Lambsprinck - Tratado Sobre a Pedra Filosofal

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LAMBSPRINCK

TRATADO DA PEDRA FILOSOFAL

PrefcioMeu nome Lambsprinck; sou de livre estirpe, E como honra e pleno direito, uso estas armas:

A Sabedoria entendi claramente E pela Arte alcancei o seu fundamento. Porque Deus me dispensou a sua Graa E me deu o saber com o entendimento. Assim me tornei o autor deste livro Onde reina uma ordem notvel Para que pobres e ricos o possam compreender. Sobre a terra no h, certamente, nada semelhante, E por a no faltei ao meu dever, J que tinha avaliado as entranhas da verdade. Portanto, atentos e silenciosos, considere a minha obra, E no poupe seu esforo lendo-a por muitas vezes. Desta maneira haver de conhecer a verdade E converter o mais possvel esse Dom divino. Deus, Tu que s o fim, e o princpio, Podemos-te, por Jesus Cristo, Que ilumine o nosso sentido interior e os nossos pensamentos A fim de que possamos sempre celebrar os Teus louvores, E que, segundo o pleno poder da Tua vontade. Este livro possa tornar melhores todas as coisas. Conserva-nos na Tua misericrdia E que a Santssima Trindade no-la conceda. Instruir-vos-ei com ajuda de Deus E sem dissimular nada do que verdadeiro. Quando me tiver compreendido bem, Estaro ento libertos de todo o erro. Pois tudo o que secreto est contido Apenas numa s coisa.

Por isso no devero perder o nimo; E preciso que na nossa balana estejam o tempo e a pacincia Se quiserem gozar do nobre Fruto. No lamentem nem o seu tempo nem o seu trabalho, Pois tem que cozer a semente dos Metais Dia aps dia, durante semanas. Ento encontraro naquilo que desprezado A Arte inteira e a perfeio, O que por todos foi julgado impossvel, Se bem que fosse simples e fcil Tambm nos interdito operar publicamente, Para que nenhum nos possa escarnecer. Permaneam, pois, escondidos e silenciosos; Estaro, assim, em paz e livres de todo o cuidado. Deus que d em particular a Arte a cada um, Quer tambm mant-la secreta. E agora que fecho o meu prefcio Vou comear a descrever a Arte, Fazendo-a surgir to clara como o dia Atravs de rimas e imagens justas e verdadeiras, Dando graas ao Criador de todas as criaturas. Eis a primeira figura.

Veja bem e entenda: Dois peixes nadam no nosso Mar.

O Mar o Corpo. Os dois peixes so o Esprito e a Alma.

Dizem todos os filsofos Que h dois Peixes no nosso Mar, Ambos, na verdade, sem carne nem espinhas. So cozidos na gua que lhes prpria. Ento deles sair o grande Mar Que homem algum pode descrever. Eis o que por isto entendem os Filsofos: Encontramos dois Peixes, mas h apenas um s, Dois, todavia, e contudo um somente, No qual trs coisas esto: O Corpo, o Esprito, a Alma. Agora, tambm em verdade digo a vocs: Cozam todos trs juntos. A fim de que seja feito o Grande Mar. Desta maneira em breve vos ser mostrado Como podeis conseguir um grande aumento Para tal ferva o Enxofre com o Enxofre E poupe suas palavras sobre tal questo, Calem-se antes, para seus benefcios. Assim, sero libertos de toda a necessidade. Impondo-lhe um silncio total, A sua empresa de ningum ser conhecida.

Acautele-se, Filho, cedo e depressa, Com o animal negro e feroz da Floresta.

O Sbio afirma que este combate Se assemelha ao enfrentamento com um animal selvagem na floresta, Com um drago totalmente negro. Se, em verdade, se lhe cortar a cabea, Perde ento toda a sua cor negra E reveste-se de uma brancura de neve. Deseje ter uma justa compreenso deste ponto: A cor preta chamada a "cabea de corvo". Mal ela desaparece, Surge logo a cor branca. Que propriamente chamada "Sem Cabea", Quando j no houver Nuvem negra, podem crer! Agora os Filsofos em seu corao rejubilam com este Dom, E escondem-no cuidadosamente Para que nada disto algum louco saiba. No entanto, aos seus Filhos, com benevolncia, Revelam algo, a tal respeito, escrevendo. Aos que recebem o favor divino, A esses somente eles o revelam. Por essa razo, a ningum se fale disto, Pois Deus quer que seja mantido em segredo.

agora necessrio que saibam que existem na nossa Floresta um Veado e um Unicrnio.

H, no Corpo, a Alma e o Esprito.Os Filsofos proclamam bem alto Que h dois animais selvagens nesta Floresta. O primeiro, alerta, belo e bem constitudo: Um Veado forte, grande e robusto. O outro, um Unicrnio, amado pelo Sbio. Ambos se escondem entre os bosques, Mas, feliz o homem, dizemos ns, Que os apanhar numa armadilha e os capturar! Tambm os Mestres, por palavras obscuras, Nos mostram e fazem ver que em todos os lugares Estes dois animais erram na Floresta. Contudo, deve-se entender uma s coisa por esta Floresta, Pois se, em verdade, consideramos a base, do Corpo que a Floresta recebe o seu nome. Ento certa e justamente descobrir-se- Que do Esprito que provm o Unicrnio. O Veado no aspira, verdadeiramente, a outro nome Que o de Alma e no h quem lho retire. Mas igualmente justo nomear o Mestre Que, pela Arte, os conduz e os doma, Dirigindo-os e fazendo-os descer Floresta A fim de que, juntos, permaneam unidos. E tambm lhe atribuiremos o quinho De haver alcanado o Rio de Ouro E poder, agora, triunfar, Novo Augusto, no seu mgico Imprio.

possvel que seja um grande milagre De dois Lees, fazer-se apenas um.

Esprito e Alma devem ser Reunidos e devolvidos ao seu Corpo.

Os Sbios do-nos a entender Que dois fortes lees vo e vm, Macho e fmea, no Vale das Trevas Onde se escondem e pela Arte podem ser capturados. Terrficos e cruis, de feroz compleio, Rpidos, indomveis, completamente selvagens. Aquele que, com sabedoria e manha, Os conseguir prender numa rede, e domar e reter E, de novo, os levar a seu gosto para a Floresta, Dele se escrever, a justo ttulo e de pleno direito, Que mais do que nenhum outro mereceu a Coroa E que ento obteve a gloriosa recompensa de tudo isto.

Um Lobo e Um Co lutam num lugar; Dos dois, por fim, ficar apenas um.

A Mortificao e a Albificao, imbibio Do Corpo, conjunto com a Alma e o Esprito.

Alexandre da Prsia escreve livremente Que o Lobo e o Co se encontram no Vale. Contudo, o Sbio nos revela Que cada um tem a sua prpria origem, Pois do Oriente que vem o Lobo do Ocidente que sai o Co. Ambos esto cheios de mtua inveja, Furiosos, enraivecidos, ferozes at a demncia. Um, ao outro priva da sua vida, E do combate de ambos deriva o grande Veneno. Mas, se de novo voltam vida, Ento, na verdade, da sua ressurreio resulta A maior Medicina e a melhor Teriaga Que pode ser encontrada sobre a terra. Assim, ela alegra todos os Sbios Que do graas a Deus Oferecendo-lhe honra e louvor.

grande maravilha e estranha astcia Fazer dum Drago a Medicina suprema,

O Mercrio, convenientemente E alquimicamente precipitado ou sublimado, Dissolvido em sua prpria gua limpa e de novo coagulado.

Um drago faz o seu refgio na Floresta E nada escapa ao seu Veneno. Quando v o Sol e o Fogo, Ento a sua baba peonhenta espalha-se e ele voa to prodigiosamente Que nenhum animal vivo subsiste sua passagem. O prprio Basilisco no lhe pode ser comparado. Mal se sabe atacado de morte por tal verme corrosivo, Combate, ento, com todas as suas foras. As suas cores aumentam pela morte E do seu Veneno se faz a Medicina. Pois volta contra si toda a sua peonha E devora a prpria cauda venenosa Que deve em si mesmo achar a perfeio. O mais nobre Blsamo vem deste Drago E sero apontadas as suas admirveis virtudes Com as quais todos os Sbios altamente se alegram.

Dois pssaro cantam na floresta E contudo, no justo sentido, apenas se encontra um s.

O Mercrio muitas vezes sublimado enfim fixado, de modo que no mais possa fugir ou evaporar-se pela fora do fogo. Esta sublimao, na verdade, deve ser repetida tantas vezes quantas as precisas, at que ele tenha se tornado fixo.

H de encontrar-se na Floresta um Ninho Onde o Pssaro de Hermes guarda os filhos. E se um quer sempre voar, O outro, silencioso, fica no Ninho. Mas um no abandona ao outro Antes o guarda em melhor estado, Como faz, em casa, um homem com sua mulher, Perfeitamente unidos pelos laos conjugais. E, em cada momento, rejubilamos com isso Pois que os fixamos juntos E sobre eles deixamos reinar Deus Pai.

As duas Aves, Corpo e Esprito Entredevoram-se, como preciso

De novo o Corpo ser posto no estrume de cavalo ou no banho para ser digerido pelo seu ar Esparso ou pelo Esprito previamente separado do Corpo. O Corpo torna-se branco pelo trabalho; o Esprito faz-se verdadeiramente rubro pela Arte. A obra tende perfeio da sua natureza, e assim que se prepara a Pedra dos Filsofos.H nas ndias uma Floresta Onde, ligados juntos, esto dois Pssaros. Um o Branco, o outro o Vermelho. E mordem-se, entre si, at a morte. E um, o outro devora por inteiro. E sero transformados numa branca Pomba E da Pomba h de nascer uma Fnix Que ter perdido a sua densa escurido e a sua natureza mortal E alcanando assim uma vida nova. E Deus lhe deu tal fora e poder Que doravante vive livre da Morte E sobre ns invoca a riqueza e a sade A fim de, com ela fazermos surgir as grandes maravilhas Que nos descrevem, com profundidade, os Sbios.

O Senhor da Floresta recebeu o seu Imprio E elevou-se do mais baixo ao mais alto.

Se a Fortuna voa, de Reitor sers feito Cnsul, Se ela voa mais, de Cnsul ser feito Reitor. Entenda a apario do primeiro Grau da Tintura.Escute agora uma histria maravilhosa. Eis que ensino a vocs uma grande coisa: De como o Rei se eleva acima de tudo. Ouvi o que proclama o nobre Senhor: Triunfei de todos os meus inimigos, Pousei o meu p sobre o Drago, Sou um Senhor e um Rei da Terra. Nenhuma altura prevalecer sobre a minha Nem pela Arte, nem pela Natureza De alguma criatura viva. Porque tenho em meu poder tudo o que deseja, Dou a fora, a sade, os dias longos, O ouro, a prata, as prolas, as pedras preciosas E toda a medicina, da menor suprema. Eu era, a princpio, duma baixa extrao Antes de ter sido erguido a esta posio elevada. Para que, deste modo, eu exaltado fosse Deu-me Deus uma natureza tal Que do pior provm o melhor Que ele atinge em alto grau E como que em real estado. por isto que Hermes me chama o Senhor

A Salamandra sabe viver no Fogo Tambm ele lhe d a melhor cor.

Reiterao, acrescentamento e melhoramento da Tintura ou da Pedra dos Filsofos: deve entender-se por tal a Aumentao.Dizem todos os viajantes Que a Salamandra provm do Fogo. No Fogo se encontram o seu alimento e a sua vida E tal lhe foi dado por sua prpria natureza. Ela mora tambm numa profunda montanha Quando se acendem quatro Fogos plenos de virtudes O primeiro mais fraco que o seguinte Onde se banha primeiramente a Salamandra. O terceiro, em verdade, mais forte que os outros. A, a Salamandra lava-se e purifica-se bem Depois apressa-se para o seu buraco Mas imediatamente apanhada e crivada de golpes Porque deve morrer, esvaindo-se em sangue. Na verdade, procede-se assim para seu bem Porque ela deve adquirir a vida eterna A preo do seu sangue, e de agora em diante a morte j no a atingir. No h sobre a terra mais alta medicina que o seu sangue No mundo, no se pode encontrar melhor Nenhuma doena resiste a este sangue Que cura o corpo dos metais, dos animais e dos homens da que vem a inteligncia dos Sbios E da que eles receberam de Deus o Dom Celeste Que se chama a Pedra dos Sapientes Na qual reside toda a virtude e poder Os Sbios no-la fazem presente por benevolncia E por isso devemos honrar a sua memria.

Pai, Filho e Guia seguram-se pelas mos Aqui compreender-se- Corpo, Esprito e Alma

De Israel veio j um antigo Pai. Possui um Filho nico Que ama de todo o corao. Com dor, o confia a um Guia Que deve conduzir o Filho A qualquer parte que deseje e queira. O Guia dirige ao Filho estas palavras: Vem c, vou conduzir-lo alm, Ao mais alto do cimo duma montanha, Para que aprenda a conhecer o mundo inteiro E possa contemplar o universo e o mar imenso Porque te agradar to vasto espetculo. Assim te levarei para estes cimos At que cheguemos s portas do Cu O Filho acreditou nas palavras do Guia E seguiu-o na sua ascenso. Descobriu assim a magnitude celeste E seu esplendor para alm de todos os limites E, como tivesse visto tais maravilhas, Voltou-lhe ento a lembrana da dor do Pai E apiedou-se da sua grande desolao E de novo quis descer no seu seio.

No vaso dos Sapientes est situada a alta montanha das ndias donde abalam o Filho e seu Guia, o Esprito e a Alma.

Aqui diz o Filho ao seu Guia: Quero desde agora voltar a meu Pai Pois sem mim j no pode viver nem prosperar. Incessantemente mo proclamou e gritou. O Guia, de seguida, respondeu: No te deixo descer sozinho Trouxe-te do lar paterno preciso que agora te leve a A fim de devolver ao Pai a vida com a alegria. E deste modo lhe proporcionarmos a eficaz virtude. Levantaram-se ento e juntos se encaminharam At alcanarem o Trono do Pai. E como o Pai visse chegar seu Filho, Com voz forte lhe falou nestes termos.

O Pai, no seu amor, vai engolir o Filho, Da Alma e do Esprito se satisfaz todo o Corpo

Filho, na tua ausncia, eu estava morto, Em grande perigo se encontrava a minha existncia. Que alegria me d o teu regresso! Assim que o Filho entrou na morada do Pai, O Pai fechou-o nos seus braos E ao mesmo tempo o devorou; Com sua prpria boca, o Pai o engoliu.

Aqui, o Pai est coberto de um suor muito forte Donde escorre a verdadeira Tintura.

Eis que o Pai se cobre de suores por causa de seu Filho E, do fundo do corao, reza ao Senhor, Ao qual, em verdade, tudo possvel, Pois que criou todas as coisas, E lhe implora que de novo faa sair o Filho do seu Corpo A fim de que possa ressuscitar sua primeira vida. O Senho no quer desdenhar da sua orao E ordena ao Pai que durma Ento, logo que este repousa na paz do sono Faz Deus cair uma chuva do alto Atravs da clara abbada constelada. Uma chuva fecunda de verdadeira e pura prata, Que rega e amolece o corpo paternal. Deus, ajuda-nos tambm a obter a Tua Graa!

Agora esto reunidos o Pai, o Filho e o Guia. Juntos permanecero, eternamente.

Eis que dorme o Pai, agora, Todo ele se mudando em gua clara, E, por esta gua poderosa, Se forma uma pura e boa terra. E nasce tambm um novo Pai, forte e belo, Que engendra igualmente um Filho novo, O qual doravante, permanece junto de seu Pai E o Pai, para sempre, junto de seu Filho. Assim, em todas as coisas, diferentemente Produzem inumerveis frutos Que, em tempo algum, podem perecer, Nem morte alguma consegue matar. Permanecem, para sempre, pela Graa de Deus, Enquanto triunfam num reino magnfico, Sentados em seu trono, o Pai com o Filho. Entre eles aparece o antigo Mestre Que traz um longo manto semelhante ao sangue.

* A Deus toda a honra e toda a Glria Amm.