasse nada ali.

 —  Não é um pouco exagerado que nos casemos? Reconheço que não souuma especialistas nesses assuntos, mas acho que os homens de tua posição nãose casam com mulheres como eu, e sim as paga para irem embora.

Ele empurrou a mesa de carvalho que tinha entre os dois com tanta forçaque se movimentou até bater contra a parede. Ela não se mexeu.

Deu um passo até ela e a cadeira seguiu o mesmo destino da mesa. Daphnecontinuava sem se mover, olhando-o diretamente nos olhos só há alguns passosde distancia.

 — Você acaba de insultar minha honra e a sua própria  — disse furioso em

voz baixa.  — Se acha que vou descer tão baixo como para pagar-te pelosserviços prestados como se fosse uma qualquer está muito enganada.

 — Você é o único que faz isso. Não para de falar de acordos e de pagamentos sem se importar quais sejam meus sentimentos a respeito. Aceitarque tenha a responsabilidade pelo meu filho é uma coisa, me casar contigo éoutra muito diferente. E totalmente desnecessária.

 — Você era virgem, por todos os santos! Se acha que eu sou capaz de tomara inocência de uma dama e em seguida não fazer a coisa correta, é porque vocênão me conhece.

 — E o que me diz de lady Sarah?  — atacou ela.  — Acaso não iria se casarcom ela?

 — Suponho que Viola te contou. Não tem importância, nem sequer tinhalhe declarado isso e agora já não vou falar.

 —  Não estava apaixonado por ela e ainda assim ia se casar. E quer a mimmenos ainda e também está disposto a se casar comigo. Tanto faz uma esposacomo outra? Ah, e não nos esqueçamos de incluir a amante ocasional.

 — Amor, amor — replicou ele impaciente. — O que é o amor? Me expliquese puder. Você tinha me dito que o amor tinha te destruído o coração. Me fale

sobre esse amor. — Aquilo não era amor!  — gritou ela.  — Era uma fascinação, um sonho

Page 151: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 151/201

 

estúpido que só era possível em minha imaginação, já que você não sentia nada por mim. Eu já sabia, mas… 

 — Quê?  — A expressão de surpresa de Anthony mostrou-lhe que, semquerer, tinha-lhe confessado seu mais profundo segredo.

Agora não se importava, o que outra pessoa pensava dela era a mesmacoisa. — Sim, Anthony  — admitiu ela encarando-o diretamente nos olhos sem se

envergonhar de seus sentimentos. Ao menos tinham sido sinceros.  — Eu sentiatudo isso por ti. Que Deus me ajude, eu fiquei fascinada por você, me enfeitiçoudesde o primeiro dia em que te vi. Estupidez de minha parte, mas você vê.

Ele a olhava totalmente estupefato e de algum modo, isso aumentou a irade Daphne.

 — Incrível, verdade? Eu, entre todas as mulheres, querendo um duque. Eu,uma mulher sem dinheiro, sem influencias, sem família, ou sem uma que areconheça. Eu, uma mulher seria, desinteressante, sem nenhum atrativo, cujodestino lógico era acabar sendo uma solteirona porque era tão atraente como uminseto em cima de uma folha!

Viu que ele se alterava levemente o semblante e se animou a continuar. — Sim, estava do lado de fora da sala de música nessa noite, quando você e

sua irmã estavam falando sobre mim. Eu ouvi tudo, cada palavra. Se lembra daconversa, senhoria?

Então ele compreendeu tudo e surgiu em seu rosto um gesto de tristeza. — É verdade que eu disse isso  — murmurou ele e caminhou até ela,  — 

admitiu, mas já tinha me esquecido. Não teve importância. — Talvez não teve para ti, mas para mim teve muita. —  Estava tão chateada

que não percebia o quão inútil que era nesse momento falar daquela noite.Tinha-lhe machucado que ele tivesse começado a falar de suas obrigaçõesquando para ela o que tinha acontecido entre os dois tinha sido espontâneo emaravilhoso. — Eu me lembro que também disse que eu era como uma máquina,uma criatura sem nenhum atrativo físico. «Patética» foi à palavra que você usou.

Ele deu outro passo e a pegou pelos ombros, sacudindo-a suavemente,como se achasse que estava histérica, quando na realidade ela estava muito

tranqüila. — Me escuta, Daphne  — disse,  — me dói que me ouviu dizer algo tão

horrível e desconsiderado, mas até então não te conhecia. Quero dizer que aindaque te conhecesse, eu não sabia como era realmente.  — Interrompeu-se e asoltou. Pegou os braços do corpo e depois de respirar fundo, voltou a tentar. — Éverdade que eu disse tudo isso, mas eu disse por que você tentava passar sempredespercebida. Isso era tudo o que falamos. Viola me contou que queria te ajudara procurar um marido e perguntou minha opinião… 

 — E você falou com cabelos e sinais. Você disse a sua irmã que procurar

marido era inútil.  —   Ela riu ferida.  — Pelo visto não era tão inútil, posto quevocê mesmo parece ter intenções de se casar comigo. Que estranha é a vida!

Page 152: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 152/201

 

Ele deu um passo para trás e com as mãos nas costas, era a viva imagem deum duque.

 — Acredite em mim, eu lamento muito pelas minhas palavras. O que eudisse foi cruel e desconsiderado e me dou conta de que a feri profundamente.

Mas te asseguro que não queria fazer. Desde esse dia, como eu dizia antes,comecei a sentir uma forte atração por ti, tão forte que às vezes achava queestava ficando louco. Talvez seja só uma loucura passageira, mas uma loucurano fim das contas. Te desejo tanto, eu… — Soltou o fôlego tão bruscamente quetoda a aparência ducal desapareceu.  — Deus, depois de tudo o que aconteceu,tenho que te explicar?

 —  Não, acredito que posso confirmar que tua opinião sobre mim tenhamudado radicalmente. Mas quanto tempo custará a tornar a mudar? Quantotempo durará tua «loucura passageira»? Quanto tempo custará para voltar a metornar um inseto para ti?

 — Eu não penso isso de ti! — gritou ele. — Um homem não pode mudar deopinião? Eu mudei. Quando te olho não vejo um inseto, vejo a… 

 —  Não precisa me bajular, senhoria  — interrompeu-lhe ela. Não sabia sesentia capaz de escutar seus elogios. —  Não é necessário. Não, eu não fiquei como coração partido quando descobri o que pensava de mim, só me doeu o orgulho.Aquilo não era amor, era uma fascinação e eu já me recuperei dela.

 — Maldição, Daphne, para de me interromper! Eu sinto pela dor que tecausei, que pelo que parece foi muita, mas isso não altera meus planos. Noscasaremos logo que seja possível. Não vou ignorar o que a honra e o dever me

obrigam a fazer.Daphne não respondeu. Se abaixou para recolher o avental e o colocou.

Quando tinha feito todos os laços voltou a falar. — Mais uma vez acho que tudo gira ao seu redor. Seu dever, seu bom

nome, seus herdeiros, seu título, suas obrigações. Acho o que aconteceu entrenós dois é algo sórdido, a não ser que nos casemos, claro; nesse instante suahonra ficará satisfeita. Mas sobre tudo, quer se casar porque se sente culpado.

Ela viu como o acusava de repente. Tomou ar e prosseguiu. —  No entanto eu não me sinto realmente culpada. Não me sinto arruinada.

 Na verdade, até você começar a falar de honra e do dever me sentiamaravilhosamente bem. Eu sabia o que eu queria e como você, lutei para ter.Para você talvez tenha sido desonroso, mas você não é a minha desonra. O queaconteceu entre nós… —   sua voz falhou, mas respirou fundo e continuou —…foi maravilhoso, de verdade. Foi a coisa mais excitante e bonita que nunca tinhame acontecido antes e não permitirei que a transforme em algo que eu deva meenvergonhar. Não me casarei contigo porque apesar dessa atração que vocêsente por mim, você não me ama, nem sequer sente carinho por mim. Não mecasarei com um homem só para satisfazer sua honra e seus remorsos.

 — O amor não tem nada a ver com tudo isso. Estamos falando de honra edo dever.

Page 153: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 153/201

Page 154: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 154/201

 

Anthony se aproximou da mesa que tinha ficado encurralada contra a parede. Pegou seu casaco, o colocou e saiu de antika.

O sol despontava no horizonte e Anthony se deteve para se deleitar comesse surgimento de cores avermelhados. Era o dia de Epifanía. Muito

apropriado, pensou enquanto caminhava até a casa.Se casar com Daphne era o correto, o que a honra ditava. Agora, a únicacoisa que tinha que fazer era encontrar um modo de convencê-la. Anthony tinhao pressentimento de que isso não iria ser nada fácil.

Page 155: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 155/201

 

Capítulo 21

Daphne se foi de Tremore Hall apenas vinte minutos depois de deixarAnthony em antika. Ele não tentou vê-la antes que ela se fosse, pensou que omelhor seria era esperar alguns dias antes de segui-la a Chiswick. Assim os doisteriam tempo para pensar nessa situação e poderiam resolvê-la com mais calma.Ele sabia que não tinha sido muito romântico o modo que tinha lhe feito o

 pedido. Se quisesse convencer Daphne, teria que melhorar nesse aspecto.Acreditando que em Enderby seria fácil falar com ela a sós, mas quando chegouali, sua irmã mudou todos os seus planos.

Encontrou Viola fazendo as malas, rodeada de um montão de baús abertose camareiras perambulando pela habitação.

 — Ela já se foi? —  perguntou-lhe a irmã.  — Que você dizer com que ela sefoi?

Viola negou com a cabeça sem se dirigir a ele. —  Não, não, Celeste, o vestido verde de seda não, quero o verde de lã.Então se virou e concentrou toda a sua atenção em seu irmão, e lhe indiciou

que se sentasse.

 —  Nossa querida Daphne já foi para Londres. Dadas as circunstancias, ladyFitzhugh foi amável de convidá-la e de aceitar apresentá-la em sociedade.

Anthony franziu a testa e se sentou na cadeira sem se preocupar com osvestidos que esmagou quando sentou.

 — Que circunstancias?  — Olhou ao seu redor.  — Você não vai para acidade?

 —  Não, vou para Northumberland. Hammond teve uma espécie de acidentee devo ir imediatamente a Hammond Park. Ontem à noite recebi uma carta dodoutor Chancellor.

 — Que tipo de acidente? — Ele foi baleado. — Um acidente de caça? —  Não. —  Viola mordeu o lábio e afastou a vista. Depois de um momento

voltou a olhar Anthony diretamente nos olhos.  — Participou de um duelo. Poruma mulher.

 — Cretino!  — Anthony bateu com força a cadeira.  — Juro que vou matá-lo por isto. Quantas humilhações mais você vai ter que suportar?

Sua irmã parecia magoada e ele soltou violentamente o ar que não sabia

que estava contendo. Hammond tratava sua irmã miseravelmente e esse dueloera a gota d’água que caia no  vaso. Anthony não tinha nenhuma pena pelas

Page 156: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 156/201

 

feridas que tivesse sofrido seu cunhado. — Eu lamento, Viola, mas Hammond é o pior canalha que conheço. — Agora já não importa.  —  Ela encolheu seus ombros e continuou.  — Eu

estou tão contente de poder ver Daphne por alguns dias! Tivemos um ótimo

tempo juntas, ela lamentou muito que eu não pudesse acompanhá-la a Londres,depois de tudo. Passará a temporada com os Fitzhugh.Se Daphne ficasse na casa dos Fitzhugh ele iria ter tudo muito mais

complicado. Não poderia estar a sós com ela e teria que tentar convencê-la avista de toda a sociedade. Os falatórios e fofocas seriam enormes.

 — Maldita seja!Ele se deu conta do quão surpreendida o olhava ele irmã.

 — Você parece muito desgostoso por estas noticias, Anthony. O que estaacontecendo? Você sabia que ela estava indo para a cidade.  — Viola começou arir.  — Acaso esperava convencê-la para que voltasse a restaurar mosaicos evasos contigo?

Anthony a olhou com um olhar ameaçador. — Você trocou confidências com a senhorita Wade? — Confidencias? Não sei ao que esta se referindo. Que confidencias ela

deveria ter compartilhado comigo? Aconteceu alguma coisa?A grande maioria das mulheres teria faltado tempo suficiente para presumir

que um duque tinha lhe pedido em casamento, especialmente na frente a irmãdeste, mas era evidente que Daphne não tinha dito nada a Viola. Sendo elemesmo um homem muito reservado, agradou-lhe o comportamento discreto

dela, mas Viola tinha que saber cedo ou tarde, assim que o melhor seria que elemesmo dissesse. Antes que lesse em uma nota de sociedade.

 — Você pediu Daphne em casamento?  — Um enorme sorriso iluminou-lheo rosto e se levantou da cadeira em que estava sentada para dar-lhe um beijo emcada bochecha. — É maravilhoso!

 —  Não, não tanto  — respondeu ele enquanto Viola voltava a se sentar.  — Ela me rejeitou.

 — Sério? Não posso entender por que, ela está… — Viola se calou sobreaquilo que iria dizer e de forma suspeita, olhou seu irmão. — Eu não sei se você

 pediu, ou não? Receio que simplesmente comunicou. Não adianta negar.  —  Antes que ele pudesse responder, ela continuou.  — Te conheço muito bem,Anthony. Você se fez de mandão e autoritário e ela mandou você passear.  —  Viola começou a rir dele as gargalhas. — Oh, já sabia que gostava dela.

 — Que bom que você esta passando tão bem com isto, mas você nãodeveria estar a meu favor?

 —  Não — respondeu ela sorrindo de orelha a orelha. — Estou totalmente dolado de Daphne. Nós mulheres devemos nos apoiar em situações como esta.  —  

 Não deixou que Anthony respondesse e prosseguiu.  — Há uma cosa que me

intriga, se ela te recusou, porque você esta aqui?Ele começava a se irritar que sua irmã achasse tão divertida suas

Page 157: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 157/201

 

desventuras. — Se você acha que eu aceitarei um não como resposta é porque não me

conhece bem, irmãzinha. — Você tem razão, mas Daphne tem todo o direito que a cortejem, sabe?

Você não pode ir para o mundo ordenando as pessoas para que casem contigo.Um casamento não é uma escavação. Oh, como eu gostaria de poder ficar paraver o espetáculo.

 — Sim, acho que sim — respondeu ele sem ver graça no assunto. —  Não se preocupe, acho que as notas da sociedade te contaram com todos os detalhes.Antes que me esqueça, tenho que te perguntar uma coisa. Daphne te mencionoualguma vez o nome de seu avô? Vou ter que procurar o barão para poder fixar ostérminos de nosso acordo.

 — Lord Durand. Suas propriedades estão em Durham, acredito, mas eudescobri que ele esta agora na cidade. Sugeri a Daphne que fosse visitar-lhe,mas ela me disse que não queria. Me contou que Durand se negou a reconhecê-la. Depois da morte de seu pai ela lhe enviou uma carta e recebeu uma respostade um dos advogados dele dizendo que nem era nem seria nunca a neta do

 barão. Seus pais fugiram, assim que é evidente que Durand não aprovou essecasamento. Pode acreditar? Quase chorei quando me contou. Ali estava ela,sozinha em Tánger, ou onde quer que fosse, sem nada nem ninguém, e essehomem horrível escreveu-lhe para dizer que não esperasse nada dele.

Anthony se levantou. A ira inundava todo o seu corpo, mas quando falousua voz soou firme, serena, perfeitamente controlada.

 —  Não sei por que — disse a Viola, —  mas acho que Durand não se negaráa reconhecê-la depois de falar comigo.

 — Sim — concordou Viola olhando-o satisfeita,  — estou convencida de queassim será. Mas Anthony  — continuou com tacto,  — não acho que Durand sejateu maior problema. Ainda tem que convencer Daphne que te aceite.

Anthony jurou que isso tampouco seria um problema. Abandonou Enderbye se dirigiu até Londres. Jurou que Daphne se tornaria sua duquesa, ainda quetivesse que cortejá-la diante de toda a alta sociedade britânica.

 — Por todos os santos!A exclamação fez com que Daphne deixasse de desenhar Elizabeth e Anne,

que estavam posando sentadas em frente dela em um dos salões da casa que osFitzhugh tinham em Londres. Se virou e viu como lady Fitzhugh, que estavasentada numa cadeira a seu lado, olhava o cartão que acabava de entregar-lhe aempregada. Colocou a outra mão em cima de seu coração descontrolado e sereclinou em seu assento.

 — O duque de Tremore veio nos fazer uma visita.

 — Quê? — gritaram suas duas filhas de uma vez. — Bom, não demorou muito — murmurou Daphne.

Page 158: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 158/201

 

 — Com certeza ele veio te ver, Daphne!  — disse Elizabeth.  —  Nós temosvivido toda uma vida em Hampshire e nunca veio nos visitar.

 — Deve ser isso  — continuou sua mãe batendo o cartão nos dedos.  — Euapenas falei com um duque uma dúzia de vezes em todos esses anos e nunca nos

tinha feito essa honra.  — Guardou o cartão no bolso e se endireitou na cadeira. — Mande-o entrar, Mary. A um duque não se faz esperar.Daphne se deu conta que rápido a empregada abandonou a habitação, lady

Fitzhugh e suas filham verificaram seus penteados e arrumaram os vestidos parareceber o tão ilustre convidado. Ela não fez nada disso, ao contrario, pensou queera uma pena que esse dia não usasse o cabelo recolhido naquele coque que eletanto odiava. Quando viu que Elizabeth fazia gestos para que ela tirasse osóculos, ela a ignorou e os deixou nos olhos.

Quando Anthony entrou na habitação, ela se levantou e lhe fez umareverencia, igual a todas, logo se refugiou atrás de seu caderno de desenhoenquanto lady Fitzhugh lhe apresentava as suas filhas e o convidava para sesentar.

Por cima do caderno, Daphne observou as expressões de Anne e Elizabeth,abobalhadas olhando-o, enquanto Anthony se sentava a seu lado. Olhar aquelasmeninas era como se ver refletida em um espelho. Porque que tinha ficado comessa mesma cara no dia que o conheceu. Era uma mistura de nervosismo,vergonha e tolice. Ele estava lindíssimo, estava muito elegante e parecia ogrande duque que era. Usava um casaco azul com uma calça de um azul maisescuro, em cima, uma capa com pequenas listras douradas e como sempre, uma

imaculada e impecável camisa branca. Apostaria que as meninas Fitzhugh se perguntavam se estavam sonhando.

«Acho que está mais que acostumado a causar este tipo de reaçõesfemininas por onde quer que vá», pensou Daphne e então se deu conta de quetinha apertado tão forte o lápis contra o papel que tinha estragado o retrato deElizabeth.

 — Toca a campainha para que nos tragam um pouco de chá, Anne  — ordenou lady Fitzhugh a sua filha mais velha, que parecia incapaz de se mover.

 —  Não, por favor, não se preocupe comigo  — disse Anthony. —  Não posso

ficar muito tempo. Visitei minha irmã justo antes que ela fosse a Northumberland e me contou que a senhorita Wade estava com as senhoras nacidade. Só queria apresentar meus respeitos.

 — É muito amável de sua parte  — disse sua anfitriã, tentando não parecersurpreendida que o duque tivesse decidido visitá-las.

 — Eu vim a cidade para supervisionar a abertura de meu museu, só faltamumas semanas para o grande evento  — disse ele, olhando-a.  — Espero que

 possam vir. — Claro. Será uma honra.

Daphne se mexeu na cadeira. Desejava que fosse embora de uma vez antesque dissesse que não tinha ido ali conversar. Temia que deixasse descobrir suas

Page 159: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 159/201

 

intenções e pedisse a lady Fitzhugh e as suas filhas ficar a sós com ela. Isso seriamuito humilhante, especialmente para ele, porque se fizesse isso, voltaria arecusá-lo. Mas logo se deu conta que ele não tinha intenções de fazer nada disso.

 —  Nesses últimos meses tenho estado tão ocupado trabalhando  — disse ele

 —  que não tinha tido tempo de cumprir com meus compromissos sociais, masagora que o museu está quase acabado, espero ter a oportunidade de desfrutar datemporada. Na verdade, estou livre para aceitar qualquer convite.

Suas palavras, expressadas com tanta ênfase, fizeram que Daphnelevantasse a vista justo a tempo para ver como lady Fitzhugh mordia a isca.Antes que ela tivesse tempo de interromper a conversa, lady Fitzhugh estavadizendo:

 — Verdade, senhor? Eu tenho previsto celebrar uma pequena festa de jogosde cartas logo, só meia dezena de nossos amigos. Eu temo que seja muitomodesto para o senhor, mas gostaríamos de contar com sua presença.

 — Será uma honra poder vir  — disse ele, sorrindo satisfeito que Daphneteve vontade de jogar-lhe o lápis.

Lady Fitzhugh estava surpresa, não só tinha tido a honra de convidar oduque, mas também que ele tinha aceitado.

 — Lhe mandarei o convite — murmurou. — Ficarei feliz em receber.  —   Olhou Daphne por um momento e logo

voltou a prestar atenção na anfitriã.  — A senhorita Wade trabalhou muito duro para que eu pudesse abrir o museu. Lamento que tenha tido tão pouco tempo para se divertir, fico feliz que agora tenha a oportunidade de conhecer a cidade.

 —  Nós vamos fazer de tudo para que ela fique muito bem, senhor  — disseElizabeth rindo-se entre os dentes.

 — Estamos felizes de ter a senhorita Wade conosco.  —   Lady Fitzhughrespondeu e fez um olhar de crítica a sua filha.

 — Esta é sua primeira visita a cidade, não é, senhorita Wade?  — Anthonyfocou agora toda sua atenção Daphne.

 — Sim  —   respondeu ela e deixou de fingir que estava desenhando.  — Depois de tanto tempo encerrada no campo, eu morro de vontade de entrar nasociedade.

 — Ah, suas palavras me lembraram um dos motivos de minha visita. —  Ele procurou no bolso de seu casaco e tirou um pequeno pacote marrom atado comum discreto cordão bege. Se inclinou até ela e lhe deu.  — Acredito que isto éseu.

Ela o aceitou, olhando-o confusa. Pela forma e peso do pacote viu que setratava de um livro.

 —  Não sabia que tinha me esquecido de um livro quando parti. — Talvez não — respondeu ele, confundindo-a mais ainda.Ela levantou a vista e viu que ele tinha aquele meio que significava que

estava lhe provocando. —  Não entendo.

Page 160: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 160/201

Page 161: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 161/201

 

 senhorita e por isso lhe dou este livro. No caso de desejar me

responder, posso lhe sugerir DeCharteres? São os melhores floristas

da cidade.

Seu servidor,

T  REMORE  

Daphne mordeu o lábio. Aquela noite na estufa. Ele tinha lembrado.Percebeu que começava a perdoar-lhe, que via um pequeno raio de luz entre asnuvens e fechou o livro de repente. Tinha que se resolver, não queria que elevoltasse a magoá-la.

 — Se este livro não é seu, deve ser um presente! — decidiu Elizabeth. — Oh,Daphne, um presente do duque. Você é tão discreta! Não nos disse uma palavra.

Daphne levantou a vista do livro e viu como as três a estavam observando. —  Não sei o que quer dizer. — Ah não?  —  perguntou-lhe lady Fitzhugh em voz baixa e a olhou

compreendendo tudo o que acontecia. Daphne tinha vontade de gritar.  — É um presente muito romântico, não acha?

 — Sim, é  — disse Anne suspirando.  — Receber as atenções de um duque.Que poético!

 — É romântico e poético? —  perguntou Elizabeth. — Claro que sim, tonta — exclamou Anne rindo. — É Le langage des fleurs! — Sim, sim, mas não sou tonta, que significa? —  A linguagem das flores  — explicou sua mãe. — E você, Elizabeth, saberia

traduzi-lo se tivesse se aplicado mais em tuas aulas de francês. É um livro queexplica o que simbolizam as plantas.

 — Os apaixonados costumam se mandarem mensagens secretas entre eles — disse Anne encantada.  — Está muito na moda. Então, Daphne, já estãocomprometidos?

 — Anne!  — repreendeu lady Fitzhugh.  —  Não tem por que nos contar,querida. Não é assunto nosso e nós respeitamos sua privacidade.

 —  Não estou comprometida com ele e nunca estarei.  —  Ela percebeu porseus rostos que não acreditavam nela.  —  Não há nada entre nós! Absolutamente

nada!Estava tão aborrecida que deixou o livro cair e ao fazer isso, entre suas

 páginas apareceu um pequeno ramalhete de flores envoltas em umas finas folhasde papel. As flores se espalharam ao redor do livro no chão.

 — Você vê, Daphne? — disse Anne. — Já mandou a primeira mensagem.Daphne recolheu as flores do chão e viu que acabavam de ser cortadas.Devia tê-las colhido no caminho até lá. O pequeno ramalhete estava

composto de flores de cor rosa e tinha uma única flor de um lilás escuro comtons amarelos. As movimentou entre seus dedos enquanto as outras mulheres se

aproximavam dela para poder vê-las também. — As cor de rosa são jacintos  — disse-lhe Anne —   e a lilás é uma

Page 162: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 162/201

 

columbina. — O jacinto rosa significa que é um jogo  — disse Elizabeth lendo o livro

que tinha em suas mãos, — e a columbina significa «eu vou ganhar».Tinha que reconhecer que o jogo das flores era uma ideia inteligente, mas

era tão próprio dele proclamar-se ganhador antes de começar. — Isto é tão excitante!  — exclamou Elizabeth.  — O próprio duque deTremore está cortejando a nossa Daphne!

 — Isso é correspondência pessoal de Daphne — recordou-lhe lady Fitzhugha sua filha em um tom severo, — tão particular como se fosse uma carta. Deveriase envergonhar disso. Se desculpe com Daphne e devolve o livro agora mesmo.

 — Me desculpe, Daphne  — disse Elizabeth arrependida e devolveu-lhe olivro. — Esse assunto pertence somente a ti e ao duque.

 —  Não por muito tempo, querida irmã  — disse Anne.  — Se realmente oduque de Tremore está cortejando a nossa Daphne, toda a cidade saberá daqui aalguns dias. Todo mundo está especulando sobre seu casamento desde quetrouxe para limpar as esmeraldas ducais. Oh, Daphne, se ainda não lhe fez o

 pedido, certamente tem intenção de fazer, se não, não teria te presenteado. Oh,falarão de ti em todos os jornais e de nós também.

 — Receio que isso é verdade  — disse resignada lady Fitzhugh, cuja atitudeera totalmente oposta a de suas filhas. — Será melhor que nos preparemos para oassalto.

 — Assalto? —  perguntou Daphne preocupada. — Anne tem razão, querida Daphne, se o duque te corteja, todos os teus

movimentos serão observados e comentados, assim como os nossos. Nosencherão de visitas e falarão de nós até a satisfação nas notas de sociedade.

 — Que bom  — disse Elizabeth rindo.  — Agora não nos faltarão pares de baile. Daphne, você acha que o duque poderia nos apresentar seus amigos?

 — Me envergonho de ti, Elizabeth, de verdade  — disse lady Fitzhughsentando-se ao lado de Daphne e colocando afetuosamente a mão em seu braço.

 — Tem que entender tudo o que isto significa, querida. Você vai ser estudada,analisada e criticada. Tem que estar preparada para assumir que muitas dessasnotas não sejam agradáveis. A inveja é um sentimento horrível e aqui tem em

abundancia. Os duques são um bem raro e receio que as pessoas são muitogananciosas.

Daphne olhou para o livro em seu colo. Ela não queria isso. Não queria queele a cortejasse, não queria que fosse romântico, porque se fosse, ela sucumbiriainevitavelmente. Começava a pensar que talvez sentisse algo por ela e que tudonão tinha sido um recurso para satisfazer seu sentimento de honra. Ele não aamava, mas pelo modo como seu coração batia, sabia que ela poderia voltar aamá-lo.

 — As fofocas não me preocupam nenhum um pouco  — disse ela tentando

endurecer seu coração. —  Não há nada do que possam falar! Não existe nenhumromance, não estamos comprometidos e não vou me casar com ele. Quanto mais

Page 163: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 163/201

Page 164: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 164/201

 

Capítulo 22

A previsão de lady Fitzhugh de que sua casa se encheria de visitas começoua se concretizar na tarde seguinte. O primeiro a visitar Daphne foi lord Durand.

Ela não estava de bom humor para receber visitas. Junto com Elizabethacabava de chegar em casa depois de um longo passeio por Montagu House,onde não lhe tinham deixado entrar no museu porque não tinha concluído seu

 pedido com antecedência. O fato de que ela fosse à filha de sir Henry Wade,cujos descobrimentos constituíam a maior parte da exposição, não tinhaimpressionado suficientemente aos encarregados para romper suas estritasnormas de admissão. Assim que, quando chegou à casa de Russell Square e seencontrou com lord Durand que estava esperando-a na sala, seu humor nãomelhorou.

Ficou petrificada de pé na escada, sua mão agarrada com força ao seucorrimão.

 — Lord Durand? — repetiu olhando confundida a Mary enquanto entregavaseu casou e seu chapéu. — Por que veio me ver?

A empregada suas coisas e respondeu.

 —  Não sei, senhorita, mas lady Fitzhugh me pediu que eu lhe dissessequando chegasse.

Antes que Daphne pudesse responder, lady Fitzhugh, que deve ter ouvidosuas vozes, saiu da sala e desceu rapidamente da escada.

 — Lord Durand está aqui  — sussurrou a Daphne.  — Ele está esperando-amais de meia hora.  — Tocou com carinho o braço de Daphne.  — Ele me disseque é teu avô, o pai de tua mãe e que acaba de saber disso. Isso é verdade,Daphne?

 — Sim — admitiu Daphne e começou a subir com ela a escada. — Mas nos

ignorou durante anos e eu nunca o vi em toda a minha vida. Por que ele quer mever precisamente agora? — Disse que deseja falar contigo. Parece ansioso para conhecê-la e para que

não seja tudo tão estranho, sir Edward e eu gostaríamos de estar presentes nareunião. O barão está de acordo, se você não se importa, claro.

 —  Não, não, claro. Suponho que não posso me negar a vê-lo, apesar de queele se negou a me ver.

 — Ele fez isso?  — Lady Fitzhugh estranhou.  — Hoje ele parece ter muitavontade em te ver. Mas em qualquer caso, não acho que foi a decisão mais

acertada, querida. Ele já reconheceu Edward e eu somos uma família. — Ah é?  —  perguntou na hora que lady Fitzhugh abria a porta da sala e

Page 165: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 165/201

 

entrava nela. Daphne a seguiu.A primeira imagem do barão a deixou surpreendida e se deteve na porta.

Daphne não esperava que fosse um homem bonito. Tinha imaginado umaespécie de ancião de mandíbula desencavada e expressão maléfica. Em vez

disso, se tratava de um homem alto, elegante, com o cabelo prateado e queapesar de sua idade, continuava sendo muito bonito. Essa surpresa seincrementou ao ouvir suas primeiras palavras.

 — Minha queridíssima neta  — exclamou e se aproximou para pegar-lhe asmãos.  — Fico tão feliz em poder te ver finalmente. Venha, venha, deixa eu teolhar. —  Examinou-a de cima a baixo e logo a pegou pelo braço para guiá-la atéo sofá que tinha perto do fogo, de frente da cadeira que estava sentada ladyFitzhugh. — Tenho tanta vontade que passemos um agradável tempo juntos.

Daphne soltou-se e preferiu se sentar perto de lady Fitzhugh, para assim poder olhá-lo diretamente nos olhos. Mas antes que pudesse perguntar-lhe nada,o barão falou:

 — Estou tão contente por você, querida menina. Deixa que eu seja o primeiro a felicitá-la.

Ela piscou surpresa. — Perdão? Por que me felicita? — Pelo teu compromisso com o duque de Tremore, claro.Daphne não podia acreditar.

 —  Não sei do que se refere. Não estou comprometida com o duque.O barão, não pareceu impressionado por suas palavras.

 — Claro, claro, eu entendo. O duque já me explicou o quão impetuosa quefoi sua proposta e pediu para te cortejar como você merece antes de tornaroficial o compromisso de vocês.

 — Ele disse isso? —  perguntou ela apertando os dentes. — Sim e eu entendo perfeitamente. Você tem todo o direito a querer que te

conquistem, mesmo que ele seja um duque. —  Não tenho nenhuma intenção de me casar com ele —  respondeu ela sem

conseguir distinguir se irritava-se mais com Anthony ou com o barão. Nessesmomentos estava igualmente farta dos dois.

O barão piscou-lhe um olho. — Poucas jovens se atreveriam fazer um duque esperar, mas ele parece

estar bastante apaixonado por você e já esta bastante resignado com a ideia. Detodos os modos, deixa que eu te dei um conselho, querida. Não faça ele esperarmuito. A final, ele é um duque.

Daphne tinha a sensação de que iria ouvir essa frase bastantefreqüentemente.

 —  Não vou me casar com ele  — insistiu ela.  —  Não fale de umcompromisso que não existe, eu lhe rogo.

 — É inútil que você tente manter em segredo, o próprio duque me disse quetinha intenção de fazer público que esta te cortejando. Você é minha neta e

Page 166: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 166/201

 

como cavalheiro tenho o dever e a obrigação em cuidar de ti. Te darei conselhosde como prosseguir com este cortejo, ainda que agora já seja um pouco inútil,

 pois já dei meu consentimento ao duque.Daphne começava a ficar farta de tratar com cavalheiros honoráveis.

 — Eu não quero ser sua obrigação, senhor.Antes que ele pudesse responder, se atreveu a perguntar-lhe a única coisaque realmente queria saber.

 — Por que ocultou que minha mãe fugiu com meu pai e como conseguiumanter em segredo seu casamento?

O barão olhou a sir Edward e a lady Fitzhugh. Parecia aborrecido pelamudança de assunto e se incomodou de ter que responder essas perguntas, masainda assim respondeu.

 — Minha filha era muito jovem, só tinha dezessete anos. Não dei minhaaprovação no casamento. A grande diferença social fazia que para ela fosse umaunião muito desvantajosa. Quando fugiram, decidi evitar a todo custa oescândalo e disse a todo mundo que Jane tinha ido a Itália estudar arte.

Daphne se sentia satisfeita de que ele tivesse disposto a contar a verdadesobre seus pais, mas era como se estivesse falando um discurso perfeitamenteensaiado.

 — Eu fiz o melhor que pude.Daphne cruzou os braços e o encarou seria.

 — Verdade?O barão se mexeu desconfortavelmente na cadeira, mas Daphne não se

afetou. — Por que então não tentou corrigir seu erro e me reconhecer quando lhe

 pedi? Já sei que meu pai era um órfão sem família nem influencias, mas era umhomem brilhante. Era um cavalheiro e sua filha o amava. O senhor sabia que euera sua neta e apesar disso se negou a me reconhecer. Não tem vergonha de ternos tratado assim?

O barão não pode raciocinar diante daquela avalanche de acusações. Ele parecia irritado por ter que tocar nesse assunto em sua primeira visita. Masquando falou não estava aborrecido, mas agitou as mãos surpreso.

 — Daphne, não é como você diz. — Ah não? —  Não, não.  — Voltou a olhar incomodado para sir Edward e para lady

Fitzhugh, mas eles não lhe ofereciam ajuda. Lady Fitzhugh costurava e sirEdward atiçava o fogo. Nenhum dos dois parecia estar escutando sua conversa enem tossindo forçado o barão conseguiu captar a atenção deles.

Sem nenhuma vontade o barão voltou a encarar Daphne, que mantinha umestóico silencio.

 — Teu pai estava em Durham, perto de minha propriedade de Cramond. Ia

a dar ali umas conferencias sobre antiguidades romanas. Minha filha assistiuessas conferencias e começaram a se encontrar em segredo. Uma semana mais

Page 167: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 167/201

 

tarde, vieram me ver e me comunicaram que tinham intenção de se casarem. Não faz falta que te diga que não aprovei.

 — A deserdou?Ele negou com a cabeça no mesmo instante.

 —  Não, não. Mas estava furioso. Teu pai era um órfão sem família e seminfluencias. Era quase vinte anos mais velho que minha Jane e não tinhadinheiro para poder mantê-la como ela merecia, nem tampouco os filhos queteriam. Se tivessem vindo morar comigo os teria perdoado, mas ele queria quetua mãe o seguisse por todo o Mediterrâneo. Além do mais, estava convencidode que em uma semana não tinha tido muito tempo de se apaixonar. Minha filhae eu discutimos. Ela e teu pai fugiram na mesma noite e alguns dias depoisembarcaram para Edimburgo com destino a Nápoles. Nunca voltei a ver minhafilha. Minha mulher também já morreu e não tenho mais filhos. Você podechegar a entender o quão amargo e traído que me sinto?

 — O senhor disse que não a deserdou, mas fez sim. Eliminou-a de suecoração e nunca respondeu nenhuma de suas cartas. Como tampouco respondeua minha.

Ele piscou diante a brutalidade de suas palavras. — Espero que algum dia você entenda.Daphne se apoiou na cadeira, sem chegar a compreender seu ponto de

vista. —  Não, não entendo. Não apenas abandonou sua filha, mas também me

abandonou. Eu lhe escrevi pedindo ajuda e a única coisa que recebi foi uma

carta de seus advogados. Quer que lhe diga o que dizia?Ele tratou de responder, mas ela não o permitiu.

 — Dizia, de um modo muito explícito, que eu não podia ser sua neta  — continuou —  e que qualquer outra tentativa de entrar em contato com o senhor

 para obter seu dinheiro seria inútil. Meu pai tinha acabado de morrer. Estava nomeio do deserto do Marrocos, sem dinheiro, sem família, sem ninguém que meajudasse. Lhe escrevi desde Tánger e durante dois meses esperei sua respostatentando sobreviver com o pouco que tinha. Todas as antiguidades que papaitinha descoberto em Volubilis já as tinha vendido ao duque de Tremore ou a um

museu de Roma e o pouco dinheiro que papai tinha para gastos já tinha seacabado.

Se dava conta que se estava ficando nervosa e muito emotiva, mas não seimportava. Queria que soubesse como tinha-lhe ferido sua indiferença.

 — Me vi obrigada a vender os livros e a equipe de meu pai para podercomprar comida e ter um lugar onde dormir, mas esperei, tinha a esperança deque meu avô, de que o senhor, me ajudaria. Entretanto, não ajudou. Meabandonou e me deixou sozinha, sem dinheiro e sem proteção. Sorte que oduque de Tremore queria contratar meu pai e mandou duas passagens para

Inglaterra. Fui para Hampshire e trabalhei para ganhar meu sustento. O senhorme pergunta se posso entender o que fez e minha resposta é não. Não posso

Page 168: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 168/201

 

entendê-lo e acho que será impossível perdoá-lo. — Sendo tão jovem você dar sua opinião muito convencida  — gritou ele

irritado.  — Eu vim aqui de boa fé, com a intenção de corrigir o péssimo modocomo me comportei contigo.

 — Só veio aqui porque acha que vou me casar com um duque. Não hánenhum compromisso. Assim que…  — Talvez  — interrompeu sir Edward pela primeira vez desde o inicio da

conversa  —   deveríamos falar deste assunto a sós, lord Durand. Acho que asmulheres e acredito que o senhor está de acordo, são criaturas muito emotivas enão permitem que a razão intervenha em seu discurso.

Daphne se sentiu ultrajada, mas lady Fitzhugh pôs uma mão em seu braço equando ela se virou para olhá-la, lady Fitzhugh disse:

 — Tranqüila. — Talvez tenha razão, sir Edward — disse Durand. — Fantástico! Vamos para o meu estúdio?  —   Apontou a porta e os dois

homens saíram juntos deixando as mulheres sozinhas.Daphne ficou de pé logo quando cruzaram a porta e começou a andar pela

habitação. — Isto é humilhante. Sei perfeitamente que a única coisa que fez vir aqui

hoje é porque acha que vou me casar com o duque. Que homem tão horrível! Ecomo o duque se atreve a ir à casa de Durand e falar-lhe tudo isso? Ele sabe quenão vou me casar com ele, quando o recusei fui bastante clara a respeito.

 — Daphne, se senta.

Ela viu que lady Fitzhugh a estava observando tão seria que decidiu dar-lheatenção e se sentar.

 — Então na verdade o duque te pediu em casamento. — Sim. —  Temerosa de que lady Fitzhugh pudesse dizer-lhe, continuou: — 

Por favor, não me diga que fui uma estúpida ao recusá-lo. Eu…  —  Não, não, Daphne, eu nunca me intrometeria em algo tão delicado. Você

deve ter suas razões para ter feito isso. Respeito se que não quer falar disso é tuaescolha. Eu só te perguntava se era verdade que o duque lhe tinha propostocasamento, porque se sim eu gostaria de te dar um conselho. Se você me

 permite.Daphne a olhou surpresa e um pouco intrigada. Ela tinha muita estima a

lady Fitzhugh e não queria ouvi-la dizer que tinha se equivocado ao rechaçar umduque.

 — Conselho? — Sim. — A mulher cruzou as mãos sobre seu colo e guardou um momento

de silencio. Depois começou a falar:  — Antes de mais nada, quero que vocêsabia que tenho-lhe muito carinho, querida. Você tem sido uma excelentecompanhia para minhas filhas, já que sendo mais velha que elas tem conseguido

transmitir-lhes certa serenidade e responsabilidade. Mas eu sou mais velha quevocê e esses anos me fizeram mais sábia ou assim espero. Por favor, permite que

Page 169: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 169/201

 

te dei um conselho e entende que o faço só pensando em ti e em sua felicidade. — Claro, pode me dar todos os conselhos que quiser. A senhora tem sido

muito amável comigo, abriu as portas de sua casa para mim, tem sido minhaamiga e… —   e interrompeu sua voz e demorou um momento em poder

continuar. — Lady Fitzhugh, eu estou tão agradecida. A senhora tem me tratadocomo se fosse mais um membro da família e as palavras não podem expressar…  — Tranquila, filha — disse, dando uns tapinhas carinhosos em sua mão. — E

me chame de Elinor, querida. E você tem que saber que para mim você já é ummembro da minha família  — continuou sorrindo,  — ainda que talvez você nãogoste tanto de mim quando ouvires o que tenho para te dizer.

Daphne se preparou para o inevitável. — Vai me dizer que deveria ser mais pronta e aceitar a proposta do duque. —  Não, não, você já é adulta o suficiente para saber o que há em seu

coração e em sua cabeça. Além do mais, ser duquesa é uma enormeresponsabilidade e entendo perfeitamente sua reticência a ocupar esse posto.

 Não estou segura de que eu quisesse para uma de minhas filhas. Não, meuconselho se refere ao barão.

 — Ao barão? — Sim, Daphne. Apesar de eu estar feliz que me faz te considerar um

membro de minha família, isso não altera que o barão é realmente teu avô.Entendo perfeitamente teu orgulho, eu também tenho e compreendo que teindignem seus motivos. Sem dúvida, o fato que o duque se interesse por ti temmotivado este reencontro familiar. Sem dúvida, lhe interessa se aparentar com

Tremore. E teme as críticas da sociedade se sabe que se negou a te ajudar nomomento mais delicado, a consequência do qual você se viu forçada a trabalhar.Mas apesar de seus motivos, eu te aconselharia que lhe permitisse fazer ocorreto e que te reconhecesse como sua neta. Deixa que atue como um generosoe benevolente avô, ao menos agora.

Daphne ia falar, mas lady Fitzhugh tocou-lhe o braço e então decidiu calar-se.

 — Pelo teu bem, Daphne  — continuou lady Fitzhugh,  — serei, direta e tefalarei como se fosse minha filha. Você é uma mulher prática, mas neste assunto

deixa que o orgulho te nuble o juízo. Se você insistir em rechaçar o duque, elecedo ou tarde desistirá de seu empenho, mas se você permitir que Durand tereconheça agora, ele não poderá retroceder ainda que você não chegar a se casarcom o duque. Você terá sua proteção e seu apoio e não terá que temer nuncamais por teu futuro. Antes de você chegar, estive falando com ele e cheguei aconclusão de que ele não seja um homem rico, tem renda suficiente de todassuas propriedades e poderá te manter sem problemas. Querida, você já sabe oque é passar por penúrias, sabe o quão dura pode chegar ser a vida. Não permitaque teu orgulho te prive de ter a segurança e a proteção que teu avô pode te

 brindar. O duque, com certeza foi falar com ele com a intenção de te ajudar,ofereceu ao barão a possibilidade de corrigir todo o mal que tem feito. Permite

Page 170: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 170/201

 

que Durand alivie sua consciência e te reconheça.Daphne tomou fôlego e o soltou lentamente.

 — Tem razão. Ele tinha se negado de tal modo a me reconhecer que hoje,quando ele veio aqui e pareceu tão claro que a única coisa que queria era ganhar

o favor de Anthony, eu fui incapaz de raciocinar. Recusar que me reconheçaseria realmente estúpido. — Anthony?  — Lady Fitzhugh repetiu o nome com uma voz tão reflexiva

que Daphne corou. Mas lady Fitzhugh era uma mulher discreta. — Um copo dechá iria bem a nós duas, não acha? — lhe sugeriu.

Quando o chá tinha acabado de chegar os cavalheiros voltaram a entrar nosalão. Ela e lady Fitzhugh se levantaram e sir Edward se aproximou de Daphne.

 — O barão me confirmou seu reconhecimento como sua neta.  — Apertou-lhe carinhosamente o ombro. — Seu futuro está assegurado, querida.

Daphne olhou o barão e seguindo o conselho de lady Fitzhugh, permitiu-lhe tranqüilizar sua consciência.

 — Obrigada — disse educadamente. — O senhor é muito amável. — Também chegamos a um acordo sobre a sua situação  — continuou sir

Edward. — Lord Durand permite que você fique com a gente. Se da conta de quevocê se tornou uma grande amiga para Elizabeth e Anne e acha que ladyFitzhugh será una excelente companhia para ti. Oferece uma pequena quantia

 para seus gastos de dez libras semanais e disse que pode utilizar seu nomesempre que precisar.

 — Isso é muito generoso de sua parte, lord Durand  — continuou lady

Fitzhugh.  — Tanto se casar com um duque como não, uma dama necessita deroupa e outras coisas para o estilo. Daphne é uma amiga maravilhosa paraminhas filhas e estamos encantados que ela fique aqui conosco. Procurarei tentarfazer uso de sua generosidade sabiamente.

 — Obrigado  — disse o barão e se dirigiu até ela tossindo um pouco.  — Daphne, só espero que quando você entender a situação, você pode chegar asentir certo afeto por mim.

Fez uma reverencia e se foi.Logo quando Mary tinha fechado a porta, Elizabeth e Anne entraram

correndo para o salão. — O que aconteceu? —  perguntaram as duas de uma vez só. — O barão é avô de Daphne — informou-lhes seu pai.As duas gritaram surpresas e se viraram para olhar para Daphne.

 — Por que não nos disse? Por que você estava trabalhando para o duque seé neta de um barão?

 — O barão não tinha me reconhecido  — respondeu Daphne com amarguraao recordar o quão assustada que tinha ficado em Tánger. Agora sim.

 — Durand permite que fique com a gente  — comunicou sir Edward a suas

filhas, — e lhe ofereceu uma quantia que estou convencido de que vocês vão lheensinarem como gastar o mais rápido possível.

Page 171: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 171/201

 

 — Oh, sim, acredito que sim  — disse Elizabeth rindo.  — Vestidos novos,chapéus e tudo o que possa necessitar uma mulher que esta sendo cortejada porum duque. Primeiro um duque veio nos visitar, depois um barão. Acho quequando acabar a semana já nos haverá visitado um conde também.

Daphne estremeceu. — O barão só está sendo generoso porque acha que vou me casar com oduque. Agora que meu futuro já está assegurado, acho que é um bom dia paracomeçar a gastar esse dinheiro. Pode me acompanhar Anne e Elizabeth?  — 

 perguntou-lhe a lady Fitzhugh. — Claro que sim, querida — respondeu a mulher. — Aonde você vai? — A DeCharteres, tenho que mandar minha resposta ao duque.Anne e Elizabeth estavam entusiasmadas de ir com ela a floricultura para

ver que flores escolhia como resposta. Mas lady Fitzhugh só levantou assobrancelhas diante a noticia.

 — Respondê-lo é muito carinhoso de sua parte, querida. — Quando ele vê Elinor, duvido que esteja de acordo com a senhora.

Page 172: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 172/201

 

Capítulo 23

A mansão que Anthony tinha em Londres estava localizada em GrosvenorSquare e era mais uma amostra de sua opulência, ele passava muito tempo nessacasa e refletia a perfeição sua personalidade, muito mais que suas outras

 propriedades. As chaminés eram de um pálido mármore e os tapetes macioseram de cores sutis com desenhos simples. Tinha gente que a descrevia comosóbria demais, sem graça e mais intimidante que impactante. Para Anthony issotudo era um elogio.

Um daqueles tapetes macios estava sendo muito castigado desde que tinhaido visitar Daphne em Russell Square três dias antes. Não deixava de andar decima a baixo diante da chaminé de seu estúdio. Cada hora que passava estavamais impaciente.

Quando visitou a casa dos Fitzhugh não tinha nenhuma dúvida de queDaphne lhe responderia. Um jogo em que ele tinha que utilizar a linguagem dasflores, uma linguagem que ela tinha demonstrado muito interesse. Por forçatinha que estar intrigada, mas ainda não tinha recebido nenhuma resposta a seudesafio. Ela gostava de jogar tanto quanto ele.

O primeiro dia depois de sua visita a Russell Square tinha continuado comsua rotina, acreditando de que quando chegasse a casa encontraria ali suaresposta, mas não recebeu nada.

Ao final do segundo dia, ainda não tinha nenhuma resposta e começou a se preocupar que ela não respondesse a seu desafio.

Às nove da noite do terceiro dia, sua confiança e sua preocupação foramsubstituídas por um profundo e escuro sentimento de incerteza. Essa era umaemoção nova para e ele não gostava especialmente.

Agora, andava na frente do fogo, desejando com todas as suas forças que

ela não tivesse respondido não significava que não tinha intenção de responder ecomeçou a pensar em uma nova tática. Tinha que encontrar um modo deconvencê-la de que se casasse com ele era a única opção possível. Ele tinhaachado que com o jogo das flores, com sua declaração previa de que iria aganhar, seria suficiente para conseguir que ela respondesse, mas se não, tinhaque encontrar outro modo. De nenhuma maneira iria desistir.

A porta do estúdio se abriu e Anthony se deteve quando entrou Quimby,seu mordomo de Londres.

 — Dylan Moore está aqui, senhoria — lhe informou Quimby.

O mordomo se afastou da porta para deixar espaço para o compositor.Dylan era umas das poucas pessoas que não tinham que pedir visitar previa para

Page 173: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 173/201

 

visitar o duque. Ele sempre era bem recebido. — Tremore, eu venho te suplicar que venha comigo  — disse sem

 preliminares. — Já não posso suportar a nenhuma outra diva petulante a mais. — Problemas com sua nova ópera?  —  perguntou Anthony, mas com a

cabeça em outro lugar. Não podia deixar de pensar em tudo o que tinha ditonaquela abominável noite falando com Viola. Tinha que encontrar um modo deconvencer Daphne de que já não havia desse modo. Agora via a aquela mulherdebaixo da chuva. Via seu belo rosto que sempre tentava esconder seussentimentos, até que um dia explodia entre riso ou raiva e essa raiva só se dirigiaa ele. A via com aquele horrível avental olhando o afresco erótico e depoisolhando-o com aquela mistura de sedução e inocência.

 —  Não, não tenho problemas com a ópera, querido amigo, tenho problemascom a diva  — corrigiu-lhe Dylan.  — Elena Triandos é uma excelente soprano,mas é grega e as divas gregas são especialmente insuportáveis. Quando melembro de que fui eu quem insistiu em lhe dar o papel principal, me… 

A voz de Dylan se perdeu na distancia enquanto Anthony girava sobre seuscalcanhares e voltava a andar sobre o tapete, mordendo a unha e pensando.

Daphne necessitava que a cortejasse e parecia que as flores não tinham sidosuficiente. Ela nunca tinha tido oportunidade de aproveitar dos prazeres da vidae Deus sabia que ela necessitava. O modo que seu pai a tinha arrastado por todoo mundo sem por nunca ao seu alcance as comodidades da civilização lhechateava profundamente. Daphne merecia algo mais além que os sabonetes

 perfumados, os bombons e o vestido rosa que tinha comprado. Merecia todos os

luxos que a vida era capaz de oferecer e ele podia dar a ela. Ele jurou se tivessea oportunidade, a encheria de todo tipo de presentes. A única coisa que

 precisava era uma resposta.«E se ela me mandasse uma indiferente nota em que educadamente me

dissesse que me rechaça? Isso seria muito pior do que se ela não me mandassenada.»

Sentia como a dúvida o estava roendo com cada minuto que passava semter noticias dela. Que aconteceria se nada do que ele pudesse fazer fosse osuficiente? Negou com a cabeça. Não, isso ela não podia aceitar. Não podia

acreditar. A única coisa que tinha que fazer era encontrar a resposta adequada,as palavras certas que dizer-lhe. Não, não iria se render.

 — O que é que o deixou tão alterado que não pode parar de andar com tantaânsia? —  perguntou Dylan olhando-lhe. — Algum problema político na Câmara?Algum problema no museu? Se é isso, deve ser muito grave, nunca tinha te vistotão preocupado.

Anthony olhou distraído para seu amigo, mas não respondeu. O que tinhaque fazer era conseguir ficar a sós com ela. Isso poderia fazê-la mudar deopinião. Quando visitou Durand, contou-lhe quais eram suas intenções. Estava

certo de que Daphne não tinha gostado disso, mas ele tinha sido obrigado a fazerisso. Sabia que se a sociedade não há visse como um deles não a aceitaria e ela

Page 174: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 174/201

 

seria a vítima perfeita daquelas línguas de víbora. Por mais discretos que fossemos Fitzhugh, não se poderia manter em segredo que a estava cortejando.Anthony tremia só de pensar que pudessem dizer que ela era uma oportunistaque a única coisa que queria era capturar um duque. Já que dentro de pouco

tempo todo mundo acreditaria que estariam comprometidos, talvez pudesse ficara sós com ela. Pudesse beijá-la, tocá-la, dizer-lhe o quanto era bonita por dentroe por fora.

 — Maldita seja, Tremore! Se der mais um passo sem me dizer o que estaacontecendo eu te juro que te dou uma surra.

Anthony não teve oportunidade de responder, porque nesse momentoStephens, um de seus empregados, apareceu na porta com uma caixa de madeiranas mãos.

 — É de DeCharteres, senhoria  — informou ao lacaio.  — O senhor Quimbyme disse que o senhor tinha estado perguntando se tinha chegado algo e chegoulogo em seguida.

O alivio se apoderou de todo o corpo de Anthony. De repente sentiu tantatranqüilidade que teve que fechar os olhos e tomar ar. «Já era hora.»

Abriu os olhos e indiciou ao lacaio que entrasse na habitação e deixasse acaixa encima de seu escritório. Quando saiu, Anthony se aproximou da mesa e aobservou. Não se importava o que ela tivesse mandado, o fato de que ela tivessemandado algo já lhe dava esperanças

 — DeCharteres?  — Dylan se aproximou do escritório, intrigado, mas sementender nada ainda.  — A melhor floricultura de Londres manda agora ovos à

nobreza? Ou talvez entre tanta palha escondida há uma delicada flor para suafamosa estufa?

Anthony estava muito ocupado tirando cachos de palha para responder-lhe.Queria ver o que ela tinha lhe mandado. Finalmente descobriu um pote envoltoem papel. Quando o retirou, viu que tinha um aspecto lamentável. Suas folhasestavam secas e destruídas pela terra seca. Se deu conta de que o pote simplescontinha algo estava totalmente congelado e Anthony começou a rir.

Seu amigo olhou a patética planta e levantou uma sobrancelha. — Que demônios é isto?

 — Um presente de uma jovem dama — respondeu ele entre risos.Uma planta gelada. Não tinha nenhuma nota, mas não fazia falta. Bem

 próprio de Daphne pensar em algo engenhoso e que lhe fizesse jus. — Está morta.  —   Dylan apontou o que era obvio olhando o aspecto que

mostravam as folhas negras.  —   E além do mais está congelada.  — Olhousurpreso a Anthony. — Isto é um presente de uma dama e você acha divertido?

 — Sim, muito  — respondeu Anthony sorrindo enquanto se aproximavadaquela planta tão feia perto da chaminé. Colocou-a no centro da mesa. — Mas oque é mais importante: é um fato incentivador.  —  Olhou por cima do ombro de

seu amigo e continuou: — Já que você esta vestido para a ocasião e me suplicouque te distraia de suas excêntricas divas, pode me acompanhar.

Page 175: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 175/201

 

 — Claro, mas aonde vamos? — A Haydon Rooms.Agora foi a vez de Dylan rir.

 — Está brincando. As Haydon Rooms são muito mundanas para ti, não

acha? Estará repleto de moças decentes procurando possíveis prometidos. Quehomem razoavelmente inteligente quer conhecer uma moça que pensa emcasamento?

Anthony se virou para olhar o amigo. — Vamos ver minha duquesa. — Lady Sarah não poria nunca um de seus delicados pés em um lugar como

esse. Antes ela morre. E tampouco acho que ela tenha sido capaz de me mandaruma planta morta. —  Se interrompeu e estudou seu amigo durante um momento.

 — Você mudou de ideia. E escolheu outra. Me diga que sim, eu te rogo. — Sim, sim é isso. — Eu estou ouvindo como os anjos cantam, Tremore. Você não esta

 brincando, não? De qualquer modo, estou tão aliviado que não me importa.Então, quem é sua nova escolhida? Que tipo de futura duquesa vai a um bailenas Haydon Rooms e te manda uma planta morta? Não será uma moça docampo?

 — Mais ou menos, mas seria mais preciso dizer que é uma moça do mundo. — Fiquei intrigado. — Eu sei  — respondeu Anthony caminhando até a porta com seu amigo

 pisando nos calcanhares. — Estava convencido de que assim seria.

Daphne pensava que a primeira vez que ia em um baile em Londres passaria o tempo sentada olhando como as pessoas dançavam, mas surpreendeu-se ao ver que se equivocava e que lhe solicitavam danças em varias ocasiões.

 Nenhum de seus parceiros podia se comparar com o homem que tinha lheensinado a dançar, mas ela não podia evitar pensar.

 — Quanto tempo vai ficar em Londres, senhorita Wade?  —  perguntou-lhesir William Laverton enquanto participavam em uma quadrilha.  — Já visitou

algum museu? — Sim, claro — respondeu ela tentando se concentrar em seu par e na porta

do Haydon Rooms. Uma planta gelada simbolizava a recusa de alguns avanços,mas não sabia se Anthony iria aceitar sua resposta. Temia que aparecesse por aliem qualquer momento.

 — Sendo filha de quem é, tenho certeza que encontrará museus fascinantesem Londres.  —   Sir William continuava falando e ela voltou a tentar seconcentrar no que dizia e tratando de não bocejar. Seu par era bastanteagradável, mas não há motivava. Era o tipo de homem que não lhe partiria o

coração somente em olhá-la e que era incapaz de chegar a sua alma só em tocá-la. Deveria se alegrar disso.

Page 176: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 176/201

 

A música parou de repente e todo mundo parou de dançar. Seu parceirotinha o olhar fixo em algum ponto em cima de seu ombro e Daphne se virou.Apesar de não usar seus óculos, não precisou para saber quem acabava de entrar.

Todos os sopros foram se silenciando e o são ficou em completo silencio.

Inclusive aqueles que não o conheciam podiam distinguir que se tratava de ummembro da nobreza. As pessoas começaram a se inclinar e a fazer reverenciasdiante dele como salgueiros balançando ao vento.

Ainda não podia vê-lo bem, Daphne, notava que ele a estava olhando.Distinguia o bastante como para perceber de que tinha começado a caminhar atéela, mas tinha parado de repente.

Outro homem seguia a Anthony e parou ao seu lado. Um homem vestidotodo de negro com a exceção da camisa branca. Tinha tal silencio que todomundo podia ouvir o que dizia.

 — Serio, Tremore  — se queixou.  —  basta você chegar para acabar com adiversão. —  Com um gesto de aborrecimento continuou. — Estão todos parados.Vamos, faz os que fazem os duques e lhe diz que podem continuar. Se não fazerisso, não vamos poder dançar com nenhuma das damas aqui presentes.

 — Isso seria uma pena  — respondeu Anthony e ela notou como elecontinuava olhando-a. — Me viciei muito em dançar ultimamente.

Ele deixou de olhá-la um instante para saudar as pessoas ali reunidas. — Podem continuar.A música voltou a tocar e seu acompanhante continuou dançando com ela.

 — O duque de Tremore  — disse sir William em um de seus encontros.  — 

 Nossa pequena reunião não pode ter nenhum interesse para ele. Me pergunto oque faz aqui.

 —  Não posso nem imaginar — mentiu ela quando voltaram a se separar.Daphne continuou dançando com sir William e se manteve todo o tempo

concentrada nos passos, mas quando a música finalizou, viu que Anthony e seuamigo estavam com os Fitzhugh. Não podia escapar dele.

 — Senhorita Wade  — disse ele ao saudá-la,  — é um prazer voltar a vê-la.Me permita que lhe apresente a este cavalheiro.  —   Apontou ao homem queestava ao seu lado.  — Esse é Dylan Moore, meu mais querido e velho amigo.

Moore, ela é a senhorita Wade. Talvez tenha ouvido falar de Dylan, senhoritaWade, é um dos melhores compositores da Inglaterra.

 — Você exagera meu talento, Tremore.  — O homem de negro lhe fez umareverencia. — Tenho entendido que é uma grande viajante e que esteve em ummontão de lugares exóticos, senhorita Wade. Sir Anthony me contou suasaventuras no deserto com seu famoso pai. Realmente montou num camelo?

 — Muitas vezes  — respondeu ela evitando olhar Anthony.  — Mas não hánada exótico nisso. Um dia a camelo e um é dolorosamente consciente de todosos músculos que tem no corpo. É tão pouco romântico como que te arrancassem

um dente.Todo mundo riu, inclusive Anthony, mas quando os músicos voltaram a

Page 177: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 177/201

 

tocar, sua expressão ficou seria. — Eu gostaria de saber mais sobre camelos, senhorita Wade. Se não tem

outro compromisso, me concederia a honra de dançar comigo? — disse Anthony. — Eu não acho… — se interrompeu, consciente de que todo mundo a estava

observando e percebeu que não podia dizer que não. Se lhe rechaçasse oofenderia publicamente diante de todas as pessoas. — Claro, senhor — murmurou ela enquanto ele lhe oferecia o braço. — Será

uma honra.Daphne foi pega por ele e lhe permitiu guiá-la até a pista de dança. Sentia

como todo mundo os observava enquanto Anthony lhe colocava a mão em suacintura e levantava a outra. Estava certa de que tropeçaria, assim que olhava

 para o solo. — Me olhe, Daphne. Não para o assoalho.Ela optou por um ponto no meio. Fixou a vista em sua gravata e tentou não

 pensar que todo mundo os estavam observando. Mas seu medo a fazer o ridículodesapareceu quando começaram a tocar as primeiras notas da valsa, pois seucorpo se recordava de todas as vezes que tinham dançado juntos e o seguiu comfacilidade.

 — Me alegra ter finalmente a oportunidade de te ver com o vestido rosa — disse ele quando começaram a dançar.  — Me lembro de quanto você estavacontente no dia que o comprou.

Surpreendida, Daphne o olhou diretamente nos olhos. — Você se lembra disso?

 — Claro.  —   Tinha algo em seus olhos, algo intenso e apaixonado.  — Melembro de tudo.

Ela podia sentir como tremia por dentro. Tinha medo. Tinha medo de sersua paixão de hoje, mas não a de amanhã, medo do muito que lhe doeria sevoltasse a confiar nele e se enganasse.

 — Você esta linda — disse ele, — o rosa fica muito bem em ti. —  Não faça isso  — lhe ordenou com a voz controlada.  —  Não me elogie,

 por favor. — Muito bem. Mudarei de assunto e lhe direi o muito que gostei do teu

 presente. Eu o recebi agora a pouco e devo confessar que nunca em minha vidatinha me sentido tão aliviado ao receber algo.

Ele nem sequer piscou quando ela o olhou cética, nem quando suspiroucomo se não tivesse lhe acreditado.

 — Estou dizendo a verdade, tem sido muito cruel receber a plantacongelada durante três dias. Estava começando a perder a esperança de receberalguma resposta.

 —  Não era minha intenção lhe causar tal inquietude  — comentou ela.  — Essa coisa tinha que estar três dias no gelo para que estivesse totalmente morta.

Ele soltou uma gargalha e ela viu como um montão de gente se virava paraolhá-los.

Page 178: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 178/201

 

 — Shhh — lhe repreendeu. — As pessoas estão nos olhando. — Eu sei  — disse ele sorrindo.  — As palavras não podem expressar o feliz

que fiquei em receber essa planta morta e congelada. É um sinal do muito que teimporto.

 — Feliz?  — lhe atacou ela.  — Me sinto decepcionada. Esperava que seussentimentos tomassem outra direção, mas para tragédia do que para alegria. —  Nem muito menos. Talvez quando amanhã você receber minha resposta

saberá que vivo dependente de conseguir sua atenção e seus favores. — Oh, pare agora, Anthony! Não gosto quando você se comporta assim. — Assim, como? — Todos esses elogios e esse desenvolvimento de sentimentos. Cheira a

falsidade e isso não é próprio de você. — Já te disse que quando dou minha opinião sou sempre honesto. Eu não

teria dito se não fosse verdade. Mas não culpo você por não acreditar em meuselogios — continuou antes que ela pudesse responder.  — Depois de tudo, eu nãotinha sido muito pretendente, falando de obrigações, de honra e de dever quandodeveria ter falado da paixão, do romance ou do quanto são bonitos seus olhos.

 — Cale-se! Você esta me deixando irritada. — Você, Daphne? A mulher que me atirou uma espátula na cabeça? Não

 posso acreditar. —  Não atirei em você de propósito  — recordou-lhe.  — Se você não tivesse

feito, teria dado. —  Não tenho nenhuma dúvida.

Ela voltou a abaixar a vista até sua gravata, apertou os lábios e não dissemais nada.

 — Por que você aborrecida comigo, Daphne?Ela não estava aborrecida. Só tentava se endurecer em frente a ele, mas a

doçura de sua voz a estava deixando nervosa. O olhou nos olhos, afastou a vistae voltou a olhá-lo.

 — Você foi ver o barão e disse-lhe que íamos nos casar. Como você podedizer tal cosa se te rechacei claramente?

 — Sim, fui ver a Durand. E não, não lhe disse que íamos nos casar. Como

ele é teu parente mais próximo, disse-lhe que tinha intenção de me casar contigoe eu pedi permissão para te cortejar honrosamente. Isso é tudo.

 — Eu sabia desde o início que ele aceitaria encantado tua solicitude. — Sim, claro — admitiu ele tratando de não sorrir. — Mas já te confessei faz

tempo como me aborreço quando me dizem não. Esperava que em algummomento você decidisse passar por alto meus defeitos e que aceitasse se casarcomigo.

 — Eu não quero me casar com você, já te disse isso. Por que você não podeaceitar?

 — Porque não posso deixar de pensar em você. Em nossas danças, emnossas conversas, na primeira vez que te ouvir rir. Não posso deixar de pensar

Page 179: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 179/201

 

em nós dois, naquela noite em antika —  disse ele com uma voz entrecortada quelhe chegou ao coração. — Me lembro de como tua pele estava fria a principio, decomo sentia que aquecia medida que te acariciava. Me lembro do quanto vocêestava linda quando estava com a luz da lua refletindo em ti enquanto eu

acariciava seus seios. — Por favor. —  Estava se ruborizando diante de todas aquelas pessoas. — Me lembro de como você repetia meu nome uma e outra vez enquanto te

tocava e de quanto eu gostava de ouvir você pronunciar, me lembro de como preencheu todos os meus sentidos até que eu já não podia nem pensar.

Ela engoliu um soluço de dor e de fúria. — Você é cruel, Anthony  — sussurrou-lhe chateada.  — É cruel me dizer

todas essas coisas quando ambos sabemos que a única coisa que te importa é atua determinação.

 — Ambos fizemos algo que odiamos fazer, Daphne. Ambos perdemos ocontrole. Eu aceitei toda a responsabilidade porque eu sabia o que estavafazendo e não fui capaz de me deter. E você diz que eu sou cruel? Você nemsequer me permite reparar o dano que lhe fiz. Se estou decidido é só porquequero cuidar de você. É você que esta sendo cruel, Daphne, ao me negar isso.

A dança acabou e a música parou. Enquanto a acompanhava junto aosFitzhugh, ele desafiou todos os olhares e lhe sussurrou diretamente ao ouvido.

 — Me lembro de tudo e não acredito que você tenha esquecido. E se vocêesqueceu, farei com que você se lembre. Juro por minha vida que eu farei.

Page 180: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 180/201

 

Capítulo 24

Apesar de suas afirmações, Daphne não tinha esquecido a noite que passaram juntos, nem ele e não podia acreditar que ele pensasse nisso. Essesmomentos estavam gravados para sempre em sua mente. As lembranças decomo a tinha beijado, de como eles tinham feito amor, a gloriosa sensação desuas mãos, de sua boca. O ato em si mesmo, o prazer e o desejo que sentiu, selembrava toda hora. Ela nunca poderia esquecer. Além do mais, nas duassemanas que se seguiram ao baile das Haydon Rooms ele não permitiu queesquecesse.

 No dia seguinte da dança deles juntos, ele lhe mandou doze ramos variadosde tulipas e alecrim para dizer-lhe que admirava seus belos olhos e que selembrava da primeira vez que lhe disse isso. Cada ramo vinha em um bonitovaso de cristal com um laço que tinha pendurado uma pequena forquilha de ouro

 para o cabelo. Daphne tocou um desses belos adornos recordando exatamente oque ele queria que se lembrasse; o dia do penteado.

«O cabelo de uma mulher pode se transformar em uma obsessão para umhomem.»

Ele estaria imaginando como ficariam seus cabelos sobre seu travesseiro?Essa noite tinha sido quando ele lhe confessou que tinha medo do amor e

que temia se apaixonar.O presente era tão exagerado e tão caro que o apropriado seria devolver

tudo: flores, vasos e forquilhas de cabelo. No final, ficou com as flores edevolveu o resto, com uma nota em que lhe recordava que não podia aceitar

 presentes e muito menos tão caros, porque se aceitasse todo mundo pensaria queestavam comprometidos e não era assim.

Alguns dias mais tarde, doze ramos de dicanias proclamavam a paixão que

sentia por ela e lhe recordava seu picnic, em que ela lhe descreveu as colinas deCreta. Mas desta vez, só estavam atados com uns laços de seda, não tinha nemvasos nem forquilhas para o cabelo.

 No fim de alguns dias, chegaram mais doze ramos. Estes de flores demelocotão.

«Me tens cativo», leu Elizabeth no livro que segurava entre as mãos e seaproximou do ramo que Daphne tinha em sua habitação para poder cheirá-lasmelhor.

 — Também significam «estou a sua disposição».  —   Com um suspiro, se

afastou do ramo e se jogou na cama de Daphne.  — Eu me apaixonaria por umhomem que me dissesse essas coisas.

Page 181: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 181/201

 

 — Está dizendo bobagens  — respondeu Daphne enquanto escorria oscabelos molhados e fazia que a água caísse nas flores que tinha sobre sua mesa.

 — «Estou a sua disposição»  — repetiu e cobriu os cabelos com uma toalha.  —  Como se Anthony pudesse pensar em algo tão ridículo.

Se virou e ao ver o novo ramo de flores se lembrou da noite em quenegociaram sobre os óculos. Cobriu a boca com as mãos.«Não se dar conta do poder que tem sobre mim.»Ao recordar essa noite, invadiu nela de novo o desejo, aquela cálida

sensação que se apoderava de todo seu corpo quando ele a acariciava. — Mas isso não abranda teu coração? Nem sequer um pouquinho?  — 

 perguntou Elizabeth.Daphne negou com a cabeça e observou preocupada sua amiga.

 — Ele não fala serio. — Você não acha que ele seja sincero? — Eu não sei! — respondeu exasperada. —  Não quero mais falar do tema.Elizabeth não voltou a mencionar o assunto e o resto da família Fitzhugh

guardou também um respeitoso silencio, mas quando chegaram doze limoeirosindicando a inconfundível intenção que tinha o duque de se casar com ela, sirEdward perguntou divertido se aquelas demonstrações de afeto continuariamassim até o Natal. Porque se essa era a intenção do duque, já temia que fossemreceber doze pinheiros.

Além das flores que Daphne recebia, chegavam cada dia na mansão cadadia centena de cartas e convites. Tanta gente vinha visitar a Russell Square que o

 pequeno salão frequentemente não podia acomodar a todos. As visitas falavamdelicadamente sobre bodas ou compromissos, mas ninguém era nunca tãoatrevido como para perguntar diretamente pelos rumores que circulavam sobreela. Não tinha sido anunciado nenhum compromisso, mas todo mundointerpretava o silencio de Daphne como um sinal de que queria ser discreta eninguém acreditava que pudesse ser verdade que ela tinha rechaçado o duque.

O barão os visitava frequentemente durante a semana, às vezes ficavaconversando e outras vezes a convidava a dar um passeio para assim poderem seconhecer melhor. Daphne não sabia se ele fazia isso porque realmente sentia

certo carinho por ela ou se a única coisa que queria era parecer um avô atento.Em qualquer caso, Durand estava convencido de que apesar de suas negativas,Daphne seria em breve a esposa de um duque.

Essa convicção se via reforçada pelas páginas da sociedade nos jornais deLondres, já que todos davam por certo que ela aceitaria a proposta de Anthony.O decoro lhe impedia desmentir-los publicamente, assim que a única opção queficava era esperar que se cansassem de falar disso.

Em qualquer caso, durante a segunda semana de seu pouco usual cortejo, asespeculações não apenas não cessaram, mas sim que aumentaram

consideravelmente. Todo mundo soube dos doze limoeiros e de que Anthonyestava usando o livro de Charlotte de la Tour como guia. No fim de alguns dias,

Page 182: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 182/201

 

todas as livrarias de Londres se encheram de exemplares e muita gente ia passear por Russell Square com a esperança de ver chegar à casa de sir EdwardFitzhugh o novo ramo de flores que o duque mandava à senhorita Wade.

Havia um grande fórum de discussão sobre as origens de Daphne, que eram

muito inferiores as do duque. Também se falou da fuga de seus pais e datentativa do barão de ocultar dizendo que sua filha tinha ido estudar na Itália.Uma ou duas pessoas se atreviam a insinuar que seus pais não tinham se casado,mas esses rumores se calaram em seguida.

Começaram a circular as mais incríveis historias sobre sua vida na África ede como tinha chegado a trabalhar para o duque, restaurando antiguidades efazendo os desenhos para seu museu.

Se comentava sobre sua beleza muito comum, sua falta de dote e sua faltade influencias. Tudo com a intenção de apontar o quão inadequada que era comoduquesa e sugerindo que talvez Tremore não estivesse acertando em sua escolha.

Daphne fazia todo o possível para ignorar as coisas horríveis que diziamsobre ela, mas não suportava que a observassem constantemente. Não podia ir anenhum lugar sem ser observada analisada. Começava a entender o que Anthonylhe tinha dito a respeito o quão pesada que podia ser sua vida.

Mas ele continuava colocando lenha na fogueira. O dia da partida de cartasna casa de dos Fitzhugh outro presente floral chegou a Russell Square.

 — É impossível!  —   disse Daphne olhando como dois homens entravamcom um enorme ramalhete de flores com todas as cores do arco-íris.

Lady Fitzhugh teve que limpar um canto inteiro da habitação para dar

espaço para o enorme ramo que no mínimo, media um metro de largura por ummetro e meio de altura e não cabia no pequeno vestíbulo. Quando tinhamacabado de instalá-lo, os dois homens que tinham feito a entrega se foram.Elizabeth e Anne examinaram entusiasmadas as flores e Daphne olhouexasperada para lady Fitzhugh.

 — Que vou fazer? —  perguntou desesperada. — Ele não aceita um não comoresposta.

 — Você vai rejeitar ele? — se surpreendeu Anne. — Oh, Daphne, como você pode ser tão ser tão insensível?

A acusação lhe doeu e Elizabeth deve ter percebido, porque saiu em suadefensa.

 — Se você não o ama não tem por que se casar com ele. — Você não o ama? —  perguntou Anne incrédula. — Por que não? — Anne, já é suficiente  — disse lady Fitzhugh.  — Os sentimentos de

Daphne não são de nosso assunto. Agora, meninas, acho que é hora de irmos acasa de lady Atherton. São quase três horas. Deixemos Daphne em paz um

 pouquinho, Deus conhece o que lhe convém.Ela olhou agradecida para lady Fitzhugh enquanto a mulher tirava suas

filhas da sala, deixando Daphne sozinha com seu novo ramo. O observoudurante muito tempo.

Page 183: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 183/201

 

Apesar das dezenas de flores e plantas que tinha em sua frente falavam de paixão, de honra, de desejo que tinha de protegê-la, de cuidar dela, Daphne não pode evitar perceber de que não tinha nenhuma flor em todo esse enorme ramoque fosse uma declaração de amor.

 Não importava muito. O próprio Anthony tinha dito que o que sentia porela era uma loucura temporal e ainda que tivesse ter havido uma rosa ou umramalhete de nomeolvides escondido em algum lugar daquele exagerado ramo,não se convenceria de que ele sentisse por ela algo permanente e duradouro. Nãohavia nenhuma flor, nenhum presente que pudesse convencer seu coração.

Anthony sabia desde o principio que não havia maneira de cortejar Daphnesem alimentar fofocas. Mas não estava preparado para a raiva que sentia cadavez que lia algo sobre ela nos jornais. Depois de seu baile em Haydon Roomsnão tinha voltado a visitá-la em Russell Square com a esperança de cessar assimos falatórios.

Como não podia ir lá, passava muito tempo no clube. Uma noite, no fim deuma semana do famoso baile, foi a Brook's e se encontrou lá com Dylan, que játinha bebido mais da metade garrafa de licor.

Anthony aceitou o convite de Dylan de acompanhá-lo e se sentou. Serecostou em sua cadeira e observou a fisionomia cansada e os olhosavermelhados de seu amigo.

 — Sempre que te vejo assim me alegro de não ter teu temperamento

artístico —  comentou. — Aparentemente eu tampouco tenho.  — disse Dylan preocupado.  —  Não

sou capaz de escrever mais de duas notas seguidas, de modo que eu decidisucumbir aos excessos do álcool.  —   Apontou a garrafa.  — Você quer meacompanhar? Pelo que eu ouvi, você também precisa de um trago.

Anthony não admitiu nada. Em vez disso, se limitou a pedir um copo equando lhe trouxeram, se serviu ignorando o olhar zombeteiro de seu amigo.

 — Eu ouvi que os floristas de Londres estão muito ocupados.Anthony bebeu em silencio.

 — Talvez deveria começar a mandar flores para damas. Isso seria algo novo para mim. Com que flor você pergunta a uma mulher para dormir contigo?

Anthony riu suavemente. — Você dormiu com tantas que não sei se você é capaz de se lembrar de

todas. —  Não é verdade  — corrigiu Dylan.  — Eu ainda não dormi com a sua,

apesar do quanto eu gostaria.Anthony ficou tenso e apertou o copo entre suas mãos, mas não disse nada.Dylan se recostou na cadeira e levantou as sobrancelhas procurando o

confronto. — As notas da sociedade não deixam de dizer que ela não é bonita, sabia?

Page 184: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 184/201

 

Dizem que ela tem a pele muito queimada pelo sol para os padrões, que suas bochechas são redondas demais e que seus cabelos são de um de castanho muitocomum. Acredito que para ti é cor de mel.

Anthony não estava de bom humor para aguentar as zombarias de Dylan.

 — Está tentando me provocar? — Confesso que sim. Pelo menos uma vez, eu gostaria de te ver sem essamáscara de controle ducal. Você sabia que em todos os anos que fazem que eu teconheço nunca te vi perder o controle? Nem uma só vez. Mas vamos deixar delado o teu caráter por hoje e nos concentramos nos encantos da senhorita Wade.

 —  Bebeu mais um pouco. — Dizem que ela não enxerga bem e que tem que usaróculos quase o tempo todo. Todas as mulheres de Londres se perguntam comoalguém tão insignificante pode ter conquistado teu coração, mas eu acho que hámuitos homens que estarão de acordo comigo nisto… Olha, aqui está o quequero te ensinar.

Anthony pegou a copia do The Times que tinha encima da mesa e voltou adobrá-lo pelas páginas de política.

 — Ela tem uma figura sensual  — continuou Dylan apesar do gesto deAnthony.  — Percebi de imediato, eu sempre presto atenção nas coisas maisimportantes. Olhe, os jornais talvez tinham razão em dizer que seu rosto écomum, mas é bastante bonito se você o olha em conjunto. É um rosto que nãorevela seus sentimentos facilmente, não acha? Eu estive observando enquantovocê dançava com ela e qualquer um diria que ela não se interessa nem um

 pouco por ti. E seus olhos. Deus, que cor tão linda… 

Anthony bateu na mesa com o jornal. —  Não me pressiones mais, Moore, esta noite não estou com humor para

aguentar teus comentários satíricos. — O que é satírico é ver você se agonizando de mal de amor. A verdade é

que observar este romance a distancia pode ser bastante divertido. Limoeiros,Tremore? Ninguém havia te considerado antes um idiota. A senhorita Wade

 parece não corresponder aos teus sentimentos. Como você se sente? Frustrado?Ferido? Descontente com os deuses por terem ficado contra a você?

Anthony começava a tremer o músculo do queixo.

 — Vai para o inferno. — Já estou lá, meu amigo. —  Dylan voltou a encher o corpo e levantou. — 

Pelo inferno — disse e bebeu todo o licor. — Agora já estamos nós dois nele.Se levantou da cadeira e se dispôs a ir embora, mas antes de ir se inclinou

sobre Anthony, apoiando as mãos na mesa. — Acho que vou compor uma peça em homenagem a senhorita Wade  — 

declarou em voz baixa. — «Daphne, dos olhos violeta» ou algo do estilo. Quemsabe? O melhor seria uma sonata que teria êxito já que as flores temfracassado… 

Uma ira como nunca tinha sentido antes se apoderou de Anthony, e o queviu logo em seguida foi seu melhor amigo caído no assoalho com os lábios

Page 185: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 185/201

 

 partidos. Sentiu uma dor pulsante em seu punho e notou que vários membros doclube o estavam segurando.

Dylan esfregou seus lábios com a mão. Olhou seus dedos ensanguentados esorrindo, enfrentou Anthony.

 — Você vê, meu amigo? — murmurou. — A loucura afeta a todos. Inclusivea ti.

Page 186: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 186/201

 

Capítulo 25

Tal como tinha prometido a lady Fitzhugh, Anthony aceitou seu convite para o jogo de cartas, já sabia de antemão que isso serviria para alimentar aindamais rumores.

Queria ver Daphne. Desejava que o fato de se comportar corretamente nãoestivesse em contradição com poder vê-la secretamente, mas vê-la entre umgrupo de pessoas era melhor que não vê-la. Ainda assim, ao chegar à casa deRussell Square, obteve o que tinha desejado encarecidamente: uma oportunidade

 para estar a sós com ela.A usual excitação que se produzia com a chegada de um duque prosseguiu

com as pertinentes apresentações do resto dos convidados e acabou com umincômodo silencio. Lady Fitzhugh tossiu e se dirigiu a seu marido, sugeriu:

 — Talvez devêssemos começar? — Sim, sim, grande ideia, Elinor — disse sir Edward imediatamente. — Que

comece o jogo. Ainda lamento que dois de nós teremos que nos contentar em jogar ao piquet , em vez de ao whist . O senhor Jennings pegou um resfriado e suamulher não nos avisou até a última hora que não poderiam assistir, assim que

faltam duas pessoas para o whist .Daphne se dirigiu a Anthony e enquanto apontou para um corredor que

tinha um cômodo ligado, sugeriu: — Talvez sua senhoria preferisse jogar xadrez em vez de jogar cartas?O silencio que prosseguiu foi mais que incômodo, importuno. Por algum

motivo, Daphne queria uma entrevista privada com ele e ainda duvidava que osmotivos dela fossem os mesmos que os seus, Anthony aproveitou rapidamente aocasião.

 — Eu gosto muito de xadrez, senhorita Wade  — disse ele.  — Seria uma

honra para mim. — Excelente  — respondeu Daphne e se dirigiu ao cômodo anexo, onde setinha afastado o tabuleiro de xadrez para dar lugar para o jogo de cartas.

Ele saudou aos outros convidados e a seguiu. Quando ela se sentou elecolocou a cadeira dele em frente a dela.

 — Senhoria — disse abertamente, — o senhor tem que parar. — E parou aover-lhe o sorriso em seu rosto.  — Por Deus! Por que o senhor me olha dessamaneira?

 — Porque amanhã todo mundo em Londres saberá que estamos

comprometidos. —  Observou o tabuleiro e continuou. — As mulheres começam. — Do que esta falando? Não estamos comprometidos!  —   Ela franziu o

Page 187: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 187/201

 

cenho enquanto movia um peão do tabuleiro totalmente absorta.  — Eu não meimporto nem um pouco com o que pensem da gente.

 — Diante de todos os presentes na sala, me convidou para ficar a sóscomigo  — observou enquanto mexia seu peão.  — A conclusão evidente é que

estamos comprometidos. Se tivesse sabido que iria ser tão simples, eu deveriater ido antes para que não me convidasse para jogar xadrez.Daphne olhou impacientemente para o corredor e adiantou outro peão.

 — Isso é ridículo. Não estamos sozinhos e as portas estão abertas. LadyFitzhugh pode nos ver perfeitamente de onde está sentada.

 —  Não importa. Nós estamos em outra habitação e estamos mantendo umaconversa particular. Ninguém que não está comprometido pode se permitir essaliberdade. —  Ele moveu seu cavalo e lhe disse esboçando um sorriso: — Quandovocê estava aprendendo as de etiqueta, perdeu esta parte?

 — Anthony, você deve parar com isso. O fato de que eu necessite de livrosde etiqueta mostra a péssima duquesa que eu seria.

 — Você será uma duquesa estupenda quando você pegar o jeito. Tudo o quevocê faz, faz muito bem.

 — Isso não é verdade e de todas as formas não é disse que estamos falando. Não vou me casar contigo.

 — Se quiser se mantenha assim, mas espero que um dia se dei conta do meutormento e sinta pena de mim. —  Apontou o tabuleiro. — É sua vez.

 — Por que você faz isso?  —  perguntou sem se importar com nada na partida.  — Porque sou uma loucura temporal? E quando passar esta loucura, o

que acontecerá? Marguerite voltará a sua cama? Ou talvez uma nova amante?Certamente, quantas amantes você já teve?

 — Mais de uma e menos de uma dezena. — Como…? —  parou um instante e afastou o olhar. Anthony sentiu uma

 pontinha de esperança quando ela prosseguiu: — Já tornou a ver a essa mulher?Ela se importava. Ela devia se importar se tinha formulado essa pergunta.

Ele disse a verdade. — Sim, a vi uma vez em Row. A uns vinte metros de distancia. Já tinha lhe

enviado uma carta comunicando-lhe que nossa relação tinha terminado.  —  Ele

 pegou carinhosamente seu queixo com as mãos, devolvendo sua atenção para elee perguntou com gentileza: — Acaso estamos jogando agora as Vinte Perguntasem vez de xadrez?

 —  Não, mas… — Afastou seu olhar do dele e olhou ao redor, como seestivesse pensando como expressar o que queria dizer.  — Uma vez você medisse que eu era um mistério, mas é você que nunca revelou nada. Desde aquele

 jantar com os Bennington eu te contei muitas coisas sobre mim. Minha vida,meu trabalho, meu pai, meus… meus sentimentos por ti. Mas até agora você sóme contou insignificâncias. Não te conheço o suficiente como para me casar

contigo. — O que você queria saber? Pergunte sem rodeios. Vai me entrevistar para

Page 188: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 188/201

 

o posto de marido. —  Não estou te entrevistando para nenhum posto! E esta conversa está me

demonstrando que nada do que eu possa te perguntar pudesse se satisfazer com palavras. Nem com flores. Você não me ama. Você apenas me oferece teu nome

 porque acha de que com isso basta e porque é tão obstinado e arrogante e…  — E você disse que não me conhece o suficiente como para se casarcomigo?

Daphne se sentiu ofendida e se levantou. Ela lhe virou as costas eatravessou o tapete persa em direção a chaminé. Ela olhou a outra sala e

 percebeu que lady Fitzhugh estava completamente concentrada nas cartas. Ele selevantou da cadeira e se aproximou de Daphne, que estava observando o fogo.Se pôs atrás dela e lhe sussurrou ao ouvido:

 — Você me conhece mais do que pensa, Daphne. Ninguém me conhecemelhor que você. Nunca ninguém me conhecerá melhor que você.

Ela começou a falar, mas ele a interrompeu imediatamente. — Me escuta. Passei toda a semana tentando te dizer e te demonstrar o

quanto te desejo. Sei que as palavras não são as mais adequadas para teconvencer, mas não sei outra maneira de fazer isso. O que mais posso fazer,Daphne? —  Ele lhe pôs as mãos em sua cintura e a atraiu até ele.  — Eu poderiadizer com meu corpo?

Daphne fechou os olhos, mas algo havia mudado nela. Algo a tinhacomovido, suavizado. Ela levantou a mão e apertou o punho no ar.

 —  Não, Anthony, não.

Ele aproveitou sua vantagem. — Você me deseja. Só faz umas semanas você me desejou, na antika.  —  Se

afastou um pouco. — Te esqueceu disso? — Claro que não!  — respondeu ela com um sussurro apaixonado.  — 

Tampouco não me esqueci que não sou eu com quem você queria se casar. — Mas eu nunca desejei ela da maneira que te desejo.  —  Parece estranho,

mas era a verdade e eu estava desesperado. — É você quem não me quer mais.Ela negou com a cabeça com os olhos, todavia fechados e os lábios

franzidos, enquanto emitia um leve som de dissidência.

 — Você diz que não  — continuou,  — mas você se priva dos muitos dos prazeres da vida. Por que, se eu posso te dar todos?

Um ligeiro gemido lhe escapou quando as mãos dele subiram desde suascostas até seus seios.

 — Eu te desejo — admitiu com um sussurro. —  Não é isso. Nunca tinha tidoalgo assim. Eu sempre… 

 — Prove o que você diz então. —  Olhou por cima do ombro até a porta e a beijou na orelha. — Se você me deseja, passa o resto da noite comigo. Podemosir para minha casa. Todos os convidados que estão aqui terão ido a meia a noite

a uma e meia estarão dormindo. Traga algo para cobrir teu rosto. Te esperarei na passagem com minha carruagem e estará de volta antes do amanhecer. Vem.

Page 189: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 189/201

 

 — Eu não irei. — Vou esperar igualmente.  —   Ele a beijou na bochecha.  — Você vê,

Daphne? A honra não é minha única motivação, porque neste momento me sinto bastante desonrado. Eu desejo você mais do que eu já desejei algo em toda

minha vida.

 Não acreditava que ela pudesse vir. As três horas que seguiram a sua ilícita proposta foram insuportáveis para ambos, simulando que estavam jogandoxadrez e aparentando desfrutar do jantar, do vinho Madeira e da conversa a ladoe lado da mesa. Ao término da festa, pensou que seguramente ela tinha mudadode opinião.

Mas não. Alguns minutos depois que o relógio inglês marcou uma e meia,ele viu uma figura coberta com um capuz sair dos estábulos até a passagem emque se encontrava. Ele abriu a porta e ela pulou. Ao retirar o capuz apenas tinhaluz para poder-lhe ver o rosto, mas era suficiente.

 — Você tem certeza disso? —  perguntou ele. — Sim.Aquilo era suficiente. Teria tempo depois de compreender os motivos que a

tinham levado a mudar de opinião. Mas naquele momento, não lhe importavam.Ele fechou a cortina, bateu o teto com sua bengala e a carruagem começou aandar.

Com a última cortina abaixada, estava tão escuro dentro da carruagem que

não podia ver nada dela. Com o barulho do veículo não podia nem ouvir suarespiração. Ela não falava. Apenas o aroma de essência de gardênia lhe dizia queela continuava ali.

 Naquela noite na antika, a viu apenas sobre a pálida luz da lua. Desta vez,em troca, acenderia todas as velas que encontrasse. Desta vez iria vê-la enquantolhe fazia amor. Observaria as curvas perfeitas de seus seios e quadris, olhariasuas longas pernas, a expressão de seu rosto quando chegasse ao clímax.

Anthony se acomodou, concentrando-se no barulho das rodas dacarruagem, em controlar a excitação e a ansiedade de seu corpo. O trajeto até

Grosvenor Square parecia interminável.Ele a conduziu através dos estábulos até a parte de trás da casa, porque

sempre tinha carruagens entrando e saindo da praça esta hora, levando pessoasem casa depois de festas como aquela na mesma noite. E apesar de que o cabelode Daphne estava oculto embaixo co capuz, não queria arriscar de que alguém areconhecesse.

Pegando-lhe pela mão, a levou em cima pela escadaria traseira, através dosescuros cômodos e corredores que conduziam a seu quarto. Foi ao seu toucador,despertou a Richardson e olhe disse que avisasse a um criado para que

acendesse o fogo e lhe comunicou que já não precisaria de seus serviços até amanhã seguinte. Seu mordomo saiu lançando apenas um ligeiro olhar para a

Page 190: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 190/201

 

mulher encapuzada que estava ao lado da cama e de costas para ele. Quando oservo apareceu, Anthony lhe ordenou que acendesse todas as velas do quarto,assim como o fogo da chaminé. Quando o lacaio se foi, fechou a porta com achave. Por fim, pensou, tomando um profundo fôlego e soltando-se finalmente.

Finalmente á sós.Anthony se virou. Ela fez o mesmo.Ela tirou o capuz e ele a olhou iluminada pela tênue luz das velas. Se

lembrou da primeira vez que a tinha visto. Tinha quase o mesmo aspecto queagora. Sem chapéu de palha, mas com a mesma expressão solene e de umacorujinha e com um casaco. Embora desta vez não era uma qualquer poeira queocultava seu corpo. A luz se refletia em seus óculos dourados e não lhe deixavaver seus olhos. Ela era mais ou menos a mesma em todos os aspectossuperficiais, mas agora supôs que era muito diferente em outros aspectos maisdifíceis de definir.

Essa noite, ele queria demonstrar-lhe todo o que sentia quando a olhava,não só o que via. Tal como lhe havia dito, se as palavras e as flores não eramsuficientes, usaria seu corpo. Apenas esperava poder se comportar. Uma grandeexcitação atravessava todo seu corpo anarquicamente, mas as próximas horasnão eram para ele. Eram para ela.

Se colocou na frente de Daphne. Retirou-lhe os óculos e os deixou namesinha ao lado da cama. Tirou-lhe o casaco dos ombros. Agora não usava umsimples vestido bege de algodão, mas sim um vestido de seda azul escuro quetinha estado na festa. Tocou sua clavícula com a ponta dos dedos, acariciou seu

rosto e puxou sua cabeça para trás enquanto aproximava sua boca da sua. — Daphne — foi tudo o que conseguiu dizer antes de beijá-la.Junto dele, entreabriu os lábios suavemente, doce e suavemente, com um

ligeiro sabor de vinho Madeira. Os olhos dela estavam fechados, e os deleabertos, porque queria ver qualquer pitada de sentimento que pudesse arrancar-lhe com suas mãos e sua boca. Ele deslizou os dedos entre os cabelos dela; porsorte, nãa tinha se tornado em uma vítima da moda do momento, que levava amuitas mulheres a colocar laços e flores de seda em seus cabelos. Semforquilhas, apenas pequenas presilhas que à medida que ele os retirava,

deixavam cair sua espessa cabeleira por suas costas. As presilhas foram caindono chão, enquanto passava as mãos por seu sedoso cabelo. A beijou

 profundamente, saboreando a doçura de sua boca.Ela soltou um pequeno e afogado grunhido de desejo e lhe rodeou o colo

com os braços, apertando o corpo cada vez mais contra o seu e incendiando devontade que ele tinha de estar em seu interior. Essa necessidade que ele estavatentando manter sob controle.

Para ganhar tempo, separou seus lábios dos dela e começou a beijá-la nosombros até chegar a borda do vestido azul pálido e continuou outra vez de volta.

Suas mãos largaram os cabelos dela e deslizaram até seus quadris. A queriatotalmente despida, mas forçava a si mesmo a conter seus movimentos até que o

Page 191: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 191/201

 

corpo dela estivesse preparado para o próximo passo.Quando ela começou a tremer em seus braços e a emitir pequenos gemidos

contra sua camisa, acreditou que ela estava pronta. Subiu as mãos que tinha emsua cintura e acariciou-lhe as costas. Se separou um pouco para ver-lhe o rosto

quando lhe afastou os cabelos e se colocou encima de um ombro para podertirar-lhe o vestido.Ela, com os olhos fechados, separou os lábios e inclinou sua cabeça para

atrás, mas a medida que ele lhe deslizava o vestido pelos ombros abriu os olhose ele percebeu como tremia um pouco, ainda tímida, mas ele continuou com oque estava fazendo.

Ela o olhou. — Esse tipo de coisas só pode fazer com tantas velas acesas? — Oh, sim. Definitivamente sim. —  Ele continuou deslizando-lhe o vestido

 por seus ombros, mas quando lhe liberou os braços e a peça estava já quase àaltura de sua cintura e ele podia ver sua roupa interior, ela se apertou contra seu

 peito para detê-lo. — Anthony, acho que deveríamos apagá-las. — Por que? — Ele abaixou a cabeça para beijar-lhe o colo. — Quero te ver.

Você não quer me ver? — Eu não posso enxergar nada — sussurrou ela. — Você tirou meus óculos.

Outra vez.Ele riu e o suave ar acariciando-lhe o colo dela, que durante alguns

instantes não se moveu.

 — Daphne  — disse ele finalmente,  — eu quero te ver nua em minha cama.Quero ver teus cabelos sobre meu travesseiro. Quero ver seu rosto quando tetoco, porque para mim você é linda e porque necessito desesperadamente sabero que você sente quando te acaricio. —  Fez uma pausa perguntando-se se estavadizendo bobagens. — Mas se você fica mais a vontade no escuro, prefere que euapague as velas, apagarei.

Ela não respondeu. Em vez disso, mordeu seu lábio e acariciou as a aba docasaco dele. Depois de um momento, ela começou a retira-lhe o casaco por seusombros.

 —  Não — disse, — deixe-as acesas.Anthony ficou quieto durante um instante e deixou que ela o despisse.

Deixou que ela lhe desabotoasse a camisa e a tirasse. Esperou, obrigando-se a permanecer imóvel enquanto Daphne lhe acariciava o peito nu com as mãos elhe beijava a pele. Esperou tremendo de prazer enquanto ela estava levando seuauto-controle ao limite. Quando notou a ponta de sua língua em seu mamilo adeteve.

 — Deus, Daphne, basta!  — gemeu e suas mãos se agarraram nos cabelosdela. Afastou-a suavemente um instante para recuperar a respiração. — Acho que

você gosta de me atormentar.Ela levantou a vista e olhou sorrindo.

Page 192: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 192/201

 

 — Acho que você poderia se acostumar. —  Não tenho nenhuma dúvida. —  Pôs as mãos em seus ombros nus e tocou

a borda de sua roupa interior,  — Laços no corpete?  — falou ele tratando derecuperar algo de seu controle, já que o desejo que sentia começava a

transbordar. — Daphne, estou surpreso desta extravagância. — A senhora Avery me disse que qualquer corpete tem que ter um laço,ainda que ninguém possa vê-lo não vejo graça nisso.

 — Eu sim — disse ele veementemente enquanto retirava a delicada peça. — A única coisa que te peço é que nunca use espartilho.

 — Mas assim manteria minha postura perfeita quando caminhasse, não?Achou que eu precisaria senhoria, senhor duque, quem me aconselhou para queusasse um.

 — Eu mudei de ideia. Os fechos dos espartilhos são muito difíceis de abrir. —   Ele desmanchou finalmente os laços do corpete e abaixou a peça por seusombros deixando seus seios totalmente despidos. Eram sensuais, de cor creme erosados a luz das velas. Ele ficou com água na boca.

Ele o pegou com a mãos, levantou a vista e viu como o desejo se refletia norosto de Daphne e quando fechou os olhos e se recostou na parede que tinhaatrás dela, pensou que era o rosto mais bonito que tinha visto em toda a sua vida.Apertou-lhe suavemente os mamilos e os pequenos suspiros de prazer que elaconseguia emitir que ele perdesse por completo seu controle.

Calado, afastou a mão de seus seios e as colocou sobre a roupa que se tinhaamontoado em sua cintura, Deslizou o vestido e o corpete por suas pernas e se

ajoelhou em frente na frente dela com a vista fixa no travesseiro para manter sualuxúria sob controle.

Quando todas as peças de roupa chegaram ao solo, seu corpo estavaardendo. Ela se apoiou no ombro dele enquanto se livrava das roupas dela.

Anthony tirou-lhe então os sapatos e os deixou de um lado, enquanto suasmãos começavam a subir desde seus tornozelos até seu colo. Acariciou-lhe a

 parte de trás e notou como um calafrio lhe percorria todo o corpo. Eledesabotoava toda sua roupa interior e a deslizou até o solo junto com as outras.

Apenas quando estava totalmente despida, Anthony se atreveu a olhá-la de

novo. Mas ele fez isso devagar, se deleitou em suas lindas pernas, em comoeram longas e perfeitas e pensou que nenhum homem poderia imaginar umas

 pernas como aquelas. — Deus, Daphne, eu…  Não pode continuar. Anthony acariciou-lhe as coxas e logo com as mãos

em seus quadris nuns, a atraiu até ele e beijou os suaves cachos que cobriam ovértice de suas pernas, inalando o aroma de gardênia e o da excitação feminina.

Esse beijo foi demais para ela. Ofegou entrecortadamente e teve que seapoiar nos ombros dele, pois suas pernas já não a sustentavam.

Anthony a levantou e a pegou em seus braços. Dando a volta a depositouna cama e logo se sentou a seu lado e tirou suas botas. Voltou a ficar de pé e não

Page 193: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 193/201

 

deixou de olhá-la enquanto desabotoava sua calça. Quando os lábios dela sesepararam em um oh de surpresa, lhe deu vontade de saltar de tão contenteestava.

O colchão cedeu abaixo por seu peso quando se colocou de seu lado.

Apoiou seu cotovelo e a observou durante um momento, logo começou a tocá-la. Apoiou a mão em seu estômago deslizando-a lentamente até embaixo, entresuas pernas, e introduziu a ponta de seu dedo dentro dela.

Percebeu que ela estava úmida e excitada quando lhe roçou suavemente oclitóris com seu dedo. Ele apenas se moveu, sem deixar de observar o rosto delaenquanto seus quadris se moviam freneticamente contra sua mão a medida quese aproximava do clímax. Agora já não lhe escondia o que sentia: cada linha deseu rosto refletia a felicidade e o êxtase que a inundavam nesse momento.Anthony sentiu como os tremores iam desaparecendo a medida que as últimaschamas do orgasmo a consumia e se deu conta de que tinha obtido mais prazerolhando-a que em qualquer outra experiência sexual de sua vida.

Afastou sua mão e se colocou encima dela. Penetrou-a, queria se moverlentamente, dar-lhe prazer mais uma vez, mas ela o agarrava com tanta força queao sentir como ela o envolvia todas as suas boas intenções foram frustradas.

Ele ouvia seus próprios gemidos viscerais e sentiu como crescia dentro delea tensão até ficar insuportável. Agora já não podia ser cuidadoso, não podia seconter. Acelerou o ritmo, penetrando-a com mais força, sua paixão finalmentetinha lhe vencido e não podia controlá-la. Sua ejaculação foi como uma torrente,as sensações explodindo dentro dele com toda a força de uns fogos de artifícios.

Depois, ele continuou encima dela, com as mãos carinhosamente em suascostas e viu que ela abria os olhos.

 — Meu Deus  — suspirou Daphne tratando de recuperar o fôlego.  — Agoraentendo por que os romanos pintavam todos aqueles afrescos.

Ele riu tão alto que provavelmente despertou o criado que esperavacochilando no corredor. Se virou sem soltar seu abraço, arrastando-a com ele

 para que ficasse assim encima.O cabelo lhe caía pelo rosto quando a beijou. Não sabia se essa mulher lhe

fazia sentir como um deus romano ou como o melhor amante de toda Inglaterra,

mas em qualquer caso, aquilo era mais do o que nunca tinha se atrevido asonhar.

Page 194: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 194/201

 

Capítulo 26

 — E assim foi como chegamos ao Marrocos — resumiu ela.Estava ali nua, deitada a seu lado contando-lhe suas viagens como se fosse

uma guia turística. Ela sabia que aquilo não era o mais romântico que podiafazer depois de fazer amor, mas era bonito estar ali com ele e ver a expressão desua face escutando-a com tanto interesse.

 — Invejo tuas viagens, Daphne  —  disse ele, depois de um instante,  — masnão consigo entender seu pai. No que ele estava pensando? Arrastando-te pelaÁfrica, trabalhando até ficar com os ossos doloridos… Isso não deveria ser umavida para ninguém, mas especialmente para uma mulher. Não posso evitarrecriminar a teu pai que não fosse mais precavido.

 —  Não, não, você não o entende. Ele não foi tão descuidado como pensa,Anthony. Eu insisti em ficar com ele.  —   Girou a cabeça e se apoiou notravesseiro olhando-lhe. — Papai queria que eu tivesse uma vida melhor. Queriaque viesse a Inglaterra, que a família de minha mãe me reconhecesse, mas suascartas, assim como a minha, foram ignoradas. O barão tinha deserdado a minhamãe, tinha-lhe tirado inclusive do coração e não ia mudar de opinião. Papai

sugeriu então que fosse para a escola, mas eu me neguei a abandoná-lo. Eleestava tão sozinho quando minha mãe morreu, precisava tanto de mim… Nãoiria deixá-lo, não podia. Assim que fiquei com ele e me tornei sua ajudante. Euqueria e eu o ajudava. Seu trabalho e eu éramos sua razão de viver e nós doisfomos muito felizes juntos.

 — Seu pai era mais forte que o meu  — disse ele movendo a cabeça paraolhar o teto. — O melhor porque tinha você.

Ela se sentou, apoiou um cotovelo na cama, com o rosto apoiado na mão eo olhou.

 — Seu pai tinha a ti, Anthony e a Viola. — Eu tinha mandado a Viola a Cornualha, a casa de alguns parentes.  —  Voltou à cabeça para olhá-la. — E eu não fui suficiente para aliviar sua dor.

 — Duvido. —  Daphne acariciou-lhe o rosto e desejou que ele confiasse nelae lhe contasse a verdade. — O que aconteceu com seu pai?

Anthony se sentou, recolheu as pernas para um lado da cama e se levantou. — Amanhecerá dentro de pouco tempo. Devo levá-la de volta.Daphne o observava e lhe doeu o coração.

 — Por que você não quer me contar? Para mim não me importa se ele ficou

louco, se essa é a razão para que mantenha o silencio, eu…  — Deveria se vestir — interrompeu ele e se abaixou para pegar sua camisa.

Page 195: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 195/201

 

 — Se os empregados de Russell Square se levantam e percebem que você nãoesta, todo mundo saberá onde passou a noite. Ou pensarão que fugimos.

Daphne não se moveu. — Por que você não quer falar dele?

 — Porque não quero falar desse assunto, Daphne — respondeu-lhe enquantose vestia. —  Nunca.Ela se sentou na cama e se aproximou dele rodeando-lhe a cintura com os

 braços. Estava tão rígido como uma estatua. — Anthony  —   sussurrou ela olhando-lhe as costas,  — você me pressiona

constantemente para que eu seja mais aberta, para que compartilhe contigo o que penso e o que sinto e você se nega a fazer o mesmo comigo. Para mim também édifícil falar dos meus sentimentos mais profundos, mas contigo eu falo. Dealgum modo, você se tornou meu melhor amigo. Apesar de meus esforços paraevitar que você visse todas as minhas inseguranças conseguiu que eu superasse.Acho que porque, no mais profundo de minha alma, quero que você saiba quemsou eu. Você é a pessoa em quem mais confio neste mundo.

Ele não se moveu. Não respondeu.Ela lhe beijou e notou que por baixo da camisa de linho, seus músculos se

tencionaram. Deixou de abraçar-lhe e se afastou. — Anthony  — disse-lhe de costas,  — sei que você é uma pessoa muito

reservada, mas quer que eu seja tua esposa. Eu te abri meu coração mais de umavez, te contei coisas que morreria antes de revelá-las a outra pessoa. Se você não

 pode se abrir um pouco, se não podes fazer o mesmo comigo, ainda que só seja

um pouquinho de cada vez, não teremos nenhuma possibilidade de sermosfelizes. Eu te amo, mas até que você não seja capaz de compartilhar tua vidacomigo, não me casarei contigo.

Ele não respondeu, mas Daphne sabia que isso não significava que não lheimportava, mas sim que tinha medo. Como ela. Se vestiu sem dizer mais nada eele caminhou até Russell Square e ficou igualmente em silencio. Não tinha maisnada o que dizer.

Daphne não assistiu a inauguração do museu no dia seguinte. Em vez disso,foi com Elizabeth e Anne a fazer um par de visitas, suas risadas e suas

 brincadeiras foram uma agradável distração.Regressaram a casa justo antes das seis e Mary apenas acabava de abrir-

lhes a porta, quando lady Fitzhugh saiu da sala e gritou contente: — Queridas, que alegria que já voltaram!  — Desceu correndo a escadaria

sorrindo feliz. Suas filhas e Daphne ficaram no vestíbulo, surpreendidas ao ver atranquila lady Fitzhugh tão excitada.

 — Mamãe! — exclamou Elizabeth. — O que aconteceu?

 — Deve ser algo muito bom  — disse Anne.  — Por que está sorrindo,mamãe?

Page 196: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 196/201

 

Lady Fitzhugh apontou a mesa que tinha atrás delas e as três moças seviraram.

Em uma bandeja de prata tinha uma única rosa vermelha sem espinhos. Aoseu lado, um cartão de Anthony.

 — Outra flor para Daphne  — disse Anne sorrindo.  — Por isso esta com umsorriso tão amplo como oTámesis, mamãe? Por uma rosa? — É uma rosa sem espinhos  — disse Elizabeth extasiada,  — e é vermelha.

Oh, Daphne, finalmente. — Que significa? —  perguntou Anne. — Amor a primeira vista  — lhe disse lady Fitzhugh e se virou até Daphne

colocando uma mão em seu braço.  — Me envergonho de mim mesma, querida,mas tinha que olhar em seu pequeno livro, não podia esperar mais. Ele foi para omuseu, sendo como era hoje a inauguração, para vê-la. Quando lhe disse quenão estava, ele ficou completamente triste.

 — Daphne?  — Elizabeth a olhou.  — Você esta muito calada. Agora já nãoduvidará de seus sentimentos, não acha?

Ela não respondeu. Tremendo, pegou a rosa e a observou absorta. Tinhaesperado que ele fizesse algo, mas o que queria dizer aquilo? Ela recordava

 perfeitamente essa noite na antika em que ela se confessou que tinha seapaixonado por ele desde a primeira vez que o viu. Estava tentando dizer-lheque ele também se lembrava dessa dolorosa confissão? Ou lhe estavaconfessando sinceramente seu amor? Isso não tinha sentido, porque eraimpossível que a amasse desde o primeiro dia que a viu. Nem sequer tinha

certeza de que ele a amasse agora.Daphne não se importava. Ela sim o amava e ele tinha dado outro passo

 para se aproximar. Era curioso como uma coisa tão simples podia colocá-la emtodo lugar. Desta vez, ela iria se arriscar, iria depositar todas as suas esperançasnele. Não iria ter medo de que ele lhe dilacerasse seu coração. Não ia se

 preocupar se estava se equivocando. Pegou a flor e correu até a porta, deixando-a aberta ao sair.

 — Querida, aonde você vai? —  perguntou lady Fitzhugh. — Ao museu! — respondeu Daphne gritando.

Ela pegou a saia com as mãos, levando na outra a rosa, correu até seudestino sem se importar com as olhadas incrédulas dos que passeavam pelo

 parque. Atravessou a rua procurando uma carruagem buscando e finalmente,uma parou. Soou as sete quando deu ao cocheiro a direção ao museu deAnthony. Uma vez dentro, se sentou e tentou recuperar a respiração. Apertava àrosa e desejava com todo seu coração que o posto de duquesa ainda estivessedisponível.

Ela não tinha ido. Apesar de ter estado rodeado de gente a todas as horas,Anthony a tinha esperado. Cada dois segundos olhava a porta e procurava

Page 197: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 197/201

 

constantemente a ficar a procura de seu rosto. Mas as horas iam passando e elanão chegava.

A inauguração do museu havia sido um total êxito. Tinham apresentadovinte e sete coleções de arte e arquitetura romano-britânicas, incluindo sua

 própria coleção e já não tinha entradas disponíveis até meados de julho. MasDaphne, que também formava parte daquele projeto, não havia chegado.Sua decisão controversa de abrir o museu a todos aqueles que quisessem

conhecer as antiguidades seria discutida durante décadas. As entradas de um pence para as visitas matutinas tinham sido as primeiras a se esgotar, mas não podia compartilhar essa grande noticia com Daphne, porque ela não estava ali.

Ordenou manter as portas abertas durante mais uma hora, mas quando todomundo já tinha se ido e ele tinha ficado sozinho, ela, todavia não tinha chegado.Ainda assim, continuou caminhando por seu museu, escutando o ruído de seus

 passos. E esperou.Anthony sabia que tinha sido um idiota por não contar-lhe na noite anterior

o que ela queria saber. Mas Deus, ele nunca tinha contado a ninguém a verdadesobre seu pai. Nunca tinha dito a ninguém, nem sequer a Viola. As pessoasfalavam sobre ele, os empregados tinham suas versões, mas ninguém sabia o queele tinha passado na verdade.

Lhe diria tantas cosas se ela viesse… Lhe contaria todos os seus segredos,gritaria no meio da catedral de Saint Paul, mas ela tinha que vir.

Para ele era muito duro se abrir, mas Daphne compreendia. Como ninguémantes, ela lhe compreendia.

Anthony ouviu que a porta principal se abria e que voltava a se fechar derepente. Ouviu passos se aproximando pela galeria principal. E ali estava ela,com a respiração agitada, a rosa em uma mão e seu chapéu na outra,desgrenhada e absolutamente fascinante.

 — Que significa isto?  —  perguntou-lhe enquanto se dirigia até onde eleestava, movendo a rosa entre os dedos. — O que você quer me dizer?

 — Meu pai se suicidou.Ela parou. A rosa parou de se mover entre seus dedos e olhou-o com seus

lindos olhos cheios de assombro pela brusquidão de sua revelação.

 — Uma noite, três anos depois da morte de minha mãe, ele tomou quatroampolas de láudano. O resto era de menos… Ela era tudo para ele e não quisviver sem ela, por isso se matou. Eu o encontrei.

Era tão duro falar disso, mais duro do que tinha imaginado. Com cada palavra voltava a sentir a dor que sentiu naquela época. Incessante.

 — E eu pensei que era uma benção. Que Deus me perdoe, mas eu mealegrei.

Ela não disse nada, simplesmente permanecia ali de pé, escutando-lhe. — Você pode imaginar o que é ver seu pai chorar durante horas? Ele falava

da minha mãe comigo e com Viola. Eu a mandei longe dali. Ela só tinha seisanos e não entendia o que estava acontecendo. Daphne, ele falava aos

Page 198: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 198/201

 

empregados como se ela continuasse viva. Lhes dava ordens de como queria ochá e lhe mandava recados para ela. De noite, vagava pelos corredoreschamando-a, pronunciando seu nome. Se sentava a mesa e falava com ela.Longas conversas cada noite em frente a uma cadeira vazia.

Daphne tapou a boca com a mão. Ele falava tão rápido que quase nãoconseguia entender o que ele dizia. Ela já sabia algo, mas era muito mais duroouvi-lo contar. Então era apenas um menino. Daphne pensou que tinha pensadosaber o que era ter o coração despedaçado, mas não, se equivocava. Agora simele estava se rompendo pouco a pouco, ao escutar como o homem que ela amavalhe contava como tinha visto seu pai enlouquecer.

 — Eu tinha doze anos quando ele morreu, mas me tornei duque aos nove — continuou Anthony.  — Tive que fazer isso. Ele era incapaz de tomar qualquerdecisão, ainda que sua vida dependesse disso. Olhava os papéis durante horas enunca os assinava. O secretario dele começou a se dirigir a mim e quando meutio veio ocupar seu cargo, eu já estava há meses me ocupando de tudo. Com aajuda e os conselhos de meu tio aprendi muito mais. Sabia que tinha que assumirminhas responsabilidades.

 — Recordo o que você me disse no dia do nosso picnic  —   murmurouDaphne.

 — Meu pobre pai não podia somar dois mais dois. Se tornou incoerente. Aúnica coisa que podia falar era de minha mãe. Se negava o que o mordomo lhe

 barbeasse porque esperava que Rosalind fizesse isso. Ela era sempre que faziaisso, era algo muito íntimo que ambos compartilhavam.

Daphne viu como sua expressão se retorcia de dor e essa visão era quaseinsuportável. Deu um passo adiante. Queria dizer-lhe que parasse, que não tinhaque lhe explicar mais nada. Mas se conteve e esperou que terminasse.

 — Eu tive que trancá-lo, Daphne. Começou a fazer coisas, como carregar asarmas e disparar contra a parede. Podia ter matado alguém. Podia se machucar,assim eu o tranquei em um quarto do piso de cima.  —  Sua voz quebrou.  —  Nãosei de onde arranjou o láudano. Suponho que o doutor lhe deu, embora elesempre negasse.

Anthony se endireitou e a olhou como se acabasse de lembrar que ela

também estava ali. Ele deve ter visto o horror em seus olhos, porque disse: — Agora você já conhece meu mais profundo medo. Não quero me tornar

como meu pai.  —  Ele se virou e lhe dando as costas continuou:  — Sua loucura pode não ter sido causada pela morte de minha mãe, talvez isso só a fezflorescer. Não sei se é hereditária. Sei que tinha direito de saber quando eu te

 pedi em casamento, mas que Deus me ajude, Daphne, não podia dizer.Ela não sabia o que dizer. Que palavras serviriam? Voltou a caminhar até

ele, mas ele continuava longe. — Eu não perseguirei mais você —  disse-lhe por cima do ombro. — A única

coisa que te peço é que depois de ontem a noite, se você ficou grávida, me permite cumprir com meu dever com meu filho.

Page 199: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 199/201

 

Daphne se deteve a escassos metros dele. Ela limpou a garganta. — Obrigada por me dizer tudo isso, por compartilhar comigo, mas na

verdade eu vim porque eu ouvi que está tentando que se ocupe de certo posto emtua casa. Que qualificações necessitam para ser uma duquesa?

Ele ficou tenso e não falou durante um momento. Logo pegou ar e o soltoulentamente. Então ele se virou. — Está interessada no posto, senhorita Wade? — Talvez sim, mas me preocupam alguns aspectos. Sei que é um posto

muito difícil. Me diga, o que faz na realidade uma duquesa?Ele deu um passo até ela.

 — Amar o duque. Amá-lo com toda a paixão que esconde dentro dela, amá-lo pelo resto de suas vidas.

 — Isso eu já faço  —   afirmou Daphne sem mudar de expressão.  — O quemais?

 — Tem que se desfazer da estúpida ideia de ter quartos separados a não serque não suporte meus roncos.

Daphne inclinou a cabeça, o coração lhe batia tão forte que parecia o eco deum tambor.

 — Eu acho que isso eu posso cumprir, inclusive com roncos. Se já dormiem meio há uma tempestade no deserto, isso não pode ser muito pior. O quemais?

 — Deverá se ocupar de suas casas, de todas as que possuir. Deve serdiscreta, porque o duque é um homem discreto e terá que se comportar sempre

com decoro sejam quais sejam seus sentimentos, porque, como duquesa, estarásempre sendo observada e será objeto de todo tipo de falatórios.

Daphne bateu os lábios com a ponta dos dedos varias vezes e finalmenteassentiu.

 — Acho que isso também posso fazer. — Em nenhum caso deve esconder seus sentimentos ao duque, porque ele

só quer fazê-la feliz. Deverá celebrar um montão de festas, assistir a umincontável número de atos benéficos, entreter as autoridades que nos visitem edeverá tentar olhar todo mundo como se fosse superior. Acho que este último

 ponto terá dificuldades. — Posso aprender. — Terá que tratar a todos seus empregados com amabilidade e ajudar ao

duque a suavizar seu caráter, porque você sabe que é um homem impaciente,difícil de contentar e que nem sempre leva em conta os sentimentos das pessoasque trabalham para ele. Dizer-lhes obrigado e pedir as coisas por favor não lhecusta nada.

Ele sorriu e o coração dela começou a voar. Deu outro passo até ela. — Tem que aprender a gastar o dinheiro do duque em coisas extravagantes,

especialmente em caprichos para ela como roupa bonita, jóias, presente paraseus amigos. Mas nunca, nunca deve ficar sem sabão com perfume de gardênia,

Page 200: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 200/201

 

 já que o duque gosta especialmente. E quando ela e o duque tenham filhos,deverá amá-los. Deverá enchê-los de mimos e atenções para compensar que os

 pais do duque e da duquesa não puderam fazer com eles. — Isso eu poderia fazer —  sussurrou ela.

Ele deu outro passo e parou na frente dela. Com seu dedo capturou umalágrima que rolava por seu rosto. Até então, Daphne não tinha se dado conta deque estava chorando.

 — Deve deixar de ter medo ou que lhe machuquem, porque certamente oduque o fará em alguma ocasião durante seu longo casamento, mas nunca

 propositalmente, porque ele a ama mais que tudo nesse mundo.Ela conteve um soluço e foi falar, mas ele apontou a flor que ainda tinha

em sua mão e a deteve. — Te mandei isto porque é mais sincera demonstração de tudo o que sinto.

 —  Tomou fôlego. — Me apaixonei por você naquele dia em meu jardim, quandote vi de pé embaixo da chuva. Desde então te amo. Me apaixonei por você a

 primeira vista, Daphne, porque nesse dia embaixo da chuva foi o primeiro diaem que vi você.

 — Oh, Anthony.  —   Ela lhe rodeou o colo com os braços.  — Estavaassustada — chorou contra sua camisa. — Tinha medo de acreditar que você erasincero. Me repetia constantemente que já não te amava mais, mas sabia queestava me enganando e eu tenho feito durante muito tempo. Amo você. E não seiquando me apaixonei por você, me refiro ao sentimento real, que foi muito maisforte e mais profundo que eu sentia a principio. Mas eu sei que me apaixonei por

você.Daphne parou de chorar e aceitou o lenço que ele lhe oferecia.

 — Agora, quais são essas vinte perguntas que você queria me fazer? — Se tornaram apenas uma. —  Ele lhe acariciou nas bochechas. Encantava-

lhe seu rosto e todas as expressões que nele se refletiam.  — Quanto tempoobtenho em troca da rosa?

 — Em troca da rosa, te ofereço um namoro muito curto. Em troca de tuas palavras, toda minha vida.

 — Me conformo com isso —  disse ele e a beijou.

Page 201: L. L. G. - Prazeres Proibidos

8/12/2019 L. L. G. - Prazeres Proibidos

http://slidepdf.com/reader/full/l-l-g-prazeres-proibidos 201/201

 

Laura Lee Guhrke

Desde a publicação de seu primeiro romancehistórico, Laura Lee Guhrke tem recebido muito elogios

 por suas historias como por seu estilo. Não é de estranharque já tenha recebido então o mais prestigioso premio emficção romântica, o  Romance Writers of America Rita

 Award . E recebeu outros prêmios a parte de outras revistasespecializadas como Romantic Times e All About romance.A revista  Romantic Times  falou dela "É uma das vozes

mais naturais que se pode encontrar hoje em dia dentro do romance histórico"