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OÁSIS #86 EDIÇÃO LAMBERTO SCIPIONI MAIS RICOS, MAIS PUTAS RINOCERONTE Morte inútil por um simples corno SALTO NA ESTRATOSFERA O incrível voo de Felix Baumgartner BAIXOU O SANTO EM PARIS MADELEINE LAVAGEM DA

Lamberto Scipioni - Brasil 24/7 · um abraço negro... traz felicidade... negro é a raiz da liberdade

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Oásis#86

Edição

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MAIS RICOS,MAiS PUTAS

RINOCERONTEMorte inútil por um simples corno

SALTO NA ESTRATOSFERAo incrível voo de Felix Baumgartner

BAixoU o SAnTo EM PAriS

MADELEINELAVAGEM DA

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A LAvAgem dA mAdeLeine ArrAstou umA muLtidão de pArisienses e turistAs que estAvAm nAs ruAs e que AbAndonArAm seus

AfAzeres pArA AcompAnhAr AqueLe rio de sons e cores brAsiLeirAs que desfiLou peLAs ruAs de pAris

por

Editor

PellegriniLuiS

A já tradicional festa/rito da lavagem das escadarias da igreja da Madeleine, em Paris, aconteceu nova-mente no domingo, 23 de setembro últ imo. Foi a

10ª edição consecutiva dessa cerimônia de origem baiana, inspirada na lavagem das escadarias da igreja do Senhor do Bonfim, em Salvador, transplantada para a capital francesa graças aos esforços de brasi leiros abnegados que lá vivem.Sucesso total. eu estava lá e pude verif icar. Durante a sema-na que antecedeu o domingo, vários eventos f izeram parte da programação da “lavage”. entre eles, na quinta-feira, uma missa de gala, ao som de atabaques, pontos de orixás e canções brasi leiras, rezada por dois sacerdotes france-ses que foram missionários no Brasi l. na sexta-feira, festa grande no espaço principal para exposições da Unesco, com exposição de fotografias e apresentação dos grupos folclóri-

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por

Editor

PellegriniLuiS

cos e de batucada que vieram da Bahia, do Maranhão e de outros estados especialmente para a festa. o corpo diplo-mático da organização caiu no samba, com destaque para Vincent Défourny, que foi representante da Unesco em Brasí l ia durante seis anos e que, de volta à sede em Paris, “está morto de saudades do Brasi l”.

no domingo, a coisa explodiu. Concentração geral às 10 horas da manhã na Place de la république, no bairro da Basti lha. De lá saiu o cortejo que levou mais de 3 horas para chegar à Madeleine. Com tudo que um cortejo franco--afro-brasi leiro tem direito: batucada olodum, tambor de crioula, maracatu, capoeira, trio elétrico. arrastou uma mul-tidão de parisienses e turistas que estavam nas ruas e que abandonaram seus afazeres para acompanhar aquele rio de sons e cores brasi leiras que desfi lou pelas ruas de Paris.no final, diante da Madeleine, quase não se podia andar em meio à multidão compacta. logo depois, dezenas de brasi leiras, baianas ou não, vestidas a caráter, executaram o ritual da lavagem das escadarias, com flores e potes de água perfumada. Um presentão para os brasi leiros que vivem lá, e para os parisienses. ano que vem tem mais. Confira na nossa reportagem de capa.

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LAVAGEM DA MADELEINEBaixou o santo em Paris

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oi um auê federal em Paris. Do-mingo, 23 de setembro, brasi-leiros radicados na capital fran-cesa compareceram em massa

ao desfile de música e folclore que, do bairro République leva até a Igreja de La Madelei-ne para a já tradicional cerimônia da lava-gem das escadarias desse templo católico, um dos maiores e mais importantes de Pa-ris.Durante cerca de três horas, grupos de ma-racatu, capoeira, tambor de crioula, batu-

F

em paris, a festa da lavagem das escadarias da igreja de La madeleine chegou à sua 10ª edição. maracatu, capoeira, tambor de crioula, bateria olodum, batucada e roda de samba arrastam uma multidão e alegram o domingo dos francesesPor: Luis PeLLegrini /Jaci Toffano foTos: LamberTo sciPioni Vídeo: arnaud bascand

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“Luana, condessa de noaiLLes. baiana de nascimenTo, a ex-manequim agora radicada em Paris foi LeVar fLores Para a madeLeine”

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cada de samba, axé e Olodum desfilaram e tocaram em cortejo pelas ruas centrais, levando consigo uma multi-dão de parisienses e de turistas estrangeiros contagia-dos pelos nossos ritmos e cores das roupas e adereços.

Inspirada pela tradicional lavagem das escadarias da Igreja do Senhor do Bonfim, na Bahia, a Lavagem da Madeleine chega assim ao seu décimo ano de realiza-ção ininterrupta, consolidando as boas relações entre França e Brasil. Dos festejos fizeram parte também uma exposição de fotografias e de artes plásticas na sede da Unesco – que este ano juntou-se aos demais patrocinadores do evento -, uma missa em estilo baia-no celebrada na Igreja de La Madeleine, e várias outras manifestações, inclusive uma feijoada gigante no espa-ço cultural Barrio Latino.

Oásis pediu à pianista e musicóloga brasileira Jaci To-ffano, que participou da organização do evento, que escrevesse um depoimento contando suas impressões a respeito.

“Dos festejos fizeram parte também uma

exposição de fotografias e de artes plásticas na

sede da Unesco”

EM pAriS, FEStA BrASiLEirA

prA NiNGUÉM BotAr dEFEito

Por: Jaci Toffano Toffano, pianista, professora da Universidade de Brasília,

pós-doutorado em sociologia da música pela Sorbonne

A influência da França no Brasil data de longos tem-pos. Ressaltemos a época áurea dos colégios de frei-ras e de padres onde gerações e gerações de brasi-leiros travaram conhecimento da língua francesa e selaram uma relação de encanto e respeito por esse país modelo, berço das artes, da moda e de costumes.

Sentimentalismos a parte, a amizade entre os dois países, França e Brasil, toma diferentes proporções à medida que o brasileiro passa a encarar mais sua verdadeira identidade como forma maior de expres-são. Nada mais própria que a linguagem artística para representar esse viés.

A “Lavage de La Madeleine” é um festival cultural brasileiro realizado em Paris todos os anos, desde 2002, e proporciona um momento significativo para

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“A iniciativa de apresentar sob diversas formas de manifestação um pouco do Brasil no mundo, merece todos os aplausos da comunidade internacional”

ce todos os aplausos da comunidade internacional e mais uma vez arranca suspiros até dos mais con-servadores que não escondem a perplexidade face à riqueza de cores, a vibração dos ritmos e a alegria contagiante das danças e das pinturas.

missa de La madeLeineNa quarta-feira, 19 de setembro, às 17h30 de Paris, aconteceu a abertura dos festejos da Lavagem, com uma emocionante missa na Igreja da Madalena, co-celebrada por um padre americano Brien Richard McCarthy, vigário da Igreja, e pelo francês Padre Ives Bouyer, que viveu muitos anos no Brasil. Do lado brasileiro, o ponto principal que marcou a celebração foram os cânticos de senzala onde o elemento afro foi ressaltado. “Um sorriso negro... um abraço negro... traz felicidade... negro é a raiz da liberdade...” ainda ecoa pelos quatro cantos do templo católico construído no coração de Paris em

os brasileiros exporem suas raízes internacional-mente. O evento é considerado como importante exemplo do sincretismo religioso juntando elemen-tos do catolicismo e das religiões afro-brasileiras. Neste ano de 2012 a Lavagem movimentou a massa intelectual, diplomática, jornalística e de curiosos em geral na França. Além de artistas brasileiros, grupos folclóricos e várias outras personalidades se apresentaram de forma variada, incluindo ritos, desfile, exposição e outras celebrações.

A Lavagem da Madeleine insere-se numa longa tradi-ção. A miscigenação incluindo o elemento europeu, o negro e o índio, concedeu ao brasileiro por exce-lência, um resultado próprio, exótico e passível de muita apreciação; haja vista, por exemplo, a feliz ex-ploração de Heitor Villa-Lobos no campo harmônico, melódico e rítmico e, diga-se de passagem, fenômeno em grande parte fecundado em terras francesas.

A iniciativa de apresentar sob diversas formas de manifestação um pouco do Brasil no mundo, mere-

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estilo clássico grego do século 18, na voz de Tonho Matéria (Olodum).

O clima de comunhão entre as culturas e do sincre-tismo religioso caracterizaram-se também no soar dos atabaques praticamente durante toda a realiza-ção da celebração coordenado por Giba Gonçalves (GrupoBatalá).

Nazareth Pereira deu o tom da cerimônia no ritual de entrada, distribuindo pétalas de rosas pela ala central da igreja consagrada a Santa Maria Madale-na: “Ói que coisa bonita..”

Participaram da cerimônia vários artistas brasi-leiros radicados na França, entre os quais Divina Valéria, Giovani Miranda, Cristina Violle, o pai-de--santo Pote e os criadores do evento Roberto Chaves e Adilson Rodrigues.

dez anos da LaVagem em Paris“Os Dez Anos da Lavagem da Madalena”, comemo-rados em 2012, deu nome a uma exposição de foto-grafia e de artes plásticas sob a curadoria do fotó-grafo Antonio Cançado, montada em espaço nobre no andar térreo da sede da Unesco – que este ano foi copatrocinadora do evento. Observador atento, Cançado registrou os principais momentos e imor-talizou a memória dos 10 anos da lavagem num acervo fotográfico emocionante. Captou a tristeza, a alegria, a ternura, a união e a cultura de brasileiros que se inspiraram na lavagem da Igreja do Senhor do Bonfim em Salvador e a reproduziram em terras

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francesas.

A abertura da exposição de Antonio Cançado na Unesco aconteceu no dia 21 de setembro e contou com a presença do vice-diretor geral da Organi-zação para assuntos de educação, Qian Tang e de Maria Laura da Rocha, embaixadora da delegação permanente do Brasil junto a Unesco.

Para dialogar com as fotos de Antonio Cançado, jun-tou-se o trabalho do artista plástico Odamar Verso-latto propondo um estilo próprio que une as técnicas tradicionais e a tecnologia. “Letho – Maracatu Ojú Obá” é a obra principal da exposição, carregada de cores vibrantes, sentimentos, história e magia.

Thiago Bols e Renato Amisy Pereira também mos-traram belas telas alusivas ao tema da lavagem in-troduzida como forma de inserção social.

A surpresa ficou por conta da Companhia Barrica que se apresentou no salão da mostra e passou por entre os convidados mostrando a diversidade de

“Mais uma vez prevaleceram as cores vivas e a alegria sustentada por ritmo de tambores e pela melodia dos sopros”

ritmos e de danças peculiares dos festejos na tradi-ção dos folguedos e das festas populares do Mara-nhão. Mais uma vez prevaleceram as cores vivas e a alegria sustentada por ritmo de tambores e pela me-lodia dos sopros.

Não ficou atrás o Maracatu Nação Ojú Obá, fundado em Paris no ano de 2000 por Letho Nascimento que preservou a tradição dos grandes maracatus brasi-leiros e reúne europeus, africanos e ameríndios.

O encerramento do espetáculo cênico-musical ficou por conta da Banda Batalá, criada pelo percussionis-ta baiano Giba Gonçalves em Paris no ano de 1997, e pelo grupo de capoeira Nuno Ferreira que surpreen-deu pela agilidade e beleza tanto da coreografia como da beleza escultural de seus integrantes.

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aLegria à fLor da PeLeUm domingo nada normal em Paris. Pela manhã, trânsito parado, e protegido por guardas franceses durante todo o trajeto, iniciou-se o desfile da La-vagem a partir da Praça Johann Strauss, no bairro République, até a Igreja de la Madeleine.

A alegria estava à flor da pele nessa manhã, tanto entre a comunidade predominantemente franco--brasileira que se concentrava no local de saída a partir das 10 horas, como entre as milhares de pes-soas que se aglomeraram por todo o trajeto. Todo mundo dançou, cantou e vibrou com o cortejo que fez desfilar grupos de maracatu, tambor de crioula, capoeira e inclusive uma grande bateria de percus-são à la Olodum formada por mais de uma centena de franceses e brasileiros radicados em Paris.

Um verdadeiro presente para os brasileiros da cidade foi o momento apoteótico da lavagem das escadarias da Igreja da Madeleine, após uma lon-ga sequência de orações cristãs e de pontos sagra-dos do repertório do candomblé baiano e da tradi-ção maranhense do tambor de mina. Manifestação proposta por Robertinho Chaves e Adilson Rodri-gues, inteiramente apoiada oficial e extra oficial-mente pelos parisienses.

Dentre os vários grupos que se apresentaram no desfile, alguns eram inteiramente brasileiros, como o da Companhia Barrica, do Maranhão, e outros eram compostos por membros de várias nacionali-dades, como o Maracatu Nação Ojú Obá.

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Nacionalidades a parte, todos esses grupos fo-ram ovacionados pelos espectadores e arrastaram centenas de pessoas que tentavam imitar suas co-reografias, cantar suas músicas, registrar o espe-táculo ou simplesmente acompanhar, perplexos, o cortejo. Deu certo a proposta-chave dos orga-nizadores que é a valorização da cultura popular e folclórica brasileira, com seu elemento negro e indigena.

Outro presente foi a voz e o carisma do músico Tonho Matéria, do grupo Olodum que, do alto de um Trio Elétrico, distribuiu sorrisos, simpatia e carinho a todos. A presença do índio Biraci Brasil Yawanawa, líder da Aldeia Nova esperança, juntou o elemento que faltava para repesentar com fide-lidade a população brasileira. Desfilaram ainda os

grupos Batucada Batalá, Muleketu, Maracatu Ta-maraca, estudio Zalinde, Samba Academia, Boi da Moda, Batucados e Tambor de Crioula.

A lavagem das escadarias aconteceu às 14 horas, quando o cortejo chegou à Madeleine. Uma multi-dão estava lá, no aguardo. O padre Brien Richard McCarthy comandou o ritual da lavagem, saudando a todos. Com a ajuda de Jovani de Miranda, fez com que todos os presentes recebessem as mensagens em francês, inglês e português. A lavagem propria-mente dita ficou por conta do pai-de-santo Pote e de toda uma ala de baianas vestidas a caráter.

Vídeo: A lAVAgem dA mAdeleine 2012http://youtu.be/l3n6mvb4C3Y

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OP

INIÃ

OMAIS RICOS, MAIS PUTAS

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Um relatório do Crédit Suis-se, instituição financeira de nenhum modo suspeita de flertar com a extrema es-

querda, adverte que a Espanha duplicará o número de milionários até o final da crise. Alegraram minha manhã, os cre-dores suíços. Teremos mais ricos e me-nos pobres, certo?

Na tarde do mesmo dia fico sabendo que a prostituição universitária em nosso

país está crescendo de modo exponen-cial, e logo se me abaixa o facho, pois imagino todos esses novos ricos desfru-tando em termos de carne jovem e pros-tituída a sua nova posição econômica. Como sou galego e simplista, e acredito que a riqueza não se cria nem se destrói, apenas muda de bolso, digo que o cliente roubou o puto ou a puta que se lhe abre as pernas antes de poder desfrutar dos seus serviços.

Os sensíveis rapazes do Eurostat (o Gabinete de Estatísticas da União Eu-ropeia) também têm advertido nossos sucessivos governos de que cada vez re-partimos pior nossos recursos, e de que já somos o segundo país da Eurozona com mais desigualdades, superados ape-nas pela Letônia. Traduzindo tudo para a linguagem das ruas: cada vez teremos mais milionários e nossos novos ricos, depois de nos sacarem tudo, nos deixa-rão ainda mais putos.

Leio em não sei qual jornal o testemunho de uma garota que não podia terminar a faculdade de direito porque seus pais es-tavam desempregados, e ela virou puta. A moça acredita que seus pais desconfiam quando ela lhes envia dinheiro. Mas inven-ta histórias: dá aulas particulares, é garço-nete em um bar, etc. Da mesma forma,

O

o autor é jornalista e escritor espanhol, conhecido pela sua veia cáustica ao criticar as mazelas da nossa sociedade e do mundo contemporâneoPor: aníbaL maLVar http://blogs.publico.es/rosa-espi-nas/2012/10/17/mas-ricos-mas-putas/

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inventa sua esperança de redenção íntima: “Quando conseguir me formar, deixarei de lado esse ofício e conseguirei esquecê-lo”.

Não, menina. Não conseguirá esquecer. Quando você tiver filhos e for trocar suas fraldas, repetirá o juramento de que eles nunca viverão aquilo que você viveu, a escravidão, a sina de Scarlett O´Hara. E se chegam a correr esse ris-co, você se tornará a maior de todas as filhas da puta para salvá-los, passará por cima de qualquer um para evitar que eles revivam sua história, e assim você se tornará alguém mais parecido a seus clientes de outrora que de você mesma. Esqueça o esquecer.

É mentira que a pobreza e a escravidão nos tornam mais humanos, mais hu-mildes, mais santos, como apregoam os

católicos. A pobreza e a escravidão de-senvolvem em nós um feroz instinto de sobrevivência, depredador e desalmado.

O único sonho do pobre escravo é con-verter-se em rico escravagista. E comer como um selvagem a filha do capataz. A pobreza e a escravidão transformam nosso sentimento em ressentimento. Não conheço nenhum faminto que não seja capaz de roubar o pão a um outro famin-to. Nesse sentido, os famintos são exata-mente iguais aos ricos. Basta observar os donos das nossas grandes cadeias alimen-tares, indiferentes ao custo das grades que impedem aos mendigos recolher os alimentos vencidos retirados das pratelei-ras de seus supermercados. Dão um mau exemplo. Resumindo, esses ricos são ca-pazes de roubar o filão de pão ao mendigo para atirá-lo ao lixo. Não sejamos baba-cas.

Como estava em meu plantão de jornalis-ta, liguei para a organização Hetaira, que

“ Não conheço nenhum faminto que não seja

capaz de roubar o pão a um outro faminto”

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assessora e protege as prostitutas, para saber se essa história das universitárias era verdadeira.

- É verdade. Universitárias de todas as áreas. Elas nos chamam para saber como se começa a traba-lhar nisso. O que devem fazer.

- E o que vocês respondem?

- Uffff... Que para se dedicar a isso é preciso ter muita fibra. É preciso estar bem certo ou certa da sua sexua-lidade... Nem todo mundo é bom para a prostituição, da mesma forma que nem todo mundo é bom para trabalhar nas pedreiras ou nos açougues.

Até agora conservo as duas metáforas infectando meus ouvidos. Nem todos são bons para trabalhar nas pe-dreiras da própria dignidade, ou para mercadejar vís-ceras no açougue humano sem ser o açougueiro.E lembro-me de uma história.

Um homem comparece a um encontro com um/uma prostituto/a. Abre-lhe a porta seu filho/a, que o aban-donou há anos, preferindo ser independente como puto/a a depender do filho da puta que é seu pai/mãe.- Ora, papai/mamãe. Não fique assim. Pelo menos você não é um asqueroso desconhecido. Entre e es-teja à vontade. O que você gosta de fazer?

Como prossegue a história? Não sei. O final é de-masiado triste para que eu o escreva hoje. Melhor seja escrito pelo puto ou a puta. Ou pelo honrado milionário, se é que sabe escrever.

AníbAL mALvAr

AníbAL mALvAr é jornAListA e escritor espAnhoL. seu úLtimo romAnce é “LA bALAdA de Los miserAbLes” (AkAL, 2012)

http://www.akal.com/libros/la-balada-de-los-miserables/9788446035435.

mAis informAção no site http://es.wikipedia.org/wiki/anibal_malvar

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LRINOCERONTE Morte inútil por um simples corno

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m recorde dramático de matança está colocando em sério risco a sobrevivência de um dos mais extraordi-

nários mamíferos jamais surgidos so-bre a Terra: o rinoceronte. Estatísticas do WWF (World Wildlife Foundation) informam que, em 2012, uma média de dois exemplares são mortos diariamen-te na África do Sul por caçadores furti-vos. Estas imagens do WWF documen-tam o destino dos rinocerontes e as

medidas (ainda insuficientes) adotadas para salvá-los da extinção:

U

Alvos constantes dos caçadores furtivos, a cada dia dois rinocerontes são mortos na África do sul. A razão disso? seu corno vale mais que o ouro nos mercados asiáticosPor: equiPe oásisfoTos: WorLd WiLdLife foundaTion (WWf) Vídeo: green renaissance

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1 Matança recorde

2012 ainda sequer terminou e já começam a surgir dados negativos de instituições que, como o WWF, estão empenhadas em programas de conservação de espécies em risco. De janeiro ao início de outubro, foram mortos

pelas armas dos caçadores furtivos 455 rinocerontes, um recorde impressionante se comparado aos 448 exemplares assassinados em 2011 e, sobretudo, aos únicos 13 exemplares mortos em 2007. Nunca a demanda de cornos de

rinocerontes proveniente de países asiáticos – China e Vietnã no topo da lista – foi tão grande. Como consequência, aumentam exponencialmente os episódios de caça ilegal. Ao mesmo tempo, as normas adotadas pela África do Sul,

onde ainda vive o maior contingente desses animais, são ineficazes para coibir a matança.

Foto: Martin Harvey WWF-Canon

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2 A pátria dos rinocerontes

A África do Sul possui a maior população de rinocerontes do mundo: no país sobrevivem cerca de 20 mil exemplares, 90% da população total presente no território africano. Esta é a razão pela qual a África do Sul atrai tantos caçadores ilegais que matam os rinocerontes para contrabandear seus cornos para a China e outros países do Sudeste asiático, onde é vendido como troféu, como suposta cura para o câncer e a impotência sexual, e usado como mercadoria de troca para outros tráficos criminosos

Foto: Martin Harvey WWF-Canon

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Foto: WWF-Canon/ Green Renaissance

3 A salvaçãoNa verdade, explicam os especialistas, o corno do rinoceronte é feito do mesmo material

das nossas unhas – a queratina – e não possui nenhuma propriedade terapêutica. Na foto, um rinoceronte negro sedado é transportado por helicóptero a um dos centros do

WWF Black Rhino Range Expansion Project, criado para favorecer a reprodução dessa espécie e protegê-la dos caçadores ilegais. A viagem dura cerca 10 minutos e permite

transportar facilmente um animal ferido sem acarretar-lhe sofrimento.

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Foto: WWF-Canon/Green Renaissance

4 Ouro brancoO valor dos cornos de rinoceronte no mercado negro subiu a 65 mil

dólares o quilo, valor superior ao do ouro. Por essa razão, o governo sul-africano introduziu novas normas na tentativa de controlar o tráfico. Em abril 2012 foi aprovada uma lei que prevê a suspensão da licença de caça a todos os vietnamitas, pois pertence a essa nacionalidade a maioria dos

matadores de rinocerontes brancos. Mas a verdade é que as restrições não surtiram até agora os efeitos desejados.

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Foto: Richard Du Toit/WWF-Canon

5 Instrumentos sofisticados“Os parques nacionais tornaram-se o teatro de ação de gangues armadas de contrabandistas patrocinados pelos maiores representantes do crime

internacional”, denuncia o WWF e outras organizações empenhadas na tutela desses mamíferos. Para obter a preciosa mercadoria, os caçadores agora lançam

mão de meios dignos de um filme de espionagem , tais como artilharia pesada, helicópteros e óculos especiais para a visão noturna.

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Foto: Martin Harvey/WWF-Canon

6 Vigilância constanteCerca de metade dos episódios de caça ilegal acontecem no interior do Kruger National Park, talvez a reserva mais famosa do país, na qual foi intensificada a vigilância nos últimos meses. Os rinocerontes são controlados por guardas

armados e por helicópteros, na tentativa de impedir a carnificina.

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Foto: Andy Rouse/WWF-Canon

7 Roubos até nos museus

Os criminosos encontraram outros modos de conseguir cornos de rinocerontes: nos últimos anos foram registrados pelo menos 65 casos de cornos roubados de exposições públicas, antiquários e museus, na África do Sul, e também na Europa e nos Estados Unidos.

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Foto: WWF-Canon/Green Renaissance

8 Ação coordenadaA intervenção em campo, embora fundamental, já não basta. Para se proteger eficazmente esses animais será preciso desencadear uma ação a nível internacional, com um permanente serviço

de inteligência e uma coordenação legislativa entre a África do Sul e os países importadores. Caso contrário, quando as mortes de rinocerontes superarão os nascimentos – e já estamos bem

próximos disso – para esses magníficos mamíferos será o início de um declínio inexorável.

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rinos negros gAnhAm umA novA cAsA

o sétimo bAndo de rinocerontes criAdo peLA orgAni-zAção WWf bLAck rhino rAnge expAnsion project, foi recentemente soLto Após umA viAgem épicA de 1500 quiLômetros AtrAvés do território dA ÁfricA do suL. dezenove desses AnimAis em risco crítico de extinção forAm removidos dA região do cAbo Leste pArA umA novA ÁreA nA provínciA de Limpopo.

um método reLAtivAmente novo de cApturA foi usAdo pArA trAnsportAr, por viA AéreA, com o uso de heLi-cópteros, rinocerontes que vivem em regiões perigosAs e de Acesso difíciL ou impossíveL por meios terrestres. isso impLicA no trAnsporte peLAs pAtAs dos rinos Ador-mecidos por um trecho Aéreo curto Até os cAminhões que permAnecem no AguArdo. “ “Antes, os rinos erAm

vídeo: fiLmAdo peLA ong green renAissAnce pArA o WWf south AfricA, este vídeo mostrA como se fAz, com o uso de heLicóptero, o trAnsporte de um rinoceronte que vive numA zonA perigosA pArA o território seguro de umA reservA vigiAdA. mAis informAções nos sites http://greenrenaissance.co.za e http://wwf.org.za

trAnsportAdos em cAminhões que percorriAm pistAs muito difíceis, ou por viA AéreA, cArregAdos numA rede. o novo método é mAis suAve pArA o rino entorpe-cido, pois encurtA o tempo que eLe precisA permAnecer Adormecido por meio de drogAs, e Assim A respirAção não é comprometidA como pode Acontece quAndo o AnimAL estÁ numA rede, sem fALAr nos soLAvAncos pro-vocAdos peLos burAcos de estrAdAs terríveis”, expLicAm os especiAListAs.

o WWf bLAck rhino rAnge expAnsion project pretende incrementAr As ÁreAs de distribuição e o número dos rinocerontes negros nA ÁfricA do suL. Até AgorA, pouco mAis de 120 rinocerontes dessA espécie forAm trAnsportAdos peLo novo método.

http://youtu.be/pTWPg_8sK78

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SALTO NA ESTRATOSFERA O incrível voo de Felix Baumgartner

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epois de uma ascensão de 2 horas e 37 minutos a bordo de uma capsula metálica es-pecial, puxada por um balão a

gás hélio que o levou a 39.045 metros de altura, Baumgartner abriu a escotilha e se atirou da estratosfera.

Com o feito, bateu vários recordes ao mes-mo tempo:

- ele se lançou ao espaço da quota mais

alta jamais tentada: 39.045 metros (o re-corde precedente pertencia ao americano Joe Kittinger, que em 1960 se lançou dos 31.333 metros).

- superou o recorde de voo humano com ba-lão aerostático – o precedente era de Viktor Prather e Malcolm Ross, que em 1961 alcan-çaram 34.668 metros de altitude.

- percorreu a mais longa distância jamais al-cançada em queda livre: 36.529.06 metros.

- bateu o recorde de “espectadores” conec-tados a um evento ao vivo no YouTube.

- sobretudo, superou a velocidade do som, primeiro caso em absoluto para um homem sem o auxílio de um avião ou de um foguete, chegando à velocidade máxima e recorde de

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missão cumprida! na manhã de 14 de outubro, no novo méxico, o austríaco felix baumgartner entrou para a história como o primeiro homem a superar a barreira do som em queda livre

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Um Vídeo de TirAr o fôlego:http://youtu.be/jb0o1AJ2X_0

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1.342 km/h, equivalente a Mach 1,24).

aLém da barreira do somDepois de saltar, Felix superou a velocidade do som (1110 km/h) em menos de um minuto, chegando à velocidade recorde de 1342 km/h. Ele abriu o para-quedas depois de 4 minutos e 19 segundos de queda livre. Mais 4 minutos, e Feliz tocou terra, em meio ao entusiasmo da sua equipe que acompanhou cada de-talhe da sua aventura a partir do centro de controle de missões de Roswell, no Novo México. No total, o voo durou 9 minutos e 3 segundos.

Na prova, patrocinada pela multinacional Red Bull,

“Depois de saltar, Felix superou a velocidade do som (1110 km/h) em menos de um minuto, chegando à velocidade recorde de 1342 km/h”

não faltaram momentos de tensão: o primeiro foi quando, poucos segundos depois do salto, Felix come-çou a rodopiar vertiginosamente sobre si mesmo, e fo-ram necessários alguns segundos até que conseguisse retomar o controle do seu corpo; o segundo quando, de repente, parou de falar, logo após ter superado a barreira do som, provavelmente por causa do cansaço provocado pelo extraordinário esforço.

Quando atingiu o solo, Baumgartner se ajoelhou e foi quase imediatamente alcançado por um helicóptero que transportava alguns dos seus técnicos e vários médicos.

O salto de Baumgartner coincidiu com o 65º ani-versário do histórico voo de Chuck Yeager, o piloto norte-americano que se tornou o primeiro homem a romper a barreira do som a bordo de um avião.

À parte a proeza humana – Felix Baumgartner é um grande atleta -, trata-se também de uma grande reali-zação do ponto de vista técnico. A capsula metálica

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que o levou aos 40 mil metros de altitude é totalmen-te pressurizada e repleta de sistemas eletrônicos de controle. A roupa espacial de Baumgartner está cheia de sensores e medidores que possibilitaram controlar a cada instante o funcionamento do coração, múscu-los e cérebro, colhendo dados que ajudarão a estudar os efeitos da velocidade e da aceleração no corpo hu-mano.

Profissão: PerigoA experiência do atleta austríaco foi de altíssimo risco em todas as suas fases. Quando chegou à alta quota, Baumgartner teve de despressurizar a cap-sula e abrir a escotilha. Qualquer pequeno acidente que danificasse a roupa ou o capacete seriam fatais. Trinta segundos depois do lançamento ter atingido 33 mil metros de quota e a velocidade do som, a onda de choque criada pelo seu próprio corpo foi tremen-da. Para sobreviver ao choque, Baumgartner teve de assumir a posição de projétil com as pernas unidas e os braços perfeitamente aderidos ao corpo.

Baumgartner voou à velocidade do som apenas por alguns segundos. Ao se aproximar da Terra o ar tor-nou-se mais denso e reduziu a velocidade da descida até cerca de 180 km/h. Uma pequena turbulência, uma mão ligeiramente separada do corpo, seriam suficientes para que ele entrasse em perigosa rota-ção, de até 120 giros por minuto, o que lhe poderia ser fatal. Felizmente, e graças ao intenso treinamento a que foi submetido, Baumgartner saiu ileso de toda a aventura.