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A falta de acesso à educação e outras
políticas públicas sempre contribuiu para a pouca
organização das comunidades rurais – não era
diferente nas comunidades de Lagoa da Preta e
Capoeira do Milho, no município de Várzea da
Roça, Semiárido da Bahia. No entanto, uma
coisa unia as famílias: a participação nas
celebrações católicas aos domingos. Foi nesses
encontros dominicais que, há 20 anos, começou
a ser discutida a importância de uma associação
comunitária que reunisse as famílias das
redondezas em torno de lutas comuns.
Os debates, os anseios e as dificuldades
vivenciados pelas comunidades levaram à criação da Associação Comunitária de Lagoa da Preta e
Capoeira do Milho, tendo como primeiro projeto a criação de uma roça comunitária e a construção de
uma casa de farinha, como lembra José Santana, conhecido como Zó, da Capoeira do Milho: “Foi da
comunidade religiosa que surgiu nossa Associação e a partir da roça comunitária começamos a nos
organizar, conquistamos a casa de farinha e não paramos mais de lutar por melhorias para a
comunidade”.
PRODUÇÃO DE RAÇÃO PARA OS ANIMAIS
Desde o inicio, as famílias passaram a ser
acompanhadas pela Cáritas Diocesana de Ruy
Barbosa, atualmente Unidade Gestora do
Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) da
Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA). As
primeiras ações da Cáritas se voltaram para o
incentivo à produção de forragem e o estoque de
alimentos para o rebanho. Motivadas pela estória
de José do Egito – que apresenta a importância
de aproveitar o período das chuvas para estocar a
produção para uso nos tempos de estiagem – as
famílias adotaram como prática várias técnicas
Bahia
Ano 6 | nº 999 | outubro | 2012Várzea da Roça - Bahia
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Lagoa da Preta e Capoeira do Milho: organização para a Convivência com o
Semiárido
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Mandioca: base da produção de ração na comunidade
Agricultores reunidos na Casa de Ração Comunitária
aprendidas nos cursos de Convivência com o Semiárido. Entre essas práticas, destacam-se o cultivo de
plantas adaptadas ao clima, como a palma forrageira, e a produção de feno e silagem.
Em 2012, quando o semiárido enfrenta uma das maiores secas das ultimas décadas, as famílias
se obrigaram a utilizar quase todo o seu estoque de forragens para o rebanho. “Esperamos até março
pelas trovoadas, não choveu e agora complicou; a gente não aumentou o estoque porque tínhamos
silagem para mais de quatro meses de alimentação dos animais”, explica o agricultor Manoel Orlando
de Santana, apelidado de Landinho, da Lagoa da Preta.
O depoimento parece de um “desprevenido”, mas a comunidade era, de longe, a mais preparada
de Várzea da Roça, pois diante da estiagem, nenhum animal morreu comprovadamente por falta de
alimento. Em agosto de 2012, as famílias ainda possuíam silagem produzida há mais de dois anos.
Nas comunidades vizinhas, há mais de três meses já havia famílias sem comida para o rebanho,
muitos venderam seu criatório a preços muito baixos, com um prejuízo ainda difícil de ser estimado.
Agora Landinho usa a palma que não cortava há 15 anos – passa na forrageira, misturado com milho.
A lição aprendida com a atual seca é que a sustentabilidade das propriedades no Semiárido
passa pela organização e pela ESTOCAGEM – de água, de sementes, de comida para os animais, etc...
CONQUISTAS DA COMUNIDADE
Além da roça comunitária, atualmente a
Associação de Lagoa da Preta e Capoeira do
Milho tem casa de ração, fábrica de biscoito, uma
ampla sede, casa de farinha com 02 fornos
elétricos, unidade de experimentação da
Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola
(EBDA) na roça comunitária e a Casa do Mel.
Recentemente, a Associação passou a ser
administrada, além da diretoria, por comissões
que são responsáveis pela roça comunitária,
casa de farinha, grupo de mulheres e fundo
rotativo solidário, uma iniciativa recente. As famílias também possuem tecnologias de captação de água
de chuva, como as cisternas de consumo humano e algumas cisternas-calçadão para produção de
alimentos, a exemplo de Seu Rael que produz hortaliças e plantas frutíferas.
Pela diversidade encontrada nessas comunidades, Lagoa da Preta e Capoeira do Milho, com
cerca de 60 famílias, já são referências para a região: são famílias e técnicos que vêm conhecer essa
experiência de organização, desenvolvimento sustentável, segurança alimentar e nutricional,
embasada nos elementos da Convivência com o Semiárido e na valorização do saber e do
conhecimento popular.
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Agricultores/as na sede da associação comunitária
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Bahia
Apoio:
Programa Cisternas